Orbán defende asilo na Hungria para ex-primeiro-ministro da Macedónia
Nikola Gruevski foi condenado por corrupção. Para o primeiro-ministro húngaro, o seu aliado foi vítima de “jogos” políticos. (...)

Orbán defende asilo na Hungria para ex-primeiro-ministro da Macedónia
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nikola Gruevski foi condenado por corrupção. Para o primeiro-ministro húngaro, o seu aliado foi vítima de “jogos” políticos.
TEXTO: O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, defendeu a concessão de asilo pelo seu país a um antigo primeiro-ministro da Macedónia condenado a uma pena de prisão no seu país por corrupção. O facto de o Governo de Orbán ter dificultado a chegada de refugiados e posto grandes entraves à obtenção de asilo levou a imediatas comparações com a rápida concessão de asilo ao macedónio. “Orbán, o anti-asilo, faz excepção para amigo em apuros”, titulava o diário britânico The Guardian, referindo-se à boa relação entre os dois políticos, que data da altura em que Nikola Gruevski foi primeiro-ministro da Macedónia, cargo que ocupou durante dez anos. Gruevski deixou o cargo em Janeiro de 2016 e foi condenado a 9 de Novembro a uma pena de prisão de dois anos por corrupção. A polícia macedónia emitiu um mandado de captura depois de o antigo chefe de Governo não ter comparecido para começar a cumprir a sua sentença. De seguida, fugiu para a Hungria, acompanhado por diplomatas húngaros até Budapeste, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Um porta-voz do Governo húngaro, Zoltán Kovács, justificou a medida porque “precedentes sugerem que casos extraordinários como este merecem consideração extraordinária”. Grueviski foi aliado de Orbán na oposição dentro da União Europeia a uma proposta de redistribuição de refugiados pelos estados-membros. O primeiro-ministro húngaro lembrou esta “luta lado a lado”. “Eu conheço este homem, foi meu colega muito tempo”, disse Orbán à estação de rádio estatal mr1. “Teria sido muito mais difícil, para não dizer impossível, defender a fronteira húngara sem ele. ”“Temos de tratar os nossos aliados com justiça”, continuou o primeiro-ministro. “Não podemos pô-los acima da lei, mas podemos garantir-lhe um processo justo”, acrescentou. As acusações contra Grueviski, disse ainda Orbán, são políticas e por isso não deveriam influenciar as autoridades húngaras. “Na Macedónia estão a acontecer lutas políticas complexas e jogos, e o sistema judicial faz parte disso”, acusou. “Os procedimentos na Macedónia não têm influência sobre nós. Só nos interessa se o pedido [de asilo] tem boa base legal. ”Se o asilo for confirmado, este é mais um gesto de provocação de Viktor Orbán à União Europeia. A Macedónia reagiu através do ministro dos Negócios Estrangeiros, Nikola Dimitrov, que comentou ser “impossível de engolir” que um país da UE desse asilo ao antigo chefe de Governo depois de, em 2016, o ter acusado de tentar dominar a Macedónia. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Há dias o comissário para o Alargamento, Johannes Hahn, disse esperar “uma boa explicação dos motivos” de Orbán se fosse confirmada a decisão da Hungria conceder asilo político a Gruevski. "O estado de Direito é um princípio fundamental tanto para estados-membros [da União Europeia] como para países candidatos", como a Macedónia, disse ainda Hahn no Twitter, concluindo: "É surpreendente que a Hungria apoie a adesão da Hungria à União Europeia mas não a considere segura. "Até agora, na esfera interna, as ameaças de acção disciplinar da União Europeia têm apenas servido para alimentar a retórica de Orbán de que está sob ataque das forças “pró-migração” de Bruxelas.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Sírio obtém asilo no Canadá após oito meses a viver em aeroporto
Hassan Al Kontar esteve num limbo numa ala do aeroporto de Kuala Lumpur. Depois de lhe ter sido concedido asilo, aterrou hoje em Vancouver. (...)

Sírio obtém asilo no Canadá após oito meses a viver em aeroporto
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Hassan Al Kontar esteve num limbo numa ala do aeroporto de Kuala Lumpur. Depois de lhe ter sido concedido asilo, aterrou hoje em Vancouver.
TEXTO: Durante dias, semanas, meses, Hassan Al Kontar viveu numa ala das chegadas no aeroporto de Kuala Lumpur, quando lhe foi recusado o embarque num voo para o Equador, e quando vários países lhe recusaram entrada. O seu passaporte sírio expirara e a única hipótese parecia ser regressar à Síria. Querendo tudo menos voltar para o país em guerra, Kontar, 37 anos, acabou por ficar num limbo, enquanto tentava que algum país o acolhesse. Kontar trabalhava no Dubai quando começou a guerra na Síria. O seu passaporte expirou e a embaixada síria nos Emirados Árabes Unidos recusou-se a renová-lo, diz o diário britânico The Guardian. Ficou ilegal no Dubai; perdeu o emprego, ficou sem casa. Entretanto, recebeu uma ordem para voltar à Síria e combater, o que Kontar não queria fazer. Ainda recebeu um documento temporário, com que tentou uma série de hipóteses, como o Camboja ou a Malásia. Acabou por procurar embarcar para o Equador em Kuala Lumpur, não conseguiu, ficou sem alternativas. No aeroporto, foi fazendo vídeos contando os seus dias e foi ficando cada vez mais desesperado. As refeições eram-lhe trazidas por pessoal das companhias aéreas. Tomava banho numa casa de banho para deficientes. Dormia debaixo das escadas, tentando escapar ao constante ruído dos anúncios e à luz que nunca se apagava. Ao quarto mês, um dos seus vídeos foi mais visto do que os anteriores. “Estou a começar a desistir. Consigo sentir aproximar-se o meu ponto de ruptura”, dizia. Solidão, tédio, medo, Kontar ia descrevendo a passagem dos dias, semanas, meses. Sempre disse que não era o único e que havia muitos sírios em situações parecidas, lutando para terem acolhimento seguro. A sua situação chamou a atenção de organizações de defesa de refugiados e direitos humanos. A Human Rights Watch lembrava que, por pertencer à minoria druza, Hassan Al Kontar corria ainda mais perigo, caso fosse obrigado a voltar à Síria. Uma das organizações que mais se empenharam no caso de Kontar era canadiana e foi aí que o seu caso finalmente teve uma hipótese: esta segunda-feira conseguiu embarcar num voo com destino a Taiwan, e daí seguir para Vancouver. Foi de um outro aeroporto internacional, desta vez o de Taiwan, que Kontar fez o mais recente vídeo que aparece na sua conta de Twitter, em que deu a novidade aos seus seguidores. “Peço desculpa por parecer saído da Idade Média”, diz. “Também peço desculpa por ter estado incontactável nos últimos dois meses. ”O que importa, continuou, “não é o passado mas sim hoje e amanhã”. E esse vai ser no seu destino final: Vancouver, Canadá. “Muito obrigado a todos”, disse. Kontar foi a dada altura detido pelas autoridades da Malásia e tudo parecia indicar que seria mandado para a Síria. Uma das pessoas que fizeram campanha de crowdfunding para patrocinar a ida de Kontar no âmbito do esquema dos chamados “refugiados patrocinados de forma privada”, Laurie Cooper, agradeceu às autoridades do Canadá por terem conseguido evitar esse desfecho. “Estou muito grata aos responsáveis canadianos que, quando Hassan esteve verdadeiramente em perigo, trabalharam muito, muito para acelerar o processo”, disse. “A situação dele é representativa das dificuldades que todos os refugiados encontram em todo o mundo”, comentou Cooper, citada pela emissora britânica BBC. “É cada vez mais difícil encontrarem um sítio seguro para viver. Ele foi um dos que tiveram sorte. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Esta terça-feira, Kontar aterrou em Vancouver, onde foi recebido por Cooper. Os media canadianos mostraram o abraço dos dois, e as primeiras declarações do sírio. “Para já preciso de um duche quente e de sair do aeroporto, estou farto de aeroportos”, disse aos jornalistas. À sua espera lá fora, chuva torrencial, conta a estação de televisão canadiana CBC, que seguiu a chegada do refugiado sírio. Dali, Kontar irá viver com Cooper até encontrar uma casa, e espera-o já um emprego a tempo inteiro num hotel, o Whistler. “Vou ficar bem”, disse, antes de sair para a rua. Desde 2015, o Canadá recebeu mais de 14 mil sírios patrocinados de forma privada e, em 2016, as autoridades canadianas foram elogiadas pelo Alto-Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) por terem participado na recolocação no país de pelo menos 46. 700 refugiados.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
ONU diz que militares birmaneses devem ser julgados por genocídio dos rohingya
Grupo que investigou a situação no terreno para as Nações Unidas acusa o homem mais poderoso da Birmânia, o chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, Min Aung Hlaing, por crimes contra a humanidade, que devem ser presentes a um tribunal internacional. (...)

ONU diz que militares birmaneses devem ser julgados por genocídio dos rohingya
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento -0.1
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Grupo que investigou a situação no terreno para as Nações Unidas acusa o homem mais poderoso da Birmânia, o chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, Min Aung Hlaing, por crimes contra a humanidade, que devem ser presentes a um tribunal internacional.
TEXTO: As chefias militares da Birmânia são responsáveis pelas violações e execuções em massa da comunidade rohingya, que começaram há um ano, e devem responder num tribunal internacional, por crimes contra a humanidade e genocídio. O parecer é de um grupo de investigadores das Nações Unidas que esta segunda-feira recomendou o julgamento do comandante e de cinco generais do Exército birmanês pela sua responsabilidade em conduzir um dos “mais graves crimes à luz da lei internacional” contra a minoria muçulmana. O relatório pede que a investigação seja encaminhada para o Tribunal Penal Internacional. Para a missão criada por decisão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas em Março de 2017, o Governo civil, liderado por Aung San Suu Kyi, Prémio Nobel da Paz em 1991, não teve grande margem para controlar a acção do exército. Mas, "através dos seus seus actos e omissões, as autoridades civis contribuíram para que fossem cometidos crimes atrozes". O Governo civil "permitiu que o discurso de ódio prosperasse e não protegeu as minorias de crimes contra a humanidade e de guerra executados pelo exército nos estados de Rakhine, Kachin e Shan. Ao fazê-lo, Suu Kyi consentiu "crimes atrozes", lê-se no relatório citado pela Associated Press e Reuters. "Não usou sua posição como Chefe de Governo, nem sua autoridade moral, para conter ou impedir os eventos que se desdobram, ou buscar caminhos alternativos para cumprir a responsabilidade de proteger os civis”, afirma o documento. A minoria mais perseguida do mundoO painel de investigadores ouviu 875 vítimas e testemunhas e analisou documentos, vídeos, fotografias e imagens de satélite. Recolheu provas de violações em grupo, de violência armada – seja por via de armas de fogo, armas brancas (incluindo casos de decapitação), de destruição de aldeias inteiras, de tortura, de escravatura e de infanticídio, acusando o exército de ter recorrido a tácticas “consistentemente desproporcionais à dimensão das ameaças de segurança”, constituindo “sem qualquer dúvida, um dos crimes mais graves contra a lei internacional”. Em Dezembro do último ano, por exemplo, as estimativas dos Médicos Sem Fronteiras davam conta da morte de pelo menos 6700 pessoas num só mês. Destas vítimas, pelo menos 730 eram crianças com menos de cinco anos que foram mortas a tiro, queimadas ou agredidas até à morte, detalhou a organização humanitária. Para as Nações Unidas, o momento em que a intenção de genocídio ficou clara remonta a Agosto do último ano, quando as tropas do Governo da Birmânia lançaram uma operação de “limpeza étnica” numa suposta resposta aos ataques do Exército de Salvação de Arakan Rohingya (ARSA) contra 30 postos da polícia de Mianmar e uma base militar. Em declarações aos jornalistas, os investigadores ressalvaram que, apesar de considerarem que o ataque do exército foi o motor da revolta que expôs os problemas étnicos de um país profundamente dividido, os conflitos já estavam em curso. “Não foi nesse dia em que tudo começou. Assinalámos este dia [do ataque do exército birmanês] porque foi o dia em que para nós se tornou evidente o que estava a acontecer. Mas grande parte do que aconteceu é apenas uma demonstração máxima de um conjunto de tensões e abusos que estavam a acontecer há muito tempo”, esclareceu Christopher Sidoti, membro da Missão Internacional e Independente no Mianmar. Para as Nações Unidas, a responsabilidade do comandante e dos cinco generais é evidente. Não obstante, a organização não exclui a existência de mais responsáveis pelos crimes, explicou uma dos membros da comissão de investigação Radhika Coomaraswamy. “Existe uma longa lista de pessoas que não nomeámos mas que podem ser também indiciadas para uma investigação mais profunda por parte da Justiça”, declarou aos jornalistas. “No caso da Birmânia — como em quase todos os casos de genocídio — não há uma arma, não temos nenhuma cópia de uma ordem directa que diga ‘Começar genocídio amanhã, por favor’. Mas, de uma forma universal, os genocídios são levados a tribunal com base nas intenções apuradas. A intenção tem de ser inferida da natureza das circunstâncias nas quais acontecem. Neste caso, as duas coisas mais relevantes para nós são o contexto e a hierarquia que existe na Birmânia. Não há qualquer dúvida da nossa parte de que aquilo que aconteceu no Rakhine não aconteceu sem o conhecimento prévio dos líderes militares e sob o seu comando. E pela clareza desta hierarquia é que recomendamos a investigação e julgamento destes seis militares”, vincou Christopher Sidoti, membro australiano da missão de investigação das Nações Unidas. “Não excluímos a presunção de inocência, não estamos a dizer que individualmente está provada a intenção de cada um, mas que, de uma forma geral, sob todas as circunstâncias, com base em todos os factos, eles devem ser investigados”, rematou. Radhika Coomaraswamy apontou ainda a facilidade com que o discurso de ódio se propagou durante este período, até mesmo nas redes sociais como o Facebook, sem que o Governo nada fizesse. “Temos uma secção bastante longa em relação ao discurso de ódio”, sublinhou. “O Facebook é uma plataforma, e nós valorizamos a liberdade de expressão, mas devemos olhar com atenção para a facilidade com que se propaga o discurso de ódio, sendo que deve ser examinado por uma entidade privada”, acrescentou. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A situação na Birmânia já motivou a fuga de mais de 700 mil refugiados. Entre as vítimas estão milhares de crianças, que enfrentam desnutrição e estão expostas a doenças infecciosas. No entanto, mesmo conseguindo escapar deste cenário na Birmânia, os refugiados que encontram refúgio noutros países não vêem os seus pesadelos terminar. No Bangladesh, por exemplo, continuam a enfrentar ameaças à integridade física, devido à falta de comida, água potável e cuidados de saúde. Em Outubro do ano passado, um relatório da UNICEF denunciava as condições nos campos de refugiado no Bangladesh como “um inferno na terra”. Ao governo da Birmânia foi enviada uma cópia antecipada do relatório das Nações Unidas, mas o Executivo não comentou o documento. O relatório completo da investigação será divulgado a 8 de Setembro. Algumas partes estão já disponíveis online.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos morte guerra lei humanos violência tribunal ataque comunidade minoria refugiado humanitária escravatura
Viktor Orbán e a aparente surpresa comunista
A fanática obsessão antieuropeia dos comunistas portugueses levou a que os seus eurodeputados juntassem os seus votos ao que de mais repugnante existe na representação parlamentar europeia. (...)

Viktor Orbán e a aparente surpresa comunista
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.05
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: A fanática obsessão antieuropeia dos comunistas portugueses levou a que os seus eurodeputados juntassem os seus votos ao que de mais repugnante existe na representação parlamentar europeia.
TEXTO: É cada vez mais notório que há uma doença política séria a corroer grande parte das democracias nacionais do leste europeu. Contudo, em nenhum lugar se atingiu ainda o grau de putrefacção institucional observável na Hungria. Viktor Orbán, que está longe de ser um homem intelectualmente destituído, concebeu e tem vindo paulatinamente a concretizar aquilo que ele próprio designa como um modelo de democracia iliberal. Trata-se de um tipo de regime de natureza liberticida, alheio a qualquer tipo de preocupação com a protecção dos direitos fundamentais e permeável ao exercício do autoritarismo. Acrescentem-se ainda a estas características a exaltação de um nacionalismo xenófobo, o gosto pela perseguição das minorias, a propensão para um tratamento ultrajante aos refugiados e aos migrantes. Para completar o ramalhete associamos ainda a prática despudorada do nepotismo, do clientelismo e de comportamentos corruptos. Parece uma caricatura mas infelizmente não é. Trata-se da situação presentemente vivida na Hungria, um Estado-membro da União Europeia. Perante esta situação há muito que se vinham erguendo vozes críticas clamando pela adopção de uma atitude dura por parte das principais instituições europeias. Com o arrastar dos acontecimentos ia-se progressivamente instalando um compreensível cepticismo em relação à capacidade da União Europeia aplicar os mecanismos sancionatórios de que dispõe para reprimir comportamentos e práticas atentatórios dos princípios e dos valores de que se reclama e que a inspiram. A impunidade de que o Governo húngaro parecia beneficiar suscitava uma legítima incompreensão em todos quantos continuam a projectar uma elevada expectativa nos chamados ideais europeus. Essa impunidade, felizmente, começou a ser contrariada ontem no Parlamento Europeu de forma muito consistente. Foi nesse sentido que uma maioria expressiva de deputados, correspondente a cerca de dois terços dos mesmos, votou a favor de um relatório elaborado por uma deputada Verde holandesa. Esse relatório propõe o accionamento dos mecanismos previstos nos Tratados tendo em vista o sancionamento de comportamentos adoptados por governos nacionais que deneguem ou contraditem o acervo de valores democrático-liberais consagrados na ordem institucional europeia. Esta votação constitui um sinal político de extraordinária importância. Numa altura em que por todo o lado emergem discursos e soluções políticas adversos à tradição demoliberal, não podemos deixar de sentir algum reconforto com a manifestação deste amplo entendimento. É por isso mesmo desejável que ele se perpetue na abordagem de situações de natureza diversa mas onde igualmente possam estar em causa os mesmíssimos valores e princípios que agora se declararam lesados. É provável, aliás, que o Parlamento Europeu, bem como as demais instâncias de decisão europeias se vejam confrontadas num futuro não muito distante com a necessidade de ajuizar casos não muito diferentes daquele que foi agora objecto de apreciação. Infelizmente são vários os governos europeus predispostos a seguir por muito ínvios caminhos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A fanática obsessão antieuropeia dos comunistas portugueses levou a que os seus eurodeputados, em nome de uma anquilosada noção de soberania nacional, juntassem os seus votos ao que de mais repugnante existe na representação parlamentar europeia. Este comportamento pode escandalizar, mas não deve surpreender. Se há coisa que os comunistas nunca esconderam foi a sua radical aversão por todas as formas e manifestações do pensamento liberal. É por isso natural se não sintam obrigados a censurar quem igualmente as despreza. Para o marxismo-leninismo todo o edifício de princípios, valores e regras de inspiração liberal não passa de uma cínica construção formal destinada a tentar camuflar o confronto de classes que constitui a verdadeira estrutura e a explicação da História. A origem dos crimes perpetrados por todos os regimes comunistas radica precisamente nesta desvalorização do Estado de Direito e do primado da autonomia individual. Orbán é um anticomunista feroz, propagandeia a visão de uma Europa etnicamente pura alicerçada nas referências religiosas do cristianismo, exalta um comunitarismo de índole reaccionária. Nessa perspectiva, um militante comunista só pode sentir repulsa por tal figura e pelas teses que propala. O que infelizmente os aproxima, sem nunca os identificar, é verdade, é justamente essa propensão antiliberal tão contrária ao melhor do espírito iluminista europeu. Esse é, aliás, o risco que correm todos aqueles que seja em nome do que for, nomeadamente de um pós-humanismo, se afastam do núcleo da tradição do racionalismo crítico que está por detrás, entre outras coisas, da noção de Direitos Humanos. Este episódio também demonstra o seguinte: é totalmente insensato promover a absolutização da linha divisória direita/esquerda. É-o no plano da política nacional e ainda o é mais no contexto da política europeia. Hoje há outras linhas de demarcação tão ou mais importantes do que essa. O reconhecimento desse facto contribui para uma melhor compreensão da presente realidade política. Àqueles que auguram a inevitabilidade do triunfo dos demagogos, dos extremistas de todas as espécies, dos vendedores de ilusões simplistas, haverá sempre que lembrar uma lição básica: o simplismo só pode ser derrotado por um apelo ao poder argumentativo de uma razão capaz de explicar a complexidade e a profunda subtileza de tudo quanto é humano.
REFERÊNCIAS:
Religiões Cristianismo
Editorial: Um pingo de decisão
Dentro de alguns dias, os navios de guerra europeus vão passar a poder abordar, revistar, confiscar e desviar embarcações suspeitas de estarem a ser utilizadas para tráfico de seres humanos – e podem também fazer detenções. A medida poderia ser interessante se estivesse enquadrada numa política global e numa estratégica comum para a União Europeia enfrentar uma crise humanitária sem precedentes desde o fim da II Guerra Mundial. Chegam à Europa milhares de migrantes por dia, muitos dos quais migrantes forçados, aos quais muitos de nós passámos a chamar refugiados, apesar de, formalmente, não terem ainda esse estat... (etc.)

Editorial: Um pingo de decisão
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-09-15 | Jornal Público
TEXTO: Dentro de alguns dias, os navios de guerra europeus vão passar a poder abordar, revistar, confiscar e desviar embarcações suspeitas de estarem a ser utilizadas para tráfico de seres humanos – e podem também fazer detenções. A medida poderia ser interessante se estivesse enquadrada numa política global e numa estratégica comum para a União Europeia enfrentar uma crise humanitária sem precedentes desde o fim da II Guerra Mundial. Chegam à Europa milhares de migrantes por dia, muitos dos quais migrantes forçados, aos quais muitos de nós passámos a chamar refugiados, apesar de, formalmente, não terem ainda esse estatuto. Basta olhar para as fotografias de Damasco ou de Alepo hoje para compreender a razão por que milhares e milhares de sírios deixam o seu país todos os dias. Estas pessoas não procuram uma vida melhor, nem um melhor emprego. Procuram simplesmente um lugar seguro. Vêm com os seus bebés ao colo, querem dar uma vida aos seus filhos. Por isso vemos tantas crianças nestas multidões. A Europa continua sem uma posição credível concertada e o arrastar de pés passou de prazo. Mais de 400 mil estrangeiros chegaram à Europa com a roupa que traziam no corpo. Pedem-nos ajuda e falta pouco para o Inverno. A solução para este êxodo colossal é autorizar o recurso à força militar contra os traficantes de migrantes? Para o que vai isto servir? Era bom que no mundo não existissem traficantes de humanos. E eles devem ser combatidos e punidos. Mas é esse o plano europeu para esta crise? Enquanto houver procura, há oferta. Como no narcotráfico, prender os traficantes não faz parar o negócio da venda de droga. Enquanto milhares de pessoas saírem dispostas a pagar tudo o que têm a um traficante por um lugar num bote e um colete salva-vidas – e muitas vezes nem isso – haverá tráfico e gente sem escrúpulos a beneficiar do desespero. Só da costa líbia, chegam à costa italiana 450 pessoas por dia. Mas também chegam à costa grega e por terra são hoje cada vez mais. A resposta é necessariamente mais complexa. Não se resolve com muros, nem com prisões, nem deportações expeditas, nem arame farpado, nem gás pimenta. Como diz Guterres, que há dez anos fala com refugiados de todo o mundo, se fechamos a porta, quem quer sair sai pela janela; se fechamos a janela, quem quer sair abre um túnel. E vai sempre conseguir sair.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra humanos ajuda corpo humanitária
Estudantes sírios em Portugal: “Por favor, sintam-se em casa”
Chegaram cansados, mas com sorrisos que ofuscaram a guerra de que não querem falar. Mais de 30 estudantes universitários sírios aterraram este domingo em Portugal mas é na Síria – e em reconstruí-la – que pensam. (...)

Estudantes sírios em Portugal: “Por favor, sintam-se em casa”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-09-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Chegaram cansados, mas com sorrisos que ofuscaram a guerra de que não querem falar. Mais de 30 estudantes universitários sírios aterraram este domingo em Portugal mas é na Síria – e em reconstruí-la – que pensam.
TEXTO: Mustafa acabou de chegar, mas já diz que “Portugal deve ser um sonho para todos os sírios”. A fadiga é visível, depois de quase dois dias sem dormir, entre despedidas e escalas de avião, mesmo que ele próprio assegure que o cansaço foi “esquecido”, enquanto nos devolve um sorriso aberto. Mustafa é um dos 33 estudantes que chegaram este domingo a Lisboa, ao abrigo da Plataforma Global de Assistência a Estudantes Sírios, promovida pelo ex-Presidente Jorge Sampaio. Chegaram em duas carrinhas, directamente do aeroporto da Portela para o hotel onde decorreu a recepção, e podiam perfeitamente passar por um grupo de estudantes em viagem de estudo – mochilas às costas, cartões de identificação, malas e telemóveis. O grupo – na verdade são 40 novos bolseiros que chegam para o início deste ano lectivo, embora sete tenham chegado alguns dias antes – é composto na sua maioria por raparigas. Algumas vêm de hijab, outras de cabelo solto. O caminho até aqui foi longo e emotivo. Salam avisa-nos logo que não dorme há três dias. “Passei o dia antes da vinda com a minha família e depois foi toda a viagem”, explica-se. Sente-se obviamente feliz por estar em Portugal, onde poderá ingressar no mestrado em Engenharia Informática na Universidade Lusófona. Terminou a licenciatura e pretendia continuar a estudar, mas, à semelhança de todos os que fizeram com ela a viagem, a guerra civil que assola a Síria desde 2011 mudou-lhe os planos. A felicidade convive, porém, com a preocupação com a família, especialmente o irmão mais novo, que deixou em Salamyiah, uma pequena cidade no Leste do país. Não desvia o olhar do telemóvel – “espero estar sempre em contacto com eles”. Mas não é da guerra que a jovem de 24 anos – cujo nome significa “paz – quer falar. Esse foi o seu dia-a-dia nos últimos quatro anos e, por agora, a sua vida será outra, mesmo que não saiba ao certo o que aí vem: “Espero envolver-me na comunidade estudantil e fazer aquilo que se faz aqui. ”Apelo globalMinutos antes, Jorge Sampaio deixara precisamente esse conselho no discurso de recepção – “Conheçam o país, conheçam as pessoas. Por favor, sintam-se em casa. ” Depois de cumprimentar individualmente cada um dos estudantes, o grande responsável pela plataforma reconhecia a modesta ajuda que a integração de umas dezenas de estudantes representa para amenizar o drama sírio. E, por isso, deixava um apelo muito claro para que a comunidade internacional se mobilize em torno desta questão. “As universidades e politécnicos podem ser forças decisivas na mudança”, observou Sampaio, e a Plataforma de Assistência a Estudantes Sírios representa precisamente esse espírito. Mas os inúmeros entraves – com a escassez de fundos a encabeçar a lista – que a iniciativa enfrenta impõem uma mudança mais global. O ex-Presidente da República sublinhou várias vezes a necessidade de se “discutir a sério o que pode ser posto na agenda internacional humanitária” no que respeita especificamente à questão do ensino superior. “Se tivéssemos feito este esforço desde o início da guerra para cuidar daqueles que tiveram de interromper os seus estudos, e são milhares, já havia muito mais gente, espalhada pelo mundo, para serem integrados no futuro numa sociedade que é a deles”, afirmou Jorge Sampaio. Com a guerra prestes a entrar no seu quinto ano, há cada vez mais preocupação em relação àquilo que muitos chamam de “geração perdida” – as centenas de milhares de crianças e jovens sírios que hoje enchem campos de refugiados na Turquia ou na Jordânia. A Politico descrevia-os recentemente como uma “bomba-relógio”, permeáveis aos ensinamentos de fundamentalistas islâmicos e imbuídos de um sentimento de vingança por tudo aquilo por que estão a passar. E porque em Alepo ou nos subúrbios de Damasco o caos e a destruição não param, o esforço de consciencialização não pode esperar. Esta semana, Sampaio vai ter uma série de reuniões em Nova Iorque, aproveitando também o facto de a atenção do mundo estar virada para a Assembleia-Geral das Nações Unidas. Mas o trabalho de lobbying tem sido “constante”, garante Helena Barroco, assessora do ex-Presidente e o seu braço direito à frente da plataforma, insistindo sempre na criação de um “mecanismo de resposta rápida a crises a nível global” no campo do ensino superior. Um dos estudantes recém-chegados fez questão de dirigir algumas palavras, que acabaram por ser curtas, culpa da emoção. Mas mesmo falando pouco, com a generosidade que uma simples frase pode conter, o jovem tocou na urgência que uma actuação deste tipo tem: “Todos os dias há mais estudantes a precisar de bolsas destas. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra campo ajuda comunidade estudo humanitária
Uma imagem que faz pressão sobre a Europa
Não é o discurso político, mas uma imagem que faz pressão sobre a Europa. (...)

Uma imagem que faz pressão sobre a Europa
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-09-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Não é o discurso político, mas uma imagem que faz pressão sobre a Europa.
TEXTO: Em Abril uma proposta de resolução comum do Parlamento Europeu dava conta da urgência em acolher os refugiados em solo da União e evitar mais mortes no mar. Em sintonia com a Comissão Europeia, sentia-se a esperança de ajudar aqueles que estão a fugir da morte. No momento de execução das orientações, o Conselho Europeu recusou a proposta destas duas instituições e as mortes continuaram sob o olhar dos responsáveis políticos enquanto os media contabilizavam naufrágios e afogamentos. Na última quarta-feira, em Estrasburgo, Jean-Claude Juncker fez um discurso humanista, diria até socialista, que nos comoveu a quase todos. Mas, na verdade, não foi o discurso político mas uma imagem que fez pressão sobre a Europa. A imagem de um menino morto com o rosto escondido na areia de uma praia da Turquia. Não demorou a indignação de milhões de cidadãos que exigiam acção política. Mas também foram rápidas as manifestações contra o acolhimento de homens e mulheres que, com filhos nos braços, fogem do fogo de Assad e das facas do ISIS. Estão encurralados. O que escolheríamos nós?Eles escolheram jangadas a fingir de barcos a transbordar de perigos e medos. Fogem da perseguição à procura da sobrevivência e da esperança. Orientam-se por uma coragem que, provavelmente, nunca nenhum de nós sentirá. Olham para a Europa como o lugar onde todos somos bem-vindos. No caso português, o ainda governo PSD/CDS tem estado muito aquém das suas obrigações. A Europa também. Era suposto ser este o velho continente dos valores mais nobres e humanistas. Aquele que já tantos abrigou e que, num passado não tão longínquo, percebeu os custos da perseguição que mata a diferença. Olhando para alguns discursos demasiado inflamados, fiquei com a clara ideia de que a nossa matriz valorativa transfigurou-se numa uma espécie de histeria surda. A questão não é sermos contra ou a favor. A questão é que se alguém cai é nossa obrigação ajudá-lo a se levantar. António Guterres discursa esta terça-feira no Parlamento Europeu. Será sem dúvida, um discurso que trará um novo alento e esperança. Mas enquanto não passarmos aos actos não podemos esquecer uma terra de miséria. Uma terra coberta de pedras e carcaças de prédios. Um mundo onde as crianças e os jovens têm um preço. Um mundo onde uma menina vale um maço de tabaco. Um mundo onde uma jovem de 23 anos foi vendida vinte e duas vezes, onde os irmãos são degolados, os pais queimados vivos e as mães apedrejadas. Imaginemos um mercado que nos tapa a cara e o corpo numa alma que já não existe e que será vendida a quem der mais um cigarro. Se ainda nos sobrarem forças imaginemos que somos uma dessas pessoas. Não fugíamos de um mundo assim?Eurodeputada do Partido Socialista, vice-presidente da Cultura na Delegação do EUROMED
REFERÊNCIAS:
Partidos PSD
Um pop-up de cozinhas da Síria e Eritreia até 16 de Dezembro
A agência criativa The Hotel juntou-se ao projecto Marhaba disponibilizando um espaço no Chiado para uma série de jantares. (...)

Um pop-up de cozinhas da Síria e Eritreia até 16 de Dezembro
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-12-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: A agência criativa The Hotel juntou-se ao projecto Marhaba disponibilizando um espaço no Chiado para uma série de jantares.
TEXTO: “Os cozinheiros vêm da Síria e da Eritreia. A ajuda vem de todos. " É assim que se faz anunciar o Marhaba Kitchen – All You Can Help, projecto gastronómico de catering que todas as quintas, sextas e sábados (sempre a partir das 20h), até dia 16 de Dezembro, vai estar alojado no The Hotel, uma agência criativa de Lisboa, que quis apoiar e disponibilizou o espaço que tem para activações de marca, o The Hall, no Chiado. Aí, quem quiser ajudar poderá fazê-lo de forma fácil, provando as receitas caseiras que os grupos de refugiados da Síria e da Eriteia preparam. Para isso, têm o apoio do chef Nuno Bergonse, que se entusiasmou com o projecto e, embora não cozinhe, tem ajudado o grupo a organizar-se na preparação das refeições, adaptando o que é uma cozinha de família a grupos maiores. Através do projecto É Uma Vida, o Marhaba está ligado à associação Crescer, que trabalha para ajudar na integração de refugiados recentemente chegados a Portugal e que estão em busca de trabalho, no âmbito do Programa Municipal de Acolhimento de Refugiados em Lisboa. Se o húmus é um prato comum aos dois países, os cozinheiros sírios e eritreus apresentam depois especialidades diferentes de cada uma das cozinhas nacionais, em dois menus separados (e servidos em diferentes noites). Assim, do lado da Síria há pão sírio, tabuleh, baba ganoush, kobbeh com ades e fallafel e, para sobremesa, madloah. Do lado da Eritreia, serve-se kicha fit fit, ingera (o pão típico eritreu, que parece uma panqueca e que se utiliza como talher) com alicha, derho, tibci e salada e, para sobremesa, paste full zabb, um bolo típico com amendoins e uvas. Os jantares são também um pretexto para se ficar a conhecer estes homens e mulheres que procuraram refúgio em Portugal e que, enquanto servem a refeição, poderão explicar melhor o que é cada um dos pratos. Todos eles tinham profissões diferentes nos seus países: o eritreu Awet Mebrahtu, 35 anos, por exemplo, era condutor de pesados e trabalhou em minas, hoje colabora com a equipa de montagens da Crescer para preparar casas para receber outros refugiados; Tecklesenbet Tesfay, 37 anos, era professor de inglês e é um especialista no pão kitcha fit fit, e Mohamed Abdela, de 30 anos, lavava automóveis mas foi também empregado de mesa e operador fabril quando vivia na Eritreia. Entre os sírios, há quem tenha tido uma empresa na área do turismo, como Nizar Almadani, de 60 anos, quem venha de marketing digital, como Mohamed Fayd, 34, e há um casal, Mohammad Shadey, de 39 e Baraa, de 31, que estão em Portugal com os dois filhos. Todos têm histórias, e sobretudo sabores, para partilhar neste evento onde, como diz a organização, "se junta a fome com a vontade de ajudar". Marbaha - All You Can HelpOs jantares custam 20 euros (incluem dois copos de vinho), valor que reverte inteiramente para o apoio aos refugiados. Datas: quintas, sextas e sábados a partir das 20h, até 16 de DezembroMorada: Rua António Maria Cardoso, 26, LisboaSubscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Contactos: [email protected] ou 912 963 386/966 913 390Reservas: só se aceitam reservas para as 20h.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens fome ajuda mulheres
Lamiya foi escrava do Estado Islâmico durante 20 meses e ainda vai ser professora
Ana Gomes e Josef Weidenholzer identificaram 470 yazidis na Grécia que querem vir para Portugal, onde o Governo tem “total abertura” para os receber. A iraquiana Lamiya foi vendida e violada até pensar que não aguentava. Mas sobreviveu. (...)

Lamiya foi escrava do Estado Islâmico durante 20 meses e ainda vai ser professora
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ana Gomes e Josef Weidenholzer identificaram 470 yazidis na Grécia que querem vir para Portugal, onde o Governo tem “total abertura” para os receber. A iraquiana Lamiya foi vendida e violada até pensar que não aguentava. Mas sobreviveu.
TEXTO: Dizem dos yazidis que são adoradores do Diabo, mas eles sabem que o Diabo são os outros. A religião deles é anterior a Maomé mas desde que há muçulmanos, vivem entre eles. Os yazidis sempre foram perseguidos e estão espalhados pelo mundo. Em 2010, sobravam uns 800 mil, a maioria no Iraque. Hoje, depois de Saddam Hussein e dos extremistas, ninguém sabe quantos são. Estejam onde estiverem, os yazidis acreditam que o dia do julgamento final vai acontecer no templo de Lalish, a montanha do Curdistão iraquiano. É dali, dizem, que se separam os caminhos: para um lado, o Inferno; na direcção oposta, o Paraíso. Em Lalish há uma serpente e é desta que os ignorantes falam quando os acusam de adorar o Diabo. O que eles não sabem é que foi com esta serpente que Noé tapou o buraco da arca e, assim, a vida pôde continuar. O pediatra Mirza Dinnay sabe bem o que é resgatar crianças ao Inferno. Lamiya Aji Bashar exibe as marcas do Diabo no rosto, mas continua a adorar a vida e ainda quer ser professora. Tem 18 anos e a cara desfigurada pela bomba que explodiu quando fugiu de quase dois anos de cativeiro impensável. O impensável chama-se Daash (o autodenominado Estado Islâmico). A bomba tirou-lhe o olho direito e deixou-lhe o esquerdo com a visão 90% reduzida. As piores marcas são as que não se vêem. O pediatra Mirza sabe disso. Afinal, é ele que está a salvar Lamiya. “Sou uma das milhares de raparigas yazidis capturadas pelo ISIS [sigla em inglês para Estado Islâmico do Iraque e de al-Shams, como o grupo se fazia chamar antes de 2014]. Eu e toda a minha família fomos capturados em Agosto de 2014 em Korcho, a nossa aldeia. Os combatentes chegaram e disseram: ‘têm três dias para se converter ao islão ou serem mortos’”, conta Lamiya, com Mirza a fazer de intérprete. O que é o Estado IslâmicoQuando os combatentes chegam, o terror só acabou de começar. “No fim desses três dias, obrigaram-nos a ir para a escola da aldeia. Separaram as mulheres e as crianças dos homens. Levaram os homens lá para fora e mataram-nos. Depois, transportaram-nos para outra zona e foi aí que nos dividiram, mulheres para um lado, raparigas para outro”, descreve. Na aldeia, diz Mirza, viviam 1900 pessoas – 400 eram homens, como o pai de Lamiya que ela nunca mais viu; os outros eram mulheres e crianças. “As raparigas, como eu, fomos para Mossul [a segunda maior cidade do Iraque, no Norte do país, sob controlo dos jihadistas]. Às mulheres mais jovens e às crianças mais pequenas levaram-nas para Tal Afar [outra cidade]. Às mais velhas mataram-nas”, conta a jovem. “Depois de uns dias, levaram-me para Raqqa [a cidade síria a que os membros do Daash chamam capital do seu autoproclamado 'califado'], a mim e à minha irmã. Um combatente saudita levou-nos e violou-nos às duas, no mesmo dia, antes de nos devolver ao grupo. ”Foi então que Lamiya foi vendida e comprada pela primeira vez. Tinha 16 anos e pensou que não aguentava. “Um dos emires, um saudita, comprou-me e levou-me. Torturou-me, espancou-me, violou-me e eu cortei os pulsos, tentei matar-me. Estive três dias no hospital e, logo a seguir, ele levou-me para Deir Ezzor, outra cidade da Síria. Voltei a tentar fugir e passei uns dias com uma família. Eles denunciaram-me e eu fui capturada outra vez”, recorda Lamiya, franzina e frágil, t-shirt branca e fio ao pescoço. Por tentar fugir, foi punida com nova dose de espancamentos e violações. “Depois, quiseram levar-me para Caim, no Iraque, mas eu saltei do carro e fugi. Capturam-me num controlo do ISIS e voltei para Deir Ezzor. Enfiaram-me numa prisão, e violaram-me sem me darem comida nem água. Entregaram-me a outro combatente e fui escrava deste durante três meses. Este vendeu-me a um que era o responsável por fazer as bombas. Para além de me violar, obrigava-me a construir explosivos. Consegui fugir, passados outros três meses e voltei a ser capturada”, conta, num só fôlego. “Levaram-me de volta para Mossul, para ser julgada num tribunal de sharia [lei islâmica]. Devia ser morta ou ficar sem pés, por ter fugido. Decidiram matar-me, mas veio outro saudita que perguntou se me podia comprar. Primeiro, espancaram-me até todo o meu corpo sangrar por todos os lados. Depois, deixaram que o saudita me levasse para o mercado de escravos”, lembra. “Fui comprada por um médico iraquiano que era muito mau para mim. Passei um ano com ele, ele comprava e vendia raparigas yazidis o tempo todo. ”Lamiya não estava sozinha e conseguiu convencer duas outras yazidis a fugir com ela. Determinada, entrou em contacto com uns familiares afastados para lhe enviarem um contrabandista. “Consegui escapar com duas amigas, uma de 18 anos, outra de oito. Fugimos de noite, mas perto da fronteira com o Curdistão uma delas pisou uma bomba e houve uma grande explosão. Elas morreram e eu perdi o meu olho direito e fiquei com a cara assim, quase cega do olho esquerdo. Um contrabandista levou-me ao Curdistão. ”Para além do pai, um irmão de Lamiya foi assassinado. Duas irmãs já estão na Alemanha, onde Lamiya chegou há um mês; como ela, foram resgatadas pela organização do pediatra Mirza. Outro irmão, com 12 anos, foi forçado a combater durante um ano nas fileiras do Daash. “Conseguimos resgatá-lo e está no Curdistão. A mãe dela e outro irmão estão desaparecidos até agora”, diz Mirza. “O plano é reunir a família que sobra na Alemanha”, explica o pediatra. Mas nos campos de deslocados no Norte do Iraque não faltam “outros casos de raparigas a precisarem de cuidados médicos e de quem as acolha depois do trauma” do cativeiro. “As condições em que vivem no Iraque são terríveis”, diz o eurodeputado Josef Weidenholzer, que visitou os campos com Ana Gomes e sabe do que fala Mirza. O médico vive entre o Curdistão e a Alemanha a resgatar crianças ao Inferno. Os deputados europeus querem ajudar e Portugal também. Os dois eurodeputados, membros da Comissão das Liberdades Cívicas, Justiça e Assuntos Internos do Parlamento Europeu, já visitaram os yazidis no Iraque e na Grécia, onde identificaram 470 que querem vir para Portugal. Lamiya e Mirza vieram com eles a Lisboa reunir-se com o ministro-adjunto da Administração Interna, Eduardo Cabrita, que tem a cargo a recepção e integração de refugiados em Portugal. O Governo tem “total abertura” para os receber, dizem. No Iraque, lembra Mirza, “ninguém quis nunca estudar psicologia e não há infra-estruturas” onde começar a curar as feridas escondidas. “Em todo o Curdistão, há 20 psiquiatras para milhões de pessoas. E há mais de seis mil crianças que passaram meses e anos em cativeiro”, descreve. “Estas pessoas estão muito traumatizadas, vivem em campos de tendas sem qualquer ajuda, o apoio psicológico é quase inexistente”, diz. “Há crianças de seis anos que ainda acordam às 6h da manhã para rezar com medo de serem mortas pelos homens do ISIS. . . Não perceberam que já não estão em cativeiro”. Na Grécia, conta o médico, há 4700 refugiados yazidis em diferentes campos. “Fugiram da discriminação que sofriam no seu país, mas estão em campos onde continuam a ser discriminados. Sabemos que 231 escaparam dos campos o mês passado porque os refugiados sírios muçulmanos queriam obrigá-los a fazer jejum durante o Ramadão. Houve uma rapariga que se suicidou há dias. Temos de os tirar de lá. ”Os yazidis e todos os refugiados que permanecem na Grécia estão também vulneráveis aos traficantes. São 15 mil ao todo, quase cinco mil são yazidis. E entre estes, há os 470 identificados. “Sabemos onde estão, sabemos quem são, são famílias que só precisam de um empurrão”, diz a eurodeputada socialista. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Lamiya fugiu em Abril em direcção ao Curdistão iraquiano. Na Alemanha, não tem estatuto de refugiada, foi levada pela associação do pediatra Mirza. Tem um visto de curto prazo, três meses, para tratamento médico. Mas Mirza vai tentar mantê-la lá, impedir que regresse às tendas do Iraque, onde não tem perspectivas. Ainda há 3000 yazidis escravos do Daash, lembra a jovem. “Gostava que todos fossem resgatados”, diz Lamiya. “A situação das mulheres e das crianças que conseguiram fugir é muito má. Espero que outros países as queiram acolher. ”A vida no Estado Islâmico
REFERÊNCIAS:
Unicef denuncia aumento das "graves violações" dos direitos das crianças na Síria
Os números que constam no relatório apontam para mais de 850 crianças recrutadas para combater no conflito. (...)

Unicef denuncia aumento das "graves violações" dos direitos das crianças na Síria
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento -0.33
DATA: 2017-06-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os números que constam no relatório apontam para mais de 850 crianças recrutadas para combater no conflito.
TEXTO: O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) denunciou esta segunda-feira o aumento das graves violações dos direitos das crianças na Síria e apelou às partes envolvidas no conflito e à comunidade internacional para uma “solução política imediata”. “O nível de sofrimento não tem precedentes. Milhões de crianças na Síria estão permanentemente sob a ameaça de ataques, as suas vidas estão totalmente viradas do avesso”, afirmou, num relatório divulgado, o director regional da Unicef para o Médio Oriente e Norte de África, Geert Cappelaere. No relatório, o responsável salienta que aquelas crianças vão ficar “marcadas para o resto da vida com consequências para a sua saúde, bem-estar e futuro”. A guerra na Síria, que já fez mais de 310 mil mortos e milhões de refugiados, entra no próximo dia 15 no seu sétimo ano. Segundo o relatório, as violações graves dos direitos das crianças naquele país “atingiram em 2016 o número mais elevado de que há registo”. “Os casos confirmados de morte, mutilação e recrutamento de crianças aumentaram significativamente no ano passado, com a escalada de violência em todo o país”, sublinha o documento, acrescentando que pelo menos 652 crianças foram mortas. Aquele número representa um aumento de 20% em relação a 2015. A Unicef destaca que 255 crianças foram mortas numa escola ou imediações e que mais de 850 foram recrutadas para combater no conflito. “As crianças estão a ser usadas e recrutadas para combater directamente nas linhas da frente e participam cada vez mais activamente, incluindo em casos extremos de execuções, como, bombistas suicidas ou guardas prisionais”, adverte a agência da ONU. No documento, a Unicef denuncia também que o acesso a cuidados médicos, bens de primeira necessidade e outros serviços básicos continua difícil. “As dificuldades de acesso em diversas zonas da Síria não permitem avaliar a verdadeira dimensão do sofrimento das crianças, nem fazer chegar com a devida urgência assistência humanitária às raparigas e rapazes mais vulneráveis”, refere. A Unicef salienta que “além das bombas, das balas e das explosões, as crianças estão a morrer em silêncio muitas vezes de doenças que poderiam ser facilmente evitáveis”. O relatório refere também que 2, 8 milhões de crianças mais vulneráveis estão em viver em zonas de difícil acesso e que daquelas 280. 000 estão cercadas e “praticamente sem acesso à ajuda humanitária”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Após seis anos de guerra, perto de seis milhões de crianças dependem agora de assistência humanitária, o que representa um aumento de 12 vezes relativamente a 2012”, sublinha a Unicef, explicando que algumas crianças foram deslocadas sete vezes e que mais de 2, 3 milhões estão a viver como refugiadas na Turquia, Líbano, Jordânia, Egipto e Iraque. As crianças refugiadas e do interior da Síria, continua a Unicef, estão a ser empurradas para o casamento precoce e o trabalho infantil, porque não há alternativas para lidar com a situação. “Em mais de dois terços dos agregados familiares há crianças a trabalhar para ajudarem as famílias, algumas em condições muito duras até mesmo para adultos”, refere. Perante os factos descritos no relatório, a Unicef apela a uma solução imediata para pôr fim ao conflito, ao fim de todas as violações graves contra crianças, o levantamento de todos os cercos e acesso incondicional e sustentado a todas as crianças que precisam de ajuda. A Unicef pede também “apoio continuado aos governos e comunidades que acolhem refugiados dirigidos a crianças vulneráveis” e “apoio financeiro sustentado para a assistência humanitária” que aquela agência da ONU dá às crianças sírias.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU