Activistas do SOS Racismo "não deixam ninguém dormir"
Fizeram piquetes pelos ciganos desalojados das barracas do Bacelo, fronteira do Porto com Gondomar. Fincaram pé em frente ao Centro Habitacional de Santo António, Porto central, pelos africanos indocumentados interceptados na ilha da Culatra, ao largo de Olhão. Celebraram as condenações de Mário Machado, líder do movimento Hammerskin. E hoje festejam 20 anos no Clube Ferroviário, em Lisboa. A câmara tem a prenda há tanto desejada: uma sede. (...)

Activistas do SOS Racismo "não deixam ninguém dormir"
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 12 Ciganos Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-12-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Fizeram piquetes pelos ciganos desalojados das barracas do Bacelo, fronteira do Porto com Gondomar. Fincaram pé em frente ao Centro Habitacional de Santo António, Porto central, pelos africanos indocumentados interceptados na ilha da Culatra, ao largo de Olhão. Celebraram as condenações de Mário Machado, líder do movimento Hammerskin. E hoje festejam 20 anos no Clube Ferroviário, em Lisboa. A câmara tem a prenda há tanto desejada: uma sede.
TEXTO: Quando o SOS Racismo apareceu, Portugal era outro país. A morte de José Carvalho, dirigente do PSR, revelava a força irada dos skinheads, que escreviam o que lhes apetecia em qualquer parede: "Morte aos pretos", "Portugal aos portugueses", "Primazia de emprego e de casa para os brancos". A extrema-direita organizara-se. No segundo boletim de 1990 da Associação Cultural de Acção Nacional podia ler-se: "Exigimos a proibição imediata da imigração, o repatriamento progressivo mas total dos imigrantes". A extrema-esquerda reagiu, recorda o jornalista do PÚBLICO Amílcar Correia, que acompanhou os primeiros anos da associação. No dia 10 de Dezembro de 1990, Dia dos Direitos Humanos, José Falcão, Filomena Aivado e Rosana Albuquerque registaram o SOS Racismo. "Portugal era o país dos brandos costumes. Dizia-se que não havia racismo, mas os skinheads matavam", lembra José Falcão. E, nas ruas, nos prédios, não era raro alguém dizer coisas como: "O trabalho é para o preto", "as pretas são boas para curtir, não para casar", "estás a fazer ciganices". Era preciso produzir materiais, chatear jornalistas, ir às escolas sensibilizar professores e alunos. O consultor João Tocha viveu o fervor desses primeiros anos. Foi ali que conheceu o músico João Aguardela e outros rapazes cheios de vontade de mudar o mundo - gente do PSR e do PCP, independentes. Já não é o membro activo desses tempos, a vida levou-o para outro lado, mas ainda colabora. E ainda se emociona com isso: "Quando pago a quota anual de 20 euros ou compro uma brochura por cinco euros, as pessoas ficam tão contentes que até parece que estou a dar uma fortuna. Eles fazem tanto com tão pouco!". Três condenações num anoPortugal já não é o deserto em matéria de associações de defesa dos direitos das minorias. Hoje, o país é mais diverso e conta com várias organizações não governamentais. Não há, porém, quem não reconheça o papel de uma entidade, como o SOS, a interligá-las, a uni-las numa frente de combate ao racismo e à xenofobia. "O SOS faz com que estejamos mais alerta", considera Rosário Farmhouse, alta comissária para o Diálogo Intercultural. "Às vezes, deviam recolher mais informação antes de avançar para a queixa, mas são pró-activos, não deixam ninguém dormir, e isso é bom. " Pela primeira vez, o Estado atribuiu-lhes um subsídio (a propósito do documentário SOS Racismo - 20 anos a quebrar tabus, de Bruno Cabral, um jovem realizador que se espantou com "a diversidade do trabalho realizado pela associação", sobretudo nas escolas). Mas a convivência com o antes Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas já foi muito tensa. Vaz Pinto chegou a processar José Falcão por este acusá-lo de "falsidade, cobardia, desonestidade e incompetência". Na origem do desentendimento com o então alto comissário, a exclusão da associação do Conselho Consultivo para os Assuntos da Imigração. Rui Marques, que ocupou o cargo depois de Vaz Pinto e antes de Farmhouse, sempre foi mais diplomático: "Discordo de muitas posições que toma, mas com certeza tem desempenhado um papel importante". Olhando para estes 20 anos, José Falcão destaca contributos para a criminalização do ódio racial, para a lei da discriminação racial, para a Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial. Sem deixar de sublinhar o baixíssimo número de condenações, o cheiro a impunidade. "Primeiro, muitas pessoas não sabem que é possível denunciar esses casos e não os denunciam. Segundo, é muito difícil provar um acto racista", justifica Farmhouse, reconhecendo que no ano que agora finda só houve "duas ou três condenações".
REFERÊNCIAS:
Islamistas do Boko Haram reivindicam autoria dos ataques na Nigéria
O número de vítimas dos atentados coordenados e tiroteios na cidade de Kano, a segunda maior da Nigéria, continua a subir: A Cruz Vermelha confirmou 121 mortos. (...)

Islamistas do Boko Haram reivindicam autoria dos ataques na Nigéria
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 12 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-01-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: O número de vítimas dos atentados coordenados e tiroteios na cidade de Kano, a segunda maior da Nigéria, continua a subir: A Cruz Vermelha confirmou 121 mortos.
TEXTO: O grupo islamista Boko Haram já reivindicou a responsabilidade pelos atentados, informando ter-se tratado de uma acção de retaliação pela recusa do Governo nigeriano em libertar da prisão dezenas de membros da sua organização. Um correspondente da AFP contou 80 cadáveres na morgue do hospital da cidade, todos com ferimentos de balas. A violência afectou três esquadras da polícia, os escritórios dos serviços secretos e dos serviços de imigração e a residência particular de um dirigente policial. Uma fonte policial disse, sob anonimato, que “o número de mortos eleva-se a dezenas”, mas não estava em condições de fornecer um balanço preciso. “Ainda estamos a recolher os corpos das vítimas, ainda não podemos dizer quantas pessoas morreram”, disse à Reuters o porta-voz dos serviços de emergência da Nigéria. A agência de informação francesa já tinha confirmado a existência de 24 mortos nas ruas da cidade. “Estou a andar nas ruas do meu bairro”, disse à AFP Naziru Muhammad, um habitante de Kano que habita próximo de um quartel geral da polícia alvo de um dos ataques. “Entre a minha casa e o quartel-geral da polícia, nesta rua, contei 16 cadáveres no solo, entre os quais seis polícias”, disse Muhammad. Um jornalista nigeriano também foi morto, bem como o autor de um atentado suicida. Kano, com mais de dez milhões de habitantes, é a principal cidade do Norte da Nigéria. Ontem, ao início da noite, foi sacudida por cerca de vinte explosões e vários tiroteios. Segundo a polícia, estes ataques “coordenados” visaram oito locais diferentes. O último ataque reivindicado pelo Boko Haram, um ataque à bomba numa igreja da capital Abuja, no dia de Natal, causou 49 mortes. Notícia actualizada às 14h20
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave violência imigração ataque prisão morto
Preto no Porto
O racismo pode ser reduzido à irrelevância se formos vigilantes e ativos no seu combate. Ele não vai desaparecer sozinho. (...)

Preto no Porto
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 10 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.16
DATA: 2018-07-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: O racismo pode ser reduzido à irrelevância se formos vigilantes e ativos no seu combate. Ele não vai desaparecer sozinho.
TEXTO: No último livro de Jacinto Lucas Pires, o romance A Gargalhada de Augusto Reis, há um jovem poeta chamado Djalma dos Santos, nascido de mãe cabo-verdiana e pai angolano num dos bairros africanos dos subúrbios de Lisboa, que vai trabalhar para o Porto e que escolhe aí fazer a sua vida. Uma das suas ficcionais antologias de poesia chama-se Preto no Porto. Na subtileza de que é feito o romance, sempre construído em torno de um respeito pelos não-ditos das personagens, ficamos sem saber muito sobre o que teria a dizer aquele Preto no Porto. Mas se o título é evocativo, é porque há nele um comentário implícito a uma coisa que já foi mais rara do que hoje é: ser negro na segunda maior cidade do país. Não é preciso ir mais longe do que os anos 90 para nos lembrarmos como as notícias sobre crime em Lisboa traziam sempre consigo o subentendido racista de serem notícias sobre imigrantes negros ou afrodescendentes em Lisboa. Foi assim que se foi criando uma imagem que teve consequências nos abusos policiais na Cova da Moura, por exemplo. Por detrás dessa imagem estava também um tratamento dúplice em relação ao crime noutras partes do país. Nessa época, por exemplo, o crime no Porto nunca era associado a imigrantes ou afrodescendentes e por isso nunca era alvo do mesmo aproveitamento político ou mediático. Se o crime de portugueses brancos era só crime, o crime de imigrantes ou portugueses negros era notícia e “caso político”. Por detrás disso tudo havia uma fácil constatação: ambas as cidades tinham as vantagens e dificuldades que têm as grandes áreas metropolitanas, mas no Porto não havia o mesmo mosaico humano que havia em Lisboa. Em particular, no Porto havia menos negros que em Lisboa. Só que hoje o Porto é também uma cidade cada vez mais atrativa e diversa: há mais estudantes de todo o mundo, há mais estrangeiros, e há também mais portugueses negros. Por isso o título do livro inventando por Jacinto Lucas Pires para Djalma dos Santos é evocativo. Em Preto no Porto há uma vontade, até um desafio: que se comece a falar mais sobre a experiência de se ser negro em todo o país, incluindo no Porto ou nos Açores (começando por ouvir mais o que têm os nossos concidadãos negros para nos dizer acerca das suas experiências). Estava eu com estes pensamentos quando vejo nas redes sociais um apelo. Uma jovem que se auto-identificava como “preta”, por acaso no Porto, e uma sua amiga de nacionalidade colombiana mas vivendo em Portugal desde criança, tinham sido agredidas com gravidade por um segurança de transportes públicos na noite de São João. Segundo o seu testemunho, para o qual pedia corroboração de outras pessoas que tivessem assistido ao sucedido, o agressor ter-lhes-ia lançado o insulto “pretas de merda” e impedido de entrar no autocarro, tendo acabado por agredir repetidamente uma delas. Sabemos hoje como ficou a cara dessa vítima: a foto do seu rosto cheio de hematomas está em todos os jornais. Sabemos também que a polícia demorou três dias a agir neste caso, e que apenas o fez por pressão exterior. Não foi o primeiro caso de agressões preconceituosas em transportes públicos: em 2014 uma mulher lésbica foi agredida num táxi depois de se despedir da namorada, também no Porto. E não foi, é claro, o primeiro ataque racista no país — e infelizmente poderia ter ocorrido em qualquer outro lugar, de Lisboa à Madeira — mas foi talvez o primeiro caso ocorrido no Porto que atinge esta dimensão de indignação. E a indignação serve para alguma coisa. Para unir as pessoas na solidariedade com as vítimas. Para avançar no caminho de erradicar este tipo de fenómenos no nosso país. Sobre o racismo há dois tipos de coisas que hoje se dizem muito e que, a meu ver, sendo contraditórias, são ambas erradas. A primeira é a de que o racismo é hoje pouco prevalente (é um argumento que agora se usa muito em política: “tantos por cento de pessoas que votaram em partidos racistas não podem ser todas racistas”; bem, todas talvez não sejam, mas nesse caso parece estranho que tantas pessoas não-racistas fossem votar ao engano em partidos racistas). A segunda é que esse racismo supostamente pouco prevalente é, porém, impossível de erradicar: como se houvesse uma “natureza racista” inevitável entre os humanos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Ambas as percepções estão erradas. O racismo é ainda hoje mais prevalente do que muita gente está preparada para admitir, até porque o racismo mais evidente como o das agressões físicas e verbais a estas jovens no Porto é apenas um dos obstáculos que os negros em Portugal são obrigados a ultrapassar (o agente imobiliário que diz que a casa que um negro tenta arrendar “já está ocupada” não aparece nas notícias do jornal, mas praticamente todos os negros que conheço ou de quem sou amigo têm histórias destas para contar). Por outro lado, é possível erradicar o racismo ou torná-lo tão irrelevante que ele já não tenha de fazer parte das preocupações quotidianas de quem hoje o vive, como em tempos foi possível erradicar preconceitos tão absurdos quanto a crença de que certas mulheres eram feiticeiras ou de que católicos e protestantes tinham de se massacrar mutuamente na Europa. Quer dizer, ainda há quem acredite em tais coisas e em certos cantos do mundo, mesmo desenvolvido, tais fenómenos duraram até à nossa geração, mas é possível acabar com eles. Com uma condição: o racismo pode ser reduzido à irrelevância se formos vigilantes e ativos no combate ao racismo. Ele não vai desaparecer sozinho. Mas se formos vigilantes, ativos e solidários, perto estará o dia também implícito no título daquele livro imaginário, Preto no Porto: o de que ser negro, e viver no Porto, significa a possibilidade de se ser mais um portuense feliz numa cidade magnífica. Foi essa possibilidade que foi brutalmente retirada a duas jovens negras na noite de São João. E só se agirmos todos — concidadãos, forças policiais, justiça, políticos — é possível fazer com que essa brutalidade não seja mais do que uma injustiça que pode ser corrigida. É com a solidariedade de todos que conseguiremos restituir às vítimas deste ataque e a todas pessoas que poderiam ter estado no lugar delas o sentido da segurança e a felicidade de serem jovens, mulheres e negras no Porto e em todo o país que é delas. O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime humanos ataque mulher negro racismo criança mulheres racista agressor lésbica
Não há consenso para questionar origem étnico-racial no próximo Censos
Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade reuniu-se com grupo de trabalho para discutir como recolher dados sobre discriminações e desigualdades. Questionado o facto da discussão sobre racismo estar sob alçada do Alto Comissariado para as Migrações (...)

Não há consenso para questionar origem étnico-racial no próximo Censos
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 10 Ciganos Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade reuniu-se com grupo de trabalho para discutir como recolher dados sobre discriminações e desigualdades. Questionado o facto da discussão sobre racismo estar sob alçada do Alto Comissariado para as Migrações
TEXTO: Há falta de informação sobre os processos de discriminação e racismo em Portugal. Para colmatar essa lacuna é preciso recolher dados. Sobre isto houve acordo no grupo de trabalho formado pela Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade para debater o tema, reunido pela primeira vez esta segunda-feira. O que não é consensual é o facto de o próximo Censos 2021 ser um dos instrumentos para recolher esses dados – o que permitiria, por exemplo, saber qual a composição étnico-racial da população portuguesa. A reunião surge depois de, em Setembro, o então ministro Adjunto Eduardo Cabrita ter dito que o Governo estava a trabalhar com o Instituto Nacional de Estatística (INE) para que fosse incluído este tipo de informação no próximo Censos, como o fazem o Reino Unido, Brasil ou Estados Unidos. Já com a nova titular da pasta da Igualdade – Rosa Monteiro substituiu Catarina Marcelino quando Eduardo Cabrita mudou para Administração Interna – criou-se um grupo composto por académicos como Cristina Roldão, Marta Araújo, Rui Pena Pires, Jorge Malheiros ou Jorge Vala, pelo Alto Comissariado para as Migrações (ACM), pelo Observatório das Comunidades Ciganas (integrado no ACM), pelo SOS Racismo e pelo gabinete do Censos no INE, entre outros. Da reunião saiu o compromisso de serem integrados representantes das comunidades ciganas, afrodescendentes e asiáticas e de abrir este debate à sociedade em geral e aos grupos racializados, disseram a socióloga Cristina Roldão e o activista do SOS Racismo Mamadou Ba, do grupo de trabalho. Esta era uma reivindicação expressa no artigo colectivo que saiu no PÚBLICO, Recolha de dados étnico-raciais sim, mas com quem, como e para quê?, subscrito também por estes dois membros. As dezenas de signatários, entre grupos anti-racistas, cidadãos ou académicos, consideraram que a recolha de dados “poderá ser um passo sem precedentes no combate ao racismo e às desigualdades étnico-raciais na sociedade portuguesa” mas criticaram “a decisão unilateral do Governo em avançar com a proposta para os Censos 2021”, “sem concertação prévia com as comunidades racializadas”. Rosa Monteiro leu a carta “com atenção” e respondeu ao PÚBLICO ter a intenção de trabalhar “com todos”: “queremos construir uma estratégia de forma participada e integradora”. Reconhecendo que “há fenómenos de racismo, discriminação e desigualdade estrutural” em Portugal, afirmou que “é muito importante dar visibilidade" a "um problema” que é “de toda a sociedade”. Disse também: “Estamos a começar um caminho que já está atrasado”. O debate sobre a recolha de dados, recomendado pela ONU, organizações internacionais, reivindicado por movimentos sociais e activistas é antigo em Portugal. Embora refira que a recolha de dados étnico-raciais através do Censos é algo a que se opõe, o sociólogo Rui Pena Pires concorda que é preciso mais informação sobre os processos de discriminação mas “não sobre as pessoas”: “O Censos não me diz nada sobre discriminação na saúde, na justiça, permite medir mas não compreender”. Isso pode ser feito através de “inquéritos ou estudos”, defende. Para Jorge Malheiros, “em princípio” o Censos pode ser um bom instrumento para colmatar o défice de informação “desde que salvaguardados os riscos” do mau uso desses dados. Mas “deve haver um debate alargado” na sociedade sobre os prós e contras, refere. Na reunião foi debatido outro ponto “problemático”: o facto de esta discussão estar na pasta das migrações, ou seja, sob alçada do ACM. Isto porque, defende-se no artigo, as desigualdades étnico-raciais tocam várias áreas que extravasam “a competência restrita da política migratória”. Na reunião “ficou patente que existe grande dificuldade em pensar nas políticas de combate ao racismo fora das migrações”, lamenta Cristina Roldão, e “isto é um ponto de tensão neste debate”. “É preciso admitir de uma vez por todas que existem portugueses que são negros, são ciganos, não são migrantes”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Rosa Monteiro coloca de parte essa separação e refere que o ACM tem outras competências que passam pelo combate ao racismo. Embora concordem que o debate esteja a ser feito sob alçada do ACM porque é ele que tem essa pasta, tanto Jorge Malheiros como Rui Pena Pires admitem que o racismo saia da alçada das migrações. “O racismo deve ser tratado com a mesma autonomia que a discriminação por sexo, é uma questão de igualdade que não tem nada a ver com as questões da imigração”, diz Pena Pires. “As questões da interculturalidade e de discriminação racial e de base étnica podem estar noutra entidade. É preciso também fazer este debate”, acrescenta Jorge Malheiros. Mamadou Ba conclui dizendo que, no final, espera que “o Estado assuma a sua responsabilidade quando o relatório for produzido e o traduza em políticas públicas”. O grupo irá produzir uma recomendação ao INE, reunindo mensalmente até pelo menos Outubro.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Brandos costumes
Os que duvidam ainda do racismo instalado na sociedade portuguesa são os mesmos que pensam que o problema não é o desemprego e sim a preguiça do desempregado. (...)

Brandos costumes
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 10 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os que duvidam ainda do racismo instalado na sociedade portuguesa são os mesmos que pensam que o problema não é o desemprego e sim a preguiça do desempregado.
TEXTO: Racismo em Portugal? Desde que o lusotropicalismo se tornou doutrina oficial do salazarismo e os governos democráticos o envernizaram com um discurso de “superação do passado” e de “diálogo” e “cooperação”, o Estado português vive em estado de negação permanente e nunca se mostrou disponível para enfrentar o problema. Há mais de um século que a maioria dos portugueses se deixou convencer, com a maior das auto-condescendências, pela ideia da exceção portuguesa no mundo e na história, de uma pretensa diferença essencial que teria feito com que, de tanto termos “lançado a semente da solidariedade universal” (como dizia Mário Soares em 1992), de tanto de se ter sabido “entender e misturar realmente com os outros” (Cavaco, em 2008), a nossa vida coletiva tivesse estado isenta de preconceito e perseguição racial - ou que as nossas colónias nem colónias tivessem sido, e, já agora, que a guerra colonial não foi nem colonial, nem guerra sequer. . . Neste contexto, como é que se interpreta o que aconteceu há dias na Cova da Moura (Amadora)? Agentes da equipa de intervenção rápida da PSP percorriam o bairro, Bruno Lopes, 24 anos, conversava na rua, em crioulo, com primo e é esbofeteado e pontapeado por polícias sem, dizem as testemunhas, ter oferecido resistência. Moradores protestam, tentam filmar a situação, polícia dispersa-os com violência. Jailza Sousa, 29 anos, da Associação Cultural Moinho da Juventude, assiste a tudo da varanda de casa e, enquanto segura nos braços um filho, é alvejada com balas de borracha. Bruno é levado para a esquadra, detido toda a noite, espancado. “Diziam-me para me candidatar ao Estado Islâmico. ” Chamam-lhe “preto, macaco”, que “iam exterminar a nossa raça” (PÚBLICO, 10. 2. 2015). Cinco ativistas da associação vão até à esquadra para exigir a sua libertação, entre eles Celso Lopes e Flávio Almada, ambos rappers e investigadores, o primeiro na Universidade de Aveiro, o segundo na de Coimbra. Os polícias não os deixam entrar, disparam balas de borracha (duas atingem Celso numa perna), puxam os ativistas para dentro da esquadra, e batem-lhes com fúria: no Hospital Amadora-Sintra, os médicos comprovam dentes partidos, hematomas de tal gravidade que um dos jovens terá sofrido um AVC. Na esquadra, os insultos acompanham o espancamento. Conta Flávio Almada: “Consegui ver a expressão de um dos polícias, quando disse (. . . ): 'Se eu mandasse, vocês seriam todos exterminados. Não sabem o quanto eu odeio vocês, raça do caralho, pretos de merda. ' Nunca tinha visto um ódio, em estado bruto, daquela forma (. . . ). ” Para quem os espanca, eles não são portugueses: são “pretogueses”!Sabendo que o caso é denunciado imediatamente nas redes sociais e nos media, a PSP assume o relato habitual: “cinco jovens terão tentado invadir a esquadra, atacada à pedrada”, “um agente terá também sido agredido tendo sido transportado ao hospital com um braço partido. ” O problema é que desta vez, além de Bruno Lopes, um dos muitos jovens desempregados do bairro habituados à violência policial, não hesitaram em deter, espancar e pedir a prisão preventiva (recusada pela juíza) para ativistas de um projeto comunitário que tem 30 anos na Cova da Moura, creditado com prémios como o de Direitos Humanos da Assembleia da República. Como diz Flávio Almada, “tenho curso superior, sou ativista, conheço muita gente e muita gente acredita em mim — agora um jovem que tenha pelo menos um antecedente criminal: ninguém o iria apoiar. ”Portugal não é os EUA, a Cova da Moura não é Ferguson. Não é o que se repete sempre entre nós, que aqui não há violência racial? Não vivemos nós convencidos de que uma redoma de brandos costumes nos afasta das tempestades xenófobas do Ocidente rico? Não é daqui que sai a falsa ingenuidade de quem sublinha que em Angola não fizemos o que os franceses fizeram na Argélia, que Moçambique não era a Rodésia ou a África do Sul, que no Brasil colonial nunca fizemos o que os espanhóis fizeram no lado deles da América? Em suma, que nós não somos racistas como os outros!Mas prestará alguém atenção aos estudos do Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultura (ACIDI) e aos relatórios de entidades tão oficiais como a Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância (ECRI) do Conselho da Europa? Ou julgar-se-á que estas comissões só têm é de gastar tempo com os outros? Em 2013, a ECRI verifica que “muitas pessoas teriam má opinião dos ciganos, que consideram parasitas, bem como dos brasileiros e dos africanos, que associam à criminalidade”; o “aumento do número de sites internet racistas” (entre os quais “um forum internet, manifestamente criado em Portugal”, notoriamente gerido por militares da GNR”). Desde o seu relatório de 2007 que entende que “incidentes graves” como os “disparos desferidos contra Africanos e Ciganos” “podem”, na linguagem sempre diplomática destas entidades, “traduzir a existência de uma cultura de preconceitos raciais por parte de certos membros da polícia”, pelo que a ECRI voltou a “[convidar] as autoridades a proceder a um inquérito sobre a possível existência de uma cultura institucional de racismo ou discriminação racial no seio da polícia. ” A comissão “está muito surpreendida com a modéstia dos números [relativos a investigações ou a condenações resultantes de denúncias contra agentes da polícia por atos racistas ou de discriminação racial], que lhe sugerem que o sistema atual de apresentação de queixas não funciona”. Na falta de empenho das autoridades portuguesas “vê (. . . ) um sinal inquietante da reticência geral em enfrentar e em reagir ao fenómeno do racismo e da discriminação racial na polícia”, apercebendo-se “que os agentes das forças da ordem processados por violências racistas são raramente condenados, [bastando-lhes] invocar a legítima defesa para serem absolvidos. ”
REFERÊNCIAS:
Farage, o antieuropeu que leva o sistema político britânico a reboque
Tiradas racistas, ataques dos opositores e polémicas não travam o crescimento dos populistas do UKIP. Farage, a cara e o estratega do partido, é um político que escapa a classificações simples. (...)

Farage, o antieuropeu que leva o sistema político britânico a reboque
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 10 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Tiradas racistas, ataques dos opositores e polémicas não travam o crescimento dos populistas do UKIP. Farage, a cara e o estratega do partido, é um político que escapa a classificações simples.
TEXTO: “Racista não assumido” ou “o tipo do pub” que fala do que ninguém mais ousa falar? Um egocêntrico que gere com mão de ferro um partido que se diz libertário ou um estratega brilhante? São inúmeras as tentativas para classificar de Nigel Farage, o líder do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), o antipolítico que desafia a “casta dominante” em Westminster, dono de uma retórica antieuropeia e xenófoba que está a levar os outros partidos a reboque. As eleições europeias – que no país se realizam a 22 de Maio – anunciam-se como o grande sismo que promete abalar todo o sistema político britânico. Farage não é, mas gosta de se apresentar como um inglês comum. As conversas com os jornalistas acontecem quase sempre em pubs locais. De cerveja numa mão e cigarro na outra, o antigo corretor de mercadorias na bolsa de Londres transforma-se num franco-atirador, disparando contra a “euroditadura” de Bruxelas, os “políticos de cartão” que enchem o Parlamento, todos iguais da direita à esquerda, ou a “política de fronteiras abertas” que permitiu a entrada no Reino Unido de centenas de milhares de europeus de Leste. As suas armas? A linguagem directa que os partidos desaprenderam – e que raia muitas vezes os limites do insulto – e um sentido de humor, auto-depreciativo e politicamente incorrecto, que usa tanto para cativar a audiência como para fintar as questões mais incómodas. “Recebo dinheiro do diabo para fazer o trabalho do Senhor”, disse quando lhe perguntaram sobre o generoso salário que há 15 anos recebe como deputado no Parlamento Europeu. É em Bruxelas, aliás, que Farage, 50 anos feitos, mais facilmente abandona a imagem de gentleman que os fatos de bom corte que invariavelmente usa ajudam a criar. Em 2010, escandalizou o hemiciclo ao acusar o presidente do Conselho Europeu, o belga Herman von Rompuy, de ter “o carisma de um trapo velho” e a “aparência de um bancário”, “sem qualquer legitimidade para o cargo”. Numa entrevista ao jornal El Mundo, um ano antes, acusara a compatriota Catherine Ashton, de ser “uma inútil” que só conseguira ser nomeada chefe da diplomacia da UE “porque o marido é um dos principais financiadores do Partido Trabalhista”. E nas entrevistas à RT, a televisão em língua inglesa financiada pelo Governo russo, insiste que Bruxelas é governada “pelas piores pessoas que a Europa viu desde 1945”. Do eurocepticismo à imigraçãoFoi esta aversão visceral ao projecto europeu que, no início dos anos de 1990, arrastou para a política o jovem Nigel, corretor, filho e irmão de correctores da City. Militante dos tories, rompeu com o partido depois de o primeiro-ministro John Major ter assinado, em 1992, o Tratado de Maastricht que instituiu a União Europeia e abriu caminho à moeda única. “No Reino Unido o debate inicial foi sobre a entrada no mercado único. Ninguém falou numa união política, na supremacia da lei europeia sobre a lei britânica”, recordava na entrevista de 2009 ao El Mundo. Farage esteve na fundação do UKIP, mas era não só mais jovem do que a maioria dos seus correligionários, mas também mais traçado para a ribalta política. Em 1999, beneficiando da introdução do sistema proporcional, o partido elegeu três eurodeputados e Farage estava entre eles. Cinco anos depois, eram já 12 e nas eleições de 2009, na senda da crise financeira internacional, tornaram-se o segundo partido mais votado, à frente dos trabalhistas e dos liberais-democratas. Farage, eleito líder do UKIP três anos antes, assumiu a presidência do eurogrupo Europa da Liberdade e da Democracia, que inclui entre outros a Liga Norte de Umberto Bossi, os nacionalistas finlandeses e dinamarqueses. Mas se uma parte dos britânicos já não via o UKIP como o partido dos “maluquinhos e dos racistas não assumidos”, na descrição do então jovem líder conservador David Cameron, o seu programa político resumia-se a pouco mais do que a saída britânica da UE. Sinal disso, recorda o Financial Times num perfil de Farage, quando o helicóptero em que ele viajava se despenhou no dia das legislativas de 2010, o acidente (o seu terceiro encontro com a morte depois de um atropelamento e de um cancro nos testículos, ainda na juventude) foi pouco mais do que uma nota de rodapé na imprensa. Tinha deixado a liderança do UKIP para se candidatar ao Parlamento, mas não conseguiu eleger-se e o partido conseguiu apenas 3% dos votos. De regresso à liderança, Farage tomou em mãos uma mudança de estratégia, cavalgando a incerteza provocada pela crise na zona euro: ao eurocepticismo, juntou um discurso agressivo contra a imigração comunitária e a narrativa de que o modo de vida britânico está ameaçado pelos diktats de Bruxelas e por uma classe política urbana e formatada nas escolas de elite.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Ao discutir pena de morte, Hungria pode "comprar uma guerra" com a UE
Primeiro-ministro está pressionado pela extrema-direita, mas as suas declarações foram condenadas até pelo parceiro de coligação: "Um político cristão não apoia a pena capital." Comissão Europeia aconselha Orbán a não "comprar uma guerra". (...)

Ao discutir pena de morte, Hungria pode "comprar uma guerra" com a UE
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Primeiro-ministro está pressionado pela extrema-direita, mas as suas declarações foram condenadas até pelo parceiro de coligação: "Um político cristão não apoia a pena capital." Comissão Europeia aconselha Orbán a não "comprar uma guerra".
TEXTO: O primeiro-ministro húngaro tem endurecido cada vez mais o seu discurso sobre criminalidade e imigração, pressionado pelo crescimento do partido nacionalista de extrema-direita Jobbik. Esta semana, Viktor Orbán defendeu que a União Europeia deve discutir a introdução da pena de morte, e o seu Governo sugeriu que os imigrantes sejam enviados para "campos de internamento", onde seriam forçados a trabalhar. "A questão da pena de morte deve ser posta na agenda na Hungria. A Hungria fará tudo para proteger os seus cidadãos", declarou o primeiro-ministro e líder do partido conservador e populista Fidesz, na quarta-feira, durante uma visita à cidade de Pécs, no Sul do país. O primeiro-ministro voltou a pegar nesta bandeira do partido nacionalista Jobbik em resposta a perguntas sobre o homicídio de uma funcionária de uma tabacaria ocorrido na semana passada, em Kaposvár. A morte da jovem, de 21 anos, foi o mais grave dos episódios de violência registados nas chamadas "tabacarias nacionais", os únicos estabelecimentos autorizados a vender tabaco no país desde 2013 – a lei exige que estas tabacarias tenham as janelas tapadas, para que os menores de 18 anos não consigam espreitar para o seu interior, o que tem também contribuído para o aumento do número de assaltos. O líder parlamentar do Fidesz, Antal Rogán, sublinhou as palavras do seu primeiro-ministro e disse: "Se o povo de um país da União Europeia defende a aprovação da pena de morte, então esse debate pode ser feito ao nível da União Europeia. " Rogán deu como exemplo o homicídio ocorrido na semana passada – de acordo com o líder parlamentar do maior partido da coligação que governa a Hungria, casos como o da morte da jovem "fazem com que uma pessoa pense automaticamente que a pena de morte deve ser aplicada". Valor central da União EuropeiaA pena de morte foi abolida na Hungria em Outubro de 1990, e em Dezembro do mesmo ano o país ratificou o Protocolo 6 da Convenção Europeia dos Direitos Humanos, que proíbe a aplicação da pena capital em tempos de paz – mais tarde, em 2003, a Hungria ratificou também o Protocolo 13, que proíbe a pena de morte em quaisquer circunstâncias. A abolição da pena capital é um valor central na Europa, e nenhum país pode integrar a União Europeia se essa punição estiver contemplada na sua lei. Em todo o continente, a Bielorrúsia e o Cazaquistão (este localizado maioritariamente na Ásia Central, mas com uma parcela de território na Europa do Leste de acordo com algumas interpretações) são os dois únicos países que ainda aplicam a pena de morte – o primeiro em quaisquer circunstâncias, e o segundo apenas em "circunstâncias especiais", como crimes de guerra. Para além do debate sobre a pena de morte, o Governo húngaro pretende fazer uma consulta pública, na forma de questionários, sobre a possibilidade da aprovação de novas medidas contra a imigração. O questionário é composto por 12 perguntas, entre as quais "Apoiaria uma decisão do Governo para colocar imigrantes ilegais em campos de internamento?"; "Concorda que o Governo deve ajudar as famílias húngaras e as crianças que estão por nascer, em vez de destinar fundos para a imigração?"; "Concorda que os imigrantes por motivos económicos põem em perigo os empregos e o sustento do povo húngaro?"; e "Concorda que políticas de imigração erradas contribuem para a propagação do terrorismo?"Comissão Europeia pressiona OrbánAs recentes declarações do primeiro-ministro da Hungria foram prontamente criticadas pela oposição de esquerda, mas também pelo seu próprio parceiro de coligação e pelo grupo de que o Fidesz faz parte no Parlamento Europeu, o Partido Popular Europeu (a família de centro-direita que inclui, entre outros, a CDU alemã, de Angela Merkel, e o PSD e o CDS-PP). Mas as palavras mais duras foram proferidas pelo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, depois de recordar que a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia proíbe a pena de morte: "O sr. Orbán tem de deixar imediatamente claro que essa não é a sua intenção. Se a sua intenção fosse essa, estaria a comprar uma guerra. "No ponto 2 do Artigo 2. º da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia lê-se que "ninguém pode ser condenado à pena de morte, nem executado". Oposição na HungriaO parceiro de coligação do Fidesz, o KDNP, também se distanciou das declarações do primeiro-ministro de forma clara. "Um político cristão não apoia a pena capital", disse Bence Rétvári ao jornal Heti Válasz.
REFERÊNCIAS:
Partidos PSD Partido Popular Europeu
Slavonia, o paquete inglês que naufragou com as Flores à vista
Mais de cem anos após o acidente, o Governo dos Açores criou no local um parque arqueológico subaquático, o quarto no arquipélago. Objectivo é criar uma rede para atrair ainda mais mergulhadores aos tesouros do mar açoriano. (...)

Slavonia, o paquete inglês que naufragou com as Flores à vista
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-10-01 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20151001171629/http://www.publico.pt/local/noticia/rms-slavonia-1709643
SUMÁRIO: Mais de cem anos após o acidente, o Governo dos Açores criou no local um parque arqueológico subaquático, o quarto no arquipélago. Objectivo é criar uma rede para atrair ainda mais mergulhadores aos tesouros do mar açoriano.
TEXTO: “Em 26 anos, os navios Cunard cruzaram duas mil vezes o Atlântico, e nunca uma viagem foi cancelada, nunca um atraso foi registado, nunca uma única carta, um único homem, um único navio foram perdidos”. Escrevia assim Júlio Verne no final do século XIX, em Vinte Mil Léguas Submarinas, sobre uma das maiores empresas de navegação da época, conhecida pela forte aposta na segurança. Entre centenas de navios que a britânica Cunard possuiu, poucos naufragaram. Um deles ficou no fundo do mar português e deu agora origem a um parque arqueológico subaquático. Diz-se que renomear navios dá azar e a história do Royal Mail Ship (RMS) Slavonia confirma-o. O navio lançado à água em 1902 foi inicialmente baptizado Yamuna e pertenceu à British Indian Steam Navigation, tendo transportado correio, carga e passageiros entre Inglaterra e Índia. Cinco meses após a viagem inaugural foi vendido à Cunard, que o remodelou e lhe mudou o nome, adoptando o topónimo de uma das regiões de onde partiam mais emigrantes europeus com destino aos EUA, a Eslavónia, na Croácia. “E foi assim que, juntamente com um seu congénere, o Pannonia, o transatlântico Slavonia passou a transportar, à ida, emigrantes europeus em busca do sonho americano e à volta os passageiros endinheirados de Nova Iorque para Liverpool”, descreve o arqueólogo subaquático Alexandre Monteiro, num documento sobre a história do naufrágio ocorrido ao largo da ilha das Flores, em 1909. No início do século XX, a Cunard Steamship Company disputava o monopólio das rotas europeias e norte-americanas com a White Star Line. Os paquetes distinguiam-se pelos nomes: todos os da White Star tinham nomes acabados em “ic” — como Britannic e Titanic — e os da Cunard terminavam em “ia”. O naufrágio do Titanic, três anos depois do Slavonia, condenou a proprietária à quase falência e em 1934 a Cunard comprou a rival. Nascia assim a Cunard White Star Line, dona do Queen Mary e dos Queen Elizabeth, que ainda hoje cruzam os oceanos. Nevoeiro fatalNuma das viagens do Slavonia, que viria a ser a última, o paquete partiu de Nova Iorque a 3 de Junho, uma quinta-feira, rumo a Trieste, no nordeste de Itália. Segundo Alexandre Monteiro, o cruzeiro levava 178 tripulantes e 597 passageiros, dos quais perto de cem viajavam em primeira classe. Foi destes que partiu a ideia de pedir ao comandante que fizesse um pequeno desvio na rota (estava previsto que passassem a 160 quilómetros a norte da ilha do Corvo), para que pudessem apreciar melhor as paisagens açorianas. Estavam há seis dias em alto mar, faltavam dez para o destino. O comandante, Arthur Dunning, com três décadas de experiência (tinha pedido a reforma em Nova Iorque, antes de partir), fez-lhes a vontade: decidiu navegar pelo sul da ilha das Flores, passando a cerca de seis milhas náuticas de terra, e só depois seguir a viagem prevista. Mas quando o navio se aproximou da ilha havia um nevoeiro cerrado e a forte corrente marítima desviou o paquete da rota. Nem o Farol das Lajes das Flores ajudou — apesar de praticamente concluído ainda lhe faltavam máquinas e a lanterna. Às 2h30 da madrugada de 10 de Junho cumpriu-se o desejo dos passageiros de ver terra mas nada pôde travar o acidente — o RMS Slavonia embateu nos rochedos da Baixa Rasa e galgou a costa do Lajedo. Com a água a invadir os porões do barco mas ainda com a popa emersa e as varandas iluminadas, o telegrafista teve tempo para fazer história: foi o primeiro a transmitir, em código Morse, sinais de SOS. O pedido de socorro foi captado pelo paquete germânico Prinzess Irene e pelo navio Batavia, que se encontravam perto e acorreram ao local, ajudando os tripulantes a desembarcar e, no dia seguinte, a continuar a viagem. O acidente abalou a pacatez da ilha, imersa na escuridão àquelas horas da noite (a luz eléctrica só chegou a Lajes das Flores na década de 1930), mas a população fez o que pôde para ajudar ao resgate. O esforço foi reconhecido pelo Papa Pio X que, em sinal de gratidão, ofereceu um cálice de prata à Igreja Matriz. Ao amanhecer, a água chegou às caldeiras do Slavonia e às 8h o fogo apagou-se nas fornalhas. O navio, com mais de dez mil toneladas e 160 metros de comprimento, afundou, tornando-se uma das perto de mil embarcações que naufragaram ao largo dos Açores, desde o século XVI, assinaladas na Carta Arqueológica. “O comandante Dunning abalado pelo naufrágio e pelas circunstâncias caricatas em que este tinha ocorrido, tentou suicidar-se várias vezes, no que foi impedido pelo telegrafista”, conta Alexandre Monteiro. Memórias espalhadasOs destroços do Slavonia repousam agora a 15 metros de profundidade. “Pouco resta de reconhecível”, descreve o arqueólogo, que já em 1999 tinha proposto a criação de reservas, naquele e noutros locais onde se registaram naufrágios, para regular o acesso e promover o turismo subaquático. Só em Julho deste ano é que o Governo Regional anunciou a criação do Parque Arqueológico Subaquático do Slavonia, oficializada com a publicação do decreto em Diário da República, nesta terça-feira.
REFERÊNCIAS:
Novo Banco diz ter chegado a acordo com 12.500 clientes com aplicações congeladas
Lesados do papel comercial continuam sem solução para as suas aplicações em dívida do GES. (...)

Novo Banco diz ter chegado a acordo com 12.500 clientes com aplicações congeladas
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-10-01 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20151001171629/http://www.publico.pt/1709753
SUMÁRIO: Lesados do papel comercial continuam sem solução para as suas aplicações em dívida do GES.
TEXTO: Os clientes lesados pelo BES não são todos iguais. Para cerca de 12. 500, o Novo Banco (NB) garantiu esta quinta-feira já ter encontrado uma solução, que envolve dois mil milhões de euros. O número de situações resolvidas desde Outubro de 2014 inclui o universo de emigrantes detentores de títulos da Poupança Plus, Top Renda e Euro Aforro 8, os subscritores de séries comerciais e os clientes integrados na gestão discricionária de carteira. Em relação a estes últimos produtos, a instituição adianta que a solução proposta foi aceite em 99% dos casos, não especificando se as soluções permitem a recuperação integral das poupanças aplicadas. Mas há um universo grande de lesados que continuam a não ter garantias de recuperação das suas aplicações. Neste grupo estão algumas centenas de emigrantes e os mais de 2500 detentores de papel comercial do Grupo Espírito Santo (GES), que era vendido aos balcões do BES. As emissões de papel comercial ascendem a 550 milhões de euros. Numa primeira fase da resolução do BES, em Agosto do ano passado (e a partir da qual nasceu o Novo Banco), existiu a promessa do papel comercial do GES ser pago pela nova instituição, tendo sido constituída uma provisão para esse efeito. Mas pouco tempo depois, verificou-se uma inversão dessa garantia. O Banco de Portugal e o Novo Banco passaram a defender que a responsabilidade de reembolso dos empréstimos pertencia às entidades que emitiram o papel comercial, ou seja, as empresas do universo GES, que estão actualmente em processo de insolvência. Os lesados do papel comercial garantem que foram enganados pelo BES e que nunca lhes foi explicado os riscos do produto. Pensavam ter o seu dinheiro aplicado em depósitos e tinham garantias do banco sobre a segurança dos investimentos. A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários dá-lhes razão, defendendo que o BES não cumpriu os deveres de informação. A entidade reguladora do mercado de capitais defende inclusive que o NB deve assumir o reembolso do produto, contudo, a sua posição não é vinculativa. O facto da nova instituição estar sobre a gestão do Fundo de Resolução implica que caberá ao Banco de Portugal decidir o que pode ou não ser feito pelo NB. Ainda não é uma garantia de ajuda, mas o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, pediu recentemente ao comissário europeu responsável pelos serviços financeiros, Jonathan Hill, para analisar as denúncias da Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial do BES sobre a resolução do banco de Ricardo Salgado.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave ajuda deveres
Serviços secretos sabiam da radicalização do atirador de Copenhaga
Polícia faz mais uma detenção no bairro onde abateu o suspeito atacante e mantém alerta em todo o país. (...)

Serviços secretos sabiam da radicalização do atirador de Copenhaga
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento -0.4
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Polícia faz mais uma detenção no bairro onde abateu o suspeito atacante e mantém alerta em todo o país.
TEXTO: Os serviços secretos dinamarqueses admitiram pela primeira que o suspeito autor dos atentados do fim-de-semana em Copenhaga se terá radicalizado na prisão, de onde saiu duas semanas antes dos ataques contra um centro cultural onde decorria um debate sobre liberdade de expressão e blasfémia e contra uma sinagoga. As forças de segurança continuam em alerta e vários quarteirões à volta do centro cultural foram evacuados por causa de uma carta suspeita, enquanto a polícia anunciava mais uma detenção, sem confirmar que esteja relacionada com o inquérito ao pior atentado terrorista no país. Num comunicado, a agência PET disse ter recebido em Setembro um relatório das autoridades penitenciárias onde se evocava o “risco de radicalização” do suspeito – as autoridades ainda não confirmaram que o autor das duas mortes, abatido domingo à tarde, seja Omar el-Hussein, dinamarquês filho de pais palestinianos, mas vizinhos e familiares já disseram aos media locais que se trata mesmo do jovem de 22 anos. “Os elementos do relatório não levavam a crer que ele planeasse um ataque”, dizem ainda os serviços secretos. De acordo com o diário dinamarquês Berlingske, Hussein começou a falar da sua vontade de viajar para a Síria e combater ao lado de jihadistas quando estava preso, o que levou os serviços prisionais a incluir o seu nome numa lista de 39 pessoas “radicalizadas nas prisões” do país. O debate no centro cultural atacado no sábado era também uma homenagem às vítimas do jornal satírico francês Charlie Hebdo, atacado a 7 de Janeiro. A polícia dinamarquesa já disse estar a trabalhar “a partir da hipótese de que esta pessoa tenha sido inspirada pelos acontecimentos no Charlie Hebdo, em Paris”. Dois dos três autores desse ataque e do que se seguiu, a uma mercearia judaica, num total de 17 mortos, também se radicalizaram enquanto estiveram presos: um por ter tentado viajar para o Iraque para ali combater a ocupação norte-americana; outro por roubo. Hussein foi preso e condenado por ter esfaqueado um outro jovem numa estação de metro de Copenhaga e sabe-se que pertenceu a um gang que actuava em Norrebro, um bairro popular dos subúrbios da cidade, onde foi morto depois de disparar contra agentes. Foi neste bairro que a polícia fez a última detenção, depois de ter acusado dois homens detidos no domingo de auxiliar o atirador. Um sociólogo que conheceu Hussein em 2008 descreve-o como “um jovem fracassado do gueto e muito, muito zangado com a sociedade dinamarquesa”. Aydin Soei contou ao jornal The New York Times como conheceu vários adolescentes membros de gans na investigação para o seu livro Jovens Zangados: do grupo de miúdos com pouca escolaridade, laços muito vagos ao islão e um sentimento generalizado de exclusão, Hussein era “um dos mais interessados e empenhados” nas conversas sobre os seus comportamentos. “Quando queria, era bom na escola, mas tinha um temperamento terrível que não conseguia controlar”, recorda Aydin Soei. Legislativas em SetembroA Dinamarca é um dos países europeus de onde mais jovens têm saído para ir combater na Síria (em proporção à população, é o segundo, a seguir à Bélgica). Estes ataques deverão levar à discussão dos programas de reintegração que o país aprovara para quem regresse voluntariamente ao país e para quem esteja preso por terrorismo ou crimes ligados ao extremismo. Com legislativas marcadas para Setembro, os analistas antecipam vários meses de debate sobre imigração e integração – um tema que a extrema-direita colocou na agenda há 15 anos. O actual chefe da oposição, Lars Rasmussen, do Venstre (Partido Liberal da Dinamarca, conservador), governou até 2011 com o apoio do Partido Popular Dinamarquês, uma formação xenófoba. A linguagem do PPD foi contagiando o Venstre e até os sociais-democratas, no Governo, da primeira-ministra Helle Thorning-Schmidt, que no fim do ano aprovaram normas para endurecer o controlo nas fronteiras e declararam que a integração não funcionou no país. Antes, o porta-voz dos conservadores defendera que são os imigrantes não ocidentais que geram problemas: “Não é preciso estabelecer os mesmos requisitos para toda a gente, em regra há uma grande diferença entre a capacidade e vontade de integração de um americano cristão ou de um sueco, comparadas com as de muçulmano somali ou paquistanês”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens escola imigração exclusão filho ataque prisão morto