O país dos arquitectos na Bienal de Veneza
Com o Leão de Ouro atribuído a Souto de Moura, Portugal regressa vencedor da Bienal de Veneza. Prova-se que somos um país em que a arquitectura é uma actividade de excelência, apesar da troika, apesar da crise. Mas falta ainda um apoio mais claro do Estado na divulgação da arquitectura nos fóruns internacionais. Sem isso, é também difícil que os arquitectos portugueses entrem em territórios mais arriscados. (...)

O país dos arquitectos na Bienal de Veneza
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Com o Leão de Ouro atribuído a Souto de Moura, Portugal regressa vencedor da Bienal de Veneza. Prova-se que somos um país em que a arquitectura é uma actividade de excelência, apesar da troika, apesar da crise. Mas falta ainda um apoio mais claro do Estado na divulgação da arquitectura nos fóruns internacionais. Sem isso, é também difícil que os arquitectos portugueses entrem em territórios mais arriscados.
TEXTO: Freespace/Espaço Público é o título do Manifesto lançado pelas irlandesas Yvonne Farrell e Shelley McNamara, do colectivo Grafton Architects, curadoras da 16ª edição da Bienal de Arquitectura de Veneza (até final de Novembro). Dos 71 arquitectos convidados para a exposição principal do Arsenale, três são portugueses: Álvaro Siza, Eduardo Souto de Moura e Inês Lobo. Foi deste grupo que saiu o Leão de Ouro atribuído a Souto de Moura a 26 de Maio com Vol de Jour, instalação composta por duas fotografias aéreas do projecto de reconversão em empreendimento turístico da antiga herdade de São Lourenço do Barrocal, da fotógrafa italiana Alessandra Chemolo. Não são — para lá dos 12 projectos que compõem o Pavilhão de Portugal comissariado por Nuno Brandão Costa e Sérgio Mah no Palazzo Giustinian Lolin — os únicos portugueses na mostra oficial. Em The Practise of Teaching, convite dirigido a professores da escola de arquitectura da Accademia di Mendrisio, Suíça, também com curadoria das Grafton, os arquitectos Manuel e Francisco Aires Mateus (Aires Mateus) participam com a instalação Field, enquanto os arquitectos paisagistas João Gomes da Silva (Global) e João Nunes (PROAP) propõem Spazio Pubblico — continuità e fragilità. Paulo Providência e novamente Siza mostram desenhos na sala comissariada por Elizabeth Hatz no Pavilhão Central do Giardini, onde se encontra a maioria dos pavilhões permanentes da Biennale. Sofia von Ellrichshausen, a presidente do júri que deu o Leão de Ouro a Eduardo Souto de Moura, viu as três obras do arquitecto do Porto na Bienal. Além do Arsenale, onde estava o monte alentejano reconvertido em hotel que foi premiado, a chilena passou também pelos pavilhões de Portugal, em que Souto de Moura mostra uma estação de Metro em Nápoles (em parceria com Álvaro Siza e Tiago Figueiredo), e da Santa Sé, para onde construiu uma capela em pedra, ao lado de uma dezena de outros arquitectos internacionais. Situado na ilha de San Giorgio Maggiore, na primeira vez em que a Santa Sé se fez representar em Veneza desde que a Bienal de Arquitectura começou a ser autónoma, em 1980, o pavilhão da igreja, Capelas do Vaticano, transformou-se no acontecimento mais mediático desta edição. Na conversa que teve com o PÚBLICO no dia da atribuição do Leão de Ouro, Sofia von Ellrichshausen recordou um pormenor que lhe chamara a atenção: o facto de as pedras do pequeno templo de Souto de Moura já terem musgo passados poucos dias. Ou seja, os dois projectos, a capela e o monte em São Lourenço do Barrocal, serão sobre a relação essencial “entre arquitectura, tempo e lugar”, como escreveu o júri a propósito da recuperação feita no Alentejo. Os dois projectos falam do interesse de Souto de Moura por uma arquitectura intemporal, com as subtilezas ou as pequenas ironias tão caras ao arquitecto. Se há o musgo verde na capela, como apontado por Sofia von Ellrichshausen, também há o novo no Alentejo que é quase melhor do que o original, a pedir que se ponha à porta de São Lourenço uma tabuleta a dizer “Fabricam-se antiguidades”, como ironizou o arquitecto no dia em que ganhou o prémio. As duas fotografias aéreas com o antes e o depois no Alentejo, um oásis de simplicidade no meio da cacofonia da bienal, constroem outra das ironias de Souto de Moura. Espaço Livre, o tema escolhido pelas comissárias, é o que não falta em São Lourenço do Barrocal e o que também não ficou a faltar nos metros quadrados que Souto de Moura teve à sua disposição para apresentar o projecto no Arsenale. Quem já conhece bem Eduardo Souto de Moura é a Bienal de Arquitectura, pois o português está pela sétima vez em Veneza desde 1985, ano em que participou com um projecto para uma ponte junto à Academia, edição que teve a direcção de Aldo Rossi. O Leão de Ouro para o projecto apresentado no Arsenale não deixa de ser, também, um prémio carreira e não foi por acaso que muitos dos arquitectos portugueses com quem falámos começaram por destacar a capela desenhada para o Pavilhão da Santa Sé como uma das melhores coisas que Souto de Moura tinha feito ultimamente. I. S. Perante a ambiguidade do desafio de Freespace e de um manifesto cheio de lugares-comuns (como “Freespace celebra a capacidade da arquitectura em encontrar, em cada projecto, uma generosidade adicional e inesperada. . . ”), o escritório lisboeta de Inês Lobo respondeu com One bench, a free space for one hundred people. Trata-se do projecto de um espaço público construído na cidade italiana de Bergamo e inaugurado em 2015 que Inês Lobo escolheu entre as diversas encomendas públicas que o escritório tem realizado. Não entrando em detalhes sobre o conceito que está na raiz do projecto, a peça apresenta-se como um elemento plástico e de forte carácter gráfico, enigmático até na citação que usa de Peter Brook: “Posso pegar em qualquer espaço vazio e chamar-lhe palco vazio. . . ” É esse palco vazio que se representa de modo assombrosamente eficaz, através de um conjunto de peças dispostas de forma abstracta como fragmentos de maquetas. Comprova-se a centralidade que o trabalho de Inês Lobo tem vindo a assumir na arquitectura europeia. Mas o banco da Piazza Marconi em Bergamo é mais do que o que se expõe. É um exemplo do modo como as cidades europeias (com economias ricas e em crescimento) têm usado a arquitectura no seu permanente desejo de qualificação e, porque não dizê-lo, de competição por novas atracções. Tratava-se aqui de “neutralizar” uma construção recente que o município considerava uma operação falhada. Inês Lobo foi assim chamada a atenuar a presença de um desenho já implantado de um pavimento — através do mínimo de alterações e demolições —, o que fez de forma inteligente ao recorrer à introdução de um banco corrido seguindo uma geometria rígida e clara (a circunferência), montado a partir de elegantes peças pré-fabricadas de betão branco. É esse formato abstracto e puro o que se retém em Veneza. A. V. M. Recorrendo igualmente à circunferência como figura geométrica de implantação, Evasão, de Álvaro Siza, é o desenho de um vazio também circunscrito por um círculo. A simplicidade do dispositivo é aparente. A instalação compõe-se de três elementos em tensão: um banco em calcário veneziano, uma escultura em mármore de Estremoz, uma parede curva em gesso cartonado pintada de branco. É desconcertante no modo como combina três materiais que, em arquitectura, pressupõem hierarquias diferentes de uso e de aplicação, na escala e na própria relação entre eles. Há uma aparente rudeza no tratamento dado ao muro em gesso cartonado em oposição à sofisticação de acabamentos tanto do banco como da escultura e que tem lançado alguma curiosidade quanto à sua execução. (Existem, por exemplo, imagens do arquitecto suíço Mario Botta inspeccionando a execução da peça, captadas nos dias que anteciparam a inauguração pública da Biennale). Siza joga aqui a sua veia mais escultórica, desenhando um dispositivo que, contudo, alude quer a funções de convivialidade quer de contemplação, como uma “escultura habitada”. Trata-se de celebrar o lado mais objectual da arquitectura através de uma peça que explora a fronteira entre a arquitectura e a escultura e onde, a exemplo dos velhos artistas do século XX, a chave está no título. Ao contrário do banco de Inês Lobo que se mostra de forma abstracta — iludindo qualquer realismo ou funcionalidade — Siza dá existência real e arquitectónica a uma peça conceptualmente abstracta. A. V. M. Uma imersão num mundo sensorial é a proposta de Field dos irmãos Aires Mateus para a secção The Practise of Teaching, partilhada por mais 12 professores da Accademia di Mendrisio, a convite da dupla Farrell/McNamara, que é também a instituição onde as curadoras ensinam. A peça desenhada pelos portugueses em aço pintado de preto está elevada do chão e, exteriormente, aparenta uma volumetria disforme, um bug. Colocada a cabeça dentro da peça, após subir a um plinto, o visitante alheia-se do Arsenale e vislumbra paisagens que os autores têm descrito como “oníricas”. Propõe-se uma experiência de luz, cheiro e som (existe um botão que acciona uma caixa de música que se ouve dentro do dispositivo). Os arquitectos pediram aos seus alunos da escola suíça para produzirem algumas soluções, mas na verdade aproveitaram a oportunidade do convite para estarem em Veneza e exporem parte dos domínios da realidade que têm vindo a explorar nos projectos que chegam ao escritório. A pesquisa de desenho passa por trabalhar diferentes matérias — texturas, sonoridades, aromas, luminosidades — e é isso que pretendem recriar em Field, transformando o visitante num fruidor de “um breve momento de concentração, silêncio e beleza” — como escreveram a propósito da sua instalação —, uma excepção em eventos deste tipo. Ao exigirem tempos de maior abstracção, também correm mais riscos, demonstrando outro nível de ambição, mais em linha com outras práticas internacionais, distanciando-se do que habitualmente se associa aos representantes nacionais. A. V. M. Nesta secção dedicada à relação entre o trabalho desenvolvido nos ateliers e o ensino, estão também os arquitectos paisagistas João Gomes da Silva (atelier Global) e João Nunes (atelier PROAP), igualmente professores em Mendrisio. Numa proposta intitulada Espaço Público — Continuidade e Fragilidade, os alunos partiram da ideia de que os oceanos e os mares têm um papel predominante no espaço público que se constrói à escala global. Em Veneza, na cidade líquida por excelência, debruçaram-se sobre um projecto para a ilha da Certosa (Cartuxa), que fica no meio da laguna em frente ao Arsenale, investigando o espaço público na sua fronteira entre água e terra, entre líquido e sólido, e potenciando-o muito além da ideia de rua, praça e “campo”, este último um espaço tipicamente veneziano. O exercício parte da hipótese de construir um grande parque público, uma marina e um hotel, integrando os vestígios da Cartuxa e da instalação militar do tempo de Napoleão. I. S. Siza encontra-se igualmente na mostra oficial através de um grupo de desenhos do conjunto residencial da Bouça, Porto, que integra Line, Light, Locus de Elizabeth Hatz. A curadoria partiu da colecção Drawing Matter, a instituição que adquiriu a instalação que o arquitecto do Porto montou em 2014 no pátio da Royal Academy em Londres para a exposição Sensing Spaces: Architecture Reimagined e que pode ser colocada na mesma série da de Evasão, ao tratar de forma escultórica alguns dos temas mais arcaicos da arquitectura. Os desenhos incluem a parede que Hatz identificou como Ground Floor, e onde, segundo a sua descrição, os desenhos de menores dimensões — como os de Siza — “proporcionam mais íntimos e prolongados encontros”. A mesma secção alberga ainda uma planta e um corte do Lavadouro e Balneário de S. Nicolau, também na cidade do Porto, desenhos de 1991 de Paulo Providência. Trata-se de registos da fase de projecto de execução, uma raridade entre as opções presentes nesta sala dedicada ao desenho de arquitectura, onde o desenho livre (de preferência a carvão) domina. Os desenhos de Providência representam um tempo em que o desenho rigoroso e técnico saía ainda das mãos dos arquitectos (e dos desenhadores) e não de programas gráficos de computadores. Na sala, curiosamente, a sua aparência é quase a de um artefacto remoto. A. V. M. Entre os 63 pavilhões nacionais representados na bienal, a revista de arquitectura Domus pôs o pavilhão português nos cinco a não perder. A publicação italiana começa por notar que Portugal é “das poucas grandes nações europeias” a não dispor de pavilhão próprio nos Giardini, onde se concentram as representações nacionais. E sem querermos empolar nem o significado da escolha, nem a curiosa associação de “grande nação” a “arquitectura portuguesa”, é preciso ainda sublinhar que a exposição Público sem Retórica, que mostra 12 obras construídas durante a década de crise (2007-2017), foi posta de pé em menos de seis meses pelos dois comissários Nuno Brandão Costa e Sérgio Mah. Um feito. Resultado de um concurso por convites feito pela Direcção-Geral das Artes (DGArtes) que é preciso saudar porque significa um avanço em relação a práticas anteriores, não faz sentido, no entanto, que no final de Dezembro os resultados ainda não tivessem sido oficialmente anunciados para um pavilhão que tinha que inaugurar em Maio. Pelo meio, os comissários souberam ainda que a exposição iria ocupar um novo lugar, o Palácio Giustinian Lolin, sítio bem mais central do que no ano passado, mas com um layout diferente do espaço posto a concurso. A verdade é que por mais original e estimulante que seja o embrulho — e desta vez era a cidade construída pelos edifícios públicos e a defesa em contraciclo, como notou a Domus, do welfare state e do investimento público —, não é possível pensar com ambição em tão escasso período de tempo. Sem que a DGArtes crie condições para que Portugal se possa apresentar como uma grande nação da arquitectura — passe o ridículo, ou não, da expressão — corremos o risco de estar quase sempre a fazer a mesma exposição, com mais Álvaro Siza ou menos Álvaro Siza, com mais filmes ou menos filmes, a da arquitectura portuguesa como um lugar de resistência. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No Pavilhão do Brasil, por exemplo, que recebeu 289 candidaturas num concurso aberto, é possível encontrar ao lado dos 17 projectos seleccionados mapas que mostram as transformações territoriais do Brasil em diferentes escalas, do globo ao edifício, ao muro. E num deles, em que se explora a abertura das várias regiões do país aos imigrantes, um tema tão actual, descobrimos que entre 2000 e 2016 chegaram 36. 225 portugueses, alguns deles resultado dos tais anos da troika que delapidaram a arquitectura portuguesa. À imagem do Pavilhão do Brasil, interrogamo-nos se a exposição Público sem Retórica não poderia ter apostado também numa contextualização da encomenda pública portuguesa na década da crise que não deixasse o retrato quase todo nas mãos da arquitectura. Qual o peso do programa Parque Escolar e das suas centenas de escolas? O que é que deixou de ser construído com a retórica da troika?É pena que não haja dinheiro e tempo para fazer de uma bela exposição um excelente pavilhão, porque boa arquitectura não é o que nos falta. I. S.
REFERÊNCIAS:
Presidente convida ex-director do FMI para formar Governo e abre caminho a novas eleições
Rejeição de um eurocéptico proposto pela Liga e pelo M5S para a pasta da Economia e Finanças precipitou convite a Cottarelli para formar governo tecnocrático. Chumbo previsível no Parlamento dá força a um cenário de eleições. (...)

Presidente convida ex-director do FMI para formar Governo e abre caminho a novas eleições
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.068
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Rejeição de um eurocéptico proposto pela Liga e pelo M5S para a pasta da Economia e Finanças precipitou convite a Cottarelli para formar governo tecnocrático. Chumbo previsível no Parlamento dá força a um cenário de eleições.
TEXTO: Sergio Mattarella desafiou um antigo funcionário do Fundo Monetário Internacional (FMI) para assumir o papel de primeiro-ministro interino e formar Governo em Itália. O convite a Carlo Cottarelli foi oficializado nesta segunda-feira e surge um dia depois do colapso da solução governamental que a Liga e o Movimento 5 Estrelas tinham apresentado ao Presidente. A possibilidade de o partido de extrema-direita e da plataforma anti-sistema formarem um executivo inédito em Itália, quase três meses depois das eleições, caiu por terra no domingo, depois de Mattarella ter rejeitado a escolha do eurocéptico Paolo Savona para o Ministério das Economia e Finanças. O Presidente justificou a sua decisão com as ameaças de Savona em retirar a Itália da zona euro – “alarmaram investidores italianos e estrangeiros” – e pediu a Matteo Salvini e a Luigi Di Maio que escolhessem outra pessoa para esta pasta. Os líderes das duas forças rejeitaram fazê-lo e colocaram ponto final nas negociações que duravam há várias semanas. O M5S pondera mesmo avançar com um processo de destituição de Mattarella. “Não se pode formar um Governo em Itália sem o ‘ok’ de Berlim, Paris e Bruxelas. É uma loucura. Peço à população italiana que continue connosco, porque quero devolver a democracia a este país”, disse Di Maio aos jornalistas. A nomeação de Cottarelli dificilmente será aprovada pelo Parlamento. Liga e M5S já deram a entender que não darão o voto de confiança necessário ao novo Governo, posição também assumida pela Força Itália, de Silvio Berlusconi. O cenário de novas eleições em Itália parece, por isso, praticamente inevitável. O próprio Cottarelli assumiu-o sem rodeios, esta segunda-feira, na hora de pedir luz verde ao Parlamento para o seu programa: “Apresentar-me-ei ao Parlamento com um programa que incluirá a proposta de orçamento para 2019. Se não tiver o seu apoio, o Governo demitir-se-á e a sua função será levar o país a eleições depois do mês de Agosto, mantendo a neutralidade”. O antigo funcionário do FMI fez ainda questão de deixar uma mensagem de confiança para Bruxelas, lembrando que “a economia italiana se encontra em pleno crescimento” e que as suas contas públicas estão “sob controlo”. “Um Governo liderado por mim asseguraria uma gestão prudente das nossas contas públicas. O nosso papel na UE permanece essencial, bem como a nossa participação na zona euro”, afiançou Cottarelli, citado pelo El País, pouco depois do encontro com Mattarella no palácio presidencial, em Roma. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em declarações à Reuters, um dirigente do banco de investimento Berenberg mostra-se preocupado com a possibilidade de novas eleições e acredita que os partidos anti-sistema vão sair fortalecidos. “Os radicais vão fazer uma campanha ainda mais audível contra o establishment italiano pró-europeu. E a Liga vai encarar uma nova eleição como um autêntico referendo ao papel da Itália na Europa”, vaticina Holger Schmieding. A terceira maior economia da União Europeia encontra-se sem Governo desde as eleições do passado dia 4 de Março. O Movimento 5 Estrelas foi o partido mais votado, a Liga foi a força que juntou mais votos dentro dos partidos integrantes coligação de direita, mas nenhum dos dois logrou votos suficientes para poder apresentar um executivo em nome próprio. A ameaça de Mattarella em nomear um Governo “técnico” levou os dois partidos a sentar-se à mesa e a apresentar um programa fortemente eurocéptico, anti-imigração e securitário. O Presidente aceitou a escolha de Giuseppe Conte para primeiro-ministro, mas acabou por fechar a porta a Savona, precipitando o fim da formação de um executivo Liga-M5S.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE FMI
Olá, o meu nome é Porto e esta é a street art que tenho para mostrar
De Tuk-Tuk ou a pé, já é possível descobrir as ruas e paredes do Porto através da arte urbana — e na companhia de GodMess, Frederico Draw, SEM ou Third (...)

Olá, o meu nome é Porto e esta é a street art que tenho para mostrar
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-08-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: De Tuk-Tuk ou a pé, já é possível descobrir as ruas e paredes do Porto através da arte urbana — e na companhia de GodMess, Frederico Draw, SEM ou Third
TEXTO: “Olá, o meu nome é Tiago, o meu nome artístico é GodMess. Este é o Becuh, um atelier e um espaço de criação”. Estão quinze pessoas em volta de uma mesa. Na Rua da Madeira, nas traseiras da Estação de São Bento começa uma das iniciativas que quer pôr o público em contacto com a arte urbana e com artistas da cidade. O Becuh (Badass Experiences by Creatives from Urban) acolhe oficinas de 22 de Julho a 26 de Agosto e quer dar oportunidade às quinze pessoas que recebe por sessão – número máximo de inscrições – de aprender, criar e contactar com arte urbana. Será assim todos os sábados, até ao último do mês de Agosto. A “aula” de hoje é dada por GodMess. Mas a iniciativa promovida pela Porto Lazer não se fica por aqui. É que se sabádo é dia de fazer, domingo é dia de passeio. Isto se o passeio for dado num Tuk-Tuk na companhia de artistas da cidade como GodMess, Frederico Draw, SEM ou Third. O interesse é tanto que já não há vagas. A pé a história já é outra. Durante o próximo mês são muitas as datas disponíveis para percorrer as ruas do Porto em busca do que escondem as paredes da cidade. As visitas são guiadas por alunos de Artes Visuais e Tecnologias Artísiticas da Escola Superior de Educação e são sempre gratuitas. E o que escondem essas paredes? O P3 meteu-se num Tuk-Tuk com Tiago Gomes (GodMess, nas paredes) e percorreu as ruas da cidade em busca delas. A primeira paragem é perto do mercado do Bolhão. Há caixas de eletricidade pintadas “de fresco” para ver. A ligação ao Porto está sempre presente. Nas caixas, onde imperava o branco, há agora mapas antigos, histórias e figuras da cidade. A arte urbana sai novamente à rua a convite da Câmara Municipal do Porto. Esta edição foca-se somente na arte urbana. A iniciativa é, na opinião, de GodMes importante para mostrar que “já não são só um bando de putos a pintar coisas nas paredes”, aqueles que preenchem os espaços da cidade. Mas pintar em paredes legais no Porto ainda é difícil. “Não há paredes legais na cidade. Matosinhos tem duas, Aveiro quatro ou cinco. Em Lisboa então, são aos pontapés. As pessoas começam muito novas a querer pintar coisas. É preciso haver espaços onde se pode treinar e praticar espaços de livre acesso. Não só espaços como a parede de Restauração, como vamos ver”, adianta Tiago. Arte provisóriaLá, na Rua da Restauração, estão expostos trabalhos de artistas de diferentes latitudes. Este ano, o foco é mais global. Ao lado de trabalhos portugueses, Venezuela, Brasil e Estados Unidos, aterram no Porto pela mão de artistas que quiseram deixar a cor e uma mensagem nas paredes da cidade. A tecnologia e o distanciamento que provoca, a marginalização do grafiti na cidade, a imigração, a tradição ou puro abstracionismo. São temas que afectam o mundo e também a cidade. É o que deixam nas paredes os artistas seleccionados pela Câmara do Porto para expor as obras no Mural Colectivo da Restauração. São mensagens temporárias, já que serão apagadas para surgirem outras novas, daqui a um ano. Quando questionado acerca do carácter efémero da exposição, GodMess é claro: “Quem trabalha na rua está à espera de tudo. A chuva pode destruir, pode passar alguém e rasgar, A rua tem essas questões todas. Quem faz arte urbana tem que estar mentalizado que pode durar cinco minutos ou cinco anos. ”Este tour pela arte urbana no Porto é uma das poucas iniciativas que permite que artistas locais – e não só – mostrem o seu trabalho. A relação com a Câmara é mais fácil, especialmente quando GodMess relembra o “contexto repressivo” durante os anos de Rui Rio, mas ainda há espaço para melhorar. A criação de um GAU (Galeria de Arte Urbana), à imagem do que tem Lisboa, podia alavancar a arte urbana portuense para outro patamar. Até lá, iniciativas como esta vão ter de chegar para saciar o apetite de quem quer redescobrir o Porto através da rua. O boom turístico na cidade tem ajudado à emancipação de uma arte nem sempre vista com bons olhos. O Mural da Trindade pode ajudar a desconstruir essa ideia. Até porque, o “carácter multifacetado” e imediato da arte urbana, distancia-a, na opinião do portuense, da arte contemporânea, “desconexa da população”. São 250 m2 divididos por Hazul e Mr. Dheo que impressionam quem por lá passa. A próxima paragem é o Cinema 5D. O Tuk-Tuk corta por ruas estreitas, por terreno inclinado e empedrado. A descida íngreme acaba na fachada que Vhils desenhou no Cinema 5D. Esculpido na pedra, é uma das intervenções a visitar durante a viagem. O projecto traz à baila a presença de artistas como Vhils nos maiores museus do mundo. É um pretexto para GodMess lembrar a forma como a arte urbana se pode adaptar a qualquer ambiente. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O Porto olha-se ao espelhoEstacionamos na Rua Nova de Alfândega, para ver Mira de Daniel Eime. A cidade olha para a fachada, vê uma idosa retratada e olha-se ao espelho. “O Daniel, que trabalha com stencil, quis retratar a população envelhecida nesta zona da cidade. A figura representada não é ninguém em especifico, apesar de já terem visto ali a Rosa Lobato de Faria”, acrescenta. Embora GodMess reconheça que a cidade tem cada vez menos espaços para pintar, há um contentamento por já não se ver a street-art como uma ferramenta de camuflagem de edifícios velhos. A última paragem do Tuk-Tuk é no an. fi. tri. ão, de Frederico Draw, perto da Ponte D. Luís, habituada aos olhares de turistas. Pouco tempo depois, estamos de volta ao local onde começamos. A aula de GodMess no BECUH está quase a começar.
REFERÊNCIAS:
Os mapas do Brasil desenhados pelos padres matemáticos no século XVIII
Dois jesuítas partiram de Portugal para cartografar, no século XVIII, o espaço compreendido entre o estado do Maranhão e o Rio da Prata, que a coroa portuguesa ainda reclamava como limite sul do Brasil. (...)

Os mapas do Brasil desenhados pelos padres matemáticos no século XVIII
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Dois jesuítas partiram de Portugal para cartografar, no século XVIII, o espaço compreendido entre o estado do Maranhão e o Rio da Prata, que a coroa portuguesa ainda reclamava como limite sul do Brasil.
TEXTO: A primeira metade do Século XVIII é um período chave na história do Império Português, que tem no Brasil a sua pedra angular. Com as descobertas de ouro em Minas Gerais nos finais do século XVII, seguidas de Cuiabá (1718) e Goiás (1725) vamos assistir a uma corrida ao ouro e a um afluxo de população vinda do litoral, além de um aumento da emigração vinda do Reino. A política de controlo da coroa portuguesa vai-se fazer sentir em Minas Gerais sobretudo a partir de 1709, com a criação da nova capitania de S. Paulo e Minas de Ouro, a fundação de povoações, a criação de paróquias e a implantação da justiça e do fisco. A preocupação central da coroa é evitar o contrabando do ouro, controlar a sua circulação e cobrar o imposto. É neste contexto que D. João V decide enviar ao Brasil dois cartógrafos jesuítas. Já em 1722 o rei tinha contratado em Itália dois matemáticos da Companhia de Jesus, João Baptista Carbone e Domingos Capassi, com o propósito de os mandar ao Brasil. Mas antes precisavam de aprender a utilizar novos instrumentos de observação astronómica, adquiridos na Europa, para determinarem com rigor as coordenadas geográficas. Assim, instalaram-se dois observatórios em Lisboa: um no Paço da Ribeira e outro no colégio jesuíta de Santo Antão. Algumas das observações astronómicas foram publicadas nas principais revistas científicas da época, como as Philosophical Transactions da Royal Society de Londres e as Acta Eruditorum de Leipzig. Por fim, em 1729, com a notícia da descoberta de diamantes em Minas Gerais, D. João V decidiu que Capassi partiria para o Brasil com o jesuíta português Diogo Soares. A missão impossível destes jesuítas consistia em cartografar o espaço compreendido entre o estado do Maranhão e o Rio da Prata, que a coroa portuguesa ainda reclamava como limite sul do Brasil. Cabia-lhes propor novos limites entre as diferentes capitanias e bispados que permitissem uma melhor organização do território. Além dos mapas indicando a correcta localização das povoações dos portugueses e dos índios, dos locais de exploração do ouro, dos portos, rios e enseadas, era necessária uma vasta recolha de informação histórica, geográfica e etnográfica sobre o território. Os padres matemáticos começaram os trabalhos cartográficos pelo Rio de Janeiro. Instalaram um observatório no colégio da Companhia de Jesus, no Morro do Castelo, e fizeram os cálculos para definir a posição do meridiano do Rio de Janeiro. Ao que parece, Capassi e Soares começaram logo por se desentender. Soares queixava-se ao rei que não podia fazer observações porque Capassi levara consigo todos os instrumentos, enquanto o governador relatava em 1731 do Rio de Janeiro: “O padre Diogo Soares aqui fica bem, mas tão desunido com Domingos Capassi, como estarão sempre. As diferenças não têm remédio. E agora partiu o padre Capassi só, a demarcar esta costa daqui para o norte até à Capitania do Espírito Santo, e o padre Diogo Soares fica para ir às Minas Gerais…”Apesar das desavenças, sabemos que em 1734 ambos os padres estavam em Minas Gerais, de onde escrevem a Martinho de Mendonça de Pina e Proença, ali enviado pelo rei para estudar a melhor forma de taxar a produção do ouro. Enquanto Diogo Soares se centra mais em informações que vai recolhendo acerca de caminhos e dos rios, e sobre o extravio do ouro, Domingos Capassi discute observações astronómicas e queixa-se da falta que lhe faz o enviado do rei: “Pelo caminho vim bem desconsolado, como quem se via privado daquele grande allivio que me dava a sua presença. Ainda estamos em tempo de fazer hua jornadinha juntos, como aquella da Cachueira? Que foi feito do eclipse? Achou porventura por aquellas partes mais (…) novas delle? Aqui aos 26 de Outubro observei hum eclipse de Sol às cinco horas de tarde, vindo da villa de Santos com bastante gente. ”Entre 1730 e 1748 os dois jesuítas percorreram as capitanias do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, a costa brasileira desde Cabo Frio até Laguna, parte do território do Rio Grande de São Pedro e da Colónia do Sacramento, fizeram cálculos de latitudes e longitudes e traçaram numerosos mapas. Com o falecimento do padre Capassi em S. Paulo, em 1736, coube a Diogo Soares dar continuidade à missão até à sua morte, em 1748. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Chegaram até nós cerca de 40 mapas que podem ser atribuídos aos padres matemáticos. Há duas colecções de mapas de dimensões idênticas (cerca de 20 por 30 centímetros) que cobrem a costa sul-americana entre o rio da Prata (na Argentina e no Uruguai) e o Cabo de São Tomé (no litoral sudeste do Brasil). Estão graduados em longitudes contadas a partir do meridiano do Rio de Janeiro e parecem ter sido preparados para integrar o que seria o Novo Atlas da América Portuguesa. Deste atlas deviam também fazer parte quatro mapas da região de Minas Gerais, que têm o mesmo meridiano de referência. Fizeram também, em 1734, um mapa da demarcação da região produtora de diamantes de Serro Frio, talvez a pedido do enviado do rei. Capassi traçou dois mapas no Rio de Janeiro: um da baía de Guanabara e outro da capitania, enquanto Diogo Soares nos deixou um mapa que sintetiza os trabalhos cartográficos realizados pelos dois jesuítas ao longo da costa: a “Nova e primeira carta da Terra Firme e costas do Brasil ao Meridiano do Rio de Janeiro desde o Rio da Prata até Cabo Frio”. A qualidade dos mapas dos padres matemáticos foi reconhecida ao longo de todo século XVIII e foi essencial na preparação do Tratado de Limites, assinado com a Espanha em 1750, que definiu em novos moldes o território do Brasil.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte falecimento
Aldrabices fake in Germany
Se alguém ganha na lotaria, os alemães dizem “Schwein gehabt!”, isto é, tiveste um porco. Nas ocasiões em que estão fartos, dizem “Ich habe die Nase voll”, porque têm o nariz cheio. E cá em Portugal usamos: “Isto começa a cheirar muito mal.” (...)

Aldrabices fake in Germany
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Se alguém ganha na lotaria, os alemães dizem “Schwein gehabt!”, isto é, tiveste um porco. Nas ocasiões em que estão fartos, dizem “Ich habe die Nase voll”, porque têm o nariz cheio. E cá em Portugal usamos: “Isto começa a cheirar muito mal.”
TEXTO: O escândalo dos milhões de carros Volkswagen com motor superpoluente (e emissões de gases falsificadas) alarga-se a outras marcas alemãs e subsidiárias: Audi, Skoda, Seat, etc. Uma mancha de óleo cai a pique nas bolsas e derrama-se pelo mundo. Ou os alemães se põem a mastigar mais salsichas e a engolir muito mais cerveja (pelos vistos, o problema da saúde pública não lhes afecta a “moral protestante”) ou a sua economia está em risco. É o bom-nome de um país (a Deustchland adora estes números periódicos de má fama) que está em causa e, com ele, o das grandes marcas germânicas. Temos uma prima em Dusseldorf que já iniciou as suas investigações aprofundadas. A realidade pode ser aterradora, desde há décadas. E melhor do que a realidade, como sabem os alemães, só mesmo a especulação. Quando há aldrabões em casa, pagam todos. 1 — Mercedes. Não é só a hipótese de também ter instalado software informático que adulterava as emissões de gases poluentes e os consumos reais de combustível. É provável que a Mercedes continue, contra o que dizia, a ser a marca preferida de empresários da construção civil e de “patos bravos” que besuntam as auto-estradas com metade da grossura do alcatrão estipulado. Quanto à estrela de três pontas, símbolo da marca, poderá ter um mercado paralelo de armas tipo “estrelas ninja” que alimenta a guerra dos yakuza no Japão contra a Toyota, com várias vítimas mortais. 2 — Pneus Continental. Alguns dos pneumáticos poderão ser, na verdade, feitos não de borracha sintética mas à base de alcaçuz, doce superdenso, produzido em zonas de florestas dizimadas para a produção de açúcar. Mas o mais grave são os pneus das bicicletas, programados para aderir demasiado à estrada, de dez em dez quilómetros, obrigando o ciclista a beber um litro de cerveja ou o novo refrigerante orgânico Bionade que, como a Coca-Cola dos americanos (os queixinhas deste escândalo dos carros), é afinal sintetizado da gasolina de 98 octanas com chumbo. Quanto às mangueiras de rega da Continental, já mataram duas senhoras que as confundiram com anacondas no jardim. 3 — Ursinhos da Steiff. Os queridos peluches que desde 1877 deram carinho e consolo a milhões de crianças — e uma fortuna fabulosa aos herdeiros de Margarete Steiff — têm sinistro passado. Sempre se disse que o famoso e original “Teddy Bear” foi criado em homenagem ao Presidente americano Theodor Roosevelt que, em 1908, se recusou a abater um urso amarrado. Como os americanos desmascararam as aldrabices alemãs, ficou agora a saber-se que o nome real do urso é “Vlady Bear”, homenageando as caçadas ao urso do Presidente russo Vladimir Putin e o simpático transilvano “Vlad, o Empalador”. 4 — Playmobil. O gigante de brinquedos que nasceu na década de 1970, a meio da crise do petróleo (numa empresa que dantes fabricava produtos metálicos e sintéticos), nunca admitiu até que ponto os seus bonecos são pessoas contrafeitas, baseadas em desenhos de criança. Vendem-se aos milhões mas são de simples plástico e nunca passariam num teste de viabilidade humana. Os cowboys, peles-vermelhas, astronautas, operários, donas de casa, têm uma cabeça demasiado grande, sem nariz. E ninguém consegue atar os sapatos com os dedos da mãos todos colados. Além disso, os carrinhos que transportam os Playmobil são um perigo para quem os pisa descalço. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. 5 — Bayer. O conglomerado gigante da indústria química e farmacêutica que em 1900 lançou a aspirina começou com duas pessoas numa barraca. Agora são centenas de milhares. Desconfia-se que a aspirina não é feita com casca de salgueiro mas com raspas de unhas de alemães, que as guardam e nunca as cortam na sala de jantar, como estipulado no contrato de aluguer da casa (como os suíços, aliás). Os estudos de que o ácido acetilsalicílico evitará ataques cardíacos podem ter sido uma extrapolação originada por pessoas que gritaram “ai que me está a dar uma coisinha” ao verem a crise grega na TV, e afinal não era nada. A Bayer arrisca-se a voltar à sua barraquinha de duas pessoas (Schäuble & Merkel)? Dores de cabeça para a Alemanha. 6 — Electrodomésticos da Bosch, Braun, Grundig, etc. Surgiu a hipótese concreta de que os televisores germânicos — com técnicas hipnóticas perigosas para o ambiente — induzem os alemães a considerarem-se o único povo trabalhador da Europa e o resto é uma cáfila sem remédio. As “varinhas mágicas” e os aspiradores vão agora triturar a realidade das fraudes alemãs e limpá-las até que a União Europeia decida que a culpa é dos emigrantes do Sul, como os operários portugueses, que foram para a Alemanha encher de vícios a indústria de um país exemplar. 7 — Ah, e atenção, o caldo Knorr que se vende no Rossio é mesmo haxixe.
REFERÊNCIAS:
Pragas e pecados também têm lugar no debate sobre o estado da Nação
O primeiro estado da Nação realizou-se em 1993 e teve Cavaco Silva e António Guterres como protagonistas. (...)

Pragas e pecados também têm lugar no debate sobre o estado da Nação
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: O primeiro estado da Nação realizou-se em 1993 e teve Cavaco Silva e António Guterres como protagonistas.
TEXTO: Há 26 anos que se fazem debates sobre o estado da Nação na Assembleia da República – o primeiro foi a 1 de Julho de 1993. Cavaco Silva, que na altura chefiava o Governo com maioria absoluta, preparou para esse dia um discurso de 43 páginas e, do outro lado, como líder da oposição, respondeu-lhe António Guterres. O debate durou a tarde toda. O desta quarta-feira, o último da legislatura, durará 226 minutos (quase quatro horas), a partir das 14h30. A intervenção inicial cabe a António Costa, seguindo-se pedidos de esclarecimento e declarações do PSD, PS, BE, CDS-PP, PCP, PEV e PAN. O líder do PSD é o único que não tem assento no plenário. Em 2015, no último debate do estado da Nação de Pedro Passos Coelho como primeiro-ministro, António Costa também não tinha lugar na bancada – era autarca em Lisboa. Mas Passos não ignorou Costa. Depois de um discurso inicial de seis páginas, a defender o quanto a vida dos portugueses tinha melhorado em quatro anos, Passos fez pontaria ao PS e lembrou as “dez pragas” do Egipto que os socialistas deixaram ao país em 2011: das “obras faraónicas, como as PPP rodoviárias e o TGV”, aos “PEC de má memória que não resolveram nada e só trouxeram aumento de impostos e cortes de salários na função pública”, sem esquecer os “défices orçamentais volumosos e ruinosos”, “o completo desgoverno do sector empresarial do Estado”; a nacionalização do BPN, o défice tarifário na electricidade, o “endividamento galopante” ou o desemprego estrutural acima de 10%, entre outras pragas. Foi uma resposta a António Costa que dias antes enumerara os “sete pecados capitais” do Governo a começar pelas “falsas promessas da campanha das legislativas de 2011, quando o actual primeiro-ministro garantiu que não cortaria salários, pensões e não aumentaria impostos”. Os outros seis eram: a asfixia da classe média; o abandono da prioridade ao conhecimento; o aumento do desemprego, da precariedade e da emigração; o ataque aos serviços públicos; o aumento da pobreza e desigualdades; e as quebras nos investimentos público e privado. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mantendo as referências bíblicas, no mesmo debate Jerónimo de Sousa quis saber: “Qual foi a posição do seu partido perante essas pragas?” E, dirigindo-se a Passos Coelho, respondeu: “Não foi insecticida, foi parte integrante dessas pragas que se abateram sobre o país. ”Ao então primeiro-ministro coube defender a governação. “Há quatro anos o desemprego disparava e a destruição de emprego era um facto de todos os dias. Agora, a taxa de desemprego está muito próxima dos níveis de Julho de 2011. Foi com a criação de dezenas de milhares de postos de trabalho que começámos a combater a maior fractura da sociedade portuguesa. E assim continuaremos até atingirmos os níveis de desemprego admissíveis numa economia social de mercado e numa democracia europeia desenvolvida”. O tempo era de pós-ajudtamento e Passos Coelho congratulava-se por não ter falhado na sua “mais importante promessa eleitoral”: cumprir o memorando de entendimento e libertar o país do memorando da troika”.
REFERÊNCIAS:
Língua portuguesa, do lirismo ao desastre? Resposta a Nuno Pacheco
São as autoridades de cada um dos Países de Língua Oficial Portuguesa que, legítima e soberanamente, têm reafirmado a sua aposta na defesa e difusão da língua portuguesa. (...)

Língua portuguesa, do lirismo ao desastre? Resposta a Nuno Pacheco
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: São as autoridades de cada um dos Países de Língua Oficial Portuguesa que, legítima e soberanamente, têm reafirmado a sua aposta na defesa e difusão da língua portuguesa.
TEXTO: Sabemos que não é o caso de Nuno Pacheco (NP), mas o seu artigo “Língua portuguesa, do lirismo ao desastre” (PÚBLICO, 14. 06. 2018) não pôde deixar de nos lembrar algumas pessoas que só falam das questões lusófonas por razões negativas, sendo que, nalguns casos, o fazem até com indisfarçado júbilo. Feita esta justa ressalva, vamos então ao teor do texto. No essencial, NP contesta “que a língua portuguesa, se é falada hoje (garantem) por mais de 260 milhões de seres, sê-lo-á por 400 milhões até 2050 e por nada menos do que 600 milhões até ao final do século”. Fá-lo, porém, a nosso ver, misturando bons e maus argumentos. Daí a nossa resposta. Começando por dar razão a NP, importa reconhecer que, na realidade, os únicos países de língua portuguesa (no sentido em que nesses países se fala massivamente a nossa língua) são, no presente, Portugal e Brasil. E se é incontestável, como alega NP, que “o Brasil está numa tremenda crise (também em matéria educativa)”, não será por isso que no Brasil se deixará de falar a nossa língua. A língua portuguesa é no Brasil uma realidade mais do que consolidada, sendo também, por via disso, um dos grandes factores de coesão nacional, apesar de todas as crises. Atravessando o Atlântico, a situação já é bem diferente, como importa igualmente reconhecer. Em todos esses países, o número real de falantes de língua portuguesa está muito aquém da maioria. Aqui, porém, mais do que para os dados, importa olhar para as tendências. E o que estas nos antecipam é que a tendência é de crescimento, assim se consolidem os diversos sistemas de ensino. Esse tem sido, até ao momento, o maior obstáculo a esse crescimento. Aqui, a única (semi-)excepção é Cabo Verde, que, como refere NP, está entretanto a apostar mais no crioulo do que na língua portuguesa. Pela nossa parte, acreditamos que essa tendência não é irreversível, desde logo porque a língua portuguesa tem, em relação ao crioulo, uma vantagem óbvia: enquanto o crioulo será apenas uma língua de comunicação interna, a língua portuguesa garante uma comunicação a nível internacional. De resto, situação similar se passa em Timor-Leste: apesar da força do “tétum”, as autoridades timorenses não deixam cair a língua portuguesa porque perceberam isso há muito tempo. Em suma: são as autoridades de cada um dos Países de Língua Oficial Portuguesa que, legítima e soberanamente, têm reafirmado a sua aposta na defesa e difusão da língua portuguesa. Obviamente, não o fazem para agradar a Portugal. Fazem-no (talvez até, nalguns casos, a contragosto) porque sabem que isso é do seu essencial interesse. À medida que o Estado em cada um desses países se for consolidando (também a nível do sistema de ensino), é mais do que previsível que o número real de falantes de língua portuguesa vá crescer exponencialmente, até porque esses países se mantêm em expansão demográfica (neste plano, a única excepção é, como se sabe, Portugal). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Tudo isto são, porém, aspectos quantitativos. Ora, mais importantes são, a nosso ver, os aspectos qualitativos. E aqui, de facto, o cenário é bem menos auspicioso: esse conjunto em crescendo de pessoas que falam a língua portuguesa está ainda longe, muito longe, de formar uma real comunidade. Nalguns casos, cada vez mais longe. Sendo que aqui as razões são outras: no Brasil, por exemplo, o sistema de ensino continua a diabolizar, em grande parte, a colonização portuguesa; em África, em geral, a situação não é muito diferente; depois, têm existido alguns incidentes político-diplomáticos, como entre Portugal e Angola; corolário de tudo isso tem sido a crescente inércia da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que, mais do que uma redinamização, precisa de uma refundação. Ainda assim, o facto de um país como Angola estar a multiplicar as suas relações (com os países anglófonos e francófonos, como NP salienta) não fará com que Angola deixe de ser um país lusófono, cada vez mais lusófono, ainda que só linguisticamente. O que mais importa é, sobre isso, consolidar uma cooperação (a todos os níveis) digna desse nome. Aí sim, Portugal pode e deve fazer muito mais. Já quanto às nossas comunidades de emigrantes, o cenário é bem diferente: a esse respeito, NP refere, citando Onésimo Teotónio de Almeida, que “o movimento de crescimento do português está nos Estados Unidos da América a ter uma curva descendente desde 2015”. E o mesmo tem acontecido, acrescentamos nós, noutros países com fortes comunidades portuguesas. Há, a nosso ver, duas razões para tal: em primeiro lugar, é natural que, à medida que as gerações se sucedem, a ligação com a língua portuguesa se vá desvanecendo, sobretudo porque (e essa é a segunda razão) não parece haver motivos para contrariar essa tendência, a não ser os afectivos/ familiares. Quando, nalguns casos, são as próprias autoridades políticas e académicas portuguesas a promoverem uma visão envergonhada da nossa história e cultura, que estímulo podem ter os netos ou bisnetos de portugueses para aprenderem a nossa língua? Falamos por nós: se tivéssemos nascido nos Estados Unidos da América ou em França, apenas para dar dois exemplos, e se nos tivéssemos deixado formatar pela “cultura dominante” (bem visível, por exemplo, na polémica em curso sobre o “Museu dos Descobrimentos”), não teríamos o menor estímulo para manter uma ligação linguística com Portugal. Pelo contrário.
REFERÊNCIAS:
Entidades CPLP
O teste ESFOP – E Se Fosse O Passos?
Num país onde a esquerda tem o monopólio do protesto, a receita para o nirvana político está à vista de todos – é meter a esquerda na cama do poder e apagar a luz. (...)

O teste ESFOP – E Se Fosse O Passos?
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Num país onde a esquerda tem o monopólio do protesto, a receita para o nirvana político está à vista de todos – é meter a esquerda na cama do poder e apagar a luz.
TEXTO: É verdade que a direita portuguesa é dada ao queixume e ainda não recuperou daquilo que lhe aconteceu em 2015. Este lado de vitimização é contraproducente em política, até porque uma longa lista de lamúrias não compõe um programa eleitoral. Contudo, há coisas que são extremamente difíceis de engolir, e a maior delas é a duplicidade de critérios com que se avalia o trabalho do actual governo, quando comparado com a forma como se avaliava o trabalho do governo anterior. Há, pois, que investir nesta patriótica missão: aplicar o teste ESFOP (E Se Fosse O Passos?) a todas as medidas e declarações do governo de António Costa. É a luta ancestral pela narrativa certa: quem domina a interpretação daquilo que está a acontecer pode inclinar o campo da História para o seu lado. Mais do que os alegados brilharetes de Mário Centeno, é precisamente isso que tem feito a diferença na fórmula de governo encontrada por António Costa – estamos cativados em termos financeiros e cativados em termos interpretativos. Não só se instituiu uma narrativa de sucesso governativo bastante desligada da realidade, como se aceitam como toleráveis acontecimentos e afirmações que provocariam ribombantes rasgares de vestes cinco anos atrás. Muita gente de direita tem aplicado o teste ESFOP nos últimos tempos, ao ser confrontado com múltiplas atitudes do governo socialista (“ai se tivesse sido Passos a fazer isto”; “ui se tivesse sido Passos a dizer aquilo”), tentando denunciar uma duplicidade de critérios que é sintoma de uma democracia coxa. Mas o teste ESFOP não está tão generalizado quanto deveria. Passos Coelho e os seus ministros passaram uma legislatura inteira amarrados a frases infelizes – do “sair da zona de conforto” ao “ir além da troika” –, que eram atiradas contra eles 24 horas por dia, sete dias por semana. Ora, actualmente, as maiores barbaridades ditas por ministros socialistas parecem não ter qualquer capacidade de aderência. Dou um exemplo: aquilo que o ministro do Ambiente afirmou sobre o aproveitamento da baixa do IVA nas tarifas de electricidade é de tal forma infeliz que há cinco anos ele teria sido de imediato transformado num monstro da insensibilidade social e em alvo favorito de grandoladas. Matos Fernandes, para quem não reparou (porque, como estas coisas não ganham tracção, é perfeitamente possível que não tenham reparado), exortou as famílias a diminuírem a potência de electricidade contratada nas suas casas para o nível mais baixo que existe, para dessa forma aproveitarem a redução do IVA de 23 para 6%. Como saberá qualquer pessoa que tenha um quadro eléctrico, a potência mais baixa dá para um frigorífico e uma chaleira – aquecimento, só se for a brasas. Pois bem: querem aplicar o teste ESFOP a estas declarações? O governo de Passos seria acusado pelo PCP de estar a promover o regresso ao velho Portugal salazarista, mais pobrete do que alegrete; o Bloco de Esquerda lamentaria por antecipação todos os velhinhos que iriam morrer de frio no Inverno só para pagar menos IVA e continuar a proteger o lobby da EDP; o PS classificaria a medida como um convite para os portugueses emigrarem para climas tropicais. Isso, claro, se estivéssemos em 2013. Como estamos no santo ano de 2018, houve umas breves notícias, uns suspiros nas redes sociais e pouco mais. Num país onde a esquerda tem o monopólio do protesto, a receita para o nirvana político está à vista de todos – é meter a esquerda na cama do poder e apagar a luz.
REFERÊNCIAS:
Um ministro com a faca apontada ao pescoço
Nesta fase pós-troika e pré-discussão orçamental, o Ministério da Saúde está a ser confrontado com várias grevas e ameaças de greve. Adalberto Campos Fernandes é um ministro acossado (...)

Um ministro com a faca apontada ao pescoço
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-07-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nesta fase pós-troika e pré-discussão orçamental, o Ministério da Saúde está a ser confrontado com várias grevas e ameaças de greve. Adalberto Campos Fernandes é um ministro acossado
TEXTO: A troika foi embora, o Governo fez as reversões que entendeu fazer, mas as consequências do plano de ajustamento ainda não se pulverizaram no sector da Saúde. Os dois sindicatos que representam os médicos lançaram o mote em Maio, cansados das “belas palavras e música celestial” do ministro Adalberto Campos Fernandes. Os clínicos fizeram greve durante dois dias para convencer a tutela a reduzir de 200 para 150 horas anuais o tempo de trabalho extraordinário a que estão sujeitos, a baixar de 18 para 12 as horas semanais de serviço nas urgências e de 1900 para 1550 o número de utentes por médicos de família. A troika tinha imposto estes objectivos, o Governo tinha-se comprometido a revê-los, mas ficou tudo na mesma. E há uma nova ameaça de greve no horizonte, aproveitando as autárquicas. Um auto-intitulado movimento de enfermeiros especialistas em saúde materna e obstétrica ameaça parar o funcionamento de 28 blocos de partos e o internamento de grávidas de alto risco a partir de segunda-feira e por tempo indeterminado. Contam com o apoio de dois dos três sindicatos do sector, da Ordem dos Enfermeiros, e reclamam melhor remuneração. O Governo duvida da legalidade dos protestos, no que é secundado pela Ordem dos Médicos, e o acossado ministro exclama que “não é ao meio do ano, de repente, que se encosta uma faca ao pescoço de qualquer governante”. Como se isso não bastasse, os técnicos superiores de saúde das áreas de diagnóstico e terapêutica iniciaram na quinta-feira uma greve por tempo indeterminado porque simplesmente não têm carreira e se encontram à espera da aprovação de um diploma que a vai criar. A troika teve várias implicações no sector da Saúde. E uma delas foi o incentivo à emigração: 3500 médicos saíram do país nos últimos quatro a cinco anos. Por isso, a contestação não se vai limitar a mais salário e a menos horas de trabalho. A Ordem dos Médicos deu o mote nesta sexta-feira: para cumprir o rácio de médicos por habitante, segundo padrões internacionais, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) carece de quatro a cinco mil clínicos especialistas. Nesta fase pós-troika e pré-discussão orçamental, não parece provável que o Ministério das Finanças embarque, a “meio do ano, de repente”, nesta onda que promete avassalar o Verão do SNS. É verdade, o ministro tem uma faca encostada ao pescoço.
REFERÊNCIAS:
Entidades TROIKA
Até onde vão as ondas de choque do “Brexit” na economia portuguesa?
INE traça simulação pós-“Brexit”. Num cenário hipotético — não é uma previsão — em que as exportações recuem 10%, o PIB português diminui 0,3 pontos percentuais. (...)

Até onde vão as ondas de choque do “Brexit” na economia portuguesa?
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.1
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: INE traça simulação pós-“Brexit”. Num cenário hipotético — não é uma previsão — em que as exportações recuem 10%, o PIB português diminui 0,3 pontos percentuais.
TEXTO: O que impacto vai ter a saída do Reino Unido nas exportações portuguesas e, isso, na economia? A previsão sobre as ondas de choque do “Brexit” é tão incerta que nem os cenários teóricos que procuram dar-lhe resposta arriscam um ponto final na conclusão — fazem-se exercícios, mas logo a seguir a prudência exige um aviso: há impacto que não são sequer ser levados em conta e as consequências são por isso variáveis. Foi com esse princípio que o Instituto Nacional de Estatística (INE) procurou agora traçar um cenário teórico caso haja uma queda acentuada das vendas para um mercado tão importante como o Reino Unido — o quarto destino das exportações de bens produzidos em Portugal e o primeiro para onde o país vende serviços. Recorrendo ao modelo chamado Input-Output — um dos “vários instrumentos analíticos para estimar esse impacto” —, o INE calcula que uma "redução uniforme de 10% das exportações de bens e serviços para o Reino Unido traduz-se numa diminuição de 0, 26% do Produto Interno Bruto (PIB) português". Mas este é apenas um cenário que tem em conta os efeitos directos e indirectos internos entre os dois velhos aliados comerciais. Não estão a ser contabilizadas as outras ondas de choque do “Brexit”. O instituto estatístico não faz qualquer previsão (não tem essa atribuição), nem a hipótese que coloca é uma expectativa sobre o impacto do “Brexit” na economia, referiu ao PÚBLICO o gabinete de imprensa da instituição?. O que faz é assumir que por cada diminuição de 10% de exportações para o Reino Unido o PIB português sofre uma contracção de 0, 26 pontos percentuais. De fora dos cálculos, afirma o INE numa nota publicada nesta sexta-feira, estão os “efeitos indirectos” que o divórcio vai ter nos principais países com quem Portugal mais se relacionada economicamente – por exemplo, não são levados em conta o impacto da saída Reino Unido na economia espanhola e, disso, na portuguesa; nem o resultado nas economias alemã e francesa e, disso, na portuguesa. O cenário é de incerteza, em primeiro lugar para o Reino Unido. Em Londres, o Governo conservador de Theresa May fez sair esta semana um estudo do Governo que apontava, para vários cenários de saída, para uma diminuição da economia britânica ao longo dos próximos 15 anos; e o Banco de Inglaterra alertou que um divórcio “desordeiro” pode implicar prejuízos superiores aos da última crise financeira mundial. O acordo de saída está negociado com os 27 outros países da União Europeia e aprovado pelos chefes de Estado e Governo, mas o risco de ser chumbado no Parlamento britânico é provável, perante a frente de contestação interna que May enfrenta no interior do Partido Conservador e na oposição dos unionistas que suportam o executivo dos tories. “Tem-se questionado qual o impacto na economia portuguesa [do “Brexit”], nomeadamente por via da redução das exportações de bens e serviços, tanto mais que aquele país é um importante cliente de Portugal” pela importância que as receitas do turismo inglês garantem. Há vários sistemas para o pode fazer e o INE usou o modelo Input-Output, que, “tendo em conta um conjunto de hipóteses e condicionantes, permite obter indicações quantitativas”, através de multiplicadores. A estimativa de redução do PIB em 0, 26 pontos, diz o INE, tem por base “os conteúdos de inputs primários do PIB calculados para o ano de 2015 e os valores de exportações de bens e serviços apurados para o ano de 2016”. Para fazer estes cálculos, o INE assumiu como hipótese um cenário de redução uniforme entre todos os produtos exportados (bens e serviços). Mas se o turismo for afectado com mais intensidade do que outro sector, por exemplo, o resultado é distinto. O INE não decidiu publicar um estudo específico sobre o “Brexit” e divulgá-lo nesta altura: como divulgou nesta sexta-feira um destaque sobre as Matrizes Simétricas Input-Output, em que faz medições como “um euro a mais de exportações reparte-se em 44 cêntimos de importações adicionais e em mais 56 cêntimos de PIB”, escolheu também incluir um cenário ilustrativo sobre o “Brexit” para mostrar como se pode usar este instrumento de análise do Input-Output. Também o FMI já fez contas, a admitir que um hard “Brexit” possa conduzir no longo prazo a uma perda de 0, 5% na economia europeia e 0, 2% na portuguesa. Um estudo recente realizado pela Ernest &Young e pela sociedade de advogados Augusto Mateus Associados coloca Portugal como um dos países da UE com um impacto económico “intermédio” ou de “segunda linha” por causa do “Brexit”. A análise, encomendada pela Confederação Empresarial de Portugal (CIP) e com o patrocínio do Governo português, fez uma avaliação de “sensibilidade da economia” e das empresas atendendo às “diversas dimensões que lhe estão associadas”, olhando tanto para os sectores de actividade mais sensíveis, como para os reflexos da contracção que se prevê na economia britânica, passando pela alteração de “quadro de relacionamento económico entre Portugal e o Reino Unido. O estudo (concluído em Setembro) aponta para uma redução de 0, 5% a 1, 9% nos fluxos de investimento directo estrangeiro, uma quebra de 1, 1% a 4, 5% nas exportações para o Reino Unido e uma diminuição das remessas de emigrantes entre 0, 8% e 3, 2% associada à “contracção prevista para a economia britânica no horizonte do período de transição”. Entre as empresas exportadoras, as que vendem produtos informáticos, electrónicos e ópticos, Equipamento eléctrico, automóveis são as que mais expostas estão. Numa segunda linha, mas num nível de risco “ainda médio alto” está uma gama de produtos, como alimentos, bebidas, tabaco, têxteis, roupa, couro, papel, cartão, produtos farmacêuticos, metais ou mobiliário, concluía o estudo pedido pela CIP. Queda no turismo inglêsSubscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em 2017, o Reino Unido foi o quarto país que mais recebeu exportações portuguesas, num total de 8074 milhões de euros, em que a maior fatia, de 4492 milhões de euros, corresponde ao que se contabiliza como venda de serviços (onde se incluem os cálculos do turismo), e os restantes 3644 milhões equivalem a produtos vendidos. O Reino Unido é o principal mercado emissor de turistas para Portugal e desde Outubro de 2017 que o número de visitantes ingleses está a diminuir (foi assim até Agosto). Só nesse mês, o turismo britânico baixou 12, 3% em relação a Agosto de 2017, um recuo ainda mais significativo do que o recuo de 9, 4% quando se olha para o conjunto dos oito meses deste ano). Como o PÚBLICO já noticiou, o “Brexit” é um dos factos, mas não o único, que estão a levar a essa quebra (também a explicam a recuperação de destinos turísticos como a Tunísia, a Turquia ou Egipto, os atrasos nas ligações aéreas e a própria desvalorização da libra em relação ao dólar, uma trajectória por sua vez também influenciada pelo “Brexit”). Apesar disso, o total das exportações (bens e serviços) para o Reino Unido continua em alta: até Setembro foram vendidos 6. 501 milhões de euros, mais 7% do que nos primeiros nove meses de 2017.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE FMI