Salvini beija cruz e espera ajuda divina para fazer aliança populista no Parlamento Europeu
Orbán queria forçar uma coligação entre o Partido Popular Europeu e os populistas e não o conseguirá. O vice-primeiro-ministro italiano sonha com um grande grupo parlamentar - mas não terá um caminho fácil. (...)

Salvini beija cruz e espera ajuda divina para fazer aliança populista no Parlamento Europeu
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-11 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20190711005439/https://www.publico.pt/n1874348
SUMÁRIO: Orbán queria forçar uma coligação entre o Partido Popular Europeu e os populistas e não o conseguirá. O vice-primeiro-ministro italiano sonha com um grande grupo parlamentar - mas não terá um caminho fácil.
TEXTO: O líder do partido de extrema-direita Liga e vice-primeiro-ministro de Itália beijou a cruz de um rosário e agradeceu “a quem está lá em cima, que não ajudou só Matteo Salvini e a Liga mas também a Europa”, ao comentar numa conferência de imprensa os bons resultados do seu partido nas eleições europeias de domingo. Mas é provável que nem com ajuda divina consiga traduzir os votos que teve numa aliança populista capaz de impor a sua agenda nas instituições da União Europeia. “Já falei com Marine Le Pen, Viktor Orbán, Nigel Farage… Acredito que vou conseguir pôr de pé um grupo no Parlamento Europeu com 150 deputados”, afirmou Salvini nesta segunda-feira, ao mesmo tempo que assegurou não pretendia fazer cair o Governo em Itália. É verdade que Marine Le Pen e a sua União Nacional ganharam (por pouco) as eleições europeias em França – mas perdeu dois eurodeputados em relação a 2014, ficou com 22. Estes juntam-se aos 28 de Salvini, e a entre dois e três deputados ganhos por partidos de extrema-direita da Áustria, República Checa e Bélgica, para perfazer um total de 58 no grupo parlamentar Europa das Nações e da Liberdade (ENL), tal como era a sua configuração no Parlamento Europeu cessante. Melhor que os 34 actuais – mas ainda assim longe das expectativas inflaccionadas de obter uma centena de deputados. Mas o objectivo da aliança que Salvini negociou nos últimos meses com vários países nacionalistas, populistas, eurocépticos e de extrema-direita europeus - todos hostis à imigração - é construir um novo grupo no Parlamento Europeu maior e mais representativo. Num comício em Milão, a 18 de Maio, conseguiu juntar representantes de 12 países, incluindo a Alternativa para a Alemanha (AfD), que até então se tinha mantido afastada desta iniciativa, e o Vox espanhol. Juntando os resultados destes partidos, o novo grupo poder ter 74 eurodeputados. Há que sublinhar que várias formações que participaram no comício de Milão não conseguiram eleger um único eurodeputado – um exemplo notável é o Partido da Liberdade do holandês Geert Wilders. Mas é ainda difícil dizer qual será a composição final desse grupo no Parlamento Europeu. A única certeza é que conquistar partidos para o integrarem é a palavra de ordem. As adesões que seriam mais importantes seriam as do Lei e Justiça (PiS) – o partido conservador que está no poder na Polónia, e que obteve 23 eurodeputados – e o Fidesz húngaro (13 deputados). O PiS faz para já parte do grupo Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), mas tem sido intensamente cortejado por Salvini para se juntar à sua aliança. Alguma da resistência que os polacos sempre tinham mostrado a aliar-se a um grupo que incluísse o partido de Marine Le Pen parece ter sido vencida nos últimos tempos – mas é preciso ver se a união chega a bom porto. A proximidade da União Nacional de Le Pen com a Rússia, aliás comum a outros partidos de extrema-direita europeus – como a própria Liga de Salvini – pode ser um obstáculo para atrair partidos como o polaco PiS, ou a AfD alemã. Ao invés, pode ser um factor de união de outros partidos que funcionam na órbita russa. Será determinante saber o que fará o Fidesz do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, suspenso do Partido Popular Europeu (PPE) devido a múltiplos atropelos ao Estado de Direito, e até, mais recentemente, a uma campanha de descredibilização da União Europeia, em especial do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Ao mesmo tempo que tem encorajado e coberto de elogios a tentativa de formar uma nova aliança europeia de Salvini, Orbán afirmou que não apoiará a candidatura a presidente da Comissão do candidato do PPE, Manfred Weber. É preciso esperar para ver se Orbán levará até ao fim esta lógica de confronto. “As eleições mostraram que Orbán pode ser um rei na Hungria, mas não um fazedor de reis na União Europeia”, comentou ao site Balkan Insight o analista Dániel Bartha, director do Centro para a Democracia e Integração Euro-Atlântica, um think tank independente em Budapeste. “Os partidos de extrema-direita não se reforçaram tanto como se esperava. Muitos eleitores na Europa Ocidental mobilizaram-se contra a direita radical. A crise antecipada por Orbán não se materializou. ”A estratégia de Orbán para a Europa, diz outro analista, Bulcsú Hunyadi, do think tank independente Political Capital, de “obrigar o PPE a fazer uma aliança com os populistas, tem poucas hipóteses de ainda vir a concretizar-se após estas eleições”, conclui.
REFERÊNCIAS:
Partidos Partido Popular Europeu
Os sete pecados capitais do Governo e as dez pragas socialistas
Ferro Rodrigues e Passos Coelho trocaram acusações mútuas das governações com exemplos bíblicos. (...)

Os sete pecados capitais do Governo e as dez pragas socialistas
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento -0.1
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ferro Rodrigues e Passos Coelho trocaram acusações mútuas das governações com exemplos bíblicos.
TEXTO: Foi um quase duelo de referências bíblicas aquele que abriu as hostilidades entre o primeiro-ministro e o PS, no arranque do debate sobre o estado da nação. Aos “sete pecados capitais” que o secretário-geral António Costa apontou ao Governo há uma semana, Pedro Passos Coelho respondeu hoje com as “dez pragas que o PS deixou ao país” em 2011. Numa intervenção entusiasticamente aplaudida e cheia de apartes entre os deputados da maioria e os socialistas, Ferro Rodrigues e Passos Coelho fizeram acusações mútuas sobre quem deixou pior Portugal depois da governação. Sobre a intervenção inicial de Pedro Passos Coelho em defendeu que a estratégia de rigor foi a “mais acertada” e que tem conseguido obter resultados positivos, o líder da bancada socialista haveria de dizer que o retrato do Governo tem uma “base totalmente irrealista” e que a situação a que Portugal chegou hoje é um regresso a um passado longínquo. Ferro Rodrigues enumerou: a taxa de pobreza é a de há 15 anos, o nível do desemprego está como há 20 anos, o investimento é como o de há 30, e o nível de emigração equivale ao de há 50 anos. “Essa imagem cor de laranja e azul que os senhores ensaiaram nos últimos dois dias é totalmente desmentida nas últimas 24 horas pelas notícias dos jornais”, apontou o deputado socialista, lendo em seguida alguns títulos que contrariam o “irrealismo e propaganda” do Governo. “A nação, senhor primeiro-ministro, está empobrecida, o povo português está enfraquecido. Como responde à acusação do secretário-geral António Costa, que chamou a atenção para vários vícios, os pecados capitias”, como a mentira política, o desemprego, a emigração, a precariedade, a sangria fiscal à classe média, o desmantelamento dos serviços básicos, os “escândalos das privatizações”, a posição contra a Grécia e ao lado das instituições europeias. “Estamos à espera do programa da coligação, já devia ter sido apresentado há oito dias”, desafiou Ferro Rodrigues, que foi depois aplaudido de pé pelos deputados socialistas com um ruído entusiasmado, como nunca se viu nos seis meses em que lidera a bancada. Pedro Passos Coelho não se fez rogado. Picou o PS falando da “azia” com que os socialistas vêem o que chamou de sucessivos resultados positivos que a economia vai conseguindo. E depois pegou nos argumentos que já vinham preparados numa folha A4 para pagar com a mesma moeda. À referência bíblica do sete pecados capitais, respondeu com as “dez pragas que o PS deixou a Portugal – para que elas não caiam no esquecimento”. Começou pelas dez pragas do Egipto, pela “obras faraónicas, como as PPP rodoviárias e o TGV, obras extraordinárias que haveriam de produzir imensa riqueza mas que só produziram irresponsabilidade”. Passos Coelho continuou, uma a uma, com pequenas realidades de 2011: “os PEC de má memória que não resolveram nada e só trouxeram aumento de impostos e cortes de salários na função pública”; Portugal era um dos países mais desiguais da UE; “défices orçamentais volumosos e ruinosos de mais de 10% em 2011”; “o completo desgoverno do sector empresarial do Estado que acumulava dívida operacional e financeira”; a nacionalização do BPN; o défice tarifário na electricidade; o “endividamento galopante” que levou ao pedido de ajuda à troika; e um desemprego estrutural acima de 10%. Sobre a Grécia, devolveu o desafio: “Gostaria de o ver a comentar as intervenções no plano público que primeiro-ministros e ministros das Finanças socialistas fizeram a propósito das negociações com a Grécia”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. As pragas e os insecticidasLogo na intervenção que se seguiu ao duelo Ferro/Passos, o líder comunista aproveitou as imagens bíblicas para se dirigir ao chefe do Governo. “Qual foi a posição do seu partido perante essas pragas? Não foi insecticida, foi parte integrante dessas pragas que se abateram sobre o país”, acusou Jerónimo de Sousa. Na maioria, o líder da bancada do PSD, Luís Montenegro, tocou directamente na Grécia e associou a situação vivida naquele país com as propostas socialistas, que “falharam”. “Acaso não tivessem falhado, talvez nós tivéssemos hoje em Portugal os bancos fechados, talvez em Portugal tivéssemos hoje as pessoas em fila no multibanco para acederem às suas poupanças, acaso não tivessem falhado, se calhar os pensionistas portugueses teriam dúvidas se iriam receber suas pensões, mas essa realidade não é a realidade portuguesa”, afirmou o social-democrata. Com o PS na mira, também o CDS apontou baterias ao partido de António Costa, colocando até uma data para um novo resgate caso vença as eleições legislativas. "É bom que os portugueses meditem sobre isso, porque se o PS tiver responsabilidades governativas correremos o risco de, em 2017 ou 2018, ter um resgate muito mais duro do que aquele que tivemos em 2011, pela mão do PS, pela simples razão de que não é o primeiro, não é o segundo, não é o terceiro, será o quarto", afirmou Nuno Magalhães, líder da bancada centrista. O tema das pragas e dos pecados foi também usado pelo PEV. A ecologista Heloísa Apolónia apontou o dedo a Passos Coelho acusando-o de "esconder", na análise que fez das pragas, que contribuiu para elas ao viabilizar três planos de estabilidade e crescimento (PEC) do PS, assim como os orçamentos de Estado de José Sócrates, votou a nacionalização do BPN e assinou o acordo com a troika. "Não disse nada disto porquê? Para não chegar à conclusão que o PSD também é uma praga? (. . . ) O sr. primeiro-ministro começa e acaba o mandato com um problema sério de credibilidade na palavra", criticou Heloísa Apolónia, que pouco depois disse que Passos Coelho "mentiu, de facto", porque durante a governação fez o contrário do que disse da campanha eleitoral e no início da legislatura (sobre os prazos temporários dos cortes). E deixou nova crítica sobre a actuação de portugal perante a crise grega: "Se não respeita o povo português, como é que haveria de respeitar os gregos?"Na resposta, Passos Coelho haveria de dizer que a sua "mais importante promessa eleitoral foi cumprida: cumprir o memorando de entendimento e libertar o país do memorando da troika. O primeiro-ministro reiterou a temporalidade dos cortes em salários e pensões. E sobre a sua contribuição para a viabilização da "praga" do PS, Passos Coelho puxou dos galões da responsabilidade. "Quando fui líder da oposição, nunca deixei de poder apoiar os governos constitucionais que pudessem apresentar medidas que considerasse essenciais para que o país pudesse evitar problemas maiores", argumentou. "Por isso, é verdade: apoiámos algumas daquelas decisões para que o primeiro-ministro de então não tivesse que pedir um resgate externo. Mas tornou-se evidente que o caminho que estava ser seguido só poderia conduzir mesmo ao resgate, como reconheceu o ministro das Finanças de então. "
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Mais de 450 óbitos num só dia. É "normal" dadas as temperaturas extremas
O pior dia dos verões dos últimos dez anos aconteceu durante a onda de calor de 2013, quando 498 pessoas morreram. Afluência às urgências permaneceu normal durante o fim-de-semana, mas chamadas para o INEM aumentaram. (...)

Mais de 450 óbitos num só dia. É "normal" dadas as temperaturas extremas
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.175
DATA: 2018-08-08 | Jornal Público
SUMÁRIO: O pior dia dos verões dos últimos dez anos aconteceu durante a onda de calor de 2013, quando 498 pessoas morreram. Afluência às urgências permaneceu normal durante o fim-de-semana, mas chamadas para o INEM aumentaram.
TEXTO: Este domingo foi um dos dias com mais óbitos registados nos últimos verões. A plataforma para a vigilância electrónica de mortalidade em tempo real (SICO/EVM) indica que, a 5 de Agosto, se registaram 460 mortes — os dados, ainda provisórios, foram consultados às 18h30 de segunda-feira. No sábado, o dia mais quente dos últimos 18 anos, contabilizaram-se 339 óbitos. Graça Freitas, directora-geral da Saúde, garante que o número está em linha com anos em que se registaram condições meteorológicas semelhantes. Nomeadamente, a 8 de Agosto de 2003 — ano em que Portugal foi assolado por uma onda calor — quando se contabilizaram 464 óbitos e a 8 de Julho de 2013 (498). Este é um valor "normal para fenómenos de temperaturas extremas”, que “está dentro dos [intervalos de] valores para os últimos anos de muito calor”. Mesmo assim, este é o segundo valor mais alto registado nos verões desde 2009 e está muito acima da média para os dias de Verão: 260 óbitos diários. E apenas comparando as mortes registadas este domingo e as de 5 de Agosto do ano passado verifica-se que as de 2018 são quase o dobro (mais 209 óbitos). A directora-geral da Saúde lembra que os números apresentados se referem ao total das mortes registadas num dia e que não têm todas a ver com o calor. E sublinha que “não se trata de um excesso de mortalidade”. São “variações normais compensadas ao longo do ano”. O impacto do calor na mortalidade nota-se particularmente na faixa etária com mais de 75 anos. Entre 4 e 5 de Agosto este grupo representava quase 80% do total de óbitos registados (em média, costumam representar cerca de 70%). As chamadas para a emergência médica tiveram um "aumento substancial" nos últimos dias, tendo-se registado mais 20% de telefonemas para o 112, disse esta segunda-feira à Lusa fonte do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). Questionado sobre se houve um aumento de chamadas e se era possível relacioná-las com o calor intenso dos últimos dias, fonte oficial do INEM explicou que a procura dos serviços de emergência médica registou um aumento de 20% nas chamadas realizadas para os Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU), "motivadas sobretudo pelo agravamento de situações de doença crónica". Segundo o INEM, o aumento "muito substancial" do número de chamadas de emergência e a consequente activação de meios "justifica-se pela onda de calor verificada nos últimos dias". Nas urgências hospitalares o calor extremo não provocou níveis de afluência fora do normal. O Centro Hospitalar de Lisboa Central adianta ao PÚBLICO que “a afluência às suas unidades de urgência regista valores normais para a época e semelhantes ao registado em período homólogo”. O mesmo referem o Centro Hospitalar do Porto, o Hospital de Portalegre e o Hospital de Évora. A Administração Regional de Saúde do Norte reporta um “aumento ligeiro de procura, até por alguns episódios de sintomas de desidratação”. Já o Hospital de Santarém refere que “no fim-de-semana, foram recebidos, em média, 321 doentes na urgência (sobreponível ao esperado para a época do ano) havendo um ligeiro aumento de casos relacionados com a onda de calor (desidratação, diarreia, entre outros) dos quais se destacaram dois por diagnóstico de choque de calor". Na Unidade Local de Saúde da Guarda, “verificou-se um ligeiro aumento da afluência ao serviço que teve a ver com a chegada de emigrantes durante este fim-de-semana”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em 1981, Portugal foi assolado por uma onda de calor que terá provocado cerca de 1900 mortos. No pior dia, registaram-se mais de 600 óbitos. É por isso que Paulo Nogueira, director de Serviços de Informação e Análise na DGS, diz que os valores provisórios para este domingo podem ser “boas notícias”. Quer dizer que se está a evoluir na mitigação do impacto destas condições meteorológicas extremas. Graça Freitas também recorda essa “crise”. E lembra que “a capacidade de tratar as pessoas era diferente”. Hoje em dia, há mais idosos, mas também “melhorámos a capacidade assistencial”. Mas para ter a noção dos verdadeiros impactos do calor, Paulo Nogueira avisa que ainda é preciso esperar “um ou dois dias”. “A maior mortalidade surge com algum atraso”, algo que se tornou ainda mais evidente nas décadas mais recentes, devido a uma maior capacidade de mitigar os efeitos destas condições meteorológicas. com Lusa
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Palavras-chave doença
Davide Paolini: Vem aí um “crepúsculo dos chefs”?
Conhecido como o Gastronauta, o autor italiano, que esteve em Portugal recentemente, é um defensor da cozinha tradicional e um crítico da mediatização dos chefs. (...)

Davide Paolini: Vem aí um “crepúsculo dos chefs”?
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Conhecido como o Gastronauta, o autor italiano, que esteve em Portugal recentemente, é um defensor da cozinha tradicional e um crítico da mediatização dos chefs.
TEXTO: Foi ao escritor Italo Calvino que Davide Paolini foi buscar o conceito: “comer o território”. É isso que, depois de vários anos a trabalhar para o grupo Benetton, faz hoje este jornalista italiano que esteve em Portugal para fazer uma palestra na Semana da Cozinha Italiana no Mundo, que aconteceu entre 19 e 25 de Novembro. Horas antes da sua conferência, conversou com a Fugas no Instituto Italiano de Cultura, explicando o que o levou, a partir de certa altura, a tornar-se o Gastronauta, marca que registou em 1999, a partir do seu programa na Radio 24. Ser gastronauta, afirma, é “comer usando a cabeça e não apenas o estômago”. “Quando se come, é importante pensar no que se está a comer, de onde vem, quem o produz, qual o itinerário daquele alimento”, afirma. “Porque o alimento é também um facto cultural. ” As histórias que conta na rádio e no seu site, também chamado Gastronauta, são as que vai descobrindo enquanto visita o território italiano, e o vai comendo. Valoriza o que é genuíno, artesanal, o trabalho dos pequenos produtores, a cozinha tradicional. E mostra-se bastante crítico dos chefs mediáticos, tema, aliás, de um dos seus livros mais recentes, intitulado Il Crepuscolo degli Chef – Gli Italiani e il Cibo, tra Bolla Mediatica e Crisi dei Consumi. A transformação da comida em espectáculo televisivo pode ter ajudado alguns chefs a promover-se mas este voyeurismo não se traduz num consumo melhor ou mais informado, num aprofundamento da cultura gastronómica dos italianos, defende Paolini. Um dos sinais da crise que afecta o sector é o encerramento nos últimos tempos de milhares de pequenos restaurantes que, sem essa projecção mediática, não conseguem sobreviver. “Em Itália, os dez chefs principais estão sempre na televisão, mas até o programa Master Chef, que foi muito seguido, começa agora a receber reacções negativas porque sempre que se acende a televisão vêem-se os mesmos chefs”, diz. “Há muita gente que vai aos restaurantes desses chefs só para fazer selfies. ”Paolini mostra-se convencido de que este é um fenómeno que se aproxima já da saturação. “Crepúsculo não é noite, mas está a tornar-se e eu creio que neste caso se avizinha a noite”, reforça, lembrando que o sistema económico na base do fenómeno é frágil e que “o negócio é bom para 20 ou 30 chefs, mas não para os outros”. Outro sinal de que alguma coisa está a mudar é o facto de os guias gastronómicos em Itália terem reduzido as suas vendas para metade. “O Guia Michelin vendeu bem no estrangeiro mas pouco em Itália, isso pode ser um sintoma. ” No entanto, considera o trabalho da Michelin como “o mais sério” que se faz nesta área. Já a lista dos 50 Melhores Restaurantes do Mundo levanta-lhe muitas questões. “Vejo esse sistema de classificação como um jogo económico, como acontece com o futebol. São escolhidos os melhores do mundo e isso faz aumentar o negócio. A classificação dos 50 Melhores foi uma grande invenção publicitária, hoje todos os patrocinadores do sector alimentar querem fazer parte. ” Mas, conclui, toda a votação “é um jogo de lobbies”. Enquanto isso acontece, há um mundo de produtos artesanais e pequenos produtores que precisa de maior divulgação. E que interessa a muita gente, acredita. “A partir dos anos 1990, muitas pessoas começaram a procurar as suas raízes e viram nos alimentos uma forma de regressar à sua identidade, que antes estava um pouco perdida. ”Sabe que o artesanal por natureza nunca pode chegar a muitas pessoas, mas não é um luxo no sentido que habitualmente se dá à palavra. “É uma nova forma de luxo, não de quem tem muito dinheiro mas de quem tem conhecimento. É preciso saber que aquele produto artesanal tem qualidade e para isso é preciso conhecimento. ”A Itália é muito rica neste tipo de produtos, mas nem sempre essa mensagem passa as fronteiras do país. “No exterior, a cozinha italiana é vista tal como foi representada durante muitos anos pelos imigrantes italianos, pessoas que não tinham muitos conhecimentos de cozinha mas que para sobreviver eram obrigados a inventar profissões, e uma delas era a de cozinheiros. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Além disso, faziam-no com uma grande limitação: os produtos que tinham disponíveis não eram iguais aos que existem em Itália. E para uma cozinha de produto como a italiana, isso faz uma enorme diferença, explica Paolini. “Não se podia dar o gosto italiano da pasta, do tomate, dos queijos. É o italian sounding, como é conhecido nos EUA, o nome é italiano mas a produção é totalmente diferente. ”Ainda hoje, quando chefs italianos vão para outros países e “começam a dar a conhecer a verdadeira cozinha italiana, o limite é sempre o da utilização dos produtos italianos”. Porque, sublinha, “a mozzarella que se produz perto de Nápoles não é a mesma que se produz junto a Nova Iorque”. Reconhece que há um trabalho cada vez melhor a ser feito, mas a melhor forma de conhecer a verdadeira cozinha italiana ainda é ir a Itália. E, atenção, porque mais do que uma cozinha regional, esta é uma cozinha “de município” – em poucos quilómetros tudo pode mudar, avisa.
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Entidades EUA
Surdez: Hélder Duarte emigrou “para não ser desigual”
Nasceu surdo, com pais ouvintes, e cresceu longe deles para que pudesse ter uma educação adequada. Ajudou a pôr a língua gestual portuguesa na Constituição. Mas há 18 meses trocou as salas de aulas portuguesas por uma caixa de supermercado em França. A fugir da discriminação (...)

Surdez: Hélder Duarte emigrou “para não ser desigual”
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nasceu surdo, com pais ouvintes, e cresceu longe deles para que pudesse ter uma educação adequada. Ajudou a pôr a língua gestual portuguesa na Constituição. Mas há 18 meses trocou as salas de aulas portuguesas por uma caixa de supermercado em França. A fugir da discriminação
TEXTO: Andava de emprego em emprego, com a mala às costas e a insegurança ao pescoço. Alternava entre as Escolas de Referência para Educação Bilingue de Alunos Surdos e a Escola Superior de Educação de Coimbra. Todos os anos tinha de concorrer para trabalhar. E quando o Governo de Passos Coelho diminuiu o número de vagas para professores e intérpretes de língua gestual portuguesa, Hélder Duarte resignou-se. “Pensei que teria de escolher outro ramo”, conta ao P3 numa entrevista por email. Escolheu a área do comércio. Mas a integração na equipa do El Corte Inglès foi complexa — não se sentia feliz. E então pensou de novo: desta vez em emigrar. Em Nogent-sur-Marne, em França, Hélder, surdo de nascença, conseguiu emprego, com contrato efectivo, ao fim de seis meses. Numa cadeia de supermercados, outra vez. “Na entrevista para este emprego perguntaram-me se via a possibilidade de ser caixa. Isto seria possível em Portugal? Eu próprio fiquei admirado”, recorda. A integração foi “perfeita”. “Aqui não me sinto descapacitado, a mentalidade e a cultura francesa fizeram-me sentir bem”. Emigrar significou ter de aprender duas novas línguas: a gestual francesa e a francesa. Mas ao contrário do que acontecia em Portugal, colegas e chefias foram um real apoio. E clientes também: “Aqui há quem saiba os gestos básicos”, revela. Passou mais de um ano desde que Hélder se mudou para França — e regressar não está em cima da mesa. O que todos devíamos saber sobre língua gestual (em dez pontos)A “vida normal” dos Cottim, uma família com a voz nas mãosQuando Hélder Duarte nasceu e os pais se viram com dois dos seus três filhos surdos, o mundo deles tombou. Era Agosto de 1965 e a família vivia em Huambo, Angola. Se crescessem ali, Hélder e Nelson nunca teriam a educação que precisavam, pensaram os pais. Ponderaram emigrar para o Brasil. Mas ao ouvir falar do apoio escolar existente em Portugal, elegeram Lisboa. Hélder Duarte ainda não tinha completado um ano quando entrou no colégio São Francisco de Sales. Ficaram os dois irmãos em Lisboa, voltaram os pais para Angola. Era só o início de tudo — de uma difícil adaptação a um mundo às avessas onde surdos e ouvintes viviam, em muitos aspectos, em bolhas separadas. E onde, 50 anos volvidos, tanto continua por fazer. Foi uma decisão difícil a daqueles pais, entre a certeza de estar a fazer o melhor pelos filhos e a dor da distância: “Eles não sabem gestualizar, mas deram-me tudo o que podiam dar: uma educação”, acredita Hélder. A escola foi o centro do mundo deles por muitos anos. Imersos na cultura e na língua gestual portuguesa, fizeram dessa a sua língua materna, mas com acesso a um ensino bilingue. Era no colégio interno de Lisboa que passavam o Natal, a Páscoa, as férias de Verão. Pouco saíam. Os pais só voltaram a vê-los passados quatro anos: “Foi um momento muito difícil, porque não os conhecia como pais”, recorda. Por essa altura, os meninos começaram a fazer as férias de Verão em Huambo. Os pais não compreendiam o que eles diziam, mas o irmão Germano, ouvinte e mais velho do que eles, ajudava-os a criar pontes. Foi difícil. Mas entendiam-se. “Quando existe amor, tudo se supera. ”Depois de AbrilPortugal vivia os tempos quentes de 1975 quando, depois de terem perdido tudo em Angola, os pais de Hélder regressaram a Vimieira, a aldeia no concelho da Mealhada onde tinham raízes. Ali se reuniu toda a família. Mas, para os irmãos, aquilo já não chegava: “Sentia o deafhood [traduzido como cultura surda ou surdidade] e era junto dos surdos, nesse mundo, que me sentia bem”. A pensar neles, os pais arrendaram uma casa em Lisboa, junto da Associação Portuguesa de Surdos (APS), e para lá se mudaram. Corria o ano de 1977. E “um mundo de conhecimento” se abria à frente deles. A APS era uma “biblioteca” onde tudo cabia. Havia espaço para o mundo ouvinte, mas também um renovado acesso à língua, ao deafhood. À cultura, através do teatro, e ao desporto. “Este mundo era muito maior do que aquele que o mundo ouvinte me podia dar. ” Só ali, Hélder percebeu por completo a gigante distância entre o oralismo e o gestualismo: “Era como se estivesse entre a Palestina e Israel”. Foram várias as “situações traumáticas” pelas quais passou. A dicotomia entre os universos surdo e ouvinte obrigava (ainda obriga) a uma “grande esforço” de adaptação. E esse tinha de ser feito sempre pelo mesmo lado. Aos 19 anos, a fintar a falta de horizontes, começou a viajar por várias geografias (já conhece “metade do mundo”): “Tive de sair para não ser desigual. ”A luta pela LGPSubscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Quando Hélder chegou à presidência da APS, muito caminho tinha sido feito: havia professores surdos, intérpretes, acesso à carta de condução. Faltava o passo maior de “elevar a LGP” e dar-lhe espaço na Constituição. “Foram dois anos de luta, com grande esforço de todos os envolvidos: pais, famílias, surdos, professores, intérpretes, partidos políticos. ” Numa das primeiras idas à Assembleia da República, recorda Hélder, tinham apenas 30 minutos para expor o que ali os levava — mas acabaram a conversar durante três horas. Havia interesse. E o sonho tornou-se real: em 1997, a LGP passou a integrar a Constituição, sendo a quinta língua gestual a fazer parte deste documento em todo o mundo. Mas vinte anos depois, lamenta Hélder, ainda há muitos que se esquecem disso. “O Estado e o poder político deviam comprar uns óculos para lerem a Constituição da República Portuguesa (artigo 4, alínea h)”, critica. No portal da Assembleia da República, Rui Oliveira Pinheiro, da Federação Portuguesa das Associações de Surdos, submeteu uma petição para que todos os programas infantis tenham legendas. Recentemente, o Bloco de Esquerda propôs que a LGP passe a ser uma disciplina também para ouvintes. O caminho é longo. Até porque, acredita Hélder Duarte, o próprio modelo das escolas bilingues não é o mais acertado. “A escola inclusiva não é uma escola de surdos. É uma escola de ouvintes. ” Nessas unidades, é suposto “que se fale em LGP nas aulas”, explica. Mas o que acontece na prática? “São poucos os que sabem LGP, ou seja, o que nós encontramos são grupos de alunos surdos, que nos intervalos falam e estão juntos. A escola inclusiva não olha para o mercado de trabalho quando olha para os surdos. ” O preconceito existe, lamenta Hélder. E há ainda uma “revolução por fazer: da mentalidade, da existência, do direito a ser-se pessoa até morrer. ”
REFERÊNCIAS:
Steve Bannon vai abrir uma universidade populista perto de Roma
Um mosteiro a 130 quilómetros de Roma será lugar para a nova universidade populista idealizada por Steve Bannon e que será também o quartel-general para o apoio ideológico aos partidos anti-establishment europeus. (...)

Steve Bannon vai abrir uma universidade populista perto de Roma
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.05
DATA: 2019-05-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um mosteiro a 130 quilómetros de Roma será lugar para a nova universidade populista idealizada por Steve Bannon e que será também o quartel-general para o apoio ideológico aos partidos anti-establishment europeus.
TEXTO: Steve Bannon, ex-assessor de Donald Trump e principal estratega da campanha do agora Presidente dos Estados Unidos, continua a dar passos para a formação do seu movimento populista que pretende coordenar e apoiar os partidos anti-establishment em ascensão na Europa. E o próximo será a formação de uma universidade populista, que terá sede em Itália, país escolhido por Bannon como epicentro da sua ofensiva política. A Certosa di Trisulti é o local escolhido para esta universidade. Este mosteiro, datado de 1211, está localizado em Collepardo, na província de Frosinone, nos montes Ernici, a 130 quilómetros de Roma. A universidade será financiada através de doações privadas. O edifício necessita ainda de reformas, pois o monumento há muito que não é utilizado, pelo que a nova instituição arrancará no próximo ano. O El País visitou o local e falou com Benjamin Harnwell, braço direito de Bannon em Itália e membro do círculo conservador do Vaticano que se opõe ao Papa Francisco. “Faremos retiros, cursos de formação, cursos educativos com professores de elevada reputação”, explica ao jornal espanhol, acrescentando que as principais decisões sobre a organização da universidade – tais como a escolha dos professores ou matérias – ficarão a cabo de Bannon. Mas vai ser mais do que isso. Servirá como quartel-general para a avançada populista pela Europa, fornecendo todo o apoio ideológico, mas também religioso, nesta estratégia que pretende espalhar pelo continente o método que levou Donald Trump à Casa Branca. Nos últimos tempos, Bannon, que foi despedido da Casa Branca em Agosto do ano passado, foi levantando o véu sobre esta estratégia. Em Julho anunciou a criação de uma fundação – chamada O Movimento – com sede em Bruxelas, para financiar e prestar apoio a partidos populistas, tendo, para já, as eleições europeias de 2019 na mira. O antigo estratega de Trump explicou também que esta fundação é uma resposta a George Soros, o liberal multimilionário norte-americano de origem húngara, e à sua Open Society. No início de Setembro, Bannon contou com um novo membro de peso para o seu O Movimento. Matteo Salvini, ministro do Interior italiano (mas o verdadeiro homem forte do Governo de Roma) e líder do partido de extrema-direita Liga, juntou-se à fundação. Salvini é visto por Bannon como um modelo a seguir e o exemplo daquilo que o antigo director do site de notícias conservador Breitbart quer para todo o continente europeu. Alguém que desafiou o establishment, tendo por base uma política anti-imigração e ultraconservadora, e que foi capaz de formar Governo numa das principais economias europeias juntamente com o Movimento 5 Estrelas, partido radical. “A Itália é o coração pulsante da política moderna. Se funcionou lá, pode funcionar em qualquer lado”, afirmava Bannon em entrevista ao site norte-americano The Daily Beast, em Julho. É por isso que, desde as eleições de Março que deram a vitória à Liga e ao 5 Estrelas, Bannon tem passado grande parte do seu tempo em Itália e tornou este país como sede a partir da qual lançará a sua ofensiva populista – foi em Roma que, por exemplo, abriu uma das primeiras redacções internacionais do Breitbart, quando ainda o dirigia. Além disso já revelou que passará 80% ou 90% do seu tempo em solo europeu a partir de agora. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Outro dos actores políticos contactado por Bannon e que se aproximou ao seu movimento é Giorgia Meloni, líder do partido conservador e eurocéptico Irmãos de Itália. Para este fim-de-semana está marcado um encontro do O Movimento que contará com a presença de Salvini e, espera-se, de Meloni. Segundo o El País, a conferência terá a duração de três dias, tem como título “Europa Contra Europa” e vai ter lugar na Ilha Tiberina, no coração de Roma. Bannon vai responder a perguntas de um jornalista italiano num segmento chamado “A culpa é toda dos populismos”. “Salvini é um génio, tem uma intuição fora do comum. E Steve [Bannon] é um visionário, vê as coisas mais depressa do que toda a gente”, diz Harnwell ao jornal espanhol. “[Bannon] fez Trump ganhar sem nunca ter dirigido um campanha na sua vida. Por isso, tem uma opinião que conta”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave imigração homem
Matteo Salvini, o novo cometa dos nacionalistas
O vice-primeiro-ministro italiano é, hoje, talvez mais popular que Marine Le Pen – tem mais projecção mediática que a líder da extrema-direita francesa. (...)

Matteo Salvini, o novo cometa dos nacionalistas
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.136
DATA: 2019-05-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: O vice-primeiro-ministro italiano é, hoje, talvez mais popular que Marine Le Pen – tem mais projecção mediática que a líder da extrema-direita francesa.
TEXTO: No início da sua carreira política na Liga, quando ainda acreditava que o Norte de Itália devia abandonar o Sul e formar uma nova nação, chamada Padania, Matteo Salvini até chegou a torcer pela selecção alemã, conta o Guardian. Hoje, é um ardente defensor do slogan de Donald Trump, com as devidas adaptações: “Italianos primeiro”. Aliás, “as nações primeiro” talvez seja uma melhor tradução do pensamento deste político de 46 anos que na juventude juntava o comunismo e a Padania numa única paixão. Vice-primeiro-ministro e ministro do Interior do Governo italiano, fez entrar a Liga no executivo como parceiro de coligação menor, mas rapidamente as sondagens o mostraram a ultrapassar o Movimento 5 Estrelas, vencedor das últimas eleições. Uma afinidade incomum pelos media, uma presença constante nas redes sociais e em actividades de campanha, bem como as posições violentamente anti-imigração, que incluem ter impedindo barcos com imigrantes salvos no Mediterrâneo de atracar nos portos italianos, tornaram-no detestado por muitos, mas adorado como um novo ídolo dos nacionalistas pelo mundo fora. Hoje, é talvez mais popular que a francesa Marine Le Pen – tem mais projecção mediática que ela. Viktor Orbán, o primeiro-ministro húngaro, outro campeão anti-imigração, chama-lhe “um herói”. Ele convenceu-se disso, e tornou-se um novo pólo de acrecção de movimentos nacionalistas e anti-imigração europeus, que esperam constituir uma nova força no Parlamento Europeu. Querem ser como um cometa que rompa e queime a política e as instituições europeias por dentro, e a política para as migrações de Bruxelas, que apesar de bloqueada há anos suscita uma violenta rejeição dos partidos populistas que ameaçam ter resultados excepcionalmente bons nas eleições europeias de dia 26 de Maio.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave imigração
Populismo à italiana
Salvini e Di Maio, com ideologias tão diferentes, arriscam-se a ser o Rómulo e Remo do século XXI. (...)

Populismo à italiana
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-05-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Salvini e Di Maio, com ideologias tão diferentes, arriscam-se a ser o Rómulo e Remo do século XXI.
TEXTO: “O mundo antigo está a morrer mas o novo tarda em nascer”, escreveu Antonio Gramsci no final dos anos 20. O filósofo marxista italiano estava ansioso por saber que destino teria a Revolução Russa de 1917. “E neste interregno nascem os monstros. ” Os monstros de Gramsci incluíam os fascistas de Mussolini, cuja luta mortal com os comunistas nas ruas de Turim pelo controlo da vontade popular lhe acabaria por custar a vida. Os nossos monstros não são os monstros de Gramsci. Os nossos não têm ainda forma definida ou nome próprio. Mas já há sinais do que poderão vir a ser. Uma chave para se ler estes sinais é a teoria da hegemonia de Gramsci. Uma teoria que parte de uma distinção política fundamental. Por um lado, temos a dominação política direta, mantida através da força militar e da repressão policial. Mas isto não nos deve fazer perder de vista algo ainda mais importante. O controlo da (ou hegemonia sobre a) forma de pensar da população. Como é que se conquista a vontade popular, não pela força, mas pelo controlo hegemónico da opinião pública? O primeiro passo a dar, segundo Gramsci, é moldar o debate político. Isto requer a colocação de pessoal político nas escolas, universidades, jornais, fundações. A função destes quadros é espalhar a palavra. Só assim se forja um novo senso comum. A política pura e dura, eleições incluídas, fica para depois. A teoria da hegemonia fez escola no Ocidente a partir dos anos 60. Inspirou quer a nova esquerda, em superar as limitações do materialismo histórico, quer a nova direita francesa dos anos 70, que procurava assim emular e anular a estratégia do seu adversário. A ideia de hegemonia pode ser encontrada também por detrás de projetos políticos. Como explicar o sucesso de Berlusconi senão pela sua agenda (gramsciana) de controlo da opinião pública? Sem um programa ideológico coerente, Berlusconi fez disso a sua imagem de marca: controlando televisão e imprensa, levou os italianos a acreditarem que o tempo da ideologia tinha acabado. À frente da Força Itália, venceu quatro eleições legislativas. Até que a crise financeira de 2008 o derrotou. Com o tecnocrata Mario Monti, os italianos sentiram o seu país vergado sob o peso da mão longa de Merkel e do mundo financeiro. Com Renzi, que acaba por destruir o próprio partido numa luta fratricida entre gerações, perdem a esperança do centro poder governar. É na sequência desta sucessão de becos sem saída que as legislativas do ano passado têm lugar. É também aqui que surge o primeiro sinal do que está para vir. O atual governo italiano assenta numa solução política inédita. Um governo de coligação entre os dois extremos ideológicos. Uma coligação bicéfala, com dois vice-primeiro ministros. A dar a cara pelo movimento 5 Estrelas, Luigi de Maio; pela Liga Norte, Matteo Salvini. Uma coligação unida pela forma de fazer política e pela posição anti-sistema, seja o “sistema” Bruxelas, o FMI, ou o capitalismo de casino. Mas o novo monstro bicéfalo não tem ainda uma identidade formada. A rejeição da globalização económica em nome de uma solidariedade de classe aparece combinada com uma mensagem nacionalista e xenófoba. Reza a lenda que foi Rómulo a fundar Roma após matar Remo, o seu irmão gémeo. Salvini e Di Maio, com ideologias tão diferentes, arriscam-se a ser o Rómulo e Remo do século XXI. Apesar desta incoerência programática, o novo monstro começa a ganhar forma. Assume uma forma distintamente populista de fazer política. Responsável pelas pastas da economia e segurança social, Di Maio reuniu com os “coletes amarelos” na vizinha França, símbolo da resistência anónima contra o grande capital, as instituições europeias e o neo-liberalismo. Objectivo: afrontar Macron, exemplo acabado da elite económico-financeira. Responsável pela pasta da Administração Interna, Salvini tem-se mostrado mais preocupado com a imigração do que com a Máfia. O combate à criminalidade passa por expurgar o “imigrante” traficante de droga, violento e incapaz de se integrar na sociedade italiana. Para Di Maio e Salvini, portanto, a solução dos problemas que a Itália defronta hoje em dia é simples. Erradicar o mal pela raiz, depurando a nação italiana dos elementos estranhos que a deixa mais fraca e desfigurada, sejam estes as elites políticas ou os imigrantes ilegais. A promessa de um novo e revigorado povo italiano, a renascer das cinzas do antigo, é uma imagem poderosa. Uma imagem eminentemente populista. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. À medida que a forma do novo monstro se começa a definir, faz-se luz sobre o que o tem permitido crescer. Esta lógica de ressentimento contra elites e imigrantes parece beneficiar de uma “emigração interior” por parte de muitos italianos. No século XX, esta emigração interior era apanágio de ditaduras que limitavam a participação cívica e política. Hoje em dia, com o aumento generalizado do nível de vida das populações, é um traço comum às democracias. Sem surpresa, também em Itália muitos têm optado por “emigrar” para a sua vida pessoal. “Exilados” no seu mundo interior, focam-se em si próprios e nos que lhes são próximos. O resultado é conhecido, lá como cá. A participação política e o protesto são coisas de uns poucos, quase sempre os mesmos, quando não profissionais de carreira. Esta alienação é pasto fértil para que o novo monstro cresça e se torne hegemónico. Impedir a hegemonia do novo monstro passa, pois, por lutar contra a alienação cívica. Felizmente, a Itália não é só Salvini ou Di Maio. É também a Itália de Maquiavel e do republicanismo cívico. Para os florentinos, a liberdade não se reduzia a serem livres da interferência externa ou serem livres de concretizar os seus planos de vida. O mais importante é estarem livres da dominação de um qualquer rei ou senhor. Liberdade era senhores do seu próprio destino. Um destino que se definia através da participação no governo da sua cidade. Um destino que se protegia com garantias constitucionais contra o exercício arbitrário do poder. Mas como convencer hoje as pessoas em Florença ou Lisboa que o seu próximo destino de férias é menos importante do que o destino do país? Ou que, num tempo que a política é dominada por tecnocratas arrogantes ou demagogos com uma relação difícil com a verdade, é necessário devotarem mais tempo à coisa pública? Perguntas difíceis de resposta incerta. Os monstros de Gramsci acabaram por lhe custar a vida e marcaram o século XX de forma indelével. Durante décadas, acreditámos que não voltariam. Enganámo-nos. Os monstros voltaram. E tudo indica que estão para ficar.
REFERÊNCIAS:
Entidades FMI
Campanha da Frente Nacional manchada por acusações de fraude
Presidente do Parlamento Europeu pede investigação sobre assistentes dos eurodeputados do partido de Marine Le Pen, sob suspeita de que estão a receber dinheiro de forma ilegal. (...)

Campanha da Frente Nacional manchada por acusações de fraude
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-05-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Presidente do Parlamento Europeu pede investigação sobre assistentes dos eurodeputados do partido de Marine Le Pen, sob suspeita de que estão a receber dinheiro de forma ilegal.
TEXTO: Em período de campanha eleitoral em França, para as eleições departamentais, com as sondagens a darem a Frente Nacional (FN) como vencedora da primeira volta, o partido de Marine Le Pen está sob suspeita de defraudar os contribuintes europeus: 20 militantes da FN são pagos pelo Parlamento Europeu como assistentes dos eurodeputados deste partido, quando raramente sairão de França. Martin Schulz, o presidente do Parlamento Europeu, pediu ao Organismo Europeu de Luta contra a Fraude (OLAF) que decida se deve investigar. As suspeitas que levaram Martin Schulz a pedir a intervenção do OLAF representam uma fraude no valor de 1, 5 milhões de euros anuais – o valor dos salários dos assistentes dos eurodeputados da FN. A continuar até ao final do mandato, chegaria a um valor total de 7, 5 milhões de euros. O que levou os serviços financeiros do Parlamento Europeu (PE) a investigar foi a divulgação, há cerca de um mês, do organigrama do partido de extrema-direita FN, onde constavam os nomes dos assistentes parlamentares, embora sendo-lhes atribuídas responsabilidades partidárias na sede em Nanterre, nos arredores de Paris. Mas as regras do PE estipulam que os assistentes “devem necessariamente trabalhar directamente com os deputados europeus, no exercício do seu mandato parlamentar”. Os contratos destes assistentes – entre os quais dois conselheiros especiais de Marine Le Pen, a sua directora de gabinete no PE, bem como o de Florian Philippot, um dos cinco vice-presidentes da FN, avança o Libération – dizem que o local de trabalho é Nanterre, e não Estrasburgo ou Bruxelas. Martin Schulz sustentou a sua decisão de recorrer ao OLAF, explicando que “não se pode trabalhar para o PE e para um partido político ao mesmo tempo”. Não é a primeira vez que o financiamento da FN está sob suspeita. Schulz informou o Ministério da Justiça francês, e o caso do Parlamento Europeu pode dar origem a uma investigação em França por financiamento ilícito de partido político. Mas a FN já está a ser investigada por causa do financiamento das campanhas eleitorais nas eleições cantonais de 2011 e nas legislativas e presidenciais de 2012. As suspeitas concentram-se nas relações entre a empresa Riwal, dirigida por um próximo de Marine Le Pen, e o micro-partido Jeanne – um tipo de estrutura que se tem multiplicado em França, pois estas associações reconhecidas pela Comissão Nacional das Contas de Campanha e dos Financiamentos Políticos permitem contornar legalmente a lei sobre o financiamento dos partidos políticos, embora não possam receber apoios directos. Só em 2012, a justiça suspeita que a FN terá lesado o Estado em 10 milhões de euros, num esquema de venda aos candidatos do partido de um kit do qual constam todos os materiais de campanha, por 16. 500 euros, e a concessão de um empréstimo para o comprar. O lucro estaria no juro do empréstimo e no reembolso, pelo Estado, das despesas de campanha dos candidatos. França vive um aceso período de campanha para as eleições departamentais, onde as sondagens dão a Frente Nacional como a possível vencedora da primeira volta, a 22 de Março: 31%, segundo a última sondagem Odoxa (a UMP de Sarkozy fica-se pelos 29% e o PS com 21%). O primeiro-ministro socialista Manuel Valls assumiu o medo de a Frente Nacional, um partido anti-União Europeia e anti-imigração se tornar a primeira força política de França: “É preciso olhar o medo de frente. A coragem em política é aceitar o medo e ultrapassá-lo”, afirmou. Apelou ainda à “desconstrução do programa da FN”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Face a estas acusações, que poderiam pôr em causa uma vitória que já saboreava, a FN reagiu com grande indignação, embora sem negar propriamente as acusações. Marine Le Pen fala “em manipulação política” e usou uma sua arma típica: prometeu processar Martin Schulz. Mas, quando Valls dá o peito ao combate, os rostos mais conhecidos da FN acusaram-no de estar por trás da denúncia em Bruxelas e tentam reduzir tudo a um golpe eleitoral. “É um encarniçamento político, evidentemente”, afirmou Marion Maréchal-Le Pen, a sobrinha de Marine Le Pen deputada em Paris. “Schulz é um militante político. Nas eleições europeias, fez vários comícios contra a FN. Agora, aplica à letra as ordens do sr. Valls, que ontem disse que era preciso que as elites se mobilizassem contra a Frente Nacional”, acusou, com uma lógica de simplicidade implacável.
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Partidos PS
A Última Viúva de África, de Carlos Vale Ferraz, vence Prémio Fernando Namora
O romance premiado demonstra como "a memória da experiência colonial pode ser aterradora", considerou o júri presidido por Guilherme d'Oliveira Martins. (...)

A Última Viúva de África, de Carlos Vale Ferraz, vence Prémio Fernando Namora
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.15
DATA: 2018-12-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: O romance premiado demonstra como "a memória da experiência colonial pode ser aterradora", considerou o júri presidido por Guilherme d'Oliveira Martins.
TEXTO: O romance A Última Viúva de África, de Carlos Vale Ferraz, é o vencedor do Prémio Literário Fernando Namora/2018, com o valor pecuniário de 15 mil euros, anunciou esta quinta-feira a Estoril-Sol, que o instituiu em 1987. Este romance de Vale Ferraz demonstra como "a memória da experiência colonial pode ser aterradora", lê-se na acta do júri, citada no comunicado daquela organização. "O ex-Congo Belga e Angola constituem neste romance o eixo geopolítico de acções de guerra e desvarios humanos no qual uma mulher, 'Madame X', emerge, simultaneamente, como figura de ligação da estória do romance e da História dos anos 1960, no início da guerra nacionalista [das ex-colónias europeias em África]", refere ainda o júri, presidido por Guilherme d'Oliveira Martins. O júri desta 21. ª edição do Prémio Literário Fernando Namora contou ainda com José Manuel Mendes, pela Associação Portuguesa de Escritores, Manuel Frias Martins, pela Associação Portuguesa dos Críticos Literários, Maria Carlos Loureiro, pela Direcção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas, Maria Alzira Seixo e Liberto Cruz, convidados a título individual, e Nuno Lima de Carvalho e Dinis de Abreu, pela Estoril-Sol. Carlos Vale Ferraz, pseudónimo literário de Carlos de Matos Gomes, nasceu a 24 de Julho de 1946, em Vila Nova da Barquinha, no Ribatejo, e foi oficial do Exército, tendo cumprido várias comissões militares em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Algumas das suas obras reflectem esta realidade histórica, e foram adaptadas ao cinema e à televisão, entre as quais Nó Cego, romance publicado pela primeira vez em 1982, e reeditado recentemente. O autor colaborou com a actriz e realizadora Maria de Medeiros no argumento do filme Capitães de Abril (2000), realizado pela cineasta. Na área da História Contemporânea, e assinando como Carlos de Matos Gomes, é co-autor, com Aniceto Afonso, dos livros Guerra Colonial, Os Anos da Guerra Colonial e Portugal e a Grande Guerra. Segundo a Porto Editora, responsável pela edição, no ano passado, de A Última Viúva de África, a narrativa parte "da história real de uma mulher portuguesa que não quis abandonar a sua nova pátria", o ex-Congo Belga. A protagonista é Ana Oliveira, natural do Minho, que na década de 1950 decide emigrar para África, onde se torna "conhecida (. . . ) por 'Madame X', pelas autoridades portuguesas, para quem trabalhava como informadora, e por Kisimbi, a 'mãe', pelos mercenários que combatiam em prol da secessão de Catanga [província no Sul da actual República Democrática do Congo]". Por opção sua, Ana Oliveira permaneceu na antiga colónia belga do Congo após a independência daquele país, declarada em 1959. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Gente Feliz com Lágrimas, de João de Melo, foi o vencedor da primeira edição do Prémio Fernando Namora, em 1989. No ano passado, o vencedor foi o romance A Noite não é Eterna, de Ana Cristina Silva. Urbano Tavares Rodrigues, Mário Cláudio, Teolinda Gersão e Mário de Carvalho, ambos por duas vezes, José Eduardo Agualusa, Luísa Costa Gomes, Maria Isabel Barreno, António Lobo Antunes e Nuno Júdice são alguns dos autores que já venceram este galardão. O Prémio Literário Fernando Namora/2018 "será entregue oportunamente em cerimónia a anunciar", afirma a Estoril Sol.
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