Japão e Níger: os problemas dos extremos
Envelhecimento pressiona sistemas de saúde e protecção social das sociedades desenvolvidas. Nos países pobres com maior crescimento populacional, a questão alimentar é o primeiro problema. (...)

Japão e Níger: os problemas dos extremos
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-10-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Envelhecimento pressiona sistemas de saúde e protecção social das sociedades desenvolvidas. Nos países pobres com maior crescimento populacional, a questão alimentar é o primeiro problema.
TEXTO: Muitos vestiram quimonos e ouviram discursos de parabéns em cerimónias organizadas pelas autoridades locais. Muitos acabaram a noite daquela segunda-feira de Janeiro a beber álcool e a vagabundear, sem as restrições que lhes eram impostas quando menores. Era o Seijin shiki, dia de festa no Japão, feriado tradicional que este ano assinalou a chegada à maioridade de 1, 24 milhões de jovens que completaram 20 anos nos 12 meses anteriores. Mas, desta vez, os responsáveis governamentais japoneses tinham, como então assinalou o diário britânico The Guardian, poucos motivos para celebrar. O número de "novos adultos" caiu para metade dos 2, 46 milhões de 1970. O grupo em festa não chegava a um por cento do total da população - sinais por de mais evidentes de uma tendência que se tem vindo a acentuar: o envelhecimento das sociedades mais desenvolvidas. O Japão, onde a média de idade é de 44, 7 anos, a mais alta do mundo, é o caso mais notório - embora esteja longe de ser único - dessa tendência. É por isso um verdadeiro laboratório dos desafios que o envelhecimento coloca à economia e aos sistemas de protecção social. Já no árido Níger, na transição do deserto para a África subsariana, onde a idade média da população é de 15, 5 anos, a mais baixa do mundo, os problemas são de outro tipo. Desde logo conseguir alimentar uma população de 16, 1 milhões de pessoas, que não pára de crescer. As previsões das Nações Unidas apontam para um aumento de 3, 5% no período 2010-2015. A realidade de um país com uma economia de subsistência, frequentemente abalada pelas secas, é bem ilustrada pelo caso da família de Souley Adam, contado há dias pela rádio alemã Deutsche Welle. Vive com os oito filhos e duas mulheres na pequena aldeia da região de Maradi. São 11 pessoas para alimentar e a décima-segunda vem a caminho. "Se encontrar trabalho, pode alimentar a sua família durante alguns dias, senão é difícil", disse Souley. Sinais de alarmeA melhoria dos cuidados de saúde e a diminuição da fertilidade - 42 por cento da população mundial vive em países em que os nascimentos não chegam para a renovação geracional - ajudam a compreender o envelhecimento das sociedades desenvolvidas. No Japão, como em boa parte dos países da Europa, ou na China, o envelhecimento cria problemas que se tornam a cada dia mais evidentes. Os nipónicos que têm acima de 65 anos são mais de um quarto da população, o que exige crescentes cuidados e coloca desafios à sustentabilidade do crescimento económico e dos sistemas de pensões. A actual situação do Japão, onde a esperança média de vida é de 80 anos para os homens e 87 para as mulheres, é em parte explicada pelas políticas de controlo de natalidade adoptadas no fim da década de 1940. A fertilidade atingiu um mínimo de 1, 26 filhos por mulher em 2005 e registou uma ligeira subida para 1, 39 em 2010, segundo o Ministério da Saúde e Segurança Social. Mas está longe, muito longe, dos 2, 1 necessários à renovação geracional. Os jovens tendem a constituir família e a ter filhos cada vez mais tarde, o que se tornou um problema. Num país de 126, 5 milhões de pessoas, com uma imigração quase residual, a previsão de crescimento populacional no período 2010-2015 é de 0, 1 por cento negativo. Outro dado que ilustra o tipo de desafios que se colocam às sociedades mais desenvolvidas: por cada cem japoneses entre os 20 e os 64 anos, há 38 com mais de 65. E o número poderá subir para 70 em 2030.
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Se o bebé sete mil milhões nascesse em Portugal, talvez emigrasse
Se o bebé sete mil milhões nascesse em Portugal, em que país viveria quando atingisse a maioridade? “O mais provável era que tivesse emigrado ou que estivesses prestes a fazê-lo”, responde João Peixoto, demógrafo e professor no ISEG. “Não viveria cá ou pelo menos estaria a preparar a saída”, concorda Jorge Malheiros, do Instituto de Geografia da Universidade de Lisboa. (...)

Se o bebé sete mil milhões nascesse em Portugal, talvez emigrasse
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-10-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Se o bebé sete mil milhões nascesse em Portugal, em que país viveria quando atingisse a maioridade? “O mais provável era que tivesse emigrado ou que estivesses prestes a fazê-lo”, responde João Peixoto, demógrafo e professor no ISEG. “Não viveria cá ou pelo menos estaria a preparar a saída”, concorda Jorge Malheiros, do Instituto de Geografia da Universidade de Lisboa.
TEXTO: E que país teria deixado para trás? “Periférico, envelhecido, com o interior rarefeito e concentrado nalgumas sedes de concelho, com menos imigrantes, menos inovador e a lutar por manter-se acima da linha dos 10 milhões em termos de população”, arrisca Jorge Malheiros. “Com um quadro de envelhecimento com consequências mais gravosas do que o simples envelhecimento paisagístico da população, nomeadamente com mais dificuldades de acesso às pensões de reforma, aos serviços de saúde, às prestações sociais”, sublinha João Peixoto. “Não é, aliás, de excluir”, reforça, que “por causa das dificuldades no acesso aos serviços de saúde a mortalidade suba mais do que se espera”. Se fosse português, o mais provável era que o bebé sete mil milhões não tivesse irmãos. Por estes dias, Portugal apresenta uma taxa de fecundidade de 1, 32 filhos por mulher em idade fértil (para garantir a substituição das gerações seriam precisos 2, 1 filhos por mulher). Isto faz com que estejamos desde 2007 com saldos naturais negativos, o que equivale a dizer que há mais mortes do que nascimentos. E, com as restrições que a crise coloca à natalidade, não é de prever que as mulheres portuguesas se ponham a ter mais filhos. Ainda assim, João Peixoto não acredita que a taxa de fecundidade desça muito abaixo dos 1, 1 filhos por mulher, mesmo que esta crise dure 20 anos. “Em países com crise muito mais pronunciada do que a portuguesa, como são os países de Leste que pertenceram à União Soviética e ainda não conseguiram uma transição equilibrada para uma economia de mercado, os valores nunca desceram abaixo dos 1, 1 filhos por mulher. Portanto, descermos muito abaixo dos 1, 3 não é muito verosímil, pela simples razão de que as pessoas vão continuar a debater-se com a vontade de ter descendência”. Mais envelhecido o país, portanto, mas nem por isso a ameaçar extinção. Quanto aos imigrantes – que são quem tem refrescado as populações, não só portuguesa mas também europeia –, “até pode ser que daqui a 20 anos estejam de novo a entrar em Portugal”, admite João Peixoto, assim consiga o país “criar emprego e prosperidade e económica, variáveis nas quais quem manda são os políticos”. Se continuarmos a privilegiar o olhar para o copo meio cheio, Malheiros admite que, finda esta década “que será marcadamente depressiva”, a próxima possa ser já de viragem. “Poderemos estar a experienciar já aí uma transição do ponto de vista político para fora do sistema partidário que temos agora, para uma nova forma de governação com maior participação dos cidadãos e maior consciência para a necessidade de intervir por via dos Orçamentos participativos e da chamada às decisões sobre os tipos de investimento público”, sugere, esperançado na possibilidade de regresso a “determinados elementos da social-democracia dos anos 1960, mas em contexto global”. Mas, afinal, que futuro para o país nos mostram as estimativas oficiais?O Instituto Nacional de Estatística (INE) estima que em 2060 residam no território nacional três idosos por cada jovem. No cenário central – nem optimista nem pessimista –, a população estará fixada nos 10, 4 milhões em 2060. O peso dos idosos com 65 ou mais anos de idade duplicará, passando estes a representar 32, 3 por cento da população total. No cenário sem migrações, a população estaria reduzida a 8, 5 milhões no mesmo período de 50 anos. João Peixoto olha hoje para estas projecções e acha que estas serão brevemente revistas para “um cenário mais agravado”. Desde logo porque “2012 terá provavelmente o número mais baixo de sempre em termos de fecundidade”. E não é plausível que a seguir venha “um baby boom”.
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Bispo do Funchal defende manutenção do feriado de 15 de Agosto na Madeira
O bispo do Funchal, António Carrilho, defendeu nesta quinta-feira a manutenção do feriado de 15 de Agosto na Madeira. O mesmo responsável da Igreja Católica sublinhou a importância da data na região e manifestou a esperança de que o estatuto autonómico do arquipélago permita abrir esta excepção. (...)

Bispo do Funchal defende manutenção do feriado de 15 de Agosto na Madeira
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-12-08 | Jornal Público
SUMÁRIO: O bispo do Funchal, António Carrilho, defendeu nesta quinta-feira a manutenção do feriado de 15 de Agosto na Madeira. O mesmo responsável da Igreja Católica sublinhou a importância da data na região e manifestou a esperança de que o estatuto autonómico do arquipélago permita abrir esta excepção.
TEXTO: O Governo vai acabar com quatro feriados, dois civis e dois católicos, com o objectivo de aumentar a competitividade e a produtividade das empresas. “Perante a questão que agora se coloca, a minha esperança está em que, dado o estatuto de autonomia da região, se possa salvaguardar a proposta da Conferência Episcopal quanto ao dia 8 de Dezembro, como grande festa da padroeira e rainha de Portugal, admitindo, porém, que se conserve o dia 15 de Agosto como dia santo e feriado na Madeira e no Porto Santo”, afirmou António Carrilho, na homilia da missa da solenidade da Imaculada Conceição, que celebrou na Sé do Funchal. O bispo considerou que é “este, aliás, o desejo de muitos católicos e das autoridades regionais e locais que, de algum modo, já se têm manifestado”. Reconhecendo que “será difícil, sem dúvida, optar" entre o dia 8 de Dezembro – dedicado à celebração da Imaculada Conceição – e o dia 15 de Agosto – em que se celebra a Assunção de Nossa Senhora, António Carrilho destacou a importância deste último feriado para o arquipélago. “Entre nós, concretamente, ainda que as opiniões possam divergir e apesar do reconhecido significado da festa da Imaculada Conceição e das muitas tradições que lhe estão associadas, o dia 15 de Agosto afigura-se igualmente ou até mais importante, com profundas marcas e expressões em toda a diocese, tanto para os residentes, como para os milhares de emigrantes que então nos visitam”, disse o prelado. António Carrilho destacou que é nesse dia que “são celebradas, em grande número de paróquias e com participação de fiéis de toda a ilha, muitas festas e arraiais em honra de Nossa Senhora, nas suas diversas invocações, nomeadamente a festa da Senhora do Monte, padroeira da cidade e da Diocese do Funchal”. Na última Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, em Novembro, os bispos consideraram intocável o feriado de 8 de dezembro e disseram esperar que as negociações sobre a mudança da data de celebração dos feriados religiosos se centrem sobre o do Corpo de Deus, entre Maio e Junho, 60 dias após a Páscoa, e o da Assunção de Nossa Senhora (15 de Agosto). No mesmo mês, o Grupo Parlamentar do PSD na Assembleia Legislativa da Madeira apresentou um projecto de resolução no qual apela à Igreja Católica e aos órgãos da República para a manutenção do feriado de 15 de Agosto na região. Nesse documento, os sociais-democratas sublinham o “impacto” que o feriado religioso de 15 de Agosto tem “na cultura e tradição do povo madeirense e suas comunidades na diáspora”, além da presença, na região, nessa data, “de muitos residentes fora da Madeira”. Nesse sentido, o PSD-M pede que se mantenha este feriado religioso na Madeira “por troca com outro”, sugerindo o 1 de Novembro, Dia de Todos os Santos, ou o 8 de Dezembro, propondo ainda a “troca com um dos feriados civis”, 1 de Dezembro, (Restauração da independência) ou o 5 de outubro (implantação da República).
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Partidos PSD
António Costa Silva: "É um erro trágico se o país agora destruir o cluster das energias renováveis"
O gestor da petrolífera da Fundação Gulbenkian está pessimista em relação ao “barril de pólvora do Médio Oriente” e adverte que os mercados andam perturbados entre a instabilidade geopolítica e a recessão económica. No mercado de futuros, aposta-se na subida até 180 dólares e na descida aos 50 dólares o barril. (...)

António Costa Silva: "É um erro trágico se o país agora destruir o cluster das energias renováveis"
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.5
DATA: 2012-01-08 | Jornal Público
SUMÁRIO: O gestor da petrolífera da Fundação Gulbenkian está pessimista em relação ao “barril de pólvora do Médio Oriente” e adverte que os mercados andam perturbados entre a instabilidade geopolítica e a recessão económica. No mercado de futuros, aposta-se na subida até 180 dólares e na descida aos 50 dólares o barril.
TEXTO: António Costa Silva, presidente presidente executivo da Partex Oil and Gas, petrolífera da Fundação Calouste Gulbenkian diz estar “extremamente preocupado com os sinais que vêm, relativamente ao cluster das energias renováveis”, um sector que construiu fábricas, dá emprego e exporta, e teme uma “desarticulação e incoerência” em relação às políticas europeias. Com uma produção diária de 46 mil barris, “de longe a maior do país neste indicador”, sublinha Costa Silva, a Partex teve em 2011 um dos seus melhores anos de sempre e está a diversificar a sua podução, apostando mais no gás natural e menos no petróleo, que tem sido domintnate. O objectivo é atingir, dentro de cinco anos, 50% para cada área de negócio. O gestor concorda que os subsídios às energias renováveis “devem ser ajustados” para um cabaz de energias que “seja realmente competitivo”, mas isso terá de ter em conta que as energias renováveis não são iguais entre si. “Os preços da eólica podem ser já competitivos em termos de economia de mercado, enquanto a solar não é, de certeza”, diz, lembrando que os energias renováveis são responsáveis por 15 por cento dos custos políticos pagos na factura de electricidade. Que resultados espera a Partex em relação a 2011? Foi um dos melhores de sempre, em função do preço do petróleo, uma variável que afecta significativamente a nossa performance. Até Outubro, o preço esteve na ordem dos 111 dólares por barril, que é superior ao preço de 2008, o ano de pico. E as nossas operadoras tiveram uma performance acima do plano de negócios. Foi um ano excelente. Quais as companhias com melhor desempenho neste momento?São sobretudo as do Médio Oriente. Estamos presentes em Abu Dhabi e Omã. Todas as companhias operadoras nestes países de petróleo e gás natural liquefeito (Adco, Gasco, PDO, OLNG e Mukhaizna) tiveram um desempenho muito significativo. Como explica isso? Com a expansão da produção. São países que têm reservas em alguns casos. e há outros factores importantes, por exemplo, que é o mercado de gás natural liquefeito (GNL). Houve um efeito muito importante neste mercado no mundo criado pelo tsunami e pelo terramoto de 11 de Março no Japão. Quando o Japão paralisou, parte da produção de energia eléctrica nuclear estava paralisada, quem respondeu foi o mercado de gás liquefeito. Portanto, o Japão, que já era o maior consumidor mundial de GNL, em 2011 consumiu ainda mais 10 milhões de toneladas, para substituir a paragem da energia nuclear e ainda hoje 40 dos 54 reactores nucleares do Japão estão parados. Portanto, são o gás e as energias renováveis que estão a responder a esta falha da energia nuclear. O que é que isto criou em relação ao mercado mundial? O mercado do gás é muito fragmentado, aliás os preços nos EUA são quatro vezes inferiores aos preços do anel do Pacífico e a Europa está numa posição intermédia e mais próxima da Ásia. O que se passou é que a resposta do mercado de GNL foi brutal, muitas das cargas da Europa também foram desviadas para a Ásia e o GNL veio aqui exercer aqui o efeito de uma força globalizadora. Este mercado em 2010 cresceu 22%, a nível do mundo todo, o mercado do gás todo (liquefeito e gasoso) cresceu 10% em vendas globais. O GNL representa 30% do total. Cinco anos a diversificarQuanto é que cada um dos negócios, gás e petróleo, pesa nas contas da Partex? As nossas companhias de Omã têm uma contribuição significativa para os negócios da Partex, à volta de 60 a 65%. Curiosamente, agora estamos numa política de diversificação, quer na produção quer nos activos. O Médio Oriente é um risco e tem uma instabilidade crescente. Nos próximos cinco anos, queremos ver se a contribuição de Omã e Abu Dhabi baixa em conjunto para menos de 50%, para a produção no Cazaquistão, Angola, Argélia, Brasil começar a impor-se. Abu Dhabi vale hoje cerca de 10%, É o nosso plano de diversificação. Em termos dos resultados da Partex, o que foi gás, petróleo e renováveis e qual é a produção diária neste momento? Renováveis não gerimos aqui. A nossa receita líquida em 2011 foi de 141 milhões de dólares. Ficou 17% acima do resultado de 2010. Omã representa cerca de 68% das receitas do grupo e Abu Dhabi 13, 6%. O Casaquistão já representa cerca de 17%. A produção diária é de 46 mil barris, de longe a maior do país neste indicador. Esta diversificação de que está a falar, em termos de equilíbrio entre gás e petróleo, vai alterar? Vai. O gás representa 28% das nossas receitas actuais, mas queremos aumentar no futuro esta quota para haver maior equilíbrio entre o petróleo e o gás. E há objectivos assumidos? Há objectivos, alguns que já se materializaram. O projecto Ahnet na Argélia, operado pela Total, tem a Sonatrach e a Partex como parceiros e é um grande projecto de gás. Em termos de volume equivalente a petróleo, são cerca de 700 milhões de barris de reservas de petróleo. É um projecto que vamos tentar desenvolver, embora seja complexo e haja sempre questões ao nível do próprio plano de desenvolvimento, da articulação com as autoridades, mas nenhum destes projectos é fácil, são sempre complexos. Temos também o objectivo de ter uma concessão em Moçambique. É um alvo de investimento? Sim. As descopbertas na bacia de Rovuma são extremamente importantes. Sem dúvida, pode-se fazer ali um projecto de GNL vencedor porque toda a bacia do Índico precisa de gás, como a Índia e a China. Quando é que acredita que este projecto pode começar a ter resultados palpáveis? Ainda estamos numa fase preliminar. Enquanto na Argélia já o contrato foi assinado, há cerca de dois anos, este está em desenvolvimento e em diligências para ver se conseguimos materializar esse projecto. E em parceria com quem? Em Moçambique há várias entidades que estão interessadas, mas nós provavelmente iremos com Omã, com a Oman Oil (OOC). Quando fala de aumentar o peso do gás natural, a Partex definiu um patamar para este aumento?Nós gostávamos de ter mais ou menos 50% de petróleo e 50% de gás. Acreditamos que o gás vai ser o futuro do petróleo, com as descobertas grandes que se realizaram, com o gás ‘shale’ (não convencional) dos EUA e de muitos outros países. O gás é muito versátil, pode servir para a produção de energia eléctrica mas também pode ser aplicado nos sistemas de transportes e outros projectos. A Shell e o Qatar estão a desenvolver projectos dessa índole. Acreditamos também que, sendo o combustível fóssil mais limpo, tenderá a prazo a substituir as centrais de carvão. Outra tendência vai ser a descarbonização da economia, que se irá acentuar cada vez mais. E depois, há toda uma revolução nos EUA, onde já se discute a gaseificação da economia americana, com a provável aplicação do gás em múltiplos sectores, desde a geração eléctrica até aos transportes. Isso também vai servir de exemplo catalisador. É do interesse da Partex ter um pé também no negócio de transporte de gás liquefeito? Temos uma participação no projecto Oman LNG, foi um dos primeiros que se desenvolveu na área de transporte de gás natural liquefeito, mas o produto é transportado em barcos da companhia nacional omanita. É uma shipping company. Nós não estamos a ver uma participação, uma companhia de transportes é outro negócio e às vezes misturar cria muitos problemas. O interesse de Omã na REN passou pela Partex? Não se deve directamente a nós, embora tenhamos sido consultados e vejamos a iniciativa com muitos bons olhos. No que respeita ao equilíbrio entre o gás e o petróleo, qual é o vosso calendário? Queremos atingir essa meta nos próximos cinco anos, mas não depende só de nós. Depende das oportunidades, de se conseguir os projectos, de se poder desenvolvê-los. O objectivo é este próximo ciclo de cinco anos, mas se não for pelo menos ficará lançado para se concretizar no ciclo seguinte. E além do petróleo e do gás, onde querem crescer mais? Temos projectos na área das energias renováveis, mas isso é com o nosso accionista, a fundação tem esses investimentos. Nos investimentos de gás e petróleo, o que é onshore e offshore neste momento? Os investimentos offshore que temos são só no Brasil, temos a participação no bloco B-MS-10 na bacia de Santos, temos uma participação também na bacia de Sergipe Alagoas, também num bloco da Shell em offshore e temos a participação em Angola no bloco 17-06. Nenhuma delas está a dar receitas, porque ainda estamos em fase de exploração. Perfurar poço em Peniche decide-se em 2013Como está o projecto de Peniche? No ano passado estava com muitas expectativas relativamente ao trabalho que estava ser feito. Tem dados mais concretos? Neste momento fizemos já as campanhas de aquisição sísmica 2D e seleccionámos uma área mais pequena onde fizemos uma campanha de aquisição sísmica 3D. Estamos na fase de analisar os dados: combinar os dados sísmicos com os dados geológicos, ter um modelo de interpretação da bacia, identificar depois o sistema petrolífero, com os cinco elementos que tem. Não basta ter a rocha-mãe, a geração, a rocha-reservatório, a aguadilha, mas também o sincronismo que tem de existir. O nosso operador, que é a Petrobras, está a desenvolver um excelente trabalho a esse nível. Em 2013 é que vai ser tomada a decisão se se perfura ou não um poço para testar os principais prospectos identificados. As estimativas mantêm-se? À medida que o tempo vai passando, obviamente que as estimativas vão mudando. Partilho da opinião de que há uma probabilidade de existirem hidrocarbonetos, até porque há uma similaridade muito grande do ponto de vista geológico de toda a costa portuguesa com a costa do Canadá, onde foram descobertos dois campos, o Medley e o Terra Nova, com mais de 1000 milhões de barris. Há 200 milhões de anos, as duas costas estavam ligadas e têm grandes semelhanças geológicas. Além disso, há grandes semelhanças, sobretudo sísmicas entre a costa portuguesa e a da Mauritânia, onde foram descobertos alguns campos. Já percebemos que há aqui um conjunto de elementos, mas basta falhar um deles para as expectativas descerem a zero. Como é que a empresa vê neste momento a situação no Médio Oriente? Estamos muito preocupados, quer com a situação no norte de África quer com o Médio Oriente. No Médio Oriente temos neste momento praticamente uma guerra civil na Síria, temos a instabilidade no Iémen, temos o Bahrein que continua com grandes tumultos e instável e há uma questão crucial que é a própria Arábia Saudita. A Arábia Saudita hoje é gerida por uma gerontocracia que às vezes nem responde aos apelos do tempo, da modernidade, tem um imobilismo social completo, veja-se o facto de as mulheres não poderem conduzir. Está mais pessimista do que há um ano, então? Estou relativamente pessimista. Para complicar, há uma luta fortíssima entre dois velhos países rivais, a Arábia Saudita e o Irão, e a situação está carregada do ponto de vista político. E qualquer pequena fervura, qualquer incidente pode criar uma situação muito difícil. Os sauditas estão rodeados por um arco de instabilidade e no interior do país, os 12% de população xiita estão concentrados na província oriental, na província de Katif, que é precisamente onde estão todos os grandes campos petrolíferos. Os xiitas estão sempre sob as influências do Irão. O Irão já influenciou muitas manifestações no Bahrein. Aos problemas das condições sociais, juntam-se as questões políticas. Setenta por cento da população do Bahrein é xiita, 30% é sunita. O pais é uma monarquia sunita. Não é por acaso que a Arábia Saudita interveio militarmente no Bahrein e também não é por acaso que a Arábia Saudita tem avisado o presidente da Síria. Este é apoiado pelo Irão, é o seu grande apoiante na zona. O Irão apoia o regime sírio e desestabiliza no Bahrein, a Arábia Saudita estabiliza o Bahrein tentando desestabilizar a Síria e nós estamos aqui num jogo político muito complicado. O desenvolvimento do programa nuclear iraniano é uma situação extremamente difícil. Podemos ver isso no mercado, os reflexos imediatos. No mercado de futuros, aquilo a que chamam as ‘call options’, que são os contratos para um direito de compra a preços pré-determinados com uma data futura, para o preço do petróleo que chega a cerca de 180 dólares, aumentaram exponencialmente. Aumentaram mais de 30% num mês, de Novembro até agora final de Dezembro. Há por isso uma apetência do mercado, uma visão do mercado, que eles chamam de aumento do preço do petróleo se houver um ataque nuclear, um acidente entre os dois países. E porquê? Porque tudo se confina ao estreito de Ormuz, onde por dia passam 16 ou 17 milhões de barris de petróleo. Um terço do petróleo transaccionado no mundo, transportado por mar, passa por ali. E portanto, se acontecer alguma coisa, afecta o estreito de Ormuz e é evidente que vamos ter uma grande convulsão se isso acontecer. É um cenário plausível. Fecho do estreito de Ormuz terá efeitos “catastróficos”Quais são as consequências em Portugal de haver uma situação desse género? Os efeitos seriam catastróficos, em todo o lado, em Portugal, na Europa, no mundo. Esperemos que não aconteça, que haja razoabilidade, mas não podemos esquecer que há entre estes países uma tensão muito grande. Muitos dirigentes destes países da Península Arábica são sunitas e não esquecem a declaração que o ayatolah Khomeini fez quando foi a revolução no Irão. Ele disse: ‘o mundo islâmico até hoje foi dirigido pelos árabes, foi dirigido pelos turcos com Saladino, foi dirigido pelos turcos com o império otomano, chegou a hora dos persas’. E estão convencidos de que isto é tudo um programa político. O Irão capitalizou todos os erros que os Estados Unidos cometeram, a própria liderança saudita tem-se afastado dos EUA, criticando abertamente. Ficaram descontentes por os EUA não terem intervido para salvar o ex-presidente do Egipto. Elementos importantes da hierarquia saudita criticaram directamente os EUA e disseram que a política que vigorou até hoje - petróleo em troca de segurança -, não é suficiente. A relação com os EUA pode ser tóxica para todo o Médio Oriente. Os sauditas têm pavor do poder nuclear iraniano e com Israel do outro lado, estou relativamente pessimista em relação a este barril de pólvora. No caso de a situação dos preços ser insustentável para os operadores, a Partex põe a possibilidade de sair do Médio Oriente? Pelo fundador, não há nenhuma obrigação específica de manter, mas é óbvio que é parte da nossa história. Se falar com muitas pessoas do Médio Oriente, a Partex foi a iniciadora da indústria petrolífera no Médio Oriente, foi a pioneira. Eles dizem “you are part of it”. Disso não há duvida nenhuma. Faz parte do património genético da companhia a ligação a estes dois países. A empresa existe há 75 anos e a situação nos dois países (Abu Dhabi e Omã) a situação é um bocadinho diferente. Abu Dhabi é muito estável, não houve até agora qualquer tumulto. Em Omã houve, mas com a sabedoria do sultão Qaboos ficou estabilizada. É preciso ver que estes dois países têm um modelo de distribuição da riqueza que vai funcionando, a nível dos nacionais. Não podemos esquecer que há um paradoxo no mundo árabe. Egipto, Líbia, Tunísia: todos islamizados mas com governos laicos, foram os primeiros a cair. De certa maneira, algumas das monarquias têm maior legitimidade do ponto de vista histórico mas não podemos ignorar que há aqui um jogo de aspirações, há desemprego e uma população mais jovem que é muito ocidentalizada. E todos esses elementos têm o seu peso e podem levar a situações difíceis. Em relação a Abu Dhabi e Omã temos total confiança nas reformas introduzidas. Agora, todo o arco de instabilidade que está à volta é para nós extremamente preocupante. Há estudos sobre o mercado do petróleo que identificam o que irá acontecer ao preço do petróleo se houver um ataque israelita ao Irão em meados deste ano. Nos primeiros dias pode chegar aos 150 dólares e depois vai para 200 e pode subir mais se interromperem o estreito de Ormuz. Esperemos que alguma coisa aconteça a favor da racionalidade, porque temos o risco de um efeito dominó face ao que se passa na Síria, no Bahrein, no Iémen. É uma área onde estão concentrados 65% das reservas mundiais de petróleo. E 2012 vai ser um ano-chave relativamente a isso. Portugal deve aliar-se para explorar recursos no fundo do marTem falado muito da economia do mar e de dados interessantes relativamente a esta reserva mundial de sulfuretos que Portugal conquista com o alargamento da plataforma continental. Até que ponto é que todos os recursos interessantes para a indústria, quer petrolífera, quer energética, são viáveis no médio e longo prazo para as empresas e países? Os recursos são muito diferentes. Quando falamos de nódulos de manganês são nóulos depositados no oceano e é relativamente fácil a sua remoção. No fundo, é uma questão de colecta desses nódulos. Em 2006, a Alemanha desenvolveu um projecto numa área dessas que está em andamento. Os sulfuretos polimetálicos já são diferentes, porque contêm cobre, zinco, e esses já exigem outro tipo de equipamentos e a indústria petrolífera pela sua experiência pode fornecer essas soluções. Estamos sempre a dizer que o país não tem recursos, fala-se do anátema de um país que não tem recursos e não se faz nada. A verdade é que o país tem recursos e tem de se olhar para eles. Até que ponto estão provados esses recursos? Há vários projectos no âmbito da extensão da plataforma continental, como o mapeamento. Numa conferência internacional, há alguns, um especialista das Nações Unidas projectou as zonas económicas exclusivas do mundo com a (então) possível extensão e e Portugal estava no centro, também a nível de sulfuretos. Aqui, dizemos sempre que não temos recursos. Mas quando os recursos existem devem ser mapeados, é uma questão de soberania, Há vários projectos que se estão a desenvolver pela Alemanha e pela China, que precisam das matérias-primas estratégicas e do seu controlo, como demonstra a guerra, entre aspas, entre a China e o Japão por causa das terras raras no ano passado, um grupo de 17 elementos que são utilizados na indústria electrónica de alta precisão e na fabricação de magnetos e outros materiais para os computadores, turbinas eólicas. Há muita utilização em materiais de alta tecnologia. A China parou as exportações para o Japão e os japoneses capitularam em 24 horas. Vamos assistir a muitas destas coisas no século XXI. As pessoas defendem que o país não tem recursos, mas fazendo o mapeamento dos recursos nós podemos atrair. O que eu defendo é que haja alianças, que haja pensamento estratégico para desenvolver todos estes recursos na zona económica exclusiva, e que podem envolver materiais de alta tecnologia, através de uma aliança com a Alemanha ou com os Estados Unidos. Ambos os países estão interessados porque precisam das matérias-primas. Não tenho dúvida que será importante no futuro. Em 2006 a Alemanha já teve uma concessão, os EUA já estão na China a obter uma concessão na área do offshore no Oceano Índico para lançar uma prospecção. A Rússia tem muito trabalho feito na área dos hidratos de metano. Como é que país que não conseguiu até agora fazer a sua cartografia de ordenamento, vai conseguir fazer um mapeamento do tamanho da nossa nova ZEE? O que está aqui nem causa é a sobrevivência do país, é encontrar um modelo de desenvolvimento económico que se baseie no aproveitamento dos seus recursos. As pessoas partem do princípio que o país deixou de ter recursos e isso é a justificação do conformismo e de uma apatia generalizada. É por isso que conto a história da senhora Golda Meir, antig a primeira-ministra de Israel. Um dia desabafou perante o seu estado maior: ‘não me venham falar de Moisés, porque esse homem escolheu o único lugar no Médio Oriente em que não há petróleo’. Durante anos, Israel assumiu que não tinha recursos petrolíferos nem de gás. Há cerca de oito anos o governo identificou que o fornecimento de gás era um risco máximo – na realidade, com os incidentes do Egipto no ano passado, o pipeline do Sinai ficou paralisado e Israel ficou sem 45% do seu gás. Há oito anos, o Governo criou uma comissão de cientistas, geocientistas, geólogos, que trabalharam com o poder político. Mas aqui em Portugal nós nunca fazemos isso. Cientistas a trabalharem com o poder político? Nunca podemos ter uma política energética consistente se ela não articular as vertentes técnica, económica, política e a componente internacional. Às vezes só vemos um ou dois elementos e depois as coisas falham todas. A política energética para ser consistente tem de fixar objectivos, fazer uma análise quantitativa, de análise de custo e benefício. Se apostamos num recurso preciamos de saber quanto custa, qual é o seu custo-benefício, nós nunca fazemos isso de forma estruturada. E depois, estas políticas transcendem os círculos eleitorais, mas começamos sempre tudo do zero de cada vez que os actores e os interesses mudam. Não pode ser assim. E o que aconteceu em Israel? Eles lançaram a Iniciativa Estratégica para a Energia e descobriram os campos de Tamar e Leviathan. Em conjunto têm cerca de 24 biliões de pés cúbicos de gás e a bacia ao sul de Jerusalém tem petróleo não convencional com reservas substanciais. Isto mostra que mais do que capitularmos é preciso estudarmos o país, mapearmos os recursos e desenvolvermos para cada uma dessas áreas modelos que atraiam investimento externo. Esse mapeamento está a ser feito, não está? Sim, mas depois a articulação entre toda esta área e as decisões políticas não acontece. No projecto da repsol no Algarve, foi o governo que lançou o concurso em 2001 e demorámos 10 anos para assinar o contrato. Este é o retrato completo da nossa incompetência política estratégica. Não nos vamos ver livres dos recursos fósseis nas próximas décadas. Vamos tê-los até ao fim do século e se calhar até depois. E portanto, o facto de existirem estes recursos no país, ou a probabilidade de existirem, devia suscitar exactamente o interesse nacional. O país não vai investir, são as companhias que assumem o risco. O país vai ter royalties, rendas, tudo isso. Se houver descobertas passa-se para um patamar diferente. O contrato no Algarve foi o melhor possível? Não conheço os detalhes, portanto não vou comentar em relação a esse aspecto. Penso que o país, em função dos seus recursos, deve potenciar essas oportunidades. E estes contratos não podem nesta fase ser muito elevados porque não provámos a existência de recursos. Até descobrirmos, temos primeiro de atrair as companhias para fazerem esses trabalhos de pesquisa. Mas na bacia de Cádiz, já houve descobertas? Já há 40 anos, no campo de Poseidon, que a Repsol explorou. E ainda por cima é uma área turística, não houve nenhuma convulsão por vausa disso. As companhias têm de ter procedimentos operacionais seguros, ainda por cima nestas áreas que são áreas offshore. Há condições para se avançar, agora que foi assinado o contrato. Em relação aos sulfuretos, que estratégia política defende que deveria ser adoptada por este governo? Penso que o mapeamento desta área de sulfuretos polimetálicos está em curso. É evidente que depois de serem mapeados tem de se fazer um teste-piloto, uma confirmação in loco da sua área. Mas depois o fundamental é desenhar as políticas de alianças com quem esteja interessado em participar na exploração dos recursos, como a Alemanha, os Estados Unidos e outros. Poderia ser uma diversificação também para a Partex? Esse é um assunto da competência do accionista, mas penso que não está interessado. Eu falei nisso porque sinto que é uma oportunidade para o país se desenvolver. Renováveis são responsáveis por 15% dos custos políticos pagos na factura da luzO secretário de Estado da Energia ainda há pouco tempo referiu que os preços em Portugal, com o aumento do IVA e tudo, em termos de paridade de poder de compra são os mais elevados da UE. Há margem neste momento para conseguir que os preços se mantenham estáveis e não continuem a subir de forma tão acelerada? Em relação aos preços da electricidade, quando olho para os dados da EDP não mostram isso. Há aqui diferentes formas de olhar para os preços. Mas estou a falar em termos de paridade de poder de compra. A EDP quando apresenta os preços estão perfeitamente alinhados com a média europeia. Portanto, acho que é um falso problema. Ainda é prematuro julgar a política deste governo na área de energia. Há sinais positivos como a assinatura do acordo de energia no Algarve. Outro sinal que me parece positivo é a revisão da lei da concorrência, que é parte do programa da troika. Temos um mercado onde muitas vezes há simulacro de concorrência. No mercado da energia é extremamente importante promover novos actores, dar oportunidade aos jovens de diferentes áreas que querem lançar as suas empresas, aumentar a competivividade do mercado, com muitos bons olhos. Porém, fico extremamente preocupado com os sinais que vêm relativamente ao cluster das energias renováveis. A aposta que o país fez nas energias renováveis foi séria e consistente. O cluster que se criou já exporta e diminuiu as nossas importações. Quem conhece a história da energia sabe perfeitamente que nenhuma se impôs sem um período inicial de tarifas de apoio para que adquira dimensão e depois siga para o mercado. Para mim, é um erro trágico se o país agora destruir o cluster das energias renováveis. Porque as energias renováveis baseiam-se em recursos endógenos que o país tem, mais uma vez é parte desta luta de olhar para os nossos recursos e criar condições para os produzir. Partilho inteiramente que o preço da electricidade tem de ser competitivo, que as energias que utilizamos têm de ter um mix competitivo, portanto há que fasear este apoio às energias renováveis, definir a base temporal em que terminam e depois deixar o mercado falar. Mas nesta altura, destruir o que foi feito, rasgar os contratos que foram assinados parece-me uma visão péssima. E depois temos algumas das nossas elites que fazem campanhas contínuas contra os nossos recursos. São recursos endógenos, e agora há o mito que se criou de que as energias renováveis são responsáveis pelos custos políticos da factura eléctrica. Se olharmos para esses custos políticos, as energias renováveis são responsáveis por 15%, depois temos os chamados CMEC (que substituíram antigos contrados de aquisição garantida de energia), apoios às centrais a carvão e a gás, que curiosamente no ano de 2010 foram superiores às renováveis, temos os contratos da cogeração, as contribuições para as autarquias, a contribuição para as regiões autónomas. E depois mistura-se tudo isto no mesmo saco e faz-se esta campanha obscena que é contra os recursos nacionais. Pode criar condições para que se venha a tomar uma decisão de cortar e destruir esse cluster e penso que realmente estamos a ver no curto prazo e não olhar para o longo prazo. Devia haver ou não uma alteração aos sistemas de subsidiação? Sim, devia haver, os subsídios devem ser ajustados, temos de procurar construir um mix energético que seja realmente competitivo, as energias renováveis são muito diferentes. Os preços da eólica podem ser já competitivos em termos de economia de mercado, enquanto a solar não é, de certeza. Mas o que levanto também é uma visão de médio e longo prazo, porque os preços do petróleo estão a aumentar. E os custos de produção das energias renováveis vão baixar. Daqui a cinco anos serão muito mais competitivos, daqui a 10 serão muito mais. É por isso que defendo que deve haver este cluster das energias renováveis, com base nos recursos endógenos, porque é um benefício para o país e é um investimento estratégico. Podemos ter a electricidade gerada a partir da água, dos recursos hídricos e das outras energias renováveis. Pode ser um objectivo que se venha a atingir no futuro. E mesmo aí a energia hídrica só é aproveitada em cerca de 50%. A questão depois é também a intermitência desta energia, porque a produção não consegue ser constanteSe for vista isolada é um problema, se for do ponto de vista da organização das redes e do que se chama redes inteligentes, que servem para gerir a oferta e a procura aplicando as tecnologias de informação, aí o problema da intermitência será minimizado. A própria comissão europeia tem projectos para modernizar as redes eléctricas europeias, para se investir nas smart grids. É claro que tem de haver aqui uma análise quantitativa, de custo-benefício, mas no fim o sistema fica muito mais atractivo e resolve-se o problema da intermitência. Não se pode esquecer que um dos aspectos negativos da electricidade até agora é que ainda não descobrimos uma forma de armazená-la. Vai ser a grande descoberta do século XXI. Com uma gestão eficiente da rede e uma gestão inteligente da oferta e da procura pode minimizar-se esse efeito [da intermitência], em vez de ficarmos à espera dessa descoberta. Quando o memorando de entendimento com a troika diz que tem de se acabar com subsídios excessivos, mas não liga à política de apoio às renováveis, abre caminho a essa destruição?O programa da troika despertou um unanimismo nacional num país de maledicentes. O programa é necessário, mas não resolve nada. Põe as contas públicas em dia, mas não resolve nada em termos de crescimento do país e em ultrapassar esta incapacidade dos últimos 10 anos, de lutar contra a estagnação económica. É por isso que o programa da troika tem de ser ligado a uma visão estratégica de desenvolvimento futuro do país. A energia não está separada da economia. É parte integrante da economia, ela própria é uma fonte vital da economia e quando pensada estrategicamente pode ser uma alavanca de desenvolvimento. Quanto ao cluster das energias renováveis, é evidente que há este período de subsidiação inicial em que tem de ser ajustado, mas ao mesmo tempo há um cluster com fábricas construídas, gente empregada e tecnologia que se desenvolveu, com exportação de equipamentos para o exterior e tudo isso tem valor. Não podemos esquecer esse aspecto. E quanto ao programa da troika, os países membros da União Europeia fazem exactamente o contrário do que receitaram a Portugal, a começar pela DinamarcaNão há nenhuma forma de energia que não tenha subsídios. Aliás, o ultimo relatório da Agência Internacional de Energia dizia que os subsídios aos combustíveis fósseis são cinco a seis vezes mais do que as renováveis e os fósseis são dominantes no sistema. Não podemos esquecer esse aspecto. É evidente que não é saudável que uma economia viva de subsídios, o que defendo é uma subsidiação numa janela temporal determinada para gerar um cluster que tenha dimensão suficiente para depois seguir para o mercado e deixar o mercado falar. Não é matar o processo a meio. Para os consumidores, é complexo saber o que estão a pagar através das tarifas e o que pagam depois através dos impostos. Não deveria haver uma comunicação mais clara, que não seja só sobre os CIEG (custos de interesse económico geral), mas que também diga que os nossos impostos pagaram, por exemplo, a dessulfuração da central do Pego?Falta ao país uma autoridade técnica nacional na área da energia, que tornasse mais transparente a formação de preços, mas também a própria modelagem do sistema energético nacional, como há em outros países. Diz-se ‘vamos construir uma central nuclear’, falamos, mas não temos qualquer análise quantitativa do seu impacto sobre todo o sistema energético. Apostamos nas energias renováveis e qual é o impacto que isso tem no sistema eléctrico nacional? Qual é a análise custo-benefício que lhe está subjacente? O que ganhamos?Se não houver este trabalho de base, fala-se, berra-se mas não se chega a sítio algum. Tem de haver uma metodologia para abordar as questões. Em Portugal segue-se muito o conselho de Bismark, que dizia que que a política se faz com sentimento e não com cálculos. Portugal segue esse conselho e não tem uma visão lúcida de base de uma política energética consistente, que ultrapasse os ciclos eleitorais. Vivemos quase em adolescência política. A energia é como a educação e a saúde. São vitais e precisam de um rumo claro. Vai haver desarticulação em relação à política europeiaComo olha para o que tem sido o discurso do Governo em relação às energias renvoáveis e o que são as prioridades da UE, com a nova presidência dinamarquesa a afirmar que a prioridade será energia renovável e eficiência energética?Vai haver uma desarticulação e incoerência em relação à política europeia e depois, no próximo choque petrolífero, que não vai tardar, vamos todos gritar que a nossa factura energética de 8, 2 mil milhões de euros em 2008 foi muito baixa, comparada com a que vamos pagar. Em 2011 batemos o recorde, vamos passar dos 8, 2. O que vai acontecer é que vamos usar ainda mais fontes externas para alimentar o nosso sistema energético e vamos recuar no caminho já feito. Tínhamos conseguido que os nossos recursos endógenos representassem 18 por cento da produção de energia primária, depois de muitos anos estagnados nos 15 por cento. Se fizermos o contrário, destruímos o cluster das energias renováveis e regressamos aos 15 ou mesmo abaixo. Isto tem a ver com a falta de atenção das elites portuguesas em relação aos recursos endógenos. Vai aumentar a nossa dependência em relação ao exterior, vai aumentar a factura energética, que tinha representado 6% do PIB em 2008. Mas muito deste consumo é transporte. Como se pode baixar a factura aqui?Passará por uma reorganização do modelo de cidades. O automóvel individual foi uma grande conquista do séc. XX. O transporte público das cidades, ferroviário, eléctrico, vai ser a grande conquista do séc. XXI. Será insustentável viver nas cidades de outro modo no futuro. Basta que os preços disparem. Por cá, as empresas reduzem o serviço para equilibrar as contas. . Se tivermos uma boa capacidade de geração eléctrica no país, com base em recursos endógenos, o carro eléctrico pode ser a solução adequada neste sistema para quebrar a dependência do sistema de transportes em relação ao petróleo, sobretudo nas cidades. Acha que a entrada de um novo accionista na EDP pode alterar este caminho que o Governo tem anunciado?Do que vi em relação à EDP, tem havido uma dessintonia completa entre o que se passa no mundo e o que se passa em Portugal. Os varios accionistas valorizam a EDP pelos seus activos de energias renováveis. O que criticamos é o que os estrangeiros valorizam. Havia outra saída que não as privatizações para responder à troika?Não há um pensamento estratégico por detrás destas operações. Um pensamento estratégico implica uma política de alianças, escolha de parceiros, olhar para o futuro e ter um pensamento de médio e longo prazo. Se isso não existe podemos ter uma situação difícil de venda ao desbarato de activos estratégicos para os países. A Partex nunca pensou aliar-se para ir à privatização da EDP?Isso são questões de âmbito exclusivo do nosso accionista e penso que não equacionou essa possibilidade. Devia-se ter assegurado que o centro de decisão de empresas como a EDP e a REN se mantivessem em Portugal?Não é uma questão indiferente. Sou a favor dos centros de decisão nacional, mas o que se está a verificar com as privatizações é que será difícil mantê-los no país. Por isso era necessário um pensamento estratégico que inspirasse estas operações e que as salvaguardasse nesse aspecto. Mudando de assunto, como viu as conclusões da cimeira de Durban?Foi um acordo de última hora para preparar a sucessão de Quioto e, como dizem os franceses, no detalhe é que está o diabo. O arrastamento para encontrar um sucessor de Quioto não faz com que esta questão seja levada memos a sério pelos países e pelas opiniões públicas, em geral?Sim. Estamos num momento em que as lideranças não se entendem. Durban já foi um pouco melhor do que Copenhaga, mas o Canadá já descolou e os grandes países poluidores não fazem parte. A mensagem que passa é de grande frouxidão. É inegável que o clima do planeta se está a degradar e a temperatura está a subir. A maioria dos cientistas é clara quanto ao que se está a passar com o clima. Não podemos esquecer que 1/3 da população mundial vive entre o nível do mar e os nove metros do degelo da Gronelândia e da Antártida são suficientes para fazer subir o mar em seis metros. E depois na altura, fazemos o quê? Arranjamos uma jangada para salvar as coisas?O mérito do relatório Stern, de 2006, foi ter mudado a discussão das incertezas dos modelos climáticos para a economia e termos percebido que se não fizermos nada, perdemos 20 por cento do PIB mundial nas próximas décadas e que o investimento em medidas que o podem evitar representaria um por cento do PIB mundial. A crise não está a ser usada como argumento para não se tomarem certas medidas ambientais, esgrimindo-se o seu custo, ou até tomar medidas contrárias?É o que vai acontecer. Os líderes estão a falhar os objectivos e não acredito que o problema se resolverá em 2015. Acredito mais em movimentos de baixo para cima. Por exemplo, no México, a partir do momento em que as florestas tropicais foram afectadas, o governo lançou um plano nacional, a Guatemala fez o mesmo. O maior exemplo é a China. Há alguns anos, o ministro do Ambiente da China disse que a maior ameaça ao futuro do país era o ambiente. Hoje, a China é o país que mais investe em energias renováveis e que mais tem revelado capacidade de fazer crescer a sua marca em todas estas áreas. São os países mais afectados que começam a tomar medidas, mas no geral, há uma grande ambiguidade em relação a isso. Os objectivos do roadmap 2050 da UE são concretizáveis num tão longo prazo?As políticas energéticas, para serem consistentes, precisam de objectivos realistas. E sabemos há muito tempo que os objectivos da UE são irrealistas e à força de se repetirem perdem credibilidade. A energia, como outras áreas, tem a ver com a vida de todos nós. Nunca podemos ter uma política energética consistente sem modelar os sistemas energéticos, sem medir os impactos das várias escolhas, sem fazer uma análise custo-benefício e depois traçar a partir daí objectivos realistas. Se Portugal, na altura em que fez a opção pelas energias renováveis, tivesse analisado o lado do sistema, visto os impactos, feito a análise custo-benefício e comunicado aos cidadãos e discutido no Parlamento, se o tema tivesse atravessado todos os partidos e se se traduzisse numa política nacional, o país ganharia muito com isso, em vez de andarmos a destruir o que os governos anteriores fizeram. Gás não convencional vai espalhar-se pelo mundoQuais são para si os principais pontos críticos nos próximos anos para a indústria?Um ponto crucial são os recursos não convencionais e o shale gás – gás natural não convencional. Não é por acaso que o shale gás apareceu nos EUA. O modelo de incentivos nos EUA, inscrito na Lei da Energia (Energy Act), favorece a inovação e o empreendedorismo. Não foram as Exxon ou as Conoco que o descobriram. Foram empresas de pequena e média dimensão. Agora, assiste-se a uma migração desta nova tecnologia do gás para o petróleo e a uma migração geográfica. A China, por exemplo, tem cerca de 12 vezes mais reservas não convencionais do que convencionais. E como têm pensamento estratégico e estão preocupados com a dependência do carvão (70% das suas centrais são a carvão, 30% a gás natural) e com a poluição brutal, se desenvolverem o gás não convencional pode ser benéfico para eles e para o mundo. Por causa do petróleo não convencional, a produção nos EUA cresceu em 2010 e em 2011 cresceu mais ainda. É por isso que a cotação do WTI (West Texas Intermediate, um dos índices de referência mundial do crude) se desligou do Brent e do resto do mundo. O WTI é medido em Cushion, no Oklahoma, o hub central. Agora anunciaram um oleoduto até ao Golfo, no Louisiana, e a diferença entre os dois tipos de petróleo começou a atenuar-se. Esta tendência do shale vai espalhar-se pelo resto do mundo e vai levar a uma maior contribuição do gás para a matriz energética. Estudos indicam que as reservas não convencionais de gás (em rochas xistosas) representem 60% a 250% das reservas convencionais. Estas estão estimadas em 180 biliões de metros cúbicos. Isso não tem problemas ambientais?Tem. A técnica usada para a extracção do gás é a fracturação hidráulica. É importante que ela fique confinada à rocha para não ir para os aquíferos e os contaminar. São importantes uma regulação eficaz e multas fortes. Em 2010, a contribuição do gás natural para a matriz energética mundial foi de quase 24%. Foi o recorde da história. O petróleo está a perder quota há 11 anos consecutivos e temos o gás a ganhar terreno ano a ano. E se a migração tecnológica para o petróleo der resultado, vai haver um ressurgimento?Vamos ver o que acontece. Nos EUA, já tem efeito. A OPEP parece não reagir a estas mudanças e estar a ter dificuldades com aumentos de produçãoA questão da OPEP está inquinada pela luta entre a Arábia Saudita e o Irão. Quando se trata de aumentar a produção, só realmente três países têm capacidade para isso: Arábia Saudita, Koweit e Emirados Árabes Unidos. Mais nenhum tem capacidade excedentária. Quando a Arábia Saudita propõe uma subida da produção – como propôs em Junho para suprir a falta de petróleo líbio – os outros não aceitaram. Foi uma guerra sem quartel na altura. Em Dezembro, voltaram à unidade, porque já era para fixar a produção nos 30 milhões de barris diários, que estão a produzir, e preparar a organização para se defender de uma potencial baixa de preços. Isto é, se do ponto de vista geopolítico tudo serenar e a instabilidade dos países árabes for controlada, as variáveis que passarão a dominar são a recessão, se a crise da zona euro se aprofundar. Se houver uma recessão económica, se houver um arrefecimento na China, os preços podem baixar. No mercado de futuros, os segundos contratos que mais aumentaram foram as put options, com opções de venda a 65/50 dólares – já vários traders estão a proteger-se contra a possibilidade de uma descida abrupta. Vivemos nestes dois extremos, entre as call options de 180 dólares e as put options de 50 dólares. Pode haver um aumento exponencial ou um colapso em função da recessão. Vê-se a perturbação que há nos mercados. Já não podemos ser tão categóricos e dizer como há um ano, que a tendência é de subida lenta e sustentada?Não. Há um ano, a variável geopolítica estava quase congelada. Era tudo dominado pela crise financeira e pela sua resposta. Hoje é completamente diferente. Voltou a instabilidade política nos países produtores do Médio Oriente, onde estão os três países com capacidade excedentária e que temem muito que o Irão feche o estreito de Ormuz, porque ficam com a sua produção bloqueada. Os Emirados Árabes Unidos (EAU) podem não ficar bloqueados por causa de um projecto estratégico: têm em construção um oleoduto que liga os seus campos ao golfo de Omã. Se estiver operacional no primeiro semestre deste ano, será um trunfo. Por outro lado, se tivermos uma subida de preços, já partimos de uma base muito elevada. Veja-se que, com a recessão em 2011 em vários países, o preço do petróleo esteve quase sempre acima dos 100 dólares. Partimos de uma posição já muito difícil. Isso beneficiaria as empresas fora do golfo. Como ficaria a Partex?Se houver problemas no estreito de Ormuz, toda a produção de Omã, que é parte significativa das nossas receitas, não é afectada. Abu Dhabi está a desenvolver o oleoduto estratégico de Fujairah, para estar operacional em Abril/Maio. Pode eventualmente livrar a produção dos EAU de constrangimentos que possam ocorrer no Golfo. Desse ponto de vista, estamos a preparar-nos para eventualidades mais sérias. Concorda com o discurso de incentivo à emigração de jovens?É uma má política e uma péssima mensagem sobre o futuro do país. Não se pode gerir um país assim. Devemos atrair os jovens e sobretudo os mais talentosos. Muitos têm espírito empreendedor. Devem ser apoiados por capital de risco, dar-lhes condições para desenvolverem as suas ideias, as suas empresas, os seus projectos. São as novas empresas que vão produzir riqueza. A Partex podia ter um papel aí?No âmbito da nossa actividade, captamos jovens, damos estágios e alguns ficam na empresa. Como professor (no Instituto Superior Técnico), se me pedem conselhos não digo para não irem para fora. Há uma multinacional que todos os anos vai buscar alunos ao Técnico. Mas isso tem a ver com as oportunidades individuais das pessoas. Transformar isso numa política de um país, parece-me mal, porque a sua política deve ser o oposto.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA TROIKA UE
Stephen Colbert faz comício satírico na Carolina do Sul
Que candidato presidencial juntou a maior multidão na Carolina do Sul, na véspera das primárias republicanas neste estado americano? Mitt Romney? Newt Gingrich? Ron Paul? Rick Santorum? Não: Stephen Colbert. (...)

Stephen Colbert faz comício satírico na Carolina do Sul
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-01-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Que candidato presidencial juntou a maior multidão na Carolina do Sul, na véspera das primárias republicanas neste estado americano? Mitt Romney? Newt Gingrich? Ron Paul? Rick Santorum? Não: Stephen Colbert.
TEXTO: Milhares de pessoas, na sua maioria estudantes universitários, encheram o pátio do College of Charleston na sexta-feira à tarde para assistir a um comício satírico do humorista que esta semana anunciou a sua candidatura a “presidente dos Estados Unidos da Carolina do Sul”. Num dia em que os candidatos reais às primárias republicanas apresentavam os seus argumentos finais aos eleitores da Carolina do Sul, Colbert pediu à multidão no College of Charleston que votasse em Herman Cain no sábado à noite. Cain desistiu da sua candidatura presidencial em Dezembro na sequência de alegações sexuais trazidas a público por quatro mulheres. Mas o seu nome ainda está no boletim de voto das primárias na Carolina do Sul. “Eu quero que vocês votem em Herman Cain porque Herman Cain sou eu”, disse Colbert, que descreveu Cain como “um homem com um autocarro com a cara dele”. O humorista diz que qualquer voto em Cain será interpretado como um voto nele próprio, como uma transferência. “A política é como uma DST [doença sexualmente transmitida]. E com isto não pretendo ofender as DST. ”Stephen Colbert pratica um estilo de sátira política sui generis: ao contrário de outros humoristas, nomeadamente o seu compincha Jon Stewart, ele está sempre a representar uma personagem – um pivô de televisão republicano – no seu programa ou em situações reais (como uma ida ao Congresso, a convite de uma comissão parlamentar, para falar sobre imigração). Como é o Stephen Colbert verdadeiro? Ninguém sabe. Yes We Cain!O humorista, que é natural de Charleston, entrou no recinto acompanhado de uma banda de metais, meninas de claque e do próprio Herman Cain. Um coro gospel cantava no palco. Ao fundo, uma faixa com os rostos de Cain e o Colbert lado a lado dizia “Votem em Cain”. Colbert apresentou Herman Cain como “o meu irmão, filho de outra mãe”. “Stephen Colbert pediu-vos para votar em Herman Cain”, disse Cain. “Eu vou pedir-vos que não votem em Herman Cain. Não quero que desperdicem o vosso voto”, afirmou, apelando ao público presente para votar noutro candidato. Mas esta é a geração que segue a actualidade através dos programas de Colbert ou Stewart, ou seja, que vê um falso noticiário como se fosse um noticiário a sério. Herman Cain está a pedir-lhes que deixem de acreditar agora?Quais as intenções de Colbert? Mostrar que a política é levada demasiado a sério? Ou que a política americana é uma piada? Ele nunca dirá.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave imigração filho homem doença mulheres
O controverso Kim do Megaupload
Burlão internacional ou pai de família? Visionário ou aldrabão? Bon vivant ou provinciano com tiques de novo-rico? Kim Dotcom, o homem por trás do site Megaupload, é uma figura polémica, que nasceu, cresceu e prosperou no mundo das novas tecnologias. (...)

O controverso Kim do Megaupload
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.55
DATA: 2012-01-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Burlão internacional ou pai de família? Visionário ou aldrabão? Bon vivant ou provinciano com tiques de novo-rico? Kim Dotcom, o homem por trás do site Megaupload, é uma figura polémica, que nasceu, cresceu e prosperou no mundo das novas tecnologias.
TEXTO: Kim Dotcom, antes Schmitz e Tim Jum Vestor, também conhecido por "Dr. Evil" (personagem dos filmes de Austin Powers), está preso, à espera de saber se será extraditado da Nova Zelândia, onde reside, para os EUA, onde enfrenta acusações de fraude, branqueamento de capitais e violação das leis de direitos de autor por causa da actividade da constelação de sites que tem no Megaupload a sua estrela central. Não é a primeira vez que Kim Schmitz enfrenta a justiça e, enquanto os seus advogados clamam inocência, ele faz uma pausa forçada na sua vida de excessos. Sim, ele é culpado de muita coisa. Exibicionismo, mau gosto, falta de escrúpulos no mundo dos negócios. Mas será culpado de causar centenas de milhões de dólares de prejuízos em direitos de autor, só nos EUA?Antes de mais, os factos: o FBI encerrou o Megaupload na semana passada; as autoridades norte-americanas solicitaram a extradição de Kim para ser julgado nos EUA; o juiz neozelandês tem adiado a sua decisão. Por haver risco de fuga, Schmitz permanecerá detido até 22 de Fevereiro. Entram os números: o Megaupload era, à data do seu encerramento, o 13. º site mais visitado na Internet a nível mundial; os prejuízos estimados pela actividade de partilha de ficheiros atingem os 500 milhões de dólares (385 milhões de euros); Kim enfrenta a possibilidade de vir a ser condenado numa pena de até 20 anos de cadeia. Falta aqui um arredondamento da sua fortuna, mas esse é um dado muito escorregadio. Devido à predilecção do gigante alemão (2, 00m de altura para mais de 130kg de peso) pelo exibicionismo – divulga fotos de si próprio ao volante de grandes carros, esparramado em piscinas de iates ou rodeado de belas mulheres em paraísos tropicais, por exemplo –, a ideia que fica é que Kim deve ser podre de rico. Ele limita-se a constatar que está no top 10 dos mais ricos da Nova Zelândia, o que o coloca acima dos 700 milhões de dólares. Não há dúvida de que ele tem muito dinheiro. Pelo menos o suficiente para "comprar" o seu visto de residência na Nova Zelândia. Ao subscrever 10 milhões de dólares de títulos do tesouro neozelandeses, colocou-se ao abrigo das leis de imigração do país, que abrem um campo especial para a categoria dos grandes investidores. Mas fez mais: patrocinou o fogo-de-artifício da passagem de ano de 2010 em Auckland e tornou-se um dos principais beneméritos do fundo de auxílio às vítimas do sismo de Christchurch. A generosidade garantiu-lhe o direito de residir na Nova Zelândia, mas não de adquirir a casa onde vive (e onde foi preso durante a festa do seu 38. º aniversário, apesar de se ter fechado numa sala de segurança com uma caçadeira carregada). Confusos? Pois é, as leis têm destas coisas. Kim vive com a família (tem três filhos e a sua mulher está grávida de gémeos) numa mansão avaliada em cerca de 30 milhões de dólares, na zona rural de Auckland. Depois de a alugar, pensou comprá-la. Mas a pretensão foi bloqueada pelas autoridades neozelandesas, devido às suas anteriores condenações na Alemanha. A saber: uma por fraude com cartões de crédito e outra, também por fraude, no site Letsbuyit. com. Se o primeiro caso pode ter sido um devaneio adolescente, o segundo, em 2011, tem todos os condimentos das grandes histórias. Penas suspensasDepois de comprar acções da empresa no valor de 375 mil dólares, Kim anunciou com estrondo a sua intenção de investir outros 50 milhões. Na verdade, não tinha esse dinheiro. Mas passou a ter 1, 5 milhões de lucros assim que vendeu as acções, que entretanto, na sequência do seu anúncio, tinham quadruplicado de valor. Noutra ocasião, pediu a uma empresa, por si presidida, um empréstimo para outra companhia sua. Nunca pagou e ambas foram à falência.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Ao minuto: Obama reeleito para mais quatro anos
O PÚBLICO acompanha a noite eleitoral norte-americana que decidiu a reeleição de Barack Obama para o cargo de Presidente dos Estados Unidos. Para actualizar o conteúdo desta página, carregue no botão de actualizar do seu browser (navegador) ou na tecla F5 do teclado. Para participar com contributos ou questões, envie por email para leitores@publico.pt. (...)

Ao minuto: Obama reeleito para mais quatro anos
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-11-08 | Jornal Público
SUMÁRIO: O PÚBLICO acompanha a noite eleitoral norte-americana que decidiu a reeleição de Barack Obama para o cargo de Presidente dos Estados Unidos. Para actualizar o conteúdo desta página, carregue no botão de actualizar do seu browser (navegador) ou na tecla F5 do teclado. Para participar com contributos ou questões, envie por email para leitores@publico.pt.
TEXTO: 7h23 O discurso começou com as palavras da praxe, e Obama não as poupou. Sobre Joe Biden, que o Presidente reeleito qualificou como “soldado feliz”, disse tratar-se do “melhor vice-presidente que alguém pode querer”. Uma elevada consideração em que Obama tem também a sua equipa de campanha, junto com os voluntários, que disse serem “os melhores na história da política, os melhores de sempre”. No entanto, foram para a família os mais demorados e rasgados elogios. Em particular para Michelle. “Não seria quem sou sem a minha mulher”, declarou. “Nunca te amei tanto, nem nunca tive tanto orgulho do que quando vejo o nosso país a apaixonar-se por ti como a sua primeira-dama. ” Mesmo quando elogiou o papel das filhas ao longo da campanha, Obama acabou por elogiar Michelle, dizendo que estava orgulhoso delas por se estarem a tornar em mulheres como a mãe. 7h11 Igualdade e patriotismo. Estes foram os dois eixos do discurso de vitória de Barack Obama, em Chicago. Com “uma década de guerra a chegar ao fim”, o Presidente norte-americano disse que vai voltar à Casa “mais determinado e mais inspirado do que nunca”, depois de ter ouvido as pessoas com quem se cruzou durante a campanha eleitoral. Quer tenham votado em mim ou em Mitt Romney, eu ouvi-vos”, disse. “Nunca estive tão confiante no futuro deste país”, continuou. “Não estamos tão divididos quanto a nossa política sugere. Não somos um conjunto de estados azuis e vermelhos, somos os Estados Unidos da América. ” O discurso cresceu em emotividade até ao final e foi até à glorificação dos EUA como “o melhor país do mundo”, para delírio da plateia. Obama disse que a razão por que ele e Romney debateram tão afincadamente deveu-se ao seu amor pelo país: “Amamos este país profundamente. E por isso temos ideias muito fortes para o seu futuro. ” Mas essa divisão partidária – disse – acabou com a noite eleitoral. “Vou falar com o governador [Romney] sobre o é que podemos fazer juntos”, afirmou Obama, já depois de ter dito: “Erguemo-nos ou caímos juntos, como uma nação. ”7h05 Depois de Stevie Wonder a abrir, Bruce Springsteen a fechar. No fim do discurso de vitória de Barack Obama ouviu-se "We take care of our own". 7h04 VITÓRIA: Barack Obama tem um mandato claro para prosseguir a sua ambiciosa agenda política nos próximos quatro anos na Casa Branca. Será um teste, disse o Presidente, para o aperfeiçoamento da União em que acreditam todos os americanos. “Sabemos que para os Estados Unidos, o melhor ainda está por vir”, declarou. A declaração de Barack Obama foi optimista, sem esquecer algumas duras realidades, e de novo inspiradora, mesmo em face das dificuldades. Paixões, controvérsias, discussões são para o Presidente o símbolo da maturidade politica e democrática da América – e essa referencia no seu discurso foi o bastante para deixar no ar a ideia de que não se furtará a elas no segundo mandato. Obama tem um projecto e planos para o completar: na imigração, na educação, na diplomacia, na fiscalidade. Disse que queria consensos e compromissos, mas avisou que as pessoas votaram “na acção”. Ao reeleger o Presidente os norte-americanos demonstraram que não querem deitar ao lixo o Obamacare; não estão interessados em dar rédea solta às instituições financeiras, não estão dispostos a ignorar as alterações climáticas e não estão satisfeitos com o crescimento das desigualdades que abrem um fosso entre quem tem mais privilégios e quem dificilmente consegue sobreviver. É uma mensagem poderosa – capaz de unir uma nova coligação de eleitores, “inventada” em 2008 e ontem definitivamente estabelecida no mapa político americano. E para terminar, uma pequena nota para o agradecimento do Presidente à “melhor equipa e aos melhores voluntários de campanha da história”. Obama não estava a exagerar. É principalmente a eles que deve a reeleição. 6h49 Obama faz o discurso da vitória. Subiu ao palco com a mulher e as filhas, debaixo de uma chuva de aplausos e acompanhado de uma música de Stevie Wonder: "Signed, Sealed, Delivered (I'm Your's)". 6h38 Os voluntários da campanha democrata estão a receber um e-mail de agradecimento assinado por Barack Obama: “Estou prestes a discursar em Chicago, mas queria agradecer-vos primeiro. Eu quero que saibam que isto não foi o destino e que não foi um acidente. Vocês fizeram isto acontecer. Organizaram-se bairro por bairro. Tomaram posse desta campanha com cinco e 10 dólares de cada vez. E nos tempos mais difíceis, continuaram. Vou passar o resto da minha presidência a honrar o vosso apoio e a fazer o que puder para terminar aquilo que começámos. Mas quero que se orgulhem, tal como eu me orgulho, da forma como conseguimos esta oportunidade. Hoje é a prova mais clara de que, mesmo contra todas as probabilidades, os americanos comuns conseguem superar interesses poderosos. Ainda há muito trabalho a fazer. Mas por agora: obrigado. ”6h27 Durão Barroso deu os parabéns a Obama no Twitter. O presidente da Comissão Europeia espera pode continuar a trabalhar com o Presidente norte-americano numa "relação de amizade ainda mais forte".
REFERÊNCIAS:
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Pais em 2012: Corajosos, irresponsáveis ou optimistas?
Como é ser pai em 2012? O PÚBLICO lançou a pergunta aos leitores do online e recebeu cerca de uma centena de respostas. (...)

Pais em 2012: Corajosos, irresponsáveis ou optimistas?
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-11-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Como é ser pai em 2012? O PÚBLICO lançou a pergunta aos leitores do online e recebeu cerca de uma centena de respostas.
TEXTO: Prometem substituir a Playstation por brincadeiras em poças de água. Seguram-se na importante almofada que é a retaguarda familiar — muitas vezes chamada avós. Fazem contas à vida e reclamam da falta de apoio do Estado às famílias. Alguns ponderam emigrar. Muitos estão desempregados. Todos se sentem inseguros mas quase todos se dizem optimistas. Os pais de 2012 tiveram filhos que são também filhos da criseTer um filho em 2012 é um acto de coragem, irresponsabilidade ou um sinal de optimismo? Lançámos a pergunta aos nossos leitores e esperámos pelas respostas. Recebemos muitas histórias que falam nessa parte tão importante da vida que é ter um filho. São todas diferentes e todas iguais. Diferentes nos detalhes e iguais na declarações de uma vontade, um sonho, um plano de vida que falou mais alto do que a crise. Apesar das muitas dificuldades, admitindo tantos medos e riscos, tiveram, em 2012, o primeiro filho ou mais um. Não interessa. Asseguram que vale a pena. Bárbara, Maria João, Filipe, André, Mariana, Mattia, Constança, Inês, Margarida, Júlia. . . são bebés nascidos na crise em Portugal. É verdade que nos testemunhos sobram as descrições de um sentimento que tem tanto de enternecedor como de ridículo. É verdade que os e-mails enviados são cartas de amor. “O nosso pequenote é a maravilha mais perfeita que existe (. . . ) Lutar nunca me pareceu tão material e humano, nunca me pareceu tão concreto. Quem diria que uns bracinhos tão pequenos e umas mãozinhas tão frágeis poderiam dar um empurrão tão forte?”, escreve Francisco Pessanha. “Para mim que sempre quis ser mãe, que crise pode ofuscar aquele sorriso de gengiva ainda despida todas as manhãs?”, pergunta Sofia Pereira, mãe de uma menina “mais planeada do que o 11 de Setembro” com quase 11 meses. Mesmo quando o discurso nos parece ser o mais realista possível, o coração acaba por sair pela boca. “Na minha opinião, e falando de uma forma mais fria, não há vantagens em ter um bebé. Choram, fazem cocós, chichis, trocam-nos os sonos, fazem-nos gastar bastante dinheiro (quartinho, banheira, roupas, cuidados de saúde, etc. ) e para não falar da vida atribulada para conciliar o trabalho com a rotina do bebé. Mas depois, quando ele dorme no nosso colo ou fica a olhar para nós, isso tudo é esquecido e sentimos que a vida ganha um novo propósito”, diz um pai que se identifica como RA. Queda brutal da natalidadeAs decepcionantes estatísticas da natalidade são conhecidas. Fala-se num “inverno demográfico” que dura há 30 anos e que se agrava a cada ano que passa. No início deste mês uma das notícias do PÚBLICO referia em título que “2012 vai ser o ano com menos bebés de que há registo”. Até ao final do ano, o número de crianças nascidas em Portugal não deverá ultrapassar os 90 mil e, com isto, o país é “campeão” nos dados que confirmam a queda da taxa bruta de natalidade na Europa. Cientistas, Governo, Presidente da República, Igreja unem-se no apelo que diz que Portugal precisa de mais bebés. Porém, estas vozes são abafadas pelo poderoso grito da crise que nos exige cada vez mais cortes e contenção. Os pais de 2012 vivem ao som deste grito. Nos testemunhos enviados ao PÚBLICO, todos fazem contas à vida. Nas histórias onde o desemprego não está de facto já presente, a pura ameaça assusta. E, mais uma vez, a terrível estatística: 15, 9% da população portuguesa está desempregada. Alda Silva chora com medo e chora de rir. As lágrimas que caem por causa do medo são pelo dia de amanhã. As que são empurradas pelas gargalhadas são da inteira responsabilidade de Maria João, com pouco mais de um ano. A filha de Alda nasceu quando a mãe tinha trabalho. No final da licença de maternidade, o contrato acabou e Alda ficou no desemprego. Alda e Maria João estão 24 horas juntas. “Como vivo? Vivo com medo. . . muito medo do incerto”, escreve. Nunca como agora o argumento de “ter condições” para ter um filho foi tão influente. Esta não é a melhor altura para aumentar encargos. Em troca ouvimos de resposta o que também já sabemos de antemão: é muito difícil reunir todas as condições para ter um filho, em tempo de crise ou sem ela. O pediatra Mário Cordeiro está deste lado: “Não creio que se deva ser leviano, quanto ao ter filhos, mas também não se deve pensar ‘de mais’ no sentido de só os ter quando estiverem reunidas ‘todas as condições’. Nunca será o caso. ”“Não há momentos perfeitos!”, confirma Mariana Castro, uma das mães de 2012, que quando contou à sua mãe que estava grávida viu o sorriso da futura avó suspenso por causa da crise. “A minha mãe ficou assustada, disse que as coisas estavam complicadas e que estando a crise longe de acabar tinha sido um pouco precipitado. ” Casada desde 2009, Mariana não quis mais adiar o sonho. Hoje a filha tem mais de nove meses e a somar às “dificuldades, desemprego, trabalhos pouco estáveis, etc. ” há as contas com as “vacinas fora do Plano Nacional de Vacinação, os leites, os remédios”. Pronto, as condições perfeitas não existem. Mas. . . agora? Porquê agora? Porquê logo agora em plena crise? A socióloga Vanessa Cunha acredita que o “factor idade” será um dos mais determinantes na decisão. “Muitas destas pessoas não podiam esperar mais e não quiseram adiar o projecto de parentalidade, sob pena de o comprometer. Muitas terão pensado “é agora ou nunca”. A socióloga acertou na ideia que se repete em muitos testemunhos e acertou mesmo na frase exacta. “Tenho 38 anos e estou grávida do segundo filho. O primeiro tem nove anos. Eu e o pai decidimos ter este filho porque estamos os dois com cerca de 40 anos e estamos cansados de esperar por um contexto económico mais favorável, que nunca chega! (. . . ) Como a vida não espera por nós, decidimos que era agora ou nunca!”, diz Patrícia Costa. Almofada familiarHá o alarme do relógio da fertilidade mas há também o que Vanessa Cunha chama “almofada familiar”. Chegamos aos avós, algo que pode fazer toda a diferença entre ter e não ter (mais) um filho. Podem ser outros membros da família, mas em alguns dos testemunhos enviados está a referência (e uma reverência) aos avós. Ou porque ajudam financeiramente — pagando algumas contas e compras — ou, simplesmente, porque estão ou vão estar lá, para tomar conta dos netos ou para ir buscá-los à creche. Os avós servem de almofada e também de inspiração pelo seu passado. São muitas as frases dos pais de 2012 que começam com a expressão “no tempo dos meus avós”. Um tempo também difícil mas em que tudo se arranjava, em que havia sempre espaço para mais um na mesa e os filhos “se criavam”. Uma ideia demasiado romântica para as expectativas que temos hoje para os nossos filhos, avisa Vanessa Cunha. É que o tempo desses avós foi também um tempo em que muitas crianças apenas completavam o 4. º ano de escolaridade e depois iam trabalhar, um tempo em que os nossos indicadores de mortalidade infantil estavam muito longe do sucesso e progresso que foi conquistado nos últimos 30 anos. “Acho que ninguém quer voltar atrás, até esse tempo”, corrige Vanessa Cunha. A “almofada familiar” torna-se ainda mais essencial na decisão de ter um filho perante a escassez de apoios públicos à família. Os pais queixam-se. “A falta de oferta pública de infra-estruturas torna um bebé muito caro e condiciona com certeza muitas famílias em terem um ou mais filhos”, acredita Rita Cabaço, 35 anos, mãe de um filho. A falta de creches públicas é um alvo concorrido nas histórias dos pais de 2012 mas critica-se também a insuficiência de subsídios de apoio e, especificamente, as alterações drásticas no abono de família. “Havia um contrato de cooperação entre o Estado e as famílias e as regras foram radicalmente alteradas, sem qualquer perspectiva futura”, nota Vanessa Cunha. A Associação Portuguesa de Famílias Numerosas tem denunciado este Estado ausente e negligente. “É preciso que o Estado reconheça os encargos que as famílias com filhos a cargo têm e que estes deverão ser contabilizados na hora de avaliar a capacidade financeira das famílias: neste momento, para o cálculo da taxa do IRS e para a isenção das taxas moderadoras, os filhos contam zero, enquanto para o abono de família valem apenas como meia pessoa”, lê-se num comunicado publicado este ano no site. Karin Wall, socióloga e investigadora principal do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa e directora do Observatório das Famílias e das Políticas de Família, acha que este abandono que os pais de 2012 sentem em relação ao Estado é legítimo. As alterações ao abono de família já em 2004, com Bagão Félix, deixaram de fora uma grande parte das famílias, reservando para este apoio apenas os mais pobres. O cheque mensal não era elevado mas, sublinha a directora do Observatório das Famílias, “é uma mensagem que o Estado dá de apoio às famílias e que deixou de existir”. “No caso de apoio económico às famílias, há uma série de instrumentos que passaram de um esquema universal para um selectivo”, constata. Mas Karin Wall põe alguma água na fervura. “Há apoios em várias áreas. Na última década houve um empenhamento grande para aumentar o número de creches que são subsidiadas pelo Estado e que funcionam como IPSS (instituições particulares de solidariedade social). A taxa de cobertura para creches e amas entre os 0 e os 3 anos aumentou para 37%, acima do objectivo europeu dos 33%”, contrapõe. A mensagem que hoje vem do Estado é aguentar, consumir menos, cortar, racionalizar. Algo que bate de frente com o crescer de uma família. Quando se tenta conciliar a crise que se tem com os filhos que se quer, é inevitável mudar. Mudar tudo, desde a casa, à cidade, ao modo de viver e até de brincar. “A crise pode ser uma ocasião de repensar o que se gasta com as crianças, como se gasta e quando se gasta”, defende o pediatra Mário Cordeiro. Sem Barbies e sem consolasCarolina tem 16 meses e é a filha de Cristiani Oliveira, uma brasileira a residir em Portugal há mais de dez anos. “Diante de todos os meios electrónicos e prendas caras, sabe quais são os brinquedos e brincadeiras favoritas da minha filha? Bolas de sabão, correr no parque, brincar na beira do mar. Tudo grátis ou quase. (. . . ) Ser pai em tempo de crise é difícil de facto para as classes mais baixas, quando há a preocupação de ter ou não pão na mesa todos os dias. Quanto à classe média, que é onde me incluo, custa-me ver o discurso ‘zero filhos’ ou ‘um filho’ quando a preocupação é se poderão ou não dar uma Playstation, as viagens mais caras, um consumismo desenfreado, etc. ”, escreve a mãe de Carolina. “Cresci sem Barbies, sem consolas, em escolas públicas, a andar de autocarro, a ir ao restaurante só em aniversários, a receber poucas prendas no Natal, a estimar e poupar os meu brinquedos, a partilhá-los com os meus cinco irmãos, a saltar para as poças de água de galochas, a fazer casas-na-árvore, a arrancar rabos às lagartixas. (. . . ) Hoje tenho um filho e quero poder dar-lhe tudo! Tudo é também as poças, a chuva, os passeios no campo, os dias na praia, o sol, uma boa educação, escolas melhores, gente educada à sua volta, a lua e uma ou muitas voltas ao mundo!”, diz Joana Brandão, 35 anos, “actriz desempregada, casada — feliz, mãe de um filho de três anos e grávida de três meses”. “Ainda bem”, reage Vanessa Cunha, vendo as vantagens de, “perante a adversidade, sermos capazes de repensar a forma de estar na vida”. “A nossa geração — que agora está a ter filhos — foi em grande parte educada com alguma facilidade no acesso ao consumo. Este pode ser um momento de reavaliação. ” A socióloga insiste: “A crise não toca todas as famílias da mesma maneira. ”Assim, se uns vão prescindir de (ou adiar) uma viagem à Eurodisney, mudar de carro ou comprar uma casa maior, brincar numa poça de água em vez de comprar uma Playstation, outros terão de tomar opções bem mais difíceis. “Tenho 25 anos, sou licenciada em Relações Públicas e Comunicação Empresarial, o curso pouco importa, o meu maior objectivo nesta vida era ser mãe”, começa Teresa Nascimento. O filho nasceu em Março de 2012. E agora? “É muito duro, todos os dias é uma luta constante”, conta. Teresa que ganha 560 euros por mês pelo trabalho especializado que faz “a preço de saldo” para um empresa. O marido ganha pouco mais do que isso. A renda é de 350 euros e, contabiliza, “a mensalidade da creche será de 180 euros”. E é então que, diz, “o engenho aguça”. “Nunca compramos Dodots, lavamos com água como antigamente, com panos turcos, não compramos comida feita, fazemos tudo, o nosso bebé nunca comeu uma farinha comprada (. . . ). O meu marido passou a ir a pé da estação de Entrecampos até ao Saldanha para poupar no passe, eu deixei de beber cafés e de comprar um lanche na rua, levo marmita como as operárias de antigamente. Não fazemos férias e não compramos nada por impulso, nunca soubemos o que era o prazer de comprar alguma coisa só porque gostávamos dela. Fazemos a planificação do mês no mês anterior, aceitamos roupa de quem queira oferecer, tanto para nós como para o menino”, descreve. Por coincidência, 20 minutos depois de recebermos o testemunho de Teresa Nascimento, chega o relato de César Medalha Pratas. As diferenças saltam à vista. “Eu e a minha mulher temos proveniências de famílias de classe média-alta. Crescemos com acesso a todo o tipo de bens e nunca passámos dificuldades sérias!”, conta o advogado, casado com uma psicóloga clínica. Ter um filho era um desejo com algum tempo e fazê-lo acontecer em 2012 é uma aventura. Também aqui houve mudanças, ainda que muito distantes da realidade de Teresa. “Sabíamos de antemão que iríamos fazer concessões ao nosso estilo de vida desafogado! E assim foi, fizemos um plano e temos de o cumprir, sob pena de vermos o crescimento do nosso filho complicado! Trocámos de casa, mas não para a casa que sonhávamos, teve de ser uma casa bem mais pequena do que a que tínhamos projectado. Deixámos de jantar fora três ou quatro vezes por semana, e as duas ou três vezes por ano que viajávamos para fora do país deixaram de existir. . . ”Emigrar e não emigrarEmigrar também pode ser uma solução, dizem estes pais. E há quem já o tenha feito, quem esteja a pensar nisso e quem tenha encontrado um meio-termo. Rita Cabaço enviou o seu relato e o seu retrato de família: a mãe e o filho André (agora com dez meses) sentados num sofá e o pai. . . numa imagem digitalizada no computador. “Depois de engravidar, o meu namorado deixou de ter trabalho em Portugal e teve de emigrar. Passei o fim da gravidez sozinha e agora estou também sozinha a tomar conta do bebé que tem nove meses, o que é desgastante fisicamente e também emocionalmente”, conta. Mário Baptista entretanto voltou, mas como não consegue arranjar emprego pondera voltar a sair do país. Nuno Frade escolheu uma estratégia diferente e optou por emigrar. . . sem ter de emigrar. Nuno, 34 anos, vivia na grande Lisboa onde um dia ficou desempregado. Há dois anos decidiu com a sua companheira Paula, de 30 anos, procurar “um cantinho com qualidade de vida” e criar um negócio próprio. “A Margarida nasceu a 14 de Setembro na Maternidade de Portalegre e foi registada em Marvão, uma das regiões mais desertificadas de Portugal. ” Um lugar onde “as crianças são tratadas como tesouros” e onde Margarida não será mais um número, acredita os pais. Os dados do Censos 2011, divulgados esta semana, mostram que em 2011 o número de núcleos familiares “casal com filhos” continuava a ser o predominante (mais de um milhão e 600 mil famílias com esta estrutura), mas menos do que em 2001 quando o valor ultrapassava um milhão e 700 mil. As famílias estão também mais pequenas, diz o Censos de 2011. Vanessa Cunha, que é a principal autora de uma investigação que concluiu que as famílias com filhos únicos poderão atingir um número recorde e tornar-se maioritárias na geração dos que estão entre os 30 e 40 anos, reforça esta tese. “Esta geração vai fazer as opções mínimas de parentalidade”, diz. E não é necessariamente porque querem. Muitas vezes o número de filhos que têm não coincide com os que gostariam de ter. Nas histórias contadas pelos pais de 2012 não encontrámos retratos catastróficos — ainda que um pai de família tenha profetizado com uma certeza inabalável a chegada de uma III Guerra Mundial — nem vidas de fome e miséria nua e crua. As pessoas que tomaram esta decisão em 2012 e que estão a sofrer por causa disso não aparecem nestes testemunhos mas existem em Portugal. “Há pessoas que tiveram filhos e que estão numa situação terrível”, lamenta Karin Wall, que lembra que a taxa de risco de pobreza está muito acima da média nas famílias com desempregados, famílias numerosas (a partir de três filhos) e monoparentais. “Estas, definitivamente, precisam de apoio”, alerta. E, por fim, uma certeza: se o PÚBLICO tivesse feito a pergunta ao contrário e procurasse as pessoas que, em 2012, abandonaram ou adiaram a decisão de ter um filho por causa da crise, a história a contar seria muito diferente. “Há muitas pessoas à espera de melhores dias”, diz a socióloga Vanessa Cunha. Karin Wall concorda: “Há pessoas que estão numa situação muito vulnerável e que vão esperar por melhores condições para ter o filho ou os filhos que querem. ” Podem até ser mais do que os pais de 2012. Leia mais na Revista 2 deste domingo, dia 25 de Novembro, ou na edição online exclusiva para assinantes.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra filha campo filho educação mulher fome social consumo medo pobreza desemprego infantil
Jovens recorrem ao microcrédito para recuperar negócios abandonados pelos patrões
Em 2012, foram creditados 174 negócios, num montante de 1,3 milhões de euros, responsáveis pela criação de 218 postos de trabalho. (...)

Jovens recorrem ao microcrédito para recuperar negócios abandonados pelos patrões
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.1
DATA: 2013-02-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em 2012, foram creditados 174 negócios, num montante de 1,3 milhões de euros, responsáveis pela criação de 218 postos de trabalho.
TEXTO: Quatro em cada dez negócios abertos através do microcrédito, em 2012, foram de empreendedores com menos de 30 anos, muitos dos quais recuperaram negócios abandonados pelos antigos patrões, segundo a Associação Nacional de Direito ao Crédito (ANDC). Dados ainda não definitivos da ANDC indicam que, em 2012, foram creditados 174 negócios, mais dez do que em 2011 e mais 24 do que em 2010. Além dos 174 projectos creditados, num montante de 1, 3 milhões de euros, responsáveis pela criação de 218 postos de trabalho, encontram-se a aguardar crédito mais 42 processos. “Em 2012, 40% dos projectos creditados foram de empreendedores com menos de 30 anos, o que é uma alteração muito grande no nosso universo”, disse esta segunda-feira à agência Lusa Edgar Costa, gestor operacional de microcrédito, acrescentando que “muitos deles estão a pegar em negócios que os patrões estão a fechar”. Fazendo um balanço de 2012, Edgar Costa disse que se registou um “comportamento diferente” entre o primeiro e o segundo semestre. Até Junho, os projectos aprovados aumentaram 50%, em relação a igual período de 2011. "[O segundo semestre foi] relativamente mais fraco do que o habitual, o que interpretamos com algum receio face às expectativas e incertezas por causa da crise”, disse o gestor, explicando que as pessoas tiveram receio de arriscar em novos negócios. Contudo, a procura começou a retomar no final do ano e em Janeiro registou-se, novamente, “bastante procura”. “Houve um impacto muito grande das medidas de austeridade adicionais e as pessoas pensaram que 2013 iria ser um ano muito difícil, como vai ser, mas, ainda assim, não vamos fechar as portas do país, vamos continuar a ter de fazer a nossa vida, comprar as nossas coisas e foi isso que as pessoas perceberam”, comentou. Sobre os negócios mais procurados, Edgar Costa disse que “o alojamento e a restauração ainda se mantêm com alguma preponderância”. Deu como exemplo os restaurantes que estão a fechar: “É possível reabrir restaurantes com outro tipo de serviço e por menor preço”, disse. A associação também está a registar muitos pedidos por parte de jovens com formação superior para negócios na área de consultoria e tecnologia e por parte de imigrantes. Etes últimos representam já 13% dos projectos. A taxa de sucesso é de 70%, mas há negócios que não chegam ao fim, uns por razões pessoais e outros porque as expectativas não saíram correctas. A maior parte paga o seu crédito, mesmo que o negócio encerre. “Alguns créditos são relativamente pequenos e as pessoas fazem um grande esforço, mas acabam por pagar”. O valor do empréstimo pode ir até aos 15 mil euros, mas a média situa-se nos 7500 euros, sendo as mulheres quem mais recorre ao microcrédito. O maior número de negócios encontra-se na região de Lisboa (38, 6%), seguindo-se o Norte (24%), Centro (21%), Alentejo (10, 4%) e Algarve (5, 9%). Há também cada vez mais imigrantes a solicitarem um microcrédito, representando cerca de 13% dos projectos. Os jovens entre os 25 e os 35 anos são os que mais arriscam num negócio (35, 7%), seguindo-se o grupo 35/45 anos (28, 1%), dos 45/55 anos (18%), com menos de 25 anos (12, 1%), entre os 55 e os 65 anos (5, 8%) e os maiores de 65 anos (0, 3%). A maioria dos empreendedores tem o ensino secundário (30, 4%), 14, 1%, o ensino superior, e 5, 5% tem frequência universitária.
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Palavras-chave mulheres
Uma mulher portuguesa e outra moçambicana raptadas em Maputo
Vaga de raptos intensifica-se em Moçambique. (...)

Uma mulher portuguesa e outra moçambicana raptadas em Maputo
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-11-05 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20131105170213/http://www.publico.pt/1611402
SUMÁRIO: Vaga de raptos intensifica-se em Moçambique.
TEXTO: Duas mulheres foram raptadas na manhã desta terça-feira em Maputo, uma de nacionalidade portuguesa e outra moçambicana, naquele que está a ser o dia mais dramático desta vaga de crimes. Depois da informação já confirmada pelo cônsul geral de Portugal em Maputo, Gonçalo Teles Gomes, do rapto de uma cidadã portuguesa esta manhã, na cidade satélite da Matola, a agência Lusa recebeu indicações de um outro caso que visou uma mulher moçambicana de 33 anos, ocorrido por volta das 8h no bairro Laulane, nos arredores da capital moçambicana. Em declarações à Lusa, Samuel Maibasse, responsável de segurança da organização não-governamental (ONG) Save the Children, disse que a mulher de um dos funcionários desta ONG foi esta manhã raptada na sua residência, perante os seus filhos, irmã e cunhado, alegadamente por cinco homens. "A primeira pessoa trazia uma pasta - o cunhado do meu colega (que presenciou o crime) disse que pensavam que eram da Electricidade de Moçambique - de onde tirou uma pistola, mandou as crianças deitarem-se, começou a recolher telefones e exigiu dinheiro, levaram computadores e mais coisas, e, no final, levaram com eles a esposa", disse Maibasse. "Disseram para não informar a polícia e foram-se embora. Ele [o colega de trabalho] informou logo a polícia. Ainda não temos clareza se é rapto ou se queriam roubar e a levaram para protecção deles", acrescentou o responsável. Já o rapto da cidadã portuguesa ocorreu no interior da empresa onde exerce funções de gestora financeira. Este é o segundo rapto conhecido envolvendo cidadãos portugueses, de uma onda de sequestros que começou em 2011 e que tem visado sectores abastados da sociedade moçambicana. Os familiares da vítima já foram informados do sucedido, mas a identidade da vítima e da empresa não foram divulgados. As autoridades portuguesas estão a acompanhar o caso, que já foi reportado à polícia moçambicana, disse à Lusa o cônsul geral de Portugal em Maputo, Gonçalo Teles Gomes. O secretário de Estado das comunidades, José Cesário, afimou também à Lusa que “tem mantido contactos permanentes com o Governo moçambicano” através da embaixada em Maputo e do cônsul geral, “no sentido de haver toda a atenção” em relação a estes casos. “Continuamos a transmitir ao Governo moçambicano toda a preocupação relativamente ao bem-estar e à segurança de cidadãos portugueses que estão em Moçambique”, disse o secretário de Estado das Comunidades. Admitindo que notícias como esta criem “algumas preocupações” entre a comunidade, José Cesário reiterou os apelos para que os emigrantes “tenham cautela e cuidado”. Os raptos de cidadãos ocorrem em Moçambique desde 2009, mas o fenómeno acentuou-se nos últimos meses, nos principais centros urbanos, o que levou já o Governo português a recomendar cautelas em Maputo. A situação político-militar instável fez também que o executivo português desaconselhasse deslocações nas províncias de Sofala e Nampula. O aumento da criminalidade e a situação política foram igualmente o mote de uma grande manifestação na semana passada.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime homens mulher comunidade mulheres rapto