Morreu Agustina Bessa-Luís, o nosso grande “mistério literário”
Afastada da vida pública, por razões de saúde, desde 2006, a escritora morreu nesta segunda-feira, aos 96 anos. Dizia ser mais conhecida do que lida, apesar das sucessivas reedições de títulos seus, nomeadamente A Sibila. O Presidente da República “curva-se perante o seu génio”. (...)

Morreu Agustina Bessa-Luís, o nosso grande “mistério literário”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.45
DATA: 2019-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Afastada da vida pública, por razões de saúde, desde 2006, a escritora morreu nesta segunda-feira, aos 96 anos. Dizia ser mais conhecida do que lida, apesar das sucessivas reedições de títulos seus, nomeadamente A Sibila. O Presidente da República “curva-se perante o seu génio”.
TEXTO: Agustina Bessa-Luís morreu nesta segunda-feira de madrugada, aos 96 anos, na sua casa do Porto, confirmou o PÚBLICO junto de um familiar. A escritora estava doente há mais de uma década, mas o seu estado de saúde agravara-se nos últimos tempos. “Há personalidades que nenhumas palavras podem descrever no que foram e no que significaram para todos nós. Agustina Bessa-Luís é uma dessas personalidades”, reagiu Marcelo Rebelo de Sousa. Em memória da “criadora”, “cidadã” e “retrato da força telúrica de um povo”, o “Presidente da República curva-se perante o seu génio e expressa aos seus familiares as mais sentidas condolências”. A missa de corpo presente, celebrada pelo bispo do Porto, D. Manuel Linda, terá lugar na terça-feira, às 16h, na Sé do Porto, onde o corpo estará em câmara-ardente a partir das 10h30. Será depois transportado para o jazigo da família no cemitério de Peso da Régua, onde a cerimónia fúnebre será reservada ao seu círculo íntimo. Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa-Luís nasceu em Vila Meã, Amarante, a 15 de Outubro de 1922. A infância e a adolescência da escritora serão passadas nesta região, que marcará fortemente a sua obra. Estreia-se como romancista em 1948, com a novela Mundo Fechado, mas é em 1954, com o romance A Sibila, desde então sucessivamente reeditado, que se impõe como uma das vozes mais importantes (uma voz “incomparável”, como dirá o ensaísta Eduardo Lourenço) da ficção portuguesa contemporânea. Afastada da vida pública, por razões de saúde, desde que em 2006 sofreu um acidente vascular cerebral, Agustina Bessa-Luís foi distinguida em 2004 com o Prémio Camões, o mais alto galardão das letras em português. Recebeu-o, no Rio de Janeiro, das mãos do então ministro da Cultura brasileiro, Gilberto Gil. Eduardo Prado Coelho (1944-2007), um dos jurados dessa edição do prémio, definiu-a como “uma extraordinária cronista com sentido de humor e uma visão original e, por vezes, desconcertante da literatura”. Vasco Graça Moura (1942-2014), que fez parte do mesmo júri, considerou-a então “uma escritora universal”. O PÚBLICO esteve na Feira do Livro de Lisboa e pediu a alguns visitantes que lessem excertos de "A Sibila"Perante a notícia da sua morte, Hélia Correia, que venceu o mesmo prémio em 2015, não tem meios-termos para a classificar: “Se há génio, é Agustina. Se há mistério literário, é Agustina. Se há alguém que não morre, é Agustina”, disse nesta segunda-feira de manhã ao PÚBLICO. E Agustina, toda essa Agustina, perdurará, acrescenta Hélia Correia sobre uma autora de quem nunca foi amiga de “quotidiano, de tempo ocioso” — não por “temor sagrado” em relação a alguém que tanto admira, mas porque a sua obra é tão importante, tão perfeita que é com ela que se relaciona. “Ela nasceu para a literatura já pronta, não precisou de nenhuma espécie de aleitamento. E se não nasceu, ela também não morre”, insiste. “Há os escritores, e há a Agustina. É única. As condições de existência de Agustina não são as nossas condições humanas. Há outra coisa nela. Portanto também não há morte nela. ”Há alguns anos, num colóquio de homenagem a Agustina Bessa-Luís, Hélia Correia defendia “a improbabilidade de Agustina” — a sua transcendência. Agora, com a obra “muito bem tratada” pela sua editora, a Relógio d’Água, que em 2016 iniciou um extenso programa de reedições, ainda em curso, e pela filha e responsável pelo espólio da escritora, Mónica Baldaque, “o que é preciso é ler, e pasmar perante aquela obra”. Hélia Correia reserva uma última palavra para o derradeiro romance de Agustina, A Ronda da Noite (2006): “Perfeição. ”Apesar das sucessivas reedições de títulos seus, nomeadamente A Sibila — a última das quais pela Relógio d'Água, em 2017, com prefácio de Gonçalo M. Tavares —, Agustina queixava-se de ser mais conhecida do que lida. “Poucos são os que me lêem, mas muitíssimo mais os que me conhecem”, disse a escritora, citada pela Lusa, numa palestra, contando em seguida um episódio passado no Porto, quando uma senhora a interpelou na Rua de Cedofeita e lhe disse: “Sabe, gosto muito de si. Até estou a pensar um dia destes comprar um livro seu. ”A sua obra nunca desapareceu porém verdadeiramente dos escaparates das livrarias. E aí ressurgiu em força desde que, em 2016, a família rompeu o contrato que cedia os direitos da escritora à Guimarães Editora, cedendo-os à Relógio d’Água. A editora de Francisco Vale iniciou o seu programa de reedições com A Sibila e o livro infantil Dentes de Rato; desde então, fez sair os romances Vale Abraão, Fanny Owen, O Mosteiro, Deuses de Barro, A Ronda da Noite, O Manto, Os Meninos de Ouro, Ternos Guerreiros e O Susto, e ainda a peça de teatro Três Mulheres com Máscara de Ferro. Além destes, a bibliografia de Agustina inclui títulos como Os Incuráveis, A Muralha, O Sermão do Fogo, A Dança das Espadas, As Pessoas Felizes, Santo António, O Concerto dos Flamengos, As Pessoas Felizes, Crónica do Cruzado Osb, A Brusca, Aquário e Sagitário, Doidos e Amantes, e os três volumes de O Princípio da Incerteza, entre outros. Várias obras suas foram adaptadas ao cinema pelo realizador Manoel de Oliveira, e assim foram vistas, além de lidas: Fanny Owen (1981, adaptado para Francisca), Vale Abraão (1993), As Terras do Risco (1995, adaptado para O Convento) e O Princípio da Incerteza (2002). Ela escrevia, ele filmava: foi uma parceria criativa que durou mais de duas décadas e resultou em quase uma dezena de filmes — com alguns “confortáveis conflitos” pelo meio. A autora escreveu ainda, para Oliveira, os diálogos de Party (1996), a partir da sua peça de teatro Party: Garden-Party dos Açores. Do seu conto A Mãe de Um Rio Oliveira haveria de fazer Inquietude (1998). E também o realizador João Botelho adaptou um romance seu, em 2009: A Corte do Norte. No teatro, é autora d’A Bela Portuguesa, levada à cena na Casa da Comédia, em Lisboa, em 1987, numa encenação de Filipe La Féria, que também adaptou ao teatro o seu romance As Fúrias, em 1995. Em 1997, quando publicou Um Cão Que Sonha, Agustina realçou numa conversa com público, em Oeiras, a importância fundamental que o marido teve na sua carreira de escritora. “Por tudo, do apoio à compreensão, ao incentivo e ao amor incondicional”, afirmou. Alberto Oliveira Luís, que foi o responsável pela fixação do texto da escritora, morreu em Novembro de 2017, aos 94 anos. Foi usando o seu nome como pseudónimo que em 1951 Agustina concorreu aos Jogos Florais do Minho com o conto Civilidade. Antes de o seu nome saltar para os escaparates das livrarias, publicou ainda Os Super Homens (1950) e Contos Impopulares (1951). O conto Civilidade veio a ser publicado em 2012 pelo grupo Babel, que em 2010 absorveu a Guimarães Editores. No mesmo ano foi também publicado outro título inédito, Kafkiana, que reúne quatro textos com reflexões de natureza literária sobre a situação do homem kafkiano face ao mundo e a si próprio. “Quem, como eu, por razões de estudo, se interessou vivamente por um autor (trata-se de Franz Kafka, em que não pretendo doutorar-me, mas de que tirei a licenciatura) durante muito tempo, não pode evitar a sua sombra. Pelo que os meus artigos muitas vezes rodeiam os seus pensamentos, confiam nas suas palavras com esse abandono carinhoso que dedicamos a quem nos deu o pão do ensino”, escreveu então Agustina. Se Kafka fez parte do universo de Agustina, Agustina fez (faz) parte do de Gonçalo M. Tavares. “A Agustina sempre foi para mim um autor essencial, daqueles que estou sempre a reler, de forma caótica. Há nela uma potência da linguagem que secundariza a narrativa. Estamos sempre a ser surpreendidos pelas palavras, atacados pelas palavras, porque ela não tem piedade de nada. ”É esta força da linguagem que faz com que Gonçalo M. Tavares a compare a Clarice Lispector, para em seguida afirmar, peremptório: “Agustina é a maior escritora de sempre da língua portuguesa. ”Nos seus livros, acrescenta o autor de Jerusalém e de Aprender a Rezar na Era da Técnica, Agustina Bessa-Luís destrói pobres e ricos, mas também a classe média, essa dos funcionários públicos a quem classifica, n’A Sibila, como uma “raça extra bíblica”. A escritora não se coíbe de julgar os seus personagens, mas o que diz numa página, pode desdizer passado duas. “A contradição em Agustina é uma forma de liberdade que vem do prazer da linguagem e do prazer do pensamento. ”Gonçalo M. Tavares tem sempre três ou quatro livros de Agustina abertos, “a uso”, geralmente muito sublinhados a lápis, “porque a cada página há coisas que espantam, que importam”, “frases que nos podem fazer querer mudar de vida”. “As pessoas falam sempre de Agustina como a autora de A Sibila, mas eu consigo pensar em dez, 12, 15 dos seus livros que são para mim tão ou mais importantes: Os Meninos de Ouro, Prazer e Glória, que também tem uma personagem feminina extraordinária… Os livros de Agustina formam uma obra única, uma máquina trituradora de grande clareza, inteligência e inconformismo. ”Desengane-se, no entanto, quem pegue num dos seus romances com a intenção de os ler como quem lê uma “novela”: “Ela escolhe os seus leitores. Para ler Agustina, a pessoa tem de se distanciar da ideia de uma história contadinha de forma certinha. Nos grandes livros de Agustina não acontece nada. ”Pedro Mexia, escritor, poeta e crítico literário, autor de Lá Fora e de Menos por Menos, diz o mesmo, mas de outra maneira: “Os textos de Agustina exigem um envolvimento de quem lê. É preciso entrar neles. Não se gosta mais ou menos de Agustina, como não se gosta mais ou menos de Herberto Helder. ”Agustina e Herberto, aliás, fazem parte da galáxia de quatro ou cinco escritores de língua portuguesa que Mexia, que assina o prefácio da reedição de Os Meninos de Ouro, considera “verdadeiramente singulares”. “Ela tem uma característica que não sabemos bem definir e que, à falta de melhor palavra, chamamos ‘génio’. E o génio é aqui uma mistura de talento com algo que é único. E é isso que faz com que quem a lê pela primeira vez tenha uma enorme sensação de estranheza. Uma estranheza que se rejeita ou se aceita sem limites. ” Também por isso, garante, “Agustina tende a gerar incondicionais”. Nos seus livros a história que se conta ou a veracidade dessa história é o que menos importa. A sua singularidade vem, defende Mexia, da mistura de estilos, de imaginários, da combinação “de uma tradição camiliana, mais ou menos portuguesa, mais ou menos regionalista”, com uma tradição europeia do romance com uma “certa dimensão ensaística, vagueante”, própria de “escritores mais selvagens”, como Dostoievski, um dos autores que Agustina nunca dispensava. Se ela parte de pessoas e acontecimentos reais, como parece ser o caso em Os Meninos de Ouro, publicado pela primeira vez em 1983 e inspirado no primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro, que morreu num acidente de avião em Dezembro de 1980, é de forma não declarada e para lhes acrescentar, depois, uma boa dose de ficção. E para surpreender, como sempre. “Pelo que conhecemos da carreira de Sá Carneiro, é possível dizer que as passagens [do romance] estritamente políticas são credíveis. Depois há a escolha inusitada de Agustina: a sua empatia é dirigida à personagem que na vida real equivale à primeira mulher de Sá Carneiro, e não a Snu Abecassis, a mulher por quem ele se apaixona. ”Mesmo quando parece aproximar-se, politicamente, de um certo conservadorismo e até mesmo do feminismo, “nada disso é inteiramente verdade”, ressalva Mexia. “Se ela cria personagens femininas extraordinárias, fortes, isso é puro realismo. Toda a gente sabe que os homens são mais patetas. ”Avessa a categorizações em géneros, a obra de Agustina cria híbridos. Nos três livros que escreve logo a seguir ao 25 de Abril de 1974, por exemplo — As Pessoas Felizes, Crónica do Cruzado Osb. e As Fúrias — há divagações que podiam constar das páginas de um diário, de um ensaio ou de um artigo de jornal, defende. “Os romances de Agustina vão para onde querem ir e a voz que neles queremos seguir aonde quer que ela vá é a da autora. (…) Agustina Bessa-Luís levou a literatura portuguesa a sítios onde ela nunca tinha ido daquela maneira. ”Para a escritora Inês Pedrosa, que em 2008 organizou com João Botelho para o Instituto Camões uma exposição que coincidiu com a estreia de A Corte do Norte, há duas ideias feitas sobre Agustina Bessa-Luís: que era “conservadora e reaccionária” e que era “dura”. A primeira é “desmentida quer pela obra dela, quer pelos actos”. Inês Pedrosa dá como exemplo em A Alma dos Ricos “uma história divertidíssima em que uma senhora muito rica quer que a virgem Maria lhe apareça porque por ser rica, ela pode ser mais útil do que foram os três pastorinhos. E o motorista arranja uma prostituta com um ar muito angelical para ir fazer de virgem Maria e aparecer à senhora. Isto não é obra de uma pessoa conservadora de maneira nenhuma!”, lembra Inês Pedrosa. “Por outro lado, Agustina subscreveu o ‘sim’ à despenalização da interrupção da gravidez e foi apoiante à presidência quer de Freitas do Amaral e de Cavaco Silva mas também de Jorge Sampaio. ” E quanto a ser irascível e dura, “nem uma coisa nem outra”. Inês Pedrosa conta que Agustina era “uma pessoa de extremo bom humor”, encarava os desaires da vida com humor e muita serenidade, e era uma pessoa muito atenta às necessidades dos próximos. “Era muito atenta ao apoio prático de que uma pessoa pudesse precisar. Ela mesma dizia que não era uma pessoa terna porque tinha um lado castelhano arisco. Mas procurava ser uma pessoa com doçura e compreensão pelos outros. ”Uma história engraçada aconteceu quando Inês Pedrosa lançou o romance Fazes-me Falta (2002). Agustina telefonou-lhe e perguntou-lhe se não queria que ela lhe apresentasse o livro. Inês jamais teria a ousadia de lhe pedir isso. Agustina mantinha uma casa em Lisboa, desde a altura em que estava à frente do D. Maria II, e todos os meses visitava a cidade que, dizia, lhe fazia falta. O lançamento era à noite, na discoteca Lux. “Quando entrámos [no Lux] era na época em que em vez de sofás havia camas forradas de plástico. E Agustina disse: ‘Tantas camas, tantas possibilidades. Isto é que era um sítio para ser apresentado um livro meu. ”Na Feira do Livro de Frankfurt, lembra ainda Inês Pedrosa, no ano em que José Saramago ganhou o Prémio Nobel da Literatura, estava uma delegação de escritores na feira. “Fomos todos jantar e estava toda a gente embaraçada para não falar do Nobel diante dela. E ela diz: ‘Eu vou pedir meia lagosta e champagne para celebrar o Nobel do Saramago. ’ Ficou tudo em silêncio durante um segundo e ela disse: ‘Mas pago à parte, não tenham problemas. Só estou a perguntar se alguém me quer acompanhar’. E lá pediu a meia lagosta e o champagne para celebrar o Nobel”. O Prémio Camões foi a mais elevada distinção atribuída à obra de Agustina, mas a escritora recebeu muitos outros prémios ao longo da sua carreira (incluindo, no mesmo ano, o Prémio Literário Vergílio Ferreira da Universidade de Évora). Logo em 1954, A Sibila, romance que a inscreveu quase imediatamente no cânone da literatura portuguesa, valeu-lhe os prémios Delfim Guimarães e Eça de Queiroz. Sobre esse romance, e sobre o que ele anunciava, escreveu então o historiador António José Saraiva: “Agustina será reconhecida quando, com a distância, se puder medir toda a sua estatura, como a contribuição mais original da prosa portuguesa para a literatura mundial. Ainda está demasiado perto de nós para que possamos desenhar o contorno do seu esplendor, que, como acontece em todos os casos de genialidade pura, é ainda invisível a muito dos seus contemporâneos. ”Não era o caso de Eduardo Lourenço. Num texto originalmente publicado em 1963 na revista Colóquio, da Gulbenkian, no qual pressagia que os futuros historiadores da literatura assumirão a publicação de A Sibila como “marco” entre duas épocas literárias, o ensaísta de O Canto do Signo escreve: “Pela primeira vez tínhamos diante de nós (…) qualquer coisa bem próxima de um mundo literário autónomo, quer dizer, não um mundo que reenvia classicamente à vida ou à imaginação, mas que é, em sua imediata realidade literária, emblema de vida e de imaginação, uma da outra indistintas”. Por isso, o “inesperado retrato de mulher” que A Sibila nos dá é na verdade, sugere o ensaísta, “um impossível retrato, que nem nós nem a sua autora podemos distinguir da fulgurante torrente da própria evocação que o inventa”. “Pelo seu simples aparecimento”, a ficção de Agustina “deslocou o centro da atenção literária”, argumenta Lourenço, e significou, “objectivamente, o fim do neo-realismo como fixação quase exclusiva da imaginação romanesca portuguesa” desde que Alves Redol publicara Gaibéus, em 1939. Se a obra de Agustina vem sendo há muito amplamente estudada, só este ano foi lançada uma primeira substancial biografia da escritora, O Poço e a Estrada (Contraponto), de Isabel Rio Novo, à qual se seguirá uma segunda, autorizada pela família, na qual o historiador Rui Ramos trabalha já há algum tempo e que o editor da Relógio D'Àgua, Francisco Vale, que a publicará, admite poder vir a estar concluída dentro de um ano. E havia já a autobiografia O Livro de Agustina (Três Sinais, 2002), na qual a romancista revisita o seu passado, e ainda outros livros mais recentes com textos assumidamente autobiográficos, como O Chapéu das Fitas a Voar (Guimarães, 2008). Entre os muitos prémios que Agustina recebeu, destaca-se o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, pela obra Os Meninos de Ouro, distinção que voltaria a ser-lhe atribuída em 2001, então consagrando O Princípio da Incerteza I — Jóia de Família. A escritora recebeu também o Prémio Ricardo Malheiros em 1966 e em 1977, respectivamente, com Canção Diante de Uma Porta Fechada e As Fúrias. Em 1967, a sua obra Homens e Mulheres valeu-lhe o Prémio Nacional de Novelística e, em 1980, o romance O Mosteiro conquistou o Prémio D. Diniz/Casa de Mateus e o P. E. N. Clube de Ficção. Em 1988, recebeu o Prémio RDP/Antena 1 por Prazer e Glória e, em 1993, o Prémio da Crítica do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários por Ordens Menores. Em 1997, recebeu o Prémio União Latina pelo romance Um Cão Que Sonha. A escritora foi distinguida pela totalidade da sua obra com o Prémio Adelaide Ristori, do Centro Cultural Italiano de Roma, em 1975, e com o Prémio Eduardo Lourenço, em 2015. Em 1985, foi mandatária da candidatura presidencial de Diogo Freitas do Amaral e, em finais de 2006, apoiou o “sim” no referendo sobre a despenalização do aborto. Marcada de resto por uma desassombrada intervenção pública, a sua vida passou também pelos jornais (uma intensa actividade que a Fundação Calouste Gulbenkian compilou em 2017, nos três volumes de Ensaios e Artigos (1951-2007), num total de nada menos do que 2791 páginas organizadas pela neta da escritora, Lourença Baldaque): dirigiu mesmo, entre 1986 e 1987, o diário O Primeiro de Janeiro, e protagonizaria em 2005, com a jornalista Maria João Seixas, o programa Ela por Ela. Entre 1990 e 1993, assumiu a direcção do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em 2018, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) concluiu um ano de homenagem a Agustina Bessa-Luís, com a atribuição do doutoramento honoris causa à escritora, que assim se tornou a primeira mulher a ser distinguida com este título honorífico pela UTAD. Agustina foi ainda condecorada como Grande Oficial da Ordem de Sant’Iago da Espada, de Portugal, em 1981, elevada a Grã-Cruz em 2006, e o grau de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras, de França, em 1989, tendo recebido a Medalha de Honra da Cidade do Porto em 1988. A sua obra está traduzida em várias línguas europeias, do castelhano ao grego, e o romance A Sibila, que já vai na sua 31. ª edição, é consensualmente considerado um dos clássicos da literatura portuguesa do século XX. com Margarida Gomes e Luís Miguel Queirós
REFERÊNCIAS:
Cristo não desempregou os santos (2)
Estamos no mês dos Santos Populares. Esses santos mais antigos são valores seguros. (...)

Cristo não desempregou os santos (2)
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Estamos no mês dos Santos Populares. Esses santos mais antigos são valores seguros.
TEXTO: 1. Não entendo nada do jogo do “monopólio”. Parece que é guiado por uma lógica económica muito simples: para uns jogadores ficarem ricos, os outros vão à falência. Não pretendo encontrar aí uma analogia para a relação entre as religiões, mas sempre ouvi dizer aos críticos do monoteísmo que a sua vitória foi um golpe muito duro no pluralismo religioso da antiguidade. Um Deus único não poderia tolerar concorrentes. Não é essa questão, cheia de falácias, que pretendo abordar nesta crónica. A palavra Deus encobre significações muito diferentes. Lembrei-me desse jogo ao ler uma recente declaração do actual Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Luis Ladaria. Tenta ressuscitar a Carta Apostólica de João Paulo II – Ordinatio sacerdotalis – para reafirmar que o jogo do sacerdócio ministerial foi ganho pelos homens e a falência sacerdotal das mulheres é irremediável. A referida Carta defendia que o sacerdócio ministerial – de padres e bispos – é monopólio masculino e definitivo: sempre assim foi e sempre assim será. Compreendo o zelo do Prefeito L. Ladaria. Perante a arremetida teológica, cada vez mais insistente, contra o monopólio masculino, reagiu segundo a sua função policial: lembra que a lei tem de ser respeitada. Mas não lhe pertencia repetir que esta nunca poderá ser alterada. Que um Papa tenha dito isso, obriga a um acurado reexame do que ele entendia por Igreja e da sua concepção dos seus poderes no futuro. A primeira interrogação é esta: as mulheres não serão Igreja? Não conheço nenhum movimento de mulheres satisfeitas com a sua menoridade eclesial. O sujeito Igreja não será constituído por todas as pessoas baptizadas? Ou será que alguém descobriu na tradição eclesial um Baptismo próprio para homens e outro para mulheres? S. Paulo ficaria indignado com essa loucura [1]. O Papa Francisco, quando chegou ao Vaticano, já tinha o terreno armadilhado com Cartas Apostólicas semeadas de sentenças definitivas, enunciando posições doutrinais que nenhum outro papa ou concílio poderia modificar. Essa arrogância denuncia um estilo, mas talvez não uma exigência divina. Na Praça de S. Pedro, na reflexão sobre o sacramento do Crisma, o estilo de Bergoglio é muito diferente: a missão da Igreja no mundo procede através da contribuição de todos aqueles que fazem parte dela. Alguns pensam que na Igreja existem patrões: o Papa, os bispos, os sacerdotes e depois os outros. Não: todos nós somos Igreja! Todos temos a responsabilidade de nos santificarmos uns aos outros e de cuidarmos de todos. Todos nós somos Igreja! Cada qual tem a sua função, mas, repito, todos nós somos Igreja! Com efeito, devemos pensar na Igreja como num organismo vivo, composto por pessoas que conhecemos e com as quais caminhamos e não como numa realidade abstracta e distante. A Igreja somos nós que caminhamos, a Igreja somos nós que hoje nos encontramos nesta praça. Nós: esta é a Igreja. A Confirmação vincula à Igreja universal, espalhada pela terra inteira, mas compromete activamente os crismandos na vida da Igreja particular à qual pertencem, tendo como cabeça o Bispo, que é o sucessor dos Apóstolos. O jogo deste Papa não é o do monopólio. A sua Igreja não é a dos patrões. 2. Estamos no mês dos Santos Populares: a 13, Santo António, a 24, S. João e, a 29, S. Pedro. Esses santos mais antigos são valores seguros. Mesmo numa era secular e num Estado laico, as autarquias compreendem que são os santos da religião popular que marcam as festas do povo. Quem reconfigura esses santos são os seus devotos, sem pedir licença a ninguém. Têm um traço comum. A sua ocupação e preocupação é a vida e a alegria das populações. A saúde e a guarda das pessoas e dos animais, o êxito das sementeiras e das colheitas, a esperança contra os excessos da seca e da chuva, das ameaças da fome, da peste e da guerra. As promessas, as romarias, as peregrinações, o canto ao desafio e as danças dos grupos e das bandas, a partilha dos merendeiros e de uma boa pinga são a linguagem dos céus e da terra, simbolizados no fogo que leva o mundo às alturas, não o fogo dos incêndios. Os santos populares e as alminhas eram gente de casa com quem se podia contar na saúde e na doença, na tristeza e na alegria. É gente do lugarejo, é gente da freguesia, é gente do Conselho, é gente do mundo todo. Fez-se uma imagem de santos canonizados, fixos nos altares, depois de processos canónicos, mais ou menos morosos, para apanhar pó. Os Santos Populares foram canonizados pelo povo. Esses estão sempre no activo, venerados ou a quem se pede contas pelos desleixos. Deus não vive no céu e numa eternidade aborrecida e os que vão para o céu também não se vão aborrecer. Todos activos. Pouco importa a biografia histórica de cada um desses santos preferidos. Por exemplo, de Sto. António, teólogo e pregador, ficou muito pouco. Sempre com o menino ao colo, existem poucas imagens de Santo António cansado, de menino pela mão. Conta-se tanto com ele que, no dia ou na noite em que ele não atende os seus devotos, é posto de castigo. Quem acompanhar as orações a este santo, no seu Mensageiro, tem sempre uma página que lhe é dedicada. O estilo não varia muito: "Meu Santo Amigo, já me salvaste da morte. Agradeço reconhecido. Ajuda a minha família e em especial a minha filha mais velha, tu sabes quem é. Que os médicos que a seguem descubram de que padece, os assuntos da mente e do espírito são complicados. Mas confio em Ti, meu Santo António. As bênçãos de Deus para quem mais precisar. Ámen. José. "3. Os santos populares não se passeiam todos em andores. O Papa Francisco prefere ver a santidade nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e nas mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir. Vejo aí a santidade da Igreja militante. É a santidade "ao pé da porta", daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus ou, por outras palavras, a classe média da santidade. A santidade não consiste em ter visões, recitar orações elevadíssimas ou mostrar cara de santinho. Não é reserva da terceira idade ou de jovens que a esperam sentados. A santidade do jovem é ir em frente, ser desassossegado [2]. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Cristo não se reconhece em nenhum jogo de monopólio da santidade. O seu empenhamento é levar todos os seres humanos, seja qual for a sua idade, povo, cultura ou religião à plenitude da vida. Os santos não são concorrentes, são associados, todos membros do seu corpo místico. [1] Gl. 3, 23-29[2] As referências aos santos e à santidade foram inspiradas em Gaudete et Exsultate, do Papa Francisco, 2018, e nas recentes Audiências Gerais de 6 e 13 de Junho
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte homens guerra filha lei humanos cultura fome ajuda doença mulheres corpo
Psicólogos do INEM com recorde de pedidos de ajuda
Profissionais são requisitados muitas vezes para travar tentativas de suicídio (...)

Psicólogos do INEM com recorde de pedidos de ajuda
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Profissionais são requisitados muitas vezes para travar tentativas de suicídio
TEXTO: Mais de um quarto das acções dos psicólogos do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) no terreno foram para travar tentativas de suicídio, revelam dados relativos a 2013, ano em que este serviço de intervenção recebeu um número recorde de pedidos de ajuda. São apelos motivados por problemas variados: a mãe cujo filho toxicodependente ameaça matar-se, o doente psiquiátrico que quer saber a quantidade de insulina suficiente para morrer, a testemunha que dá conta de alguém que se quer lançar de uma ponte. Joana Anjos, uma das 12 psicólogas do centro de apoio psicológico e intervenção em crise do INEM, explica que por vezes basta um aconselhamento telefónico para evitar o pior, sem necessidade de deslocação ao local. A estes profissionais - que trabalham 24 horas por dia - chegam chamadas encaminhadas pelos colegas do Centro de Orientação de Doentes Urgentes do INEM, que identificam a necessidade de intervenção a nível psicossocial. Um desses casos foi o de uma mãe que ligou para o 112 porque o filho toxicodependente ameaçava matar-se. Enquanto uma ambulância e elementos da polícia se deslocavam ao local, uma psicóloga do INEM manteve-se em linha com a mãe, para ajudar a mulher a lidar com a situação. Neste caso, não foi necessário o envio de um psicólogo para o terreno, o que aconteceria se o jovem se recusasse a ir ao hospital ou insistisse em matar-se. "Muitas vezes recebemos pedidos de ajuda dos cuidadores, que estão no limite", conta a psicóloga, adiantando que várias destas chamadas revelam a difícil história de muitas famílias. No ano passado, 85 das 315 saídas de psicólogos, ou seja, 27%, foram por causa de tentativas de suicídio. Os psicólogos chegam a ter de negociar com os suicidas a aceitação de ajuda. "O objectivo destas pessoas é acabar com o sofrimento e não a morte em si. Vivem uma ambivalência", refere Joana Anjos. Até ao momento, todas as intervenções no terreno nestes casos têm sido bem-sucedidas, explica: "Não podemos falhar. Nunca abandonamos a pessoa em risco". Contudo, as deslocações mais frequentes são as que envolvem morte inesperada, com familiares ou amigos no local. No ano passado, registaram-se 152, ou seja, 48% do total. Entre estas, estão alguns casos mais conhecidos como a tragédia com os estudantes na Praia do Meco, o acidente que há seis anos vitimou 17 pessoas da universidade sénior de Castelo Branco na A23, a morte de pescadores de Caxinas ou a recente queda de um muro junto à Universidade do Minho. Para estas tragédias, não basta ser-se psicólogo. Por isso, estes profissionais têm uma formação específica em intervenção psicológica em crise, emergências psicológicas e intervenção psicossocial em catástrofe. No momento de apoiar um familiar ou amigo que presencia uma morte trágica, o seu grande objectivo é "minimizar o impacto da situação". "O nosso abraço não é físico, embora possa haver toque. Validamos o sofrimento e deixamos chorar", descreve Joana Anjos, para quem as situações mais exigentes são as que envolvem a morte de crianças. "Uma boa intervenção é quando vamos embora e não fazemos falta", resume. Pelo telefone, a equipa de psicólogos do INEM intervém noutro tipo de situações, como crises de ansiedade ou ataques de pânico, violação, abuso sexual ou violência doméstica. Em 2013 registou-se um aumento de 60% de chamadas do CODU encaminhadas para os psicólogos: 5. 465 em 2012 e 8. 741 no ano passado. Apesar do número de intervenções presenciais ter também aumentado, em 73% dos casos a situação resolveu-se sem o envio de psicólogos ao local. Joana Anjos não estabelece uma ligação directa entre o aumento de pedidos de ajuda e a actual crise, nem identifica um tipo de problema que tenha crescido de forma particular. A exigência de algumas situações a que são sujeitos médicos e enfermeiros do INEM leva a que os psicólogos prestem também apoio aos próprios colegas. Sobre os casos mais difíceis, até os psicólogos preferem não falar: "Nem gostamos de nos lembrar deles. Trabalhamos de forma a que eles desapareçam".
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte violência suicídio filho mulher ajuda violação sexual doméstica abuso pânico ansiedade
Dilma Rousseff: a mulher a quem Lula deu o Brasil
É forte: enfrentou tortura e um cancro. Tem fama de intelectual: Zola, Proust, Sófocles. Como guerrilheira, foi política: nunca disparou um tiro a sério. Como política, foi técnica. Isto chega para governar o Brasil? O PÚBLICO falou com quem conheceu Dilma Rousseff ao longo dos anos. (...)

Dilma Rousseff: a mulher a quem Lula deu o Brasil
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DATA: 2010-11-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: É forte: enfrentou tortura e um cancro. Tem fama de intelectual: Zola, Proust, Sófocles. Como guerrilheira, foi política: nunca disparou um tiro a sério. Como política, foi técnica. Isto chega para governar o Brasil? O PÚBLICO falou com quem conheceu Dilma Rousseff ao longo dos anos.
TEXTO: Dilma ganha ao perto. No comício de encerramento da primeira volta em São Paulo, perante umas 30 mil pessoas, o discurso dela foi “engolido” por todos os que falaram antes e sobretudo pelo que falou depois, esse Pai-Natal-do-povo que é Lula. Após o comício, quando a imprensa foi convocada para uma salinha onde ia ser apresentado um apoiante de peso, Dilma mostrou-se firme e bem-humorada. Ao perto, viam-se as olheiras de semanas de campanha. Mas sobretudo uma mulher sem a artificialidade por vezes gaguejante que ela tende a mostrar ao longe. O seu carisma de massa é tão ténue que o analista José Roberto de Toledo, do “Estado de São Paulo”, acha que quando ela não vai mal isso já é bom. “Bom, para Dilma, é não comprometer. ” Ou, como diz Alberto Almeida, do Instituto de Análise, autor de um livro chamado “A Cabeça do Eleitor”: “Ela não fez nada de errado na campanha. E como a expectativa era negativa, se saiu bem. ”Não é um prenúncio entusiástico, se pensarmos que Dilma Rousseff vai entrar para a história como primeira mulher presidente de um país que quer ser uma das cinco grandes economias do mundo, e pensando que ela sucede a um dos presidentes mais populares de que há memória. “Qualquer um seria eleito com o apoio do Lula”, diz Alberto Almeida. “Ele podia ter dado esse presente para qualquer um e deu para ela. ”Podemos ver esse presente num sentido mais amplo: o que Lula deu a Dilma foi o Brasil. Então porquê a ela? Simplesmente não havia mais ninguém? Se Lula é um político tão intuitivo ia apostar todo o seu prestígio num cavalo qualquer?Todas estas perguntas levam a uma só: quem é Dilma Rousseff? O Brasil vai saber, a partir de agora. Mas a história dela há-de contar alguma coisa. A herança do paiAlém do Brasil, um outro país “votou” em Dilma no domingo: a Bulgária. Porque foi de lá que veio Pétar Russév, advogado viúvo que nos anos 40 se instalou em Minas Gerais, e fez dinheiro em negócios. Casou com a jovem mineira Dilma Jane Silva, mudou o nome para Pedro Rousseff, e — sem nunca desistir de fumar cinco maços, comer bem e jogar, conta a revista “Piauí” — educou a sua prole com piano, francês e literatura. Nascida a 14 de Dezembro de 1947, entre um irmão mais velho e uma irmã que morreu, Dilma Vana Rousseff acordou para os humilhados e ofendidos com Zola e Dostoiévski, como depois acordará entre os salões de Proust. A infância dela não tem nada a ver com a de Lula ou a da orfã Marina Silva, lá nos confins da Amazónia. Dilma foi uma burguesinha de Belo Horizonte, cidade de famílias tradicionais. Fazia férias de praia, hotel-casino, e ia de avião. Andou nas melhores escolas da cidade. Em casa havia três empregadas. Bem mais velho que a mãe, o pai morreu quando ela tinha 14 anos, deixando uma herança de imóveis. E é numa prestigiada escola pública, a Estadual Central, que Dilma vai conhecer todo um frenesim político: são os anos 60, o Brasil tem uma ditadura, o mundo está em convulsão. “Ela era meio tímida, uma menina pacata, recatada, boazinha”, lembra ao PÚBLICO a ex-colega Ângela Alvarenga, hoje directora de uma empresa de informática em Belo Horizonte. Mas a escola, a experiência de ver favelas como o Morro do Papagaio, e o clima geral levam Dilma a entrar aos 19 anos para a Polop (Política Operária), e depois a optar pela ala defensora da luta armada. Forma-se então o Colina (Comando de Libertação Nacional), onde Dilma conhecerá o seu primeiro marido, Cláudio Galeno, com quem casa no civil. Galeno disse à “Piauí” que aprendeu a fazer bombas na farmácia do pai.
REFERÊNCIAS:
Descobre as diferenças nestes logótipos. Pista: adeus, bigode
Numa campanha para assinalar o Dia da Mulher, a organização Creative Equals mostra “um mundo visto pela lente da igualdade”, pelo menos no que toca a logótipos de marcas famosas (...)

Descobre as diferenças nestes logótipos. Pista: adeus, bigode
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DATA: 2018-06-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Numa campanha para assinalar o Dia da Mulher, a organização Creative Equals mostra “um mundo visto pela lente da igualdade”, pelo menos no que toca a logótipos de marcas famosas
TEXTO: Os designers masculinos “devem ter traçado muitos logótipos de marcas famosas” — mas isso é porque apenas “11. 5% dos directores criativos são mulheres”. Foi com esta afirmação que a Creative Equals, uma organização que defende a igualdade de género nas indústrias criativas, apresentou uma campanha para assinalar o Dia Internacional da Mulher. Bastou fazer algumas trocas “subtis”: o Mr. Pringles cortou o bigode, o menino pescador da DreamWorks deixou crescer o cabelo e o Rich Uncle Pennybags é agora a "tia" Pennybags. Estes são alguns exemplos dos logótipos que ganham agora uma outra vida, no feminino. Os gifs evidenciam “preconceitos que passam despercebidos” e fazem-nos imaginar “um mundo visto pela lente da igualdade”, diz ao Dezeen Ali Hanan, fundadora da organização. “Não estamos a atacar pessoalmente nenhuma destas marcas, claro, mas queríamos mostrar uma variedade de exemplos para pôr as pessoas a celebrar o Dia da Mulher e a pensarem sobre a necessidade de mais mulheres. ”Esta quinta-feira, 8 de Março, a McDonald’s também mudou o logótipo: deu-lhe uma volta de 180 graus e o M transformou-se em W (a primeira letra de women, a palavra inglesa para “mulheres”). Fisicamente, os arcos só mudaram num restaurante na Califórnia, noticia a CNN. Já nas redes sociais da multinacional todos os símbolos estão virados ao contrário. Ainda no início de Março a marca de whisky Johnnie Walker anunciou uma edição limitada com uma Jane Walker no rótulo. Por cada garrafa comprada (cerca de 30 euros), um dólar (81 cêntimos) reverte a favor de organizações líderes na defesa dos direitos das mulheres. Vai um brinde?Notícia actualizada às 13h36 de 9 de Março com o último paráfrago do texto. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. PUB
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos mulher igualdade género mulheres
Divulgada lista oficial dos secretários de Estado
A lista oficial dos secretários de Estado do XVI Governo Constitucional foi divulgada hoje. Os novos responsáveis tomam posse ao fim da tarde no Palácio da Ajuda, quatro dias depois dos 19 ministros do Executivo de Santana Lopes. A cerimónia de tomada de posse estava agendada para as 18h00, mas alterações de última hora nos nomes para algumas das secretarias de Estado terão obrigado ao adiamento do início da sessão. Um dos casos é o de Teresa Caeiro. Inicialmente confirmada pelo próprio ministro da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar, Paulo Portas, como futura secretária de Estado Adjunta e dos Antigos Combaten... (etc.)

Divulgada lista oficial dos secretários de Estado
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DATA: 2004-07-22 | Jornal Público
TEXTO: A lista oficial dos secretários de Estado do XVI Governo Constitucional foi divulgada hoje. Os novos responsáveis tomam posse ao fim da tarde no Palácio da Ajuda, quatro dias depois dos 19 ministros do Executivo de Santana Lopes. A cerimónia de tomada de posse estava agendada para as 18h00, mas alterações de última hora nos nomes para algumas das secretarias de Estado terão obrigado ao adiamento do início da sessão. Um dos casos é o de Teresa Caeiro. Inicialmente confirmada pelo próprio ministro da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar, Paulo Portas, como futura secretária de Estado Adjunta e dos Antigos Combatentes, Teresa Caeiro surge na lista oficial como secretária de Estado das Artes e Espectáculos. Depois de ter apresentado Caeiro como a primeira mulher a exercer "um cargo governativo no sector da Defesa", Paulo Portas acabou por explicar mais tarde aos jornalistas que "houve um acerto final" na lista dos secretários de Estado e que "Teresa Caeiro revelou-se mais necessária na Cultura do que na Defesa". Para secretário de Estado Adjunto e dos Antigos Combatentes foi nomeado José Manuel Pereira da Costa. Apenas Mário David, secretário de Estado dos Assuntos Europeus, não será empossado hoje por se encontrar em Estrasburgo com o presidente indigitado da Comissão Europeia, Durão Barroso. O secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, Domingos Jerónimo, já tinha sido empossado no passado sábado, juntamente com o primeiro-ministro, Santana Lopes, e os ministros do novo Governo. O Governo conta com 38 secretarias de Estado, mais duas do que no anterior Executivo, e 19 ministérios, mais dois que no elenco governativo liderado por Durão Barroso. Lista dos secretários de Estado do XVI Governo Constitucional:Ministério das Actividades Económicas e do Trabalho Secretário de Estado Adjunto e do Trabalho: Luís Miguel Paes AntunesSecretário de Estado do Desenvolvimento Económico: Manuel Correa de Barros de LencastreSecretária de Estado da Indústria, Comércio e Serviços: Maria da Graça Ferreira Proença de CarvalhoMinistério da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar Secretário de Estado Adjunta e dos Antigos Combatentes: José Manuel Pereira da CostaSecretário de Estado para os Assuntos do Mar: Nuno Maria Fernandes Pinto Magalhães ThomazMinistério da Presidência do Conselho de Ministros Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Presidência: Feliciano José Barreiras DuarteMinistério das Finanças e da Administração Pública Secretário de Estado do Orçamento: Manuel Ferreira Teixeira Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais: Orlando Pinguinha CaliçoSecretário de Estado do Tesouro e das Finanças: Luís Miguel Gubert Morais LeitãoSecretária de Estado da Administração Pública: Sofia de Sequeira Teixeira GalvãoMinistério dos Negócios Estrangeiros e das Comunidades PortuguesasSecretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação: Henrique José Praia da Rocha de FreitasSecretário de Estado dos Assuntos Europeus: Mário Henrique de Almeida Santos DavidSecretário de Estado das Comunidades Portuguesas: Carlos Alberto Silva GonçalvesMinistério da Administração InternaSecretário de Estado Adjunto do ministro da Administração Interna: António Paulo Martins Pereira CoelhoSecretário de Estado Adjunto da Administração Interna: Nuno Miguel Miranda de MagalhãesMinistério das Cidades, Administração Local, Habitação e Desenvolvimento RegionalSecretário de Estado da Administração Local: José de Almeida CesárioSecretário de Estado do Desenvolvimento Regional: José Eduardo Rego Mendes MartinsMinistério da JustiçaSecretário de Estado Adjunto do Ministro da Justiça: Paulo Artur dos Santos Castro de Campos RangelSecretário de Estado da Justiça: Miguel Bento Martins da Costa Macedo e SilvaSecretário de Estado da Administração Judiciária: António Alberto Rodrigues RibeiroMinistério da Agricultura, Pescas e FlorestasSecretário de Estado Adjunto do Ministro da Agricultura, Pescas e Florestas: Carlos Manuel Duarte de OliveiraSecretário de Estado da Agricultura e Alimentação: David Ribeiro de Sousa GeraldesSecretário de Estado das Florestas: Luís António de Pires PinheiroMinistério da EducaçãoSecretário de Estado Adjunto e da Administração Educativa: José Manuel de Albuquerque Portocarrero CanavarroSecretário de Estado da Educação: Diogo Nuno de Gouveia Torres FeioMinistério da Ciência e do Ensino SuperiorSecretário de Estado da Ciência e Inovação: Pedro Miguel Santos de Sampaio NunesMinistério da SaúdeSecretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde: Mário Patinha AntãoSecretária de Estado da Saúde: Regina Maria Pinto da Fonseca Ramos BastosMinistério da Segurança Social, da Família e da Criança Secretária de Estado Adjunta do Ministro da Segurança Social, da Família e da Criança: Maria do Rosário Cardoso ÁguasMinistério das Obras Públicas, Transportes e ComunicaçõesSecretário de Estado Adjunto e das Obras Públicas: Jorge Fernando Magalhães da CostaSecretário de Estado dos Transportes e Comunicações: Jorge Manuel Martins BorregoMinistério da CulturaSecretária de Estado das Artes e Espectáculos: Teresa Margarida Figueiredo de Vasconcelos CaeiroSecretário de Estado dos Bens Culturais: José Amaral LopesMinistério do Ambiente e do Ordenamento do TerritórioSecretário de Estado Adjunto do Ministro do Ambiente e do Ordenamento do Território: Jorge Manuel Lopes Moreira da SilvaMinistério do TurismoSecretário de Estado Adjunto do Ministro do Turismo: Carlos José das Neves MartinsMinistro-Adjunto do Primeiro-MinistroSecretário de Estado da Juventude: Pedro Miguel de Azeredo DuarteSecretário de Estado do Desporto: Hermínio José Sobral Loureiro Gonçalves
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura educação mulher ajuda social criança
Parlamento Europeu debate decisão portuguesa sobre barco da "Women on Waves"
A Comissão dos Direitos da Mulher e da Igualdade dos Géneros do Parlamento Europeu debate hoje, em Bruxelas, a interdição por parte do Governo do aportamento do barco "Borndiep" em Portugal. A embarcação da holandesa "Women on Waves" continua ao largo da costa portuguesa, onde hoje será visitada por deputados da oposição. A decisão do ministro Paulo Portas será também exposta ao ministro dos Negócios Estrangeiros holandês. Em Bruxelas, a discussão é feita a pedido das eurodeputadas Edite Estrela (PS) e Ilda Figueiredo (PCP) que ontem denunciaram a situação numa reunião da mesma comissão parlamentar. Edite Estrela... (etc.)

Parlamento Europeu debate decisão portuguesa sobre barco da "Women on Waves"
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DATA: 2004-08-31 | Jornal Público
TEXTO: A Comissão dos Direitos da Mulher e da Igualdade dos Géneros do Parlamento Europeu debate hoje, em Bruxelas, a interdição por parte do Governo do aportamento do barco "Borndiep" em Portugal. A embarcação da holandesa "Women on Waves" continua ao largo da costa portuguesa, onde hoje será visitada por deputados da oposição. A decisão do ministro Paulo Portas será também exposta ao ministro dos Negócios Estrangeiros holandês. Em Bruxelas, a discussão é feita a pedido das eurodeputadas Edite Estrela (PS) e Ilda Figueiredo (PCP) que ontem denunciaram a situação numa reunião da mesma comissão parlamentar. Edite Estrela adiantou que já transmitiu a sua preocupação à Comissão Europeia e que amanhã, no debate da Comissão dos Direitos das Mulheres do Parlamento Europeu, irá levar a questão à representante ministerial da actual presidência holandesa da União Europeia, que estará presente. Ilda Figueiredo enviou uma carta ao presidente do Parlamento Europeu, onde pede a intervenção de Josep Borrell na resolução desta questão. "Solicitamos, Senhor Presidente, que desenvolva todos os esforços junto da Presidência do Conselho e da Comissão da União Europeia, visando sensibilizar o Governo português para uma alteração da sua acção violadora do direito à liberdade de expressão e de informação, cessando o impedimento à entrada em Portugal do barco holandês da organização Women on Waves", lê-se na carta. A eurodeputada Jamila Madeira (PS) enviou uma "pergunta escrita" à Comissão Europeia para pedir esclarecimentos sobre o eventual desrespeito dos tratados comunitários e violação das regras comunitárias pelo governo português, que sustenta a sua decisão com motivos de "respeito pelas leis nacionais" e questões de "saúde pública". Ontem, em declarações à TVI, o ministro Paulo Portas, tido como o principal decisor da interdição do barco em águas portuguesas, justificou que se a medida não for tomada, Portugal não terá qualquer "autoridade" para impedir actividades como a pesca ilegal ou o tráfico de droga no mar. "O nosso mar territorial não é uma selva", disse o ministro. O "Borndiep", embarcação da organização holandesa Women On Waves, mantém-se em águas internacionais, ao largo da Figueira da Foz, a cerca de 13 milhas (24 quilómetros) da costa, acompanhado por dois navios da Marinha portuguesa. O navio holandês, com clínica ginecológica a bordo, pretendia atracar domingo na Figueira da Foz e aí permanecer até 12 de Setembro, para relançar o debate em torno da interrupção voluntária da gravidez e distribuir a pílula abortiva às mulheres grávidas até às seis semanas e meia que estiverem interessadas. O que será feito em águas internacionais, de forma a não violar a legislação portuguesa em vigor. No navio-clínica, um pequeno barco azul e laranja, seguem 14 passageiros e três tripulantes. "Women on Waves" reagem com pressão diplomáticaA organização pró-descriminalização do aborto revelou hoje que a oposição partidária holandesa vai questionar o governo do seu país relativamente ao comportamento do ministro da Defesa. Segundo a associação, o PvdA, partido trabalhista e maior força da oposição, e o D466, um dos partidos da coligação governamental, vão questionar o ministro dos Negócios Estrangeiros e o secretário dos Assuntos Europeus holandeses na sessão parlamentar de hoje. Num comunicado em que reage às declarações de Paulo Portas no Jornal Nacional da TVI, a associação holandesa garante que o ministro da Defesa português voltou a "fazer falsas acusações" e repete que todas as suas actividades em território português vão respeitar as leis portuguesas. "Paulo Portas não parece querer ouvir que o navio nunca teve nem tem a intenção de distribuir medicamentos em Portugal. A Women on Waves não está a incitar qualquer crime em Portugal", indicou a associação no mesmo texto. "A clínica móvel da Women on Waves é oficialmente reconhecida pela inspecção de saúde holandesa como uma clínica de aborto que pode efectuar abortos durante o primeiro trimestre (de gravidez) em Amesterdão. Também está autorizada pelo ministro holandês da saúde a fornecer a pílula abortiva Mifepriston em águas internacionais, segundo a lei holandesa, a mulheres com gravidez indesejada, durante as primeiras seis semanas e meia de gravidez", explicou. Reconhecendo que Portugal é um país soberano, a Women on Waves relembra, no entanto, que ao proibir a entrada do "Borndiep" em Portugal o governo português está a desrespeitar convenções internacionais que permitem a livre entrada do barco nos portos portugueses, a menos que a segurança do Estado esteja em perigo, e que garantem a livre circulação de pessoas entre estados membros. Oposição portuguesa no marHoje, perante o impasse criado pela decisão do Governo de impedir a acostagem do barco holandês, deputados do PS, PCP e do Bloco de Esquerda deslocam-se ao barco, acompanhados por activistas que promoveram a vinda do navio a Portugal. "Todos os grupos parlamentares foram convidados a acompanhar-nos numa visita ao navio e o PS, PCP e BE aceitaram" disse Cristina Santos, da associação de defesa dos direitos sexuais "Não Te Prives". Jamila Madeira (eurodeputada do PS), Odete Santos (deputada do PCP), Margarida Botelho (dirigente do PCP) e Francisco Louçã (deputado do Bloco de Esquerda) são os representantes que participam na visita, apurou a Lusa junto dos partidos. A deslocação terá lugar na mesma embarcação que já transportou às imediações do barco jornalistas, elementos da "Women On Waves" e da Juventude Socialista. "Nada nos garante que consigamos ir a bordo, depende do estado do mar. Mas a intenção é que os deputados possam ficar a conhecer o navio e a tripulação" afirmou. "Sabemos que há gente do PSD indignada com esta situação, não se manifestam publicamente por uma questão de fidelidade partidária mas seriam muito bem vindos", sustentou a responsável, aludindo a apoios recebidos. Rebecca Gomperts, presidente e fundadora da "Women on Waves", manifestou "alguma satisfação" pelos apoios recebidos a nível nacional e europeu, mas deixou um lamento: "Não chega. Gostava que a população portuguesa se manifestasse porque isto está a acontecer aqui".
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PSD LIVRE PCP BE
valter hugo mãe venceu Prémio Literário José Saramago 2007
O poeta e editor valter hugo mãe (na escrita do autor as maiúsculas estão ausentes) venceu hoje a edição de 2007 do Prémio Literário José Saramago com a obra “o remorso de baltazar serapião”. No anúncio a presidente do júri, Guilhermina Gomes, revelou a unanimidade da decisão de um júri "especial e dificilmente alcançável": Maria de Santa Cruz, Nazaré Gomes dos Santos, Manuel Frias Martins, Nélida Piñon, Pilar del Rio, Vasco Graça Moura e Ana Paula Tavares. Ao receber o prémio, valter hugo mãe afirmou: “Estou muito aflito. É profundamente chocante receber este prémio desta forma. Estou habituado a pensar na escri... (etc.)

valter hugo mãe venceu Prémio Literário José Saramago 2007
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.1
DATA: 2007-10-28 | Jornal Público
TEXTO: O poeta e editor valter hugo mãe (na escrita do autor as maiúsculas estão ausentes) venceu hoje a edição de 2007 do Prémio Literário José Saramago com a obra “o remorso de baltazar serapião”. No anúncio a presidente do júri, Guilhermina Gomes, revelou a unanimidade da decisão de um júri "especial e dificilmente alcançável": Maria de Santa Cruz, Nazaré Gomes dos Santos, Manuel Frias Martins, Nélida Piñon, Pilar del Rio, Vasco Graça Moura e Ana Paula Tavares. Ao receber o prémio, valter hugo mãe afirmou: “Estou muito aflito. É profundamente chocante receber este prémio desta forma. Estou habituado a pensar na escrita como um exercício de solidão e hoje sinto-me muito acompanhado”. O escritor que dá o nome ao galardão, José Saramago, classificou o livro como um “tsunami”. Saramago acrescentou que o adjectiva assim “no sentido total, linguístico, estilístico, semântico e sintáctico. Não no sentido destrutivo, mas no sentido do ímpeto e da força”. O premiado garante que a sua “forma de protestar é expôr, e o livro manifesta de uma forma asquerosa o que alguns homens pensam sobre as mulheres”. A obra premiada conta a história de uma família na Idade Média, onde o protagonista, baltazar, que vive entre a pobreza e a violência, descobre que a vaca, animal de estimação, tem tanta importância como a sua mãe. Porém, no meio da escuridão, baltazar vê a luz: Chama-se ermesinda e é a mais bela e ajuizada da aldeia. Os protagonistas casam-se e, pouco tempo depois, o senhor exige a ermesinda que o visite todos os dias pela manhã, antes da sua mulher acordar. O que se passa nos encontros ninguém sabe, mas é o suficiente para baltazar enlouquecer. Escrito numa linguagem que pretende representar a língua arcaica e rude do povo ignorante medieval, “o remorso de baltazar serapião” é um romance sobre o poder sinistro do amor e uma metáfora da violência doméstica. valter hugo mãe é poeta e editor. Nasceu em 1971 na cidade angolana Henrique de Carvalho. Vive em Vila do Conde. Publicou nove livros de poesia, entre os quais "egon schielle auto-retrato de dupla encarnação" (Prémio de Poesia Almeida Garrett), "três minutos antes de a maré encher", "cobrição das filhas" e "útero e o resto da minha alegria". É autor das seguintes antologias: "o encantador de palavras", poesia de Manoel de Barros, "série poeta", homenagem a Julio-Saúl Dias, "quem quer casar com a poetisa", poesia de Adília Lopes, "o futuro em anos-luz, 100 anos, 100 poetas, 100 poemas", para o Porto 2001 e "desfocados pelo vento, a poesia dos Anos 80, agora". Alguns dos seus poemas estão traduzidos e editados em espanhol, francês, inglês, checo e árabe. Foi responsável, juntamente com Jorge Reis-Sá, pelas Quasi edições, editora de autores como Mário Soares, Caetano Veloso, Adriana Calcanhotto, António Ramos Rosa, Artur do Cruzeiro Seixas, Ferreira Gullar e muitos outros. Também, co-dirige a revista Apeadeiro. Criou a editora objecto cardíaco. valter hugo mãe prepara uma tese de mestrado sobre Saúl Dias e é licenciado em Direito. O Prémio Literário José Saramago 2007, instituído pela Fundação Círculo de Leitores destina-se a jovens autores com obra editada em língua portuguesa. Instituído pela Fundação Circulo de Leitores em homenagem a José Saramago, depois da conquista do Nobel da Literatura, em 1998, o prémio pecuniário desta quinta edição do galardão ascende a 25 mil euros. Paulo José Miranda, José Luís Peixoto, Adriana Lisboa e Gonçalo M. Tavares foram, nesta sequência, os eleitos pelos júris das anteriores edições do prémio, destinado a jovens autores até aos 35 anos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens violência mulher mulheres doméstica pobreza vaca animal
Harry Potter e The Band’s Visit vencem na noite em que DeNiro disse “Fuck Trump”
Anjos na América foi outro dos grandes vencedores dos prémios que distinguem o melhor teatro musical em cena nos EUA. DeNiro, convidado para apresentar Bruce Springsteen, fez o resto. (...)

Harry Potter e The Band’s Visit vencem na noite em que DeNiro disse “Fuck Trump”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.2
DATA: 2018-06-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Anjos na América foi outro dos grandes vencedores dos prémios que distinguem o melhor teatro musical em cena nos EUA. DeNiro, convidado para apresentar Bruce Springsteen, fez o resto.
TEXTO: O grande vencedor da noite dos prémios Tony, que distinguem o melhor do teatro musical em cena nos EUA, foi The Band’s Visit, sobre uma orquestra egípcia retida em Israel, e os nomes conhecidos premiados foram Andrew Garfield, Harry Potter e a Criança Amaldiçoada e Anjos na América. Mas um dos destaques da noite foi mesmo o palavrão endereçado por Robert DeNiro ao Presidente Donald Trump – “Fuck Trump”, bisou. Os alunos da escola de Parkland, atacada num tiroteio que marcou o debate sobre o controlo do acesso às armas nos EUA este ano, actuaram. The Band’s Visit recebeu dez Tony, entre os quais o de melhor musical na Broadway e também os prémios de interpretação para os actores Tony Shaloub, Katrina Lenk e Ari'el Stachel. Só perdeu um dos 11 galardões para os quais estava nomeado. Angels in America, ou Anjos na América em português (a peça esteve parcialmente em Portugal em 1994 e foi adaptada para televisão pela HBO e exibida em Portugal no início dos anos 2000), voltou aos palcos depois da sua estreia em 1993 e o texto de Tony Kushner venceu na altura um prémio Pulitzer e agora o de melhor reposição, tendo também dado galardões de actuação a Andrew Garfield e a Nathan Lane. Os actores dedicaram os seus Tony à comunidade LGBT e a Kushner, cujo texto sobre a epidemia da sida nos anos 1980 e seus efeitos sociais deu origem à peça com mais nomeações da história da Broadway, como assinala o Guardian. Mas foi o blockbuster Harry Potter e a Criança Amaldiçoada, uma peça que continua a explorar o universo criado por J. K. Rowling em torno de um jovem feiticeiro em Inglaterra, que recebeu o Tony de melhor peça e outros seis galardões. A peça, elogiada pela crítica, bateu recordes de bilheteira nas suas primeiras semanas de exibição nos EUA depois de ter arrecadado milhões de libras no Reino Unido desde Julho de 2016 e de ter recebido nove prémios Laurence Olivier. Glenda Jackson e Laurie Metcalf foram premiadas pelos seus papéis em Three Tall Women e a revisitação de My Fair Lady foi uma das grandes perdedoras da noite, marcada por um Tony especial a Bruce Springsteen pelo seu espectáculo Springsteen on Broadway, que estará em exibição até Dezembro deste ano. Foi precisamente ao apresentar o “boss” que Robert DeNiro deixou a sua marca na cerimónia que a imprensa descreve como tendo sido entre “muito política” e marcada pela “esperança e contenção”. Afinal, os discursos sobre a comunidade LGBT, sobre o feminismo (a comediante Amy Schumer enquadrou My Fair Lady como uma peça feminista, por exemplo) ou imigração e a actuação dos alunos da escola Marjory Stoneman Douglas, em Parkland, que interpretaram uma música da peça Rent, tinham pontuado a noite. E Tony Kushner tinha apelado, ao aceitar o seu prémio, ao voto nas iminentes eleições intercalares dos EUA para “salvar a nossa democracia e sarar o nosso país”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas o “touro enraivecido” obrigou os censores do canal CBS a exercer os seus poderes e a deixar em silêncio na transmissão televisiva o momento em que DeNiro gerava uma ovação no Radio City Music Hall. De punhos erguidos, disse “Fuck Trump”. Foi recebido com risos e aplausos. “Já não é ‘abaixo Trump’, é ‘que se foda Trump’”. E com Springsteen prestes a interpretar My hometown apelou: “Bruce, tu abalas a sala como ninguém. E mais importante ainda nestes tempos perigosos, abalas o voto. Sempre a lutar, usando as tuas próprias palavras, pela verdade, transparência, integridade na governação. E bem precisamos disso agora”. Robert DeNiro é uma conhecida voz anti-Trump e já tinha justificado no passado recente que considera que “a América está a ser gerida por um louco que não reconheceria a verdade nem que ela viesse dentro de um balde do seu amado frango frito”. Em casa, os espectadores não puderam ouvir os palavrões de DeNiro – mas a audiência encarregou-se de espalhar a palavra via Twitter e a imprensa presente também relataria o sucedido.
REFERÊNCIAS:
Um ano depois do pior dia de sempre
Foram cerca de 500 focos de incêndio em pouco mais de 24 horas, foi uma imensidão de área atingida, foram quase 40 municípios abrangidos, sobretudo no centro de Portugal. Um ano depois desse 15 de Outubro, não são só as marcas da passagem do fogo que continuam visíveis na paisagem. Há milhares de histórias de superação, de resiliência, de frustração e de oportunidade. (...)

Um ano depois do pior dia de sempre
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento -1.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Foram cerca de 500 focos de incêndio em pouco mais de 24 horas, foi uma imensidão de área atingida, foram quase 40 municípios abrangidos, sobretudo no centro de Portugal. Um ano depois desse 15 de Outubro, não são só as marcas da passagem do fogo que continuam visíveis na paisagem. Há milhares de histórias de superação, de resiliência, de frustração e de oportunidade.
TEXTO: Foi o pior dia do ano, que aconteceu apenas dois meses depois da maior mortandade de sempre por causa de um único incêndio florestal, em Pedrógão Grande. Depois daquele 17 de Junho de 2017, ninguém queria acreditar que uma tragédia semelhante voltasse a acontecer. Mas ela repetiu-se logo na madrugada de 15 e 16 de Outubro, quando deflagraram cerca de 500 focos de incêndio e que lavraram quase sem controlo em sete concelhos da região Norte e em 32 na região centro. Talvez tivessem sido as imagens de Pedrógão, e do elevado número de vítimas calcinadas numa estrada a fugir do fogo, que evitou que o número de vítimas mortais fosse maior. Em Outubro morreram 50 pessoas e arderam vários milhares de casas. Foram afectadas 430 empresas e ficaram quase cinco mil postos de trabalho em risco. Os incêndios de Outubro foram a razão do primeiro puxão de orelhas institucional (e em público), dado pelo Presidente da República ao Governo liderado por António Costa. Era preciso não voltar a falhar, era preciso começar rapidamente a reconstruir. A avalanche de donativos que a tragédia de Pedrógão Grande granjeou de imediato não se repetiu em Outubro, e foi o sector público quem assegurou a reconstrução, por via dos fundos comunitários e do Orçamento de Estado. O Estado veio a terreno depois de o sector segurador ter feito o seu trabalho, processo que foi concluído em Julho deste ano. De acordo com os dados da Associação Portuguesa de Seguros, foram recebidas 4636 participações de sinistros (só de casas foram 3396) e foram pagas indemnizações no valor de 226 milhões de euros, naquele que foi considerado o maior sinistro de sempre. No Orçamento de Estado para 2018, e para a reconstrução das casas estavam cabimentados 60 milhões de euros. Para o apoio à reposição da capacidade produtiva das empresas, foi disponibilizada uma linha de financiamento com 100 milhões de euros. Nesta avalanche de números e relatórios, e nesta guerra de candidaturas e projectos, sobram as histórias individuais de quem ainda enfrenta, 365 dias depois, as consequências daquele nefasto dia. Há histórias de superação e resiliência, de frustração e de oportunidade. Aqui contamos apenas cinco. Podiam ser multiplicadas por mil. José Freire, 85 anos e Prazeres Freire, 80. Moradores na aldeia de Coucedeira, Vide, Seia. Foi no dia em que fez 85 anos, a 31 de Março. Nesse dia o pesadelo terminou e José Freire voltou a ter mesa posta e casa cheia, com o filho, nora e netos a cantarem-lhe os parabéns. Eles abalam-se de São Domingos de Rana sempre que podem, e desta vez, e para além do aniversário do avô, e passar a Páscoa, queriam também assinalar o fim das obras que, durante quatro meses, recuperaram a casa de que os avós foram obrigados a sair, escoltados pela GNR, no dia 15 de Outubro. Vieram, de alguma maneira, inaugurar a única casa que foi reconstruída em Coucedeira, uma espécie de aldeia-presépio encravada no vale que desenha a orografia entre a Serra da Estrela e a serra do Açor. Na estrada que liga a freguesia de Vide, no concelho de Seia, a Piódão, no concelho de Arganil, existem vários destes aglomerados. A localidade de Coucedeira foi a mais afectada do concelho de Seia, e das 15 casas que a compõem 13 ficaram destruídas. José Freire e Prazeres Freire, de 80 anos, são os únicos habitantes da aldeia. Dizem que estão no único sitio onde podem ser felizes. Mas assumem que lhes faz falta alguém na vizinhança. Continuam a ter como “vizinho” mais próximo o primo de José Freire que o acolheu durante os quatro meses que duraram as obras. Nas restantes casas, que eram frequentadas sobretudo no Verão, e nas festas da freguesia (em honra de Nossa Senhora da Ajuda, cuja capela se avista da casa dos Freires), ficaram este ano vazias. E ficarão por muito tempo — são segundas habitações, os proprietários e herdeiros, sem ajudas públicas, dizem que não têm dinheiro para as recuperar. As obras na casa de José Freire começaram em Novembro. “O seguro pagou tudo, senão a minha casa estava como o resto à volta, com tudo por fazer”, diz o octogenário, enquanto abre a porta para mostrar o forno a lenha onde a família se preparava para assar umas postas de bacalhau — no fim-de-semana prolongado pelo feriado de 5 de Outubro, a nora e o neto vieram visitar os avós, outra vez. “O seguro foi a nossa sorte”, insiste o homem que trabalhou 16 anos numa quinta e 25 na Docapesca, e que abandonou Lisboa para nunca mais querer voltar. “Tirá-lo [a José Freire] daqui é matá-lo”, concede a nora, Fátima, educadora de infância, nada e criada em Lisboa, mas que se apaixonou por Coucedeira há 32 anos, no primeiro dia que pós os pés na aldeia. A companhia de seguros passou aos empreiteiros um cheque de quase 70 mil euros. É uma pequeníssima parcela dos cerca de 41, 4 milhões de euros que as empresas da Associação Portuguesa de Seguros (APS) gastaram na recuperação de 3396 casas. “Ficou melhor do que o que estava, temos de admitir”, concede a mulher, Prazeres. A lareira aberta passou a recuperador de calor, que agora aquece a casa toda. A casa-de-banho está mais funcional, o soalho a imitar madeira é mais fácil de limpar, as galinhas e os coelhos ganharam uma casa nova com direito a terraço. A cozinha e a sala continuam no sítio de sempre, com as janelas a devolver uma paisagem de sonho, com socalcos verdes e um curso de água, a Ribeira Pequena, ao fundo. José Freire já pode levantar-se todos os dias, como fazia sempre, às sete da manhã, para ir à horta regar o que que for preciso. Mostra orgulhoso as cebolas deste ano e aponta para as vides que lhe deram cem litros de vinho. Brinde-se: “Aqui somos felizes”, diz Prazeres, que logo acrescenta ter pena de “não ter um vizinho por perto”. O incêndio sinalizou-os no Centro de Dia de Vide. Desde então que recebem visitas diárias para entrega de refeições. “E nós em Lisboa sempre estamos um bocadinho mais descansados”, admite a nora. Paulo Rogério, 46 anos. Empresário agrícola, Oliveira do Hospital. Quando o encontramos em Dezembro do ano passado, dois meses depois do incêndio, Paulo Rogério disse que chegou a ter as malas feitas para emigrar. Viu 16 anos de trabalho ser consumidos “por um incêndio que não foi normal”, e teve vontade de deitar a toalha ao chão. Mas ofereceram-lhe ovelhas bordaleiras, convenceu-se a ficar, e a lutar pela empresa que fez crescer (e que assegura, para além do dele, mais quatro postos de trabalho), e satisfeito por ver que a teimosia que o levou a ser o primeiro produtor a fazer queijo Serra da Estrela durante todo o ano começava a ter seguidores. Um ano depois, admite, está pior do que o que estava. “Quando falamos em Dezembro eu ainda acreditava que o Governo se podia convencer que não pode tratar os portugueses de forma discriminatória, nem considerar que quem está à frente de empresas na área industrial são cidadãos de primeira e que quem está à frente de empresas da área da agricultura são cidadãos de segunda”, reclama. Paulo Rogério já temia que tal viesse a acontecer, mas ainda não tinha os comprovativos nas mãos. “Fiz o levantamento dos prejuízos todos. Apresentei o projecto como o Governo mandou e quis. Ovelha a ovelha, vedação a vedação, armazéns e palheiros, máquinas que arderam. Só meti no projecto o que me ardeu e preciso de repor. Apresentei um projecto de 108 mil euros de investimento. Foi aprovado. Mas do Estado só vou buscar pouco mais de 40 mil euros. E o resto? Ponho do meu bolso? Como é que o ministro da Agricultura tem coragem de dizer que paga 85% dos prejuízos, como pagou na indústria? É mentira!”, reclama, revoltado. Olhando para o futuro, diz que não percebe como vai continuar a fazer sacrifícios para conseguir produzir alguma coisa. “Já aqui enterrei 16 anos. [vários] 365 dias, sem férias, Natal, Páscoa, feriados. A vida de um agricultor não é fácil, em lado nenhum. Acho que vou aceitar uma proposta que tive e vou experimentar ser agricultor em Angola. Lá, ao menos, prometem-me condições para trabalhar”, suspira. O desalento de Paulo Rogério contrasta com o brilho nos olhos, que faíscam quando chega um cliente para comprar um requeijão e ouve estes queixumes. O cliente pede-lhe para não desistir. Rogério repete ao cliente que sim, que em Oliveira do Hospital já não há nada a fazer. Explica que está a vender 20% do que vendia por esta altura no ano passado, e que os custos de produção não diminuíram. “Nem depois de ter provado, com a atribuição de prémios internacionais, que um queijo feito a 15 de Agosto é tão bom quanto um feito de Inverno. O que interessa é a qualidade do pasto. O daqui foi-se. O pouco que tenho fui eu que comprei, remediei, construí. Não há ajudas para nada. Desisto”. Rogério tem 46 anos e “ainda muita força para trabalhar. “Não me sinto velho. Podia voltar a passar 16 anos a reconstruir tudo, outra vez. Mas acho esta política do Estado desincentivadora. Se eu tivesse só uma queijaria, poderia recuperar 85% dos prejuízos. Como também tenho actividade agrícola e pastorícia, os apoios caem para metade. Não consigo aceitar isto. Estou revoltado”, confessa. Paulo Guerra, 50 anos e Cláudio Guerra, 45 anos. J. Guerra - Fábrica de Sirgaria e Passamanarias, Oliveira do Hospital. Joaquim Guerra fundou a empresa de sirgaria e passamanaria com o seu nome há 60 anos. Agora tem 82, já passou a empresa aos filhos, Cláudio e Paulo, há uma dezena de anos, mas a verdade é que ainda é por lá que gosta de andar. Não se consegue afastar. Acabou, também por ser ele a ter de “salvar” a empresa do encerramento definitivo, já que foi do seu bolso que apareceu o dinheiro que foi preciso para garantir que a empresa não fechava. Com 50 postos de trabalho, a J. Guerra conseguiu segurar quase todos — “só saíram dois ou três funcionários, que já estavam aptos para a reforma”, diz Paulo Guerra. Paulo e o irmão, Cláudio, já apresentaram à linha criada pelo Governo para a reposição da actividade produtiva um projecto de investimento de quase 10 milhões de euros, para assegurar que a empresa poderá regressar ao terreno com quase 12 mil metros quadrados que ardeu por completo na zona industrial de Oliveira do Hospital. Entretanto, já têm mais de 1, 5 milhões de euros gastos. No trabalho de remoção e limpeza dos escombros — no qual os funcionários foram chamados a colaborar passados 15 dias após os incêndios — e também na compra e adaptação de um pavilhão com três mil metros quadrados e na aquisição de máquinas para continuar a trabalhar. “É importante que o mercado saiba que a J. Guerra ainda não acabou. Ainda estamos aqui. Vamos continuar a lutar, para voltar a abrir a fábrica no sítio onde estava”, diz Paulo Guerra, que responde à pergunta sobre se conseguirão repor toda a capacidade produtiva com uma palavra só: “É impossível”. “O nosso pai andou 60 anos a comprar máquinas, tínhamos um parque de 450. Não vamos conseguir isso nem nos próximos anos”, admite, frisando que o problema não é apenas recuperar máquinas que não se fazem em mais lado nenhum. Actualmente, já compraram cerca de 90. Dizem que para trabalhar em velocidade cruzeiro precisam de 150 máquinas. “Tivemos de reajustar a produção. Já desistimos de uma linha de produtos. E também tivemos de ajustar horários, e pedir mais esse sacrifício aos trabalhadores. Temos o mesmo pessoal, e menos máquinas. Criamos dois turnos para podermos continuar a trabalhar, a responder a clientes e voltar a fazer stock”, explica. O projecto de investimento foi apresentado há duas semanas, quase no limite do prazo das candidaturas à linha de apoio público, que foi alargado até 28 de Outubro. “Estas coisas demoram sempre o seu tempo, apresentar projectos, assegurar licenças, manter uma fábrica a trabalhar, segurar clientes, é uma grande empreitada”, justifica-se Paulo Guerra. Se o projecto for aprovado, e conseguirem o financiamento máximo, receberão 8, 5 milhões de euros. Cláudio Guerra, de novo a passear entre os escombros que o incêndio deixou na zona industrial, aponta para a escadaria da porta principal que ficou de pé, depois dos esforços de limpeza e demolição. “Achamos que valia a pena aproveitar esta portaria, para ficar como símbolo do que aqui estava e que, queremos nós, poderemos dizer que não se perdeu. O meu desejo é que o meu pai ainda possa subir aquelas escadas, e entrar na fábrica que ele aqui abriu há 28 anos. E esperemos que ela aqui fique por muitos outros 28”, terminou. Albina Araújo, 58 anos. Gaído, Castelo de Paiva. As paredes estão pintadas de fresco, e os olhares mais atentos notarão que há por ali um telhado novo — até porque, há menos de um mês, o que cobria a antiga escola primária de Gaído, em Castelo de Paiva, caiu e por pouco não apanhava quem lá mora há quase um ano. “A sorte é que o meu marido estava a tomar banho e eu andava no quintal”, conta Albina Araújo, de 58 anos. O filho também não estava em casa quando o telhado caiu sobre a sua cama. "O meu filho teria ficado estendido ali", conta, emocionada. “Depois vieram cá uns técnicos da câmara e disseram que era para pôr aqui umas telhazitas. Mas o empreiteiro disse que nem pensar, isto precisava mesmo era de um telhado novo”, conta Albina. O telhado foi reposto, mas numa solução provisória. Como provisória é a situação de Albina, do marido António e do filho, José Vítor. Há um ano que olham para o outro lado da rua, e se confrontam com as ruínas da casa onde Albina foi criada, juntamente com sete irmãos. Mas ainda não tem nenhuma indicação sobre quando começarão as obras, nem se o projecto está aprovado sequer. “Na terça-feira vou ver com o presidente da Câmara de Castelo de Paiva. Ele mandou-me ter paciência e eu tenho tido muita, mas já passou um ano!”A Comissão de Coordenação da Região Norte, que está a liderar o processo de reconstrução das casas recebeu 71 candidaturas naquele município. Rejeitou nove, ainda está a apreciar três e aprovou 59. Mas até agora as obras ainda não avançaram em nenhuma habitação. “Esta era a casa da minha mãe e a única coisa que me preocupa é voltar a trazê-la aqui. Não lhe quis dar o desgosto de dizer que ardeu tudo, nem agora quando a ouço dizer às vizinhas de Fiães (ela agora está a viver com um dos meus irmãos) que a casa de Gaído está um brinquinho”. Certo é que desde o incêndio nem um prego lá mandaram pôr, garante Albina. E tudo o que foi limpo e melhorado foi à conta das suas mãos. "Não confundo pobreza com limpeza”, avisa. Não precisava de o dizer. Vê-se pelo terreiro limpo da escola, pelos cactos que andou a plantar em troncos ardidos que transformou em vasos. “Tenho andado a vender alguns. Ando sempre a inventar biscates, porque o dinheiro não abunda”, admite esta antiga cabeleireira, já reformada por questões de saúde — teve um derrame cerebral e uma depressão que quase a esgotou. À conta dos donativos, Albina tem a casa, ou melhor, a escola, completamente equipada. Só um frigorifico é que se auto-transformou em arca congeladora, e já não refrigera, só congela. Entretanto, já sabe que vai ter direito a 2500 euros para poder equipar e mobilar a casa. “Não me parece muito, mas a gente cá se arranja. O que eu quero é ver as obras a começar”, admite, inquieta. E Albina volta a falar da mãe e da preocupação que a consome que ela venha a morrer sem ver de pé a casa onde criou os oito filhos, e enfrentou a violência doméstica que lhes infligia o pai de todos eles. “Fomos muito maltratados naquela casa. E fomos muito amados pela minha mãe. Ela é uma princesa. Está sempre a pedir-me para vir a minha casa para eu lhe fazer um arroz de frango. Morro de desgosto se não conseguir fazer isso. A minha mãe já não é nova. Se ela falece antes de começarem as obras na casa, quem morre a seguir sou eu. ”Pedro Dias, 42 anos. Oliveirinha, Bobadela, Oliveira do HospitalEstava em casa dos pais, num jantar de família, quando percebeu que 15 de Outubro não seria uma data normal. O vento arrastou as chamas que rapidamente rodearam a pequena quinta nos arredores da Bobadela, em Oliveira do Hospital, relata Pedro Dias, de 42 anos. Um ano depois, restam apenas as paredes de granito, ao lado das quais a empresa responsável pela empreitada de reconstrução já instalou grua, gerador e alguns materiais. Contudo, os trabalhos ainda não arrancaram. “Ainda andei por aqui a deitar água enquanto houve”, descreve, percorrendo o terreno da quinta onde cresceu. Enquanto o jantar decorria, nunca imaginava que a vivenda que partilhava com mulher, filho de 13 anos e sogra, em Oliveirinha, a cinco minutos dali, mas já no concelho de Tábua, estivesse a arder. As ruínas da vivenda foram demolidas em Agosto. Tudo o que resta no seu lugar é uma cratera onde cresce feijão-verde. “Neste momento é apenas um terreno”, constata Pedro Dias, motorista de passageiros. Desde o incêndio que tem vivido com a família em casa da irmã, também na Bobadela. O ano que passou foi particularmente difícil. À destruição do incêndio somou-se a morte do pai, em Dezembro. “Ele já tinha alguns problemas cardíacos e tudo isto mexeu com ele. ”De volta à quinta dos pais, Pedro Dias vai identificando algumas peças num amontoado de metal oxidado e deformado, o que resta de uma colecção de velharias restauradas: “Isto era um bidé antigo; isto uma armadilha para raposas. ” Agora é tudo lixo. Entre as duas casas, para além do recheio e objectos pessoais, na lista do que ficou destruído contam-se ferramentas agrícolas, um Fiat 600 ou uma motorizada BSA500. “O pior é que foi uma vida de trabalho que chegou a nada. Tinha casa velha, trator velho e carro velho, mas tinha tudo. Perdeu-se tudo. Não tem sido fácil. ”Atrás da casa que foi de dois pisos, escavada na rocha, está uma homenagem ao seu avô, pastor e moleiro que ali passou uma vida. Pedro Dias e Zeferino Monteiro, um escultor local, demoraram um ano a esculpir na pedra uma figura masculina entre um cão e um bode, com a inscrição “um sonho realizado que fica para a eternidade”. O trabalho ficou terminado um mês antes do incêndio, que deixou a pedra intacta. “Queria manter a memória, um simbolismo”, conta. A recuperação faz-se lentamente. Através de um donativo recebeu seis ovelhas e cabras, que ocupam o lugar das muitas mais que morreram no incêndio. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Sobre o ritmo da reconstrução, que no seu caso está a cargo do consórcio Edivisa, por conta da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, a informação que tem é o que lhe dizem da construtora. Garantem-lhe que “está para breve”. Mas o que lhe parece é que “há pouca mão-de-obra para tanta obra ao mesmo tempo”. Prepara-se para a espera e o final do ano como meta para a conclusão dos trabalhos parece-lhe altamente improvável. Enquanto espera pelas reconstruções, resta-lhe uma outra habitação que escapou ao incêndio, comprada há 18 anos, e que tem vindo a restaurar nos tempos livres. Espera conseguir acabá-la a tempo do Natal.
REFERÊNCIAS: