“Estamos a morrer!” O dia em que a Itália deixou 60 crianças afogarem-se
Gravações telefónicas revelam como as autoridades italianas negaram auxílio a mais de 400 sírios à deriva no Mediterrâneo durante cinco horas. Acabariam por morrer 268 pessoas, incluindo 60 crianças. (...)

“Estamos a morrer!” O dia em que a Itália deixou 60 crianças afogarem-se
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-05-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Gravações telefónicas revelam como as autoridades italianas negaram auxílio a mais de 400 sírios à deriva no Mediterrâneo durante cinco horas. Acabariam por morrer 268 pessoas, incluindo 60 crianças.
TEXTO: Onze de Outubro de 2013 foi uma das datas mais negras da crise migratória desencadeada pela Guerra da Síria. Nesse dia, 268 pessoas, entre as quais 60 crianças, morriam nas águas do Mediterrâneo, perto da ilha italiana de Lampedusa, depois de um barco pesqueiro sobrelotado proveniente da Líbia se ter virado e afundado. Quase quatro anos depois, a revista italiana L’Espresso divulga agora um conjunto de cinco gravações telefónicas que revelam como as autoridades italianas ignoraram durante cinco horas os pedidos desesperados de auxílio de um médico sírio a bordo. Segundo a revista italiana, que reproduz as gravações áudio no seu site, o primeiro alerta foi dado às 12h39. A essa hora, o centro de operações da guarda costeira italiana, em Roma, recebe uma chamada de Mohanad Jammo, um médico sírio que dá conta dos problemas a bordo, indicando a presença de “cerca de cem crianças, cem mulheres e talvez cem homens”. Na verdade, soube-se mais tarde, estavam pelo menos 480 pessoas no pesqueiro líbio. “Por favor despachem-se. Está a entrar água. Por favor despachem-se, por favor despachem-se. Por favor. (…) o barco está a afundar-se. Juro, há cerca de meio metro de água no barco”, ouve-se na gravação. Do outro lado, uma funcionária da guarda costeira pede as coordenadas da embarcação, prontamente indicadas por Jammo. No entanto, não é tomada nenhuma acção na sequência deste contacto. Às 13h17, o médico sírio volta a pedir ajuda. “Enviaram alguém? Somos sírios, somos cerca de 300”, diz. Uma voz masculina responde em tom impaciente: “Eu dou-lhe o número de Malta, porque está perto de Malta – perto de Malta, compreende?” Era o início de uma nova fase do incidente, em que Roma e La Valletta empurram entre si a responsabilidade pelo auxílio aos refugiados sírios. Ao contrário do que a voz masculina alegava, sabe-se agora que o navio estava a 61 milhas náuticas da ilha italiana de Lampedusa e a 118 milhas náuticas da costa maltesa. Naquele momento, a embarcação encontrava-se em águas internacionais, numa área em que Malta era de facto responsável por missões de busca e salvamento. No entanto, havia um navio militar italiano a apenas 20 milhas náuticas do pesqueiro líbio. A lei marítima internacional, sublinha o jornalista Fabrizio Gatti ao Washington Post, determina que a Itália tinha por isso o dever de socorrer os refugiados sírios. É isto que Jammo diz num terceiro telefonema, às 13h48. “Eu liguei a Malta. Eles disseram-nos que estamos mais próximos de Lampedusa do que de Malta. Eu dei a nossa posição, vocês estão nas proximidades. Estamos a morrer, por favor!”, ouve-se na gravação que Gatti obteve através de uma fonte anónima maltesa. “Estamos a morrer! Trezentas pessoas! Estamos a morrer!”, exclama o médico sírio. “Ligue a Malta, ligue a Malta”, respondem as autoridades italianas. Durante a tarde, num quarto telefonema divulgado pela revista transalpina, as forças armadas maltesas e a guarda costeira italiana continuam a debater quem deve sair em auxílio dos sírios. Refere-se até uma troca de faxes, apesar da urgência da situação. Malta está disposta a participar no resgate, mas Itália tem de agir primeiro. E eis que Roma justifica a sua recusa: o navio que está a pouco mais de uma hora do pesqueiro líbio é um activo estratégico na vigilância daquelas águas, e o resgate dos sírios implicaria posteriormente uma viagem até Lampedusa, deixando a área desguarnecida. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Às 17h07, novo telefonema de Malta para Itália. Agora, o tom é grave. Um avião maltês sobrevoou a área e confirmou que o pesqueiro líbio acabou por adornar. Há centenas de pessoas na água e La Valetta exige a Roma a mobilização dos seus meios. É só então que os italianos iniciam a operação de salvamento. Jammo, o médico que dera um primeiro alerta cinco horas antes, ainda está vivo. A mulher e uma filha de cinco anos também. Mas para dois outros filhos, de seis anos e de nove meses, italianos e malteses chegam demasiado tarde. Há agora 268 mortos, incluindo 60 crianças. Até hoje, a justiça italiana continua a investigar este naufrágio, um dos mais graves entre muitos outros ocorridos nos últimos anos entre a Líbia, Malta e Itália. A divulgação das gravações telefónicas vem agora confirmar as suspeitas levantadas em 2014 pela Amnistia Internacional, que questionava a prontidão da resposta italiana.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens guerra filha lei mulher ajuda mulheres
Autarca italiano pró-migração em prisão domiciliária
Domenico Lucano é conhecido pelo modelo de integração de migrantes que revitalizou a sua comunidade. É acusado de favorecer a imigração ilegal. (...)

Autarca italiano pró-migração em prisão domiciliária
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 14 Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento -0.02
DATA: 2019-05-22 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20190522160058/https://www.publico.pt/1846038
SUMÁRIO: Domenico Lucano é conhecido pelo modelo de integração de migrantes que revitalizou a sua comunidade. É acusado de favorecer a imigração ilegal.
TEXTO: O presidente da câmara do pequeno município de Riace, no sul de Itália, foi detido em prisão domiciliária, esta terça-feira. Domenico Lucano é acusado de apoiar e favorecer migrações ilegais, bem como de dirigir de forma fraudulenta o sistema de recolha de lixo do município. A sua esposa também foi acusada e proibida de viver na área. O comunicado emitido pela Procuradoria de Locri aponta como primeira acusação o facto de Lucano e a esposa, Tesfahun Lemlem, terem abusado do estatuto de presidente da câmara para organizar casamentos de conveniência entre cidadãos italianos e mulheres migrantes para que estas pudessem obter entrada em Itália. A prova apresentada no documento refere-se ao caso de uma mulher nigeriana, cujos pedidos de asilo tinham sido negados três vezes. De acordo com escutas telefónicas, Lucano terá dito que, ao ser responsável pelo registo civil, podia “casá-la com um italiano de imediato”, sem examinar qualquer tipo de documentos de requerimento de asilo, e que esta “era a única solução”. Ele próprio trataria do seu bilhete de identidade. “Para ir contra estas leis loucas, tenho de agir contra a lei. Sou um fora da lei”, confessou. A segunda acusação refere-se à administração fraudulenta dos serviços de recolha do lixo municipal, que, de acordo com as autoridades, foram atribuídos a duas companhias sem passar pelo processo de concurso público. A investigação, que iniciou em 2017, tinha como objectivo apurar se estava a haver uma gestão indevida dos fundos concedidos pelo ministro do Interior na região. Segundo o documento, ainda que se verifique uma administração “desorganizada” do dinheiro estatal, não existem provas de que tenha havido furto e apropriação indevida de bens, pelo que as acusações de suborno, desvio de capitais e fraude contra o Estado foram retiradas. Domenico Lucano, considerado pela revista americana Fortune em 2016 como o quadragésimo líder mundial mais relevante, iniciou o seu programa de apoio aos refugiados em 1998, dando-lhes casa abandonadas para habitação e formação laboral, na esperança que a medida rejuvenescesse a economia local. Desde então, centenas de migrantes vivem no pequeno município na região de Calábria: o vice-presidente de Riace, Giuseppe Gervasi, disse à Reuters que mais de 300 dos 1. 500 cidadãos da região são imigrantes. “Esta política deu ao município, que se estava a tornar um município-fantasma, uma nova oportunidade de vida. Não desencadeou nenhum conflito entre os mais necessitados, nem histeria xenófoba ou especulações fraudulentas — ajudou a dar novos valores às pessoas envolvidas”, garantiu Lucano à BBC, numa reportagem sobre a região, em 2016. “Apenas faço o que é certo para a nossa pequena comunidade”, acrescentou. O modelo de imigração de Lucano diverge do aplicado pelo governo italiano, que aprovou no dia 24 de Setembro o decreto-lei sobre segurança e imigração do ministro do Interior, Matteo Salvini. A decisão põe em causa a ajuda humanitária prestada aos migrantes e altera as leis de recepção de requerentes de asilo. Salvini reagiu à detenção de Lucano através do Twitter. “Meu Deus, imagino o que [Roberto] Saviano e todos os bonzinhos que querem encher Itália de imigrantes vão dizer agora”, escreveu, atacando directamente o seu crítico e autor antimáfia, Roberto Saviano. Saviano, por sua vez, respondeu no Facebook: “Mimmo Lucano [como é conhecido informalmente] está sob prisão domiciliária. A motivação é a imigração ilegal. A verdade é que Lucano nunca age pelo lucro, mas sim pela desobediência civil. Esta é a única arma que temos para defender não só os direitos dos imigrantes, mas os direitos de todos”, disse. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Este governo está a dar o primeiro passo na definitiva transformação de Itália de democracia a estado autoritário”, acrescentou. Segundo um defensor da campanha pelos direitos dos migrantes da Associação de Direitos e Fronteiras (ADIF), Sergio Bontempelli, o município de Riace era conhecido por ser “um bom exemplo de integração”, que estava sob ataque há anos. Citado pelo jornal britânico The Guardian, Bontempelli afirma que “outros projectos de integração empreendidos por centenas de pessoas noutras cidades italianas estão agora em risco”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos lei imigração ataque mulher prisão ajuda comunidade mulheres humanitária ilegal
A chegada do Aquarius a Valência foi um dia de gratidão
Terminou finalmente a odisseia das mais de 600 pessoas que viram a sua entrada em Itália recusada. Valência recebeu-os com emoção. Começa agora um longo período de espera para saberem se conseguem asilo. (...)

A chegada do Aquarius a Valência foi um dia de gratidão
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 11 Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-03 | Jornal Público
SUMÁRIO: Terminou finalmente a odisseia das mais de 600 pessoas que viram a sua entrada em Itália recusada. Valência recebeu-os com emoção. Começa agora um longo período de espera para saberem se conseguem asilo.
TEXTO: Obrigado – fosse em inglês, francês ou espanhol – foi a palavra mais pronunciada pelas centenas de resgatados que conseguiram finalmente chegar a terra firme, depois de serem recebidos em Valência às primeiras horas da manhã deste domingo. Alguns não sabiam sequer que língua é falada no país que os aceitou acolher, mas a gratidão de quem esteve perto de perder o pouco que já tinha é uma linguagem universal. A emoção contagiou o enorme contingente de médicos, enfermeiros, tradutores, voluntários e até forças de segurança, que estavam em terra assim que as primeiras pessoas começaram a abandonar os barcos. “Bem-vindos”, diziam alguns, perante os muitos “obrigado” que ouviam. Os que chegavam cantavam de felicidade entre as lágrimas. Para trás ficaram dias marcados por um impasse assustador, quando o Aquarius, a embarcação que levava a bordo 630 pessoas que naufragaram no mar Mediterrâneo ao largo da costa líbia há uma semana, se deparou com a recusa do Governo italiano em abrir os seus portos. Sem o saber, aqueles homens, mulheres e crianças tornaram-se o símbolo da profunda divisão no seio da União Europeia sobre as políticas de asilo cujo impacto é hoje uma questão existencial para a própria União. Mas nada disto interessa a quem foge à violência ou à pobreza extrema e, para isso, passou meses a caminhar por desertos e montanhas, sofreu agressões de traficantes, viu a morte muito perto e, quando já vislumbrava a Europa, ouviu um rotundo "não". Jessica, nome fictício de uma camaronesa de 23 anos, conta ao El País como um grupo de polícias e militares na fronteira entre a Argélia e a Líbia a agrediram. “Um polícia disse para me despir. Rezei a Deus: ‘Não me podes abandonar agora’. Insultaram-me, esbofetearam-me. ‘Vamos violar-te todos’, diziam-me. (…) Um dos militares tentou violar-me e disse-lhe que tinha VIH. ‘Se me violares vais ficar contagiado’. Pegou em mim e ejaculou na minha boca. ” Há histórias aterradoras a bordo do Aquarius, e esta é apenas uma delas. Faltavam dez minutos para as 7h, menos uma hora em Portugal continental, quando o Dattilo, da Marinha italiana, com 274 pessoas a bordo, atracou no porto valenciano. Iniciava-se então uma maratona de procedimentos que envolveu membros da Cruz Vermelha que verificavam o estado de saúde dos requerentes de asilo, tentando despistar potenciais doenças infecciosas e encaminhando várias pessoas para instalações hospitalares. Muitos dos refugiados apresentavam queimaduras causadas pelo contacto da pele com combustível e água salgada do mar. “Estão muito confusos”, explicava ao El País o subdirector de Emergências do governo regional de Valência, Jorge Suárez. “Desembarcaram e a primeira coisa que vêem são pessoas com máscaras, coletes de protecção e entram de imediato numa espécie de gincana”, acrescentou o responsável. Apesar do cansaço e da exigência física e mental de se submeterem a testes médicos, entrevistas e burocracias, Suárez sublinhou o “civismo” e a “educação” demonstrados por todos. Horas depois, chegava o Aquarius com 106 pessoas a bordo, na sua maioria os menores desacompanhados e as grávidas, que contaram com o apoio de membros de organizações humanitárias – ao contrário do que aconteceu nas outras duas embarcações por serem militares. O Orione, com 250 resgatados, foi o último a chegar já ao fim da manhã. Nos autocarros que os transportaram em seguida estava colada uma passagem da Declaração Universal dos Direitos do Homem, diz o El Mundo: “Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança da sua pessoa. Ninguém deve estar submetido à escravatura ou à servidão. ”Depois de terminados todos os procedimentos médicos e burocráticos, os 630 estrangeiros recebidos em Valência vão dispor de uma autorização de residência extraordinária por 45 dias, justificada por razões humanitárias, concedida pelo Governo espanhol. Durante esse período, os serviços de estrangeiros vão analisar os pedidos de asilo, cruzar dados e confirmar informações para decidir se é concedido acolhimento ou não. Foi distribuído também um requerimento para todos aqueles que desejem ser acolhidos em França. O Governo liderado por Emmanuel Macron disponibilizou-se para receber parte dos recusados por Itália. As pessoas provenientes de Marrocos e da Argélia – mais de meia centena – serão os casos mais óbvios, uma vez que Madrid tem acordos de deportação rápida com estes dois países. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os próximos tempos serão, portanto, de incerteza para as centenas de pessoas que chegaram a Espanha, enquanto aguardam a resposta para os seus pedidos de asilo. Várias regiões autónomas, incluindo a Catalunha, o País Basco e Extremadura, ofereceram-se para acolher temporariamente os imigrantes enquanto os seus processos são decididos. A decisão do Governo de Pedro Sánchez foi aplaudida tanto pela União Europeia como pela ONU, com o Alto-Comissariado para os Refugiados a sublinhar que esta situação nunca deveria ter sucedido. Mas o Governo de Madrid tem dito desde o início que esta foi uma situação de emergência que requeria uma resposta rápida, e quer combater a ideia de que foi aberto um precedente. Em Espanha, muitos têm alertado para o “efeito de chamada” que a abertura dos portos para receber o Aquarius pode suscitar.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Áudio capta o choro e desespero das crianças separadas dos pais na fronteira dos EUA
Mais de 2300 crianças foram retiradas dos pais desde Abril, quando a administração Trump ordenou uma política de “tolerância zero”. (...)

Áudio capta o choro e desespero das crianças separadas dos pais na fronteira dos EUA
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 11 Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Mais de 2300 crianças foram retiradas dos pais desde Abril, quando a administração Trump ordenou uma política de “tolerância zero”.
TEXTO: Retidas na fronteira, separadas dos pais, a gritar em prantos “mamã!” e “papá!”: é este o estado das crianças que estão retidas desde a semana passada num centro na fronteira entre os Estados Unidos e o México, perceptível num clipe de áudio de cerca de sete minutos divulgado pela organização norte-americana de jornalismo de investigação ProPublica. “Bem, temos aqui uma orquestra”, brinca um dos agentes da patrulha fronteiriça, enquanto as crianças choram e gritam pelos pais. “O que falta é um maestro. ”“Mamã!”, “Papá!”, ouve-se por entre gritos e choros de outras crianças, conversas de funcionários consulares e agentes. “Não chores”, diz um agente a uma criança que pede para ir com a sua tia. Ao todo, são mais de 2300 crianças (pelo menos uma centena delas com menos de quatro anos) que foram retiradas dos pais desde Abril, quando a administração Trump ordenou uma política de “tolerância zero”, que visa desencorajar a imigração sem documentos e faz com que os imigrantes sejam acusados criminalmente – uma medida que está a ser considerada “desumana” por várias organizações. Enquanto os pais que tentam entrar no país são detidos e levados para ser julgados, as crianças ficam retidas em armazéns nas fronteiras, dormindo em tendas e até em gaiolas. “É completamente errado separar as crianças das suas famílias em qualquer situação e sobretudo quando estão em sofrimento, como quem está a fugir da violência e da repressão, como é o caso das pessoas na América Central”, disse à BBC o alto comissário para os Refugiados das Nações Unidas, Filippo Grandi. “Portanto avisamos o governo dos Estados Unidos de que esta não é a forma correcta de lidar com este fenómeno de pessoas que procuram asilo do outro lado da fronteira. ”Na segunda-feira, Trump disse que não iria tolerar que os Estados Unidos se tornassem num campo de migração e agora partilhou uma série de tweets em que diz que “sem fronteiras, não há país” e oferece explicações para o que se vive na fronteira: “Temos sempre de deter as pessoas que tentam entrar no país de forma ilegal. Das 12 mil crianças, 10 mil estão a ser enviadas pelos pais numa viagem muito perigosa, e só 2000 estão a viajar com os pais, sendo que muitos deles já tentaram entrar no nosso país em várias ocasiões”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Também quero ir embora”, ouve-se uma criança a dizer no clipe de som. “Não quero que eles mandem parar o meu pai”, sussurra outra criança, em espanhol. “Não quero que eles o deportem”. “Vai ligar para a minha tia para que ela me possa vir buscar?”, pergunta uma menina de seis anos originária de El Salvador a uma funcionária, dizendo que sabe o número de cor. “Para que depois a minha mãe possa vir o mais rápido possível”, acrescenta. A ProPublica conseguiu falar com a tia da criança, que diz estar chocada com toda a situação: “Foi o momento mais difícil da minha vida. Ela estava a chorar e a implorar-me que a fosse buscar. E dizia ‘eu prometo que me vou portar bem, mas por favor tira-me daqui. Estou sozinha’”. Mais difícil ainda era o sentimento de impotência, conta, já que não podia ir buscar a sobrinha porque também tinha entrado de forma ilegal nos Estados Unidos há dois anos. “Eu sei que ela não é uma cidadã americana”, disse a tia sobre a sua sobrinha. “Mas é um ser humano. É uma criança. Como é que a podem tratar assim?”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave violência imigração campo criança ilegal
Países dos Balcãs já só deixam entrar sírios, afegãos e iraquianos
Começou a triagem das dezenas de milhares de pessoas que continuam a chegar às fronteiras da União Europeia. Imigrantes económicos mandados para trás. (...)

Países dos Balcãs já só deixam entrar sírios, afegãos e iraquianos
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 9 Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Começou a triagem das dezenas de milhares de pessoas que continuam a chegar às fronteiras da União Europeia. Imigrantes económicos mandados para trás.
TEXTO: Entram os dos países em guerra no Médio Oriente e os do Afeganistão. São mandados para trás todos os outros, oriundos de África e da Ásia. Quatro países balcânicos — Sérvia, Croácia, Macedónia e Eslovénia decidiram só aceitar no seu território pessoas que consideram refugiados, mandando para trás os classificados como imigrantes económicos. Na prática, esta nova política significa que deixam entrar nas suas fronteiras — na verdade passar, a esmagadora maioria refugiados quer seguir viagem — sírios, iraquianos e afegãos. O caminho fica vedado a paquistaneses, marroquinos, congolenses e naturais do Sri Lanka, do Bangladesh, da Libéria ou do Sudão. A necessidade de se fazer uma triagem às centenas de milhares de pessoas que chegaram e continuam a chegar à Europa — este ano, e até ao momento, 900 mil, segundo os números das Nações Unidas — foi mencionada pela primeira vez pela chanceler alemã, com o argumento de que a UE não pode absorver toda a gente e que é preciso dar prioridades a quem precisa mesmo de refúgio. Em Agosto, Angela Merkel disse que era preciso definir quem tem direito a obter asilo na União Europeia e quem não tem direito a ele — estes, disse, deveriam ser repatriados com brevidade. As declarações de Merkel nunca passaram a proposta, nunca foram discutidas oficialmente pelos Estados-membros, até devido aos problemas que a solução implica. Por exemplo, o que fazer com milhares de pessoas que já estão na Europa, em trânsito, ou como dizer à Itália e sobretudo à Grécia, onde chegam todos, refugiados e imigrantes, que têm de ficar com os “indesejados” e repatriá-los?Porém, avançaram para esta solução os quatro Estados balcânicos, que já tinham aderido a outras decisões unilaterais como o encerramento de fronteiras (Eslovénia e Croácia). Mas outros países, como a Hungria, a Alemanha ou a Suécia, já encerraram também as suas fronteiras, totalmente ou temporariamente. “Desde o meio-dia [de quarta-feira] que as autoridades sérvias só autorizam a entrada no país de refugiados sírios, afegãos e iraquianos”, disse à AFP Melita Sunjic, uma porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o organismo que alertou para o que se estava a passar. O Governo da Macedónia, adiantou a porta-voz, emitiu uma lista de países cujos cidadãos não podem entrar, nem sequer apenas para transitar para outro Estado: Marrocos, Sri Lanka, Sudão, Libéria, Congo e Paquistão. A Sérvia passou a exigir um documento de identificação — que muitos não têm — ou, na sua falta, uma declaração do governo da Grécia (o ponto de partida da maioria que opta pela rota das Balcãs para chegar aos destinos desejados) a atestar a nacionalidade do refugiado. Os refugiados e imigrantes passam da Grécia para os países balcânicos com o objectivo de prosseguir para a Alemanha ou Suécia, os dois países preferidos. Berlim, em Outubro, tinha anunciado que não consideraria os afegãos como refugiados. Bastou um destes países fechar a porta aos imigrantes económicos para que todos os outros o fazerem, provocando um efeito dominó — nenhum quer ficar com pessoas que mais ninguém recebe dentro das suas fronteiras. Além dos problemas humanitários que se acumulam, a decisão adensou a crispação entre países vizinhos. Na noite de terça para quarta-feira, a polícia sérvia mandou de volta 200 pessoas que as autoridades da Macedónia alojaram num centro em Tabanovce. Porém, relatava o jornal The Telegraph, as cem pessoas que se seguiram não tiveram a mesma sorte. Passaram a noite ao relento, disseram elementos da Cruz Vermelha, que foi autorizada a prestar assistência ao grupo e que pediu uma solução rápida para o problema, pois o mau tempo agrava-se. “Não vamos permitir que pessoas que não podem seguir caminho entrem na Sérvia. Temos de proteger o nosso país e foi por isso que tomámos medidas recíprocas em relação aos que a Eslovénia e a Croácia não querem”, disse à Reuters o responsável do Governo sérvio para a questão do fluxo migratório, Aleksandar Vulin. Na Croácia, o Governo deu ordens para a polícia de fronteiras não aceitar o regresso de 162 pessoas rejeitadas pela Eslovénia. Um porta-voz da polícia eslovena, Drago Menegalija, confirmou à AFP que só é permitida a passagem a pessoas provenientes “de países onde há conflitos militares”. Nos últimos dias vimos chegar cada vez mais gente que acreditamos serem imigrantes económicos. Por esse motivo, e de acordo com a legislação da UE — disse — tentámos sem sucesso encontrar uma solução informal para os reenviar para a Croácia”. Não explicou onde estão mais estas 162 pessoas que ninguém quer.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Hollande e Merkel apelam à união para evitar "o fim da Europa"
Discurso histórico dos dois líderes no Parlamento Europeu, num momento decisivo: "Não precisamos de menos Europa mas sim de mais Europa. A Europa deve afirmar-se, ou então assistiremos ao fim da Europa." (...)

Hollande e Merkel apelam à união para evitar "o fim da Europa"
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-10-08 | Jornal Público
SUMÁRIO: Discurso histórico dos dois líderes no Parlamento Europeu, num momento decisivo: "Não precisamos de menos Europa mas sim de mais Europa. A Europa deve afirmar-se, ou então assistiremos ao fim da Europa."
TEXTO: Os líderes da Alemanha e de França foram esta quarta-feira ao Parlamento Europeu lançar um apelo emotivo ao fim das divisões na União Europeia, em duas declarações a uma só voz que soaram a última oportunidade. Para François Hollande, a forma como a crise dos refugiados e migrantes está a ser gerida pode fazer o continente "regressar ao tempo das fronteiras nacionais", o que equivale a dizer, segundo o Presidente francês, que pode estar próximo "o fim da Europa" tal como a conhecemos. A presença no Parlamento Europeu de ambos os líderes do eixo franco-alemão, histórico motor da construção europeia, foi ela própria uma forte mensagem. Foi a primeira vez que tal aconteceu desde Novembro de 1989, quando Helmut Kohl e François Mitterrand foram juntos a Estrasburgo incentivar os seus parceiros a estarem à altura dos acontecimentos dessa época – a queda do Muro de Berlim, que acontecera semanas antes, e a posterior reunificação alemã, tendo como pano de fundo o desmembramento da União Soviética. Vinte e seis anos depois, a Europa enfrenta novos desafios, igualmente determinantes para o seu futuro, e foi por isso que Angela Merkel e François Hollande decidiram fazer uma prova de vida da influência conjunta de Berlim e Paris. François Hollande foi o primeiro dois dois líderes a discursar, e deixou claro que a União Europeia só tem um futuro se não ultrapassar as suas divergências actuais – ou seja, não ter futuro nenhum. "Não precisamos de menos Europa mas sim de mais Europa. A Europa deve afirmar-se, ou então assistiremos ao fim da Europa, à nossa morte", afirmou o Presidente francês, dirigindo-se aos líderes europeus que defendem uma maior transferência de poderes para os governos de cada país. Hollande admitiu que as instituições da União Europeia – e, naturalmente, os seus líderes – "foram lentos a perceber que as tragédias no Médio Oriente e em África teriam consequências para a própria Europa", mas defendeu que agora é tempo de tentar emendar os erros do passado. Para isso, os países da União Europeia devem "sair das suas conchas nacionais", numa referência indirecta a países como a República Checa, Hungria, Eslováquia e Roménia, que rejeitaram a imposição de um sistema de quotas para receber cerca de 120. 000 refugiados nos próximos tempos – uma proposta aprovada em Setembro por outros 23 membros da União Europeia e com a abstenção da Finlândia. "Temos de enfrentar esta tragédia humanitária que é o influxo de refugiados. A única solução é uma Europa forte", reafirmou François Hollande. Regras de asilo esão "obsoletas"Num tom semelhante, a chanceler alemã, Angela Merkel, disse que "os esforços nacionais isolados não são uma solução para a crise dos refugiados", e afirmou que as regras para a obtenção de asilo na União Europeia estão "obsoletas". "Sejamos honestos, o Protocolo de Dublin, na sua forma actual, está obsoleto. A verdade é que não provou ser sustentável face aos desafios nas nossas fronteiras. Por essa razão, defendo um novo acordo que preveja uma justa e equitativa partilha deste problema", disse Merkel. De acordo com o Protocolo de Dublin, um refugiado tem de pedir asilo no primeiro país a que chega na União Europeia, mas não é isso que tem acontecido. Milhares de pessoas têm como objectivo chegar a países como a Alemanha ou a Suécia, e não querem ser registadas na Grécia, que enfrenta graves dificuldades económicas. Depois, vêem-se numa espécie de jogo do empurra em países como a Hungria, a Croácia ou a Eslovénia, onde muitas também não chegam a ser registadas. O risco de uma deriva nacionalista na Europa foi um dos temas que mais se fez ouvir por entre as palavras da chanceler alemã, numa crítica ao crescimento de partidos como a Frente Nacional, em França, e à actuação do governo húngaro, de Viktor Orbán, que mandou construir várias vedações ao longo da fronteira com a Sérvia e com a Croácia para impedir a entrada de mais refugiados e migrantes. Sem se referir directamente à Hungria, Angela Merkel disse que respostas como a construção de vedações não fazem sentido nos dias de hoje, numa época em que "os eventos a nível global afectam a Europa, quer se queira, quer não". "Temos de reconhecer que, mesmo que nos tentássemos isolar completamente, pagando o preço de termos pessoas a sofrer nas nossas fronteiras, isso não iria ajudar ninguém. Fechar-nos e isolar-nos na época da Internet é uma ilusão. Não se resolveria nenhum problema, e surgiriam outros problemas graves. "No final dos discursos, Merkel e Hollande ouviram declarações de apoio mas também duras críticas, vindas das várias bancadas parlamentares. As mais incisivas foram lançadas pela líder da Frente Nacional francesa, Marine Le Pen, que chegou a dirigir-se ao Presidente francês como "vice-chanceler, administrador da província França". O líder do partido anti-europeísta e anti-imigração britânico UKIP, Nigel Farage, minimizou o papel de Paris e descreveu a Europa como um país "totalmente dominado pela Alemanha".
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte imigração espécie refugiado humanitária
A UE não funciona como uma união e o Pacto das Migrações é prova disso
Um documento não vinculativo e que apenas propõe uma abordagem coordenada para um fenónemo global levantou mais polémicas que o previsto. Segunda e terça-feira vai ser assinado em Marraquexe. (...)

A UE não funciona como uma união e o Pacto das Migrações é prova disso
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um documento não vinculativo e que apenas propõe uma abordagem coordenada para um fenónemo global levantou mais polémicas que o previsto. Segunda e terça-feira vai ser assinado em Marraquexe.
TEXTO: Ninguém questiona os factos que estiveram na origem deste documento: as vagas de refugiados e imigrantes vieram para ficar, nenhum país lhes pode fazer frente de forma isolada e é melhor antecipar e planear do que permitir as cenas de caos que nos últimos anos tanto ajudaram a que as migrações (um fenómeno que à partida não tem nada de negativo) provocassem medo e confusão nas opiniões públicas. Começaram por ser 193 e depois 193 menos um – os Estados Unidos de Donald Trump, que abandonaram as discussões ao mesmo tempo que se retiravam da UNESCO ou do Acordo de Paris sobre o clima. Na véspera da cimeira de Marraquexe marcada para adoptar o Pacto Global das Nações Unidas para as Migrações Seguras, Ordeiras e Regulares é quase impossível ter certezas sobre quais serão os países signatários. Muito porque entre os que hoje governam há quem tenha explorado os tais sentimentos de medo para chegar ao poder. Deveria ser um momento histórico. O acordo, desencadeado por um pedido da União Europeia depois do pico de chegadas de requerentes de asilo em 2015, tem como ponto de partida a Declaração de Nova Iorque, assinada pelos 193 estados membros da ONU em Setembro de 2016, e que tinha como propósito “cobrir todas as dimensões das migrações internacionais”. As discussões prolongaram-se por 18 meses e terminaram a 18 de Julho; alguns dos países que entretanto anunciaram que não assinarão foram dos que mais activamente participaram na sua redacção, como a Austrália ou a Áustria. Para além disso, o que choca as agências da ONU, Louise Arbour, a representante especial da ONU para as Migrações Internacionais, que foi a principal interlocutora nos debates, e a própria Comissão Europeia, é o abandono de vários estados da UE, cujas preocupações estiveram na origem do próprio documento. A ideia não oferece grandes dúvidas – aliás, os defensores interrogam-se se os críticos terão lido o documento, 34 páginas divididas entre preâmbulo (onde se citam as Declarações e Convenções a que este documento vai beber), um conjunto de “ambições comuns” e 23 objectivos, com as três páginas finais destinadas à realização dos seus propósitos e ao método para avaliar essa mesma concretização. O Pacto começa por recordar que a “migração tem sido desde sempre parte da experiência humana” e reconhece-a como “fonte de prosperidade, inovação e desenvolvimento sustentável no nosso mundo globalizado”, sublinhando que esses “impactos positivos podem ser optimizados com melhorias na gestão”. Admitindo que “a migração afecta de forma indesmentível os nossos países e comunidades, os próprios imigrantes e famílias de formas diferentes e por vezes imprevisíveis”, o pacto oferece um compromisso entre a afirmação dos direitos das pessoas que se deslocam e a soberania nacional dos países. Por definir ficam, por exemplo, o que podem as instituições fazer contra os que não protejam os imigrantes. Pessoas que, não sendo refugiadas e não tendo acesso à protecção da lei internacional, “podem exercer os seus direitos humanos através do acesso seguro a serviços básicos, independentemente do seu estatuto”. Em resumo, o Pacto Global para as Migrações define “um entendimento comum, responsabilidades partilhadas e unidade de propósitos a respeito da migração”. Ao longo do texto descreve-se um “enquadramento de cooperação” para gerir estes fluxos com a ideia de limitar a pressão nos países que têm muitos recém-chegados e promover a independência destas pessoas. Nada de muito ameaçador. Para além de garantias absolutas de soberania na definição de políticas por cada Estado individual, o Pacto não constituiu lei internacional, é um documento não vinculativo que procura oferecer um caminho para migrações ordeiras e planeadas, que não ponham em causa a vida dos que se deslocam nem o equilíbrio dos países que procuram. Na prática, tem como prioridade o objectivo simbólico de demonstrar que os países podem encontrar áreas de interesse mútuo na cooperação sobre as migrações. Com tantas garantias, é difícil perceber que a decisão final sobre assinar o documento tenha ameaçado a sobrevivência de governos como o da Bélgica, Holanda (que ultrapassou um voto de confiança no Parlamento mas vai exigir acrescentar uma “declaração adicional” para se proteger contra potenciais consequências legais), Eslovénia (o Governo vai assinar mas o Presidente exige explicações adicionais) ou Croácia (a Presidente recusa ir a Marraquexe e conta com o apoio de vários partidos, mas o governo nacionalista de centro-direita deverá assinar o texto). De fora, com toda a certeza, ficarão Estados Unidos, Israel, Austrália, Suíça, os países do Grupo de Visegrado – Polónia, República Checa, Eslováquia e Hungria –, Bulgária, Áustria e Itália (a decisão final de Roma parece ser “congelar” a assinatura). Há grande oposição interna na Alemanha (os governos de Angela Merkel foram os principais impulsionadores e líderes no processo de redacção), França ou Reino Unido. “Nós vamos decidir como melhor controlar as nossas fronteiras e quem será autorizado a entrar no nosso país”, afirmou a então embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley, para justificar o abandono de Washington, em Dezembro de 2017. O documento fala em migrações regulares (que devem ser incentivadas através da criação de mais vias legais) e irregulares, mas evita os termos “legais” e “ilegais” que tantos governos usam para justificar as suas políticas. Para EUA e Áustria, por exemplo, só isto seria uma linha vermelha. Evitar as detençõesOutra questão que levanta objecções é o compromisso para rever legislação e políticas que garantam que “os imigrantes não são detidos de forma arbitrária, que a decisão de os deter se baseia na lei, é proporcional, tem um objectivo legítimo e é tomada individualmente, sem violar o Estado de direito e as salvaguardas processuais, e que a detenção não é usada como dissuasor ou tratamento degradante, desumano e cruel dos migrantes”. Ora, a Austrália, que tem centros de detenção fora do seu território, nas Ilhas Manu e em Nauru, para requerentes de asilo, e manda para trás barcos no mar (prática condenada pela lei internacional), não admite comprometer-se com nada que ponha em causa esta política “bem-sucedida”. Várias estranhezasNa mesma lógica, e num momento em que a UE sabe que diferentes países membros recusam receber requerentes de asilo resgatados no Mediterrâneo que são devolvidos à Líbia (o que é ilegal, já que o país não é considerado um porto seguro, para além de se saber que o destino é a detenção e os maus-tratos) e nada faz para o evitar, é paradoxal que Bruxelas condene o abandono do pacto de alguns dos seus estados sem assumir que a União, como um todo, não faz o suficiente para impor a legalidade no seu espaço comum. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O primeiro-ministro português, António Costa, estará em Marraquexe segunda e terça-feira para assinar o Pacto Global, confirmou no final da semana em Bruxelas o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita. “Nós respeitamos a posição dos vários estados, mas transmitimos a nossa estranheza por o país da presidência [Áustria], que tem aqui responsabilidades especiais, não ser signatário deste pacto, que foi também negociado pela União Europeia”, afirmou o ministro. “A UE não conta mais enquanto tal”, lamentou Jean Asselborn, ministro dos Negócios Estrangeiros e da Imigração do Luxemburgo. “Se há um tema a tratar por parte das Nações Unidas é o das migrações, onde é preciso uma cooperação entre os países de partida, os de trânsito e os de destino. A UE não pode deixar o peso nos dois ou três países de fronteira. ” Ora, é precisamente isto que este pacto visa evitar e estranho é que alguns dos que o recusam são países de fronteira, sobrecarregados, como Itália.
REFERÊNCIAS:
Entidades UNESCO ONU EUA UE
O Natal da vírgula: relevância vs. intensidade
Os debates intensos mas poucos relevantes esgotam quase toda a largura de banda de que dispomos para os debates relevantes mas talvez pouco intensos que deveríamos ter (...)

O Natal da vírgula: relevância vs. intensidade
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os debates intensos mas poucos relevantes esgotam quase toda a largura de banda de que dispomos para os debates relevantes mas talvez pouco intensos que deveríamos ter
TEXTO: Nenhuma quadra natalícia fica completa sem a sua dose de momentos incómodos em família. Há uns anos, na minha aldeia e na minha família, dois dos meus irmãos zangaram-se a sério por causa de uma vírgula. Vou correr o risco de tentar contar a história sem que nenhum deles se zangue comigo — lembrem-se por favor, meus irmãos, que eu gosto muito de vocês e que só trago aqui esse Natal longínquo por causa do seu potencial pedagógico. Em traços largos, e sem querer reabrir a polémica, o que se passou foi o seguinte. Um dos irmãos tinha oferecido um livro de poesia sua a todos nós; todos agradecemos, mas passado um pouco outro dos meus irmãos diz “olha, tens aqui uma gralha”. “Uma gralha, a sério, onde?!”. “Aqui logo no primeiro poema, olha”. “O quê, essa vírgula? Isso não é uma gralha”. “Ai é sim”. “Não é não”. E por aí adiante. Todos achámos imensa piada ao diálogo; achámos menos piada quando ele se prolongou por todo o almoço de Natal e continuou enquanto descíamos a aldeia até ao café na sociedade recreativa, e depois disso. Acho que vou deixar a história por aqui. Quem nunca teve uma discussão familiar no Natal que atire a primeira pedra. Só trago esta história para falar de uma coisa importante: a distinção entre relevância e intensidade no debate público. A discussão sobre se aquela vírgula era ou não uma gralha foi certamente intensa; a sua relevância não era, no entanto, grande. O cientista político Wallace Stanley Sayre (1905-1972) alegaria que é precisamente porque a discussão era pouco relevante que ela se tornou tão intensa: uma chamada Lei de Sayre proclama que “em qualquer debate a intensidade dos sentimentos é inversamente proporcional à relevância dos valores em causa”. Todos os anos temos uma quantidade infinda de controvérsias, casos e polémicas. Em política, em futebol e casos sociais mais ou menos corriqueiros. Muitas vezes a intensidade do debate é tanta que não se fala de mais nada. Se nos perguntarmos, porém, passado umas semanas, se esse debate resultou em qualquer consequência significativa de que nos lembremos, a resposta é quase sempre negativa — o debate era, na prática, irrelevante. Evitarei exemplificar por uma razão: como os meus irmãos poderiam demonstrar, o debate é sempre imensamente relevante para quem o vive com intensidade. Experimentem dizer a alguém que vive um debate com muita intensidade (seja ele sobre o acordo ortográfico, as burkas ou o vídeo-árbitro) que este é pouco relevante e vejam como essa pessoa reage. Só há uma coisa pior do que estar do lado contrário a um adepto de um desses debates; é estar de lado nenhum, ou seja, estar do lado de que o debate não é assim tão importante. Evitarei portanto particularizar, mas ainda assim direi: o meu desejo de novo ano — um ano importante, que será eleitoral na Europa e em Portugal — é que nos tornemos conscientes, em cada momento, da relevância e da intensidade de cada debate que iniciamos. Não peço que tenhamos apenas debates hiper-relevantes e que nos escusemos às polémicas hiper-intensas. Isso seria provavelmente exigir a nós mesmos um auto-controle individual e coletivo praticamente impossível. Mas a verdade é que os efeitos da Lei de Sayre na era das redes sociais globalizadas começam a ser decisivos para a política que temos e o futuro que teremos. Por duas razões. A primeira é que os debates intensos mas poucos relevantes esgotam quase toda a largura de banda de que dispomos para os debates relevantes mas talvez pouco intensos que deveríamos ter. Se eu escrever sobre um deputado que ressonou no hemiciclo tenho milhares de partilhas; quando escrevo sobre os votos que se perdem em mais de metade do país, na qual os círculos eleitorais só elegem deputados dos dois maiores partidos, violando o princípio da igualdade entre portugueses, terei no máximo uma dezena de partilhas. E no entanto, ninguém duvidará que o segundo debate é muito mais relevante do que o primeiro. A segunda razão é que há movimentos políticos de sucesso baseados na artimanha de saber injetar na sociedade debates intensos mas não necessariamente relevantes. Donald Trump é o símbolo máximo dessa tendência: ganhou a Casa Branca ao prometer fazer um muro anti-imigração num momento em que a imigração diminuía e quando a maior parte dos imigrantes não chegam por fronteira terrestre — e isso ainda antes de lembrarmos que, na verdade, a imigração tem sido enormemente positiva para o seu país. Outros exemplos serão os da reintrodução da pena de morte ou da diminuição do número de deputados; ambos debates que não resolvem nenhum dos problemas que dizem procurar resolver mas que conseguem, em determinadas circunstâncias, concentrar a atenção do eleitorado em vigaristas e autoritários. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Não por acaso, há quem esteja interessadíssimo em que esses debates ocupem os públicos de determinados países-chave. Relembre-se como os canais e os perfis falsos em redes sociais controlados por Putin amplificaram um falso caso de uma violação na Alemanha, supostamente perpetrada por refugiados, num momento decisivo para o crescimento do partido de extrema-direita AfD, Alternativa para a Alemanha. Em 2019 antevejo a ocorrência de inúmeras tentativas de manipular a opinião pública europeia e nacional, sem que em cada caso se façam as seguintes perguntas: quantos casos destes existem mesmo? quantas pessoas são realmente afetadas pelos factos em apreço? que efeitos práticos terão as pseudo-soluções propostas por quem domina o debate com pseudo-polémicas? e por que razão se fala disto mas não de pobreza infantil, ou de quem dorme na rua, ou das alterações climáticas, ou do futuro de Portugal e da Europa em plena globalização?Uma sociedade madura saberá em cada momento fazer estas perguntas e desvalorizar o que deve ser desvalorizado.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte lei imigração violação igualdade pobreza infantil
Itália clama vitória com 629 resgatados ainda em alto mar
O primeiro-ministro espanhol tentou resolver esta crise e Bruxelas agradeceu. Era demasiado tarde. Como começa a ser escasso o tempo para a UE se salvar, conseguindo chegar a acordo para uma abordagem conjunta às chegadas de requerentes de asilo. (...)

Itália clama vitória com 629 resgatados ainda em alto mar
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: O primeiro-ministro espanhol tentou resolver esta crise e Bruxelas agradeceu. Era demasiado tarde. Como começa a ser escasso o tempo para a UE se salvar, conseguindo chegar a acordo para uma abordagem conjunta às chegadas de requerentes de asilo.
TEXTO: São 629 pessoas, incluindo 123 menores não acompanhados, 11 bebés e sete grávidas. São 629 pessoas, incluindo algumas que no sábado, quando foram resgatadas do mar, tiveram de ser reanimadas, salvando-se de morrer afogadas por minutos. São 629 pessoas que o Governo de Itália proibiu que desembarquem nos seus portos. Malta também não quis, enviando-lhes a comida que já faltava a bordo. São 629 pessoas que o novo primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, tentou salvar ao decidir acolhê-las. Falta salvar a própria União Europeia e isso não parece haver quem consiga. Eram 22h em Itália, em Malta e em Valência, cidade que se preparava para receber a chegada do navio MS Aquarius (uma hora a menos em Portugal continental), e as 629 pessoas a bordo, mais os membros da ONG franco-alemã SOS Méditerranée que gere o navio, auxiliada pelos Médicos Sem Fronteiras (MSF), continuavam sem ordens para rumar à costa espanhola, a 1300 quilómetros e três dias de distância em linha recta. A notícia da oferta já chegara a bordo, mas faltava a “notificação oficial dos centros de coordenação de resgate marítimos de Itália ou Espanha”. Quando esta chegou, quase às 23h, o capitão e coordenador-geral do navio, Nicola Stalla, decidiu que “nas circunstâncias actuais não podem ir para Espanha, porque isso significa pôr em risco o barco, a tripulação e as pessoas regatadas”. O navio está sobrecarregado e as condições meteorológicas vão piorar nos próximos dias, explicou ainda Stalla. Os 629 requerentes de asilo (refugiados e imigrantes) foram resgatados de botes e das águas do Mediterrâneo entre sábado e domingo de manhã. Muitos – 400 – foram entregues às ONG pela Guarda Costeira italiana. A certa altura, no domingo, a SOS Méditerranée recebeu instruções do Centro de Coordenação de Resgate Marítimo Italiano para ficar onde se encontrava, e de onde não mais saiu, a 65 quilómetros de Itália e a 50 de Malta. Já a noite ia alta a bordo quando David Beversluis, médico dos MSF, afirmava que a maioria dos resgatados tem “sintomas generalizados como fadiga, desidratação, dores musculares, de cabeça e enjoos”, notando que as condições de “stress” e “amontoamento” em que se encontram levariam a que muitos piorassem em breve. “A maioria está a dormir ao relento. Estão obviamente exaustos, estiveram expostos aos elementos, passaram 20 ou 30 horas no mar antes do resgate”, descrevia antes Anelise Borges, uma jornalista a bordo segundo a qual a maioria dos resgatados são ganeses, eritreus e sudaneses. Sabe-se que umas 20 pessoas têm queimaduras graves de combustível (derramado dos barcos de borracha baratos com que deixaram a Líbia) misturado com água do mar que requerem cuidados regulares, outros necessitam de cirurgias ortopédicas e alguns tiveram de ser reanimados depois de uma difícil operação de salvamento na noite de sábado. A bordo, David Beversluis tinha apenas um pedido: um porto de abrigo onde atracar o mais depressa possível, evitando assim “o risco de ter muitos mais pacientes graves” com que a sua pequena equipa não conseguirá lidar. “Salvar vidas é uma obrigação, tornar Itália num enorme campo de refugiados não é”, afirmou o ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, justificando assim a sua recusa em deixar atracar o navio (mesmo depois de uma série de presidentes de câmara, de Nápoles a Palermo, se terem disponibilizado para acolher os resgatados). “A Itália já não se curva e obedece – desta vez há alguém que diz não”, escreveu na sua conta de Twitter o líder do partido xenófobo e anti-imigração Liga, que passou o dia a usar hashtags como #portasfechadas ou #portosfechados. Era uma tempestade à espera de acontecer. Salvini já tinha dito ao que vinha, em campanha e quando chegou ao Governo, teve agora a oportunidade de o demonstrar. Pedro Sánchez tentou resolver esta crise, mostrando-se solidário com os resgatados e aproveitando para dizer à UE que pode contar com o seu recém-criado Governo, mas mesmo que este navio estivesse a caminho de Espanha seria apenas um. Aliás, já há mais 790 pessoas resgatadas no domingo a bordo de navios da Guarda Costeira italiana à espera de porto para desembarcar, confirmaram os seus responsáveis à agência Efe. “Abrimos uma frente em Bruxelas”, congratulava-se Salvini, que na véspera defendera que deveria ser Malta a receber o SOS Méditerranée, uma vez que raramente responde aos pedidos de auxílio no mar e “está mais perto de África do que a Sicília”. E ainda: “A França empurra as pessoas de volta para a fronteira, a Espanha defende a sua fronteira com armas, a Itália também vai começar a dizer ‘não’ ao tráfico humano, não ao negócio ilegal da imigração”. Salvini parece ter-se esquecido de que em causa estão pessoas. Mas não deixa de ter razão quando acusa a UE de falta de solidariedade – e falta, tal como falta uma política comum, fracassadas as tentativas para levar os Estados-membros a chegar a um consenso. O resultado é que os países de chegada (Grécia e Itália, principalmente), onde segundo as regras de Dublin os recém-chegados têm de pedir asilo, nunca conseguiram gerir os elevados números de requerentes de asilo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Numa reunião onde Salvini não esteve, na semana passada, no Luxemburgo, voltou a falhar a tentativa de impor um sistema comum de quotas, com os ministros do Interior a regressarem a casa sem acreditar que seja possível chegar a um acordo antes da próxima cimeira europeia, no fim do mês. “Se não somos capazes de chegar a uma resposta comum aos desafios das migrações, então são as próprias fundações da UE que estarão em risco”, afirmou Merkel depois dos encontros da semana passada. Para o ministro do Interior belga, Theo Francken, a Europa “vai acabar, a não ser que os Estados-membros consigam chegar a acordo para uma abordagem conjunta, o que, de momento, não parece possível”. No MS Aquarius, Olajumoke Adeniran, de 30 anos, o marido e os dois filhos, Donald e Progress, nascidos já na Líbia, preparavam-se para uma segunda noite a bordo. “Tive muito medo, nunca tinha visto tanta água. Nunca”, contou Adeniran a Naiara Gortázar, jornalista a bordo. “Quanto tempo durará isto?”, perguntou mais tarde à jornalista, bebé de colo bem agarrado a si. Face ao “não sei” que ouviu como resposta, nova pergunta: “Isto pode durar um mês?”.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Se dúvidas houvesse, é Salvini quem manda
O novo ministro do Interior é o homem forte do Governo italiano. E promete causar muitas dores de cabeça em Bruxelas. (...)

Se dúvidas houvesse, é Salvini quem manda
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: O novo ministro do Interior é o homem forte do Governo italiano. E promete causar muitas dores de cabeça em Bruxelas.
TEXTO: Não lidera o partido mais votado nas eleições de 4 de Março mas não deixou, por isso, de tomar conta das negociações para a formação do Governo que tomou posse a 1 de Junho, depois de amuos, avanços e recuos. Desde a ida a votos que Matteo Salvini e a sua Liga (extrema-direita, obteve 17% e foi o mais votado na coligação de direita) mandam na direita italiana. Mais do que isso, mandam do país, como se comprovou nos últimos dias, com Salvini a ser voz de comando na polémica recusa de deixar aportar um navio com 629 pessoas resgatadas do Mediterrâneo a bordo. O Movimento 5 Estrelas, com 32%, foi o vencedor claro das legislativas, mas o seu líder, Luigi Di Maio, queria chegar ao poder a qualquer custo – o custo foi Salvini, o novo ministro do Interior. Como nenhum podia ser primeiro-ministro, são ambos vice-presidentes do executivo liderado por Giuseppe Conte (jurista e professor de Direito sem qualquer experiência política), que apenas se ouviu já na segunda-feira à tarde para agradecer a Espanha o “gesto de solidariedade”, ao aceitar receber o navio. Na prática, já se sabia que os verdadeiros chefes do novo Governo italiano seriam Di Maio e Salvini, mas este último não deixa para mais tarde o que pode começar já a fazer: mandar. Primeiro, conseguiu que o contrato de governação com o M5S espelhasse em grande parte o programa da Liga, com enfoque na criminalização de imigrantes e refugiados (há 500 mil pessoas em situação irregular em Itália, das 600 mil que ali chegaram nos últimos cinco anos, e a promessa é expulsá-las a todas) e medidas como a autorização de porte de arma aos cidadãos. Agora, é Salvini a comprar a primeira grande polémica com a União Europeia ao impedir o desembarque dos requerentes de asilo a bordo do MS Aquarius, operado pela ONG franco-alemã SOS Méditerranée em cooperação com os Médios Sem Fronteiras. A estreia do Governo em choques de frente com Bruxelas, serão vários, já se sabia, e só ele se ouviu. Salvini “só” queria a pasta do Interior, ele que prometeu uma Itália que “põe os italianos primeiro” e acabar com a insegurança que atribui à presença de indocumentados. Foi assim que sequestrou a campanha eleitoral, com a sua “invasão migratória” – na verdade, as novas chegadas diminuíram 85% este ano, face a 2017, graças a acordos de legalidade altamente duvidosa assinados entre o anterior governo e as autoridades líbias para que as pessoas não cheguem a deixar as costas da Líbia. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Populista e xenófobo, está a fazer do seu programa o programa do Governo. Desde a tomada que posse, quase todos os dias Salvini falou de imigrantes e refugiados. “Acabou o recreio, façam as malas e partam”, disse-lhes. “A Itália está sob ataque do Sul, não do Leste”, afirmou, ao explicar que iria pedir ajuda à NATO (que tem como tradicional centro de atenção a Rússia, a Leste) para defender o país. Até chegar o MS Aquarius e Salvini ter a oportunidade que esperava para mostrar que está a falar a sério. “Levantar a voz compensa”, reagiu, ao saber da oferta do novo primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, para receber o navio em Valência. Di Maio, que para além da vice-presidência ficou com a pasta do Desenvolvimento Económico e do Trabalho, ainda tentou salvar a face com um comunicado em que garante que “não há situações de emergência a bordo” do MS Aquarius e que, por se encontrarem ali grávidas e outras pessoas a necessitar de intervenção médica, o seu Governo “enviou de imediato lanchas com pessoal médico”. Entretanto, realizou-se a primeira volta das eleições municipais e regionais este fim-de-semana, com a Liga a subir e o M5S a manter mais ou menos os resultados de 2013. Mais um motivo para Salvini sentir que pode e manda – com voz grossa, de preferência.
REFERÊNCIAS:
Entidades NATO