Padre italiano acusado de abuso sexual e posse de droga
O cardeal de Génova e presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), Angelo Bagnasco, afastou de “todas as tarefas sacramentais” o padre da sua cidade Riccardo Seppia, de 50 anos, detido este fim-de-semana por acusação de abuso sexual de um jovem de 16 anos e por posse de cocaína. (...)

Padre italiano acusado de abuso sexual e posse de droga
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 10 | Sentimento 0.25
DATA: 2011-05-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: O cardeal de Génova e presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), Angelo Bagnasco, afastou de “todas as tarefas sacramentais” o padre da sua cidade Riccardo Seppia, de 50 anos, detido este fim-de-semana por acusação de abuso sexual de um jovem de 16 anos e por posse de cocaína.
TEXTO: O arcebispo, superior máximo do padre detido, reagiu prontamente e de forma dura ao incidente e dirigiu-se à igreja do Espírito Santo para substituir Seppia na sua missa de domingo, avança o diário espanhol El País. Antes da eucaristia, um sacerdote leu uma nota onde anunciou que o padre detido já não pode confessar nem celebrar missas. Depois, o presidente da CEI expressou a sua solidariedade para com as “eventuais vítimas e suas famílias” e confessou sentir “dor e desconcerto” com a situação, acrescentando que tem “plena confiança na magistratura”. Segundo fontes policiais, o sacerdote terá abusado repetidamente do rapaz que frequentava a sua paróquia, convidando-o mesmo a experimentar cocaína. E não está excluída a hipótese de existirem mais vítimas. O caso foi descoberto através de escutas feitas ao telefone do padre, na sequência de uma investigação sobre tráfico de droga em Milão – cidade a que Seppia se deslocava com frequência e onde ia a saunas e locais nocturnos. Nesses mesmos telefonemas e em algumas mensagens o padre deu informações que culminaram na detenção. Contudo, o padre já proclamou a sua inocência ao capelão da prisão onde se encontra detido. Hoje será presente a tribunal, onde será ouvido pelos juízes que estão também a investigar outras três pessoas. O caso coincide com a publicação hoje, por parte do Vaticano, de uma circular que tem como objectivo informar as dioceses de todo o mundo dos procedimentos a seguir em casos de abusos de menores, de forma a contrariar a “cultura de silêncio” que a Igreja tem mantido.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura tribunal prisão
Polícia irlandesa descobriu bombas armadilhadas a poucas horas da chegada da Rainha
A polícia irlandesa desmantelou uma bomba, pronta a explodir, num autocarro em Maynooth, a 25 quilómetros de Dublin, a poucas horas da chegada da Rainha Isabel II, para uma visita histórica. Pouco depois foi descoberto um segundo engenho numa paragem de eléctricos. (...)

Polícia irlandesa descobriu bombas armadilhadas a poucas horas da chegada da Rainha
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 10 | Sentimento -0.1
DATA: 2011-05-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: A polícia irlandesa desmantelou uma bomba, pronta a explodir, num autocarro em Maynooth, a 25 quilómetros de Dublin, a poucas horas da chegada da Rainha Isabel II, para uma visita histórica. Pouco depois foi descoberto um segundo engenho numa paragem de eléctricos.
TEXTO: Esta segunda bomba, que foi detectada na linha de eléctricos LUAS depois de a polícia ter recebido um alerta por telefone por volta das 5h30 (mesma hora em Lisboa), está agora a ser investigada pelo exército, após o primeiro engenho encontrado ter sido explodido numa detonação controlada. Segundo o diário britânico "The Guardian", que cita fontes policiais, esta primeira bomba, detectada na noite de ontem, tratava-se de um engenho artesanal "viável" (expressão que indica a sua capacidade de explosão) e estava no compartimento de bagagens de um autocarro, estacionado nos arredores de Maynooth, zona de County Kildare. Uma equipa de minas e armadilhas chegou ao local pouco após as 23h00, tendo procedido à sua explosão controlada junto a um hotel nas proximidades menos de uma hora mais tarde. Todo o material foi então recolhido e entregue às autoridades policiais para investigação. A Irlanda montou a maior operação de segurança para a visita de Isabel II, uma ocasião cheia de simbolismo que visa testar a proximidade entre Inglaterra e Irlanda passados anos de conflitos. Já ontem tinha ocorrido uma ameaça de bomba em Londres. A última vez que um monarca foi à Irlanda foi em 1911, com Jorge V. Notícia actualizada às 8h45
REFERÊNCIAS:
Cidades Lisboa Londres
Carla Bruni-Sarkozy: A rainha de França
Ela é a senhora de França, mulher de Nicolas I, o Presidente-Sol. Carla Bruni-Sarkozy, a italiana que cresceu francesa, a modelo que se vestiu de cantora e se transformou em primeira-dama, catalisa um fascínio violento. Carla é rica, bonita, inteligente, elegante. É também distante. Algures entre Jacqueline Kennedy e Maria Antonieta, poucos aguentam uma rainha assim. (...)

Carla Bruni-Sarkozy: A rainha de França
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 10 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-06-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ela é a senhora de França, mulher de Nicolas I, o Presidente-Sol. Carla Bruni-Sarkozy, a italiana que cresceu francesa, a modelo que se vestiu de cantora e se transformou em primeira-dama, catalisa um fascínio violento. Carla é rica, bonita, inteligente, elegante. É também distante. Algures entre Jacqueline Kennedy e Maria Antonieta, poucos aguentam uma rainha assim.
TEXTO: Pedro Rosa Mendes falou com os biógrafos, oficiais e oficiosos, da “primeira-dama que não gosta do Eliseu”. O texto na íntegra pode ser lido na edição de 12 de Junho da revista Pública, vendida aos domingos com o jornal PÚBLICO e na edição “online” exclusiva para assinantes Outros destaques:- Julian Assange tornou-se num ditador, numa estrela pop, num pseudolíder revolucionário sem escrúpulos que perdeu de vista os objectivos iniciais. Transformou a WikiLeaks numa organização sem ética, democracia ou transparência. Esta é a visão de Daniel Domscheit-Berg, o eterno “número dois” de Assange, que deu uma entrevista a Paulo Moura sobre o livro que escreveu a explicar por que fundou a organização concorrente OpenLeaks e onde enxovalha o ex-amigo. - Hoje, o Movimento 20 de Fevereiro vai voltar a sair à rua em Marrocos. Quarta-feira, estará pronta a nova Constituição, que os eleitores vão referendar. O reino está a mudar. Já estava, dizem uns. Está, mas só à superfície, dizem outros. Reportagem de Sofia Lorena e Nelson Garrido, em Rabat- Esta é a noite do teatro musical norte-americano e uma peça transgressora sobre os mórmones e a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, criada pelos autores da série televisiva South Park, é a mais nomeada e uma vencedora antecipada. Tiago Bartolomeu Costa foi ver “The Book of Mormons” a Nova Iorque e conta como uma peça de teatro põe a América a olhar para a sua fé. . . em si mesma. - Todos sabemos que o mundo vai acabar em 2012. Até fizeram um filme sobre isso. O que muitos não sabem é que o iPod foi um dos maiores fracassos comerciais de sempre. Palavra de Alan Sugar, fundador da Amstrad. E que o “spam” acabou em 2006. Palavra de Bill Gates. Alexandre Guimarães enumera algumas das previsões falhadas dos gurus da tecnologia. - A inauguração do Museu Cristobal Balenciaga marca o nascimento de um novo espaço cultural no País Basco e pôs Joana Amaral Cardoso a olhar para a obra do visionário basco e sua presença na história do século XX.
REFERÊNCIAS:
Tempo Junho Fevereiro
Dez mil pessoas sem electricidade em Leiria, Caldas da Rainha e Torres Novas
Cerca de 10 mil pessoas estão sem electricidade nas zonas de Leiria, Caldas da Rainha e Torres Novas, na sequência do mau tempo que está a assolar o país, disse à Agência Lusa fonte do gabinete de comunicação da EDP Distribuição. (...)

Dez mil pessoas sem electricidade em Leiria, Caldas da Rainha e Torres Novas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 10 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-12-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: Cerca de 10 mil pessoas estão sem electricidade nas zonas de Leiria, Caldas da Rainha e Torres Novas, na sequência do mau tempo que está a assolar o país, disse à Agência Lusa fonte do gabinete de comunicação da EDP Distribuição.
TEXTO: “Tivemos um pico de 40 mil clientes sem electricidade à hora do almoço e, neste momento, temos 75 por cento dos clientes já ligados”, afirmou Maria Antónia Fonseca, esclarecendo que a EDP Distribuição tem “geradores em locais estratégicos em caso de não conseguir fazer a reposição do abastecimento de energia nas próximas horas”. Segundo a responsável, houve “uma situação de mau tempo, não só nesta região, mas noutras do país, como a norte, que foi sobretudo grave ao início da manhã e por volta da hora do almoço”. “Houve muito vento e trovoada, a que sucederam períodos de acalmia”, explicou Maria Antónia Fonseca, adiantando que a EDP Distribuição tem “no terreno duas centenas de operacionais” para resolver os problemas decorrentes do mau tempo. A responsável frisou que “algumas avarias que tinham sido reparadas tiveram de ser novamente alvo de intervenção durante a tarde”, o que levou também ao reforço das equipas de intervenção por outras de fora da região. Maria Antónia Fonseca acrescentou que a situação obrigou a empresa a activar “o plano de actuação em regime perturbado”.
REFERÊNCIAS:
Secretária de Estado estranha que se trafiquem mais homens que mulheres em Portugal
A secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade, Teresa Morais, estranha que Portugal tenha “mais homens traficados que mulheres” e mais tráfico de seres humanos para “exploração laboral do que para exploração sexual”. (...)

Secretária de Estado estranha que se trafiquem mais homens que mulheres em Portugal
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 10 | Sentimento 0.225
DATA: 2011-10-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: A secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade, Teresa Morais, estranha que Portugal tenha “mais homens traficados que mulheres” e mais tráfico de seres humanos para “exploração laboral do que para exploração sexual”.
TEXTO: Esta “não é a tendência que se regista no mundo inteiro” nem na Europa, designadamente “em relação aos países com quem faz sentido que nos comparemos”, sublinhou a governante, que falava aos jornalistas hoje, em Coimbra, à margem do colóquio “Tráfico de Seres Humanos”, promovido pela lus Gentium Conimbrigae/Centro de Direitos Humanos, da Faculdade de Direito daquela cidade. “Os números retirados do último relatório de tráfico de seres humanos”, divulgado há pouco tempo, revelam “uma situação que, a existir em Portugal com estes contornos, destoa fortemente da tendência europeia e mundial”, afirmou Teresa Morais. Com tal constatação, a secretária de Estado da Igualdade não quer, todavia, dizer que os dados do relatório do Observatório do Tráfico dos Seres Humanos (OTSH) – que se limita a “registar os números que recebe dos órgãos de polícia criminal” – “não são fiáveis”, mas antes, que pode estar a acontecer em Portugal aquilo que já sucedeu noutros países. Perante a “dificuldade da prova do crime de tráfico, podem estar a ser sinalizados crimes como sendo tráfico, mas depois confirmados sobre outra forma, designadamente lenocínio, emigração ilegal, associação criminosa, sequestro”, admite a governante. “Precisamos de ter a certeza se essa dificuldade da prova do crime do tráfico não está a provocar algum desvio na qualificação dos actos criminosos que são identificados pelas polícias e que perante essa dificuldade acabam por confirmar a existência de outro crime mais fácil de provar”, salientou Teresa MoraisInstada pelos jornalistas, a secretária de Estado explicitou assim a afirmação que fizera na abertura do colóquio, considerando que “as estatísticas portuguesas podem não ser perfeitas” e que “é altura de clarificar essas dúvidas”. Entretanto, “vai ser feita uma reunião de trabalho com todos os órgãos de polícia criminal”, para “perceber as dificuldades com que se deparam os agentes” para a qualificação deste tipo de crimes, revelou Teresa Morais. No âmbito do colóquio que decorre hoje – Dia Europeu contra o tráfico de seres Humanos – o OTSH, que funciona junto do Ministério da Administração Interna, assinou, após a sessão de abertura, um memorando de entendimento com 16 entidades, entre as quais GNR, PSP, Polícia Judiciária e Serviços de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), além de outras entidades públicas e não-governamentais. Embora estivesse anunciada a presença do ministro da Administração Interna, Miguel Macedo não participou na abertura do colóquio e formalização daquele memorando de entendimento, por “impedimento de última hora”, disse Teresa Morais.
REFERÊNCIAS:
Entidades GNR PSP SEF
As actrizes continuam a ter um problema de protagonismo em Hollywood
Fosso entre homens e mulheres nos principais papéis do cinema aprofundou-se em 2014 – só 12% dos filmes tiveram protagonistas femininas. (...)

As actrizes continuam a ter um problema de protagonismo em Hollywood
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 10 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150501175228/http://www.publico.pt/1685802
SUMÁRIO: Fosso entre homens e mulheres nos principais papéis do cinema aprofundou-se em 2014 – só 12% dos filmes tiveram protagonistas femininas.
TEXTO: Duas listas, duas conclusões. A primeira diz-nos que os filmes mais vistos em Portugal em 2014 foram The Hunger Games: A Revolta – Parte 1 e Lucy –, ou seja, o ano pertenceu a Jennifer Lawrence e Scarlett Johansson. A segunda afirma que no ano passado só 12% dos filmes mais rentáveis foram protagonizados por mulheres – afinal, as actrizes principais são uma esmagadora minoria. E nos últimos três meses duas actrizes com mais de 40 anos e que não tinham papéis de relevo há anos viram-se no centro de um escrutínio mediático pelas supostas mudanças no seu rosto. Não só os dados do mais recente estudo do Center for the Study of Women in Television and Film (CSWTF) mostram que há menos 4% de filmes protagonizados por actrizes do que em 2002, como evidenciam que no último ano, apesar de as próprias actrizes estarem a subir o volume das suas críticas às disparidades de género em Hollywood, a quebra foi igualmente acentuada. Mesmo com Katniss Everdeen, a valiosa heroína interpretada por Lawrence no filme mais rentável do box-office norte-americano (o maior mercado do sector no mundo) em 2014, com a Lucy de Johansson, com a Tris de Shailene Woodley em Divergente ou com a Tammy de Melissa McCarthy a ganhar na bilheteira. São as excepções à regra, que se faz sobretudo de jovens mães, namoradas ou mulheres, e não de heroínas ou profissionais de sucesso. “Há um desligamento ou uma distância crescentes entre o que podemos percepcionar como sendo o actual estatuto das mulheres no cinema e o seu verdadeiro estatuto. Um punhado de casos muito mediáticos pode enviesar a forma como pensamos”, avisa, citada pela revista Variety, a directora executiva do CSWTF e autora do estudo anual, Martha Lauzen. Ou seja, o cinema não é mais paritário só porque Meryl Streep tem trabalho todos os anos. O levantamento abrange 23 mil papéis em 100 filmes e não só conclui que há um problema de protagonismo para as actrizes, mas também outros subjacentes. A começar pela diversidade racial – só 11% de todas as personagens interpretadas por actrizes em 2014 nos filmes made in Hollywood eram negras e só 4% eram latinas ou asiáticas. Em Hollywood, os homens também tendem a ser mais representados como trabalhadores, com 85% das personagens a terem profissões facilmente identificáveis no filme contra 75% para as mulheres; e 58% das personagens femininas foram identificadas pelas suas funções na vida pessoal (mães, mulheres, namoradas) contra apenas 31% dos papéis masculinos. “É uma pena que estas crenças continuem a limitar a relevância da indústria no mercado actual”, lamenta Lauzen. Em 2014, o ano em que Cate Blanchett aproveitou o discurso de vitória do Óscar de Melhor Actriz para lembrar que os filmes liderados por mulheres não são nichos nas bilheteiras, houve então menos 3% de papéis principais femininos no cinema americano de sucesso do que em 2013. E as candidatas a um potencial Óscar de Actriz Secundária não estão mais protegidas do risco de desaparecimento dos papéis que lhes dão trabalho: o estudo mostra ainda que entre as personagens secundárias nos mesmos filmes só 29% foram para mulheres. No que toca às idades, tema amplamente discutido quando em Outubro Renée Zellweger (45 anos) viu o seu rosto examinado ao milímetro pela Internet e que esta semana voltou a ser convocado para a discussão graças às feições de Uma Thurman (44 anos), o cenário não favorece as actrizes. O estudo do CSWTF foi publicado no mesmo dia em que Thurman foi fotografada na apresentação da sua nova série de televisão – estava diferente, noticiou-se, mas esta quinta-feira a actriz apareceu igual a si mesma na TV. "Parece que ninguém gostou da minha maquilhagem. " O seu maquilhador, Troy Surratt, explicou que abdicou de máscara nas pestanas, apostou numa forte sobrancelha, o que teve um efeito de lifting, e usou tons naturais na pálpebra. Ainda assim, já se tinha gerado novo debate sobre a pressão sofrida pelas actrizes na indústria, que parece glorificar a eterna juventude. Feminina. E os dados recolhidos sobre os filmes mais rentáveis de 2014 parecem corroborar uma dessas teses que advoga que as actrizes com mais de 40 anos têm opções limitadas para trabalhar. De acordo com as contas feitas pelo centro da Universidade Estadual de San Diego, no grande ecrã elas são mais jovens do que eles. Cinquenta e três por cento das personagens femininas estão na casa dos 20 ou 30 anos (30% e 23%, respectivamente) e a mesma percentagem é válida para os papéis masculinos – só que eles encarnam personagens de 40 anos. “Pelos padrões de Hollywood acho que já corri um grande risco por não ter feito um facelift”, disse ao jornal Mail on Sunday Julia Roberts, 47 anos e um Óscar (2001, por Erin Brockovich) na esteira da polémica Zellweger.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens género estudo minoria mulheres feminina desaparecimento
Marcel Nuss: o deficiente que reclama o direito de fazer amor
Em França, um activista totalmente paralisado por doença congénita, exige que o Estado reconheça a “prostituição voluntária”. Porque o prazer sexual não pode ser negado a nenhum cidadão. (...)

Marcel Nuss: o deficiente que reclama o direito de fazer amor
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 10 | Sentimento 0.392
DATA: 2013-01-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em França, um activista totalmente paralisado por doença congénita, exige que o Estado reconheça a “prostituição voluntária”. Porque o prazer sexual não pode ser negado a nenhum cidadão.
TEXTO: De Estrasburgo, Marcel Nuss aparece no écrã do computador, via Skype, com um sorriso luminoso. Deficiente profundo devido a uma amiotrofia espinal, doença congénita e hereditária que o paralisou aos 10 meses, lançou um livro, Je veux faire l’amour (Quero fazer amor, Ed. Autrement), exigindo o direito a “assistência sexual”, para si e outros na sua condição. Com isso, lançou um debate em França sobre a legalização da “prostituição voluntária”. “Vou contar-lhe apenas uma pequena parte da minha vida, porque ainda este ano vou publicar a história dos meus 57 anos, uma biografia com o título ainda provisório de A contra-corrente”, diz Nuss ao PÚBLICO, numa conversa que durou duas horas. Não é fácil falar e fazer-se entender depois de, aos 19 anos, ter sido submetido a uma traqueotomia e ter de respirar por um ventilador. O diálogo começa assim: “Vê-me no meu escritório, mas não pense que estou confinado a esta cama regulável que apenas me facilita a conversação; aqui, movimento-me numa cadeira de rodas, embora sempre com a ajuda dos meus quatro empregados. Só me deito em casa, para descansar bem, porque trabalho cerca de dez horas por dia. ” E o que faz ele? “Escrevo num computador, graças a um microfone de reconhecimento de voz; dou palestras, percorro uma média de 25. 000 quilómetros por ano por vários países, num carro adaptado e conduzido por um motorista. No próximo ano, estarei em Bolonha, Itália. ”Um lobo por dentroQuando o som perde qualidade e ele se queixa, uma mão feminina aproxima-se, silenciosamente, para ajustar o auricular. Mais tarde, enquanto ele explica o simbolismo da tatuagem no tronco, que o lençol não tapa por completo, a mesma mão interrompe-o para lhe dar uma chávena de chá e um comprimido. “Mandei tatuar um lobo, porque é um animal selvagem e solitário como eu, mas eu sou apenas no interior; por fora sou muito aberto”. Nascido em Geispolsheim, nos arredores de Estrasburgo, em 1955, o pai carpinteiro e a mãe dona de casa, com um irmão e duas irmãs com os quais frequentava a mesma escola, Nuss conta que foi hospitalizado, pela primeira vez, tinha um ano de idade. “Era um lugar sem condições para a minha situação”, critica. O estado de saúde agravou-se aos 14, e os estudos foram interrompidos. “Tinha eu 19 anos, depois de uma paragem respiratória, fiquei oito dias em coma e obrigado a permanecer cinco anos no serviço de reanimação”, detalha. “Foi aqui, em 1978, que conheci Gabi, uma enfermeira com quem me casei”“Seduzimo-nos mutuamente, e Gab deixou o hospital para se dedicar exclusivamente a mim – sempre sozinha”, reconhece Nuss, cabeça rapada e o rosto com barba emoldurado por uns óculos de massa. “Juntos, aprendemos formas alternativas de fazer amor. Tivemos dois filhos: um rapaz, Mathieu, e uma rapariga, Elodie. Felizmente, em nenhum deles se manifesta a minha doença, mas são portadores dela. Se um dia quiserem dar-me netos, os seus parceiros terão de fazer testes para garantir que não correm riscos. ”“Em 2002”, prossegue Nuss, “eu e Gab decidimos divorciar-nos. Ela estava esgotada, e a nossa relação também. Desde então, não mais nos contactámos. Voltei a ter uma companheira durante sete anos e outros romances, sobretudo com escort girls [acompanhantes] “Não sou como os tetraplégicos”, sublinha. “Posso não mexer nada, mas sinto tudo, incluindo desejo. Comigo, a mulher é a parte activa fisicamente, e eu sou activo pela palavra. E ela não fica indiferente. Ninguém pode negar a um deficiente o direito a ter prazer sexual. Por isso, ajudei a fundar a Coordination Handicap et Autonomie, em 2002, e o Collectif Handicaps et Sexualités (CHS), em 2007. ”Quando a deficiência faz o homemApós o divórcio, Nuss recebia um subsídio de 900 euros por mês, que ele gastava em três horas de assistência por dia. “Um dia fui ao encontro de Ségolène Royal [na altura, ministra delegada para a Família e os Deficientes, no Governo socialista de Lionel Jospin] para que ela visse, com os seus próprios olhos, a situação de dependência total em que me encontrava. Consegui mudar a lei, o que surpreendeu muita gente. Em Abril de 2002, comecei a receber quase 10 mil euros mensais em ajudas do Estado – e é com esse dinheiro e o que cobro nas minhas conferências, aproximadamente 9500 euros brutos por ano, que pago 300 a 400 euros por mês a cada um dos meus empregados, que têm famílias para sustentar. ”A batalha de Marcel Nuss tem deparado com críticas dos que vêem nos seus esforços uma campanha para legalizar a prostituição. Ele esclarece: “É preciso reconhecer que existe uma prostituição especializada e voluntária – em França, uns 20% de prostitutos, homens e mulheres, são voluntários e merecem ser respeitados. É uma escolha deles e isso não me perturba, porque não os confundo com a prostituição mafiosa que, essa sim, é um escândalo. ”Como reagem os filhos de Marcel a esta sua militância? “O meu filho, professor de 30 anos, e a minha filha, musicóloga de 28, nunca deixaram de me apoiar”, assegura Nuss. “Eles entendem que, para mim, a doença não é uma fatalidade. É parte de mim, mas não é toda a minha vida. A minha deficiência tornou-me mais forte. Em geral, a deficiência destrói; a mim, ela construiu-me. Não me impede de viver, de trabalhar, de ser feliz. ”Além da autobiografia em fase de conclusão, Marcel continua, desde os 20 anos, a escrever poemas, “a maioria eróticos”, revela, citando como fontes de inspiração Arthur Rimbaud, Guillaume Apolinaire, Jacques Prévert e alguma poesia japonesa. “Não sou eu que escrevo, são os poemas que me escrevem. De manhã, por vezes, surgem bruscamente. ” E envia, por email, um desses poemas:VoyageL'amour est un voyageentre les lignes d'un corpsqui dessine le décorde désirs incarnesSomptueux envolsur des ailes de chairemportant son sanctuairevers des nues illuminesAtteindre le firmamentau sein de ses étoilespuis atterrir doucementsans atterrir vraimentL'amour est un voyaged'intenses voluptésaéroport de Lille"Madame, il faut descendre maintenant. "A finalizar a entrevista, Marcel Nuss faz questão de falar de Jilly, a actual namorada, de 27 anos. “Ela é assistente sexual. Eu já era conhecido e ela ficou surpreendida por a contactar. Apaixonámo-nos por Skype. (Risos) Há quem fique chocado com a nossa diferença de idades, mas esse choque só existe por eu ser deficiente, porque, nos meios intelectuais, há muitos homens da minha idade que se envolvem com mulheres mais jovens. Quem nos conhece acha tudo normal. Gostava que a nossa sociedade fosse mais tolerante e não fosse tão intrusiva. ”Jilly, que aparece junto de Nuss nas fotos que ele partilha no Facebook, muitas vezes alertando os amigos virtuais para os artigos do seu blogue (http://nussmarcel. fr/), tem planos para se mudar para casa dele, em Fevereiro. Irá abandonar a profissão? “A decisão será dela e eu aceitarei o que ela decidir. Se quiser continuar, não vejo problema. Na nossa cultura o amor é sexo. Para mim, amor não é sexo, mas o sexo faz parte do amor. Ou amamos ou não. Temos de respeitar a liberdade do outro. ”
REFERÊNCIAS:
Líder das Mulheres Socialistas acusa Passos de “irresponsabilidade”
A presidente do Departamento das Mulheres do PS, Catarina Marcelino, classificou de “irresponsabilidade” a posição assumida por Pedro Passos Coelho, que admitiu que a legalização do aborto venha a ser referendada em Portugal. (...)

Líder das Mulheres Socialistas acusa Passos de “irresponsabilidade”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 10 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-05-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: A presidente do Departamento das Mulheres do PS, Catarina Marcelino, classificou de “irresponsabilidade” a posição assumida por Pedro Passos Coelho, que admitiu que a legalização do aborto venha a ser referendada em Portugal.
TEXTO: Catarina Marcelino, em declarações ao PÚBLICO, lembrou que se trata de “um problema de saúde publica que ficou resolvido”. E frisa que “o aborto clandestino era um flagelo, que matava pessoas, pelo que se questiona: “Como é um homem que quer ser primeiro-ministro vem pôr em causa esta realidade por motivos eleitoralistas”. A dirigente socialista insiste em que, “do ponto de vista social, a questão está pacificada” e remata: “É incrível como é que um individuo que, do ponto de vista pessoal, nunca teve posições conservadoras em matéria de costumes agora diz isto. ” E acusa: “É um aproveitamento vergonhoso do tema para pescar eleitorado mais conservador. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave aborto homem social
Na Guiné-Bissau, a mutilação genital passou à clandestinidade
Em 2011, a Guiné-Bissau aprovou uma lei que criminaliza a mutilação genital feminina. A par da legislação, uma mudança de mentalidades, sobretudo entre a comunidade muçulmana, e a acção no terreno de várias organizações da sociedade civil têm feito descer a percentagem de raparigas com menos de 15 anos excisadas (ainda assim, eram 30%, em 2014). Até agora, mais de 400 comunidades anunciaram ter abandonado esta prática e fizeram-no em declarações públicas. Mas abandonaram mesmo? Uma viagem pelas regiões Norte, Centro e Leste da Guiné para tentar perceber o que mudou. (...)

Na Guiné-Bissau, a mutilação genital passou à clandestinidade
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 10 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em 2011, a Guiné-Bissau aprovou uma lei que criminaliza a mutilação genital feminina. A par da legislação, uma mudança de mentalidades, sobretudo entre a comunidade muçulmana, e a acção no terreno de várias organizações da sociedade civil têm feito descer a percentagem de raparigas com menos de 15 anos excisadas (ainda assim, eram 30%, em 2014). Até agora, mais de 400 comunidades anunciaram ter abandonado esta prática e fizeram-no em declarações públicas. Mas abandonaram mesmo? Uma viagem pelas regiões Norte, Centro e Leste da Guiné para tentar perceber o que mudou.
TEXTO: Quem acompanha o fenómeno da mutilação genital feminina, tem consciência da lentidão da mudança rumo à sua erradicação. Portanto, não é de estranhar que, em países onde essa mudança está em curso, surjam denúncias, aqui e ali, que apontam para a persistência desta prática. Como é o caso da Guiné-Bissau. Porém, desde que o país adoptou uma lei que proíbe a excisão das mulheres, em 2011, a prática desapareceu do espaço público. As meninas e raparigas já não são mutiladas, pelo menos à vista de toda a gente. Já em sigilo, em espaços recatados, desconfia-se de que haja quem ainda o faça. E até em bebés, para não dar tanto nas vistas. Ciente da “crescente dimensão social da excisão”, o Estado da Guiné-Bissau adoptou a Lei n. º 14/2011, que pune o crime de excisão feminina, “nas suas variadas formas”, com pena de prisão de dois a seis anos. No prefácio do Guia dos Direitos Humanos e Género dedicado à lei, assinado pelo Ministério da Justiça da Guiné-Bissau e pelas Nações Unidas, recorda-se que a lei é o culminar de um “longo” e “árduo” processo de sensibilização, ao longo de duas décadas, que “contou com a participação de vários actores”. As organizações da sociedade civil, apoiadas pela comunidade internacional, podem, justamente, reclamar vitória. O mesmo não se pode dizer dos políticos nacionais, avessos a tecerem considerações sobre um tema que lhes pode custar votos. A lei impõe a obrigatoriedade de denúncia, mas as autoridades locais policiais e judiciais temem represálias das comunidades onde vivem e trabalham. Mais de 400 comunidades anunciaram ter abandonado a prática e fizeram-no em declarações públicas, com pompa e circunstância. Mas abandonaram mesmo? Com uma abordagem de duplo olhar — mulher portuguesa e homem guineense —, percorremos as cidades e as tabancas de Norte, Centro e Leste do país, num total de 800 quilómetros, para tentarmos perceber se a lei está a ser cumprida. A viagem começa no Leste da Guiné-Bissau, zona com maior prevalência de mutilação genital feminina, dada a presença das etnias mais praticantes, como fulas, mandingas, biafadas, saracolés. Estradas mais ou menos esburacadas, a cultura milenar do arroz espraiada por vastos terrenos pantanosos e férteis, a ponte sobre o rio salgado de Geba, abutres, que ali se chamam djugudés, e esvoaçam à passagem dos carros, um cartaz onde se lê que o “fanado di mindjer” não faz parte dos cinco pilares do islão (ao contrário da circuncisão masculina). Fanado é o nome crioulo para o ritual secular que, a pretexto de iniciar as meninas na idade adulta, inclui a ablação parcial dos seus órgãos genitais. No escritório da Plan International, saúde, saneamento básico e educação, nomeadamente a escolarização das meninas, são referidas como as principais preocupações da população da região de Bafatá. Ninguém duvida do “grande impacto” da lei, mas alertam para as resistências que persistem. Um funcionário judicial que trabalha para a comunidade internacional, e que não pode ser identificado, confirma que já não se realizam rituais públicos, mas isso não quer dizer que a prática tenha desaparecido. Duvida da aplicação prática da lei e da genuinidade das muitas declarações públicas em que, com pompa e circunstância, as tabancas assumem o compromisso de abandonar a prática. Os dois casos de prática posterior à criminalização julgados em Bafatá foram acompanhados com “revolta” pela população local, deixando claras as “bolsas de resistência” que consideram a lei de 2011 uma interferência do Estado na vida privada das famílias e comunidades guineenses. Poucos dias após a publicação da lei no Boletim Oficial (equivalente ao Diário da República), quatro fanatecas (excisadoras) de Bafatá submeteram à excisão outras tantas crianças, entre os dois e os quatro anos. O crime foi denunciado e a polícia de Bafatá agiu, perante a forte pressão de activistas locais, liderada pela presidente do Comité Contra as Práticas Nefastas à Saúde da Mulher e da Criança da Guiné-Bissau, Fatumata Djau Baldé, já munida com a força da lei. As quatro fanatecas — duas alegadamente familiares de um respeitado chefe local — foram detidas, mas, devido à pressão de líderes religiosos, acabaram por ser libertadas dias depois. Literalmente com o Boletim Oficial na mão, que ia mostrando a quem lhe cruzasse o caminho, Fatumata Baldé mudou-se de Bissau para Bafatá “para melhor pressionar a polícia e a justiça” a aplicarem a lei. Nos primeiros momentos após a criminalização da prática, até os jornalistas tinham medo de noticiar as denúncias dos activistas. Apenas a agência Lusa acompanhou os casos de perto e no terreno. Após vários dias de reuniões intermináveis com o governo local e elementos do poder judicial, as quatro fanatecas acabaram por ser novamente detidas e julgadas pelo tribunal regional de Bafatá, naquele que foi o primeiro julgamento desta natureza na Guiné-Bissau, uma “primeira vitória contra um crime antigo”, nas palavras de Fatumata Baldé. Condenadas a três anos, com penas suspensas, as mulheres de idade avançada viram as penas revertidas em multas, que, segundo fontes judiciais, foram pagas por familiares. O mesmo não aconteceu com outro caso, em Fevereiro de 2013, quando um guineense a viver em Portugal voltou à sua aldeia natal, na região de Gabú, e mandou excisar quatro crianças da sua família. O homem foi detido pela polícia, mas apenas por algumas horas, sendo posto em liberdade por alegada ordem do governador de Gabú. Sob a pressão do Comité Contra as Práticas Nefastas, a justiça convocou o suspeito, mas este, avisado por alguém, desapareceu da Guiné-Bissau antes disso, tal como as duas fanatecas autoras materiais do crime. As suspeitas são muitas: há fanatecas ambulantes, que extravasam fronteiras, a prática é agora executada em crianças, que não podem reclamar, as meninas são introduzidas, às escondidas, no fanado dos rapazes, que continua a realizar-se. Não tem provas, nem testemunhou directamente casos, mas Adamaia Gavancho admite essas hipóteses. É activista da René-Renté, uma das organizações que integrou o Projeto Djinopi, que, durante cinco anos, combateu a mutilação genital feminina na Guiné em dois eixos: reconversão profissional das excisadoras e campanhas de sensibilização para cada público-alvo. O delegado de saúde de Bafatá também não tem dúvidas de que “continuam a fazer a prática de uma forma clandestina, escondida” e que até “simulam que a criança furou uma orelha e que chora por isso”. Julião Mandim defende que a mutilação genital “deve ser banida”, porque “tem muitas consequências no momento do parto”. Braima Embaló, sociólogo, activista e agente de ligação do Comité Contra as Práticas Nefastas da Guiné-Bissau, conduz-nos a uma tabanca em chão dominado pela etnia fula. Agachada sobre um banco tradicional de madeira está Umo Baldé, mas depressa surgem cadeiras de plástico de todos os lados para sentar os convidados. Umo era a chefe das fanatecas do reino de Cossará e garante que a mutilação genital feminina já não se faz. “É como quem bebia álcool, nunca mais volta aos locais da má vida”, compara. As fanatecas são mulheres matronas, geralmente também parteiras ou curandeiras tradicionais, a quem é reconhecido um prestigiado estatuto social para executar o corte dos órgãos genitais. Agora viúva, Umo admite estar preocupada com o sustento das “muitas bocas” que tem para alimentar, no conceito africano de família alargada. Já sem arcaboiço para trabalhar no campo, vende tabaco, aos molhos. Enquanto fanateca, tinha melhor vida. Mas o Estado disse para parar e o Estado não se contesta — se é lei, é para obedecer. Vamos ouvir esta frase vezes sem conta ao longo da viagem. Braima Embaló conta 25 fanatecas que, no sector de Bafatá, estão agora a sensibilizar as comunidades para abandonarem a prática. Ainda há “resistência”, mais nas tabancas do que na cidade, garante o activista, que trabalha com 20 comunidades que garantem ser contra a prática. Mas ele sabe que esta ainda não acabou. “Fazem a bebés, no sigilo”, denuncia, recordando “a tragédia” que afectou uma menina, sujeita a um “corte demais”, numa aldeia vizinha. Além disso, relata, “as fanatecas são móveis”, circulam entre tabancas e até saem da Guiné-Bissau para os países vizinhos - Senegal e Guiné-Conacri, ambos com leis que proíbem a prática, mas igualmente listados pela comunidade internacional como países praticantes (no segundo caso, com um dos mais elevados índices de vítimas). Também saem para a Europa, incluindo Portugal, garante Braima, embora nunca tenha conseguido apanhar ninguém em flagrante. A denúncia às autoridades esbarra com a proximidade entre estas e as próprias comunidades. Também por isso — assinala o activista — os políticos não se destacam na oposição à prática, porque isso lhes pode custar votos entre as etnias islamizadas (convertidas ao islão e não muçulmanas de origem), que, no caso da Guiné-Bissau, são as únicas que praticam a excisão. O ritual do fanado, que era publicamente anunciado à comunidade, já não se faz— e isso é um princípio. A estrada de terra vermelha e vegetação verde desemboca na mais antiga aldeia mandinga, onde provavelmente terá sido construída a primeira mesquita da Guiné. O comité de Bidjine está reunido e fala a uma só voz. Chefes de tabanca e líderes religiosos, uma cúpula de homens no posto da idade, garantem que nunca mais ouviram falar de nenhum caso desde que a lei contra a mutilação foi aprovada. Não foi fácil convencerem a comunidade a abandonar uma prática que consideram “nociva e proibida”, mas levaram a sensibilização porta a porta e, a 16 de Fevereiro de 2016, fizeram uma declaração pública de erradicação da excisão feminina. Não pararam por aí. Um grupo de participação infantil, com crianças e jovens dos 10 aos 17 anos, raparigas e rapazes, continua a “vigiar as práticas nefastas”. Por exemplo, o casamento forçado ou a desigualdade do sexo feminino na escolarização. “Há mais meninas do que meninos nas escolas daqui”, dizem, orgulhosos, os líderes da comunidade. “A olho nu não se vê” a mutilação genital feminina na região de Gabú, provavelmente a mais arreigada à prática, até pela fronteira com a Guiné-Conacri, país onde, apesar de a lei o proibir, praticamente todas as mulheres são sujeitas à excisão. “Dentro do perímetro urbano, esta situação já não se verifica” e as pessoas estão demasiado “entrelaçadas” para conseguirem ocultar a prática da comunidade, garante o governador regional de Gabú, atribuindo mérito à lei, mas, sobretudo, às “tantas sensibilizações” que levaram as famílias a “compreender o risco” da excisão. “Nenhum líder religioso muçulmano pode dar justificativo a esta prática”, frisa o governador, também ele muçulmano. “Estamos mesmo na rota de uma separação de vez com este acto, que (. . . ) é deveras humilhante para quem é muçulmano”, considera Abdu Sambu. Atrás do palácio do governador, edifício colonial com varanda privilegiada sobre a cidade, Gibril Bodjam lidera o Conselho da Juventude de Gabú para debater os problemas que afectam os jovens. “Mesmo com a lei, há pessoas que estão a resistir, que estão a desafiar o Estado. Mudar a mentalidade das pessoas não é nada fácil”, reflecte, acusando a comunidade de não colaborar, com denúncias, por “medo”. À sala pequena chega, entretanto, o imame (sacerdote islâmico) de um dos bairros de Gabú, Ibrahima Baldé. Há muito tempo que não vê nem presencia a prática. “Não posso dizer que acabou”, esclarece, contando, porém, que costumava ser chamado pelos chefes de família para testemunhar o fanado e tal deixou de acontecer. Enquanto professor corânico, era comum ser informado pelas famílias sobre a ausência das meninas, quando estas eram submetidas ao fanado, e há muito que ninguém o faz. Apesar dos relatos pontuais sobre este ou aquele imame que se recusa a respeitar a lei, Ibrahima Baldé frisa que os líderes religiosos não podem ceder à pressão da comunidade e têm de cumprir o decreto. O imame deixa a sala e abre-se espaço para iniciar conversa com uma jovem mulher, membro do Conselho da Juventude de Gabú, a prova de que o tema já não é tabu. Cadidjatu Candé, de 23 anos, não se coíbe de dar o seu ponto de vista sobre o tema. Antes da lei, era muito mais difícil convencer uma mulher a falar. “Fui submetida à mutilação e sei muitíssimo bem qual é a consequência”, diz. “São vastas. Explicá-las é difícil”, refugia-se. Sobre a tradicional passagem do ritual de geração em geração, a animadora cultural garante que a sua filha de dois anos não será excisada. “A minha mãe cuida de mim, a mãe do meu marido cuida do meu marido, mas eu e o meu marido é que cuidamos da nossa filha”, distingue. “Convencer o meu marido não seria uma coisa difícil. É só mostrar qual é a consequência. Não é falar, é mostrar. Ver uma vez é melhor do que ouvir dez vezes”, acredita. Já adulta, Cadidjatu Candé apontou o dedo à mãe por a ter submetido ao ritual, mas recebeu um pedido de desculpas. “O que é feito já é feito, não pode ser retirado. Mas ela também me prometeu que sobre as minhas filhas sou eu que vou decidir e que ela vai apoiar-me. ”Os mais velhos, sobretudo homens, são os que oferecem mais resistência ao fim da excisão. “Dizem que é cultura, que não pode acabar, que uma mulher não mutilada é impura, não pode cozinhar para o marido, não pode ir à mesquita, não se pode misturar com as mulheres mutiladas. ” Mas, desde que há uma lei e que os líderes religiosos muçulmanos têm mais conhecimento sobre o que diz o livro sagrado Alcorão, a prática “está a diminuir”. Umo Embaló já foi a Meca, onde ficou a saber que muitas mulheres muçulmanas não são mutiladas. “Pedi perdão a Deus pelos pecados que cometi enquanto fanateca, agora sei que não o devia ter feito”, lamenta. “Além de Deus, acima dos homens está o Estado. Se o Estado ditar uma ordem, ninguém deve desobedecer. A partir do momento em que fomos informadas da lei, tivemos de parar, até porque vimos com os nossos olhos as consequências da prática. Faz tempo que abandonámos a prática nesta zona”, relata a ex-fanateca de Gabú. Nenegale, Otcha e Sumae são todas mulheres de idade avançada e, em comum, têm a herança das facas na linhagem familiar. Enquanto o quotidiano do bairro onde vivem acontece — as crianças brincam, os animais circulam devagar, ao calor, as mulheres estendem roupa e preparam a comida —, todas garantem ter baixado as lâminas. Perderam dinheiro, mas ganharam descanso. Não conhecem fanatecas ainda em funções, nem ouviram falar das tais excisadoras ambulantes. Tradicionalmente, o fanado é anunciado aos vizinhos, é uma prática de exposição pública na comunidade — de modo que, para elas, não faz sentido falar em clandestinidade ou encobrimento. No Hospital Regional de Gabú, o director clínico acha que “a prática está a diminuir, porque as fanatecas têm medo da lei”, mas Flávio Nhaga acha que as mulheres ainda não tomaram consciência dos problemas que a excisão traz para a saúde, até porque só contactam com as unidades de saúde quando têm um problema e não para observação regular. “Podem sangrar até morrer”, frisa, explicando que, na região, há um grave problema com fístulas — nos últimos anos operaram 46 mulheres, mas há muitas que ainda esperam essa oportunidade. Flávio Nhaga está em Gabú apenas há dois anos, mas, no posto anterior, lembra-se de suspeitar de um caso, em 2013, quando viu uma criança de quatro meses com sangramento vaginal. A criança foi trazida por uma mulher mais velha, que, quando ele a abordou, desapareceu e deixou-o com a criança nos braços. Se isso lhe voltar a acontecer, garante que fará denúncia. Na zona rural de Gã-Mamudo, a resistência está na cara enfadada do imame Lamini Turé, sentado sobre um tronco comprido de madeira, com o Alcorão entre as mãos. Faz parte do comité de homens grandis (mais velhos e experientes). “Estando de acordo ou não, o Estado é o Estado e todos estamos debaixo da lei”, limita-se a dizer, sem grande convicção. A conversa é suspensa por momentos, para deixar passar a algazarra da comitiva que segue o cancuran, figura mítica do ritual de passagem, coberta de um tecido vermelho, que vai desfiando a espada no ar. “É o fanado dos rapazes”, dizem e repetem, para garantir que percebemos. O das raparigas “ka tem mas” (já não faz mais) e nem sequer há fanatecas vivas para o fazerem, garantem, acolhendo com um esgar a ideia de que meninas e meninos se possam misturar num ritual que sempre se fez em separado. Sob o alpendre, o imame de Cutia pincela uma tábua de madeira inscrita com versículos do Alcorão. Ao seu lado, nesta zona do Centro do país, estão quatro mulheres grandis, que, quando foram submetidas ao fanado, não conheciam as consequências da prática. São agora vigilantes do Comité Contra as Práticas Nefastas, uma espécie de polícia secreta que reporta eventuais casos de mutilação, ou outras práticas nocivas, para que o processo criminal possa ser desencadeado. Binta Seidi apressa-se a mostrar o telemóvel que guarda numa bolsa salmão de trazer à cintura. Foi o comité que lhe deu o aparelho, mas já não tem saldo para cumprir a função de reportar. Contas à parte, a organização liderada por Fatumata Baldé tem uma impressionante rede de vigilantes no terreno. “O combate leva algum tempo, mas não há nada que se faça sem que a população saiba”, assevera Binta Seidi, que vai tentando enganar mulheres da comunidade com falsos incentivos ao fanado, para confirmar se o fazem às escondidas. Sem sucesso, ninguém contesta a lei. O imame Bubacar Seidi ri-se das especulações sobre meninas pequenas e excisadoras ambulantes, que considera descabidas. “O Estado disse para parar e a tabanca parou”, garante. O fanado é uma cerimónia sagrada, que implica toda a comunidade e, por isso, fazer às escondidas não faz sentido. As matronas têm de estar presentes a participar e presenciar, para “correr bem”, explica Binta Seidi. Enquanto a conversa segue, um grupo de meninas dirige-se para a escola, onde se ensinam “direitos e deveres iguais” para todas as crianças. “São quase iguais. Dantes havia separação, os rapazes iam, elas não. Mas agora vão todos. Aprendem juntos, as turmas são mistas. Há raparigas que têm melhores notas do que os rapazes. Estudam mais porque querem atingir o nível deles”, diz o director da escola básica local, Iaia Sow. Apesar de, em 23 professores, ainda só quatro serem mulheres, a associação dos alunos da escola é presidida por uma rapariga. O problema é quando as meninas vão à escola e aparecem grávidas por obra e graça de professores ou alunos, denuncia a comunidade, lamentando que o castigo recaia apenas sobre a menina, que, com a gravidez não planeada, abandonará a escola, mas nada aconteça ao pai da criança. Aua Nanqui, representante das mulheres locais, conta que, na tabanca de Mandingará, elas foram pioneiras a rejeitar o fanado, por causa das consequências no parto — e os homens acompanharam a sua decisão. “Aqui as mulheres decidiram abandonar primeiro e antes de o Estado impor”, recorda. “O mais importante para uma mulher é gerar filhos, ir ou não ir ao fanado é irrelevante, desde que consiga procriar”, valoriza. Ninguém quer ir para a prisão, por isso cumpre-se a lei. Mas já antes os agentes de saúde comunitários tinham sido convincentes sobre os riscos da prática para a saúde. Como em muitos outros locais, já se fizeram mangadel (muitos) seminários e conferências sobre mutilação genital feminina. “As coisas mudaram, a educação é diferente, os tempos são outros”, observa. Duas dezenas de mulheres - grandis, badjudas e mininas, mais velhas, jovens e crianças — suspendem o quotidiano na tabanca de Linjana para exprimirem a sua opinião sobre o combate à mutilação genital. Os panos coloridos que cobrem as cabeças e os corpos contrastam com os rostos fechados. O assunto é sério e até há pouco tempo nem falar sobre ele era possível. Agora, as antenas humanas do Comité Contra as Práticas Nefastas estão espalhadas por ali, os médicos estão mais atentos e, nas mesquitas, os imames apoiam o Estado neste combate. O fim da prática não prejudicou os casamentos — os homens de agora aceitam mulheres não excisadas. Todos garantem que nenhuma das meninas ainda bebés que andam pelos colos das mulheres ali concentradas será excisada. “É crime”, assinalam. “Temos medo da lei do Estado, a lei do Estado é perigosa”, diz Ké Messén Seidi, comité de tabanca (figura escolhida pela aldeia para a gerir). Bubacar Djaló é a autoridade máxima entre os muçulmanos da Guiné-Bissau. “Nunca o islão recomenda desafiar a autoridade”, destaca. “A autoridade estatal e a autoridade religiosa coabitam. A religião está sob a autoridade do Estado, desde que este não tome decisões contrárias à religião”, realça. Ora, o fanado remete para “os usos e costumes dos povos” e não decorre de “decretos religiosos”, está “mais ligado à cultura africana do que à cultura islâmica”, distingue. O islão não recomenda a prática e todos os sábios muçulmanos sabem disso — mas isso não impede que alguns líderes religiosos atribuam “um cunho islâmico” ao ritual, admite o presidente da União Nacional dos Imames da Guiné-Bissau. “Quem infringir a lei será castigado. Não há divergência de pontos de vista, há convergência de posições”, sublinha. Há relatos de imames que aderiram ao combate à prática, mas depois recuaram, e de outros que usam as kutba (equivalentes às homilias) para a defenderem. “O imame não pode ser factor de divisão”, recomenda. “Quem pode falar do corpo humano é um médico. Um ignorante em medicina não pode prescrever nada a um doente. Quando o assunto é algo ligado à lei, é preciso ouvir quem tem formação nessa matéria”, insiste. Um grupo de rapazes banha-se no rio Mansoa, atravessado pela ponte Amílcar Cabral, nome do líder da luta pela independência da Guiné-Bissau, assassinado em 1973. Rumo a norte, passa-se um posto de controlo com a indicação de “Gabarito”, que aqui remete para mercadorias de grande envergadura e pelo qual passam enormes camiões provenientes do Senegal, demasiado pesados para as estradas existentes. O cenário muda, agora alimentado por água e um horizonte a perder de vista, pontuado por palmeiras e pirogas de madeira. A conversa é, na essência, a mesma: a mutilação genital feminina já não se pratica. Idrissa Dafé, sobrinho do chefe da tabanca Tarero, conta que, há dois anos, uma fanateca foi apanhada em flagrante numa aldeia próxima em quilómetros, mas muito distante em acesso. A mãe queria submeter a filha ao fanado, mas o pai chamou a polícia de Ingoré. Souberam do caso através da equipa de vigilantes do Comité Contra as Práticas Nefastas, mais uma vez. Há ainda outro caso a ser analisado, no tribunal regional de Bissorá: uma avó levou as duas netas ao fanado, na tabanca de Tabato, arredores de Bigene, território guineense a escassos quilómetros do Senegal. Na tabanca Boavista, as mulheres estão todas nas bolanhas. As meninas já tomaram consciência e não aceitam a prática — e também só casam quando querem. As fanatecas já morreram e não tiveram sucessoras. Ouve-se o chamamento para a oração e com ele a garantia de que os líderes islâmicos apoiam o fim da prática, que nada tem que ver com o islão. No final da oração, o imame Mamadu Djau junta-se à conversa. É jovem e esclarecido, mas diz que não compete aos líderes islâmicos denunciarem as pessoas da comunidade. Porém, garante, fazem-no ao comité de tabanca, que, por sua vez, pode comunicar com as autoridades civis competentes. A mutilação “é um prejuízo para a saúde pública” e, por isso, o imame considera que as crianças devem ser mais bem seguidas nos hospitais. A maior prova de que “o tema deixou de ser tabu” está na abordagem que ele fez junto da própria mãe, “conservadora”, mas que “confirmou as graves consequências e até falou de casos de morte”. Em 2013, foi anunciada uma fatwa (decreto islâmico) contra a prática, mas os imames guineenses ainda têm muita falta de formação teológica, avalia o líder religioso. Recordando um episódio em que foi abordado por um rapaz que questionou o seu respeito ao islão, por se opor à prática, o imame garante que não cederá a pressões da comunidade. Um quilómetro mato adentro e desemboca-se numa clareira, com um jardim infantil por estrear, à espera de um Estado que falha muitas vezes. É ali que funciona a Rádio Balafon, que tem um programa de saúde semanal. O jornalista César Cumuca acredita nas suspeitas de que a mutilação se pratica em bebés e nas fanatecas não declaradas nos bairros e desvaloriza a autenticidade das declarações públicas de erradicação da prática. “A única forma de saber é através dos agentes de saúde, reforçando vigilância nos hospitais e referenciando crianças”, defende. O bairro de Santa Clara fica nos confins dos arrabaldes da capital guineense. “De início, a comunidade sentiu-se ofendida com o Estado, foi complicado, houve uma reacção agressiva, ofensas mesmo”, relata Adama Buaro. Líder de uma manjoandade (grupo de mulheres), ela acredita que “o Estado nunca adopta leis contra o povo”, por isso a decisão de pousar as facas foi fácil. O que a preocupa actualmente são as dificuldades para as mulheres e deixa um apelo à necessidade de melhorar as suas vidas. “Há muitas mulheres que não sabem ler nem escrever”, explica. “Se uma mulher tiver conhecimento, escola, se souber ler e escrever, vai saber gerir melhor a sua vida e da sua família”, acredita. Nas entranhas profundas de Bissau fica o bairro Plack 1, onde o imame chama para a oração. Sabado Seidi tem três filhas e nenhuma delas foi ao fanado. “A princípio, não foi fácil convencer os mais velhos. ”Sueila Biai, de 25 anos, reconhece que “há divergências entre novas e velhas”. Na Guiné, 75% da população tem menos de 25 anos e o índice de crescimento populacional é dos mais altos do mundo. À entrada do Bairro Militar, um cartaz explica, recorrendo a um imame desenhado, que o fanado não é um dos cinco pilares do islão. A activista comunitária Adama Baldé aplaude o Estado por ter adoptado uma lei. “Inicialmente houve vozes contra, acusaram-nos de injúrias, humilhações e de nos vendermos à comunidade internacional. ” Tem um discurso assertivo, de mulher capacitada, que quer “acabar com tudo o que é nefasto na cultura”. Reclama vitória para os activistas, mas promete manter a vigilância. “Estamos conscientes de que continua, não pode acabar de um dia para o outro, é um processo. ”O advogado Jorge Gomes, autor das acusações de alguns dos casos de mutilação levados a tribunal, admite que a aplicação da lei seja “para inglês ver”. Os autores dos crimes “foram apanhados em flagrante e confessaram, mas não houve punição severa”, lamenta, sublinhando que o desconhecimento não isenta de responsabilidade, para mais quando foram feitas várias campanhas de sensibilização. “Onde está o efeito dissuasor?”, questiona, atribuindo aos magistrados a principal “culpa” pela não aplicação efectiva da lei. “Dantes fazia-se de forma aberta, hoje as pessoas continuam a fazer, mas de forma oculta, nos esconderijos. Fazem em bebés, muitas vezes descobre-se nos hospitais. Mas abrandou, são situações isoladas”, refere. Porém, isso deve conduzir a uma investigação “cautelosa”. A organização não governamental alemã Target foca a sua intervenção, em exclusivo, em “descolar a prática da religião islâmica”. Neste momento, trabalha com 11 imames e, entre os mais de mil que existem, sinaliza 450 “não resistentes”. Esta intervenção — explica Fernanda Machado — surge no encalço da intervenção do projecto Djinopi, coordenado por Paula da Costa, portuguesa que há décadas combate a excisão na Guiné-Bissau. “Agora só estamos a trabalhar os resistentes”, refere, distinguindo “resistência receptiva” e “resistência activa”, que encontram mais na zona Leste, “mais radical”. A dada altura, na zona de Tantan Cossé, foram recebidos com agressividade e ameaças, mas, em geral, conseguem entrar e conversar nas tabancas. A Liga Guineense para os Direitos Humanos duvida da veracidade das declarações de abandono da prática que têm proliferado desde a adopção da lei. Assinalando que o cumprimento da lei tem enfrentado muitas dificuldades, reconhece que houve evolução. Um estudo lançado em Fevereiro revelava que a prática continua e que há descoordenação no combate — entre uma grande determinação das organizações da sociedade civil, com apoio da comunidade internacional, e uma falta de correspondência das autoridades nacionais, sejam judiciais, policiais e políticas. “Não se pode acabar com uma prática secular neste período de tempo; temos a noção de que há pessoas que estão a fazer às escondidas”, admite a presidente do Comité Contra as Práticas Nefastas à Saúde da Mulher e da Criança da Guiné-Bissau. “Mas quem faz uma coisa às escondidas é porque sabe que o que faz não é correcto e um dia há-de cansar-se de se esconder e irá simplesmente abandonar a prática”, acredita Fatumata Djau Baldé, o principal rosto do combate à mutilação genital feminina na Guiné-Bissau. “O mais importante é que hoje já têm consciência e, em qualquer canto da Guiné, todo o mundo sabe que a mutilação é má e é crime. Hoje, mesmo os resistentes já aceitam abordar a questão. O tabu quebrou-se e todo o mundo fala”, descreve. A intervenção do comité já chegou a 786 comunidades (num horizonte de cinco mil), onde, após dois anos de trabalho, promotores locais ficam habilitados a reproduzir a acção, num eficiente esquema multiplicador em rede. Das 786 comunidades, mais de 400 já declararam ter abandonado a prática. Desde 2011, o comité registou dez julgamentos, cinco com sentença (dois em Bafatá, dois em Bissau e um em Gabú), num máximo de três anos de prisão. “A justiça não está a fazer o seu trabalho”, denuncia Fatumata Baldé, acrescentando uma suspeita ao rol: crianças da Guiné-Conacri residentes na Guiné-Bissau são levadas para a terra natal para serem excisadas lá e depois voltam. “A maioria dos imames está do nosso lado, mas existem alguns focos de resistência”, reconhece. Nas zonas com maior prevalência da prática, Bafatá e Gabú, os polícias locais têm medo de aplicar a lei, diz. Já o pessoal médico diz não ter recebido instruções oficiais para reportar casos. “Os médicos têm obrigação de respeitar a lei e deviam referenciar as meninas e mulheres sujeitas à mutilação”, sustenta, anunciando que o comité vai afixar um cartaz em todas as unidades de saúde sobre o dever de denúncia. Neste momento, o comité está em mais de 200 comunidades resistentes. “Cada zona tem o seu poço de resistência”, diz a dirigente do comité, parceiro da organização portuguesa P&D Factor, que coordena o único projecto de combate à mutilação genital financiado pelo Governo português na Guiné-Bissau. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Segundo dados oficiais, 39% das crianças com menos de 15 anos tinham sido excisadas em 2010, percentagem que desceu para 30% em 2014, redução acompanhada por uma mudança de mentalidade. Por isso, Fatumata Baldé estima que a taxa desça outros 10% neste ano e, a manter-se a tendência, que a prática seja erradicada em 2030. Ainda falta uma orientação oficial dos responsáveis políticos do país e um posicionamento público comum dos imames, mas Fatumata Baldé está optimista. “Vamos conseguir lá chegar”, acredita esta mulher, que, nas acções de sensibilização, faz questão de usar imagens das marcas da mutilação no seu corpo. * Esta reportagem foi feita ao abrigo das Bolsas de Criação Jornalística, atribuídas pela Associação para a Cooperação Entre os Povos (ACEP), em parceria com o CESA, da Universidade de Lisboa, o CEIS XX, da Universidade de Coimbra e a associação Coolpolitics, e financiadas pela Fundação Calouste Gulbenkian
REFERÊNCIAS:
Em Moçambique, elas continuam a lutar pela paz
Restabelecer o papel das mulheres na história de Moçambique, democratizando-a, é um dos grandes desafios que ainda se coloca à libertação da opressão patriarcal, um dos principais objetivos da luta política atual. (...)

Em Moçambique, elas continuam a lutar pela paz
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Mulheres Pontuação: 10 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Restabelecer o papel das mulheres na história de Moçambique, democratizando-a, é um dos grandes desafios que ainda se coloca à libertação da opressão patriarcal, um dos principais objetivos da luta política atual.
TEXTO: A construção democrática de qualquer estado-nação é um processo complexo, onde vários projetos políticos se confrontam. Independente desde 1975, a história recente de Moçambique é marcada por múltiplos episódios de violência: a guerra de libertação nacional/colonial, o conflito com a Rodésia e com a África do Sul do apartheid. Mas foi a guerra civil que mais marcou (e marca) o tecido social moçambicano. Iniciada pouco tempo após a independência, as razões deste conflito continuam por apaziguar. E apesar de um acordo de paz ter sido firmado em 1992, este acordo não trouxe a tão desejada paz, apenas tréguas e negociações que se arrastam até hoje. A guerra maltrata corpos e sentimentos; a guerra destrói as sociedades, física, emocionalmente e mentalmente. Os conflitos violentos que têm abalado o país têm tido efeitos devastadores no tecido social, na economia e nas propostas de democratização de Moçambique. De uma história assumida de luta contra o colonialismo português, o atual processo de construção nacional, num contexto de grande diversidade étnico-cultural, tem conhecido (re)visões históricas conflituantes, potencialmente disruptivas do projeto político nacional. A história busca dar sentido às ações humanas. Mas qualquer narrativa histórica gera representações ambíguas, produzindo violência histórica. No caso moçambicano, embora as diferenças políticas e económicas subjacentes aos projetos das forças beligerantes estivessem longe de ser intransponíveis, como os recentes avanços negociais sugerem, a animosidade e amargura que permeiam a leitura deste conflito pelos cidadãos ilustra a dificuldade de se alcançar uma solução política que garanta efetivamente a chegada da paz. Num outro patamar, uma análise mais minuciosa destas negociações deixa entrever, nas narrativas dominantes o controlo masculino na busca de uma solução para o conflito. Um rápido inventário das caracterizações dos líderes políticos envolvidos nas negociações apresenta-nos o ‘pai da independência’, o ‘pai da paz’, o ‘pai da democracia’. A ausência do feminino nos discursos políticos exige de nós uma reflexão sobre a participação efetiva das mulheres na busca da paz. Os muitos estudos feitos sobre o passado recente mostram como a violência colonial e patriarcal andam de mãos dadas; em Moçambique, na guerra de libertação, as mulheres combatentes foram construídas como as que ‘alimentam, produzem e mobilizam’ os combatentes. Essa construção de género da moçambicana em função da maternidade reforçou a visão patriarcal da nação. E assim as vozes das mulheres sobre a sua experiência de opressão, violência e resistência permanecem enterradas sob camadas de silenciamento. Uma leitura atenta da guerra civil que marcou Moçambique releva o peso brutal que esta guerra representou para as mulheres: garantir o sustento da família, suturar laços familiares estraçalhados, ser o pilar de segurança da família. Em suma, garantir a vida, mediar a paz nos gestos e ações quotidianas. Mas esta presença gritante parece desvanecer-se quando chegam as negociações ‘oficiais’ para a paz. Esta realidade está ligada aos debates sobre a objetividade histórica no Moçambique contemporâneo. As várias alianças entre perspetivas masculinas e libertadoras sobre os sentidos das guerras têm gerado narrativa políticas legitimadoras das lideranças política em conflito, tornando-as categóricas. Esta estratégia está intimamente associada à glorificação, principalmente dos guerrilheiros homens, e ao silenciamento da presença de milhares de mulheres que participaram ativamente destas lutas. Num contexto em que os projetos políticos são moldados, também, por opções políticas sexistas e geracionais (especialmente as gerações dos ‘libertadores da pátria’ e dos ‘libertadores da democracia’) as propostas de uma paz partilhada por todas e todos não se afiguram fáceis. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas as histórias silenciadas, protegidas por memórias subalternas continuam presentes, lembrando que a narrativa sobre a transição política não foi linear, e não é um património monolítico, protagonizado por uma só voz política. A história da participação política de mulheres nas lutas nacionalistas no contexto moçambicano é extensa. Como também é extensa a lista das personagens que se procurou remover da história, sem grande sucesso. A história de Moçambique integra múltiplas narrativas contraditórias sobre processos políticos e identitários. As narrativas de luta das mulheres expõem raptos, violações, ultrajes à dignidade humana, abusos dos direitos humanos cometidos por forças militares e de segurança. Mas é também uma história de negociações, redes de solidariedade e de múltiplos episódios de resistência. Estas narrativas revelam uma variedade de tensões e antagonismos que permearam (e ainda permeiam) a sociedade moçambicana. Descartar estas memórias é uma forma de manter silenciamentos. É, sobretudo, insistir numa visão abissal monocórdica e sexista sobre os factos e acontecimentos, sobre experiências de resistências, sobre múltiplas racionalidades políticas que compõem o mapa das memórias do que é Moçambique. A ausência de uma presença ativa política das mulheres na busca de uma solução digna que promova a liberdade e a dignidade evidencia a herança de um conflito mais amplo que ainda precisa de ser tratado em toda a sua complexidade. Esta realidade ajuda a explicar porque juntas, mulheres jovens e não tão jovens insistem que a luta continua, um sinal claro de que a libertação e a dignidade não foram ainda plenamente alcançadas pelas mulheres de Moçambique.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos homens guerra humanos violência ajuda social género mulheres