Mais de 600 mortos e 159 mil deslocados na República Centro-Africana
Ministro francês da Defesa diz que o país está “à deriva” e alertou para “risco de anarquia” (...)

Mais de 600 mortos e 159 mil deslocados na República Centro-Africana
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 9 | Sentimento 0.075
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ministro francês da Defesa diz que o país está “à deriva” e alertou para “risco de anarquia”
TEXTO: A violência na República Centro-Africana já deixou mais de 600 mortos, a maioria – 450 – na capital. Fugindo da violência, há mais de 159 mil deslocados, segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados. Muitos dos que fugiram estão em condições absolutamente precárias, como as quase 110 mil pessoas em campos sem condições na capital Bangui, incluindo 38 mil pessoas no aeroporto da cidade onde não têm nem casas de banho nem abrigo. Mas o aeroporto representa segurança: é a base das forças militares francesas deslocadas no país e assim quem lá está sente-se a salvo das milícias cristãs ou muçulmanas. Há ainda uma grande concentração de deslocados em Bossangoa, onde também está destacado o exército francês. “Espontaneamente e por vagas, 40 mil cristãos de Bossangoa e das aldeias em redor foram-se juntando à volta do arcebispado da cidade, em apenas quatro hectares”, conta a ONG Acção contra a Fome. “Noutro lado da cidade, as famílias muçulmanas estão a ir, desde há seis dias, para a escola Liberdade. ” Os Médicos Sem Fronteiras também falam das condições na missão católica de Bossangoa: 300 pessoas refugiadas, com dezenas de feridos na violência recente. Em visita à capital na manhã desta sexta-feira, o ministro francês da Defesa, Jean-Yves Le Drian, fez ligação entre a crise de segurança na capital com o “início de uma crise humanitária”. Os Médicos Sem Fronteiras dizem que esta crise exige uma mudança “radical e urgente” na resposta humanitária da ONU, pedindo mais meios e recursos e lamentando que só agora as Nações Unidas tenham decidido esta mobilização quando a crise começou já há muito mais tempo. “Já deveria ter sido feito muito nos últimos meses. ” O ministro francês diz que o país está “à deriva” e alertou para “risco de anarquia”. Esta situação pode “desestabilizar toda a região e atrair grupos criminosos e terroristas”. Depois da morte de dois soldados que tentavam desarmar milicianos, a França diz que a maioria das armas dos grupos da capital já foi retirada e começa a levar a cabo uma operação semelhante em Bossangoa. “Não podemos voltar a casa”, disse Alacide Bienvenu, um dos refugiados do aeroporto, à Reuters. Sentado num checkpoint junto a um rapaz com um machete nas mãos, concluiu: “Só saímos quando os franceses tiverem acabado o seu trabalho. Até lá, continuaremos aqui. ”
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Entidades ONU
ONU declara existência de fome em duas regiões do sul da Somália
A situação das regiões somalis de Bakool e Baixa Shabelle agravaram-se de tal modo com a seca prolongada e a continuação de conflitos armados que as Nações Unidas fizeram hoje a declaração formal de existência de fome naquela parte do território do país, afectando mais de dois milhões de pessoas. (...)

ONU declara existência de fome em duas regiões do sul da Somália
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-07-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: A situação das regiões somalis de Bakool e Baixa Shabelle agravaram-se de tal modo com a seca prolongada e a continuação de conflitos armados que as Nações Unidas fizeram hoje a declaração formal de existência de fome naquela parte do território do país, afectando mais de dois milhões de pessoas.
TEXTO: “Se não agirmos já, a fome vai propagar-se a todas as oito regiões do sul da Somália apenas nos próximos dois meses, devido às fracas colheitas e ao surgimento de doenças contagiosas”, alertou ainda o gabinete de coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (Ocha) na Somália. Segundo o coordenador da organização em Nairobi, Mark Bowden, praticamente metade da população total somali – ou seja, 3, 7 milhões de pessoas, das quais 2, 85 milhões residem no sul do país – encontram-se em situação de crise humanitária. E mais de dez milhões de pessoas na região do Corno de África enfrentam hoje em dia condições de emergência (nível imediatamente abaixo do da fome) devido à prolongada seca que, ainda segundo a ONU, pode ser a pior em várias décadas. Esta nova avaliação foi feita com base em novos dados coligidos pelas unidades de análise de segurança alimentar e nutrição na Somália e tendo em conta, também, a situação em que muitos refugiados somalis, em fuga do conflito armado no seu país, estão a chegar aos campos nos vizinhos Quénia e Etiópia. As duas regiões somalis declaradas agora em caso de fome – Bakool e Baixa Shabelle –, pela primeira vez em 19 anos, estão sob o controlo dos rebeldes islamistas Al Shabaab, tendo a agência dos refugiados da ONU sinalizado que vai tentar obter maiores garantias de segurança junto da rebelião, de forma a conseguir fazer fluir mais vastos fluxos de assistência alimentar para aquela zona do país. A situação de fome é definida pelas Nações Unidas com uma taxa de mortalidade de mais de duas em cada dez mil pessoas por dia e de um valor acima dos 30 por cento entre as crianças abaixo dos cinco anos de idade. Pelo menos 500 mil crianças estão em risco de vida no Corno de África, foi sublinhado pela UNICEF na semana passada, ao mesmo tempo que a Cruz Vermelha lançou o alerta de que uma em cada dez crianças na Somália apenas enfrenta actualmente o risco de morte devido à fome.
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Entidades ONU
Perguntas e respostas sobre a imigração no Mediterrâneo
A pressão migratória através da rota do Mediterrâneo tem aumentado?A ONU descreveu-a recentemente como a “rota mais mortífera do mundo” num relatório da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) que contabilizava pelo menos 3419 mortes apenas em 2014 – quando no ano anterior tinham morrido cerca de 600 pessoas. O crescimento do número de vítimas é explicado pelo aumento significativo do número de pessoas que tentou alcançar a Europa por esta via. Foram mais de 207 mil os que arriscaram a sua vida nas águas do Mediterrâneo – o triplo do registado em 2011, no auge das “primaveras” árabes, em que cerca de... (etc.)

Perguntas e respostas sobre a imigração no Mediterrâneo
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 Migrantes Pontuação: 13 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
TEXTO: A pressão migratória através da rota do Mediterrâneo tem aumentado?A ONU descreveu-a recentemente como a “rota mais mortífera do mundo” num relatório da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) que contabilizava pelo menos 3419 mortes apenas em 2014 – quando no ano anterior tinham morrido cerca de 600 pessoas. O crescimento do número de vítimas é explicado pelo aumento significativo do número de pessoas que tentou alcançar a Europa por esta via. Foram mais de 207 mil os que arriscaram a sua vida nas águas do Mediterrâneo – o triplo do registado em 2011, no auge das “primaveras” árabes, em que cerca de 70 mil fugiram à instabilidade nos seus países. A subida acentuada ocorreu sobretudo a partir do Verão, coincidindo com o aumento da violência na Síria e no Iraque perpetrada pelo grupo autodenominado Estado Islâmico. Em Maio, a Frontex, a agência europeia responsável pelo controlo das fronteiras, estimava que até ao final do ano mais de 140 mil pessoas tentariam chegar ao continente através do Mediterrâneo – previsão amplamente ultrapassada. Há quatro grandes rotas normalmente utilizadas por imigrantes para alcançar a Europa através do Mediterrâneo. É sobretudo através da Rota do Mediterrâneo Central – cuja porta de entrada é o sul da Itália – que a maioria chega ao continente (mais de 40 mil em 2013, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações). Porém, a OIM estima que apenas 10% das entradas de imigrantes ilegais na Europa se faça através de barco. A travessia do Mediterrâneo passou a ser mais utilizada nos últimos anos cinco anos, sobretudo por causa do maior policiamento das fronteiras europeias terrestres e aéreas, obrigando ao recurso a meios menos seguros como pequenos barcos pesqueiros. De onde vem a maioria dos imigrantes clandestinos?O fluxo migratório para a Europa está intimamente associado às dinâmicas geopolíticas dos países e regiões de origem dos imigrantes. Em 2014, cerca de metade dos que atravessaram o Mediterrâneo vieram da Síria e da Eritreia, países que a ACNUR identifica como “produtores de refugiados”, o que indicia que factores como os conflitos armados e a perseguição política sejam as principais razões, destronando as condições sócio-económicas, para a imigração ilegal. Esta tendência teve início em 2011, quando as autoridades italianas reportaram um aumento de 35% nas detenções de imigrantes ilegais, provenientes sobretudo da Tunísia, na altura em processo revolucionário. A vaga mais recente é a dos refugiados da guerra civil síria. No último trimestre de 2012, segundo a Frontex, foram apenas 96 os sírios que utilizaram a Rota do Mediterrâneo Central, mas um ano depois o número disparou para mais de 3400 no mesmo período. Ao todo, dos 107 mil imigrantes clandestinos contabilizados pela agência europeia em 2013, quase um quarto vinha da Síria e cerca de 10% da Eritreia. No que respeita a pedidos de asilo, são também os sírios – cerca de 47 mil em 2013 – que ocupam a primeira posição, à frente da Rússia (35 mil) – sobretudo de chechenos – e do Afeganistão (21 mil). Ao Médio Oriente e ao Norte de África como regiões de origem junta-se a África Subsariana, onde os potenciais imigrantes fazem longas travessias até alcançar os países de acesso ao Mediterrâneo, geralmente a Tunísia e a Líbia. A República Centro-Africana, o Chade e o Mali são os países de onde saem o maior número de refugiados da região, segundo a OIM. Em que países europeus se fixam?Depois de ultrapassarem a perigosa travessia do Mediterrâneo e alcançarem o continente europeu, os imigrantes enfrentam um longo e tortuoso processo para conseguirem o estatuto de refugiado. Nos vários centros de detenção nos países de acesso – Itália, Grécia, Malta e Espanha – são frequentemente vítimas de abusos e maus-tratos, de acordo com algumas organizações de defesa dos direitos humanos. Apesar de serem os países do Sul as portas de entrada para os imigrantes clandestinos, é a Norte que eles se costumam fixar. Em 2013 foram aceites mais de 430 mil pedidos de asilo – uma subida de 30% – com a Alemanha a receber um quarto do total, segundo o Eurostat, seguindo-se a França e a Suécia, com cerca de metade. No último ano, o número de refugiados recebidos pela Alemanha superou os 200 mil.
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Boko Haram ataca pela primeira vez no Chade
Cinco mortos na primeira retaliação directa contra o país que lidera a ofensiva regional contra os extremistas nigerianos. (...)

Boko Haram ataca pela primeira vez no Chade
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.25
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Cinco mortos na primeira retaliação directa contra o país que lidera a ofensiva regional contra os extremistas nigerianos.
TEXTO: Pela primeira vez, combatentes do Boko Haram atacaram em solo do Chade, retaliando contra o país que tomou a dianteira na ofensiva militar contra o grupo extremista. Os atacantes chegaram durante a madrugada a uma aldeia nas margens do Lago Chade que acolheu milhares de refugiados, matando pelo menos cinco pessoas. Foi a mais recente de várias acções transfronteiriças lançadas nas últimas duas semanas pelo Boko Haram, depois de a União Africana ter autorizado, no final de Janeiro, a criação de uma força regional de 8700 homens para travar o grupo, que controla já uma importante faixa no Nordeste da Nigéria e planeia estender o emirado que auto-proclamou às regiões em redor do Lago Chade. Os pormenores da missão estão ainda a ser ultimados, mas o Presidente chadiano, Idriss Deby, decidiu assumir a iniciativa, mobilizando centenas de soldados para combater os radicais na Nigéria e nos países vizinhos. No dia 3, o Exército chadiano, um dos mais bem treinados da região, expulsou os radicais da cidade nigeriana de Gamboru, colada à fronteira com os Camarões. Os extremistas vingaram-se no dia seguinte, com uma incursão no país vizinho que provocou perto de uma centena de mortos. O Governo de Yaoundé apressou-se a aprovar a sua participação na missão regional, num passo seguido dias depois pelo Níger. Na retaliação, o Boko Haram lançou quarta-feira vários ataques contra Diffa, cidade separada da Nigéria apenas por um rio, provocando o êxodo de milhares de habitantes e de parte dos 150 mil refugiados nigerianos que ali tinham procurado abrigo. Na madrugada desta sexta-feira chegou a vez do Chade. Segundo o Exército local, cerca de 30 combatentes chegaram em lanchas motorizadas a Ngouboua, uma aldeia ribeirinha onde tinham encontrado refúgio sete mil nigerianos que fugiram ao massacre em Baga, cidade arrasada pelo Boko Haram no início de Janeiro. Um residente contou à AFP que dois terços das casas da aldeia foram incendiadas e pelo menos cinco pessoas morreram – o chefe da aldeia, um polícia e três civis – antes de o Exército conseguir pô-los em fuga. O agravamento do conflito no Nordeste da Nigéria levou ao adiamento por seis semanas das eleições presidenciais, que estavam marcadas para este sábado, sem que haja indícios de um abrandamento da violência. Só na quinta-feira, 21 pessoas morreram em dois atentados suicidas em aldeias próximas de Maiduguri, a capital do estado de Borno, epicentro da rebelião do Boko Haram que, só em 2014, foi responsável por mais de 11 mil mortos.
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Palavras-chave homens violência
Proliferação de crises humanitárias leva ONU a pedir orçamento recorde
Anúncio surge uma semana depois de o Programa Alimentar Mundial ter revelado que está obrigado a suspender a sua actividade por falta de financiamento. (...)

Proliferação de crises humanitárias leva ONU a pedir orçamento recorde
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Anúncio surge uma semana depois de o Programa Alimentar Mundial ter revelado que está obrigado a suspender a sua actividade por falta de financiamento.
TEXTO: A ONU pediu um valor recorde de 13, 3 mil milhões de euros para as suas operações de ajuda no próximo ano, com o apoio aos refugiados da guerra civil síria no topo das prioridades. Ao todo, está previsto que o conflito sírio represente mais de 40% das necessidades de financiamento das Nações Unidas. A ONU pretende destinar 3, 6 mil milhões para ajudar os mais de três milhões de refugiados sírios, que fugiram à guerra para os países vizinhos – só o Líbano recebeu um milhão de pessoas. Do orçamento, 2, 3 mil milhões de euros vão servir ainda para apoiar os sírios que se encontram deslocados dentro do seu país. O anúncio surge uma semana depois de o Programa Alimentar Mundial – que integra o trabalho da ONU na Síria – ter revelado que está obrigado a suspender a sua actividade por falta de financiamento. À guerra síria juntam-se as crises no Sudão do Sul e na República Centro-Africana, que no orçamento do ano anterior (10, 6 mil milhões de euros), já correspondiam às grandes prioridades da ONU. Este ano, o conflito na Ucrânia, a ameaça do Estado Islâmico e o surto de ébola na África ocidental aumentaram obrigaram a ONU a aumentar o seu raio de acção. “Estamos a enfrentar necessidades a um nível sem precedentes”, disse a chefe dos assuntos humanitários das Nações Unidas, Valerie Amos, numa conferência de imprensa esta segunda-feira em Genebra.
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Ninguém diz a Angélique Kidjo quem ela deve ser
É a última grande diva da música africana que faltava ao quadro de honra do Festival Músicas do Mundo. A cantora do Benim Angélique Kidjo actua amanhã em Sines, apresentando um disco que pretende recontar a História do mundo desde Adão e (sobretudo) Eva (...)

Ninguém diz a Angélique Kidjo quem ela deve ser
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 5 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: É a última grande diva da música africana que faltava ao quadro de honra do Festival Músicas do Mundo. A cantora do Benim Angélique Kidjo actua amanhã em Sines, apresentando um disco que pretende recontar a História do mundo desde Adão e (sobretudo) Eva
TEXTO: Angélique Kidjo passou a infância e a adolescência no Benim a ouvir dos seus pais que ninguém podia escolher por ela, que só a ela cabiam as decisões da sua vida. E desde cedo entreviu os pequenos e contínuos choques que tal postura poderia provocar num mundo habituado a girar sobre si próprio num andamento completamente distinto. Por não controlar cada passo da sua mulher, o pai de Angélique era frequentemente questionado acerca da sua masculinidade e justificava-se dizendo que se a mulher era feliz nalguma coisa ele devia estar a acertar. À medida que crescia, Angélique começou a exasperar-se com o facto de o pai sentir necessidade de se justificar, de se explicar perante aqueles que continuavam a abanar a cabeça em incredulidade, censurando aquela família em que não era a férrea vontade máscula a ditar e a autorizar os movimentos de cada um. Mas serviria de lição: a liberdade de um caminho implica muitas vezes o confronto com a desconfiança, a falta de entendimento e a intolerância para a diferença. É um teste permanente. Apesar de ser uma lição que Angélique Kidjo repete sob várias formas durante uma entrevista, recordando ensinamentos parentais como alicerces para a sua recusa absoluta em deixar-se aprisionar por aquilo que terceiros possam pensar, projectar ou esperar da sua vida e de cada uma das suas acções, também as capas dos discos que circulavam em casa desde pequena foram responsáveis por perceber que não havia portas trancadas para a crescente vontade de se entregar por inteiro à música. Os irmãos mais novos da cantora aventuravam-se já com bandas e os pais acreditavam que o desporto e a música ajudavam a edificar personalidades mais sólidas e preparadas para lidar com os outros, mas seriam as capas dos LP a abanar-lhe as certezas e a mostrar-lhe que o mundo exterior podia ser mais consonante com o seu mundo interior. “Esses álbuns que os meus irmãos traziam para casa vinham da América ou da Europa”, recorda. “E tinham quase sempre homens brancos na capa, ou então, em menor número, homens negros. Lembro-me que a primeira vez que vi uma mulher negra foi a Aretha Frankin, a cantar em inglês, e pensei ‘Uau, uma afro-americana pode ser artista, mesmo sendo mulher’. Quando se é mulher em África e se canta música que não é tradicional, é-se considerada prostituta. ”Na altura, era essa a regra que encontrava nas ruas e no universo próximo. Tudo mudou quando Kidjo percebeu que já alguém ousara, antes de ela pensar verdadeiramente em fazê-lo, furar essas convenções esburacadas e desde sempre caducas. Ao ver-se diante da capa de Pata Pata, álbum publicado pela sul-africana Miriam Makeba em 1967, as peças do futuro da jovem cantora reordenaram-se num segundo. “Aquilo deu-me a volta à cabeça!”, garante. “Se ela conseguiu fazer isto, então eu também vou conseguir, ninguém me vai impedir e vou fazer aquilo que quero. ”Vencido esse constrangimento moral, Angélique começaria rapidamente a travar uma outra batalha que se mantém até hoje. Parece haver em torno da sua obra, desde o início, uma obsessão de contornos quase laboratoriais para analisar a percentagem de África contida nas suas canções. Tendo crescido a ver e ouvir as rodelas de vinil de James Brown, Fela Kuti, Ebenezer Obey, Johnny Haliday, Jimi Hendrix, Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Wilson Pickett e todo o santo disco que tivesse os selos Motown ou Stax a rodar no gira-discos, Kidjo enfiou desde sempre todo esse vasto referencial dentro dos seus concertos e das suas canções. “Às vezes olho para trás e pergunto-me como pode a minha memória ter absorvido tanta música”, espanta-se hoje. “Mas, na verdade, desenvolvi a minha memória a fixar todas as partes das músicas de que gostava – as guitarras, os baixos, as baterias, as segundas vozes, lembrava-me de tudo. ”Esta capacidade de se relacionar com músicas tão diferentes encontra igualmente explicação na forma como um dos irmãos mais velhos lhe desmontou os preconceitos e a fez repensar a música. De início, quando o rapaz levava música clássica para casa, Angélique reagia e falava com a boca perto do seu coração popular, dizendo-lhe “Mas que raio de música é essa? Isso é estúpido!” Em vez de a forçar a ouvir, o irmão desatou a adaptar e a tocar peças de Beethoven no banjo. E, de repente, acendeu a sua curiosidade. Daí que Angélique Kidjo se abespinhe quando ouve, uma e outra vez, que a sua música “não é africana o suficiente”. “África está em toda a música, goste-se ou não, e é impossível fazê-la desaparecer”, contraria. E ri-se quando a observação parte de europeus ou de norte-americanos rodeados de rock, pop, música electrónica – “devem achar que isso não veio tudo de África”. “A nossa música é inclusiva”, contrapõe, argumentando que a música africana não se faz difícil e se deixa espalhar por todos quantos a queiram levar consigo, independentemente de cores, línguas ou origens. Voltar a EvaEve, belíssimo álbum que Angélique Kidjo lançou já este ano, rodeando-se de gente que não nega, precisamente, a africanidade da sua própria música – Kronos Quartet, Dr. John, Rostam Batmanglij (dos Vampire Weekend) ou os músicos de jazz Steve Jordan e Christian McBride –, um portento rítmico adornado com melodias que nunca se deixam abocanhar pela previsibilidade, vem já de longe, desde que em 2005 integrou a delegação de uma missão humanitária, em visita a refugiados do Darfur num acampamento instalado no Chade. Desde então, conta a cantora, a sua cabeça caída sobre a almofada nunca mais passou a significar repouso total. “Aquilo que estava acontecer era que as mulheres eram violadas sempre que saíam do campo para ir buscar lenha que lhes permitisse cozinhar a comida dos miúdos e dos homens. Os homens ficavam lá sentados, sabendo do perigo que elas corriam e não as acompanhavam para as proteger ou ajudar. Depois olhavam para elas vitimizando-as, mostrando desprezo por elas”, relata. “É horrível – ao ouvir isto, a nossa boca fica aberta e o nosso coração dói, todo o corpo dói. Somos mesmo seres humanos quando permitimos que isto aconteça aos outros?”Esta condição da mulher africana, de sacrifício e superação de dificuldades e violências por vezes infligidas pela própria comunidade, ficou a ressoar na cabeça de Angélique Kidjo, há vários anos a braços com o trabalho da sua ONG (Fundação Batonga) em apoio da escolaridade das raparigas do continente, lutando pela erradicação do tétano ou contra a mutilação genital feminina. Nessa mesma viagem, com a UNICEF, “acendeu-se uma luz” na chegada ao Quénia. “Ao ver que aquelas mulheres lutam para encontrar comida para os miúdos e mantêm os seus sorrisos e ainda cantam, pensei como podia mostrar isto ao resto do mundo. E disse às mulheres quenianas que então encontrei: 'Quero que as pessoas oiçam as vossas vozes, quero que oiçam a alegria e a resiliência no vosso canto'. ” Essas vozes, ouvimo-las logo a abrir Eve (em M’Baamba), em diálogo com a sua, justapondo-se ao seu percurso. Kidjo conta que é daqui, do encontro com estas mulheres africanas, que retira a força para “ver o melhor que existe em cada situação – é o que elas fazem todos os dias para criarem os seus filhos, para conservarem a humanidade e se manterem de pé. ” E é algo que a cantora revisita mentalmente sempre que lhe dizem que, por ser africana, tem o acesso vedado a determinado programa de televisão, a apresentar-se em sítios onde não percebem a língua em que canta, enfim, de cada vez que alguém lhe sugere que pode e deve amputar um pouco da sua identidade para se adaptar a uma formatação prévia. “Sempre que me tentam rebaixar e atirar para o gueto, é nestas mulheres que penso”, reafirma. Não há surpresas: Eve vai buscar o seu título à Eva que nos dizem ter tentado Adão com uma maçã. E aquilo para que Angélique Kidjo está, mais uma vez, a apontar é o seu sentimento de injustiça e deturpação de igualdade perante uma História do mundo que tem sido invariavelmente contada por homens. Desde a primeira mulher. “Nós aceitamos e vamos avançando”, comenta, mas tal como nos tribunais “há sempre dois lados para uma história: o lado da defesa e o da acusação. Nesta história da Humanidade, temos sido acusadas desde Adão e Eva. Não é preciso duas pessoas para haver sexo? Então porque somos culpadas por isso? Ela tentou-o com uma maçã? Adão não tinha cérebro? Adão não tinha livre arbítrio para escolher? Podemos escrever os livros que quisermos, mas essa história tem de ser contada de forma diferente ou desaparecer. ”O pai vem à conversa recorrentemente. Foi ele quem lhe ensinou que “um homem que diminui uma mulher não é um homem, é um cobarde”, e foi ele quem a empurrou para fora do país quando o Benim se transformou num regime marxista – em 1972, quando um golpe de Estado instalou Mathieu Kérékou no poder durante quase duas décadas –, em que a liberdade de expressão ficara severamente comprometida. “Se pensarmos bem, a ideologia comunista não é má de todo, mas quando uma ideologia prega e diz às pessoas o que devem fazer e não as deixa serem donas da sua vida torna-se uma ditadura”, diz, explicando a sua saída, primeiro para Paris, depois para Nova Iorque, onde ainda vive, aos 54 anos. Se tinha de ter cuidado com o que dizia – sob pena de ser encarcerada ou pior ainda –, Angélique não estava disposta a viver no seu país. Hoje como nessa altura, a sua vida guia-se pela mesma máxima que atravessa a sua autobiografia, Spirit Rising: “Ninguém me vai dizer quem devo ser. " “Ninguém tem escrito na testa em bebé que vai ser presidente deste ou daquele país, que vai ser isto ou aquilo. Claro que há circunstâncias que podem ser mais benéficas e mais fáceis para alguns porque a vida é mesmo assim, mas já alguém viu uma criança acabada de nascer com as mãos cobertas de ouro? Não, pois não?” Não, não há notícias de tal. E enquanto assim for, não contem com o silêncio de Angélique Kidjo.
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Partidos LIVRE
As mulheres ciganas estão a fazer a sua pequena revolução
As ciganas portuguesas estão a levantar-se contra as várias formas de discriminação de que são alvo dentro e fora das suas comunidades. Que movimento é esse, que junta mulheres do país inteiro? Como começou? Quais são as suas prioridades? (...)

As mulheres ciganas estão a fazer a sua pequena revolução
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 5 Mulheres Pontuação: 21 Animais Pontuação: 6 Ciganos Pontuação: 21 | Sentimento -0.18
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: As ciganas portuguesas estão a levantar-se contra as várias formas de discriminação de que são alvo dentro e fora das suas comunidades. Que movimento é esse, que junta mulheres do país inteiro? Como começou? Quais são as suas prioridades?
TEXTO: Guiomar Sousa é mediadora sociocultural. Está habituada a fazer a ponte entre pessoas ciganas e pessoas não ciganas. Invoca o dia em que, contra o concurso Miss América, 400 feministas se dispuseram a queimar soutiens, cintas e outros “instrumentos de tortura”. “Estamos atrasados 50 anos”, comenta aquela activista, de 36 anos. “O movimento feminista é uma novidade nas comunidades ciganas, mas a nossa ideia não é chocar. Estamos a adaptar o feminismo à nossa realidade. ”Serão perto de duas dezenas as mulheres que fazem parte deste movimento. Nos últimos cinco anos, foram-se cruzando em encontros e acções de formação, percebendo pontos em comum, trocando contactos, forjando amizades. Neste último ano, têm-se desdobrado pelo país a dizer que são “mulheres e ciganas” e que “existem e resistem”. Maria Gil – que já foi feirante e empregada de balcão e faz teatro comunitário e teatro do oprimido – assume a autoria da frase que identifica o movimento. Em Maio de 2017, estava ela no Porto, na manifestação “Mexeu com uma, mexeu com todas”, olhou em redor e reparou que ela e a filha eram as únicas ciganas. “Faziam poemas nos quais incluíam mulheres negras, mas nem uma palavra sobre mulheres ciganas. De uma forma muito espontânea, peguei num bocado de cartão e escrevi: “Mulheres e ciganas, existem e resistem. ” Partilhou a imagem nas redes sociais. “A frase começou a ser usada. ”“A história das mulheres ciganas é uma história de resistência”, sublinha aquela activista, de 46 anos. Há uma discriminação externa que dificulta o acesso à educação de qualidade, ao emprego, à participação na vida pública. E uma discriminação interna que faz com que rapazes e raparigas, homens e mulheres não sejam tratados da mesma forma dentro das suas famílias e das suas comunidades. “Estamos a viver um tempo muito bom”, considera o alto-comissário das Migrações, Pedro Calado. “Tínhamos apenas a Associação para o Desenvolvimento das Mulheres Ciganas Portuguesas, no Seixal, agora temos a Ribaltambição, na Figueira da Foz. E há outras mulheres muito activas, como a Cátia Marisa, de São Brás de Alportel, a Guiomar Sousa, de Espinho, a Maria Gil, do Porto, a Toya Prudêncio, de Gondomar, a Vanessa Matos, de Braga”, prossegue. “Como diz um provérbio cigano, ‘A fogueira começa com pequenos ramos’. Esse é o momento em que estamos. Estamos a começar a fogueira. ”Já têm uma agenda concorrida. Algumas estiveram no passado fim-de-semana no Festival Política, organizado pela Produtores Associados e pela Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural, em Lisboa. Muitas estão este fim-de-semana na Academia Política das Comunidades Ciganas, em Torres Vedras, iniciativa do Conselho da Europa, que está apostado em promover a participação. Guiomar Sousa foge agora de todos os holofotes. Morreu-lhe o pai há pouco tempo. E o luto, nas comunidades ciganas, é um assunto muito sério. Um lenço esconde-lhe o cabelo e roupas largas, longas, negras, escondem as formas do seu corpo. Não usa maquilhagem, nem jóias. Não ouve música, nem se deixa fotografar. Quem não deixa de estar em todo o lado apesar do luto integral é Olga Mariano. O seu marido já morreu há mais de 20 anos. E a história da luta pela emancipação das mulheres ciganas confunde-se com a história desta mulher, de 68 anos. Há 50 anos, Olga Mariano fez algo que cigana alguma havia feito: tirou a carta de condução. Não foi um ímpeto feminista. “Às vezes, a necessidade obriga. ” O pai, que era vendedor ambulante, vendera um grande lote de tecido a um alfaiate que lhe pagara com um Fiat 1100 cinzento-claro. Ele nunca fora à escola. “O meu irmão mais velho sabia ler e escrever, mas não tinha a 4. ª classe. As minhas duas irmãs estavam casadas. A única solteira era eu. O meu pai emancipou-me para tirar a carta. ”Viviam no Fogueteiro, na freguesia da Amora, no concelho do Seixal. Olga conduzia os pais às feiras de Sesimbra e de Cascais e às festas da família em Évora. Houve críticas. “Como é possível uma mulher cigana conduzir? Como é que o pai a deixou tirar a carta? Amanhã ela casa-se e ele vai ficar desprevenido. ”A família de Olga era uma excepção. O pai, fervoroso adepto de futebol, lamentava não conseguir ler o jornal A Bola. E queria que o filho e as filhas aprendessem a ler, a escrever e a contar. Eram os únicos ciganos daquela escola. Quase não havia ciganos nas escolas portuguesas. A esmagadora maioria não podia permanecer mais do que 24 horas num sítio, andava de terra em terra a ler a sina, a vender tapetes, cobertores, atoalhados, peças de tecido e outros produtos, a fazer pequenos trabalhos. A carta de condução não foi apenas útil para a família de origem. Foi também útil para a família que Olga formou aos 22 anos. Conduzia o marido à feira e com ele trabalhava de segunda a sábado. Ao longo de mais de 20 anos, tiveram banca em Almada. De repente, ele adoeceu. Ela enviuvou volvidos três anos. Olga fez tudo como manda a tradição. Cortou o cabelo bem curtinho. No primeiro ano, ia ao cemitério todos os dias. Nos primeiros cinco, tinha de usar dois lenços – um mais pequeno, interior, que cobre o cabelo, e outro maior, exterior, que vem da cabeça até à cintura. Só depois podia usar apenas um, atado de trás para a frente. A indumentária era o que menos a preocupava. Pior era aquela dor, pior era reorganizar a vida. “A coisa descambou”, recorda. Os filhos eram muito novos. “Ainda precisavam do braço forte do pai. Eu própria não tinha cabeça para nada. Foi uma fase muito ruim. ”Recorreu ao rendimento mínimo garantido, o actual rendimento social de inserção. Era nova aquela medida destinada a aliviar a pobreza extrema e a ajudar a encontrar forma de sair dela. Num instante, Olga, a filha, Noel Gouveia e outras três ciganas, Alzinda Carmelo, Anabela Carvalho e Sónia Matos, foram seleccionadas para frequentar uma acção de formação. Como dizer não? Em vez de 150 euros de prestação social, receberiam uma bolsa equivalente ao salário mínimo nacional, que rondava os 350 euros. A mediação sociocultural despontava em Portugal por recomendação de Bruxelas. Em 2000, os mediadores começaram a entrar em diversas escolas de territórios considerados críticos. Olga, por exemplo, assumiu de imediato o lugar de mediadora no Bairro Padre Cruz, em Lisboa, e lá se manteve até 2005. Não foram só as portas de uma nova profissão que se abriram. Por sugestão de um formador, logo em 2000, aquelas cinco mulheres fundaram a Associação para o Desenvolvimento das Mulheres Ciganas Portuguesas. Os ciganos, em particular as mulheres, continuavam a deixar a escola muito cedo. E elas queriam reduzir o absentismo escolar, reverter o abandono escolar, ajudar as mulheres a conciliar a vida familiar e profissional. No virar do século, Olga, a mais velha e mais experiente das cinco, tornava-se a primeira mulher cigana a liderar a primeira associação do género em Portugal. Durante 14 anos, a Associação para o Desenvolvimento das Mulheres Ciganas Portuguesas foi a única. Porquê? “Muita relutância dos homens e falta de coragem das mulheres”, resume Bruno Gonçalves, mediador sociocultural que partilha com Olga Mariano o lugar de mais influente activista cigano. Além do domínio masculino colocar grandes entraves ao desenvolvimento pessoal e profissional das mulheres, não há tradição associativa na população cigana. As poucas organizações que tinham aparecido no pós-25 de Abril quase que se resumiam à figura de algum homem respeitado num determinado meio e ao seu círculo. Nos últimos 20 anos, pouco a pouco, alguns homens e algumas mulheres foram-se capacitando através de acções promovidas por entidades públicas, como o Alto Comissariado para as Migrações (ACM), que já teve outros nomes, e privadas, como a Rede Europeia Antipobreza – EAPN Portugal. Se lhe perguntarem o que serviu de trampolim às mulheres, Bruno Gonçalves apontará, sem hesitar, duas iniciativas. Primeiro, o Escolhas, um programa de inclusão social de crianças e jovens de contextos socioeconómicos vulneráveis criado pelo Governo em 2001. Segundo, o Programa Europeu de Formação para Mediadores Ciganos – Romed, lançado pelo Conselho da Europa em 2011. Foi no seio do Romed que em 2013 nasceu a Letras Nómadas, liderada por Olga Mariano e Bruno Gonçalves, que já fora presidente da Associação de Ciganos de Coimbra e vice-presidente do Centro de Estudos Ciganos. A liderança da Associação para o Desenvolvimento das Mulheres Ciganas Portuguesas passou para Noel Gouveia, que está com 43 anos e casada com um não-cigano. De repente, tudo convergia. Mulheres ciganas de toda a Europa juntavam-se em Helsínquia para definir a Estratégia para o Progresso das Mulheres e Raparigas Ciganas. Portugal aprovava a sua primeira Estratégia Nacional para a Integração das Comunidades Ciganas (e que está a rever neste momento). Finalmente, ia haver dinheiro para apoiar o associativismo cigano e alguns pequenos projectos. Em Novembro de 2013, em parceria com a Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres, a Letras Nómadas organizou o I Encontro de Mulheres Ciganas, em Lisboa. “Feliz o dia em que decidimos fazer isso”, comenta Bruno Gonçalves, que levou a mulher, a sogra e a cunhada. Há um antes e um depois daqueles dois dias a pensar o presente e a procurar formas de construir um futuro de emancipação. “Em 20 anos de activismo cigano, nunca andámos tanto. As mulheres são a mudança. ”A cunhada, uma mediadora de 37 anos chamada Tânia Oliveira, resume o encontro em três frases: “Conhecemos várias mulheres com as quais temos objectivos em comum. Isso veio dar mais força às que pensavam que estavam sozinhas. Até hoje lutamos pelo empoderamento das outras mulheres ciganas. ”Na tentativa de fomentar a participação, da segunda edição do Romed formaram-se grupos de acção comunitária em sete municípios. O da Figueira da Foz, coordenado por Tânia, deu origem à Associação Ribalta Ambição – Igualdade de Género nas Comunidades Ciganas. Ela é a presidente e a irmã, Marisa Oliveira, dois anos mais velha, é a vice-presidente. No Verão do ano passado, organizaram o II Encontro de mulheres ciganas. Sob o lema “Siñando Kali [Ser Cigana] no século XXI”, quiseram abrir espaços de diálogo entre ciganas de todo o país, mostrar bons exemplos, semear confiança. Tânia Oliveira gosta de dizer que “é solteira e boa rapariga”. Foge à conversa sobre a pressão social para encontrar um marido e ter filhos, algo que afecta ciganas e não ciganas que já ultrapassaram a barreira dos 30 anos. Prefere pôr a tónica na flexibilidade para trabalhar, estudar e lutar pela igualdade de género. Deixou a escola findo o 4. º ano, apesar de no seu tempo a escolaridade obrigatória ir até ao 9. º ano. “Eu e a minha irmã queríamos estudar, mas a escola era longe e não tínhamos quem nos levasse”, relata, numa mesa de café. “Eu andava nas feiras, não tinha condições de as levar”, acrescenta a mãe, Maria de Fátima, sentada ao lado. A escola não fazia parte das prioridades. A venda ambulante garantia o presente dos pais e haveria de garantir o futuro dos filhos. O abandono escolar precoce era “normal”. “Bem lá no fundo, acreditava que o meu futuro não passava pelas feiras e mercados, nem pelo papel formatado de mulher que cuida dos filhos e da casa”, afirma. “Sabia que podia alcançar muito mais sem comprometer a minha identidade cigana. ”Aos 18 anos, fez um curso profissional que lhe deu equivalência ao 6. º ano. Tornou-se mediadora sociocultural nas escolas da Figueira da Foz. “Foi um enorme prazer ajudar a minimizar o absentismo e o insucesso escolar”, assegura. Esteve lá seis anos. Teve outros trabalhos temporários de mediação. Esteve um ano no serviço de habitação social e outro no transporte de alunos com necessidades especiais. Através do Sistema Nacional de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências, obteve o 9. º ano. Entretanto, despertou nela o desejo de se licenciar. “Para me concretizar enquanto mulher e para dar o exemplo”, justifica. Candidatou-se ao ensino superior, via programa +23. E está a fazer o curso de Animação Socioeducativa na Escola Superior de Educação de Coimbra. Entrar agora até parece fácil, difícil mesmo é ter bons resultados. Está a ser o cabo dos trabalhos. “Passei um bocadinho…. Tenho de acompanhar jovens que tiveram um percurso escolar regular. Não tenho explicações. Estava a trabalhar até às 19h na Figueira da Foz e as aulas começavam às 18h30 em Coimbra. ” O contrato de trabalho acabou. “Vou ter de ir mais às aulas, vou ter de me esforçar mais. . . ”Tem uma bolsa e um tutor. Faz parte do Opre, que começou por ser um projecto-piloto e se tornou uma política pública de acesso ao ensino superior gerida pelo ACM, em parceria com a Letras Nómadas e a Rede Portuguesa de Jovens para a Igualdade de Oportunidades entre Mulheres e Homens. No ano lectivo 2015-2016, eram oito os estudantes apoiados. Agora, são 29. “Cada ano, vamos multiplicando”, orgulha-se. A educação parece-lhe fundamental para a mudança de ideias feitas acerca do seu povo. “Temos um objectivo? Temos. Vamos ter obstáculos? Vamos. Vamos ser apoiadas por alguns? Vamos. Vamos ser criticadas por outros? Vamos. Mas isto faz parte do percurso. É isto que faz a mudança. ” Há uma mensagem que vai repetindo: “Trabalho e estudo, mas nunca deixei de ser cigana. Continuo a respeitar a minha comunidade e a ter o respeito da minha comunidade e isto para nós, enquanto mulheres e ciganas, é fundamental. ”As pioneiras assumiram a escolarização como prioridade. “A minha bandeira é a educação. É o instrumento que nos dá a partilha”, enfatiza Olga Mariano. E é essa também a bandeira das novas activistas ciganas. “É a melhor que podemos ter”, corrobora Guiomar Sousa. “Permite reconhecer e lutar pelo que é nosso por direito. ”A escolaridade da população cigana é muito baixa. “Atinge proporções mais preocupantes entre as mulheres, que na sua maioria não ultrapassam a barreira do 1. º ciclo do ensino básico”, segundo o Estudo Nacional das Comunidades Ciganas, feito por Manuela Mendes, Olga Magano e Pedro Candeias em 2014, a pedido do ACM. E interfere em tudo – no acesso à formação profissional e ao emprego, na capacidade de perceber o funcionamento das instituições, na possibilidade de participar na política. A presença de crianças e jovens ciganos nas escolas portuguesas mais do que duplicou em 20 anos. Poucos, porém, terminam o 3. º ciclo e ainda menos o secundário, segundo o Perfil Escolar da Comunidade Cigana, que caracteriza os alunos matriculados nas escolas públicas do continente no ano lectivo 2016/2017. Na tentativa de fazer com que todos cumpram a escolaridade obrigatória, que agora vai até ao 12. º ano, o Ministério da Educação criou outras ofertas educativas, como os Percursos Curriculares Alternativos, os Programas Integrados de Educação e Formação ou os Cursos Profissionais, onde está grande parte dos alunos ciganos. E o ensino doméstico, o ensino em itinerância e o ensino à distância. A questão é complexa, até porque a escola é uma realidade recente na vida dos ciganos portugueses e a mentalidades não mudam do dia para a noite. Se dúvidas houvesse, bastaria ver que uma das netas de Olga frequenta o ensino doméstico. E essa não é uma escolha da avó. “O melhor é fazer tudo direitinho até ao 12. º ano, mas se vão tirar as meninas da escola. . . eu costumo dizer: quem não caça com cão caça com gato. ” Como tem equivalência ao 12. º ano, assumiu o papel de tutora. “Eu mantenho-a ali certinha. Ela não falha. ”Olga associa a escolha do filho e da nora à “censura social”. Moram a quatro ou cinco quilómetros da escola. O horário dos transportes públicos nem sempre coincide com o horário escolar da menina de 12 anos. Os pais trabalham, não podem aparecer à hora certa para a transportar entre cá e lá e não querem que ela seja objecto de comentários. Quando isso acontece, há processos de marginalização dentro da comunidade. O argumento étnico é conhecido. A honra é importantíssima no seio das comunidades ciganas. A honra das famílias tradicionais assenta no comportamento das mulheres, que se devem manter castas até ao dia do casamento. A opinião dos outros membros da comunidade é muito pertinente. Para garantir que uma rapariga não é alvo de falatório, a partir da puberdade limitam-se os contactos com rapazes. “Nós ainda vivemos na aldeia, mesmo estando nos meios urbanos”, explica aquela dirigente associativa. “As nossas aldeias são os bairros sociais. Toda a gente sabe a vida de toda a gente. Há aquela censura. Continuamos a ter um grande controlo social, porque vivemos à margem – não porque queremos, mas porque as câmaras nos põem em bairros sociais e os não-ciganos não nos querem ao pé deles. ”O rendimento social de inserção tem tido um papel fulcral. Para não arriscar perder aquela prestação social, muitas famílias mantêm as crianças e jovens na escola e algumas mulheres têm iniciado ou retomado a trajectória escolar através de programas de educação alternativos, como a alfabetização de adultos, o Sistema Nacional de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências ou a Iniciativa Novas Oportunidades. A sensação de que a venda ambulante é uma carreira em vias de extinção também é algo motivador. Pode ser uma revolução, apesar de todas as limitações. “Fui beneficiária do RSI durante três meses”, sublinha Noel Gouveia. “Há 17 anos que sou contribuinte. ” É mediadora sociocultural, professora de dança cigana, dirigente associativa. Também saiu da escola com o 4. º ano. Foi fazendo formações. “A escola é a base de tudo. ”Já fez mediação em escolas. Agora mesmo é mediadora Opre. “Eu namoro a família para que ela permita o casamento entre a filha e o curso e namoro a universidade, como se fosse a sogra, para ela receber bem a nora”, brinca. “Tem sido uma experiência única e de verdadeira mudança dentro das comunidades ciganas e fora delas. Daqui a uns anos, vamos ter muitos licenciados. Nada como ter exemplos vivos. ”Por ser considerada um exemplo para outras mulheres, Toya Prudêncio, 30 anos, recebeu o galardão de Cigana do Ano em 2016. “É sinal que estou a percorrer o caminho certo”, orgulha-se. Foi a segunda vez que tal distinção foi atribuída pela Letras Nómadas. Guiomar Sousa recebera-a em 2015. Também saiu da escola finda a 4. ª classe. Tinha de limpar, cozinhar, lavar roupa e criar a irmã, de três anos. “Eu tinha o sonho que acho que toda menina tem: casar-se, ter filhos, ter um lar. ” Conheceu o marido, Bruno Prudêncio, numa festa de noivado, contava 16 anos. Começaram a falar às escondidas. Volvido meio ano, uniram-se. Não fizeram um casamento tradicional cigano, com três dias de festa, porco no espeto, sucessivas mudas de roupa. Fizeram um “fugimento”, isto é, desapareceram durante três dias. Andaram a passear pela região centro. No regresso, foram recebidos pelas famílias em festa. Como a prioridade é manter a honra da família, se um rapaz e uma rapariga têm sexo, as famílias consideram que estão casados. Toya deixou a casa da família, na Maia. Estiveram um mês em casa dos sogros, em Gondomar. E arrendaram uma casinha que era “metade” da sala do apartamento que hoje ocupam. “Nos primeiros anos, as feiras ainda davam. Depois, começamos a ver que não era vida”, conta ela. Ele queria voltar a estudar. Abandonara a escola no 6. º ano. Fez um curso de educação e formação de adultos que lhe deu equivalência ao 9. º. Toya está a contar esta história sentada à volta da mesa da sala. O marido está sentado no sofá, a estudar, e diz: “Tinha o 9. º ano, não consegui emprego. Toca a voltar à escola. Três anos e meio. Tinha de apanhar três autocarros. Tirei o 12. º ano – um curso profissional de técnico multimédia. Agora vai surgir qualquer coisa. Incrível. Só mesmo filmando as caras que as pessoas fazem. As pessoas não têm noção – a cara que fazem, o ar de riso, o ar de quem está enojado por estar na nossa presença. ”Não foi perda de tempo. Entrou como cantoneiro na Junta de Freguesia de Baguim do Monte. O presidente olhou para o currículo e mudou-o para a secretaria. Durante cinco anos, trabalhou lá. “Sempre através de medidas de emprego, sem direito a subsídio de férias, subsídio de Natal, subsídio de desemprego. ”Toya começou a pensar na possibilidade de voltar a estudar. “A vida estava estabilizada. ” A câmara atribuira-lhes um apartamento. Todos os dias, o marido ia para o trabalho, as filhas iam para as aulas e ela ficava em casa. “Eu sempre gostei de saber mais. O meu cérebro nunca andou muito quietinho. ”Pensava começar por uma certificação de 6. º ano. Bruno Gonçalves, “esse grande desestabilizador”, desafiou o casal a tentar entrar no ensino superior, através do +23. Tinham de se inscrever em duas cadeiras isoladas, para ver como se adaptavam. “Apliquei-me 100%. Às vezes, estávamos os quatro aqui a estudar. ”Bruno entrou logo no curso de Educação Social na Escola Superior de Educação do Porto. Toya não conseguiu entrar à primeira. Virou-se para outro lado. Começou este mês o curso de Educação da Universidade Aberta. Os sonhos de Toya alteraram-se. “O meu sonho é acabar o meu curso e arranjar um emprego, dar uma vida melhor às minhas filhas. O que me imagino a fazer? Tanta coisa! Jesus! O que mais quero fazer com este curso é empoderar jovens, incentivá-los, mostrar que há outros caminhos. Quero trabalhar com jovens de etnia cigana e não só. Nem só os de etnia cigana precisam de incentivo. Moro num bairro social e vejo isso. ”O entusiasmo não abafa a necessidade de medir as palavras. Assumindo-se como feminista, isto é, como defensora da igualdade de género, Guiomar Sousa explica o cuidado: “O feminismo é um terreno minado. Temos de saber onde pisamos para que os nossos tenham a plena noção do que nós defendemos. ”As activistas estão mobilizadas para lutar pelo direito à educação, pelo conhecimento da história e da cultura da população cigana, contra a discriminação étnico-racial, contra os estereótipos de género, pelo “empoderamento” das mulheres. Isso é evidente nos projectos que têm desenvolvido com o Fundo de Apoio da Estratégia Nacional para a Integração das Comunidades Ciganas. Não discursam sobre práticas culturais nefastas. O grande tabu é o teste de virgindade. Há quem se limite a afirmar que o assunto é privado (inúmeras mulheres sentem-se honradas e sentem que honram as suas famílias com tal prática). Há quem se limite a dizer que é raro (a maior parte dos casais, hoje, opta pelo “fugimento”). E há quem veja nesta prática um atentado aos direitos humanos, mas tema as reacções dos defensores das tradições (afinal, a ideia é provar que uma mulher pode estudar, trabalhar, ser activista sem deixar de respeitar as tradições). Há reacções defensivas quando se puxa pelo assunto casamentos arranjados. “Ninguém é obrigado a casar-se”, frisa, por exemplo, Olga Mariano. Os pais podem combinar tudo quando os filhos são crianças, mas não os podem forçar. A rapariga pode “dar cabaças”, isto é, pode romper o compromisso. A mesma reacção defensiva ocorre quando o assunto é o casamentos precoce. “Nenhum pai quer que uma filha se case antes dos 18 anos”, afirma a activista. Só que muitos, como já se disse, optam pelo “fugimento”. Basta-lhes desaparecer umas horas. “Culturalmente, não há namoro. Quando um rapaz toca numa rapariga, é para ficar. ”Para Maria Gil, o maior desafio de qualquer feminista cigana “é criticar as estruturas patriarcais internas sem reforçar os estereótipos negativos sobre a sua comunidade”. A população cigana não é homogénea. As comunidades são muito diversas. E o machismo não é um exclusivo destas comunidades. “Estamos a começar a fazer alguma coisa. A partilha de preocupações parece pouco, mas já é alguma coisa”, realça. A escolaridade não é só uma via para o emprego. “A escolarização vai abrandar o ritmo dos casamentos precoces. E criar massa crítica de práticas que vão contra a dignidade da mulher. ”Diz coisas que nenhuma outra activista se atreve a dizer. Como esta: “A violência doméstica é silenciada. Uma mulher cigana não pode denunciar um homem cigano à polícia. Conheço mulheres ciganas que fizeram isso e estão fora do país. Os filhos não falam com elas. O facto de terem fugido de uma história de violência faz delas umas putas. ” As separações, como as uniões, são assunto de toda a família. “Às vezes, não podemos fazer esta exposição”, esclarece Maria Gil. “Eu posso, porque já não tenho tanto medo, tenho algum. Há mulheres activistas que não podem dizer tudo o que pensam. Têm de ter o aval do marido. Vivem com aquele medo de, a qualquer momento, ver a sua caminhada interrompida…. ”Já foi ameaçada por se assumir como feminista, por falar do que não se fala, por contestar homens mais velhos. “Já recebi telefonemas: ‘Vê lá como é que falas da próxima vez que fores à televisão. ’ Já apanhei alguns sustos. ” Não é só o sexo masculino. “O machismo é tão perverso que gera nas mulheres um sentimento de protecção. ” Muitas “são umas patetas alegres, têm um homem que toma conta delas e defendem que há as mulheres sérias, que são firmes, castradoras, e as outras, que ousam fazer as suas opções”. Às vezes, cansa-se, mas não se cala. “Compreendi que era importante ser voz. E a verdade é que o faço de uma forma, se calhar, diferente da que outras fazem, porque elas têm um suporte que eu nunca tive”, diz. “Tenho de fazer valer o meu direito à liberdade. Desde cedo me vi privada de liberdade. ”Maria Gil tinha sete anos quando o pai morreu. A mãe tirou-a da escola. Deixou-a voltar aos oito, de luto carregado. Voltou a tirá-la quando ela concluiu o 4. º ano. “Resisti. Percebi que era tratada de forma diferente por ser menina. Por ser menina, não podia usar calças. Por ser menina, não podia sair sozinha. ”Havia regras que não lhe faziam confusão. Não sentia falta de saídas noturnas, para bares ou discotecas, por exemplo (“Havia tanta festa em casa”). Mas outras faziam-lhe e rebelava-se contra elas. Devorava os livros dos primos, que continuavam a ir à escola. Estudava sozinha. Fez o 6. º ano autopropondo-se a exame. Foi fazendo as suas escolhas – e pagando o preço. Casou-se com um não-cigano com quem teve três filhos. “Era uma história de amor que eu queria viver. ” Separou-se. Esteve uns anos sozinha. Juntou-se a outro não-cigano. Teve uma filha. E sentiu-se muitas vezes posta de lado por isso. As relações com não-ciganos não são bem vistas. Nota uma espécie de medo. “Isso revelou-se mais quando decidi não voltar para casa da minha mãe com os meus quatro filhos, ficar a morar com eles no centro da cidade, sem o controlo directo de familiares. ” Que exemplo está ela a dar a outras meninas e mulheres? “Mostro que é possível uma mulheres estar sozinha e isso provoca receio numa população que está estruturada em torno da família. ”Alerta várias vezes para a necessidade de não se generalizar. “Esta é a minha experiência. Há mulheres ciganas que não se identificam comigo. Há mulheres que por causa disso me dirigem insultos. E há mulheres com as quais não me identifico de todo. Eu não me identifico com mulheres que silenciam a opressão. ”Cada uma das mulheres que dão forma ao movimento tem uma história única. “Este movimento pode levar a alguma coisa”, acredita. “Não é um movimento registado. É uma sucessão de palavras e de acções. Cada mulher vai dando o seu contributo. No Norte não temos uma associação. A ideia é criar uma e fazer um trabalho mais consistente. ”A Estratégia Nacional para a Igualdade e Não-Discriminação 2018-2030, aprovada em Janeiro, assume como objectivo central a eliminação dos estereótipos de género. Reconhecendo que estes se cruzam com outros, reconhece necessidades específicas de mulheres ciganas, afrodescendentes, idosas, com deficiência, migrantes, refugiadas. Do Plano de Ação para a Igualdade entre Mulheres e Homens consta o “envolvimento de crianças ciganas, particularmente meninas, em actividades de promoção do ensino e de combate ao abandono escolar”. E o Plano de Combate à Violência contra Mulheres e Violência Doméstica refere “programas específicos para a intervenção junto de vítimas em situação de especial vulnerabilidade em virtude da intersecção de vários factores de discriminação”, incluindo mulheres ciganas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Já fizemos muito trabalho”, suspira Noel Gouveia. No início deste ano, a sua associação passou a partilhar a sede com o Centro Romi, um espaço comunitário projectado por oito mulheres ciganas. “Já passámos esta luta para outras mulheres. Isso é muito bom, mas no fundo estamos a vender sonhos sem segurança. ” Sonhos sem segurança? “Estamos a incentivá-las a sair do rendimento social de inserção, a estudar, a arranjar emprego, mas ninguém nos dá emprego, temos de ser nós a criar emprego para nós. Aquelas mais clarinhas não dizem que são ciganas e arranjam um trabalhinho. As mais escurinhas, como eu, não. ”Conta 17 anos de sucessivos trabalhos temporários. “Estou tão precária e insegura como se estivesse na praça. Na praça, tínhamos de comprar à noite para vender de manhã. Aqui é igual. Não sei se amanhã vou ter projecto. ” Olha para a filha, que tem nove anos e está no 3. º ano. Não pode desistir. “Gostava que a minha filha não fosse identificada pela etnia. Ela é mulher, é portuguesa, faz parte da raça humana. Para os não-ciganos é a ciganita, para os ciganos já não é cigana, porque o pai dela não é cigano. Ela costuma dizer que não é só uma sandes de queijo, nem só uma sandes de fiambre, é uma sandes mista. ”
REFERÊNCIAS:
Pio arromba o filme e Jonas chega mais perto de si próprio
Um cineasta nascido em Nova Iorque foi abalroado na Calábria por um adolescente cigano. Através da personagem de Pio, Jonas Carpignano, italiano para os americanos, americano para os italianos, pele negra para os brancos, demasiado claro para os negros, tacteia o seu sentimento de não pertença. Com A Ciambra há um pacto em movimento entre o cinema, as pessoas e os lugares, por um sobrinho-neto do neo-realismo italiano. (...)

Pio arromba o filme e Jonas chega mais perto de si próprio
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 5 Ciganos Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-08-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um cineasta nascido em Nova Iorque foi abalroado na Calábria por um adolescente cigano. Através da personagem de Pio, Jonas Carpignano, italiano para os americanos, americano para os italianos, pele negra para os brancos, demasiado claro para os negros, tacteia o seu sentimento de não pertença. Com A Ciambra há um pacto em movimento entre o cinema, as pessoas e os lugares, por um sobrinho-neto do neo-realismo italiano.
TEXTO: Pio vem das margens de um filme anterior, onde era personagem secundária. E é como se agora arrombasse a porta — não é metáfora — para ser protagonista. É comovente ver uma personagem a ocupar um filme como coisa de vida ou de morte. Ganha-se, aliás, se se vir Mediterrânea (2015) e A Ciambra (2017) de seguida: avista-se Pio mais ao lado no filme que Jonas Carpignano realizou em 2015, como uma tentação de caos para quem está ao centro, Ayiva, um refugiado do Burkina Faso que atravessou mar e terra em busca de ordem na Calábria; no filme de 2017 com que Carpigano se manteve em Gioia Tauro, no Sul da bota italiana, mas redireccionando a atenção para outra personagem, já é o caos que ordena. Ayiva fica de lado, Pio ocupa o ecrã. A Ciambra é o filme que agora se estreia. Realização:Jonas Carpignano Actor(es):Pio Amato, Koudous Seihon, Damiano AmatoÉ como se a ficção e o documentário, para resumir de forma grosseira, trocassem de lugar. Do filme de uma personagem com um plano e direcção — o desígnio ficcional como busca de normalização – passamos à realidade sem planos ou desculpas. Mediterrânea, o filme “de” Ayiva, é mais “normalizado” do que A Ciambra, o filme “de” Pio. Mas é inescapável que ainda assim de cada vez que o africano Ayiva e o adolescente Pio se encontram em A Ciambra — o pacto entre dois mundos que se sentem excluídos dos “italianos”: o dos refugiados africanos e o de uma família cigana, os Amato – o filme parece ser tomado por tentações redentoras. O protector Ayiva tenta normalizar o imprevisível Pio — o rapaz de 14 anos que quer afirmar-se como adulto repetindo os gestos do clã — como talvez o realizador Carpignano queira atribuir sentido, propósito redentor, à sua experiência imersiva, quando se deixou abalroar pela família Amato no seu domínio chamado A Ciambra e quando os abalroou com o seu cinema. A primeira meia hora, ainda antes da “história” que quer atribuir sentido a tudo, é deles e dos esquemas com que se esgueiram entre a máfia calabresa e a polícia: roubar carros e “negociar” a devolução. Não se sabe quem utiliza quem no mundo fechado de crimes e escapadelas que, ao permitir ao cinema entrar, lhe devolve uma mão-cheia de cenas com facas, roubos, cigarros e fumarada. É um pacto que não é de não ingerência. Mas tem a delicadeza de não objectificar pessoas e gestos. O realizador desvenda, tanto quanto é possível passar segredos, o método. “Os dias não eram estruturados. Aparecíamos às oito da manhã, filmávamos cinco ou seis horas e depois parávamos para almoçar e ficávamos por ali, pela casa. Quando sentíamos que estavam prontos, voltávamos a reuni-los e filmávamos o mais que podíamos — muitas vezes apenas duas horas. Comecei o filme com um outline de personagens e situações, mas o que ia vendo era sempre mais verdadeiro em relação ao lugar. Por exemplo, conversas entre duas pessoas numa colina. . . ou miúdos a queimar cobre. . . isso entrava na narrativa. ”A ideia de fazer os Amato “representar” os seus actos, concorda, podia ter resultados obscenos, mera imitação da verdade. “À medida que as conversas progrediam, eu dirigia-as para onde sentia que deviam seguir, mas o plano não era repetir a cena como se estivessem a representar as suas actividades. Por exemplo, os miúdos fumam. Nunca disse a algum deles ‘agora tens de aceder um cigarro porque na cena anterior estás a fumar’. A ideia era que fizessem o que normalmente fariam. Sabia que certas conversas iriam aparecer, que alguns iriam comportar-se de certa maneira. A cena do jantar em família, por exemplo: nunca disse que o principal seria a irmã de Pio embebedar-se, mas sabia que se nos sentássemos todos ficariam bêbedos porque isso tinha acontecido milhões de vezes antes, e que ela começaria a beber muito e que desceria aquele clima ligeiro de gozar com as conversas. Tinha acontecido sempre quando jantava com eles. Não, não era preciso recriar. ”Aliás, Jonas conta que, tendo havido “problemas técnicos” nas primeiras semanas de rodagem de que resultou o desfoque de cenas, foi necessário voltar a filmar, mas. . . “Nove em dez vezes acabei por utilizar o material desfocado. Quando eles tinham de fazer algo que já tinham feito, ficavam demasiado conscientes sobre os caminhos que a conversa devia tomar e para onde é que eu estava a conduzi-los. São quase todos analfabetos. Não havia argumento que pudessem ler. Quando chegavam, conversávamos, o que permitia manter a espontaneidade. Nunca foi o processo de dizer o que tinham de dizer. ”Por isso talvez aquele momento paradoxal que é a sequência do funeral. Durante o serviço fúnebre na igreja, o padre apresenta os membros da família do defunto e os planos de A Ciambra vão dizendo também quem é quem. O momento é paradoxal porque, dizendo-nos que eles são eles, mostra também que os Amato não estão reféns deles próprios, elevaram-se a personagens de cinema. “Conheci esta família quando estava na região a rodar uma curta” sobre a chegada a Itália de refugiados africanos (A Chjana/The Plain, 2012, seria o antepassado de Mediterrânea). “O carro com material técnico foi roubado por um dos irmãos de Pio. Fui negociar a devolução, mas não estavam disponíveis devido à morte de um familiar, só podiam negociar depois do funeral. Ou seja, a primeira coisa que vi deles como família foi o funeral. O carro que tinham roubado era fundamental para o meu trabalho, tive de esperar e pude observar tudo. Esse funeral estruturou para mim aquela família, delineou quem era quem, as relações que tinham uns com os outros, de uma forma que nunca fazem: é difícil saber quem é quem, de que forma estão relacionados. Foi por isso o momento, no filme, de explicitar de forma natural quem era quem. Não gosto quando os filmes traem a lógica de um mundo em favor da exposição. ”Caberá aqui, para resolver “o assunto” Martin Scorsese — é o produtor executivo – sem massacrar Jonas com o peso do italo-americano, contar que, do encontro que há semanas os dois tiveram em Bolonha, Jonas, nunca tendo perguntado directamente “porque é que se interessou pelo meu filme?”, acha que Scorsese “sentiu, ao ver A Ciambra, que estava a viver com aquelas pessoas. Que, não as conhecendo, conhecia-as bem”. Por essa razão, aliás, gostamos muito de Mean Streets (1973). Dias antes desta conversa, Jonas levou os Amato a almoçar na praia. Ao contar isto, quer sublinhar que a história entre eles começou antes dos filmes e continua após os filmes. “É uma relação que decorre. Foi um período intenso, vimo-nos todos os dias durante meses, mas agora não é um ‘cada um vai à sua vida porque o filme acabou’. Não. Antes já havia relação, éramos amigos mesmo antes de saber que faria um filme com eles. E enquanto não soube que tinha dinheiro para o filme, nunca lhes falei disso, não queria desapontá-los. Eles contam-me coisas, eles sabem coisas de mim. Antes de mim, ninguém tinha ido comer uma refeição a casa deles. ”Mas acrescenta: é uma relação de confiança com limites. “Sei que, embora gostem de mim, nunca poderei ser um deles. Dei-me conta, em algumas situações, e até por aquilo que no filme se passa entre Ayiva e Pio” — a amizade a concorrer com a fidelidade familiar —, “de que, quando encostados à parede, escolhem um deles e não a mim. Ou seja, sinto-me felizardo por ter chegado muito perto deles e muito perto dessa linha divisória e muito consciente dessa linha divisória”. “É verdade que Pio entrou na minha vida um pouco como tenta arrombar a porta” em A Ciambra, continua. Jonas, como contou, estava a trabalhar na curta A Chjana/The Plain. Quis expandi-la para uma longa mas não conseguiu pôr o projecto de pé” — haveria de ser Mediterrânea. Pio andava por ali “constantemente” à volta de Jonas, Jonas à volta de Pio. Decidiu filmar o novo amigo. “Foi com ele que se infiltrou em mim o conhecimento desse lugar” — A Ciambra, onde antes nenhum italiano entrara, seria então o título de uma curta antes de ser esta longa. “Eu passava, naquela altura, mais tempo com os africanos, mas comecei a conhecer os ciganos e senti-me incompleto se não incluísse Pio e a sua família” no que filmava. Jonas, Pio, Ayiva. Talvez chegue a altura para perceber o que atraiu e mantém o realizador interessado em Gioia Tauro, na Calábria, e nas mutações desse território, de contar que o realizador, 34 anos, filho de pai italiano e de mãe de Barbados, vivendo entre Nova Iorque e Itália (neste momento), sabe da sensação de não pertencer. Antes disso, uma revelação exaltante: Jonas é sobrinho-neto de Luciano Emmer, o realizador de filmes como Domenica d’Agosto ou Le ragazze di Piazza Spagna, que por sublimes que sejam não o salvaram do esquecimento. Sabe, desde criança, desde Nova Iorque, que o cinema é uma questão de território e pessoas, que cinema era sinónimo de Itália. “Cresci numa casa em que o cinema era importante todos os dias. Sempre houve discussões apaixonadas, os filmes eram parte da vida. Por isso, quando comecei a fazer filmes, vim imediatamente para Itália. Mas nunca disse a mim próprio que queria fazer parte da tradição do neo-realismo. Mas obviamente que, quando comecei a tomar decisões sobre como contar histórias, esses filmes, que foram os primeiros a emocionar-me e a formar-me, passaram a estar presentes. São as minhas referência. ”Nova Iorque, Itália, Barbados, brancos e negros. . . “Quando estou em Nova Iorque, sou o italiano; em Itália, sou o americano. Quando estou com brancos, sou o tipo de cor; quando estou com negros, sou o tipo de pele clara. Sempre senti que havia algo que me mantinha fora das pessoas que estão na estrada principal, sempre questionei o que era pertencer. Sou muito sensível a isso. O que me tocou em A Ciambra é que aquilo pelo qual aquela família é criticada, que é também a sua força: a solidariedade. Esse implacável ideal de que pertencem a uma tradição é o que os leva a serem segregados mas também é o que tornou possível que tivessem sobrevivido centenas de anos sem país sendo perseguidos em todos os países. Embora não me analise, não posso deixar de perceber que os filmes que estou a fazer têm lá dentro essa questão. À medida que exploro esta comunidade, acabarei por chegar perto de saber o que é que isso significa para mim. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os filmes que tem andado a fazer terminam com um desfoque. Com isso libertam a sensação de que algo continua para as personagens e que algo continua no trabalho de Jonas. Ver Mediterrânea e A Ciambra, um a seguir ao outro, como desafiávamos no início, torna nítido esse movimento de descoberta de um território e suas personagens. “Os filmes são processos de descoberta de pessoas que entraram na minha vida e como tal não quero nem posso prever o que essas pessoas serão. . . o desfoque é possibilidade de encontro mais à frente na vida, forma de dizer aos espectadores: ‘não pensem que sabem tudo sobre estas pessoas, quando voltarmos a elas iremos saber mais’, iremos saber o que lhes foi acontecendo ou onde elas estão. É uma forma de medir a temperatura. Não só desta região mas também deste país. ”A vida em Gioia Tauro, diz Jonas Carpignano, nascido em Nova Iorque, está a ser um processo de descoberta: chegar mais perto de si próprio.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
São já seis as regiões somalis em estado de fome, alerta ONU
Uma sexta região entrou no mapa territorial da Somália em estado de fome, segundo o alerta lançado hoje pelas Nações Unidas com o aviso de que a situação “vai apenas piorar” nos próximos meses dada a seca de “impacto excepcional” que assola todo o Corno de África. (...)

São já seis as regiões somalis em estado de fome, alerta ONU
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-09-05 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma sexta região entrou no mapa territorial da Somália em estado de fome, segundo o alerta lançado hoje pelas Nações Unidas com o aviso de que a situação “vai apenas piorar” nos próximos meses dada a seca de “impacto excepcional” que assola todo o Corno de África.
TEXTO: O número de pessoas que morrem devido a carências alimentares na zona sul da região de Bay subiu para lá do que é definido como fome pelas Nações Unidas: 30 por cento da população em estado de grave má nutrição e uma taxa de mortalidade diária de duas por cada dez mil pessoas, além de um mínimo de 20 por cento dos agregados enfrentando grave escassez alimentar. “Se o actual nível de resposta [a esta crise humanitária] continuar, a fome vai continuar a espalhar-se e a aumentar nos próximos quatro meses. No total são já quase quatro milhões de pessoas em situação de crise na Somália, das quais 750 mil se encontram em risco de morte nesse mesmo período na ausência de uma resposta adequada de distribuição alimentar”, é sublinhado em comunicado do Centro de Análise para a Segurança Alimentar (FSNAU), das Nações Unidas. “Morreram já dezenas de milhares de pessoas, a maioria das quais são crianças”, prossegue o documento. A região de Bay, que integra a cidade de Baidoa, uma das mais importantes do país, está sob o controlo dos rebeldes islamistas da Al Shabaab, à semelhança do que acontece com a maior parte do território sul e centro da Somália. É a mais recente a juntar-se ao rol de regiões somalis em grave crise alimentar declaradas desde o passado mês de Julho pela ONU, depois de Bakool e Baixa Shabelle, que lhe são vizinhas, os campos de refugiados de Afgoye, que acolhem mais de 400 mil pessoas no norte de Mogadíscio, e ainda os que se localizam na própria capital somali, mais os distritos de Balaad e Adale, ambos na região de Shabelle Central. Cerca de 12, 4 milhões de pessoas por todo o Corno de África vivem actualmente a pior seca em seis décadas e encontram-se em estado de crise alimentar grave – nas quais se integram 3, 7 milhões de somalis (praticamente metade da população do país), segundo estimativas da ONU. A Somália é o país mais afectado, tendo a somar à seca a guerra civil que assola o país desde 1991 e deixou arrasadas praticamente todas as infra-estruturas de acesso nas regiões do centro e sul, onde os Shabaab, de resto, declararam “mal vinda” a presença de várias agências de ajuda humanitária, incluindo as da ONU.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Novos ataques contra igrejas no Quénia causam 16 mortos
Pelo menos 16 pessoas morreram em ataques contra duas igrejas em Garissa, cidade do noroeste do Quénia que alberga uma importante base militar de onde foram mobilizadas tropas para combater rebeldes ligados à Al-Qaeda na Somália. (...)

Novos ataques contra igrejas no Quénia causam 16 mortos
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.136
DATA: 2012-07-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Pelo menos 16 pessoas morreram em ataques contra duas igrejas em Garissa, cidade do noroeste do Quénia que alberga uma importante base militar de onde foram mobilizadas tropas para combater rebeldes ligados à Al-Qaeda na Somália.
TEXTO: Os ataques, perpetrados por homens envergando máscaras que lhes tapavam as caras, estão a ser vistos como uma represália pelo envio das tropas quenianas, em Outubro passado, em missões para lá da fronteira de combate aos militantes da Al-Shabaab. As autoridades de Nairobi apresentaram estas operações como visando pôr fim aos raptos e ataques feitos em território queniano em que responsabilizam aquele grupo islamista radical somali – o qual jamais reivindicou tais ataques, antes nega ter participado neles. Os atacantes abriram fogo de espingardas e lançaram granadas para dentro das duas igrejas durante os serviços religiosos da manhã e, além dos já confirmados 16 mortos, há também mais de 40 feridos, alguns em estado muito grave, de acordo com o chefe-adjunto da polícia da cidade, Philip Ndolo. O primeiro balanço de vítimas mortais falava em dez pessoas, mas a Cruz Vermelha e fontes médicas locais actualizaram entretanto esse número em alta. Segundo a polícia, um grupo de pelo menos cinco homens encapuzados atacou uma igreja da African Inlan Mission, e outros dois homens foram responsáveis pelo ataque à outra igreja, também católica. “Ainda não detivemos nenhum suspeito”, avançou ainda Ndolo, citado pela agência noticiosa francesa AFP. A cidade de Garissa fica a cerca de 140 quilómetros de distância da fronteira com a Somália e a menos de 70 quilómetros do gigantesco campo de refugiados de Dadaab, o qual acolhe perto de 465 mil refugiados somalis e onde quatro trabalhadores das agências humanitárias e de nacionalidade estrangeira foram raptados e o seu condutor, queniano, foi morto na passada sexta-feira. O Quénia tem vindo a ser palco de ataques deste tipo nos últimos meses, incluindo a explosão de uma bomba no domingo passado num clube nocturno em Mombaça, em que morreram três pessoas, um dia depois de a embaixada norte-americana no país ter alertado para a ameaça de um atentado iminente naquela cidade. O Conselho supremo Muçulmano do Quénia condenou o duplo ataque desta manhã, frisando que “todos os locais de culto devem ser respeitados”. “Queremos expressar as nossas condolências e dizer que estamos tristes por não ter sido feita ainda nenhuma detenção”, sublinhou o presidente da organização, Abdulghafur el-Busaidy. Notícia actualizada às 13h10
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens campo ataque morto