Centros educativos já não têm vagas para acolher mais jovens condenados
Sistema só irá aceitar casos urgentes de jovens que fiquem sob medida cautelar de internamento até julgamento. Fecho do centro de Vila do Conde eliminou 48 vagas. Jovens começaram a ser transferidos para Lisboa. (...)

Centros educativos já não têm vagas para acolher mais jovens condenados
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.375
DATA: 2014-07-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Sistema só irá aceitar casos urgentes de jovens que fiquem sob medida cautelar de internamento até julgamento. Fecho do centro de Vila do Conde eliminou 48 vagas. Jovens começaram a ser transferidos para Lisboa.
TEXTO: Não entram nos centros educativos mais menores que venham a ser condenados nos próximos meses por envolvimento em crimes. Não há vagas. Qualquer jovem que seja condenado terá de aguardar em casa. Esta é a ordem interna que impera, por ora, no sistema que acolhe jovens entre os 13 e os 21 anos, apurou o PÚBLICO junto do serviço tutelar educativo. Os centros estão a rebentar pelas costuras e no imediato não existem medidas para solucionar a situação. Apenas os casos urgentes de jovens que venham a ser detidos e colocados sob medidas cautelares educativas (o equivalente à prisão preventiva no caso dos adultos) até ao início do julgamento serão excepção. O Ministério da Justiça (MJ) declarou na quarta-feira ao PÚBLICO que, actualmente, existem 235 menores internados para 241 vagas. O relatório de Junho da Direcção-Geral dos Serviços Prisionais e Reinserção Social (DGRSP), contudo, indicava existirem 251 jovens internados para uma lotação de 233. Além disso, o centro encerrado, o Santa Clara, em Vila do Conde, representava 48 dessas vagas. O ministério não esclareceu, atempadamente, esta aparente contradição. Antes já tinha afirmado que a sobrelotação é “uma questão que não se coloca”. Além de não ter subtraído as vagas do Santa Clara, em Vila do Conde, que acaba de fechar, não teve em conta mais dez jovens que estão fugidos. Esses jovens foram autorizados a sair por alguns dias, mas nunca mais voltaram. Embora o seu paradeiro seja incerto, o seu lugar não ficou vago. As estatísticas reais são, por isso, mais demonstrativas do estrangulamento. Não é só a sobrelotação. O défice de técnicos profissionais de reinserção social também contribui para a incapacidade de acolher mais jovens. Faltam 28. O Ministério das Finanças já autorizou o lançamento do concurso, mas ainda não se iniciaram os procedimentos para a sua abertura. A União de Meridianos Portugal (UMP), que era responsável pela gestão do centro educativo de Vila do Conde, à qual o Estado deve dinheiro, comunicou recentemente ao MJ que iria suspender a sua actividade. O MJ diz que pagou entretanto 960 mil euro, liquidando uma dívida de 2013, mas a UMP está a trabalhar desde Janeiro sem receber mensalidades do serviço. O ajuste directo para 2014 era cerca de um milhão de euros, mas o Tribunal de Contas chumbou o contrato. O arrastar do processo no tribunal, com recurso, não tem permitido o pagamento. A União de Meridianos não prestou esclarecimentos. O MJ estará a ponderar a abertura de um concurso público de adjudicação da concessão daquele centro, mas o procedimento, a ser aprovado, irá também prolongar-se por vários meses. Até lá, o equipamento permanecerá fechado e os seus responsáveis já começaram a transferir os menores que estavam a seu cargo. Treze raparigas foram transferidas na quarta-feira para o Centro Educativo da Bela Vista, em Lisboa. Aquele centro, antes apenas para rapazes, tem três unidades residenciais. Foi alvo de obras recentes que permitiram a abertura de mais vagas. Os menores que estavam em três unidades foram concentrados em duas, para que na outra fossem colocadas as raparigas de Vila do Conde. As menores souberam na quarta-feira que iriam ser transferidas. No centro, as raparigas ficaram irritadas com a decisão. Duas delas, grávidas, envolveram-se em agressões, garantiram fontes do centro e da polícia. Durante longos minutos, os técnicos tentaram acalmar as menores, que seguiram para Lisboa num autocarro da DGRSP escoltado por agentes da PSP. Os 20 rapazes que ainda ficaram serão transferidos esta quinta-feira. O MJ sublinhou, contudo, que “as transferências, efectuadas num período de paragem das actividades formativas e em que muitos jovens também beneficiam de férias com as suas famílias, permitirão o desenvolvimento de adaptação progressiva aos centros educativos em que irão cumprir o remanescente das medidas”. A decisão, que acautela, diz o MJ, “os superiores interesses dos jovens”, permitirá que fiquem mais perto da zona de “onde são oriundos”. A situação afecta ainda os 36 funcionários do centro de Vila do Conde. O despedimento colectivo foi comunicado na semana passada. Na carta de despedimentos, a UMP justifica-se com o incumprimento contratual da “administração pública”. A entidade, que face a isso decidiu suspender os serviços a partir de 2 de Agosto, diz que a dívida do Estado resultou na “impossibilidade de manter a gestão do centro educativo”.
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP MJ
Não houve um dux paranóico a conduzir jovens do Meco à morte
Ministério Público arquiva caso, mas advogado das famílias dos jovens vai tentar anular decisão. Procurador que investigou o sucedido diz ter sido pressionado através de cartas anónimas para acusar alguém de crime. (...)

Não houve um dux paranóico a conduzir jovens do Meco à morte
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-07-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ministério Público arquiva caso, mas advogado das famílias dos jovens vai tentar anular decisão. Procurador que investigou o sucedido diz ter sido pressionado através de cartas anónimas para acusar alguém de crime.
TEXTO: Os seis jovens que morreram no Meco em Dezembro não foram coagidos em momento nenhum pelo único sobrevivente da tragédia, o Dux João Gouveia, tendo sempre agido de livre vontade durante o trágico fim-de-semana de Dezembro passado. Não houve bebedeiras entre os veteranos da Universidade Lusófona antes de o mar lhes ter tirado a vida e mesmo o ritual do rastejamento observado pela vizinhança da casa onde estavam hospedados foi, afinal, feito com bolas de Natal atadas aos pés, e não com pedras, ao contrário do que asseguravam várias testemunhas. Estas são as convicções do procurador da República do Tribunal de Almada que decidiu arquivar o caso, decisão da qual as famílias das vítimas já anunciaram que irão recorrer. Os investigadores consideram que ficou suficientemente indiciado que o fim-de-semana no Meco se destinou, efectivamente, à realização de uma praxe académica. Mas descartam a possibilidade de o ritual ter tido os contornos de submissão a João Gouveia que muitos pretendem, nomeadamente as famílias. Afinal, apesar de se encontrar numa posição hierarquicamente superior aos colegas no que ao código de praxe diz respeito, não era o mais velho do grupo nem o mais avançado nos estudos. “Não era de esperar que seis pessoas esclarecidas se deixassem manietar por um acto paranóico dum qualquer dux, prescindindo, no extremo, de lhe desobedecer”, observa o magistrado, chamando ainda a atenção para o facto de, nesse cenário, serem seis os jovens, dois dos quais rapazes, contra apenas um. Os cadáveres não apresentavam, aliás, sinais de terem tido os membros amarrados. Depois, os SMS trocados durante o fim-de-semana entre os jovens e familiares e amigos seus revelam uma boa disposição pouco compatível com qualquer clima intimidatório, como a mensagem que Ana Catarina Soares, alcunhada como Arruaceira, envia ao namorado: “Tive a rastejar e a mamar [beber] lol”. O facto de João Gouveia não ter levado consigo, no fatídico passeio até à praia, a colher de pau – “a mais nobre e simbólica insígnia da praxe”, segundo o código ritual – mostra, segundo o despacho de arquivamento, que terá abdicado, nesse momento e daí em diante, do seu ascendente hierárquico. Acabou por “se submeter aos mesmos momentos dramáticos dos amigos e colegas, com a diferença de que o Destino lhe permitiu o salvamento”, escreve o procurador, explicando ainda que não lhe competia proteger a vida dos companheiros. Seria, por isso, desproporcionado exigir-lhe um comportamento diferente daquele que teve, quando também esteve prestes a afogar-se. Daí não se verificarem indícios dos crimes sob suspeita – homicídio (voluntário ou negligente), exposição ao perigo, coacção e favorecimento pessoal. A possibilidade de terem estado presentes no Meco outros jovens conhecidos dos sete estudantes choca com um facto apurado durante as investigações: só os telemóveis destes jovens accionaram as células das antenas da zona, o mesmo não tendo sucedido com os aparelhos de outros colegas que chegou a dizer-se que ali teriam ido ajudar a praxar as vítimas. Não é atribuída credibilidade a depoimentos da vizinhança segundo os quais foram ali vistas mais pessoas trajadas com o uniforme académico. O mesmo sucede em relação às pedras com que terão sido observados a rastejar: depois de ter garantido às televisões que isso tinha, de facto, sucedido, um casal que ali mora disse às autoridades que se tinha equivocado e que as pedras mais não eram, afinal, do que bolas de um pinheiro de Natal. Foi com um espírito “de convívio e reflexão académicos” que naquela noite de Dezembro os jovens resolveram caminhar 5 km até à praia, trajados. Segundo donos de restaurantes por onde passaram, iam a falar uns com os outros, sem alaridos. As bebidas alcoólicas mais fortes compradas para a ocasião foram mais tarde encontradas na casa alugada intactas - uma de whisky e duas de amêndoa amarga. Apenas uma terceira garrafa de amêndoa amarga foi levada para a praia. O que se passou a seguir? Pelo que o dux contou às autoridades, sentaram-se na areia a conversar, ignorando o perigo que corriam: donde estavam não conseguiam ver a zona de rebentação e o mar era uma imensa mancha escura. Quando o frio e a humidade estavam quase a convencê-los a regressar sentiram o brutal impacto da massa de água que os arrastou para dentro do mar. Como se tivessem sido sugados para “dentro uma máquina de lavar roupa”. O dux diz ter perdido de vista os outros, embora tenha ouvido os apelos desesperados de uma das raparigas, os trajes negros a tolherem-lhes os movimentos. Como sobreviveu? Por sorte, explicou, e talvez por ser praticante de bodyboard. Desenvencilhou-se da capa e conseguiu arrastar-se até ao areal, onde vomitou e foi encontrado “num patamar de quase falência vital”.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Tribunal inglês decide se retirada de bebé a mãe portuguesa é definitiva
Peritos vão confrontar pareceres médicos em Setembro. Criança está numa família de acolhimento e deverá ser entregue a uns tios paternos em Agosto. (...)

Tribunal inglês decide se retirada de bebé a mãe portuguesa é definitiva
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-08-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Peritos vão confrontar pareceres médicos em Setembro. Criança está numa família de acolhimento e deverá ser entregue a uns tios paternos em Agosto.
TEXTO: Uma audiência judicial final sobre a situação da bebé retirada à mãe portuguesa a viver em Southend, Inglaterra, realiza-se no início de Setembro. Depois disso, a juiza decidirá se a menina pode ou não voltar para a mãe. A criança tinha cinco meses quando foi entregue a uma família de acolhimento inglesa, em Maio, por decisão de um juiz do Tribunal de Família desta cidade a leste de Londres. O processo da retirada foi iniciado pelos Serviços Sociais de Southend depois de um parecer médico do Southend University Hospital, onde a menina foi observada a partir de dia 16 de Abril, dois dias depois de cair de uma cadeirinha de descanso, quando estava com a mãe de 29 anos e a avó materna em casa. O pai inglês, separado da mãe, visitava a filha regularmente. Por ter estado com ela três dias antes do incidente, foi igualmente excluído pelos serviços sociais como possível cuidador. Exames médicos feitos nesses dias mostraram uma “suspeita de fractura” no crânio, que o pediatra Fathel Rahman Awadalla considerou ser impossível relacionar com uma queda acidental, como escreveu no relatório de 22 de Abril enviado à assistente social do Departamento de Crianças (Children Department) dos Serviços Sociais de Southend. O documento põe em dúvida a versão dos acontecimentos apresentada pela mãe. Os serviços sociais invocaram os “riscos potenciais” para a bebé e pediram a sua colocação numa família de acolhimento. Contactados, os Serviços Sociais de Southend não deram informações ao PÚBLICO justificando o silêncio com o dever de confidencialidade nestes casos. O juiz deu-lhes razão e poderes para conduzirem o processo e determinou que assim que concluíssem a avaliação aos tios do pai da menina (apresentados como familiares que a podiam acolher) esta passaria para viver com eles; até lá ficaria na família de acolhimento (onde ainda se encontra). Esta dupla decisão judicial – tomada entre Maio e Junho – seria provisória até à audiência final no tribunal, marcada para ter início a 8 de Setembro. A partir dessa data, perante nova informação entretanto recolhida e mais testemunhos presenciais, a nova juíza do caso vai determinar se a retirada da bebé à mãe é definitiva. Esta nova audiência, que pode demorar até cinco dias, antecede a decisão final, a ser conhecida num prazo máximo de três meses. Um pedido de recurso – apresentado pelos pais ou pelos serviços sociais – deverá ser interposto num prazo máximo de 21 dias e apenas será aceite se forem encontradas novas provas ou detectado um erro processual. Visões não coincidentes Entre os depoimentos presenciais esperados na sessão de Setembro, estão os de dois médicos independentes. Um deles não exclui a possibilidade, embora remota, de a menina ter apenas sofrido um hematoma, sem fractura. O outro não duvida que houve fractura e rejeita a tese de acidente: uma bebé de cinco meses não teria força para cair sozinha da cadeirinha de modo a provocar uma fractura, sustenta. O primeiro é o radiologista de pediatria Alan Sprigg. Não exclui a hipótese – improvável mas não impossível, considera – de sob o hematoma, haver uma linha da estrutura óssea da bebé e não uma fractura. Também refere que o hematoma (ou inchaço) pode ter sido ocultado pelo cabelo da bebé até dois dias depois da queda, o que explicaria o facto de a mãe só então a ter levado ao hospital. No relatório de 30 de Junho, afasta “mal-entendidos” – palavras suas – relativamente às informações que lhe foram enviadas do hospital: “Para que não haja dúvida, não existem provas de sangramento interno em consequência de uma complicação resultante de fractura. ”O outro médico consultado e a ser ouvido em tribunal é Charles Essex, especialista em neurologia infantil. O mesmo que, numa carta publicada no jornal Daily Telegraph em 2005, defendia que a existirem dúvidas do radiologista – entre ser uma fractura ou uma linha do crescimento natural dos ossos – a informação não poderia ser aceite como prova de acusação de mau trato infantil. Neste caso, a “fractura” é para ele inquestionável. Charles Essex rejeita a versão que considera “implausível” de uma queda acidental e insiste na questão da “demora” da mãe em levar a bebé ao hospital. Cenários possíveisAinda antes da audiência de Setembro, a menina deverá deixar a família de acolhimento inglesa, onde se encontra desde o início de Maio, e ser entregue aos tios do pai em Agosto, em cumprimento da ordem dada, em 23 de Maio, pelo anterior juiz do processo.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filha tribunal social criança infantil
Vinte anos para gozar a vida de reformado
Qualquer classificação geracional uniformiza o diverso, mas ajuda a perceber o que é comum. Os que nasceram entre 1945 e 1964 testemunharam ou protagonizaram as grandes mudanças sociais da história recente do país e agora estão a reinventar o que é ser velho. Este é o primeiro de cinco textos publicados ao domingo sobre as diferentes gerações. (...)

Vinte anos para gozar a vida de reformado
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.4
DATA: 2014-08-03 | Jornal Público
SUMÁRIO: Qualquer classificação geracional uniformiza o diverso, mas ajuda a perceber o que é comum. Os que nasceram entre 1945 e 1964 testemunharam ou protagonizaram as grandes mudanças sociais da história recente do país e agora estão a reinventar o que é ser velho. Este é o primeiro de cinco textos publicados ao domingo sobre as diferentes gerações.
TEXTO: Manuela Matos Monteiro pensou muito nisto antes de se reformar, aos 59. Aos 65 anos, uma mulher tem 20 pela frente. “É outra vida!” A geração anterior não se podia dar ao luxo de esperar tanto. As pessoas deixavam de trabalhar e iam “gozar a vida” antes que ela se apagasse. O que é “gozar a vida”? Deixar-se estar na cama até tarde, viajar, passear sem pressa, oferecer côdeas de pão aos patos, contar histórias aos netos, ficar horas a ler, em suma, fazer o que uma vida inteira de afazeres foi adiando? Quanto tempo dura o prazer de ter tempo? Eis um dilema novo que se coloca a uma geração habituada a desbravar caminho. Os norte-americanos chamaram “baby boomers” aos que nasceram entre 1945 e 1964. Depois de 16 anos de depressão e guerra, houve um súbito aumento de natalidade nalguns países europeus, nos Estados Unidos, no Canadá e na Austrália. Esse fenómeno, associado ao crescimento económico e à esperança no futuro, ficou conhecido como “baby boom” - explosão de bebés. O rótulo difundiu-se pelo mundo fora. Não é que tenha havido pico de nascimentos em Portugal. É que o rótulo é antes de mais cultural, explica António Fonseca, da Universidade Católica. E, à sua maneira, o país até viveu uma explosão demográfica. Houve um invulgar crescimento populacional em 1974 e em 1975 - pelo regresso de gente que estava no Ultramar e em países europeus afectados pelo choque petrolífero, como a França e a Alemanha. Quando Manuela era jovem, Portugal era jovem. Em 1970, havia 33 pessoas maiores de 65 anos por cada 100 com menos de 14. Agora que envelheceu, Portugal está envelhecido. No ano passado, a proporção era de 133 para 100. Mas o que tem ela, filha de um industrial, licenciada em Filosofia, em comum com Zulmira Oliveira, filha de um operário, que fez a 4ª classe e aos 12 anos já era empregada de balcão?Apesar de singulares, as vidas inscrevem-se em regularidades feitas de marcas culturais, como tantas vezes explica o sociólogo José Machado Pais. Manuela e Zulmira testemunharam ou protagonizaram as grandes mudanças sociais da história recente. Nasceram numa imperial ditadura. Mobilizado para o Ultramar, o homem por quem Zulmira se apaixonou foi prisioneiro de guerra, retornou com uma tristeza infinita. Já o homem por quem Manuela se apaixonou preparava-se para fugir com ela para França antes que o mandassem para a guerra. Da noite para o dia, a luta pela liberdade deixou de ser um acto clandestino, passou a ser uma festa. O país abria-se. E a ideia de “juventude sã”, livre de prazeres “fáceis e degradantes”, típica dos regimes totalitários da Europa do século XX, ia dando lugar a uma juventude com vontade de experimentar, de viver o que antes não se podia, sequer se desejava, porque a falta de liberdade não afectava só o que se fazia, também o que se queria. Luís Fernandes tem 53 anos e ainda se lembra do dia em que a sua professora de canto coral apareceu com um disco dos Pink Floyd debaixo do braço. “O rock ensinou-me revolução à sua maneira”, comenta. Não era só a sonoridade. Era tudo em volta dela, incluindo as festas que passaram dos bombeiros para as garagens. “O slow dançava-se apertado e à meia-luz. Era o corpo da mulher que estava lá. Percebíamos que podíamos ser livres até nas nossas relações. O ‘peace and love’ e o ‘sex, drugs and rock & roll’ são ícones dos anos 60 que a Portugal chegaram só depois do 25 de Abril. ”O agora professor da Universidade do Porto, especialista em comportamento desviante, cresceu numa família “pequeno-burguesa”. Ninguém falava de política lá em casa. A política, no tempo da ditadura, era coisa de poucos. Nos dias da revolução, estava no Liceu de Gaia e foi lá, nas reuniões dos delegados de turma, que aprendeu o que era democracia. As pessoas levantavam-se, discursavam, gritavam e cada braço valia um voto. Ao chegar à Universidade do Porto, em 1980, haveria de usar roupas coloridas e cabelos compridos, de ser um freak, cultura pós-hippie de jovens urbanos e esquerdistas, que ouviam rock progressivo e psicadélico. Nichos de modernidade despontavam, em particular, em Lisboa e no Porto, onde os filhos da insípida classe média tinham tempo para discutir. Fora das maiores cidades, o país era outro. Era devagar que Portugal rural se abria, à boleia da televisão e dos que tinham saído para as cidades ou para o estrangeiro. António Fonseca que o diga. Cresceu em Oliveira de Azeméis, município rural em vias de industrialização, e aprendeu a revolução no Movimento de Acção Católica. Fazia daquilo uma militância como outros da sua idade faziam nas juventudes partidárias – caso de Pedro Passos Coelho (PSD) e de António José Seguro (PS). Lembrar-se-ão ainda muitos de ver, pela televisão, Mário Soares, então primeiro-ministro, a assinar a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia. E de acreditar que vinha aí um futuro glorioso. A promessa era clara: não estavam fadados à “triste vidinha” da geração anterior, poderiam ter uma vida mais ou menos parecida com a dos povos europeus de que Portugal se queria aproximar. O poder de compra era em 1970 metade do da média europeia. Entre 1973 e 2011 foi-se aproximando, de forma progressiva. Alguns começaram a usufruir de prazeres como jantar fora, ir ao cinema ou passar uma semana de férias no estrangeiro. Confirmava-se a promessa de dias melhores, apesar da desigualdade gritante persistir. O Portugal de 1970 não era só rural e miserável. Era semianalfabeto, empoeirado nos costumes, tacanho nas ideias. Segundo o Instituto Nacional de Estatística, 27, 7% da população era analfabeta; só 0, 9% tinha curso superior. Volvidos 40 anos, quando os primeiros "baby boomers” chegaram à idade da reforma, Portugal tinha 5, 2% de população analfabeta, 14, 8% com curso superior. “Sobretudo quem era de origem remediada deu um salto muito grande”, nota António Fonseca, que conta 50 anos e tem duas filhas, de 17 e 19. Quando tinha a idade delas, os tempos da vida estavam muito bem definidos. O comum era ir à escola, estudar; sair da escola, começar a trabalhar. A pessoa começava a trabalhar e era adulta. Na dúvida, a tropa fazia de um rapaz um homem. Poucos chegavam às universidades e esses tinham a certeza de que iriam encontrar um emprego à medida. A vida era mais linear. Mostra-o até a trajectória de Luís Fernandes. Arranjou aos 24 anos o emprego que ainda agora tem e aos 28 comprou casa e casou-se. Nem precisou de um fiador para obter o crédito à habitação. Divorciou-se. Viveu em união de facto. Tornou a casar-se. E este registo íntimo também é marca de uma geração. Os estudos da socióloga Anália Torres elencam razões para a multiplicação do divórcio: vulgarizou-se a pílula contraceptiva; aumentaram as liberdades individuais; as mulheres entraram em massa no mercado de trabalho; perdeu peso o sector primário; as famílias encolheram; as relações amorosas tornaram-se mais exigentes. Os nascidos entre 1945 e 64 passaram grande parte da vida a ensaiar novas formas de estar. E agora, que têm entre 50 e 69 anos, ensaiam novas formas de envelhecer. Alguns quiseram reformaram-se ou estão a reformar-se antes do tempo. Cansaram-se de trabalhar – sobretudo as mulheres, que tiveram de conciliar a vida profissional com a vida familiar, quase sempre com companheiros incapazes de partilhar tarefas domésticas. O marido de Zulmira nem um ovo sabia estrelar. A sensação de libertação não dura sempre, avisa António Fonseca. Para a sua tese de doutoramento sobre o envelhecimento, inquiriu 502 reformados e percebeu que a satisfação com a vida cai a partir do quinto ano – “a partir do nono é dramático”. Isso tem diversas explicações e uma delas é a falta de objectivos para os quais canalizar energia. “O gozar a vida é um fogacho. Alguns ficam deprimidos. Arrastam-se pelas superfícies comerciais. Fazem o circuito das doenças. Qualquer sinal os leva ao médico. ”Há quem opte por trabalhar para lá da idade da reforma – uns por razões financeiras, outros para manter uma identidade assente no trabalho. E nem todos os que pedem reforma antecipada querem apenas fugir ao presente. Alguns definem um novo projecto de vida, tratam de reinventar-se. Manuela e o marido, João Lafuente, trabalham ainda mais agora do que quando ela era professora no ensino secundário e ele se ocupava da informática num banco. “Sempre achei que uma reforma precoce era uma armadilha, sempre achei que tinha de ter um projecto”, diz ela. “A pessoa está habituada a cumprir um horário. Queixa-se disso uma vida inteira, mas sente desconforto quando encontra o tempo aberto. Tenho de ter horários para os meus dias renderem e fazerem sentido. ”Partilham o gosto pela fotografia nas galerias Espaço Mira e Mira Fórum, que abriram no ano passado. Atraem com elas muita gente a Campanhã, freguesia relegada do Porto. “ É uma vida completamente diferente da anterior”, exclama ela. Adorou ser professora. Não se zangou com o ensino. Queria fazer outra coisa. E sente que exerce o seu sentido de cidadania ao “marcar Campanhã de forma positiva”. Tudo se torna mais difícil quando a reforma antecipada é imposta pelo desemprego e não há margem para recomeçar. A pessoa pode sentir-se um “resíduo humano”, na expressão provocatória do sociólogo polaco Zygmunt Bauman. No final do mês de Agosto, Zulmira há-de pedir reforma antecipada. No centro de emprego já lhe explicaram que é “o melhor”. Completa 63 anos em Dezembro. Desde os 59 que não consegue regressar ao mercado de trabalho. Dizem-lhe que naquela idade já não apetece aos empregadores. Trabalhou 20 anos numa loja. Despediu-se para abrir o seu próprio negócio. Abriu-o em 1986 e fechou-o em 1999. Tudo ia bem até ao marido descobrir um cancro de pulmão. Durante um ano, viveu para cuidar dele. Quando morreu, ficou demasiado desorientada. Nunca pensou que fechar a loja fosse o fim. “Eu sempre adorei o comércio. Pensava que ia morrer no comércio. ”Tinha 49 anos. Fez arranjos de costura para sobreviver. Ainda trabalhou, primeiro, a tempo parcial como repositora numa cadeia de supermercados, depois a tempo inteiro como recepcionista numa empresa de design. Não sabia falar inglês. “Só podia atender chamadas em português. ”Dedicou-se aos netos. Tem dois – um de 13 e outro de sete. Ama-os, mas não deixa que a anulem. “Não posso estar limitada. Os meninos se não puderem vir não vêm. Têm outra avó. Gosto de ir tomar café ou de ir jantar com as minhas amigas. Tenho ido à Baixa com ideia de tomar café e às vezes nem tomo, mas sabe-me bem ir. Vou dar a minha voltinha e faço de conta que fiz uma viagem muito grande. “A ideia de que o desempregado ou o reformado está disponível leva algumas famílias a tomarem de assalto o seu tempo. E esta geração, ao contrário da anterior, já tende a não achar que isso é um desígnio. Se começar a ser muito solicitada, pode queixar-se de falta de vida própria. Antes, um velho era um velho. Percebia-se pelo vestuário, pela postura corporal. Até parecia mal usar calças de ganga. “Isso era ser uma velha gaiteira, alguém que não sabia envelhecer”, diz Manuela. “Neste momento, todos os velhos são gaiteiros!” Vingou o culto pela juventude. O mercado publicitário já percebeu. Há cada vez mais anúncios com grisalhos muito enxutos. E a questão que se impõe, repete Manuela, é esta: “A pessoa tem 64 anos, está saudável, tem energia, tem competências, tem uma perspectiva de vida de vinte anos. O que faz com isto?”Haverá muito para repensar para lá dos programas de voluntariado mais adequados a esta nova realidade, que já não tem só terceira idade, também tem quarta e quinta. António Fonseca defende um modelo de passagem gradual à reforma. “Numas empresas isso não seria possível. Noutras seria e essa possibilidade devia ser dada ao trabalhador. Com reforma gradual ia preparando o passo seguinte. ”O impacto nas contas públicas é cada vez maior. Os pensionistas da Segurança Social já somavam 2. 981. 635 em 2012; os reformados, aposentados e pensionistas da Caixa Geral de Aposentações outros 603. 267. Todos juntos representam 40, 1% da população residente com 15 e mais anos. Muitas vezes são eles que apoiam filhos com vidas profissionais periclitantes - tantas vezes espantados por perceberem que, afinal, não haveria sempre crescimento. A sua geração vive melhor do que a anterior, não é líquido que a seguinte possa dizer o mesmo.
REFERÊNCIAS:
O trailer de As 50 Sombras de Grey já é o mais visto de sempre na Internet
Trailer com pouco mais de dois minutos já teve mais de cem milhões de visualizações. (...)

O trailer de As 50 Sombras de Grey já é o mais visto de sempre na Internet
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2014-08-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Trailer com pouco mais de dois minutos já teve mais de cem milhões de visualizações.
TEXTO: O trailer de As Cinquenta Sombras de Grey, adaptação do livro homónimo de E. L. James, foi divulgado na semana passada e em poucas horas tornou-se viral. Uma semana depois e já é o trailer mais visto de sempre com mais de cem milhões de visualizações em todo o mundo, divulgou a Universal. É o maior lançamento online de sempre de um trailer, anunciaram os estúdios responsáveis pelo filme, que adapta o fenómeno mundial de vendas de E. L. James. De acordo com os números divulgados, o vídeo com pouco mais de dois minutos já foi tantas vezes visto quanto os livros da trilogia foram vendidos. Em 2012, As 50 Sombras de Grey foram um verdadeiro fenómeno global, tendo vendido já cem milhões de exemplares em todo o mundo. Em Portugal, a trilogia é editada pela Lua de Papel. Para o sucesso alcançado foi importante o impacto que o lançamento do trailer teve nas redes sociais. Foi aliás nas redes sociais, nomeadamente no Facebook de Beyoncé, que fez uma nova versão de Crazy in Love para o filme, que o trailer foi primeiro publicado. Só na página da cantora pop, segundo a Universal, o vídeo teve mais de 40 milhões de visualizações. Outras 40 milhões de visualizações foram feitas no YouTube. As restantes visualizações foram feitas através de outros sites onde o trailer estava incorporado e ainda através de uploads não oficiais. No dia em que foi lançado, a 24 de Julho, o Twitter registou ainda 98 mil menções por hora ao filme que conta a história de Anastasia Steele (Dakota Johnson), uma estudante de literatura que se apaixona pelo milionário Christian Grey, interpretado por Jamie Dornan. Grey é adepto de práticas como bondage, assumindo sempre uma posição de dominador. O filme tornou-se mesmo no assunto mais falado na Internet, tendo ficado entre os tópicos em destaque do Google no Reino Unido, nos Estados Unidos, Canadá, França e Alemanha, escreve ainda o diário britânico The Independent. As 50 Sombras de Grey chega aos cinemas a 12 de Fevereiro de 2015.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cantora
Google revela identidade de utilizador de e-mail com imagens explícitas de criança
Direito à privacidade ou direito das crianças? Caso coloca dúvidas sobre política de actuação do motor de busca. (...)

Google revela identidade de utilizador de e-mail com imagens explícitas de criança
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-08-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Direito à privacidade ou direito das crianças? Caso coloca dúvidas sobre política de actuação do motor de busca.
TEXTO: Um homem foi detido em Houston, nos Estados Unidos, depois de o Google ter denunciado ao centro nacional de crianças desaparecidas e exploradas que no e-mail do indivíduo existiam imagens explícitas de uma criança. Num caso como este, o alerta do motor de busca às autoridades foi saudado, mas por outro lado coloca-se a questão do direito à privacidade online. Segundo o canal de televisão KHOU, o homem detido por posse de pornografia infantil tem um passado de abusador sexual, condenado por agressão sexual a uma criança em 1994. Identificado como John Henry Skillern, 41 anos, o indivíduo teria três imagens na sua conta de e-mail de uma rapariga, o que levou o Google a alertar a polícia. “Ele mantinha-as no interior do e-mail. Não posso ver essa informação, não posso ver essa fotografia, mas o Google pode”, disse à KHOU o detective David Nettles, da unidade de combate a crimes na Internet contra crianças. Após o alerta do Google, a polícia fez buscas ao domicílio de Skillern, onde encontrou mais imagens suspeitas e mensagens escritas comprometedoras. O homem está detido, tendo-lhe sido determinada uma caução de 200 mil dólares (150 mil euros). A empresa norte-americana recusou-se a comentar o caso, nomeadamente a responder à questão se a sua denúncia não terá quebrado o direito à privacidade do utilizador ao visionar o seu e-mail pessoal. O motor de busca financia a Internet Watch Foundation e trabalha ainda com o centro nacional de crianças desaparecidas e exploradas nos Estados Unidos. O responsável pelos serviços jurídicos do Google, David Drummond, disse noutra ocasião que a empresa “criou tecnologia que alerta outras plataformas para conhecidas imagens de abuso sexual de crianças”. “Podemos rapidamente removê-las e alertar para a sua existência às autoridades”, explicou o responsável. O Google passa por um sistema todas as contas de e-mail para colocar publicidade dentro do Gmail, actualmente com mais de 400 milhões de utilizadores em todo o mundo. Em Abril, o Google reviu os termos e condições do serviço de e-mail e informou os utilizadores: “Os nossos sistemas automatizados analisam os vossos conteúdos [incluindo e-mails] para vos fornecer pessoalmente características relevantes de produtos, como resultados de busca e publicidade personalizados e detecção de spam e malware. Esta análise ocorre quando o conteúdo é enviado, recebido, e quando é armazenado". Esta alteração surgiu após a empresa ter sido processada na Califórnia por o seu sistema de análise de e-mails ter sido utilizado para avançar com publicidade a universitários. Apesar de ninguém contestar a protecção de crianças contra predadores sexuais, ficam as questões sobre a privacidade dos utilizadores do Gmail e em que outras circunstâncias o Google alerta as autoridades depois de detectar algo suspeito no e-mail dos seus clientes. E se o Google se enganar e confundir uma imagem inocente de uma criança nua com uma de cariz sexual? Recentemente, o Instagram cometeu esse erro quando fechou a página de uma mulher que tinha publicado uma fotografia da filha pequena a mostrar a barriga. O Google prefere manter-se em silêncio quanto a estas questões. Argumenta apenas que, ao ser parco nas explicações, protege a sua forma de apanhar os criminosos, impedindo que estes a conheçam.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filha mulher homem criança sexual rapariga abuso infantil
"Em memória das 373 crianças mortas em Gaza"
“Setenta e duas horas de trégua não são suficientes para enfrentar a amplitude da destruição e das necessidades humanitárias”, diz a ONG Save The Children. (...)

"Em memória das 373 crianças mortas em Gaza"
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.2
DATA: 2014-08-06 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20140806170258/http://www.publico.pt/1665591
SUMÁRIO: “Setenta e duas horas de trégua não são suficientes para enfrentar a amplitude da destruição e das necessidades humanitárias”, diz a ONG Save The Children.
TEXTO: Em vez de um comunicado, a ONG Save the Children decidiu comprar uma página inteira de publicidade na edição de quarta-feira dos principais diários britânicos: sobre um fundo negro, surgem os nomes e as idades das 373 crianças mortas em Gaza durante os ataques lançados por Israel nas últimas semanas. “Em memória das 373 crianças mortas em Gaza”, lê-se no topo da página, publicada no arranque de um cessar-fogo de três dias negociado pelo Egipto, 72 horas durante as quais Israel e o movimento palestiniano Hamas (que governa na Faixa de Gaza) se comprometeram a conversar. De acordo com diferentes agências das Nações Unidas, 373 é o número de meninas e meninos que morreram entre 8 de Julho e 3 de Agosto na intervenção israelita (ao todo, morreram pelo menos 1806 palestinianos (80% dos quais civis). O Ministério Palestiniano da Saúde diz que esta guerra fez 1875 mortos, incluindo 430 crianças e adolescentes, e 243 mulheres. Do lado israelita, morreram 64 soldados e três civis. A organização não-governamental britânica que se dedica a ajudar crianças em 120 países comprou este espaço de publicidade nos jornais The Guardian, The Times, Daily Telegraph e Independent. “Pelo bem das crianças e das suas famílias, esperamos que o cessar-fogo seja cumprido. É absolutamente necessário por que os serviços essenciais em Gaza estão completamente destruídos e é muito difícil para nós chegar às crianças, as mais vulneráveis entre as vítimas deste conflito”, afirma num comunicado David Hassel, um dos responsáveis da ONG britânica para os Territórios Palestinianos Ocupados. “Setenta e duas horas não são suficientes para enfrentar a amplitude da destruição e das necessidades humanitárias”, insiste Hassel. “A longo prazo, precisamos de um acordo de paz que defenda a dignidade e a segurança dos israelitas e dos palestinianos e que inclua o fim do bloqueio para permitir a Gaza começar a reerguer-se. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra negro mulheres
Homem detido após denúncia da Microsoft de fotos de abuso a criança
Numa semana surgem dois casos de indivíduos detidos após análise de e-mails. (...)

Homem detido após denúncia da Microsoft de fotos de abuso a criança
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-08-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Numa semana surgem dois casos de indivíduos detidos após análise de e-mails.
TEXTO: Dias depois da notícia de que um homem foi detido em Houston, EUA, por posse de pornografia infantil após uma denúncia do Google, surge esta quinta-feira a informação de que um outro indivíduo foi acusado na Pensilvânia de receber e partilhar imagens de abusos a uma criança depois de a Microsoft ter alertado as autoridades. A denúncia à polícia pela empresa norte-americana foi feita depois de a Microsoft ter encontrado uma imagem de uma rapariga que terá sido guardada na conta do indivíduo no serviço de armazenamento de dados OneDrive. Além da posse da imagem, o homem, de cerca de 20 anos, foi interceptado online a tentar vender duas fotografias através de uma conta de e-mail live. com da Microsoft. O suspeito acabou por ser detido no passado dia 31 de Julho, mas o caso só agora chegou a público. Segundo a acusação apresentada contra o norte-americano, este adquiriu as imagens através do Kik Messenger, uma aplicação para conversação, e recebeu e partilhou fotografias da pornografia infantil através do seu telemóvel. A Microsoft detectou o conteúdo da imagem através de um código de identificação único que os computadores da empresa reconhecem como sendo de exploração infantil. "A pornografia infantil viola a lei, bem como os nossos termos de serviço, o que torna claro que usamos tecnologias automatizadas para detectar comportamentos abusivos que possam prejudicar os nossos clientes ou outras pessoas”, afirmou ao site CNET um porta-voz da Microsoft. Segundo os termos e condições da marca norte-americana, esta afirma ter o direito de "implementar tecnologias automatizadas para detectar pornografia infantil ou comportamentos abusivos que possam prejudicar o sistema, clientes ou outros". A empresa tem apostado na criação de códigos únicos de identificação (PhotoDNA) nos últimos cinco anos. A tecnologia foi criada para impedir a disseminação de imagens de exploração de crianças, apenas possível devido à criação de uma assinatura única em cada imagem de pornografia infantil. Além da Microsoft, também o Google, Facebook e Twitter usam o processo PhotoDNA. Terá sido assim que o Google denunciou o homem detido esta semana em Houston. Casos como estes levantam dúvidas quanto à violação ou não do direito à privacidade online. A questão polémica tem levado as empresas de tecnologia e as redes sociais a manterem-se em silêncio quando tomam decisões como estas. Quase todas têm, no entanto, políticas claras quanto a existência de conteúdos que violem os direitos das crianças e a sua exposição ilegal.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Boom: um laboratório de cooperação ao ritmo do trance
Na Herdade da Granja estão até dia 11 cerca de 30 mil pessoas a dançar e a celebrar a cultura psicadélica nas pistas ou nas palestras. O Boom Festival é já um dos mais relevantes do mundo no segmento dos eventos que defendem modos de vida alternativos. (...)

Boom: um laboratório de cooperação ao ritmo do trance
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-08-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na Herdade da Granja estão até dia 11 cerca de 30 mil pessoas a dançar e a celebrar a cultura psicadélica nas pistas ou nas palestras. O Boom Festival é já um dos mais relevantes do mundo no segmento dos eventos que defendem modos de vida alternativos.
TEXTO: Sete da manhã, quarta-feira. Na Herdade da Granja, perto de Idanha-a-Nova, onde desde segunda-feira está a acontecer a 10. ª edição do Boom Festival, o dia nasce para alguns, termina para outros e vai prolongar-se para tantos outros. Cada um tem o seu próprio ritmo. É um festival de várias camadas. Na zona de acampamento uns espreguiçam-se. Na água da barragem dão-se os primeiros mergulhos. Nas suas margens, cruza-se quem acabou de se levantar e quem ainda não se deitou. Na pista principal, o chamado Dance Temple, as sonoridades electrónicas mais vertiginosas do trance psicadélico ouvem-se, perante uma multidão que grita sempre que uma empolgante espiral de som irrompe. Numa outra pista, o Alchemy Circle, ouvem-se sonoridades electrónicas dançantes mais envolventes e na zona Chill-out uma massa de corpos deitados deixa-se levar pelos sons mais calmos. Daí a pouco, num dos extremos do extenso recinto, na chamada Healing Area, iniciar-se-ão diversas actividades de grupo assistidas por especialistas, do ioga ao contacto-improvisação. Mas na areia da barragem, por iniciativa própria, também existe quem as pratique. Às tantas, uma rapariga desce em corrida uma das encostas, tirando toda a roupa durante o percurso, para mergulhar nas águas. Nos diversos recantos, as espreguiçadeiras, os lugares para estar, os baloiços, as jangadas dispostas dentro de água ou as redes colocadas em árvores estão invariavelmente ocupadas. É cedo. Mas podia ser à tarde. Ou à noite. No Boom, cada um cria o seu próprio ideário. Tem o seu ritmo. São 24 horas sobre 24 horas para cada um vivenciar. Une-os a cultura psicadélica. Mas na forma como a vivem há diferenças. Uns estão presentes pela música e dança. Outros pela partilha do conhecimento. Outros pela experiência, pela sociabilidade e pelas possibilidades lúdicas do espaço – seja a torre dos desejos, os jardins secretos, o museu ou as diversas esculturas. E cada vez mais, existem os curiosos. Gente que não tem uma apetência especial pela música ou pela cultura que a envolve, mas que ouviu falar da experiência e quer perceber o que é exactamente. É o caso de Ricardo Samões, advogado de 34 anos, que durante anos ouviu falar do Boom através de amigos e resolveu vir ver como é. “Ainda estou a tentar perceber”, diz-nos ele, ao segundo dia, “mas estou surpreendido porque é mais bem organizado e relaxado do que estava à espera. E esta coexistência entre pessoas tão exóticas, neste lugar, acaba por ser um corte com o quotidiano que funciona bem. Como dizem os meus amigos, por uns dias, pode-se ser feliz aqui. ”Essa é outra distinção relevante. Das 30 mil pessoas presentes este ano, 90% vem de fora, de França, Inglaterra, Alemanha ou da Austrália. Apenas 10% é de Portugal. Por norma, para quem vem de fora, a cultura psicadélica não constitui um corte com o quotidiano. Está integrado no seu dia-a-dia. É um estilo de vida, se quisermos. Como a francesa Jeanne Gopher, que está no evento pela terceira vez consecutiva. Vem porque gosta do espaço ou da música, mas também “da energia” e da “sensação de liberdade que se respira”. Jeanne foi uma das muitas pessoas que encheu, na quarta-feira, ao final do dia, o espaço da Liminal Village, onde todos os dias decorrem palestras, apresentações, conversas interactivas ou debates. Em palco, uma respeitável senhora de cabelos brancos, Elisabet Sahtouris, americana, bióloga, pensadora e autora de várias obras, onde olha para as diversas disrupções do mundo actual a partir do seu conhecimento da natureza. Na sua alocução focou o binómio competição-cooperação, seja na natureza, entre pessoas, países ou impérios, para concluir que os sistemas sociais e económicos competitivos que nos regem se estão a auto-aniquilar e é necessária uma transição inteligente para novos sistemas de cooperação. A certa altura, alguém perguntou quando é que essa mudança teria início. “Já está a acontecer, vocês são a prova disso”, respondeu, argumentando que é necessário conservar o que funciona no mundo actual e ser “radicalmente criativo” com o que não funciona, argumentando que essa é também a forma da natureza operar. “Um novo mundo já está a ser construído e vocês fazem parte dele”, disse. Um dos mais relevantes do mundoNos últimos anos o Boom cresceu e isso é constatável de diversas formas. Pelo número de visitantes – a organização teve que declarar "lotação esgotada" há semanas, quando atingiu as 30 mil pessoas, porque existia o receio que muitas outras pudessem afluir ao local sem bilhete – mas também pelo posicionamento do evento. Continua a existir uma forte ligação espiritual ou mística com a realidade, e isso é perceptível na festa, na alegria, no imaginário e nas imagens que o festival projecta, mas há também cada vez mais vontade de intervenção transformadora através da partilha do conhecimento.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura rapariga
Philip
O último filme de Philip Seymour Hoffman é um encontro entre um actor de eleição e o desencanto amargurado dos espiões de John Le Carré. Os dois encontraram-se na rodagem de O Homem Mais Procurado, adaptação do romance do escritor. “O mundo era demasiado brilhante para que ele o conseguisse suportar”, escreve John Le Carré. "Ele tinha que desactivar os seus olhos ou ser fascinado até à morte". (...)

Philip
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0
DATA: 2014-08-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: O último filme de Philip Seymour Hoffman é um encontro entre um actor de eleição e o desencanto amargurado dos espiões de John Le Carré. Os dois encontraram-se na rodagem de O Homem Mais Procurado, adaptação do romance do escritor. “O mundo era demasiado brilhante para que ele o conseguisse suportar”, escreve John Le Carré. "Ele tinha que desactivar os seus olhos ou ser fascinado até à morte".
TEXTO: Creio que terei passado, no máximo, cinco horas na companhia de Philip Seymour Hoffman, vá lá, seis horas. Para além disso, foi apenas estar juntamente com outras pessoas nas filmagens de O Homem Mais Procurado, vendo-o nos monitores e dizendo-lhe depois que ele estava óptimo, ou decidindo que era melhor manter as minhas opiniões para mim mesmo. Nem sequer fiz muitas coisas: um par de visitas ao local das filmagens, uma ridícula aparição como figurante que me obrigou a deixar crescer uma barba nojenta, demorou todo o dia e acabou por resultar numa imagem borrada de alguém que fiquei agradecido por não conseguir reconhecer. É provável que não exista nada mais inútil no mundo do cinema que um escritor da obra original a cirandar no local de filmagens do seu filme, como aprendi à minha custa. Alec Guinness fez-me um favor quando me mandou sair de onde se estava a filmar a adaptação da BBC de O Espião que Saiu do Frio. Tudo o que eu queria era demonstrar a minha admiração, mas Alec disse que o meu olhar de admiração era demasiado intenso. Agora que penso nisso, o Philip fez o mesmo favor a uma amiga nossa, uma tarde nas filmagens de “O Homem Mais Procurado” em Hamburgo naquele Inverno de 2012. Ela estava num grupo de pessoas a cerca de trinta metros de distância dele, simplesmente a olhar e a ficar com frio, como todas as outras pessoas. Mas havia algo nela que o incomodava e ele mandou que ela se retirasse. Foi um bocadinho assustador, um bocadinho paranormal, mas acertou em cheio, porque a mulher em causa também era escritora, e como tal conseguia olhar com imensa intensidade. Philip não sabia o que ela era. Ele apenas o pressentiu. Olhando para trás, nada desse género me surpreendia acerca de Philip, dado que a sua intuição era evidentemente visível desde o instante em que o conhecíamos. Tal como a sua inteligência. Muitos actores representam de forma inteligente, mas Philip era o pacote completo: brilhante, artístico, um homem polifacetado de grande saber e cultura com uma inteligência que nos iluminava como um par de faróis e nos envolvia logo desde o momento em que nos apertava a mão, punha um grande braço à volta do nosso pescoço e empurrava a sua face contra a nossa; ou, se estivesse para aí voltado, nos abraçava contra si como um grande e rechonchudo menino de escola, e depois ficava ali a olhar para nós enquanto se apercebia e decidia do efeito que tinha sobre nós. Philip estava sempre a avaliar tudo em profundidade. Era uma tarefa dolorosa e extenuante, e que provavelmente no fim o condenou à desgraça. O mundo era demasiado brilhante para que ele o conseguisse suportar. Ele tinha que desactivar os seus olhos ou ser fascinado até à morte. Tal como Chatterton, circulou à volta da Lua sete vezes por cada vez que nós o fazemos, e cada vez que se ia embora nunca tínhamos a certeza se iria regressar, o que, creio eu, é algo que alguém disse acerca do poeta alemão Holderlin: sempre que saía da sala, receávamos que seria a última vez que o víamos. E se isto parece algo que podemos dizer agora que sabemos o que lhe aconteceu, não é o caso. Philip estava a consumir-se mesmo em frente dos nossos olhos. Ninguém conseguiria viver àquele ritmo e aguentar toda a corrida, e em alguns surpreendentes assomos de intimidade percebia-se a necessidade que ele sentia de que nós o soubéssemos. Nenhum outro actor teve em mim o impacto que Philip teve nesse primeiro encontro comigo: nem Richard Burton, nem Burt Lancaster ou mesmo Alec Guinness. Philip cumprimentou-me como se estivesse estado toda a sua vida à espera para me conhecer, o que, suspeito, era a maneira como ele cumprimentava toda a gente. Mas há muito tempo que eu desejava conhecer Philip. Considerei a sua interpretação de [Truman] Capote como a melhor que já vi num ecrã. Mas não me atrevi a dizer-lhe isso, porque, com os actores, há sempre o perigo de que, se lhes dizemos quão espectaculares foram há nove anos, eles nos perguntem o que há de errado com as suas outras interpretações desde então. Mas disse-lhe que era o único actor norte-americano que eu conheço que podia interpretar a minha personagem George Smiley, um papel pela primeira vez encarnado por Alec Guinness na adaptação da BBC de O Espião que Saiu do Frio, e mais recentemente por Gary Oldman na adaptação para o grande ecrã – mas nessa ocasião, como um leal súbdito britânico, eu reclamava que Gary Oldman defendesse as nossas cores. Talvez eu me estivesse também a recordar de que, tal como Guinness, Philip não era um grande amante no ecrã, mas felizmente não tivemos que nos preocupar com isso no nosso filme. Se Philip tivesse que envolver uma rapariga nos seus braços, não ficaríamos envergonhados nem desviaríamos o olhar, mas também não conseguiríamos evitar o sentimento de que de alguma forma ele estava a fazer aquilo mais por nós do que por ele. Os nossos produtores e realizador discutiram muito acerca de se conseguiriam levar Philip para a cama com alguém, e é interessante perceber que quando finalmente surgiram com uma proposta, ambos os parceiros fugiram a sete pés. Somente quando a magnífica actriz que é Nina Goss apareceu ao lado dele é que os responsáveis do filme compreenderam que estava a assistir a um pequeno milagre de falhanço romântico. No seu papel, que foi rapidamente aumentado, ela é a colega de trabalho, ajudante e porto de abrigo que o adora, e ele despedaça-lhe o coração. O que se adaptava perfeitamente a Philip. O seu papel de Gunther Bachmann, um homem de meia-idade agente dos serviços secretos alemães com a carreira a desmoronar-se, não permitia um amor duradouro, ou mesmo um amor de qualquer outro tipo. Philip tinha tomado essa decisão desde o primeiro dia e, para a enfatizar, trazia consigo um exemplar muito manuseado do meu livro – e que pode um autor do original mais querer? – para esfregar na cara de quem quisesse apimentar a história com sexo. O filme extraído de O Homem Mais Procurado também conta com a participação de Rachel McAdams e Willem Dafoe, e já estreou num cinema perto de si, espero eu, por isso comece já a poupar dinheiro para o bilhete. Foi filmado quase na sua totalidade em Hamburgo e Berlim, e no seu elenco surgem, em papéis relativamente humildes, alguns dos mais prestigiados actores alemães, não apenas a sublime Nina Hoss (Nós Somos a Noite, Barbara, etc. ), mas também Daniel Bruhl (Rush, Adeus, Lenine!)No livro, a minha personagem Bachmann é um agente secreto que vive à base de estimulantes. Bem, Philip facilmente se identificava com isso. Foi retirado de Beirute após perder a sua preciosa rede de espionagem devido à ineficácia, ou pior, da CIA. Foi colocado para acabar a carreira, devido à sua idade, em Hamburgo, a cidade que abrigou os conspiradores do 11 de Setembro. O seu serviço regional de espionagem, e muitos dos seus cidadãos, ainda vivem com esse embaraço. Mas a missão que Bachmann atribui a si própria é rectificar a história e equilibrar a balança: não através de equipas de intervenção, torturas ou execuções extrajudiciais, mas através da delicada penetração de espiões, pelo casamento, pela utilização da força do inimigo para o conseguir derrubar, e obter o consequente desarme do jihadismo por dentro. Durante um jantar fino com os produtores e realizador e os principais actores, não me lembro de eu ou o Philip falarmos muito do papel de Bachmann em particular; de um modo mais geral, discutimos os cuidados e manutenção dos agentes secretos e o papel de guia e pastor dos seus supervisores. Esqueçam a chantagem, disse eu. Esqueçam as atitudes de macho violento. Esqueçam a falta de sono, fechar pessoas dentro de caixas, execuções fingidas ou outras artimanhas. Os melhores agentes, chibos, informadores ou o que quer que se lhes chame, sublinhei, precisam de paciência, compreensão e cuidados carinhosos. Gostava de pensar que ele levou a minha pregação em consideração, mas é mais provável que ele estivesse a interrogar-se sobre se conseguiria usar um pouco da expressão carregada com que fico quando estou a tentar impressionar alguém. Agora é difícil escrever com distanciamento sobre a forma como Philip interpretou um homem de meia-idade desesperado e fora de controlo, ou a maneira como definiu o percurso de autodestruição da sua personagem. Foi orientado, claro. E o realizador Anton Corbijn, um homem polifacetado com tanta sabedoria e cultura como Philip, é ele próprio muitas e maravilhosas coisas: fotógrafo de fama mundial, pilar da cena musical contemporânea, e até tema de um documentário. O seu primeiro filme, Control, a preto e branco, é icónico. Está neste momento a fazer um filme sobre James Dean. E mesmo assim, os seus talentos criativos, onde os vi em funcionamento, parece-me que lhe são tão intrínsecos como supremos. Suspeito que ele seria a última pessoa a descrever-se a si próprio como um dramaturgo teórico, ou um comunicador articulado acerca da vida íntima de uma personagem. Philip teve que ter esse diálogo consigo próprio, e deve ter sido um diálogo bem mórbido, recheado de questões como: Em que ponto exactamente é que eu perco todo o sentido de moderação? Por que é que insisto em continuar com tudo isto quando bem lá no fundo sei que apenas pode acabar em tragédia? Mas a tragédia atraiu Bachmann como uma luz dos afundadores, e também atraiu Philip. Havia um problema com as pronúncias. Temos tido excelentes actores alemães que falam inglês com acento alemão. A opinião geral, não necessariamente de forma muito sensata, era de que Philip também deveria fazer o mesmo. Após os primeiros minutos a ouvi-lo, pensei “credo”. Nenhum alemão que eu conhecesse falava inglês daquela maneira. Fazia uma coisa com boca, uma espécie de beicinho. Parecia que estava a beijar as suas falas, e não tanto a dizê-las. Depois, de forma gradual, fez aquilo que só os grandes actores conseguem fazer. Fez da sua voz a única voz autêntica, a solitária, a estranha, aquela de que dependíamos no meio de todas as outras. E de cada vez que ela deixava o cenário, como acontecia com aquele grande actor, ficávamos à espera do seu regresso com impaciência e crescente desconforto. Vamos ter que esperar muito tempo até surgir um novo Philip. © David Cornwell, 2014
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte escola cultura mulher homem sexo género espécie casamento rapariga chantagem