Resposta aos “coletes amarelos”? Um novo contrato verde
Se houver quem saiba explicar o rumo e descrever o destino, será muito mais difícil aos manipuladores e oportunistas abusarem das justas ansiedades que todos hoje sentimos. (...)

Resposta aos “coletes amarelos”? Um novo contrato verde
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento -0.02
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Se houver quem saiba explicar o rumo e descrever o destino, será muito mais difícil aos manipuladores e oportunistas abusarem das justas ansiedades que todos hoje sentimos.
TEXTO: Decidamo-nos: os “coletes amarelos” são genuínos representantes dos “perdedores da globalização” ou “deploráveis” explorados pela extrema-direita? Para grande parte do comentariado e dos políticos, nacionais e internacionais, a resposta é fácil: quando dá jeito, são uma coisa, quando não dá, são a outra. Nisso não há novidade em relação às anteriores convulsões sociais e políticas dos últimos anos. Aqueles que aproveitaram a crise para atacar o projeto europeu, declarando-o “irreformável” e uma "máquina de criar fascistas”, decidiram com a eleição de Bolsonaro que afinal o fascismo não podia ter explicações locais, mas sim globais. Aqueles que em relação ao Brasil tudo atribuíam às culpas do PT e à corrupção, e explicavam que “assim é que nasciam os bolsonaros”, andam muito calados desde que os bolsonaros — pai, filhos, mulher e noras — têm sido descobertos a movimentar milhões de reais através de motoristas e assessores. Há à esquerda quem tenha tecido loas aos "coletes amarelos" quando se tratava de atacar o odiado Macron mas vá avisando que não reconhecerá legitimidade a coletes amarelos contra a "geringonça". Há à direita quem apele à revolta contra “o socialismo”, esquecendo de nos dizer como caracterizam as reformas de Macron; serão elas também socialistas?Creio que um início de conversa intelectualmente séria sobre este tema tem de começar por evitar este tipo de intermitências táticas. Quem negar que existam perdedores da globalização e razões legítimas de queixa, está a ser irresponsável. Quem negar que existam oportunistas e manipuladores, internacionais incluídos, a fomentar o ressentimento político na Europa, está a ser ingénuo (e já não é de hoje: nos tempos das nossas manifestações contra a austeridade, era costume eu receber telefonemas com pedidos de comentário do canal de Putin, a Russia Today, e a pergunta era sempre “vai haver violência em Portugal?”). Para continuação de conversa, creio que nos poderão servir quatro princípios. Reconhecer os verdadeiros problemas; rejeitar e refutar a propaganda de falsos problemas; não prometer às pessoas aquilo que é impossível de concretizar; estar do lado das soluções. Vejamo-los um por um. Para entender a situação em que estamos, é preciso ir lá bastante atrás, até antes da crise e mesmo dos anos 1970/80 que são em geral apontados como estando na origem da nossa era política. Nos últimos 300 anos, mais ou menos, a humanidade viveu sob a vigência de três contratos sociais e políticos. Passo a descrevê-lo a traço grosso:O primeiro contrato era o do Absolutismo, e tinha como três vértices os súbditos, o Rei, e Deus. Quando alguma coisa corria mal, o contrato absolutista previa uma solução: era preciso obedecer mais ao Rei e temer mais a Deus. Foi esse contrato que o Grande Terramoto de Lisboa em 1755 demonstrou estar baseado em pressupostos errados e que as Revoluções — a Americana e a Francesa — acabaram por revogar. O segundo contrato demorou a emergir, entre as Guerras Napoleónicas e a 1. ª Guerra Mundial. O seus termos já não eram o súbdito-Rei-Deus, mas antes o povo, o Estado, e a Nação (muitas vezes grafados assim com maiúsculas, como os termos anteriores). O ponto culminante desse contrato foi o, não por acaso assim chamado, New Deal de Franklin Delano Roosevelt. New Deal quer simplesmente dizer “Novo Contrato”. E era isso que o plano de Roosevelt era: quando alguma coisa corria mal — e estava a correr enormemente mal com a Grande Depressão — a solução havia de se encontrar num reforçar do contrato entre o povo, o estado e a nação, representados pelo governo. A forma como Roosevelt explica a criação da Segurança Social é quase digna de poesia: um dólar do trabalhador, um dólar do patrão, e se houver doença, morte ou desemprego ali estará a rede de segurança necessária para não se cair na pobreza. O New Deal de Roosevelt foi uma construção política brilhante e trouxe-nos quase até aos dias de hoje, mas o próprio Roosevelt, antes de morrer, admitiu implicitamente que o contrato era limitado ao descrever no seu discurso das “Quatro Liberdades” que a escala após a 2. ª Guerra seria outra: tratava-se agora de conquistar a liberdade de expressão e de consciência, e a libertação da fome e do medo, “em todos os lugares do mundo”, ou as conquistas anteriores seriam insustentáveis. Deixemos o terceiro contrato, aquele de que precisamos agora, para o fim. Antes façamos um diagnóstico usando os princípios que descrevi há pouco. Não negar os problemas: é evidente que a humanidade, neste início de novo milénio, está em apuros. Sabemos que o clima está a mudar e o planeta a ficar menos sustentável para nós; não sabemos qual será o futuro do trabalho; há uma imensidão de dinheiro a circular pelo mundo, mas boa parte dele escondido para fugir aos impostos e quase todo ele mal distribuído. Segundo princípio: refutar e rejeitar os falsos problemas que nos querem impor pela propaganda. Não, a imigração não é o maior problema das nossas sociedades, não está a um nível anormalmente alto, e a grande maioria dos imigrantes são gente de valor que desempenha um papel positivo na nossa sociedade. (É tão importante aceitar os verdadeiros problemas como rejeitar os falsos: na Alemanha dos anos 30 isso significaria dizer “sim, as condições da Paz de Versalhes são punitivas e devem ser revistas, mas não, os judeus não são os culpados e estigmatizá-los é inaceitável” — e uma distinção como essa faz tanta falta hoje como ontem). Não prometer às pessoas aquilo que é impossível de concretizar: sim, a globalização traz problemas que devem ser mitigados e corrigidos, mas não, não é possível fazer regredir grande parte dos aspectos — tecnológicos e comunicacionais, por exemplo — que estão na base da globalização. Temos de aprender o que fazer com eles em vez de prometer às pessoas que é possível voltar aos anos 50. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E, finalmente, estar do lado das soluções. Estar do lado das soluções, hoje, significa estar do lado de um novo contrato, desta vez um Novo Contrato Verde. Nesse contrato os tomadores deverão ser a humanidade, a natureza e a tecnologia. O objetivo deve ser a sustentabilidade ambiental, social, política e económica — em condições de liberdade, igualdade e dignidade democráticas. E o que é preciso fazer é preencher as linhas desse contrato com coisas concretas: por exemplo, como é que combater as alterações climáticas significa isolar bem e aquecer melhor as casas dos mais velhos que passam frio no inverno em Portugal. Um Novo Contrato Verde, em Portugal, na Europa e para lá dela, deve explicitar objetivos claros de investimento: em que infraestruturas, em que novos empregos, em que novas tecnologias, em que novas formações. E deve tocar todos os aspectos da nossa sociedade e das nossas instituições: das cidades ao campo, das universidades aos postos de trabalho, das ruas às casas. Se houver quem saiba explicar o rumo e descrever o destino, será muito mais difícil aos manipuladores e oportunistas abusarem das justas ansiedades que todos hoje sentimos. O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte trabalhador guerra violência imigração campo mulher fome social doença igualdade medo pobreza desemprego
Costa acena com “riscos de retrocesso” na mensagem de Natal
Primeiro-ministro assume que não se “ilude” com os resultados alcançados e que é preciso “fazer melhor”. Mar , interior e natalidade no centro do discurso de António Costa. (...)

Costa acena com “riscos de retrocesso” na mensagem de Natal
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Primeiro-ministro assume que não se “ilude” com os resultados alcançados e que é preciso “fazer melhor”. Mar , interior e natalidade no centro do discurso de António Costa.
TEXTO: Depois de ter sido apelidado de “optimista às vezes ligeiramente irritante”, António Costa tenta mostrar, na sua última mensagem de Natal antes de novas eleições, que não se deixa “iludir” com os resultados alcançados desde 2015. Apesar de o país já ter “virado a página dos anos mais difíceis”, é preciso “dar continuidade a este percurso, sem riscos de retrocesso”, defendeu o primeiro-ministro. António Costa tem vindo a moldar o seu discurso nos últimos tempos, suavizando as referências aos resultados conquistados para dar mais ênfase, ou pelo menos para equilibrar em termos de mensagem, ao muito que há a fazer. “Eu não me iludo e não nos podemos iludir com os números”, disse na mensagem de Natal aos portugueses emitida ao início da noite desta terça-feira. “Estamos melhor, mas ainda temos muito para continuar a melhorar”, afirmou. Ao longo do discurso, o primeiro-ministro foi referindo os dois lados da moeda, sempre separados por um “mas” que distingue o passado (ou o que foi feito) do futuro (o que falta fazer): “Temos mais 341 mil empregos criados, mas há ainda muitas pessoas a procurar emprego”; ou “já conseguimos assegurar médico de família a 93% dos cidadãos, mas há ainda 680 mil portugueses que aguardam pelo seu médico”; ou “os rendimentos têm melhorado, mas persistem níveis elevados de pobreza”. Este último, “mas”, o da pobreza, é um assunto bastante referido pelo Presidente da República. António Costa sabe que, nesta altura, puxar apenas pelos galões do que foi alcançado seria uma mensagem desfasada até porque estes dias de festividades não foram totalmente pacíficos para o Governo. Com novas greves nos comboios e sem acordo entre o Ministério da Saúde e os enfermeiros, foi também aos funcionários do Estado que o primeiro-ministro se referiu nesta mensagem, especificando os hospitais e destinando uma “atenção especial” àqueles que, “esta noite, estão a trabalhar em empresas ou serviços públicos de laboração contínua, como os hospitais”. Para responder a todos os “mas” da sua mensagem de Natal, o primeiro-ministro disse que é preciso desenvolver as políticas que têm sido levadas a cabo: “A primeira condição é dar continuidade às boas políticas que nos têm permitido alcançar bons resultados”, defendeu. Contudo, disse, “temos de querer fazer mais e melhor” e isso passa por responder a dois “desafios”: a demografia e a valorização do território. Estes são, aliás, dois dos temas que António Costa, enquanto líder do PS, fez verter na sua moção ao congresso de Maio passado. O desafio demográfico era mesmo um dos quatro eixos estratégicos, enquanto a valorização do interior entroncava no eixo da redução das desigualdades. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No que diz respeito ao desafio da demografia, o primeiro-ministro disse agora que “não o podemos resolver só com a imigração”, mas também com a criação de condições para que os jovens “sintam que têm em Portugal a oportunidade de se realizarem plenamente do ponto de vista pessoal e profissional, e assegurar uma nova dinâmica à natalidade”, não referindo, desta vez, a vontade de promover o regresso de jovens emigrantes, uma política – Programa Regressar – na qual apostou e que foi inscrita no Orçamento para 2019. No que diz respeito ao território, o primeiro-ministro quer “valorizar os recursos desaproveitados”, seja no mar dos Açores e da Madeira, seja no “interior do continente”, tentando aproveitar o mercado ibérico. Nesta mensagem de Natal não houve referências aos três actos eleitorais que se avizinham, nem às falhas que têm sido apontadas ao Estado, nem sequer à contestação que se tem feito sentir, mas foram referidas algumas reivindicações, de uma forma geral, relacionadas com a necessidade de “investir na qualidade dos serviços públicos, como o SNS ou os transportes, na modernização das infra-estruturas, na melhoria da vida dos pensionistas e das condições de trabalho na administração pública”. Tudo, disse, sem pôr em causa do défice e a dívida.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS
Costa mais perto de Centeno a pensar nas eleições de 2019
Primeiro-ministro quer mostrar que ainda há "espaço para a ambição", que "falta o que fazer", mas essa ambição tem um "limite" que é o perigo de "retrocesso". Mensagem de Natal foi mais um passo na estratégia discursiva para 2019. (...)

Costa mais perto de Centeno a pensar nas eleições de 2019
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Primeiro-ministro quer mostrar que ainda há "espaço para a ambição", que "falta o que fazer", mas essa ambição tem um "limite" que é o perigo de "retrocesso". Mensagem de Natal foi mais um passo na estratégia discursiva para 2019.
TEXTO: Na última mensagem de Natal antes de eleições, António Costa parece ter surpreendido no discurso ao moderar o optimismo e a valorização do que tem sido feito pelo Governo, para se deter mais no que falta fazer. A ideia que quis passar neste Natal é mais um sinal da estratégia adoptada para as eleições, que passa por mostrar que ainda tem programa para cumprir depois de 2019, de médio prazo, e que este se baseia numa posição de moderação, que implica que não se pode retroceder no "equilíbrio alcançado". Esta estratégia de António Costa vem sendo seguida pelo menos desde o congresso socialista, de Maio deste ano, precisamente um ano antes das primeiras das três eleições que se realizarão em 2019, as europeias, a 26 de Maio. Na opinião de Pedro Adão e Silva, comentador e professor no ISCTE, o primeiro-ministro "não pode começar a falar como se estivesse no fim do caminho". Ou seja, "nesta fase, não pode fazer tanto o discurso de que o país está melhor. Tem de ser um discurso com médio-prazo, a dizer que o país ainda tem percurso a fazer". A "diminuição do optimismo" tem mais a ver com o facto de o discurso ter de ser menos de "autocongratulação" e mais "a apontar caminhos para a frente". Em resumo: "Tem de ser um discurso que dê espaço à ambição". Nas palavras que dirigiu aos portugueses, o primeiro-ministro apareceu mais realista do que optimista, ou, nas palavras do próprio, não iludido. António Costa disse que não se deixa "iludir" pelos números e defendeu que é preciso saber como se consegue "dar continuidade a este percurso, sem riscos de retrocesso". Há dois anos fazia notar que a sua crença nos números e previsões do Governo não era de "optimismo, mas realismo". Há aqui diferenças a assinalar. Costa, que o Presidente da República descreve, quase desde o início, como um "optimista crónico e por vezes ligeiramente irritante", suavizou o discurso dos bons resultados, equilibrando os bons números na mensagem com vários "mas" que faltam cumprir. A ambição tem de ser moderada, tem um "limite" e é aqui que entra a segunda parte da mensagem do primeiro-ministro, aquela que mais se aproxima do papel, da prática e do discurso do ministro das Finanças, Mário Centeno. Há duas semanas, no último debate quinzenal deste ano, António Costa dizia uma frase que resume o recado que quer passar: "Não podemos ir além do limite, sob pena de que PSD e CDS se fiquem a rir de nós e digam que tinham razão”. Na terça-feira, este "limite" aparecia implícito na expressão "contas certas", repetida já várias vezes pelo chefe do Governo, que é o alfa e ómega da prática e do discurso de Centeno, o que já o levou a ser comparado a Vítor Gaspar, ministro das Finanças do Governo de Passos Coelho. Também se vislumbrou na ideia de que é preciso que não se deixe de "eliminar o défice e de continuar a reduzir a dívida", uma "política de responsabilidade e equilíbrio", defendeu. É um "vínculo à consolidação orçamental", diz Adão e Silva, que lhe permite, ao "mesmo tempo, diferenciar-se muito à esquerda" e engolir o discurso do PSD. "CDS, BE e PCP têm uma história para contar. O PSD, assim, não tem", diz. A mensagem para 2019 andará por isso à volta dessa ideia de que há um limite, ou nas palavras proferidas pelo primeiro-ministro "responsabilidade e equilíbrio", mas que este não corta as pernas à ambição. "Acho que esta vai ser a estratégia para as eleições: uma valorização do que foi alcançado, aliada à ideia do PS como ponto de moderação e equilíbrio", diz Adão e Silva. Neste discurso, a ambição que falta cumprir centrou-se em alguns pontos gerais de governação: mais (e melhor) emprego, a mensagem de marca do programa do Governo; redução das desigualdades que leve a uma redução da pobreza, respondendo a uma exigência do Presidente da República; e melhores serviços públicos (a reboque de mais investimento), que responde à esquerda e a várias contestações que se fazem sentir. Tudo aliado a dois desafios: o demográfico e o da valorização do interior. Os desafios não são novos. Nas várias mensagens de Natal, por exemplo, Costa foi sempre referindo a necessidade de promover o regresso de jovens e dar-lhes condições para ficarem, respondendo ao desafio demográfico não só com a natalidade, como também com a imigração e o regresso de emigrantes. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Adão e Silva nota que "houve uma ligeira mudança" no discurso nos últimos meses, sobretudo desde o congresso socialista de Maio, mas estas oscilações estão relacionadas com uma mudança que foi permitida por Rui Rio. O PSD estava numa linha política que dizia "que o Governo estava capturado" pelos parceiros. "A partir do momento em que assinou os compromissos, essa linha desapareceu e deu a Costa a possibilidade de aparecer como o ponto de equilíbrio, diferenciando-se à esquerda e direita". Aliás, há dois momentos mais políticos dignos de nota sobre esta estratégia de se distanciar ora de uns ora de outros. Nas jornadas parlamentares do partido em Junho, Costa avisava a esquerda para os perigos do "eleitoralismo", por exigirem mais em algumas matérias em discussão no Orçamento do Estado para 2019. Meses depois, nas jornadas de Novembro, o alvo mudava para o PSD e CDS acusando-os de serem os "campeões do despesismo", precisamente por serem os partidos que mais despesa ou menos receita criavam com as alterações ao Orçamento que tinham apresentado. O equilíbrio nas políticas, nem tanto quanto quer a esquerda e sindicatos nem tão pouco como tinha previsto ou como seria possível, e equilíbrio na política, nem tanto à direita nem tanto à esquerda, é a mensagem geral. "Estamos aqui num ponto de equilíbrio entre o Estado social, a Europa e a consolidação orçamental e como o PSD não tem história para contar, isto dá incentivos para que Costa vá sempre salientando este equilíbrio", resume Adão e Silva.
REFERÊNCIAS:
“Houve sempre a capacidade de encontrar soluções para as crises da União Europeia”
Se as pessoas quiserem, podem aprender com a história, diz Constanze Itzel, a investigadora alemã que dirige a Casa da História Europeia. E uma importante lição "é que todas as crises do processo contínuo de integração europeia foram sempre ultrapassadas". Como aconteceu com a queda do muro de Berlim. (...)

“Houve sempre a capacidade de encontrar soluções para as crises da União Europeia”
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Se as pessoas quiserem, podem aprender com a história, diz Constanze Itzel, a investigadora alemã que dirige a Casa da História Europeia. E uma importante lição "é que todas as crises do processo contínuo de integração europeia foram sempre ultrapassadas". Como aconteceu com a queda do muro de Berlim.
TEXTO: A directora da Casa da História Europeia, Constanze Itzel, não fala como os políticos ou os burocratas que povoam Bruxelas, e que nesta altura já só pensam nas próximas eleições de Maio de 2019 — e na campanha que se adivinha marcada por discursos intolerantes, retóricas populistas e apelos à divisão e ao confronto. Nada que surpreenda a historiadora alemã, responsável por dirigir o museu financiado pelo Parlamento Europeu (55, 4 milhões de euros) para mostrar como o continente foi capaz de ultrapassar o seu passado brutal de guerra e destruição. “Muitas ideias [históricas] continuam a ter um enorme impacto na maneira como vivemos ainda hoje”, observa Itzel, que não é uma pessimista nem acredita que os europeus estão a reciclar fenómenos perigosos que levaram ao conflito. “Foram as crises que levaram à criação de algo tão positivo quanto a União Europeia”, lembra. Este museu foi proposto pelo Parlamento Europeu há uma década, como um projecto capaz de promover e cultivar a unificação e integração europeia e também aproximar as instituições da Europa dos seus cidadãos. Mas dez anos depois, à beira de uma nova eleição europeia, constatamos que o bloco continua a ter dificuldades em chegar aos eleitores. O que é que ainda é preciso fazer para fazer passar a mensagem?Este museu é uma de muitas tentativas para passar a mensagem. Somos um museu de História, e apresentamos a história a partir da perspectiva europeia, que é complementar à de muitos outros museus. O que nos interessa e o que gostaríamos de poder fazer é transformar a visão que as pessoas têm do passado, pondo em evidência tudo aquilo que enquanto europeus temos em comum mas também tudo aquilo que nos divide; as coisas que lembramos de maneira muito diferente e as que recordamos da mesma maneira. O que pretendemos demonstrar e explicar e que os processos comuns à Europa não dizem só respeito à política europeia e integração na União Europeia. Há muito mais do que isso, o continente tem muito mais do que isso em comum. E é isso que está a vista neste museu. Isso não quer dizer que o museu não tenha esse papel de promoção da integração europeia…Bem, nós não somos um instrumento de promoção, somos um museu de História. Há uma grande diferença entre uma coisa e outra. Mas decididamente, o museu pode chamar a atenção das pessoas para aquilo que é comum e que partilhamos enquanto europeus, em vez daquilo que estão habituadas a ver sob o ponto de vista nacional, ou até com um olhar ainda mais local. Aqui percebe-se que há uma imensidão de coisas que os europeus partilham, e que começam a ser avaliadas e compreendidas de uma maneira distinta se estivermos alerta e conscientes da existência dessa comunalidade. A exposição permanente do museu assume a forma de uma narrativa cronológica de tendências: percebemos quais são os temas comuns e as experiências partilhadas por todos os povos da Europa. Entre todos os tópicos, qual ou quais lhe parecem ser mais relevantes nos dias de hoje?Nós tínhamos três critérios para a selecção do que iríamos mostrar no museu, e a relevância nos dias de hoje era exactamente um deles. Os outros dois critérios tinham a ver com os processos que nasceram na Europa e que depois se espalharam e manifestaram em todo o continente. Pareceu-nos ser essa a melhor maneira de seleccionar, porque a história europeia é interminável e daria para encher uma casa dez vezes maior do que esta. Por isso, para lhe responder à pergunta, penso que todos os tópicos são relevantes para os dias de hoje, as migrações, os movimentos nacionalistas… Há muita coisa que as pessoas podem aprender com a História, se admitirem que se pode aprender com ela. Uma dessas lições, que penso ser muito importante, é que todas as crises do processo contínuo de integração europeia foram sempre ultrapassadas. Houve sempre a capacidade de encontrar respostas e soluções para as crises da União Europeia. É interessante perceber que muitos fenómenos históricos continuam a manifestar-se actualmente. Por exemplo, percebemos aqui que muitas das razões que estão por detrás do “Brexit”, ou da ascensão de partidos populistas ou da reacção aos fluxos migratórios, não são nada de novo na Europa. Sim. Tomemos como exemplo os movimentos nacionalistas que começaram a surgir no século XIX. Nós explicamos o que eles pretendiam alcançar, na sua génese, e também mostramos como esses movimentos se fortaleceram no século XX e levaram à exclusão de diferentes grupos. Partindo do ponto de vista do século XIX e o seu contexto histórico, conseguimos ver realmente quais foram as linhas de desenvolvimento e como foi a evolução desse fenómeno. E o mesmo é válido para os tópicos, como por exemplo a imigração. Nesta narrativa cronológica, nós conseguimos seguir a evolução desses fenómenos através dos diferentes períodos da história. Isso quer dizer que estamos constantemente a reviver a história, ou que continuamos a ser influenciados pelas mesmas forças e as mesmas ideias de há um século ou mais?Bem, espero sinceramente que não estejamos a reviver a história porque isso seria horrível. Mas muitas ideias continuam a ter um enorme impacto na maneira como vivemos ainda hoje. Vejamos por exemplo a ideia do Estado-nação, que é homogéneo do ponto de vista étnico e linguístico. Essa é uma ideia que até é relativamente nova, numa perspectiva de longo prazo, tem pouco mais de 200 anos. Do ponto de vista dos historiadores é uma coisa nova. Mas para as pessoas, ou melhor, para muitas pessoas, está perfeitamente estabelecido que um território tem de ter uma única língua, um único grupo étnico. Isso continua a alimentar conflitos e divisões, o que é uma pena, até porque ao longo de séculos os europeus viveram sem essa ideia. Recomendaria que os líderes europeus viessem visitar este museu? Chamaria a atenção deles para alguma sala em particular?Líderes europeus? Claro que como directora do museu só posso recomendar que toda a gente o venha visitar! Mas penso que seria útil — e nós gostaríamos que isso acontecesse — que o museu estivesse incluído numa espécie de programa de treino ou de estágio para os agentes políticos e para os diplomatas. Porque acredito realmente que jogamos um papel importante na explicação dos fenómenos históricos — não só os perigos históricos como também a resolução das crises históricas. Nós demonstramos como as visões políticas permitiram sempre que a Europa evoluísse e andasse para a frente. Ou seja, não mostramos só a parte negativa, também mostramos que as crises levaram à criação de algo tão positivo quanto a União Europeia. Por isso sim, definitivamente toda a gente devia visitar este museu. Nestes últimos anos, a Europa esteve mergulhada em crises — do euro, das migrações… — que afectaram os países de maneiras muito distintas. Alguns sentiram muito o impacto da crise, outros nada. Não acha que essas experiências tão diferentes levam a que os problemas, e também as soluções, não sejam entendidos como europeus?Não tenho a menor dúvida. Essa foi também uma dificuldade, um desafio, que sentimos aqui no museu. Tínhamos que criar uma narrativa que fosse fácil de compreender por alguém que não tivesse o mínimo conhecimento, alguém que não soubesse sequer localizar as datas da Segunda Guerra Mundial. E por outro lado, tínhamos que dar conta da diversidade de perspectivas e experiências. Já que falou nisso, deixe-me dar o exemplo da crise financeira, que é um tópico complicado. Nós montámos um painel (uma audio-station) com vários especialistas a quem pedimos que falassem do assunto, de forma a explicar todos os pontos de vista existentes nessa matéria. E fazemos o mesmo em muitos outros pontos da exposição. Isto é, nós estamos constantemente a introduzir parêntesis nesta nossa grande narrativa aparentemente unificada, para dar conta das diferentes perspectivas, para mostrar as diferentes formas de olhar para o passado para lembrar que existem diversas memórias do passado. E não lhe parece que essas narrativas nacionais, que até podem ser contraditórias sobre o mesmo assunto, tornam mais difícil a compreensão da tal linha comum ou do alcance europeu desses temas?Seguramente. Mas nós não temos de fazer uma oposição. Tal como disse no princípio, há muitas maneiras de olhar para a história. Pode olhar para a história da sua família, pode olhar para a história da sua cidade, para a história do seu país. E depois pode ter uma perspectiva europeia, ou se quiser até mesmo uma perspectiva global. Importante é que estas perspectivas coexistam: não podemos olhar para apenas uma e encará-la como a verdade, ignorando todas as outras, porque é só olhando para esse conjunto que aprendemos. Podem ser perspectivas opostas, mas são complementares. Será que as pessoas desconfiam da integração europeia, por pensarem que não se dá a devida atenção à sua especificidade?E também à sua linguagem. De cada vez que comunicamos, temos de perceber para quem estamos a falar. Nós aqui no museu reescrevemos os nossos textos muitas vezes, até chamamos um educador para olhar para eles do ponto de vista do visitante. Os curadores e historiadores podem escrever de uma maneira muito complicada, e o que nós queremos é que o visitante que já chega cansado ao quinto andar ainda possa apreciar a exposição! Os museus agora dispõem de várias formas de transmitir a mensagem, áudio, vídeo, porque algumas pessoas são mais auditivas, outras são mais visuais. A comunicação tem de ser transmitida da maneira que melhor se ajusta à audiência. Na História, existe um risco de controvérsia pela forma como as coisas são apresentadas, e o museu tem sido alvo de críticas por não dar muito crédito a figuras nacionais muito queridas. Qual é a sua opinião?É muito difícil, e é um processo longo. Um museu de História é construído de uma forma muito diferente de um museu de arte, que parte de uma colecção. Como disse, nós usámos como critérios de selecção a relevância para os dias de hoje, a origem europeia dos fenómenos e a sua dispersão pelo continente. Foi assim que determinámos quais os tópicos que queríamos abordar, porque havia muitos outros. E depois escrevemos uma história. Estabelecemos a cenografia, com uma empresa de design, e seleccionámos os objectos, os documentos, os ficheiros de som e de imagem que sustentam a narrativa. A exposição tem centenas de objectos, provenientes de todos os Estados membros da UE. Como foram escolhidos, os países tiveram alguma intervenção, podem ser substituídos?Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Na verdade temos milhares de objectos, que vieram de mais de 300 museus e colecções particulares de toda a Europa. Esta é uma exposição permanente temporária, em que os objectos vão mudando com o tempo, ou porque são demasiado sensíveis à luz e só devem ser expostos por um período de tempo, ou porque são precisos noutras exposições ou simplesmente porque os empréstimos chegam ao fim. A escolha desses objectos foi um dos desafios da montagem do museu, porque em alguns sítios existem bases de dados informatizadas que nós pudemos consultar, e noutros não. Por isso enviámos cartas a dizer o que pretendíamos mostrar na nossa exposição, ou a pedir peças de um determinado período, e recebemos uma ajuda preciosa de equipas de curadoria que nos responderam com ideias, sugestões. Também aconteceu termos de adaptar o conteúdo por não termos conseguido encontrar um objecto raro. Ou então recorremos ao vídeo, que é uma boa maneira de passar a mensagem quando não temos uma peça para mostrar. Qual é a sua opinião: existe uma identidade europeia, ou devemos antes referir-nos a uma herança europeia?A nossa tendência aqui é ver as coisas no plural, e é por isso que não falamos numa memória europeia mas em memórias. Quanto à identidade, existe o perigo de usar esse conceito como algo que é imposto de cima para baixo. E as pessoas podem ter várias identidades, aquela que as relaciona com a sua família, a que as liga ao seu país, e isso não impede que ao mesmo tempo se identifiquem como europeus. Nós preferimos trabalhar com o conceito da memória, porque é um conceito crítico e que evolui a toda a hora, não está fixo nem pode ser cristalizado. Pelo contrário, com a identidade existe um risco de se fixar uma descrição de umas certas características que depois não se adequam à tal diversidade de perspectivas. Assim, quando trabalhamos com a ideia de memória colectiva, conseguimos enquadrar os diversos pontos de vista e também o facto de que ela está sempre a mudar e a evoluir.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Bruxelas divulga medidas para mitigar efeitos de um “Brexit” abrupto
Comissão adoptou propostas legislativas para prevenir danos de uma saída sem acordo no sector dos transportes ou nos serviços financeiros. Mas no pior cenário possível, a grande preocupação é garantir os direitos dos cidadãos. (...)

Bruxelas divulga medidas para mitigar efeitos de um “Brexit” abrupto
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento -0.12
DATA: 2018-12-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Comissão adoptou propostas legislativas para prevenir danos de uma saída sem acordo no sector dos transportes ou nos serviços financeiros. Mas no pior cenário possível, a grande preocupação é garantir os direitos dos cidadãos.
TEXTO: A exactamente cem dias da data do “Brexit”, e ainda sem qualquer certeza de que o Parlamento de Westminster vá aprovar o acordo negociado entre Londres e Bruxelas para uma saída ordenada do Reino Unido da União Europeia, a Comissão Europeia apresentou mais uma série de medidas de contingência, descritas como “essenciais e urgentes”, para mitigar alguns dos prejuízos que inevitavelmente se farão sentir num cenário de “no deal”. Tratam-se de 14 propostas legislativas — “unilaterais na sua natureza e temporárias na sua duração”, conforme frisou uma fonte europeia. Depois de serem adoptadas asseguram, por exemplo, que o transporte aéreo e de mercadorias entre as ilhas britânicas e o continente não fica paralisado logo no dia 30 de Março de 2019, ou que o actual sistema de compensações nas transacções financeiras continua a operar até ser estabelecida uma alternativa à praça de Londres. “Estas medidas são um exercício de contenção de danos, num cenário que esperamos que nunca se concretize. Não replicam os benefícios que estão previstos no acordo de saída, nem podem ser consideradas, sob nenhuma perspectiva, como propostas atractivas” em termos do processo de divórcio em curso entre o Reino Unido e a UE, sublinhou o vice-presidente da Comissão, Valdis Dombrovskis. Para este terceiro “pacote” de medidas de contingência, explicou, a Comissão identificou “um número limitado de sectores” onde os efeitos nefastos de um “Brexit” sem acordo seriam demasiado perturbadores para as famílias e os agentes económicos europeus. Por isso desenhou “planos muito básicos” para ajudar a suportar o golpe — em domínios que vão dos serviços financeiros à política climática (o sistema de quotas do mercado de emissões terá de ser ajustado de 28 para 27). No topo das preocupações de Bruxelas estão os direitos dos 3, 5 milhões de cidadãos europeus radicados no Reino Unido, cuja autorização de residência ou direito ao trabalho (e à segurança social correspondente) poderão mudar do dia para a noite na ausência de um acordo de saída. Uma fonte europeia lembrava que “a única forma de resolver satisfatoriamente todos os problemas colocados pelo ‘Brexit’ no que concerne os direitos dos cidadãos, é a que está prevista no acordo de saída”. Se este não vingar, a Comissão apela aos Estados-membros que “adoptem uma abordagem generosa e pragmática” e tomem medidas para assegurar que os cerca de 1, 5 milhões de britânicos que vivem em território da UE mantenham inalterado o seu estatuto de residente e vejam consagrados os seus direitos adquiridos como contribuintes e beneficiários de segurança social. A expectativa de Bruxelas é que Downing Street responda na mesma moeda, aprovando um regime semelhante que permita a permanência dos nacionais da UE no Reino Unido. Mas ao mesmo tempo que a Comissão apresentava as suas recomendações para a salvaguarda destes direitos, a Câmara dos Comuns ouvia o ministro do Interior, Sajid Javid, defender uma proposta para a limitação do número de imigrantes autorizados a viver e trabalhar em solo britânico. Mas além de recomendações, a Comissão aprovou esta quarta-feira vários regulamentos específicos. No sector financeiro, os maiores riscos associados ao cenário de “no-deal” têm a ver com a perturbação na compensação financeira de contratos ou produtos derivados: foi concedida uma equivalência temporal condicional por 12 meses para manter esses pagamentos, e aprovados regulamentos que facilitam a renovação de alguns contratos, quando são transferidos do Reino Unido para um país da UE. No sector dos transportes, as principais medidas afectam a aviação, e previnem a interrupção total do tráfego aéreo entre a UE e o Reino Unido um dia após o “Brexit”. Assim, Bruxelas vai autorizar que se prolonguem durante 12 meses os serviços aéreos entre os dois blocos, mas apenas num sistema de “conectividade básica”, ou seja, nas viagens entre um local britânico e um europeu (um voo com partida em Londres e chegada a Lisboa por exemplo, está contemplado, mas não uma ligação a meio do percurso, em Paris). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Esta autorização está sujeita à obtenção do mesmo regime pelas transportadoras aéreas da UE. E o mesmo princípio será também aplicado ao transporte rodoviário de mercadorias, para que os operadores britânicos possam manter inalterado o fluxo de carga para a UE durante um prazo nove meses, sob reserva de condições de concorrência leal”. Outras medidas técnicas foram aprovadas para minorar os constrangimentos alfandegários para as exportações britânicas, nomeadamente regulamentos sobre os prazos para as declarações que devem ser apresentadas antes da partida ou entrada no território aduaneiro da UE ou sobre os produtos de dupla utilização em toda a UE.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Ronaldo entra na história do derby de Turim
Português garantiu o triunfo da Juventus no terreno do Torino e registou o golo cinco mil da sua equipa na Serie A. Uma entrada de rompante num clássico centenário (...)

Ronaldo entra na história do derby de Turim
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Português garantiu o triunfo da Juventus no terreno do Torino e registou o golo cinco mil da sua equipa na Serie A. Uma entrada de rompante num clássico centenário
TEXTO: A estreia de Cristiano Ronaldo no escaldante derby de Turim ficará na história da Juventus. O português apontou o único golo da sua equipa no terreno do Torino, na marcação de uma grande penalidade. E não foi um golo qualquer, como é habitual num jogador que é também um autêntico livro de recordes estatísticos. Nada mais que o golo cinco mil da "vecchia signora" no campeonato. Há muito que o clássico de Turim deixou de ter o mediatismo de outras eras, mas a rivalidade entre os dois clubes da cidade nunca perdeu emoção. O engrandecimento da Juventus nas últimas décadas coincidiu com a lenta agonia do Torino, que continua a ser, apesar de tudo, a quinta equipa com mais títulos italianos. O clássico perdeu também muita da sua imprevisibilidade, tendo o Torino festejado apenas um triunfo nos últimos 23 anos. É verdade que alguns deles foram passados na Série B, mas mesmo assim as equipas defrontaram-se por 27 vezes neste período. A Juventus venceu 21 destes encontros e empatou cinco, sobrando para o seu rival um único sucesso, a 26 de Abril de 2015, para o campeonato. Apelidado de derby della Mole - em referência ao mais icónico monumento da cidade, a Mole Antonelliana, um edifício com 167, 5 metros de altura, inaugurado em 1893, que coincide com o ano da fundação da Juventus -, este clássico centenário é pródigo em histórias e em capítulos menos edificantes expressivos da grande hostilidade entre os adeptos. Uma rivalidade que extravasou as fronteiras desportivas e se tornou um espelho das clivagens sociais que se têm feito sentir no último século na capital da região de Piemonte. No início, a Juventus representava a alta burguesa e a aristocracia. Como a classe trabalhadora piemontesa não se reflectia neste emblema elitista promoveu a fundação do Torino, em Dezembro de 1906, através da união de forças dos já existentes Internazional Torino e Foot-Ball Club Torinense. Uma estratificação social original nos dois clubes, espelhada por Mario Soldati, escritor, crítico e cineasta italiano (1906-1999), nascido em Turim, no seu romance Le due città (1964): “Atravessaram a Piazza Vittorio, que na penumbra da noite parecia interminável. Já a falarem de futebol. Emilio, naturalmente era da Juventus, a equipa dos cavalheiros, dos pioneiros da indústria, dos jesuítas, dos bem-pensantes, de quem tinha terminado o liceu: os burgueses ricos. Por sua vez, Giraudo era naturalmente apoiante do Toro, a equipa dos operários, dos imigrantes dos países vizinhos ou da província de Cuneo e Alessandria, daqueles que fizeram a escola técnica: os pequeno-burgueses e os pobres. ”O derby teve o seu primeiro capítulo a 13 de Janeiro de 1907, que foi também o jogo de estreia do recém-criado Torino Football Club. Nascia uma rivalidade electrizante no futebol transalpino. A partida original foi ganha pelo Torino, por 2-1. Desde então muito mudou nas bases dos dois emblemas, especialmente na Juventus. A partir da década de 1960, intensificou-se a migração de trabalhadores provenientes do Sul do país, das regiões da Sicília e Calábria, para o Norte industrializado, tendo muitos como destino as fábricas automóveis da Fiat, empresa da família Agnelli, ainda hoje proprietária da Juventus. A “vecchia signora” popularizava-se em Turim, em toda a Itália e no mundo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E é precisamente a nível internacional que a Juventus tem a principal aposta esta temporada. A contratação galáctica de Cristiano Ronaldo é a última peça da estratégia que tem na mira a Liga dos Campeões, uma competição que já conquistou duas vezes (1984-85 e 1995-96) e onde quer voltar a reinar. Entretanto, vai passeando pela Liga italiana, onde se prepara para festejar o oitavo título consecutivo. Um tédio. O triunfo deste sábado coloca a liderança da Juventus a 11 pontos de distância do segundo classificado, o Nápoles, que joga apenas este domingo. O golo de Ronaldo (70’, após uma falta sobre Mandzukic) coloca o madeirense no topo da lista de melhores marcadores, com 11 golos. E o seu nome entrou definitivamente na história do derby della Mole.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola social
Queriam parar o país, mas não chegaram a pô-lo em marcha
Em termos reivindicativos, até havia pano para mangas. Os “coletes amarelos” pediam tudo, às vezes uma coisa e o seu contrário. Mas, ao contrário da polícia, não conseguiram a mobilização prometida. (...)

Queriam parar o país, mas não chegaram a pô-lo em marcha
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em termos reivindicativos, até havia pano para mangas. Os “coletes amarelos” pediam tudo, às vezes uma coisa e o seu contrário. Mas, ao contrário da polícia, não conseguiram a mobilização prometida.
TEXTO: Faltava um par de horas para o sol nascer quando João Colaço e Naila Kalda, de 26 e 22 anos, saíram de Rio Maior vestidos com “coletes amarelos” em direcção a Lisboa. Esperavam que mais pessoas tivessem feito o mesmo, em nome do objectivo de “Parar Portugal”. Mas quem se mobilizou a sério para as manifestações agendadas para esta sexta-feira foram as autoridades policiais. Centenas de agentes foram mobilizados para responder às “manifestações de grande dimensão” que as autoridades previam para 17 pontos do país. Uma expectativa muito aquém da realidade. Quem se manifestou fê-lo sobretudo para contestar a classe política. Ao nascer do dia, Luísa Patrão, uma das organizadoras, dizia na rotunda do Marquês de Pombal, em Lisboa, que estava ali quem “não gosta do trabalho dos nossos funcionários no Parlamento”. As manifestações dispersaram-se durante a manhã, à excepção de um grupo que “acampou”, cercado de polícias, no Marquês de Pombal. Coube quase tudo no seu saco de contestações. Apontaram o dedo aos perdões fiscais avultados, aos resgates de bancos, às falsas presenças, polémicas com as moradas e viagens de quem ocupa cargos públicos. Também se falou da ala pediátrica do Hospital de São João, das indemnizações às vítimas dos incêndios de Pedrógão Grande e dos luxos da classe política — até contra as “casas com piscina” se gritou a dada altura. Pediram-se coisas aparentemente inconciliáveis, como mais prestações do Estado e menos impostos e, acima de tudo, invectivou-se a corrupção atribuída à classe política. “Há uma consciência na sociedade portuguesa de que os ricos, os políticos em particular, podem fazer de tudo e passam impunes”, dizia Carlos Costa, empresário de 58 anos, vindo de Cascais. Não viu a justiça reformar-se como esperava, por isso voltou a uma manifestação quase 40 anos depois. Para Isabel Gordinho esta foi a primeira. Bibliotecária, de 57 anos, lembra como aos 12, no 25 de Abril, achou que “passaria a viver num país de plenos direitos”. “Em vez disso, a minha mãe ganha 300 euros de reforma, eu não sou aumentada desde 2008 e a minha filha, enfermeira, teve de emigrar. Então pago impostos para se salvarem bancos, Duartes Lima e Salgados?” E a mesma revolta ouvia-se de muitos manifestantes. No Marquês, eles sempre foram muito menos que os polícias — havia “entre 80 a 100 ‘coletes amarelos’”, segundo fonte policial, para centenas de agentes. Passaram o dia andando em círculos, avançando e recuando sem uma liderança ou direcção muito concretas. Esta imagem do protesto de discurso e movimento circular, que se vai esgotando até pousar no chão, pode ser uma metáfora eficaz para resumir o que se passou também noutros pontos do país. Em Lisboa, a desproporção de forças permitiu à PSP circunscrever, em vários momentos da manhã, os manifestantes em pequenos espaços da rotunda — apesar dos protestos dos acantonados — e manter o trânsito a fluir. A Direcção Nacional da PSP abriu um processo interno para averiguar o comportamento de um agente que, num vídeo publicado nas redes sociais, despe o colete de polícia e confronta manifestantes, em Coimbra. A PSP explicou em comunicado que, no vídeo em causa, “aparentemente, um dos elementos policiais que integravam o dispositivo de segurança adoptou um comportamento que, possivelmente, configura uma infracção disciplinar, pelo que foi determinada a instauração do competente processo interno”. No vídeo é possível ver um homem, identificado como agente da PSP, que, na sequência de uma troca de palavras, despe e atira o colete policial para o chão e, aparentemente, desafia os manifestantes, num dos locais de protesto, em Coimbra. O cerco gerou alguns momentos de tensão e confrontos directos com as autoridades, resultando em três detidos. Os organizadores sempre se demarcaram de posturas violentas. Luísa Patrão, a meio da manhã, falava numa manifestação “estragada” pela extrema-direita, que colocou rostos conhecidos na primeira linha. Os ânimos acalmaram, mas a falta de uma liderança clara, e única, condenou o projecto da marcha até ao Parlamento. O protesto praticamente não saiu do sítio. Terminou por volta das 18h, altura em que Marcelo Rebelo de Sousa passou pelo local. Também a Ponte 25 de Abril — apontada como um dos pontos sensíveis — esteve deserta de protestos, mas carregada de polícias. Aí, de manhã, havia centenas de agentes de várias divisões da PSP, equipamento diverso e dezenas de jornalistas. Mas zero de bloqueios e um número insignificante de “coletes amarelos” em protesto. Por volta das 11h, parte do contingente abalou para outras paragens. Noutros pontos do país interpretou-se um reportório semelhante: cantou-se o hino nacional e gritaram-se palavras de ordem tradicionais. “O povo unido jamais será vencido”; “Costa, escuta, o povo está em luta”. Houve dificuldades no trânsito em algumas cidades, mas foram alguns desacatos entre manifestantes, como em Braga (ver caixa), a concentrar as atenções. Marcelo dá folga a motoristaO Presidente da República quis dar um sinal de normalidade e, para isso, dispensou o motorista e a segurança e foi da sua casa, em Cascais, para o Palácio de Belém ao volante do seu próprio carro. “Portugal não tem problemas políticos da gravidade de outros países europeus. Se houvesse dúvidas, ela têm sido desmentidas todos os dias, literalmente”, reiterou mais tarde, no encerramento do encontro anual do Conselho da Diáspora Portuguesa. A fraca adesão ao protesto permitiu-lhe repetir que “os portugueses não trocam a segurança da democracia pelo aventureirismo das experiências marginais, anti-sistémicas”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O problema é outro, afirmou, em jeito de recado a partidos e sindicatos: “Os protagonistas políticos e sociais têm de olhar com mais atenção para o que mudou na sociedade portuguesa, na Europa e no mundo. E têm de se saber ajustar a movimentos inorgânicos que surjam, a novos desafios difíceis para a democracia vindo do mundo tecnológico e digital, a novas formas de expressão política, a novas gerações de blocos”. Além das detenções em Lisboa, a PSP identificou oito manifestantes no Porto e outro em Coimbra, sem registar incidentes de maior. A PSP não revelou o número de agentes mobilizados. com Álvaro Vieira, Leonete Botelho e Luciano AlvarezA manifestação dos “coletes amarelos” em Braga terminou por volta das 13h, e com desacatos entre manifestantes, após uma reunião entre organizadores da iniciativa e o presidente da câmara, Ricardo Rio. O anúncio da desmobilização, feito pelo porta-voz da organização, Filipe Monteiro, desencadeou os protestos de alguns manifestantes, registando-se até confrontos físicos. “Estamos muito contentes, conseguimos o objectivo que era paralisar Braga e chegámos a um acordo com as autoridades para que, por hoje, o protesto fique por aqui”, disse Filipe Monteiro. Acrescentou que gostou do que ouviu do autarca, mas deixou um aviso: “Se não houver nada, voltamos à acção”. Enquanto os organizadores se reuniam com o presidente da câmara, cerca de 20 a 30 “coletes amarelos”, ao som de música de intervenção, iam apupando e insultando quem saía dos paços do concelho. Nos coletes tinham escritas algumas das reivindicações, que iam de melhores salários e menos impostos à legalização do tuning. Após o anúncio do fim da manifestação, os ânimos exaltaram-se, com alguns a direccionarem os insultos para a organização. Em Braga, onde o protesto começou às 6h, os maiores constrangimentos no trânsito foram criados pela própria PSP, com bloqueios em várias ruas. A PSP descarta responsabilidades pelo corte do nó de Infias, dizendo que montou a operação em função da autorização concedida pela câmara. Esta afirma que não autorizou nada, que apenas foi informada. Os manifestantes só deixaram passar ambulâncias.
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP
Descida do desemprego perde força e subida dos salários acelera
O salário médio cresceu 3,5% no terceiro trimestre de 2018, reflectindo a escassez de mão-de-obra disponível. Desemprego dá sinais de que a descida rápida pode estar a chegar ao fim. (...)

Descida do desemprego perde força e subida dos salários acelera
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento -0.3
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: O salário médio cresceu 3,5% no terceiro trimestre de 2018, reflectindo a escassez de mão-de-obra disponível. Desemprego dá sinais de que a descida rápida pode estar a chegar ao fim.
TEXTO: Depois de seis descidas consecutivas desde o final de 2016, um período em que passou de 10, 5% para 6, 7%, a taxa de desemprego repetiu, no terceiro trimestre deste ano, o mesmo valor que tinha registado nos três meses anteriores. Uma estabilização deste indicador que, combinada com outros sinais que estão a ser dados pelo mercado de trabalho, dá força à ideia de que, mesmo com a economia a continuar a crescer, a tendência de forte descida do desemprego a que Portugal tem assistido nos últimos anos pode começar a perder força, assistindo-se a uma fase de melhoria mais moderada do indicador. De acordo com os dados publicados nesta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a taxa de desemprego do terceiro trimestre deste ano foi de 6, 7%, o mesmo valor do segundo trimestre, período em que tinha caído 1, 2 pontos. Uma vez que a taxa de desemprego trimestral calculada pelo INE não é corrigida da sazonalidade, não se esperava que no terceiro trimestre do ano se repetisse o mesmo tipo de descida registada no segundo (o período de entrada no Verão em que os empregos sazonais maior efeito produzem). Ainda assim, tanto em 2016 como em 2017, tinha-se assistido a uma diminuição da taxa de desemprego no terceiro trimestre de 0, 3 pontos pontuais, o que mostra que o desempenho registado este ano ficou abaixo daquilo que aconteceu nos últimos dois anos, período de melhorias muito acentuadas neste indicador. “O que vejo é uma aproximação à taxa natural de desemprego”, explica o professor da Universidade do Minho, João Cerejeira, que antecipa por esse motivo descidas mais moderadas neste indicador no final de 2018 e em 2019, mesmo se economia continuar a crescer. A taxa natural de desemprego é um conceito usado pelos economistas para tentar definir um nível de desemprego de equilíbrio, que não crie pressões inflacionistas. Em teoria, se a taxa de desemprego se encontrar no seu valor “natural”, novas descidas do indicador apenas podem ser feitas num cenário de aumentos salariais mais elevados que podem acabar por gerar agravamentos da taxa de inflação. Isto significa que, ao chegar à taxa de desemprego natural, fazer descer o número de desempregados torna-se mais difícil. Não existe um valor único e preciso para a taxa de desemprego natural de Portugal neste momento, já que depende das metodologias de cálculo utilizada (várias estimativas apontam para que possa ser agora mais alta do que era antes da crise). Mas, assinala João Cerejeira, existem nos números do mercado de trabalho publicados pelo INE vários indícios de que se pode estar agora mais perto de atingir esse valor. Um desses indicadores, diz o economista, é o facto de “a subida do emprego que ocorreu no terceiro trimestre se ter dado essencialmente pela passagem para a população activa de pessoas que estavam inactivas”. Os dados do INE mostram que, apesar de ter havido um aumento de 28 mil empregos no terceiro trimestre, o número de desempregados até subiu ligeiramente (cerca de 900 pessoas). Em contrapartida a população que se declara inactiva diminuiu, em cerca de 33 mil pessoas. “O nível do desemprego já é suficientemente baixo para incentivar os inactivos a passarem para o mercado de trabalho”, afirma. Este tipo de tendência é também notório no facto de, ao contrário do que acontece com a taxa de desemprego oficial, a taxa de subutilização do trabalho (que inclui inactivos que não procuram emprego e trabalhadores a tempo parcial sem que o desejem) voltou a baixar no terceiro trimestre de 13, 3% para 13, 1%. Outro indício de aproximação de Portugal à sua taxa de desemprego natural está na evolução dos salários, que começam, segundo João Cerejeira, a reflectir o facto de já não haver tantas pessoas disponíveis para trabalhar. De acordo com os dados do INE, entre os inquiridos, o salário médio registou em termos homólogos um crescimento de 3, 5% no terceiro trimestre do ano. Foi só a partir do início deste ano que taxas de crescimento dos salários ficaram acima dos 3%. Em 2017, estavam na casa dos 2% e em 2016 dos 1, 5%. João Cerejeira salienta ainda o papel que as alterações dos fluxos migratórios podem estar já a ter na evolução da taxa de desemprego. Ao contrário do que aconteceu nos anos anteriores, há agora indicadores que mostram uma maior entrada de imigrantes, o que também permite que haja subidas de emprego sem que a taxa de desemprego se reduza muito mais. O cenário de abrandamento da descida da taxa de desemprego para o qual os dados do terceiro trimestre parecem apontar não se afasta muito daquilo que são as próprias previsões do Governo para o mercado de trabalho. No OE para 2019, o Executivo prevê que a taxa de desemprego baixe dos 8, 9% de 2017 para em 6, 9% em 2019. A média da taxa de desemprego dos três trimestres já decorridos este ano está nos 7, 1%, o que significa que, num cenário de manutenção nos últimos três meses deste ano (um período em que as descidas são mais difíceis) de uma taxa trimestral de 6, 7%, a taxa de desemprego anual em 2018 ficaria em 7%, a apenas 0, 1 pontos da meta do Governo. Para 2019, o Governo aponta para a manutenção de uma tendência de descida, mas assume que esta seja feita de forma mais moderada, para 6, 3%. Em termos de crescimento do emprego, o Governo projecta que, depois do crescimento de 3, 3% em 2017, a variação passe a ser de 2, 5% em 2018 e de 0, 9% em 2019. “Aquilo que estou a antecipar para 2019, se não se registar nenhum choque externo, é uma descida moderada da taxa de desemprego, próxima de 0, 3 pontos percentuais, mas ao mesmo tempo a continuação de um crescimento do emprego até aos 5 milhões [actualmente é de 4, 9 milhões], com um contributo importante da imigração”, afirma o especialista em questões relacionadas com o mercado de trabalho. Na área do emprego, o terceiro trimestre também não trouxe dados muito significativos. A população empregada teve um aumento tímido face ao trimestre anterior (mais 28. 700 pessoas empregadas), quando em 2017 a evolução do segundo para o terceiro trimestre tinha sido bem mais positiva, com o emprego a crescer em 42. 600 pessoas. Comparando com o período homólogo, uma análise que de certa forma anula os efeitos da sazonalidade, o INE aponta para a existência de mais 99. 800 empregados (um aumento de 2, 1%). Trata-se ainda assim de um abrandamento face à evolução que se vinha sentindo anteriormente, e há sinais de que os contratos de prestação de serviços estão a ressurgir. Quando se olha para o tipo de contrato, a surpresa vem do lado dos trabalhadores a recibos verdes, que atingiram o número mais elevado dos últimos sete anos. Os vínculos sem termo registaram um aumento de 2, 7% e representam agora 77, 8% do total. Os contratos sem termo tiveram uma queda de 0, 3%, mas em compensação as prestações de serviços aumentaram 9% do terceiro trimestre de 2017 para o de 2018. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O Parlamento tem em cima da mesa alterações à legislação laboral para dificultar a contratação ao termo, mas o uso de recibos verdes também poderá requerer medidas adicionais. É que o número de trabalhadores a recibo verde (148. 200) atingiu o nível mais elevado desde o segundo trimestre de 2011 (148. 500). Esta subida nas prestações de serviço pode estar relacionada com o facto de o emprego ter tido um crescimento homólogo significativo na educação e na administração pública (8, 6%). É que apesar de estar em curso um programa de regularização de precários no Estado, ele está atrasado e, por outro lado, tem sido necessário recorrer a prestações de serviço para responder a necessidades em várias áreas. O emprego cresceu sobretudo na indústria (2, 9%) e nos serviços (2, 1%) – em particular nas actividades de educação e de administração pública, defesa e segurança social obrigatória –, enquanto na agricultura recuou 1%.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave imigração educação social desemprego salário
Israel vai ter eleições antecipadas em Abril
Crise sobre o serviço militar obrigatório para os ultra-ortodoxos levou a cisão na coligação. (...)

Israel vai ter eleições antecipadas em Abril
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.1
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Crise sobre o serviço militar obrigatório para os ultra-ortodoxos levou a cisão na coligação.
TEXTO: Israel vai ter eleições antecipadas em Abril, anunciou um porta-voz do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que governava com a mais pequena das maiorias – 61 deputados num parlamento de 120 – desde a saída do antigo ministro da Defesa, Avigdor Lieberman, e do seu partido da coligação de direita. Desde então, esperava-se que mais tarde ou mais cedo algo precipitasse eleições antes da data prevista, Novembro de 2019. Netanyahu foi sobrevivendo a cisões no Governo, exigências de aliados e acusações de corrupção (está a ser investigado em quatro processos) mas esta segunda-feira uma discussão sobre o serviço militar obrigatório para os judeus ultra-ortodoxos (que actualmente não têm de o cumprir) provocou a queda do Governo. O número de ultra-ortodoxos e, mais, a sua percentagem no total da população está a aumentar e a sua não-participação no exército, essencial para o país, é cada vez mais problemática. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Os líderes da coligação decidiram de modo unânime dissolver o parlamento e ir a eleições antecipadas em Abril”, disse o porta-voz. Netanyahu, 69 anos, está no quarto mandato como primeiro-ministro, a que juntou entretanto o ministério da Defesa (desde a saída de Lieberman), o ministério da Imigração, o dos Negócios Estrangeiros (dois cargos para os quais se esperava uma nomeação em breve, dizia a semana passada o Jerusalem Post) e o ministério da Saúde (que é de facto controlado pelo vice-ministro da Saúde, acrescenta o jornal). Governou Israel entre 1996 e 1999, para voltar em 2009. O actual Governo está no poder desde Maio de 2015.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave imigração
Suu Kyi devia ter-se demitido devido à perseguição aos rohingya, diz chefe dos direitos humanos da ONU
A Prémio Nobel da Paz deveria ter feito muito mais pelos rohingya, de acordo com Zeid Ra’ad al-Hussein. Comité Nobel esclarece que não lhe pode retirar o galardão. (...)

Suu Kyi devia ter-se demitido devido à perseguição aos rohingya, diz chefe dos direitos humanos da ONU
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento -0.06
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Prémio Nobel da Paz deveria ter feito muito mais pelos rohingya, de acordo com Zeid Ra’ad al-Hussein. Comité Nobel esclarece que não lhe pode retirar o galardão.
TEXTO: Na recta final do seu mandato como Alto-Comissário para os Direitos Humanos da ONU, Zeid Ra'ad al-Hussein, lançou duras críticas à líder do Governo birmanês, Aung San Suu Kyi, dizendo que a Prémio Nobel da Paz se devia ter demitido do cargo por causa da violenta ofensiva militar contra a minoria muçulmana rohingya. O dirigente das Nações Unidas acusou Suu Kyi de se portar como “uma porta-voz do Exército birmanês”. “Ela estava em posição de poder fazer alguma coisa. Podia ter estado calada, ou, melhor ainda, poderia ter-se demitido”, afirmou Hussein durante uma entrevista à BBC. O jordano está de saída do cargo, no qual é substituído pela ex-Presidente chilena, Michelle Bachelet. As declarações de Hussein surgem dias depois de as Nações Unidas terem publicado um relatório em que pedem a abertura de uma investigação à suspeita de crime de genocídio cometido por responsáveis de topo do Exército birmanês. A operação militar lançada no ano passado no estado de Rakhine, no Noroeste da Birmânia, causou um êxodo maciço de rohingya para o Bangladesh – mais de 700 mil, numa população de pouco mais de um milhão. O Exército nega qualquer violação dos direitos humanos e define as suas acções em Rakhine como apenas visando um grupo terrorista suspeito de ter incendiado alguns postos fronteiriços policiais. A ONU acusa os militares de terem posto em prática tácticas "altamente desproporcionadas face à natureza real da ameaça de segurança". Entre as acusações estão relatos de violações de civis e incêndios de aldeias inteiras. Por tudo isto, as Nações Unidas recomendam que o caso seja levado perante o Tribunal Penal Internacional. O papel de Suu Kyi durante a crise humanitária dos rohingya foi amplamente criticado fora da Birmânia. Foram feitos vários pedidos para que o Prémio Nobel da Paz, que lhe foi atribuído em 1991 pela sua luta contra a junta militar que governa o país desde 1962, lhe fosse retirado. Na quarta-feira, o Comité Nobel Norueguês esclareceu que o galardão não pode ser retirado, uma vez que premeia “esforços ou feitos do passado”. Outros prémios, como o Elie Wiesel, entregue a Suu Kyi pelo Museu do Holocausto dos EUA, foram-lhe retirados devido à sua inacção em relação aos rohingya. Os críticos de Suu Kyi, como Hussein, insistem que a antiga opositora do regime militar deveria ter usado a sua posição influente para conter os abusos ou simplesmente para chamar a atenção para o drama dos rohingya. Na verdade, nas poucas vezes em que se pronunciou publicamente sobre o assunto, Suu Kyi apenas criticou aquilo a que chamou de “icebergue de desinformação” sobre a operação militar. Hussein considerou as justificações dadas pela governante "profundamente lamentáveis". Apesar de ser uma figura-chave no Governo birmanês, a influência de Suu Kyi é muito limitada (a Constituição impede-a de ser Presidente e ocupa o cargo de conselheira de Estado, criado especificamente para si). Em 2015, as primeiras eleições livres deram uma grande vitória à Liga Nacional para a Democracia, de Suu Kyi, permitindo a constituição de um Governo civil, embora com vários lugares ainda sob controlo dos militares. Continua a ser, porém, uma referência moral e muitos esperavam que a entrada no período de transição democrática permitisse que Suu Kyi promovesse uma política mais tolerante em relação às minorias étnicas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Para Hussein, até o regresso à prisão domiciliária – onde Suu Kyi passou 16 anos – seria preferível à cumplicidade com a violência exercida sobre os rohingya. Segundo o jordano, estas deveriam ser as únicas palavras da birmesa: “Não posso ser o acessório que os outros pensam que sou no que toca a estas violações. ”Mas na Birmânia, país de maioria budista embora muito dividido etnicamente, os rohingya são um dos grupos sociais mais perseguidos e alvo de uma xenofobia enraizada. Os dirigentes políticos, Suu Kyi incluída, não se atrevem sequer a pronunciar a palavra "rohingya" em público, uma vez que o seu significado liga este povo a Rakhine – oficialmente, são designados como "imigrantes ilegais bengalis". Para além disso, os rohingya não têm sequer direito à cidadania birmanesa, ficando privados de quase todos os direitos básicos, como o acesso à educação, ao trabalho e até à livre circulação.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE