Realojamento do Jamaica: "Promessas há muitas mas não vejo nada feito”
Até agora, a Câmara do Seixal ainda não garantiu quando é que pode realojar as famílias que vivem no prédio mais em risco. Espera que seja até ao fim do ano. Há gente com coisas empacotadas desde Janeiro, ansiosos por sair. Moradores vão ser distribuídos pelo concelho. (...)

Realojamento do Jamaica: "Promessas há muitas mas não vejo nada feito”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-12-18 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181218183338/https://www.publico.pt/n1844562
SUMÁRIO: Até agora, a Câmara do Seixal ainda não garantiu quando é que pode realojar as famílias que vivem no prédio mais em risco. Espera que seja até ao fim do ano. Há gente com coisas empacotadas desde Janeiro, ansiosos por sair. Moradores vão ser distribuídos pelo concelho.
TEXTO: Ver também Orçamento do Estado terá verbas necessárias para 1º Direito, diz GovernoClarinda, 66 anos, tem parte da sua casa em caixotes. Há meses que entregou os documentos que a Câmara Municipal do Seixal (CMS) lhe pediu de modo a ser realojada. “Disseram que não íamos para um bairro social. Mas não sei para onde vou. Não sei mais nada”, desabafa. É moradora desde 1994 no bairro da Jamaica — ou Vale dos Chícharos —, um rés-do-chão no lote 10, que está em maior risco de segurança e que portanto será o primeiro dos nove prédios a ser despejado e logo demolido. “Este prédio aqui era todo nu, não tinha nada, não tinha ninguém”, recorda. O edifício tem os fios da electricidade à mostra, os tijolos com buracos. O chão é cimento e lá dentro está escuro porque não há luz nas escadas. A casa de Clarinda é luminosa. Tem dois frigoríficos, um que não funciona bem e outro novo desligado à espera da casa nova para se estrear. Passando uma cortina que dá acesso ao quarto, os caixotes com coisas prontas a sair empilham-se do lado esquerdo. “Tenho medo. Estou por cima de água. Todo o esgoto e água que as pessoas usam em casa vai lá para baixo”, aponta para o chão. Situado no Fogueteiro, o bairro da Jamaica apareceu depois da falência da empresa construtora – os terrenos acabaram por ser vendidos pela Caixa Geral de Depósitos em hasta pública ao seu actual proprietário, a empresa Urbangol. Os prédios ficaram a meio da construção, e isso significa que não estão completas as fundações, a rede de água, electricidade, esgotos. À medida que o tempo passou, as casas foram sendo ocupadas por famílias maioritariamente de origem africana, sobretudo de São Tomé e Príncipe. Há décadas que os mais de 200 agregados vivem sem condições de segurança. Finalmente no ano passado, o Ministério do Ambiente anunciou que iria proceder ao seu realojamento, numa colaboração entre o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU), a Câmara Municipal do Seixal e a Santa Casa da Misericórdia, num investimento de cerca de 15 milhões de euros. O realojamento está previsto acontecer em fases, entre 2018 e 2022. Em Dezembro a CMS disse ao PÚBLICO que em Abril iria definir-se uma data para o realojamento das 65 famílias que vivem no lote 10. Aos moradores disseram “arrumem as vossas coisas”, afirma Vanusa Coxi, da Associação de Moradores. Só que até agora ainda não se sabe quando vão sair. O que se sabe é que a saída de todos acontece ao mesmo tempo para evitar que as casas que ficam livres sejam de novo ocupadas — com isto a Associação de Moradores concorda. “Foi também um pedido nosso, há muita gente aqui a viver em dificuldade e basta que uma casa vague para ser ocupada”, acrescenta. A CMS reconhece que há atrasos por questões burocráticas que surgiram com a contratualização das casas e a sua reabilitação. Porém, diz que estão praticamente ultimadas e que se prevê que a erradicação do lote 10 aconteça até ao fim deste ano – a autarquia vai ainda desencadear o processo relativamente à população que está no lote 13, realojando mais 35 famílias. Segundo a autarquia, as partes estão empenhadas em “ultrapassar todos esses constrangimentos de forma célere”. Na semana passada, já depois do contacto do PÚBLICO para um ponto da situação, a CMS pediu à associação uma reunião na qual lhe transmitiu, esta terça-feira, esta mesma informação. A associação pediu à autarquia que chamasse as pessoas e lhes desse “uma justificação”, pois estão à espera. Vanusa Coxi já viu algumas casas em fotografias, “existem algumas boas”, diz. Os moradores vão ser distribuídos por vários bairros do concelho. “Por um lado aqui [no Jamaica] é bom, uma pessoa sai e pede a alguém para dar um olho às crianças. Mas o sonho de sair daqui e ter uma casa condigna é mais forte. Quando foi o recenseamento muitos disseram que não se importavam de continuar cá mas se fosse com as condições que têm as outras casas. Há outras pessoas para quem o facto de o bairro acabar é óptimo”, continua. Ela é uma delas: não se importa de recomeçar num prédio onde não conhece ninguém. “Os meus filhos vão perder alguma liberdade, mas aqui também têm demasiada liberdade e é preciso incutir alguns limites. Fora daqui vai ser possível. ”Em Janeiro, muitos habitantes do lote 10 começaram a empacotar os seus pertences. Andresa Soares é uma delas, tem expectativa de sair. Arrumou “certas coisas” em Janeiro e assim as deixou ficar. “Estamos à espera”. Teme o que pode acontecer ao prédio. Há 27 anos no bairro, e das poucas portuguesas, Teresa Vieira diz: “Já não sei o que quero, promessas há muitas mas não vejo nada feito”. Se há quem queira ficar e resista a mudar para um lugar desconhecido, muitos jovens não pensam noutra coisa. Com 22 anos, Paulo Reis está cheio de "uma vida melhor”. “Tenho a certeza que na nova casa vou ter melhores condições. Só quero algo melhor para mim. Ninguém vai ficar aqui para sempre”, completa este mecânico de navios. Erminda Monteiro, 26 anos, partilha a ansiedade. Há nove anos a morar no lote 10, diz que gostaria de estar num sítio “mais confortável”. “Tenho medo que o prédio desabe, com o pessoal cá dentro”. Auxiliar de cozinha, imagina a nova casa: “Não vou ter barata, não vou sentir muito frio como sinto aqui. ” Já tem tudo preparado para quando for preciso sair. Não sabe é ainda qual a renda que irá pagar. “Saudades terei do bairro, mas há as fotos”, ri. “O bairro acaba, mas as relações não precisam de acabar. Se quiser pego no telefone”. Uma coisa muda: deixar de ter vergonha de dizer onde vive. “Mesmo no local de trabalho, se dissermos que moramos no Jamaica as pessoas ficam assim…. Há muito preconceito. Costumo dizer que moro na Rua 25 de Abril. O que não é mentira…!”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Alfredo Lopes, 53 anos, concorda: “Se for para outro sítio a gente é bem acolhido, acho que as pessoas me vão respeitar mais”. Entretanto, durante a conversa, chegam à porta do prédio Diego, Eduardo e “Messi” (na verdade Artur), de 10 e 11 anos, a dizerem piadas. Estão desejosos de ir porque “as casas não têm condições”. Em tom de gozo, imaginam a nova casa como “uma mansão”, com casa de jogos, “tipo a casa do Cristiano Ronaldo”. Dirce Noronha, também da associação, perdeu a esperança. Acho que a CMS não tinha noção do quão complicado é o processo. “As pessoas estão apreensivas. Mesmo eu”, confessa.
REFERÊNCIAS:
Federer desaloja Nadal da liderança do ranking mundial
Rafael Nadal foi eliminado nos quartos-de-final do torneio em Madrid, perdendo o título na classificação mundial. O português João Sousa assume, por sua vez, o 47.º lugar no ranking. (...)

Federer desaloja Nadal da liderança do ranking mundial
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Rafael Nadal foi eliminado nos quartos-de-final do torneio em Madrid, perdendo o título na classificação mundial. O português João Sousa assume, por sua vez, o 47.º lugar no ranking.
TEXTO: O suíço Roger Federer desalojou o espanhol Rafael Nadal da liderança do ranking mundial de ténis, que foi divulgado nesta segunda-feira e no qual o português João Sousa subiu mais um lugar, para a 47. ª posição. Mesmo não competindo desde Março, Federer, de 36 anos, assumiu o topo da hierarquia graças à eliminação de Nadal - que tinha ultrapassado o suíço na liderança do ranking em 2 de Abril - nos quartos-de-final do torneio de Madrid, no qual defendia o título. Além da troca de posições entre Federer e Nadal, as outras alterações entre os 10 primeiros colocados passaram pela subida do sul-africano Kevin Anderson ao sétimo posto - a melhor classificação de sempre -, anteriormente ocupado pelo austríaco Dominic Thiem, que caiu para oitavo. O alemão Alexander Zverev, vencedor em Madrid, permaneceu no terceiro lugar, enquanto o sérvio Novak Djokovic, antigo número um do mundo, protagonizou uma das maiores quedas no topo do ranking, de seis lugares, para o actual 18. º, a pior classificação desde 2006. João Sousa, que subiu 20 lugares depois de se ter tornado o primeiro português a vencer o Estoril Open, continuou o percurso ascendente, conquistando mais uma posição, para se situar em 47. º, apesar de ter sido eliminado no domingo na segunda ronda do qualifying de Roma pelo chileno Nicolas Jarry. Sousa, de 29 anos, que tinha conquistado no Estoril o terceiro título na carreira, depois dos sucessos alcançados em Kuala Lumpur, em 2013, e em Valência, em 2015, tem como melhor classificação no ranking mundial o 28. º lugar, atingido em 16 de maio de 2016. No sector feminino, a romena Simona Halep manteve-se no comando do ranking, imediatamente à frente da dinamarquesa Caroline Wozniacki e da espanhola Garbiñe Muguruza, enquanto Michelle Larcher de Brito continua a ser a melhor representante portuguesa, tendo subido seis posições, para 514. ª.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Portugal derrotado em Coimbra pela Namíbia
Apresentado novamente com uma equipa jovem e sem os atletas profissionais, a selecção nacional de râguebi foi batida, por 29-23. (...)

Portugal derrotado em Coimbra pela Namíbia
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DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Apresentado novamente com uma equipa jovem e sem os atletas profissionais, a selecção nacional de râguebi foi batida, por 29-23.
TEXTO: Quinze dias depois de ser derrotado na Roménia no play-off de acesso ao Rugby Europe Championship, Portugal somou nova derrota. Na única partida disputada pela selecção portuguesa de râguebi nos habituais jogos-teste realizados em Novembro, a equipa nacional voltou a apresentar-se com muitos jogadores jovens e sem os atletas profissionais e, perante uma selecção da Namíbia que estará no Mundial 2019, os portugueses foram batidos em Coimbra, por 29-23. Os resultados da Namíbia nos dois jogos disputados pelos africanos na digressão que estão a realizar à Europa neste mês tinham sido negativos - derrotas contra a Rússia (47-20) e Espanha (34-13) -, mas contra uma equipa portuguesa pouco experiente os “welwitschias”, que no Mundial do Japão vão defrontar no Grupo B a Nova Zelândia, a África do Sul, a Itália, e o Canadá, justificaram o triunfo. 1 - José Lupi, 2 - Nuno Mascarenhas, 3 - Diogo Hasse Ferreira, 4 – Rui D’Orey, 5 - Salvador Vassalo (5), 6 - David Wallis, 7 – Sebastião Villax, 8 - Francisco Sousa, 9 – Francisco Vieira - 10 – Nuno Sousa Guedes (3+3+3+2+2), 11 - Pedro Silveiro, 12 – António Vidinha, 13 – Rodrigo Freudenthal, 14 – Fábio Conceição, 15 – Manuel Marta (5). Suplentes 16 – João Melo, 17 – João Corte-Real, 18 – Francisco Bruno, 19 – Manuel Picão, 20 – José Roque, 21 – João Belo, 22 – Frederico Caetano, 23 – Pedro Cordeiro. Aproveitando várias falhas de placagem por parte de Portugal, o terceira-linha Thomasau Forbes fez o primeiro ensaio do jogo logo aos 4’, mas a selecção portuguesa reagiu bem e restabeleceu o empate quase de imediato, após um bom ensaio do capitão Salvador Vassalo convertido por Nuno Sousa Guedes. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Após uma penalidade para cada lado, o resultado à meia hora assinava um 10-10, mas em cima do intervalo o talonador Obert Nortje fez o segundo ensaio dos africanos. Porém, à semelhança do que tinha acontecido no início da partida, Portugal reagiu bem e com um ensaio do defesa Manuel Marta, os Lobos chegaram ao final dos primeiros 40 minutos empatados a 17 pontos com a Namíbia. Na segunda parte, porém, os “welwitschias”, mesmo sem jogarem bem, conseguiram um ligeiro ascendente que foi traduzido em pontos: com dois ensaios, os africanos passaram a vencer por 29-20. Nos últimos minutos, com nova penalidade de Sousa Guedes, Portugal ainda reduziu para seis pontos a diferença (29-23), mas não conseguiu a derrota no último jogo antes de começar, em Fevereiro, a sua participação no Rugby Europe Trophy, onde começará por defrontar a Polónia.
REFERÊNCIAS:
Tempo Novembro Fevereiro
Reserva Federal anuncia subida das taxas de juro nos EUA
A Reserva Federal (Fed) norte-americana decidiu hoje subir as taxas de juro em 25 pontos base, o terceiro aumento desde o início do ano. (...)

Reserva Federal anuncia subida das taxas de juro nos EUA
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Reserva Federal (Fed) norte-americana decidiu hoje subir as taxas de juro em 25 pontos base, o terceiro aumento desde o início do ano.
TEXTO: Com a economia a manter um ritmo de crescimento forte e a taxa de desemprego a caminhar para mínimos, a Reserva Federal norte-americana correspondeu esta sexta-feira às expectativas dos mercados e voltou a subir as suas taxas de juro de referencia. A taxa de juro da Fed fica agora num intervalo entre 2% e 2, 25%, um valor um quarto de ponto acima do que se verificava anteriormente. A subida é a terceira deste ano e a Fed continua a apontar para a possibilidade de realizar mais uma subida em Dezembro e mais três durante o próximo ano. No comunicado publicado no momento do anúncio da alteração de taxas, a entidade liderada por Jerome Powell deu ainda um outro passo simbólico importante ao retirar, pela primeira vez desde o início da crise financeira internacional, a expressão “acomodatícia” ao descrever a sua política monetária. Este facto revela que a autoridade monetária norte-americana está convencida que, ao fim de muitos anos de uma política extraordinariamente expansionista, se entrou de forma definitiva noutra era. A subida de taxas era largamente esperada pelos mercados, tendo em conta o que tem sido a evolução da economia norte-americana nos últimos meses. Apesar de ainda não se registarem sinais de existência de pressões inflacionistas fortes, há indicadores cada vez mais claros da força da recuperação da economia, que acontece a par com um dinamismo muito acentuado do mercado de trabalho. Nem mesmo o clima de incerteza gerado nos mercados pela política comercial proteccionista da Administração Trump tem evitado a consolidação de uma conjuntura positiva, o que dá mais confiança à Fed para retirar os estímulos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Nesta fase, o maior risco desta política mais restritiva está no impacto que a subida de taxas de juro da Fed pode ter nos mercados emergentes. Taxas mais altas tornam o investimento nos EUA mais atractivo, o que tem vindo a conduzir a um regresso de investidores que nos últimos anos foram à procura de rentabilidades mais altas nas economias emergentes. A consequente apreciação do dólar pode colocar as economias e divisas mais frágeis em problemas. É este fenómeno que ajuda a explicar aquilo que aconteceu nos últimos meses na Argentina e na Turquia e que tem causado também desequilíbrios noutras economias, como a indiana ou a sul-africana. Para a zona euro, a subida de taxas da Fed oferece também mais espaço de manobra ao Banco Central Europeu para continuar a sua própria retirada de uma política ultra-expansionista, que está bastante mais atrasada que a da Fed. com Lusa
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Dona da rede Multibanco está à procura de investidor estratégico
Os bancos accionistas da Sociedade Interbancária de Serviços (Sibs), criada há 35 anos, estão à procura de um investidor que possa ser um parceiro de referência da empresa portuguesa, que gere a rede de caixas multibanco e os terminais colocados nas lojas. No limite, empresa pode ser vendida. (...)

Dona da rede Multibanco está à procura de investidor estratégico
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-08 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os bancos accionistas da Sociedade Interbancária de Serviços (Sibs), criada há 35 anos, estão à procura de um investidor que possa ser um parceiro de referência da empresa portuguesa, que gere a rede de caixas multibanco e os terminais colocados nas lojas. No limite, empresa pode ser vendida.
TEXTO: O processo de procura de um parceiro decorre da mudança das regras europeias e destina-se a potenciar o desenvolvimento do grupo liderado por Vítor Bento, que em 2016 apresentou lucros de 45, 4 milhões, dos quais 42, 4 milhões resultam do encaixe da venda da posição na rede Visa. Depois da tentativa falhada de compra (pela Sibs) da Unicre, o PÚBLICO apurou que os bancos accionistas do grupo presidido por Vítor Bento se preparam para designar o assessor financeiro que vai conduzir o processo que visa adaptar a empresa a um negócio com sinergias de escala. E que possibilite à SIBS tirar partido de uma vaga de concentração que possa juntar entidades que prestam serviços aos bancos no âmbito do sistema de pagamentos europeu. O Deutsche Bank tem surgido como o consultor seleccionado para apoiar os bancos, que terão já conhecimento de manifestações de interesse de investidores nacionais e estrangeiros. Um dossiê que será liderado pela Sibs, mas cuja decisão final terá de ser tomada pelos accionistas presentes em Conselho de Administração. Fontes da CGD e do BCP, dois bancos que dominam quase 50%do mercado e com fortes participações na Sibs, revelaram ao PÚBLICO que estão disponíveis para equacionar a venda das suas acções, caso surja um interessado credível. E notaram que se trata de “activos não estratégicos”. Por seu turno, o CaixaBank, que acaba de assumir o controlo do BPI, também já abriu a porta a poder desfazer-se desta plataforma. No entanto, os bancos remeteram para Vítor Bento os esclarecimentos adicionais. “A Sibs não contratou nenhuma entidade, pois necessitaria de ter mandato dos seus accionistas para o fazer, o que não possui. Mas qualquer accionista pode decidir alienar as suas acções e adjudicar a operação”, explicou um responsável oficial da Sibs (que tem as marcas Multibanco, MB Net, MB Way). Segundo o PÚBLICO apurou junto da banca, há várias vias possíveis: a venda de 100% do capital da Sibs; a escolha de um parceiro estratégico; ou, no limite, se as opções que se abrirem não interessarem, nada mudará. Um banqueiro contactado pelo PÚBLICO considerou que “falar de venda não é o correcto”, mas sim “de procurar o parceiro certo” que possa “complementar o melhor possível a estratégia da Sibs face aos desafios do sistema de pagamentos a nível do espaço do euro e da evolução digital”. Isto, para garantir que a empresa “continua a ser um pólo de inovação nacional” e, nesse caso, até “poderão existir bancos que pretendam continuar como accionistas”. Outro gestor bancário salientou que, para além da pressão colocada pelas “novas regras europeias e pela acentuada digitalização dos meios de pagamento”, há um “tema muito relevante em cima da mesa a preocupar o sistema: o do comissionamento”. A 8 de Setembro de 2016, no contexto das evoluções regulatórias, tecnológicas e de mercado que se manifestam a nível europeu, onde os principais operadores já operam na área de "acquiring", Vítor Bento já tinha dado um passo no sentido de procurar sinergias de escala. E propôs a compra dos activos da Redunicre, do universo da Unicre. Uma operação que veio a ser “recusada” pela Autoridade da Concorrência. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A aquisição do negócio de aceitação de pagamentos com cartão da Unicre (designado oficialmente de "acquiring"), foi apresentada com a finalidade de complementar as actividades “na cadeia de valor do mercado de soluções de pagamento”. O que possibilitaria à Sibs estender a actividade aos 50. 000 estabelecimentos que operam com a Unicre e disponibilizam soluções para aceitação de pagamentos com cartões de vários sistemas de pagamentos nacionais e internacionais, como Visa, MasterCard, Visa Electron, Maestro entre outros. Constituída em 1982 para gerir o sistema de pagamentos com cartões, e fazer o controlo do tráfego e a monitorização, a Sibs tem surgido associada ao desenvolvimento das tecnologias. O exemplo mais conhecido é o da Via Verde, uma parceria com a Brisa. Para além de ter actividade em Portugal, a Sibs está em Angola, na Nigéria e na Polónia. Em 2016, a empresa fechou com lucros de 45, 4 milhões de euros, mais 122% do que no ano anterior. Mas ao contrário do que se verificou em 2015, quando lucrou 20, 4 milhões de euros, em 2016 a Sibs contabilizou resultados extraordinários, que correspondem a 95% do total (42, 4 milhões dos 45, 4 milhões apurados), e que são fruto da venda a posição no Visa. A empresa vai distribuir pelos seus accionistas 35 milhões de euros de dividendos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave concentração
Marcelo Brodsky contra o fim da história (e a letargia da memória)
Há quem teime em não deixar as imagens quietas. O artista e activista argentino é um deles. Em 1968: O fogo das ideias, exposição que esta quinta-feira abre ao público no Museu Colecção Berardo, em Lisboa, este irrequieto criador de imagens tenta acordar ideais do passado de formas “atraentes” para despertar a consciência política de novas gerações. (...)

Marcelo Brodsky contra o fim da história (e a letargia da memória)
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há quem teime em não deixar as imagens quietas. O artista e activista argentino é um deles. Em 1968: O fogo das ideias, exposição que esta quinta-feira abre ao público no Museu Colecção Berardo, em Lisboa, este irrequieto criador de imagens tenta acordar ideais do passado de formas “atraentes” para despertar a consciência política de novas gerações.
TEXTO: Já há pouco de fotógrafo em Marcelo Brodsky. Se é na fotografia que estão os pilares quer da sua formação quer do seu trabalho, é sobretudo no campo aberto da imagem que prefere jogar os seus trunfos, convocando a sua arte de remexer no passado para tentar espicaçar o presente. Na apresentação à imprensa de boa parte do seu trabalho mais recente que decorreu esta terça-feira no Museu Colecção Berardo, em Lisboa, o argentino, misto de artista e activista dos direitos humanos (não necessariamente por esta ordem), demonstrou também como se sente bem a criar imagens para além das imagens físicas colocadas na parede. Ao falar do seu trabalho, a voz de Brodsky impõe-se no espaço; às vezes gesticula de maneira exuberante, faz pausas teatrais, arregala os olhos, desmonta e explica processos de trabalho, desvenda pequenas histórias que se escondem por detrás das imagens que escolheu para 1968: O fogo das ideias, a sua primeira exposição em Portugal, acrescentando mais uma camada às muitas camadas que elas já têm. Acrescentando, de maneira performativa, imagens às imagens. Ao percorrer os nichos e o longo corredor da sala de exposições do piso -1, vamos percebendo como Marcelo Brodsky — que mostrou uma versão mais reduzida desta exposição nos Encontros de Fotografia de Arles deste ano em França, que assinalaram o cinquentenário do Maio de 68 — gosta de se meter em encruzilhadas, talvez muito pelo desafio retrospectivo de compreender o caminho que percorreu até sair delas. O que quer dizer que também há muito pouco de linearidade na sua atitude e no seu gesto criativo, como o demonstram as várias “conversas” e as várias ligações que, em conjunto com a comissária Inês Valle, o artista argentino foi criando para esta exposição em Lisboa (“A arte e a vida andam juntas”). É um ziguezaguear que não retira um centímetro à coerência ou à pujança da mensagem geral da exposição: a de que vale a pena olhar para a marcha do passado para incentivar a inquietude hoje, como um aguilhão que se serve da imagética e do ideário da rebelião como forma de levantamento perante a opressão, a repressão, a perseguição ou a censura. O primeiro (e mais intenso) desses diálogos é com a obra do poeta e artista conceptual belga Marcel Broodthaers (1924-1976), pela qual Brodsky tem grande admiração. Tanta que se misturou nela. Mas já lá vamos. Antes disso, no processo de escolha das obras de Broodthaers pertencentes ao MACBA que iriam viajar de Barcelona para esta exposição houve “uma coincidência”. A dupla artista/curadora descobriu um trabalho do artista belga, L'art et les mots (1973), que encaixa na perfeição no gesto criativo “intervencionista” de Brodsky nas imagens de activismo, inconformismo e revolta que dão corpo a 1968: O fogo das ideias. Tal como Broodthaers decidiu destacar pela cor uma ou outra palavra no meio de uma sopa delas (o conjunto é formado por nove quadros), Brodsky sublinha detalhes, pinta símbolos, risca e acrescenta novos slogans e, sobretudo, sobrepõe palavras às imagens. Ao lado de L'art et les mots um rapaz atira pedras à frente de um grupo de manifestantes numa rua de Paris, num gesto que haveria de se tornar icónico da grande revolta estudantil, primeiro parisiense, depois de outros lugares do mundo. No chão, Brodsky escreveu palavras de ordem. Agora, ao olhar para as duas obras justapostas no Museu Berardo, manifesta um espanto sincero: “Eu nem conhecia esta obra… é uma coincidência, mas não é casual, nada é casual… há várias palavras na minha imagem – ‘liberdade’, ‘revolta’, ‘rua’, ‘violência’, etc – que estabelecem um diálogo muito interessante com esta obra de Broodthaers também feita de palavras. ” Embora Brodsky sublinhe algumas “coincidências” e uma estarrecida admiração pelo belga, a familiaridade entre os dois artistas torna-se mais evidente naquilo que não é sequer imediatamente visível: uma postura irrequieta em relação ao que está placidamente instituído (o museu enquanto elefante branco foi um dos principais alvos de Broodthaers); uma veia questionadora perante visões monolíticas; uma reacção à passividade, ao conformismo ou à aceitação cândida de verdades absolutas, quer se trate de arte ou de outra coisa qualquer. Esta teimosia de querer dizer algo, de manifestar opiniões ou visões da realidade perante as mais difíceis circunstâncias é a pedra de toque de Project pour une conversation (2018), uma sequência de nove fotografias mostrada agora pela primeira vez, na qual Brodsky estabelece um diálogo com o vídeo La Pluie (Project pour un texte) (1969), de Broodthaers, fixando a sua silhueta sobre a projecção desta obra na Bienal de Lyon que decorreu no final do ano passado, onde as obras dos dois artistas estiveram presentes. Em La Pluie, o belga teima em escrever num papel uma mensagem, apesar de fustigado pela chuva, um gesto de resiliência a que o argentino faz vénia, não só com esta série de fotografias (num confronto sempre estimulante e tenso entre imagem fixa e a imagem em movimento), como num vídeo em que mimetiza esse gesto criativo. Em 1968… somos inundados por texto. E pode até parecer paradoxal, mas Brodsky acredita mais nas imagens do que nas palavras. Pelo menos hoje, num tempo em que as primeiras parecem não só ter ganha a batalha da atenção (e da contemplação), como estar próximas de um estatuto de narrador exclusivo. “Se as novas gerações não tiverem imagens não prestam atenção. Para mim, a história só pode ser contada se se partir de uma imagem; se se partir apenas de palavreado não há interesse, eles nem vêem; se não houver imagem, passam a outra coisa que tenha imagem. Então, se a única forma de contar a história é pelas imagens, é preciso desenvolver uma linguagem que inclua palavras e imagens, que seja capaz de atrair. Este é um trabalho sobre 1968, mas é também uma investigação sobre a linguagem, sobre como contar a história, que tanto vale para 68 como para qualquer outro assunto. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Certo é que as imagens que Marcelo Brodsky escolheu para 1968… estão povoadas de palavras, mesmo que soltas, em jeito de slogan, como legenda, pequeno ensaio, clarificação, releitura ou actualização do que pode ser visto nas fotografias. Este exercício de apropriação acompanha-o desde que se lançou na criação artística, depois de muitos anos a dirigir uma agência de fotografia voltada para o território da América do Sul. Desde Buena Memoria (1996), porventura a sua obra mais conhecida, que investiga e problematiza o destino dos seus colegas de turma no Colegio Nacional de Buenos Aires em 1967 (entre eles há assassinados, desaparecidos, exilados, traumatizados…), Brodsky não mais largou a procura das imagens “com potencial narrativo suficiente para que sejam postas em diálogo com textos a si inerentes ou alheios” (Florencia Battiti). Em 1968: O fogo das ideias – corpo de trabalho que começou a ser erguido em 2014 a partir de uma imagem de uma manifestação motivada pelo desaparecimento de 43 estudantes em Ayotzinapa, no estado de Iguala, no México –, o artista argentino revisita os protestos sociopolíticos de estudantes e trabalhadores ocorridos nos anos 60, que vão da Poor People’s March, em Washington, às manifestações contra a Guerra do Vietname que ocorreram em Berlim, Londres ou Tóquio, passando pelas múltiplas e geograficamente diversificadas manifestações e campanhas estudantis contra as estruturas governamentais de então no Brasil, na Argentina, na Colômbia, na Alemanha, no México, no Uruguai, em Moçambique, no Senegal, na Austrália e em Portugal, entre muitos outros. Para a exposição em Lisboa, Brodsky criou especificamente várias obras, que abordam desde a revolta estudantil coimbrã de 1969, aos levantamentos independentistas nos países africanos ainda sob domínio colonial. Para além de dezenas de edições do Diário de Lisboa de 1968, que ajudam a contextualizar a forma como Portugal se via e se colocava perante o mundo, numa altura em Salazar abandonava o poder, há uma instalação sonora com discursos de líderes da época (Che Guevara, Herbert Marcuse, Rudi Dutschke…), onde a palavra (e só ela) ajuda a potenciar imagens. Duas curtas-metragens produzidas para a televisão argentina, mas nunca transmitidas, Ley Mordaza e Snowden, alertam para os perigos do controlo apertado e da vigilância excessiva. Um traço comum a todas as séries é a impertinência, no sentido da recusa da letargia e do acomodamento. Nas palavras de Inês Valle, trabalhos como o de Marcelo Brodsky provam que o mundo não ficará melhor se o deixarmos estar.
REFERÊNCIAS:
Museu Nacional de Etnologia, um caso à parte
O que teria este museu, nascido em 1965, a devolver às ex-colónias? Muito pouco ou nada, diz o seu director. Por ser de criação tardia, nunca foi, ao contrário do que queria o Estado Novo, um museu do Ultramar como muitos dos seus congéneres europeus. (...)

Museu Nacional de Etnologia, um caso à parte
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: O que teria este museu, nascido em 1965, a devolver às ex-colónias? Muito pouco ou nada, diz o seu director. Por ser de criação tardia, nunca foi, ao contrário do que queria o Estado Novo, um museu do Ultramar como muitos dos seus congéneres europeus.
TEXTO: Quando se tenta transpor para Portugal a questão da restituição de património às ex-colónias e se faz o exercício de criar de cabeça uma lista de museus e arquivos nacionais que poderão ter bens a devolver, o Museu Nacional de Etnologia (MNE) aparece nos lugares cimeiros. Afinal, um pouco por toda a Europa, museus como este estão entre os primeiros escrutinados. Paulo Costa, o seu director, ressalva, no entanto, que no que toca a esta “matéria delicada” o MNE é um lugar “especial”. “O caso do nosso museu é particular porque ele é muito tardio [nasceu em 1965] e foi criado numa lógica científica. O seu acervo está, no essencial, apoiado em missões de investigação”, explica Paulo Costa, lembrando que a primeira equipa do MNE — um núcleo dirigido pelo antropólogo Jorge Dias e composto por Margot Dias, Ernesto Veiga de Oliveira, Fernando Galhano e Benjamim Pereira, entre outros — começou a fazer trabalho de campo anos antes e fez deste "um museu das culturas do mundo" e não do Ultramar, como pretendia o Estado Novo (embora tivesse aberto como Museu de Etnologia do Ultramar, a sua primeira exposição foi sobre a alfaia agrícola portuguesa). A primeira colecção inventariada do museu foi precisamente a que Margot e Jorge Dias compraram aos macondes de Moçambique entre 1958 e 1961, período em que estudaram este povo (a peça número um do museu é um pote maconde). “A maior parte das nossas colecções é comprada às comunidades enquanto as equipas estão no terreno. E isso é verdade para as ex-colónias africanas, para o Brasil, para Portugal e até para Timor, já que temos peças que pertenceram ao Ruy Cinatti. Cada peça trazida tem uma origem reconhecida, está devidamente inventariada. Por isso digo que o nosso museu não terá os mesmos problemas de outros. A sua base científica rompe com o paradigma clássico de grande parte dos museus de etnologia do resto da Europa. "Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O MNE tem 42 mil bens inventariados. Desses, precisa Paulo Costa, 2800 são desenhos de Galhano e os restantes objectos etnográficos provenientes de 80 países, incluindo as ex-colónias. “O trabalho de inventariação não está terminado porque estão ainda muitas fichas por digitalizar [nove mil estão online no MatrizNet, o catálogo colectivo da Rede Portuguesa de Museus]. Não posso dizer hoje com precisão quantos destes bens vêm das ex-colónias, mas é possível apurar se quisermos aplicar esse critério de pesquisa porque cada peça do museu tem uma ficha. ”Se em relação aos objectos que resultaram de missões de investigação a proveniência é detalhada, o mesmo não acontece com alguns dos que decorrem de doações e com os cerca de dois mil que para ali foram transferidos pela Agência Geral do Ultramar: “Foram peças reunidas sem critério por elementos da administração portuguesa nos territórios, que chegaram até nós sem informação, sem contexto. Não sabemos como foram obtidas algumas podem ter origens problemáticas. Mas são peças bastante desinteressantes, na sua maioria, estão nas reservas. Não há entre elas nada de singular que mereça um pedido de restituição. É claro que se representantes dos países africanos as quiserem ver, teremos todo o gosto em recebê-los. ”Paulo Costa não conhece ainda o conteúdo do relatório que o presidente francês Emmanuel Macron encomendou a dois peritos, e que defende a devolução das obras retiradas "sem consentimento" das ex-colónias francesas em África, mas está “expectante”. Como a maioria dos seus colegas, sublinha, no entanto, que as coisas têm de ser analisadas museu a museu: “É uma questão política com implicações seríssimas, complexas, a começar pela legislação. É um problema global, mas isso não quer dizer que a sua solução seja global. Há que avaliar cuidadosamente cada contexto nacional. ”
REFERÊNCIAS:
Entidades MNE
“A devolução deve estar despida de qualquer forma de paternalismo”
O historiador moçambicano Joel Tembe não tem dúvidas de que a colonização foi “um dos maiores crimes contra os povos indígenas” e que é “legítima” a devolução de bens culturais. Mas lembra que a arte só será um “rico arquivo” para África se houver paz e estabilidade para garantir a sua preservação. (...)

“A devolução deve estar despida de qualquer forma de paternalismo”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.4
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: O historiador moçambicano Joel Tembe não tem dúvidas de que a colonização foi “um dos maiores crimes contra os povos indígenas” e que é “legítima” a devolução de bens culturais. Mas lembra que a arte só será um “rico arquivo” para África se houver paz e estabilidade para garantir a sua preservação.
TEXTO: Enquanto medida de reparação, a restituição não deve limitar-se aos objectos nos museus, deve abranger também os documentos que estão à guarda dos arquivos, defendem os académicos. Mas, quando se trata de documentação, as dificuldades — e as soluções — podem ser diferentes. Com o aperfeiçoamento das técnicas de reprodução digital, as “cópias” tornaram-se mais baratas e de melhor qualidade e a circulação tornou-se mais fácil. Mas será que a imagem digital substitui a presença do original? A quem deve pertencer um documento físico saído da administração colonial – a quem o produziu ou àqueles quem se refere?Joel Tembe, director do Arquivo Histórico de Moçambique há quase 20 anos, diz que as questões que marcam este debate são “muito sensíveis” mas que há mecanismos de cooperação entre os Estados e documentos internacionais, como a declaração saída da Conferência Mundial Sobre os Direitos do Homem (Viena, 1993), que enquadram o problema dos “arquivos migrados" das ex-colónias. Para este professor da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, há dentro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) a consciência de que “a cooperação cultural é fundamental”, mas é preciso garantir a continuidade dos planos estratégicos que identificam a documentação saída dos antigos territórios ultramarinos para que não se ponha em causa o seu "repatriamento” (o último plano foi o de 2009-2011, diz). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Tembe garante que Portugal e Moçambique assinaram já vários protocolos de cooperação científica desde 1975, visando a partilha de documentos produzidos entre o século XVIII e 1933, embora por motivos técnicos não se tenha feito ainda a microfilmagem dos do século XX. Moçambique tem interesse, também e sobretudo, em todo o acervo documental das décadas de 1960 e 70 (muito do que diz respeito às lutas de libertação foi já cedidos em suporte digital, segundo a Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas). "Tem havido espaço de diálogo entre governos e cooperação entre arquivos. ”Dito isto, Tembe faz questão de sublinhar que a restituição de património é “legítima”, porque ele está ligado à “memória e à pertença identitária dos povos”, porque é uma das expressões “do conhecimento, da estética e da filosofia" do continente africano. Para este historiador, a “devolução” deve, no entanto, “estar despida de qualquer forma de paternalismo e arrogância”. O diálogo intercultural tem de ser feito de igual para igual, mas os países de origem têm de se comprometer com a salvaguarda: “A arte é um rico arquivo para as futuras gerações em África, mas precisa de paz e de estabilidade institucional como garantia da sua preservação. ”Preferindo não comentar a forma como em Portugal se olha para a colonização, o historiador moçambicano acrescenta: “A colonização foi um dos maiores crimes contra os povos indígenas em qualquer continente. ” Em África, continua, conduziu à “usurpação do poder e à destruição da soberania por meio da violência”, à “violação de direitos humanos através da escravatura e dos trabalhos forçados” e à “negação de direitos políticos e de cidadania”.
REFERÊNCIAS:
Entidades CPLP
Como Bush ajudou Portugal para a paz em Angola
Políticos e diplomatas portugueses recordam ao PÚBLICO a influência do falecido Presidente norte-americano na mudança da África Austral e na intervenção cirúrgica contra o Iraque. (...)

Como Bush ajudou Portugal para a paz em Angola
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Políticos e diplomatas portugueses recordam ao PÚBLICO a influência do falecido Presidente norte-americano na mudança da África Austral e na intervenção cirúrgica contra o Iraque.
TEXTO: A administração norte-americana liderada por George Bush foi fundamental para o desenvolvimento do processo de paz em Angola. “Nessa altura, trabalhei muito com os americanos”, recorda, ao PÚBLICO, José Manuel Durão Barroso. “A administração do Bush-pai foi muito importante porque os norte-americanos estavam muito colados à UNITA mas, com o desenvolvimento do processo de paz a situação começou a mudar”, diz Durão Barroso, então secretário de Estado dos Assuntos Externos e Cooperação. “Fui mediador do processo de paz em Angola, estive com Nelson Mandela pouco depois da sua libertação e com José Eduardo dos Santos na noite de 20 de Março de 1990, o que viria a possibilitar a negociação”, prossegue. “Nesse encontro, Eduardo dos Santos, que sempre se recusara a reunir com a UNITA de Jonas Savimbi, abriu a porta para uma primeira reunião”, relata. “Um encontro que viria a decorrer, de forma secreta, no Conventinho de Évora, e que só muito posteriormente foi divulgada”, destaca. “Depois, Portugal convidou os Estados Unidos e a URSS para observadores, que indicaram os seus diplomatas Hank Cohen e Smirnov”, precisa Barroso. O soviético lia todas as manhãs o Financial Times para, como dizia com ironia perante os acontecimentos da Perestroika, saber se o seu país ainda existia. Então, Cohen, um judeu de Nova Iorque, foi mudando de opinião sobre a situação angolana. Durão Barroso e os diplomatas tiveram um encontro com Savimbi em Huambo, depois da conquista da cidade pelas tropas da UNITA, quando as relações entre Washington e os opositores do MPLA já se tinham degradado. No regresso a Luanda, Cohen manifesta em voz alta dúvidas sobre Jonas Savimbi. O que, segundo algumas versões, se deveu a uma troca de cartas entre o líder da UNITA e o Presidente dos EUA, que desagradou muito a George Bush. “Há uma mudança de opinião dos Estados Unidos”, resume Barroso. Uma alteração de posição encadeada numa sequência de factos inovadores da intervenção norte-americana na África Austral. “A libertação de Nelson Mandela e o fim do apartheid na África do Sul, a independência da Namíbia e a saída dos cubanos de Angola foram três condições fundamentais para as negociações de paz em Angola”, descreve, ao PÚBLICO, António Martins da Cruz, então assessor diplomático do primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva. “A pressão para contrariar o apartheid e libertar Nelson Mandela já vinha do tempo do Presidente Ronald Reagan, no entanto, o grande mérito foi de Mandela e de De Klerk [Frederik Willem De Klerk], então Presidente da África do Sul”, contrapõe o embaixador Fernando Neves. “A saída das tropas cubanas de Angola e a independência da Namíbia permitiram o desenvolvimento do processo diplomático”, insiste Durão Barroso. Então, entra em liça o diplomata Chester Crocker, assistente do secretário de Estado para os Assuntos Africanos do Presidente Reagan quando George Bush era vice-presidente. É nessa condição que o Bush-pai vem a Lisboa, em 1986, representando os Estados Unidos na tomada de posse de Mário Soares como Presidente da República com Cavaco Silva em São Bento. “Cavaco e Bush criaram uma boa amizade em 1986 na posse de Soares, houve um jantar entre eles a que assistiram Pires Miranda, então ministro dos Negócios Estrangeiros, e os respectivos assessores diplomáticos, um dos primeiros jantares que organizei em São Bento”, recorda Martins da Cruz. É com Bush na vice-presidência e Frank Carlucci, o antigo embaixador em Lisboa no Verão Quente de 1975, como secretário de Estado da Defesa de Reagan que Portugal recebe 12 F-16. Cavaco passa um fim-de-semana na casa de campo do vice Bush, um rancho em Kennbunkport, no Estado de Maine (ver outro texto). “Conservo experiências únicas dessa visita, como uma ida no domingo de manhã à Igreja dos protestantes, na qual Bush apresentou o primeiro-ministro português aos fiéis”, prossegue António Martins da Cruz. “Em 2001, já com Bush como Presidente, estivemos [Cavaco e o seu assessor] na Casa Branca e falámos sobre Portugal, África e as conversações de paz em Angola”, relata. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Bush pai foi um grande Presidente que soube manter o mundo estável perante a queda da URSS em vez de tentar tirar proveito da fraqueza dos soviéticos”, analisa Fernando Neves. “Apesar dos EUA terem passado a ser a única superpotência, depois da implosão da URSS, Bush não quis uma ordem unilateral”, concorda Álvaro de Vasconcelos, ex-director do Instituto de Segurança da União Europeia. “O que é mais relevante da sua acção foi um sentido muito apurado da diplomacia como a arte da negociação e compromisso”, destaca. Foi assim que a libertação do Kuwait foi feita ao abrigo de uma decisão da ONU, com uma vasta coligação internacional e árabe. “Então, estava no Parlamento Europeu e o grande problema era saber se ele iria ocupar o Iraque, como viria a fazer o filho, ele garantiu que não e cumpriu”, recorda, ao PÚBLICO, Jorge Cravinho. “Não me lembro de nenhum debate em Portugal, foi uma guerra consensual ao contrário da segunda [invasão do Iraque por George W. Bush]”, sintetiza Barroso. Uma acção cirúrgica, com desenvolvimentos na questão palestina, da mesma forma que a relação dos Estados Unidos com a Europa e a reunificação alemã se inscreveu numa época de grande progresso do multilateralismo (ver análise de Teresa de Sousa).
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU EUA
“El Loco” Abreu continua a bater o seu próprio recorde
Aos 42 anos, o avançado uruguaio vai jogar no Rio Branco, da Série D brasileira, o 28.º clube da sua longuíssima carreira. (...)

“El Loco” Abreu continua a bater o seu próprio recorde
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.6
DATA: 2018-12-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Aos 42 anos, o avançado uruguaio vai jogar no Rio Branco, da Série D brasileira, o 28.º clube da sua longuíssima carreira.
TEXTO: Muita gente já mereceu o apelido de “El Loco” no futebol. René Higuita era “El Loco” porque era um guarda-redes que gostava de fintar avançados, para além de ter inventado a famosa “defesa escorpião” que nem sempre corria bem. Marcelo Bielsa começou a ser “El Loco” porque ameaçou fazer explodir uma granada no meio de um grupo de adeptos do Newells, furiosos com ele por causa de uma derrota pesada. Sebastián Abreu é “El Loco” por muita coisa que tem feito em campo durante mais de duas décadas a jogar futebol e por continuar no activo aos 42 anos. Em 2019, vai representar o 28. º clube da carreira, mas, como o próprio dirá, “não é loucura, é classe”. Sebastián Abreu já era o recordista do Guinness na categoria de jogador que representou mais clubes, mas ele faz questão de continuar a bater o seu próprio recorde — foi apresentado esta semana como reforço do Rio Branco Atlético Clube, que joga no Estadual do Espírito Santo e na Série D do Brasileirão. Já deixou definitivamente para trás o outro grande nómada do futebol mundial, o guarda-redes alemão Lutz Pfannenstiel, que actuou em “apenas” 25 clubes em 12 países, sendo, por enquanto, o único a actuar em equipas de todas as confederações — Abreu também tem 12 países no seu currículo, mas andou sobretudo pelas Américas e pela Europa. Os últimos anos da carreira de “El Loco” Abreu foram passados em clubes com nomes difíceis de reconhecer para o adepto comum, entre a primeira divisão do Paraguai (Sol de América), a segunda divisão do Chile (Puerto Montt) e do Uruguai (Central Español), a quarta divisão do Brasil (Bangú), a Liga de El Salvador (Santa Tecla). Mas houve tempos em que Abreu andou a passear a sua loucura e os seus golos por clubes de topo nas Américas e na selecção uruguaia. Nunca conseguiu vingar na Europa (esteve no Deportivo da Corunha), mas brilhou a grande altura em vários emblemas argentinos (San Lorenzo e River Plate), mexicanos (Cruz Azul, Tigres, Estudiantes, Monterrey, América e Dorados) e no Brasil (Botafogo). Esta vida de futebolista itinerante que deu recorde levou Abreu a coincidir, por exemplo, com Pep Guardiola no mexicano Dorados de Sinaloa — e o avançado costuma contar um episódio em que o agora treinador do Manchester City o ensinou a fazer a recepção orientada da bola quando tinha um defesa adversário nas costas. Ou a tentar jogar na Liga dos Campeões, trocando o gigante River Plate pelo futebol israelita e pelo Beitar Jerusalém — foi uma aventura curta porque o Beitar ficou-se pelas pré-eliminatórias. Ou a lançar uma mesa para a bancada porque estava irritado com os insultos de adeptos do Audax Italiano (que era a sua equipa) durante um jogo do campeonato chileno. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O momento “loco” mais recordado de “El Loco” Abreu aconteceu ao serviço da selecção do Uruguai durante o Mundial 2010. Era uma selecção cheia de “estrelas” no ataque e Abreu já não estava propriamente no auge. À sua frente nas opções de Óscar Tabárez estavam Luis Suárez, Edinson Cavani e Diego Forlán, e, durante a fase de grupos, Abreu, na altura avançado do carioca Botafogo, apenas jogou 16 minutos como suplente utilizado contra a França. O Uruguai ganhou o grupo e continuou em prova após eliminar a Coreia do Sul nos “oitavos”. Abreu nem saiu do banco. Nos “quartos”, o adversário seria o Gana. Muntari colocou a equipa africana em vantagem, Forlán empatou nos primeiros minutos da segunda parte e Abreu entrou aos 74’. O empate não se desfez, a eliminatória foi para prolongamento e, no último minuto, uma malandrice dentro das regras de Luis Suárez impediu a qualificação ganesa. Suárez impede um remate de Adiyiah de entrar na baliza, o árbitro marca penálti, mas Muslera defende e o jogo vai para os penáltis. Abreu estava na lista para ser o terceiro a marcar, mas pediu a Tabárez para ser o quinto. Estava cheio de confiança, apesar de ter falhado três penáltis no treino do dia anterior. Quando chegou a hora de encarar Richard Kingson, o guarda-redes ganês, Abreu avançou lentamente para a bola, armou lentamente o remate, esperou que o seu adversário se atirasse para a direita, e picou a bola para o meio da baliza, como Antonin Panenka tinha feito na final do Europeu de 1976. Loucura, certo? Nada disso, considera Abreu, que calculou ter marcado mais de 20 penáltis “à Panenka”: “O objectivo é fazer golos, fazer com que a bola vá para dentro da baliza e, para tal, é preciso enganar o guarda-redes, ir contra a lógica. Não é uma loucura, é classe. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave campo ataque