Moradores do Rainha D. Leonor dizem que estão "esquecidos e abandonados"
Celeste Gomes mora no Bairro Rainha D. Leonor há 47 anos, Maurícia Barbosa há já 53: só viram pessoal da câmara a fazer obras no bairro "por uma vez, há muitos anos", quando ainda havia fiscais que zelavam pelas condições das casas. Depois de ter criado a filha Elisabete, Celeste Gomes cuidou da neta até que a dificuldade em andar se tornou um entrave para subir e descer os três lanços de escadas que conduzem ao pequeno apartamento que ocupa, no bloco D. Ao PÚBLICO, mostra as marcas de infiltrações nos tectos do quarto e da sala e as falhas no cimento da varanda. Construído entre 1953 e 1955, o Bairro Rainha D. L... (etc.)

Moradores do Rainha D. Leonor dizem que estão "esquecidos e abandonados"
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2009-09-25 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20090925020500/http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1402135
TEXTO: Celeste Gomes mora no Bairro Rainha D. Leonor há 47 anos, Maurícia Barbosa há já 53: só viram pessoal da câmara a fazer obras no bairro "por uma vez, há muitos anos", quando ainda havia fiscais que zelavam pelas condições das casas. Depois de ter criado a filha Elisabete, Celeste Gomes cuidou da neta até que a dificuldade em andar se tornou um entrave para subir e descer os três lanços de escadas que conduzem ao pequeno apartamento que ocupa, no bloco D. Ao PÚBLICO, mostra as marcas de infiltrações nos tectos do quarto e da sala e as falhas no cimento da varanda. Construído entre 1953 e 1955, o Bairro Rainha D. Leonor é dos mais antigos bairros camarários da cidade do Porto, pertencente à freguesia de Lordelo do Ouro. O Rainha foi tema de destaque na sessão camarária desta semana, com o vereador da CDU, Rui Sá, a denunciar as condições de degradação que o complexo habitacional apresenta. Com vista privilegiada para o Douro e paredes meias com um condomínio fechado, os 100 fogos divididos em cinco blocos têm o futuro suspenso até à divulgação de "um estudo ou uma auditoria" que Rui Rio quer encomendar para aferir a possibilidade de recuperação das casas. Integrando o grupo que acolhe os bairros com piores condições, todos os blocos têm colunas e escadas descarnadas, com ferros à vista e pedaços de betão em falta: "A sorte é isto cair de noite, se acontece de dia dá cabo de um", vaticina Elisabete. Celeste Gomes e Elisabete desconhecem o que a câmara quer fazer com o bairro e queixam-se da falta de ajuda na hora de fazer obras. "Estive mais de um ano à espera que alguém de lá viesse tratar dos canos da casa da minha mãe. Uma inundação deixou isto tudo estragado", explica Elisabete, salientando que tiveram de "se arranjar sozinhas" para voltar a ter electricidade "sem perigo de curto-circuito". Mas essa não foi a única vez em que, pelos próprios meios, trataram de consertar aquilo que o senhorio - a Câmara Municipal do Porto - "tem obrigação de consertar". "Celestinha" pagou a um vizinho para fixar o gradeamento que serve de protecção à escadaria, já que "até podia cair juntamente com a grade que a câmara não queria saber". Do bloco D para o E passa-se por dois tanques comunitários inutilizados, "destruídos vai para dez anos", garante Maurícia Gomes que, quando se mudou para o Rainha, com 24 anos, nem electricidade tinha no apartamento que desde então ocupa. "O Rui Rio dizia que por dentro ajudava e por fora fazia, mas nem uma coisa nem outra", acusa, recordando-se do tempo em que o bloco E era considerado o "bloco das senhoras". "Em termos de ambiente estamos no céu", repete Paula Varela, que nasceu e vive no Rainha D. Leonor. "Mas estamos esquecidos e abandonados pela Câmara do Porto", contrapõe. "Tão cedo não nos hão-de tirar daqui. Se fosse para nos mandar para outro sítio, por que haviam de estar a entregar casas a novos?", questiona Paula, crítica da actuação da autarquia, "que nem os canos da água originais substitui". "Nós nem comissão de moradores temos", diz Paula, explicando que a Associação de Moradores dos Quintais, bairro social sito mesmo em frente aos blocos do Rainha, "por pertencer à Junta da Foz, conseguiu melhorias nas habitações". "Continuamos esquecidos, não há quem lute pelos nossos direitos", lamenta-se. "É uma pena se desistirem disto", constata Paula, "adoro viver no Rainha. "
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos filha rainha ajuda social estudo
Olhão: idoso dispara na rua contra duas mulheres e depois tenta suicídio
Um idoso disparou hoje numa rua de Olhão contra duas mulheres, feriu gravemente uma delas e de seguida barricou-se na própria casa e tentou suicidar-se. Os dois feridos estão no hospital com prognóstico reservado. Em comunicado de imprensa enviado à comunicação social, a PSP de Faro informou que o atirador, um homem com cerca de 70 anos de idade, disparou cerca das 11h00 de hoje contra uma mulher de cerca de 50 anos e outra de 31 anos em Olhão e que de seguida refugiou-se "no interior da sua residência, na cidade de Olhão". A mulher ferida, uma vizinha do atirador, foi transportada para o Hospital Distrital de Fa... (etc.)

Olhão: idoso dispara na rua contra duas mulheres e depois tenta suicídio
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento -0.1
DATA: 2007-12-15 | Jornal Público
TEXTO: Um idoso disparou hoje numa rua de Olhão contra duas mulheres, feriu gravemente uma delas e de seguida barricou-se na própria casa e tentou suicidar-se. Os dois feridos estão no hospital com prognóstico reservado. Em comunicado de imprensa enviado à comunicação social, a PSP de Faro informou que o atirador, um homem com cerca de 70 anos de idade, disparou cerca das 11h00 de hoje contra uma mulher de cerca de 50 anos e outra de 31 anos em Olhão e que de seguida refugiou-se "no interior da sua residência, na cidade de Olhão". A mulher ferida, uma vizinha do atirador, foi transportada para o Hospital Distrital de Faro por uma ambulância do INEM e o prognóstico é reservado, indica a mesma fonte policial. A mulher de 31 anos não foi ferida. Após os disparos, o idoso fugiu para casa e, por ter recusado sair da residência, a PSP no terreno accionou o Destacamento do Corpo de Intervenção de Faro e uma equipa de negociadores da mesma força. A Polícia Judiciária também esteve no local e carros-patrulha da PSP foram destacados para o local do crime para assegurar os cortes da via pública e garantir a segurança do local. O atirador efectuou um disparo no interior da residência, atentando contra a própria vida e depois de ser assistido no local pelo INEM e transportado para o Hospital Distrital de Faro, está também com prognóstico reservado. O atirador estava na posse da pistola com que efectuou os disparos na via pública, acrescenta o comunicado de imprensa.
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP
Governo de combate político coloca Assuntos Europeus no MNE
Assuntos Europeus ficam no Ministério dos Negócios Estrangeiros e apenas o Mar e a Modernização Administrativa são ministérios transversais. Em 17 ministros, só quatro são mulheres. Posse deverá ocorrer na quinta-feira. (...)

Governo de combate político coloca Assuntos Europeus no MNE
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-11-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Assuntos Europeus ficam no Ministério dos Negócios Estrangeiros e apenas o Mar e a Modernização Administrativa são ministérios transversais. Em 17 ministros, só quatro são mulheres. Posse deverá ocorrer na quinta-feira.
TEXTO: A procuradora-adjunta Francisca Van Dunem é a primeira negra a integrar um Governo em Portugal, ao ocupar a pasta da Justiça, no XXI Governo Constitucional, apresentado nesta terça-feira pelo líder do PS, António Costa, ao Presidente da República, Cavaco Silva. O ineditismo do elenco governativo passa também pelo facto de o próprio chefe do executivo ser um português de origem goesa. Se ao nível da origem étnica dos ministros o Governo de António Costa inova, o mesmo já não se pode dizer no que respeita à igualdade de género. Num total de 17 ministérios, apenas quatro são tutelados por mulheres: Francisca Van Dunem, ministra da Justiça, Maria Manuel Leitão Marques, ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, Ana Paula Vitorino, ministra do Mar, e Constança Urbano de Sousa, ministra da Administração Interna. O anterior Governo, liderado por Passos Coelho e derrubado no Parlamento a 10 de Novembro pela moção de rejeição ao programa de Governo, apresentada pelo PS e aprovada também pelo BE e pelo PCP, tinha quatro mulheres em 15 membros, ou seja, em proporção era mais igualitário do que o novo executivo socialista. Europa no MNEO escasso número de mulheres no novo executivo está associado a uma das baixas de relevo logo no processo de formação do executivo. A eurodeputada do PS Elisa Ferreira chegou a ser pensada como ministra dos Assuntos Europeus, um dos ministérios transversais que António Costa chegou a anunciar, ao lado do Mar e da Reforma Administrativa, duas áreas que serão fulcrais na acção governativa. Veja aqui os perfis dos novos ministrosNo organigrama final do executivo, os Assuntos Europeus passam a secretaria de Estado, integram a gestão dos fundos comunitários e ficam na tutela do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, sendo ocupado por Margarida Marques, dirigente do PS e antiga alta funcionária da União Europeia. Por sua vez, a escolha de Santos Silva para esta pasta, que assim volta ao Governo depois de ter integrado as equipas de António Guterres e de José Sócrates, deve-se a razões políticas que se prendem com a necessidade de o responsável pelo Palácio das Necessidades ser alguém com forte perfil político e capacidade de debate e de argumentação política, precisamente pelo facto de ir ser a cara de Portugal junto das instituições da União Europeia. A importância do enquadramento europeu de Portugal está também na origem da escolha de Constança Urbano de Sousa, especialista em justiça europeia, segurança interna, imigração e asilo, para ocupar esta pasta. Ainda que Assuntos Europeus não seja ministério transversal, como estava projectado por António Costa, há dois outros ministérios cujas ministras terão competências transversais a todo o Governo e competências sobre tudo o que respeite a estes sectores, qualquer que seja o departamento de Estado em que tenham de interferir. São eles o Ministério da Presidência e Modernização Administrativa, ocupado por Maria Manuel Leitão Marques, e o do Mar, ocupado por Ana Paula Vitorino. Refira-se que o pendor político e combativo do Governo leva a que haja um ministro-adjunto, lugar ocupado por Eduardo Cabrita, que já trabalhou com António Costa e é seu próximo desde a Universidade. Cabrita deverá tutelar a secretaria de Estado da Igualdade. O peso político do perfil do Governo é completado com a frente parlamentar em que Pedro Nuno Santos ocupa o cargo de secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, e onde o presidente do PS, Carlos César, é líder parlamentar, tendo este lugar sido classificado já por António Costa como o “número dois do Governo”. Oito estreiasEntre os que se estreiam neste Governo em funções governativas estão o professor de Direito Internacional e antigo presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação, Azeredo Lopes, especialista em Direitos Humanos em conflitos internacionais, que ocupa o lugar de ministro da Defesa, e o ex-presidente da Câmara de Lisboa João Soares, que surge como ministro da Cultura, depois de ter sido uma hipótese na Defesa. A opção de ter João Soares na Cultura justifica-se com o peso político que António Costa quer dar a este ministério.
REFERÊNCIAS:
“As mulheres devem estar nos lugares de decisão da Igreja”
O teólogo que fundou a comunidade monástica de Bose, Itália, mantém-se fiel à ausência de hierarquias. Procura a “espiritualidade a sério” e já ensinou um chef a confeccionar ovos pelo tempo de uma ave-maria. Bianchi não hesita ao dizer que “é estúpido querer saber se o inferno está vazio ou cheio”. (...)

“As mulheres devem estar nos lugares de decisão da Igreja”
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: O teólogo que fundou a comunidade monástica de Bose, Itália, mantém-se fiel à ausência de hierarquias. Procura a “espiritualidade a sério” e já ensinou um chef a confeccionar ovos pelo tempo de uma ave-maria. Bianchi não hesita ao dizer que “é estúpido querer saber se o inferno está vazio ou cheio”.
TEXTO: Ao fim de 50 anos, a comunidade monástica de Bose, em Itália, continua a ser uma experiência singular na Igreja de coexistência entre homens e mulheres de várias confissões cristãs. O seu fundador, Enzo Bianchi, e também seu prior até 25 de Janeiro de 2017, é uma voz activa na dignificação do papel da mulher na Igreja e diz que o papa Francisco “tem, de verdade, no coração a promoção da mulher”. São palavras proferidas poucos dias antes de Francisco ter nomeado três mulheres como consultoras para a Congregação para a Doutrina da Fé. Pela primeira vez na história da Igreja, as mulheres ascendem a este cargo e passam a ser maioria (três em cinco) neste órgão que já foi a Inquisição. A entrevista com Enzo Bianchi, que esteve em Lisboa com o filósofo Massimo Cacciari para uma das Lições Italianas organizadas pelo Instituto Italiano de Cultura e o Citer (Centro de Investigação em Teologia e Estudos de Religião da Universidade Católica), é uma parceria do PÚBLICO com este centro universitário. Qual é, para si, a principal mensagem da recente exortação apostólica do papa Francisco, Gaudete et Exsultate?A mensagem central que eu identifico na Gaudete et Exultate é o destaque de que o verdadeiro santo cristão é um santo quotidiano, é um santo da vida normal, não é um herói, mas simplesmente quem na vida quotidiana, onde quer que se encontre, pode muito bem praticar o seguimento de Jesus Cristo, e vivê-lo a partir dos seus sentimentos, com as suas atitudes, com as suas preferências. Toda a vida humana é atravessada por fragilidade, por pecado, por contradições, mesmo aquela que tenta conformar-se à vontade de Deus. Mas é esta tentativa, este empenho, este esforço de amor que é a santidade comum. O papa chama-lhe “santidade ao pé da porta”, quase a convidar-nos a vê-la naqueles que habitam o mesmo condomínio, o mesmo alojamento, a reconhecê-la em vidas que são quase escondidas, que não têm nada de extraordinário, que não têm nada de heróico, mas podem igualmente ser vidas de observância e santidade cristã. É isso a que papa se refere quando fala da “classe média da santidade”?Não é que o papa peça uma vida média, no sentido de baixa, ou que não tenda verdadeiramente para uma santidade que seja plena. Porém, é como se dissesse que a santidade não é um projecto que o homem elaborou por si composto por uma construção de esforços heróicos e de méritos. A santidade é algo que Deus faz sobre as nossas vidas, as nossas vidas comuns, porque Deus purifica-nos dos nossos pecados e perdoa-nos. E dá-nos a força para arrostar as dificuldades. E nesta dinâmica, creio eu, está a classe média da santidade, como lhe chama o papa. As duas heresias de que o papa fala na sua exortação, o gnosticismo e o pelagianismo – hoje raras de se ouvir -, são uma resposta aos críticos conservadores?Certamente, o papa está a falar de duas tentações que estiveram sempre presentes ao longo da história da Igreja e estarão sempre presentes. Na história do cristianismo sempre se deram estas duas visões contrapostas, e ambas não correspondentes à verdade do Evangelho: de um lado, a ideia que tudo depende do homem, da vontade, simplesmente daquilo que ele faz, das suas obras; de outro lado, a ideia que a salvação é toda questão de conhecimento intelectual, de compreensão. Ora, o papa estigmatiza estes dois vícios permanentes, que renascem sempre no seio do cristianismo, mas não lhe pertencem, diferentemente das outras religiões que não vêem problema nisso. Exactamente porque tem esta fé no amor de Deus gratuito e preveniente, o cristianismo é profundamente crítico em relação seja ao gnosticismo, como ilusão que o conhecimento possa tornar-se meio de salvação, simplesmente como compreensão, sabedoria, seja ao pelagianismo, à soberba confiança na auto-suficiência das obras do homem. Certamente nestas duas tentações encontram-se também críticos do papa Francisco, porque de um lado ele é mal aceite por um certo intelectualismo católico que se alimenta de uma teologia decerto altíssima, mas que acaba por confiar mais em preceitos doutrinais que não na força do Evangelho e, portanto, o papa estigmatiza-os. Por outro lado, há uma resistência contra o magistério do papa que vem de uma atitude própria de alguns sectores conservadores, os tradicionalistas, que tendem a ver a santidade simplesmente como o resultado dos esforços das pessoas. Assim, mesmo a liturgia, perdida no mundo tradicionalista, torna-se não uma via de salvação na qual Deus perdoa os nossos pecados e nos acolhe na nossa miséria, mas torna-se simplesmente um trajecto para alcançar a comunhão com Deus que devemos merecer através de uma série de ritos, de observâncias minuciosas, como se isso fosse decisivo para a salvação do homem. Diz que o teísmo o assusta. Porquê?O deísmo é a afirmação de Deus como uma entidade meta-histórica, alheia à contingência que, ao contrário, é núcleo essencial da encarnação de Jesus Cristo, que é algo que podia não haver, é um acontecimento de liberdade radical. Pascal dizia por isso, com razão: “É melhor o ateísmo que o deísmo . ”Ora, também nós, porém, os católicos, estamos um pouco doentes de deísmo. Estamos presos numa tradição doutrinal em que primeiro afirmávamos Deus em si e, depois, afirmávamos Jesus Cristo. Mas este dualismo vem de um modelo cultural exterior ao cristianismo, que se aninhou nele. O que constitui o cristianismo é a absoluta centralidade de Jesus Cristo, a via, o caminho aberto por Jesus – “Eu sou o caminho”. Para chegar a Deus passamos por Jesus Cristo. O nosso Deus é o Deus de Jesus Cristo. Tudo isto faz, sim, que o teísmo, quando é afirmado de uma maneira autónoma em relação à cristologia, torna-se realmente uma espécie de deísmo e assim um grande problema para a fé. E creio que hoje há sectores culturais da Igreja que estão ainda ligados a um racionalismo metafísico que contorna o tema da encarnação, não o leva a sério. A fé em Jesus Cristo morto e ressuscitado dissolve-se assim numa religião desencarnada da história, num deísmo que mata a verdade central do cristianismo, que é Deus feito homem, feito carne. Como vê a possibilidade da comunhão dos recasados?Este tema, que, claramente, foi tratado pela [exortação] Amoris Laetitia, pelo Sínodo e pelo papa Francisco, é um tema, sem dúvida, não fácil, porque temos por trás um tempo em que precisamente se fazia crer às pessoas que os divorciados estavam excomungados. Os divorciados nunca estiveram excomungados pela Igreja. Havia em relação a eles uma disciplina de não admissão aos sacramentos, mas excomungados nunca estiveram. No entanto, no pensamento popular, pensava-se que eles estavam excomungados. E o papa justamente, e não simplesmente por uma condição de contingência, porque hoje os católicos divorciados são muitos, mas precisamente a partir de uma reflexão sobre o Deus que é misericórdia, abriu um caminho de acolhimento que não significa que os divorciados possam fazer automaticamente a comunhão. Isto não é verdade, porque fica assente o princípio doutrinal de que a fidelidade matrimonial é um dever absoluto, com o fundamento sobre uma palavra de Jesus no Evangelho, não é alguma coisa de que a Igreja possa dispor. O que o papa diz é que em certas condições, em certas situações, em que não se pode refazer uma história de fidelidade com o cônjuge anterior, em que se desenvolveram todas as exigências de justiça para com o outro cônjuge, e para com os filhos, e se há uma vida cristã e se há uma vida eclesial, quando todas esta condições são cumpridas, então deve ser dada ao recasados a possibilidade de iniciar um caminho que seja, antes de mais, de penitência, mas que, ao mesmo tempo, leve a usufruir dos dons que Deus nos dá nos sacramentos, e sobretudo na eucaristia, porque o papa Francisco repete o que tinha dito Bento XVI ao declarar que já o Concílio de Trento tinha estabelecido “A eucaristia não é um prémio para os bons, para os justos, mas é um dom oferecido para a salvação dos pecadores”. O Concílio tridentino, que decerto tem por trás a tradição católica, afirmou vigorosamente que a eucaristia é um sacramento para a remissão dos pecados, portanto, remite também os pecados. Tudo isto faz, assim, que, em certas condições, através do trabalho de discernimento, haja a possibilidade de os divorciados estarem na mesa da eucaristia. Mas esta não é uma lei geral e automática, prevê e requer caminhos de purificação espiritual. Para sintetizar: o que se dá é uma mudança de uma disciplina da Igreja, não uma modificação da sua fé ou da sua moral. Qual é o significado de uma exortação apostólica que defende claramente a mulher, a exalta, falando até de um “génio feminino”, e a liga a períodos muito difíceis da história da Igreja?Creio que o papa Francisco tem, de verdade, no coração a promoção da mulher e o desejo profundo que na Igreja haja esta possibilidade real de a mulher poder ser verdadeiramente um sujeito e não simplesmente uma destinatária, porque, de facto, está na hora de a mulher não estar na Igreja unicamente como corpo discente, mas ser parte de uma Igreja magisterial. Devo dizer francamente, todavia, que esta expressão “génio feminino”, que se deve a João Paulo II, não me satisfaz, assim como não agrada a muitas mulheres. Porque para haver um génio feminino, então deve haver um génio masculino, e entramos num jogo de distinções, algo vão. Creio que devemos estar atentos à retórica que às vezes a Igreja usa, sobretudo em relação às mulheres e em relação aos jovens. A retórica é geralmente inimiga da mudança real de atitudes e um reconhecimento daquela metade do mundo que são as mulheres, não pode passar apenas por grandes palavras, mas antes de mais pelos factos. No seu livro Jesus e as Mulheres, fala dessa espiritualidade e da dificuldade da Igreja em aceitar a mulher. De que tem medo a Igreja, ao certo?Eu escrevi Jesus e as Mulheres exactamente para poder dizer que é absolutamente necessário procurar no comportamento e no estilo de Jesus em relação às mulheres alguma coisa que inspire também a praxis da Igreja hoje. Jesus teve discípulos e teve discípulas, teve um discípulo amado e teve uma discípula amada, Maria de Magdala. No final do Evangelho é Maria de Magdala a primeira a receber e transmitir a mensagem da ressurreição, o que faz dela uma apóstola dos apóstolos. Mas para definir o papel da mulher na Igreja não podemos focar-nos unicamente em Maria de Magdala, mas dar adequado relevo ao conjunto da palavra e dos actos de Jesus. Jesus viveu uma vida normal, entre o seu povo, em que procurou remover todos aqueles tabus e todas aquelas proibições que impediam uma verdadeira comunicação com as mulheres e que as retinha, mesmo às crentes, numa situação de menoridade em relação aos homens. Jesus enfrentou, combateu esses tabus, rompeu barreiras e há nos evangelhos tantos exemplos desta determinação e, no meu livro, estão todos descritos e comentados. Eu estou convencido de que a Igreja deve ter a coragem de iniciar este caminho na sequela de Jesus e que o primeiro passo deve ser de dar a palavra às mulheres. Termino, dizendo sobre a Igreja e as mulheres, que para que as mulheres façam parte da Igreja no papel de plena igualdade e dignidade que Jesus Cristo lhes reconheceu, para que as mulheres não se tornem uma parte em falta da Igreja, (o que é um risco crescente), é preciso que elas possam tomar a palavra. Isto é para mim o essencial: as mulheres devem estar nos lugares de decisão da Igreja, porque é preciso escutá-las. Há um princípio na tradição cristã: o que respeita a todos deve por todos ser tratado, meditado e deliberado. Não se pode pensar que isto não diz respeito às mulheres, que são a metade da humanidade. Por consequência, creio que se requer uma mudança radical, que suscita um grande medo em muitos, porque a Igreja é ainda muito clerical e os homens, sem dúvida, monopolizam os postos de poder, são eles que estão habituados há séculos a decidir e a representarem eles a Igreja e a não a deixarem representar também por uma mulher. São hábitos de séculos que devem ser mudados e tudo isto faz com que o caminho seja muito, muito difícil e custoso. Mas devemos sair da retórica mais depressa e dar passos muito concretos de forma que as mulheres se sintam verdadeiramente implicadas na vida eclesial como sujeitos e em plena igualdade. Há condições neste momento para uma mudança?Agora, para uma mudança com vista à ordenação das mulheres, não creio que haja condições, porque isto, por um lado, é um problema ecuménico que deve ser resolvido com a Igreja Ortodoxa e hoje não há maturidade do povo cristão para pensar que haja ordenações presbiterais dadas às mulheres. Mas ao lado desta questão há todo um caminho a fazer. Penso por exemplo, em quantos organismos poderiam ser confiados às mulheres e não serem simplesmente monopólio dos homens, clérigos e leigos. Se abríssemos este caminho, dar-se-ia sem dúvida uma mudança radical da condição de sujeição das mulheres na Igreja. A comunidade de Bose é uma comunidade monástica singular, juntando homens e mulheres de várias confissões cristãs. Quantas confissões cristãs tem hoje Bose e quantos elementos?A comunidade de Bose compõe-se de cerca de noventa membros, homens e mulheres. Os católicos constituem certamente a maioria, mas temos também um número significativo de membros das diversas igrejas da Reforma, e um pequeno núcleo de ortodoxos. A composição da comunidade de Bose é, decerto, igual à da Igreja actual e, para nós, isto é muito importante porque, em comunidade, experimentamos uma espiritualidade a sério, que sem fazer compromissos nem sincretismos, se alimenta de todas as tradições eclesiais e se enriquece com estas. É uma grande graça, e nós, agora, fazendo isto há 50 anos, vemos que esta comunhão no pluralismo das tradições é possível, que não é só fonte de uma reconciliação, mas que é possibilidade de um caminho comum e de uma única confissão do Senhor Jesus. Ao fim de todos estes anos, qual é a principal experiência de que Bose é testemunho?Não creio que tenhamos um carisma especial, porque estamos no interior da regra monástica. Certamente o nosso caminho teve dois elementos característicos que foram escolhidos como resposta a uma urgência que reconhecemos na altura da nossa constiuição e que se confirmaram como aspectos centrais da nossa experiência comunitária. O primeiro é a lectio divina (leitura orante da Bíblia), que fomos efectivamente nós a redescobrir no princípio dos anos de 1970 como praxis eclesial de primária importância e que a seguir se divulgou crescentemente na Igreja até que hoje ela é expressamente recomendada pelos papas. A revitalização da antiga tradição monástica da lectio divina é reconhecida como um marco da nossa comunidade e muitos vêm ainda a Bose, porque em Bose se pratica a lectio divina, porque em Bose todos os dias há a lectio divina e porque as nossas vidas são plasmadas por ela. A outra característica peculiar da nossa experiência é a coexistência de homens e mulheres. É decerto uma mensagem positiva, passados 50 anos desde a fundação da comunidade, não ter havido escândalos, nem situações difíceis, não houve ‘embaraços’, o que prova a nossa intuição de partida: homens e mulheres podem viver em conjunto, escolhendo consagrar-se inteiramente a Deus. O fruto deste convívio é uma certa maturidade afectiva, uma normalidade humana importante. Sermos homens e mulheres na Igreja, na comunidade, não deve tornar-se um factor de separação e de sujeição de alguns aos outros, mas deve afirmar-se como um enriquecimento recíproco, como a construção de um caminho comum. Tudo isto tem um significado peri-monástico que caracteriza Bose como uma forma de monaquismo numa sociedade secularizada. Um monge teólogo da grande abadia beneditina de Sainte-Marie-de-la-Pierre-qui-Vire, Ghislain Lafont, creio que era jovem quando disse que o monaquismo de Bose é o primeiro monaquismo que conseguiu inculturar-se numa sociedade secular. Creio que isto será o que decerto Bose deu, dá, e esperamos que possa ainda dar nos anos próximos. O que atrai os jovens que vão a Bose?Temos efectivamente a presença de muitos jovens, para os quais organizamos frequentemente acções formativas, jornadas teológicas, sessões de lectio divina, retiros… E temos uma procura que supera muito a nossa oferta. Não conseguimos efectivamente acolher mais do que cem, cento e vinte jovens de cada vez. Frequentemente os pedidos de inscrição alcançam o dobro. Porque vêm? Essencialmente, creio, por duas razões. Em primeiro lugar porque em Bose nós os escutamos. Os jovens querem ser escutados. Não devem ser tratados apenas como destinatários passivos de uma mensagem, mas devem ser reconhecidos também como sujeitos, portadores de uma palavra a escutar. Estou convencido que o que faz falta aos jovens não é atenção de os considerar destinatários de mensagens e ofertas, mas a escuta, o silêncio e paciência que os põe em condição de se exprimir. Em segundo lugar, o que atrai os jovens é o facto que a nossa proposta é extremamente simples e se articula em dois aspectos. Por um lado, o que fazemos é transmitir uma gramática humana básica para enfrentar a vida, para os ajudar a viver o caminho de humanização que deve ser a nossa existência. Porque um jovem tem absoluta necessidade de ser exercitado na escuta, na palavra, nas relações, nas histórias de amor, e é precisamente isto que nós procuramos fazer, na sabedoria possível de comunicá-lo e de verificá-lo juntos. Por outro lado, apresentamos aos jovens, simplesmente, humildemente, a palavra evangélica. Achamos que o nosso papel é oferecer aos jovens a possibilidade se se encontrarem com o evangelho, nada mais. Não insistimos noutros temas do cristianismo, nem em questões doutrinais, que eles terão tempo de percorrer e de assumir. A comunidade de Bose é uma comunidade onde os monges e as monjas fazem votos de celibato e vida comunitária. E é uma associação laica. Isso é importante para Bose?O monaquismo sempre foi um fenómeno de laicos, e nós não o devemos esquecer porque todos os padres do deserto eram laicos: Pacómio era laico, Basílio era laico, mesmo S. Francisco permaneceu laico, nunca se tornou diácono, como diz a lenda. Por isso, o monaquismo, por si, é laico e eu não quis de todo que fosse diferente. Devo dizer que os bispos [da diocese a que Bose pertence] que se sucederam me pediram que eu fosse ordenado padre, mas eu sempre recusei este convite, porque quero ficar um simples fiel, um simples laico como os monges. Não esqueço aquela frase dita por Pacómio ao patriarca de Alexandria, o grande patriarca que foi procurá-lo e que era Atanásio, e que perguntou: “E a comunidade?” E ele respondeu: “Somos simples laicos. ”O que eu escolhi foi simplesmente manter-me fiel a esta tradição. É claro que isto tem consequências. Por exemplo, ter menos vocações, porque muitos querem, sim, tornar-se monges, mas também padres, o que não é certo que seja possível ao escolher ser monge de Bose. Porque em Bose é só a necessidade da comunidade que determina a ordenação de um monge como padre. Se a comunidade precisa de um padre, então dá-se uma ordenação. Mas a maioria de nós fica laico para toda a vida. É uma escolha que afasta um número consistente de jovens, e todavia, vemos que há uma resposta constante, que para nós é suficiente. Não é tanto uma questão de números, quanto de qualidade da vida comunitária. Estamos contentes ao ver que a comunidade se mantém por meio desta opção como um corpo muito mais homogéneo, muito mais unido, porque somos irmãos e simples irmãos, sem hierarquias. O nosso reconhecimento jurídico, que foi feito pelo bispo, é de uma comunidade monástica, mas no nosso estatuto, como na nossa regra, a condição é laical. Ir para um mosteiro hoje é fugir do mundo?Não. O mosteiro deve sempre ter esta posição de estar não marginalizado, mas marginal, nas bordas, porque se o mosteiro se separa do mundo torna-se uma seita. Deve absolutamente estar sempre à escuta do mundo, ter a capacidade de estar presente no mundo, testemunhando uma diferença, que não deve ser expressão de um medo, não pode tornar-se uma contracultura, uma forma de defesa e recusa da sociedade. Dentro do monaquismo há o celibato, uma vida fraterna comum, o trabalho e a oração criam uma antropologia diversa, em comparação com a que se encontra no mundo, mas diversa não significa contrária, não significa em luta, significa simplesmente que pode ser alternativa, porque é capaz de fazer esta estrada e a sente como a sua verdade, mas não é uma estrada de perfeição, não é um caminho melhor. O título do meu livro sobre a vida religiosa [em edição espanhola, No Somos Mejores, Una Vision Renovada De La Vida Religiosa] formula precisamente este ponto central: Nós não somos melhores. Voltando à Gaudete et Exsultate, o papa Francisco pede aos cristãos que dêem tanta atenção aos imigrantes e sobretudo aos pobres como se dá ao aborto. Surpreende-o isso?O papa, nesta exortação apostólica, põe os pontos nos is. Um primeiro ponto é deflacionar a contraposição entre a contemplação e vida activa. Ele diz que não podemos refugiar-nos na oração e ignorarmos o irmão em necessidade, não nos pode recolher em silêncio e fugir assim daqueles que pedem ajuda. Ele recusa como um desvio este dualismo que polariza a vida contemplativa e a vida activa como formas alternativas de vida cristã, convidando a integrar estas duas dimensões na experiência de fé de cada um. Os cristãos seguem o Senhor, certamente em momentos de contemplação, de oração, de escuta da palavra de Deus, mas da mesma maneira devem escutar os homens, escutar as mulheres, escutar os irmãos, escutar os necessitados. Um segundo ponto no i, uma segunda chamada de atenção é feita aos católicos que fazem grandes batalhas contra o aborto, pela bioética, em defesa dos “seus valores”, e não fazem absolutamente nenhuma pelos migrantes, pelos pobres, por aqueles que sofrem a opressão. Neste caso, observa o papa, há uma defesa da vida muito teórica, cultural e política, que não corresponde a uma batalha igualmente determinada em prol da vida real, dos seres humanos em carne ossos, nas suas necessidades. Hoje há sectores da Igreja, nomeadamente nos Estados Unidos, muito empenhados em grandes batalhas identitárias, contra o aborto, contra a eutanásia, contra a moral sexual mas que não se ouvem em relação às situações de pobreza, injustiça, exploração, opressão que se vê no mundo. Isto é escandaloso, e é este dualismo que o papa denuncia de maneira muito forte. A dificuldade em se perceber o que é o humanismo cristão vem da dificuldade de se dizer a palavra “Deus”?Bem, sim e não, no sentido de que hoje, sem dúvida, a palavra “Deus” é uma palavra que se esvaziou muito, de forma dramática na última geração, no milénio actual. Muitos dizem que Deus já não interessa, que podemos viver a vida sem Deus. E frequentemente esta posição é associada a uma reivindicação humanista de tolerância e de convivência pacífica, porque no contexto actual de radicalismos e fundamentalismos emergentes Deus acaba por ser associado ao fanatismo, à intolerância religiosa, aparece exactamente como factor detonante do fanatismo terrorista. Deus é uma palavra que não goza de boa saúde actualmente e devemos tomar consciência disso. Mas o facto é que a fé dos cristãos não consta na confissão de um Deus em geral, de uma entidade suprema, abstracta, meta-histórica. O nosso Deus é o Deus de Jesus Cristo e Jesus Cristo revelou-nos Deus através de uma vida humaníssima. Portanto, é inspirando-nos na vida humana de Jesus que podemos avançar em direcção a Deus, um Deus inefável, indizível, de que não conseguimos dizer nada porque nunca o vimos, que é a fonte de vida, que é a fonte do amor, e que é o Pai de Jesus Cristo. Este é, na minha opinião, o caminho que devemos fazer. Onde há espaço para o humanismo cristão no mundo de extremismo, populismo, violência, discurso do ódio?Certamente hoje é fácil o fundamentalismo, é fácil a intolerância, em consequência, mesmo no interior da Igreja Católica. O papa, na exortação Gaudete et Exsultate lamenta-se da violência que se manifesta e se espalha na Web, no mundo da Internet. Mas creio que o humanismo cristão, exactamente porque é esta praxis que ajuda a convivência, que ajuda um caminho de humanização, pode ser extremamente fecundo hoje. E hoje, mais do que ontem, este humanismo evangelicamente inspirado é reconhecido antes de mais pelos mesmos cristãos, como uma mensagem de reconciliação e de integração social, como uma força que contraria a solidão e a fragmentação. O papa Francisco terá dito a um jornalista italiano que o inferno não existia. Faz sentido hoje discutirmos isto?O debate voltou de novo e decerto Eugenio Scalfari [jornalista italiano que alega ter ouvido essa frase ao Papa] interpretou como quis as palavras do papa. Porque o que o papa pode dizer, dentro de uma fidelidade ao Evangelho, é isto: que o inferno é uma ameaça que se encontra directamente nas palavras de Jesus. Ousarei dizer que, se há uma novidade do Novo Testamento, é a possibilidade do inferno. No Antigo Testamento, esta noção não se encontra: no Além veterotestamentário há um repouso, há uma escuridão, mas não se fala de ressurreição, de vida ultra-terrena, nem propriamente de condenação eterna. O Novo Testamento, pelo contrário, anuncia a ressurreição, que implica a possibilidade do inferno. Isso é de uma condição para além da condição terrena que se confirme na escolha existencial do pecado, como opção de viver sem Deus, sem amor. Este é o núcleo da palavra evangélica, que se reveste do imaginário judaico do fogo, da desolação de lugares ultraterrenos, mas estes são apenas ícones necessários para simbolizar o mistério. Para os cristãos, o que é isto?Para os cristãos, o imaginário dado por Dante dentro da Divina Comédia continua predominante. Como há o reino dos bem-aventurados, há um reino na profundidade do inferno onde há tormentos, sofrimentos diversos, conforme os pecados. Na realidade, do inferno não sabemos nada. Digamos que Jesus põe diante de nós a possibilidade de um caminho mortífero, que leva ao mundo sem Deus, sem amor, e uma vida com Deus, com amor, que é chamada Reino dos Céus, que é chamada paraíso. O que faz o cristão? O cristão sabe e deve saber que existem estas duas possibilidades diante dele e que é ele que escolhe, aqui. O que está em jogo nesta promessa de salvação e nesta possibilidade de perdição não é um segredo que nos escapa. O essencial é claríssimo para cada um: eu hoje escolho o inferno, hoje escolho o Reino de Deus, escolho por meio das minhas acções. Esta opção levar-nos-á àquilo que é um juízo diante da misericórdia de Deus e é isto, a consciência do juízo de Deus, de um Deus que conjuga misericórdia e justiça que conta e que deve condicionar o nosso discurso. Na minha opinião, é estúpido querer saber se o inferno está vazio ou cheio. O que interessa é se queremos ou recusamos o amor de Deus, vivendo-o como amor para os irmãos. Há apenas uma consideração que considero relevante a este respeito. Um verdadeiro cristão pode pensar na sua felicidade no Reino de Deus sem que ali se encontrem os outros? Uma pessoa não se salva sozinha. Por isso, a esperança de um cristão deveria ser que para o inferno não vai ninguém, que a misericórdia de Deus abrange tudo. Para dizer a verdade, quando penso no Além, temo o inferno, mas temo-o por mim, e pergunto-me: se para o inferno vai qualquer pessoa, porque não hei-de ir eu? Sou assim tão santo? Duvido, por isso, espero que ninguém vá para o inferno. É a atitude de Paulo que dizia: espero que a nenhum dos meus irmãos judeus aconteça que não seja salvo. É a atitude de tantos santos da tradição oriental, que diziam: se há o inferno, Senhor, manda-me a mim, para que outros não entrem no inferno. É a atitude de quem é nutrido de amor. Não pode haver um verdadeiro cristão que afirme que há inferno, porque quer mandar para lá os outros, pensando que ele não vai. O papa Francisco disse há algumas semanas: “Queridos jovens, vocês têm o que é preciso para gritar contra a anestesia. ” Cinquenta anos depois do Maio de 68, é a Igreja, o papa Francisco, a exortar os jovens a gritar. Há 50 anos a Igreja era o símbolo do conservadorismo. Não é uma ironia?Sem dúvida, que na história, sabemo-lo bem, há estes movimentos, estes refluxos, com uma oscilação entre momentos de grande esperança e, por consequência, também de contestação da situação existente e de batalhas para a mudança e momentos de recuo e bloqueio, em que todos parecem paralisados e mesmo as vozes de mudança se mostram extremamente fracas. No mundo ocidental estamos a viver um destes momentos de anestesia social e histórica. O problema é que todos, inclusive os jovens que geralmente são uma força de transformação, hoje estão muito homologados por esta cultura da sociedade de consumo. Então o papa quer acordá-los, dizendo “Gritai, não deixeis gritar as pedras” e desafia-os a tomar consciência do seu papel na história. Pois, também aqui estejamos atentos a que não se torne uma retórica. O que é preciso não é só dizer aos jovens “gritai”, mas é preciso dizer “Nós estamos dispostos a tomar-vos a sério e a escutar-vos. Digam-nos alguma coisa. Não basta gritar, digam-nos a nós que, juntos, queremos mudar as coisas. ”É conhecido o seu gosto pela cozinha. De onde lhe vem?Essencialmente da minha família e da minha terra, o Monferrato, que é sabido ser uma terra de grande tradição gastronómica, refinada pelo intercâmbio com a França. A minha avó era uma cozinheira francesa e o meu avô era padeiro. Não éramos uma família de lavradores, mas de artesãos, ligados profissionalmente à cozinha ou mais em geral à alimentação. A este contexto local e familiar acrescentaram-se as circunstâncias da vida: a minha mãe morreu quando eu tinha oito anos, o que me obrigou a preparar a comida para o meu pai que voltava do trabalho. Já aos nove anos eu era responsável pelo menos para a refeição do meio-dia, todos os dias. Desde então, nunca mais deixei de cozinhar. Cozinhava para mim e para os companheiros de alojamento quando estava na universidade, no alojamento tinha de preparar a minha alimentação. Continuei a cozinhar depois de mudar-me para Bose, porque pelo menos durante os primeiros seis ou sete anos eu era o único disponível para acolher aqueles que chegavam. Isto nunca foi para mim um peso, mas uma alegria. Por isso, quando devo fazer festa em comunidade ou quando convido amigos, a primeira coisa que gosto de fazer é cozinhar para eles, convencido de que fazer os cozinhados é a primeira maneira de dizer a alguém “quero-te bem”. Portanto, a comida na mesa é amor?Sim, exactamente, é a manifestação do amor. A mesa é o magistério do amor. Come-se, mas também fala-se, compartilha-se, para que haja comida para todos, dá-se atenção aos produtos que se utilizam. À mesa celebram-se todas as nossas histórias, os casamentos, os nascimentos, as mortes. A mesa é o lugar onde se iniciou a humanização, é o lugar onde nasceu a linguagem, a palavra. Então a mesa deve ser levada a sério. O problema é que hoje a mesa se tornou o lugar da máxima estranheza, quando a mesa tem a vocação para a máxima comunhão. O chef italiano e seu amigo, Carlo Petrini, diz que o ensinou a cozer ovos com base em ave-marias. Como é que as ave-marias são mais precisas que os relógios?A razão é muito simples: os nossos antepassados quando cozinhavam os ovos não tinham relógio e por isso tinham essa sabedoria extremamente camponesa, imbuída de religiosidade, que o tempo de fazer um ovo à la coque é exactamente o de rezar dez ave-marias, enquanto para obter um ovo cozido temos que contar o tempo de vinte pai-nossos… Hoje que temos os relógios, achamos que já não precisamos das ave-marias, mas se calhar eram as nossas avós que sabiam mais!Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. [Tradução de Rita Veiga]Corrigido a 8/5/2018, às 12h03. Enzo Bianchi foi prior da comunidade de Bose até 25 de Janeiro de 2017
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Religiões Cristianismo Ateísmo
Siri Hustvedt distinguida com o Prémio Princesa das Astúrias de Letras
Fundação espanhola premeia escritora norte-americana, classificando a sua obra como “uma das mais ambiciosas do panorama actual das letras”. Tem seis títulos traduzidos em Portugal. (...)

Siri Hustvedt distinguida com o Prémio Princesa das Astúrias de Letras
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-05-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Fundação espanhola premeia escritora norte-americana, classificando a sua obra como “uma das mais ambiciosas do panorama actual das letras”. Tem seis títulos traduzidos em Portugal.
TEXTO: A escritora norte-americana Siri Hustvedt foi distinguida nesta quarta-feira com o Prémio Princesa das Astúrias. “A sua obra é uma das mais ambiciosas do panorama actual das letras”, diz o comunicado do júri, reunido em Oviedo. Descendente de emigrantes noruegueses, a autora de livros como O Mundo Ardente (2014) e Elegia para Um Americano (2008) aborda na sua obra “aspectos que desenham um presente convulso e desconcertante, a partir de uma perspectiva com raiz feminista, fazendo-o através da ficção e do ensaio, como uma intelectual preocupada pelas questões fundamentais da ética contemporânea”, diz ainda o comunicado do prémio asturiano. Comentando a distinção, Siri Hustvedt, que é mulher do escritor e cineasta Paul Auster, disse-se simultaneamente “surpreendida mas feliz, encantada e agradecida”. Os livros de Siri Hustvedt desdobram-se pelo romance — o mais recente dos quais, Memories of the Future, não tem ainda tradução portuguesa — e pelo ensaio, mas escreve também memórias, poesia e, inclusivamente, argumentos para cinema — como o que co-assinou com o seu marido, The Center of the World (O Preço da Fantasia, realizado em 2001 por Wayne Wang). As obras de Hustvedt estão traduzidas em mais de 30 idiomas e “contribuem para o diálogo interdisciplinar entre as humanidades e as ciências”, nota ainda o comunicado do prémio. Instituído em 1980 pelo então príncipe Felipe das Astúrias — actual rei de Espanha —, o prémio visa distinguir pessoas, entidades ou organizações de todo o mundo que tenham alcançado feitos notáveis nas áreas das ciências, das artes e humanidades e da vida pública. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Licenciada em História e doutorada em Literatura Inglesa, com uma tese sobre Charles Dickens — Figures of Dust: A Reading of Our Mutual Friend —, Hustvedt tem vindo a lidar com a dificuldade de se libertar da condição “mulher de. . . Paul Auster” (também já distinguido com o prémio asturiano em 2006): “a mulher de um escritor famoso que surge sempre como o responsável da educação da sua mulher”, comentou um dia a escritora, citada pelo jornal espanhol El País. Uma reflexão que perpassa também pelo seu ensaio mais recente, A Woman Looking at Men Looking at Women. As ciências, em particular a psicanálise e as neurociências, mas também a militância feminista e anti-Trump são outros temas na “agenda” da escritora. Em português, Hustvedt tem traduzidos os seguintes livros: De Olhos Vendados (Asa, 1995), Fantasias de Uma Mulher (Asa, 1999), Aquilo Que Eu Amava (Asa, 2005, e Dom Quixote, 2014), Elegia para Um Americano (Asa, 2009), Verão sem Homens (Dom Quixote, 2012) e O Mundo Ardente (Dom Quixote, 2014).
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Palavras-chave homens educação mulher princesa feminista
Europa elegeu pela primeira vez as suas muçulmanas mais influentes
Num jantar de gala em Madrid onde lenços ("hijab") unicolores e multicromáticos conviviam com penteados mais ou menos elaborados, a Europa elegeu, no sábado – pela primeira vez – as dez mulheres muçulmanas mais influentes do continente. (...)

Europa elegeu pela primeira vez as suas muçulmanas mais influentes
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.375
DATA: 2010-11-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Num jantar de gala em Madrid onde lenços ("hijab") unicolores e multicromáticos conviviam com penteados mais ou menos elaborados, a Europa elegeu, no sábado – pela primeira vez – as dez mulheres muçulmanas mais influentes do continente.
TEXTO: Ndeye Andújar, feminista espanhola que é a directora do site Webislam. com, com mais de 12 milhões de visitantes por mês; Shaheeda Fatima, uma das mais destacadas advogadas do Reino Unido que está a preparar-se em Harvard para ser a primeira juíza muçulmana da Gra-Bretanha; Zaha Hadid, descrita como “uma diva com muitos prémios, paixão e ego” –, a primeira arquitecta a ganhar o Pritzker e recém-galardoada com o Stirling; Sabina Iqbal, fundadora e presidente do Deaf Parenting of UK, a primeira associação mundial dirigida por pais surdos para ajudar pais surdos (como ela); Lamya Kadoor, académica e fundadora da União Liberal-Islâmica, que dá voz aos muçulmanos alemães que “interpretam o islão de uma forma contemporânea”; Sineb El Masrar, fundadora e directora da revista "Gazelle", a primeira publicação multicultural dedicada a mulheres com raízes imigrantes; Bani Noo, jovem enfermeira de origem somali, presidente da Associação das Mulheres Muçulmanas da Suécia; Nabila Ramdani, jornalista e académica francesa de ascendência argelina, especialista em Médio Oriente, em assuntos islâmicos e em questões franco-inglesas; Hilal Sezgin, comentadora política e autora de vários livros sobre islão e islamofobia, multiculturalismo e feminismo islâmico na sua Alemanha natal; Anna Stamou, "marketing manager" da Associação dos Muçulmanos da Grécia, uma convertida ao islão que tenta oferecer a primeira mesquita e o primeiro cemitério à sua comunidade. A eleição das European Muslim Women of Influence é uma iniciativa, sem precedentes, da CEDAR (Connecting European Dynamic Achievers of Role Models), rede pan-europeia de profissionais muçulmanos que procura “gerar uma cultura de sucesso e de liderança entre as diversas comunidades muçulmanas da Europa” (cerca de 23 milhões de pessoas). A CEDAR contou com o apoio do Institute for Strategic Dialogue em Londres, da Casa Árabe em Madrid, do British Council, da Open Society Foundation e da Vodafone alemã. Todas as convidadas receberam uma estatueta de cristal, numa noite em que a diversidade europeia ficou bem visível nos corredores do luxuoso hotel madrileno Wellington, quando mulheres modestamente cobertas da cabeça aos pés se cruzavam, nos corredores, com as convidadas decotadas, transparentes e provocantes da “Boda de Gisele e Pedro” numa sala adjacente. Lehman SistersDepois de apelar à Europa para que imite o Brasil no modo como este país “ostenta orgulhosamente” os seus mosaicos étnicos e culturais, e para destacar o quanto as dez mais influentes podem ser fonte de inspiração, Cherie Blair, oradora de honra, arrancou aplausos à audiência quando disse que não basta ficar no patamar da tolerância. “Esta é aliás uma palavra de que não gosto”, admitiu a mulher do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair. “Prefiro falar de respeito e de parceria. ”“É muito mais aquilo que nos une do que o que nos divide” frisou Cherie Blair, adiantando que muitas mulheres muçulmanas querem ajudar as suas sociedades mas só encontram apoio verbal e nenhuma ajuda prática. Por isso, recomendou, é importante que aquelas que vencem inspirem as que estão em desvantagem. A este propósito a bem-humorada Cherie recitou uma história que ouviu à Presidente da Libéria Ellen Johnson Sirleaf. Numa visita a uma escola, as crianças estavam desassossegadas e a professora repreendeu-as. Nesse momento, uma criança levantou-se e dirigiu-se à ilustre visitante: “Tenha cuidado com o que me vai dizer, porque um dia também eu poderei ser Presidente”. Esta ousadia e este sonho seriam impensáveis, notou a mulher de Tony Blair, antes de a antiga economista do Citibank ter sido eleita, em 2005, a primeira chefe de Estado do primeiro país independente de África.
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Partidos PAN
Twitter enche-se de mensagens de apoio à senadora que os republicanos calaram
Elizabeth Warren foi impedida de criticar o candidato de Trump ao cargo de procurador-geral, entretanto aprovado pelo Congresso, e mulheres de todo o país responderam com uma nova hashtag viral: #shepersisted (...)

Twitter enche-se de mensagens de apoio à senadora que os republicanos calaram
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.4
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Elizabeth Warren foi impedida de criticar o candidato de Trump ao cargo de procurador-geral, entretanto aprovado pelo Congresso, e mulheres de todo o país responderam com uma nova hashtag viral: #shepersisted
TEXTO: Quando o líder da maioria republicana no Senado norte-americano, Mitch McConnell, impediu que a senadora democrata Elizabeth Warren lesse uma carta escrita pela viúva de Martin Luther King, Coretta Scott King, não imaginou que estava a dar azo a que as redes sociais se enchessem com milhares de mensagens de apoio à representante do Massachusetts. Na quarta-feira, quando Warren começou a ler a carta de 1986 em que Coretta tece duras críticas à nomeação para o lugar de juiz federal daquele que é hoje o candidato de Donald Trump ao cargo de procurador-geral do Estado, o senador republicano do Alabama Jeff Sessions (entretanto eleito), o líder dos republicanos interrompeu-a e acusou-a de quebrar todas as regras ao afrontar outro senador. “Ela foi avisada. Recebeu uma explicação e, mesmo assim, persistiu [na leitura da carta]”, afirmou McConnell, para justificar a votação com que os republicanos conseguiram, depois, impedir que Elizabeth Warren voltasse a tomar a palavra. E foi precisamente o facto de persistir que é agora sublinhado nas redes sociais. Rapidamente, a hashtag #ShePersisted multiplicou-se pelo Twitter, a par de outra, #LetLizSpeak, enquanto mulheres de todo o país partilhavam fotos das suas heroínas, entre activistas como Harriet Tubman (que lutou pelo fim da escravatura) e Susan B. Anthony (activista dos direitos das mulheres, nomeadamente do direito ao voto), ou mesmo a candidata democrata derrotada por Trump nas presidenciais, Hillary Clinton. Há mesmo já quem se interrogue se estes não serão os novos gritos de ordem de liberais e feministas. A votação para impedir Warren de falar aconteceu durante um dos debates no Senado sobre a indicação de Sessions para o cargo de procurador-geral do Estado, o equivalente norte-americano do ministro da justiça português. Segundo a agência Efe, na carta escrita há 30 anos, a viúva de Luther King acusa o candidato de ter usado os seus poderes políticos no Alabama “para intimidar e assustar os eleitores negros de idade avançada” e tomar medidas de carácter racista. Ao longo da campanha de Trump, Sessions tornou-se um dos seus conselheiros mais próximos, partilhando com o novo Presidente ideias como a deportação em massa de imigrantes ilegais. Com a votação dos conservadores, a senadora do Massachusetts não pôde voltar a intervir no debate que antecedeu a confirmação de Sessions, recorrendo ao Twitter para prometer que passará a ter o novo procurador-geral debaixo de olho: "Considerem isto o meu aviso. Não seremos silenciados. Vamos continuar a denunciar. E persistiremos". There’s no Rule 19 to silence me from talking about Jeff Sessions anymore. So let me say loudly & clearly: This is just the beginning. If Jeff Sessions turns a blind eye while @realDonaldTrump violates the Constitution or breaks the law, he'll hear from all of us. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. If Jeff Sessions makes even the tiniest attempt to bring his racism, sexism & bigotry into @TheJusticeDept, he'll hear from all of us. And you better believe every Senator who voted to put Jeff Sessions’s radical hatred into @TheJusticeDept will hear from all of us, too. Consider this MY warning: We won’t be silent. We will speak out. And we WILL persist.
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Partidos BE
Morreu Maria Isabel Barreno, que “foi mais do que uma das 'Três Marias'"
Foi uma das autoras de Novas Cartas Portuguesas, uma das obras mais perseguidas pela ditadura e que abriu caminho para o debate sobre a igualdade de género. (...)

Morreu Maria Isabel Barreno, que “foi mais do que uma das 'Três Marias'"
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.5
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Foi uma das autoras de Novas Cartas Portuguesas, uma das obras mais perseguidas pela ditadura e que abriu caminho para o debate sobre a igualdade de género.
TEXTO: A investigadora e escritora Maria Isabel Barreno, que foi uma das "Três Marias" juntamente com Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, morreu este sábado, aos 77 anos. A notícia foi avançada pelo Expresso e confirmada ao PÚBLICO por uma amiga. A cerimónia de cremação está marcada para este domingo, às 16h, no cemitério dos Olivais. Apesar da sua obra prévia, foi com as Novas Cartas Portuguesas, que escreveu a seis mãos com com Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, em 1972, que Maria Isabel Barreno se tornou um nome incontornável da literatura portuguesa. O livro, acusado de pornografia e perseguido pelo Estado Novo, viria a estar no centro do processo que ficou conhecido como as "Três Marias". O julgamento durou dois anos e foi seguido de perto pela imprensa e pelos movimentos feministas internacionais, que organizaram manifestações de protesto juntos às embaixadas e consulados portugueses em Londres, Paris e Nova Iorque. A conclusão do caso ocorreu já depois da Revolução de 25 de Abril de 1974 e as três escritoras foram absolvidas. "Quando escrevemos as Novas Cartas Portuguesas, sabíamos que a obra em si já era uma ousadia, independentemente do vocabulário que viéssemos a usar – mas era o que nos interessava escrever naquela altura e por isso fomos para diante", recordava Maria Isabel Barreno ao PÚBLICO em 2009. A ideia de o livro acabar em tribunal, no entanto, não lhe passara pela cabeça: "Nunca pensei que o regime – até porque estávamos em pleno marcelismo e havia a ideia de que a abertura era outra – caísse na asneira de nos levar a tribunal. O destino mais comum dos livros era serem apreendidos, e até havia livrarias especializadas em livros proibidos, ninguém imaginava que o regime voltasse a cometer o erro que tinha cometido anos antes com a Natália Correia [condenada a três anos de prisão, com pena suspensa, pela publicação da Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, em 1966]. "“Nas novas cartas que as três Marias escreveram anonimamente, diversas vozes falam da condição da mulher, da sua submissão à ordem patriarcal e burguesa, de violência doméstica e de género, de aborto, violação, incesto, pobreza, censura, e de expressão sexual feminina”, escreveu o PÚBLICO em 2010, a propósito da reedição da obra em Portugal. As Novas Cartas Portuguesas adquiriram o estatuto de tratado sobre os direitos das mulheres em Portugal, mas acabaram por extravasar essa intenção inicial. “É um libelo contra todas as formas de opressão”, dizia ao PÚBLICO a académica e escritora Ana Luísa Amaral, autora das anotações à obra na reedição de 2010. Já depois da notícia da morte da escritora, Ana Luísa Amaral quis lembrar que “o contributo que Maria Isabel Barreno traz para as Novas Cartas Portuguesas tem mais a ver com a dimensão ensaística, que no caso dela é notável”, e terá sido muito importante para o diálogo que se foi gerando entre as três escritoras, “o que não quer dizer que tenha sido ela a escrever os textos de cariz mais ensaístico no livro”. Perceber as razões da tradicional inferiorização das mulheres face aos homens foi uma questão que a ocupou ao longo da vida, diz também Ana Luísa Amaral, mas a sua preocupação era sobretudo com o humano e ficou espelhada em O falso neutro: um estudo sobre a discriminação sexual no ensino (1985). “Os ensaios dela estão muito esquecidos e deviam ser reeditados", recomenda. Mas do ponto de vista do feminismo, que Maria Isabel Barreno inscreveu insistentemente na sua obra literária, a autora tem uma outra obra de referência: A Morte da Mãe. Escrito ao longo da década de 1970, e publicado em 1979 pela Moraes, é um importante estudo sociológico e filosófico sobre a evolução histórica da situação da mulher na sociedade. O editor da Caminho, Zeferino Coelho, considera que é o melhor da escritora, merecendo "figurar numa biblioteca do século XX”, disse ao PÚBLICO. É um “livro extenso e muito inteligente sobre a condição da mulher”, onde Maria Isabel Barreno faz “uma revisão de toda a problemática da mulher com muita inteligência” e com “uma escrita que serve essa inteligência”. Foi isso que mais impressionou o editor que o reeditou em 1989. [Maria Isabel Barreno era] "uma mulher excepcional, inteligentíssima, muito culta e muito leal"Também o editor João Rodrigues, da Sextante, que em 2009 publicou aquele que viria a ser o último romance da autora, Vozes do Vento, sublinha que Maria Isabel Barreno “foi mais do que uma das 'Três Marias'": "Era uma ficcionista com uma voz própria muitíssimo interessante, de uma sobriedade enorme. O romance e os contos são excepcionalmente bons”, disse ao PÚBLICO. Maria Teresa Horta, ainda em choque pela morte da amiga, lembrou-a à agência Lusa, como "uma mulher excepcional, inteligentíssima, muito culta e muito leal", e recordou A Morte da Mãe como uma obra muito importante que devia ser reeditada rapidamente. "Foram muitos anos desde que nos encontrámos a primeira vez e que eu lhe fiz uma entrevista para o jornal A Capital, para o suplemento literário, que era coordenado por mim", acrescentou. "Não é só um escritor, é um escritor com quem eu escrevi, e uma pessoa quando escreve com alguém é para sempre, é eterno, não há nada a fazer. A nossa eternidade é que, pelos vistos, como se vê pela Isabel, é muito curta", concluiu. Juntas, Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno fundaram também o Movimento de Libertação das Mulheres. As feministas de um país oficialmente sem feminismoNuma nota de pesar enviada às redacções, o ministro da Cultura Luís Filipe Castro Mendes destacou a "voz activa" de Maria Isabel Barreno na defesa dos direitos das mulheres, acrescentando que "a riqueza do seu pensamento e o rigor dos seus princípios em muito contribuíram para termos hoje uma sociedade mais justa, livre e igualitária". Também o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, destacou que a obra de Isabel Barreno vai muito além das Cartas", apontando os romances, as novelas e os contos da autora que "procuram sempre uma forma de conhecimento da realidade portuguesa": "Conhecimento psicológico e sociológico, empírico e filosófico, em contexto quotidiano e doméstico ou em registo fantástico. E é esse conhecimento que fundamenta a recusa da dominação das mulheres e da submissão aos 'legítimos superiores'", diz uma nota publicada no site da Presidência. Maria Isabel Barreno nasceu em Lisboa em 1939. Estudou num colégio de freiras, o Colégio do Sagrado Coração de Maria. A leitura foi, como dizia, uma paixão precoce, motivada por uma doença aos seis anos. Começou por escrever poemas, que nunca publicou. Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, trabalhou no Instituto Nacional de Investigação Industrial, foi jornalista (chegou a ser chefe de redacção da edição portuguesa da revista Marie Claire, lugar para o qual foi convidada por Maria Elisa) e conselheira na área cultural da embaixada portuguesa em Paris (a convite de Ana Benavente, em 1997), onde se radicou, tendo terminado funções com o Governo de Durão Barroso numa época em que enfrentou muitos problemas pessoais e morreu o seu filho mais novo. Foi mais do que uma das 'Três Marias'. "Era uma ficcionista com uma voz própria muitíssimo interessante, de uma sobriedade enorme. O romance e os contos são excepcionalmente bonsA sua geração literária, situa ao PÚBLICO Miguel Real, é a da década de 60, a mesma de que emergiram Isabel da Nóbrega, Urbano Tavares Rodrigues, Almeida Faria ou David Mourão-Ferreira enquanto contista. E esta foi uma geração muito desconstrutivista: “Os romances de Maria Isabel Barreno desconstroem toda a estrutura clássica do romance anterior”, aponta o escritor e crítico literário, repetindo que além das Novas Cartas Portuguesas Maria Isabel Barreno escreveu “um dos hinos feministas do romance em Portugal, A Morte da Mãe", em que opera uma ligação contínua entre filosofia e literatura. “É uma desconstrução de todas as instituições da família através do pai e da mãe, da escola através do professor, da política através da subversão do político; este romance-ensaio é um dos principais da obra dela”, frisa Real. Para o escritor, o outro romance nuclear da obra de Maria Isabel Barreno é O Senhor das Ilhas, de 1994, segundo volume da trilogia iniciada dois anos antes com O Chão Salgado. A autora já abdicara então de fazer "filosofia dentro do romance” e centra-se na história de um antepassado do seu pai que foi povoar o Sal, no arquipélago de Cabo Verde, introduzindo a exploração do sal numa ilha que até ali era uma colónia penal. “Aqui, embora fragmentariamente, aceita as narrativas clássicas: o tempo, o espaço, a acção e o contar uma história", nota Miguel Real. A obra de Maria Isabel Barreno vai da Sociologia (publicou Adaptação do Trabalhador de Origem Rural ao Meio Industrial Urbano em 1966; em 1968 foi co-autora do volume A Condição da Mulher Portuguesa, dirigido por Urbano Tavares Rodrigues) ao romance e ao conto e estende-se ao longo de 20 títulos. De noite as árvores são negras, de 1968, foi o primeiro romance, a que se seguiu, em 1970, Os Outros Legítimos Superiores (Folhetim de Ficção Filosófica), também publicado pela Europa-América. O seu livro de contos Os Sensos Incomuns (1993) recebeu o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco e o galardão do Pen Club; dois anos antes, o romance Crónica do Tempo venceu o Prémio Fernando Namora. Em 1998 publicou A Ponte com o pseudónimo de Ricardo Caeiro na Dom Quixote de Nelson de Matos, livro que em 2004 foi reeditado. Nessa altura, deu uma entrevista ao JL - Jornal de Letras em que explicava que quis fazer um jogo, tal como Doris Lessing em Inglaterra. "A ideia era saber se, com um nome desconhecido na capa, as pessoas conseguiam adivinhar de quem era o texto", dizia Maria Isabel Barreno à jornalista Maria Leonor Nunes. O livro que tinha uma cinta onde se dizia que era de um autor conhecido não teve grande repercussão. A académica Maria Alzira Seixo escreveu um texto sobre ele e, na altura, contava a escritora nessa entrevista, só uma pessoa tinha adivinhado de quem era o livro: "Inês Pedrosa, que nem conheço muito bem. Há pessoas que conheço melhor, que tinham obrigação de conhecer a minha escrita, e não adivinharam. De resto, as pessoas colaram-se à personagem-autora e tentaram imaginar um escritor, homem. . . ", dizia. O seu derradeiro romance, Vozes do Vento, publicado após uma pausa de 15 anos na escrita, aprofundaria a matéria biográfica que já havia abordado no anterior O Senhor das Ilhas (1994), ampliando a panorâmica não só sobre essa saga familiar, pessoal, como sobre a aventura colonial, com todas as suas violências e disfunções, e o nascimento de uma nação. Em 2010, editou ainda o livro de contos Corredores Secretos. Com Catarina Gomes e Inês NadaisSubscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Quando o medo ultrapassa a realidade: a história de um livro proscritoA igualdade que nem sequer foi tentadaNotícia alterada: a hora da cerimónia de cremação foi mudada das 17h para as 16h deste domingo
REFERÊNCIAS:
As intercalares nos EUA em quatro pontos. Da regeneração democrata ao recorde de mulheres eleitas
Câmara democrata e Senado republicano fazem antever dois anos de tensão no Congresso norte-americano. (...)

As intercalares nos EUA em quatro pontos. Da regeneração democrata ao recorde de mulheres eleitas
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Câmara democrata e Senado republicano fazem antever dois anos de tensão no Congresso norte-americano.
TEXTO: Numa das mais participadas e entusiasmantes eleições intercalares de sempre nos Estados Unidos, confirmaram-se as principais previsões: o Partido Democrata recuperou a Câmara dos Representantes e o Partido Republicano manteve o controlo do Senado. Este desfecho faz antever um duro combate político no Congresso norte-americano para os próximos dois anos e dá também o pontapé de saída para as eleições presidenciais de 2020. São estes os principais destaques da noite eleitoral de terça-feira:Pela terceira vez em 12 anos, o controlo da câmara baixa do Congresso dos EUA trocou de mãos. Em pleno processo de regeneração programática e identitária, o Partido Democrata deu esta terça-feira uma prova de força e conquistou a maioria da Câmara dos Representantes ao Partido Republicano, depois de um excelente desempenho nas grandes cidades e áreas urbanas dos EUA. Os democratas necessitavam de tirar 23 assentos aos republicanos para lograr a maioria e cumpriram o objectivo. Com pouco mais de 20 lugares por confirmar, o Partido Democrata já "roubou" 26 ao Partido Republicano. Uma maior vantagem sobre os republicanos dará aos democratas a margem de manobra necessária para fazer frente a Donald Trump — o pedido de divulgação das declarações de impostos deverá ser uma das primeiras medidas na nova câmara — e para o pressionar através, por exemplo, da ameaça do início de um processo de destituição. Na hora da vitória, a speaker do partido, Nancy Pelosi, anunciou “um novo dia” para os EUA e o regresso do controlo do Congresso ao Presidente, com a “restauração dos ‘checks and balances’ previstos pela Constituição”. Dos 35 lugares do Senado em disputa, 26 eram detidos por democratas, contra apenas nove dos republicanos, pelo que a vitória dos segundos na votação de terça-feira era expectável. E foi alcançada, depois de uma excelente prestação nas zonas rurais, nos estados tradicionalmente republicanos e junto das classes brancas trabalhadoras. Numa altura em que faltam quatro lugares por confirmar, o Partido Republicano pode inclusivamente aumentar a actual maioria (51-49), para uma diferença superior a três senadores. Uma possibilidade que lhe daria margem de manobra para ultrapassar tudo o que possa vir de uma incómoda Câmara dos Representantes democrata ou para aprovar nomeações importantes para os tribunais federais e para o Supremo Tribunal. O Partido Republicano conseguiu travar a onda de entusiasmo em redor do carismático Beto O’Rourke, no Texas — Ted Cruz manteve o lugar —, e, mesmo tendo perdido o Nevada para o Partido Democrata, conseguiu retirar-lhes pelo menos três senadores: no Indiana, no Missouri e no Dacota do Norte. Trump catalogou a noite eleitoral republicana como um “tremendo sucesso”. O fim do monopólio republicano no Congresso dos Estados Unidos e a confirmação, através do voto, de que o país continua profundamente dividido, abrem alas para o início da campanha para as eleições presidenciais, agendadas para 2020. Com caras novas e uma geração revigorada, bem-sucedida nestas intercalares, o Partido Democrata quererá encontrar entre as suas fileiras alguém que possa desafiar Trump. Ainda assim, terá pela frente um Senado previsivelmente mais comprometido com as políticas do seu Presidente e um Partido Republicano disposto a travar a ascensão de qualquer novo aspirante à Casa Branca. A sustentar a expectável concentração de republicanos em volta de Trump, durante os próximos dois anos, há um outro dado, trazido pelas midterms de 2018 e destacado pela NPR. Os candidatos republicanos que decidiram afastar-se do Presidente e fazer campanha sem ele foram muito castigados nas urnas. Carlos Curbelo (Florida), John Culberson (Texas), Kevin Yoder (Kansas), Barbara Comstrock (Virginia) e Mike Coffman (Colorado) são alguns dos exemplos apontados pela emissora que perderam os seus respectivos lugares na Câmara e que, com isso, fizeram notar a necessidade do Partido Republicano em ter de se agarrar ao seu líder máximo, para triunfar em 2020. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os principais meios de comunicação norte-americanos já rotulam o ano de 2018 como “o ano da mulher”. Para além de terem votado mais do que o sexo oposto — 52% dos eleitores nas intercalares são mulheres, de acordo com as estimativas —, o sexo feminino está à beira de bater um recorde, com 96 mulheres na calha para a entrada na próxima Câmara dos Representantes, 76 delas oriundas do Partido Democrata. Os democratas destacaram-se ainda pela eleição massiva de jovens, muçulmanos e representantes de diferentes etnias e contextos sociais, particularmente nas zonas urbanas. Jarid Polis (Colorado), será o primeiro governador assumidamente homossexual; Ilhan Olmar (Minnesota) e Rashida Tlaib (Michigan) as primeiras mulheres muçulmanas a ser eleitas para a Câmara; Debra Haaland (Novo México) e Sharice Davids (Kansas), igualmente eleitas para a Câmara, serão as primeiras mulheres nativas-americanas no Congresso; e Alexandria Ocasio-Cortez (Nova Iorque) e Abby Finkenauer (Iowa), ambas com 29 anos, serão as mulheres mais novas de sempre na Câmara dos Representantes.
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Entidades EUA
Condutores sauditas já não estavam habituados a ver mulheres ao volante
Apesar do risco, mais de vinte condutoras aderiram a campanha contra a proibição que vigora no reino islâmico. (...)

Condutores sauditas já não estavam habituados a ver mulheres ao volante
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento -0.4
DATA: 2013-10-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: Apesar do risco, mais de vinte condutoras aderiram a campanha contra a proibição que vigora no reino islâmico.
TEXTO: Nunca se vai saber ao certo quantas foram, mas foram mais de vinte as mulheres que desafiaram este sábado a autoridade do Ministério do Interior, da monarquia e da elite religiosa ultraconservadora da Arábia Saudita, participando – ao volante – num novo protesto contra a “tradição” que proíbe a população feminina de conduzir. May Al Sawyan foi uma das mulheres que aderiu à “campanha”, que teve origem numa “sugestão”: uma petição assinada por 17 mil pessoas a favor do direito das mulheres a conduzir. Num vídeo de quatro minutos, colocado na página de YouTube da campanha, pode ver-se Sawyan, de óculos escuros mas sem esconder a cara, a dirigir um automóvel em Riad, acompanhada apenas pela repórter de uma estação televisiva que registou o acontecimento. “Foi uma volta pequena, e correu tudo bem, Só fui até ao supermercado e de volta para casa”, explicou à Associated Press pelo telefone. O gesto de “rebeldia” poderia ter tido consequências sérias: as autoridades avisaram que as prevaricadoras (e também os seus “cúmplices”) seriam objecto de sanções, mas May Al Sawyan estava disposta a enfrentar o risco. “Sinto-me muito feliz e orgulhosa por ninguém ter reagido contra mim. Percebi olhares de surpresa em alguns dos carros na direcção oposta, mas percebo perfeitamente: ninguém está já habituado a ver uma mulher ao volante”, lembrou. A “campanha”, assim denominada uma vez que os protestos políticos são ilegais na Arábia Saudita, foi a terceira desde 1995. Nesse ano, a contestação levou à detenção de 50 mulheres, que além de verem os seus passaportes confiscados também perderam os empregos. Em 2011, uma nova manifestação em várias cidades também terminou com detenções: sob pressão da comunidade internacional, o rei Abdullah acabou por perdoar a pena de Shaima Jastaniya, de 34 anos, condenada a dez chicotadas por conduzir em Jidá. Não há nenhuma lei ou regulamento a determinar que a condução de veículos está vedada à população do género feminino. A proibição resulta de uma fatwa do Grande Mufti, a principal autoridade religiosa, que nos anos 90 decretou que a condução expunha as mulheres à tentação. Dez anos mais tarde, quando se pôs a hipótese de rever esse edital, uma nova “recomendação” do supremo conselho religioso Majlis al-Ifta al-Aala, que alertou para uma “perigosa” relação de causalidade: nas sociedades onde as mulheres foram autorizadas a conduzir, o “declínio moral” e o “caos social” acentuaram-se. Um relatório que foi entregue à Shura, a assembleia legislativa do reino, apontava algumas das consequências devastadoras do levantamento da proibição: o fim da virgindade, o aumento da pornografia, homossexualidade e divórcio. No Twitter, multiplicaram-se as manifestações de apoio à “luta” das mulheres sauditas pelo direito à condução vindas do mundo inteiro. Agregadas pela etiqueta #women2drive, milhares de mensagens ironizavam com a situação – um dos posts mais populares foi publicado pelo músico, actor e activista Hisham Fageeh, que inventou uma nova letra para a melodia do jamaicano Bob Marley, com o título No Woman, No drive –, enquanto outras mostravam fotografias de mulheres ao volante, condenando a “opressão” e a “discriminação” reservada às sauditas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei mulher comunidade social género mulheres feminina discriminação divórcio