Há um ano trabalhava atrás do balcão. Há uma semana abanou o aparelho democrata americano
É um nome em ascensão no Partido Democrata. Com 28 anos, Alexandria Ocasio-Cortez protagonizou um dos momentos políticos da semana nos EUA ao vencer as primárias para o Congresso. Pelo caminho deixou um veterano, Joe Crowley. Se chegar ao Congresso, tornar-se-á na mulher mais jovem a ser eleita. (...)

Há um ano trabalhava atrás do balcão. Há uma semana abanou o aparelho democrata americano
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.2
DATA: 2018-08-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: É um nome em ascensão no Partido Democrata. Com 28 anos, Alexandria Ocasio-Cortez protagonizou um dos momentos políticos da semana nos EUA ao vencer as primárias para o Congresso. Pelo caminho deixou um veterano, Joe Crowley. Se chegar ao Congresso, tornar-se-á na mulher mais jovem a ser eleita.
TEXTO: Na Primavera de 2017, antes de ter acabado com as duas décadas de carreira de Joe Crowley (do Partido Democrata, pelo estado de Nova Iorque) no Senado dos Estados Unidos, e de ter perturbado a mais poderosa máquina política da sua cidade, Alexandria Ocasio-Cortez trabalhava ao balcão de um bar. Tinha ajudado a fundar o Flats Fix, um bar de tacos e cocktails em Manhattan, enquanto questionava o que iria fazer a seguir. “Eu estava a atender pedidos de ‘brunch’, sem ar condicionado, e pessoas de grupos políticos progressistas andavam a telefonar-me”, afirmou na semana passada numa entrevista. Já tinha trabalhado na campanha do senador Bernie Sanders (independente, pelo estado do Vermont), mas ele perdeu as primárias para a eleição presidencial. Tinha estado nas manifestações de Standing Rock, onde os nativos norte-americanos contestavam os gasodutos de gás natural que iriam atravessar as suas terras no Dacota do Norte. Tinha trabalhado com os Bronx Progressives [bloco de políticos e autarcas liberais nova-iorquinos fundado em 2009] e os Socialistas Democráticos da América, fazendo lobby no gabinete de Crowley; recebeu aplausos quando este congressista apoiou a legislação da Câmara dos Representantes referente ao programa Medicare for All [sistema nacional de saúde alargado]. Mas em Maio deste ano, encorajada pelos activistas com que colaborava, Ocasio-Cortez (28 anos) inscreveu-se para desafiar Crowley. Tinha muito poucas hipóteses, mas pelo menos era uma forma de construir um movimento político. “Se [o círculo eleitoral] pode ter mais educação, mais organização, mais investimento do que tinha há um ano”, disse à WYNC [rádio pública de Nova Iorque] em Novembro de 2017, “então esta campanha terá tido 100% de mérito. ”Ocasio-Cortez parece agora estar imparável no seu caminho em direcção ao Congresso, concorrendo num círculo eleitoral que atribuiu 78% dos seus votos a Hillary Clinton e no qual os republicanos não estão seriamente empenhados. Se isso acontecer, ela transformar-se-á na mulher mais jovem a ser eleita, por qualquer dos partidos. Até este ano, Crowley nunca tinha sequer estado próximo de perder no 14. º Círculo Eleitoral para o Congresso de Nova Iorque. A reacção dos republicanos à vitória de Ocasio-Cortez abordou essencialmente a derrota de Crowley e como a direcção do seu partido tinha sido derrotada por uma mulher que se intitula socialista. Era isso mesmo que Ocasio-Cortez tinha decidido que iria fazer – substituir a direcção e a máquina do Partido Democrata em Queens, controladas por Crowley, por uma nova estrutura e um novo eleitorado. Os Justice Democrats e o Brand New Congress, dois dos grupos progressistas que a encorajaram a concorrer, acabaram por formar a sua equipa para a campanha eleitoral. Ela não se sentia inclinada a apoiar Nancy Pelosi, a líder democrata na Câmara dos Representantes, para o lugar de presidente desta assembleia, indicando um dos membros mais à esquerda na Câmara como sendo uma melhor escolha. “Gostaria de ver uma nova liderança, mas nem sequer sei quais são as nossas opções”, afirmou. “Quero dizer, a Barbara Lee está a candidatar-se? Quando ela o fizer, então chamem-me!”As posições políticas de Ocasio-Cortez situam-se substancialmente mais à esquerda do que a maioria do seu partido, e mesmo de Sanders. Nos seus cartazes e vídeos de campanha, feitos por amigos dos círculos socialistas de Nova Iorque, pede a abolição do ICE [Immigration and Customs Enforcement, agência de investigação do Departamento de Segurança Interna] e as propinas no ensino superior; e apoia o sistema de saúde Medicare For All, segurança e garantias para os funcionários públicos. Os anúncios também deixam bem claro que ela é uma candidata diferente – uma jovem latina do Bronx, não um homem branco de Queens. Os cartazes, que, nas suas próprias palavras, foram concebidos para parecerem “revolucionários”, surgiam em inglês e espanhol e com a sua face ao centro; o seu vídeo de campanha, que se tornou viral, criado por uma equipa socialista denominada Means of Production [Meios de Produção], começava com ela a dizer “não é suposto que mulheres como eu concorram a cargos políticos” sobre imagens dela a preparar-se para mais um dia num movimentado prédio de apartamentos. “A única ocasião em que podemos criar algum tipo de mudança substancial é quando conseguimos alcançar um eleitorado insatisfeito e inspirá-lo e motivá-lo a votar”, disse Ocasio-Cortez à revista de esquerda In These Times, numa das muitas entrevistas que concedeu quando, nas últimas semanas, a sua candidatura parecia estar bem encaminhada. “Foi assim que Obama ganhou e foi reeleito, e foi assim que Bernie Sanders conseguiu tão bons resultados. ”Em entrevistas na véspera das eleições, enquanto Ocasio-Cortez solicitava votos em Queens, disse que a sua campanha começou com militantes de base e descolou assim que os meios de comunicação social de esquerda de âmbito nacional notaram o que ela estava a fazer. Um perfil inicial no Intercept [jornal de investigação online], disse, foi “um momento de viragem”, levando a mais entrevistas e perfis que se iniciavam com a audácia do seu desafio, e depois passavam às suas propostas políticas. Na última semana de campanha, quando deixou por pouco tempo o seu estado para conhecer de perto as condições dos centros de detenção de imigrantes no Texas, já estava a actualizar a revista feminina Vogue acerca de como se estava a desenrolar a sua candidatura. “O maior obstáculo que as nossas comunidades enfrentam é o cinismo – dizer que o resultado já está decidido à partida, que ninguém se importa, que não vale a pena votar”, declarou Ocasio-Cortez a um grupo de voluntários numa das suas iniciativas de campanha. “Se conseguirmos que alguém se importe, isso já é uma grande vitória para o movimento e para as causas que estamos a tentar fortalecer. ”Por que razão desafiou Crowley? Ela explica: ele era um “democrata executivo”, que recebia mais dinheiro dos PAC [comités de angariação de verbas] empresariais do que de dadores locais – e de empreiteiros que estavam a aumentar os preços da habitação. Ele votara a favor da criação do Departamento de Segurança Interna. Ele votara a favor da guerra no Iraque. Ele votara a favor da PROMESA, a lei que criou um muito odiado comité de bancarrota para lidar com a dívida do território caribenho de Porto Rico. “O meu avô morreu na tempestade [Maria, que atingiu Puerto Rico em Setembro de 2017], escreveu Ocasio-Cortez no Twitter em Maio. “As vossas leis encerraram escolas e reduziram os serviços públicos quando nós mais necessitávamos deles. ”Nada disso tinha antes parado Crowley, mas Ocasio-Cortez estava convicta de que isto poderia fazê-lo – se ela conseguisse alcançar os eleitores que estavam revoltados com a situação. Os seus colaboradores começaram a avançar para os telefones, contactando milhares de eleitores que não estavam filiados em qualquer dos partidos, informando-os de que precisavam de se registar nos cadernos eleitorais como democratas até seis meses antes das eleições se quisessem votar nas primárias do partido. Utilizaram também a lista de votantes do Partido Democrata, mas a equipa de Ocasio-Cortez achou que a tecnologia aí usada era demasiado antiquada, pelo que construíram a sua própria aplicação e distribuíram-na aos seus voluntários. A maior arma da campanha de Ocasio-Cortez era ela mesma, pois provou ser uma candidata nata e natural, com uma história de vida interessante e apelativa. Ela foi a primeira a reconhecer que tinha andado por muitos lugares diferentes, desde o gabinete do senador Ted Kennedy e do Instituto Nacional Hispânico até à organização política e à indústria dos serviços. E foi obrigada a isso: a sua família foi duramente atingida durante a crise financeira de 2008. Crowley enfrentou o desafio de forma séria, gastando 1, 5 milhões de dólares, mais do que o quíntuplo da sua adversária. Nas suas mensagens de campanha, Crowley denominava-se “Joe de Queens” e enfatizava que a sua influência em Washington o tornava o adversário ideal de Donald Trump. No único debate televisivo entre os dois, Crowley rapidamente passou à ofensiva, dizendo aos telespectadores que a sua oponente uma vez tinha dito que as leis sobre armas de Nova Iorque não tinham necessariamente de ser utilizadas noutros estados. Este ataque era verdadeiro – Ocasio-Cortez tinha-o afirmado num fórum do Reddit –, mas ela limitou-se a rir, dizendo que ele estava a ser “um ‘troll’ da Internet”, e ele passou à frente do assunto. Ocasio-Cortez limitou-se a superar Crowley (que muitos jornalistas especializados no Congresso viam como potencial presidente da Câmara de Representantes) nos meios de comunicação social. Um dos seus melhores estratagemas surgiu uma semana antes das primárias, quando um jornal do Bronx organizou um debate dos candidatos e Crowley não podia estar presente. Ocasio-Cortez chegou cedo, apertando a mão aos poucos presentes. Crowley enviara Annabel Palma (uma antiga vereadora municipal) em sua representação, apesar de ela de vez em quando reconhecer que não conhecia a posição de Crowley em assuntos relativos ao Congresso. (Palma foi apupada quando afirmou, e correctamente, que Crowley apoiara a mudança da Embaixada dos Estados Unidos em Israel de Telavive para Jerusalém. No dia em que se efectuou a mudança da embaixada, Ocasio-Cortez condenou o “massacre” de palestinianos que protestavam contra a decisão, e escreveu no Twitter que “os democratas não podem continuar em silêncio acerca disto”. )A candidata novata estava claramente a suplantar a veterana e experimentada vereadora. Ocasio-Cortez manteve as baterias apontadas a Crowley. No início do debate, antes de lhe dizerem para não se levantar durante as respostas, andou de um lado para o outro no palco e afirmou que a sua candidatura era do Bronx, pelo Bronx, e para o Bronx. “Alcançámos o coração e a cabeça de todas as nossas famílias. Estamos a lutar por um assumido movimento para a justiça económica, social e racial nos Estados Unidos”, declarou Ocasio-Cortez. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Virou-se e olhou para Palma. “Com o devido respeito”, disse, “sou a única nesta sala que está a candidatar-se ao Congresso. ”Exclusivo PÚBLICO/The Washington PostTradução de Eurico Monchique
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra lei educação ataque mulher homem social mulheres feminina
Apple, Facebook e YouTube fecham portas ao "discurso de ódio" de Alex Jones
Empresas retiram ligações para podcasts, deitam abaixo páginas e encerram canais de vídeo ligados ao site Infowars, onde Jones difunde as suas teorias da conspiração. (...)

Apple, Facebook e YouTube fecham portas ao "discurso de ódio" de Alex Jones
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.8
DATA: 2018-08-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Empresas retiram ligações para podcasts, deitam abaixo páginas e encerram canais de vídeo ligados ao site Infowars, onde Jones difunde as suas teorias da conspiração.
TEXTO: Há quase duas décadas que o activista norte-americano Alex Jones faz chegar as suas controversas teorias da conspiração a milhões de pessoas através da Internet, mas a partir desta semana essa missão vai deixar de contar com a contribuição de alguns gigantes da tecnologia e das redes sociais. Numa decisão tão surpreendente quanto radical, a Apple, o Facebook, o YouTube e o Spotify decidiram banir a maioria dos vídeos e podcasts de Jones e dos seus colaboradores. A lista de teorias da conspiração criadas por Alex Jones é longa e inclui episódios como a acusação de que a cantora Lady Gaga realizou magia demoníaca durante o espectáculo de intervalo do Super Bowl em 2017 para se apresentar à assistência como a deusa de Satanás. Mas a teoria da conspiração que deu origem às críticas mais sérias foi a acusação de que o tiroteio na escola primária de Sandy Hook, a 14 de Dezembro 2012, foi encenado pelo Governo e não fez vítimas. Por causa disso, os pais de uma das 20 crianças que foram mortas a tiro nesse dia acusaram-no de difamação, depois de essa teoria da conspiração ter incentivado vários seguidores de Jones a perseguirem-nos e a ameaçarem-nos. A influência de Jones aumentou de forma significativa em Dezembro de 2015, quando o então candidato presidencial Donald Trump lhe concedeu uma entrevista – a primeira a um candidato desde que Jones fundou o site Infowars, em 1999. Durante essa conversa, Trump elogiou Jones, dizendo que a sua influência é "fantástica" e prometendo que não iria desiludi-lo se viesse a ser eleito Presidente. É por isso que a atenção sobre Jones e as suas teorias da conspiração tem crescido nos anos mais recentes, e que empresas como o Facebook têm vindo a ser pressionadas para o banirem das suas páginas. Mas até agora nenhuma empresa tinha ido mais longe do que suspender Jones durante um mês ou retirar alguns dos seus vídeos mais controversos. A primeira a banir Alex Jones foi a Apple, no domingo à noite – cinco dos seis podcasts ligados ao site Infowars foram retirados do iTunes e da aplicação para telemóveis e tablets, incluindo o mais famoso de todos, o Alex Jones Show, que o activista grava todos os dias. Os podcasts de Jones podem continuar a ser ouvidos no seu site e noutros serviços que disponibilizam ligações para podcasts, mas a decisão da Apple vai limitar-lhe o alcance – o serviço Apple Podcasts é de longe o mais popular em todo o mundo e continua a crescer de forma significativa, com mais de 50 mil milhões de downloads e audições em tempo real em 2018, um aumento de quase 40 mil milhões em relação a 2017. "A Apple não tolera discurso de ódio, e temos critérios claros que os criadores têm de seguir para garantirmos um ambiente seguro para os nossos utilizadores", disse a empresa num comunicado enviado ao Washington Post. "Os podcasts que violem esses critérios são retirados e deixam de estar disponíveis para download ou streaming. Acreditamos que devemos representar vários pontos de vista, desde que as pessoas respeitem quem tem opiniões diferentes. "Horas depois, o Facebook anunciava que tinha retirado quatro páginas ligadas a Alex Jones, citando também o discurso de ódio como motivo da decisão. Tal como a Apple, o Facebook fez questão de sublinhar que não estavam em causa notícias falsas, mas sim discurso de ódio – se isso não tivesse ficado claro, as empresas teriam de explicar porque não apagam outras contas, incluindo as do Presidente Donald Trump, muitas vezes acusado pelos seus críticos de partilhar informações falsas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. "Após termos feito uma reavaliação, retirámos as páginas que foram denunciadas porque glorificavam a violência, o que viola os nossos critérios sobre violência explícita, e por empregarem linguagem desumanizadora para descrever pessoas que são transgénero, muçulmanas e imigrantes, o que viola os nossos critérios sobre discurso de ódio", disse o Facebook. Depois da Apple e do Facebook, seguiram-se o Spotify e o YouTube – o serviço de música retirou alguns podcasts de Alex Jones, por violarem os critérios sobre "conteúdo de ódio", e o serviço de vídeos deitou abaixo os canais onde o activista da direita norte-americana explanava as suas ideias. Uma pesquisa pelo canal principal de Jones, o The Alex Jones Channel, termina agora com uma nota do YouTube: "Esta conta foi extinta por violar os critérios de comunidade do YouTube. "Jones não tem respondido aos pedidos dos media norte-americanos para reagir a esta onda de proibições. Em vez disso, o caso é discutido no episódio desta segunda-feira do seu programa principal, o Alex Jones Show: "O Facebook baniu de forma permanente o Infowars e a Apple removeu vários podcasts do iTunes sob o disfarce de 'discurso de ódio'. A guerra contra a vossa mente está agora em força, com os globalistas e banirem canais de liberdade e de verdade, começando com o seu ponta de lança: Alex Jones. "
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Palavras-chave guerra escola violência comunidade cantora
Quão judaico é o Estado de Israel?
Uma lei que define Israel como o Estado para os judeus abriu uma discussão sobre o que isso implica para os que não são judeus. Não é certo o que este fortalecimento implica num país em que as tradições judaicas são um agregador de religiosos e seculares. (...)

Quão judaico é o Estado de Israel?
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-08-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma lei que define Israel como o Estado para os judeus abriu uma discussão sobre o que isso implica para os que não são judeus. Não é certo o que este fortalecimento implica num país em que as tradições judaicas são um agregador de religiosos e seculares.
TEXTO: A lei que declara que Israel é um Estado judaico que está a ser debatida no Knesset (Parlamento) está no centro de uma discussão sobre integração e exclusão e sobre quão judaico deve ser o Estado de Israel. A proposta de lei, promovida pelo Likud do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, provocou protestos porque reduzirá os direitos dos que não são judeus e aumentará o papel da religião: tem uma cláusula segundo a qual o árabe deixa de ser língua oficial para ter apenas um estatuto especial no Estado, e outra considerando que a halacha (lei judaica) pode ser usada pelos tribunais em casos em que não haja precedentes na lei civil. Mas para os seus defensores, só declara o óbvio – que Israel é um Estado judaico. E isso é algo que se nota na vida dos seus cidadãos. Se os pais fundadores de Israel eram judeus seculares, a religião e tradição judaica têm um papel fundamental no Estado. Como explicou ao PÚBLICO por email o professor da Universidade Hebraica de Jerusalém Eli Lederhendler, Israel é um país paradoxal. Se por um lado é parecido com países que têm uma forte cultura católica como parte da identidade como a Irlanda, ou países modernos com tradições antigas como o Japão, por outro o Estado judaico seria um meio de dar aos judeus um direito colectivo a autodeterminação. Por isso, muitos judeus que não são religiosos no sentido formal aderem a alguns rituais comunitários: ninguém conduz durante o Yom Kippur (Dia da Expiação), por exemplo, sublinha Lederhendler. "Claro que os cidadãos árabes conduzem, e as estradas não estão fechadas. Mas ainda assim, não há quase trânsito – as crianças aproveitam e andam de bicicleta pelas estradas". É um dia especial. Israel é, assim, uma sociedade que "recebe energia positiva do partilhar de tradições", diz Lederhendler. A maioria das regras religiosas e tradicionais são fruto de consenso, nota o professor, e a maioria (que é secular), "quer que estas regras se mantenham fruto de consenso, e não quer que o país seja 'tomado' pelos rabinos", diz. A definição do que é ser judeu depende da autoridade a quem se pergunta. Um dos casos mais emblemáticos da diferença é o dos judeus da antiga União Soviética que imigraram para Israel, sobretudo nos anos 1990. Os cerca de 1, 5 milhões de imigrantes foram considerados judeus por terem antepassados judeus (um avô ou avó pelo menos), de acordo com a Lei da Nacionalidade. Mas mais de 320 mil não são considerados judeus, de acordo com as mais estritas leis religiosas: porque só é judeu quem é filho de mãe judia, ou se converteu ao judaísmo de acordo com a interpretação ortodoxa. Isto tem implicações: estes não-judeus não podem, por exemplo, casar em Israel. Os casamentos celebrados em Israel são domínio exclusivo das autoridades religiosas de cada uma das quatro religiões reconhecidas (judaica, muçulmana, cristã, druza e baha’i; a cristã tem ainda dez denominações). Apesar de não haver casamentos seculares (civis), isto pode ser contornado com um casamento no estrangeiro, que depois é reconhecido pelas autoridades; Chipre é um destino popular e os operadores de viagens têm pacotes especiais de casamento. Estes casamentos talvez não sejam mais de 15%, diz Eli Lederhendler, "mas é um sinal dos tempos e é uma tendência que parece estar a crescer". Também não são permitidos casamentos entre pessoas de religiões diferentes. Mais uma vez, estes têm de casar no estrangeiro, mas apesar disso, os números estão a aumentar. Para alguns religiosos, este tipo de casamentos ameaça a identidade judaica do país, especialmente se forem entre uma mulher judia e um homem goy (não judeu – já que uma pessoa é judia quando a mãe o é). Há exemplos recentes na cultura. Um efeito deste medo é um romance da autora israelita Dorit Rabinyan, que foi retirado em 2015 da lista de leituras aprovadas para os alunos do secundário, porque a história de amor entre uma judia israelita e um palestiniano era demasiado controversa. Já uma confirmação popular de que o medo existe pode ser vista numa versão satírica da música vencedora da Eurovisão Toy, de Netta Barzilay, Goy, de uma mulher apaixonada por um homem que não é judeu, que teve quase mais sucesso do que a original (pelo menos, antes de Netta vencer o festival). Parte da oposição de muitos ao casamento religioso judaico ortodoxo é o facto de a mulher ficar numa posição inferior. Para obter o divórcio, a mulher tem de ter o consentimento do marido. No entanto, segundo a organização Hiddush, que luta pela possibilidade de casamento civil, a maioria dos judeus israelitas não sabe que mesmo quem casa pelo civil no estrangeiro terá de se divorciar num tribunal ortodoxo, submetendo-se assim às regras religiosas na altura da separação. Todos os anos há centenas de mulheres que não conseguem obter o divórcio – em hebraico chamam-se "mulheres acorrentadas". O Shabbat é o dia reservado para reflexão e passar tempo com a família, e para evitar distracções são proibidas actividades de trabalho ou criativas, incluindo cozinhar ou operar a maioria dos aparelhos eléctricos. O país praticamente pára desde o início do shabbat, ao pôr-do-sol de sexta-feira, até ao seu fim, ao cair da noite no sábado. Há várias consequências. Uma é por exemplo que a El-Al, a companhia aérea israelita, seja a única do mundo que não voa durante um dia (quando o mundo dos atrasos nos aeroportos se cruza com a obrigatoriedade de aterrar antes do início do dia de descanso pode haver problemas). Apesar de não haver transportes públicos, há serviços para assegurar necessidades “vitais”, de acordo com a lei – há táxis particulares e serviços de táxis partilhados (sherut, pequenas carrinhas que partem quando enchem). Alguns restaurantes abrem, poucos nas zonas de maioria judaica, mais nas zonas árabes. Uma sondagem recente do Instituto da Democracia de Israel citada pelo Jerusalem Post dizia que a maioria dos judeus inquiridos gostaria de ver algum tipo de transporte público durante este dia (64%) e também minimercados (61%, legislação recente permite que o Ministério do Interior cancele autorizações dadas pelas autoridades municipais), e ainda mais cafés e cinemas (69% e 68%). Também há aparelhos eléctricos com um “modo shabbat” – fornos, por exemplo – que permite que sejam abertos ou fechados mantendo um nível de calor mas não sendo ligados ou desligados. Há quem use dispositivos como “timers” para a luz eléctrica, e há elevadores especiais que funcionam de modo automático e permitem que sejam usados sem que seja preciso carregar nos botões (o que seria contra as regras). Mais recentemente, há uma aplicação para que se possam trocar mensagens por smartphone (há debate sobre se de facto o uso desta app respeita as regras do shabbat). Há tradições judaicas conservadoras que não são legalmente permitidas em Israel mas que existem em algumas comunidades – o que Eli Lederhendler chama “o grande ‘mas’ israelita”. São proibidas, "mas". É o caso da separação entre homens e mulheres nos transportes públicos, que é ilegal, mas acontece, por vontade dos passageiros, em linhas entre bairros ortodoxos ou entre um bairro ortodoxo e um grande terminal de transportes. “Os passageiros estão habituados a viver deste modo, e não deixam que algo chamado 'a lei' se interponha no seu caminho”, diz Lederhendler. “Mas isto não é algo que exista no mundo quotidiano ‘normal’ dos restantes”, sublinha – ele próprio nunca viu isso acontecer. Na companhia aérea El-Al também não existe, mas homens religiosos podem pedir por vezes a outros homens que troquem de lugar para evitar ficarem sentados ao lado de uma mulher. Outro compromisso na fundação do Estado de Israel entre Ben Gurion e os partidos religiosos foi a excepção concedida à então pequena comunidade ultra-ortodoxa de ter de fazer serviço militar obrigatório (que ocupa quase três anos aos rapazes com mais de 18 anos e dois anos às raparigas). Mas com o peso dos ultra-ortodoxos na sociedade a crescer (se são 10% na população em geral, já são 20% nas escolas primárias), o custo de ter os jovens ultra-ortodoxos apenas a estudar a Torah começa a parecer impossível de pagar. Apesar da grande pressão e de haver um compromisso para que os ultra-ortodoxos cumpram nem que seja o serviço cívico, estes recusam – nem sequer querem ser incluídos no registo nacional, sublinha Lederhendler. As manifestações pela manutenção do direito de não fazer serviço militar ou cívico continuam a ocorrer regularmente, às vezes registando violência. Há uma série de restrições legais em relação a comida (por exemplo à importação de carne que não seja kosher, ou seja, que não esteja de acordo com as regras judaicas) mas há também espaço para liberdade na restauração e muitos restaurantes judeus escolhem não pedir a certificação kosher por razões de custos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Por outro lado, há quem siga a lei à letra e assim consiga ultrapassar proibições: a criação de porco não é permitida na terra de Israel; os seculares criam-nos em plataformas de madeira assentes em estacas: assim não estão "na terra". Ainda segundo as regras religiosas, não se come comida fermentada antes da Páscoa judaica (Pesah), e a lei obriga os supermercados a escondê-la – corredores ficam marcados por secções inteiras de prateleiras cobertas com plásticos. Se os produtos podem acabar por ser vendidos a alguém que os retire de trás da cortina, já é outra questão, mais dependente de quem está na caixa.
REFERÊNCIAS:
Crónica de uma morte anunciada?
Os números são claros e as consequências também. Em matérias de demografia não há espaço para ignorar os “sinais”. (...)

Crónica de uma morte anunciada?
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os números são claros e as consequências também. Em matérias de demografia não há espaço para ignorar os “sinais”.
TEXTO: Quando Thomas Robert Malthus (1766-1834) escreveu o seu Ensaio Sobre o Princípio da População, no qual previa um crescimento exponencial da população mundial, dificilmente imaginaria que no início do século XXI alguns países da Europa enfrentariam um duplo desafio de natureza distinta: envelhecimento da população e declínio populacional. Na realidade, se a Europa dos 28 terá em 2070 uma população ligeiramente acima da que tem hoje, países como a Lituânia, Bulgária, Letónia, Grécia, Roménia ou Portugal poderão ver a sua população reduzir-se de forma significativa (Portugal, com -22, 7%, poderá ser o 6. º país com a maior queda populacional). De igual forma, em 2070, Portugal, Grécia, Chipre, Polónia e Itália terão mais de um terço da sua população com 65 anos ou mais e menos de um sétimo de população com 14 anos ou menos (Portugal, com 35, 4% de população com 65 anos ou mais e apenas 11, 9% da população com 14 anos ou menos, será o país mais “envelhecido”). Por que é que as perspetivas relativas a Portugal são tão negativa?Portugal perde população desde 2010, sendo que cerca de 92% do aumento populacional observado até 2010 foi suportado pelo saldo migratório favorável. Desde 1982 que o total dos nascimentos é insuficiente para garantir renovação de gerações: o Índice de Renovação de Gerações (número médio de filhos que uma mulher deveria ter durante a vida para que as gerações pudessem ser substituídas) situa-se atualmente próximo dos 1, 3, valor claramente abaixo do mínimo crítico de 2, 1. Situação com potencial de agravamento ainda resultante do adiamento, tanto do primeiro como do segundo nascimento, quando este acontece. Por sua vez, o total de óbitos ultrapassa o total de nascimentos desde 2009, enquanto a esperança média de vida das mulheres aos 65 anos aumentou de 14, 6 anos em 1970 para 21, 6 anos em 2016, conduzindo a que a população idosa (jovem) se situe nos 14, 9% (19%), face aos 9, 9% (28, 5%) observados em 1970 (Portugal é atualmente o 6. º pais mais envelhecido do mundo e o 5. º da Europa). Mas será que o cenário demográfico deprimente que enfrentamos resulta exclusivamente de um menor interesse dos portugueses em ter famílias numerosas?Os dados do INE (Inquérito à fecundidade, 2013) parecem não corroborarem esta ideia. De facto, as pessoas, em média, desejariam ter mais de 2, 3 filhos e consideram 2, 4 filhos como o número ideal de filhos numa família. O que explica então este desfasamento entre a vontade dos portugueses e a realidade?De acordo com o INE, segundo o mesmo Inquérito, parece existirem dois fatores explicativos: rendimentos das famílias e condições de trabalho para quem tem filhos. Com efeito, para 59% dos inquiridos, a melhor forma de promover a natalidade é aumentando o rendimento das famílias, enquanto para 27, 4% o fator mais importante seria facilitar as condições de trabalho para quem tem filhos sem perder regalias. Será, no entanto, que a promoção da natalidade resolveria todos os problemas? Infelizmente não. Na realidade, para manter a atual população o número de nascimentos anuais teria de aumentar em cerca de 50% face aos atuais valores (dos 86. 154 registados em 2017 para cerca de 125. 000 ao ano), valor realisticamente difícil de atingir (nunca atingido desde 1995). Em alternativa, tem-se vindo a discutir o reforço das políticas de captação de migrantes. Essa pode ser, seguramente, uma via complementar mas que só resultará se for vista numa perspectiva de captação de imigrantes e não apenas de mão-de-obra. Ou seja, que privilegie as famílias, a estabilidade no mercado de trabalho e o respeito pela diversidade cultural. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em todo o caso, e independentemente das soluções políticas que venham a ser desenhadas, o certo é que a manutenção do atual deserto demográfico terá, pelo menos, três consequências, a saber: Em primeiro lugar, o Sistema de Segurança Social, assente numa óptica de repartição baseada exclusivamente no fator trabalho, não funciona com a inversão da pirâmide etária. Em segundo lugar, os custos com cuidados de saúde e cuidados continuados tendem a crescer de forma significativa ameaçando as contas públicas (estes custos situar-se-ão em 2070 nos 9, 7% do PIB face aos atuais 6, 4% –? Ageing Report, 2018). Um terceiro aspeto prende-se com o crescimento potencial da economia, o qual fica severamente condicionado com consequente impacto na capacidade de financiamento do Estado: em 2070, Portugal terá a menor taxa de crescimento do PIB potencial de toda a Europa (Ageing Report, 2018). Portanto, os números são muito claros e as suas consequências também. Tal como no livro de Gabriel García Márquez Crónica de uma Morte Anunciada, em que Santiago Nasser “não reconheceu o presságio”, em matérias de demografia também não há espaço para ignorar os “sinais”. O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico?
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte mulher social mulheres
Sucessos da democracia portuguesa não são um acaso
Robert Fishman, sociólogo e cientista político norte-americano, estuda há anos a democracia, em particular em Portugal e Espanha. Neste ensaio, faz o diagnóstico, 40 anos depois: a democracia portuguesa "está bem enraizada", não está "totalmente satisfeita consigo própria", não tem "excesso de confiança" nem "sentido de plena realização". E isso é bom (...)

Sucessos da democracia portuguesa não são um acaso
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-06-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Robert Fishman, sociólogo e cientista político norte-americano, estuda há anos a democracia, em particular em Portugal e Espanha. Neste ensaio, faz o diagnóstico, 40 anos depois: a democracia portuguesa "está bem enraizada", não está "totalmente satisfeita consigo própria", não tem "excesso de confiança" nem "sentido de plena realização". E isso é bom
TEXTO: O 25 de Abril conseguiu muito mais do que simplesmente fazer regressar a democracia a Portugal, como se tem constatado de forma cada vez mais clara com o passar do tempo. A revolução que se iniciou há quarenta anos foi uma revolução simultaneamente democrática e social; foi uma plataforma para grande criatividade e progresso que ainda hoje se mantém – mesmo em tempos difíceis. O progresso e a inclusão social que o 25 de Abril tornou possíveis tiveram efeitos directos em Portugal, mas a Revolução dos Cravos também deixou marcas profundas a nível global. Portugal possibilitou o alastrar global da democracia, por razões que ainda não são suficientemente reconhecidas. Hoje, todavia, os efeitos no próprio Portugal merecem a maior atenção. A Revolução dos Cravos mudou o país com extraordinária rapidez e profundidade – apesar dos problemas e dos desafios que obviamente continuaram a existir, muitos dos quais em resultado das sombras lançadas pelo atraso do passado. Afinal, antes de 1974 Portugal era o país mais pobre e atrasado da Europa Ocidental. Mas, após o 25 de Abril, em certos aspectos Portugal tornou-se o país do Sul da Europa com maior sucesso a nível social. A participação das mulheres na força de trabalho e nas universidades, uma importantíssima marca de progresso humano, aumentou rapidamente após o 25 de Abril. Portugal tornou-se rapidamente o único país do Sul da Europa em que a presença de mulheres na força laboral era muito mais elevada do que a média europeia. Muitas outras formas de progresso social e inclusão tornaram-se cada vez mais evidentes com o passar do tempo. A incorporação, em larga medida bem-sucedida, de imigrantes de vários continentes foi recentemente reconhecida através de dados comparativos que mostram que Portugal se encontra apenas atrás da Suécia no que se refere às políticas públicas de inclusão de imigrantes. Numa pesquisa recente, eu e um colega norte-americano percebemos que as preferências culturais dos cidadãos portugueses nascidos e educados após o 25 de Abril são muito semelhantes aos da mesma geração na Dinamarca e na Finlândia, mas muito diferentes dos do resto do Sul da Europa. Em democracia, os jovens portugueses desenvolveram gostos musicais “omnívoros”, um sinal claro de competências culturais e tolerância que são muito menos habituais em outros países do Sul da Europa. Eu e um ilustre cientista social português descobrimos resultados semelhantes num estudo de certas formas de práticas de cidadania. Também neste estudo, os resultados portugueses revelaram-se muito sólidos – em especial para os nascidos depois de 1974. Estes resultados são parcialmente explicados por práticas no sistema educativo. Simultaneamente, os estudos da PISA mostram cada vez mais que Portugal tem maior sucesso do que os seus pares da Europa do Sul em vários indicadores educativos mais convencionais. Estes êxitos não são um acaso. Pesquisas no campo da educação mostram os benefícios da abordagem de ensino centrada no estudante. As práticas educativas implementadas após o 25 de Abril eram menos hierárquicas e mais centradas no estudante do que no resto do Sul da Europa – com resultados extremamente positivos. Demorou algum tempo até todos os benefícios desta abordagem serem totalmente evidentes, precisamente devido à sombra lançada pelo anterior atraso. Muitos estudantes portugueses nos anos após 1974 cresceram em lares cujos pais tinham tido oportunidades de estudo limitadas, devido ao acesso universal à escolaridade ter sido implementado muito tarde. No campo económico, o progresso de Portugal nos 25 anos a seguir a 1975 e antes da adesão ao euro foi extraordinário. O nível de vida aumentou mais do que no resto do Sul da Europa, a produtividade também cresceu, juntamente com a inovação nas empresas. O desemprego estava entre os mais baixos da Europa. Com a introdução do euro em 1999, o país perdeu a sua independência monetária e iniciou-se um período de resultados económicos desapontadores. Mas exactamente antes de a crise nos mercados de crédito ter obrigado o país a pedir ajuda internacional em 2011, houve vários sinais muito positivos, incluindo o crescimento das exportações e de indicadores de inovação nas empresas. E enquanto lida com a crise económica desde 2008, Portugal parace ser um de muito poucos países que têm conseguido diminuir as desigualdades em vez de as aumentar, pelo menos de acordo com os dados internacionais mais recentemente disponíveis. Apesar disso, este 25 de Abril ocorre num contexto em que existem também muitos motivos para tristeza. A crise económica e a austeridade tiveram muitos custos para Portugal e a sua democracia. Mas neste caso Portugal não está sozinho. A crise económica e a austeridade em muitos países da periferia da Europa foram originadas por dinâmicas e forças sistémicas e poderosas que atravessam as fronteiras nacionais. Os desafios que se apresentam na actualidade são muito concretos, mas por comparação a situação é ainda pior em outros países do Sul da Europa. O 25 de Abril forneceu a Portugal forças pouco habituais relacionadas com os princípios de inclusão social e participação democrática. A maioria dos líderes políticos é em alguma medida influenciada pelas atitudes da população e por uma forma de entender a política que têm as suas origens em Abril. A população é fortemente a favor de esforços governamentais para limitar as desigualdades e a forma predominante de entender a política toma como adquirido a legitimidade e a importância das vozes discordantes. Isto instila níveis de enraizamento na democracia portuguesa e incita os líderes políticos a ouvir as preocupações dos cidadãos – uma tendência saudável em democracia. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Democracias, como a portuguesa, que estão bem enraizadas, que olham para além da simples existência de instituições representativas e que se preocupam com a forma como essas instituições – e outras formas de expressão dos cidadãos – servem o objectivo de inclusão social e bem-estar humano, constituem sempre processos em constante evolução, à procura de problemas que possam ser enfrentados. Não se pode confiar inteiramente numa democracia que esteja totalmente satisfeita consigo própria. Esse excesso de confiança e sentido de plena realização é um problema que Portugal não tem. Os cidadãos portugueses, os partidos portugueses e os especialistas portugueses discordam sobre como melhor resolver os maiores desafios que o país enfrenta – o que é tão normal como apropriado numa democracia. Mas o que muitas vezes não se reconhece é o quanto a maioria dos cidadãos portugueses e os líderes políticos têm em comum. Na década de 1990 o Estado providência cresceu na mesma proporção do produto interno bruto, com governos tanto de centro-esquerda como de centro-direita, exactamente o oposto do que sucedeu em Espanha. Hoje, políticos da maioria dos quadrantes percebem que mesmo as vozes que discordam fazem parte do grande diálogo da democracia. O 25 de Abril criou uma democracia pouco habitual, com uma grande preocupação no que toca à redução das desigualdades e à promoção de inclusão social, e na qual os líderes políticos estão mais disponíveis para ouvir as vozes de descontentamento nas ruas do que os seus homólogos em muitas outras democracias. Este feito afirma-se como sendo de um imenso significado histórico.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave campo educação ajuda social estudo mulheres desemprego
Dancing May e outras notícias que podiam ter sido piores
Por enquanto, o conservadorismo moderado de Theresa May é o melhor com que a Europa pode contar. (...)

Dancing May e outras notícias que podiam ter sido piores
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.26
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Por enquanto, o conservadorismo moderado de Theresa May é o melhor com que a Europa pode contar.
TEXTO: 1. Um amigo, certamente com vontade de me tirar o sono, enviou-me já tarde na noite de quinta-feira as previsões das casas de apostas para o vencedor do Nobel da Paz, porventura o prémio que melhor reflecte o estado do mundo em cada ano, por esta altura. As apostas eram assustadoras. A dupla Trump-Kim Jong-un, por causa da Coreia do Norte; o anterior presidente da Catalunha, Carles Puigdemont, ainda no alegado exílio. Claro que não há equivalência entre os nomes desta lista impensável. Trump não é igual a Kim. Puigdemont não é igual nem a Trump nem a Kim. Mas a lógica de qualquer das escolhas seria profundamente negativa. Trump entretém-se a destruir a ordem internacional liberal construída pelos Estados Unidos e a impor a sua vontade na escolha de um novo juiz do Supremo Tribunal, Brett Kavanaugh, cuja idoneidade moral e política está definitivamente manchada por suspeitas de carácter e por factos políticos, independentemente de se virem a comprovar ou não as acusações de violação. Politicamente não há dúvidas: a forma como argumentou em sua defesa mostra que o seu distanciamento político é inexistente, o que não é nada recomendável para quem vai assumir um cargo vitalício no Supremo Tribunal americano, que interpreta com carácter definitivo a Constituição. É uma mancha desnecessária que o próprio, se tivesse a dimensão moral para o cargo, deveria ter entendido, retirando-se de cena. Mas, a um mês das eleições de meio de mandato, vale tudo para tentar travar uma derrota anunciada dos Republicanos na Câmara dos Representantes e uma ainda possível derrota no Senado. No meio disto tudo, uma boa notícia: as sondagens indicam que uma maioria está do lado da mulher corajosa que aceitou testemunhar publicamente no Congresso sobre o comportamento de Kavanaugh. Sobre Kim não há nada a acrescentar. Puigdemont não é mais do que um dos protagonistas do independentismo catalão, que alguns sectores de esquerda erigiram em nova luta de libertação, mas que não passa de nacionalismo. Mau à esquerda e mau à direita. 2. Felizmente, as duas figuras escolhidas para o Nobel, por mais desconhecidas que sejam para uma grande maioria de pessoas, são totalmente merecedoras. Uma porque denunciou o mal. Outra, porque praticou o bem. Nadia Murad, membro da minoria yazidi, pela sua denúncia pública da violência sexual contra as mulheres como arma de guerra. Feita prisioneira do Daesh no Norte do Iraque, foi escrava sexual durante dois anos, depois de ter assistido ao massacre da sua aldeia e até conseguir escapar para a Alemanha. Denis Mukwege, o médico que queria ser obstetra para ajudar a dar vida, dedicou a sua própria vida a ajudar as mulheres vítimas da mesma violência sexual, transformada em arma de guerra, nesse buraco negro da humanidade que é a República Democrática do Congo. “O médio que repara as mulheres” vitimas do horror das violações em massa. A sua história é de tal modo extraordinária que já foi contemplado com o Prémio Sakharov do Parlamento Europeu (Nadia Murad também) e com o Prémio Gulbenkian. Dois heróis quase anónimos, à espera que o mundo nos ofereça de novo as figuras políticas que se mostrem dignas de receber um prémio com esta carga humana. Merkel chegou a ser falada. De todas as figuras de projecção mundial que me passam de repente pela cabeça é, talvez, a mais próxima de merecer o galardão. O seu acto generoso de 2015, abrindo as portas sem restrições aos que fugiam da guerra, ou os seus esforços, muitas vezes sinceros e decisivos, para manter vivo o grande projecto de paz que é a Europa, seriam duas boas razões num mundo em que imperam cada vez mais figuras que ofendem a consciência humana, como Putin ou Xi ou Duterte ou Bolsonaro. Não são todos iguais, convém repetir mais uma vez. Mas não deixam de nos deixar profundamente inquietos com os destinos do mundo. 3. Em Birmingham, nem tudo foram más notícias. Poder-se-ia argumentar que já nos contentamos com pouco. Mas quando o que poderia correr muito mal não corre, já é sinal para algum alívio. Theresa May aguentou. Não apenas aguentou a investida nacionalista dos furiosos do "Brexit", como ofereceu dois bónus inesperados. O primeiro foi a sua entrada em palco, que não teve nada de ridículo, como alguns querem fazer querer, pelo contrário. A “Dancing May” dançou ao som dos Abba com elegância e sem exageros, calçando como sempre sapatos elegantes e exibindo um colar e as pulseiras a que qualquer mulher tem direito. Tentou fazer humor e teve graça, quando disse que, desta vez, as letras do painel do fundo do palco não cairiam porque eram uma imagem virtual, e que a sua garganta estava bem afinada. No ano passado, ficou sem voz, as letras do painel caíram enquanto falava. Mostrou segurança e boa disposição, perante a rajada de ataques que lhe foram desferidos pelos defensores do "Brexit" puro e duro, que adorariam ver a sua cabeça numa bandeja mas têm medo de assumir responsabilidades na pior altura. Se passou pela cabeça de alguns líderes europeus que a melhor solução para fechar as negociações do "Brexit" seria a derrota de May para abrir caminho a eventuais eleições e a um governo Corbyn, ainda bem que os seus desejos não se realizaram. Corbyn, como é fácil de entender, não arriscaria a sua ambição pelo poder por uma causa na qual, no fundo, não acredita. O segundo bónus de May foram as palavras. É quase unânime na imprensa britânica que Theresa May terá feito um dos seus melhores discursos de sempre. Em suma, partiu reforçada para a fase final das negociações de saída, que entram na sua fase crucial nas próximas semanas. E a experiência mostra que um líder fortalecido pode ceder mais do que um líder enfraquecido. Há ainda problemas muito complicados a resolver mas, pelo menos, há melhores condições para que o Reino Unido e a Europa comecem a pensar estrategicamente sobre o futuro. Philip Stephens, numa análise demolidora dos “nacionalistas ingleses” que querem fazer do seu país uma Singapura às portas da Europa e ainda se orgulham disso, lembra que Boris Johnson só no último minuto se passou para o lado do “Leave” no referendo que David Cameron se lembrou de convocar para eliminar a oposição interna quando era primeiro-ministro. “A reviravolta e a sua reinvenção como o mais duro entre os duros foram essencialmente sobre a sua ambição pessoal. ” Quem conhece a figura não tem grandes dúvidas sobre isso. Mesmo assim, conseguiu animar as hostes. A demagogia sem responsabilidade consegue quase sempre maravilhas. Até um certo momento. Ou se evapora ou se transforma em tragédia. Boris já traiu outros líderes conservadores. Não se coibiu de lembrar as “origens quenianas” do Presidente Obama ou de demonizar os imigrantes turcos durante a campanha pela saída, lembra Stephens. No congresso de Birmingham, perante as advertências sobre as consequências para a economia de um "Brexit" sem acordo, respondeu: “Os negócios que se lixem. ” É um Trump mais despenteado que passou por Eton, bebendo a displicência da aristocracia mas não as boas maneiras. Concluindo, com Stephens, “ao mesmo tempo que os conservadores escorregaram para a direita, Corbyn arrastou o Labour para a esquerda populista. (. . . ) Johnson fez de Bruxelas o inimigo; para Corbyn é o capitalismo”. Não é o cenário ideal para futuras escolhas do eleitorado britânico. Por enquanto, o conservadorismo moderado de May é o melhor com que a Europa pode contar. 4. Mas a doença persiste. No mesmo jornal, Martin Wolf escreveu um longo artigo sobre a frase mais absurda e mais perigosa que se ouviu de um membro do governo de May durante a conferência, ainda por cima na boca do chefe do Foreign Office, Jeremy Hunt. Comparar a União Europeia à União Soviética foi uma piada de muito mau gosto. “Num país a sério, um ministro dos Negócios Estrangeiros que pronunciasse essa declaração, num tal momento e sobre países amigos e tão importantes, seria despedido. ” “Num partido de governo que se levasse a sério seria vaiado. Mas Hunt disse-o porque acredita que este tipo de estupidez maléfica é popular no Partido Conservador. É aterrorizador. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra violência tribunal mulher negro violação doença medo sexual minoria mulheres
Precário e desigual. Assim é o emprego em Portugal no pós-crise
O relatório da Organização Internacional do Trabalho apresentado ontem elogia algumas das políticas económicas e sociais adoptadas por Portugal nos últimos anos. Mas deixa um aviso: a qualidade do emprego ainda fica aquém e os salários continuam baixos. (...)

Precário e desigual. Assim é o emprego em Portugal no pós-crise
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.2
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: O relatório da Organização Internacional do Trabalho apresentado ontem elogia algumas das políticas económicas e sociais adoptadas por Portugal nos últimos anos. Mas deixa um aviso: a qualidade do emprego ainda fica aquém e os salários continuam baixos.
TEXTO: “A redução dos dias de férias e dos feriados, bem como dos pagamentos de prémios salariais por trabalho suplementar significam que os trabalhadores têm de trabalhar mais, recebendo menos. ” Esta é uma das conclusões do relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apresentado nesta terça-feira, em Lisboa. O estudo é uma análise sobre o trabalho em Portugal antes, durante e após a crise. Esta organização até diz que, em Portugal, se está a recuperar com “resultados surpreendentes”. Ainda assim, entre 2009 e 2016, o número médio de horas de trabalho aumentou uma hora. As mulheres foram as mais afectadas — passaram das 36, 9 para as 38 horas semanais. E se no início da década Portugal já era dos países com um número de horas de trabalho semanais mais elevado, em 2016, passou a estar entre os dez primeiros. A proporção de trabalhadores que fazem horas extraordinárias também aumentou nos últimos anos. No período entre 2008 e 2017, diz a OIT, este valor duplicou para toda a população empregada. No caso dos homens, dos 7, 5% para os 12, 8% e, no caso das mulheres, dos 5, 5% para os 11, 2%. No documento, a OIT admite que “as alterações recentes que permitiram recuperar alguns feriados” poderão atenuar o fenómeno. Mas não é só a disparidade entre o número de horas de trabalho e o rendimento que motivam algumas críticas da OIT. Os salários que, “em termos reais, estão estagnados e são baixos em relação à média europeia” e a má qualidade dos empregos são outros dos aspectos que caracterizam o trabalho em Portugal no pós-crise, refere o relatório “Trabalho digno em Portugal 2008-18: Da crise à recuperação” — o documento foi preparado no seguimento de consultas com o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e surge no seguimento de um anterior relatório da OIT, de 2013, intitulado “Enfrentar a crise do emprego em Portugal”. Sobre os salários, Vieira da Silva, ministro do Trabalho, elogiou o trabalho da OIT, mas levantou uma questão: “A estagnação é difícil de compaginar com algumas evoluções nas relações laborais. Por exemplo, o crescimento da massa salarial tem sido acima dos 6%, o que dificilmente é explicado apenas pelo crescimento do emprego. Por outro lado, o salário mínimo tem crescido 5% ao ano. No primeiro ano, o número de pessoas abrangidas aumentou. No último ano, a percentagem de pessoas com salário mínimo permaneceu. Ou seja, o resto dos salários acompanhou a evolução. ”Quanto ao emprego de má qualidade, a OIT diz que temos “maus contratos a par com maus trabalhos”. Porquê? “A grande maioria dos trabalhadores é exposta a esta situação, onde está presa, de forma involuntária”. Isto resulta em problemas de igualdade e eficiência. Por um lado, porque os diferentes contratos dão origem a condições de trabalho distintas. Incluindo “penalizações em termos de rendimentos, desenvolvimento de competências e perspectivas para os trabalhadores temporários”. Por outro, no que diz respeito à eficiência, porque “recebem menos formação no posto de trabalho e a sua elevada rotatividade não favorece a acumulação de competências e conhecimentos a nível interno, reduzindo-se, assim, a produtividade geral”. A OIT reconhece os esforços recentes que têm sido postos em prática para lidar com a segmentação do mercado de trabalho. Mesmo assim, assumindo que não são suficientes sugere limitar a utilização deste tipo de contratos e assegurar o cumprimento das regulamentações em vigor. Além disso, as medidas aprovadas devem ter em conta a “igualdade de tratamento e condições de trabalho, eliminar os incentivos ao uso de contratos temporários com o simples objectivo da poupança de custos ou estimular a inclusão destes trabalhadores no diálogo social”. Durante a apresentação do relatório, em Lisboa, Maria do Rosário Ramalho, da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, comentou a proposta da OIT em restringir e dificultar a contratualização a termo: “Tenho dúvidas. O resultado desde sempre foi fraude e evasão contratual. ”O primeiro-ministro António Costa defendeu que “além de mais emprego começamos a criar melhor emprego”. A precariedade e os baixos salários, sublinhou, são “problemas profundos”. Mas não tem dúvidas de que hoje somos um “país menos desigual”. É que estas medidas nem tiveram o impacto anunciado. Segundo a OIT, “os cortes salariais e a imposição de mercados de trabalho extremamente flexíveis não resultaram em Portugal nem resultariam provavelmente noutros países da Zona Euro”. “Os empregos estáveis e seguros estão especialmente limitados para as classes mais jovens, apesar destes terem cada vez mais qualificações académicas”, aponta a OIT. Os trabalhadores entre os 15 e os 24 anos são alvo “de forma desproporcional” deste tipo de contratos — que rondam os 60%. “Na maioria dos casos — e ao contrário de outros países — os contratos temporários são sobretudo involuntários”, declara a organização internacional. O problema para os jovens adensou-se com a crise. Para a população dos 25 aos 64 anos, a proporção de contratos temporários manteve-se estável. O único aumento registou-se no grupo dos trabalhadores dos 15 aos 24 anos. A professora Maria do Rosário Ramalho salientou que os dados mostram que “se mantém a segmentação tradicional entre trabalhadores permanentes, que são menos e mais velhos, e os temporários que são cada vez mais e mais jovens”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mesmo assim, nem tudo está mal. A OIT elogia algumas das políticas positivas adoptadas nos últimos anos e afirma que Portugal está a recuperar da crise com “resultados surpreendentes”. O salário mínimo — “um instrumento crucial do mercado de trabalho em Portugal, contribuiu para reduzir as desigualdades de rendimento” — que, em 2011, correspondia a 485 euros e, em 2017, a 580 euros, é um exemplo. “Há evidências de que o aumento do salário mínimo não teve efeitos negativos sobre o emprego e pode, portanto, ser uma ferramenta muito útil para sustentar os salários de trabalhadores com ordenados baixos, muitos dos quais tendem a ser mulheres. ” Mais do que isso: “Poderá haver espaço para ponderação adicional do aumento dos salários, que contribuiriam para o aumento da procura interna e desincentivo da emigração”, afirma a OIT. Outro desenvolvimento positivo tem a ver com o diálogo social. “É notável que se tenha recorrido tanto [a esta ferramenta] antes, durante e após a crise”, pode ler-se no relatório da OIT. A organização reconhece que “embora não raras vezes tenha sido difícil chegar a um consenso alargado, os parceiros sociais foram consultados na maioria das decisões”. A OIT sugere a extensão das convenções colectivas e a utilização das negociações colectivas para associar os salários ao crescimento da produtividade.
REFERÊNCIAS:
Entidades OIT
Janeiro de Cima, a aldeia que quer voltar a ouvir os teares cantarem
Outrora terra de linho, Janeiro de Cima quer recuperar a tradição, do campo ao tear. Não para ressuscitar a dureza daqueles tempos, antes para adaptar a economia e os saberes locais ao turismo de experiências e às novas exigências do design. Porque sem património e comunidade, nada persiste. (...)

Janeiro de Cima, a aldeia que quer voltar a ouvir os teares cantarem
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Outrora terra de linho, Janeiro de Cima quer recuperar a tradição, do campo ao tear. Não para ressuscitar a dureza daqueles tempos, antes para adaptar a economia e os saberes locais ao turismo de experiências e às novas exigências do design. Porque sem património e comunidade, nada persiste.
TEXTO: “Tudo se quer na altura. ” Lurdes Rodrigues acaba de chegar e já semeia na conversa uma daquelas lições que só o tempo ensina, tão simples que se aplica a tanto por aqui. Fala da juventude e da estrada da velhice, ainda que os 68 anos se mantenham desembaraçados e de gargalhada fácil. Mas há-de usar a mesma frase para falar da tradição do linho na aldeia. E bem podia evocá-la para falar dos feijões brancos que secam numa esteira junto aos nossos pés. Ou da horta que, em fim de estação, já não está tão bonita nem com a pujança de produtos que queria ter para oferecer. Há mais de 30 anos que as plantações de linho desapareceram de Janeiro de Cima, mas Lurdes é uma das poucas habitantes da aldeia que ainda se lembra de semeá-lo num recanto da horta. “Não havia estradas, então tinha-se de fazer os próprios lençóis, as mantas, as camisas de dormir das senhoras e as camisas dos maridos”, recorda. O processo era muito longo e moroso. Havia que plantar o linho em Maio – o polegar tinha de levar “sete sementes” a cada furo na terra. Depois colhê-lo em Julho. E daí era ripado, dividido em molhos e remolhado no Zêzere. Depois secado, massado, tascado, espadelado e sedado. Da escova de dentes de aço saíam os três tipos de fibras que Lurdes nos mostra agora junto ao tear, onde ainda se entretém a enlaçar as sobras do tempo. O linho, a estopa e os tomentos, do fio nobre às palhas grossas. “A estriga do linho é o que vai para a roca”, aponta. Só então era fiado, sarilhado em meadas, colocado na barrela para branquear, lavado, secado, dobado em novelos, urdido e pronto a tecer. “Ao final da tarde, andava-se pelas ruas e só se ouviam os teares a trabalhar. Gostava muito”, recorda Lurdes, de sorriso aberto. Actualmente, muitas casas da aldeia guardam os velhos teares mas são poucos os que ainda cantam. Mais por vício dos dedos do que por necessidade ou procura. Tudo feito com fio comprado ou tiras de velhos tecidos, porque os campos há muito esqueceram o toque da semente. “Não dava, não dava”, reage Lurdes quando perguntamos porque deixou a aldeia de dar corpo à ladainha de verbos. “Antes todos tinham um bocadinho e ajudavam nas tarefas todas. ” Mas os velhos desapareceram e os novos emigraram. Tornou-se mais fácil – e barato – comprar a matéria-prima do que trabalhar todo o processo. Deixou de ser uma necessidade para tornar-se um passatempo. “Ainda havia uma senhora que tinha muito linho plantado, depois vendeu a casa e foi tudo para o lixo. ” Agora, o projecto-piloto “Laboratório da Terra – O Regresso do Linho” quer devolver a planta aos campos de Janeiro de Cima. E agarrar as gentes à terra. Quando David Luxembourg soube do incêndio que assolou a região no ano passado ficou “irritado”, “furioso”. Para o holandês, a viver nas Caldas da Rainha desde 2016, as pessoas pareciam “preferir conversar com a televisão e com elas próprias” do que ir até à região e falar com as populações afectadas pela tragédia. “Confiamos cada vez mais em comunidades falsas e isso é extremamente perturbador”, lamenta o designer. “As pessoas reais estão aqui, estão à nossa volta e é importante cuidar destas comunidades porque são elas que nos vão ajudar, que nos vão salvar. E não alguém que está no Facebook, a viajar na Tailândia ou a viver em Londres. ”David queria fazer alguma coisa para que a calamidade não se voltasse a repetir. Iniciou uma residência experimental para perceber se seria possível ter uma frota de drones a circular constantemente nos céus e que conseguisse “largar bombas anti-incêndio assim que o fogo começasse”. A tecnologia existe, funciona em ambientes interiores mas a densidade do arvoredo impede que o líquido projectado chegue à base das labaredas e as extinga. A ideia não ia resultar. Foi mais fundo no dilema: “Aqui, o maior problema é que as pessoas abandonaram a terra e não a levam em conta nos negócios”. Trabalhar os campos é sinónimo de necessidade, de agricultura de subsistência – não uma fonte de riqueza. O projecto “Laboratório da Terra – O Regresso do Linho” quer contrariar essa visão e ensaiar em Janeiro de Cima uma solução para parte da equação, capaz de ser replicada noutras aldeias onde o linho foi também tradição. A iniciativa é ainda embrionária. Há muitas ideias sobre como ramificar o projecto em várias direcções, ancorando o ciclo completo de produção no turismo e na indústria têxtil. Mas as expectativas vão sendo aplacadas. Dizia Lurdes que tudo se quer na altura. E aqui o tempo – da terra, da comunidade – é inescapável. Os primeiros passos foram dados em Agosto. “Fizemos uma recolha de sementes de linho junto à igreja, para ver o que ainda havia cá”, conta David, responsável pela orientação do projecto. Entre doações feitas pela população de Janeiro de Cima e de aldeias vizinhas, angariaram “três quilos de sementes”. Agora há que separar as diferentes espécies – “para mim é muito difícil relacionar os nomes locais e as denominações científicas”, confessa – e encontrar as mais adaptadas ao território e às necessidades (umas são melhores para produzir tecidos, outras para extrair linhaça). “Nos primeiros dois anos, o objectivo é encontrar e reproduzir semente para ter o que plantar. Depois, com o tempo, havemos de ocupar terrenos com este linho”, afirma Rui Simões, coordenador da ADXTUR, entidade que lidera a iniciativa. Uma faixa de campo, entre o miolo da aldeia e a praia fluvial, já foi obtida para o efeito. As primeiras sementes deverão chegar à terra no próximo ano. Mas os planos deverão passar por mais aquisições. E por pedir aos habitantes da aldeia que “cultivem nas suas próprias hortas um trecho de linho, de índigo ou de outra planta tintureira”, acrescenta David. Rosa Pereira, de 47 anos, olha para o saco que acabou de criar, primeiro no tear, depois em largos nós de macramé, e não esconde o orgulho. “Está muito giro”, exclama de olhos doces, colados na obra que acaba de sair-lhe dos dedos. “Se calhar, nunca pensava fazer assim mas fico satisfeita por poder dizer: 'A ideia não foi minha, mas fiz isto'. ” Tem sido uma manhã intensa de trabalho na Casa das Tecedeiras, o primeiro edifício recuperado em Janeiro de Cima ao abrigo da rede das Aldeias do Xisto, o projecto de desenvolvimento turístico que reúne actualmente 27 aldeias do interior da região Centro, liderado pela ADXTUR. Há treze anos que a Casa das Tecedeiras nasceu para guardar a herança do linho, dividindo-se entre loja, área museológica e atelier. Agora, promete manter-se peça central do projecto alargado. Foi aqui que Rosa e Lurdes conheceram David e Daniela. O casal de designers veio a Janeiro de Cima pela primeira vez em 2009 para participar num projecto anterior, focado na capacitação das tecedeiras locais e no desenvolvimento de peças mais contemporâneas, pensadas em termos de formas, tecidos, padrões. “Só voltámos agora no início de 2017, mas foi como se tivéssemos vindo cá ontem”, conta Daniela Pais, responsável pela área de design de produto da nova iniciativa. “É uma sensação espectacular porque a população é muito acolhedora, não se esquece das pessoas. ”Na altura, o grupo incluía “umas dez tecedeiras”. Mas os apoios terminaram e o projecto modificou-se. Lurdes há-de confessar ter “muita pena de ter saído”. O convívio sabia-lhe bem mas o que lhe dava mais gozo era chegar ao final da semana e “ver tudo o que tinham conseguido fazer”. “De momento, sou só eu”, lamenta Rosa. A sobrinha, Sónia, está a explorar o espaço mas raramente tem tempo para ficar. É Rosa quem vem abrir a porta todas as tardes. “De manhã, trato da vizinha, tenho a hortinha também, faço por lá as minhas coisinhas e depois à tarde venho aqui estar. ”Esta manhã foge à rotina. O grupo está a testar um possível workshop para disponibilizarem aos turistas que visitem Janeiro de Cima. “Queremos criar produtos com elas [tecedeiras] que sejam não só uma coisa que tenham à venda mas também uma experiência que possam oferecer”, conta Daniela Pais. A designer pensou as linhas da peça, Rosa teceu o linho e Rafaela Fortunato veio de Lisboa para liderar o processo de tingimento natural que agora começa no pátio. Rosa teve workshops sobre as técnicas nas semanas anteriores, por isso foge à possibilidade de sair dali com as mãos novamente manchadas de azul. Avançamos nós e a pequena Madalena, que entretanto entrou com a família para visitar o espaço. Num alguidar, flutua um manto de folhas de índigo em água quente. Mantêm a cor verde mas se esfregarmos as plantas entre os dedos já se notam os azuis. É delas que se extrai o icónico pigmento azulão com que vamos tingir o saco e algumas camisolas. Os tecidos mergulham num primeiro balde com uma solução alcalina. Dançam depois no pigmento. E são postos a secar. “A ideia é que as pessoas façam um bocadinho de tudo e que, ao final da tarde, possam vir buscar o saco já pronto”, indica Daniela. O cultivo de plantas de tingimento, embora sem tradição na região, é uma nova aposta do projecto. O objectivo é criar um sector económico paralelo mas interrelacionado com o linho, igualmente assente na agricultura e no artesanato local, mas que permite ir ao encontro das necessidades do mercado e diversificar a gama de produtos que pode ser oferecida pela aldeia. “O índigo é importado, mas tem uma rentabilidade assegurada, depois a ideia é juntar-lhe três ou quatro plantas de tingimento identificadas como nativas e mostrar [à população local] que delas se pode extrair rendimento económico, seja ao acrescentar valor ao que já era vendido, seja pela venda directa do pigmento”, explica Rui Simões. O novo sector, com um espaço próprio a erguer-se futuramente na aldeia, irá chamar-se Jardim de Tingir. A ideia, enumera o responsável, passa ainda por trazer os princípios da agricultura biológica e da permacultura “para dentro da aldeia” e “capacitar as tecedeiras de forma a organizarem um dossier daquilo que estão aptas a fazer com diferentes designers e formá-las para a linguagem técnica utilizada pela indústria”. E organizar workshops. Muitos workshops. Dedicados a cada fase dos diferentes processos: o cultivo do linho ou das plantas de tingimento; a apanha de um e de outro; todos os momentos de transformação do linho até ao fio, do processo de extracção do pigmento, das técnicas de tecelagem ou de tingimento. Para turistas, para a população local ou para artistas e designers. É nesta vertente de experiência, de hobby, que se deverá manter o cultivo de linho em Janeiro de Cima. O objectivo passa por devolvê-lo à terra para que os saberes ancestrais de produção e transformação não se percam e possam ser transmitidos às gerações futuras. Mas o processo é “demasiado grande” e moroso para ambicionar a comercialização do fio. “Vamos começar a fazer um ciclo completo todos os anos, até termos novelos, mas não será suficiente para criarmos uma única peça”, assume David Luxembourg. O objectivo, aponta Rui Simões, é “ampliar a relação com a paisagem cultural que ainda persiste e, a partir dela, criar novas possibilidades”. A longo prazo, talvez o laboratório possa gerar riqueza e novas ideias de negócio para a comunidade local, baseadas no património regional e num equilíbrio sustentável com a natureza envolvente. Que fixe ou atraia população a Janeiro de Cima para que a aldeia se perpetue. “O turismo é apenas a alavanca que acelera, que traz dinheiro e consumo, e nos permite ganhar tempo para mudar o resto. ”É final de tarde, o sol não tarda a esconder-se atrás da serra e Paulo já nos espera junto ao rio para “deitar a barca”. Outrora, esta era a única forma de atravessar de uma margem para outra. “Até levavam juntas de bois. ” Agora, são utilizadas para passeios bucólicos ao longo do Zêzere, com partida da praia fluvial da Lavandeira, a cinco minutos a pé do centro da aldeia. Junto ao açude, uma grande roda de madeira ainda gira para evocar as antigas tradições de rega da região. Mas pelas margens, já se vêem sistemas motorizados que aproveitam a água do rio para alimentar os terrenos agrícolas. Paulo vai dançando a vara contra os seixos do rio e a barca vai deslizando, silenciosa. Viemos à procura de cabeleiras de linho selvagem, que o vento possa ter outrora roubado às hortas e arrastado até às encostas bravias. David vai colando os binóculos à margem, mas a esperança é pequena e a parca luminosidade pouco indicada para o desafio. “Nas Caldas da Rainha, fui até à mata e ainda encontrei. Aqui ainda não tive essa sorte”, confessa. A conversa vagueia, por isso, pelas videiras de uva americana que se insinuam no meio dos salgueiros. “É uma planta que gosta de água”, explica Rui Simões. Pela águia que ainda não surgiu a sobrevoar o vale ou o pouco peixe que este ano os miúdos têm apanhado. Ou pela temperatura da água – a mais gelada onde pusemos o pé por estas bandas (embora haja no grupo corajosos a ir ao banho). À nossa volta, milhares de alfaiates caminham sobre o espelho de água. “Até parece que está a chover. ”É pequena a aldeia de Janeiro de Cima. Nela não habitam mais de 300 pessoas. Mas as casas recuperadas ao estilo tradicional – com paredes de xisto e pedra rolada do rio – dão-lhe um ar mimoso. E o labirinto de becos e quelhas traz-lhe uma camada de charme, que apetece explorar. “É um núcleo muito interessante e que tem tudo”, defende Daniela Pais. Há um restaurante, uma mercearia, um café, um bar. Depois o “próprio enquadramento da aldeia é muito apetecível”, “com tanto verde à volta”, acrescenta. Sentamo-nos na esplanada do bar da praia para uma ronda de petiscos a fechar a tarde, com pratos de caracóis, de enchidos e cerveja. Mas à mesa, há sempre mais alguém que chega para acrescentar um ponto à conversa. Daniela, David e Rafaela vão adiando a viagem até Lisboa. Já nos despedimos de Paulo e da família. E Eduardo não há-de tardar, com o seu sorriso rosado e contagiante, sempre pronto a contar mais uma história rocambolesca, sem filtros. “A experiência da vivência da aldeia também é isto”, dirá alguém. E a aldeia, em pleno Agosto, está cheia de vida e garotada pelas ruas. A julgar pela noite anterior, a maioria deverá estar reunida no largo que se forma entre o café Cardoso e a Igreja Velha. Foi lá que encontrámos Tiago, Ivan e Filipe em disputa compenetrada pela vitória no jogo da malha. Cada pedra desliza, rua acima e rua abaixo, para tentar derrubar os dois pinos o maior número de vezes. Dez pontos quem acerta. Cinco para quem ficar mais próximo. “Vimos uns senhores a jogar e também quisemos experimentar”, conta Tiago, 18 anos, antes de novo lance. Os avós de Ivan e de Filipe são de cá, mas Tiago vem pela primeira vez a Janeiro de Cima, de férias com os amigos. E as noites quentes têm sido passadas na rua, a jogar ou a ver jogar. “Aprendemos há cerca de cinco ou seis dias. É mais fácil do que a outra malha, em que se atira pelo ar. ”Há quem prefira os ecrãs dos telemóveis, sentados nas escadas da igreja. Outros reúnem-se junto às motas antigas que, contam-nos, agora é moda recuperar por aqui. Entre emigrantes, descendentes e turistas de férias, a noite está animada e o restaurante cheio. No café Cardoso, há quem faça uma partida de matraquilhos, mas é o jogo do rolho que está um caso sério. Uma dúzia de homens rijos disputam a perícia minuciosa de tombar a rolha com um golpe de braço. Três pontos para a equipa que deita a rolha à mesa, três para quem ficar mais próximo. Ao fim de duas vitórias (21 pontos somados) alguém terá de pagar a rodada. E a avaliar pelas minis vazias, já houve muita gente a ganhar e a perder. Foi lá que conhecemos Eduardo, 63 anos, um dos mais experientes no jogo. Tinha “uns 15 ou 16 anos” quando começou a ganhar o jeito com as “moedas” prateadas, “num café que havia aqui debaixo”. “Era todas as noites”, ri-se. Seguiram-se muitos anos ao volante de camiões, até passar a funcionário da junta de freguesia, onde ainda trabalha. Função que vai conciliando com a horta e a produção caseira de aguardente de medronho. “Não vão sair de cá sem levar uma garrafa”, oferece à primeira despedida. Dois dias depois, estamos de partida. E ao balcão do café Cardoso espera-nos a garrafa que Eduardo terá lá ido deixar de manhã cedo. É que aqui, por mais que digamos que não é preciso, que não se incomode, o prometido é cumprido. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Restaurante Fiado Rua Espírito Santo, nº 5 Tel. : 272 745 024 Site Horário: aberto para almoços de terça a domingo entre as 10h e as 15h e jantares de terça a sábado das 18h30 às 22Casa de Janeiro Rua do Espírito Santo, nº 1 Tel. : 969 339 830 E-mail Site Preços: quartos duplos a 50€ (WC partilhado) ou a 60€ (WC privativo) por noite. A Fugas viajou a convite da ADXtur
REFERÊNCIAS:
Acusadora de Strauss-Kahn dá entrevistas pela primeira vez
A empregada de hotel que acusou o antigo director do FMI Dominique Strauss-Kahn de tentativa de violação disse que quer ver o responsável preso, numa entrevista publicada no site da revista Newsweek. “Quero que ele saiba que há sítios onde não pode usar o seu dinheiro, que não pode usar o seu poder para fazer uma coisa destas.” (...)

Acusadora de Strauss-Kahn dá entrevistas pela primeira vez
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.25
DATA: 2011-07-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: A empregada de hotel que acusou o antigo director do FMI Dominique Strauss-Kahn de tentativa de violação disse que quer ver o responsável preso, numa entrevista publicada no site da revista Newsweek. “Quero que ele saiba que há sítios onde não pode usar o seu dinheiro, que não pode usar o seu poder para fazer uma coisa destas.”
TEXTO: A versão de Nafissatou Diallo, uma imigrante guineense de 32 anos, foi declarada inconsistente e um dos seus advogados explicou que com estas entrevistas, primeiro à Newsweek e depois à estação de televisão ABC, ela quer mostrar que não é uma “prostituta”. Diallo reconheceu “erros” mas disse esperar que isso não impedisse os procuradores de avançarem com o processo judicial. “Nunca quis estar em público, mas não tenho escolha”, afirmou. “Tenho de o fazer por mim. ”Diallo disse que quando entrou no quarto de hotel de Strauss-Kahn, no Sofitel, ele apareceu nu à sua frente e a atacou apesar dos seus protestos. Strauss-Kahn, 62 anos, negou sempre as acusações, dizendo que o acto sexual tinha sido consensual. Os advogados já consideraram que a entrevista faz de Diallo “a primeira acusadora da História a levar a cabo uma campanha mediática para convencer um procurador a acusar alguém de quem ela quer dinheiro”. Credibilidade questionadaA credibilidade de Diallo foi posta em causa depois des procuradores de Manhattan terem revelado várias mentiras, incluindo uma história sobre ter sido violada por um gangue na Guiné para obter asilo nos Estados Unidos. Também a versão que deu às autoridades sobre o alegado ataque de Strauss-Kahn sofreu variações. O antigo responsável do FMI, que estava sob prisão domiciliária, foi entretanto libertado. Um porta-voz do procurador Cyrus Vance disse que não comentaria as entrevistas. Diallo, que é analfabeta, saiu da Guiné em 2003, com a filha, que agora tem 15 anos. Desde a acusação contra Strauss-Kahn, as duas têm vivido sob protecção policial num hotel. “Ela está assim há dois meses. Não tem podido dar um passeio no parque”, disse o seu advogado.
REFERÊNCIAS:
Entidades FMI
Portugueses continuam a não usar Internet com frequência
Apesar dos progressos feitos nos últimos anos em infraestruturas tecnológicas, os portugueses não usam a Internet com frequência, revela o Projecto Inclusão e Participação Digital, que aponta que são os mais jovens quem mais usa as novas tecnologias. (...)

Portugueses continuam a não usar Internet com frequência
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.1
DATA: 2011-10-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Apesar dos progressos feitos nos últimos anos em infraestruturas tecnológicas, os portugueses não usam a Internet com frequência, revela o Projecto Inclusão e Participação Digital, que aponta que são os mais jovens quem mais usa as novas tecnologias.
TEXTO: A investigação revela que Portugal “progrediu muito nos últimos anos no que se refere a infraestruturas tecnológicas e no acesso a meios digitais”, mas essa facilidade no acesso “não se traduziu num uso frequente da Internet por parte das crianças, jovens e suas famílias”. “Os resultados obtidos junto de famílias portuguesas evidenciaram não só clivagens por idades, mas também diferenças entre o acesso a meios digitais e o seu uso frequente”, sendo que “os pais portugueses estão entre os que menos usam a Internet e, entre os que a usam, apenas um terço o faz com frequência”, revela o estudo, citado pela Lusa. O Projecto Inclusão e Participação Digital, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, vai ser apresentado a 4 de Novembro, mas já foram tornadas públicas algumas conclusões preliminares. No âmbito deste estudo foram analisadas as práticas de utilização da Internet por mulheres e adultos com mais de 55 anos, crianças e jovens de meios desfavorecidos e imigrantes. Foram entrevistadas 65 famílias, levados a cabo inquéritos e feitas observações em meia centena de Espaços Internet em vários pontos do país durante dois anos. Este Projecto Inclusão e Participação Digital faz ainda a comparação do uso destes meios digitais em Portugal e nos Estados Unidos da América, tendo este estudo sido feito em parceria entre a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (Lisboa), a Faculdade de Letras da Universidade do Porto e a Universidade do Texas (Austin). Fosso entre homens e mulheres está a diminuirO Projecto Inclusão e Participação Digital revela igualmente que o fosso digital entre homens e mulheres está a diminuir, mas conclui que “as mulheres estão em desvantagem no que diz respeito a uma penetração dessas tecnologias nas rotinas quotidianas”. “Apesar de 77 por cento das mulheres entrevistadas nos Espaços Internet e em Centros de Emprego e Formação Profissional das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto declararem possuir computador portátil (contra 70 por cento dos homens), o fosso digital continua a existir no que respeita à qualidade e ao tempo da utilização dos meios”, revela a investigação. No que diz respeito aos Espaços Internet, os dados mostram que estes espaços são sobretudo procurados por quem já sabe usar a Internet, nomeadamente jovens e adolescentes que aí se deslocam pela gratuitidade do acesso à rede. O projecto de investigação dedicou também tempo aos “impactos por conhecer” do computador Magalhães e os investigadores criticam “a falta de atenção pública aos impactos desse pequeno computador, não só nas escolas, mas também nas famílias, nomeadamente nas de menos recursos”. A coordenadora desta investigação, Cristina Ponte - da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas -, diz mesmo que “podem ter sido subestimadas as dificuldades educacionais e de inclusão digital dos pais das crianças e a falta de tempo para as acompanhar enquanto estão online”. A apresentação de todos os resultados do Projecto Inclusão e Participação Digital está marcada para a conferência Diversidade Digital, agendada para 4 de Novembro no auditório da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens estudo mulheres