Somos raparigas, somos negras!, diz Céline Sciamma, que é branca
Abertura eufórica da Quinzena dos Realizadores com Bande de Filles. O corpo delas a falar pela banlieue. (...)

Somos raparigas, somos negras!, diz Céline Sciamma, que é branca
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento -0.10
DATA: 2014-05-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Abertura eufórica da Quinzena dos Realizadores com Bande de Filles. O corpo delas a falar pela banlieue.
TEXTO: Somos raparigas, somos negras!, Céline Sciamma faz a sua declaração no palco da Quinzena dos Realizadores. Mas ela não é negra, ela é branca, uma francesa da classe média e com longínquas origens italianas. No perfil que dela traçou o Le Monde, Céline é colocada no limite do normcore, essa espécie de fashion statement (ou é apenas uma piada?) que pugna pela diluição na invisibilidade. To fit in em vez de stand out. Um pós-qualquer coisa…Céline não é negra, mas as personagens do seu filme, Bande de Filles, e as suas exuberantes actrizes, que subiram com ela ao palco na sessão de abertura da secção Quinzena dos Realizadores, são. Mas Céline faz corpo com o bando, tudo nos seus filmes participa de uma forma de ligação sensual ao grupo, quer seja em La Naissance des Pieuvres (2009), em que o desejo homossexual irrompia no seio de uma equipa de natação sincronizada, ou em Tomboy (2013), história de uma menina que se fazia passar por rapaz durante um Verão para pertencer ao bando de miúdos do bairro. Tem sido assim na vida de Céline, das manifestações à forma como participa como consultora dos argumentos dos amigos realizadores passando pela equipa de futebol feminino que criou com as amigas (e em que participa Marie Amachoukeli, uma das realizadoras de Party Girl, o filme que abriu a secção Un Certain Regard). Céline diz sentir um élan forte por “essa forma de encarnação muito física do político”. Se há élan em Bande de Filles está aí, precisamente, na evidência dos corpos, na forma como falam. Esta é a história do desabrochar de uma adolescente de um bairro da periferia parisiense – pai ausente, mãe afogada pela necessidade de trazer dinheiro para casa, irmã mais pequena para cuidar, irmão com a missão de velar pela respeitabilidade familiar, o que o torna às vezes alguém activo em tornar o ambiente caseiro disfuncional. Até que Marieme encontra três bad girls vestidas pelo rock’n’roll e desfrisadas pelo R’n’B e que lhe propõem uma viagem até ao centro, Paris. A viagem vai mudar tudo, até o nome de Marieme, que se passará a chamar Vic, de Victory. E assim é como se La Haine, de Mathieu Kassovitz, filme que explodiu aqui em Cannes há quase duas décadas, fosse fosse actualizado pelo romantismo que está na origem da metamorfose das mulheres dos filmes de Jane Campion. Num cenário, a banlieue parisiense, que participa da realidade mas que a ultrapassa, fazendo dele uma tela em branco onde é possível investir com uma arquitectura de cores e sensualidade. Um pós-qualquer coisa também, depois dos filmes sobre a banlieue com rapazes, um filme na banlieue com raparigas. Não é só o género que muda, há qualquer coisa da ordem da superação na forma de juntar os temas do costume para falar da banlieue: o corpo delas a tomar posse de Diamonds, de Rihanna, é assim que o filme fala. Diz-se que Céline Sciamma é das mais enérgicas realizadoras da sua geração, começa a estar em todo o lado e neste momento está a escrever o argumento do próximo filme de André Téchiné. A recepção a Bande de Filles na abertura da Quinzena foi empática e física. Estes devem ser momentos intensos para um cineasta. Mas a experiência da euforia é sempre triste, porque traz consigo um sabor a fim. Apesar da exuberância à flor da pele (ou se calhar por causa dela), Bande de Filles é um filme que não consegue prometer que vai ficar connosco para todo o sempre. Essa foi uma experiência de empatia, de euforia – condenadas que possam estar. Captive, de Atom Egoyan (concurso), é qualquer coisa próxima do grotesco. Alguém diz no filme, uma personagem a outra, quando esta desenvolve uma teoria qualquer sobre um rapto, que ela andou a ver muitos filmes. Atom Egoyan andou a ver muitas séries de televisão, dessas que normalizam o vírus Twin Peaks dentro delas. No papel, um projecto que promete: examinar como o passado (um rapto) marca ao longo de vários anos a vida de várias personagens, dos pais da vítima ao casal de investigadores encarregados do caso, passando pela própria vítima e pelo seu raptor. O passado e o trauma são um tema de Egoyan, como a violação da privacidade, como o voyeurismo… Tudo isto está aqui, mas com a velocidade das rotinas, com a convicção apenas do plot e de como levá-lo até ao fim – e o fim, em que o filme parece apodrecer a sua própria rotina, é mesmo a desagregação de todas as hipóteses de poder ser convencido (experiencia, pelo menos, este espectador).
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave adolescente violação género espécie mulheres corpo homossexual negra rapto
Ana Gomes dá a cara pelos "Monólogos da Vagina"
Nove deputadas europeias de várias nacionalidades, incluindo a socialista portuguesa Ana Gomes, representaram na noite desta terça-feira a peça "Monólogos da Vagina" no quadro de uma campanha mundial de alerta e mobilização contra a violência sobre as mulheres. (...)

Ana Gomes dá a cara pelos "Monólogos da Vagina"
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-03-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nove deputadas europeias de várias nacionalidades, incluindo a socialista portuguesa Ana Gomes, representaram na noite desta terça-feira a peça "Monólogos da Vagina" no quadro de uma campanha mundial de alerta e mobilização contra a violência sobre as mulheres.
TEXTO: Com muito humor mas sobretudo muita emoção, as nove deputadas - originárias de Portugal, França, Bélgica, Alemanha, Holanda, Áustria, Suécia, Finlândia e Roménia - partilharam entre si os textos da célebre peça da americana Eve Ensler, escrita a partir de entrevistas a mais de 200 mulheres sobre os diferentes aspectos da sua sexualidade. Desde a sua primeira representação em 1996, a peça já foi representada em mais de 40 países e traduzida para 35 línguas. A ideia de representar a peça no Parlamento Europeu partiu de duas deputadas - a conservadora finlandesa Sirpa Pietikäänen e a verde alemã Franziska Brantner - que há pouco mais de um mês desafiaram todas as eleitas do PE a associarem-se ao projecto. Sete deputadas responderam ao convite - três verdes, duas conservadoras, duas liberais, uma socialista e uma comunista. Eve Ensler, que acompanhou pessoalmente todo o processo de preparação da peça e os escassos ensaios, adaptou alguns textos à actualidade - nomeadamente para alertar para as violações em massa que continuam a acontecer no Congo. No final da representação perante uma sala à cunha e que ovacionou de pé as "actrizes", Ensler felicitou-as calorosamente enquanto "mulheres corajosas, brilhantes e visionárias". A representação destinou-se a lançar "um alerta para a violência feita contra as mulheres do mundo inteiro, da violação - incluindo enquanto arma de guerra - à mutilação genital feminina, passando pela violência doméstica", afirmou no final Ana Gomes aos jornalistas. A deputada admitiu que "gostava muito de a ver representada no parlamento português" - tal como já aconteceu nos parlamentos inglês e filipino, segundo disse - o que considerou aliás "muito apropriado, de modo a que o próximo 8 de Março não sirva só para as habituais declarações bem intencionadas ou hipócritas sobre a necessidade de combater a violência e a discriminação contra as mulheres". Ana Gomes disse ainda que a iniciativa de hoje gerou uma nova dinâmica entre as nove deputadas, que pretendem constituir um "núcleo para dar mais visibilidade às questões da violência contra as mulheres". A mobilização vai manter-se pelo menos até à celebração do "dia V" - V-Day - previsto por Eve Ensler para 14 de Fevereiro de 2013 em que é suposto mulheres e homens de todos o mundo descerem à rua para dançar exigindo o fim da violência contra as mulheres.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens guerra violência violação mulheres doméstica sexualidade feminina discriminação
Duas raparigas de 14 e 16 anos violadas e enforcadas na Índia
Quando as adolescentes desapareceram, a polícia recusou procurá-las. (...)

Duas raparigas de 14 e 16 anos violadas e enforcadas na Índia
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento -0.1
DATA: 2014-05-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Quando as adolescentes desapareceram, a polícia recusou procurá-las.
TEXTO: Na terça-feira à noite duas primas de 14 e 15 anos da aldeia de Katra Shahadatganj, no Norte da Índia, saíram do domicílio familiar para irem à casa de banho. Na quarta-feira de manhã foram encontradas enforcadas numa árvore — tinham sido violadas por um grupo de homens. A polícia prendeu um habitante da aldeia, suspeito dos crimes, e procura outros quatro. “Estiveram envolvidas várias pessoas”, disse aos jornalistas o chefe da polícia do distrito de Budan, no estado do Uttar Pradesh, onde o crime aconteceu. Dois polícias da esquadra local foram suspensos porque, na terça-feira à noite, quando a família ali foi porque as adolescentes não tinham voltado para casa, recusaram começar a procurá-las. A autópsia, disse o chefe da polícia, indicia que houve uma violação em grupo e que a morte se deveu a enforcamento. Fora retiradas amostras de ADN do corpo das raparigas, que irão ser comparadas ao ADN dos suspeitos que vierem a ser detidos. De acordo com os testemunhos recolhidos junto da população, só a fúria dos habitantes da aldeia quando os corpos foram encontrados levou a polícia a agir, abrindo um registo de rapto e violação. A família das raparigas acusou a polícia de inacção e os suspeitos de terem assassinado as adolescentes, depois de as terem violado. O chefe da polícia disse que todo o crime, o rapto, a violação e a morte, estão a ser investigados. A violência sexual está a aumentar na Índia, onde houve um aumento do número de violações e de violações em grupo, apesar de a legislação ter sido alterada para proteger as mulheres e criminalizar de forma mais dura os criminosos. As mudanças na lei tiveram lugar depois de uma estudante ter sido violada dentro de um autocarro em Nova Deli por um grupo de homens. A jovem mulher morreu dos ferimentos e, por toda a Índia, milhares de pessoas manifestaram-se contra a violência sexual, exigindo medidas punitivas mais duras para os criminosos - exceptuando um, que era menor, todos foram condenados à morte. Porém, e ao contrário do que previam os legisladores, o número de casos aumentou, sobretudo contra mulheres e raparigas das comunidades mais pobres (as duas primas pertenciam a uma comunidade dalit, os intocáveis na antiga estrutura de castas indiana). Um relatório do Centro Asiático para os Direitos Humanos concluiu, em Abril, que por ano são registados 48, 338 casos de violações de menores na Índia. O mesmo documento diz que entre 2001 e 2011 houve um aumento de 336% no número de casos de violações registados, sendo que uma grande percentagem deles não chega a ser denunciado.
REFERÊNCIAS:
Étnia Asiático
A diversidade na tecnologia "não é só sobre mulheres"
Karen Chupka, a estratega por detrás da CES, uma das maiores feiras de tecnologia do mundo, diz que a prioridade é pôr especialistas a falar. E frisa que são precisas “pessoas com diferentes percursos e de diferentes locais, pessoas de outras etnias, pessoas com deficiências”. (...)

A diversidade na tecnologia "não é só sobre mulheres"
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Karen Chupka, a estratega por detrás da CES, uma das maiores feiras de tecnologia do mundo, diz que a prioridade é pôr especialistas a falar. E frisa que são precisas “pessoas com diferentes percursos e de diferentes locais, pessoas de outras etnias, pessoas com deficiências”.
TEXTO: Pensar só nas mulheres não resolve o problema da diversidade no sector da tecnologia – o argumento é da vice-presidente executiva da Consumer Electronic Show, ou CES, uma das maiores e mais antigas feiras de tecnologia do mundo que acontece anualmente em Los Angeles, EUA. O evento que Karen Chupka ajuda a organizar há mais de 25 anos foi alvo de fortes críticas durante a sua última edição, em Janeiro, pela ausência total de mulheres a falar nas grandes apresentações sobre o futuro da indústria. Os oradores – da Intel, Huawei, Ford, Baidu, Hulu e da Turner, um conglomerado de media – eram todos homens. Em conversa com o PÚBLICO durante o CEO Summit, um evento de pré-preparação para a CES, Karen Chupka diz que os esforços para promover diversidade não se podem limitar às mulheres. “Não é só sobre mulheres”, argumenta a vice-presidente. “Temos de garantir que damos espaço a um leque diversificado de vozes. Somos uma feira internacional. Também é preciso ter pessoas a falar de diferentes partes do mundo, porque há formas diferentes de ver a tecnologia e de fazer as coisas. A dificuldade, para nós, é perceber como é que atacamos todos estes pontos. ”Sobre a falta de diversidade de género, lembra que, apesar da falta de mulheres como cabeças de cartaz na CES, mais de 64% das sessões e debates no evento de 2018 contaram com elementos do sexo feminino, e 300 das oradoras eram mulheres, o que representou cerca de 30% do total. É algo que a CES aponta como um problema global no sector tecnológico. Dados do portal de estatísticas Statista mostram que há menos de 25% de mulheres a trabalhar as áreas tecnológicas de grandes empresas como a Microsoft, Google, Apple, Amazon e Facebook. Embora Chupka admita que motivar mais mulheres a entrar no sector seja fundamental, diz também que é importante não esquecer outras áreas. Em 2019, a feira tem regras novas para promover a diversidade. “Uma das estratégias que estamos a experimentar é exigir que todos os membros dos painéis de discussão com mais de três pessoas tenham o que chamamos um membro ‘diverso’. Ou seja, alguém de uma comunidade ou área pouco representada. "Além das mulheres, é preciso trazer “pessoas com diferentes percursos e de diferentes locais, pessoas de outras etnias, pessoas com deficiências”. Na área da tecnologia associada à saúde, que Chupka considera uma das grandes tendências para os próximos anos, diz que também é importante dar voz às pessoas que vão utilizar os produtos, às associações de consumidores, e aos profissionais da área. Incluir mais profissionais da Ásia é outra das grandes metas. A possibilidade de o presidente norte-americano Donald Trump dificultar o investimento de empresas chinesas em tecnologia nos EUA é algo que preocupa a organização. Em Maio, a Administração de Trump anunciou que ia implementar restrições específicas nos investimentos e exportação de tecnologia “industrialmente significativa” de alguns países, como a China. “Enquanto organização focada em tecnologias de consumo, estamos convencidos de que ninguém vai beneficiar de um mercado assim”, disse Gary Shapiro, o presidente da CTA, a associação responsável pela CES, durante o CEO Summit. A lista de restrições será conhecida no final do mês. "As políticas em vigor na China apoiam fortemente novas tecnologias a emergir e a inovação em drones e em veículos autónomos", explicou Karen Chupka. "A legislação na China torna mais fácil que amadores explorem a utilização de drones voadores. " Em Abril, o Ministério do Transporte da China anunciou que os governos de todas as cidades e províncias teriam o poder para autorizar testes com carros autónomos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Manter boas relações com as regiões da Ásia é fundamental. Mesmo com críticas, a CES insiste que o lema da feira continua a ser "diversidade como a chave da inovação". Questionada, no entanto, sobre o maior foco, Chupka diz que o primeiro passo é garantir diversidade ao nível da tecnologia. "Não queremos ter especialistas de um só tema. Precisamos de especialistas de inteligência artificial, de robótica, de redes 5G”, enumera. “Queremos garantir que as pessoas que pomos a falar são especialistas em tecnologia. ”O PÚBLICO viajou a convite da CTA
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Menina encontrada morta em Espanha tinha dose letal de um ansiolítico
Asunta, de 12 anos, tinha doses 17 vezes superiores ao normal de um medicamento que só é vendido com receita. Mãe está presa preventivamente, mas continua a dizer que é inocente. Pai também é suspeito de homicídio. (...)

Menina encontrada morta em Espanha tinha dose letal de um ansiolítico
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento -0.2
DATA: 2013-10-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Asunta, de 12 anos, tinha doses 17 vezes superiores ao normal de um medicamento que só é vendido com receita. Mãe está presa preventivamente, mas continua a dizer que é inocente. Pai também é suspeito de homicídio.
TEXTO: As análises toxicológicas realizadas ao corpo de Asunta Basterra, a menina de 12 anos encontrada morta no passado dia 22, numa floresta de Cacheiras, na Galiza, Espanha, revelaram a presença de doses muito elevadas de um ansiolítico. Os resultados dos testes são conhecidos numa altura em que a mãe da adolescente se encontra detida por, juntamente com o pai, ser a principal suspeita do suposto homicídio. Fontes do caso citadas pelo El Mundo dizem que a substância em causa se chama lorazepam, um medicamento tranquilizante que pertence ao grupo das benzodiazepinas e que apenas é vendido com receita médica. O El País refere uma dose de 0, 68 miligramas por litro de sangue, quando o normal seriam 0, 04 (uma quantidade 17 vezes inferior). Ao mesmo jornal, o psiquiatra forense José Cabrera Forneiro disse que estes níveis “implicam uma toxicidade próxima da possibilidade de morrer, mais ainda em crianças menores de 12 anos”, e que este tipo de quantidades só costuma ser encontrado em adultos que se tentaram suicidar com quantidades equivalentes a cinco caixas do medicamento. Na quinta-feira, o juiz que está a conduzir a investigação do caso já entregou à defesa a argumentação que motivou a detenção preventiva de Rosario Porto Ortega, que está presa há sete dias, apesar de insistir ser inocente. Os motivos não foram tornados públicos, mas, na lei espanhola, existem três razões para o ter feito: risco de fuga; atentado contra os direitos ou bens da vítima; e ocultação ou destruição de provas. A razão mais provável será esta última. Rosario é a principal suspeita, em conjunto com o ex-marido, da morte da filha, que entretanto já teria feito os 13 anos. O caso tem abalado Espanha. A mãe de Asunta é advogada, apesar de não exercer, e antiga cônsul honorária de França em Santiago de Compostela e o ex-marido, Alfonso Basterra Camporro, é jornalista. A menina, de origem chinesa, foi adoptada pelo casal e, inicialmente, referia-se que a causa da morte poderia ser uma herança que os avós, pais de Rosario, lhe teriam deixado. O que se revelou que não era verdade – desde 1975 que o testamento não era modificado e Rosario é a herdeira universal dos pais. Tanto o advogado de Rosario Porto Ortega como de Alfonso Basterra Camporro já garantiram que vão recorrer, adiantando que os autos de prisão emitidos pelo juiz carecem de informação que permita preparar a defesa ou perceber os motivos, diz o El País. Versões contraditórias sobre o dia do desaparecimentoNa terça-feira, o juiz ouviu 12 testemunhas, entre elas o médico, professores e colegas de escola de Asunta, assim como amigos da família. Também as pessoas que encontraram o corpo da adolescente, no domingo, dia 22 de Setembro, foram ouvidas. Estes homens disseram que as mãos do cadáver tinham sido mexidas desde o momento em que o encontraram e que regressaram ao local, depois de terem dado o alerta. Por essa razão, suspeitam que quem depositou o corpo da adolescente naquele local poderia ainda lá estar aquando da sua descoberta. “Estou destroçada, porque mataram a milha filha e agora sou acusada [de parricídio], o que é horrível”, confessou Rosario Porto Ortega a um dos seus advogados. Os indícios que apontam para os pais são muitos, mas Rosario Porto Ortega contesta-os. A mãe deu conta às autoridades do desaparecimento de Asunta no sábado, 21 de Setembro. Na altura, disse que tinha saído para ir às compras sozinha, mas, numa das imagens recolhidas às 20h00 daquele dia, aparece no seu carro com a adolescente. A hora não bate certo com o que afirmou quando alertou para o desaparecimento. Segundo Rosario, a filha terá saído de casa entre as 19h00 e as 21h30, sem que fosse explicado para onde poderia ter ido. Vizinhos da família garantem ter-se cruzado com Rosario pelas 20h45 e que esta lhes terá dito que ia buscar a filha. Além das diferenças de horas, as hipóteses de Rosario ter estado envolvida na morte da filha adensaram-se quando, durante buscas realizadas à casa de Montouto, foram encontradas cordas semelhantes às que estavam perto do corpo da adolescente, deixado na floresta de Cacheiras. O corpo tinha marcas que podiam indicar um possível estrangulamento, mas, perante as análises toxicológicas, as equipas forenses não descartam que algumas marcas possam ter sido feitas depois de a menina ter tomado os medicamentos para ser levada para a floresta, sendo difícil distinguir se foi antes ou pouco depois da morte.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos morte homens filha lei escola homicídio prisão adolescente corpo morta desaparecimento
Morreu Marc Riboud, o fotógrafo da China de Mao e da "rapariga da flor"
Histórico do fotojornalismo francês, notabilizou-se pela cobertura da China da revolução comunista e das independências africanas, mas foi por causa de uma manifestação em Washington que ficou na memória de muitos. Tinha 93 anos. (...)

Morreu Marc Riboud, o fotógrafo da China de Mao e da "rapariga da flor"
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Histórico do fotojornalismo francês, notabilizou-se pela cobertura da China da revolução comunista e das independências africanas, mas foi por causa de uma manifestação em Washington que ficou na memória de muitos. Tinha 93 anos.
TEXTO: Recebeu a sua primeira máquina fotográfica, uma Kodak Vest Pocket, quando tinha 14 anos. Foi um presente do pai, o mesmo que insistiu para que estudasse Engenharia. Marc Riboud, um dos históricos do fotojornalismo francês, morreu na terça-feira em Paris, aos 93 anos, noticiou a AFP. Segundo o diário norte-americano The New York Times, sofria de Alzheimer. Mesmo os que não conhecem o seu trabalho, é muito provável que já se tenham cruzado com alguma das suas fotografias da China de Mao, do Vietname ou do Camboja. Mesmo os que nunca viram as suas reportagens no Extremo Oriente e no continente africano – fotografou intensamente o Japão e os processos independentistas – é natural que já tenham sido confrontados com uma das suas imagens mais celebradas, a de uma jovem chamada Jan Rose Kasmir que, segurando apenas uma flor, enfrenta a Guarda Nacional Americana durante uma manifestação no Pentágono em 1967, um protesto que viria a ser fundamental para colocar a opinião pública definitivamente contra a Guerra do Vietname. Trabalhando para importantes publicações ao longo de mais de 60 anos de carreira – Life, Geo, National Geographic, Paris-Match, Stern, Look, The Observer, The Times –, chegando a assinar alguns dos textos que acompanhavam as suas grandes reportagens fotográficas, Riboud deu-nos sempre a sua visão humanista do mundo. É essa abordagem sensível à realidade, sublinhada por críticos e historiadores da fotografia a cada nova exposição sua, a cada novo livro, que os obituários agora evocam. Isto, a par da mestria com que dominava o preto e branco e a cor, criando imagens que ficavam impressas na memória, cristalizando momentos da história através de lugares e protagonistas, como o Presidente da Polónia Lech Walesa, o líder comunista vietnamita Ho Chi Minh, o fundador da República Popular da China Mao Tsetung, o histórico revolucionário cubano Fidel Castro ou o oficial nazi Klaus Barbie, o "carniceiro de Lyon", condenado por crimes contra a humanidade em 1987. “Marc foi o homem que mais fotografias históricas fez durante a vida”, disse ao diário francês Le Monde Jean-François Leroy, director do festival de fotojornalismo Visa pour l’image, em Perpignan, que nesta edição consagra uma das exposições a Riboud, centrando-se na sua reportagem em Cuba, em 1963, ano em que teria a sua primeira individual, no Art Institute de Chicago. “Muitos fotógrafos se inspiraram nele sem jamais o igualar. ” É também o seu talento para se aproximar das pessoas e captar a realidade em momentos-chave que Alain Genestar, director da revista Polka, especializada em fotojornalismo, destaca: “Marc Riboud era um fotógrafo-andarilho (…). Sabia captar tão bem momentos singulares, com grandes figuras mundiais, como cenas de rua. ”Colocado perante momentos que ficariam para a história, Marc Riboud não foge às figuras que são notícia, mas também não se concentra exclusivamente nelas. Das centenas e centenas de fotografias que tirou em países como a China, o Camboja, o Bangladesh, a Índia, o Tibete, o Paquistão, a Turquia ou o Japão, apenas um punhado se centra em pessoas, sobretudo líderes políticos, que viriam a merecer a atenção de historiadores e outros académicos, escreve o New York Times, num texto em que noticia a sua morte e em que lembra, entre outras coisas, que o fotojornalista francês sempre soube encontrar “momentos de graça” nas situações mais duras com que se foi cruzando em todo o mundo, muitas delas em cenários de conflito. Riboud fotografa os incontornáveis – de Charles de Gaulle ao ayatollah Ruollah Khomeini, de Mikhail Gorbatchov a Indira Gandhi, passando por Willy Brandt, Winston Churchill, Jawaharlal Nehru e Deng Xiaoping – mas também os miúdos que parecem brincar aos polícias e ladrões nas ruas de Xangai, as mulheres rodeadas de crianças numa fonte de Istambul, as festas de aristocratas na Irlanda do final dos anos 70 ou dois homens à conversa numa esquina de Argel, em 1963, um ano depois de declarada a independência da ex-colónia francesa. Nascido em 1923, perto de Lyon, numa família de banqueiros e industriais, Marc Riboud recebeu do pai, fotógrafo amador, a primeira câmara, um instrumento com que este esperava compensar a timidez do quinto dos seus sete filhos. “Se não sabes falar, talvez saibas olhar”, ter-lhe-á dito, escreve esta quarta-feira o jornal Libération. No começo a fotografia é apenas o passatempo de um rapaz burguês que fizera algumas imagens na Exposição Universal de Paris, em 1937, e que em 1944 se iria juntar à resistência francesa para combater os alemães. Só nove anos mais tarde, e depois de completado o curso de Engenharia Mecânica em 1948, passa a ser uma ocupação a tempo inteiro e a título oficial, quando Riboud entra para a prestigiada agência Magnum, a convite de dois dos homens que a tinham fundado em 1947, Henri Cartier-Bresson e Robert Capa. Os dois fotojornalistas tinham visto nas páginas da revista Life aquela que viria a ser uma das suas fotografias mais reproduzidas – conhecida como “Pintor da Torre Eiffel”, mostra um operário em equilíbrio, de cigarro na boca, que parece saído de um filme de Chaplin. Cartier-Bresson, aliás, fora-lhe apresentado pouco tempo depois de Riboud se ter mudado para Paris, em 1952, passando a ser o seu mentor (Capa também ajudou). Dizia-lhe que livros ler e que exposições visitar, lembrou o fotojornalista ao New York Times: “Ensinou-me coisas sobre a vida e sobre a arte da fotografia. ” Mostrou-lhe, por exemplo, que uma boa fotografia também dependia de uma boa geometria (como no caso do operário chaplinesco) e que a olhar para as obras dos mestres da pintura antiga dos grandes museus se aprendia muito mais sobre composição do que a ler livros. Aprendia-se a criar algo intemporal. Com a chegada à Magnum, Marc Riboud transforma-se no viajante incansável que seria praticamente durante toda a sua vida. Em 1957 é um dos primeiros europeus a percorrer, fotografando, a China comunista, território que troca pelo Japão, primeiro, e depois pela URSS. Era lá que estava havia três meses quando é chamado para cobrir os movimentos independentistas na Argélia e na África subsariana (Gana, Nigéria, Guiné). Estava-se em 1960. O final dessa década – 1968/1969 – encontra-o no Vietname, território hostil, em guerra, onde poucos fotógrafos eram autorizados a entrar e ainda menos eram capazes de se movimentar sem dificuldades de maior entre o Norte e o Sul. Em 1973 está nos Estados Unidos para acompanhar o "caso Watergate", o grande escândalo político da Administração Nixon. Seis anos mais tarde, volta a cruzar-se com a América, desta vez em Teerão. Está a cobrir a revolução iraniana quando a embaixada dos EUA na capital é ocupada e os seus funcionários feitos reféns. Riboud fotografa intensamente para a agência precisamente até 1979, quando decide sair por não lhe agradar, explicou, a “luta pela glória” que ali se promovia. Nas décadas de 1980 e 90 regressa com frequência à Ásia, em particular à China, cujas mutações, registadas em dois livros (40 Ans de Photographie en Chine e Demain Shangai), acompanha durante 40 anos. Escreve o diário norte-americano que, ao contrário de alguns fotógrafos, que temem ver o seu trabalho reduzido a duas ou três imagens, Marc Riboud não se importava de explicar, uma e outra vez, em que circunstâncias tirara a fotografia do pintor na Torre Eiffel ou da “rapariga da flor”, garantindo que a nenhum deles pedira para posar. “Sempre fui tímido e sempre tentei ignorar as pessoas que fotografava para que elas também me ignorassem”, dizia o homem que em 2000, num ensaio a que deu o título de Pleasures of the Eye, resume assim a sua relação com a fotografia: “A minha obsessão é fotografar a vida naquilo que tem de mais intenso e o mais intensamente possível. É uma mania, um vírus tão forte como o meu instinto de liberdade. ”Objecto de grandes exposições em Paris, Londres, Xangai, Tóquio ou Nova Iorque, Marc Riboud recebeu inúmeros prémios ao longo da sua carreira (o Infinity Award do Centro Internacional de Fotografia, o Leica de Carreira e o Nadar) e publicou vários livros, entre eles L’Instinct de l’Instant e Vers l’Orient. Mas isso nunca impediu que se sentisse “envergonhado” ao falar do seu trabalho. Para ele fotografar era andar à procura de uma surpresa visual, dentro de uma forma bem estruturada, sem a pretensão de ser uma testemunha da história. “Testemunha”, aliás, era palavra de que não gostava. É verdade que assistiu a momentos-chave do século XX, mas também é verdade que rejeitava associar o termo “objectividade” a fotojornalismo ou a outra coisa qualquer. “A ideia da fotografia como prova é pura treta”, dizia numa conversa com outro fotógrafo da sua geração, o croata Frank Horvat (1928-). “A fotografia não dá mais provas de uma realidade do que aquilo que alguém diz numa conversa de autocarro. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Viajava por alguns países – China, Vietname, ex-Jugoslávia, Índia – com a certeza de que regressaria, mesmo quando isso o colocava em risco. “Sinto-me atraído pelo perigo, tal como me sinto atraído por uma mulher bonita”, admitia. Para Riboud a surpresa residia na possibilidade de voltar a olhar para um lugar que já conhecia para nele descobrir coisas novas e não na chegada a um lugar novo. Num dos trabalhos que põe em destaque no seu site oficial, publicado originalmente no livro Le Trois Bannières de la Chine e depois na revista Camera, em 1967, explica por que razão “a única maneira de descobrir a China é olhando para ela”: “Em qualquer outro sítio o contacto humano ajuda. Na Argélia, em Varsóvia, São Francisco, Cuba, Moscovo, etc. Inumeráveis trocas e conversas com estudantes, membros de sindicatos e artistas ajudam a completar e acrescentam significado às nossas impressões visuais. Isto não é possível na China. Para um estrangeiro, mesmo que fale chinês, a comunicação directa e espontânea praticamente não existe. Não são só a linguagem e os costumes que são diferentes. A própria maneira de pensar e as razões para viver são mais umas cortinas a mascarar a fachada oriental. (…) É por isso que é melhor ver do que ouvir. ”Regressar era importante para alguém que acreditava que “a fotografia não pode mudar o mundo, mas pode mostrar o mundo, sobretudo quando ele muda”. Mostrá-lo com a câmara sempre a funcionar como um escudo, como uma desculpa para se aproximar das pessoas, algo que lhe seria terrivelmente difícil sem esse intermediário.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Abuso sexual de crianças: "Molduras penais deviam ser muitíssimo maiores”
Anabela Neves defende o polémico acesso dos pais às listas de predadores sexuais de menores, cuja criação deverá ser aprovada em breve em Conselho de Ministros. (...)

Abuso sexual de crianças: "Molduras penais deviam ser muitíssimo maiores”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.083
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150501195124/http://www.publico.pt/1678698
SUMÁRIO: Anabela Neves defende o polémico acesso dos pais às listas de predadores sexuais de menores, cuja criação deverá ser aprovada em breve em Conselho de Ministros.
TEXTO: É médica do Instituto de Medicina Legal especializada em abusos sexuais. O seu trabalho consiste em fazer exames médicos aos abusadores de crianças e às suas vítimas, que chegam a necessitar de cuidados cirúrgicos. Está também a fazer uma tese de doutoramento em neuropsicologia na Faculdade de Psicologia na Universidade de Salamanca sobre as alterações neuronais que surgem no cérebro das crianças abusadas. O predador é um sedutor, um manipulador, avisa. “Nós gostamos de pensar que são feios porcos e maus, mas não é verdade. ”Por que começou a interessar-se por abusos sexuais de menores?Das primeiras coisas que vi, quando era estagiária no Hospital de Santa Maria, há 31 anos, foi uma criança de meses contra quem tinha sido perpetrada uma cópula, que acabou por falecer. Eu nem sonhava alguma vez ir para medicina legal. Qual é a idade a partir da qual uma criança sobrevive a um abuso sexual com penetração?A partir dos nove anos. Até aos seis, particularmente nas raparigas, a cópula pode provocar lacerações graves a nível perineal e hemorragias mortais. E nos meninos?Os esfíncteres anais são muito mais extensíveis. Mas estamos a falar de crianças que não desejam o acto – e cujos órgãos são mais pequenos. Contudo, o risco de morte é menor no rapaz do que na menina até aos seis anos. Agora os predadores são espertos. Sabem perfeitamente o que vão fazer e não querem pôr em risco a vida da criança, que os faria correr o risco de serem identificados. Portanto, estes casos são pouquíssimos. Ao longo da sua carreira lembra-se de casos que a tenham marcado mais?Muitos. Muitos. A comunicação social falou bastante do indivíduo que cloroformizava crianças para ter contactos sexuais com elas. Foi dramático. O clorofórmio é muito tóxico. Neste caso, à incapacidade de resistência somou-se o dano corporal grave. Os crimes sexuais provocam traumas diferentes de outros crimes ?Numa criança são comparáveis ao trauma de guerra. Mas as consequências dependem do tipo de abuso, da sua frequência e da relação da vítima com o predador. E ainda do suporte que essa criança tem, quer na sua esfera familiar quer a nível psicoterapêutico. A minha tese de doutoramento é, aliás, sobre a forma como o abuso sexual afecta as funções executivas do lobo frontal [do cérebro]. Nem todas as pessoas abusadas vão desenvolver stress pós-traumático, consubstanciado no recordar dos factos, em pensamentos recorrentes, angústia…Já falou com muitos predadores?Sim. E muitas vezes descupabilizam-se: “Ah, bom! Também dei prazer à criança (ou à adolescente). E da maneira que andava vestida estava mesmo a querer que as coisas acontecessem!”. Também alegam que é uma maneira de iniciar sexualmente a criança. Infelizmente, tenho mesmo ouvido algumas mães dizer: “Isto não teria acontecido se ela não andasse assim vestida. ” Está a esquecer-se de uma coisa que é o raciocínio e o juízo crítico – que nos diferencia dos outros animais. Naturalmente que temos impulsos. Mas não é por isso que passamos à acção. Há diferenças entre predadores e pedófilos?Dentro dos predadores, temos os pedófilos. O pedófilo é aquele que, por definição, tem actividades sexuais com crianças pré-púberes – ou seja, sem caracteres sexuais secundários, não têm sequer pêlos púbicos, e, no caso dos rapazes, que ainda não têm alterações da voz . Qual é o perfil do predador?Tem uma personalidade anti-social. É aquele tipo de pessoa que não tem resguardo dos direitos dos outros. Para obter poder, dinheiro, sexo, passa por cima de tudo. Normalmente é um sedutor, simpatiquíssimo. É doce, toda a gente gosta dele – dá-se bem com Deus e com o diabo. Alicia as pessoas, é um manipulador. É aquele amigo da família que é querido, que vai oferecer um Ipad ao nosso filho mesmo quando ele não precisa de outro tablet, numa interacção abusiva. Nós gostamos de pensar que são feios porcos e maus, mas não é verdade. Que percentagem dos predadores são pedófilos?Uma percentagem bastante substancial. Destes pedófilos, 70% têm outras parafilias, como o exibicionismo ou o voyeurismo. Há os que procuram ajuda psiquiátrica e por isso não chegam à acção. Mas são uma percentagem pequena. É possível um pedófilo alegar em tribunal que é doente e não ir para a cadeia?Tenho para mim que na pedofilia não há inimputabilidade. Mas quem estabelece isso é a psicologia forense, que determina se a pessoa, naquele preciso momento, estava capaz de avaliar o seu acto e mesmo assim passou à acção. Para mim, a pedofilia não é um termo da esfera criminal, mas da esfera psiquiátrica. O psicólogo forense tem de ouvir a vítima e o predador para determinar se este último é um pedófilo ou tem uma personalidade anti-social.
REFERÊNCIAS:
Menina e Moça, uma livraria-bar no coração da boémia lisboeta
Novo espaço no Cais do Sodré quer levar os autores lusófonos aos locais e aos turistas, num ambiente que evoca essa boémia onde a literatura tantas vezes floresce. (...)

Menina e Moça, uma livraria-bar no coração da boémia lisboeta
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-02-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Novo espaço no Cais do Sodré quer levar os autores lusófonos aos locais e aos turistas, num ambiente que evoca essa boémia onde a literatura tantas vezes floresce.
TEXTO: Entrar na Menina e Moça, a nova livraria-bar do Cais do Sodré, é ser convidado a rever velhos amigos e a travar conhecimento com novos – uns feitos de papel, outros de carne e osso –, enquanto tomamos um café ou beberricamos um copo de vinho. O espaço agora inaugurado na Rua Nova do Carvalho, em Lisboa, tem como regra única a língua portuguesa e quer aproximá-la de lisboetas e estrangeiros. “Esta é uma homenagem aos autores portugueses, à gastronomia portuguesa e à cidade de Lisboa”, diz a proprietária, Cristina Ovídio, que tem vindo a criar uma relação próxima com a literatura portuguesa ao longo da sua carreira na edição, primeiro na Oficina do Livro, depois na Planeta e, mais recentemente, na Clube de Autor, onde trabalha com autores como Mário Zambujal, Miguel Sousa Tavares ou Clara Ferreira Alves. “Queremos que este seja um espaço de animação cultural, de leitura e de tertúlias e que se proporcione um encontro entre as diferentes gerações”, explica. À primeira vista, pode parecer inusitado ver surgir uma livraria numa conhecida rua da noite lisboeta, mas foi o frequente casamento entre a literatura e a boémia que Cristina Ovídio quis explorar. "Seria difícil encontrar outro lugar que estivesse associado à boémia, aos turistas, à divulgação de autores portugueses aos turistas, mas também à lusofonia e ao vinho”, esclarece, acrescentando que “é bom que exista aqui um espaço que suscite alguma provocação”. Também as estantes da Menina e Moça são um tributo ao Cais do Sodré, estando envoltas de cima a baixo numa rede de pesca que tem a função dupla de “proteger os livros em caso de enchente”. A cor é uma constante na livraria projectada pelos arquitectos Henrique Vaz Pato e Pedro Quintas, mas o olhar de quem a visita prende-se especialmente no tecto, onde navegam barcos e voam balões da autoria do ilustrador João Fazenda. A vasta selecção de livros oferecida pela Menina e Moça - cujo nome evoca a célebre novela pastoril de Bernardim Ribeiro - abrange autores portugueses clássicos e contemporâneos, mas a livraria pretende dar prioridade à literatura traduzida para poder chegar a um público mais amplo. Para já, encontram-se nesta secção escritores como Fernando Pessoa, José Saramago, Cesário Verde, António Lobo Antunes e José Rodrigues Miguéis. “Muitos destes livros estão só em inglês, mas queremos apostar também no francês, porque há muitos franceses que vivem em Lisboa e que são amantes não só de Pessoa como de Lobo Antunes”, explica Cristina Ovídio. Muitos destes livros estão só em inglês, mas queremos apostar também no francês, porque há muitos franceses que vivem em Lisboa e que são amantes não só de Pessoa como de Lobo AntunesÉ essa ligação que a editora pretende fazer entre a língua portuguesa e o resto do mundo, exemplificando com um episódio em que um visitante norueguês comprou poesia de Maria Teresa Horta ou um outro em que um grupo de irlandeses levou o romance Caim, de Saramago, e O Livro de Cesário Verde. “Falando-lhes deles [dos autores] é engraçado, porque levam-nos para a mesa, começam a folhear e acabam por escolher”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A livraria também homenageia a cidade onde nasceu através de livros como a colectânea Lisboa Desaparecida, de Marina Tavares Dias, que recupera a série de textos jornalísticos publicados sobre a história da capital, e da venda de postais que mostram a Lisboa antiga. Além de contar com obras de autores como Raul Brandão, Carlos Drummond de Andrade, Mário Sá-Carneiro, Ruy Belo, Herberto Helder, José Luís Peixoto, Daniel Faria ou Miguel-Manso, a livraria tem ainda uma pequena secção dedicada aos clássicos da literatura internacional, como Charles Dickens, George Orwell, Gabriel García Márquez, Umberto Eco ou Aldous Huxley. Cristina Ovídio quis que a Menina e Moça fosse, acima de tudo, um aconchego onde a única inquietação é “o livro como algo que nos desassossega” e, para isso, decorou as estantes com a presença tutelar de alguns mestres da literatura portuguesa, retratados em imagens do arquivo fotográfico de João Francisco Vilhena. A lusofonia é o prato principal servido na Menina e Moça e nem o menu da casa escapa à literatura. As “vírgulas” são os petiscos, como as tábuas de queijos e os cestos de pão, os “contos” são as sopas, como o caldo verde e a canja de galinha, os “protagonistas” são os pratos principais, como folhado de galinha e saladas, e os “pontos finais” são as sobremesas, como o pastel de nata ou o leite-creme. No que diz respeito à carta das bebidas, Cristina Ovídio destaca a “poesia”, isto é, os diversos cocktails dedicados aos diferentes países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa: “Temos bebidas tipicamente portuguesas como o medronho e a ginja e outras provenientes de países como Cabo Verde, São Tomé, Angola e Moçambique”, acrescenta a proprietária. Para Cristina Ovídio, que cresceu rodeada de livros (é filha do físico e divulgador científico António Manuel Baptista 1924-2015 e tem na livraria expostos alguns dos livros que pertenciam à biblioteca do pai), o mundo alucinante e tecnológico em que vivemos hoje é uma realidade preocupante que condiciona os nossos hábitos de leitura. “Tudo o que exige silêncio e estarmos com nós próprios acaba por nos assustar”, reitera a editora, elaborando que “ninguém sente os sons da cidade nem olha a arquitectura ou sequer nos olhos do outro”. É essa a missão da Menina e Moça – recuperar esse deslumbramento quase infantil pelas palavras e pelos mundos de sonho e aventura a que nos podem transportar.
REFERÊNCIAS:
Bill e Hillary, Hillary e Bill: dois pelo preço de um?
Hillary Clinton teve sempre de provar que a sua relação com Bill era uma relação entre iguais. A não ser o facto, incontornável, de ser uma mulher. E às mulheres, mesmo quando estão no topo do mundo, exige-se sempre mais. Toda a gente sabe quem é Bill. Quem é ela ainda é a pergunta que a persegue. (...)

Bill e Hillary, Hillary e Bill: dois pelo preço de um?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Hillary Clinton teve sempre de provar que a sua relação com Bill era uma relação entre iguais. A não ser o facto, incontornável, de ser uma mulher. E às mulheres, mesmo quando estão no topo do mundo, exige-se sempre mais. Toda a gente sabe quem é Bill. Quem é ela ainda é a pergunta que a persegue.
TEXTO: “Compre dois pelo preço de um”. A frase remonta à campanha presidencial de 1992, quando Bill Clinton se apresentou pela primeira vez ao eleitorado nacional, desafiando um Presidente que tinha acabado de conduzir o mundo no caminho seguro do fim da Guerra Fria. A frase vale muito mais do que um mero slogan de campanha. Marca uma época. Resume uma mudança radical. Anuncia o início de uma “parceria” que dominou a política norte-americana nas últimas décadas e que só agora vai escrever o seu capítulo final. O que Bill queria dizer nessa altura era que a futura Primeira-Dama tinha uma capacidade política e intelectual igual à sua e que não iria para a Casa Branca apenas para apoiar a família e dedicar-se a causas sociais. Pela primeira vez, a geração que nascera para a política com a guerra do Vietname, a reivindicação de direitos iguais para as mulheres e os negros, a luta por uma sociedade menos hierarquizada, tinha a Casa Branca ao alcance da mão. Os conservadores odiavam esta nova imagem do futuro casal presidencial. Hillary, criada numa família republicana da classe média alta de Chicago e na fé metodista, começou a ganhar consciência política numa das mais sofisticadas escolas superiores de Massachusetts apenas para raparigas. Rapidamente virou à esquerda, mesmo que sem extremismos. Bill, nascido numa família pobre de um dos mais pobres estados americanos, evitou envolver-se na radicalização da sua geração porque queria, acima de tudo, fazer uma carreira política. Começou no Arkansas, concorreu ao Congresso e falhou, ganhou o cargo de Procurador-Geral e, finalmente, o de Governador. Pediu a Hillary que abandonasse a sua carreira promissora em Washington para acompanhá-lo em Little Rock. Nessa altura, tudo parecia ainda possível. Começou por ser Hillary Rodham. Fez o sacrifício de acrescentar o Clinton, mantendo o apelido de nascença. “Aprendi da maneira mais dura que alguns eleitores do Arkansas estavam realmente ofendidos pelo facto de manter o nome de solteira. ” Só mais tarde, na Casa Branca, acabou por adoptar o nome que hoje a define: Hillary Clinton. Com menos Bill e mais Hillary, mas cumprindo a mesma maldição que a perseguiu ao longo de 40 anos de carreira política e de exposição pública: para ela tudo foi sempre difícil; para ele, tudo foi sempre muito mais fácil. “Se frequentassem a mesma classe, ela iria a todas as aulas, leria todos os livros do programa e estudaria afincadamente para os exames. Ele passaria por algumas, leria alguns dos livros e escolheria outros, estudaria alguma coisa para os exames. No fim teriam os dois o mesmo A”, diz a sua antiga chefe de gabinete na Casa Branca. Na casa onde nasceu era mais ou menos a mesma coisa. Quando chegava com a caderneta escolar apenas preenchida por As, o pai dizia-lhe que a escola não devia ser muito exigente. Da mãe, que viveu uma vida amargurada e solitária, recebeu o conselho que mais viria a aplicar ao longo da vida: “Se caíres, volta a levantar-te”. Foi o que fez até hoje. O que é mais extraordinário na história desta mulher que quase ninguém duvida que saberá exercer o cargo supremo com capacidade e segurança, que tem uma experiência imensa sobre todos os dossiers, que aguentou ao longo da vida todos os vícios privados de Bill, que enfrenta agora a sua última oportunidade de provar que é tão capaz como ele, é que verdadeiramente ninguém ainda a conhece. Não são separáveis, porque cada um deles é a influência dominante do outro”Quem é Hillary Clinton? Em que é que acredita realmente? Depois de dezenas de biografias, milhares de artigos nos jornais, continua a ser inacessível, mesmo para os que gostam dela. Não faltam as explicações, ainda que todas sejam apresentadas com reserva. Bill, que foi uma figura “paternal” (demasiado) na sua primeira campanha para a Casa Branca, em 2008, desta vez ficou mais vezes em casa. Mas o fantasma das suas aventuras persegue-a em cada debate. Com todos os “escândalos” (uns reais outros ficcionados por uma direita religiosa que sempre os odiou) que envolveram o seu segundo mandato, continua a ser um dos Presidentes mais populares da América. Ela tem de vencer uma barreira invisível, que não é apenas o último tecto de vidro, mas aquele que parece estar entre ela e o comum dos mortais. Acumulou desde Little Rock o peso de várias “histórias”, nunca totalmente provadas, sobre os meios nem sempre transparentes com que os dois quiseram construir uma pequena fortuna, num país em que o dinheiro conta demasiado para a carreira política. A forma como lidou com as inúmeras “aventuras” do marido parecem revelar uma mulher implacável, disposta a engolir muita coisa para manter o casamento a funcionar. Há algum voto feminino que não lhe perdoa esta “fraqueza”. As sombras que sobrevoam ainda hoje a Fundação Clinton em matéria de financiamento, também não são muito abonatórias. Curiosamente, a maior ajuda vem-lhe, desta vez, não de Bill mas do seu rival de 2008. Barack Obama e Michelle estão ao seu lado quase todos os dias. Coube a Michelle, cuja popularidade é estratosférica, reagir ao vídeo ordinário de Donald Trump com uma força e uma sinceridade que Hillary não consegue transmitir. Teimosamente, os americanos regateiam-lhe a empatia. A mesma que nunca regatearam ao marido. Mesmo assim, 40 anos depois, Hillary e Bill mantêm a mesma parceria, assente no respeito mútuo pelas respectivas capacidades, forjado em muitas guerras, e sustentado por uma eterna história de amor. “Não são separáveis”, diz Carl Bernstein, autor de uma das mais completas biografias de Hillary (A Woman in charge, 2008) , numa recente entrevista à CNN, “porque cada um deles é a influência dominante do outro”. Mas esta longa história precisa de mais palavras para ser compreendida. Encontraram-se na Yale Law School em 1970, onde ela chegara depois do Wellesley College para estudar Direito e para onde ele regressou depois de dois anos em Oxford, com uma bolsa de estudo. No ano anterior, coube ao senador (republicano e negro) Edward Brook, do Massachusetts, pronunciar o discurso principal na cerimónia de abertura do ano lectivo no Wellesley College, a escola de elite que ela frequentara. O movimento antiguerra já tinha invadido os campus universitários. Martin Luther King fora assassinado um ano antes. Robert Kennedy também. O senador resolveu fazer um discurso condescendente sobre o movimento antiguerra nas universidades, considerando-o um mero e compreensível devaneio de juventude. Hillary, que já estava de partida mas a quem incumbia falar em nome dos estudantes, deixou as notas de lado para enfrentar o senador, dizendo-lhe que a sua geração já estava farta de condescendência e que ela, em consciência, não podia deixar passar as suas palavras. Deve tê-lo feito tão bem que o discurso teve uma enorme repercussão. A Life quis fazer um perfil dela. Quando Bill chegou a Yale já sabia quem ela era. Foi uma espécie de amor à primeira vista. Hillary seguiu para Washington, para trabalhar na Comissão de Justiça que estava a tratar do impeachment de Richard Nixon (Bill tinha sido convidado primeiro, mas indicou-a a ela), preparando-se para entrar num dos mais famosos escritórios de advogados da capital. Começara republicana mas, nessa altura, já tinha mudado de campo. A influência de um jovem pastor da Igreja Metodista (ainda em Chicago), ajudou-a a superar a eterna questão que carregava consigo: como resolver o dilema entre ser “uma conservadora pela razão e uma liberal pelo coração". O pastor levou-a a cumprimentar King e “apresentou-lhe” Bob Dylan. Bill também daria uma ajuda. Também ele evitou uma participação demasiado visível nos movimentos estudantis que revolucionaram (como na Europa) as universidades americanas, contra uma sociedade insuportavelmente hierárquica, pelos direitos iguais para as mulheres e para os negros. Tinha um objectivo: fazer uma carreira política. Enquanto ela rumava a Washington, ele regressava ao Arkansas, o pobre e distante estado onde nascera, para começá-la. Queria que ela fosse com ele. Decidiu segui-lo. Quando os seus amigos lhe diziam que estava a cometer um erro enorme, ela respondia: “O que querem, eu amo-o. ” Acabou por revelar-se fundamental para a carreira de Clinton. Foi ela que não o deixou desistir, quando perdeu as eleições para um segundo mandato de Governador. Bill andava pelas ruas de Little Rock a perguntar às pessoas porque não gostavam dele. Ela tratava de organizar o seu regresso. Candidatou-se a um terceiro mandato e ganhou. “Chelsea second birthday, Bill second chance”, escreveu ela no seu diário. Meteu mãos à obra para lançar uma reforma da educação cujos efeitos ainda perduram. Quanto ao destino de ambos, era naturalmente a Casa Branca. Bill anunciou a candidatura em 1991. Foi uma campanha duríssima, graças aos sucessivos escândalos de Bill no que respeitava às mulheres e que Hillary já tivera de enfrentar no Arkansas. Hillary tratou de esmagar as pretensões das alegadas amantes do marido, como se a culpa fosse delas. O carisma de Bill e a sua inesgotável capacidade de comunicação fizeram o resto. Ela seguiu para Washington declarando que não ia ficar o tempo todo a fazer bolos. Acabou por ter de desafiar Barbara Bush para um concurso de receitas lançado por uma revista de culinária. Teve de fazer concessões para tentar encaixar no modelo de Primeira-Dama que estava na cabeça da maioria dos americanos. O Rodham acabou por cair. Hillary passou a ser apenas Clinton. A sua heroína era Eleanor Roosevelt, pela sua independência em relação ao Presidente Roosevelt, e a sua intervenção política. Ainda no Arkansas, e por causa dos escândalos de Bill, os dois chegaram a admitir que poderia ser ela a candidatar-se a um terceiro mandato como Governadora. Dick Morris, o seu guru das sondagens, concluiu que ela não tinha uma identidade suficientemente separada da de Bill para poder ganhar. Ficou furiosa. Eram estranhos à elite de Washington e tiveram de enfrentar uma guerra sem quartel dos republicanos, que viam neles uma espécie de “anticristo”. Os seus biógrafos lembram que é preciso olhar para eles do ponto de vista da “guerra cultural” que dividia a América. “Eles estão no centro dessa guerra”, diz Bernstein. Para uma parte dos americanos eram “demónios da esquerda radical”. Isso e mais os devaneios de Clinton tornaram esta “guerra” implacável. Bill representava uma mudança geracional profunda em Washington. Levou para a Casa Branca uma radical transformação do programa do seu partido, designada os “Novos Democratas”, filhos e netos de Ronald Reagan. Tinha um conhecimento infindável e uma extraordinária capacidade de comunicação. Era, sobretudo, um grande sedutor. Quando se candidatou, muita gente achou que era impossível vencer George Bush, o Presidente que conseguiu terminar a Guerra Fria sem turbulência nem conflitos. Merecia um segundo mandato. Esqueceu-se de um pormenor: a economia estava em recessão. Como as corridas de cavalos, odiar Hillary transformou-se num desses passatempos nacionais que unem a elite e o lúmpen. ”“É a economia, estúpido”, a frase de James Carville inscrita nas paredes do quartel-geral da campanha de 1992 em Little Rock, e que se tornou na mais repetida do mundo, garantiu-lhe a inesperada vitória. Quando ambos chegaram ao nr. º 1600 da Pennsylvania Avenue, ela instalou-se na Ala Oeste, preparando-se para uma espécie de “co-presidência”, como escreveu o diário francês Le Monde. Bill deu-lhe a reforma que a sua geração considerava a mais emblemática de todas: a saúde. Rodeou-se de peritos, elaborou um programa de milhares de páginas, esqueceu-se de que tinha de negociá-lo com o Congresso, bastando-lhe a convicção de que estava certo. Foi obrigada a desistir. Com a aproximação das eleições para o segundo mandato, o staff do Presidente não a queria ver por perto. Era ela, diziam, que alimentava o rótulo de “esquerdistas” que a direita tentava colar ao casal presidencial. Escrevia a revista New Yorker em Fevereiro de 1996: “Como as corridas de cavalos, odiar Hillary transformou-se num desses passatempos nacionais que unem a elite e o lúmpen. ”Hillary não perdeu tempo a chorar sobre o leite derramado. Dedicou-se aos direitos das mulheres por esse mundo fora. Na China, em 1994, num congresso mundial, proclamou que “os Direitos Humanos são direitos das mulheres, e os direitos das mulheres são Direitos Humanos”. Nem tudo o que rodeava a Primeira-Dama era perfeito. Já trazia consigo do Arkansas algumas dúvidas mal explicadas sobre negócios de terrenos. Esteve envolvida num escândalo que abalou a agência de viagens da Casa Branca. Ainda estava para vir o "escândalo Lewinsky". Bill ganha o segundo mandato facilmente. Continuava a ser a economia. Criou mais de 10 milhões de empregos (no computo final, foram 20 milhões), transformou um enorme défice num muito confortável excedente, para o qual também contribuiu a redução do orçamento da Defesa. Reformou a segurança social, do conceito de welfare para o de workfare. Foi ele o grande inspirador da “terceira via” europeia. Conduziu uma política internacional que o fim do confronto Leste-Oeste tornava possível: promover o avanço dos mercados e da democracia num mundo cada vez mais interdependente. Travou as guerras nos Balcãs em nome da “responsabilidade de proteger”. Criou um movimento internacional, a “Progressive Governance”, atraindo os líderes de centro-esquerda da Europa e do resto do mundo. De Tony Blair a António Guterres, passando por Fernando Henrique Cardoso. Faltava ainda o 11 de Setembro e a crise financeira para provar que o mundo de Clinton era apenas uma transição. Henry Kissinger, o patrono da realpolitik americana, chamava à sua política externa de “assistência social”. Quando estalou o "escândalo Lewinsky" e ficou provado que o Presidente mentira ao povo americano, o próprio confessou a alguns amigos: “Não estou aqui mais do que uma semana”. As vozes a exigir a sua demissão eram cada vez mais fortes. Foi ela que, de novo, decidiu salvar a “parceria política” que os dois encarnavam, para “o bem da América”. Na televisão, disse que continuava a amá-lo e a respeitá-lo. “A grande história, aqui, é esta vasta conspiração de direita contra o meu marido desde o dia em que se apresentou como candidato. ” Admitem os seus próximos que ela chegou a acreditar na versão dele. Geriu a batalha contra o impeachment, que acabou derrotado no Senado. Foi ela que se humilhou perante a opinião pública. Logo que pôde, rompeu o cerco asfixiante que a envolvia, candidatando-se a senadora de Nova Iorque, antes mesmo do fim do mandato de Bill. “A popularidade de Bill junto da opinião pública mantém-se alta. A sua popularidade para mim bateu no fundo” (2003). Acrescentou mais tarde: “A decisão mais difícil da minha vida foi continuar casada com Bill e candidatar-me a senadora de Nova Iorque”. Ganhou e voltou a ganhar. Chegara finalmente a sua vez. Enfrentou com determinação o 11 de Setembro, negociando apoios extraordinários para ajudar a cidade a reconstruir-se física e moralmente. Votou a favor da guerra do Iraque, mais a pensar no seu futuro político do que na justificação apresentada por George W. Bush ao Congresso. Com os olhos já na Casa Branca, considerou que o apoio a Bush era importante para uma mulher que queria ser “comandante-em-chefe”. A grande história, aqui, é esta vasta conspiração de direita contra o meu marido desde o dia em que se apresentou como candidato. ”Não deixou nenhuma marca legislativa digna de registo mas participou na Comissão das Forças Armadas com o mesmo objectivo. E mudou de comportamento, graças às lições que aprendera da pior maneira. Mostrou-se humilde com os seus colegas mais velhos. Pediu-lhes conselhos. Deixou de ser intelectualmente arrogante. Bill criara, entretanto, a sua Fundação, envolvendo-se em causas humanitárias louváveis. Mas, mais uma vez, a forma como a financiava, nomeadamente enquanto Hillary chefiava o Departamento de Estado, estava, e está, envolvida em alguma nebulosidade. Os dois partilharam à sua maneira um pecado original: convenceram-se que políticos do seu calibre não tinham necessariamente de fazer as coisas como os outros mortais. “Ambos partilham apaixonadamente a convicção de que estão predestinados a fazer a diferença no mundo”, diz Betsey Wright, que trabalhou com ela. O destino ainda lhe voltaria a colocar mais algumas provações. Em 2008, acreditou que chegara finalmente a sua vez. Bush saía da Casa Branca com o fracasso das guerras no Iraque e no Afeganistão, somado a uma crise financeira sem precedentes que abalou a economia americana e a economia mundial. As sondagens garantiam-lhe uma vitória fácil. Capaz, inteligente, experiente. Quase perfeita. Estava preparada para entrar na Sala Oval e decidir sobre uma crise internacional na primeira hora do primeiro dia do seu mandato. Também ela confessa que ficou impressionada com o célebre discurso do actual Presidente na Convenção democrata de 2004, que escolheu John Kerry como candidato. Mas Obama era apenas uma promessa para o futuro. Depois foi o que se viu. Os americanos queriam mesmo uma mudança. Preferiam a esperança à experiência. Barack Obama oferecia-lhes essa possibilidade. “Épocas excepcionais, por vezes, engendram líderes excepcionais”, escrevia o académico francês Dominique Moisi, quando toda a Europa discutia se era melhor Obama ou Clinton. Ela era já a face da “aristocracia” que governava a América, dos Bush e dos Clinton. Como descreveu Carl Bernstein, esteve sempre na “bolha política”, na “bolha de Washington” e a “bolha dos media”. Na mesma biografia (2008), o autor revela coisas que pouca gente poderia sequer imaginar. Já na Casa Branca e em plena “guerra” sem quartel dos republicanos contra os Clinton, “ela frequentava pequenos-almoços de oração com as mulheres desses mesmos republicanos radicais” O mesmo aconteceu quando foi eleita para o Senado. Bernstein defende que a sua fé metodista é, porventura, a primeira explicação para a sua personalidade. Bill pertencia à Igreja Baptista, compartilhada por uma maioria negra do Sul. Mais festiva e menos exigente. Nessa altura, os republicanos cada vez mais encostados ao Tea Party mas ainda com um candidato moderado, John McCain, conseguiam odiá-la ainda mais do que ao seu rival democrata. “Temiam Obama porque podia ser o caminho mais rápido para o fim da guerra no Iraque”, diz o biógrafo. Odiavam Hillary porque sobrevivera “ao assassínio de carácter que orquestraram” contra Bill. Ambos representam a geração que culpavam da derrota da América no Vietname. Hoje, a pergunta continua a persegui-la: quem é verdadeiramente Hillary Clinton? Alguns dos seus amigos confessam que, por vezes, acreditam que “a gente que faz parte da sua vida é apenas um meio para atingir o seu objectivo”. “Deus está do meu lado, pode ser uma forma de arrogância”. Serviu lealmente Obama durante quatro anos no Departamento de Estado, onde fez um trabalho notável. O Presidente centralizou no seu gabinete as decisões de política externa mais importantes e, algumas vezes, diferentes das que ela defendia. Executou-as com enorme competência. Os militares gostam dela porque ela sabe do que está a falar. Regressava agora para a sua batalha final, para cumprir o único tabu que ainda falta vencer. Depois de um negro na Casa Branca, uma mulher. Parecia fácil. As contas acabaram por sair todas erradas. Primeiro, foi Bernie Sanders, da ala radical dos Democratas, classificando-se a si próprio como socialista (um conceito muito pouco americano), a quem as sondagens davam um único dígito no início das primárias. Perseguiu-a de perto em toda a campanha, provando o cansaço de muita gente contra as elites de Washington. Sou a única coisa que se entrepõe entre vocês e o apocalipse”Depois foi Donald Trump, o mais improvável dos candidatos republicanos, um populista brutal e primário, mas que parece traduzir a revolta das classes que se sentem abandonadas e cujos destinos foram duramente afectados pela globalização. Xenófobo, nativista, isolacionista e proteccionista. Um cocktail que não poderia ser mais perigoso. Mais uma vez, Bill esteve “presente” na campanha por péssimas razões. Mais uma vez, ela teve de subir a pulso até onde quer estar. Teve em Obama o mais leal e eficaz dos defensores. O mundo inteiro espera que ela ganhe. Ela própria disse há meia dúzia de dias ao New York Times: “Sou a única coisa que se entrepõe entre vocês e o apocalipse”. É verdade mas, para muitos americanos, não parece evidente. Já é avó. Bill continua a ser o seu companheiro e, porventura, o seu melhor conselheiro. Diz Maggie William, uma velha amiga, que “ela e o marido têm um acordo privado que se baseia na partilha do poder – ela é igual a ele e ele aceita isso. ” Mas é também a história de um grande amor. Nestes dias que faltam para a eleição, talvez Hillary se lembre do desafio que lançou ao senador do Massachusetts quando tinha apenas 21 anos. “O desafio hoje é fazer política com a arte de tornar possível o que parece impossível”. A vida já lhe ensinou que a política é, afinal, a arte do possível. Ainda pode ser uma grande Presidente, num dos momentos mais conturbados da ordem internacional. A única vez que alguém lhe viu lágrimas nos olhos foi no final das primárias de New Hampshire contra Obama, quando uma jornalista lhe perguntou como é que conseguia estar sempre tão bem arranjada. Quando dirigiu o Departamento de Estado escreveram-se longos artigos sobre se lhe ficava bem o cabelo mais comprido. Esta é a parte da história em que faz toda a diferença quando se é uma mulher. 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REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos guerra escola humanos campo educação mulher ajuda negro social estudo espécie mulheres casamento negra assassínio
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Todas estas restrições aos direitos das mulheres tornam-nas seres de segunda classe. Sendo assim, onde está o choque dessas almas aturdidas com estas ignomínias em pleno século XXI? (...)

Bater na mesma tecla
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-12-30 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20161230080341/https://www.publico.pt/n1755904
SUMÁRIO: Todas estas restrições aos direitos das mulheres tornam-nas seres de segunda classe. Sendo assim, onde está o choque dessas almas aturdidas com estas ignomínias em pleno século XXI?
TEXTO: No meu texto sobre como entende a investigadora kuweitiana que é lícito ao marido bater nas mulheres desde que não deixasse marcas negras ou vermelhas e estivesse convencido que tal corretivo iria levar a mulher ao bom caminho…Esta era a notícia. Fazia referência a um painel de cientistas sauditas e das suas decisões acerca da natureza da mulher. O texto que me chegou às mãos de vários lados tinha ainda depoimentos da porta-voz da Amnistia Internacional, Julie Cousteau, e da porta-voz da Mulher Libertação-Ação, Colette Turcotte, e ainda de Julien Poireau, um especialista do Médio-Oriente. A base do meu texto era a defesa por uma mulher investigadora do ato do marido poder bater na mulher nas condições supra referidas. Como há meses tinha lido os comentários das personalidades acima referidas limitei-me a fazer menção do facto. Mas é também por honestidade intelectual que devo acrescentar algumas verdades que me levaram ao texto. Em primeiro lugar, na Arábia Saudita, as mulheres não podem sair sem a permissão de um homem. As mulheres são, por isso, consideradas incapazes de se poderem deslocar sós, isto é, não têm direito a circular no seu país livremente. Só o podem fazer com o consentimento dos familiares masculinos. Um jovem pode sair à rua, mas a mãe não. Bem vistas as coisas, os animais de companhia também não podem sair sem haver quem os guarde e os não deixe fazer mal. Uma cabra ou um dromedário precisa que o dono os acompanhe para não fazerem mal …a situação não será totalmente idêntica, mas as mulheres não podem sair sozinhas… as razões serão diferentes, mas não podem andar na rua por sua livre vontade. Em segundo lugar, as mulheres não podem conduzir, só movimentar-se de carro se tiverem um homem como motorista. Altos dignitários religiosos defenderam que tal medida se justificava para não prejudicar a saúde das mulheres. As mulheres podiam danificar os ovários…que se encontram no interior do corpo resguardados ao contrário dos testículos que estão no exterior do corpo. Talvez aquelas altas individualidades não façam ideia nenhuma do corpo da mulher, dada a natureza tentadora das mesmas e, portanto, confundam a localização dos ovários com outros órgãos das mulheres, esses sim do lado de fora…Fácil é também ver que as mulheres muito ricas podem ter motorista e deslocarem-se; as outras não se podem deslocar e terão de se manter no serralho dos homens seus senhores e donos. Em terceiro lugar, as mulheres só podem ser examinadas quando estão doentes por outras mulheres médicas; se forem médicos, só na presença de um homem… uma situação de profunda desigualdade no acesso à saúde entre homens e mulheres. Em quarto lugar só em dezembro de 2015 as mulheres puderam votar e ser eleitas para os municípios, mas não se podem dirigir aos homens, salvo os da sua família e não podem ter cartazes com a sua cara. Não podem votar nos mesmos locais dos homens que tiveram à sua disposição 1263 assembleias e as mulheres 424. Em quinto lugar, as mulheres não se podem vestir como querem têm de usar a abaya, um vestido que lhes cobre o corpo todo. Por último nas escolas as jovens mulheres não podem ter aulas de Educação Física …Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Todas estas restrições aos direitos das mulheres tornam-nas seres de segunda classe. Sendo assim, onde está o choque dessas almas aturdidas com estas ignomínias em pleno século XXI?
REFERÊNCIAS: