Procuram-se mulheres que queiram controlar o peso através da gestão de emoções
Universidade de Coimbra procura voluntárias entre os 18 e os 55 anos dispostas a seguir um plano de 3 meses para provar que a gestão dos afectos pode estar na origem de graves perturbações alimentares (...)

Procuram-se mulheres que queiram controlar o peso através da gestão de emoções
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-04-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Universidade de Coimbra procura voluntárias entre os 18 e os 55 anos dispostas a seguir um plano de 3 meses para provar que a gestão dos afectos pode estar na origem de graves perturbações alimentares
TEXTO: O BeFree é um programa da Universidade de Coimbra (UC) que se propõe a ajudar mulheres com excesso de peso a controlar a ingestão alimentar compulsiva. O plano a desenvolver com as voluntárias tem em vista uma intervenção psicológica e emocional uma vez que, segundo o investigador Sérgio Carvalho, a má gestão do afecto pode estar na origem de graves perturbações alimentares. O programa é da responsabilidade do Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC) da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da UC e surge como culminar de uma larga experiência no tratamento de desequilíbrios alimentares. Os investigadores envolvidos no projecto pretendem provar a eficácia de um programa inovador que trata a obesidade através da intervenção psicológica e afectiva. O BeFree procura voluntárias entre os 18 e os 55 anos que estejam dispostas a seguir um plano de três meses em que participarão em 12 sessões (uma por semana) de terapia grupal. As mulheres serão divididas em grupos de 15 elementos para que, em cada sessão, possam trabalhar um módulo específico. Sérgio Carvalho explica que o objectivo é “trabalhar um conjunto de competências para ajudar estas mulheres a regular melhor as suas emoções e assim aprenderem também a relacionar-se com a alimentação” perdendo peso e aumentando a sua “qualidade de vida”. O recrutamento do CINEICC pede mulheres com “obesidade, excesso de peso ou dificuldades no controlo alimentar”, residentes no distrito de Coimbra. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas através do endereço electrónico cineicc@fpce. uc. pt ou do telefone 239 851 464. O arranque do BeFree tem data marcada para Setembro deste ano, mas Sérgio Carvalho lembra que as mulheres podem continuar a inscrever-se mesmo depois disso uma vez que o programa será para repetir. Texto editado por Andrea Cunha Freitas
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave educação mulheres
Mais situações de perigo comunicadas às comissões de protecção de crianças
Em 2013, foram acompanhados mais de 71.500 crianças e jovens. Com o alargamento da escolaridade, as escolas identificam mais situações. Nos novos processos há mais relatos de exposição a violência doméstica e mais meninos entregues à sua sorte. (...)

Mais situações de perigo comunicadas às comissões de protecção de crianças
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento -0.04
DATA: 2014-05-05 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em 2013, foram acompanhados mais de 71.500 crianças e jovens. Com o alargamento da escolaridade, as escolas identificam mais situações. Nos novos processos há mais relatos de exposição a violência doméstica e mais meninos entregues à sua sorte.
TEXTO: O número de menores acompanhados pelas comissões de protecção de crianças e jovens (CPCJ) voltou a crescer. Foram 71. 500 ao longo do ano passado. Acentuou-se a tendência de aumento dos relatos relacionados com a exposição a comportamentos que podem pôr em causa o seu desenvolvimento e bem-estar — na maioria dos casos, a cenas de violência familiar nas quais não são o alvo directo. Esta foi mesmo a situação mais presente nos novos processos instaurados em 2013. São dados do novo Relatório Anual da Avaliação da Actividade das CPCJ que é hoje apresentado, em Setúbal, num encontro que reúne representantes de muitas das cerca de 300 comissões de protecção que existem no país. Os grandes números do documento são estes: no ano passado, as CPCJ lidaram com cerca de 71. 567 crianças (mais 2560 do que em 2012). Uma parte dos processos (perto de 34 mil) vinha do ano anterior e 30. 344 foram instaurados ao longo do ano (28. 498 novos e 1846 que resultaram de transferências entre comissões de protecção). A 31 de Dezembro, continuavam activos mais de 37 mil (ver infografia). “Não é um número muito significativo, mas há um aumento das sinalizações”, resume Armando Leandro, que desde 2005 preside à Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Risco. O juiz conselheiro jubilado do Supremo Tribunal de Justiça destaca a questão da “exposição à violência doméstica vicariante”, ou seja, àquela que não é dirigida directamente à criança, “mas que é tão prejudicial como se fosse”. Ela representa 94, 5% dos 8600 casos de exposição a comportamentos que podem pôr em causa o desenvolvimento e bem-estar dos menores e levaram à abertura de processos. Reconhecendo que o stress causado por razões económicas pode fazer subir a violência familiar, Armando Leandro diz não ter elementos para avaliar até que ponto é isso que está a acontecer. Mais entregues a si própriosTendo em conta ainda, e apenas, os processos abertos ao longo do ano (excluindo, portanto, os que tinham transitado de anos anteriores) a negligência perdeu peso — ainda que se mantenha a segunda causa de sinalização (6407 casos). A terceira situação de perigo reportada tem a ver com o chamado direito à educação: 5551 casos de abandono, absentismo, insucesso escolar e fins que deram origem à abertura de novos processos. Já as situações de crianças abandonadas ou entregues a si próprias quase duplicaram, tendo passado de 580 para 1150. Cerca de dois terços dos casos estão relacionados com o facto de as crianças ficarem temporariamente sozinhas em casa. Também aumentaram os casos de jovens que adoptam, eles próprios, comportamentos que os põem em perigo (consumo de álcool e drogas, por exemplo), de 3177 para 3907. Armando Leandro defende que mais sinalizações traduzem, sobretudo, uma mudança positiva na sociedade portuguesa. Por um lado, “um aumento da sensibilização da parte da comunidade para os direitos das crianças e para a inadmissibilidade da sua violação”. Ou seja, as pessoas estão a denunciar mais. O juiz faz questão de dizer que “a sinalização de uma criança em perigo é um acto de amor, não é um acto de denúncia”. Por outro lado, lembra, a escolaridade passou a ser obrigatória até aos 18 anos. Ou seja, há mais crianças e jovens na escola, durante mais tempo, alvo de atenção daquela que continua a ser a entidade que mais casos de perigo remete para as comissões de protecção: a escola. Em 2013 foram instaurados mais 1195 novos processos do que em 2012; 80% deste aumento está relacionado com situações de abandono e insucesso escolar ou absentismo em jovens com mais de 15 anos — o tipo de situação que leva Armando Leandro a lembrar que uma criança que não estuda “é uma criança pobre”. O magistrado lembra ainda que, ao frequentarem os estabelecimentos de ensino, outras situações de perigo que possam afectar as crianças (maus tratos, por exemplo), que não as directamente relacionadas com o direito à educação, passam a ser, também, mais facilmente detectáveis. “Tudo isto é positivo. ”Mais retiradas aos paisÀ semelhança de 2012, em 2013 a maioria das medidas aplicadas pelas comissões de protecção de crianças e jovens correspondeu às chamadas “medidas em meio natural de vida” (30. 898, ou seja, 89, 7% do total). Entre estas, Armando Leandro destaca o apoio psicopedagógico e económico às famílias. “O que só diz bem das comissões”, porque o que se pretende é que, sempre que possível, os pais consigam reestruturar-se para manter as crianças consigo. Ainda assim, 2013 registou um ligeiro aumento das crianças que foram retiradas e encaminhadas para instituições ou famílias de acolhimento — cerca de 3560 casos contra 3460 em 2012. O mesmo responsável considera que “é natural”, porque os jovens que chegam às CPCJ são de idades cada vez mais avançadas. Basta dizer que em 2012 o grupo etário dos 0 aos 5 anos era o mais representado nos novos processos e, actualmente, o que tem maior peso é o dos 15 aos 18 anos (28% do total). Nestas idades, diz Leandro, “é mais difícil a reparação [das situações de perigo] em meio natural de vida” pelo tipo de problemas que estes jovens trazem. “Embora o desejo seja o de que haja cada vez menos medidas de acolhimento institucional", acrescenta.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos escola violência tribunal educação comunidade consumo violação criança doméstica
Mais de 70% das mulheres não estão atentas aos sintomas do cancro do ovário
Liga Portuguesa Contra o Cancro lança campanha informativa (...)

Mais de 70% das mulheres não estão atentas aos sintomas do cancro do ovário
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento -0.12
DATA: 2014-05-05 | Jornal Público
SUMÁRIO: Liga Portuguesa Contra o Cancro lança campanha informativa
TEXTO: É silencioso, agressivo e difícil de detectar: o cancro do ovário (a sétima causa de morte mais frequente no sexo feminino) permanece desconhecido para 75% das mulheres portuguesas, segundo o estudo que a Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) divulgou esta segunda-feira. No inquérito que a LPCC promoveu através do seu site a mais de 40 mil mulheres, e cujas conclusões foram esta segunda-feira divulgadas, 75% das inquiridas admitiram o seu desconhecimento geral sobre a doença, não descartando a hipótese de este desconhecimento estar na base da elevada taxa de mortalidade evidenciada por esta neoplasia do aparelho reprodutor feminino. A quase totalidade das inquiridas (97%) admitiram também desconhecer qual a faixa etária com maior risco (a doença aparece mais frequentemente a partir dos 55 anos). Quanto aos sintomas que podem conduzir ao diagnóstico da doença, 52% declararam reconhecê-los, apesar de serem pouco específicos: pressão ou dor abdominal, barriga inchada, sensação de enfartamento, perda de apetite ou prisão de ventre. Não obstante, e admitindo que os sintomas possam ser vagos e silenciosos, cerca de uma em cada quatro mulheres admitiu que falha a consulta anual de ginecologista e 74% disseram não estarem atentas aos sintomas. De resto, apenas 1% das inquiridas se mostrou preocupada com o cancro do ovário – no caso do cancro da mama, a percentagem subiu para os 64%. “É preciso lembrar que só a vigilância regular da saúde da mulher e um diagnóstico precoce nos permitirão agir atempadamente e tratar com sucesso este tipo de cancro”, sublinhou Deolinda Pereira, oncologista e especialista no tratamento do cancro do ovário, no comunicado divulgado pela LPCC. O diagnóstico deste tumor é feito com exames físicos e pélvicos, ecografias, TAC e análises ao sangue com um marcador tumoral, as quais poderão ser seguidas de uma biópsia. Na próxima quinta-feira, em que se assinala o Dia Mundial do Cancro do Ovário, a LPCC vai iniciar uma campanha de informação sobre a patologia cuja incidência tem vindo a aumentar nos países desenvolvidos. Nesse mesmo dia, a LPCC vai reunir com os deputados da Comissão Parlamentar de Saúde
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte mulher prisão doença sexo estudo mulheres
Três "rainhas" levam Lisboa a bater recorde de turistas de cruzeiros
Graças ao encontro histórico de três grandes navios "Queen" da Cunard e a mais três cruzeiros, desembarcaram no Porto de Lisboa cerca de 18 mil pessoas que devem deixar um milhão de euros na cidade. (...)

Três "rainhas" levam Lisboa a bater recorde de turistas de cruzeiros
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Graças ao encontro histórico de três grandes navios "Queen" da Cunard e a mais três cruzeiros, desembarcaram no Porto de Lisboa cerca de 18 mil pessoas que devem deixar um milhão de euros na cidade.
TEXTO: O porto de Lisboa recebeu esta terça-feira seis navios de cruzeiro somando um total de 13 mil turistas, a que se juntam cerca de cinco mil tripulantes, um número que torna este o melhor dia de sempre em termos de recepção de cruzeiros. Outro momento histórico marcou o dia: Lisboa tornou-se o quarto porto do mundo a receber em simultâneo os três grandes cruzeiros emblemáticos da frota da britânica Cunard, Queen Elizabeth, Queen Victoria e, muito especialmente, o Queen Mary 2, um dos maiores transatlânticos do mundo. Após a cerimónia solene que assinalou a presença das três “rainhas” no Terminal de Cruzeiros de Santa Apolónia, o secretário de Estado do Turismo, Adolfo Mesquita Nunes, garantiu que a maior recepção de turistas de sempre “confirma o crescimento do turismo português” e “representa um milhão de euros para a economia local”. “Lisboa é o sexto destino de cruzeiros da Europa e a vontade é continuar a crescer”, sublinhou. Um estudo realizado em 2013 pelo Observatório de Turismo de Lisboa, em parceria com a Administração do Porto de Lisboa, traçou o perfil do passageiro de cruzeiro com escala em Lisboa, concluindo que “efectua uma despesa diária de 97, 40€”, um valor em que estão incluídas despesas em “alimentação, alojamento, compras diversas, deslocações na cidade e visitas a monumentos e museus”. O estudo refere ainda que 94, 1% dos entrevistados afirmou que um regresso à capital portuguesa era “provável ou muito provável”. De acordo com o secretário de estado, o turismo é “o maior sector exportador” em Portugal, tendo contribuído em 2013 com mais de nove mil milhões de euros em receitas, o que permitiu “o equilíbrio da balança de pagamentos”. Mesquita Nunes fez questão de frisar que “20% do emprego criado no ano passado foi no turismo”. Já para o presidente da autarquia, António Costa, esta terça-feira foi “um dia particularmente feliz para Lisboa”. E, apesar de reconhecer a importância da capital como “um porto de escala”, o autarca socialista garantiu que “o grande objectivo é ser um porto de início ou de fim”, para “aumentar ainda mais a economia”. Para concretizar este objectivo, Costa admitiu que “ainda há muito trabalho a fazer”, particularmente “melhorar a qualidade do espaço público” e “tornar a cidade mais acessível a quem se desloca”, porque grande parte dos adeptos do turismo de cruzeiros são “pessoas mais idosas” e, algumas, com mobilidade condicionada. Quanto ao novo Terminal de Cruzeiros de Santa Apolónia, de acordo com o secretário de Estado das Infra-estruturas e do Transporte, Sérgio Monteiro, este poderá começar a ser utilizado a partir do próximo ano, o que permitirá aumentar “a oferta do porto” e consequentemente “o impacto financeiro” deste na economia local e nacional. A concessão, já este ano, do Terminal de Cruzeiros de Lisboa a um gestor privado – constituído pela Global Liman Isletmeleri, Grupo Sousa Investimentos, Royal Caribbean Cruises e a Creuer del Port de Barcelona – foi também considerada pelo presidente da autarquia alfacinha como potenciadora da “atractividade da cidade”, graças ao facto destes grupos serem, sublinhou Costa, “muito fortes do ponto de vista internacional”. Serão estas algumas das razões que explicam o dia histórico para Lisboa em matéria de cruzeiros. Além dos três Queen da Cunard, chegaram também o Rotterdam, Silver Whisper e Ruby Princess; os seis permitiram ao Porto de Lisboa arrecadar 112 mil euros. Texto editado por Luís J. Santos
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave estudo
Mães pós-40 aumentam 80 por cento e crescem casos de infertilidade
Em Portugal, na fasquia das mulheres com mais de 40 anos, o recurso às técnicas de procriação medicamente assistida aumentou 4,3 vezes em apenas sete ano. (...)

Mães pós-40 aumentam 80 por cento e crescem casos de infertilidade
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-06-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em Portugal, na fasquia das mulheres com mais de 40 anos, o recurso às técnicas de procriação medicamente assistida aumentou 4,3 vezes em apenas sete ano.
TEXTO: O peso das crianças nascidas de mães com 40 e mais anos de idade no universo total de nados-vivos cresceu quase 80 por cento numa década. Em 1999, os bebés de mães pós-40 representavam 1, 9 por cento do total de nascimentos. No ano passado, a percentagem subiu para os 3, 4. Apesar de se tratar de valores residuais em termos absolutos (2297 crianças e 3359, respectivamente), este aumento ganha contornos mais significativos se considerarmos a tendência dos últimos anos para a diminuição do total de nascimentos: 116. 038 em 1999 contra 99. 576 em 2009. A par deste fenómeno, e muito por culpa dele, crescem os casos de infertilidade e, consequentemente, de recurso às técnicas de procriação medicamente assistida (PMA). Nas contas de Vladimiro Silva, consultor da Direcção-Geral da Saúde para a área, as mulheres acima dos 40 que recorreram a técnicas de PMA aumentaram 4, 3 vezes entre 2000 e 2007. "A partir dos 35 anos a fertilidade da mulher começa a diminuir e, a partir dos 40, cai a pique", sublinha este especialista que está a preparar uma tese de doutoramento sobre os aspectos económicos e demográficos da PMA. Infertilidade afecta 120 milApesar das incertezas quanto à real dimensão da infertilidade em Portugal, Vladimiro Silva diz acreditar que esta afectará à volta de 120 mil casais. "Os problemas associados à avançada idade feminina são a causa mais comum porque as mulheres estão a querer reproduzir em idades já muito próximas da menopausa", aponta. "Quando a minha funcionária me põe numa folha A4 a identificação dos casais candidatos à PMA a primeira coisa para a qual olho é para a idade da mulher", concorda Alberto Barros. "Há pouco tempo chegaram até mim dois licenciados, casados há mais de 15 anos, mas que nunca quiseram ter filhos e que vinham agora, com perto de 48 anos, tentar a primeira vez. Disse-lhes que não podia aceitar porque a probabilidade de êxito era reduzidíssima", conta aquele especialista em genética médica, para acrescentar: "Em mulheres com 43 ou 44 anos de idade a probabilidade de serem bem-sucedidas é muito baixa, inferior a 10 por cento, e até mesmo inferior a cinco por cento se estiverem mais próximas dos 44 anos. Muitas vezes quase que lhes peço que não o façam. " A frequência com que nas revistas cor-de-rosa surgem notícias de actrizes com 40 e muitos anos gravidíssimas e o alarido criado em torno de casos como o da septuagenária indiana que engravidou de gémeos (ver pág. 4) contribuem para criar a ilusão de que tudo é possível. "As notícias sobre as actrizes de cinema que engravidam muito depois dos 40 anos induzem os nossos doentes em erro. O que as revistas não dizem, porque não sabem, é quantas tentativas foram feitas ou que muitas daquelas mulheres recorreram, por exemplo, à doação de ovócitos de dadoras com 25 anos e aí, mesmo em mulheres com 40 anos de idade, as probabilidades de serem bem-sucedidas sobem logo de 12 para 40 por cento", diz Vladimiro Silva. "A expectativa que, a partir daí, se cria em muitos casais é, no mínimo, imprudente", preocupa-se também Alberto Barros. Para ajudar a perceber que o recurso à doação de ovócitos não está ao alcance de toda a gente basta referir o custo. "No nosso centro, cada tratamento com doação de ovócitos custa cerca de 6400 euros", quantifica Vladimiro Silva. Por outro lado, as dadoras - apesar de receberem cerca de 700 euros por cada doação, a troco de compensação pelo tempo despendido - não surgem todos os dias. "Nós aceitamos voluntárias jovens e saudáveis, às quais fazemos um conjunto enorme de testes para verificar se está tudo bem, mas é um processo sempre muito difícil, porque somos muito rigorosos e acabamos por aceitar apenas vinte e tal por cento das candidatas", explica ainda o consultor da DGS. Acresce a isto a ilusão de que com a congelação de ovócitos o futuro pode esperar indefinidamente. "É uma opção publicitada como um recurso para as mulheres engravidarem mais tarde mas que oferece uma segurança ilusória porque, mesmo que se congelem dez ou vinte ovócitos, alguns podem não estar em condições até no acto de descongelação e não dá para fazer várias tentativas", alerta Alberto Barros, aconselhando muito cuidado "com essas esperanças potencialmente ilusórias". A montante deste fenómeno, os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que a idade média das mulheres ao nascimento de um filho subiu para os 30, 3 anos (era de 28, 6 anos em 2000). Se falarmos apenas do primeiro filho, a idade média baixa, embora ligeiramente: era de 28, 6 anos em 2009. Por detrás disto, estão os culpados do costume, segundo o demógrafo Leston Bandeira. "O novo ciclo de vida dos jovens faz com que a sua entrada na vida adulta se faça mais tarde. As mulheres em particular são as que mais investem nos estudos - são melhores alunas na universidade, aliás - e depois adoptam estratégias profissionais que as levam a adiar o projecto de ter filhos", enumera. Maternidade tardia cresceráPara este professor do ISCTE, as maternidades tardias vão continuar a aumentar, num país cujas mulheres há 25 anos não garantem a substituição das gerações (para isso seria necessário que cada mulher tivesse em média 2, 1 filhos, sendo que, no ano passado, esse valor andava pelos 1, 32). Mas, "não estamos a falar de fenómenos transversais a todas as classes sociais", segundo a demógrafa Ana Fernandes. "Nos grupos sociais mais baixos, onde a mulher muitas vezes não tem vida profissional ou tem uma posição profissional precária, muito dependente do marido, a maternidade continua a ser prioritária. O adiamento da maternidade - que acompanha o crescimento da longevidade - afecta fundamentalmente as mulheres de classes altas cujas carreiras profissionais são muito desgastantes e exigentes e por isso conflituam com o ser mãe. " Enquanto em Portugal o adiamento da maternidade parece ser tendência para durar, Ana Fernandes nota que, em países como a Noruega, a ideologia feminista começa a querer mudar o calendário . "A afirmação do feminino passou muito pela profissionalização e pela afirmação da mulher no mercado de trabalho, a par com o homem. Agora, porém, começa-se a pôr em causa se esse é o caminho, porque a mulher nunca ficará a par do homem e está a deixar para trás a maternidade, negando-se quase o direito de ter um filho. " Não se trata de nenhum regresso ao "lar doce lar", "mas de um passo na afirmação do feminismo, que engloba o reconhecimento de que a criança é muito importante no bem-estar de homens e mulheres".
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Palavras-chave homens filho mulher homem criança mulheres feminina feminista feminismo
Natália de Andrade, a cantora iludida que pensava ser diva
Uma crítica musical descreveu-a na juventude como "uma autêntica vocação lírica, a quem podem estar reservados grandes triunfos", mas só conseguiu gravar na meia-idade. Dedicou a vida a tentar ser uma musa do bel-canto, mas não passou de uma diva iludida. Acabou por alcançar uma espécie de êxito póstumo: tem uma legião de "fãs" e os seus vinis são peças de coleccionador. (...)

Natália de Andrade, a cantora iludida que pensava ser diva
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma crítica musical descreveu-a na juventude como "uma autêntica vocação lírica, a quem podem estar reservados grandes triunfos", mas só conseguiu gravar na meia-idade. Dedicou a vida a tentar ser uma musa do bel-canto, mas não passou de uma diva iludida. Acabou por alcançar uma espécie de êxito póstumo: tem uma legião de "fãs" e os seus vinis são peças de coleccionador.
TEXTO: O mundo conheceu há anos a Florence Foster Jenkins, filha de pais ricos, conhecida na sociedade nova-iorquina como a "rainha do grito". Uma desafinada crónica que pensava cantar Mozart, Verdi e Strauss qual Kiri Te Kanawa. Nas suas tardes concorridas no Ritz, não faltavam fãs como o Cole Porter ou o meu ídolo Noël Coward. E não iam lá para achincalhar a figura, antes para apanhar boleia daquele obsessivo optimismo, daquela saudável loucura, daquela espécie de autismo artístico contagiante. Foi isso que a Natália de Andrade provocou em mim quando a conheci. Ainda hoje me divertem imenso as suas gravações. Aquela afinação tão peculiar, aquele sorriso nos lábios que transforma a "área de Manon" em qualquer coisa de muito trendy e kitsch, tem o mesmo efeito na minha alma que algumas músicas dos Pink Martini numa tarde de Verão, ou alguns dos irónicos surrealismos do Warhol em passeios no MoMa. Será um pecadilho este fascínio, será por vezes uma crueldade, mas que hei-de eu fazer ? Não lhe resisto. À hora a que escrevo este texto, estou a pouco de actuar num casino do Algarve. Como habitualmente, uma das minhas piéce de résistence no arranque do espectáculo será a minha imitação quase perfeita da sua Canção Verde. Onde quer que esteja, a Natália ao ouvir-me deve estar a sorrir de orgulho e a dizer para os seus detractores: "Eu não vos disse que fui uma diva que inspirou gerações de artistas?" aO que resta da vida de Natália Barbosa de Andrade está embalado em oito pacotes de papel dispostos ao lado de um piano de cauda num enorme salão de festas que mal é usado. A janela do casarão dá para uma paisagem envolta em árvores a perder de vista. Retirando-se a fita-cola amarelecida de um dos pacotes, descobrem-se nove fotografias autografadas. Parecem desacompanhadas, porque adivinhamos terem sido as que ficaram por distribuir. Rigorosamente iguais e em tons sépia, os retratos são de um rosto muito jovem (na casa dos 20 anos) e têm colados ao canto uma tira branca com o seu nome e a palavra "soprano". Nas costas do retrato, a ordem é inversa, primeiro manuscreveu "cantora lírica", para que não haja dúvidas, e depois assinou o seu nome: Natália de Andrade. Sem data. Num segundo pacote estão guardados dois discos de vinil de 33 rotações, com interpretações suas de obras de compositores como Verdi e Puccini. Na capa aparece sorridente e idosa (parece andar pelos 70 anos). Nenhum dos álbuns está datado. Num terceiro pacote há um diário escrito à mão em papel almaço envelhecido que termina na página 1050, mas que só tem 549 porque Natália continuou naturalmente o seu relato mas saltou da 394 para a 895 sem disso se dar conta. No que intitulou A Minha Biografia, escreveu em epígrafe: "A música será sempre, através dos tempos, o expoente máximo da compreensão e beleza: um mundo eterno repleto de realidade. . . num sonho maravilhoso. "Natália popEnganava-se Natália quando escrevia: "Só através dos meus discos, é que Portugal me poderá ouvir. " Auto-intitulada cantora lírica, mas acabando por ser celebrizada em programas televisivos, como O Passeio dos Alegres, de Júlio Isidro, ou em imitações de Herman José na Roda da Sorte, como uma figura caricatural, o seu canto pode hoje ser descarregado na Internet como toque de telemóvel, há cópias dos seus vinis em CD que passaram de mão em mão, tem um website de um admirador (http:nataliadeandrade. com. sapo. pt) que lhe tenta reconstituir o percurso e lhe admira "a luta e empenho que dedicou ao seu sonho de vida", está no YouTube com vídeos que ultrapassam as 40 mil visualizações. De quando em quando, esses poucos soundbytes chegam-nos num daqueles emails que divertem passageiramente e logo se esquecem e são apagados. Encontra-se o seu rasto em várias referências humorísticas na Internet, uma delas falando da existência de "uma "Natália de Andrade-experience"" - leia-se sinónimo de mal cantar - e mesmo a reivindicação, irónica, da possibilidade de ser criado um clube de "fãs". Para os que a conhecem por esta via, Natália de Andrade não representa mais do que a lembrança de uma pretensa cantora lírica tornada anedota e que, para muitos, apenas é sinónimo de um tema, A canção verde, celebrizado por Herman José na década de 1990. Com a voz esganiçada e estridente, o efeito cómico quase parece fácil de obter porque quando se passa da imitação para o tema cantado pela própria parece-nos que a distância entre caricatura e caricaturada não será afinal assim tanta. Natália de Andrade, passados onze anos da sua morte, mantém assim um nicho de "admiradores" da sua figura quase burlesca e um lugar reservado numa espécie de cantinho da cultura pop que a Internet eternizou. Ela que o que queria era ter o seu nome imortalizado no mundo da música erudita, o seu nome gravado no firmamento do bel-canto ao lado de Montserrat Caballé e Maria Callas. . . "Tenho a certeza que ficarei na História da música erudita", escreve no seu diário. Jovem promessa?Além dos dois vinis que mantinha em sua posse no final da vida, Natália de Andrade conseguiu gravar mais quatro discos, os dois primeiros na Columbia de Madrid e os restantes na Valentim de Carvalho, em Lisboa. Na capa do primeiro lê-se uma elogiosa crítica publicada no Diário de Lisboa que lhe foi feita por uma prestigiada e exigente crítica de música erudita da altura. Francine Benoit anuncia-lhe um futuro promissor: "De facto, trata-se de uma autêntica vocação lírica, a quem podem estar reservados grandes triunfos. " E continua referindo-se às suas "qualidades vocais de ampla e boa sonoridade, apesar da sua extrema mocidade". A crítica inicial foi de tal forma marcante que a reproduz na parte de trás de três dos seus seis discos. Não se sabe que idade teria Natália à data da promissora crítica mas os pais parecem ter-lhe acalentado o talento. A mãe, Maria de Andrade, dava aulas de piano em casa e intitulava-se cantora lírica, fazendo-se em alguns concertos acompanhar pela filha. A sua estreia foi no Conservatório de Lisboa e pouco depois surge ao lado da mãe num recital no Casino de Espinho. Enquanto o casal esteve junto - separaram-se já a filha era adulta -, Maria cultivou o talento da pequena, que conta a sua estreia, no diário enquanto criança de dez anos, no colégio Calipolense, em Lisboa. Aqui, um pai sentado na plateia e demasiado empenhado em dar-lhe instruções de interpretação tanto gesticula, que faz da primeira oportunidade artística da pequena Natália um fracasso. Não conseguirá cantar, em vez disso gargalha. "Deu-me uma vontade de rir tão grande, que ri tanto, tanto, com as mãos a tapar a cara, cheguei às gargalhadas sem nada que me pudesse fazer calar!!!"Mais tarde, os pais inscreveram-na como aluna externa do Conservatório Nacional de Lisboa, de canto e piano, algo que na altura era reservado a poucos. Apenas "famílias com posses ou meninas bem com ligações familiares punham as filhas no Conservatório. Só nos últimos cerca de 30 anos o ensino da música se vem democratizando", lembra Elsa Cortez, professora de Educação Vocal no Instituto Gregoriano de Lisboa. O pai era inspector no jornal O Século e movia-se bem no meio musical, tanto que em 1940 Natália surge no elenco de uma ópera do compositor Ruy Coelho, amigo da família, no Coliseu dos Recreios. No seu diário fala de ter tido "alta classificação" a canto no Conservatório de Lisboa. Os registos comprovam que Natália andou erraticamente na instituição como aluna externa, entre os 18 e 21 anos, e as suas notas falam de média de Bom a Piano e a Ciências Musicais. Apesar de a crítica à actuação que escolheu colocar nos seus discos fazer referência a uma jovem de tenra idade, não há registos vocais desse tempo. Os elogios foram estampados na primeira gravação que conseguiu fazer, quando tinha já 54 anos - uma crítica dedicada a uma jovem promessa impressa em discos cantados por uma mulher de meia-idade. Não se sabendo então como cantaria a jovem Natália, resta-nos comparar a Natália de 54 anos com a que passou dos 70 anos, faixa etária em que gravou três dos seus álbuns. No último, em 1986, já tinha 76 anos. Elsa Cortez ouve as duas Natálias e comenta acerca do primeiro disco, na meia-idade: "Aqui percebem-se as notas, a voz é mais limpa, o vibrato tem menos distorção, o que permite maior definição das notas. É bastante melhor do que mais à frente. " Natália septuagenária: "As notas não estão definidas, há desigualdade do timbre e descontrolo do vibrato. "Há então uma diferença de qualidade de voz nos cerca de 20 anos que passaram entre um disco e outro mas ficará para sempre a interrogação: terá a jovem Natália tido boa voz? "Pode ter tido bom potencial vocal, não vou dizer que não poderia ter tido boa voz aos 20 anos. A voz tem muitas surpresas. "Mas para o potencial de uma voz ser aproveitado teria sido preciso "acompanhamento e desenvolvimento de um espírito crítico próprio e dos que a rodeavam para se poder aperfeiçoar". Se tal tivesse acontecido, diz Elsa Cortez, talvez tivesse chegado à maturidade com a voz disciplinada e treinada. Não foi o caso. As últimas gravações que ficaram e pelas quais ficou conhecida são já no mesmo registo de A Canção Verde. . . São estas que a catapultam como um boneco de humor. São já de uma Natália de Andrade na terceira idade, quando toda a parte muscular envolvida no canto já está deteriorada e quase já não há cantores líricos na vida artística activa. "O drama dos grandes artistas é retirarem-se antes de perderem as suas capacidades", acrescenta Elsa Cortez. O musicólogo Rui Vieira Nery é mais céptico e diz que pensar que Natália de Andrade tinha talento quando era jovem seria talvez o mais agradável de ouvir, quase como uma redenção póstuma para "uma história triste e injusta" de que ela foi alvo em vida, mais, "a utilização vergonhosa de um caso clínico". Apesar de a crítica Francine Benoit ver nela "algum talento", o especialista não acredita que tivesse grande potencial na juventude. Seria quando muito "medianamente competente", refere, mais uma das muitas jovens que passaram por um Conservatório, na altura, sem grandes exigências de entrada, nota. Eternamente jovemTalentosa ou não enquanto jovem, Natália de Andrade verá na juventude uma espécie de passado dourado onde pairará, em contraste com uma figura que ia envelhecendo. Uma vizinha no prédio onde sempre viveu, em Lisboa, Ana Paula Sousa, lembra que "com 60 anos dizia que tinha 20 e 25 anos". Maria Emília Ramalho, chefe do departamento dos arquivos musicais da Antena 2 no tempo em que Natália lá foi colaboradora, recorda que "tirava 20 anos à idade" e lembra-se até de esta lhe ter contado "uma história de pura fantasia, quase de crianças": de como tinha uma irmã mais velha com o mesmo nome que tinha morrido e era dela o bilhete de identidade que usava, por isso tinha mais anos de idade no registo oficial do que na realidade. "Refugiava-se no sonho para fugir a uma realidade que era má. Vivia da imaginação. "Armando Carvalheda, funcionário da Antena 2 que também a conheceu quando era lá colaboradora, lembra-se de que esse esforço de se manter jovem resultava em vestes ridículas para a sua idade, como "um lenço-bandolete amarelo a prender cabelos louros que se entornavam pelas costas. Sempre cheia de colares, pulseiras e brincos. Vestia-se como uma adolescente, sempre de mini-saia, de cor garrida, desadequada à idade. Parecia que tinha saído de uma revista dos anos 1960". Teria consciência dessa desadequação? No seu diário há alturas pontuais em que vai dando alguma nota do passar do tempo: "Diz-se que à medida que se vai tendo mais idade a voz vai descendo na tessitura [extensão de notas que consegue executar]", mas logo de seguida ressalva: "Pode ser que assim seja mas pode-se muito bem mantê-la o maior número de anos possíveis na melhor forma. " De vez em quando repete, autoconvencendo-se: "Tenho todas as minhas faculdades vocais em plena forma, mais ainda do que antigamente. "Em momentos de maior angústia também a vemos a comentar o seu estado mental. Fala de "um esgotamento nervoso" que teve em Madrid quando lá foi gravar, "uma depressão" noutra altura. Por várias vezes se declara à beira da loucura. "A inquietação em que ando e o desespero horrível que se apossa de mim, às vezes, até me pode endoidecer. " O sonho de uma carreira artística tardou e é como se reduzisse o seu tempo de vida aos anos em que realizou as suas conquistas musicais. No extenso diário que manteve com a secreta esperança de que um dia se tornasse a biografia da sua carreira, não regista mais do que cerca de 20 anos - entre as décadas de 1960 e 1980 -, mas viveu até 1999, com 89 anos. Arruma os seus 50 anos anteriores, antes de conseguir gravar o seu primeiro disco, em meras 22 páginas, com escassas referências temporais. Fala de passagem numa infância infeliz, porque os pais se davam mal e discutiam muito. "Fechava-me em mim própria e esperava sempre qualquer coisa que me elevasse a um mundo interior diferente. " A música acabou por ser a sua forma de alheamento. Começa a escrita do diário em 1961, dois anos antes de conseguir viajar sozinha para gravar na Columbia de Madrid o seu primeiro disco, com canções populares portuguesas, gastando com esse projecto todas as suas economias. Muitos dos seus discos foram-se gravando com o esvaziar de uma casa já humilde onde tudo foi sendo penhorado - cofre, livros, móveis, "garrafas de espumante" -, menos o decrépito piano, "que baixa meio-tom quando vêm os primeiros dias de verdadeiro calor" e do qual nunca se desfez, mesmo quando se encontrava na mais profunda penúria. Falando de si e da mãe, com quem viveu toda a vida, até esta morrer, escreve: "Nada temos para comer. . . como uma carcaça pequena ao pequeno-almoço e ao lanche, completamente seca, sem mais nada. " Maria Emília Ramalho confessa "admiração" pela personagem: "Chegou a tirar comida da boca para gravar discos. Passou fome mas lutou por aquilo que queria. "A persistênciaAlém de se endividar, Natália tentou a todo o custo fazer-se conhecer por outras vias, escrevendo cartas, de Marcelo Caetano a Oliveira Salazar, reclamando o seu lugar no mundo português do canto lírico. Dedicou a essa missão - a de ser uma diva da ópera - toda a sua existência desde jovem, como se nada mais tivesse existido para além disso. "Até ao último sopro de vida hei-de marcar sempre a minha presença de qualquer maneira. Trabalharei incansavelmente até onde puder!. . . Será o meu nome de cantora lírica que permanecerá além da minha vida", escreve. A sua persistência levou-a a lugares mais modestos e acabou por ganhar um meio de subsistência na rádio por onde passavam os seus ídolos musicais, a Antena 2, mas não como desejaria, como cantora. Por compaixão acabou por lhe ser atribuído um lugar como colaboradora do arquivo, onde tinha como tarefa ouvir discos e dizer se estavam em bom estado para serem ouvidos e pôr de lado os riscados, lembra Maria Emília Ramalho, então chefe dos arquivos musicais da RDP. A última entrada do seu diário, já no início da década de 1980, acaba em tom de final feliz: conta como é reconhecida por "admiradores" nas ruas de Lisboa desde a sua aparição no programa Passeio dos Alegres, de Júlio Isidro, no que lê como mostras de apreço pelo seu valor como artista e não como aquilo que de facto seriam, troça pela figura de uma mulher debilitada e envelhecida que insistia saber cantar. "Não se pode imaginar a popularidade que actualmente tenho. "No mundo encantadoNatália criou vários refúgios onde cultivava o seu universo. É no que chama "mundo encantado", o Jardim Botânico, em Lisboa, a poucos minutos da casa onde viveu quase toda a vida, que se deslocava de propósito para se alhear da sua realidade e registar alguns destes sucessos e infortúnios, com a secreta esperança de que as páginas da sua história, cosidas a linha branca, ficassem para além de si. No lugar onde ia passar férias com a mãe, nos arredores de Viseu, em Santo Estêvão, encontrou lugar com função semelhante, um bosque a que chama "mirante encantado". Aqui, ainda há hoje quem se lembre de Natália, juntamente com a mãe, irem tardes inteiras para os bosques treinar as vozes. Saíam depois do almoço e ficavam no meio da vegetação "horas esquecidas", lembra Maria da Ascensão Lemos, que hoje tem 72 anos, mas na altura era criança. "Era onde procuravam o silêncio para ensaiar. "Na aldeia ninguém lhes contestava o título de "cantoras de ópera de Lisboa" e o Jornal da Beira chega a anunciar um recital privado e pago protagonizado pelas duas, no Clube de Viseu, tinha Natália 30 anos. Natália viveu grande parte da sua vida sozinha com a mãe, numa dinâmica em que uma alimentava o ego artístico da outra. Lembra-se Hugo Ribeiro, operador de som da Valentim de Carvalho, que gravou alguns dos seus álbuns, de a mãe anunciar a filha como a maior cantora de ópera de Portugal, ordenando, na chegada ao café lisboeta a Brasileira: "Levante-se que acaba de chegar a maior cantora lírica de Portugal"; no seu diário, Natália de Andrade presta-lhe iguais honras e elogia "a voz de meio-soprano contralto verdadeiramente extraordinária" da mãe, Maria de Andrade, que a certa altura a acompanhava ao piano, lembra Maria Emília Ramalho. Natália morreu sozinha, a 19 de Outubro de 1999, num lar para idosos onde estão guardados os oito pacotes de papel com os seus últimos pertences, como acontece com os bens dos utentes sempre que não há família ou amigos que os venham reclamar. A Fundação Sarah Beirão e António Costa Carvalho, em Tábua (região de Coimbra), é um lar que, na sua origem foi criado para albergar pessoas especiais: artistas. Como ela?A sua entrada fez-se em Novembro de 1991 pelas mãos de responsáveis que apresentaram a nova utente ao pessoal como Natália de Andrade gostaria de ser apresentada, respeitando-lhe a ilusão, "que era conhecida internacionalmente e cá", lembra a auxiliar Graça Veiga Pereira. Já diminuída física e intelectualmente, foi anunciada como alguém que tinha tido uma bem-sucedida carreira e as cuidadoras semiacreditaram. Jóias de fantasiaNão era como no bairro que deixava para trás, em Lisboa, onde era conhecida a sua fama de começar cedo, demasiado cedo os seus ensaios vocais. "De manhã, à tarde, à noite. Era a ópera, a gente não percebia. Aquilo entranhava-se no ouvido, eram uivos", queixa-se Ana Paula Sousa. Todos os dias Natália saía de casa dizendo que era famosa e que "ia ensaiar para o São Carlos" mas nem ela nem outros vizinhos alguma vez acreditaram nisso. No lar era diferente. Ali, quase sem visitas, falava às funcionárias do lar da sua carreira gloriosa em Espanha, e havia quem acreditasse numa história de vida que ia contando. "Ela na Espanha era uma diva", referem relatos crédulos de Graça Veiga Pereira, que reproduzem o que ela lhes dizia, "tinha disco de platina ou de prata", hesita. Há nessas lembranças um misto de dúvidas, atribuídas mais à senilidade do que à imaginação. "Trazia jóias de fantasia e estimava-as como se fossem jóias a sério", reparava Graça Veiga Pereira. Mesmo nos seus últimos tempos de vida, a música continuou a ser o centro da sua vida. Ao salão que tem junto à janela um piano de cauda era onde a traziam, já trôpega, uma a duas vezes por mês, lembra a auxiliar Otília Alves. "Gostava que lhe batessem palmas. Ria-se. Ficava na sala do piano 15 a 20 minutos, sozinha, ficava feliz", conta uma das funcionárias. "As pessoas ficavam admiradas de como tinha aquela voz naquela idade, imagine como era a voz dela quando era jovem", diz Rosa Gameiro. Ela bem dizia, "olha como eu era, filha", apontando para uma das suas fotografias autografadas de jovem que ficaram por distribuir. Quando as suas capacidades se perderam e nem o percurso até ao salão do piano conseguia fazer, Natália continuou a querer ter música na vida. Já não cantava, mas para aceitar comer pedia que lhe cantassem. Rosa Gameiro rememora palavras italianas que nunca percebeu, eram de uma ópera, e imita de forma confusa uma palavra, algo como "viveremo", que ela lhe ensinou. "Meu amor, canta comigo", pedia. "Como era o sonho dela, eu cantava. " É um excerto do verso inicial de Madame Butterfly, de Puccini: un bel dì vedremo (um belo dia veremos levantar-se um fio de fumo nos confins extremos do mar). "No fim já não sabia quem era, a gente cantava e ela reconhecia algo que lhe pertencia, onde se reconhecia a ela própria", diz Graça Veiga Pereira. Para uma senhora "que era uma cantora internacional", lamenta que tenha vivido aqueles anos sozinha, quase sem visitas, e que ao funeral só tenham ido funcionárias e utentes do lar. "Foi muito triste o fim dela, um fim como uma pessoa qualquer. Tive pena, porque sabia que era uma pessoa notável. "No dia seguinte à sua morte, lia-se, em título, no Diário de Notícias: "Morreu a cantora lírica Natália de Andrade", como que oficializando o seu estatuto. No texto escreve-se que, "longe de representar um valor maior do canto, foi, todavia, uma mulher forte na sua convicção e paixão pelo canto lírico". Dela se recuperava, incontestadas, as notas que deixou da biografia, de que tinha sido "uma aluna brilhante do Conservatório" e tinha cantado ópera no Coliseu dos Recreios. A Antena 2 fez em 2005 um documentário que, apesar de explorar a controvérsia da figura, funcionava como uma homenagem. Género: divas iludidasÉ irónico que cinco anos após a sua morte, em 2004, a sua aproximação a uma espécie de glória mundial tenha acontecido pelas mãos de uma editora norte-americana alternativa dirigida a um nicho de apreciadores de música com sentido de humor, a Homophone. Natália de Andrade é um de 12 nomes de uma colectânea internacional em CD onde surge ao lado de outras "musas" como ela, caso da inglesa Olive Middleton a cantar Verdi, Mari Lyn a cantar Rossini. O CD The Muse Surmounted, subintitulado "uma celebração da sinceridade do coração e dedicação transfigurada no canto que de outra forma ficaria desconhecido" vende-se na Internet (também na Amazon) e responde a um nicho de admiradores que ouvem Natália e outras como ela, não pela razão porque gostaria de ser ouvida - pelo virtuosismo -, mas por não o ter. Curioso é que o norte-americano Gregor Benko, o produtor, diga que há mercado para estes desvios, já que este foi um dos seus projectos de música clássica "com mais sucesso comercial, vendendo bastante mais do que gravações de grandes artistas que tenho produzido". E constata que muitos dos "apreciadores" são, não por acaso, músicos profissionais. Natália chegou a ter no seu tempo uma espécie "de palco privado" entre músicos profissionais, em Lisboa, lembra João Pedro Mendes dos Santos, professor de Formação Musical no Conservatório de Lisboa, que assistiu a algumas das suas sessões. Uma gravação vídeo feita na altura mostra-a com a mesma pele branca sobre os ombros com que aparece na capa de um dos seus discos, acompanhada por uma mini-orquestra de músicos profissionais, de instituições como a Gulbenkian, a abafar gargalhadas atrás de uma Natália demasiado compenetrada no seu canto para reparar. Na altura, as suas edições de autor de cerca de 200 discos "esgotavam em um dia nas lojas Valentim de Carvalho, em Lisboa. Houve mesmo discos patrocinados por músicos para gozo pessoal, recorda Hugo Ribeiro. O musicólogo Rui Vieira Nery não se orgulha de, a certa altura, enquanto jovem, ter feito parte desse circuito do qual depois se afastou. O que atraía os músicos para a figura de Natália? "Dentro do lado trágico, havia o lado cómico. Era uma caricatura do canto de ópera. Percebia-se que era alguém que tinha estudado canto, há ali um resto de técnica. É uma caricatura da técnica de canto. "O produtor Gregor Benko chamou-lhes ironicamente The muse surmounted, ou seja, as musas que conseguiram superar-se. Mas, contrariamente a Natália, muitas destas "divas" tinham dinheiro e patrocinaram a suas expensas as suas pretensas carreiras artísticas. A abastada americana Florence Foster Jenkins encheu o Carnegie Hall com três mil pessoas em 1941 e a sua conterrânea Mary Lyn pagou por uma série de programas num canal público de televisão de Nova Iorque na década de 1980. Um mundo à parteHá assim mais como Natália, têm em comum serem idosas e convencidas do seu talento, tendo conseguido ao longo das vidas abafar os risos à sua volta. "São pessoas iludidas, cantoras de 60 a 70 anos, cantaram todas as suas vidas e não se apercebem quando as suas vozes começam a soar mal. Não ouvem realisticamente as suas vozes. " Vivem "num mundo delas". Foi este o título, "um mundo seu", escolhido por Daniel Collup para o documentário que fez sobre Jenkins. "Ela não ouvia o que nós ouvíamos. Estava convencida do seu talento. Iludida é a melhor palavra, não é maluca. "A admiração de Collup por este género vem também do facto de "os [verdadeiros] cantores de ópera não correrem riscos", diz Collup. E é José Pedro dos Santos, professor no Conservatório, quem diz que no CD "cantam todas mal, cada uma à sua maneira, mas a Natália é a mais empolgante". O professor tem toda a sua discografia e explica que os seus vinis se tornaram peças de coleccionador entre músicos. Collup explica o fascínio pelas divas iludidas como algo de humano e, para que se perceba, traz o exemplo do programa televisivo American Idol (Ídolos). "As maiores audiências são nas audiências preliminares, onde aparecem personagens ridículas convencidas de que têm talento, são estas que as pessoas mais gostam de assistir. " São arrasadas por um júri, mas se calhar continuarão a acreditar em si de forma cega. Nos programas onde se juntam os melhores, as audições são menos vistas. "É difícil de definir. Fazem as pessoas sentir-se desconfortáveis: sabem que aquela pessoa está a cantar mal e agradecem não serem elas ali no palco", comenta Collup, que foi cantor lírico na juventude. Existe uma palavra em alemão para esta forma de prazer, é a Schandenfreude, "o sentimento de alegria e pena de alguém, é esse o sentimento que está associado ao prazer de ouvir as musas". É isso que atrai as pessoas pelas Natálias de Andrade do mundo. Natália deixou, em oito pacotes, fotografias suas tiradas no tempo em que escolheu viver, a juventude, e dois álbuns, que tratava como tesouros: "Meus queridos discos!! Quero-lhes tanto, como se fossem entes queridos. " No errático diário há uma frase que quase podia ser o resumo da sua vida: habitou "um mundo eterno repleto de realidade. . . num sonho maravilhoso".
REFERÊNCIAS:
Projecto pioneiro em Bragança com grávidas alvo de violência dá origem a rastreio nacional
Um projecto pioneiro em curso nos centros de saúde de Bragança vai dar origem a um rastreio nacional sobre violência doméstica em mulheres grávidas, a primeira iniciativa do género sobre uma realidade desconhecida em Portugal. (...)

Projecto pioneiro em Bragança com grávidas alvo de violência dá origem a rastreio nacional
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.083
DATA: 2010-07-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um projecto pioneiro em curso nos centros de saúde de Bragança vai dar origem a um rastreio nacional sobre violência doméstica em mulheres grávidas, a primeira iniciativa do género sobre uma realidade desconhecida em Portugal.
TEXTO: A secretária de Estado para a Igualdade, Elza Pais, disse hoje que já propôs à ministra da Saúde o estudo sobre um grupo que “pode ser problemático”. A “inspiração” para esta iniciativa surgiu, segundo a governante, de um projecto em curso em Bragança, onde os profissionais de saúde têm recebido formação sobre esta problemática e estão a realizar inquéritos junto das grávidas. O questionário está elaborado por forma a ser possível detectar sinais de violência mesmo quando não denunciada e poderá ser agora largado a todo o país. “Aqui já há experiência nesse sentido e é com base nesta boa prática que se poderá lançar esse rastreio nacional” disse a secretária de Estado numa visita a Bragança no âmbito da “Rota para a Igualdade”. A responsável pelo projecto transmontano, Fátima Ramos, explicou que só no final de 2011 serão conhecidas conclusões desta iniciativa que, depois de Bragança e Mirandela, será alargada, depois do verão, a todos os centros de saúde do Distrito. De acordo com a responsável, em todo o distrito há por ano uma média de 700 grávidas, e foi um caso de um feto com uma aparente má formação que veio a revelar-se consequência de uma violenta agressão à mãe, que “despertou esta médica para esta realidade”. Preparar os profissionais de saúde para detectarem e lidarem com estes casos é um dos propósitos do projecto. A secretária de Estado elogiou o projecto que já motivou outras iniciativas, nomadamente um estudo, da autoria do professor Henrique de Barros, que aponta para uma incidência da violência doméstica em nove por cento das grávidas da região Norte. “Quer dizer que na região Norte estamos acima da média da Organização Mundial de Saúde que se situa entre os três e os sete por cento. No resto do país, o estudo vai agora ser feito”, referiu Elza Pais. A governante classificou o Distrito de Bragança como uma “referência nacional” na intervenção precoce e combate à violência doméstica e apontou como outro exemplo o núcleo de apoio à vítima, o primeiro do país a ser criado num Governo Civil. Numa região com uma população maioritariamente rural e dispersa, uma parceria entre 10 entidades tem permitido “ir ao encontro” das vítimas, respondendo e encaminhando de imediato os casos. Nos últimos dois anos e meio foram atendidas e acompanhadas 367 pessoas com um aumento progressivo de casos que o governador civil, Jorge Gomes, entende não ser “um aumento de casos, mas de denúncias”. As situações de violência que mais têm crescido nas estatísticas regionais são as que acontecem entre os jovens e com idosos. A secretária de Estado garantiu que no 4º Plano Contra a Violência Doméstica, que será aprovado ainda este ano, o grupo dos idosos “vai merecer uma atenção especial”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave violência igualdade estudo doméstica
Denúncias de abuso sexual de menores triplicaram desde início do caso Casa Pia
Os inquéritos relacionados com abusos sexuais de menores investigados pela PJ triplicaram desde 2002, quando rebentou o caso Casa Pia. Além da PJ, outras instituições criaram novas respostas para o problema. (...)

Denúncias de abuso sexual de menores triplicaram desde início do caso Casa Pia
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.5
DATA: 2010-08-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os inquéritos relacionados com abusos sexuais de menores investigados pela PJ triplicaram desde 2002, quando rebentou o caso Casa Pia. Além da PJ, outras instituições criaram novas respostas para o problema.
TEXTO: O número de inquéritos relacionados com abusos sexuais de menores, com menos de 14 anos, investigados pela Polícia Judiciária (PJ) triplicou entre 2002 e 2009. Se no ano em que rebentou o caso Casa Pia havia 447 casos, no ano passado foram 1216. "O escândalo teve um impacte muito grande na nossa sociedade e, depois da Casa Pia, tivemos um boom de casos", diz a inspectora Paula Videira. Também antes do caso, "não havia na PJ um serviço de prevenção de crimes sexuais": "Foi instituído em 2004, para haver mais rapidez na resposta. Este serviço inclui o abuso sexual de menores", explica Paula Videira, acrescentando que, antes, era ao piquete que cabia essa missão. "Não havia um sistema autónomo e é muito melhor ser um grupo especializado em crimes sexuais", defende. Ainda por causa do caso Casa Pia foi alterada, na directoria de Lisboa, uma sala destinada a crianças vítimas de abusos sexuais. A sala já existia pelo menos desde início de 2002, mas foi reestruturada, em 2005, também com o objectivo de imprimir mais rapidez na resposta às inúmeras situações que começaram a chegar às mãos dos inspectores. Resposta em tempo útilA sala foi pintada de verde alface e de cor-de-laranja e apetrechada com televisão, computador, brinquedos, pufs, uma mesa e um quadro para os mais pequenos pintarem. "O factor para mudar a sala foi o caso Casa Pia. Era a hora para mudar, para criar outro ambiente que deixasse a criança mais à vontade, mais confiante para falar, para revelar. Como tivemos mais denúncias, precisávamos de dar resposta em tempo útil. A sala serve para desbloquear o discurso [da criança], criar uma relação de empatia e confiança", explica, ressalvando que as crianças são formalmente inquiridas nas salas dos inspectores e que, no futuro, a PJ pretende "criar salas específicas" para realizar as inquirições. Também no Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa existe uma sala criada para receber crianças vítimas de abusos sexuais (ver caixa). Apesar de reconhecer que "houve uma grande evolução" nos últimos tempos, a inspectora considera que "há sempre" aspectos a melhorar: um deles é haver "mais articulação" entre as instituições. Para Paula Videira, a PJ deve estar sobretudo concentrada no crime - e o apoio psicológico e social de que as vítimas necessitam não só ultrapassa essas competências como pode atrapalhar a investigação: "Também somos pessoas. . . Devia haver um sistema de apoio automático, extra PJ, que fizesse o acompanhamento psicológico, por exemplo", defende. À espera do desfechoTambém a criação da Associação Portuguesa para o Estudo e Prevenção dos Abusos Sexuais de Crianças (APPEPASC), em Julho de 2006, não foi alheia ao caso que pôs a pedofilia nas manchetes dos jornais: "Embora já tivéssemos iniciado trabalho na área dos abusos sexuais de crianças antes do caso Casa Pia, o facto é que este caso ajudou a que este grupo de pessoas assumisse uma posição mais activa através da criação e desenvolvimento da APPEPASC", diz, por e-mail, a presidente da direcção, Susana G. S. Maria. A dirigente considera que o caso "teve o "mérito" de quebrar o silêncio sobre o tema", o que fez com que, "nalguns casos, se avançasse com a denúncia de uma forma nunca antes pensada". Porém, teme que se tenha "criado a ideia errada" de que apenas nos contextos Casa Pia é que acontecem abusos sexuais: "Na realidade a maioria dos abusos são cometidos em casa das próprias crianças, muitas vezes pelos próprios familiares", alerta. Porém, para Susana G. S. Maria, o processo judicial "moroso" não ajuda a que outras vítimas avancem com mais denúncias. Por isso, defende que "o desfecho do caso Casa Pia terá um impacto importantíssimo na história dos abusos sexuais de crianças em Portugal".
REFERÊNCIAS:
Entidades PJ
Canal privado de televisão mostra Alexandra em risco na Rússia
Pouco tempo depois de abrir o noticiário da principal televisão russa, a menina russa que foi retirada pelo Tribunal de Guimarães a uma família portuguesa de acolhimento de Barcelos volta a ser notícia. (...)

Canal privado de televisão mostra Alexandra em risco na Rússia
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-09-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Pouco tempo depois de abrir o noticiário da principal televisão russa, a menina russa que foi retirada pelo Tribunal de Guimarães a uma família portuguesa de acolhimento de Barcelos volta a ser notícia.
TEXTO: Há cerca de uma semana, Alexandra aparecia no telejornal do ORT, primeiro canal da televisão pública russa, como uma criança adaptada à nova realidade. As câmaras de televisão filmaram o primeiro dia de escola em Pretchistoe, vila natal da sua família, onde Alexandra (tratada como Sandra na Rússia) - hoje com sete anos - está a viver com a mãe. "Todo o país falava e conhecia Sandra há vários meses atrás. A sua mãe, Natália Zarubina [que viveu em Portugal durante vários anos], inicialmente entregou a menina a uma família de acolhimento, mas depois tentou recuperá-la [o caso chegou ao Tribunal da Relação de Guimarães]. Recuperou-a e trouxe-a para casa, de Portugal para a aldeia de Pretchistoe, no distrito de Iaroslavl", referia a jornalista na peça de televisão divulgada no início do mês. "Imagens filmadas durante o primeiro mês de Sandra na Rússia mostram que ela falava e compreendia russo com dificuldade. Hoje, fala, compreende e comporta-se como uma aluna normal. Esta é a sua primeira aula. Num meio de uma confusão barulhenta, Sandra tenta, o mais depressa possível, ocupar o seu lugar, como todas as outras crianças", conclui a reportagem que quis mostrava a imagem de uma criança feliz e integrada. Alexandra desde os 17 meses de idade até ao ano passado viveu com a família de acolhimento em Portugal. Porém, um canal privado de televisão divulgou agora uma reportagem que contraria este cenário de harmonia e que parece mostrar que a criança pode estar em risco. As imagens, reproduzidas pela SIC, mostram Alexandra a falar sobre a violência doméstica que alegadamente assiste diariamente. A peça fala também nos supostos hábitos alcoólicos da mãe. As autoridades russas ainda não reagiram a esta reportagem do canal privado.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola violência tribunal criança doméstica
Mais crimes contra as pessoas no distrito judicial de Lisboa
Violência doméstica motivou mais de sete mil inquéritos. Aumentos significativos também nos crimes contra o património e a vida em sociedade. (...)

Mais crimes contra as pessoas no distrito judicial de Lisboa
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.5
DATA: 2010-11-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Violência doméstica motivou mais de sete mil inquéritos. Aumentos significativos também nos crimes contra o património e a vida em sociedade.
TEXTO: A Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa (PGDL) revelou que, até final de Setembro passado, foram abertos 166. 002 novos inquéritos na sua área de jurisdição, que abrange todo o distrito de Lisboa, grande parte do distrito de Leiria, algumas comarcas de Santarém, duas da Margem Sul e as regiões dos Açores e Madeira. O balanço dos três primeiros trimestres do ano revela um acréscimo de 11. 058 processos em comparação com o mesmo período do ano anterior e uma tendência acentuada de crescimento dos crimes contra as pessoas, mas também dos ilícitos contra o património e a vida em sociedade. Segundo a PGDL, registou-se uma estabilização no número da criminalidade participada por tráfico de droga e uma ligeira diminuição dos crimes contra o Estado e a emissão de cheques sem cobertura. Este último crime, que já liderou as estatísticas judiciais, está em fase de quase extinção: motivou a instauração de 1326 novos inquéritos. Um fenómeno que poderá ser explicado pela preponderância crescente do uso de meio electrónicos de pagamento e pela acção do legislador, quando descriminalizou a emissão de cheques sem provisão. Os crimes de corrupção também motivaram mais do que uma queixa por dia, num total de 364 novas participações. Ao invés, as estatísticas da PGDL indiciam a emergência de novos ilícitos, anteriormente pouco significativos nas estatísticas. É o caso da violência doméstica, que, nos primeiros nove meses do ano, motivou a abertura de 7303 novos inquéritos - uma média de 27 por dia. As infracções na estrada, sobretudo a condução sob o efeito do álcool, atingem um número aproximado do das agressões no seio da família, tendo sido abertos 7124 novos inquéritos nos primeiros nove meses do ano. Na área da PGDL estavam pendentes no final de Setembro 92. 425 inquéritos e foram findos 165. 527, ou seja, menos 475 do que os que foram abertos. Destes, revela a mesma fonte, foram acusados 18. 895 e arquivados 128. 483 inquéritos. E a procuradoria alerta que está a diminuir a capacidade de resolução dos casos participados ao Ministério Público, pela conjugação de duas situações: aumento do número de queixas e a diminuição da resolução dos inquéritos. As participações contra desconhecidos ascendiam, em finais de Setembro, a 71. 002, o que mostra uma diminuição sensível em comparação com o período homólogo do ano anterior, em que foram registadas 75. 165 queixas. O balanço da PGDL preconiza ainda o aumento da resposta dos procuradores para diminuírem o número e a antiguidade dos inquéritos pendentes.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime violência doméstica extinção