“Nunca achei que um católico pudesse ser outra coisa que não um activista”
José Manuel Pureza vai continuar a bater-se pela despenalização da morte assistida, em nome da “tolerância” e do respeito por uma “sociedade plural”. (...)

“Nunca achei que um católico pudesse ser outra coisa que não um activista”
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento -0.06
DATA: 2018-12-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: José Manuel Pureza vai continuar a bater-se pela despenalização da morte assistida, em nome da “tolerância” e do respeito por uma “sociedade plural”.
TEXTO: Foi o 25 de Abril, que viveu quando tinha 15 anos, que o ajudou a colar dois compromissos: o político e o crente. Hoje, é deputado e vice-presidente do Parlamento e vive muito bem na pele de bloquista católico, preocupado em defender “os direitos dos mais pobres”. Vai à missa, reza todos os dias e não tem medo de usar um léxico pouco querido à esquerda e de dizer que “a caridade é uma expressão de amor”. Desde que não se fique por aí. Com um percurso académico na área das Relações Internacionais, vai a encontros noutros países que juntam católicos e militantes da esquerda radical. Está disponível para agarrar a causa da despenalização da morte assistida, se o BE entender que deve ser ele, mas lembra que, se houve um rosto da luta, foi o de João Semedo. Foi um dos rostos pela despenalização da morte assistida. Desistiu da causa?Não. O desfecho parlamentar não foi positivo, mas houve uma divisão do Parlamento que não fecha as portas a que voltemos ao assunto. O nosso propósito é fazer deste tema um dos compromissos para as legislativas. As pessoas que votarem no BE terão uma força que se vai bater para que o assunto volte a ser objecto de debate e de deliberação. Houve debate suficiente?Percorri o país durante cerca de dois anos. Em debates organizados pelo BE e pelas instituições mais diversas. Aquilo que motivava um grande número de pessoas a terem uma posição sobre o assunto era a sua experiência pessoal de contacto com alguém próximo, familiar ou amigo, cujo fim de vida tinha sido muito doloroso, degradante do ponto de vista físico e até relacional. Diante das histórias concretas, todo o tipo de rigidez de princípios se desvanecia com muita facilidade. Houve um debate muito intenso, diverso, que creio que propiciaria uma decisão que fosse madura. A decisão foi a que foi e nós voltaremos a esse assunto. Numa próxima oportunidade, voltando a argumentar com serenidade, razoabilidade, contra o fanatismo e intolerância, estou convencido de que a razão prevalecerá. Sendo católico, nunca teve dúvidas sobre o tema?Não. Há um conjunto de pensadores católicos, teólogos até, que têm discutido este tema com uma grande abertura, com o acolhimento da possibilidade de haver despenalização. Não creio que seja razoável que um católico queira que a sua visão das coisas tenha prevalência através do Código Penal. Longe vai esse tempo, em que a visão católica, ou outra qualquer religiosa, tivesse acolhimento no Código Penal. Não creio que seja nada evangélico. Eu sou católico, mas vivo numa sociedade plural. O mais acertado é encontrar soluções que sejam de respeito pelas várias perspectivas em jogo. Muitos católicos são a favor da despenalização, não nos enganemos. Participei em muitos debates, organizados por entidades ligadas à Igreja Católica, onde um grande número de pessoas se pronunciava de uma forma perfeitamente compreensível e tolerante…Não é a posição oficial da Igreja…Está bem, mas isso… Numa sociedade plural, democrática como é a nossa, o que é certo é encontrar soluções de tolerância que permitam a todas as perspectivas serem respeitadas. O que temos hoje é outra coisa: é uma solução que impõe uma visão e que não respeita a outra visão. Está a dizer que a despenalização da morte assistida não obriga ninguém a nada. Exactamente. Como nunca poderia ser uma solução que se impusesse a quem quer que fosse, todas as consciências serão respeitadas com esta solução. É por isso também que eu, como católico, me bato por essa solução. É católico e militante do BE, partido que não partilhará muitas causas com a Igreja Católica. Como é que visões tão diferentes sobre o mundo convivem dentro de si? A Igreja é mais conservadora e o BE mais revolucionário, ou isto são ideias feitas?Jesus Cristo não morreu acamado, nem velhinho. Morreu como morreu, porque o poder político e religioso do seu tempo foram incapazes de aceitar a sua mensagem, que era verdadeiramente revolucionária. Também me pergunto por que é que esta questão da compatibilidade entre ser militante de um partido de esquerda e a condição de católico causa tanta perplexidade e não causa nenhuma perplexidade que um militante de direita seja católico e que defenda a flexibilidade das leis laborais, o liberalismo económico, ou a prevalência do capitalismo. Mas a Igreja não tem uma visão mais assistencialista sobre a pobreza, de caridade em relação aos desfavorecidos, e a esquerda uma visão mais emancipatória, de dar mais poder de luta aos desfavorecidos?São duas perspectivas que se completam, mais do que se digladiam. A esquerda vem de uma trajectória de atribuir poder aos marginalizados, aos oprimidos, aos explorados, para que a sua vida mude, por transformações sociais. Essa é a esquerda a que pertenço. A Igreja foi desenvolvendo formas de atenção ao rosto concreto do outro, do excluído, oprimido, que a palavra caridade simboliza. Não tenho sobre a caridade uma visão negativa, a caridade é uma expressão de amor. É uma expressão de entrega. Essa caridade, como atenção concreta ao outro concreto, ao sem-abrigo, ao sem trabalho, ao anatemizado pelos códigos sociais, desde que seja realmente universal, é muito importante. Não pode é absolutizar-se. A transformação social é muito importante, mas se não tiver atenção a cada uma das pessoas concretas, falha. E a caridade, no sentido da assistência, do serviço, se não tiver no horizonte uma transformação social que tem uma dimensão política inequívoca, também falha. As duas coisas devem completar-se. Fico muito contente cada vez que uma campanha de angariação de bens ou de dinheiro, para prestar serviço aos mais pobres, tem sucesso, contanto que isso não distraia da necessidade de nos perguntarmos por que é que aquilo teve de ser feito. E se uma outra organização social e económica não permitiria que estas campanhas fossem menos necessárias. A busca das pessoas por conforto espiritual na fé também não as desvia do caminho da luta pelos seus direitos?Uma espiritualidade que seja alienante não é coisa boa. Mas quem vive procurando imitar Jesus não creio que tenha grande espaço para esse tipo de desvio alienante. Jesus não era propriamente distraído das questões essenciais do seu tempo. E das lutas pela dignidade, pela decência. Certo que ele, de vez em quando, se afastava para o deserto, mas fazia-o para ganhar forças para perceber como se devia actuar. Não creio que esteja no código genético do cristianismo essa ideia de alienação. Pelo contrário: acho que alienação é um pecado. Nunca achei que um católico pudesse ser outra coisa que não um militante, um activista. E que estivesse onde tem de estar, que é o campo da defesa dos direitos humanos, de justiça social. Outro católico dir-lhe-á que também quer estar no campo da defesa da família tradicional…A esse católico eu direi que Jesus teve tudo menos uma família tradicional. E podíamos falar de outros temas da esfera do BE como os direitos dos casais do mesmo sexo… A Igreja e o BE não têm a mesma posição. O que diria a esses católicos?Vivemos numa sociedade plural, onde crentes e não crentes coabitam e têm de coabitar numa relação harmoniosa e com um respeito uns pelos outros. Ninguém tem o direito de impor, pela via da penalização e da exclusão, os seus pontos de vista, de tal maneira que os outros pontos de vista relevantes sejam escorraçados, desrespeitados. Vêm aí várias eleições, como as europeias ou as legislativas. Que outros temas levará o BE para as campanhas?São eleições que decorrem depois de uma experiência política que teve as forças e as fragilidades que são conhecidas. O BE terá de apresentar-se como uma força que tem sido – e vai continuar a ser até ao último dia da legislatura – muito empenhada em que haja soluções concretas para as pessoas concretas. Que favoreçam as suas vidas do ponto de vista patrimonial e dos seus direitos. Uma primeira atitude que se deve esperar do BE é a assunção de responsabilidades por tudo aquilo em que esteve empenhado e tem permitido alterar o que era o programa do PS. Por outro lado, é também claro que esta solução tem evidenciado muitos limites. E é também claro que estes limites têm muito a ver com os compromissos europeus. Falou de forças, de fragilidades, e dos limites desta solução governativa. Que balanço faz?Se olharmos para as propostas que o PS apresentou e se virmos uma parte importante de decisões que foram assumidas no âmbito desta solução política, percebemos que há razões para avaliarmos positivamente esta solução. Permitiu que houvesse deslocação de políticas para a esquerda. Este balanço é positivo, mas não é um balanço positivo de maneira a que esqueça os seus limites. Estamos a meio de um caminho. Se o caminho continuar a ser totalmente manietado por uma política orçamental, que rouba espaço à qualificação das profissões, do trabalho, à criação de condições para que os direitos sociais sejam efectivos, então, estaremos numa situação em que as fragilidades e injustiças sociais continuarão a prevalecer. É o desafio da própria democracia que está em jogo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Até onde vai conseguir chegar o BE, do ponto de vista eleitoral?As pessoas saberão avaliar a responsabilidade que tivemos e a responsabilidade que estamos dispostos a ter. Não fugiremos a nenhum diálogo que permita criar maiorias sociais e políticas de mudança justa, à esquerda. E não transigiremos em nenhum aspecto essencial. Faremos os diálogos que tiverem de ser feitos, na perspectiva de mudar. De inverter os limites muito poderosos que se abatem sobre a nossa política em Portugal. Não aceitaremos que um diálogo, em que estejamos envolvidos, permita legitimar ou validar políticas de retrocesso. Ou de flexibilização. Ou de retracção no direito à habitação das pessoas. Ou no acolhimento de imigrantes. Não aceitaremos isso em nome de nada. Não nos venham com a cantiga que é assim, porque a Europa precisa que seja assim. Já mostramos, ao longo destes três anos, que isso pode ter alternativas. Até onde o BE pode ir? Até onde o reconhecimento que as pessoas façam desta posição nos permitir ir. Sou daqueles que acha, como o Francisco Louçã, que o nosso grande objectivo é até ao infinito e além. Também vê esses desenhos animados com o seu neto?Com certeza. O Buzz Lightyear.
REFERÊNCIAS:
Religiões Cristianismo
G20: O mundo dentro da Argentina
A Cimeira de Buenos Aires consagrou a Argentina como um país plenamente reinserido na comunidade internacional. (...)

G20: O mundo dentro da Argentina
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Cimeira de Buenos Aires consagrou a Argentina como um país plenamente reinserido na comunidade internacional.
TEXTO: Num momento em que os ventos isolacionistas sopram com intensidade, quis o destino que a Cimeira do G20 tivesse lugar na Argentina, um país de imigrantes que se reabriu ao mundo sob a liderança do Presidente Mauricio Macri. O ponto de partida para os trabalhos levados a cabo em Buenos Aires era indisfarçavelmente melindroso. O grau de abertura das nações é reflexo das sensibilidades domésticas e dos solavancos internacionais e, em ambos os níveis, proliferavam condicionantes. No jogo de espelhos que é a diplomacia saltavam à vista a disputa comercial entre os Estados Unidos e a China, a tensão militar no estreito de Kerch, o caso Khashoggi, a investidura do próximo Presidente brasileiro e ainda a saída do Reino Unido da União Europeia. No entanto, a disponibilidade para o diálogo e a fluidez da conversa dependem igualmente da valia do anfitrião, da sua capacidade de cobrir todos os cantos da sala e de convocar os convidados mais distantes e desconfiados. Ocasião para a Argentina, a sua cultura e o seu povo, revelar-se na plenitude, fosse mediante símbolos como o Teatro Colón ou a recepção, calorosa e desprendida, que só os latinos, a sua música e a gastronomia, conseguem oferecer. De facto, a Cimeira de Buenos Aires consagrou a Argentina como um país plenamente reinserido na comunidade internacional, defensor do multilateralismo e aberto ao investimento estrangeiro e ao diálogo com todos os interlocutores. Está hoje claro, aos olhos dos argentinos e do mundo, que o Presidente Macri cumpriu uma das suas basilares promessas de campanha: transformar um país que se encontrava fora dos mercados internacionais numa nação conectada com o mundo, numa voz escutada, relevante e credível. Em relação aos resultados da Cimeira, a declaração final não é – contrariamente ao que vi referido – um pronunciamento de circunstância, estéril e minimalista. Desde logo porque alude a três dos principais reptos globais: as alterações climáticas, o combate ao terrorismo e a defesa do comércio internacional. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, levada a cabo em Katowice, foi importante ver os signatários do Acordo de Paris reiterar, na declaração do G20, que se trata de um compromisso “irreversível”, feito de “responsabilidades comuns embora diferenciadas”. Destacaria, por outro lado, a tentativa de convocar a indústria digital para o combate ao terrorismo, tema que de alguma forma marcou também a última edição da Web Summit em Lisboa. De facto, sem o envolvimento das plataformas tecnológicas e a celebração de convénios internacionais na área da cibersegurança, a tarefa dos Estados neste campo estará cada vez mais dificultada. Por último, constituiu igualmente um marco importante o reconhecimento de que a Organização Mundial do Comércio precisa ser reformada e opera hoje “aquém dos seus objectivos”. Trata-se de um domínio em que o G20, pelas suas raízes financeiras, tem responsabilidades acrescidas e que será retomado nos trabalhos de 2019, agora com sede no Japão.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura campo comunidade
CNN processa Trump e exige o regresso do jornalista suspenso da Casa Branca
Na semana passada, durante uma conferência de imprensa, Donald Trump recusou responder a umas pergunta de Jim Acosta. Pouco depois o jornalista da CNN viu o seu acesso à Casa Branca vedado por tempo indeterminado. (...)

CNN processa Trump e exige o regresso do jornalista suspenso da Casa Branca
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-24 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181124191937/https://www.publico.pt/1850937
SUMÁRIO: Na semana passada, durante uma conferência de imprensa, Donald Trump recusou responder a umas pergunta de Jim Acosta. Pouco depois o jornalista da CNN viu o seu acesso à Casa Branca vedado por tempo indeterminado.
TEXTO: A CNN processou o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e exige a reposição imediata do acesso do seu correspondente Jim Acosta à Casa Branca. A notícia foi avançada pelo próprio canal nesta terça-feira. A decisão da CNN é uma resposta ao confronto entre o correspondente do canal e Donald Trump na semana passada e que culminou com a suspensão do acesso do jornalista à Casa Branca. O caso ocorreu no dia a seguir às eleições para o Congresso, quando, numa conferência de imprensa, Trump recusou responder à pergunta de Acosta sobre a caravana de imigrantes que está a caminho dos EUA. O jornalista, que já tinha feito duas perguntas, insistiu e Trump insultou-o. Agora, o canal acusa o Presidente de estar a violar a 1. ª e a 5. ª Emenda da Constituição ao retirar a acreditação de Acosta na Casa Branca. “Pedimos uma ordem imediata para que a acreditação seja devolvida imediatamente a Jim [Acosta]. Apesar de este processo estar ligado à CNN e a Jim Acosta, podia ter acontecido com qualquer um. Se não for contestada, esta decisão da Casa Branca pode criar um ambiente de medo para aqueles que cobrem a Casa Branca". O processo contra Trump, contra o chefe de gabinete John Kelly, a porta-voz da Casa Branca Sarah Sanders, o chefe de comunicações Bill Shine, o director dos serviços secretos Randolph Alles e o funcionário dos serviços secretos que tirou o passe de Acosta na quarta-feira da semana passada, deu entrada num tribunal de Washington durante a manhã desta terça-feira. Quando o conflito entre Trump e Acosta aconteceu, a porta-voz da Casa Branca partilhou no Twitter um vídeo manipulado que dava a entender que Acosta agrediu a funcionária que lhe foi tentar tirar o microfone. As imagens foram manipuladas pela pela Infowars, uma página de extrema-direita dedicada a disseminar teorias da conspiração. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A Associação de Correspondentes da Casa Branca já vincou o seu apoio à CNN, defendendo que o jornalista recupere a sua acreditação “que não deveria ter sido retirada”. “Este não é um passo que damos de ânimo leve. Mas a atitude da Casa Branca também não tem precedentes”, diz o presidente da CNN, Jeff Zucker, numa nota interna enviada aos funcionários.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Flaming Hot Cheetos
São tempos no fio da navalha os que vivemos, para os quais é difícil ter um roteiro pré-determinado. Mas é a altura certa para perceber se Emmanuel Macron saberá resistir à contestação da rua. (...)

Flaming Hot Cheetos
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: São tempos no fio da navalha os que vivemos, para os quais é difícil ter um roteiro pré-determinado. Mas é a altura certa para perceber se Emmanuel Macron saberá resistir à contestação da rua.
TEXTO: Na temporada cinco da série de televisão Orange Is the New Black — sobre a vida numa prisão feminina —, as reclusas tomaram o controlo da cadeia num movimento caótico e só depois decidem elaborar uma lista de reivindicações. Da razoável amnistia para as revoltosas ou melhores serviços de saúde, até à irrealizável câmara de gravidade zero ou a presença de Beyoncé, a lista era grande. Famosa ficou a reivindicação dos snacks Flaming Hot Cheetos e Takis corn tortillas de uma das presas, que tanto pode ser visto como um disparate completo como uma demonstração de dignidade individual, no mundo despersonalizado da cadeia. Um pouco como toda a lista. O conjunto de reivindicações dos “coletes amarelos” que colocaram novamente Paris em estado de sítio não anda muito longe do das personagens da série da Netflix. À inicial reivindicação contra o aumento do diesel juntaram-se exigências como o fim da austeridade, a protecção da indústria francesa, mais estacionamento gratuito no centro das cidades, mais meios para a psiquiatria, fim dos subsídios vitalícios dos presidentes, nenhuma pensão abaixo dos 1200 euros. . . A lista é interminável e reflecte não só as características inorgânicas do movimento como um mal-estar perante linhas de força da nossa contemporaneidade como a globalização, a concentração populacional nos grandes centros urbanos, a imigração ou o descrédito nas elites e na classe política. Uma reacção nada distante do que tem tido tradução eleitoral noutros países, dos EUA ao Brasil. O autor do livro Smartphone Democracy: Digital Populism from Trump to Macron acha que o Presidente francês foi atingido por uma “revolta camponesa digital sem rosto”, e sublinha a ironia: “A insurgência dos ‘coletes amarelos’ é um produto dos mesmos fenómenos que o levaram ao poder — o descrédito no sistema e a capacidade de as pessoas comunicarem através das redes sociais e de se organizarem espontaneamente. ”São tempos no fio da navalha os que vivemos, para os quais é difícil ter um roteiro predeterminado. Mas é a altura certa para perceber se Emmanuel Macron consegue ultrapassar o juízo pessimista que a revista Economist reserva para quase todos os presidentes franceses. O de que as intenções reformistas normalmente anunciadas no início de mandato são boas, mas é preciso saber resistir à contestação da rua. Em Orange Is the New Black, as reclusas tiveram de se contentar com tampões gratuitos, Flaming Hot Cheetos e Takis corn tortillas.
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Entidades EUA
Apple vai investir mil milhões em novo campus no Texas
Instalações vão ter espaço para 15 mil funcionários. A empresa já foi acusada por Donald Trump de não investir nos EUA. (...)

Apple vai investir mil milhões em novo campus no Texas
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.136
DATA: 2018-12-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Instalações vão ter espaço para 15 mil funcionários. A empresa já foi acusada por Donald Trump de não investir nos EUA.
TEXTO: A Apple anunciou que vai construir um novo campus em Austin, no Texas. O investimento de mil milhões de dólares ocupará uma área de 53 hectares e permitirá albergar 15 mil funcionários. As instalações da empresa na cidade já têm 6200 pessoas, o que a torna a segunda maior infra-estrutura da Apple nos Estados Unidos – depois do Apple Park, em Cupertino, na Califórnia, a sede inaugurada no início do ano passado e que tem capacidade para 12 mil funcionários. A Apple é uma das empresas mais ricas do mundo, com um montante em caixa estimado em 243 mil milhões de dólares. Parte dessa fortuna está ser aplicada nos Estados Unidos, em linha com as intenções do presidente norte-americano, que fez do investimento interno uma das bandeiras do mandato. O director executivo da Apple, Tim Cook, tem sido muito crítico de algumas posições do presidente Trump, nomeadamente em relação às políticas de imigração. Por outro lado, a empresa é acusada há anos de não investir no país, ao canalizar a produção para a China. O comunicado desta quinta-feira não sugere que essa realidade esteja para mudar, mas este anúncio de investimento ajudará a apaziguar relações. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A infra-estrutura concentrará os departamentos de engenharia, investigação e desenvolvimento, finanças, vendas e apoio ao cliente. Com o novo campus, a empresa espera tornar-se no maior empregador privado da cidade. O comunicado reforça o investimento da empresa nos Estados Unidos e a intenção de construir e expandir instalações e equipas em cidades como Seattle, Nova Iorque, São Diego e Pittsburgh, ambicionando criar 20 mil novos postos de trabalho até 2023. O investimento inclui ainda um reforço dos data centers, com a expansão dos centros na Carolina do Norte, Arizona e Nevada, e a criação de um novo no estado do Iowa. Nestas infra-estruturas serão aplicados dez mil milhões de dólares nos próximos cinco anos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave imigração
Só a Liga italiana promove menos jovens do que a portuguesa
Estudo, que abrange 31 campeonatos europeus, aponta para uma diminuição generalizada do espaço reservado para os jogadores da formação. (...)

Só a Liga italiana promove menos jovens do que a portuguesa
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.033
DATA: 2018-12-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Estudo, que abrange 31 campeonatos europeus, aponta para uma diminuição generalizada do espaço reservado para os jogadores da formação.
TEXTO: A tendência é generalizada no continente europeu e os números da última década estão aí para o comprovar: a promoção dos jovens talentos às primeiras equipas das principais Ligas é hoje pouco mais do que uma miragem. Um estudo realizado pelo Observatório do Futebol (CIES) traduz um decréscimo transversal desta aposta nos 31 campeonatos analisados e coloca Portugal no penúltimo lugar dos países que melhor aproveitam os jogadores formados localmente. Antes de mais, enquadremos a definição aplicada pelos investigadores aos futebolistas em causa. Seguindo a interpretação da UEFA, para este exercício são considerados os atletas que representaram o clube em causa, pelo menos durante três épocas, entre os 15 e os 21 anos. E o que o CIES conclui é que de 2009 até hoje se registou uma quebra de 6, 3% na utilização dos jovens da formação nas Ligas de topo do continente, com a agravante de a diminuição ocorrida ter atingido o pico justamente na última época (1, 6%). Geograficamente, também é possível separar as águas. O Norte e o Centro da Europa distinguem-se como as regiões com maior número de jogadores formados localmente nos plantéis dos clubes da I Liga, ainda que a quebra ao longo da última década (mais de 8%) tenha sido mais acentuada que a média dos 31 campeonatos. No polo oposto está, precisamente, o Sul da Europa, com a Série A italiana na cauda da tabela, contabilizando apenas 7, 4% de jovens talentos no degrau mais alto do calcio. Portugal surge logo a seguir, com 7, 7% de aproveitamento contabilizado no passado dia 1 de Outubro, que representa uma queda de 2, 2 pontos percentuais face à média da última década. O perfil de país exportador de talento ajuda a explicar o fenómeno, na medida em que os jogadores abraçam cada vez mais cedo uma carreira no estrangeiro, também fruto de uma prospecção mais profunda e precoce aplicada pelos clubes - 9, 6% dos atletas que "emigraram" em 2018 eram menores de idade, quando há dez anos essa relação era de 8, 2%. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. De todo o modo, esta "regra" do mercado não abafa uma outra, a de importar futebolistas em grande escala. Ao contrário do que acontece com a ligação entre os plantéis principais e os produtos da formação, a Liga portuguesa surge no topo da hierarquia quando o parâmetro é o número de estrangeiros inscritos. Actualmente, os futebolistas nascidos fora do país representam bem mais do que metade dos plantéis (61, 3%), colocando Portugal no quinto lugar de uma tabela liderada por Chipre (66, 2%), mas que tem a poderosa Premier League (62, 7%) logo no segundo lugar. De resto, entre as cinco mais fortes Ligas do continente (as chamadas Big Five), três apresentam mais estrangeiros do que jogadores nacionais. Para além de Inglaterra, a Itália (56, 5%) e a própria Alemanha (50, 8%) intensificaram as contratações de atletas de outras paragens, ainda assim denotando um crescimento mais modesto que o português relativamente à média da década (passou de 54, 8% para os tais 61, 3%). Outro dado relevante do estudo prende-se com a mudança de perfil dos futebolistas contratados fora de portas, já que se constata um crescimento relevante de jogadores saídos de outros campeonatos europeus (um fluxo intracontinental) e uma redução, ainda que não muito expressiva, de contratações realizadas em qualquer outra confederação. Nessa perspectiva, os mercados brasileiro e sul-americano parecem estar a perder algum terreno.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave ajuda estudo
Ser estudante universitário…
Nunca pensei, que aos 18 anos estivesse preocupada com aquilo que se irá passar daqui a três anos quando acabar a minha licenciatura (...)

Ser estudante universitário…
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-21 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181021191256/https://www.publico.pt/n1825119
SUMÁRIO: Nunca pensei, que aos 18 anos estivesse preocupada com aquilo que se irá passar daqui a três anos quando acabar a minha licenciatura
TEXTO: Ser estudante universitário hoje é um pesadelo. Se por um lado há a pressão de querer acabar o curso, por outro lado há a tensão de querer que este se prolongue à espera que tenhamos emprego. Por outro lado, o pensamento leva-nos para se temos ou não condições para pagar as propinas ao longo de todos os anos de curso, ou por outro se a capacidade económica familiar comporta este encargo. Estes e muito mais pontos contribuem para a instabilidade emocional que é causada em grande parte dos estudantes universitários. Nunca pensei, que aos 18 anos estivesse preocupada com aquilo que se irá passar daqui a três anos quando acabar a minha licenciatura. É horrível pensarmos como é possível, que alguém que tenha acabado de sair da adolescência tenha que se preocupar se irá ter emprego ou não. Pode parecer precipitado, mas é dos assuntos mais marcantes nas faculdades, e preocupa em muito os jovens de hoje em dia. Portugal situa-se em quinto lugar com maior taxa de desemprego da União Europeia, realmente só nestes rankings é que nós estamos em lugares de top. 12, 4% é o numero divulgado pelo Eurostat, e é este o número que mais me preocupa a nível de continuidade, relembro que a ultima vez que soubemos o valor correspondente à taxa de desemprego este se situava nos 11, 9%. No meu caso específico, estudante de enfermagem, sei que hoje em dia a possibilidade de ir para fora do país é maior até que a probabilidade de ficar e arranjar emprego, até porque já há estatísticas que apontam que o número de enfermeiros que emigraram se situa nos 20 mil. Se tivéssemos evidências que a taxa de desemprego é causada pelo facto do nosso sistema de ensino ser deficitário, mas na realidade não é isso que se passa. Temos um sistema de ensino bom, mas depois a ligação e a ponte com o emprego não se vê essa eficiência. Logo significa que o desemprego se deve a medidas de austeridade criadas, e que obrigam a que hoje em dia, os jovens acabados de tirar um curso no ensino superior, só lhes sejam reconhecidos quando emigrem para outros países. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No meu caso específico, estudante de enfermagem, sei que hoje em dia a possibilidade de ir para fora do país é maior até que a probabilidade de ficar e arranjar emprego, até porque já há estatísticas que apontam que o número de enfermeiros que emigraram se situa nos 20 mil. Por outro lado, nestes últimos tempos, deparei-me com uma realidade muito próxima, a desistência de jovens dos seus cursos por falta de capacidades económicas. Trata-se claramente de algo que deveria revoltar qualquer um neste país. Trata-se de desperdiçar pessoas que conseguiram entrar, com esforço próprio, nos cursos de ensino superior, mas que depois foram obrigados a largar os seus sonhos só devido unicamente a uma coisa que rege toda a nossa sociedade, o dinheiro. Como dizia uma musica do Tiago Bettencourt, “Porque eu não me escolhi/Para a fila do pão”, e a verdade seja dita e redita. Não fomos nós, os jovens desta sociedade, que comprometemos o “hoje”, e não fomos nós que hipotecamos o nosso “futuro”. A confiança inter-geracional quebrou-se por completo, já não há condições de termos a confiança que antes existia na sociedade, de pais para filhos, e que a guiava.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave desemprego
O que é ser populista?
Usar técnicas e formas populistas não faz um populista. É preciso mais. Mas a ideologia não conta. (...)

O que é ser populista?
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Usar técnicas e formas populistas não faz um populista. É preciso mais. Mas a ideologia não conta.
TEXTO: Para um político ser considerado populista tem de reunir uma série de características expressas nos conteúdos das suas propostas, mas também na forma como são apresentadas. Nesta caracterização, “a ideologia não é marcante, pode ser de esquerda ou de direita”, explica Susana Salgado, investigadora do ICSTE, precisando que “o populismo é vazio e é preenchido no momento, de acordo com as necessidades, podendo mudar”. Santana Pereira, investigador de ICS, explica que o “populismo na forma” se concretiza por “uma excessiva simplificação do discurso, uma grande agressividade na polarização da sociedade e o aperfeiçoamento de mecanismos de comunicação”. E afirma: “Não vejo estas três características nos líderes portugueses, não aos níveis trampianos ou bolsonarianos. ”Já quanto ao conteúdo, Santana Pereira sublinha, que ele se baseia “na dicotomia entre elite má e povo”. E Susana Salgado, acrescenta: “Uma característica essencial no populismo é a dicotomia entre o nós e o eles. Na extrema-direita, eles são os imigrantes, e na extrema-esquerda, são os banqueiros, as elites privilegiadas”. Recorrendo aos critérios estabelecidos por Paul Taggart, Paula do Espírito Santo, investigadora do ISCSP, aduz outras características. “O populismo é hostil à representação política, os líderes apesar de serem eleitos são avessos à representação democrática, não acolhem a oposição”, garante. A “dependência da cultura da nação" e “a identificação com o espírito da mãe pátria, com o conceito supremo de nação, que não explicam”, é outra característica que funciona como “o fio condutor da sua acção, apresentando-se como salvadores da pátria”, acrescenta a investigadora do ISCSP. Uma terceira característica é “a falta de valores centrais”, já que nos populistas, “os valores são expressos de forma vaga”. Mas, refere, os populistas são também “vagos e limitados em termos políticos, são pouco acessíveis a grupos de apoio, auto centram-se, não assumem que têm colaboração de equipas”. Outro traço central é que o populismo é “a resposta em situações extremas de crise, os populistas surgem para ordenar a nação e expurgá-la de grupos que dizem que fazem mal à nação”, explica Paula do Espírito Santo, acrescentando uma última característica: “Tende a ser altamente camaleónico. Tem a ver com cada líder não há um modelo só. São líderes que se adaptam às circunstâncias. As suas ideias podem até mudar em função das circunstâncias”. Além disso os líderes populistas são quase sempre carismáticos, diz Paula do Espírito Santo, dando os “exemplos de [Marine] Le Pen, [Silvio] Berlusconi e [Hugo] Chávez”. Susana Salgado afirma mesmo: “Os populistas com carisma e resposta política de coerência e consistência, não são loucos, são políticos que têm a capacidade de ler o que são as ansiedades do eleitorado e dar resposta”. Mas adverte que “os populistas não são todos carismáticos da mesma maneira, uns são mais que outros, embora tenham sempre uma imagem forte. ”Da capacidade dos líderes populistas depende a “contaminação do debate político pelo populismo, tanto na forma como nos temas”, salienta Susana Salgado, frisando que “mesmos partidos que não o são, têm muitas vezes estratégias que podem ser consideradas populistas ou recorrem a temas”. A investigadora do ICS dá como exemplo o caso das últimas eleições polacas, ganhas por um partido populista. “Na campanha, os outros estavam de repente a debater os temas dos partidos populistas e a utilizar as suas estratégias, porque não queriam perder terreno no resultado eleitoral. Acaba sempre por haver contaminação. Depende do peso dos partidos. ”Paula do Espírito Santo salienta ainda o papel da comunicação social na construção de um projecto populista. “Um líder só é populista se os media lhe derem espaço, a sua construção faz-se pelos media”, defende, argumentando: “É a desconstrução do discurso do líder, que perpetua a sua mensagem mesmo que de forma negativa e crítica. O que somos hoje em democracia muito devemos aos media, mas acabam por dar visibilidade e transformam o fenómeno do populismo em bola de neve. Mas é um mal necessário, faz parte da democracia. ” E exemplifica: “Trump usa os media que estão contra si. Ele é o centro e conduz a orquestra. Acaba por ser dominante. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Susana Salgado sublinha que, “em Portugal, o PNR é excluído dos media, há o travão dos jornalistas que dizem o que são os temas que não querem cobrir”. Uma situação que não acontece em muitos países. A investigadora do ICS refere que “isto é dinâmico e em evolução”, prevendo que nas europeias de Maio de 2019 “vai haver escape populista noutros países e cá pode surgir com mais espaço, mas depois nas legislativas baixará”. Isto acontece, porque, “os temas europeus tendem mais a isso e os eleitores estão mais livres para votar, muitos populistas têm sido eleitos para o Parlamento Europeu com agenda anti-Europa”, explica. Mas não acredita que haja tempo para vingar um projecto partidário populista já para o próximo ciclo eleitoral. Outro elemento central no que é hoje o populismo é o papel das redes sociais. “Em particular os populistas usam-nas, porque é uma forma de comunicar directamente sem passar pela mediação dos jornalistas, a mensagem não é editada, não usam as redes sociais para interagir, mas como forma de comunicação padrão”, diz Susana Salgado. Explicando que este meio permite a “comunicação directa e rapidez”, o que “pode acabar por inibir e influenciar o discurso político” e dar-lhe “características novas”. As novas redes sociais são agora determinantes, defende Susana Salgado. “Há diferenças na forma de comunicar das novas gerações. As redes sociais potenciam o populismo, que sempre houve, mas era mediado pelos jornalistas. Agora a opinião e a informação passa directamente e pode potenciar o populismo e ter impacto no discurso político, porque se pode dizer as maiores barbaridades sem travão, de forma inconsequente e sem responsabilização, porque a comunicação não é mediada pelos jornalistas”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura social
Duelo final em Washington: "O muro, ou um Governo paralisado?"
O Presidente Donald Trump aceitou o peso político de ser responsabilizado por um shutdown. Em troca, volta a entusiasmar a sua base de apoio com a luta por uma promessa que tem os dias contados. (...)

Duelo final em Washington: "O muro, ou um Governo paralisado?"
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento -0.12
DATA: 2018-12-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Presidente Donald Trump aceitou o peso político de ser responsabilizado por um shutdown. Em troca, volta a entusiasmar a sua base de apoio com a luta por uma promessa que tem os dias contados.
TEXTO: A uma semana de completar 700 dias na Casa Branca, e com o apoio das maiorias do Partido Republicano nas duas câmaras do Congresso, o Presidente Donald Trump ainda não conseguiu cumprir uma das suas promessas mais emblemáticas: a construção de um muro ao longo da fronteira com o México. Agora, quando faltam apenas duas semanas para que o Partido Democrata passe a controlar a Câmara dos Representantes, fechando as portas ao sonho de Trump pelo menos até ao fim do seu mandato, em 2020, o Presidente lançou um ultimato: ou o Orçamento de 2019 vem com a verba necessária para a construção do muro, ou grande parte das agências e departamentos do Governo será encerrada por tempo indeterminado, com centenas de milhares de funcionários empurrados para uma licença forçada e sem vencimento na época de Natal. O ultimato foi lançado na terça-feira, ao jeito de um Presidente habituado a usar as câmaras de televisão a seu favor e que tem no currículo vários anos como apresentador de um reality show. Sem que nada o fizesse prever, Trump abriu as portas da Sala Oval aos jornalistas no início de uma reunião com os dois líderes do Partido Democrata no Congresso, Nancy Pelosi e Chuck Schumer, e o que se seguiu foi uma troca de palavras, nunca antes testemunhada em directo pelo grande público, entre os mais poderosos líderes políticos do país — para além de Trump, Pelosi e Schumer, estava presente o vice-presidente, Mike Pence, que não disse uma única palavra durante os 16 minutos de conversa. Em causa estão as reais possibilidades de que seja construído um muro ao longo da fronteira com o México. Ainda que o Presidente Trump tenha dado a entender, em várias ocasiões, que isso ia acontecer "de uma forma ou de outra", a verdade é que só há uma solução que não implica longas batalhas judiciais e uma redefinição da autoridade de cada um dos poderes: a aprovação, no Congresso, de um orçamento para esse fim. Era isso que se esperava quando Trump venceu as eleições presidenciais e o Partido Republicano renovou a maioria nas duas câmaras do Congresso, em 2016. Mas se nem assim foi possível desbloquear verbas para o muro, então essa tarefa será impossível a partir de Janeiro, quando o Partido Democrata começar a travar, na Câmara dos Representantes, a esmagadora maioria das propostas da Casa Branca. Na reunião de terça-feira, a actual líder dos democratas na Câmara dos Representantes e provável speaker (presidente) a partir de Janeiro, Nancy Pelosi, desafiou Trump a aproveitar os dias que restam de maioria republicana naquela câmara para levar a votos uma proposta de Orçamento com verbas para a construção do muro — uma provocação feita em directo, quando se sabe que é muito provável que essa proposta seja derrotada com os votos contra de muitos no Partido Republicano e de todo o Partido Democrata. "Eu ganharia essa votação em dois segundos", disse Trump. "Então, faça-o", desafiou Pelosi. Mas Trump não vai fazê-lo porque, diz, são precisos 60 votos no Senado para confirmar a proposta e o Partido Republicano só tem 51 senadores. Chegados a este impasse, restava a Trump e ao Partido Democrata uma última cartada: estará o Presidente assim tão decido a rejeitar um Orçamento sem verbas para o muro, discutido a 21 de Dezembro, que aceita provocar a paralisação do Governo americano a partir do último fim-de-semana antes do Natal?Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. "Eu aceito vestir o manto do shutdown e não vou culpar-vos por isso. Vou paralisar [o Governo] para lutar por mais segurança na fronteira", disse Trump. A resposta chegou sem rodeios perante milhões de espectadores, e Chuck Schumer e Nancy Pelosi gostaram de a ouvir — historicamente, quem provoca um shutdown acaba por ser penalizado pela opinião pública. Para Trump, esta podia ser a única saída — com a garantia de que não vai ter verba para o muro, resta-lhe provar à sua base de apoio que está disposto a lutar até ao fim pela sua proposta mais emblemática. E foi isso que deu a entender no final da reunião: "Se tivermos de paralisar o país por causa da segurança na fronteira, essa é uma discussão política de que eu gosto. E acho que ganho sempre essa discussão", disse. Com um resto de mandato mais na defensiva, por causa da maioria do Partido Democrata na Câmara dos Representantes e das investigações sobre a Rússia, o Presidente norte-americano luta por uma grande vitória política nos próximos dias. E tem os seus apoiantes à espreita: "É agora, ou nunca", disse ao The New York Times RJ Hauman, da Federação para a Reforma da Imigração. "Seria uma derrota se Trump não cerrasse fileiras para cumprir a sua principal promessa de campanha. "
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Palavras-chave imigração
Dídio Pestana em Locarno: a intimidade on the road
Conhecêmo-lo como cúmplice de Gonçalo Tocha, com quem tem uma amizade que se estendeu ao cinema e à música. Encontramos agora Dídio Pestana, músico e homem do som, como cineasta em nome próprio: Sobre Tudo Sobre Nada, a sua primeira longa, foi aceite a concurso em Locarno. (...)

Dídio Pestana em Locarno: a intimidade on the road
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-08-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Conhecêmo-lo como cúmplice de Gonçalo Tocha, com quem tem uma amizade que se estendeu ao cinema e à música. Encontramos agora Dídio Pestana, músico e homem do som, como cineasta em nome próprio: Sobre Tudo Sobre Nada, a sua primeira longa, foi aceite a concurso em Locarno.
TEXTO: Pelo meio das imagens de muito mundo que compõem Sobre Tudo Sobre Nada, há uma passagem por um longo túnel, e depois as paisagens solares do Lago Maggiore, pano de fundo do festival de cinema de Locarno. As imagens datam de 2011, quando Dídio Pestana acompanhou o amigo e cúmplice Gonçalo Tocha ao certame suíço para apresentar É na Terra, Não É na Lua, diário de um ano passado na ilha açoriana do Corvo. Sete anos depois, essas imagens rodadas em Locarno vão ser projectadas no local onde foram filmadas: Sobre Tudo Sobre Nada tem estreia mundial esta quinta-feira, dia 2, na 71. ª edição de um festival que tem premiado regularmente o cinema português, e está a concurso na secção de “vanguardas” Signs of Life. É estranho pensar neste “diário filmado” em Super 8, que o seu realizador define como “próximo e íntimo”, como filme “de vanguarda” ou “experimental” – mesmo que Dídio, em entrevista por Skype a partir de Berlim, fale às tantas de Jonas Mekas (referência que não é nada descabida). Mas, independentemente da secção, a atenção de Locarno a filmes pessoais, diferentes, “fora do baralho”, torna-o no festival certo para receber Sobre Tudo Sobre Nada. “Os festivais também são uma questão de sorte”, diz, “mas começou a fazer algum sentido ver o filme em Locarno por causa dessa memória do É na Terra”, que também teve estreia mundial numa competição paralela do festival suíço (Cineastas do Presente, dedicada a primeiras obras, na qual recebeu uma menção honrosa). Pestana ri-se com a coincidência, pela qual, de certa maneira, “culpa” Tocha, com quem trabalhou em todos os seus filmes mas de quem é amigo desde há muito mais tempo, “desde os tempos da faculdade”. “Foi o Gonçalo que me disse: 'por que é que não fazes uma nova montagem do filme, mandas para Locarno e vês o que é que acontece?'. E obriguei-me a fazer uma montagem e mandei. . . ”Já voltamos a esta questão do “obriguei-me a fazer uma montagem”, mas as coincidências festivaleiras e o facto de Dídio Pestana ter feito Sobre Tudo Sobre Nada quase inteiramente sozinho torna inevitável relacioná-lo com É na Terra, Não é na Lua. É também injusto, pois Pestana partilha com o filme de Gonçalo Tocha apenas a dimensão pessoal do olhar – a primeira longa do homem do som é um “diário” de imagens registadas em Super 8 durante quase uma década, ao longo de viagens com epicentro em Berlim (onde reside desde 2006) e que vão da Dinamarca aos Açores, da Guiné-Bissau ao Chile. Mais do que um simples diário de viagem, Sobre Tudo Sobre Nada é também um confronto com a memória – a da sua família, à sombra do pai falecido, e a sua própria, dos romances que foi vivendo e dos amigos que foi fazendo, muitos dos quais aparecem nas imagens. Para além de Tocha, com quem mantém o duo musical Tochapestana, passam por Sobre Tudo Sobre Nada uma série de artistas e cineastas com quem Pestana tem laços pessoais e profissionais, como Mariana Caló e Francisco Queimadela, Filipa César, Marta Leite, Catarina Miranda ou Pedro André (aliás, a página Internet do filme em www. sobretudosobrenada. com reenvia para os sites individuais de cada um). Uma geração global e cosmopolita que, para Pestana, é uma inspiração permanente – “estás sempre a aprender coisas, ou pelo menos deverias se não estiveres fechado!” – mas onde, apesar de se a sua saída de Portugal para procurar outras oportunidades, será excessivo ver referências à crise. “Fui para Berlim em finais de 2006. A crise já não era uma miragem mas também ainda não era o que foi, e acho que a geração de pessoas que saíram não é assim tão diferente das anteriores que emigraram. Têm é uma vivência diferente, até porque hoje há uma circulação no espaço europeu completamente diferente. ”O resultado é um filme profundamente pessoal, onde Pestana se expõe muito visivelmente. “Mas não sinto essa exposição, se calhar porque só o mostrei ainda em contextos pequenos. A intenção inicial foi sempre fazer uma coisa próxima, íntima. Não é por acaso que as primeiras filmagens que faço são de uma relação que estava a começar. Quando vou pela primeira vez visitar a minha namorada [da altura] a Copenhaga, já vou com intenção de filmar. ”A opção pela rodagem em Super 8 e não em digital fez também parte dessa lógica de impor limites, como explica o realizador. “Foi uma opção deliberada. A razão estética não é a mais importante – se bem que tenha a ver com a questão da intemporalidade do material: é um formato mais associado a um passado longínquo, e quando a uso para filmar coisas de um passado mais recente cria um espaço um pouco mais perdido. [A escolha] teve a ver com questões práticas, eu já tinha antes feito experiências em digital e percebi rapidamente que me perdia muito. Podia filmar tudo. O Super 8 é um formato que me permite organizar-me, obriga-me a tomar decisões: 'filmo ou não filmo?' No digital não tens isso. Acabo por ter de escolher no momento o que quero filmar. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Essa passagem do tempo de que Pestana fala acabou igualmente por se tornar parte integrante da própria textura do filme, cujo processo de decantação foi naturalmente longo. “Eu diria que a montagem já começou há dois ou três anos”, com a ajuda do montador Rui Ribeiro, diz. “Tínhamos trabalhado juntos no É na Terra, e gosto muito da maneira de trabalhar dele. Fizemos aí uma primeira meia hora – foi o início do processo, que depois passou por várias fases. ” E é aqui que entra a tal questão do “obriguei-me a fazer uma montagem” que deixámos há bocado atrás: “No fundo, eu preciso de prazos. Estou sempre a dar-me prazos para ir avançando. A primeira versão do filme, ainda um bocado longe do que está agora, acabou por fazer parte de um mestrado que eu estava então a fazer [em estudos sonoros na Universidade das Belas-Artes de Berlim], como desculpa para ir avançando com a coisa. . . ”No fundo, Sobre Tudo Sobre Nada foi um work-in-progress permanente onde iam sempre surgindo mais momentos – até um ponto em que, literalmente, o próprio filme disse “já chega”. “Sim, podia ter filmado mais, mas nos últimos anos senti que não precisava", explica. Como se o diário – ou pelo menos esta parte do diário – se encerrasse ali. “Exacto. O filme tinha um tempo natural para fechar, e quando filmei este ano as últimas imagens, aquilo que lhe fazia falta, senti que tinha chegado ao fim. ”Agora, Sobre Tudo Sobre Nada começa, em Locarno, outra vida. “E espero que tenha uma boa vida, que seja visto e circule. ”
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