Cultura e economia influenciam a decisão sobre quem morre num acidente
Investigação analisou 40 milhões de decisões para tentar perceber quem é que o mundo prefere salvar em caso de acidente com carros autónomos. (...)

Cultura e economia influenciam a decisão sobre quem morre num acidente
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Investigação analisou 40 milhões de decisões para tentar perceber quem é que o mundo prefere salvar em caso de acidente com carros autónomos.
TEXTO: Em caso de acidente, devem os mais velhos ser atropelados para salvar a vida de crianças? A profissão ou estatuto social devem ser tidos em conta? A vida de uma mulher grávida é mais importante do que a de um sem-abrigo? Os carros autónomos não terão apenas de saber andar por estradas com outros carros, peões e obstáculos. Também terão de se orientar pelos labirintos da ética quando tiverem de decidir que vidas poupar num acidente e que pessoas (ou animais) arriscar matar. São decisões que têm sido tomadas exclusivamente por humanos e que nem sempre são fáceis de explicar – muito menos de transformar em regras para serem executadas por máquinas. A Experiência da Máquina Moral é um estudo de enorme dimensão que tenta responder a algumas destas questões. Analisou quase 40 milhões de decisões tomadas numa plataforma online por pessoas de 233 países e territórios, que foram confrontadas com cenários de acidentes. O resultado, publicado agora na revista Nature, procura traçar um esboço dos padrões morais que regem o funcionamento das sociedades em várias partes do planeta. A investigação revelou três preferências mais pronunciadas: poupar vidas humanas em detrimento dos animais; poupar o maior número vidas possível; e privilegiar os mais novos. De forma menos acentuada, quase todos os países mostraram também uma tendência para poupar a vida de mulheres em vez da dos homens. Mas uma análise mais fina revelou diferenças nas decisões tomadas nos vários países, com opções sobre quem morre e quem vive que parecem seguir as linhas da desigualdade económica, do funcionamento das instituições e das tradições culturais – e que mostram que há divisões que tornam difícil a criação de regras globais. “Nunca na história da humanidade permitimos que uma máquina decidisse autonomamente quem deve viver e quem deve morrer, numa fracção de segundo, sem supervisão em tempo real. Vamos atravessar essa fronteira a qualquer momento, e não vai acontecer num cenário distante de operações militares”, escreveram os oito académicos autores do artigo, que são investigadores do MIT e da Universidade de Harvard, nos EUA, da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, e da Universidade de Toulouse Capitole, em França. “Precisamos de ter uma conversa global para transmitirmos as nossas preferências às empresas que vão conceber algoritmos morais e aos legisladores que os vão regular”, argumentaram. Os dados foram recolhidos através da Moral Machine, um site criado pelo MIT em 2016. De acesso livre, mostra aos utilizadores cenários de acidentes, com diferentes tipos de pessoas e diferentes desfechos. O utilizador tem de indicar qual a opção que prefere: por exemplo, deixar seguir o carro em frente e matar um peão, ou desviar o carro para uma barreira e matar os três ocupantes. O teste completo mostra aos utilizadores 13 cenários de decisão. No final, são pedidas informações como o género, idade, ideologia política e religião (perto de meio milhão responderam a este inquérito). A plataforma teve nestes dois anos grande atenção mediática, ajudando os investigadores a conseguirem os 40 milhões de respostas. Já tinham sido divulgadas análises preliminares dos dados e alguns dos investigadores que assinam o artigo também já tinham publicado outro estudo sobre o dilema ético dos acidentes. O site, no entanto, não abarca a complexidade dos acidentes reais, reconhecem os investigadores: os cenários mostrados na Moral Machine têm sempre desfechos de vida ou de morte certa (não há feridos, nem é indicada uma probabilidade morte) e também não estão contempladas questões como a relação entre os indivíduos (por exemplo, se são casados). A equipa ressalva ainda que as preferências morais das pessoas não têm necessariamente de se transformar em leis. Como o artigo refere, a ideia de proteger as crianças é contrária ao que foi decidido na Alemanha, um país com uma forte indústria automóvel e que já estabeleceu regras para o comportamento ético de carros autónomos. A Alemanha determinou que não pode haver discriminação das vítimas com base em qualquer tipo de factor, como o género ou idade. Pelo contrário, na Moral Machine, os tipos de pessoas com mais probabilidade de serem salvos (quando comparados com a probabilidade de um adulto) foram, por esta ordem, os bebés, raparigas, rapazes e mulheres grávidas. É uma lista de preferências em que médicos, atletas e executivos (de ambos os géneros) são privilegiados, onde os mais velhos são remetidos quase para o fim, e na qual os cães aparecem antes dos criminosos. O estudo detectou diferenças de decisão tanto entre países, como entre grupos de países (foram analisados 130, dos quais tinha havido, pelo menos, 100 pessoas a fazer o teste online). A América Latina mostrou uma preferência maior por poupar mulheres e pessoas saudáveis, e uma menor tendência para diferenciar pessoas e animais. Já no Oriente – um grupo onde os investigadores integraram a China, Japão e países islâmicos, como a Indonésia e a Arábia Saudita – a opção de poupar os mais novos é muito menos frequente. Uma análise país a país revelou, por seu lado, diferenças “altamente correlacionadas com as variações culturais e económicas”. Os países mais pobres e onde as instituições funcionam pior tendem a ser mais complacentes com os peões que atravessam fora das passadeiras. É algo que os investigadores sugerem poder estar relacionado com uma maior tolerância face ao incumprimento de regras. Já as sociedades com maior desigualdade económica mostraram uma preferência por diferenciar as potenciais vítimas com base no estatuto social. E a inclinação para poupar mulheres, embora observada em quase todos os países, foi mais forte naqueles em que as mulheres estão mais bem posicionadas em indicadores de saúde e sobrevivência. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Portugal – que neste mês fez testes com carros autónomos em estradas – surge alinhado com a média global em oito dos nove indicadores estudados. A diferença surge na maior preferência por poupar as pessoas cumpridoras da lei. Os dados revelam também uma proximidade ibérica no que diz respeito às opções éticas: Espanha é o país com decisões mais semelhantes às dos indivíduos em Portugal. O país mais distante de Portugal é Angola, que se destaca da média por uma muito menor tendência para salvar peões e uma muito maior preferência por poupar a vida de pessoas com estatuto social elevado. As diferenças observadas “sugerem que os fabricantes e os legisladores devem, se não dar-lhes resposta, pelo menos serem conhecedores das preferências morais dos países nos quais concebem políticas e sistemas de inteligência artificial”, concluem os investigadores. “Mesmo que as preferências éticas do público não devam ser necessariamente o principal decisor de políticas sobre ética, a disposição das pessoas para compraram veículos autónomos e tolerá-los nas estradas vai depender da aceitação das regras éticas que forem adoptadas. ”Para perceber o estado actual das competências digitais dos cidadãos a nível europeu, a rede europeia REISearch lançou o jogo iNerd. Com a pergunta “quão nerd é a Europa”, o objectivo é ajudar os participantes a perceber o conhecimento que têm em áreas como a inteligência artificial. Faz parte da terceira campanha do projecto lançado pelo Atomium – Instituto Europeu para a Ciência, Media e Democracia.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Esta casa de papel nasceu antes da República e resiste para contá-lo
De Saramago a Luandino Vieira, pela Tipografia Lousanense já passaram páginas de perder a conta em 133 anos. Hoje, a empresa já não vive só de livros. (...)

Esta casa de papel nasceu antes da República e resiste para contá-lo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-08-05 | Jornal Público
SUMÁRIO: De Saramago a Luandino Vieira, pela Tipografia Lousanense já passaram páginas de perder a conta em 133 anos. Hoje, a empresa já não vive só de livros.
TEXTO: O Commercio da Louzã ia no seu segundo ano de vida. O país fervilhava com a implantação da República e, no dia 14 de Novembro de 1910, a primeira página do jornal traz uma peculiar explicação aos seus leitores: “Não se tem este semanário publicado ha 5 semanas, quando o assumpto mais tem abundado por todo o paiz, depois da jornada de 4 para 5 d’outubro; não foi portanto a falta de assumpto nem a nossa má vontade que ocasionou tal interrupção, mas sim a falta duma machina onde está sendo impresso agora, que deviamos receber no fim de Setembro, vinda da Allemanha, e que pelo facto da revolução esteve detida 15 dias naquele paiz sendo só agora recebida”. O curioso relato é um entre os muitos episódios da vida de 133 anos da Tipografia Lousanense. A famosa máquina alemã já não mora na empresa centenária, mas outras há, não desse tempo, mas também antigas, nas instalações da gráfica, no centro da Lousã. É uma verdadeira “casa dos livros” tantos que ali passaram no prelo, recorda Ana Maria Ribeiro dos Santos, herdeira da tipografia, enquanto percorre um dos corredores da fábrica onde nas prateleiras se acumulam edições antigas e se vê ficção, cadernos escolares, livros técnicos. A tipografia nasceu em 1885 e está desde 1898 (há 120 anos) sob a liderança da família Ribeiro dos Santos. Atravessou todas as transformações tecnológicas da indústria gráfica – dos tipos em madeira e chumbo à impressão digital, passando pelas máquinas offset. E resiste, na Lousã, apesar das dificuldades dos últimos anos e da crise do mercado livreiro. Os rostos da empresa, hoje, são três. Ana Maria, de 64 anos, é a administradora, e ao seu lado tem as filhas Filipa (directora de produção, de 39 anos) e Ana Torres (directora comercial, de 29). É um tempo de passagem do testemunho, como já foi no passado. E tempo de mudança: a tipografia já não é apenas a casa dos livros onde foram impressos José Saramago, Álvaro Cunhal, Mia Couto, Pepetela, Luandino Vieira, Daniel Sampaio, Freitas do Amaral, Adriano Moreira ou Marcelo Rebelo de Sousa. É uma casa de papel, que já não se dedica apenas à ficção e à não-ficção, mas a toda uma indústria gráfica que está para além disso – e esse é o segredo da sobrevivência. Bater à porta das editorasTudo começou em Maio de 1885 numa brasonada casa da Lousã, o Palácio dos Salazares, quando o bibliógrafo Aníbal Fernandes Tomás funda um semanário de ideais liberais e republicanos, o Jornal da Louzan, antecessor do Commercio da Louzã e de outros títulos. Bernardino Lopes Padilha, homem da terra, compra a tipografia e mais tarde vende-a ao bisavô de Ana Maria, Júlio Ribeiro dos Santos. É a partir dessa altura que se constrói toda uma história de cinco gerações. Primeiro, chegou a hora de o avô da actual proprietária assumir as rédeas do negócio. Hortênsio trabalhava na Medicina Legal em Coimbra e foi aí, pelos contactos angariados na universidade, que começou a levar as obras de professores para a Lousã. Lucília, a mulher, estava na fábrica e assim os dois a comandaram durante mais de 50 anos. Vem dessa altura a aposta no livro. Júlio, o pai de Ana Maria, assume a empresa depois da morte da mãe em 1983. Ana tinha estudado economia em Coimbra e do sector gráfico “sabia muito pouco”. Mas chegara o tempo de se dedicar à empresa, acompanhando o pai. Decide apostar no crescimento da empresa do livro, o que exigia “uma especialização dentro do sector da tipografia, por ser preciso máquinas especializadas em coser, cortar, vincar e dobrar as páginas”. Foi preciso ir para Lisboa bater à porta das editoras. Ana Maria decide tentar a Caminho, por mais que o pai a avisasse: “Não temos capacidade para isso”. Mas a filha toma a decisão e marca uma reunião. Fato novo e lá foi, acompanhada da cunhada, falar com “o mestre Joaquim Correia”. Acabaram por trabalhar juntos durante décadas. E com outras tantas editoras: a Edições 70, a Almedina, a Plátano, a Didáctica. “A tipografia tem uma história de mulheres: a minha bisavó e a minha avó estiveram à frente da empresa. Mas quando comecei, ainda era a única mulher nas reuniões”, recorda a administradora. Ana Maria conheceu muitos autores e editores: indo às suas casas, outros na Lousã. A gráfica Peres, entretanto encerrada, fazia as grandes tiragens da Caminho e a Lousanense assegurava as mais baixas, de 30 ou dez mil exemplares. Quando José Saramago ganhou o Nobel em Outubro de 1998, Ana Maria tinha em mãos vários títulos do escritor. “Tivemos de garantir 200 mil livros num mês e pouco. Assim que fazíamos três ou quatro mil exemplares de um, mandávamos distribuir; ficavam prontos mais cinco ou seis mil de outro, seguiam. Os distribuidores chegaram a estar à porta à espera”. Coordenou toda essa operação – e um dia Saramago ligou a agradecer. Foi um “privilégio”. Como fora o telefonema de Álvaro Cunhal em 1994, convidando-a a assistir à apresentação de A Estrela de Seis Pontas (Edições Avante!). E Ana Maria lá estava no 14 de Dezembro, no Hotel Altis em Lisboa, a ouvir Cunhal confirmar que Manuel Tiago era o seu pseudónimo. Um “segredo de polichinelo de toda a gente conhecido”, como escreveria Torcato Sepúlveda no PÚBLICO alguns dias depois. Dar a volta e continuarDos anos 1980 até à viragem do século, a tipografia conseguiu crescer em volume de facturação. Depois vieram os anos de chumbo. As empresas à volta encerravam. Na Lousã, os stocks de papel acumulavam-se no armazém, os clientes de sempre não garantiam a cadência das máquinas. O maior desafio surgiu quando o grupo Leya deixou de imprimir na tipografia. “Trabalhávamos com 60-70-80% da produção da Caminho, da Oficina do Livro e da Editorial de Notícias [actual Casa das Letras] e de um momento para o outro ficámos sem editoras”, conta Ana Torres, hoje directora comercial. Foi preciso reposicionar a empresa, fazer certificação da produção, renegociar com os bancos, encontrar um caminho. Ana lembra-se bem desses dias difíceis. “Nunca deixámos de pagar um ordenado, mas tivemos muita dificuldade em pagá-los. Muita. E tivemos de fazer um plano de pagamentos dos subsídios”. A empresa tinha 65 trabalhadores. Uns aceitaram sair, outros aposentaram-se. Hoje são 29 na empresa, onde também o filho mais novo de Ana Maria Ribeiro dos Santos, de 19 anos, já tem tarefas na área digital. Antes da saída da Leya, o livro representava cerca de 80% do portefólio da tipografia, o que obrigou a diversificar a produção, passando a apostar mais em catálogos, materiais de embalagem, manuais de instruções para equipamentos. “Tudo o que não fazíamos passámos a fazer”, conta Ana Torres. Agora há três empresas âncora nesse segmento: uma de fabrico de luvas, uma de componentes eléctricos e uma empresa de licor. Filipa, a filha mais velha, estudou gestão, e Ana fez marketing. E com elas a direcção da empresa foi-se adaptando aos tempos. Resume a mãe: “É uma empresa antiga com um espírito jovem. Os meus filhos criaram uma dinâmica como se a tipografia tivesse meia dúzia de anos”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A gráfica continua a imprimir livros – os livros da Fundação Calouste Gulbenkian, as chancelas da editora 20-20 (Cavalo de Ferro, Vogais, Nascente e Elsinore) e muitos manuais escolares de editoras portuguesas que trabalham com Timor-Leste, Moçambique e Angola. Depois do período crítico, a tipografia voltou a crescer no livro, com outra dimensão. Se antigamente quem lá trabalhava se habituara a comprar camiões de papel, agora, o comum é encomendar uma palete de cada vez, à medida da produção. “Em vez das grandes quantidades, temos um novo desafio – produzir uma unidade pelo menor custo possível”, sintetiza Ana Torres. A empresa factura por ano cerca de um milhão de euros. Metade do volume de negócios vem do mercado livreiro e a outra metade das restantes áreas de negócios. Nos momentos mais difíceis, Ana Maria lembrava-se de como a empresa conseguiu sempre resistir, de como o avô tivera dívidas e o pai resolvera a situação, investindo e crescendo. “São ciclos de vida. É preciso ter a resiliência de dizer: ‘Nós vamos conseguir’”. Com esse espírito faz a passagem da empresa aos três filhos: “É mais fácil desistir do que continuar. Continuar é uma luta de todos os dias”.
REFERÊNCIAS:
Claude Barras encontra a Disney no orfanato
Nomeações para o Óscar, selecção para Cannes, uma aclamação sem paralelo para uma animação artesanal sobre um órfão que refaz a sua vida. A Minha Vida de Courgette, diz o seu realizador, está entre Ken Loach, Walt Disney e Wallace & Gromit. Como diz? (...)

Claude Barras encontra a Disney no orfanato
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-23 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181023181420/https://www.publico.pt/n1771374
SUMÁRIO: Nomeações para o Óscar, selecção para Cannes, uma aclamação sem paralelo para uma animação artesanal sobre um órfão que refaz a sua vida. A Minha Vida de Courgette, diz o seu realizador, está entre Ken Loach, Walt Disney e Wallace & Gromit. Como diz?
TEXTO: “Estou a viver numa redoma, como se não fizesse realmente parte da realidade e tivesse de lá voltar daqui a uns tempos. . . ” Não é para menos: há dois anos, o suíço Claude Barras (n. 1973) era mais um dos devotos da técnica do stop-motion (animação de marionetas fotograma a fotograma) que trabalhava por militância, por amor à arte. Hoje, quando o encontramos no Museu da Marioneta, em Lisboa, por ocasião do festival de cinema de animação Monstra (onde vencerá o Grande Prémio dias mais tarde), Barras traz na mochila – para além de duas caixas de madeira das quais falaremos mais à frente – a nomeação para o Óscar de melhor longa-metragem de animação e para o Prémio Lux do Parlamento Europeu, e o triunfo na categoria de animação nos Césares e nos Prémios do Cinema Europeu. Tudo isto depois da estreia na Quinzena dos Realizadores de Cannes em 2016 ter lançado A Minha Vida de Courgette, a sua primeira longa-metragem, esta semana nas nossas salas, para um reconhecimento global que muito poucas animações (europeias mas não só) conseguem atingir. Ao longo de 20 minutos de conversa, Barras, afável e descontraído, não deixará de se referir aos “pequenos milagres” que parecem ter acompanhado todo o desenvolvimento de A Minha Vida de Courgette, adaptação de um livro do escritor francês Gilles Paris na qual trabalha desde 2009. Tem consciência que este tipo de percurso é – a palavra repete-se - “um milagre”: “Tenho a impressão de ter verdadeiramente encontrado as pessoas certas no momento certo, desde os meus produtores à Sophie Hunger, que escreveu a banda-sonora, passando pela Céline Sciamma [realizadora de Bando de Raparigas], que trabalhou na versão final do argumento e que às tantas me parecia conhecer-me há anos e escrever só para mim, ” sorri. “E tive também a sorte do filme ter estreado numa altura em que as pessoas precisavam de ter uma visão do mundo que fosse optimista. ”O que não era evidente: A Minha Vida de Courgette acompanha o percurso de um órfão – Icare de seu nome, Courgette como prefere ser conhecido - enquanto se habitua à vida numa casa de acolhimento, ao lado de outros miúdos sem pais ou vindos de famílias que não podem tratar deles. Mas o “milagre” - para citar o mote que o próprio realizador reitera – é a delicadeza com que o filme fala de coisas sérias, à altura do público mais jovem, sem escamotear questões difíceis nem delas fazer um bicho de sete cabeças. Barras anui, usando a Disney dos “velhos tempos” como exemplo, quando histórias como Bambi ou Dumbo não hesitavam em confrontar as crianças com medos ou tragédias. “Queria que o meu filme fosse como esses filmes, que se iam ver em família ao cinema e que todos podiam apreciar. Hoje em dia, quando se faz um filme de animação, obrigam-nos quase a fazê-lo só para crianças, tem de fazer parte de categorias específicas, 'dos 6 aos 12 anos'… Tudo está demasiado formatado e é muito difícil financiar um filme fora dessas categorias. ”Ora, Barras sempre pensou A Minha Vida de Courgette para “ser visto em família” - “um filme que fosse para miúdos mas suficientemente 'à parte' para que os adultos também o apreciassem. E é uma história que fala da família, do que é a família, a família de sangue e a família do coração. É um tema que tem muito a ver com a nossa sociedade cujos valores estão em mudança. ” Como ultrapassar os problemas de financiamento, então? “É preciso preparar tudo muito bem com o produtor, ” diz o animador. “Quanto mais dinheiro se tem, menos liberdade se tem. É preciso encontrar um ponto onde as expectativas dos financiadores, das televisões, não intervenham na formatação do filme. Até porque tenho uma abordagem minimalista da encenação, e esta não é uma história de acção, é um filme de emoções. ”Em parte, isso deve-se ao próprio método de rodagem, com o realizador a invocar o nome do britânico Ken Loach (Eu, Daniel Blake) como “modelo”. “Gravámos as vozes à maneira de Loach, com actores não profissionais muito próximos das personagens, a quem fizemos descobrir a história cena a cena. Acabámos com 30 horas de gravações que em seguida montámos ao longo de seis semanas – e é aqui que um produtor compreensivo é importante, porque vai perceber que perdendo aqui um pouco mais de tempo vamos ganhá-lo pelo fim da rodagem. Gravámos muito mais diálogos do que usámos, fui retirando tudo aquilo que era desnecessário, e montámos toda a estrutura da voz antes mesmo de ter feito o primeiro desenho, o primeiro storyboard. O «esqueleto» do filme são as vozes. ” (Parêntesis para explicar que, em Portugal, A Minha Vida de Courgette estreia maioritariamente dobrado em português, com a versão original a ser exibida apenas em algumas salas. )A gravação das vozes foi realizada em 2013, numa altura em que Barras já trabalhava no projecto há vários anos. “Em 2009 realizei uma curta que serviu como 'maqueta' do projecto, em 2011 tive a primeira conversa com os produtores e em 2012 começámos a montagem financeira”, explica. “A partir daí, A Minha Vida de Courgette implicou três anos de produção: um ano para fabricar os bonecos e os cenários, um ano de rodagem e um ano de pós-produção. ” Ao todo, a produção ocupou cerca de 50 animadores em 15 plateaux diferentes em simultâneo, e o papel do realizador é muito fluido: “Faço sobretudo direcção artística ao nível da concepção das personagens, dou indicações em termos de emoções, de intenções, mas a supervisora de animação ou o director de fotografia contribuem com o seu próprio savoir-faire. É preciso ir em frente e tomar decisões muito rapidamente, responder às pessoas. Procuro nunca duvidar do que estou a fazer, e quando tenho dúvidas não as partilho, resolvo-as sozinho; é um trabalho de equipa, e é preciso termos um clima criativo e positivo. ”Nomeado para o Óscar de melhor animação, a estreia do suíço Claude Barras com A Minha Vida de Courgette nunca condescende com miúdos nem graúdos. A animação em stop-motion é, já o sabíamos, delicada e paciente – uma escolha que Barras define como “militante”. “É um espaço de liberdade, de artesanato, ” defende. “Vivemos numa época demasiado rápida. Venderam-nos o progresso como algo que nos ia libertar, mas aconteceu exactamente o contrário. Quanto mais trabalhamos com computadores para ganhar tempo mais enchemos o tempo que ganhamos com trabalho. . . O stop-motion está fora disso tudo, é um espaço manual, de criação, como uma escultura que se vai revelando aos poucos. ” A referência a Ken Loach começa a fazer sentido. . . “Sim, sinto-me mais próximo da tradição do cinema social europeu, admiro imenso Loach, ou os irmãos Dardenne. Mas vi Loach dizer numa master class para não fazermos filmes pesados como ele, para fazermos as pessoas rir porque hoje é importante fazer rir. É por isso que admiro imenso os animadores da Aardman [o estúdio inglês por trás de Wallace e Gromit ou A Fuga das Galinhas]. Conhece a série de televisão que eles fizeram, Creature Comforts, onde foram para a rua gravar depoimentos de transeuntes e depois os colocaram na boca de animais? Adoro esse desfasamento entre o realismo e a fantasia. ”Que, de certa maneira, é exactamente aquilo que A Minha Vida de Courgette consegue ter, com as suas marionetas artesanais profundamente expressivas – e cuja verdadeira dimensão é revelada nas tais caixas de madeira que Barras trouxe consigo à Monstra, que contêm o “herói” Courgette e vários dos elementos que lhe dão vida. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os bonecos respondem a uma combinação de questões artísticas e de produção: “Levei em conta o dinheiro que tínhamos ao conceber as personagens, porque era preciso manter o orçamento razoável, mas ao mesmo tempo procurei virar as exigências do avesso, criando bonecos simples e fáceis de animar mas que fossem muito expressivos. As cabeças grandes em que reparou permitem-me fazer uma coisa pouco habitual na animação, que é focar o rosto das personagens, fazer grandes planos – dá-lhes uma materialidade, uma dimensão táctil que nos permite aproximar-nos delas e compreendê-las melhor. ”Tudo para chegar ao “final feliz” desta volta ao mundo que A Minha Vida de Courgette anda a fazer há um ano. “Uma ocasião única”, diz Barras, “de conhecer espectadores, realizadores, crianças… Conheci muita gente, falei muito sobre o filme e à volta do filme, e isso é importante, porque este é um filme feito para que se fale dele e à volta dele. Mas um filme é também a história da sua rodagem. E todos nós, que trabalhámos nele, vivemos nesta casa com estas personagens durante muito tempo numa amizade, numa colaboração, numa entre-ajuda. Agora, é preciso continuar a viver. . . ”
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Palavras-chave ajuda social
Benfica desloca-se a Guimarães nos "quartos"
Sorteio ditou deslocações dos três "grandes". FC Porto visita Leixões, Feirense acolhe Sporting e Benfica irá a Guimarães. (...)

Benfica desloca-se a Guimarães nos "quartos"
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Sorteio ditou deslocações dos três "grandes". FC Porto visita Leixões, Feirense acolhe Sporting e Benfica irá a Guimarães.
TEXTO: Realizou-se, esta sexta-feira, o sorteio dos quartos-de-final da Taça de Portugal. O jogo grande será realizado no Estádio D. Afonso Henriques, onde o Vitória de Guimarães receberá o Benfica. O Sporting vai deslocar-se a Santa Maria da Feira, enfrentando o Feirense. Nas meias-finais, os vencedores destas duas eliminatórias defrontar-se-ão pelo ingresso para o Jamor. Já o FC Porto não irá percorrer muitos quilómetros para o jogo dos "quartos": os portistas visitarão os vizinhos do Leixões no Estádio do Mar. A formação leixonense é a única sobrevivente da II Liga. Já o Desportivo das Aves, actual detentor da Taça, recebe o Sporting de Braga. O vencedor deste jogo vai defrontar o vencedor do encontro entre Leixões e FC Porto. O sorteio desta sexta-feira marcou a primeira época desde 2007-08 com os três "grandes" simultaneamente presentes nos quartos-de-final da prova rainha do futebol nacional. Jogo 1: V. Guimarães-Benfica Jogo 2: Feirense-SportingJogo 3: Desp. Aves-Sp. BragaJogo 4: Leixões-FC PortoSubscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. V. Guimarães / Benfica - Feirense/ SportingLeixões / FC Porto - Desp. Aves / Sp. Braga
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Palavras-chave rainha aves
Sorolla, um pintor optimista para descobrir no Museu de Arte Antiga
Primeira monográfica em Portugal deste pintor espanhol que viveu num mundo em transição e que não tinha medo da luz forte do Mediterrâneo. Mais conhecido pelas cenas à beira-mar, é Terra adentro que agora nos leva. Até 31 de Março. (...)

Sorolla, um pintor optimista para descobrir no Museu de Arte Antiga
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Primeira monográfica em Portugal deste pintor espanhol que viveu num mundo em transição e que não tinha medo da luz forte do Mediterrâneo. Mais conhecido pelas cenas à beira-mar, é Terra adentro que agora nos leva. Até 31 de Março.
TEXTO: Gostava de trabalhar ao ar livre porque lhe fazia falta o contacto directo com a natureza, os barulhos, os cheiros. Mesmo quando as telas eram de grandes dimensões, preferia estar num campo aberto a olhar para as montanhas, ou numa praia qualquer do seu Mediterrâneo, do que no estúdio. E isso deve-se, em boa parte, ao seu amor pela vida. “Sorolla teve duas grandes paixões — a mulher, Clotilde, e a pintura. E tudo o que lhe importa pintar é a vida, a realidade como ele a vê, com um optimismo que os intelectuais do seu tempo não lhe perdoam, mas que passa para tudo o que ele faz”, diz Consuelo Luca de Tena, directora do Museu Sorolla de Madrid, que está em Lisboa para inaugurar a exposição que abre esta sexta-feira no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA). Terra adentro: A Espanha de Joaquín Sorolla reúne 118 pinturas de Joaquín Sorolla y Bastida (1863-1923), um pintor espanhol que foi muito popular no seu país e fora dele, que está representado em grandes colecções europeias e norte-americanas, públicas e privadas, mas que em Portugal é ainda pouco conhecido. Oriundas sobretudo da sua casa-museu madrilena (só três pertencem a colecções privadas, uma delas à sua bisneta), legada ao Estado espanhol recheada de obras e objectos pessoais pela sua viúva, Clotilde García del Castillo, as obras expostas no MNAA dão uma perspectiva geral da carreira deste artista nascido em Valência, que fez parte da sua formação em Roma e que nunca chegou a pintar em Portugal, como planeara. Esta primeira monográfica de Sorolla em Portugal, composta por nove núcleos, marca também o regresso do pintor ao MNAA, que já lhe reservara uma sala na exposição que em 2015-2016 fez em torno da Colecção Masaveu. Importada do Museu Sorolla, Terra adentro concentra atenções na pintura de paisagem que o artista, celebrizado pelas suas cenas luminosas à beira-mar com pescadores, mulheres e crianças, regista nas suas incursões pelo interior, quando, no âmbito de um movimento regenerador que se estende a várias áreas, está apostado em contribuir para a criação de uma nova imagem de Espanha. Em Lisboa, no entanto, a exposição tem o dobro das obras para que possa tocar, também, outros aspectos da obra deste espanhol que costuma ser “arrumado” entre os impressionistas, mas cuja catalogação não é fácil. Olhar para Sorolla e mostrar a sua obra, escrevem no catálogo o director e o subdirector do MNAA, António Filipe Pimentel e José Alberto Seabra Carvalho, permite compreender melhor a pintura do final do século XIX e das primeiras décadas do século XX, “sem obediência às narrativas oficiais e académicas que, por assim dizer, passam do impressionismo e do pós-impressionismo para o cubismo ou o modernismo, como se entre ambos mais não tivesse havido do que um deserto”. As obras “acrescentadas” a Terra adentro concentram-se nas últimas salas, onde estão arrumadas as cenas de praia que o tornaram popular, como as luminosas Meninas no Mar (1909) e Mar e rochas de San Estebán (1903), e os estudos de grandes dimensões que fez para a maior encomenda que recebeu em toda a sua carreira, a do ciclo para a biblioteca da Hispanic Society of America, em Nova Iorque, fundada pelo filantropo Archer M. Huntington. Neles se podem ver vários tipos tradicionais, mostrando a riqueza de costumes e actividades das diversas regiões de Espanha, em cidades como Segóvia, Ávila e Salamanca. “Nestes estudos de tipos, que nas pinturas finais parecem ganhar vida, como no cinema, ele regista todo um folclore que está a desaparecer dentro do novo movimento nacionalista, que quer dar a Espanha uma imagem nova, uma identidade nova”, diz Carmen Pena, a comissária da exposição. Foi no âmbito desta encomenda para a Hispanic Society que Sorolla, explica ao PÚBLICO o subdirector do MNAA, planeou uma vinda a Portugal: “Ele não vem por causa da agitação do sidonismo, mas tencionava vir. A perspectiva da encomenda da Hispanic Society vai no sentido de registar as regiões da Ibéria, da Hispânia, e, nesse caso, trata Portugal como se fosse mais uma. ”Portugal surge apenas uma vez nestas obras etnográficas em que Sorolla parece querer “salvar a memória da Espanha antiga, salvá-la do esquecimento que a industrialização quer impor”. É numa pintura em que se vê, na outra margem do Guadiana, a silhueta da vila raiana de Castro Marim, com homens e mulheres em trajes tradicionais do Algarve e, inusitadamente, do Minho. O desconhecimento que Portugal tem da obra de Joaquín Sorolla não é fácil de explicar, já que a sua popularidade em vida foi grande, tanto em Espanha como nos Estados Unidos. Lembra a directora do Museu Sorolla que o pintor atraiu multidões nas suas primeiras exposições norte-americanas, em 1909. Cidades como Buffalo, Boston, Chicago e St. Louis tiveram filas à porta dos museus e em Nova Iorque bateu recordes de visitantes. “Mais de 200 mil pessoas foram a esta exposição em Nova Iorque, que durou um mês. Foi um êxito delirante que lhe valeu encomendas para muitos retratos, incluindo o do Presidente americano William Howard Taft. ”Segundo o diário El Español, Sorolla levou para essa digressão americana um número impressionante de pinturas – cerca de 350, das quais vendeu 200. “As que trouxe de volta foi as que não quis vender”, diz Consuelo Luca de Tena, reforçando a ambição do artista valenciano: “Este périplo americano foi muito importante para Sorolla, que, apesar de ter pintado sobretudo Espanha e de ter procurado construir-lhe uma nova identidade a partir da paisagem e dos elementos tradicionais que representou de uma forma muito moderna, sempre quis ser um pintor internacional. ”Em Portugal, a crítica e a História de Arte praticamente não o referem. “Não sabemos porquê. Também não há referências a pintores portugueses nas suas cartas”, diz Seabra Carvalho, para quem Sorolla está longe de ser um pintor de ruptura e é, antes de mais, um artista que, sem renunciar à ordem do academismo, é nele “profundamente moderno”. A retrospectiva que a National Gallery de Londres lhe vai dedicar entre Março e Julho do próximo ano, e que viaja depois para a Irlanda, está a ser promovida como a “primeira exposição britânica” dedicada a um “mestre da luz”, do impressionismo, e parece decorrer, em parte, do “redescobrimento” internacional de que o pintor tem vindo a ser alvo nos últimos 20 anos na Europa e nos EUA (à sua programação também não deverá ser alheio o facto de o director da National Gallery ser desde 2015 Gabriele Finaldi, grande conhecedor da pintura espanhola que foi o n. º 2 do Museu do Prado, onde houve uma grande monográfica de Sorolla em 2009). “Sorolla é muitas vezes apresentado como um pintor impressionista mas, para mim, sendo uma consequência do impressionismo, ele é já um pós-impressionista”, defende Consuelo Luca de Tena, lembrando que o artista valenciano se define como “naturalista” e tem um domínio total da luz que em parte vem da fotografia (no começo da sua carreira coloria fotografias no estúdio do seu futuro sogro). “Ele usa uma pincelada larga, ao contrário da maioria dos impressionistas. Há que pintar depressa, diz, porque a luz muda depressa. Esta consciência faz parte do seu domínio das técnicas da fotografia”, explica ao PÚBLICO a directora do Museu Sorolla. Numa das pinturas do primeiro núcleo da exposição, um delicado e algo inesperado Estudo para uma vela (1894), vê-se bem essa ligação à fotografia, acrescenta por sua vez a comissária, Carmen Pena: “Ele domina a composição e os efeitos luminosos a partir da sua experiência fotográfica. ”E domina a luz mesmo quando ela é muito difícil, garante Luca de Tena. “Por norma os impressionistas que pintam praias preferem as do Norte, as da Normandia, porque a sua luz é mais suave. Uma luz intensa, dura, branca, como a das praias do Mediterrâneo, é muito mais difícil de pintar… Mas Sorolla, que usa as maneiras de iluminar novas dos impressionistas, não tem medo dela. ” Nas suas pinturas, explica, os primeiros planos são geralmente mais escuros do que os segundos para que pareça que a luz vem de dentro. Atravessando um período em que Espanha procura reinventar-se política e socialmente apostando na educação, que urge reformar para que não continue a promover as glórias de um passado em que muitos intelectuais não se revêem, Sorolla vai apoiar um dos mais arrojados projectos pedagógicos que surgiu em 1876, com o país já mergulhado num clima de depressão, acentuado 20 anos depois com a perda das últimas colónias ultramarinas. A Institución Libre de Enseñanza, fundada por uma série de intelectuais que defendiam, como o próprio nome indica, a liberdade de ensino, rejeitava a pintura historicista que durante décadas animara os salões e defendia o regresso à paisagem pura, sem narrativa, um programa feito à medida de Sorolla. E de um Sorolla mais introspectivo, como o de Terra adentro. “As suas paisagens puras do interior não têm figuras, não têm símbolos. Mas o que ele quer, o que o apaixona, seja no interior seja à beira-mar, é transformar a realidade em pintura. ” E isso vê-se nas obras que agora estão no MNAA e que vão das praias do País Basco, com os contrastes fortes de que o artista tanto gostava, à Andaluzia dos ambientes dourados de cores garridas, quentes. “A sua outra paixão era a mulher, Clotilde, por quem era verdadeiramente obcecado”, diz Carmen Pena. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Musa e amante, Clotilde García del Castillo é também a companheira com quem Sorolla discute o seu trabalho e a mãe dos seus três filhos. E a família, na intimidade da casa ou nas horas de lazer no Levante espanhol, é um dos temas recorrentes da sua pintura. “Sorolla desenha e pinta Clotilde vezes sem conta ao longo de toda a sua carreira”, diz a comissária, chamando a atenção para o retrato que abre a exposição, uma obra de meados da década de 1880 que passa quase despercebida nessa primeira sala em que se faz, no sentido literal, uma cronologia da vida e da obra do artista. “A relação entre os dois é muito apaixonada, mas tem também um lado muito cerebral. Sorolla conta muito com a opinião de Clotilde, o que não é comum nos artistas da época. ”Chegam a escrever-se duas vezes por dia quando o pintor está longe e essa correspondência publicada nos volumes de Epistolarios de Joaquín Sorolla – mensagens onde o amor e o desejo convivem com o pragmatismo da vida quotidiana – mostra quão cúmplice é a relação entre os dois. “Ando coxo, faltam-me as tuas opiniões serenas e os teus beijos apaixonados”, escreve o pintor à mulher em Fevereiro de 1908. “Pintar e amar-te é tudo. Parece-te pouco?”
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Partidos LIVRE
A cozinha mais descontraída de Tiago Bonito ocupa um Canto Redondo
O novo restaurante na Casa da Calçada, em Amarante, não tem a formalidade do Largo do Paço. Quer ser uma alternativa para os hóspedes do hotel e atrair os amarantinos. (...)

A cozinha mais descontraída de Tiago Bonito ocupa um Canto Redondo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: O novo restaurante na Casa da Calçada, em Amarante, não tem a formalidade do Largo do Paço. Quer ser uma alternativa para os hóspedes do hotel e atrair os amarantinos.
TEXTO: Quem se hospedava no Hotel Casa da Calçada, em Amarante, só tinha uma opção para almoçar e jantar sem sair dos portões da propriedade — o Largo do Paço, com uma estrela Michelin. “E quem prova um menu de degustação numa noite, não vai repetir a experiência na noite seguinte. ” Palavras do chef executivo do Largo do Paço, o jovem Tiago Bonito, em jeito de introdução sobre o novo restaurante na sua alçada, o Canto Redondo. Numa antiga sala de apoio ao bar do hotel, com mobiliário clássico, sofás confortáveis e mesas baixas — sem condições para acolher almoços e jantares —, abriu agora um restaurante mais descontraído. A carta criada pelo chef é bem mais descontraída do que a do vizinho Largo do Paço, mas “mantém a identidade” que Tiago Bonito faz questão de incluir em todos os pratos que confecciona. O Canto Redondo, continua, “é uma alternativa dentro da Casa da Calçada, uma segunda opção para o cliente e para Amarante”. “Abrimos este espaço a pensar também na cidade, para atrair as pessoas que não estão no hotel, mas querem conhecer a nossa cozinha. ”Aberto diariamente para almoços, o menu do Canto Redondo “é mais consensual, baseado em sabores portugueses, uma comida de conforto”. “É uma cozinha menos elaborada, sim, mas não quer dizer que seja mais relaxada”, sublinha Tiago Bonito. Nas entradas há carpaccio de bacalhau meia cura com pimentos assados e ovo de codorniz, amêijoas à Bulhão Pato e camarão frito com pimentos padrón ou presunto serrano com cogumelos frescos e queijo São Jorge. O robalo com arroz malandrinho de sapateira e uma açorda de lavagante com aguardente velha e coentros são as opções de peixe, duas, tal como as de carne: bife de novilho com batata-doce e salsa e chuleton maturado grelhado. Há ainda uma opção de pasta e um risotto. Nas sobremesas, destaque para o pastel de nata de comer à colher e o cheesecake de ananás dos Açores, com gelado de chá verde e lima. “Esta cozinha tem muito sabor e um bom produto. Os nossos clientes, quando nos visitam, não estão à procura de sushi”, brinca Tiago Bonito, que assim tem mais tempo — bem como a sua equipa — para se dedicar ao Largo do Paço. Este último pode assim encerrar aos almoços e duas vezes por semana (domingo e segunda-feira), para que todos se foquem nos menus de degustação já premiados. O Canto Redondo está aberto ao jantar apenas ao domingo e à segunda-feira e, nos restantes dias, entre as 15h e as 23h, tem uma carta ligeira (salada César, prego em bolo do caco, risotto). Hotel Casa da Calçada Largo do Paço, 6 4600-017 Amarante Tel. : 255 410 830 Horário: todos os dias, 12h30-15h; domingo e segunda, 19h30-22h30Tiago Bonito, nascido perto de Coimbra há 31 anos, mudou-se para Amarante há um ano e meio para ocupar a posição de chef executivo do restaurante da icónica Casa da Calçada. Pouco tempo depois, recebia a notícia de que tinha conseguido manter a estrela Michelin do Largo do Paço, numa estreia que o empurrou (ainda mais) para a ribalta. Ainda não teve tempo para criar raízes na cidade banhada pelo Tâmega, confessa, mas tem conhecido a região, explorado as opções de fornecedores locais. Faz questão de conhecer pessoalmente os homens e as mulheres a quem compra legumes, queijos, carne, peixe. Mostra-lhes como uma batata ou uma cenoura pode ser “mais do que batata ou uma cenoura vendida em sacos de uma tonelada”. “Gosto de mostrar aos fornecedores o que faço, dou-lhes a provar o que cozinho com o produto que eles vendem, convido a família”, conta. Isto para mostrar que uma estrela Michelin não se conquista apenas entre as quatro paredes da cozinha do Largo do Paço, na qual trabalham 15 pessoas. Sempre que pode, Tiago Bonito pega no carro e vai até ao mercado municipal de Matosinhos e de Angeiras escolher e comprar o marisco e o peixe que preenchem a carta do Largo do Paço — e, desde Junho, também do Canto Redondo. “Aqui em Amarante, a tradição é o fumeiro, o pouco peixe que há é de rio”, justifica. E isto, para um amante da pesca e do mar como Tiago, é motivo para deixar algumas saudades dos anos em que trabalhou no Algarve e em Tróia. Sempre que consegue, contudo, junta-se aos amigos, mais a Sul, para dias de pescaria em alto-mar. “Gosto muito do mar, dos mariscos, da frescura e das texturas do peixe”, vai repetindo ao longo da conversa. E este gosto passa depois para a concepção das receitas, “pratos com sabores fortes, a maresia, a sal”. “Tenho até, na carta do Largo do Paço, um cherne ao sal que é um prato que eu faço muitas vezes para os amigos, estão sempre a pedir-me. ”A primeira edição do Chef d’Oeuvre não tinha contornos de competição. Mas, se tivesse, o resultado teria sido um empate, daqueles a pedir desforra. À cozinha e ao staff de Tiago Bonito no Largo do Paço (com uma estrela Michelin), em Amarante, juntou-se o chef Óscar Velasco, do restaurante Santceloni (duas estrelas Michelin), em Madrid. O objectivo? A preparação, a quatro mãos, de um menu de degustação a ser servido no restaurante do Hotel Casa da Calçada com o carimbo Chef d’Oeuvre — que é o mesmo que dizer “obra-prima de um artista”. A ideia dos dois chefs foi uma “junção ibérica” do trabalho de cada um: Óscar Velasco trouxe de Madrid um “frango do campo” e alguns caldos que levam vários dias a preparar, Tiago Bonito apostou nos peixes portugueses. A abertura do jantar esteve a cargo do chef a jogar em casa: a uma delicada caixa de caviar, Tiago Bonito acrescentou atum, rábano picante, ovo, cebolinho e couve-flor. A entrada é uma saudação ao cliente que chega ao Largo do Paço, servida a quem peça um dos dois menus de degustação do restaurante (Caminhos e Identidade). Seguiu-se uma tosta de trigo com frango e molho agridoce “tipicamente espanhol”, explicou Óscar Velasco durante a preparação do mesmo, e um lírio dos Açores com maçã e maracujá. “Este é um dos pratos que fala sobre mim”, confidenciou Tiago Bonito. “O lírio é um peixe mais gordo, que faz a rota migratória nos Açores, e sirvo com maracujá para incluir a parte tropical. ” Mas Óscar Velasco não quis ficar atrás nos sabores do mar e optou por um lagostim sobre folha de alface e sabores do Oriente. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Nos pratos principais, o chef português escolheu aquele que é o seu “peixe preferido”, o pregado, com carabineiro, plâncton e espargos. “O carabineiro diz-me muito sobre o Algarve e os anos que lá passei, traz à mesa a maresia. ” A costela de cabrito cozinhada pelo chef espanhol foi acompanhada por avelã, alho negro e puré de abóbora assada. Para terminar, Óscar Velasco deu a ribalta a Montse Abellán, a chef de pastelaria do Santceloni, que levou à Casa da Calçada um granizado de cenoura, lima, endro, aveia e gengibre. Pistácio, café gelado, framboesa e mascarpone, com assinatura portuguesa, fechou o jantar. O Chef d’Oeuvre, garante Álvaro Aragão, director da Casa da Calçada, é para repetir “duas a três vezes por ano”, sempre com chefs de outros hotéis da Relais & Chateaux.
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Vimioso, uma porta escancarada para a nossa natureza
Num só dia é possível passear com burros mirandeses junto ao rio, refrescar as ideias numas termas, conhecer o artesanato local, caminhar pela história de Portugal e gozar de um repasto transmontano. Aqui não é preciso escolher. (...)

Vimioso, uma porta escancarada para a nossa natureza
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.05
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Num só dia é possível passear com burros mirandeses junto ao rio, refrescar as ideias numas termas, conhecer o artesanato local, caminhar pela história de Portugal e gozar de um repasto transmontano. Aqui não é preciso escolher.
TEXTO: Alfredo, Garbanzo e Aragão estão a postos. Ajeitam-se as albardas e os alforges coloridos, guardam-se as garrafas de água, preparam-se os caminhantes para o que aí vem: um passeio, (muito bem) acompanhado pelos três burros mirandeses, ao longo do rio Angueira, um dos cursos que atravessam Vimioso, em pleno Nordeste Transmontano. Entretanto, junto à água, uma figura aproxima-se, vinda da outra margem. Pé ante pé, de pedra em pedra, tem uma vara na mão e gestos precisos. Ocupa-se de uma minuciosa tarefa como se fosse dele, e de mais ninguém. O que faz, descobrimos à sua chegada até nós. Guarda-fiscal reformado, António Pires pastoreia por ali as suas cinco vacas — já teve mais, agora é só “para passar o tempo”. Deixou-as por momentos e, enquanto atravessa o rio, aproveita para limpar as folhas secas que se acumulam entre as pedras da passagem. “Para a corrente passar e para não cheirar mal”, explica, finda a missão, vara na mão e sorriso no ar. Sem saber, sumariza-nos assim a orgulhosa relação que os vimiosenses têm com a sua natureza, com o seu território, com as suas tradições. E que se revela a par e passo, passo a passo. Assim começa o percurso pedestre, que se for feito por inteiro leva o visitante pelas aldeias de São Joanico, Serapicos e Angueira, sempre com o rio por perto, ao longo de 22 quilómetros (não há que temer, o grau de dificuldade é fácil). Descobre-se o esplendor do verde do bosque, vêem-se pontes medievais e moinhos de água, cheiram-se rosas-de-lobo e medronheiros, com sorte até se distinguem lontras e guarda-rios, corços e libélulas. Não há que enganar: estamos no recém-inaugurado PINTA – Parque Ibérico de Natureza, Turismo e Aventura, um anfitrião por excelência da biodiversidade de um concelho que tem mais de 40% do território na Rede Natura 2000. E aqui Alfredo, Garbanzo e Aragão surgem como os mais charmosos e meigos mestres de cerimónia. Carolina Martins, uma das monitoras da Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino (AEPGA) que acompanha o percurso, vai-nos dando conta da suas manhas. O primeiro, nota-se à distância, é o mais enérgico, ao contrário do último, o maior, mas também o mais pacífico. Já o Garbanzo é o mais influenciável: ou imita o Alfredo ou copia o Aragão. Hoje está sereno, já sabemos o que escolheu. “Para mim, a melhor coisa dos burros é que, apesar de estarmos diariamente com eles, apesar de estarem habituados à presença humana, a personalidade deles mantém-se bem vincada”, diz a jovem de 27 anos, preparando-se para desfiar outras características do animal. A saber: pesam em média 300 quilos, mas o ideal é que suportem até um terço do próprio peso; não gostam de água, banho é só mesmo quando tem de ser; vêem mal para baixo, tampas de saneamento ou passadeiras fazem-lhes muita confusão. E sim, como ajuíza o ditado, são teimosos: se, por exemplo, encontram uma poça de água e não conseguem distinguir o fundo, dificilmente arriscam. “Se não quiser andar, senta-se ou anda para trás”, evidencia. “A teimosia é sinal de inteligência. ”Passear na companhia destes animais é uma das muitas coisas que se podem fazer no parque, onde a AEPGA dirige o Centro de Actividades Lúdico-Pedagógicas do Burro de Miranda (aos três peregrinos juntam-se ainda Ipiranga e Hortelão, que tanto podem ser companheiros de caminhada, como protagonistas de sessões terapêuticas e didácticas). Mas a oferta do PINTA não se fica por aqui. Quem quiser, pode sair para o terreno para caçar, identificar (e devolver) borboletas, fazer um piquenique num lameiro com um cesto recheado de produtos regionais, vinho e até uma manta ou, quem sabe, aprender tradições. E que tal começar a fazer escrinhos?Desta feita, encontramos Rosa e Aníbal Delgado com uma pequena plateia de aprendizes de olhos pregados nas mãos dela. Daquela trabalhosa dança a dez dedos está sair aos poucos um cesto. Estamos a ver nascer um escrinho. Feitos com palha de centeio e casca de silva, estes cestos únicos, originais da aldeia de Vilar Seco, eram utilizados no passado para guardar cereais, sementes, farinha. Com o tempo, o saber foi-se perdendo, até que, há 12 anos, Aníbal candidatou-se à junta de freguesia da sua terra, determinado em não deixar a arte morrer. “Quase fiquei pela promessa”, confessa. Promoveram-se cursos, poucos quiseram aprender; ficou a sua esposa, “talvez por teimosia” dele, que assim se fez artesã há cerca de seis anos, para “não deixar perder a tradição”. É a única formadora; mais sabem fazê-los, mas não “têm vagar”, produzem “só em casa”. “Isto é só uma brincadeira, só me dá prejuízo”, diz ele, alisando vigorosamente uma silva na perna com uma navalha. Por causa da artrite reumatóide, os dedos fogem-lhe, não pode fazê-la serpentear pela palha, deixa-o para Rosa. “Dá muito trabalho, ninguém quer aprender”, admite a sexagenária, que, por sua vez, à custa do labor, já sofreu uma tendinite no ombro. Hoje, já não se fazem tanto os verdadeiros escrinhos, mas aplica-se a mesma técnica para peças mais pequenas, como fruteiras, cestas, até máscaras e crucifixos. “Olha”, graceja Aníbal, apontando para o aprendiz João Rodrigues, “este já te tira a profissão”. E é vê-lo, a princípio incerto, depois mais confiante, a embrenhar as mãos naquele rodopio de palha e silvas. Veterinário, de 35 anos, veio a esta oficina gratuita para “matar uma curiosidade antiga”. Durante oito anos, viveu em Vilar Seco, onde chegou a experimentar fazer um escrinho; treze anos depois, viu neste encontro uma nova oportunidade para voltar a tentar. “Agora”, auspicia, “o próximo passo é criar peças de design, fazer coisas contemporâneas a partir da tradição, acompanhar os tempos”. Não ele, que não tem tempo. Outros. Talvez assim, com outros cestos, Vilar Seco chegue finalmente ao espaço. Conta Aníbal que reza a lenda que os habitantes, conhecidos como escrinheiros, tentaram chegar à Lua (ou a um queijo?) antes dos americanos, amontoando escrinhos numa torre até ao céu. Quando lhes faltava apenas um para atingir a meta, aperceberam-se de que não havia mais. Até que o cabo de polícia, “homem de muita sabedoria”, teve uma “ideia genial”: retirar-se-ia um escrinho da base, colocar-se-ia no cimo. Dito e feito, ruína (e risada) geral. “Ficaram a seco: nem queijo, nem Lua. ”Depois de um processo de dez anos, o PINTA foi finalmente inaugurado em Maio e é como uma “jóia da coroa” de Vimioso. Não é fácil ser um concelho do interior (“mas como se pode falar de interior num país que dista 200 quilómetros de largura?”, questiona, retórico, o presidente da câmara Jorge Fidalgo). As debilidades são várias. Pertencente ao distrito de Bragança, é um município essencialmente rural e isolado. “Chegar cá é o maior problema”, lamenta o autarca, que aguarda com expectativa a luz verde para a ansiada estrada de ligação à A4, que vai para Bragança. O ensino secundário não existe, o que obriga as famílias a sair, e outros serviços públicos foram deslocados. Nos últimos anos, a autarquia tem assim apostado em três grandes frentes. Por um lado, tenta promover a qualidade de vida dos residentes: entre outras coisas, há incentivos à natalidade, infantários gratuitos, aulas de karaté, danças de salão e zumba para toda a população grátis e um programa de aquisição de terrenos a um cêntimo o metro quadrado com moradias com projecto aprovado para fixar jovens casais — em 30 lotes, apenas um não está ocupado. Por outro lado, tenta atrair o investimento, também através da venda de terrenos a um cêntimo na zona industrial — a unidade de transformação da carne mirandesa, por exemplo, está aqui. “A ideia é fixar, fixar os jovens e, se possível, poder atrair algum investimento para criar postos de trabalho”, explica o autarca, natural da aldeia de Algoso. O turismo surge como a derradeira cabeça da tríade, o que motivou a criação da marca Vales de Vimioso, cuja menina dos olhos é o PINTA. E que vales são estes? Os dos rios Maçãs, Sabor e também o Angueira, que ziguezagueiam pelo território de 482 quilómetros quadrados. Aqueles que se adivinham, bucólicos, do topo do Castelo de Algoso, construído algures no século XII numa posição privilegiada para vigiar Leão. Mal se percebe onde começa a montanha e acaba a fortaleza, rodeada de águias e abutres. “Portugal”, repete Jorge Fidalgo, “nasceu por aqui”. É um dos ex-líbris do património do concelho e, também, do coração dos locais: muitos, dizem-nos, namoraram entre estas ruínas, outros colhiam cravos selvagens. Aconselha-se é precaução na subida, sobretudo a quem sofrer de vertigens. O programa de actividades do PINTA é extenso e inclui propostas para quase todos os gostos, algumas delas gratuitas durante o primeiro ano de funcionamento. Recomenda-se uma visita ao site do projecto Vales de Vimioso para mais informações sobre as ofertas permanentes e à página de Facebook para os eventos pontuais. Depois de uma vista de cortar a respiração, que tal mudar de ares? Ter a cabeça em água, até à última gota? As Termas do Vimioso estão cá para nos tratarem da saúde. Responsabilidade das águas sulfurosas da Terronha, localizadas junto à margem direita do rio Angueira, cujas propriedades terapêuticas a nível de doenças respiratórias, reumáticas e músculo-esqueléticas são reconhecidas (falta concluir o estudo dermatológico). “Esta água”, conta o responsável Francisco Brucó, “tem três mil anos”. A época termal dura de 1 de Maio a 30 de Novembro, mas a área de bem-estar está aberta todo o ano. “Queremos ser as termas de referência de Trás-os-Montes”, ambiciona o ex-comandante dos bombeiros. “Mas não queremos torná-las VIP. Queremos que sirvam as pessoas da terra e também para vem quem do Porto e Lisboa e tem a cabeça do tamanho de um melão com tanto stress. ” Nada que um duche massagem tipo Vichy e umas boas massagens não resolvam. O tecido de Vimioso também se faz de pequenas associações de jovens que se têm estabelecido no concelho. Entidades que, na opinião de Jorge Fidalgo, têm “feito um trabalho extraordinário na atracção de turistas e na divulgação do que de melhor o concelho tem em termos ambientais e paisagísticos”. “Acarinhámo-las muito, dando-lhes as condições para trabalharem aqui”, conclui o autarca. A AEPGA é uma delas, mas não está sozinha. A Palombar está por perto, instalou o seu Centro de Interpretação dos Pombais Tradicionais na antiga escola primária de Uva — é nesta aldeia, aliás, que tem início um percurso pedestre até ao Castelo de Algoso (há ainda no concelho um terceiro trilho que percorre as ladeiras do rio Sabor). A oferta de alojamento em Vimioso ainda é reduzida. Existem algumas casas de turismo rural, algumas albergarias e dois hotéis. A Fugas pernoitou no hotel de duas estrelas A Vileira, mesmo à entrada da vila, que voltou agora a abrir pela mão de Luís Garcia (que tem boas histórias para contar). O quarto duplo custa 60 euros, o individual 40. O Hotel Rural Senhora das Pereiras, de três estrelas, também é uma possibilidade, com quartos a partir dos 60 euros. Ambos os hotéis têm restaurantes com uma carta repleta de especialidades locais, como a posta mirandesa, a costeleta, o cordeiro e queijo e enchidos a preceito, em doses muito generosas. Palombar significa pombal, em mirandês. O que já dá uma pista para a missão desta associação, criada há 18 anos: conservar o património rural e construído, nomeadamente os pombais tradicionais, estruturas que se dedica a recuperar e revitalizar. Ali, na aldeia, a paisagem denuncia a sua passagem. Há pequenas manchas brancas com telhado em forma de ferradura a pintar as encostas um pouco por todo o lado e, por vezes, em contraste, um ou outro edifício semelhante em ruínas. Até agora, já foram reabilitados 37 pombais em Uva, devem faltar ainda uns dez. Mas “não é fácil”, explica Américo Guedes. Quase todos são privados, é preciso haver um acordo com o proprietário, sendo que a associação só recupera e explora os pombais. E começa a ser cada vez mais difícil encontrar quem trabalhe a pedra de forma tradicional. Ainda que a sua actividade seja cada vez mais alargada, a Palombar actua sobretudo no Nordeste Transmontano, onde, estima, existem três mil pombais; 500 já terão sido recuperados. Porquê fazê-lo? Porque são uma “forma de conservação da natureza”, já que atraem espécies que se alimentam de pombos, como a águia-de-Bonelli, ameaçada em Portugal, ou a coruja-das-torres. Porque constituem um “património arquitectónico e cultural” riquíssimo. Os pombais surgiram, no passado, para ajudar na alimentação (os “borrachos” sempre eram uma proteína extra em comunidades marcadamente pobres) e na fertilização dos campos (o “pombinho”, o estrume das aves, servia de adubo). A sua preservação ajuda assim a contar a história. Divulgar o património também é o que move a associação Aldeia, sediada em Vimioso, mas com um Centro de Educação, Interpretação e Formação Ambiental na antiga escola primária de Vila Chã da Ribeira que agora visitamos. Aldeia é, na verdade, um acrónimo para Acção, Liberdade, Desenvolvimento, Educação, Investigação e Ambiente, e é isso que eles gostam de fazer. Apresenta o presidente João Nunes: “É um grupo de amigos que desenvolve actividades para promover conhecimentos e tradições. ” Sejam saídas de campo para ver borboletas, como para acompanhar pastores. Sejam workshops de cogumelos e plantas comestíveis ou acções de sensibilização sobre a relação entre as pessoas e o lobo. “É uma nova perspectiva de viver as tradições no século XX”, diz o responsável pela associação, criada há 15 anos. Um dos últimos grandes projectos foi, por exemplo, um levantamento de toda a etnobotânica da Terra Fria Transmontana, bem como dos seus processos tradicionais. O resultado está num livro e nas várias peças, e sementes, que se apresentam pela sala. E, claro, Vimioso, como orgulhoso município transmontano, é sinónimo de boa comida. Já o dissemos: a carne mirandesa sai daqui, por isso experimentar a típica posta é quase obrigatório, bem como tomar o gosto do cordeiro e, claro, de 1001 fumeiros. Edite Domingues nasceu com mão para a cozinha. Aprendeu a cozinhar como outras tantas netas: a olhar para a avó. “Mal acordava, a primeira coisa que fazia era aquecer o pote”, diz a mirandesa, a viver em Vimioso desde que se casou. Hoje, o galo feito naquele pesado pote de ferro continua a ser um dos seus pratos preferidos — sabe-lhe à avó. Outras iguarias saem-lhe das mãos com o mesmo conforto familiar: a robusta sopa da segada (com calda de fumeiro, orelha, pernil, chouriço, pão, massa e grão-de-bico), os rojões, os cogumelos frescos, os peixes de rio. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Não é o que costuma servir no café-pizzaria Pires, o estabelecimento que explora no centro da vila. Mas por lá tente experimentar o pastel de amêndoa, um segredo de família guardado a sete chaves pelo menos desde 1918, e que agora começa a dar os primeiros passos fora do livro de receitas. Já agora, uma curiosidade. Ali ao lado está a majestosa Igreja Matriz de Vimioso, construída em finais do século XVI, inícios do século XVII por iniciativa de uma família abastada local que a financiou com uma condição: tinham de conseguir assistir à missa sem saírem de casa, da varanda. Assim foi. A igreja foi feita com um sui generis declive, com a porta voltada para o solar dos mecenas, até hoje. Para terminar, fica ainda um aviso. Não espere que, em todas estas andanças, lhe perguntem o nome quando der de caras com uma porta. Manias de bom, e hospitaleiro, anfitrião. “Aqui”, assegura Jorge Fidalgo, “quando se bate à porta não se pergunta quem é. Diz-se logo entre!”. Faça o teste. A Fugas viajou a convite do projecto Vales de Vimioso
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Meghan Markle aparece de surpresa nos Fashion Awards, em Londres
A duquesa de Sussex entregou o prémio de designer do ano de roupa de mulher a Clare Waight Keller, directora criativa da Givenchy, que desenhou o seu vestido de casamento. (...)

Meghan Markle aparece de surpresa nos Fashion Awards, em Londres
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: A duquesa de Sussex entregou o prémio de designer do ano de roupa de mulher a Clare Waight Keller, directora criativa da Givenchy, que desenhou o seu vestido de casamento.
TEXTO: Na cerimónia de entrega dos Fashion Awards, organizada pelo British Fashion Council, esta segunda-feira, as surpresas foram além do anúncio dos vencedores. Meghan Markle fez uma visita inesperada para anunciar o prémio de designer do ano de roupa de mulher. A distinção foi dada a directora criativa da Givenchy, Clare Waight Keller, que desenhou o vestido de casamento que Meghan Markle usou na igreja. "É um prazer estar aqui estar a celebrar a moda britânica na minha nova casa do Reino Unido", começou por dizer, depois de a duquesa receber o microfone de Rosamund Pike. "Temos uma ligação profunda ao que vestimos — às vezes é muito pessoal e às vezes é emocional. Para mim, está enraizada na capacidade de compreender que [a moda] tem a ver com apoiar e empoderar-nos, a nós e aos outros — especialmente enquanto mulheres. Quando escolhemos vestir um certo designer não somos apenas um reflexo da sua criatividade e visão, somos também uma extensão dos seus valores", declarou Markle. A duquesa aproveitou ainda para abordar o tema da crueldade animal, referido como a indústria está a caminhar na direcção contrária e aproveitou para elogiar Clare Waight Keller — "uma designer britânica a liderar o palco global com visão e criatividade, mas também com uma incrível bondade. "Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. De resto, entre os vencedores da noite contaram-se a Gucci (marca do ano), Kaia Gerber (modelo do ano), Miuccia Prada (outstanding achievement) e Virgil Abloh (urban luxe), pela sua marca Off-White. Até Janeiro, o vestido de casamento desenhado por Clare Waight Keller está em exposição no Castelo de Windor, o local onde foi celebrado o matrimónio. Faz parte da exposição A Royal Wedding: The Duke and Duchess of Sussex, que inclui também uma série de outras peças usadas pelo casal, damas de honor e pajens. Conta, por exemplo, com o véu de cinco metros de tule de seda com flores bordadas à mão representativas da flora dos 53 países da Commonwealth, a tiara de diamantes que pertenceu à rainha Maria, mulher de Jorge V (e trisavó de Harry), e uma réplica do uniforme de Harry. Quanto ao segundo vestido de Meghan, desenhado pela também britânica Stella McCartney, há uma versão semelhante à venda numa colecção de noivas lançada recentemente pela própria marca. São ao todo 17 criações, desde um macacão de renda a um vestido de lantejoulas, passando por um fato clássico de casaco e calças.
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Palavras-chave mulher rainha mulheres casamento animal
Cachopo: “Morre-se assustadoramente” e quem chega é de visita
No ano passado morreu o albardeiro, o último ferreiro não tem filhos e a tecedeira, mesmo sendo a presidente da junta, não encontra ninguém para ensinar. Todos têm a luz acesa, mas Cachopo está às escuras. (...)

Cachopo: “Morre-se assustadoramente” e quem chega é de visita
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.5
DATA: 2018-08-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: No ano passado morreu o albardeiro, o último ferreiro não tem filhos e a tecedeira, mesmo sendo a presidente da junta, não encontra ninguém para ensinar. Todos têm a luz acesa, mas Cachopo está às escuras.
TEXTO: Os galos de Vivelinda atraem muita gente. “Vêm pessoas lá de baixo de propósito”, de Tavira pela nacional, sempre a subir às curvas. É a melhor maneira (e das poucas) para chegar ao Monte da Ribeira. Os galos vivem numa capoeira a 200 metros do Paraíso da Serra, o restaurante que Vivelinda abriu com o marido há 19 anos, junto a um U bem aberto da ribeira de Odeleite, depois de 20 anos “a trabalhar na terra e na fruta em Perpignan”. Vivelinda até gosta do monte algarvio, onde tem oito vizinhos, mas brilham-se-lhe mais os olhos quando fala de França. “A vida era boa. ”De Outubro a Março, ainda assim, lá vai matando saudades do sotaque. “Há muitos estrangeiros que vêm para aí. Dormem na ribeira, ao pé das canas, com tendas e caravanas. ” No Monte da Ribeira, freguesia de Cachopo, passou a haver mais gente em todas as outras estações do que no Verão (tirando as queridas visitas de Agosto). “Já contei umas 14 [autocaravanas]. Vêm cá comer e beber, às vezes encomendam galo assado ou javali, e eu preparo. ” O 1. º de Maio é particularmente forte e o Paraíso da Serra até já pôs anúncios na Internet para atrair mais gente à festa. Este ano, houve o baile com Sandrine e o espectáculo do conjunto musical Os Malteses, além dos habituais comes e bebes. Ainda assim, apesar do silêncio de Junho pregado aos montes, Vivelinda atenta, arregalando os olhos ao sinal de perigo: “Não se pode ficar a dormir em qualquer lado. ” Se se quiser ficar ali, ao lado do Paraíso, tudo bem. Ela até deixa usar a casa de banho. Há também quem fique, livre, junto à fonte férrea de Cachopo, onde existe um parque de merendas, um lavatório, churrasqueiras e uma piscina de água natural aberta ao público. Mas a presidente da junta, olhando para este vaivém de caravanistas na serra do Caldeirão, está a adiantar-se num projecto de área de serviço para autocaravanas na aldeia. Acredita que vai “atrair gente”. “Cachopo atingiu o apogeu nos anos 1950”, década em que chegou o primeiro telefone à aldeia, conta Anabela Rosa, de 48 anos, “das mais novas” entre os 115 habitantes da sede de freguesia. Os registos do núcleo museológico, onde Anabela trabalha, mostram tudo, ou quase: a tradição da ferraria e da tecelagem, fotografias do último albardeiro da terra (que faleceu há meses), o mel, a cortiça, o medronho, o queijo de ovelha, a caligrafia enviada do Ultramar. Agora entra-se em Cachopo pelo cemitério e o dominó de sepulturas relata o mesmo que em todo o interior: “As pessoas morrem assustadoramente. ” E, acrescenta Anabela, “já não há burros nem rebanhos, nem mesmo para mostrar aos mais novos”. “Parece mentira, mas é como se vivêssemos na cidade. Nem às laranjas vamos. ”José Zacarias, o último ferreiro do povo, nem quer confessar a idade. “Diga lá quantos me dá. . . ” Pela fundura das rugas, deve andar na casa dos 90, mas a vida corre bem. “Como não há mais ninguém a fazer isto, tenho muitos serviços”, explica. Na encomenda mais recente, um espanhol paga-lhe “sete contos” (35 euros) pelo arranjo de cada mola e Zacarias tem mais de 30 sobre um degrau. “Dos espanhóis vêm muitas destas [armadilhas para lebres], porque eles não percebem lá muito de trabalhar o ferro e o aço. Eu comecei com dez ou 12 anos, tinha amizade a isto, ainda hoje tenho. E agora já tempero uma mola a brincar. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Porque Zacarias mantém o ofício vivo pela quarta geração, Otília Cardeira decidiu afixar uma placa na parede caiada da ferraria. “As pessoas devem ser homenageadas em vida, não é?”, diz a presidente da junta, uma das primeiras mulheres a chegar ao cargo entre as freguesias serrenhas do Algarve. “Da primeira vez perdi por 12 votos, por ser mulher”, não tem dúvidas. “Isto estava parado no tempo. Mesmo a minha mocidade só começou aos 45 anos. Até aí, a vida foi trabalho, estava na escuridão. ”Agora a luta é outra: trazer gente para Cachopo, além dos visitantes que chegam pela Via Algarviana – “das melhores coisas que aconteceram”; a correr o Algarviana Ultra Trail; ou à procura dos núcleos museológicos, da fonte férrea, do quiosque O Moinho, da tecelagem e do selo 7 Maravilhas de Portugal, que Cachopo foi aldeia pré-finalista. Ainda assim, já houve dias piores. “Já estivemos seis anos sem crianças, agora temos quatro. ” Há quem tenha vontade de arriscar na terra, mas, tirando no bairro social de Cachopo, os valores a pagar pelas casas disponíveis não são para qualquer um. Depois, é claro, falta emprego. Como em muitas outras localidades pequenas do interior, “os maiores empregadores são o lar [de idosos] e a junta”, mas há “dificuldade em recrutar pessoas”, até mesmo para a presidência, pensa Otília a longo prazo. “Quem é o jovem que quer ser presidente de uma junta destas por 274 euros por mês?”, questiona-se a algarvia, aos 67 anos. A presidente da junta de freguesia é também a única tecedeira da região “a fazer o linho desde o semear ao tear” e não é fácil encontrar sucessores. O mesmo se aplica ao museu, para onde Otília precisa de um estagiário, mas não encontra. “Tenho feito pressão no litoral. Nós comprometemo-nos a dar casa e emprego. ” Quem quer viver na aldeia de Cachopo?O caminho mais fácil para Cachopo faz-se desde o Norte de Tavira, pela margem Este do rio Séqua, tomando a Nacional 397. São cerca de 30 quilómetros de estrada pela serra do Caldeirão. Onde dormirA Área de Serviço de Autocaravanas e Parque de Merendas do Pereiro fica na EN124, a cerca de meia hora de Cachopo, frente a uma barragem de regadio. O parque permite abastecer de água potável, carregar baterias (mediante a utilização de um moedeiro) e depositar águas residuais. Já no Ameixial, existem duas áreas de serviço: no centro da aldeia, no campo de futebol (Rua do Moinho) e em Azinhais dos Mouros, em contacto com a natureza. De Cachopo ao Ameixial são também cerca de 30 minutos, pela EM504, na direcção de Almodôvar.
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E que tal uma visita ao espaço em Lisboa e à beira-mar?
A exposição Cosmos Discovery é uma viagem através de 200 artefactos originais da exploração espacial e de réplicas. A partir de sexta-feira vai estar em Belém (Lisboa). (...)

E que tal uma visita ao espaço em Lisboa e à beira-mar?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-07-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: A exposição Cosmos Discovery é uma viagem através de 200 artefactos originais da exploração espacial e de réplicas. A partir de sexta-feira vai estar em Belém (Lisboa).
TEXTO: Tudo começa com Júlio Verne e os seus livros de aventuras Da Terra à Lua e À Volta da Lua. Ao lado do escritor pioneiro da ficção científica, está também um dos precursores do cinema, Georges Méliès. É com estas referências que começa a exposição Cosmos Discovery, a partir da próxima sexta-feira no Terreiro das Missas, junto à Estação Fluvial de Belém, em Lisboa. José Araújo, produtor da empresa World Crew Events e desta exposição, escolheu começar com Júlio Verne e Georges Méliès esta aventura da humanidade no espaço. “Foram estes sonhadores que inspiraram os pioneiros do espaço e temos de mostrar isso aos mais jovens”, diz. Depois de ter passado por Bratislava, na Eslováquia, ainda numa fase experimental, a Cosmos Discovery chega a Lisboa para a estreia mundial. Dentro de uma tenda branca entre o MAAT - Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia e o Padrão dos Descobrimentos, a exposição tem seis salas e 2500 metros quadrados para explorar. É aí que se pode percorrer o passado, o presente e o futuro da exploração espacial. “Demorámos cerca de um ano para fazer experiências, conceber o design da exposição e ter ideias”, diz-nos o checo Petr Suchanek, director da exposição, que envolveu uma equipa de cerca de 30 pessoas. Apesar de já ser experiente na produção de exposições, nunca tinha feito uma sobre o espaço e assume que teve de ler muito para chegar ao resultado final da Cosmos Discovery. Afinal, a exposição é feita de muitas histórias da exploração espacial. Ao longo das seis salas, assinalam-se vários nomes determinantes como Von Braun, pioneiro alemão na construção de foguetões; Iuri Gagarin, o soviético primeiro homem a ir ao espaço em 1961; Alan Shepard, o primeiro norte-americano no espaço; e John Glenn, o primeiro norte-americano em órbita da Terra. Também são destacados animais como a cadela soviética Laika, o primeiro ser vivo na órbita da Terra, em 1957; e o Enos, o primeiro chimpanzé em órbita da Terra. Já José Araújo mostra-se um entusiasta dos temas sobre o espaço e não se cansa de falar sobre todos os objectos da exposição, que vieram do museu Cosmosphere, no Kansas, Estados Unidos. É lá que há mais de 9028 objectos espaciais. E poderemos fazer mesmo uma viagem em Lisboa com objectos que já foram ao espaço? Pode-se dizer que sim. Em toda a exposição, há cerca de 200 artefactos originais de missões norte-americanas, soviéticas e de outras agências espaciais. “Quando as pessoas nos vêm visitar, querem saber qual foi a motivação política dos astronautas para viajarem para o espaço, mas também querem saber como é o seu dia-a-dia no espaço”, diz José Araújo. Como tal, nas vitrinas da exposição, há comida embalada em plástico que chegou a ir na missão norte-americana Apolo 8, como salada de atum, bolachas de água e sal e sanduíches de queijo. “Aqui mostramos o processo de liofilização [desidratação a baixas temperaturas], porque no espaço o peso é muito importante. Tirava-se o líquido da comida para ficar mais leve, e depois voltava-se a colocar lá água [já durante a missão]”, explica. Ao longo da exposição, também há kits de higiene e fraldas usadas pelos astronautas no espaço. “E para quem ainda duvidar que fomos à Lua, temos aqui as câmaras Hasselblad”, anuncia José Araújo em frente a exemplares na exposição. Foram cerca de 15 câmaras fotográficas Hasselblad ao espaço e 12 ficaram na superfície lunar. Ao lado, há também um gravador de voz usado pela primeira vez na missão Apolo 7, e depois na Apolo 17 por Eugene Cernan, em 1972, o último homem na Lua. Além disso, ainda há fatos de voo, como o do astronauta Charlie Duke, usado na missão Apolo 16, e do sétimo homem a caminhar na Lua, David Scott, em 1971, durante a Apolo 15. Há ainda um fato de arrefecimento, garrafas da Coca-Cola e da Pepsi (embora nunca tenham sido bebidas no espaço) ou ainda capacetes para saírem da nave espacial. Para lá dos objectos que estiveram mesmo no espaço, há também réplicas. “Nem os americanos nem os russos deixavam sair as suas naves originais do sítio”, explica José Araújo sobre o facto de não existirem na exposição naves originais. Por isso, foram feitas réplicas à escala real da nave Mercury, por exemplo. Também há réplica do robô Opportunity, que se encontra em Marte, ou do veículo Lunar Rover. “Estas réplicas foram feitas no Cosmosphere, onde há artesãos, em que alguns trabalharam na NASA e têm os planos de construção das naves. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Entre todos os objectos da exposição, José Araújo destaca ainda o motor com um sistema de propulsão do veículo Lunar Lander. Este motor era uma verdadeira “prova de vida” para os astronautas, porque era apenas testado na partida para a Terra. Outras das peças que destaca é o pneu dianteiro de um vaivém espacial ou o primeiro computador portátil usado em voos do vaivém espacial nos anos 80. “Queremos mostrar às pessoas que foi a miniaturização dos computadores nesta altura que permitiu que hoje tenhamos a tecnologia que temos. ” Já Petr Suchanek destaca a parte original do motor F1 usado no foguetão Saturno V, que levou para o espaço as missões Apolo para a Lua. Esta peça foi resgatada há anos do oceano Atlântico. Também haverá momentos em que os visitantes poderão experimentar fazer treinos como os dos astronautas, num giroscópio. Ou ver o espaço com óculos de realidade virtual. Ainda antes de abandonar a exposição, há uma homenagem a vários homens e mulheres que deram a vida pela exploração espacial. Os bilhetes custam entre 10 e 16 euros (as crianças com menos de quatro anos não pagam). Ainda sem data de encerramento, José Araújo salienta que, nos próximos cinco anos, a Cosmos Discovery vai estar em países como a Alemanha, a Espanha e o Japão.
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