“Oh não! Outro português”
Portugal já recuperou a sua credibilidade junto dos parceiros europeus e da comunidade internacional? António Vitorino acha que sim. Mas lembra também que o país é valorizado lá fora mais do que, às vezes, nós próprios admitimos. (...)

“Oh não! Outro português”
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Portugal já recuperou a sua credibilidade junto dos parceiros europeus e da comunidade internacional? António Vitorino acha que sim. Mas lembra também que o país é valorizado lá fora mais do que, às vezes, nós próprios admitimos.
TEXTO: O novo director-geral da OIM retrai-se mais a falar da Europa do que antes de iniciar as suas novas funções. Cada coisa tem o seu tempo. A sua voz era das mais ouvidas e respeitadas em Portugal e em Bruxelas. Fechou agora esse capítulo, para abrir outro cuja sede é em Genebra. Mesmo assim dá a sua opinião sobre as questões mais quentes da agenda europeia. Preocupa-se com a vaga de partidos populistas e nacionalistas que varrem a grande maioria das democracias europeias, mas diz que a bola está nos pés dos pró-europeus e dos defensores dos valores da Europa, que têm de provar que é possível uma “Europa que protege, que é capaz de preservar no essencial o modelo social, que combate a desigualdade das sociedades em que um terço tem todas as oportunidades e outros dois terços vivem na insegurança e na incerteza”. Não gosta de comparações históricas, como aquela que se pode fazer entre o que se passa hoje na Europa e o que aconteceu nos anos 1930, com as consequências que conhecemos. Normalmente são “uma péssima ideia”. Considera que os europeus vão viver em breve o seu momento da verdade, com as eleições para o Parlamento Europeu, em Maio do próximo ano. O Parlamento que sair destas eleições será “muito diferente” daquele que se mantém relativamente estável desde a sua primeira eleição directa (1979). “Haverá imensas mudanças”, que reflectem a emergência de novas forças políticas — do lado dos populismos e dos nacionalismos, mas não só. O novo quadro político francês, com a República em Marcha de Emmanuel Macron, também altera a relação de forças entre os grupos pró-europeus que têm sido maioritários no PE. Lembra que não vale a pena preocuparmo-nos muito com quem vão ser os candidatos à Comissão apresentados pelos grandes partidos europeus. Nesse novo quadro, vão provavelmente ser preciso “três ou quatro partidos” para eleger o presidente da Comissão. A Europa será outra depois do “Brexit”? “Tudo depende do acordo de saída”. Um acordo que “mantenha o Reino Unido o mais próximo possível da União Europeia” permitirá manter os equilíbrios políticos que hoje definem a Europa — na defesa, na economia, nas questões internacionais. “Os ingleses sempre tiveram uma enorme influência na Europa”, diz. “A questão é saber por que é que nunca a quiseram assumir. ” O Mercado Único, as agências de regulação, a economia, a política externa são áreas da integração em cuja dinâmica tiveram um grande papel. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Na sua longa carreira internacional, que passou por vários think-tanks europeus, incluindo a Fundação Notre Europe, a que presidiu depois do seu fundador, Jacques Delors, teve um episódio interessante sobre o qual não gosta de falar muito. Em 2003, ainda na Comissão, o seu nome foi apontado por vários aliados europeus para candidato a secretário-geral da NATO, sucedendo ao britânico George Roberston. Tinha um apoio generalizado, que esbarrou em Donald Rumsfeld, então chefe do Pentágono. A sua candidatura caiu. Limita-se a dizer que também tem o direito “a averbar algumas derrotas. ” Em 2004, o seu nome foi sugerido aos parceiros europeus pelo ex-primeiro-ministro António Guterres para presidir à Comissão, que ele próprio tinha recusado em 1999, quando chefiava o governo de Lisboa. Mais uma vez, Vitorino recolheu um consenso alargado. As circunstâncias da eleição acabaram por abrir as portas a um candidato menos afirmativo, capaz de desbloquear os vetos cruzados entre Londres e Paris: Blair avançou com Chris Patten, Chirac com o belga Guy Verhofstadt, que se anularam um ao outro. O então primeiro-ministro português Durão Barroso já fizera o trabalho de bastidores para ser o candidato do desempate. Portugal já recuperou a sua credibilidade junto dos parceiros europeus e da comunidade internacional? Vitorino acha que sim. Mas lembra também que o país é valorizado lá fora mais do que, às vezes, nós próprios admitimos. Um dos argumentos que pesaram a favor da sua candidatura foi o comportamento português em relação precisamente às questões da imigração, hoje em dia muito valorizado, em contraste com o clima negativo reinante. E a pergunta mais incómoda, a que responde, como é seu costume, com uma gargalhada e uma piada. António Guterres foi para o ACNUR e seguiu para a ONU. Vitor Constâncio passou oito anos como vice-presidente do BCE. Ele próprio parte para Genebra. Todos são socialistas e próximos de António Costa. “Desertaram?” Vitorino não acha que seja a palavra justa. Como sempre, encontra a saída perfeita. “Quando me candidatei, a reacção foi: ‘Oh não! Outro português’. ”
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU NATO
Desamparados – para uma geografia emocional do interior
Enquanto se questiona a incapacidade de se fechar uma estrada de Borba que se equilibrava, periclitante, no meio de duas crateras gigantes, reaparecem nas notícias o “país real”, a província, as aldeias, o dito interior. Um espaço de "geografia incerta", hoje administrado “por governos com as finanças apertadas, ultracentralizados, burocráticos e distantes”. Uma reflexão sobre uma parte do país que parece ter calhado "no lado errado do mapa". (...)

Desamparados – para uma geografia emocional do interior
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Enquanto se questiona a incapacidade de se fechar uma estrada de Borba que se equilibrava, periclitante, no meio de duas crateras gigantes, reaparecem nas notícias o “país real”, a província, as aldeias, o dito interior. Um espaço de "geografia incerta", hoje administrado “por governos com as finanças apertadas, ultracentralizados, burocráticos e distantes”. Uma reflexão sobre uma parte do país que parece ter calhado "no lado errado do mapa".
TEXTO: Chamam-lhe territórios de baixa densidade. Nada como uma boa expressão tecnocrata para tentar apaziguar este sentimento de que há uma espécie de maldição que caiu sobre o lado errado do mapa, o que se afasta do mar e, da Serra da Peneda ao Guadiana, se estende pela maior parte do território de Portugal. Portugal, apesar da pequena dimensão, é constituído por um mosaico com variações e contrastes bruscos. Sempre foi. Não é tudo a mesma coisa nessas terras do dito interior. Percorrem-nas vias rápidas, redes de energia, telecomunicações; emergem nesse panorama depressivo uma mão cheia de centros urbanos de pequena dimensão, capitais de distrito quase todos, e um sem número de vilas, sedes de concelho que resistem enquanto não fecharem todos os postos dos CTT, os centros de saúde, as escolas básicas e secundárias, os tribunais, as casas da cultura ou câmaras municipais, quem sabe. A história de como aqui se chegou é conhecida e, resumidamente, pode-se contar assim. Estávamos no início da década de 1960, governava uma ditadura arcaica e conservadora e a elite pensante e o poder aglomeravam-se em Lisboa, como sempre desde os afonsinhos. A modernização acontecia aos solavancos, descoordenada e na maior parte do território corria a debandada geral da emigração a fugir da pobreza dos campos, da vida rural e dos horizontes curtos. O mau viver desse interior empurrou a gente para o exterior. Nas lendas e narrativas do Portugal romântico e fantasioso, essa era a terra idílica dos camponeses, a mesma que enxameava os livros da Escola Primária, a propaganda do SNI, os concursos das aldeias mais portuguesas, os Guias de Portugal, ou os relatos pitorescos das viagens de férias da burguesia que ia à “província”, narrativas muito distintas daquelas dos que, simplesmente, iam “à terra” quando podiam. Apesar do regime tornar ilegal e dificultar essa sangria emigratória, tinha começado o último episódio do fim da pré-modernidade portuguesa. Algures em França, na Alemanha ou nas Américas organizava-se a vida, trabalhava-se, poupava-se, sonhava-se com o regresso à terra sem a escravatura do trabalho nos campos, os casebres a cheirar a fumo ou a sobranceria dos notáveis que gostavam do povo simples e, sobretudo, barato e submisso. Quando apareceram os sinais desse regresso – as casas novas – a elite instalada alvoroçou-se. Aqueles novos-ricos estavam a construir umas casas exóticas, perturbadoras daquela paz onde o sino tocava e a torre da igreja branquejava no vale onde antes se cantava na vindima ou na ceifa e os carros de bois chiavam nos caminhos. No 10 de Junho, o da Raça que depois foi de Portugal, de Camões e das Comunidades, baixava o tom e mudava o registo: os emigrantes eram uns heróis que enviavam divisas, punham os filhos na escola e equilibravam a balança de pagamentos do país. No dia a seguir voltava tudo ao mesmo. Entretanto, os filhos deles também partiram, organizaram vida algures e agora os seus pais ou avós já passam mais tempo onde toda a vida trabalharam do que nas casas vazias que semeiam o território das origens. Houve uma revolução entretanto. Já tardava. Passadas as convulsões iniciais, o país rapidamente integrou a então Comunidade Económica Europeia e o tempo acelerou. Em menos de trinta anos Portugal mudou mais do que em toda a sua longa história. A construção rápida do Estado Social distribuiu infraestruturas, bens e serviços públicos por toda a geografia nacional: estradas e auto-estradas, rede eléctrica, telecomunicações, água, esgoto, escolas, hospitais, universidades, politécnicos, equipamentos culturais e desportivos…, seguindo as políticas sectoriais do Estado Central e apoiando o novo municipalismo democrático. A unanimidade acerca deste surto de investimento público era praticamente total. Como em qualquer política keynesiana, o Estado investiria, modernizaria o país e os privados viriam a reboque aproveitando essas vantagens e economias externas produzidas para uma sociedade mais desafogada e equilibrada, mais educada e com maior poder de compra, e um território finalmente tornado funcional, desencravado e equipado. Música celestial. Lá fora o mundo acelerava com o capitalismo neoliberal em modo de desregulação global e a velha Europa entrava na cena a medir forças com os EUA ou as economias emergentes da Ásia. Rapidamente as vantagens da semi-periferia portuguesa (salários baixos, integração na UE e boas dotações infraestruturais) se foram diluindo na vertigem da economia a marchar ao clarim do sistema financeiro e do mundo aberto: algures, salários de miséria e fiscalidade nula; por perto, paraísos fiscais; em lugares remotos, Estados tomados de assalto por interesses privados; jogos sem fronteiras em todos os continentes. A fluidez da cibernética da globalização económico-financeira não se fez acompanhar de nenhum dispositivo político de regulação do que quer que seja à mesma escala. Portugal tinha-se democratizado e fundado, a contra-ciclo, um Estado Social. Passado o ímpeto dos investimentos públicos co-financiados pela UE, o tal investimento privado não veio e a saída da população também não parou. O processo de desruralização (a desconstrução do edifício da ruralidade tradicional, das economias familiares de auto-subsistência, das práticas agrícolas ancestrais, das tradições, dos ranchos de filhos, do abandono dos campos) aprofundou-se e ganhou velocidade, em alto contraste com o tempo longo em que permaneceu sem grandes sobressaltos até praticamente ao final dos anos de 1950’. Parece que foi ontem e por isso o país está cheio de presenças materiais desse longo ciclo que agora lentamente se esvaziam e arruínam: casas, caminhos, espigueiros, moinhos, muros, celeiros, campos. Das novas gerações que entraram no ensino superior (este que escreve também é o primeiro diplomado na família, como a maioria dos diplomados na casa dos cinquentas), as primeiras ainda saíram beneficiadas com o ciclo de desenvolvimento do Estado Social; as seguintes sentiram na pele a mudança brusca do clima económico, dos anos duros da troika e do Estado endividado metido na deriva neoliberal a “reestruturar” o sector público, a privatizar, a concessionar. Os governantes diziam aos jovens que emigrassem. Assim fizeram (como sempre, desde há séculos). Neste turbilhão veloz de construção e desconstrução do Estado Social, de desenvolvimento seguido de crise prolongada, a geografia do país foi-se extremando. Entretanto, o estado ex-empreendedor foi desinvestindo, fechando ali um centro de saúde, acolá um tribunal ou uma escola. As mazelas do centralismo do Estado (e da Administração Pública) dividido pelas capelas ministeriais nem se deu conta que muitas das decisões sectoriais do emagrecimento coincidiam nos mesmos lugares. A folha de cálculo não estava georeferenciada. O certo é que entre o ciclo positivo do Portugal pós-adesão à UE e o país que hoje temos não aconteceu nenhuma reestruturação assinalável na estrutura fortemente hierárquica e polarizada da organização do estado/administração. O ciclo vicioso — emigração, envelhecimento, quebra da natalidade, despovoamento, escassez de oferta de emprego —, deixou a maioria do país em estado de coma. A rapidez do processo provocou um certo atordoamento. Chega a haver escolas novas para alunos que não há; sem os serviços de apoio aos idosos que são cada vez mais, e mais fragilizados e ainda mais idosos. O paradoxo é que mesmo onde há investimentos agrícolas fortes — Douro Vinhateiro, perímetros de rega do Mira e do Alqueva —, a saída de população continua e o emprego não aparece. Para os trabalhos sazonais dessa nova agricultura hipertecnológica — o agro-negócio —, aparece gente do longínquo Nepal para jornas onde no tempo da miséria apareciam os trabalhadores das migrações internas, os “ratinhos” e as “rogas” da ceifa e da vindima. A globalização é a lei do dinheiro que faz dinheiro, seja com as tecnologias, com o trabalho, com as mercadorias, com o transporte, com a finança. São os mercados. A regulação dos sistemas económicos no contexto dos Estados-nação desbordou e explodiu. A centralidade do Estado na condução das políticas sectoriais ou territoriais afundou-se com a dívida, com o canto da sereia neoliberal, com uma exagerada distância entre governo central e municipal e respectivos orçamentos e competências. Com os sectores estratégicos privatizados — desde a energia, aos correios e às telecomunicações — e a penúria para financiar os sistemas básicos do Estado Social como a justiça, a saúde, o ensino e a segurança social, pouco fica para, através das políticas públicas, orientar o que quer que seja. Por isso o povo se sente desamparado. Umas vezes é cidadão e reclama direitos e Estado de Direito; outras vezes é utente, protesta e assina petições nas redes sociais; na maior parte das vezes é apenas cliente: se tem dinheiro, compra, se não tem, não tem. Na ditadura havia o Estado paternalista, autoritário e somítico; depois houve uma democracia generosa e agora há os governos com as finanças apertadas, ultracentralizados, burocráticos e distantes. Os orçamentos municipais continuam escassos e a descentralização emaranha-se em discussões inúteis. Pela política adentro entrou uma retórica poderosa que se perde em adjectivos e causas de que não se percebem as vantagens para a vida de todos os dias — tudo será sustentável, verde, património, resiliente, coeso, empreendedor, empoderado, comunidade, participado, ambientalmente saudável, descarbonizado, inteligente…, e tudo o mais que é articulado neste latim pastoso, no inglês andadeiro ou em algoritmos tecno-burocráticos. Para variar, um tema fracturante sobre género, sociedade da informação, protecção da natureza ou mobilidade suave. Futebol, sempre. Por isso este mal-estar quando tudo arde, quando desabam estradas e barrancos, quando morrem famílias, quando a TV (cada vez mais irreal) vai ao país real, quando ao lado do último cosmopolitismo lisboeta do Web Summit ou de mais um escândalo envolvendo milhões, políticos profissionais, bancos e negócios, aparecem as notícias avulso da província, das aldeias, do interior, ou de qualquer outro nome que tenha esta geografia incerta do Portugal metido nas névoas ou amacacado em regionalismos e tipicismos para o turismo rural e para a vertigem da circulação das imagens nas redes e nas vidraças dos telemóveis. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Dissonância cognitiva é o nome que se dá a certas patologias psicológicas caracterizadas pelo conflito derivado da percepção de coisas ou situações que surgem em simultâneo e que parecem muitas, inconsistentes, contraditórias, anacrónicas, difíceis de ponderar ou de avaliar segundo os esquemas simplificados que existem para as entender. É por isso que estou sempre a lembrar-me de um escrito que estava na porta do gabinete de uma minha professora: teoria é quando sabemos tudo mas nada funciona; a prática é quando tudo funciona mas não sabemos porquê; aqui, juntamos teoria e prática: nada funciona e não sabemos porquê (mas vamos fazer um inquérito, uma averiguação, uma nova legislação, umas multas, uma comissão parlamentar, uma política de mitigação de risco, um sistema de alerta, um abaixo-assinado, um dia nacional sem desastres, uma missa cantada, um site, um workshop…). Como dizia François Ascher a propósito da sociedade hiper-moderna, face a estes acontecimentos que nos ultrapassam, façamos de conta que os organizamos.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA TROIKA UE
"Brexit": há algo de podre no “soberano” Reino da Noruega
Postas as coisas noutro plano, que a esquerda radical lusa também não quer entender: a saída do Reino Unido também tira alguma soberania a Portugal. (...)

"Brexit": há algo de podre no “soberano” Reino da Noruega
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Postas as coisas noutro plano, que a esquerda radical lusa também não quer entender: a saída do Reino Unido também tira alguma soberania a Portugal.
TEXTO: 1. A propósito do acordo de saída da União Europeia, tem feito caminho a ideia de que se trata de um mau acordo para o Reino Unido e de que, por isso, ele merece uma rotunda reprovação. Entre nós, esta posição tem aparecido, aqui e ali, pela mão do PCP, mas tem sido essencialmente protagonizada pelo Bloco de Esquerda. Espanta esta defesa intrépida dos britânicos feita pela esquerda radical, quando sabemos que a Grã-Bretanha dispõe de uma das economias mais amigas do capitalismo financeiro de todo o mundo. Mais espanta quando sabemos também que a grande motivação do "Brexit" foi a restrição drástica em matéria de imigração e de liberdade de circulação. Afigura-se evidente que o sentido do voto do "Brexit" incorpora uma vontade de relaxamento de certos padrões das políticas sociais e ambientais em ordem a fomentar a competitividade global, visa libertar-se dos grilhões supostamente hiper-reguladores de Bruxelas para animar a economia, pretende reforçar a ligação privilegiada ao grande aliado histórico (Estados Unidos da América) e, finalmente, alimenta-se de uma certa nostalgia dos tempos imperiais (a esquerda diria mesmo “imperialistas”). Deixemos de lado esta profunda e insanável contradição, pois ela não é senão a confirmação da enorme convergência – mesmo que táctica (embora, verdade seja dita, é muito mais do que táctica) – da extrema-esquerda com a extrema-direita. 2. O grande argumento da líder do Bloco de Esquerda – que, aliás, já tinha sido reiteradamente enunciado por muitos outros dirigentes – consubstancia-se na asserção de que os britânicos ficarão vinculados a um grande acervo europeu, mas perderão qualquer capacidade de influenciar a política europeia (pois, deixarão de ter representação nas várias instituições da União). Há mesmo quem tenha chegado a dizer que compreendia a desaprovação dos trabalhistas de Corbyn, por esta mesma razão. O que manifestamente releva do desconhecimento: os trabalhistas queriam um acordo bem mais vinculante para os britânicos, basicamente mantendo a união aduaneira. Mas esse acordo mais vinculante não teria, nem poderia ter, nenhuma contrapartida do lado da sua influência sobre a formulação das políticas europeias. É aquilo a que chamo o paradoxo norueguês: a Noruega está dentro do mercado interno, cumpre todas as suas regras, paga para isso, mas não participa de nenhuma das decisões que dizem respeito a esse mercado e à definição das suas regras de enquadramento e funcionamento. Concentremo-nos então neste eixo do argumentário. 3. Em primeiro lugar, nunca será de mais recordar que foi o Reino Unido, com toda a legitimidade e sem que ninguém beliscasse essa sua prerrogativa, que quis deixar de pertencer à UE. É por demais evidente que, saindo da União, não faria qualquer sentido que pudesse estar representado nos órgãos respectivos ou que pudesse influenciar formalmente e a título próprio a adopção das políticas da União. Adite-se, em boa verdade, que a vontade dos “brexiteers” de permanecer nos órgãos é nula; há quase orgulho ou, ao menos, brio em afirmar que finalmente deixarão de participar “nesses” fóruns. Em segundo lugar, revisite-se a acusação do “acordo humilhante”, em que a velha Albion ficará com o pior de dois mundos: obedece às regras, mas não tem voz nem voto na sua prolação. Esta afirmação arranca de uma falácia, de que aqui se fala há muito e que tem a ver com o que hoje deve entender-se pelo conteúdo essencial do poder dos Estados. Tomemos o exemplo norueguês. A Noruega é habitualmente apontada como um caso de afirmação superlativa da soberania, pois recusou aderir à UE. À primeira vista, pode parecer bizarro, mas países como a Eslovénia ou a Irlanda podem ter mais poder (“mais” soberania) do que a Noruega, apesar da enorme riqueza e avanço deste Estado escandinavo. Sob pena de ser condenado a um isolamento albanês, o Reino da Noruega quis beneficiar do mercado interno e até do espaço Schengen. Mas como quis manter-se fora da UE, não pode participar na definição de quaisquer regras desses dois espaços de integração. E, por isso, mantendo-se orgulhosamente soberano, limita-se a executar as políticas e as regras que são definidas por outros 28 Estados e nas quais não tem palavra a dizer. A sua capacidade de influência é altamente reduzida, mas pode exibir, para inglês ver – e aqui é, literalmente, “para inglês ver” – o troféu de uma soberania (imaginária). Por via de alianças internas, por via de negociação diplomática, por via da regra da unanimidade (onde ela valha), a Eslovénia e a Irlanda podem condicionar muito mais o seu próprio destino do que podem os detentores das “petro-coroas”. A República da Irlanda, aliás, na questão da fronteira, acaba de dar um notável e irrefutável exemplo disto mesmo: a sua “soberania” saiu altamente ampliada da integração europeia. Em que termos e com que força poderia ela, fora da Europa unida e diante da velha metrópole, defender o seu interesse vital? Foi isto e é isto que não entendem ou não querem entender muitos e ilustres políticos britânicos. E o mesmo se diga dos nossos líderes dos partidos de extrema-esquerda. O Reino Unido, até pelas múltiplas excepções de que dispunha, tinha muito mais força dentro da UE do que terá fora. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. 4. Postas as coisas noutro plano, que a esquerda radical lusa também não quer entender: a saída do Reino Unido também tira alguma soberania a Portugal. Com a sua saída, desaparece da távola redonda europeia, o mais forte dos Estados atlânticos, que ali pugnava por alguns interesses comuns. Para lá de segurar e reforçar a relação bilateral, deve ser nossa prioridade estratégica ajudar a criar condições para a mais estreita cooperação entre a UE e o Reino Unido. A saga da saída dos britânicos só agora começou. É por isso que é fundamental reter a fala de Horácio a Hamlet quando descreve a disposição da aparição do fantasma de seu pai: a countenance more in sorrow than in anger. NÃO. António Costa. Diante de tragédias como as de Borba, o primeiro-ministro e o Governo lavam as mãos e cultivam a indiferença. Incêndios, Tancos, Borba: a mesma cultura de irresponsabilidade. NÃO. Ministra da Cultura. Estranha-se a aparente arrogância e simplismo de Graça Fonseca. Quem não partilha dos seus gostos e opiniões não é civilizado; quem a critica não deve ser lido.
REFERÊNCIAS:
Partidos PCP
"Ser dono de um carro vai deixar de fazer sentido"
Mate Rimac, 30 anos, criou a única fábrica automóvel no país natal de Nicola Tesla. As grandes marcas aprendem com ele o futuro da mobilidade eléctrica. (...)

"Ser dono de um carro vai deixar de fazer sentido"
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Mate Rimac, 30 anos, criou a única fábrica automóvel no país natal de Nicola Tesla. As grandes marcas aprendem com ele o futuro da mobilidade eléctrica.
TEXTO: Mate Rimac deixou crescer a barba quando começou a ter reuniões com os tubarões da indústria automóvel. “Tinha 21 e 23 anos e esta cara de bebé. A barba fazia-me parecer mais velho”, conta. Agora tem 30, continua a ter barba, mas “a situação mudou bastante”: todos os fabricantes conhecem a Rimac Automobili, e são os executivos das grandes marcas que se deslocam aos arredores de Zagreb para se reunirem com Mate. Alguns chamam-lhe “o Elon Musk europeu”. “Quando eu comecei, a Tesla era a única novidade que valia a pena seguir. O que está a acontecer agora não teria sido possível sem eles. Há muitas críticas, mas quem as faz ignora o que eles conseguiram. É uma empresa relativamente pequena, nova na indústria, construiu uma rede global de supercarregadores e um carro que, seis anos depois do lançamento, ainda é, de longe, a referência para uma indústria gigantesca que movimenta milhares de milhões de dólares. O Model S entrou no mercado em 2012, a concorrência teve seis anos para se colocar ao mesmo nível e ainda não o conseguiu”, defende. Embora admire, e elogie, tudo o que a Tesla tem feito, não gosta de ser comparado a Musk. A Forbes elegeu Mate Rimac um dos 30 empreendedores mais importantes com menos de 30 anos, em 2017. Na véspera da entrevista com o PÚBLICO, no início de Novembro, o MIT pô-lo numa lista dos 35 empresários com menos de 35 anos para acompanhar com atenção. É certamente um inovador: criou a primeira fábrica automóvel na Croácia. E fornece propulsores eléctricos e baterias aos grandes fabricantes actuais. Não tem uma bola de cristal que adivinhe o futuro, mas tem uma visão clara do presente: muitos incumbentes do sector “estão de cabeça perdida”. “É uma das maiores indústrias do planeta e há muitos fabricantes que têm muito a perder, porque o modelo de negócio está em risco”, sustenta. “A electrificação não é uma grande viragem”, continua. “A grande alteração será na mobilidade. Para os consumidores, [o motor eléctrico] é uma mudança pequena, passam a recarregar o carro em casa ou num posto em vez de abastecer o depósito com combustível fóssil. O que vai mudar é a relação que temos com o carro. A compra é feita a pensar em necessidades, mas é feita segundo crenças. Porque o carro está parado 97% do tempo. É um desperdício de espaço, de material, de recursos. No futuro, vamos deixar de os comprar, vamos usá-los on demand, será um objecto sem condutor, eléctrico, e isso sim será realmente uma grande mudança”, argumenta. “A eficiência de frotas inteligentes, com carros conectados e sem condutor é gigantesca. Pode ser até 80% mais barato do que o recurso a um táxi, 70% mais barato do que um Uber e 50% mais barato do que o uso de carro próprio. Isto sim será a força motriz da mudança”, defende. Há outros factores económicos. “Estima-se que os acidentes rodoviários têm um impacto negativo de 8% do PIB nos EUA”. Em Portugal, também já se fez esta conta: a sinistralidade rodoviária “custa” 1, 2% do PIB português, segundo números divulgados a 18 de Novembro pelo Governo. Mate continua: “A congestão rodoviária são 50 mil milhões de horas por ano, nos EUA - equivale a 9% do PIB nos EUA. Somando as duas parcelas, as ineficiências rodoviárias custam 17% do PIB aos EUA, com os carros de hoje. A mudança é inevitável. ”O automóvel próprio é o transporte mais usado também em Portugal, onde se passa mais de uma hora ao volante todos os dias (em Lisboa e no Porto) e se gasta entre 30 e 100 euros por mês em combustível. Para Mate, “a tecnologia ainda não está preparada, mas a indústria tem-se aproximado do ponto de inflexão e a legislação também acabará por surgir e o consumidor terá de se adaptar”. E a questão da autonomia dos carros eléctricos é uma “falsa questão” porque “uma autonomia de 20 km cobriria 95% das necessidades”. O problema é que depois compramos carros para os outros 5% dos casos. “Um erro. ”“A minha solução é uma nova mobilidade. Baseado nos teus dados, empresas como o Google são capazes de saber quantas das tuas viagens são de dez km, de 20 e de 600 km. E eles terão 80% de carros que cobrirão as tuas necessidades diárias, terão 10% de carros para essas viagens longas 10% de carros de dez lugares, para quando te apetecer sair com nove amigos. Na nova mobilidade, ninguém vai ser dono de um carro nem será obrigado a aprender a conduzir. Vais passar a ter um carro no momento em que precisas, ajustado ao propósito, será muito mais barato. Deixará de fazer sentido ser dono de um carro”, insiste. O que vai acontecer à indústria? Mate acredita que alguns fabricantes tornar-se-ão prestadores de serviço. “Actualmente, os fabricantes vendem ao concessionário, que vende ao consumidor. No futuro vamos passar a ter fornecedores de inteligência artificial, já temos as empresas de partilha de viagens, o Google poderá vir a ser o dono dos carros, a Uber não tem carros, mas poderá vir a ter quando os condutores forem dispensáveis. É um cenário muito complexo. A única certeza é que será um grande abanão na indústria, porque as fábricas vão saber quem são os clientes e o que fazem com o carro. O poder passará da Alemanha e de Detroit para Silicon Valley”. Ao contrário de Musk, que meteu na SpaceX e na Tesla parte da fortuna que ganhou com a venda da PayPal, Mate Rimac começou sem dinheiro, em casa, por gosto. “Tinha 20 quando construí o meu primeiro carro na garagem do meu pai”, recorda. Aos 17, ganhara uma competição internacional de inventores, com uma luva que funcionava como teclado e rato de computador. “Sempre mexi em coisas electrónicas e sempre fui louco por carros. Queria juntar essas duas paixões”, recorda, numa entrevista feita horas antes de subir a um dos palcos da Web Summit, em Lisboa. Antes dos 18, já era dono de patentes. Aos 18, comprou o primeiro carro, um BMW Série 3 E30 (1984). “Estava todo enferrujado, era um chaço. ”O objectivo era recuperá-lo e participar em corridas. Mas sempre que saía para a pista, algo corria mal. Numa ocasião, o motor pegou fogo. “Sendo croata, lia muitas coisas sobre Nicola Tesla [que era sérvio mas nasceu em território que hoje pertence à Croácia] e o motor eléctrico dele. Convenci-me que seria a melhor solução e decidi converter o BMW para mostrar como carros eléctricos podem ser empolgantes e interessantes, além de mais rápidos”. Voltou às pistas e provou ter razão. “No início, os resultados foram péssimos. Imaginem: um carro construído na minha garagem, havia sempre qualquer coisa que falhava - ou era o motor que ardia ou eram as baterias. Mas nunca desisti e fui tentando melhorar de corrida para corrida”. Em 2010, chegou a primeira vitória. Em 2011, bateu cinco recordes da Federação Internacional do Automóvel e do Guinness, para a maior velocidade e aceleração de carros eléctricos. Não era apenas um hobby. “Queria fazer um negócio com isto”, conta ao PÚBLICO. Nesse mesmo ano, apresentou-se no salão do automóvel de Frankfurt – para onde a família emigrara nos anos 90, fugindo à guerra na ex-Jugoslávia. Era um novato. Tinha para mostrar o primeiro carro eléctrico a sério, o Concept One, construído em 12 meses, por encomenda da família real de Abu Dhabi. A Croácia não tem indústria automóvel. Teve de construir tudo. Tudo mesmo. Mudou-se para a garagem de um amigo, que se juntou a ele neste projecto. Foram noites em branco, fins-de-semana a trabalhar, dormir no sofá. Quando bateu à porta de universidades, para pedir ajuda, deram-lhe um conselho: “quanto mais cedo desistires, menos pessoas arrastarás contigo. ” Ele ignorou. No entanto, Abu Dhabi, que ouvira falar do prodígio croata nos tempos em que inventou a tal luva, só pagaria o carro quando fosse entregue. Mate recebeu mais oito encomendas depois de Frankfurt, cada uma no valor de 1, 2 milhões de dólares. O Concept One actual acelera dos zero aos 100 km/h em 2, 5 segundos. Fazer descolar o negócio exigiu muita mais paciência. A história deste empresário, que partilha com Nicola Tesla as origens balcânicas, a dedicação aos motores eléctricos e a paixão por inventar coisas, tem todos aqueles ingredientes típicos do mito do empreendedor: a família que fugiu à guerra; o rapaz que era gozado pelos colegas no recreio (tinha sotaque, porque nascera na Bósnia); o negócio que começou na garagem; e, como tantas vezes acontece, uma colecção de momentos em que o negócio esteve à beira do precipício. Dias depois de se estrear em Frankfurt, Rimac negociava com investidores. Precisava de dinheiro e Abu Dhabi prometeu-lhe uma soma significativa. Mas, na recta final, exigiram-lhe que transferisse a produção. Porém, colocar a Croácia no mapa da indústria automóvel sempre fez parte do sonho dele. E por isso recusou. Pediu um empréstimo, dando como garantia tudo o que tinha. Agora tem uma fábrica com 200 engenheiros, 450 funcionários. Continua a ser a única do sector no país. O que, para empresários portugueses, também mostra que a falta de tamanho de um país e de um mercado não é necessariamente uma limitação. Actualmente, tem em mãos a produção de 150 exemplares do C_Two, um novo supercarro desportivo capaz de atingir 415 km/h e que vai dos zero aos 100 km/h em 1, 85 segundos. Preço de cada um: 1, 84 milhões de euros. Mas o negócio fundamental da Rimac são as baterias e propulsores eléctricos. A tecnologia deles está em carros da Aston Martin, da Pinifarina, da Jaguar, da Porsche, que investiu 18, 4 milhões na empresa, a troco de 10% do capital social da Rimac. A empresa foi lucrativa durante cinco anos: em 2012, declarou lucros antes de impostos de 158 mil de euros; em 2016, foram 6, 1 milhões de euros. Mas, em 2017, as contas voltaram ao vermelho. “Estamos numa fase de grandes investimentos, a construir uma nova unidade, a desenvolver um novo carro, mas a situação financeira de curto prazo não é a nossa preocupação”. “A Renault, a Mercedes, a Seat são nossos clientes. Toda a indústria está à nossa procura”, afiança o fundador que, até agora, reuniu 60 milhões de investidores. Almeja levantar uma nova ronda até à Primavera de 2019. Objectivo: 100 milhões de euros. “Desisti de tudo por esta empresa”, sublinha. “Quando a Porsche quer fazer um híbrido, vem ter connosco e nós dizemos-lhes como se pode fazer. ”Tem havido momentos muito difíceis. Um dos piores foi Junho de 2017, quando um dos carros da Rimac foi testado no popular programa The Grand Tour, que a Amazon Prime produz com Jeremy Clarkson, Richard Hammon e James May. Num confronto com um Lamborghini Aventador S e um Honda Acura NSX, o Concept One que a empresa de Mate pôs nas mãos de Richard Hammon pulverizou a concorrência. “É mais rápido do que qualquer outro que conduzi na minha vida, por uma larga, larga margem”, diria Clarkson, que ficou para trás no Lamborghini e nunca foi adepto de carros eléctricos. O problema é que, após as quatro voltas inicialmente combinadas (o programa foi gravado na Suíça), Hammond decidiu-se por uma volta final. Acabaria por despistar-se numa curva, a mais de 200 km/h. Partiu um joelho e o carro pegou fogo – devido à densidade das baterias, ardeu durante cinco dias. Apesar da boa prestação, o incêndio num carro eléctrico era má publicidade. O que deveria ser a glória mediática, ameaçava tornar-se num pesadelo financeiro. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A empresa acabou por sobreviver a este golpe, que poderia ter abortado as negociações que na altura decorriam com investidores. Mas tudo acabou bem – e a empresa vai continuar a crescer, acredita. “Esta é a altura das oportunidades, tivemos de aprender a dizer que não. Todos vêm ter connosco, barcos, camiões, aviões, aplicações aerospaciais, armazenamento energético, contentores. Tivemos de dizer que não porque fazer crescer uma empresa exige foco. E o nosso está nos nossos próprios carros eléctricos desportivos, na propulsão eléctrica de alta performance e nas baterias. ”Como diz o Financial Times, a peregrinação de executivos até à fábrica de Zagreb não parece ter afectado o ego de Mate Rimac, porque "tal como os condutores dos supercarros dele, é possível que Rimac esteja a subestimar o seu próprio poder".
REFERÊNCIAS:
5 Estrelas e Liga propõem o desconhecido Conte para primeiro-ministro
O nome do professor de Direito, sem experiência política, foi proposto ao Presidente Sergio Mattarella, a quem cabe a última palavra. (...)

5 Estrelas e Liga propõem o desconhecido Conte para primeiro-ministro
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento -0.1
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: O nome do professor de Direito, sem experiência política, foi proposto ao Presidente Sergio Mattarella, a quem cabe a última palavra.
TEXTO: O Movimento 5 Estrelas e a Liga propuseram ao Presidente Sergio Mattarella o nome de Giuseppe Conte para ocupar o cargo de primeiro-ministro do novo Governo italiano. Nesta segunda-feira, Luigi Di Maio, líder do partido anti-sistema Movimento 5 Estrelas, e Matteo Salvini, da Liga, de extrema-direita, foram ao Quirinale para uma audiência com Mattarella para apresentarem não só o contrato de Governo estabelecido entre ambos mas também a sua proposta para primeiro-ministro. A decisão cabe agora ao Presidente, que vai torná-la pública esta terça-feira. Nas suas declarações formais aos jornalistas à saída da reunião nenhum dos dois líderes partidários revelou o nome proposto. Mas, depois, Di Maio acabou por confirmar o que já tinha sido noticiado pelos jornais italianos: o nome escolhido é o do professor de Direito, relativamente desconhecido do público, Giuseppe Conte. “Acredito que hoje podemos dizer que estamos perante um momento histórico: indicámos ao Presidente da República o nome que pode cumprir o contrato de Governo”, disse o líder do 5 Estrelas à saída da curta reunião com Mattarella. “Obviamente o nosso objectivo era e é melhorar a vida dos italianos e nestes 80 dias [de negociação] impusemos um método: primeiro discutimos tópicos e depois nomes”. “Finalmente nasceu a terceira República”, atirou Di Maio. “Giuseppe Conte será o primeiro-ministro de um Governo político, indicado por duas forças políticas, composto por figuras políticas, e, especialmente, com o apoio de duas forças políticas eleitas”, afirmou Di Maio, já no exterior do Quirinale, confirmando o nome proposto. Depois de Di Maio foi a vez de Salvini encontrar-se com o Presidente. No final da audiência, o líder da Liga apontou à recuperação económica de Itália. “Indicámos o nome ao Presidente e fomos muito claros relativamente à equipa e ao projecto. Estamos ansiosos por começar a recuperar a economia do país”, disse, acrescentando que o novo Governo porá no topo das prioridades o “interesse nacional respeitando tudo e todos”. Mattarella terá agora de aprovar toda a composição do Governo proposto. Di Maio e Salvini tinham já descartado a possibilidade de liderarem o Governo. No entanto, segundo foi sendo noticiado, é esperado que o líder do 5 Estrelas venha a liderar o Ministério do Trabalho e Salvini o Ministério do Interior. Salvini, se receber a pasta do Interior, ficará a cargo das políticas de imigração, um dos pontos-chave do seu programa eleitoral e também do contrato de Governo assinado com Di Maio. O acordo fala da expulsão de 500 mil imigrantes em situação irregular. Poucos italianos terão reconhecido o nome de Conte, professor universitário de 54 anos, quando este começou a ser apontado como próximo primeiro-ministro de Itália. No entanto, no dia 1 de Março, apareceu perante as câmaras juntamente com Di Maio e a restante equipa que o líder do 5 Estrelas propunha para dirigir os destinos de Itália. “Tem um objectivo muito ambicioso: o de conseguir com que o Estado faça menos leis”, explicou, na altura, Di Maio. Era esse o papel de Conte na proposta de um Governo exclusivamente 5 Estrelas. Ia chefiar o novo Ministério da Administração Pública, Meritocracia e Desburocratização. E a principal função era acabar com 400 leis consideradas “inúteis”. Esta foi a meta indicada por Di Maio, mas Conte acabaria por referir que as leis desnecessárias “são muito mais”. “Primeiro, devemos abolir drasticamente leis desnecessárias, que são muito mais do que as 400 referidas por Di Maio. Segundo, a legislação contra a corrupção deve ser fortalecida”, disse, expondo já os seus objectivos se viesse a ser ministro. “No passado votei à esquerda mas penso que os esquemas ideológicos do século XX já não são adequados”. A proximidade de Conte e Di Maio é conhecida. Mas o professor de Direito manteve-se sempre afastado da política e nem sequer é um militante do 5 Estrelas. O currículo de Conte é vasto. Segundo o La Reppublica é composto por 18 páginas, com formação e colaboração em algumas das universidades mais prestigiadas do mundo. Porém, como nota o mesmo jornal, no meio das quase duas dezenas de folhas não se reconhece qualquer experiência política. Neste momento lecciona Direito Privado na Universidade de Florença. É visto como um tecnocrata puro, e a forma como a sua nomeação surgiu pode sugerir que parte em posição de fragilidade política. Porém, ouvido pela Reuters, Giovanni Orsina, professor de Ciência Política na Universidade Luiss, em Roma, diz que “tudo depende da sua personalidade”. “Ele está a ser posto lá como um notário para seguir as ordens dos partidos. Mas a posição de primeiro-ministro traz a sua própria força e ele será o único que manterá tudo unido. ”Liderando um Governo formado por duas forças teoricamente contrastantes, ambas populistas, Conte, se for confirmado pelo Presidente, vai ter de aplicar um programa que começou já a gerar desconfiança na Europa e nos mercados. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os alarmes soaram nos mercados assim que se percebeu que no acordo de Governo estava prevista a possibilidade de um pedido de reestruturação da dívida e a criação de um mecanismo de saída da moeda única. As preocupações da União Europeia são mais abrangentes, apesar de o acordo de Governo ter aligeirado o tom anti-Europa levantado por Salvini durante a campanha eleitoral. Mas as propostas anti-imigração e uma política externa que assenta numa aproximação à Rússia e aos Estados Unidos de Donald Trump são dois dos factores que não deixam ninguém descansado em Bruxelas.
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Palavras-chave imigração
Arnaut e Semedo querem ‘salvar’ o SNS e acabar com PPP
A despesa do SNS em 2016 correspondeu a apenas 4,8% do PIB, diz João Semedo que, em conjunto com o fundador do PS António Arnaut, propõe em livro uma nova lei de bases da Saúde e o fim das PPP e das taxas moderadoras. (...)

Arnaut e Semedo querem ‘salvar’ o SNS e acabar com PPP
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: A despesa do SNS em 2016 correspondeu a apenas 4,8% do PIB, diz João Semedo que, em conjunto com o fundador do PS António Arnaut, propõe em livro uma nova lei de bases da Saúde e o fim das PPP e das taxas moderadoras.
TEXTO: Traçam um retrato sombrio do estado a que chegou o Serviço Nacional de Saúde (SNS) para justificar uma proposta revolucionária: a criação de uma nova lei de bases da Saúde que permita mudar o actual paradigma e acabar com a “promiscuidade” entre o interesse público e o privado. É uma espécie de regresso ao passado: as unidades de saúde do SNS devem ser todas geridas pelo Estado e o SNS deve voltar a ser completamente gratuito. Sem Parcerias Público-Privadas (PPP) e sem taxas moderadoras. O fundador do PS e autor da lei que criou o SNS em 1979, o advogado António Arnaut, juntou-se ao antigo deputado e coordenador do Bloco de Esquerda, o médico João Semedo, para lançarem em livro esta proposta que querem que chegue ao Parlamento e que desencadeie um grande debate e uma ampla mobilização cívica em defesa do SNS. Porque o SNS enfrenta uma crise “profunda” e é necessário “salvá-lo”, enfatizam. “É urgente actuar para fazer regressar o SNS aos seus princípios fundadores”, defende João Semedo, que acredita que este é o momento certo para avançar com a proposta de uma nova lei de bases, uma vez que “cresce o sentimento de frustração quanto à política de saúde em curso” e há “uma maioria parlamentar identificada com o SNS e os seus valores e princípios”. A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, já assumiu que o partido vai apresentar esta proposta no Parlamento. O BE respondeu esta semana ao PÚBLICO que mantém “esta intenção” mas ainda não tem data prevista para avançar com a iniciativa. Quanto ao PS, António Arnaut está optimista. Diz que o primeiro-ministro mostrou "a maior simpatia" por esta ideia e que o ministro da Saúde lhe disse que ia nomear uma comissão para estudar esta matéria. O PÚBLICO pediu um comentário ao Ministério da Saúde, sem sucesso. António Arnaut, que é conhecido como o "pai" do SNS por ter estado na origem da sua lei fundadora (em 1979) e nunca se conformou com a revisão efectuada em 1990, afirma-se muito empenhado em conseguir finalmente corrigir a “descaracterização” do serviço público que tem sido promovida pela “direita neoliberal”. Uma direita que pretende transformar o SNS “num serviço público de índole caritativa para os mais pobres”, escreve no prefácio do livro que vai ser lançado pela Porto Editora no final deste mês e que conta ainda com um texto do bispo Januário Torgal Ferreira. O que o advogado e o médico preconizam é “um SNS universal, gratuito, equitativo no acesso, financiado pelo Orçamento do Estado e com organização e gestão pública, descentralizada e participada”. Mas a chave para vencer a crise está na mobilização dos cidadãos e dos seus profissionais em defesa do SNS. “Não há tempo a perder”, diz João Semedo, que defende que "as PPP são para acabar, de acordo com um calendário a fixar", e as taxas moderadoras também. “Não servem para nada, não moderam nem financiam. Servem para castigar quem recorre ao SNS”, justifica. Vítima de “um arrastado processo de degradação e degenerescência”, o SNS está hoje em “plena crise”, reforça o antigo coordenador do BE. Os indicadores assistenciais revelam que “uma em cada quatro consultas hospitalares são realizadas fora do tempo máximo previsto”, que “mais de 800 mil portugueses continuam sem médico de família” e que nos últimos cinco anos “emigraram cerca de 3500 médicos e outros tantos deixaram o SNS” porque se reformaram ou foram trabalhar para o privado. Um dos problemas é que o SNS sofre de “subfinanciamento crónico”. Um subfinanciamento que “foi agravado nos anos da troika (entre 2009 e 2015 a despesa pública em saúde desceu 21%, foi em 2015 apenas 5, 8% do PIB, abaixo da média europeia)”, sintetiza. Um problema que até se agravou com este Governo. No ano passado, contabiliza, “a despesa do SNS valia 4, 8% do Produto Interno Bruto (PIB)”, o valor mais baixo dos últimos anos. “Não é preciso ser um expert em economia da saúde para perceber que assim é impossível reabilitar o SNS”, conclui. Outra maleita: a “incapacidade reformista”. Nestes quase 40 anos, não tem havido capacidade para “reformar o modelo assistencial do SNS”. Ao longo de quatro décadas, João Semedo apenas descortina “uma única verdadeira reforma”, a dos cuidados de saúde primários, com a criação das Unidades de Saúde Familiar, “levada a cabo pela equipa do ministro Correia de Campos”. Tudo o resto, defende, foram “arranjos cosméticos”. Por outro lado, não existe uma gestão participada e continua a ser secundarizada a prevenção da doença (que representa apenas 4% da despesa total). “Sempre que há uma dificuldade orçamental, é pela prevenção que começam os cortes”, lamenta. Ao longo dos anos, acrescenta, o SNS foi perdendo capacidade instalada e capacidade de resposta à crescente procura, e a dependência dos privados foi crescendo. Resultado: em 2016, o SNS pagou aos fornecedores e prestadores privados “mais de 5 mil milhões de euros (isto inclui PPP, convenções e empresas de trabalho médico e de enfermagem), estimando-se que entre 1, 5 a 2 mil milhões correspondam a serviços e prestações que o SNS poderia e deveria assegurar”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Só os quatro hospitais geridos em Parceria Público-Privada (PPP) – Braga, Cascais, Vila Franca de Xira e Loures – “significam para os privados que um encaixe de 2642 milhões de euros (Orçamento do Estado 2017), pagos pelo Estado até ao final dos respectivos contratos”, recorda o antigo coordenador do BE. “É com esta cumplicidade, com esta promiscuidade entre os interesses público e privado, com estes apoios e ajudas interesseiras que é necessário acabar”, preconiza. Em síntese, propõem João Semedo e António Arnaut, é preciso rever o valor e as modalidades de financiamento do SNS, regressar às regras da Administração Pública e ao respeito das carreiras, valorizar a saúde pública e discriminar positivamente as políticas de prevenção da doença. Para levar a cabo uma tarefa deste dimensão, não basta mudar a lei de bases da saúde, reconhecem. “Muitas outras mudanças são indispensáveis, mas, sem mudar a lei, não conseguiremos interromper, travar e inverter o declínio do SNS”, argumenta João Semedo. Vai ser, admite, “um processo longo, complexo e difícil”.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS BE
Carlos Gil usou as botas no 25 de Abril e pelo mundo fora
Com o 25 de Abril de 1974 prestes a completar 44 anos, recordamos um dos fotojornalistas que transformou a revolução em imagens, em Lisboa. Carlos Gil foi, naquele dia, “uma redacção inteira”. Mas não apenas nesse dia. Freelancer, registou vários conflitos, da Nicarágua ao Iraque. Ser jornalista, para ele era “usar as botas”, em vez de ficar fechado numa redacção. Fê-lo até as gastar. (...)

Carlos Gil usou as botas no 25 de Abril e pelo mundo fora
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Com o 25 de Abril de 1974 prestes a completar 44 anos, recordamos um dos fotojornalistas que transformou a revolução em imagens, em Lisboa. Carlos Gil foi, naquele dia, “uma redacção inteira”. Mas não apenas nesse dia. Freelancer, registou vários conflitos, da Nicarágua ao Iraque. Ser jornalista, para ele era “usar as botas”, em vez de ficar fechado numa redacção. Fê-lo até as gastar.
TEXTO: Maria Judite não diz se naquela manhã do dia 25 de Abril de 1974 a máquina fotográfica do marido estava no sítio que tantas vezes ocupava: na mesa ao lado dele, na sala onde ambos dormiam num colchão, para que os filhos tivessem um quarto. Mas é bem provável que assim fosse. “Eu dormia do lado esquerdo e a máquina muitas vezes do lado direito. Uma máquina com uma grande teleobjectiva, do lado direito. Eu às vezes fazia comentários engraçados [sobre isto] e ele ria-se muito”, conta, na mesma sala, do mesmo apartamento de Lisboa em que, naquela manhã de 25 de Abril de 1974, o telefone tocou. Carlos Gil, repórter (fotográfico e da escrita), tinha 36 anos e trabalhava para a revista Flama. Do outro lado da linha estava um vizinho do prédio, conta a viúva do fotojornalista, a dizer-lhe que pegasse na máquina e fosse para a rua, porque havia uma revolução. Seriam umas 6h, talvez. E ele pegou e foi. “Ele saiu para a rua e só passados dois ou três dias é que veio a casa. Entretanto, as únicas notícias que recebi dele foram de um soldado que me bateu aqui à porta com um bilhetinho, que eu gostava de encontrar. A ideia que eu tenho das palavras [que lá vinham] é que estava bem, que não me preocupasse, mas que não saísse. Eu tinha duas crianças pequenas e depois não tive mais notícias dele”, recorda. É que na rua estava tudo a acontecer. A expectativa de que alguma coisa estaria em marcha não seria novidade para o fotojornalista. Conhecia pessoas das artes e da luta contra o regime. Na sala de sua casa, havia reuniões políticas que, por vezes, se estendiam madrugada fora, obrigando Judite a dormir “sentada numa cadeira na cozinha, ou na casa-de-banho, ou no quarto dos miúdos”. O filho mais novo, Daniel Gil, que na altura ainda não era nascido e assumiu a responsabilidade de cuidar do espólio do pai, após a morte dele, em 2001, acredita que “não foi propriamente uma surpresa” que uma revolução para acabar com a ditadura irrompesse em Lisboa. “Porque o meu pai tinha contactos com uma série de pessoas ligadas à revolução, de alguma forma. Não directamente com os militares, obviamente, mas era algo que se estava a preparar, algo que se sabia que podia acontecer, não sei se naquele dia, mas mais cedo ou mais tarde”, conta. Apesar disso, também sabe que o pai não esperava, de todo, que fosse naquela quinta-feira de finais de Abril que tudo se precipitaria. A razão óbvia: teve de pedir rolos emprestados para poder trabalhar. “Ele teria dois ou três rolos e sei que pediu rolos emprestados, uns positivos, outros negativos, pelo que não estaria certamente preparadíssimo para essa manhã”, diz. Certo é que bem cedo, Carlos Gil estava na rua. Tão cedo que pôde captar aquela que é a imagem favorita daquele dia para o filho mais novo. A de uma multidão a correr pelo Terreiro do Paço, os passageiros do que terá sido o primeiro cacilheiro a atracar em Lisboa naquela manhã. Levam rostos sorridentes, esperançosos, vão em busca da coluna militar que o capitão Salgueiro Maia levara de Santarém até à capital. “É uma foto que acho simples, mas com uma carga enorme. A percepção do povo do que estava a acontecer. ” Ali, estava o que Carlos Gil descrevia como “usar as botas”, recorda Daniel. “Eu acho que ganhei muito dele a necessidade de comunicar e falar com as pessoas, de me deslocar e não propriamente de usar uma lente grande e ficar lá atrás. Usar as botas, como ele dizia. ” Ir para os locais onde as coisas aconteciam, fosse em Lisboa ou em qualquer parte do mundo. Durante o resto do dia, Carlos Gil esteve por todo o lado. No Terreiro do Paço, no Largo do Carmo, junto à sede da Pide. Mostrou a população radiante, empoleirada em árvores, candeeiros públicos, varandas, telhados e cabines telefónicas. Captou as camisolas e braços ensanguentados de dois jovens, que estavam junto à sede da Pide, na Rua António Maria Cardoso, quando de lá de dentro foram disparados os tiros que causaram as únicas vítimas mortais da revolução: quatro pessoas. E colocou o jornalista Adelino Gomes na revolução, diz este, pelo telefone, com um sorriso na voz. “Foi o Carlos Gil que me colocou no 25 de Abril”, conta. A brincadeira tem por base mais uma fotografia que Gil fez naquele dia. Mostra um grupo de jornalistas, incluindo Adelino Gomes, que cobriu os acontecimentos para a rádio, sentados num Unimog, a acompanhar os acontecimentos. O repórter, que já foi jornalista do PÚBLICO, está a levantar-se, olhar atento, a observar algo. A fotografia está no livro Carlos Gil, Um Fotógrafo na Revolução, coordenado por Daniel Gil e com texto de Adelino Gomes, que foi lançado em 2004, já depois da morte do fotojornalista. Ao contrário de outros repórteres fotográficos que guardaram em imagens o 25 de Abril de 1974, Carlos Gil nunca publicou em vida uma obra exclusivamente dedicada ao trabalho daquele dia. A excepção será o livro Portugal Livre, que saiu logo em 1974, e que reúne parte do trabalho de 20 fotógrafos que ali estiveram. São 20 nomes, muitos dos quais tantas vezes esquecidos. Adelino Gomes também fez as legendas e o texto de introdução desse livro, criado a pedido dos próprios fotógrafos. “Há notícia em cada uma daquelas imagens. Todos merecem o nosso respeito”, diz o jornalista, referindo-se a Abel Fonseca, Alberto Peixoto, Alfredo Cunha, António Xavier, Armando Vidal, Carlos Gil, Correia dos Santos, Eduardo Baião, Eduardo Gageiro, Fernando Baião, Francisco Ferreira, Inácio Ludgero, João Ribeiro, José Antunes, José Tavares, Lobo Pimentel Jr. , Miranda Castela, Novo Ribeiro, Rui Pacheco e Teresa Monserrat. Todos andaram pelas ruas de Lisboa, mas o primeiro com quem Adelino Gomes falou, foi, precisamente, Carlos Gil. “Quando fui autorizado a passar para o lado dos militares só lá estavam os fotógrafos. Eu não tinha carteira profissional, que era só para os jornais diários, por isso, só muito tarde é que consegui chegar juntos dos militares e o primeiro jornalista com quem falei foi com o meu amigo Carlos Gil. ‘Ei, pá, estes gajos de que lado é que estão’, perguntei-lhe?”. Ele também ainda não tinha muitas certezas, mas rapidamente se percebeu que era a democracia que estava a chegar. “Naqueles dias, ele foi uma espécie de redacção. Ele era uma redacção inteira, daqueles fotógrafos que têm uma capacidade extraordinária, não só de fazerem muita coisa, mas de fazerem muita coisa bem. Não era um tipo que tinha ilustrado o trabalho de outras pessoas, mas que tinha feito uma reportagem por inteiro, estava nos vários sítios e narrava a história de uma forma autónoma”, conta Adelino Gomes. Um exemplo concreto: pouquíssimos dias depois da revolução, Carlos Gil procurou-o e perguntou-lhe se não queria fazer uma entrevista a Salgueiro Maia. Sabia que tinham andado juntos no liceu, e desafiou Adelino Gomes a procurar o ex-companheiro de escola em Santarém. “Foi uma entrevista que até causou alguns dissabores ao Maia, porque o acusaram de se estar a pôr em bicos de pés. Mas foi a primeira entrevista do capitão Salgueiro Maia, que foi publicada na revista brasileira Factos & Focos, e por iniciativa do Carlos Gil”, diz. A carreira jornalística de Carlos Gil foi quase sempre assim. O filho Daniel recorda mesmo que foi por causa do pai que o Sindicato dos Jornalistas acolheu, oficialmente, a designação de freelancer. Apesar de ter trabalhado em algumas publicações – começou como estagiário n’A Capital, primeiro como jornalista e só depois abraçando a fotografia, e foi, por exemplo, editor da revista Mais – foi sozinho e enquanto freelancer que fez a maior parte dos trabalhos que lhe ocuparam a vida, em pontos do mundo tão distintos como El Salvador, Marrocos, Iraque ou Nicarágua. E pensar que poderia ter sido um bem-comportado advogado. Carlos Gil nasceu em 1937, em Mortágua, mas só por acaso, porque era aí que estavam os avós. Os pais viviam em Figueira de Castelo Rodrigo, onde o pai do fotojornalista geria uma mercearia tradicional. Muito cedo, Carlos percebeu que não era aquele futuro que queria e foi estudar Direito para Coimbra, onde nunca se apaixonou pela advocacia, mas conheceu José Afonso e descobriu uma vocação: o teatro. Participou na fundação do grupo de teatro independente Teatro d’Hoje e foi membro do CITAC - Centro de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra. Com o curso por completar, parte para Lisboa. Conhece Judite por acaso e, depois de um primeiro encontro falhado (ele estava interessado era numa amiga dela), reencontram-se cerca de um ano depois e apaixonaram-se. “O auge da paixão” que ambos viviam foi cortado, contudo, com o envio de Carlos Gil para Timor. A passagem do soldado pelo remoto território do vasto “império” nacional não foi traumática. “O tempo dele em Timor foi magnífico”, garante Maria Judite. Se exceptuarmos, claro, o facto de ter deixado em Portugal a mulher por quem estava apaixonado. Ela diz que a ausência dele foram “dois anos de muito sofrimento”. Ele escrevia-lhe “cartas de 15 e 20 páginas, todos os dias, a todas as horas” e chegaram a combinar que ela iria ter com ele à ilha. Mas Judite, pragmática e ansiosa por ter a sua própria independência, arranjara um emprego em Lisboa e não quis abandonar a possibilidade de, finalmente, ser senhora de si própria. “Não fui ter com ele a Timor. Hoje estou arrependida, mas pronto. ”Lá longe, Carlos Gil ensaiava os primeiros passos na fotografia. Comprara uma máquina fotográfica numa escala da longa viagem até Timor e foi na ilha que captou as primeiras imagens. O trabalho militar não era duro – “pertencia aos serviços administrativos”, recorda a viúva, explicando que por lá Carlos Gil fez teatro e rádio. “Teve uma tropa santa”, remata. Regressou em Agosto de 1965 e em Dezembro estavam casados. Apenas pelo civil, para “desgosto” dos pais de Carlos. Mas Timor nunca foi deixado completamente para trás e Maria Judite diz que o marido acalentava o desejo de lá regressar para dar aulas, o que nunca chegou a fazer, porque, entretanto, ficou doente. As aulas ficaram-se pelo Cenjor, onde ensinou Fotojornalismo e Reportagem, entusiasmando-se com mais esta vertente da sua vida. “Ele gostava muito de dar aulas. Falava muitas vezes nisso, nos alunos, como é que era. E, sobretudo, do que ele gostava mais era, de repente, das novidades que vinham do lado dos alunos. Isso era uma coisa que o entusiasmava muito”, recorda o amigo e produtor de audiovisual João Barba, lembrando-se de quando Gil chegava ao pé dele com uma frase do género: “Ei, pá, tenho lá um tipo brilhante que me veio com uma ideia não sei o quê, apresentou-me isto e fez aquilo. ”Mas, isso, seria mais tarde. Em 1965, de regresso a Lisboa, Carlos ainda tentou acabar o curso do Direito. Fez a frequência do 4. º ano do curso na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, mas o esforço não chegou para o tornar advogado. De novo, o teatro chamava mais alto. Juntou-se ao Grupo Cénico da Faculdade de Direito de Lisboa, do qual foi actor e membro da direcção, e até chegou a participar num festival mundial de teatro universitário, em França, trazendo de lá uma menção honrosa. O estudo das leis é que não o convencia. E quando, finalmente, decidiu que já chegava e que era pelo Jornalismo que queria ir, deixou Maria Judite feliz. “Ele não tinha vocação nenhuma para Direito, era uma negação total. Tirou aquele curso a fórceps, não tinha nada a ver com ele. Eu fiquei tão contente. Os pais dele ficaram tristíssimos, queriam muito ter um filho doutor, e diziam muitas vezes, ‘a Judite em vez de o apoiar, não o apoia’. E eu dizia ‘porque eu acho que ele não tem jeito nenhum e ele vai ser muito infeliz se prosseguir a carreira de Direito’. ”Por isso, Carlos Gil foi ser feliz a ser jornalista. Entrou n’A Capital em 1968, num estágio para redactor, mas rapidamente a fotografia levou a melhor. Fotografou o funeral de António de Oliveira Salazar, em 1970, e a cimeira dos Açores, em 1971, em que Marcelo Caetano recebeu os presidentes norte-americano e francês, Richard Nixon e Georges Pompidou. No dia 29 de Março de 1974 esteve nos bastidores do concerto que juntou as vozes dos grandes cantores de intervenção no Coliseu dos Recreios (e em que José Afonso cantou a Grândola, Vila Morena, sem se saber ainda que essa seria a senha da revolução que se desenrolaria menos de um mês depois). Nos dias que se seguiram à revolução continuou na rua, a registar o regresso de Mário Soares, de Álvaro Cunhal e de José Mário Branco. Esteve, com Judite, no 1. º de Maio em que os líderes socialista e comunista ainda se apresentavam lado a lado. Captou Vasco Gonçalves, indigitado primeiro-ministro, à espera, em vão, que lhe abrissem a porta da Assembleia da República. Acompanhou campanhas eleitorais, incluindo a de Otelo Saraiva de Carvalho, em 1976. E, pelo meio, e depois disso, andou pelo mundo. Em casa, ficava Judite com as crianças. As partidas de Carlos começaram logo no 25 de Abril, quando esteve aqueles dois ou três dias sempre a trabalhar. “Nessa altura, mesmo depois de aparecer em casa, quase que não parava. Porque aconteceu tanta coisa, tanta coisa que era importante ele retratar. Durante muito tempo pouco o via”, diz a mulher, hoje com 75 anos. Nessa altura, ela sabia que ele andava por ali, pela Lisboa que era casa. Mas, quando o destino era longínquo, num período em que não havia Internet nem comunicações móveis, a angústia podia ser muita. Como quando a avisaram, da RTP, que iria passar uma notícia a dar conta que Carlos Gil fora raptado enquanto estava a bordo de um barco na Nicarágua. “Eu só dizia aos meus filhos: vocês já viram a bela (tive que tomar não sei quantos Valium), a bela da reportagem que o vosso pai vai fazer? Vocês nem fazem ideia, vão ver. Foi raptado, mas se calhar por pouco tempo. ” A “notícia” acabaria por revelar-se falsa logo no dia seguinte, com o próprio fotojornalista a desmenti-la numa entrevista à rádio. Mas “a aflição” das horas passadas, já ninguém a roubava a Judite. Que, ainda assim, sorri: “Não foi muito fácil, mas foi uma maravilha. Foi uma maravilha viver com ele. Eu admirava-o muito, como ser humano e como profissional. Era um profissional empenhado até à medula. ”Dele, a família e os amigos descrevem um ser humano generoso, preocupado com os excluídos, empenhado politicamente, um homem de esquerda, respeitado nos meios de comunicação internacionais e que chegava onde poucos iam. E muito vaidoso do seu trabalho. “Era vaidoso no sentido em que o trabalho não era fácil e ele conseguia fazer coisas e chegar a sítios onde também não era fácil chegar”, conta Barba. A experiência em El Salvador, onde esteve a viver mais de 20 dias com os guerrilheiros da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), em 1982 (“chegou cá com menos dez quilos, quase que nem o conhecia”, diz Judite), terá sido a que mais o marcou. Mas o trabalho levou-o também à Nicarágua (1982), várias vezes ao Iraque (onde cobriu a guerra Irão-Iraque, em 1980 e 1981, e chegou a enviar reportagens para a TSF e a RTP em 1991, nas vésperas da Guerra do Golfo), ao Líbano (1974), Moçambique (1975), ao Saara Ocidental (1981), a Angola (1985) ou à China (1985). Carlos Gil mexia-se bem. Procurava as fontes e alimentava-as. João Barba, que o acompanhou numa viagem ao Iraque em 1997, ficou surpreendido com a proximidade e o respeito que ele conseguira junto dos homens de Saddam Hussein. “Na frente de combate [da guerra Irão-Iraque] ele chegou a estar cercado, chegou a estar em situações complicadas. Não tinha que estar lá, obviamente, podia ter fugido, mas não fugiu e ficou lá até à última e era considerado. Como tinha aquela figura de cabelo branco, aquela imagem enorme da postura dele, era conhecido em todo o lado”, conta. A cena mais marcante dessa viagem, recorda, foi quando Carlos Gil lhe disse que tinham sido convidados para a festa de aniversário de Saddam Hussein, a 28 de Abril. Barba não queria, mas Gil insistiu, para evitar problemas com o regime. A festa foi no que João Barba descreve como “uma espécie de sambódromo”, onde estavam “vinte e tal oficiais todos iguais uns aos outros”. Diz que não conseguiu perceber qual deles era o aniversariante e admite ter dúvidas que ele lá estivesse. Mas houve danças, um bolo de aniversário e – surpresa final – um “Parabéns a você” cantado ao som da música que também cá se usa, mas em árabe. “Nem queria acreditar que aquela música de Parabéns a Você também fosse usada no meio de Bagdad, numa praça para fazer desfiles militares e que tinha um general a cortar o bolo e toda a gente a cantar os parabéns ao menino Saddam”, ri. Curiosamente, apesar de tantos trabalhos internacionais, as fotografias que lhe garantiriam, em dois anos consecutivos, o Prémio Gazeta na categoria da imagem, foram feitas bem perto de casa. Em 1984, conseguiu-o com uma fotografia de Otelo, preso em Caxias. A imagem foi captada com uma pequena Minox, que o fotojornalista levaria escondida. Daniel Gil diz que há a possibilidade de a fotografia ter sido “encenada”. A mãe, Judite, ri ao lembrar a história que ouviu ao marido. “Sabe como aconteceu isso? Vou-lhe contar. Ele, para entrar na prisão, fez-se passar por um diplomata brasileiro. E levava com ele uma maquineta, uma coisinha deste tamanho, que ele escondeu não sei onde. ”No ano seguinte, a imagem que garantiu o segundo Gazeta a Carlos Gil foi uma fotografia dos desacatos à porta da Cinemateca, antes da exibição do filme de Jean-Luc Godard, Eu te saúdo, Maria, considerado atentatório dos bons costumes e preceitos católicos. Os protestos, encabeçados pelo então presidente da Câmara de Lisboa, Nuno Kruz Abecassis, não impediram que a projecção avançasse, ainda que com quase uma hora de atraso. Estes e outros prémios que Carlos Gil recebeu ao longo da vida, estão agora na antiga mercearia da família em Figueira de Castelo Rodrigo. Depois da morte do pai, Daniel Gil, que também se dedica à fotografia e ao vídeo, e gere agora, com a mulher, uma “saborearia” em Lisboa, decidiu mudar-se de armas e bagagens para a vila do distrito da Guarda. Reabilitou a casa de família, reabriu a mercearia, chegou a criar um jornal transfronteiriço, por ali nasceram os dois filhos do casal. Foi uma experiência de cerca de dez anos, entretanto, interrompida (mas não terminada, porque Daniel, recordando os emigrantes que regressam quando têm cabelos brancos, sonha alto: “Há-de ser o que me há-de acontecer, também, que é voltar”). A ligação continua, por isso, e o espaço é agora o grande depósito do espólio de Carlos Gil. Por ali estão as suas máquinas fotográficas, os prémios, as revistas e livros com trabalhos dele, os muitos cartões de imprensa e passaportes, os cadernos em que tomava notas com uma letra invejável. Só não estão os cerca de 250 mil fotogramas, nos filmes originais, que a família decidiu ceder, através de protocolo, à Fundação Mário Soares (FMS). “Estavam num 3. º andar de um apartamento em Lisboa, sem condições e a determinada altura chegamos à conclusão que era perigoso também [mantê-los ali]. Na altura, [a FMS] foi a opção que surgiu: caixa forte, antifogo, com temperatura controlada”, resume Daniel. Ele e a mãe dizem que não estão muito satisfeitos com a falta de informação dos últimos anos, sobre o que tem sido feito com esse espólio, nomeadamente, sobre a cedência de imagens a algumas publicações. Uma das obrigações acordadas com a FMS é que os originais seriam digitalizados e disponibilizados ao público. Hoje já é possível, a partir de qualquer computador, aceder a algumas dezenas de imagens de Carlos Gil do 25 de Abril de 1974. Muitas outras estão disponíveis para consulta na própria FMS, mas o trabalho é demorado. A família diz que ainda está a pensar no que irá fazer no futuro. “Havemos de tratar disso”, diz Daniel. Como também gostaria de tratar de abrir ao público o espólio guardado em Figueira de Castelo Rodrigo. Mas, por enquanto, há um pequeno restaurante para gerir em Lisboa e duas crianças em idade escolar. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Quando tinha a idade dos filhos e depois, mais velho, Daniel recorda-se das inúmeras viagens do pai. Diz que o acompanhou, várias vezes, em deslocações em Portugal e, poucos anos antes de Carlos Gil morrer, fizeram juntos uma viagem pela América Central. Das outras, das deslocações em trabalho em que não participou, recorda-se do regresso, com o pai carregado de pequenos presentes exóticos dos locais de onde vinha. “Ele levava praticamente a roupa que tinha [no corpo] e chegava-me cá sem uma muda, deitava fora a roupa. Mas vinha sempre carregado de lembranças para os filhos”, recorda Judite. À sua volta, na sala que era quarto e que funcionava, de um lado, como o escritório do fotojornalista, e do outro, como o espaço dela, estão máscaras, tapeçarias, estátuas e peças de decoração que ele carregou do mundo para casa. Mas, para ela, o mais identificativo do marido que ali está é um conjunto de cachimbos, junto ao sofá. “Ele fumava cachimbo. Tenho tanta coisa preciosa, mas ele fumava cachimbo”, diz. Fala muito rápido, pede desculpa, diz que se emociona ao lembrar-se de tudo. Que não parece que o cancro lhe levou o marido já há 17 anos. As fotografias dele, os livros, as prendas, tudo a rodeia ainda. “Ele morreu muito cedo. O Carlos Gil faz-nos muita falta”, diz Adelino Gomes sobre o homem que o colocou no 25 de Abril. Para Judite é um pouco mais do que isso. “Ele foi o grande amor da minha vida”, diz.
REFERÊNCIAS:
Google presta homenagem a Paco de Lucía com uma exposição virtual
No dia em que Paco de Lucía (1947-2014) faria 69 anos, o portal de Artes e Cultura do Google inaugurou uma exposição virtual dedicada à vida e obra do genial guitarrista: Memories of Paco. (...)

Google presta homenagem a Paco de Lucía com uma exposição virtual
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-07-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: No dia em que Paco de Lucía (1947-2014) faria 69 anos, o portal de Artes e Cultura do Google inaugurou uma exposição virtual dedicada à vida e obra do genial guitarrista: Memories of Paco.
TEXTO: O portal de Artes e Cultura do Google assinalou o 69. º aniversário do nascimento do guitarrista e compositor espanhol (e universal) Paco de Lucía com um dos seus célebres “doodles” (animações temáticas) mas também com uma cuidada exposição virtual sobre a sua vida e obra, em parceria com o Instituto Andaluz do Flamenco. A exposição, cujos textos estão em inglês, divide-se em trinta “quadros” diferentes, abrangendo cronologicamente os diferentes passos da sua carreira. Nascido no bairro de La Bajaduilla, Algeciras, em 21 de Dezembro de 1947, Francisco Sánchez Gómez (é esse o seu nome de baptismo) tornou-se mais tarde Paco de Lucía em homenagem à sua mãe. Filho de Antonio Sánchez Pecino, espanhol, e de Lúcia (que se tornou Luzía) Gomes, uma imigrante portuguesa que se radicou em Algeciras nos anos 30, Paco chegou a pensar actuar a solo como Paco de Algeciras, depois de deixar o duo que tinha com o seu irmão Pepe, sob o nome de Los Chiquitos de Algeciras, no início dos anos 1960. Mas acabou por escolher o nome de Paco de Lucía em homenagem à sua mãe. A exposição virtual segue este percurso, mas não diz que a mãe nasceu na algarvia Castro Marim (que viria a dar nome a um disco de Paco). Os passos fundamentais da carreira de Paco estão documentados, na exposição, com fotografias e pequenos textos: o trabalho fundamental com Camarón de la Isla, que revolucionou o flamenco; a aproximação a figuras do jazz, como Chick Corea ou John McLaughlin, e os concertos com este último e com Al Di Meola (há um vídeo de um concerto a três, com Mediterranean Sundance, nos anos 1980), mas também com Larry Coryell ou Wynton Marsalis; as suas aventuras em territórios clássicos (com De Falla ou o Concierto de Aranjuez, de Joaquín Rodrigo); os tempos do sexteto, com os seus irmãos Ramón e Pepe; os momentos de dor e luto (a morte dos pais, da irmã, de Camarón de la Isla) reflectidos na música; a actividade de Paco no cinema, como actor, músico ou compositor, em ficções ou documentários; a inspiração que foi para desenhadores, pintores ou fotógrafos; os prémios e distinções; a consagração em várias partes do mundo. No meio dos vários “quadros”, podem ver-se vídeos musicais (entre os quais Entre dos aguas, de 1976, transmitido pela TVE; ou o vibrante Sevillanas a dos guitarras, com Manolo Sanlúcar) e três excertos de uma entrevista feita no ano 2000 a Paco de Lucía em Playa del Carmen, Cancún, México, pelo escritor e jornalista Juan José Téllez Rubio, que é também curador desta exposição virtual. Antes de Memoria de Paco, que será oficialmente apresentada esta quarta-feira à noite, na terra natal do guitarrista, Algeciras, o portal de Artes e Cultura do Google já tinha colaborado uma vez com o Instituto Andaluz do Flamenco (IAF), na apresentação de vários documentos (textos, fotografias e vídeos, ainda em linha) que serviram de base à candidatura do flamenco a Património Imaterial da Humanidade, distinção que lhe foi reconhecida pela Unesco em 2010.
REFERÊNCIAS:
Entidades UNESCO
Mark Rutte, mais “alemão” do que os alemães
Tem ambições europeias, procurando ocupar o vazio deixado pela saída do Reino Unido. Poderá ter ambições pessoais para presidir à Comissão ou ao Conselho Europeu, mas nega-as. (...)

Mark Rutte, mais “alemão” do que os alemães
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.25
DATA: 2019-05-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: Tem ambições europeias, procurando ocupar o vazio deixado pela saída do Reino Unido. Poderá ter ambições pessoais para presidir à Comissão ou ao Conselho Europeu, mas nega-as.
TEXTO: Durante a crise do euro, Mark Rutte, o primeiro-ministro holandês, foi sempre mais “alemão” do que os alemães. Capitaneou um grupo de países que ficou conhecido por Nova Liga Hanseática e que incluía a Finlândia, Áustria e as repúblicas bálticas (para além de alguns sectores da CDU da chanceler e do FDP alemão), que defendem o cumprimento estrito das regras do euro, com sanções para quem as infringir e sem ajudas suplementares. A sua última batalha foi opor-se a um orçamento próprio da zona euro, de valor significativo, para funcionar como “estabilizador” em caso de choques assimétricos sofridos por um ou mais países que partilham a mesma moeda. Acabou por ceder em relação a uma versão mais “limitada”, propostas pelo primeiro-ministro português, António Costa - um “instrumento financeiro para a competitividade e a convergência” destinada apenas a apoiar reformas nas economias mais frágeis com vista a melhorar a respectiva competitividade e acelerar a convergência. Falta ainda apurar, até ao Conselho Europeu de Junho, se esse “instrumento financeiro” é parte do orçamento plurianual da União ou funciona separadamente. Rutte também reivindica o poder de veto dos membros do euro sobre a concessão dessa ajuda. A outra batalha do primeiro-ministro holandês é contra o aumento do orçamento plurianual, mesmo que seja apenas para compensar a saída do Reino Unido. Rutte lidera o Partido Liberal desde 2006, levando-o à chefia do governo pela primeira vez desde 1918, nas eleições de Novembro de 2010. Venceu as duas eleições seguintes, mas teve de formar diferentes coligações. Primeiro, com os democratas-cristãos, mas precisando do apoio parlamentar dos populistas de Gert Wilders. Depois, com o Partido Trabalhista. Finalmente, a partir de 2017, numa vasta coligação à direita e à esquerda, que exlui trabalhistas e populistas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Teve um sério desaire eleitoral nas eleições regionais de Março passado, que servem também para a eleição do Senado holandês – o seu partido foi derrotado por uma nova formação de direita populistas, o Fórum para a Democracia, com um programa abertamente contra a imigração e contra a Europa, liderado por um académico de 36 anos, Tierry Baudet que, inesperadamente, ganhou a maioria na segunda câmara. (As sondagens para as europeias dão os dos partidos empatados). Tem ambições europeias, procurando ocupar o vazio deixado pela saída do Reino Unido. Poderá ter ambições pessoais para presidir à Comissão ou ao Conselho Europeu, mas nega-as veementemente.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave imigração ajuda
Maioria dos americanos culpa Trump pela paralisação do Governo
Sondagem da Reuters diz que 47% responsabilizam o Presidente, enquanto 33% apontam o dedo aos democratas no Congresso. O shutdown vai prolongar-se até Janeiro (...)

Maioria dos americanos culpa Trump pela paralisação do Governo
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Sondagem da Reuters diz que 47% responsabilizam o Presidente, enquanto 33% apontam o dedo aos democratas no Congresso. O shutdown vai prolongar-se até Janeiro
TEXTO: A maioria dos americanos culpa o Presidente norte-americano, Donald Trump, pela paralisação do Governo (shutdown) que começou há uma semana com um impasse sobre o muro na fronteira entre os EUA e o México: Trump não assina nada que não contemple uma verba de quase 6 mil milhões para o muro; os democratas não assinam nada que preveja dinheiro para este muro. Não se espera uma solução rápida para a paralisação, que afecta 800 mil trabalhadores (chama-se paralisação do Governo mas são os serviços que estão paralisados) que ou estão a trabalhar sem pagamento (no caso dos serviços essenciais, estes funcionários serão pagos quando houver um acordo) ou estão de licença sem vencimento. Na quinta-feira, ambas as câmaras do Congresso encerraram sem qualquer voto, e tornou-se claro que não haveria progressos nos próximos dias, empurrando o problema para 2019. No dia 3 de Janeiro, toma posse o novo Congresso saído das eleições intercalares com uma maioria democrata na Câmara dos Representantes. Os democratas já anunciaram que vão tentar outros caminhos para prever verbas para estes departamentos sem financiar o muro. Os republicanos dizem não estar interessados em aprovar leis que vão esbarrar na falta de assinatura do Presidente, que insiste em ter as verbas para o muro, uma das suas maiores promessas eleitorais. Segundo a sondagem Ipsos/Reuters, 47% dos inquiridos acham que a culpa da paralisação é de Trump (que chegou a dizer que ficaria "orgulhoso de um shutdown”, e mais tarde disse que a culpa era dos democratas). Na sondagem, 33% acham que a responsabilidade é dos democratas no Congresso. Há ainda 7% que responsabilizam os republicanos no Congresso. Apenas 35% dos inquiridos disseram apoiar a inclusão de verbas para o muro na lista dos gastos federais aprovados pelo Congresso e ainda menos, 25%, afirmaram apoiar a paralisação do Governo por essa razão. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. As duas maiores paralisações anteriores ocorreram com Presidentes democratas em conflitos com congressos de maioria republicana, e em ambos os Presidentes saíram vitoriosos: entre 1995 e 1996 aconteceu a maior paralisação de sempre, 21 dias, por causa de um conflito entre o então Presidente Bill Clinton e um congresso republicano sobre o financiamento do Medicare (Clinton foi considerado o vencedor); e em 2013, houve uma paralisação durante 16 dias por causa da medida chave do então Presidente Barack Obama, que prejudicou os republicanos, que acabaram por desistir. Trump teve já dois dias de paralisação do Governo em Janeiro, por causa de uma medida relacionada com imigração. Este acabou com uma cedência dos democratas.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA