PS debate riscos do populismo e da sociedade digital
Socialistas debatem os riscos e os progressos da democracia. O populismo e a sociedade digital de um lado, do outro a conquista de direitos individuais. (...)

PS debate riscos do populismo e da sociedade digital
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Socialistas debatem os riscos e os progressos da democracia. O populismo e a sociedade digital de um lado, do outro a conquista de direitos individuais.
TEXTO: A edição de 2018 das conferências socialistas “pretende cruzar os velhos e os novos riscos para a democracia”, explicou ao PÚBLICO Rui Pena Pires, sociólogo e responsável pela formação política no PS, como membro da comissão permanente e do secretariado do partido. Em debate estarão o populismo e a nova sociedade digital. Sob o título de “As Liberdades Hoje. Velhos e novos riscos. Desafios e Progressos”, realiza-se este sábado, na Faculdade de Direito de Lisboa um debate que “não pretende ser académico e encontrar explicações, o objectivo é colocar estas questões na agenda política, pois os anos 30 do século passado mostraram que a desvalorização do que se passa é fatal”, argumenta Pena Pires. A escolha do tema do populismo deve-se, segundo o dirigente do PS, ao facto de “a evolução política por todo o mundo” demonstrar que “há uma imergência do fenómeno dos populismos autoritários, que são conhecidos do passado, hoje são diferentes, mas são demasiado iguais para serem olhados de ânimo leve”, garante Pena Pires. O populismo é “visível na América do Norte e do Sul, no Leste, nas Filipinas, o próprio Brexit tem contornos de populismo e até na social-democrata Suécia ele regressa”, sublinha o dirigente socialista, defendendo que “a deriva populista não é pontual, parece uma mancha de óleo que alastra”. Concluindo: “A difusão do populismo está a ser mais fácil do que estávamos à espera. ”O tema será abordado de manhã, no debate intitulado “O regresso de velhos riscos: os populismos nacionalistas” com intervenções de Augusto Santos Silva, Ministro dos Negócios Estrangeiros, e João Tiago Silveira, director do Gabinete de Estudos do PS, e com comentários do politólogo Tiago Fernandes. O populismo voltará a ser debatido da parte da tarde, especificamente na perspectiva dos “Desafios: o reconhecimento dos direitos dos migrantes”. Segundo Pena Pires, “a tendência tem sido responder aos populismos, assimilando a ideia de fazer dos imigrantes os bodes expiatórios das crises”. Ou seja, tem havido uma “aceitação das teses populistas sobre imigrantes, o que tem levado as populações a preferirem votar nos seus genuínos criadores”. Sobre esta questão intervirão Constança Urbano de Sousa, deputada à Assembleia da República, e José Leitão, director do Portugal Socialista, os comentários estão a cargo de Pena Pires. Além do regresso de velhos riscos, a conferência aborda os novos riscos emergentes. “Há hoje também ameaças menos visíveis associadas ao uso das novas tecnologias que aumentam o controlo, a vigilância e a manipulação, o exemplo é a interferência nas eleições norte-americanas”, afirma Pena Pires. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Assim, ao final da manhã, “Os novos riscos da sociedade digital” serão abordado pela politóloga Susana Salgado e pela secretária de Estado adjunta e da Modernização Administrativa, Graça Fonseca. Os comentários serão do sociólogo Gustavo Cardoso. Mas os socialistas vão também debater “o que de positivo tem surgido” salienta Pena Pires, explicando: “Vivemos um período sem paralelo no que é a eliminação das descriminações e o reconhecimento de liberdades individuais”. Para debater à tarde o tema “Progressos: o alargamento dos direitos individuais” estão previstas intervenções do deputado Sérgio Sousa Pinto e da historiadora Irene Pimentel. Os comentários serão do deputado Alexandre Quintanilha. A conferência que será aberta pelo presidente da Câmara de Lisboa e membro do secretariado do PS, Fernando Medina, e encerrada pela secretária-geral adjunta, Ana Catarina Mendes. Duarte Cordeiro vereador em Lisboa e presidente da Federação de Lisboa do PS abre a parte da tarde.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS
Itália é campeã dos casos de sarampo, mas Governo não quer vacinação obrigatória
Salvini e M5S querem acabar com lei que exigia vacinar crianças que entram na escola, no meio de uma grande polémica. (...)

Itália é campeã dos casos de sarampo, mas Governo não quer vacinação obrigatória
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.3
DATA: 2018-09-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: Salvini e M5S querem acabar com lei que exigia vacinar crianças que entram na escola, no meio de uma grande polémica.
TEXTO: Itália é o país da União Europeia que nos últimos dois anos teve mais casos de sarampo, e o novo Governo que une a Liga, de extrema-direita, ao anti-sistema Movimento 5 Estrelas (M5S) acaba de aprovar, no Senado, uma lei que elimina a obrigatoriedade de vacinar as crianças que entram no sistema de ensino. Só no Inverno passado houve mais de 5000 casos de sarampo em Itália – um ponto negro na Europa da transmissão desta doença altamente infecciosa. Mas o M5S tinha incluído no seu programa eleitoral eliminar a lei aprovada em Março pelo anterior Governo de esquerda para tornar obrigatória a vacinação contra dez doenças – entre as quais o sarampo. Prometeu e cumpriu, porque o Ministério da Saúde está nas mãos do M5S, e a Liga de Matteo Salvini também não compreende o princípio protector da vacinação. O ministro dos Negócios Estrangeiros e vice-primeiro-ministro, que costuma andar na ribalta por causa das questões de imigração, afirmou que ter dez vacinas obrigatórias “é inútil e pode ser perigoso”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O Senado aprovou a retirada da lei que deveria começar a ser aplicada neste ano lectivo por 148 votos a favor, 110 contra e três abstenções. Mas a câmara baixa do Parlamento italiano terá ainda de se pronunciar, e só o deverá fazer daqui a um mês, pelo que a nova lei, sem exigência de vacinação, só poderá ser aplicada a partir de 2019. Reina a confusão, até porque os governantes de algumas regiões administrativas italianas, nomeadamente as que são governadas pela esquerda, afirmam a intenção de recorrer ao Tribunal Constitucional para tentar que esta lei antivacinação seja revogada. Ou então prometem elaborar leis locais para que nas suas regiões as crianças tenham de estar vacinadas para entrar na escola. E chovem as condenações de médicos e cientistas, com apelos a que o Governo respeite a saúde das crianças – e a ciência. Em 2017, e até 31 de Maio 2018, a Itália foi o país com mais casos de sarampo. Durante o ano de 2018, teve 3697, seguida da Grécia (3039), França (2585) e Roménia (1198), segundo dados do Centro Europeu de Controlo e Prevenção das Doenças. Para interromper a corrente de transmissão do sarampo, é preciso que a cobertura da segunda dose da vacina atinja pelo menos 95% das crianças, dizem os epidemiologistas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei escola imigração tribunal negro doença
O populismo pode ser bom ou mau?
Em Portugal, temos a nossa realidade alternativa: uma espécie de populismo bom (existe?). (...)

O populismo pode ser bom ou mau?
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 5.551
DATA: 2018-09-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em Portugal, temos a nossa realidade alternativa: uma espécie de populismo bom (existe?).
TEXTO: O Presidente da República tão depressa tira selfies com o povo em romarias populares, eventos desportivos ou no final do seu mergulho matinal, como se senta à mesa de trabalho com líderes europeus e mundiais. Numa semana esteve com dois homólogos, da Rússia e dos EUA: Vladimir Putin e Donald Trump – ambos frequentemente descritos como políticos populistas e até inimigos da democracia. O politólogo João Tiago Gaspar escreveu em Março do ano passado que “os agentes populistas consideram que a sociedade está dividida em dois grupos homogéneos e antagónicos: a ‘elite corrupta’ e o ‘povo puro’”. Os bons e os maus. “Os líderes populistas assumem diferentes estilos. Mas todos projectam uma imagem cuidadosamente elaborada da vox populi”, acrescentou o cientista político que colabora com a Fundação Francisco Manuel dos Santos, numa outra forma de dizer que estão perto do povo. Esta proximidade com as pessoas reais, uma expressão que faz parte da narrativa populista, nota-se nos temas mais difíceis, mas também agremiadores: terrorismo, imigração, desemprego. Tudo o que pode preocupar o comum dos mortais. Por causa disso (ou apesar disso), a avaliação que se faz dos populismos não é positiva. Teme-se o seu avanço pela Europa, quase tanto como o fim dos partidos tradicionais, subitamente passados para segundo plano por personagens que gostam de dizer que não nasceram na política e não vivem para ela. A actual “era do populismo” é uma espécie de apocalipse. Mas como sempre, em Portugal, temos a nossa realidade alternativa: uma espécie de populismo bom (existirá?). Um chefe de Estado que é, sem dúvida, o político mais popular do momento, que passou anos a fio e entrar pela casa dos portugueses através da televisão antes de se transformar no Presidente dos afectos e que lê, melhor do que ninguém, a mente dos eleitores. Marcelo é popular, mais do que populista, é certo, mas não receia pegar nos temas que desagradam aos políticos e que agradam ao povo, como se escolhesse apoiar um lado no conflito ou na polémica: foi assim nos incêndios e em Tancos (faz agora um ano), por exemplo. Não foi assim em inúmeros outros temas, como o dos professores ou os aumentos na função pública. A verdade é que Marcelo Rebelo de Sousa escolhe quase sempre um lado e faz política. Não renega que nasceu nos partidos, mas passa o Natal nas zonas ardidas. Tão depressa frequenta os salões do Kremlin ou da Casa Branca como serve comida a sem-abrigo. É popular? É. E pode ser populista. A clarividência que muitas vezes demonstra distingue-o dos líderes populistas, a omnipresença aproxima-o. Já dizia o politólogo holandês Cas Mudde que o populismo, por si só, não é bom nem mau para o sistema democrático. Não é a embalagem, é o conteúdo. E nunca se sabe o que pode vir lá de dentro. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Se os populistas fossem todos iguais, a conversa que ontem passou nas televisões em directo, entre Donald Trump e Marcelo Rebelo de Sousa, provavelmente não teria acontecido da mesma maneira. Não teriam falado sobre imigrantes da forma que o Presidente português falou com o americano que ainda há dias estava a separar pais e crianças na fronteira. Mas falariam de clichés, como também aconteceu, quando Trump perguntou se Cristiano Ronaldo poderia candidatar-se contra ele. “Portugal não é os Estados Unidos", respondeu Marcelo, entre o desassombrado e o desafiador. Nota: Aproveito o espaço de hoje para lamentar um texto falhado que aqui escrevi há duas semanas. Falhado porque se preciso de o explicar agora – e provaram-me que sim – é porque a versão original não resultou. A tese defendida era a de que os emigrantes podem funcionar, no futuro, como uma nova "geringonça" para António Costa. Ao escrever que os cadernos eleitorais relativos à emigração subiriam de 300 mil para 1, 3 milhões de eleitores, não referi que o número de deputados a eleger serão os mesmos: quatro (o que fica muito aquém dos 36 que têm PCP, PEV e BE juntos, obviamente). O que eu queria dizer não era que os emigrantes vão eleger 36 deputados que podem ser a nova "geringonça", mas sim que com o PS a descer nas sondagens, mas ainda à beira da maioria absoluta (115+1), quatro deputados podem fazer a diferença.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PCP BE PEV
Do Martim Moniz ao Adamastor: Lisboa a ferver
Em Lisboa estamos num novo momento. As pessoas fartaram-se de ser receptores passivos, ou mesmo vítimas, das transformações e querem ser ouvidas. (...)

Do Martim Moniz ao Adamastor: Lisboa a ferver
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em Lisboa estamos num novo momento. As pessoas fartaram-se de ser receptores passivos, ou mesmo vítimas, das transformações e querem ser ouvidas.
TEXTO: Estava-se mesmo a ver. As mudanças em Lisboa nos últimos anos foram bruscas e aceleradas. O regozijo inicial deu lugar à apreensão e, agora, perante a inabilidade dos poderes públicos, está a gerar contestação. Foi isso que se sentiu nesta terça-feira na apresentação pública do novo projecto comercial para a Praça Martim Moniz, com a Câmara de Lisboa e o concessionário a serem alvo de duras críticas. E é isso que também se tem pressentido na abordagem ao caso do miradouro de Santa Catarina (Adamastor), que está vedado ao público desde o mês de Agosto. Nos dois casos reina a confusão e quase ninguém parece satisfeito. E, no entanto, era importante que se tirassem ilações do que está a acontecer. Em ambas as situações é nítido que a edilidade não está a conseguir ter uma leitura consequente da realidade. Ainda não percebeu que estamos num novo momento. As pessoas fartaram-se de ser receptores passivos, ou mesmo vítimas, das transformações e querem ser ouvidas. No Adamastor a edilidade, em vez de actuar com prudência, ouvindo previamente entidades públicas e privadas, activistas, associações ou instituições culturais, avançou a todo o vapor e o resultado está aí: passaram quatro meses, o lugar continua vedado aos cidadãos e, perante as críticas, a edilidade está agora a fazer o que deveria ter feito inicialmente: dialogar. No Martim Moniz não se quis cometer o mesmo erro. Mas a interlocução chega também tardiamente. Apresentou-se um projecto sem consulta prévia e o resultado está aí: outra embrulhada. Curiosamente, mas não por acaso, os dois imbróglios acontecem em pontos da cidade com uma forte identidade. O Adamastor, enquanto ponto de encontro interclassista e intercultural, marcado pela informalidade e pelas sociabilidades transitórias, e o Martim Moniz, identificado pelas vivências da população imigrante e das minorias étnicas. E também, não por acaso, em ambas as situações, estamos a falar de espaços que já foram alvo de diversas requalificações, argumentando-se, invariavelmente, para o concretizar das mesmas, com concepções enevoadas, como o mau ambiente urbano ou a degradação dos lugares, que cada um instrumentaliza como quer, sem que tenhamos acesso a dados credíveis que sejam apresentados de forma transparente e pública, não apenas sobre criminalidade, mas também sobre desertificação dos bairros, especulação imobiliária, impacto do turismo ou desagregação das redes de vizinhança. É preciso olhar para estas questões de forma integrada, ou então continuar-se-á a cometer os erros que nos fizeram chegar aqui. Uma praça penalizada A Praça do Martim Moniz foi sempre mal-amada, seja pela estética, seja pela função e utilização comercial e recreativa. Em 2007, numa eleição a que se atribuiu a designação Os Sete Horrores de Portugal, a partir de votação efectuada por leitores, baseados numa lista de arquitectos e urbanistas, a praça foi a mais penalizada. Na altura escrevi uma crónica a contrariar essa visão. E mantenho-a. Tornou-se banal desprezar a sua arquitectura, dominada pelos centros comerciais, que arruinariam a visão das colinas circundantes, impedindo a vista de uma Lisboa romantizada e medieval. Poderá não ser esteticamente harmoniosa, mas em relação a tantas outras praças foi sempre vivida, coisa rara em Lisboa, onde por norma os lugares semelhantes são áridos. O primeiro projecto para o local, de 1997, foi muito contestado pelas escolhas estéticas e funções, mas a praça foi sendo aos poucos apropriada por aqueles que viviam na área. Essa sempre foi a sua mais-valia — a reapropriação pelos que abrangem os interstícios da sociedade e da sua economia para descansar, estar, parar, continuar, jogar, brincar, habitar o espaço público — e também paradoxalmente o problema, porque aquilo que ali foi sendo experimentado parece não se adequar à idealização que alguns fazem do que deveria ser aquele sítio. Quando ocorreu, em 2011, a concessão a privados dos quiosques e do mercado, os discursos que se ouviram eram bem-intencionados, em prol da diversidade e da interculturalidade. No entanto, desde o início que foi visível um equívoco de base. Não só fica a ideia de que as dinâmicas ali pré-existentes – como a economia baseada na informalidade ou a específica realidade comercial local – nunca foram integradas, nem a população que ali vive ou transita estava representada nessa mesma lógica comercial. Desperdiçou-se o trabalho das comunidades e houve incapacidade em gerar um elo de ligação entre um projecto com algumas qualidades, mas que não teve em atenção as características da zona. A sensação que fica é a de que os diversos planos para a praça nunca tiveram em atenção a orgânica da área. É como se existisse uma Lisboa de elite que até tolera uma outra Lisboa mais remediada e informal, mas que ao mesmo tempo não quer ser confrontada com ela. Os argumentos para as diversas requalificações são sempre os mesmos, mistura de juízos estéticos e sociais. E a sensação que paira é que camuflam esse parecer de que a praça não deve ser dos imigrantes ou dos jovens. Põe-se em causa a forma como a reorganizam e habitam, quando isso só enriquecerá quem esteja disponível para contactar com a sua diferença e também dos outros. No Adamastor acontece exactamente o mesmo. Quatro meses depois de o espaço ter sido interditado ninguém usufruiu dele. Os visitantes ficam perplexos e os moradores dividem-se consoante a sensibilidade. Existe quem não consiga olhar para o problema de forma integrada — só se focando nos incómodos do pequeno tráfico de droga, defendendo qualquer tipo de solução casuística para o mesmo —, mas há também quem perceba que o que está em causa é mais do que um assunto de pequena criminalidade, por mais que este seja desagradável e deva ser combatido. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A este propósito, estes meses têm sido significativos. Se havia sensação de insegurança, ela só se intensificou, principalmente à noite, porque o local é agora um ermo. Ao mesmo tempo os pequenos traficantes vão-se deslocalizando. Agora estão em zonas onde toda a gente passa e com isso os níveis de agressividade aumentaram, entre quem solicita e é alvo de solicitações. Por outro lado, o barulho, nomeado e bem pela câmara como uma questão sensível, tendo em conta algumas das famílias que vivem em redor do miradouro, é hoje ocasional. Mas o paradoxo persiste, porque muitas mais famílias da zona se queixam do ruído permanente oriundo de estabelecimentos nocturnos que a mesma câmara licencia. Significa isto que, seja no Martim Moniz ou no Adamastor, as autoridades públicas não devem efectuar intervenções? Não é isso, claro. Mas o que estes dois casos estão a mostrar de forma evidente é que têm de o fazer com precaução, promovendo o diálogo e fazendo-o de forma límpida, ao mesmo tempo que é necessário ter em atenção as dinâmicas já existentes e não querer condicionar a utilização pública dos espaços privilegiando privados ou meras lógicas comerciais. Criar muros, restringir horários através de vedações, ou criar lógicas comerciais artificiais que não vão ao encontro do uso quotidiano dos lugares não parece ser a solução para uma cidade onde os valores da integração, da coesão social, da segurança e da convivialidade entre todos devem ser tidos em conta.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave social imigrante
Várias conservatórias encerradas devido a greve dos trabalhadores
Os trabalhadores do IRN têm previsto para esta segunda-feira uma concentração em frente do Ministério da Justiça. (...)

Várias conservatórias encerradas devido a greve dos trabalhadores
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento -0.07
DATA: 2018-08-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os trabalhadores do IRN têm previsto para esta segunda-feira uma concentração em frente do Ministério da Justiça.
TEXTO: Várias conservatórias estão encerradas, nomeadamente no interior do país, devido ao primeiro de cinco dias de greve dos trabalhadores do Instituto dos Registos e Notariado (IRN), segundo o dirigente sindical José Abraão. Em declarações à agência Lusa, José Abraão, da Federação de Sindicatos da Administração Pública e de Entidades com Fins Públicos (FESAP), indicou que algumas conservatórias em Coimbra, Bragança, Vila Real estão encerradas e que há constrangimentos nos serviços em Cascais. "Esta greve está a ter um impacto importante e muito significativo já no primeiro de cinco dias e estou convencido que vai em crescendo", disse nesta segunda-feira à Lusa. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Segundo o sindicalista, no interior do país é "onde se verificam mais diferenças salariais e a greve terá um impacto importante numa altura de muito trabalho devido ao regresso dos emigrantes, casamentos, registos automóveis, etc. ". Os trabalhadores do IRN têm previsto para esta segunda-feira uma concentração em frente do Ministério da Justiça e, no final da vigília, os representantes sindicais entregam uma carta com as principais reivindicações ao gabinete da ministra Francisca Van Dunem. Em causa está a revisão das carreiras e do sistema remuneratório, que os sindicatos defendem que deve ser feita em conjunto.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave concentração
Como a esquerda brasileira decidiu perder as eleições
O PT e a esquerda copiaram os erros dos democratas americanos no seu confronto com Trump. A sua estratégia eleitoral foi suicidária. (...)

Como a esquerda brasileira decidiu perder as eleições
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: O PT e a esquerda copiaram os erros dos democratas americanos no seu confronto com Trump. A sua estratégia eleitoral foi suicidária.
TEXTO: 1. Jair Bolsonaro ainda não foi eleito mas já venceu a campanha eleitoral. A uma semana do voto, tem uma vantagem de 18 pontos nas sondagens. Um indicador decisivo é a taxa de rejeição. Enquanto a de Bolsonaro permanece estável, nos 41%, a de Fernando Haddad subiu para 54%. Só um cataclismo poderia mudar o quadro. “Trinta anos após a promulgação da Constituição de 1988, a descida do Brasil à democracia iliberal não é inevitável. Mas é assustadoramente possível”, escreve na revista Valor Econômico Michael Reid. Redactor da The Economist, Reid acompanha há muitos anos a política latino-americana. Não é um catastrofista. Na semana passada, escrevi sobre a possibilidade de um regime autoritário no Brasil. É necessário olhar, agora, o confronto pelo lado da esquerda, que demora a compreender a mudança de época em que vivemos (ver V. Belanciano, PÚBLICO, de 14 de Outubro). Repito que é muito difícil explicar o que se está a passar e, menos ainda, antecipar o futuro. Mas é possível identificar alguns dos mecanismos em acção. 2. O primeiro é a polarização política, que se traduziu na batalha entre os dois candidatos com a mais alta taxa de rejeição. Não se trata de uma normal polarização eleitoral mas, na expressão do politólogo André Singer, de uma “polarização destrutiva”, em que se visa aniquilar o adversário. A polarização e a radicalização jogaram a favor de Bolsonaro. Quem iniciou a polarização, como método de vencer eleições, foi o Partido dos Trabalhadores (PT), com a sua estratégia do “nós ou eles”. Esta estratégia foi repetida após a destituição de Dilma Rousseff e acentuada com a prisão de Lula. Para impor a candidatura do líder e manter a hegemonia dentro da esquerda, o PT fez uma política de “terra queimada”, dando prioridade à marginalização das outras forças de esquerda. Como resultado, Haddad ficou sem margem de manobra para fazer alianças. A palavra de ordem “Lula é Haddad, Haddad é Lula” foi um sucesso para operar a transferência de votos de um para o outro. Mas, eleitoralmente, foi suicidária. Simultaneamente, o “improvável” Bolsonaro saía do seu gueto eleitoral e era transformado em candidato do establishment económico e político, porque assumiu o antipetismo de forma radical e mostrou ser o mais apto para bater Haddad. Foi o mesmo antipetismo que fundiu a direita tradicional e a extrema-direita numa frente ideológica designada por “nova direita”. 3. A polarização vem associada à “guerra cultural”. Assinala Fernando Schüler, professor de Filosofia Política: “O clima de ‘guerra cultural’ é um ecossistema no qual um candidato populista e conservador, com as características do Bolsonaro, funciona bem. (. . . ) É isto que está acontecendo agora no Brasil. Esta é uma retórica que mobiliza os militantes, os intelectuais, os activistas do PT, de modo geral, mas ela não fala com o eleitor menos politizado. Ela não busca votos do outro lado. ”A mesma nota é reforçada pelo americano Brian Winter, director da revista Americas Quarterly e que seguiu de perto a campanha de Bolsonaro: a esquerda brasileira repetiu os erros da campanha democrata contra Trump. Escreveu no Folha de S. Paulo: “O que aconteceu nos Estados Unidos? Basicamente, Hillary e os seus partidários centraram-se tanto na oposição a Trump que se esqueceram de falar sobre as questões que importavam à maioria dos eleitores, o desemprego, a imigração e assim por diante. ”E no Brasil? “No Brasil, as pesquisas de opinião indicam que as questões mais importantes para os eleitores incluem a economia, a corrupção e o crime. A verdade é que Fernando Haddad e o PT têm enorme dificuldade para lidar com as três. ” Por outro lado, o PT não fez autocrítica dos seus erros. “Isso é pedir muito, dada a recente insistência do partido quanto a narrativas de perseguição e nostalgia. Talvez seja impossível. Mas o futuro da democracia brasileira pode depender disso. ” Winter escrevia uma semana antes da votação da primeira volta. 4. Esta campanha foi travada num terreno difícil para a esquerda, as novas regras da comunicação de massas. A radicalização deve muito aos milhares de grupos de apoio a Bolsonaro no WhatsApp, onde as fake news proliferaram em progressão geométrica, transformando-se num veículo de apelo ao autoritarismo (ver João Salaviza, PÚBLICO de ontem). A isto se juntaram campanhas de desinformação em escala industrial. Os jornais passaram a ter colunas de denúncia: “Isto é FAKE. ”A campanha feminista do #EleNão foi qualificada por analistas como “um tiro no pé”, porque, subliminarmente, promovia a imagem de Bolsonaro. Mas deu também lugar a uma megaoperação de intoxicação, descrita pelo filósofo Vladimir Safatle. “Vimos o que aconteceu com os actos do sábado retrasado [29 de Setembro]: grandes manifestações populares que ocuparam as ruas do Brasil e, de repente, foram anuladas. Ninguém estava sabendo exactamente o que aconteceu. Justo após essas manifestações, Bolsonaro teve um salto nas pesquisas. Depois, fomos entendendo. Com uma organização impressionante, uma rede muito vasta de circulação de imagens, profissionalmente constituída, tentou anular o acto pela construção de um evento falso no lugar. Faziam circular fotos que não tinham nada a ver com aqueles protestos, com o objectivo claro de denegrir suas propostas. Conseguiram anular um evento de rua por meio de uma mobilização virtual. ”As redes sociais são a fonte de informação da grande maioria dos brasileiros. A televisão e os jornais contaram pouco nesta campanha. Argumento? “A mídia mente. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. 5. O Brasil não é uma ilha. A polarização é uma tendência quase universal, que acompanha o “descrédito da política”, as correntes anti-sistema, a fragmentação dos partidos tradicionais. As “guerras culturais”, sobretudo as ligadas à “ideologia do género” e às políticas identitárias, generalizam-se. Se a nostalgia do passado alimenta as ideologias de direita, também a esquerda está mentalmente bloqueada. “Esta esquerda não tem nenhuma visão a oferecer e, além disso, não a pode ter porque o modo como pensa o impede”, diz Mark Lilla, um cientista político americano. Que virá a seguir no Brasil? Filipe Campante, um cientista político que ensina nos EUA, não é optimista. “Primeiro, o populista vitorioso não tem incentivo a buscar a convergência, mas sim a inflamar ainda mais a polarização. (. . . ) E mais preocupante é saber que o Brasil está muito menos preparado do que os EUA para absorver o choque político que se avizinha. ”
REFERÊNCIAS:
Prémio Sakharov de Direitos Humanos para cineasta ucraniano preso na Rússia
Oleg Sentsov foi detido na Crimeia e condenado a 20 anos de prisão por “planear actos terroristas”. Em Setembro foi hospitalizado depois de quatro meses de greve de fome. (...)

Prémio Sakharov de Direitos Humanos para cineasta ucraniano preso na Rússia
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Oleg Sentsov foi detido na Crimeia e condenado a 20 anos de prisão por “planear actos terroristas”. Em Setembro foi hospitalizado depois de quatro meses de greve de fome.
TEXTO: O Parlamento Europeu atribuiu o Prémio Sakharov dos Direitos Humanos ao cineasta ucraniano Oleg Sentsov, que foi detido pela Rússia na Crimeia e condenado a 20 anos de prisão por “planear actos terroristas”. A União Europeia aproveitou esta distinção para exigir, mais uma vez, a Moscovo a libertação imediata deste e outros presos por fundamentos que Bruxelas considera serem políticos. O anúncio foi feito por Antonio Tajani, presidente do Parlamento Europeu, e o prémio será entregue no dia de 12 de Dezembro, ainda que Sentsov esteja na prisão de Labitnangui, uma cidade a mais de 4000 quilómetros de Moscovo. Os outros candidatos a receber o prémio eram as organizações não governamentais que resgatam imigrantes no mar Mediterrâneo e Nasser Zefzafi, líder dos protestos na região marroquina do Rife e na cidade de Al Hoceima, que foi detido em 2017. No final de Setembro, o cineasta ucraniano foi hospitalizado depois de quatro meses de greve de fome. Na altura, a União Europeia exigiu que Moscovo lhe desse tratamento médico apropriado e o Presidente francês, Emmanuel Macron, pediu directamente ao chefe de Estado russo, Vladimir Putin, que encontrasse uma “solução humanitária” para o caso. Em Junho os eurodeputados pediram também às autoridades russas que libertassem o realizador ucraniano. Sentsov, de 42 anos, foi detido em Maio de 2014, na sua residência na Crimeia, depois de um protesto contra a anexação da península por Moscovo. Foram também detidos três suspeitos de cumplicidade, incluindo o activista político ucraniano Alexander Kolchenko. Sentsov e Kolchenko foram acusados de fazer parte de um “grupo terrorista”, nomeadamente através da “coordenação e organização” de um grupo de activistas, na península da Crimeia, filiados no movimento paramilitar ultranacionalista ucraniano Pravy Sektor (Sector Direito). “Não considero sequer que este tribunal seja um tribunal”, disse Oleg Sentsov, numa das audiências do julgamento, que teve início em 2015 e foi considerado uma “farsa” pelo Governo de Kiev. “Com a sua coragem e determinação, pondo sua vida em perigo, Oleg Sentsov tornou-se um símbolo da luta pela libertação dos prisioneiros políticos mantidos na Rússia e em todo o mundo. Ao atribuir-lhe o Prémio Sakharov, o Parlamento Europeu manifesta a sua solidariedade. Pedimos que seja libertado imediatamente. A sua luta relembra-nos que é nosso dever defender os direitos humanos em todos os lugares do mundo e em todas as circunstâncias”, afirmou Tajani em Estrasburgo. O Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, reagiu ao anúncio, afirmando, numa publicação no Facebook, que “todo o mundo democrático está a lutar pela liberdade e vida [de Sentsov]”. Também o primeiro-ministro ucraniano, Volodimir Groisman, utilizou o Twitter para dizer que este prémio é “mais uma chave para desbloquear a prisão de Oleg”A reacção mais contundente em Bruxelas chegou de Guy Verhofstadt, antigo primeiro-ministro belga e líder dos liberais no Parlamento Europeu: “Oleg Senstov foi levado do seu país, torturado e aprisionado na Rússia sob acusações fabricadas, sem acesso a um julgamento justo. Espero que o Prémio Sakharov o ajude e a todos os ucranianos condenados na Rússia por motivos políticos para que sejam libertados e regressem ao seu país de origem. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Este prémio é atribuído pelo Parlamento Europeu anualmente desde 1988 e distingue personalidades ou organizações que se destacam na defesa dos direitos humanos e das liberdades fundamentais. No ano passado, o prémio foi atribuído à Oposição Democrática na Venezuela. Este ano, dois anteriores vencedores do Prémio Sakharov, Denis Mukwege e Nadia Murad, foram distinguidos com o Prémio Nobel da Paz.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos humanos tribunal prisão fome humanitária
A Europa, que é nossa, de Lisboa a Helsínquia
Dois novos programas sobre a Europa serão emitidos na televisão e na rádio públicas. (...)

A Europa, que é nossa, de Lisboa a Helsínquia
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Dois novos programas sobre a Europa serão emitidos na televisão e na rádio públicas.
TEXTO: A RTP e a Antena 1 apresentaram na sexta-feira, no gabinete do Parlamento Europeu em Lisboa, dois novos programas para serem emitidos na RTP3 e na Rádio pública dedicados à integração europeia. A intenção é clara, segundo os seus responsáveis, cumprir um dever de serviço público quando a Europa é hoje um tema fundamental para os destinos do país e quando se aproximam eleições para o Parlamento Europeu (em Maio do próximo ano) que prometem ser o reflexo da crise que hoje União Europeia atravessa. Como lembrou na apresentação João Fernando Ramos, da direcção da RTP, nas últimas eleições para o PE a participação em Portugal ficou-se pelos 33, 7 por cento, para uma média europeia igualmente triste: pouco mais de 44. Os dois programas serão da autoria de Rebecca Abecassis, que saiu recentemente da SIC, onde justamente foi responsável por vários programas sobre a Europa, e que agora encontrou o seu lugar na Televisão e na Rádio públicas para fazer exactamente o mesmo. Aquele que estreia primeiro, “De Lisboa a Helsínquia”, vai percorrer 56 regiões da Europa dos (ainda) 28, para fazer reportagens sobre a utilidade e a relevância dos fundos europeus nas áreas do ambiente, educação, saúde, cultura, inovação e imigração. Será apresentado por Rebecca Abecassis e por Raquel Morão Lopes. A estreia está marcada para o dia 20 de Outubro, ao fim da noite, na RTP3, e no dia 22 de Outubro ao início da tarde, na Antena 1. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O segundo programa, “Europa Minha”, com estreia marcada para Novembro e apresentado por João Adelino Faria, será de informação e de debate sobre a agenda europeia, incluindo o escrutínio do que fazem os representantes portugueses em Bruxelas. Nunca como hoje foi tão difícil, tão complexo e tão desafiante abordar as questões europeias, disse a autora dos programas. Nem foi tanta a “responsabilidade dos jornalistas”. Carlos Moedas, comissário português para a Ciência e a Inovação, citou uma obra de Stefan Zweig “A Desintoxicação Moral da Europa” (1934), para referir a sua “grande preocupação” com as próximas eleições europeias e a importância insubstituível dos jornalistas para colmatar o desfasamento entre percepção e realidade que hoje marca a opinião pública europeia. As previsões apontam para uma forte presença dos partidos populistas e nacionalistas (na sua grande maioria, antieuropeus) no Parlamento Europeu que será eleito em finais de Maio, alterando profundamente a realidade política europeia num dos seus órgão de representação mais importantes. Este crescimento far-se-á à custas dos grandes partidos europeístas que até agora dominaram a câmara: o PPE, os Socialistas e Democratas e os Liberais. Os programas têm o patrocínio da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave imigração cultura educação
Se se riram, foi talvez do nervoso
O discurso de Trump foi o mais completo ataque à ordem multilateral e a mais clara negação das orientações da política externa americana nos últimos 100 anos. (...)

Se se riram, foi talvez do nervoso
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.7
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: O discurso de Trump foi o mais completo ataque à ordem multilateral e a mais clara negação das orientações da política externa americana nos últimos 100 anos.
TEXTO: 1. Alguns dos presentes na Assembleia Geral da ONU, em reunião plenária desde o dia 25 até hoje, ter-se-ão rido abertamente em alguns momentos do discurso do Presidente norte-americano, proferido na passada terça-feira. A incivilidade está, no geral, afastada destas missas solenes em que o mundo se reúne em Nova Iorque. Rir do Presidente dos EUA é uma prática inédita. Protestos de algumas delegações, é habitual. O incidente, que ainda hoje faz manchetes, (quase) apagou o conteúdo da intervenção de Donald Trump. Não é uma boa notícia, sobretudo para quem ainda presa o multilateralismo e os valores universais que a Carta das Nações Unidas consagra. Há que admitir que pelo menos numa passagem, logo no início, teria sido difícil conter um sorriso. Foi quando o Presidente anunciou que “em menos de dois anos (…) tinha conseguido mais do que quase todas as administração da História” do seu país. Ficamos sem saber se o “quase” se referia a Lincoln ou Roosevelt, os dois mais fortes candidatos que nos vêem à cabeça, para além de George Washington. Depois, passou em revistas todas as suas extraordinárias realizações, desde o maior corte de impostos da história da América até à construção do muro na fronteira com o México. Mais tarde, explicou aos jornalistas que se tratava de “fake news”, que a Assembleia riu com ele e não dele. Para encerrar a questão vale a pena recordar o que disse em 2014, referindo-se a Obama: “Precisamos de um Presidente que não seja motivo para riso no mundo inteiro. ” “O riso figurativo de 2014 tornou-se no riso literal de 2018”, escreve a Atlantic. “O soft power americano está no seu nível mais baixo desde a II Guerra”. Não é um conceito pelo qual Trump tenha qualquer interesse. 2. O conteúdo da sua intervenção, lida em tom monocórdico, sem qualquer capacidade de entusiasmar ou emocionar, foi o mais completo resumo de uma visão do mundo que estava anunciada em quase todas as suas decisões de política externa, transmitidas na maioria da vezes em meia dúzia de palavras, mas agora transformadas numa longa peça escrita que constituiu o mais completo ataque à ordem multilateral e a mais clara negação das orientações da política externa americana nos últimos 100 anos. Fosse qual fosse a cor política do seu Presidente. Trump rejeita o “globalismo” e uma “burocracia global, não eleita nem susceptível de ser responsabilizada”, como descreveu, por exemplo, a Comissão dos Direitos Humanos da ONU, da qual anunciou que se retirava. Quase no final, deu a sua visão da ordem que defende: “Nações soberanas e independentes são o único veículo onde a liberdade sempre sobreviveu, a democracia sempre foi garantida ou a paz sempre prosperou. Por isso devemos proteger a nossa soberania e a nossa adorada independência acima de tudo”. À cooperação internacional assente em regras, Trump contrapõe a soberania nacional, que todas e as nações têm o direito de defender por todos os meios. Faltou-lhe apenas acrescentar que as soberanias não são todas iguais e que, como foi demonstrando ao longo da sua intervenção, a relação de forças acaba por ser o critério fundamental. “Ele é um activista da frente soberanista Xi-Putin-Orbán, essa impossível internacional dos nacionalismos e um inimigo jurado da ordem liberal”, escreve sem meias palavras Timothy Garton Ash no Guardian. Elegeu o Irão como o novo “inimigo número um” dos EUA, ameaçando veladamente a sua soberania, apontando-o como o único responsável pelas calamidades cometidas pelo regime de Damasco (a Rússia nunca existiu), incentivando o seu povo à revolta contra um regime “sangrento” que rouba o povo e que o oprime. A decisão de aplicar sanções secundárias a todas as empresas que mantenham negócios com o Irão, depois de ter retirado o seu apoio ao acordo nuclear de 2015 e ter reposto uma primeira leva de sanções, interfere directamente com as decisões “soberanas” dos países europeus subscritores do acordo. Pode fazê-lo porque o mercado americano é suficientemente forte e o dólar suficientemente omnipresente para não lhes deixar outra alternativa senão saírem. “Foi um momento excepcional nos hábitos dos 73 anos da ONU”, escreve o Financial Times em editorial. “A Europa, incluindo o Reino Unido, normalmente um fiel aliado dos EUA, alinhar publicamente com Moscovo e com Pequim contra Washington numa questão que está no centro da política externa americana”. Tratou dois ditadores como amigos, mesmo que lhes tenha lembrado que os negócios ficam à parte. O seu amigo Xi Jinping vai continuar a sofrer os efeitos da “guerra comercial” que decretou contra a China. “Durante décadas, os EUA abriram a sua economia – de muito longe a maior à face da Terra – com poucas condições”. Resultado: "Os EUA perderam mais de 3 milhões de empregos na manufactura, quase um quarto dos empregos na indústria do aço, e 60 mil fábricas depois de a China ter aderido à OMC. E acumulámos mais de 13 triliões de dólares em défices comerciais nas duas últimas décadas”. O outro é Kim Jong-un, que representa até agora o único meio-sucesso diplomático que pode apresentar: há uma abertura do regime e prossegue uma aproximação com Seul. 3. Pela primeira vez de há muitas décadas, um discurso de um Presidente americano não tem qualquer referência aos aliados europeus e à aliança transatlântica. Mais uma vez, a Alemanha foi apontada a dedo como o seu mais sério “inimigo”, desta vez porque escolheu o caminho da dependência energética (não disse relação a quem), correndo o risco de se tornar “vulnerável à extorsão e à intimidação”. Berlim tornou-se o alvo privilegiado de Trump na Europa, desde o início do seu mandato. Por causa do seu excedente comercial gigantesco mas também porque olha para a Alemanha como a “força” por trás da integração europeia, cuja utilidade não entende nem fará nada para preservar. Outra estreia absoluta. Os seus amigos estão em Budapeste, em Roma ou na Polónia, eleita um dos quatro países do mundo que elegeu como “faróis” que iluminam as respectivas regiões, numa passagem tão preocupante como irresistível. “Há a Índia, uma sociedade livre de mil milhões de pessoas, que conseguiu com sucesso tirar milhões da pobreza (…). Há a Arábia Saudita, onde o Rei Salman e o Príncipe herdeiro estão a levar a cabo grandes e ambiciosas reformas. Há Israel, que celebra com orgulho os seus 70 anos como uma democracia dinâmica na Terra Santa. Na Polónia, um grande povo ergue-se pela sua independência, a sua segurança e a sua soberania. O mundo é mais rico, a humanidade é melhor, por causa desta bela constelação de nações. ” A Polónia está em conflito com a União Europeia por violar as regras do Estado de Direito. Mas é um exemplo perfeito daquilo que Trump entende como país aliado: Varsóvia pediu aos EUA para instalarem uma base militar na Polónia, pela qual está disposta a pagar e que promete chamar de “Fort Trump”. Garton Ash, no mesmo texto, avisa que não é apenas um problema de Trump e que basta que saia da Casa Branca para que a velha relação transatlântica volte ao que sempre foi. “Grande parte da América voltou as costas à Europa”. E o historiador britânico não fala apenas da metade “ignorante”. Fala das elites. “Trump é horrível mas, neste aspecto, é tanto um sintoma como uma causa”. 4. Aquilo que achamos bizarro ou ameaçador ou que nos faz encolher os ombros - “de que é que se estava à espera?” –, pode fazer perfeitamente sentido para muitos americanos mas também para muitos europeus que rejeitam internacionalismo e aceitam o nacionalismo por razões parecidas com as dos americanos que elegeram Trump. “A América é governada pelos americanos. Rejeitamos a ideologia do globalismo e abraçamos a doutrina do patriotismo”. A ideia de que não há uma sociedade global e que o único valor que deve reger as relações internacionais é a soberania de cada Estado e o seu direito a defender os seus interesses faz sentido também para um número crescente de europeus. O controlo das fronteiras para impedir a entrada de imigrantes é visto como prioridade para cada vez mais gente. As mudanças na Europa são mais subtis, mas o sentimento de que a globalização criou mais perdedores nas economias desenvolvidas do que nas outras está hoje generalizado – porventura, mais do que gostaríamos de admitir, com os nossos óculos elitistas, sempre que olhamos para a América, quando já temos a nossa casa a começar a arder. Vontade de rir? Nenhuma. Ou então, apenas algumas gargalhadas nervosas.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Portugueses ilegais em Angola começaram a sair do país
No prazo de oito dias, os portugueses cujo visto para trabalhar em Luanda já caducou, têm de regularizar a sua situação para poder regressar. (...)

Portugueses ilegais em Angola começaram a sair do país
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento -0.5
DATA: 2011-07-05 | Jornal Público
SUMÁRIO: No prazo de oito dias, os portugueses cujo visto para trabalhar em Luanda já caducou, têm de regularizar a sua situação para poder regressar.
TEXTO: Alguns dos 42 portugueses que estão a trabalhar ilegalmente em Angola, já abandonaram o país, disse ao PÚBLICO, Margarida Calvinho, assessora de comunicação da empresa (PREBUILD) que os contratou. Nos próximos dias, todos os outros terão de voltar a Portugal para revalidar os vistos no prazo de oito dias, condição exigível para poderem regressar a Luanda. Mas “não estão em risco de ser expulsos”, como se noticiou, esclareceu Calvinho. O que se passou, segundo explica, é que os vistos de trabalho que os portugueses possuíam de duração de um ano caducaram e como a revalidação em Angola é um processo “muito complicado e, sobretudo, demorado”, eles não o conseguiram no tempo previsto. Surgiu então a ideia (da parte de um funcionário da empresa) de fazer a revalidação na Embaixada de Angola, em Lisboa, para acelerar o processo, diz Margarida Calvinho, reconhecendo que “não foi a solução mais correcta” e que não é “algo” que a empresa tenha o costume de fazer. Foi uma “precipitação” a decisão de “seguir um atalho que não deveria ter sido tomado”, admite. No sábado passado, um cidadão português que tinha em sua posse 32 passaportes dos trabalhadores portugueses, foi detido no Aeroporto 4 de Fevereiro, em Luanda. O porta-voz dos Serviços de Migração de Estrangeiros (SME) angolano, Simão Milagres revelou, em declarações à Lusa, que a empresa poderá ser processada e acusada de promover e auxiliar a imigração ilegal em Angola. Margarida Calvinho garante que a PREBUILD vai pagar as multas que as autoridades angolanas lhe aplicarem e que segundo o SME ascendem a seis mil dólares por cada trabalhadorO Ministério dos Negócios Estrangeiros está a acompanhar situação dos 42 trabalhadores através da embaixada em Luanda. Esta situação foi hoje comentada pelo deputado português Paulo Pisco (PS) que defendeu que as dificuldades na obtenção de vistos podem gerar “algum tipo de tensão entre os dois países”, defendendo que isso “deve ser ultrapassado de uma vez por todas”. O PÚBLICO tentou contactar com o assessor de imprensa da Embaixada de Angola em Lisboa, Estevão Alberto, indisponível durante toda esta tarde.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS