Corações ao alto
É preciso abrir as portas da Igreja a todos e não engaiolar o Espírito. (...)

Corações ao alto
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.16
DATA: 2014-06-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: É preciso abrir as portas da Igreja a todos e não engaiolar o Espírito.
TEXTO: 1. A festa litúrgica da Ascensão, neste Domingo, é uma celebração de humor provocado pelo começo do segundo volume de uma obra atribuída a S. Lucas, os Actos dos Apóstolos (Act. ), um livro de aventuras que seria uma tentação para a banda desenhada, se as leituras piedosas e convencionais não travassem a imaginação recriadora. Na verdade, a grande pintura de Fra Angelico, Mantegna, Rembrandt, etc. , não perderam o cenário criado por S. Lucas. O músico revolucionário do séc. XX, Olivier Messiaen, compôs L’Ascension, uma impressionante meditação sinfónica. Este evangelista, no primeiro volume da sua obra, já tinha apresentado o que acontecera a Jesus de Nazaré, depois da sua impressionante ruptura com a ideologia e o método de austeridade de João Baptista. É verdade que este tinha sido o seu mestre extraordinariamente admirado, a quem havia seguido com fervor e por quem fora baptizado, no rio Jordão, mas acabou por se dar conta que o moralismo era demasiado curto para a revolução que se impunha. A experiência mística, depois do rito baptismal no Jordão, surgiu como uma iluminação que mudou completamente o rumo da sua vida. Já não conseguia rever-se no Deus da ameaça do seu antigo mestre, mas na Voz que o declarava um fruto do puro Amor. Nunca posso deixar de sorrir quando alguns católicos trazem ou pedem para trazer água do rio Jordão para o baptismo dos filhos ou dos netos, como se ela fosse dotada de especiais virtudes. O futuro de Jesus não veio dessa água, mas de um banho no Espírito recriador do mundo, a essência do baptismo cristão. O Evangelho segundo S. Lucas termina na viagem surrealista dos tristes discípulos de Emaús (Lc 24, 13-34). São eles que explicam a um estranho e distraído forasteiro (o próprio Mestre) o que naqueles trágicos dias tinha acontecido, em Jerusalém, a Jesus, o nazareno. As mulheres tinham lançado o boato de que ele estava vivo, mas ao certo, ninguém o viu!Nessa narrativa hilariante, não vêem o Mestre enquanto o vêem; quando o reconhecem, ele torna-se invisível. Lucas não escreve uma história do passado, mas o instante presente da fé dos discípulos de Jesus, sem termo à vista. 2. O autor dos Act. reforçou o seu pendor surrealista. Depois da ressurreição, Cristo vive com os discípulos. S. Lucas recria cenários, qual deles o mais absurdo, para mostrar que a presença de Cristo nunca foi tão real, mas também nunca foi tão clandestina: uma presença sob forma de ausência e uma ausência sob forma de presença. Para destacar esse paradoxo, o escritor sente a urgência em fazer entrar outro personagem em cena, realçando a proverbial incapacidade dos discípulos em entenderem o Mestre, devido à obsessão pelo poder: “Estando reunidos perguntaram-lhe: Senhor, será agora que vais restaurar a realeza em Israel?”Jesus mostra-se aborrecido e esgotado. Já não aguenta mais: recebereis a força do Espírito e sereis minhas testemunhas até aos confins da terra. Lucas cria logo um cenário radical: dito isto, elevou-se à vista deles e uma nuvem escondeu-o!Em vez de cumprirem a ordem de Cristo, ficaram pasmados a olhar para o céu, esquecendo a terra e a missão. No Evangelho de S. Mateus, referido na liturgia de hoje, o cenário não é muito diferente. Reuniram-se todos para a despedida, e quando O viram adoraram-no; mas não todos. Alguns continuaram com as suas dúvidas. Jesus, o Ressuscitado, já não está para mais explicações. A única coisa que garante é que ficará sempre com eles até ao fim dos tempos e manda- -os em missão. Não andam por conta própria, mas em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Jesus cansou-se, mas não foi para férias como certas fórmulas podem sugerir: sentado à direita de Deus Pai. Teria deixado tudo arrumado, uma igreja organizada para cumprir um mandato de há mais de 2000 anos. Pura ilusão! Jesus não criou um museu, nem ordenou os seus conservadores nem os cicerones, os que guardam o depósito da Fé e sabem o que lá existe e não existe. Os polícias da ortodoxia. Uma interpretação dessas tem um pequeno inconveniente: esquece o Espírito Santo que desarrumou a vida a Jesus e que desarrumará a vida da Igreja, até ao fim dos tempos. O Espírito Santo não é propriamente um burocrata, mas disso falaremos no Pentecostes. 3. O papa Francisco não é Deus, não é Jesus Cristo, nem é ele a Igreja. Surgiu e foi logo interpretado como alguém apostado em enfrentar reformas, há muito adiadas: a da Cúria Romana, do Banco do Vaticano, do carreirismo eclesiástico, da atração pelo fausto e o seu exibicionismo e liquidar o crime de cobertura à pedofilia.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime filho mulheres
A perigosa memória de Tiananmen
Vinte cinco anos depois da violenta e sangrenta repressão do movimento pró-democracia na China, esquecer é a opção mais fácil (...)

A perigosa memória de Tiananmen
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.6
DATA: 2014-06-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Vinte cinco anos depois da violenta e sangrenta repressão do movimento pró-democracia na China, esquecer é a opção mais fácil
TEXTO: Escrevi o meu novo livro num laptop novinho em folha que nunca esteve ligado à Internet. Todas as noites guardava-o num cofre no meu apartamento. Nunca falei do livro num email ou ao telefone, em casa ou no escritório — ambos localizados no mesmo bairro diplomático de Pequim, que parti do princípio estar sob escuta. Tomei estas medidas extremas porque estava a escrever sobre o assunto que é o maior dos tabus da China: o massacre na Praça Tiananmen em 1989, quando soldados abriram fogo sobre civis desarmados nas ruas de Pequim, matando centenas de pessoas, talvez mais de mil. Mantive-me fiel às minhas regras. Quando decidi deitar fora toda a estrutura do livro que tinha delineado na minha proposta e avançar para uma coisa totalmente diferente, esperei até sair da China, meses depois, para informar a minha paciente editora. Não contei a nenhum dos meus colegas no que estava a trabalhar fora das minhas horas de trabalho. Durante semanas, nem os meus filhos — então com sete e cinco anos — souberam, por medo que pudessem fazer algum comentário fora de casa. Mais tarde, quando começaram a perguntar porque não tinha tempo para brincar com eles, obriguei-os a jurar segredo. Eles conseguiram cumprir o prometido. Só percebi o peso que tinha posto sobre os seus ombros depois de deixarmos a China, no Verão passado, graças a uma bolsa da Universidade de Michigan. Ali, como que inebriados com a súbita liberdade de dizerem o que queriam, os meus pequenos começaram a abordar pessoas nas ruas de Ann Harbour e a dizer-lhes “A minha mamã está a escrever um livro!”. Talvez estas precauções fossem desnecessárias. Afinal de contas, tinha uma posição privilegiada como jornalista, com um cartão de imprensa e um passaporte estrangeiros, que me ofereciam uma saída que nenhum dos meus entrevistados tinha. O regime previne-se Para eles, a decisão de falar foi tomada com a consciência de que não podiam antecipar os riscos. Ao mesmo tempo, eles acreditavam que o silêncio significava serem coniventes com a tentativa do Governo controlar a memória. Como escreveu um opinativo professor de cinema, Cui Weiping, se as pessoas continuarem em silêncio, “o 4 de Junho deixará de ser um crime cometido por um pequeno grupo de pessoas para passar a ser um crime em que todos participámos”. Este ano, o pré-aniversário chegou mais cedo, revelando como, 25 anos depois, os acontecimentos de 4 de Junho de 1989 ainda são relevantes para o Partido Comunista da China. A primeira vaga de prisões teve como alvo um grupo de activistas, dissidentes e advogados, que realizaram um “seminário comemorativo do 4 de Junho” numa casa particular de Pequim, no dia 3 de Maio. Pousaram para uma fotografia de grupo e as suas expressões não eram nem desafiadoras nem festivas, eram solenes — como se se estivessem a preparar para o que estava para vir. Poucos dias depois, cinco dos 15 participantes foram presos e acusados de “provocarem distúrbios públicos”. Um jornalista veterano, Gao Yu, nem chegou ao seminário, foi preso antes, sob a acusação de divulgar segredos de estado. Nove outros, incluindo Zhang Xianling, que perdeu o filho de 19 anos, morto por uma bala em 1989 e de quem faço um perfil no meu livro, foram detidos para interrogatório e depois libertados. Sobre o seminário, o jornal estatal Global Times escreveu: “É óbvio que um acontecimento destes, relacionado com os assuntos políticos mais sensíveis da China, pisou a linha vermelha da legalidade”. Saber a posição exacta dessa linha é praticamente impossível, uma vez que a lei permanece subserviente à política. O artista Chen Guang não esperava arranjar qualquer problema quando aceitou o convite de uma dúzia de amigos para, num edifício vazio nos arredores de Pequim, fazer uma performance em Abril. Chen, sobre quem também escrevo no meu livro, era soldado em 1989 e foi um dos mobilizados para esvaziar Tiannamen — essa experiência transparece na sua arte. Mas a sua performance foi bastante inócua. Abria com uma rapariga que agitava uma lanterna numa sala escura, iluminando datas pintadas na parede que iam de 1989 a 2014. Quando as luzes se acenderam, apareceu Chen, com uma máscara na boca, para pintar as paredes de branco, obliterando os anos. Por isto, foi detido a 7 de Maio. Como um amigo de Chen disse ao New York Times, “as pessoas querem lembrar o que se passou a 4 de Junho, mas não podem fazê-lo em espaços públicos e, agora, parece que também não podem fazê-lo em privado”. Perante este estrangulamento, esquecer é a opção mais fácil, e a melhor escolha talvez seja mesmo a omissão. Como escreveu o artista Ai Weiwei no 20. ºaniversário do massacre, “Não tendo o direito de lembrar, escolhemos esquecer”. Lembrar o que aconteceu é lembrar o alcance do protesto. Não foram apenas milhares de estudantes que protestaram em Tiananmen, foram centenas de milhares, de todas as profissões, que se manifestaram e paralisaram dezenas de cidades em toda a China.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime lei filho medo morto rapariga
João, 12 anos, e Serralves em Festa: “A cultura não é uma coisa ou é outra, é o total”
Espectáculos, exposições, performances, música, teatro em 40 horas consecutivas. Na 11.ª edição, Serralves em Festa voltou a receber milhares de visitantes sob o tema Terreno Comum (...)

João, 12 anos, e Serralves em Festa: “A cultura não é uma coisa ou é outra, é o total”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.05
DATA: 2014-06-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Espectáculos, exposições, performances, música, teatro em 40 horas consecutivas. Na 11.ª edição, Serralves em Festa voltou a receber milhares de visitantes sob o tema Terreno Comum
TEXTO: João Isidoro tem 12 anos, gosta de música, quer ser cientista quando crescer. Há quatro anos que vem com o avô Manuel ao Serralves em Festa, que este fim-de-semana voltou a apresentar um programa recheado, 40 horas sem parar e sem cobrar bilhete. “Não se pode dizer que a cultura é uma coisa ou que é outra, a cultura é o total”, diz-nos João assim, de forma desarmante, sem floreados, enquanto espera, frente à casa de Serralves, pela peça de três personagens mascarados de velhotes que tanto partilharão um banco de jardim como um assalto a um multibanco em nome de uma velhice digna – Agitación Senil, do Vagalume Teatro da Andaluzia. João tem mais para contar. “Gosto muito destes espectáculos que são bons para aquelas pessoas que passam os dias fechadas nos escritórios a trabalhar e aqui têm oportunidade de contactar com a natureza e com tudo o que as rodeia”. Os pais ficaram em casa e João veio com os avós e com a irmã Cecília, de oito anos, mais tímida. “Gosto das experiências, dos espectáculos, um pouco de tudo”, resume a menina ao lado do desenvencilhado irmão. No sábado de manhã, o avô Manuel Oliveira fez mais de 80 quilómetros da Gafanha de Aquém, em Ílhavo, até Serralves, no Porto. “Acha que se não valesse a pena, viríamos de tão longe?” Faz questão de abrir horizontes aos netos e fica contente com o que vê no Serralves em Festa, que, na sua opinião, já conquistou um estatuto de “nível mundial”. “Não gosto da palavra democratização. Democratização da cultura? Prefiro dizer que Serralves em Festa é uma festa para o povo”, afirma. Mostra-nos as palmas das mãos. “Aqui estão os meus diplomas. Tenho a quarta classe, fui operário fabril, trabalhei nas obras. Gosto de vir aqui, gosto que os meus netos vejam coisas como estas. ”Serralves em Festa, cheio de espectáculos, performances, exposições, teatro e música, voltou a juntar milhares neste sábado e domingo sob o tema Terreno Comum. Famílias, muitas crianças, casais, novos e velhos, portugueses e estrangeiros – sobretudo espanhóis -, espalham-se pelos espaços verdes, pelo museu, pela biblioteca, pela Casa de Serralves. A 11. ª edição da festa tem um sabor especial por marcar o início do programa de comemorações dos 25 anos da fundação e dos 15 anos do museu. O balanço será feito ao final do dia deste domingo, quando se saberá se o número de 90. 514 visitantes do ano passado será ultrapassado. Julieta Rodrigues dá um jeito ao cenário para o espectáculo da tarde. O da manhã correu muito bem. Há cafeteiras penduradas, livros, malas, flores, buzinas, numa espécie de casa transparente que é também uma nave onde cabem todos as peripécias e sonhos do mundo. A estreia de Projecto Secreto, da Companhia Radar 360. º, acontece em Serralves com um homem e uma mulher do século XIX num cenário que roda 360º. Teatro físico polvilhado de comédia. Julieta tem duas perspectivas de Serralves - é espectadora e intérprete. Como investigadora de artes de circo, explica que é uma oportunidade para ver projectos internacionais. Vestindo a segunda pele, admite que precisa de concentração num espaço com muita informação. “Temos um público com imensa sede de ver coisas, muito disponível. Temos de saber gerir imensas distracções. É uma festa, temos de nos concentrar e viver esta festa”, refere. Ali ao pé está a Companhia Visões Úteis com um jogo animado que coloca duas equipas de óculos que distorcem as cores das bolas. Jogo comentado em directo por um jornalista de desporto e um investigador de teatro sentados em cadeiras altas. As duas equipas têm de colocar as bolas nos cestos que rodam conforme as cores. Há uma equipa portuguesa e uma equipa espanhola. Não interessa o resultado e a animação acontece dentro e fora de campo. “Custo zero, ambiente magnífico”Na clareira das bétulas, há dança contemporânea. Um grupo de jovens desconstrói gestos e tenta exteriorizar o que vem das entranhas, numa dança que parece querer medir forças entre os intervenientes. Ricardo Pinhão veio com os dois filhos, Mara de quatro e Artur com quase dois. É a primeira vez no Serralves em Festa. Os elogios de amigos convenceram-no a fazer-se à estrada com a família desde Albergaria-a-Velha. Serralves reúne o que acha importante. “Gosto da actividade cultural e que os meus filhos contactem com culturas diferentes, com coisas criativas. Neste caso, é a custo zero e num ambiente magnífico. ”Há performances para ver e performances para experimentar. O encenador e compositor Graeme Miller trouxe Track a Serralves depois de ter apresentado o conceito na última edição do Meo Imaginarius – Festival Internacional de Teatro de Rua de Santa Maria da Feira. Track é uma nova forma de ver a paisagem em estruturas que permitem viajar na horizontal com os olhos postos no céu. Iris Lopes, de sete anos, acaba a sua viagem. “Foi bom, vi muita coisa bonita, passarinhos a cantar”, conta. Confidenciou à avó Maria de Jesus que tinha sido relaxante. A avó não perde Serralves em Festa. “Perco-me aqui”, confessa.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura campo concentração mulher homem espécie circo assalto
Meriam só será libertada se o recurso da defesa for aceite em tribunal
Depois de notícias sobre a sua libertação, o governo sudanês nega saída de mulher da prisão. (...)

Meriam só será libertada se o recurso da defesa for aceite em tribunal
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Depois de notícias sobre a sua libertação, o governo sudanês nega saída de mulher da prisão.
TEXTO: No último sábado surgiu a notícia que Meriam Yehya Ibrahim Ishag ia ser libertada nos próximos dias. O Ministério dos Negócios Estrangeiros sudanês vem agora desmentir a libertação e afirmar que a mulher, de 27 anos, apenas será colocada em liberdade se a resposta ao recurso da sua defesa for aceite em tribunal. Abdullahi Alzareg, subsecretário do Ministério dos Negócios Estrangeiros, afirmou, citado pela BBC, que Meriam seria libertada em breve, porque a tutela garantia a liberdade religiosa no país e a protecção da sudanesa. Um dia depois, o marido de Meriam, Daniel Wani, indicava que não tinha recebido qualquer informação oficial sobre a possível libertação da mulher. “Nenhum mediador sudanês ou estrangeiro me contactou. Talvez existam contactos entre o governo sudanês e elementos estrangeiros que desconheço”, disse Wani à BBC. “Do que sei, terei que esperar pelo recurso apresentado pelo meu advogado e espero que a minha mulher seja libertada”, acrescentou. O Ministério dos Negócios Estrangeiros afirma o mesmo, numa declaração que desmente o que tinha sido avançado pelo seu subsecretário e que terá sido retirado do contexto em que proferiu as afirmações. Segundo o gabinete do chefe da diplomacia sudanesa, apenas o sistema judicial tem uma resposta final sobre o caso. “A equipa de defesa da cidadã recorreu do veredicto e, se o tribunal decidir a seu favor, será libertada”. Segundo a tutela, o que Abdullahi Alzareg disse foi que o “governo não interfere com o trabalho da justiça porque é um corpo independente”. “Alguns meios de comunicação social pegaram no que o subsecretário disse fora de contexto, alterando o significado do que afirmou. ”Apesar do marido de Meriam ter manifestado esperança de que serão ouvidos os protestos nacionais e internacionais contra a sentença de pena de morte da mulher e que a condenação seja revogada, o advogado da família, Mohannad Mustapha, admite ter dúvidas de que a sudanesa seja libertada ou que as acusações sejam retiradas. “A única parte que pode fazê-lo é o tribunal de recursos, mas não tenho a certeza que tenham o processo completo”, argumentou Mohannad Mustapha. Esta quarta-feira deveria haver uma audiência em tribunal, que foi adiada por a documentação do caso não estar toda na posse da justiça. A história de MeriamMeriam foi educada pela mãe segundo a religião Ortodoxa e não islâmica, a fé do seu pai, um homem pouco presente durante a sua infância. Casou com um sudanês do sul, também cristão. Depois de ter sido acusada de adultério após a denúncia de um membro da sua família de que estava casada com um cristão (o casamento com pessoas de outra religião não é reconhecido pela sharia), Meriam foi acusada de renunciar à religião do seu país ao afirmar-se cristã. Um tribunal de Cartum considerou-a culpada de adultério e apostasia, após a mulher ter recusado, mais uma vez, o islão como a sua religião. Condenou-a à morte por enforcamento e a 100 chicotadas pelo adultério. Detida desde 17 de Janeiro, Meriam entrou na prisão para mulheres de Omdurman, em Cartum, com o filho bebé Martin e grávida. Na terça-feira, Maya nasceu na enfermaria da prisão. Segundo o marido e a Amnistia Internacional, a mulher esteve acorrentada pelos tornozelos durante o parto, tal como tem estado desde a sua detenção há quatro meses. Condenada à morte, Meriam tem direito a permanecer junto da filha durante dois anos após o nascimento. No final desse período deverá ser cumprida a sentença. Quanto às 100 chicotadas a que também foi condenada, a justiça sudanesa prevê que sejam infligidas assim que a mulher recuperar do parto. A sudanesa mantém-se intransigente e recusa afirmar que trocou o islão pelo cristianismo. “Como posso regressar se nunca fui muçulmana? Sim, o meu pai era muçulmano, mas fui criada pela minha mãe”, questiona.
REFERÊNCIAS:
Religiões Cristianismo
E aos 46 anos, Felipe chega ao trono espanhol
A sua missão é assegurar a continuidade de uma monarquia parlamentar instaurada progressivamente com a chegada ao trono de Juan Carlos. (...)

E aos 46 anos, Felipe chega ao trono espanhol
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: A sua missão é assegurar a continuidade de uma monarquia parlamentar instaurada progressivamente com a chegada ao trono de Juan Carlos.
TEXTO: Moderno e discreto, Felipe de Borbón foi criado com um único objectivo: tornar-se rei de Espanha. Um papel para que foi preparado desde a infância, e que assume ao suceder, aos 46 anos, ao seu pai, cuja abdicação foi anunciada esta segunda-feira. Estudos no estrangeiro, formação militar: “O seu objectivo, o seu único objectivo, é servir a Espanha. Foi-lhe inculcado, no seu eu profundo, que deveria tornar-se o primeiro servidor”, confiou um dia a sua mãe, a rainha Sofia. A sua missão é assegurar a continuidade de uma monarquia parlamentar instaurada progressivamente com a chegada ao trono de Juan Carlos, designado pelo ditador Francisco Franco como seu sucessor. O seu grande desafio: convencer, num país em que o apoio popular à monarquia está num nível historicamente baixo depois de uma série de escândalos que, no entanto, o pouparam. O rosto sério mas sorridente, de aparência mais reservada que o seu pai, o príncipe herdeiro sofre desde há muito com as comparações com Juan Carlos, já que em Espanha muitos preferem descrever-se como “juancarlistas” e não como “monárquicos”. Mas o episódio da caça ao elefante no Botswana de Juan Carlos, em Abril de 2012, muito controverso numa Espanha mergulhada em crise, e a investigação de corrupção da sua filha Cristina e do marido, Iñaki Urdangarin, diminuíram a popularidade do rei. Ao mesmo tempo, a do príncipe melhorou. “Está prestes a estabelecer-se um certo equilíbrio entre os dois”, sublinhou no início de 2013 António Torres del Moral, professor de direito constitucional. O elegante Felipe – 1, 98 metros e olhos azuis – tem cultivado uma imagem de proximidade e modernidade. Um par ajudado pelo seu casamento, em 2004, com Letizia Ortiz, jornalista e divorciada, uma grande estreia na história da monarquia espanhola. Felipe e Letizia têm duas filhas: Leonor, nascida em Outubro de 2005, e Sofia, em Abril de 2007. A família tem vivido longe do fausto, numa moradia que Felipe mandou construir no parque do Palácio da Zarzuela, perto de Madrid. Felipe nasceu na capital espanhola a 30 de Janeiro de 1968. A lenda diz que Juan Carlos desmaiou com o anúncio do nascimento do seu único herdeiro (homem) depois do nascimento das suas filhas Elena (1963) e Cristina (1965). Os monárquicos tinham enfim o seu futuro rei – até recentemente, a Constituição espanhola dava preferência aos homens no processo de sucessão. Um papel crescenteEm 1977, com nove anos, Felipe recebe o título de príncipe das Astúrias e é oficialmente o herdeiro da coroa espanhola. O rapaz, de cabelo ainda louro, fez então o seu primeiro discurso perante o Parlamento. Quatro anos mais tarde, aprende a sua primeira lição aquando da tentativa de golpe do coronel Antonio Tejero, que sacraliza o rei como bastião da democracia espanhola. O seu pai chamou-o para perto de si – “Quis que ele estivesse ao seu lado no seu gabinete, para o ver agir”, explicou a rainha Sofia à jornalista Pilar Urbano, no seu livro A Rainha. Depois de um último ano de liceu no Canadá, Felipe passa, de 1985 a 1988, pelas escolas militares dos três ramos das Forças Armadas espanholas. Estuda também Direito na Universidade Autónoma de Madrid e Relações Internacionais na Universidade de Georgetown em Washington, EUA. À medida que os anos passavam, foi assumindo um papel protocolar cada vez maior e multiplicando as suas actividades públicas, nomeadamente no estrangeiro onde beneficiava do seu bom domínio do inglês. Felipe fala também muito bem catalão, uma vantagem especial numa região com aspirações nacionalistas reforçadas com a crise económica e com relações tensas com Madrid. Desde a Primavera de 2010, Felipe reforçou ainda mais a sua presença oficial quando Juan Carlos se afastava por problemas recorrentes de saúde. Piloto de helicóptero, apreciador de futebol, Felipe é ainda muito desportista, na tradição familiar. Participou mesmo nos Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992, integrando a equipa de vela.
REFERÊNCIAS:
Discurso na íntegra da abdicação do rei Juan Carlos
Monarca sublinhou o seu "orgulho e gratidão" a todos os espanhóis. (...)

Discurso na íntegra da abdicação do rei Juan Carlos
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.35
DATA: 2014-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Monarca sublinhou o seu "orgulho e gratidão" a todos os espanhóis.
TEXTO: "Dirijo-me a vós esta manhã através desta mensagem para vos transmitir, com particular emoção, uma decisão importante e as razões que me levaram a tomá-la. Na minha proclamação como rei, há quase quatro décadas, assumi o firme compromisso de servir os interesses gerais de Espanha, com o objectivo de que os cidadãos viessem a ser os protagonistas do seu próprio destino e a nossa nação uma democracia moderna, plenamente integrada na Europa. Propus-me então encabeçar a fascinante tarefa nacional que permitiu aos cidadãos eleger os seus legítimos representantes e levar a cabo essa grande e positiva transformação de Espanha de que tanto necessitávamos. Hoje, quando olho para trás, não posso sentir senão orgulho e gratidão para com todos vós. Orgulho, pelo muito e bom que todos juntos conseguimos em todos estes anos. E gratidão pelo apoio que me destes para fazer do meu reinado, iniciado em plena juventude e em momentos de grandes incertezas e dificuldades, um longo período de paz, liberdade, estabilidade e progresso. Fiel ao desígnio político do meu pai, o conde de Barcelona, de quem herdei o legado histórico da monarquia espanhola, quis ser um rei para todos os espanhóis. Senti-me identificado e comprometido com as vossas aspirações, rejubilei com os vossos êxitos e sofri quando a dor ou a frustração vos embargaram. A longa e profunda crise económica que atravessamos deixou graves cicatrizes no tecido social, mas também nos está a mostrar um caminho de futuro carregado de esperança. Estes anos difíceis permitiram-nos fazer um balanço autocrítico dos nossos erros e das nossas limitações enquanto sociedade. E, como contrapeso, também reavivaram a nossa consciência orgulhosa do que soubemos e sabemos fazer, e do que fomos e somos: uma grande nação. Tudo isto nos desperta um impulso de renovação, de superação, de correcção dos erros para abrir caminho a um futuro decididamente melhor. Na preparação desse futuro, uma nova geração reclama com justa causa o papel de protagonista, o mesmo que correspondeu numa conjuntura crucial da nossa história a geração a que pertenço. Hoje merece passar para a linha da frente uma geração mais jovem, com novas energias, decidida a empreender com determinação as transformações e reformas que a actual conjuntura pede e a enfrentar com renovada intensidade e dedicação os desafios do amanhã. A minha única ambição foi e continuará a ser contribuir para alcançar o bem-estar e o progresso em liberdade de todos os espanhóis. Quero o melhor para Espanha, a quem dediquei a minha vida inteira e em cujo serviço pus as minhas capacidades, a minha alegria e o meu trabalho. O meu filho Felipe, herdeiro da coroa, encarna a estabilidade, que é o sinal da identidade da instituição monárquica. Quando em Janeiro passado completei 76 anos concluí ter chegado o momento de preparar, em alguns meses, a passagem de testemunho para dar lugar a quem esteja em melhores condições de assegurar essa estabilidade. O príncipe das Astúrias tem a maturidade, a preparação e o sentido de responsabilidade necessários para assumir com total garantia a chefia do Estado e abrir uma nova etapa de esperança em que se combinem a experiência adquirida e o impulso de uma nova geração. Contará para isso, estou certo, com o apoio que sempre terá da princesa Letizia. Por tudo isso, guiado pela convicção de estar a prestar o melhor serviço aos espanhóis, e uma vez restabelecido tanto fisicamente com na minha actividade institucional, decidi por fim ao meu reinado e abdicar da coroa de Espanha de forma a que, através do Governo e das Cortes Gerais, se proceda à efectiva sucessão em conformidade com as provisões constitucionais. Assim acabo de o comunicar oficialmente esta manhã ao presidente do Governo. Desejo expressar a minha gratidão ao povo espanhol, a todas as pessoas que assumiram cargos e às instituições do Estado durante o meu reinado e a quantos me ajudaram com generosidade e lealdade a cumprir as minhas funções. E a minha gratidão à rainha, cuja colaboração e generoso apoio nunca me faltaram. Guardo e guardarei sempre Espanha no mais fundo do meu coração.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filho rainha social princesa
Os 39 anos de “Juan, o Breve”
A Espanha modernizou-se com um rei que comeu o pão que Franco amassou. (...)

Os 39 anos de “Juan, o Breve”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Espanha modernizou-se com um rei que comeu o pão que Franco amassou.
TEXTO: Em 22 de Novembro de 1975, escassas 48 horas após a morte de Francisco Franco, Juan Carlos foi proclamado rei pelas Cortes de Espanha. No exílio, o líder comunista Santiago Carrillo traçou-lhe uma biografia: “Será Juan, O Breve. ” Ontem, com 39 anos de reinado, Juan Carlos I anunciou que vai abdicar. Carrillo estaria na Roménia de Ceausescu quando prognosticou que o herdeiro político de Francisco Franco duraria pouco no trono. A história foi então conhecida. Eram os tempos em que Juan Carlos constava do anedotário espanhol como cuchara, colher: porque não pinchava, picava, como o garfo; e não cortava, como a faca. Ou seja, não passava de um adereço. Um utensílio a que o ditador Franco recorreu para humilhar os monárquicos da oposição, a começar pelo pai do jovem, o conde de Barcelona exilado no Estoril. E para, num país governado sob a bota militar depois da vitória na Guerra Civil de 1936/39, não pôr uma farda na sucessão. O mal-entendido do dirigente comunista com o monarca desfez-se. Entre densas nuvens de fumo dos cigarros de tabaco negro de Santiago e as manchas odorosas dos charutos do monarca. Emissários e mais emissários e, depois da legalização do PCE, reuniões após reuniões, criaram uma amizade à partida improvável. Carrillo e Juan cumprimentavam-se com abraços, enquanto o monarca com o socialista Felipe González trocava sorrisos de afecto mas um seco aperto de mão. Uma das características do reinado do monarca foi a imprevisibilidade. Ninguém pensou que aquele miúdo de nove anos, chegado a Madrid vindo do Estoril, de olhar melancólico e sem sorriso, educado em colégios de elite de uma ditadura e nos corredores das academias militares, marcasse o reencontro da Espanha com a história. As fotos do então príncipe de Espanha envergando farda militar nos palanques oficiais atrás de Franco eram prenúncio de continuidade. Era isso que o ditador procurava, para desespero, a 650 quilómetros de distância, do conde de Barcelona. Afinal, nem colher, nem garfo, ou faca. Juan Carlos foi bisturi. Encontrou no regime caduco quem queria a mudança para a Europa – Adolfo Suárez, os três ministros da Opus Dei, López Rodo, López Bravo e López de Letona, e sólidos interesses económicos. E foi assim que as Cortes franquistas se dissolveram no mais espantoso e, uma vez mais, inesperado arakiri da história política. Que os comunistas passaram de “rojos” a deputados, que a greve de luta passou a festa, que o biquíni deixou de ser multado. A Espanha modernizou-se com um rei que comeu o pão que Franco amassou. Um monarca jovem, cosmopolita, mundano, por vezes demasiado mundano. Um homem do seu tempo. Bonacheirão e de gostos simples, afável e sensível, que os espanhóis preferiram de imediato. Foi assim que nasceu o “juancarlismo”: ser monárquico por Juan Carlos, não pela monarquia. O monarca também facilitou: impediu a ganga bajuladora da corte e manteve uma atitude frugal. Contudo, os anos passaram. De pobre país, a Espanha passou a rico. De olvidado a estar sob os holofotes. A pressão social e as amizades estreitaram o cerco a um homem que era símbolo da Espanha. E que, mesmo nas recentes horas baixas, continuava a ser embaixador dos interesses do Made in Spain pelo mundo: esteve há pouco no Médio Oriente, com as casas reais dos Emirados, a vender a excelência da alta velocidade ferroviária. A crise económica, as caçadas, as companhias femininas, os acidentes de lazer, as intervenções cirúrgicas empalideceram a sua estrela. A radicalidade política pôs em causa a sua estrela questionando a unidade de Espanha, a primeira das obrigações de qualquer monarca. Já ninguém se lembra de que abdicou do amor da sua juventude, Maria Gabriela, filha de Umberto de Itália, que conhecera no Estoril, por tripla imposição: a de Franco, que dizia ser Umberto maçon; a do conde de Barcelona, que alegava ser a jovem italiana aristocrata sem trono; a de Gabriela, que não queria ser rainha. Os negócios do genro Iñaki debilitaram a imagem da coroa. Aconselharam mudanças. Consumiram os últimos meses de nefastas sondagens. Juan Carlos abdica pelo seu pé com um reinado de 39 anos. Nada breve. E muito consequente.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte guerra filha rainha negro homem social
Furacões com nomes de mulher são menos temidos
Estudo sobre a percepção do risco de furacões analisou mais de 60 anos de dados e concluiu que aqueles que têm nomes femininos são considerados menos perigosos. E por isso as populações não tomam tantas precauções. (...)

Furacões com nomes de mulher são menos temidos
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.16
DATA: 2014-06-03 | Jornal Público
SUMÁRIO: Estudo sobre a percepção do risco de furacões analisou mais de 60 anos de dados e concluiu que aqueles que têm nomes femininos são considerados menos perigosos. E por isso as populações não tomam tantas precauções.
TEXTO: Laura, Hanna, Bertha ou Dolly são alguns dos nomes de furacões que ocorreram já em 2014, no Atlântico Norte. Alternadamente com nome de mulher ou de homem, os furacões podem ser extremamente destruidores. No entanto, há quem julgue que, só pelo facto de terem um nome feminino, são menos devastadores – como revela agora um estudo nos Estados Unidos, concluindo os que furacões com nomes de mulheres são vistos de forma infundada como sendo menos perigosos. Por isso, as populações não tomam as devidas precauções e o número de mortes acaba por ser maior. Que as mulheres têm uma imagem menos violenta do que os homens, já sabíamos. Mas até que ponto estas percepções estão relacionadas com os furacões? Foi o que tentou perceber uma equipa de investigadores norte-americanos. “Será que as pessoas avaliam os riscos dos furacões tendo em conta expectativas baseadas no género? Usámos mais de seis décadas dados de mortalidade de furacões dos EUA para mostrar que os furacões com nomes femininos causam significativamente mais mortes do que os furacões com nomes masculinos”, lê-se no artigo científico da equipa, divulgado esta segunda-feira na revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences. Em 1953, o Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos deu o primeiro nome de uma pessoa a estas tempestades, para ser mais fácil comunicar com o público, estreando-se com Alice. Durante anos, os furacões, tempestades tropicais que se formam no Atlântico, apenas tinham nomes de mulheres. No Pacífico, estas tempestades tropicais (que aí se chamam tufões) também receberam nomes de pessoas, que no início eram igualmente de mulheres. Mas os furacões do Atlântico tiveram o seu primeiro nome de homem em 1979 – Bob. O mesmo aconteceu nessa década para os tufões no Pacífico. Desde então, para evitar discriminações sexuais, a designação deste fenómeno natural é escolhida, de forma alternada, a partir de uma listagem de nomes masculinos e femininos, e cada um desses furacões pode revelar-se bastante violento independentemente da sua denominação. Ora o estudo demonstra que furacões com nomes femininos causam mais mortes – cerca de cinco vezes mais, segundo a agência de notícias Reuters – do que furacões com nomes masculinos, uma vez que, aparentemente, os primeiros são considerados menos ameaçadores. “O problema é que o nome de um furacão não tem nada a ver com a sua gravidade”, diz Kiju Jung, um dos principais autores do estudo e estudante de doutoramento na área do marketing da Universidade de Illinois, citado num comunicado de imprensa. “Os nomes são atribuídos de forma arbitrária, a partir de uma lista pré-determinada, alternada com nomes do género masculino e do género feminino. Se as pessoas que estão no trajecto de uma tempestade grave avaliam o risco com base no nome da tempestade, então isto é potencialmente muito perigoso”, acrescenta Kiju Jung. Alexander versus AlexandraOs investigadores analisaram o número de mortes provocado por cerca de 94 furacões, que atingiram os Estados Unidos entre 1950 e 2012, excluindo mais tarde dois por terem sido extremamente mortíferos: o Katrina (2005) e o Audrey (1957), que provocaram respectivamente 1833 e 416 mortes. Depois, fizeram seis experiências com diversos participantes. Primeiramente, mostrou-se a nove pessoas os 94 nomes e, sem que soubessem que eram nomes de furacões, foi-lhes pedido para avaliarem se estes eram mais femininos ou mais masculinos, explica ao PÚBLICO Sharon Shavitt, também autora do estudo e especialista de marketing na Universidade de Illinois. Comparando os dados obtidos com a base de dados existente sobre o número de mortos dos furacões em análise, os cientistas chegaram então à conclusão que, em relação aos mais violentos, aqueles com nomes femininos registaram de facto mais mortes. De seguida, uma das experiências avaliou como o “género” do furacão influenciaria as medidas de protecção e os comportamentos adoptados pelas pessoas. Ora segundo 142 inquiridos, um furacão com o nome Cristopher exigiria maiores cuidados, como por exemplo a evacuação imediata da zona, do que um chamado Christina. Por exemplo, também no que diz respeito ao risco e à intensidade dos furacões, com base nas respostas de 108 indivíduos envolvidos nesta outra experiência, um furacão com o nome Alexander foi considerado mais perigoso do que um chamado Alexandra. Assim, foi possível concluir que a percepção que as pessoas têm do risco deste fenómeno natural pode ser bastante subjectiva. “Estes resultados sublinham a importância de compreender como é que a avaliação do risco de ameaças ambientais é muitas vezes influenciada não apenas por estímulos ambientais e sociais, mas também por factores psicológicos irrelevantes”, diz a equipa no artigo científico.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Que tempo?
Dizem coisas com ares de gravidade; só que nem reparam que já ninguém acredita neles. (...)

Que tempo?
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-06-03 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20140603170425/http://www.publico.pt/politica/noticia/que-tempo-1638416
SUMÁRIO: Dizem coisas com ares de gravidade; só que nem reparam que já ninguém acredita neles.
TEXTO: Este é um tempo em que a esperança deixou de fazer parte da vida dos portugueses e dos cidadãos deste velho continente. Este é um tempo em que tudo é incerto e ademais se cultiva o incerto, fazendo da incerteza o modo de vida. Não basta ao ser humano a incerteza sobre o seu próprio fim; a civilização junta agora todas as incertezas: emprego, reforma, família, país e futuro. A incerteza deixa os cidadãos à mercê dos donos do mundo, que decidem o destino da indústria, do comércio, da agricultura e dos serviços. Outra das certezas é fazer crer que os debaixo viveram muito acima das suas possibilidades. E esta certeza ganha muitos dos que viveram mal, porque os debaixo gostam do modo como vivem os de cima e aceitam esta infâmia propagada por aqueles que em poucas semanas gastam o que eles não gastam na vida inteira. Este é um tempo em que os governantes se moldam a estes parâmetros criando um espaço bloqueado criando a sensação de que não se pode sair porque forças exteriores omnipotentes o não permitem. É um tempo que, para além do bloqueamento do espaço político partidário se fecha também o espaço da comunicação social, comunicando estes dois mundos entre si virtualmente, à margem da maioria dos cidadãos, que lhes viram as costas, às vezes com raiva. Este é um tempo de exaltação individual para uns milhares de indivíduos determinarem o futuro de todos os outros milhões e milhões, fazendo destes gente sem esperança para construir o futuro de outro modo. Nas recentes eleições para o Parlamento Europeu, 66% dos portugueses renunciaram a utilizar uma arma que tinham à mão porque já não acreditam que as coisas mudem. Os cidadãos respiram a podridão dos governantes que se governam a si próprios, aos seus, e ao grupo que os apoia. Respiram escândalos, corrupção, compadrio, enriquecimento fácil, exaltação dos ricos, e, em contraste, vêem a sua vida empobrecer. Como uma prenda. Respiram a impunidade de quem manda nos que governam e, em contraste, vêem o Estado cair-lhes no lombo com toda a força da máquina estatal impiedosa. Respiram reformas que não param de se reformar e que são contra-reformas. Respiram uma justiça podre, dura para os fracos, submissa para os donos de tudo. Respiram a mentira, a falta de honradez, a mesquinhez e a pobreza de espírito que vai do Relvas ao Coelho passando pelo Paulinho das feiras, o senhor de Boliqueime e os que no PS querem esta santa aliança. Dizem coisas com ares de gravidade; só que nem reparam que já ninguém acredita neles. O povo virou-lhes as costas. Àqueles que governaram, àqueles que não são capazes de propor uma saída, e ficam contentes por terem mais uns pós no seu mealheiro ideológico e do pequeno poder que o sistema oferece. Este é um tempo terrível no que se refere à palavra mágica que dá força às mulheres e aos homens, mesmo nos momentos mais negros, a palavra esperança. Mesmo que a esperança não abunde face à seca no reino das vontades individuais e coletivas, a verdade é que enquanto existirem mulheres e homens bons, generosos, honrados, solidários, igualitários, a esperança não pode morrer. Neste tempo de miséria intelectual onde se exalta o mal como sendo um bem, é preciso não desistir e roubar, como Prometeu a Zeus, a esperança a quem a confiscou e com ela incendiar os corações. Em Portugal e na Europa. Advogado
REFERÊNCIAS:
Os desafios de Felipe VI, o sucessor do rei Juan Carlos
Pode a monarquia sobreviver ao fim do “juancarlismo”, a forma como o actual monarca exerceu o seu cargo? (...)

Os desafios de Felipe VI, o sucessor do rei Juan Carlos
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-06-03 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20140603170425/http://www.publico.pt/1638431
SUMÁRIO: Pode a monarquia sobreviver ao fim do “juancarlismo”, a forma como o actual monarca exerceu o seu cargo?
TEXTO: Quando, ainda este mês, for coroado Felipe VI, o primogénito do rei Juan Carlos tem pela frente uma agenda carregada. Um autêntico caderno de encargos. São vários dos desafios de Felipe VI que parte para a missão com o cognome oficioso de “o preparado”. “Nem o rei está cansado, nem o príncipe impaciente”. A frase é da rainha Sofia e esta declaração no livro La Reina Muy de Cerca, “A Rainha de perto”, teve o efeito contrário ao pretendido. O objectivo, a poucos dias do monarca fazer 70 anos, era acabar com os rumores que, já há seis anos, tornavam credível a abdicação. De que o rei morreria na cama. O resultado, no entanto, foi o relançamento da polémica. “O rei está consciente das críticas, doem-lhe mais as da direita, as que o acusam de falta de actuação na defesa da unidade de Espanha”, disse ao PÚBLICO, na altura, o historiador Charles Powell. As primeiras manifestações, ainda ontem, de sectores republicanos e nacionalistas que aproveitam o anúncio da abdicação para pedir um referendo sobre a vigência da monarquia, revelam a acuidade da questão. Este é o primeiro desafio do futuro monarca. A novidade é que a polémica ocorre quando a popularidade das instituições democráticas em Espanha, Coroa incluída, está num mau momento. “Darão um bonito casal para o exílio”, diziam dois jovens, na Praça 2 de Maio de Madrid, no dia do casamento de Felipe com Letizia. Era uma manifestação alternativa à margem dos festejos oficiais de 22 de Maio de 2004, e quem o dizia representava uma minoria. Hoje, a sucessão é marcada, como o próprio monarca o disse esta quinta-feira, pela necessidade de um novo impulso. É certo que as consequências das pressões nacionalistas, pois a discussão da Monarquia vem de mão dada com a independência de alguns dos territórios, são travadas por Bruxelas pelas disposições do Tratado de Lisboa que consagra a estabilidade das fronteiras dos Estados-membros. Mas não é menos verdade que episódios recentes, afectando os usos e costumes da Família Real, delapidaram o antigo prestígio. Alicerçado num paradoxo curioso: mais que monárquicos, os espanhóis foram “juancarlistas” – adeptos de Juan Carlos – a quem agradeceram o seu papel no fim da ditadura. Se Felipe ainda conheceu Franco, o seu percurso foi em democracia. Não teve, nem podia ter pela idade, qualquer papel histórico decisivo. E ter sido porta-estandarte da delegação espanhola aos Jogos Olímpicos de Barcelona de 1992 é, para os críticos da unidade de Espanha, um cartão-de-visita de má memória. Saberá Felipe VI tornear o problema? De que capital dispõe para a tarefa?Preparado para rei, Felipe Juan Pablo Alfonso de Todos los Santos de Bourbón e Grécia, teve uma educação diferente à do seu pai. Em Espanha, frequentou o colégio privado “Los Rosales”, de Pozuelo de Alarcón, mas afastou-se dos filhos-família. Esteve em universidades espanholas normais e nas obrigatórias Academias Militares. Estudou, ainda, no Lakefield College School e na Universidade de Georgetown. Um percurso cosmopolita para um mundo global. Será suficiente este curriculum para os desafios? Tão importante como a preparação é a capacidade de comunicar e comungar os problemas dos seus concidadãos. A “monarquia de proximidade”, na qual Juan Carlos sempre foi exímio. Com 46 anos, terá cumplicidades geracionais na política, como o pai, e a sua liderança será reconhecida pela juventude espanhola, como a dos anos 70 se reviu na de Juan Carlos? Casou com a divorciada Letizia Ortiz, da classe média/baixa, antiga pivot de telejornais. Será suficiente para a aproximação à sociedade? Na sua vida pessoal, depois dos namoros com a aristocrata Isabel Sartorius e a modelo Eva Sannum, mais que aguardada é exigida contenção. As companhias femininas fizeram estragos na popularidade do seu pai. No século XXI, a cumplicidade masculina de outrora não favorece sondagens nem desempenhos. Com poderes limitados constitucionalmente, pode denunciar problemas e flagelos – como o desemprego juvenil –, mas sem decidir. Não tem o poder de influência republicano. Com tais limitações só tem uma solução. O futuro monarca terá de fazer gestos claros. De discrição e contenção. Sem exibicionismo social, malvisto numa sociedade com profundas cicatrizes devido à crise económica. E manter afastada do Palácio da Zarzuela a ganga da corte que o seu pai nunca permitiu.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave educação rainha social minoria desemprego casamento