Iémen, a chacina que não indigna governos nem opiniões públicas
“Os civis não estão a morrer à fome no Iémen, estão a ser mortos à fome”, diz o secretário-geral do Conselho Norueguês para os Refugiados. A ONU avisa que se a guerra continuar até 13 milhões de civis podem morrer à fome. (...)

Iémen, a chacina que não indigna governos nem opiniões públicas
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: “Os civis não estão a morrer à fome no Iémen, estão a ser mortos à fome”, diz o secretário-geral do Conselho Norueguês para os Refugiados. A ONU avisa que se a guerra continuar até 13 milhões de civis podem morrer à fome.
TEXTO: Em Março terão passado quatro anos desde que uma coligação liderada pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos começou a bombardear o Iémen a pretexto de defender um Governo reconhecido internacionalmente mas quase sem território, atacado pelos huthis, supostas “marionetas do Irão”. Em 2016, essa intervenção já tornada o Iémen cenário de um dos piores desastres humanitários da actualidade. Agora, o país está à beira “da pior fome no mundo em 100 anos”, avisa a ONU. Ninguém sabe quantos são os mortos – mais de 10 mil é um número repetido há quase dois anos – mas a Save the Children estima que só este ano podem morrer de malnutrição 50 mil crianças, numa média de 130 por dia. “As crianças têm metade do tamanho do que deviam ter para a idade: um miúdo de sete anos pode parecer ter quatro. As caixas torácicas estão à vista”, descreveu ao jornal Independent Sylvia Ghaly, da ONG, a partir de Sanaa, a capital. “Os civis não estão a morrer à fome no Iémen, estão a ser mortos à fome”, afirmou esta semana Jan Egeland, secretário-geral do Conselho de Refugiados Norueguês. “Que fique registado que que a maior fome a que assistimos hoje é completamente provocada pelo homem, pelas partes em conflito e pelos seus patrocinadores internacionais. ”Se o conflito continuar, o Iémen pode enfrentar “a maior fome do mundo em 100 anos”, diz a ONU. Segundo a coordenadora das Nações Unidas para o país, Lisa Grande, até 13 milhões de civis podem morrer à fome se as forças lideradas por Riad não puserem fim aos bombardeamentos. Entretanto, mais de 1, 1 milhões estão infectados com cólera. “Se a situação persistir, podemos ter mais 3, 5 milhões de iemenitas em grave insegurança alimentar, a necessitar de assistência regular para não deslizarem para condições de fome”, afirmou o porta-voz do Programa Alimentar Mundial, Herve Verhoosel. Estes 3, 5 milhões juntar-se-iam aos 8, 5 milhões que já estão em risco, num país de menos de 30 milhões. Relatórios da ONU apontam para responsabilidades partilhadas, culpando tanto os xiitas huthis como Riad e Abu Dhabi, mas não só os ataques aéreos das forças árabes têm causado um grande número de mortos entre a população como são estas que mantêm encerrados os principais portos de entrada de ajuda (oficialmente, para evitar o desembarque de armas iranianas), isto num país que já era o mais pobre da Península Arábica e importava 90% dos produtos alimentares. Nesta guerra, os sauditas contam com os mísseis e as bombas que compram aos Estados Unidos (e não só) mas também com a assistência dos serviços secretos americanos na escolha dos alvos e das forças do país na região para reabastecerem aviões em voo. O Reino Unido também contribui com armas e informações dos seus serviços secretos. Em nome da chacina iemenita, países como a Alemanha ou Espanha anunciaram recentemente que iam anular contratos de vendas de armas a Riad, mas acabaram por recuar para não perderem outros valiosos negócios de defesa – no caso espanhol, a venda de cinco navios de guerra por 1, 8 mil milhões de euros. “Como é que a morte de um jornalista provoca as reacções que milhares de mortes iemenitas não provocaram”, escreve Max Fisher na sua coluna The Interpreter, no jornal The New York Times. Não é uma pergunta: o jornalista e colunista dedica todo o texto a explicar por que é que a morte de Jamal Khashoggi, que desapareceu no consulado saudita de Istambul no início do mês, desencadeou uma vaga de críticas e de vozes a questionar a impunidade de Riad (ao contrário do Iémen). Em Washington, por exemplo, muitos vêem Khashoggi “como um de nós”, escreve, um democrata, que estudou nos EUA, que escreve no Washington Post. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O principal motivo para a tragédia iemenita não provocar a indignação que o caso de Khashoggi levantou junto de governos e das opiniões públicas ocidentais, escreve Fisher, passa por nos ser mais fácil digerir uma só morte do que milhares. E pelo efeito de identificação que o perfil de uma pessoa provoca, por oposição a números de mortos num país distante, onde quase não sobram jornalistas para contar as histórias por trás das estatísticas. Entretanto, os sauditas, liderados pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, ministro da Defesa e Política Externa e responsável pela decisão de iniciar esta guerra, não dão mostras de qualquer recuo. A impetuosidade do príncipe vem acompanhada de teimosia – a tribo huthi, de confissão xita, mantém grande parte do território que controlava em 2015, mas os comandantes militares árabes insistem em anunciar vitórias significativas com regularidade. Fisher espera que a pressão provocada pelo caso de Khashoggi – que muito criticou esta guerra nos seus textos – funcione como a gota de água que levará o mundo a reparar nos outros abusos sauditas. Caso contrário, os iemenitas vão continuar a morrer.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU EUA
Ana Gomes: “O nosso maior aliado foi Alatas”
Durante seis meses, Ana Gomes, o chefe da diplomacia da indonésia, e quem viria a ser Presidente da Indonésia, tiveram um programa de rádio aos sábados de manhã para convencer os refugiados a regressarem a Timor. (...)

Ana Gomes: “O nosso maior aliado foi Alatas”
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 9 | Sentimento 1.0
DATA: 2018-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Durante seis meses, Ana Gomes, o chefe da diplomacia da indonésia, e quem viria a ser Presidente da Indonésia, tiveram um programa de rádio aos sábados de manhã para convencer os refugiados a regressarem a Timor.
TEXTO: “Não sei se é comum na diplomacia o que se passou, não era amiga do Ali Alatas mas sempre tive respeito por ele que era um grande diplomata, mas pouco a pouco percebi que estava genuinamente interessado numa solução do problema de Timor e que queria a melhoria das relações com Portugal”. Foram anos de conhecimento mútuo que Ana Gomes, primeiro na ONU em Nova Iorque, depois como responsável da Secção de Interesses de Portugal na capital indonésia e, mais tarde, durante três anos como embaixadora, teve com o chefe da diplomacia da Indonésia. “Vim a saber que ele tinha sido o travão para que o Shuarto e família não confiscassem “A nossa casa”, a antiga embaixada portuguesa de 1945 no melhor bairro de Jacarta”, revela. “Alatas era de uma família de comerciantes iemenitas, o seu pai era um homem de negócios, a casa deles era uma casa aberta, cosmopolita, que com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e Megawati Sukarnoputri na presidência, recuperámos porque tinha vestígios culturais portugueses. Foi assim que recuperámos o Museu Têxtil de Jacarta, a antiga casa da família Alatas”, revela. “Há um dia em que a minha relação pessoal com Alatas se intensifica e a partir do qual ficámos amigos”, afirma. “Foi quando o braço local da Al Qaeda começou a operar com um ataque no Verão de 2000, durante a visita de um barco holandês a cuja recepção eu e o meu colega da Holanda éramos os únicos embaixadores presentes ao lado de Alatas”, destaca. “Lembro-me que fui numa charrete com o Alatas e a mulher quando mais ninguém apareceu”, descreve. “Se até então já tinha provas de correcção, a partir de então tive provas de amizade”, salienta. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Para Alatas, Timor era um desafio profissional, ele era um jovem diplomata quando ocorreu a ocupação do território e tudo era para ele um desafio político, pessoal e profissional”, assegura Ana Gomes. A questão de Timor terá mesmo custado ao ministro dos Negócios Estrangeiros da Indonésia a corrida a secretário-geral das Nações Unidas. A antiga embaixadora destaca o papel do chefe da diplomacia de Jacarta depois da independência. “Foi o mais arriscado que fiz, tínhamos 250 mil timorenses que era necessário convencer a voltarem a Timor e foi fundamental a articulação com Alatas e o que viria a ser Presidente da Indonésia, um militar que achava que o problema de Timor se tinha de resolver politicamente, e que na altura era ministro coordenador da Segurança”, relata. Conhecido por Syb, Susilo Bambang Yudhoyono foi importante. “Conheci-o a seguir ao 7 de Setembro, quando as milícias de Eurico Guterres assassinaram três funcionários da ONU”, recorda: “Todos os sábados de manhã durante seis meses, eu, o Alatas e o Syb fizemos um programa de rádio para convencer os refugiados a regressarem a Timor. ”De Alatas, as memórias não se esgotam no processo que levou à independência de Timor. “Já depois da independência, Alatas convidou-me para uma sessão na sua escola diplomática sobre Timor”, arranca a ex-embaixadora. “Uma das coisas que lhes disse é que tinha sido um erro terem escolhido Nuno Rocha como testa-de-ferro em Portugal, pois este depois de criticar a situação em Timor no âmbito de um seu ataque à descolonização passou a defender a integração”, afirma. Sobre Alatas, conclui peremptória: “O nosso maior aliado foi Alatas. " N. R.
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Entidades ONU
Banco Mundial destina 176 mil milhões de euros ao combate às alterações climáticas
Os líderes do Banco Mundial alertam que o número de refugiados climáticos e pessoas em situação de pobreza aumentará ao mesmo ritmo que a temperatura global sobe. A organização reafirma assim o seu compromisso com o Acordo de Paris, que está agora em discussão na COP24. (...)

Banco Mundial destina 176 mil milhões de euros ao combate às alterações climáticas
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-03 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os líderes do Banco Mundial alertam que o número de refugiados climáticos e pessoas em situação de pobreza aumentará ao mesmo ritmo que a temperatura global sobe. A organização reafirma assim o seu compromisso com o Acordo de Paris, que está agora em discussão na COP24.
TEXTO: O Banco Mundial revelou nesta segunda-feira que tem preparado um investimento de 200 mil milhões de dólares (176 mil milhões de euros) para combater as alterações climáticas. O fundo será aplicado entre 2021 e 2025 e corresponde ao dobro do financiamento que está a ser aplicado actualmente. O anúncio do investimento coincide com a conferência da ONU para o clima (COP24), que junta cerca de 200 países na cidade polaca de Katowice. “As alterações climáticas são uma ameaça existencial mundial para os mais pobres e mais vulneráveis”, comentou o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, citado pelo jornal britânico The Guardian. Também a directora-executiva da organização, Kristalina Georgieva, referiu que “as pessoas estão a perder as suas vidas e os seus meios de subsistência por causa dos efeitos catastróficos das alterações climáticas”, argumentando que é preciso “lutar contra as suas causas, mas adaptar-se às consequências”. O financiamento de 176 mil milhões de euros é bipartido: metade provém directamente do Banco Mundial e outra metade é dividida entre duas agências do grupo e de fundos privados. “Se não reduzirmos as emissões e criarmos medidas de adaptação agora, em 2030 teremos mais 100 milhões de pessoas a viver em situação de pobreza”, afirmou à agência AFP o responsável pela pasta do aquecimento global no Banco Mundial, John Roome. E refere que, se nada for feito, existirão ainda 133 milhões de refugiados climáticos, pessoas forçadas a sair das suas terras-natal por causa das alterações climáticas. Em 2018, o Banco Mundial dedicou 20, 5 mil milhões de dólares (cerca de 18 mil milhões de euros) ao combate às alterações climáticas, cumprindo a meta que foi estabelecida no Acordo de Paris – mas o grupo decidiu que precisava de dar um contributo maior. O objectivo do Acordo de Paris, que está agora no cerne do debate na COP24, é fazer com que a comunidade internacional se comprometa a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e, com isso, limitar a subida da temperatura bem abaixo dos dois graus Celsius até 2100 em relação aos níveis pré-industriais. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O acordo prevê ainda a tentativa de limitar o aumento da temperatura a 1, 5 graus Celsius em relação a esses níveis pré-industriais. A ONU publicou um relatório no final de Novembro em que referia que o compromisso internacional não estava a ser cumprido por todos os países, levando a que as emissões de dióxido de carbono tenham aumentado pela primeira vez em quatro anos – no relatório alertava-se ainda para a necessidade de os governos serem mais ambiciosos, devendo triplicar esforços para atingir as metas do Acordo de Paris. Na cerimónia de abertura da COP24, nesta segunda-feira, o naturalista britânico David Attenborough foi peremptório ao afirmar que as alterações climáticas são a maior ameaça que a humanidade enfrentou nos últimos milhares de anos. “Se não agirmos, o colapso das nossas civilizações e a extinção do mundo natural avistam-se no horizonte”, insistiu. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, corroborou e disse que o aumento da temperatura global é “uma questão de vida ou de morte”.
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Entidades ONU
Sobre o que vão falar Marcelo e Zeman, símbolo de duas Europas?
O Presidente da República Checa “gosta muito” de Trump, é nacionalista, não quer receber um único refugiado sírio e é visto como um dos mais populistas líderes da União Europeia. (...)

Sobre o que vão falar Marcelo e Zeman, símbolo de duas Europas?
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Presidente da República Checa “gosta muito” de Trump, é nacionalista, não quer receber um único refugiado sírio e é visto como um dos mais populistas líderes da União Europeia.
TEXTO: Em comum quase só têm o comércio livre (que defendem) e o cargo (são chefes de Estado da União Europeia). Em tudo o resto, Marcelo Rebelo de Sousa e o checo Milos Zeman pertencem a mundos opostos. E na anunciada “nova guerra fria” representam visões claramente diferentes sobre o futuro da Europa. O contraste poderá não ser evidente durante a visita de Estado que o Presidente da República checo inicia esta quarta-feira a Portugal. Milos Zeman — um dos raros líderes da União a declarar oficialmente apoio à candidatura de Donald Trump — fará o percurso clássico, da campa de Luís de Camões, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, à Assembleia da República, passando pelo Palácio de Belém. E repetirá os passos dos dois chefes de Estado que Marcelo Rebelo de Sousa recebeu com a mesma solenidade nestes primeiros nove meses de mandato: Sissi, do Egipto, e o rei Felipe VI de Espanha. Mas a diplomacia portuguesa sabe que, tratando-se de Milos Zeman, tudo pode acontecer. Este é o Presidente que defendeu que os refugiados sírios deviam ser enviados para “lugares vazios” em África ou para as “ilhas gregas desabitadas”, uma “boa forma” de Atenas “pagar a sua dívida externa”. É o Presidente que diz que a Crimeia não pode ser devolvida à Ucrânia e cujas aproximações a Vladimir Putin já motivaram manifestações na rua a pedir que o país não se torne “uma colónia de Moscovo”. Em 2015, foi aliás o único líder ocidental que assistiu em Moscovo às celebrações do fim da II Guerra Mundial. E Zeman foi um dos primeiros Presidentes do mundo a falar com Trump depois das eleições norte-americanas. No telefonema, o Presidente eleito agradeceu-lhe ter sido o “único Presidente europeu” a apoiá-lo durante a campanha e propôs que o visitasse em Washington. Desde que foi eleito, em 2013, Zeman foi três vezes aos Estados Unidos, mas Barack Obama nunca o convidou para um encontro na Casa Branca. Repetidamente, Zeman diz que gosta das ideias de Trump sobre “refugiados, terrorismo islâmico e o politicamente correcto”. Tal como Trump, de resto, Zeman gosta de discutir em público os nomes de futuros embaixadores. Disse que Ivana Trump, de origem checa e ex-mulher do novo Presidente, seria uma excelente embaixadora dos EUA em Praga, e que Jindrich Forejt, ex-chefe de protocolo do Castelo de Praga, seria um óptimo embaixador no Vaticano. Forejt, com quem o Palácio de Belém preparou esta visita de Estado, demitiu-se na semana passada. Oficialmente, a saída foi justificada por razões “pessoais e de saúde”, mas nos bastidores diplomáticos circula um bizarro vídeo que alegadamente o compromete. Sem que seja surpresa para ninguém, a controvérsia vem de trás. No ano passado, depois de um encontro com o Papa Francisco em Roma, foi notícia o facto de o Vaticano não ter gostado de ouvir Zeman propor Forejt para embaixador sem antes testar a ideia. Do mesmo modo, Trump sugeriu no Twitter que Nigel Farage, anti-europeu convicto e ex-líder do UKIP — o partido nacionalista britânico que liderou a campanha do “Brexit” —, fosse nomeado embaixador do Reino Unido em Washington. Em alguns círculos diplomáticos, Milos Zeman é aliás comparado com Farage. A linguagem populista e desabrida — e por vezes pura e simplesmente mal educada — é a sua imagem de marca. Outra é esticar as suas competências constitucionais e dar a ideia de que é ele quem comanda a política externa do seu país. Este Verão, quando disse que a República Checa não devia receber nem os 80 refugiados sírios previstos no acordo europeu, correu uma onda de choque em várias capitais da União. Num forte contraste com a posição de Portugal nesta matéria, Zeman disse que a única forma de evitar “ataques bárbaros” era fechar as portas aos refugiados. Mesmo assim, só o alemão Guenther Oettinger, comissário europeu para a economia digital, estalou o verniz. “As quotas para os refugiados foram acordadas por uma larga maioria e são, neste momento, lei europeia”, começou por dizer. E acrescentou: “Um Presidente que difama os legisladores europeus deste modo fragiliza a Europa como um todo. ”Neste aspecto, como sublinha a diplomacia portuguesa, o Presidente checo está mais alinhado com os seus eleitores do que a maioria dos líderes europeus. Mais de 60% dos checos não querem que o país receba um único refugiado. E se há repetidas manifestações na rua contra Zeman, as sondagens mostram a sua popularidade a subir (tem hoje 62% de apoio popular). “Zeman não é Viktor Orbán”, diz um diplomata que conhece bem a Europa de Leste, referindo-se ao primeiro-ministro húngaro. “So far, so good: se há uma atmosfera de autoritarismo e tentativas do Presidente em testar a Constituição, do ponto de vista da gestão constitucional, não se vislumbra o desregular da democracia. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Há outra leitura possível. Não sendo Orbán, Zeman consegue mesmo assim fazer lembrar que “Portugal é uma referência dos valores democráticos”, diz Heitor Romana, coordenador da Escola de Estudos Políticos e Estratégicos no ISCSP, da Universidade de Lisboa. Por isso, a visita de “um Presidente com as características de Zeman ajuda a afirmar Portugal como exemplo pedagógico, numa Europa que se debate com os tiques autoritários do Leste e a subida de uma extrema-direita que utiliza os instrumentos da democracia para ganhar poder”. E conclui: “A diferença entre Marcelo e Zeman não é terem estilos diferentes, nem serem tolerantes ou intolerantes. A diferença é que um olha para a Europa como um valor em si mesmo e outro olha para a Europa como um valor instrumental. ”Receber Zeman é também mostrar, diz o professor, “que felizmente não temos uma ‘diplomacia de partisan’: temos uma diplomacia de valores, por oposição a uma diplomacia de interesses”. No caso, os interesses tangíveis resumem-se em poucas linhas. A República Checa é o nosso 26. º cliente no ranking das exportações de bens e serviços (há 800 empresas portuguesas que exportam para a República Checa), depois de toda a Europa Ocidental e de países distantes, mas grandes, como os EUA, Brasil e China. A República Checa compra-nos sobretudo combustíveis minerais, instrumentos de óptica e precisão, produtos agrícolas, madeiras e cortiça. E a comunidade portuguesa na República Checa é minúscula: 300 estudantes de Medicina e outros tantos engenheiros informáticos. Por termos uma relação simpática mas secundária, na agenda há apenas temas gerais da actualidade. E todos farão por esquecer a última visita de Estado entre os dois países. Em 2010, Cavaco Silva ouviu, em Praga, do então Presidente Vaclav Klaus, um declarado antieuropeu, duas ou três piadas que soaram a humilhação.
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Partidos LIVRE
Assad ataca sunitas de Latakia para esmagar revolta em cidade que é feudo da sua família
A ONU perdeu o rasto aos dez mil palestinianos de um campo de refugiados em Latakia atacado pela forças sírias que estão a bombardear os bairros pobres sunitas da cidade. Milhares de pessoas foram levadas para um estádio e não sabe mais nada delas. (...)

Assad ataca sunitas de Latakia para esmagar revolta em cidade que é feudo da sua família
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-08-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: A ONU perdeu o rasto aos dez mil palestinianos de um campo de refugiados em Latakia atacado pela forças sírias que estão a bombardear os bairros pobres sunitas da cidade. Milhares de pessoas foram levadas para um estádio e não sabe mais nada delas.
TEXTO: Latakia continua a ser bombardeada por tanques e carros de assalto, que reduzem a escombros os edifícios. Está a ser especialmente visada a zona de Ramleh, onde vivem sunitas pobres e fica um campo no qual vivem 10 mil refugiados palestinianos. A ONU não sabe o que aconteceu a estas pessoas. Milhares de habitantes foram levados para dentro do estádio e foram-lhes tirados os cartões de identificação e os telemóveis. Esta cidade portuária é especial: tem uma grande população alauíta, uma minoria islâmica à qual pertence a própria família do Presidente Bashar al-Assad. Na verdade, diz a Reuters, esta cidade é a capital de facto desta seita religiosa do islão xiita que domina há 41 anos a política, a economia e as forças segurança de um país de 23 milhões de habitantes em que 75 por cento são muçulmanos sunitas. “A Síria é uma coisa e Latakia é outra. Latakia é um país diferente”, disse à Reuters Ahmad Abdullah, um activista que visitou a cidade recentemente. Surgirem aqui protestos contra o regime neste feudo da família Assad e dos alauítas foi encarado como especialmente grave pelo regime. Daí a ofensiva feroz contra Latakia, iniciada no domingo e que só nesta terça-feira terá feito pelo menos 34 mortos. Quem saiu às ruas a reclamar mudanças foram sunitas e palestinianos das zonas mais pobres, e também alguns alauítas, disse um outro activista da oposição à Reuters, embora a coberto do anonimato. Agora o ataque parece ter um padrão claro: “O regime está a atacar os bairros sunitas, como Slaibeh, Raml al-Jounoubi, Sakentouri e Bustan al-Samkeh. Armou os habitantes dos subúrbios alauítas perto de Qanin”, disse à AFP Tariq, um habitante de Latakia. No bairro de Al-Chaab, “as casas velhas ruíram”, contou outra fonte à agência francesa. O Departamento de Estado norte-americano diz não ter provas de que o fogo de artilharia sob o qual a cidade esteve no domingo fosse proveniente de navios de guerra, diz o Los Angeles Times. Há, no entanto, relatos que falam de disparos vindos de barcos de borracha. Quanto ao campo de refugiados palestinianos, localizado numa zona com construções do tipo bairro de lata, na zona que está a ser atacada, terá ficado deserto ou pouco menos — as autoridades sírias negam acesso às instalações à agência das Nações Unidas responsável pelo apoio aos refugiados da Palestina. “Uma população esquecida tornou-se também uma população desaparecida, disse Christopher Gunness, porta-voz da organização, ao New York Times. Yasser Abed Rabbo, secretário geral da Organização de Libertação da Palestina, considerou o ataque ao campo “um crime contra a humanidade”. O Conselho de Segurança das Nações Unidas reúne-se de novo na quinta-feira, para discutir sanções a impor à Síria.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Mais um general e outros oficiais sírios desertaram para a Turquia
Um brigadeiro-general sírio, junto com vários oficiais do exército, desertou das forças leais ao regime do Presidente Bashar al-Assad num grupo de mais de 1.200 refugiados que passaram a fronteira para a Turquia nas últimas 24 horas. (...)

Mais um general e outros oficiais sírios desertaram para a Turquia
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 9 | Sentimento -0.03
DATA: 2012-07-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um brigadeiro-general sírio, junto com vários oficiais do exército, desertou das forças leais ao regime do Presidente Bashar al-Assad num grupo de mais de 1.200 refugiados que passaram a fronteira para a Turquia nas últimas 24 horas.
TEXTO: Um responsável do Governo turco confirmou estas entradas no país, contabilizando que são já 18 o número de generais que procuraram refúgio na Turquia desde o início da revolta na Síria há quase 17 meses, incluindo um general reformado. No total são 68 os oficiais do exército sírio, mais membros das respectivas famílias, que desertaram para o país. A mesma fonte confirmou que 1. 280 pessoas passaram a fronteira para a província turca de Hatay nas últimas 24 horas, a maior parte durante a noite. As autoridades contam actualmente 42. 680 refugiados sírios nos campos da Turquia. Notícia em actualização
REFERÊNCIAS:
Países Síria Turquia
Requerente de asilo diz ter sido vítima de agressão policial em Portugal
Obai Radwan terá sido o primeiro requerente de asilo sob alçada do Conselho Português para os Refugiados a apresentar queixa contra a polícia. (...)

Requerente de asilo diz ter sido vítima de agressão policial em Portugal
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 9 | Sentimento -0.07
DATA: 2013-01-12 | Jornal Público
SUMÁRIO: Obai Radwan terá sido o primeiro requerente de asilo sob alçada do Conselho Português para os Refugiados a apresentar queixa contra a polícia.
TEXTO: Um requerente de asilo político em Portugal diz ter sido vítima de agressão física e verbal por três polícias nas instalações geridas pelo Conselho Português para os Refugiados (CPR), na Bobadela, e depois na esquadra de São João da Talha, em Loures, na madrugada de 29 de Dezembro. Apresentou uma queixa-crime contra os agentes. Obai Radwan terá sido o primeiro requerente de asilo político sob alçada do CPR a apresentar uma queixa contra a polícia – o CPR existe desde 1991 e a coordenadora do gabinete jurídico, Mónica Farinha, que trabalha nesta instituição desde 1994, “não” tem “memória de uma situação idêntica”. O caso está a ser averiguado pelo CPR, disse a jurista, que não quis adiantar mais informações enquanto não se apurarem os factos. Nascido nos Emirados Árabes Unidos em 1982, filho de palestinianos, Obai Radwan chegou a Portugal no início de Dezembro e aguarda decisão do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras sobre o seu pedido de asilo - o processo e os motivos do pedido são confidenciais. A queixa contra a polícia foi feita por Obai Radwan na tarde de dia 29 na esquadra do Rossio, em Lisboa. Contactado pelo PÚBLICO, o Comando Metropolitano de Lisboa da PSP, através do gabinete de relações públicas, não quis adiantar informações, pois “o processo de averiguações quanto à queixa apresentada segue os trâmites normais e tendo em conta o carácter confidencial do mesmo não é possível disponibilizar qualquer informação”. O núcleo de disciplina da PSP irá interrogar os agentes e Obai Radwan, acrescentou Pedro Cunha, do gabinete de relações públicas. A queixa foi remetida para o Ministério Público (MP), segundo Pedro Cunha, mas até à tarde desta sexta-feira não estava registada no sistema de nenhum dos serviços do MP que a poderiam ter recebido - Lisboa e Loures. É, por isso, “de equacionar como provável que a transmissão da queixa pela entidade policial ao Ministério Público ainda não esteja concluída”, disse a assessora de comunicação da Procuradoria-Geral da República, Ana Lima. Na madrugada de 29 de Dezembro, Obai Radwan foi levado para a esquadra de São João da Talha, depois de o vigilante do Centro de Acolhimento para Refugiados (CAR) na Bobadela, gerido pelo CPR, ter chamado a polícia, contou o próprio e confirmou a jurista do CPR. Obai Radwan acusa os polícias de, ainda no CAR e depois na esquadra, lhe terem batido em “diferentes partes do corpo” com um “bastão” e insultado o seu “nome, nacionalidade e religião”. Diz ter ficado na esquadra “mais ou menos três horas”, e que não lhe foi pedida identificação, além do seu primeiro nome. No relatório das urgências, com o carimbo do Centro Hospitalar de Lisboa Central, escreve-se que Obai Radwan foi “vítima de agressão, sobretudo no tronco e membros” e apresenta “equimoses nos antebraço direito e braço esquerdo, na região torácica anterior e posterior”. Segundo relataram ao PÚBLICO a jurista do CPR e a responsável pelo gabinete de comunicação, Mónica Frechaut, a polícia foi chamada às instalações por “incumprimento do regulamento e indisciplina” pela parte de Obai Radwan. O regulamento define que a recolha aos quartos é às 23h e “eram 24h e o senhor Obai ainda não tinha recolhido”, disse Mónica Frechaut. “A partir de certa hora, se as pessoas estão nas zonas públicas o alarme dispara. O vigilante foi forçado a chamar a polícia”. Obai Radwan diz que nessa noite foi, de facto, para uma zona comum do centro, de modo a accionar os alarmes mas como forma de protesto contra o vigilante que o impediu de aceder à Internet para falar com a família. Obai Radwan tem usado as instalações do CAR mas foi transferido para um quarto fora, uma prática comum sempre que os requerentes o pedem. “Continuamos a prestar o apoio a Obai Radwan para que se sinta o melhor possível”, disse Mónica Farinha. Obai Radwan fez ainda queixa à Amnistia Internacional e à Associação de Apoio à Vítima, que não comentam o caso por os seus serviços serem confidenciais.
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP
Jogar à bola e trocar histórias de guerra nos intervalos
Aos sábados joga-se à bola nesta terra de fronteira turca. Os jogadores são sírios, têm 12, 13 e 14 anos, os treinadores também são sírios, têm 18, 25 e 27. Vieram de todo o país e viram de tudo na guerra, agora são refugiados. (...)

Jogar à bola e trocar histórias de guerra nos intervalos
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-10-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: Aos sábados joga-se à bola nesta terra de fronteira turca. Os jogadores são sírios, têm 12, 13 e 14 anos, os treinadores também são sírios, têm 18, 25 e 27. Vieram de todo o país e viram de tudo na guerra, agora são refugiados.
TEXTO: As hostilidades abrem às 11h mas meia hora antes já há miúdos de 12, 13 e 14 anos, fato de treino e bola na mão, nas imediações da Arena, o campo sintético da rua principal de Reyhanli onde não tarda se vai jogar futebol de sete. Assim que a porta se abre começam os exercícios de aquecimento. Antes do apito todos podem andar por ali e os que não treinam - só vão jogar mais tarde - entretêm-se a tirar fotografias, dois a dois, com o telemóvel de um deles, poses de jogador da bola, equipamento às vezes também, há de tudo, camisolas do Cristiano Ronaldo, do Messi, fatos-de-treino, casacos de malha, calças de ganga, ténis, sapatos e chinelos. Reyhanli é uma vila turca da província de Hatay que em 2012 tinha 60 mil habitantes. Reyhanli fica a 5 quilómetros da fronteira com a Síria e hoje ninguém sabe bem quanta gente aqui vive. As autoridades estimam que um terço da população seja síria. Muitos destes são crianças e é por causa delas que agora há três escolas sírias em Reyhanli. Reyhanli é uma vila turca mas hoje é sábado e o campo de futebol está cheio de sírios. Os miúdos são sírios e os três homens que chegaram com sacos cheios de garrafas de água, coletes fosforescentes, bolas, luvas e joelheiras também. Reinas vai ser o árbitro do dia, Juan e Ahmad os treinadores de serviço. Reinas tira o apito de um saco e três cartões: verde, amarelo e vermelho. "O que é que faço com o verde?", brinca. Os miúdos juntam-se perto de cada um dos treinadores e durante uns momentos toda a gente fala ao mesmo tempo, cada um com o seu sotaque, basta ser sírio para os distinguir, há miúdos de Alepo e miúdos de Idlib, as duas províncias do Noroeste, as que ficam mais perto de Reyhanli, mas também há miúdos de Homs, no Centro da Síria. Juan, de 27 anos, é um cartoonista de Damasco, teve de fugir para não ser preso; Reinas, 18 anos, também nasceu na capital síria, mas só saiu quando Juan o convidou para trabalhar com crianças refugiadas; Mohamed tem 25 anos e nasceu em Latakia, estudou design de moda e há dois anos foi obrigado a cumprir o serviço militar e fugiu para não ter de fazer a guerra em nome de Bashar al-Assad. Todos têm família ainda na Síria, como muitos dos miúdos. São 11h e começa o primeiro dos três jogos do dia, o dos miúdos do 8º ano como Ziad, 13 anos, muito magrinho e pequeno para a idade, fato de treino azul-escuro e chuteiras. Ziad é o guarda-redes da equipa de Juan, o guarda-redes da equipa adversária é bastante mais alto mas joga só com uma sapatinha, o outro pé em meias. Ziad defende algumas boas oportunidades e o primeiro golo é da sua equipa. Sete contra sete, todos deixam tudo em campo. Corre-se, grita-se, dizem-se palavrões, há faltas e algumas até das feias, por trás, não há foras mas há cantos, há muitos, muitos risos. O empate chega antes do intervalo e merece um festejo daqueles mesmo a sério, camisola despida até ao pescoço e tudo, e está fresco neste sábado de Outubro. Antes do intervalo ainda Ziad tem tempo para pedir a Juan que o substitua na baliza, quer ir à frente. "Vamos ganhar. Agora temos uma nova estratégia", diz Mohamed a rir, caderno na mão, enquanto os seus miúdos se sentam à sua volta no chão. Juan atravessa o campo para ir buscar o seu caderno e passa pelos adversários e os jogadores tentam tapar o seu treinador, enquanto Juan finge que deita um olho ao novo desenho que Mohamed vai tentar pôr em prática. Durante o intervalo, há uma invasão de campo. Os miúdos que obedientemente tinham saído e assistido do lado de fora voltam a entrar para dar uns toques na bola e tentar alcançar o saco das garrafas de água - "Não. É só para beberem no fim do vosso jogo", diz e repete Juan. A um canto, alguns dos mais pequenos, 12 anos, fazem abdominais, com outros miúdos a segurarem-lhes nas pernas, são eles que vão entrar a seguir. Onde está o irmão de Ziad? O segundo tempo traz mais um golo para cada lado - Ziad lá conseguiu ir à frente, não marcou mas foi dele a assistência para o 2-2. Tudo será decidido nas grandes penalidades e Ziad vai voltar à baliza para acabar por ser ele a decidir o jogo. Mohamed bem tentou, mas a equipa de Juan leva a melhor. As fotos da praxe e os miúdos do 8. º dão lugar aos miúdos do 7. º. Primeiro, os exercícios, definir as equipas, conversas com os treinadores, ainda há tempo. Ziad veio há nove meses de Idlib, a cidade com o mesmo nome da província encostada a Hatay. Antes da revolução e da guerra, Ziad vivia com a mãe e com o pai, taxista, com o irmão, dois anos mais velho, e com a irmã, dois anos mais nova. Entretanto, quase tudo mudou. Ziad continua a gostar de Ronaldo "mais do que de todos os outros" e a querer ser jogador de futebol, mas até isso vai ter de esperar, as prioridades agora são outras. Agora, Ziad vive em Reyhanli com a mãe e com a irmã, Shaad. É o homem da casa. O pai está na Síria, a combater com o Exército Livre, o primeiro grupo armado a aparecer na Síria, formado por civis e desertores durante o Verão de 2011. O irmão, Ziad não sabe onde está. Foi no dia 9 de Setembro de 2012: "Os serviços secretos vieram a minha casa, eu estava a tomar banho e a minha mãe bateu à porta para me chamar. Levaram o meu irmão". Ahmad tinha 14 anos quando foi preso. "Um dos agentes foi simpático, encontrou o dinheiro que os meus pais guardavam numa gaveta e não o levou, fez um sinal à minha mãe com os olhos e deu-lhe o dinheiro", conta Ziad. Ziad tem outras três irmãs, mais velhas, já casadas, ainda na Síria. Ele agora vive aqui, vai à escola e ao sábado joga futebol, tem jeito na baliza mas gosta mesmo é de jogar ao ataque. "Eu queria ir lutar com o meu pai, mas não posso, tenho de ficar a tomar conta da minha mãe e da minha irmã. Se a revolução não tiver acabado quando eu tiver 15 anos vou lutar com os mujahedin", diz, muito assertivo, para logo a seguir admitir que sente a falta do pai. "Não tenho medo, antes, se nos atirassem com uma pedra nós fugíamos, agora podem vir tanques e nós nem nos assustamos. "Enquanto não chegam os 15 anos, Ziad vai juntando dinheiro dos trocos das compras que faz para a mãe. "Já tenho o suficiente para 30 dólares, se continuar a juntar e trocar bem o dinheiro posso ter bastante no fim", explica, enquanto mostra a carteira, "foi uma prenda do meu irmão", onde vai guardando o tesouro, ao lado de um cartão com um número de telefone turco e com uma fotografia dele próprio. "É para ajudar os meus pais, se eles precisarem", diz, antes de admitir que o que queria mesmo era comprar uma bicicleta. Ziad vai ficar por aqui até ao fim da festa, os jogos só acabam às 16h. Enquanto os mais pequenos se posicionam para começar a jogar, alguns dos maiores, já no 9º ano, juntam-se à conversa. Venham de onde vierem vêm todos de um país em guerra, todos têm um irmão ou um pai a combater, todos viram gente a morrer e bombas a cair em cima de casas, todos parecem exactamente aquilo que são, adolescentes um pouco rebeldes, a diferença é que em vez de contarem que baterem num colega ou que roubaram a namorada a um amigo contam coisas que só miúdos que vieram de um país em guerra podiam contar. "O mais importante é estudar", diz ainda Ziad. E depois: "Não posso deixar a minha mãe e a minha irmã, mas não gosto de estar aqui. Os turcos não me percebem e eu não os percebo. Quero aprender a conversar em turco. "Farid e Mahmoud dizem que são primos mas não podiam ser mais diferentes. Farid é magro e muito moreno, tem cabelo liso escuro, um bigode a querer nascer e uma cabeça pequena para o corpo, a camisola de gola alta talvez contribua para a cabeça parecer ainda mais pequena; Mahmoud é gordinho, calças de fato de treino pretas e casaco de fecho e capuz azul claro, cabelo curto rente mas uma pequena popa à frente, ao lado do primo Farid parece do Norte da Europa de tão branquinho. Farid e Mahmoud são de Homs, a cidade mais castigada pelas forças de Assad. São de dois bairros diferentes mas viram quase o mesmo e durante muitos, muitos meses. Ajudante de rebeldes "O meu pai vendia pistácios, tinha uma loja pequena. O regime entrou e levou tudo, destruíram o que não levaram. O meu pai trabalhou durante anos", diz Mahmoud. Há um ano que a família deixou Homs, mas só há dois meses é que Mahmoud veio viver para Reyhanli. Quando saíram de Homs, Mahmoud, os irmãos e os pais instalaram-se em Termali, uma região rural no Sul da Síria. Depois, tiveram de se mudar outra vez. "Havia sete vilas xiitas à volta. Cercaram-nos e começaram a atacar. As explosões eram horríveis. "Ainda em Homs, conta Mahmoud, "fugia de casa de manhã às escondidas do meu pai". "Ia ajudar os rebeldes, levava águas e recarregava as armas. " Mahmoud tem os mesmos 14 anos que Farid, mas é Farid, o primo magrinho, que garante: "Eu era um combatente. Tinha a minha Kalashnikov. O meu pai comprou-me a arma. Eu experimentei uma ou duas vezes e ele achou que eu podia combater". Farid podia ser só um grande fanfarrão, mas não tem nenhum problema em confessar que "uma vez, na frente, havia tantas bombas a caírem que me mandaram para casa, e eu fui". Os dois primos repetem frases que ouvimos muitas vezes a sírios adultos e é difícil perceber se eles também as ouviram e agora as repetem ou se as diriam na mesma. "Já não há nada de que ter medo. Vamos morrer todos, de qualquer maneira", diz Farid, e levantas as calças, a mostrar o lugar onde já esteve a marca de uma bala que lhe acertou de raspão. "Não temos escolha. Não quero ficar à espera da morte", diz Mahmoud. "Eu sou procurado, o meu pai também, dá dinheiro à revolução", conta Farid. O pai de Farid era electricista, o pai de Mahmoud tinha a loja e ainda um táxi. Agora, são refugiados. É tempo de os mais crescidos entrarem em campo. Depois dos resultados das equipas anteriores, todos querem ser da equipa de Juan, entre os dois primos, o sortudo é Farid. Há menos faltas neste jogo do que nos dois primeiros, mas uma entrada muito feia acaba por resultar em expulsão. Todos dão o que têm e chegam ao fim vermelhos que nem tomates e a transpirar em bica. Mas com 1-1, vão ser os penaltis a decidir tudo outra vez. Enquanto esperamos pelo resultado, as histórias sucedem-se do lado de fora do campo. Mohamed é de Alepo e conta que vivia perto da sede da Segurança da Força Aérea. "Todos os dias encontrava corpos na rua, homens que tinham sido torturados", diz Mohamed, de 13 anos. "Dois primos meus estavam lá presos, nunca mais soubemos deles. " "Eu fui preso", diz Ali, 14 anos. "Só lá estive quatro dias, não me fizeram muito mal, só me queimaram com cigarros nos braços. Também me deram alguns murros. "São quase 16h e está a pôr-se fresco. A sorte sorriu à equipa de Farid nas grandes penalidades e ele corre à volta do campo a celebrar. Ri-se muito para a fotografia de grupo e depois corre de novo para vir contar como ajudou a sua equipa a ganhar. Às vezes os pais vêm assistir, conta Reinas, mais as mães, na verdade. Desta vez nenhum veio. Os miúdos fazem a festa sozinhos antes de voltarem às novas casas.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Rui Tavares recebe apoio da cúpula dos Verdes europeus
Cabeça de lista do partido Livre elogiado pelo trabalho contra a austeridade, pelos direitos humanos e dos refugiados e sentido de responsabilidade da Europa. (...)

Rui Tavares recebe apoio da cúpula dos Verdes europeus
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: Cabeça de lista do partido Livre elogiado pelo trabalho contra a austeridade, pelos direitos humanos e dos refugiados e sentido de responsabilidade da Europa.
TEXTO: O cabeça de lista do partido Livre, Rui Tavares, tornou públicos vários vídeos de apoio à sua candidatura da cúpula dos Verdes Europeus, como os dois candidatos do partido à presidência da Comissão Europeia e o co-presidente do grupo parlamentar dos Verdes no Parlamento Europeu. A alemã Ska Keller, candidata dos Vedes à presidência da Comissão, realça a luta de Rui Tavares “contra a austeridade, mas também pelos direitos humanos e dos refugiados” e elogia o seu trabalho no comité das Liberdades e Direitos Cívicos. O francês José Bové, o outro candidato daquele partido à presidência – os Verdes têm uma liderança bicéfala na qual o Bloco de Esquerda se baseou para a sua estratégia pós-Louçã – incentiva-o a fazer “uma boa campanha”. “A Europa precisa de ti e nós precisamos de bons portugueses que acreditam na Europa porque sabem que todos juntos podemos mudar a realidade! A austeridade não é uma fatalidade, é uma questão política e depende de nós”, afirma Bové. Rui Tavares foi eleito eurodeputado em 2009 como independente pela lista do Bloco de Esquerda. Devido a incompatibilidades com o então coordenador Francisco Louçã, a quem acusou de “caça ao independente” e de ser incapaz de lidar com opiniões diferentes, deixou a delegação bloquista e o grupo parlamentar Esquerda Unitária Europeia/ Esquerda Verde Nórdica. Passou então a integrar como independente o Grupo dos Verdes/ Aliança Livre Europeia. Depois de ter tentado, sem êxito, uma convergência à esquerda para uma candidatura conjunta ao Parlamento Europeu, Rui Tavares fundou o partido Livre há dois meses para se poder recandidatar, uma vez que só são aceites candidaturas integradas em partidos ou coligações. O co-presidente deste último grupo, que agrega 55 eurodeputados, realça o contributo de Tavares para o grupo e defende que “o sul da Europa, e Portugal em especial, precisa de uma voz de representação independente, que pensa autonomamente e não só ideologicamente”. Dany Cohn-Bendit deseja mesmo que a lista de Rui Tavares consiga eleger mais duas ou três pessoas, além do actual eurodeputado, de quem diz que “demostrou um sentido de responsabilidade da Europa fora do comum”.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Primeira vala comum descoberta no Leste da Ucrânia
Número de deslocados e refugiados que fugiram dos combates está perto dos 230 mil. Human Rights Watch acusa Kiev de ataques indiscriminados com rockets Grad. (...)

Primeira vala comum descoberta no Leste da Ucrânia
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 9 | Sentimento 0.25
DATA: 2014-07-25 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20140725170313/http://www.publico.pt/1664204
SUMÁRIO: Número de deslocados e refugiados que fugiram dos combates está perto dos 230 mil. Human Rights Watch acusa Kiev de ataques indiscriminados com rockets Grad.
TEXTO: As autoridades ucranianas anunciaram ter descoberto a primeira vala comum de Slaviansk, bastião dos rebeldes pró-russos que foi reconquistado recentemente pelas forças de Kiev. A vala poderá conter duas dezenas de corpos, incluindo pelo menos quatro civis. "Sabemos que outras valas como esta existem na cidade, mas não sabemos onde, e esta é a primeira que abrimos", explicou à AFP Anton Gerachtchenko, conselheiro do ministro ucraniano do Interior, que presidiu a uma cerimónia no local. "Sabemos que aqui estão enterrados quatro paroquianos protestantes, inocentes que foram torturados pelos rebeldes", explicou Gerachtchenko. "No dia 8 de Junho, eles foram raptados à saída da missa de domingo. Os rebeldes capturaram-nos e nunca mais ninguém os viu ou teve notícias deles. Segundo as minhas informações, foram mortos na noite seguinte. "As autoridades de Kiev, que investigam o desaparecimento de habitantes de Slaviansk desde o início de Julho, afirmam que a vala comum poderá também conter os corpos de vários combatentes rebeldes. Com os combates a decorrem em vários pontos do Leste da Ucrânia, a Human Rights Watch denunciou esta sexta-feira o disparo de rockets Grad não telecomandados por parte das forças ucranianas ou de milícias pró-Kiev que terão morto 16 civis e ferido muitos mais em zonas controladas pelos rebeldes pró-russos na zona de Donetsk. "Os Grad são armas extremamente imprecisas", disse Ole Solvang, recordando que o recurso a este tipo de armamento em zonas povoadas viola a lei humanitária internacional e as leis da guerra e pode ser considerado um crime de guerra. O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) divulgou números que reforçam o cenário de guerra civil no Leste da Ucrânia: quase 100 mil pessoas deslocadas para outras regiões do país e 130 mil que optaram por procurar refúgio na Rússia. O anterior balanço do ACNUR, publicado no dia 27 de Junho, apontava para 54. 400 deslocados na Ucrânia e 110 mil refugiados na Rússia. "O número de pessoas deslocadas originárias de Donetsk e de Lugansk aumentou fortemente depois do início de Junho. "No espaço de três meses, o conflito já fez mais de mil mortos, incluindo os 298 passageiros do voo MH17, abatido perto de Donetsk.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU