Soberania e nação na América? Mas isso são ideias europeias…
A teoria clássica da soberania do Estado é, nos seus traços fundamentais, muito francesa e indiscutivelmente europeia. (...)

Soberania e nação na América? Mas isso são ideias europeias…
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: A teoria clássica da soberania do Estado é, nos seus traços fundamentais, muito francesa e indiscutivelmente europeia.
TEXTO: 1. O discurso de Donald Trump na 73. ª Assembleia Geral das Nações Unidas teve, como era previsível, significativas repercussões internacionais. “Nunca vamos entregar a soberania da América a uma burocracia global não eleita, que não presta contas. A América é governada por americanos. Rejeitamos a ideologia do globalismo e abraçamos a doutrina do patriotismo”, afirmou Donald Trump. Acrescentou ainda: “Reconhecemos o direito de todas as nações nesta sala de definirem sua própria política de imigração, de acordo com seus interesses nacionais. Assim como pedimos aos outros países que respeitem o nosso próprio direito de fazer o mesmo” […]. “Essa é uma das razões pelas quais os EUA não participarão no novo pacto global sobre migrações. As migrações não devem ser governadas por um órgão internacional, que não presta contas aos nossos cidadãos. ” (Ver “Na ONU, Trump defende soberania norte-americana em detrimento de acordos e fóruns globais” in ONUBR, 25/09/2018). Em defesa da soberania e do interesse nacional Donald Trump invocou ainda a “doutrina Monroe”, enunciada por James Monroe, presidente dos EUA no século XIX, numa mensagem ao Congresso em 1823 (o que ressoa bem no público norte-americano): “Julgarmos propícia esta ocasião para afirmar, como um princípio que afecta os direitos e interesses dos EUA, que os continentes americanos, em virtude da condição livre e independente que adquiriram e conservam, não podem mais ser considerados, no futuro, como susceptíveis de colonização por nenhuma potência europeia […]”. Mas estará Donald Trump, na sua lógica egoísta de soberania e patriotismo, tão isolado mundialmente e imbuído de uma visão do mundo passadista, como parece aos olhos dos europeus da União Europeia?2. Uma das poucas coisas em que os EUA, a Rússia e a China actualmente estarão de acordo é na defesa da sua própria soberania e na necessidade de incrementar valores patrióticos nos seus países. Na Rússia, Vladimir Putin tem feito diversas declarações inequívocas nesse sentido. (“Ver Putin: ‘Russia will be a sovereign state or cease to exist’” (RT News, 5/12/2014). Recentemente, afirmou que se a Rússia tiver de escolher entre o investimento estrangeiro e a independência escolherá esta última, ou seja, a independência e uma soberania plena, sem hesitações. É uma rejeição clara do globalismo e da lógica liberal do comércio internacional actual. (Ver “Putin: Choosing between sovereignty and investments, Russia will choose independence” (Tass, 25/05/2018). Quanto à China, apesar da abertura dos mercados internacionais ser altamente conveniente, e necessária, às suas exportações, está na mesma linha política. É intransigente no princípio de defesa da soberania do Estado, do qual a não ingerência estrangeira é uma faceta fundamental. Assuntos como os direitos humanos, o Tibete ou a situação da minoria uigur do Xinjiang, são exclusivos da sua soberania interna. (Ver “The politics of non interference – A New World Order” (China Daily, 25/01/2016). Para além de tornar o princípio da soberania estadual — e não-ingerência externa que lhe está associado —, uma trave-mestra da sua diplomacia, a China pretende agora estendê-lo à soberania na Internet, a maior realização tecnológica do globalismo contemporâneo. (Ver “Xi Jinping renews ‘cyber sovereignty’ call at China’s top meeting of internet minds” (South China Morning Post, 3/12/2017). 3. Ironicamente, as ideias de soberania nacional e patriotismo, que muitos hoje vilipendiam na União Europeia e Ocidente, são ideias originalmente europeias e com longo enraizamento. A teoria clássica da soberania do Estado é, nos seus traços fundamentais, muito francesa e indiscutivelmente europeia. Inicialmente foi elaborada pelo jurista francês Jean Bodin no último quartel do século XVI, num trabalho intitulado Les Six Libres de la Republique / Os Seis Livros da República (1576). Na sua formulação, a soberania foi concebida como um poder absoluto e perpétuo, sem igual na ordem interna, que só se relacionava com poderes idênticos na ordem externa. Foi na Europa do século XVII, com os Tratados de Vestefália, na Alemanha (1648), pondo fim à Guerra dos Trinta Anos, que se deu a progressiva institucionalização da teoria da soberania do Estado. Isso ocorreu, em grande parte, sob impulso da França, em ascensão a grande potência europeia e mundial. Foi nesse contexto histórico que o Estado soberano, dotado de um poder entendido como absoluto e exclusivo sobre um território e população, se afirmou, primeiro em toda a Europa, e, posteriormente, pela influência europeia, no resto do mundo. A ideia é hoje rejeitada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, que defende o multilateralismo numa lógica de soberania partilhada, em rota de colisão com as ideias soberanistas absolutas de Donald Trump. (Ver “A l’ONU, Emmanuel Macron appelle à ne pas suivre ‘la voie de l’unilatéralisme’”, Le Monde, 25/09/2018). 4. “Allons, enfants de la Patrie, Le jour de gloire est arrivé !”, é a bem conhecida primeira estrofe da Marselhesa, a canção patriótica da Revolução Francesa, escrita por Rouget de Lisle (1792) e posteriormente adoptada como hino nacional na França. Tal como a soberania, a nação e o patriotismo são ideias políticas muito francesas (e bem europeias). Têm um primeiro momento fundamental nas guerras, qualificadas como patrióticas, dos revolucionários franceses de 1789. É também ao francês Ernest Renan, na muito citada conferência da Universidade de Sorbonne (“O que é uma Nação?”, Paris, 1882), que se deve aquela que é, provavelmente, a formulação mais conhecida e influente de nação. Para Ernest Renan, nação era “uma grande solidariedade, constituída pelo sacrifício dos sacrifícios feitos e dos que ainda se está disposto a fazer”. Assim, embora supondo um passado, exprime-se “no presente, por um facto tangível: o consentimento e o desejo claramente expresso de prosseguir a vida em comum. A existência de uma nação é um plebiscito de todos os dias”. É também aos europeus, agora sobretudo aos alemães, que se deve outra variante da concepção de nação de tipo etno-cultural, ou etno-linguístico. Johann Gottlieb Fichte nos “Discursos à Nação alemã” (Universidade de Berlim, 1807), identifica-a com uma língua que reflecte o génio da nação e regula os seus costumes. Esta concepção impulsionou a formação de uma Alemanha unificada no século XIX (1871), alterando, radicalmente, o mapa político europeu, ao criar um grande e poderoso Estado no seu centro — e levou a uma hostilidade aberta com a França, que perdeu a Alsácia-Lorena nessa altura. 5. Em todo o século XIX e primeiras décadas do século XX os norte-americanos afastavam-se e rejeitavam esse mundo criado pelos europeus, de jogos de poder, de guerras, de diplomacia secreta — um mundo politicamente imoral. A criação da Sociedade das Nações (SdN, 1919), uma ideia do Presidente dos EUA da época, Woodrow Wilson — o embrião da actual Organização das Nações das Nações Unidas, do multilateralismo contemporâneo e de novas formas de partilha de soberania —, foi vista com grande cepticismo por muitos europeus na época. No debate político e intelectual foi descredibilizada como um utopismo de consequências nefastas: não impediu a engrenagem político-militar que levou à II Guerra Mundial. Hoje, os papéis de ambos os lados do Atlântico parecem invertidos. Os europeus da União Europeia — ou melhor, da parte ocidental da União Europeia, pois no Centro e Leste europeu a percepção é outra —, acusam os EUA de Donald Trump de fazer algo semelhante ao que os europeus do século anterior faziam. Tal como os norte-americanos dessa época, vêem-se, agora, imbuídos de elevados princípios morais, humanistas e liberais-internacionalistas (na versão actual consubstanciados nos direitos humanos, no multilateralismo e na ideia de um património comum da humanidade, por exemplo no ambiente). A soberania, o patriotismo e a ideia de uma America first indigna-os. Mas talvez os europeus se estejam a ver ao espelho e estejam a ter uma imagem do que foram no passado e talvez seja ainda, pelo menos uma parte, no presente. Quanto aos mais cínicos, dirão que a boa consciência europeia só veio quando os europeus perderam o poder e deixaram de ser “donos do mundo”, o que aconteceu após duas guerras no século XX, usualmente qualificadas como mundiais, mas essencialmente europeias. E que as ideias que agora defendem são à medida de potências menores, não de genuíno altruísmo. Provavelmente Donald Trump (EUA), Vladimir Putin (Rússia) e Xi Jinping (China) concordam nisso.
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Partidos LIVRE BE
Marcelo não duvida de solidariedade dos EUA como sucedeu há 60 anos
Estados Unidos autorizaram autorizaram, em 1957, a entrada de milhares de açorianos em solo americano após a erupção do vulcão dos Capelinhos. (...)

Marcelo não duvida de solidariedade dos EUA como sucedeu há 60 anos
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DATA: 2017-06-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Estados Unidos autorizaram autorizaram, em 1957, a entrada de milhares de açorianos em solo americano após a erupção do vulcão dos Capelinhos.
TEXTO: O Presidente da República disse não ter “a mínima das dúvidas” da solidariedade norte-americana hoje, como sucedeu há 60 anos, quando os Estados Unidos autorizaram a entrada de milhares de açorianos após a erupção do vulcão dos Capelinhos. “Não tenho a mínima das dúvidas, o peso da comunidade luso-americana é um peso que existe e que tem aumentado no tempo. E as relações são relações que, obviamente, explicariam uma solidariedade idêntica ou maior, mas não vamos esperar que aconteça nada de parecido”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa. O chefe de Estado respondia aos jornalistas, após visitar o Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos, na Horta, ilha do Faial, quando questionado se a solidariedade norte-americana de há 60 anos, após a erupção, era possível hoje. Na sequência da erupção, em 1957, o Congresso dos Estados Unidos aprovou o “Azorean Refugee Act”, permitindo a milhares de açorianos emigrarem para aquele país, incluindo cerca de metade da população do Faial. A este propósito explicou que esta iniciativa resultou de uma proposta, entre outros, do senador John F. Kennedy, que viria a ser eleito presidente dos Estados Unidos da América. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Marcelo Rebelo de Sousa apontou outra curiosidade: “A votação está subscrita pelo então vice-presidente Richard Nixon”, para acrescentar “veja bem as voltas que o mundo dá”. O chefe de Estado admitiu que “seria a coisa mais absurda do mundo” estar no Faial e não ir “a um ponto que foi crucial na vida da ilha, da futura região autónoma – que não existia ainda – e foi um marco na vida do país”. “Mais, um marco em termos internacionais, porque se tratou de um tipo vulcão diferente que a comunidade científica conheceu e conheceu pela primeira vez”, adiantou.
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Palavras-chave comunidade
Ausências de Rui Chafes em diálogo com pinturas antigas em Paris
Artista expõe esculturas recentes na Galerie Mendes, no âmbito da iniciativa Lusoscopia, que mostra arte portuguesa a pretexto da Noite Europeia dos Museus. (...)

Ausências de Rui Chafes em diálogo com pinturas antigas em Paris
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.1
DATA: 2017-07-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Artista expõe esculturas recentes na Galerie Mendes, no âmbito da iniciativa Lusoscopia, que mostra arte portuguesa a pretexto da Noite Europeia dos Museus.
TEXTO: A exposição Ausências (Absences), de Rui Chafes, abre esta quarta-feira ao público, na Galerie Mendes, em Paris, com esculturas recentes a dialogarem com quadros clássicos e a transformarem "a noção visual" que opõe antiquários a galerias de arte contemporânea. O escultor, que foi Prémio Pessoa em 2015, teve "carta branca" para "dar uma volta no espaço" da galeria, e optou por "uma redução total" do número de obras antigas expostas. "Isso é um processo muito curioso, porque tem exactamente a ver com essa noção visual que um antiquário tem, que é diferente de um galerista de arte contemporânea. Os antiquários, normalmente, estão muito cheios e têm muitos estímulos visuais. Aqui, quis exactamente o contrário, quis esvaziar tudo e concentrar cada pintura, cada escultura no vazio", explicou Rui Chafes à agência Lusa. Para a exposição Ausências: Rui Chafes - Diálogo com mestres antigos, as quatro salas da galeria habitualmente repletas de quadros clássicos apresentam oito obras do escultor, realizadas entre 2013 e 2016, e cinco quadros dos séculos XVI e XVII. Na primeira sala, duas colunas pretas com as dimensões do artista, Este é o meu corpo I e Este é o meu corpo II (2015), estão colocadas face ao quadro O incêndio de Tróia, de Diogo Pereira (século XVII), enquanto na sala ao lado as máscaras Doce e Mortal V, Doce e Mortal VI e Doce e Mortal VIII (2016) estão afixadas em frente à pintura de uma caveira, Memento Mori (século XVII). No outro lado da rua Ponthièvre, outra sala expõe duas esculturas suspensas, Carne Misteriosa e Carne Invisível (2013), entre dois quadros de Crucificação, um do pintor italiano Luca Cambiaso e outro da Escola Florentina do século XVII. Uma quarta sala, quase sem luz, apresenta a escultura Murmúrio XII (2015), perto da pintura Agnus Dei (século XVII), e provavelmente da autoria de Josefa d'Óbidos ou do seu pai, Baltazar Gomes Figueira. "Estive a escolher as obras que me pareceram que faziam um diálogo com as pinturas, e também estive a escolher as pinturas. No fundo, a ideia era, desde o início, criar um diálogo com a pintura antiga. Primeiro fizemos uma escolha das pinturas que me interessavam mais para criar esse diálogo e, de acordo com as peças que eu tinha pensado, fizemos uma selecção e fomos afinando", continuou Rui Chafes. O artista disse ainda que o título da exposição – Ausências – se explica porque "são tudo ausências", desde "a história da crucificação", às caveiras que evocam a morte, ao incêndio e à ruína, assim como à "ideia de um véu que tapa a imagem". O galerista luso-francês Philippe Mendes, que escolheu o título, acrescentou que "tudo aqui é isso", com "a ideia de esvaziar a galeria e ter poucas obras, poucas presenças", com uma selecção de quadros que têm "uma componente religiosa muito forte" e "presenças que estão a fugir ou a desaparecer", e com obras de Rui Chafes "que têm alguma coisa de volátil". "Esta exposição é uma viagem com uma componente filosófica, e esta ideia de andar de um quadro para uma obra e não ter muitas coisas na apresentação ajuda mesmo a focar a atenção sobre o tema que o Rui quis dar à exposição", acrescentou o galerista residente em Paris, que se dedica à arte antiga e que recentemente ofereceu um quadro de Josefa d'Óbidos ao Museu do Louvre. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A exposição Ausências vai ficar patente até 30 de Junho, inserida na programação de Lusoscopia - Artistas Portugueses em Paris, uma iniciativa do Centro Cultural Camões em Paris, na qual várias galerias da capital francesa expõem, a partir desta quarta-feira, obras de artistas portugueses como Adriana Molder, Ana Léon, Arpad Szenes, Bela Silva, Jorge Martins, Jorge Molder, Manuel Cargaleiro, Maria Beatriz, Maria Helena Vieira da Silva, Maria Loura Estêvão, Michael Biberstein, Miguel Branco, Rodolphe Bouquillard e Rui Moreira. A 18 de Maio, no Instituto Goethe de Paris, vai ser exibido, pela primeira vez em França, o filme Durante o Fim (2003), de João Trabulo, um documentário sobre o trabalho de Rui Chafes. O artista, que em 2008 instalou uma escultural monumental em Champigny-sur-Marne em homenagem à emigração portuguesa, está a preparar uma nova exposição em Paris para Setembro de 2018, na delegação francesa da Fundação Calouste Gulbenkian, tendo também agendadas exposições em Nova Iorque e na Alemanha para o mesmo ano.
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Palavras-chave morte escola ajuda carne corpo
João Ribas: um mediador com jardim ao fundo
Passou pelo Drawing Center e o List Art Center. Foram 27 anos nos Estados Unidos. Agora está em Serralves. (...)

João Ribas: um mediador com jardim ao fundo
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Passou pelo Drawing Center e o List Art Center. Foram 27 anos nos Estados Unidos. Agora está em Serralves.
TEXTO: Ernst Bloch escreveu que nem todas as pessoas existem no mesmo agora e, quando o cita, João Ribas aponta para o Parque de Serralves através de uma das janelas do museu: “Diferentes coisas são contemporâneas em diferentes momentos e lugares. Esse choque de tempos é muito interessante. E que melhor lugar para o pensar do que aquele em que a paisagem está sempre a mudar? Em Serralves, o parque é como um relógio. Aqui à volta, a natureza mostra o tempo a mudar. Há os grandes momentos, das viragens de estação, mas a cada segundo alguma coisa está sempre a mudar. Há árvores que são muito antigas e flores que estão a acabar de abrir. É incrível. ”Ribas tem 36 anos. Nasceu em Braga, mas passou últimas quase três décadas nos Estados Unidos, onde construiu o seu percurso até agora, primeiro na crítica de arte e, depois, em cargos de curadoria em instituições como o MIT List Arts Center, o centro de artes visuais do famoso Instituto de Tecnologia de Massachusetts, em Cambridge (2009-2014), e o The Drawing Center, de Nova Iorque (2007-2009). Inicialmente estagiário de Carolyn Christov-Bakargiev no P. S. 1, em sete anos recebeu quatro prémios para melhor exposição do ano atribuídos por observadores como a delegação norte-americana da Associação Internacional de Críticos de Arte. E estamos a falar dos Estados Unidos, onde a competição é feroz. Entretanto, no fim do ano passado chegou ao Porto como adjunto da nova directora do museu, Suzanne Cotter. Afinal, o que o trouxe a Portugal? Que faz ele aqui?Aventamos a hipótese de já nem ser bem português, mas ele recusa. “Sou português, nasci em Portugal e tenho uma experiência completamente portuguesa, no sentido de ser imigrante. Também sempre senti e tive uma relação com a Cultura e a arte portuguesa, através de vários artistas portugueses com quem já trabalhei e com os quais tenho uma relação próxima. ”É a primeira parte da resposta. Na segunda surge o repúdio pela carga pejorativa face ao país que se insinua sempre que se pergunta a alguém porque decidiu voltar: “A pergunta implica que tudo o que está lá fora é bom e o que está cá dentro é mau. Não reconheço isso. Não existe. ” Depois há outra questão – ele não está “a voltar”: “Sou uma pessoa diferente da que era quando sai de cá. Era uma criança. E hoje as condições do país também são completamente diferentes, em todos os sentidos – socialmente, economicamente, politicamente. São várias décadas de transformação. Nesse sentido, não se volta. Reanima-se uma relação, reinveste-se. ”Outra questão resvaladiça: a da falta de presença histórica dos artistas portugueses nos circuitos internacionais e da relativa invisibilidade a que a posição periférica do contexto nacional parece votar os seus agentes. Pessoas como ele. Ribas recusa. Depois de um período de uma certa ansiedade em marcar presença, diz que “a nova geração de artistas portugueses participa da cena internacional”. Sublinha também que, de qualquer forma, potenciar o grau dessa participação faz parte da sua missão – da missão de qualquer curador em qualquer lugar do mundo. “A minha responsabilidade é programar os artistas. É menos uma preocupação pessoal e mais uma ética da minha função. Tenho a certeza que qualquer artista português pode participar em qualquer bienal. Sem dúvida. Sempre achei que a arte portuguesa tem uma história importante e um potencial altíssimo. A nossa responsabilidade [no museu] é ajudar a esse conhecimento. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Serralves tem projecção internacional, um historial de ambição e um percurso nessa via de trabalho. “No corredor dos nossos gabinetes temos os cartazes das exposições que se fizeram aqui nos últimos 15 anos”, sublinha Ribas, “e é inacreditável o que lá está! Lygia Clark, Nan Goldin, Christopher Williams, Warhol, Claes Oldenburg. . . E depois os portugueses: René Bertholo, Alberto Carneiro, Ana Jotta…”Por outro lado, é pensar o curador como mediador: “Eu faço o que faço porque quero transmitir a energia, o prazer e o momento de clarividência de [estar frente a uma obra de arte e] ver o mundo como outra pessoa o vê. Quero que outros vivam essa experiencia afectiva, intelectual e sensorial, que sintam essa electricidade. Seja uma coisa que venha da Tailândia, de Coimbra ou Braga, a emoção é a mesma: a euforia, o nervosismo de querer partilhar. É por isso que faço isto. ”É uma história de “afectos mortos que têm de ser activados”. Fazer a mediação – entre a instituição e o artista, entre a obra e o espaço, a obra e o público… Mesmo o público muitas vezes esquecido pelos curadores: o infantil. “Este museu está cheio quase todos os dias. E a energia das crianças mal comportadas no espaço é incrível. Entram e ficam logo ou de olhos esbugalhados [de fascínio] ou a torcer o nariz [em recusa]. Provavelmente como curador não devia dizer isto, mas adoro quando desatam a correr pela rampa. Estão vivas. ”
REFERÊNCIAS:
É o alojamento local um problema exclusivo do centro histórico?
As mudanças em curso são muitíssimo rápidas, exigindo respostas tão imediatas quanto possível. Mas isto não dispensa uma reflexão mais estratégica sobre o que se pretende para a cidade. (...)

É o alojamento local um problema exclusivo do centro histórico?
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento -0.03
DATA: 2018-10-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: As mudanças em curso são muitíssimo rápidas, exigindo respostas tão imediatas quanto possível. Mas isto não dispensa uma reflexão mais estratégica sobre o que se pretende para a cidade.
TEXTO: Entra hoje em vigor a nova lei do Alojamento Local. As possibilidades introduzidas pela criação de áreas de contenção, a medida mais poderosa da lei, são muitas e estão agora nas mãos das autarquias. A pergunta é: o que vão fazer as autarquias com esta medida?A Câmara de Lisboa já tornou públicas as áreas de contenção para a cidade: Bairro Alto/Madragoa e Castelo/Alfama/Mouraria. É importante salientar que a CML propõe para estes dois núcleos uma delimitação bastante abrangente, que inclui um conjunto significativo de áreas que extravasam muito os seus limites formais: no primeiro núcleo, inclui-se, por exemplo, o Chiado, o Príncipe Real, a Bica, o Cais do Sodré, entre outros; já no segundo, incluem-se algumas zonas da Graça, Campo das Cebolas e outras. Em suma, de acordo com a informação publicada até ao presente e resultante do Estudo Urbanístico do Turismo em Lisboa, tudo indica que estamos perante uma proposta positiva que abrange uma parte significativa do chamado centro histórico da cidade: as zonas presumivelmente mais apetecíveis para o turista e aquelas que se encontram, de facto, mais saturadas de Alojamento Local. Ainda assim, e face a esta opção, a questão que se coloca é se o Alojamento Local é um problema exclusivo do centro histórico ou se é um problema da cidade. É seguramente um problema da cidade. O que aqui se propõe é uma análise do panorama geral de Lisboa, bairro a bairro, que permita perceber, para além da intensidade do AL, as suas lógicas de expansão na cidade. Uma análise que alimenta uma abordagem mais global da questão, e com outras ambições: garantir a prazo algum equilíbrio social, funcional e ambiental das várias zonas da cidade, pensadas de forma interdependente e numa lógica de conjunto. É dessa análise, realizada no âmbito de uma investigação que temos em curso, que retiramos um conjunto de observações baseadas no rácio utentes AL/ residentes, indicador que permite, em parte, aferir o impacto real do AL no tecido social dos bairros. O seu cálculo baseou-se nos Censos 2011 e no Registo Nacional de Alojamento Local de 30 de Setembro de 2018, sobre os bairros da cidade delimitados pela CML (Departamento do Espaço Público). É verdade que os Censos já vão longe e os seus dados estão desatualizados, mas: 1) são a fonte mais fidedigna sobre a população residente; 2) a probabilidade de, nos últimos anos, se assistir a um decréscimo de população na generalidade destes bairros, faz com que os valores apresentados estejam, possivelmente, abaixo da situação real. A análise do mapa, que delimita apenas os 56 bairros de Lisboa onde os utentes de AL representam, pelo menos, 20% do número de residentes, mostra a relevância do fenómeno tanto em extensão, como em intensidade. Quanto à extensão, a presença de AL já atinge de forma significativa cerca de 25% dos bairros da cidade. Quanto à intensidade, existem já 14 bairros onde o número de utentes de AL é superior ao número de moradores. Deste conjunto, destaca-se, em primeiro lugar, o eixo Avenida da Liberdade-Baixa Pombalina-São Paulo-Aterro da Boavista (Cais do Sodré e a Av. 24 de Julho, do Mercado da Ribeira a Santos): neste eixo, para cada 100 habitantes existem entre 200 a 460 utentes. Os restantes dez bairros (onde para cada 100 habitantes existem entre 100 a 199 utentes de AL) situam-se quase todos nas fronteiras do eixo referido, mas são bastante heterogéneos: englobam bairros históricos populares, como Alfama ou a Bica, e bairros originalmente mais “burgueses”, como o Chiado, Santos ou Santa Catarina. Grande parte destes bairros incluem-se nas áreas de contenção definidas pela CML e outros na lista dos territórios em monitorização. Daqui resultam algumas questões. Em primeiro lugar, e no que toca às áreas de contenção agora anunciadas, prevê a autarquia medidas compensatórias não apenas para estancar, mas para inverter, em parte, a situação atual (por exemplo, estímulos à habitação acessível)? Já a lista das áreas em monitorização levanta outras dúvidas. Primeira: o que se entende por monitorizar? Segunda: qual a periodicidade, metodologia e que informação será considerada? Terceira: quem monitoriza? Quarta: essa monitorização será tornada pública? Quinta, e talvez a mais importante: não é a monitorização uma necessidade aplicável a toda a cidade para se perceber o desenvolvimento do fenómeno e, em particular, os impactos colaterais nos diversos territórios de Lisboa resultantes da contenção do AL nas zonas mais saturadas?O destaque deste top-14 não pressupõe a desvalorização do problema nos bairros dos escalões seguintes (entre 99 e 20), pelo contrário. Mas aqui vale a pena ter um outro olhar: um olhar centrado nas lógicas de expansão do fenómeno, focando as zonas que têm passado mais despercebidas à opinião pública e ao debate político. Sublinhamos três tendências. A. Bairros de génese popular, mais ou menos contíguos ao circuito turístico dominante, mas fora dele, e por isso pouco alarmantes para a opinião pública porque bastante invisíveis. A freguesia de S. Vicente é nesta matéria muito sintomática com vários casos: o Bairro Operário, o Bairro Ermida ou a vila operária Estrela de Ouro, na Graça, neste caso revelando ainda o apetite turístico por cenários urbanos ilustrativos da identidade popular local. B. Bairros de dimensão considerável, maioritariamente construídos no início do século XX para a “pequena burguesia", que começavam a perfilar-se como muito atrativos para novos residentes: imigrantes e classes médias. É o caso do Bairro Camões junto à Avenida Duque de Loulé, o Bairro das Colónias, junto à Almirante Reis, ou Arroios, entre outros. Estes bairros, embora fora do circuito turístico dominante, têm uma localização central, em particular na freguesia de Arroios, sendo também a arquitetura dos seus edifícios portadora daquilo que em linguagem publicitária se costuma designar “a marca Lisboa”. C. Bairros tradicionalmente ocupados por classes de estatuto mais elevado, construídos entre finais do século XX e os anos 1940, que na segunda metade do século XX foram perdendo habitação para serviços e hotelaria, situação também visível no grupo anterior. Fora do tradicional centro histórico, são também bairros centrais, na continuidade, sobretudo a Norte, do Eixo da Avenida, a saber: Picoas/Avenidas Novas, Castilho-Rodrigo da Fonseca, Parque e Bairro Barata Salgueiro. A situação anteriormente relatada tem uma outra implicação no tecido urbano: o esvaziamento dos serviços a favor da residencialização de alta rentabilidade, destinada a AL ou a habitação, mais ou menos permanente, de “luxo”. É notória a transformação de edifícios de escritórios, relativamente recentes, em edifícios residenciais, aspecto que terá sido também apontado no Estudo Urbanístico do Turismo em Lisboa. Nas últimas décadas do século XX, a terciarização de Lisboa era vista como um problema relevante. Mas a total inversão dessa situação não o é menos. A turistificação residencial de determinadas zonas, assente na atratividade turística dos seus equipamentos, é a terceira tendência identificada e acontece já em Belém e envolvente, no Parque das Nações e na Gulbenkian/El Corte Inglês. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. As mudanças em curso são muitíssimo rápidas, exigindo respostas tão imediatas quanto possível. Mas isto não dispensa uma reflexão mais estratégica sobre o que se pretende para a cidade, sob pena de a condenar a um tratamento, senão paliativo, seguramente circunscrito: uma circunscrição espacial, centrada nos centros históricos, resultante de uma outra mais estrutural – o entendimento do Alojamento Local como um problema exclusivamente turístico e relativamente desconectado do imobiliário. Não pondo em causa a pertinência da proposta apresentada pela CML, que deverá ser implementada a curto prazo, era importante aproveitar esta oportunidade para ir um pouco mais longe: o que não significa necessariamente criar mais áreas de contenção, mas um plano geral para a cidade. Plano que articule a questão do AL com outras que com ele se relacionam direta ou indiretamente e que, no limite, resultam da inserção abrupta da cidade nos circuitos globais do turismo de massas e, não menos importante, nos do imobiliário. As autoras escrevem segundo o novo Acordo Ortográfico
REFERÊNCIAS:
Engenhos explosivos enviados para Hillary Clinton, Barack Obama e CNN
Agência Reuters desmente que tenham sido enviados pacotes suspeitos para a Casa Branca. Na segunda-feira foi encontrado outro explosivo em casa do multimilionário George Soros. (...)

Engenhos explosivos enviados para Hillary Clinton, Barack Obama e CNN
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: Agência Reuters desmente que tenham sido enviados pacotes suspeitos para a Casa Branca. Na segunda-feira foi encontrado outro explosivo em casa do multimilionário George Soros.
TEXTO: Os serviços secretos dos EUA anunciaram esta quarta-feira que foram encontrados "pacotes suspeitos" entre o correio do ex-Presidente Barack Obama e da antiga secretária de Estado e candidata à presidência, Hillary Clinton. Os jornais norte-americanos avançam que os pacotes suspeitos continham engenhos explosivos semelhantes ao que foi encontrado entre o correio do multimilionário George Soros, na segunda-feira à noite. Ao início da tarde foi também noticiado que houve um alerta de bomba no edifício da Time Warner, em Nova Iorque, onde funcionam três estúdios da CNN. O canal norte-americano avançou que a sua redacção foi evacuada por precaução. Horas depois, o governador do estado de Nova Iorque, Andrew Cuomo, indicou que o seu gabinete em Manhattan também teria recebido uma encomenda armadilhada, mas a informação acabaria por ser desmentida. Cuomo e Bill de Blasio, mayor da cidade de Nova Iorque, qualificaram as acções desta quarta-feira como uma tentativa de acto terrorista. Entretanto, no estado da Florida, a polícia estadual investigava uma encomenda recebida no gabinete local da congressista democrata Debbie Wasserman, antiga presidente do Comité Nacional Democrata. Os engenhos suspeitos começaram a ser recebidos na segunda-feira, quando um pacote endereçado à casa de George Soros em Bedford, no estado de Nova Iorque, foi detectado por um funcionário e mais tarde detonado pela polícia, que confirmou tratar-se de uma bomba de fabrico artesenal. Esta quarta-feira foi noticiado que dois engenhos semelhantes, também de fabrico artesanal, foram enviados a Clinton e Obama – o primeiro foi descoberto na terça-feira à noite e o segundo na manhã desta quarta-feira. Mais tarde, a CNN avançou que foram interceptados outros engenhos semelhantes endereçados à Casa Branca, mas a agência Reuters desmentiu essa informação, citando uma pessoa envolvida nas investigações. "No dia 23 de Outubro de 2018, à noite, os Serviços Secretos recuperaram um pacote endereçado à antiga primeira dama Hillary Clinton em Westchester County, Nova Iorque. Esta manhã, dia 24 de Outubro de 2018, os Serviços Secretos interceptaram um segundo pacote endereçado ao antigo Presidente Barack Obama, em Washington D. C. ", lê-se num comunicado dos serviços secretos norte-americanos. No comunicado, lê-se que os funcionários que fazem a triagem do correio identificaram os dois pacotes suspeitos como sendo possíveis engenhos explosivos. "Condenamos os violentos ataques lançados recentemente contra o Presidente Obama, o Presidente Clinton, a secretária [de Estado] Clinton e outras figuras públicas", disse Sarah Sanders, porta-voz da Casa Branca. "Estes actos aterrorizantes são desprezíveis e os responsáveis serão punidos pela lei. Os Serviços Secretos dos Estados Unidos e outras forças de segurança estão a investigar e vão tomar todas as medidas necessárias para protegerem quem for ameaçado por estes cobardes. "Mais tarde, o vice-presidente norte-americano Mike Pence qualificou estas acções como "cobardes" e "desprezíveis" numa mensagem partilhada no Twitter que foi posteriormente repartilhada por Donald Trump: "Concordo inteiramente". Donald Trump Jr. , o filho mais velho do Presidente norte-americano, também reagiu às ameaças, com uma mensagem partilhada no Twitter: "Como alguém cuja família foi vítima directa destas ameaças por correio, condeno os responsáveis independentemente do seu partido ou ideologia. Esta porcaria tem de acabar e eu espero que os responsáveis acabem na cadeia por muito tempo. "Hillary Clinton, alvo de uma das encomendas, reagiu à tentativa de ataque num comício em Miami. "São tempos conturbados, não são? São tempos de divisões profundas e temos de fazer tudo ao nosso alcance para voltar a unir o país", declarou. Na noite de terça-feira foi encontrada uma bomba de fabrico artesanal entre o correio do multimilionário George Soros, na sua casa em Bedford, no estado de Nova Iorque. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O engenho foi descoberto por um funcionário e levado para uma zona afastada da casa. Mais tarde, a polícia confirmou que continha um engenho explosivo de fabrico artesanal. George Soros tem contribuído para causas consideradas progressistas, mais ligadas ao Partido Democrata. Essa influência valeu-lhe o ódio da direita norte-americana, passando a ser o centro de inúmeras teorias da conspiração sem fundamento, ou comprovadamente falsas. Por estes dias é acusado de financiar a caravana de imigrantes sul-americanos que se dirige para a fronteira dos Estados Unidos com o México.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
PCP fala em depressão do sector produtivo, Governo responde com aceleração económica
"Apanhámos um comboio a desacelerar e o comboio está hoje a acelerar e a crescer 2,8%", afirmou o ministro da Economia. (...)

PCP fala em depressão do sector produtivo, Governo responde com aceleração económica
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.2
DATA: 2017-07-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: "Apanhámos um comboio a desacelerar e o comboio está hoje a acelerar e a crescer 2,8%", afirmou o ministro da Economia.
TEXTO: O PCP traçou hoje um cenário de depressão dos sectores produtivos portugueses, fruto de constrangimentos externos e da "política de direita" de PS, PSD e CDS-PP, enquanto o Governo assumiu a paternidade de uma economia em aceleração. "Décadas de política de direita, os Pactos de Estabilidade e Crescimento e o pacto de agressão subscrito por PS, PSD e CDS com a 'troika' e aplicado pelo Governo PSD/CDS, com entusiasmo e toda a brutalidade que se conhece, conduziram Portugal à dependência, às injustiças e ao atraso", afirmou o deputado comunista Francisco Lopes, num debate parlamentar de interpelação do PCP ao executivo sobre produção nacional. O ministro da Economia, Caldeira Cabral, preferiu citar os dados positivos da economia e rejeitou tratar-se de uma trajectória herdada do executivo anterior, salientando o "crescimento do investimento, emprego e exportações num conjunto diversificado de setores". "As empresas portuguesas conseguiram reverter a desaceleração que vinha de 2015, voltando a acelerar o investimento, o emprego e as exportações. Há um ano, a economia estava a crescer 0, 9%, hoje está a crescer três vezes mais. Apanhámos um comboio a desacelerar e o comboio está hoje a acelerar e a crescer 2, 8%", afirmou. O responsável da Economia elogiou a "política responsável que, ao mesmo tempo que promoveu melhores condições para o investimento, repôs rendimentos, contribuindo para reforçar a confiança de consumidores e empresas e, ao mesmo tempo, conseguiu o que muitos disseram ser impossível - reduzir o défice público para o mais baixo dos últimos 43 anos (2, 1%) e o melhor saldo externo dos últimos 22 anos", além do "crescimento trimestral mais elevado desde 2007". "O crescimento da economia portuguesa acelerou e atingiu máximos dos últimos nove anos. Aconteceu apenas depois do actual Governo estar em funções, não vem do passado. Aconteceu ao mesmo tempo que o crescimento se manteve na Europa, não foi a conjuntura europeia que mudou", vincou Caldeira Cabral. Francisco Lopes, embora reconhecendo as "medidas de defesa, reposição e conquista de direitos que, ao contrário do proclamado por PSD/CDS, contribuíram e contribuem para o crescimento e desenvolvimento económico", traçou um cenário de depressão dos setores produtivos e estratégicos da economia nacional. "Em 2016, o país estava ainda abaixo do que produzia em 2005, mais de uma década perdida", lastimou, referindo as diversas privatizações, os "valores recorde de desemprego" - "que continua estruturalmente elevado" -, a "emigração de centenas de milhares de trabalhadores", a diminuição dos salários e os "2, 6 milhões de portugueses que vivem ainda abaixo do limiar da pobreza". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Para o dirigente do PCP, "por muito importante que seja o crescimento económico neste ou naquele trimestre, tal não pode servir para ocultar a necessidade de medidas que assegurem um desenvolvimento sólido e consistente: a "libertação da submissão ao euro" e "instrumentos de chantagem associados", a "renegociação da dívida pública", o "controlo público da banca" e a "defesa e promoção dos sectores produtivos" (minério, mar, indústria agroalimentar, energias renováveis, turismo). O ministro da Economia destacou o crescimento nas exportações de vários sectores de actividade: 22% em produtos metálicos, 16% no sector químico, 18% nos produtos alimentares e, "mesmo o turismo, que já estava a crescer 9, 7%, passou para 12, 4%". O membro do Governo socialista destacou ainda a "forte ênfase no crescimento futuro" (qualificações, modernização administrativa e excessivo endividamento), classificando-a como "uma reforma estrutural extremamente importante", citando o conjunto de programas que estão já accionados como o "Capitalizar", "Qualifica" ou "Simplex", sem esquecer o investimento nas novas tecnologias e na digitalização da economia.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PSD PCP
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A mobilidade é condição de acesso à saúde, à educação, às demais prestações sociais do Estado; pressuposto de todas as políticas públicas, deve colmatar as falhas destas e procurar que a mobilidade espacial não precluda a mobilidade social. (...)

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MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-12 | Jornal Público
SUMÁRIO: A mobilidade é condição de acesso à saúde, à educação, às demais prestações sociais do Estado; pressuposto de todas as políticas públicas, deve colmatar as falhas destas e procurar que a mobilidade espacial não precluda a mobilidade social.
TEXTO: Em 1999, descia a Avenida da Boavista de eléctrico, ia ver o mar na hora do almoço. Em 2001, quando começava o meu trabalho, na Rua de Ceuta (onde acabariam de rebentar o túnel), fui também trabalhar para Lisboa. Chegar a Campanhã era uma aventura. O trabalho em gestão urbana pediu a teoria que enquadrasse a prática, ou a fizesse questionar, e fui fazer uma pós-graduação (no fim, questionei ambas). Triangulava entre Porto, Coimbra e Lisboa e o início e o fim da viagem só não eram problema em Lisboa, ainda que com interfaces humanamente falhados, arquitectónica e urbanamente tristes. Com mais trabalho, rendi-me a andar com a roda no ar. Os pais deram-me um carro a diesel, com 130. 000 quilómetros, não imaginando que fizesse outros tantos. Viajava depois do último comboio e de trabalhar, amiúde, mais de 12 horas. Ia ver pais, avós, amigos, cheirar o sargaço na Apúlia. Com o carro, abarcava um terço do país. Mas deixei de debulhar três livros em oito dias, além dos jornais. Deixei a conversa dos diferentes comboios: deputados no alfa-pendular, militares, trabalhadores da CP, estudantes e emigrantes ilegais, no inter-cidades e no inter-regional. Custou-me também não dormir: viajando de comboio, completava o sono que faltara na noite. Acabei a estudar mobilidade num doutoramento. Deparei-me com o facto de um carro (T0 em movimento?) ser visto como uma redoma, que serve para pensar em todas as amarguras e resolvê-las. Quem vive ao volante julga mandar na sua vida, pelo domínio aparente que essa liberdade de movimento confere — poder, a qualquer hora, ir a todo o lado. A dada altura, pertence mais ao lugar em movimento do que à origem ou ao destino. Conduzir é não ler, não escrever, ouvir apenas a sua voz, a do auricular ou a da telefonia. A viagem de carro confere a quase ubiquidade, mas leva o sono, o rendimento adicional conferido por essa mobilidade e traz a indisponibilidade para o que quer que seja no fim. Na viagem solitária, perde-se a percepção da realidade, dada pelo confronto temporário e contido com o outro, com o que isso implica de confiança e de aceitação, que os transportes colectivos, espaços de confinamento, com códigos escritos e silentes de actuação, são lugares de debate, cumplicidade e levantamento — de urbanidade e de cidadania, portanto. Tal como as ruas de Ruy Belo, são os sítios “…onde passamos pelos outros/mas passamos principalmente por nós”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Questiono, pois, a aceitação do investimento privado no transporte individual, a par de mais um quarto de volta (desastrado e milionário) do Metro do Porto. Aquele investimento, de lucro privado, tem custos públicos: congestionamento das vias, aumento do tempo de viagem do transporte colectivo, emissões de carbono. Em desconformidade com o bom senso e a lei, aprovam-se, quase secretamente, projectos que contradizem as políticas de mobilidade apregoadas. Debitam estes projectos para eixos estruturantes, prevendo sérias dotações de estacionamento, sem estudos de impacto e planos de mobilidade: Campo 24 de Agosto, Bonjardim, 5 de Outubro, Amial, Arrábida. Quem promove investimentos privados desta envergadura devia ter noção da entropia que gera; e quem aprecia, ciente da entropia de todos, deveria recusar. Articular mobilidade-habitação-emprego é de elementar prudência e todos estes empreendimentos falham-no clamorosamente. A mobilidade é condição de acesso à saúde, à educação, às demais prestações sociais do Estado; pressuposto de todas as políticas públicas, deve colmatar as falhas destas e procurar que a mobilidade espacial não precluda a mobilidade social. Nos retratos em estúdio, dizia-se “Stand still, keep going”, expressão que serviu de mote a uma exposição de Robert Frank. No cartaz, havia duas fotografias da mudança de posição do carreto de uma máquina de escrever – parado, no momento do arranque, em movimento, no percurso da escrita. Paremos, pois, para podermos continuar e começarmos então, como ensina Molder — que isto assim não pode seguir.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei campo educação social
Portugueses são os europeus que mais acreditam que Deus fala com eles todos os dias
Apesar de 94% dos portugueses afirmarem terem sido criados na fé cristã, uma grande percentagem (48%) afirma ser católico não-praticante. (...)

Portugueses são os europeus que mais acreditam que Deus fala com eles todos os dias
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-07-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: Apesar de 94% dos portugueses afirmarem terem sido criados na fé cristã, uma grande percentagem (48%) afirma ser católico não-praticante.
TEXTO: A maioria da população portuguesa (94%) foi criada na fé cristã e 83% chega à idade adulta com a mesma crença. Somos um dos países onde mais se baptizam as crianças: 95% dos portugueses dizem ser baptizados, uma das percentagens mais altas no contexto europeu – só Espanha nos bate, com 96% dos inquiridos a declararem ser baptizados. São os portugueses, no entanto, que mais acreditam que Deus fala com eles todos os dias. No total, 28% dos portugueses diz acreditar nisso. Os números são do Pew Research Center e desenham o retrato de uma Europa com crenças profundamente arreigadas na religião. De Abril a Agosto de 2017, o Pew Research Center conduziu um inquérito por telefone, em 15 países europeus, sobre a religião. Ao todo, foram entrevistados 24 mil adultos, sendo que 1501 dessas entrevistas foram conduzidas em Portugal. O objectivo era perceber quantos europeus se consideram cristãos, quantos deles se consideram cristãos não praticantes e quantos não professam uma religião. Na mesma entrevista, procuravam saber de que forma os europeus do Este olhavam para questões como a imigração, outras religiões (como a muçulmana e a judia), aborto ou casamento entre casais do mesmo sexo. Em termos europeus, a grande maioria (91%) afirmou estar baptizado mas não se descreve como cristão: “Alguns afirmam ter-se afastado gradualmente da religião, deixado de acreditar em ensinamentos religiosos, ou terem-se alienado por escândalos ou posições religiosas em questões sociais”, lê-se no estudo do Pew Research Center. Uma grande fatia da população (46%) também se define como católico não praticante. Portugal é um exemplo paradigmático: 35% da população é católica praticante; 48% não praticante, o que quer dizer que vai à igreja apenas um par de vezes por ano. Apenas 15% afirma não ter religião e identificar-se como ateia, agnóstica ou “nada em particular” e 2% tem outra religião. A única excepção a este cenário, em termos europeus, é Itália: 40% dos italianos vão à igreja, 40% são não-praticantes, 15% não têm afiliação religiosa e 5% professam outra religião. Os resultados do Pew Research Center indicam que a identidade cristã, na Europa, está associada a níveis elevados de sentimentos negativos em relação a imigrantes e minorias religiosas. Os cristãos praticantes entrevistados são também mais propensos a expressarem visões nacionalistas (72%) – crêem que a sua cultura é superior e que é importante ter família do seu país para se sentir um nacional. Não é o caso português. Em Portugal, apenas 35% dos cristãos praticantes disse acreditar que o Islão é “incompatível com a cultura e os valores do nosso país” tal como 26% dos cristãos não-praticantes e 25% dos não religiosos. Na Áustria, por contraste, 61% dos cristãos praticantes concordou com a afirmação, assim como 45% dos não praticantes e 35% dos não-crentes. O Pew Research Center salvaguarda, no entanto, que estes resultados foram recolhidos em 2017, altura em que uma vaga de imigração oriunda de países de maioria muçulmana chegou à Europa. Os muçulmanos constituem, actualmente, 4, 9% dos habitantes do "velho continente" e a percentagem tende a aumentar. Por outro lado, os investigadores do Pew Research Center identificaram uma correlação entre o nível de escolaridade e a aceitação de imigrantes e minorias religiosas: quanto mais a escolaridade, mais tolerantes. O facto de se conhecer (ou não) um muçulmano também alterava as percepções, perceberam os investigadores. Portugal, por seu turno, parece atribuir grande importância à identidade da família: 85% de cristãos praticantes acham que ter família portuguesa é muito importante para se ser mesmo português, assim como 82% dos cristãos não praticantes e 62% dos que não se identificam com nenhuma religiãoEm relação à separação entre o Estado e a religião, a maioria dos europeus (60%) acredita que a política deve estar separada da religião. Em Portugal, 20% dos não religiosos acreditam que as políticas governamentais devem basear-se nos valores religiosos do país. Já 52% dos cristãos que vão à missa acreditam no mesmo, assim como 38% dos cristãos não praticantes. A Finlândia coloca-se no extremo oposto ao de Portugal: apenas 2% dos não-crentes acreditam que não deve haver separação, assim como 38% dos católicos praticantes e 21% dos não praticantes. Também é na Finlândia que crentes e não-crentes mais parecem concordar que a Igreja tem um papel importante na ajuda aos mais necessitados: 74% dos não crentes acredita nessa afirmação, como 93% dos crentes e 89% dos cristãos não-praticantes. Em Portugal, 53% dos não-crentes concorda, 64% dos cristãos não-praticantes e 78% dos cristãos praticantes dizem que sim. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Portugal é um dos países europeus com uma percentagem mais alta de cidadãos criados na religião cristã – apenas 4% não foi criado na religião cristã. Os portugueses são também os que mais acreditam, a nível europeu, que Deus comunica com eles todos os dias: pelo menos 28%. Pelo contrário, apenas 3% dos suíços e dos britânicos acreditam nisso. Já na Áustria, pelo menos 73% dos cristãos praticantes acreditam que Deus fala com eles, 34% dos não-praticantes acredita no mesmo assim como 1% dos que não professam religião. A maioria dos portugueses que acredita em Deus (62%) acha também que os ajuda a distinguir o certo do errado. De todos os cidadãos europeus, são os portugueses que mais acreditam nessa afirmação. Os dinamarqueses, por seu turno são os que menos acreditam: apenas 41% diz que a religião os ajuda a distinguir acções correctas de acções erradas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave aborto imigração cultura ajuda sexo estudo casamento
Verde é a cor da mudança
Os comentadores que propagaram a narrativa nacional-populista vão talvez finalmente reconhecer que existe uma “onda verde”, mas chegam tarde ao fenómeno e não o compreendem verdadeiramente. (...)

Verde é a cor da mudança
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento -0.2
DATA: 2019-06-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os comentadores que propagaram a narrativa nacional-populista vão talvez finalmente reconhecer que existe uma “onda verde”, mas chegam tarde ao fenómeno e não o compreendem verdadeiramente.
TEXTO: Durante mais de um ano, pudemos ouvir comentadores de mais ou menos todos os meios profetizar que a política europeia iria ser dominada pela extrema-direita. Quem foi lendo esta crónica teve acesso a uma contra-narrativa: a de que vinha aí uma onda verde. Esta onda verde era prenunciada por excelentes resultados na Áustria, nos Países Baixos e no Reino Unido, e estruturada em torno de valores ecológicos e cosmopolitas, pró-europeus, pró-imigração e anti-austeridade, que se mantiveram constantes antes, durante e depois da crise. Agora os comentadores que propagaram (e por vezes fomentaram) a narrativa nacional-populista vão talvez finalmente reconhecer que existe uma “onda verde”, mas chegam tarde ao fenómeno e não o compreendem verdadeiramente.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave imigração