Agatha Christie conseguiu recuperar do divórcio nas Canárias? Este livro diz que sim
A separação deixara a criadora de Poirrot e Miss Marple deprimida e numa situação económica mais instável do que a que lhe era habitual. Em Las Palmas conheceu um médico que a terá ajudado. Um novo livro acompanha-a no seu refúgio, quando ainda lamentava ter perdido o seu primeiro e grande amor. (...)

Agatha Christie conseguiu recuperar do divórcio nas Canárias? Este livro diz que sim
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-12-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: A separação deixara a criadora de Poirrot e Miss Marple deprimida e numa situação económica mais instável do que a que lhe era habitual. Em Las Palmas conheceu um médico que a terá ajudado. Um novo livro acompanha-a no seu refúgio, quando ainda lamentava ter perdido o seu primeiro e grande amor.
TEXTO: O ano de 1926 foi terrível para Agatha Christie. Perdeu a mãe e o seu casamento. Archibald (Archie) Christie, o elegante piloto britânico com quem casara na véspera de Natal de 1914, pediu-lhe o divórcio depois de admitir um romance com outra mulher, Nancy Neele. O casal Christie tinha-se apaixonado depressa, depois de um baile, e tinha vivido intensamente até ali, com a Primeira Guerra Mundial pelo meio. A escritora tivera já vários namorados e até outra proposta de casamento, mas nunca se deixara encantar. Archie, que terá sido o seu primeiro e grande amor, estava entre as pessoas que mais a tinham encorajado a escrever e nada parecia prever uma separação. Talvez por isso, a mais popular autora de policiais de sempre tenha sofrido tamanho choque. Um choque que chegou à primeira página do diário norte-americano The New York Times quando, na sequência de uma discussão com o ainda seu marido, Agatha Christie desapareceu durante dias, sem que ninguém soubesse onde estava. O seu desaparecimento impressionou a opinião pública e levou o então secretário do Interior a pressionar as autoridades para que intensificassem as buscas, que chegaram a envolver centenas de agentes e milhares de voluntários que percorreram ruas e campos quando o seu carro, um Morris Cowley, foi encontrado numa pedreira, com algumas roupas e uma carta de condução expirada. Outro grande autor do romance policial – o Arthur Conan Doyle de Sherlock Holmes – chegou até a pagar a um médium para que descobrisse onde ela estava. Agatha Christie (1890-1976) acabou por ser encontrada dez dias depois, num hotel do Yorkshire, registada sob um nome falso – não sem ironia, escolhera o apelido da amante do Marido, Neele, e fazia-se passar por uma mulher acabada de chegar da África do Sul. Se o choque da infidelidade do marido fora grande, o da repercussão do seu desaparecimento não foi menor. Devastada com a morte da mãe e com a separação, que também a afectou economicamente, Agatha Christie refugiou-se nas ilhas espanholas. Passou uns dias em Tenerife e depois foi para a Gran Canaria. É precisamente na sua estadia em Las Palmas, em 1927, que se concentra a obra agora lançada pela editora madrilena Adarve. Crimen en El Confital by Agatha Christie é um livro ensaio em que o historiador Javier Campos procura reconstituir essa temporada em que a escritora que criou Hercule Poirrot e Miss Marple, dois dos mais célebres detectives de papel, se refugiou na ilha com a sua filha, Rosalind, e a secretária em quem muito confiava. Nele Javier Campos quer aproximar-se dos mistérios reais que ainda rodeiam a vida desta mulher que acabaria por se tornar um dos escritores mais populares de sempre, com 90 livros publicados, milhares de milhões de cópias vendidas em todo o mundo (as estimativas mais correntes andam entre os dois e os quatro mil milhões), traduzidos em mais de 40 idiomas e frequentemente adaptados ao cinema, ao teatro e à televisão, como o comprova o filme Um Crime no Expresso do Oriente, de Kenneth Branagh, que acaba de estrear. Segundo o diário La Provincia, de Las Palmas, o novo livro do historiador Javier Campos está organizado em quatro grandes blocos: o primeiro é uma ficção sobre um crime na Playa del Confital (também conhecida como El Confital), em que o autor parte de factos verídicos e procura emular o estilo de Agatha Christie; o segundo tem muitos dados biográficos sobre a passagem da autora pela Gran Canaria; o terceiro debruça-se sobre quem poderá ter sido o Dr. Lucas, o médico que a tratou na ilha; e o quarto é um ensaio sobre as semelhanças entre a obra da escritora de policiais britânica e o crime de El Confital, relativo a uma morte violenta ali ocorrida quando a autora estava em Las Palmas e que, diz o historiador, inspirou um dos seus contos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Cruzando dados da autobiografia da escritora, publicada em 1977, com outros saídos da imprensa regional da época, Javier Campos faz um retrato do enigmático médico que até aqui era conhecido apenas como Dr. Lucas, o clínico que até chegou a tratar-lhe da garganta mas que, sobretudo, a ajudou a recuperar de uma profunda fase de desânimo. É este médico que tira do “poço em que caiu a partir do momento em que o marido, Archibald Christie, lhe pede o divórcio, em finais de 1926, algo que, naquela sociedade britânica com reminiscências vitorianas, empurrava a mulher para um limbo social e económico, que não tinha direito a qualquer pensão de alimentos e que se via como uma fracassada”, disse o autor de Crimen en El Confital by Agatha Christie ao diário espanhol La Vanguardia, sem levantar a ponta do véu que cobre a figura. Quem quiser ir mais além, terá de ler o livro. O que se sabe sobre a sua vida depois da passagem pela Gran Canaria é que a autora de O Cão da Morte ou de Jogo Macabro acabou por recuperar da sua eventual depressão para reafirmar, uma e outra vez, o seu talento para o romance de crime e mistério, dando corpo a personagens que são hoje eternos. Em 1930, ano em que lançou o livro que apresentou Miss Marple aos leitores (Crime no Vicariato), voltou a casar-se, desta vez com um professor de arqueologia chamado Max Mallowan, um grande conhecedor das cidades antigas da Síria e do Iraque com quem participou em diversas expedições, uma experiência que relatou em 1946 no livro de memórias Come, Tell Me How You Live (que em Portugal está traduzido pela Tinta-da-China, sob o título Na Síria). Com este arqueólogo Agatha Christie tornou-se Lady Mallowan e a história dos dois foi mesmo “para sempre”. Estiveram juntos até à morte da escritora, em 1976.
REFERÊNCIAS:
As metamorfoses de um poeta
A obra poética de Armando Silva Carvalho, construída ao logo de mais de meio século, impõe-se hoje com uma força extraordinária que levou algum tempo a reconhecer. (...)

As metamorfoses de um poeta
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: A obra poética de Armando Silva Carvalho, construída ao logo de mais de meio século, impõe-se hoje com uma força extraordinária que levou algum tempo a reconhecer.
TEXTO: Armando Silva Carvalho foi um poeta fora de todas as constelações. Nas histórias parciais e visões panorâmicas da poesia portuguesa do último meio século, o reconhecimento que lhe coube não foi exuberante, mas também não foi propriamente exíguo. Porém, faltou quase sempre verificar e salientar que a sua grandeza permaneceu um pouco retraída e o seu espaço soberano não era apreensível imediatamente. Foi já neste século, com os seus últimos livros, que a grandeza da poesia de Armando Silva Carvalho (a sua prosa, os seus romances, situam-se num plano muito menos elevado) ganhou uma enorme evidência. Eis um poeta que não só nunca enfraqueceu, mas ainda foi ganhando tempo, no sentido em que a sua poesia, tão livre das contingências epocais e geracionais, pareceu ter chegado agora ao momento de uma mais justa e efectiva legibilidade. O seu livro de estreia é de 1965 e chama-se Lírica Consumível. É um título que anuncia o ethos mais característico deste poeta e que, com diferentes inflexões, sobreviveu até ao fim. Trata-se da atitude irónica e hostil face à afectação “poética” do esteta e do literato. A aversão à autocontemplação literária e à expressão enfática atravessam toda a sua poesia. A arma cruel da sátira e da irrisão é usada sem condescendências e não poupa sequer aquele que tão bem a sabe usar. Terminava assim o poema Fragmentos de uma Ideia Burguesa, desse primeiro livro: “Andando Armando a rima zune/ e o pensamento afasta prejuízos/ e só sorrisos são/ a morte natural do entendimento”. Começaram aqui a delinear-se o tom e a configuração temática presentes em toda a sua poesia: o mal-estar e a distância face à comédia da vida e dos costumes. Essa distância não se manifesta apenas de maneira satírica ou irónica, pode ser muito menos lúdica e adquirir mesmo um lado negro, quase sinistro, como acontecia num livro de 1995, Canis Dei, cujos poemas eram exercícios que tinham no centro a palavra “cão” e todas as suas variações e irradiações semânticas. "Canis dei", cão de deus, é a versão elevada, sublimada, de uma “vida de cão”. E é nessa direcção de uma vida canina, rebaixada na sua condição, que se dirigem todos os poemas deste livro, promovendo uma indistinção entre o alto e o baixo, entre a sublimidade e a vulgaridade. E, mais uma vez, a arma é apontada contra aquilo que num poema deste livro é designado por “aura poética”: “Ninguém é filho do poema universal. / Nem pai/ do seu rebanho de versos. / O que eu busco é um lar. / Um lar mais natural nas palavras/ da terra/ com os lábios invisíveis sobre o livro/ dos mortos”. Se neste livro, assim como noutros lugares da obra de Armando Silva Carvalho, nos aproximamos de algo próximo de uma visão trágica, trata-se porém de um trágico moderno que admite o ludismo irónico e satírico. Um dos grandes feitos da sua poesia consiste precisamente em juntar e tornar compatível o que geralmente é mutuamente exclusivo: o lirismo e a crítica, o ludismo e a crueldade, a sátira e a adesão jubilante ao mundo da vida, o social e o privado, a política e o erotismo. Lembremos que um dos filões fundamentais da poesia de Armando Silva Carvalho é precisamente o da crítica social e política, através de uma objectivação satírica, e às vezes jocosa, da realidade nacional. É uma poesia altamente corrosiva, na sua mordacidade: Leia-se o início deste poema intitulado W. C (do livro de 1981, Sentimento de um Acidental): “Neste país onde ninguém sabe/ como obram as musas, / já dizia o outro, / fazer versos realmente versos, / que sigam o espasmo do ânus provecto/ dessas criaturas fúteis, decantadas, / ainda é e será muito difícil”. Esta poesia, livre de todos os puritanismos (sejam eles formais ou temáticos), torna-se assim uma força crítica para enfrentar o mundo. Mas é também uma força crítica do Eu em relação a si próprio e uma via de acesso às regiões mais privadas e pessoais, como acontece com mais frequência nos seus últimos livros, onde são bem visíveis algumas inflexões mais confessionais e intimistas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Por outro lado, Armando Silva Carvalho deixou na sua obra manifestações explícitas de homenagem a alguns dos seus contemporâneos, por exemplo Herberto Helder, Fiama Hasse Pais Brandão e Alexandre O’Neill (talvez a afinidade com este último, pelo menos na veia satírica, seja mais visível; mas, em muitos outros aspectos, há um mundo imenso que os separa). Mas não devemos ver nessas evocações a prova de uma relação de influência ou uma afinidade electiva. A sua poesia atravessa o tempo com uma enorme singularidade e não permite aproximações imediatas. No entanto, ela desenvolve-se no horizonte de um grande diálogo com a poesia portuguesa, não apenas a contemporânea. Sentimento de um Acidental era obviamente uma evocação de Cesário Verde. E há ainda a prosa, certamente menos importante do que a poesia. Mas, ainda assim, destaque-se um livro tão iconoclasta como Portuguex (1977) e uma experiência interessantíssima, a quatro mãos, com Maria Velho da Costa, que tem por título O Livro do Meio (2006), um romance epistolar (à maneira do século XVIII), divertido, cheio de disputas e divergências entre dois amigos. E há também as traduções, de autores franceses e italianos. Armando Silva Carvalho moveu-se sempre entre géneros e entre línguas, com uma grande maleabilidade. Foi, no mais alto grau, um escritor ecléctico e capaz de usar as armas da crítica e do desencanto sem cair no niilismo nem no cinismo.
REFERÊNCIAS:
O fim-de-semana mais longo de Serralves já está em movimento
O Serralves em Festa chegou à Baixa do Porto com as espirais hipnóticas de Ola Maciejewska e do seu vestido vindo dos primórdios da dança moderna. Seguem-se 50 horas sem parar — e o habitual banho de multidão. (...)

O fim-de-semana mais longo de Serralves já está em movimento
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Serralves em Festa chegou à Baixa do Porto com as espirais hipnóticas de Ola Maciejewska e do seu vestido vindo dos primórdios da dança moderna. Seguem-se 50 horas sem parar — e o habitual banho de multidão.
TEXTO: Ola Maciejewska atravessa a Praça Carlos Alberto com um dancing dress em cada mão, sol do meio-dia a bater em cheio na calçada portuguesa e a fazer ricochete na pele por bronzear do casal de turistas alemães que se senta na beira do canteiro para assistir ao início do Serralves em Festa (e folhear o programa, disponível apenas em inglês, para que não haja dúvidas de que esta é uma cidade definitivamente turistificada). Em teoria, é só às 20h desta sexta-feira que o grande portão dos jardins da fundação na Avenida Marechal Gomes da Costa se abre de par em par para dar início às 50 horas de festa non-stop – e totalmente grátis – com que a instituição espera bater até à meia-noite de domingo mais um recorde (no ano passado, ficou para trás a fasquia dos 160 mil visitantes). Na prática, o Serralves em Festa já está em movimento na Baixa do Porto, onde Ola Maciejewska e os dois hipnóticos dancing dresses que foi buscar aos primórdios da dança moderna começaram esta quinta-feira a ganhar embalo para o provável banho de multidão que terão à sua espera este domingo. Criada na sequência de uma investigação em torno de uma figura pioneira – a americana Loïe Fuller (1862-1928), cuja extraordinária silhueta em espiral é uma das imagens mais icónicas da dança moderna –, a peça que a bailarina e coreógrafa polaca trouxe esta quinta-feira até à Praça Carlos Alberto e aos Jardins da Cordoaria, e que repetirá no último dia do Serralves em Festa, procura reequacionar o lugar do corpo na história da dança, uma história em que este sempre figurou como única fonte possível de movimento. “Interesso-me por propostas em que o movimento é modificado pelo objecto e em que o objecto é modificado pelo movimento – e Loïe Fuller é um exemplo paradigmático desse tipo de pesquisa”, explicou Ola Maciejewska à revista Inferno. Propulsionado pelo fulgurante aerodinamismo dos dancing dresses que ela própria inventou, e pela potência da recém-descoberta luz eléctrica, o hipnótico corpo de Fuller deu início a uma linhagem coreográfica que Ola Maciejewska lamenta ter-se perdido pelo caminho, esmagada pelo “antropocentrismo” dominante nas artes performativas. Retomar essa linhagem é a missão a que esta artista associada do Centre Coreográfico Nacional de Caen se dedica desde que em 2011 publicou o ensaio Extending the notion of movement in dance to non-humans, things and objects, a que se seguiram as duas peças que agora traz ao Serralves em Festa: Loïe Fuller: Research (2011), o solo que repete às 20h30 de domingo no foyer do museu, e Bombyx Mori (2015), a versão expandida e sonorizada da primeira peça, agora à escala de três bailarinos, que apresentará sábado (18h e 22h) e domingo (17h) no auditório. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Por muitos vídeos de Loïe Fuller que tenha visto no YouTube, nenhuma destas peças pretende entrar no terreno escorregadio da homenagem ou da reconstituição histórica, onde Ola Maciejewska diz já ter visto muitos artistas contemporâneos “a enterrarem-se vivos”. O que a atrai na prática de Fuller, e quer voltar a colocar como hipótese em cima do palco, é “o potencial do corpo para se tornar objecto e da matéria para se tornar sujeito”. Olhando para a maneira como o corpo dela desaparece no vestido para se tornar uma escultura, enquanto a espectadora acidental que acaba de entrar na praça se sobressalta ao perceber que a escultura está em movimento, diríamos que a missão de Ola Maciejewska parece estar a ser cumprida. 21H José Ramos-HortaÉ uma boa discussão para se ter enquanto a Coreia do Norte sobressalta o Ocidente com os seus ensaios balísticos: a Ásia vai ser (ou já é?) o centro do mundo? O Nobel da Paz e ex-presidente e primeiro ministro de Timor-Leste vem a Serralves discutir o assunto. 22H Grupo Acrobático de TângerAno após ano, o espectáculo de circo do horário nobre é um dos blockbusters de Serralves. Halka, que retoma uma prática ancestral da praça pública marroquina, deve repetir a proeza. 23H Sensible SoccersAbrindo a maratona de concertos no Prado, os Sensible Soccers sobem ao palco para apresentar, faixa por faixa, o magnífico Villa Soledade num espectáculo especial em que terão consigo a artista visual Laetitia Morais. 0H30 Niño de ElcheSe existe uma coisa a que se possa chamar “novo flamenco”, ela está neste cantaor. “Um revolucionário”, chamou-lhe o El País. 2H D?WNA febre de sexta à noite (ou de sábado de madrugada) fica a cargo desta americana (na foto) que nasceu numa girl band e depois não se conteve dentro das fronteiras do R&B — um diamante mais brilhante do que Rihanna. 11H30 Colecção de Serralves 1960-1980A recém-inaugurada exposição permanente do museu numa visita guiada pela contadora de histórias e ilustradora Sónia Borges — um programa para toda a família. 1H30 Los PirañasMadrugada no Prado, segundo round: vindo da Colômbia, o trio Los Pirañas promete trazer “a diversão que fazia falta” a este país (título pilhado ao seu último álbum, de 2015). A América do Sul descontruída e reconstruída. 11H Serralves em battleOito dos melhores b-boys ibéricos em acção no Prado: Found Kid, Titas, Douglas, Luis, Serlli, Marcos, Gracy e Artur disputam o primeiro lugar deste concurso de danças urbanas presidido por um júri de nível internacional. 20H Terry Riley & Gyan RileyQuase no fim das 50 horas, um músico lendário, o minimalista Terry Riley, contemporâneo de La Monte Young ou Steve Reich, junta-se ao seu filho, o guitarrista Gyan Riley, para um concerto na Clareira das Azinheiras que percorrerá a história da música do século XX — e mais além.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filho corpo circo
Sgt. Pepper: é lendário, é um marco, é só um disco
Foi o álbum que marcou o início de uma era, um “momento decisivo na história da civilização ocidental”, escreveu-se então. Foi editado dia 1 de Junho de 1967. Exactamente 50 anos depois, talvez devamos tentar ouvi-lo como um disco. Apenas isso. Continua magnífico. (...)

Sgt. Pepper: é lendário, é um marco, é só um disco
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 1.0
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Foi o álbum que marcou o início de uma era, um “momento decisivo na história da civilização ocidental”, escreveu-se então. Foi editado dia 1 de Junho de 1967. Exactamente 50 anos depois, talvez devamos tentar ouvi-lo como um disco. Apenas isso. Continua magnífico.
TEXTO: Certa noite de Maio de 1967, os Beatles foram a casa de Cass Elliot, no bairro londrino de Chelsea onde vivia a vocalista dos californianos The Mamas & The Papas. John, George, Paul e Ringo levavam consigo uma preciosidade, um acetato do seu novo disco. Entretanto, a noite já não era noite, era jovem manhã do dia seguinte. Abriram-se as janelas da casa, dispuseram-se colunas viradas para o exterior, pôs-se o volume da aparelhagem no máximo. Eram seis da manhã quando a vizinhança foi surpreendida com a não anunciada pré-escuta de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, edição oficial marcada para 1 de Junho seguinte. Diz quem presenciou que nem uma reclamação se ouviu dos vizinhos. Reclamar com o quê, afinal? Com o privilégio de ouvir pela primeira vez, antes de toda a gente, o álbum que marca um antes de um depois na história da música popular urbana? Infinitamente ingrato seria quem o fizesse. Autoria:The Beatles Universal MusicPoucas semanas depois, o escritor Langdon Winner conduzia o seu automóvel em viagem pelos Estados Unidos. Sgt. Pepper já fora editado, já estava nas lojas, já era ouvido nas rádios e criticado nos jornais. Em todas as rádios, em todos os jornais. Em todo o lado. “Em cada cidade em que parei para comer ou pôr gasolina – Laramie, Ogallala, Moline, South Bend –, as melodias flutuavam desde um rádio ou gira-discos portátil longínquo … Por um curto período de tempo, a irreparavelmente fragmentada consciência do Ocidente foi unificada, pelo menos na mente dos jovens”, escreveu Winner. A reverência com que a nova música dos Beatles foi recebida a umas incómodas seis da manhã num bairro em Chelsea, e a sua omnipresença nas terriolas americanas pelas quais passou Langdon Winner, são apontamentos anedóticos, mas reveladores de um impacto bem real. Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band não era simplesmente o oitavo álbum dos Beatles, não era só aquele que cristalizou até hoje, na capa e nas famosas fardas coloridas, uma das mais fortes marcas iconográficas da banda. Não era apenas o disco que, anunciava-se, daria ao rock respeitabilidade de alta cultura. No ano absurdamente fértil que nos ofereceu o primeiro álbum dos The Doors, dos Velvet Underground, de Jimi Hendrix ou dos Pink Floyd, Sgt. Pepper foi o farol que iluminou mais do que que qualquer outro. “Um feito espantoso para o qual ninguém poderia estar completamente preparado”, escrevia Richard Poirier, peso-pesado da crítica literária, na Partisan Review. Uma “metamorfose miraculosa de dúzias de ideias musicais do Oriente e do Ocidente”, elogiava o Washington Post. Sgt. Pepper era, anunciava o crítico de teatro britânico Kenneth Tynan, sustenhamos a respiração, “um momento decisivo na história da civilização ocidental”. Até uma voz desavinda, a do então jovem crítico de rock do New York Times, Richard Goldstein, que escrevera que o álbum “tresandava a efeitos especiais” e lhe apunha o adjectivo “fraudulento”, ressalvou que, apesar de todos os defeitos, “é melhor que 80% da música que se ouve por aí”. Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band era, era, era… Sgt. Pepper? “É só um álbum”. Di-lo Paul McCartney em 2017. Descemos à terra. Em entrevista recente à Mojo, Macca fala: “É um álbum tão ‘importante’ que, por vezes, as pessoas ouvem a reputação em vez de ouvirem o disco”. Acontece que, em relação a Sgt. Pepper, o mito parece difícil de separar da música. Exactas cinco décadas passadas, a data é assinalada com a pompa devida. Em Liverpool, terra natal dos Beatles, decorre desde o passado 26 de Maio o festival Sgt. Pepper At 50. Encerrará a 16 de Junho e inclui concertos, espectáculos de dança, instalações artísticas, gigantescos fogos-de-artifício ou a exibição de um novo documentário sobre o álbum, It Was Fifty Years Ago Today! Sgt. Pepper & Beyond, realizado por Alan G. Parker. Em Portugal, sobe esta sexta-feira a palco do GNRation, em Braga, Getting Better All The Time, concerto comemorativo criado em conjunto por músicos amadores e os alunos do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian da cidade – o espectáculo será levado, em Outubro, à Casa da Música, no Porto. A celebração no GNRation começa já esta quinta-feira, com um espectáculo infantil, Beatle-Battle, e encerra sábado com uma sessão de escuta que será também tertúlia e em que participa, por exemplo, Adolfo Luxúria Canibal, dos Mão Morta. Como é inevitável, Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band recebe tratamento deluxe e ressurge em nova edição, com mistura estéreo da autoria de Giles Martin, filho do eterno produtor dos Beatles, George Martin, falecido em 2016 aos 90 anos. Como é habitual nestas ocasiões, será distribuído em vários formatos: um disco único com a nova mistura (vinil e CD); um álbum duplo em que, ao original, se acrescenta um disco de extras; uma edição de luxo composta de seis discos (o original, três de extras, um DVD com The Making of Sgt. Pepper e um Blu-Ray em Surround 5. 1). A nova mistura estéreo surge para repor uma incorrecção histórica. Na altura em que Sgt. Pepper foi editado, ditava lei o mono. O estéreo era uma relativa novidade, um item de luxo. Em 1967, foram dedicados três meses a encontrar a mistura perfeita do álbum – em mono. Tarefa concluída, a banda desapareceu de cena e entregou a versão estéreo a George Martin. Ficou tudo despachado em três dias. Acontece que é precisamente a apressada versão estéreo que tem circulado nas últimas décadas. “Tecnicamente, o objectivo era capturar o espírito da música, o que é a coisa menos técnica que podemos dizer”, ri-se desde Londres Giles Martin, em curta entrevista telefónica com o Ípsilon. “Temos que ser muito cuidadosos, porque ao tentar dar à música um som mais hi-fi, podemos torná-la mais fria e perder o espírito das canções”, alerta. Recorrendo ao mesmo material usado originalmente pelos Beatles e usando como referência as misturas mono originais, Giles Martin concentrou-se em eliminar as escolhas peculiares da primeira versão estéreo, em que, por exemplo, se ouvia a bateria de Ringo deslocada para um dos canais. Não ouvimos Sgt. Pepper como nunca ouvimos, mas recebemo-la com uma renovada claridade, com o jogo de guitarras do tema título a fazer-se ouvir com vivacidade, com os timbalões de Ringo a ressoarem com outra profundidade, com a onírica massa sonora de Being for the benefit of Mr. Kyte a envolver-nos ainda mais. Quanto aos extras, foram escolhidos, explica Giles Martin, para destacar o muito humano trabalho de artesão envolvido. “As pessoas pensam que o Sgt. Pepper foi entregue por um unicórnio que desceu de uma nuvem até Abbey Road, mas tudo se resume, na verdade, a pessoas a tocarem em instrumentos e em botões no estúdio. É muito simples e, na minha opinião, ainda melhor. A beleza e simplicidade do espírito humano são mais mágicas que tudo o resto. ”Parte considerável são curiosidades que pouco acrescentam ou iluminam em relação à obra acabada. Há, contudo, excepções. A mais primorosa será Strawberry fields forever, canção que, juntamente com Penny Lane, foi editada como duplo single em Fevereiro de 1967. Nas primeiras versões, a voz doce de Lennon recorda aquele lugar da sua infância, apoiado por coros angelicais, uma guitarra acústica que se destaca, uma guitarra slide que faz cair sobre o refrão um travo de melancolia. Quase um Requiem pela infância perdida. Take após take (existem quatro na versão Super Deluxe), a canção transforma-se. Assiste-se à chegada do órgão Mellotron que fará a introdução, a bateria ganha corpo e densidade – num dos takes até acelera em tumulto inesperado – e Lennon perde em doçura o que ganha em autoridade. Quando chegamos à versão final, tudo se transformou. Strawberry fields já não é um apelo à nostalgia. É a voz de alguém que nos puxa para um novo mundo, agitado, intrigante, atraente pela estranha beleza das formas que desenha. “Os Beatles transformaram as reflexões de Lennon num ‘sonho psicadélico, de forma a que Strawberry fields fosse o lugar mágico de infância de toda a gente, em vez de apenas o nosso'”, escrevia há alguns anos o jornalista Phil Sutcliffe, citando Paul McCartney. Em 2006, quando da edição de Love, George Martin recordou ao Ípsilon, nos estúdios de Abbey Road, o momento em que John Lennon lhe mostrou Strawberry Fields Forever pela primeira vez. “Cantou-a na sua guitarra acústica e foi um dos momentos mais emotivos que já vivi. É tão maravilhosa. Ainda hoje me comovo com ela. ‘John, é uma canção fantástica’, disse-lhe. ‘O que vais fazer com ela?’. Ele fez-me logo descer à terra. ‘Bem, esse é o teu trabalho, não é?’”. Nem um unicórnio à vista. Com Revolver, editado em Agosto de 1966, como acontecera antes com Rubber Soul, a música dos Beatles ganhara novas dimensões: a experiência proto-electrónica de Tomorrow never knows, a soul moderna de Got to get you into my life, o Oriente entreaberto por Harrison em Love you to, a desolação existencial de Eleanor Rigby, registada em voz e duplo quarteto de cordas, o rock psicadélico aplicado a questões muito mundanas de Taxman. No estúdio evoluíam e galgavam patamares criativos a uma velocidade estonteante. No exterior, a Beatlemania continuava a rugir. Mas mais perigosa. Entre Junho e Julho, partem em digressão para a Alemanha, Japão e Filipinas. No Japão, recebem ameaças de morte por parte de tradicionalistas que consideram uma afronta um concerto rock no sagrado Budokan e são obrigados a deslocarem-se em carros blindados. Nas Filipinas, recusam participar num jantar de gala servido pela Primeira Dama, Imelda Marcos. Resultado: depois do concerto, sob ameaça de prisão, protagonizam uma fuga digna de filme de acção, perseguidos até ao aeroporto pela polícia e pela população enfurecida. No regresso a Inglaterra, George Harrison comentaria à imprensa: “Vamos tirar um par de semanas para descansar, antes de ir levar tareia dos americanos”. Não era só humor. Aterraram nos Estados Unidos na sequência das famosas declarações de John Lennon ao London Evening Standard, – “Neste momento somos mais populares que Jesus Cristo, e não sei o que desaparecerá primeiro, o rock'n'roll ou o Cristianismo”. No país, promoviam-se autos-de-fé com os discos da banda e boicotes à sua música. A digressão congregaria menos público que as visitas anteriores e ficou marcada pela consciência de que era impossível, naquelas condições, os Beatles serem em palco a banda que haviam sido. Já em Inglaterra, George Harrison ameaça abandonar os Beatles. Recua na condição de as digressões terminarem definitivamente. O resto da banda acompanha-o nesse desejo. Sgt. Pepper começa a nascer. Quando se reúnem novamente, três meses depois, McCartney tinha uma ideia. Inventara uma personagem, Sgt. Pepper, líder de uma banda do início do século XX. Paul, John, George e Ringo seriam a sua banda, forma de se libertarem do peso que carregavam enquanto Beatles e, no processo, de descobrirem novos rumos para a sua música. Era esse o projecto a cumprir quando, em Novembro de 1966, entraram em Abbey Road para as primeiras sessões de Sgt. Pepper. Na cabeça McCartney levava, além do Sargento, o visionário trabalho de Brian Wilson e dos Beach Boys em Pet Sounds. Em Abril de 1967, finalizadas as 700 horas de produção do álbum (quatro anos antes, Please, Please Me, o primeiro, demorara treze horas a gravar), pouco restava do conceito original. Havia Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, a canção de abertura, cujo final introduzia a única personagem, Billy Shears (e Ringo aparecia a cantar With a little help from my friends), bem como a respectiva Reprise. Havia a capa, criada por Peter Brown, em que os Beatles, enquanto Sgt. Pepper's Lonely Hearts Clube Band, surgiam à frente de uma galeria de personagens: Fred Astaire, Bob Dylan, Edgar Allan Poe, Lewis Carrol, Oscar Wilde, Marlon Brando, Marylin Monroe, Carl Jung, Stockhausen ou gurus indicados por George Harrison. Uma outra coisa nascera. “Foi com Sgt. Pepper que o meu pai teve tempo ilimitado com eles no estúdio”, conta Giles Martin. “Sentia que, pela primeira vez, estavam a trabalhar juntos da forma adequada”. Libertos dos constrangimentos impostos pela vida pública da Beatlemania, viraram-se para dentro. Exploraram memórias de infância em Penny Lane e Strawberry fields forever, puseram em canção a nova consciência trazida pelo psicadelismo e pelas experiências com LSD - Fixing a hole, Lucy in the sky with diamonds. Viraram-se para a Inglaterra de ontem e transformaram um velho cartaz de circo do século XIX no carnaval surrealista da admirável Being for the benefit of Mr. Kyte. Viraram-se para a Inglaterra do seu tempo e nasceu a excitação rock'n'roll fundada em tédio urbano de Good morning (“I've got nothing to say, but it's ok”, canta Lennon). Nasceu esse portento, ainda hoje inacreditável pelo génio da produção e composição, que é A day in the life (versos inspirados na leitura do Daily Mail). Nem todos os Beatles, assinale-se, viveram as gravações com o mesmo entusiasmo. “A experiência mais marcante das gravações foi ter aprendido a jogar xadrez”, recordou Ringo. George, incomodado com a posição subalterna na banda, reduziu a sua contribuição, em grande parte, à influência indiana. Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band foi elogiado e reverenciado pelas engenhosas técnicas de estúdio e pela forma como conjugava diferentes expressões musicais – rock'n'roll, pop music-hall, psicadelismo, música concreta, música indiana, pop. Impôs o álbum como unidade, não como conjunto de canções sem ligação óbvia entre si, e deu respeitabilidade às palavras cantadas – as letras surgiram imprimidas pela primeira vez. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Enquanto marco musical e cultural, manteve-se incontestado durante longos anos, surgindo uma vez após outra no topo das listas de melhores discos de sempre. Com o tempo, porém, começaram a surgir as fissuras no seu estatuto. Tão cedo quanto 1981, o crítico musical Lester Bangs escrevia que exalava dele uma seriedade emproada que permitia equivaler a data da sua edição à da morte do rock'n'roll. “Datado”, começou a ver-se escrito, enquanto Revolver e Abbey Road, já neste século, lhe ganhavam vantagem como álbuns superiores. Ainda assim, em 2017, o seu simbolismo mantém-se incontestável. Mas, seguindo o que disse McCartney, tentemos ouvi-lo simplesmente. Teremos perante nós o álbum de uma banda que conjugou de forma admirável o pulsar do presente com uma profunda nostalgia. Uma banda que afirmava uma britishness excêntrica, ora vibrante, ora melancólica, equiparável à do Kinks Ray Davies. Numa época em que se usava como slogan contracultural “não confiem em ninguém com mais de 30 anos”, os Beatles gravavam She's leaving home, desarmante por tão dura quanto comovente, com tanta empatia pela filha que foge quanto pelos pais destroçados que ficam para trás. Ouvimo-lo simplesmente 50 anos depois. Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, esse “momento decisivo na história da cultura ocidental”, pode ser simplesmente um disco. Não nos parece que tenha perdido com isso. É magnífico.
REFERÊNCIAS:
Religiões Cristianismo
Câmara de Matosinhos vai demolir casa ilegal em zona de domínio público marítimo
A destruição da habitação, onde vivia uma família que já foi realojada, permitirá a renaturalização dos terrenos em área dunar e a requalificação futura da área envolvente, nomeadamente com a criação de um pequeno parque de estacionamento. (...)

Câmara de Matosinhos vai demolir casa ilegal em zona de domínio público marítimo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.25
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: A destruição da habitação, onde vivia uma família que já foi realojada, permitirá a renaturalização dos terrenos em área dunar e a requalificação futura da área envolvente, nomeadamente com a criação de um pequeno parque de estacionamento.
TEXTO: A Câmara Municipal de Matosinhos vai demolir, na próxima segunda-feira, uma habitação ilegal em área de domínio público marítimo, na Avenida da Praia de Angeiras, tendo a família já sido realojada, referiu esta sexta-feira a autarquia. "A demolição, a última das operações previstas em área de domínio público marítimo no Norte do concelho, cumpre mais uma etapa na execução do Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POOC) Caminha-Espinho, no âmbito do qual cerca de uma dezena de imóveis construídos ilegalmente foram já removidos", salientou, em comunicado enviado à agência Lusa. A destruição da habitação, onde vivia uma família que já foi realojada, permitirá a renaturalização dos terrenos em área dunar e a requalificação futura da área envolvente, nomeadamente com a criação de um pequeno parque de estacionamento de apoio à nova concessão prevista no futuro POOC, que continua em revisão, salientou. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O projecto de requalificação da orla costeira de Matosinhos implicou, até ao momento, um investimento de 50 milhões de euros, o maior a nível nacional nesta área, acrescentou este município do Distrito do Porto. A demolição da casa, agendada para as 12h de segunda-feira, é uma intervenção de valorização ambiental, incluída no projecto de requalificação da frente marítima e marca o início do Mês do Ambiente de Matosinhos, no âmbito do qual, e até 8 de Julho, estão previstas várias iniciativas. No âmbito do Mês do Ambiente de Matosinhos estão previstas cerca de 30 actividades de promoção e educação ambiental, entre as quais operações de limpeza das margens do rio Leça, oficinas de culinária sustentável e de agricultura biológica, apresentação de um parque para cães, repovoamento de espécies terrestres e marítimas, campanhas de promoção de adopção animal, apresentação do Corredor Verde do Leça, cerimónia de hastear das bandeiras azuis nas praias do concelho e inauguração de uma casa inteligente.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave educação cães animal ilegal
Jornadas do BE: Trump até o calor do Algarve conseguiu ensombrar
“O que Donald Trump decidiu fazer foi olhar para o dinheiro e não olhar para o futuro", disse Catarina Martins. (...)

Jornadas do BE: Trump até o calor do Algarve conseguiu ensombrar
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: “O que Donald Trump decidiu fazer foi olhar para o dinheiro e não olhar para o futuro", disse Catarina Martins.
TEXTO: A decisão do Presidente norte-americano de se desvincular do Acordo de Paris não ficou de fora do discurso da coordenadora do Bloco de Esquerda nas jornadas parlamentares que arrancam nesta sexta-feira no Algarve. Catarina Martins não s�� criticou a decisão de Donald Trump, como ainda ironizou: “Se fosse um banco já estava salvo”. "O que Donald Trump decidiu fazer foi olhar para o dinheiro e não olhar para o futuro", disse a bloquista, defendendo, no entanto, que esta decisão dos EUA traz mais responsabilidades aos restantes países no cumprimento das metas ambientais. A questão do aquecimento global marcou assim uma parte do discurso de Catarina Martins, nas jornadas que decorrem no Algarve, até porque a região também tem sofrido com as alterações climáticas, disse a coordenadora depois de ter conversado nesta manhã com pescadores. “A temperatura média das águas do Algarve aumentou dois graus e isso é já um problema para a sustentabilidade de todo um sector económico”, relatou, depois de ter estado na DocaPesca, em Portimão. A bloquista criticou ainda votações quer no Parlamento Europeu, quer na Assembleia da República, que na opinião da deputada, não respeitam as causas ambientais. No caso da votação no Parlamento, Catarina Martins referia-se ao projecto do BE e do PAN que previa a cessação dos novos contratos de exploração de petróleo e que foi chumbado por todos os outros partidos.
REFERÊNCIAS:
Partidos PAN BE
A luta da Monsanto para defender o glifosato
Investigação do jornal Le Monde denuncia práticas de pressão sobre os investigadores da agência da Organização Mundial de Saúde que alertou para os possíveis efeitos cancerígenos do glifosato. (...)

A luta da Monsanto para defender o glifosato
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Investigação do jornal Le Monde denuncia práticas de pressão sobre os investigadores da agência da Organização Mundial de Saúde que alertou para os possíveis efeitos cancerígenos do glifosato.
TEXTO: A empresa Monsanto tem feito vários esforços para conseguir ver prolongado o uso da substância que está na base do seu famoso herbicida Roundup: o glifosato – que tem vindo a ser associado em vários estudos a possíveis efeitos cancerígenos. Uma investigação que o Le Monde começou a publicar nesta quinta-feira, com o nome Monsanto Papers, indica que a empresa tem tentado destruir a credibilidade da Agência Internacional para a Investigação do Cancro da Organização Mundial de Saúde. O director desta agência internacional, com sede em Paris, admitiu ao Le Monde que já tinham sido “atacados no passado com campanhas de difamação”, mas nunca tinham enfrentado uma “campanha orquestrada com esta magnitude”. Christopher Wild explicou que este problema arrasta-se já há dois anos, com impacto na credibilidade e integridade da instituição e dos especialistas que ali trabalham que, segundo este responsável, são “denegridos” e “assediados” por advogados. As consequências têm-se feito sentir no próprio orçamento que a agência recebe. O Le Monde avança que tudo começou numa data certa: 20 de Março de 2015. Nesse dia, a agência de Christopher Wild publicou as conclusões de um estudo que conduziu sobre os efeitos do glifosato, deixando o mundo atordoado: este pesticida, dos mais célebres do mundo, foi considerado genotóxico, com efeitos ao nível do ADN, efeitos cancerígenos nos animais e “provavelmente cancerígenos” nos humanos. A partir desse momento, advogados com ligações à Monsanto enviaram aos vários cientistas e investigadores envolvidos no trabalho cartas intimidatórias a pedir todos os documentos utilizados para chegar às conclusões publicadas. Caso decidissem não o fazer, eram ameaçados com uma acção judicial. Houve também o caso de um jornalista supostamente chamado Christopher Watts e com um mail ligado à The Economist que tentou obter informações junto dos investigadores e que fez perguntas mais intimidatórias. Na revista, ninguém sabe quem é. Ao mesmo tempo, o Conselho Americano de Química, que defende a indústria dos Estados Unidos, terá promovido alguma influência junto de jornalistas para que publicassem histórias que comprometessem a independência da agência da OMS. O mesmo foi feito nas redes sociais. A situação, diz o Le Monde, piorou com a chegada da Administração de Donald Trump. De acordo com dados publicados pela Agência Internacional para a Investigação do Cancro, em 2010 o glifosato estava registado em cerca de 130 países e é um dos herbicidas mais usados do mundo. O Le Monde estima que a sua utilização tenha aumentado de 3200 toneladas por ano, quando surgiu em 1974, para 825. 000 toneladas em 2014. Se o glifosato for proibido na Europa, os analistas estimam que a Monsanto possa perder à volta de 90 milhões de euros em vendas. Apesar destes resultados da agência da OMS, em Maio, a Comissão Europeia propôs o alargamento por mais dez anos da autorização de uso do glifosato. A contenda transatlântica sobre os possíveis riscos para a saúde humana do glifosato motivou investigações de comités do Congresso dos Estados Unidos, e a Europa tem sido forçada a atrasar a reautorização de um dos produtos que a Monsanto mais vende, o herbicida Roundup. A decisão da comissão tem como base um outro estudo, publicado em Março pela Agência Europeia de Produtos Químicos (Echa), que preparou o caminho para a decisão da Comissão Europeia recomeçar as negociações com os Estados-membros sobre a reautorização da licença do glifosato, apesar da oposição dos grupos ambientalistas. Aquele organismo da Comissão Europeia, que regula as substâncias químicas e biocidas, disse que o glifosato, o ingrediente principal do Roundup, não era uma substância cancerígena. Também a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar, uma agência independente financiada pela União Europeia, considerou “pouco provável que [o glifosato] tenha perigo carcinogénico para os humanos”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Enquanto esperava pelos resultados do estudo da Echa, em Junho de 2016 a Comissão Europeia estendeu por 18 meses a autorização do uso do herbicida, depois de uma proposta de renovação total da licença ter tido a oposição de alguns Estados-membros (Portugal absteve-se) e de grupos activistas. De acordo com dados publicadas pela Agência Internacional para a Investigação do Cancro, em 2010 o glifosato estava registado em cerca de 130 países e é um dos herbicidas mais usados do mundo. A Monsanto, que teve em 2015 receitas de 15 mil milhões de dólares, actua em vários mercados e é conhecida sobretudo pelas sementes geneticamente modificadas, que têm suscitado críticas por parte de ambientalistas e de alguns grupos de defesa do consumidor. O recurso a estas sementes é muito mais frequente nos EUA do que na Europa, mas a Monsanto vende sementes de milho geneticamente modificado dentro da União Europeia.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA OMS
Festivais Gil Vicente no "ponto de partida" para o futuro
30.ª edição do evento abre esta quinta-feira em Guimarães com a estreia absoluta de Geocide, um espectáculo da Estrutura (Cátia Pinheiro e José Nunes). (...)

Festivais Gil Vicente no "ponto de partida" para o futuro
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: 30.ª edição do evento abre esta quinta-feira em Guimarães com a estreia absoluta de Geocide, um espectáculo da Estrutura (Cátia Pinheiro e José Nunes).
TEXTO: Os Festivais Gil Vicente dão esta quinta-feira início à 30. ª edição em Guimarães, num momento que a organização garante ser "um ponto de partida para continuar a construir o futuro". Em entrevista à agência Lusa a propósito da edição deste ano, o responsável pela programação, Rui Torrinha, explicou que os âmbitos dos festivais "estão longe de estar esgotados" e que, 30 anos depois do seu lançamento, "ainda há muito por questionar". A decorrer entre 1 e 10 de Junho em Guimarães, os Festivais Gil Vicente deste ano não incluem produções internacionais, mas, salientou Torrinha, isso "é sinal do potencial do teatro português", e prova que Guimarães "é muito mais" do que uma cidade de acolhimento. Aliás – salienta o director artístico –, "30 anos é uma idade de maturidade, sim, mas não de um fim, de um ponto de chegada; estes 30 anos são um ponto de partida para continuar a construir futuro". No entanto, porque a história do teatro se faz no passado, mas conta-se no presente, os Festivais Gil Vicente tiveram um papel importante nesta narrativa: "Não tenho dúvidas de que [os festivais] têm representado a oportunidade para tratar, representar e demonstrar a força do teatro contemporâneo em Portugal. Fizemos, apresentámos, peças fundamentais na história do teatro contemporâneo em Portugal", nota Rui Torrinha. Na senda de dar a conhecer o que em Guimarães se faz, o responsável destaca uma das iniciativas das actividades paralelas dos festivais, a criação de um designado "Gangue". "Convocámos um 'gangue', através de um mapeamento de artistas de Guimarães, que estejam ou não a viver em Guimarães, para criarmos um corpo de trabalho que vai ter um espaço nos Festivais Gil Vicente, em residência e em oficina de trabalho com José Maria Mendes", explica. Ou seja, "para lá da preocupação com o teatro em geral, há também um corpo de trabalho que se denuncia, apresenta, e que vai ter continuidade". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Do programa dos festivais fazem parte textos de autores como Jacinto Lucas Pires (Henrique IV parte 3), Isabel Costa e Tânia Diniz ou João Sousa Cardoso (Os Pescadores, nos 150 anos do nascimento de Raúl Brandão). O evento abre esta quinta-feira com a estreia absoluta de Geocide, um espectáculo da Estrutura (Cátia Pinheiro e José Nunes), com a colaboração dramatúrgica de Rogério Nuno Costa, e encerra com outra estreia absoluta, Álbum de Família, do Teatro Oficina. A organização disponibiliza uma assinatura que dá acesso a todos os espectáculos, que se dividem entre o Centro Cultural Vila Flor, a Plataforma das Artes e Criatividade e a Black Box da Fábrica ASA, por 25 euros.
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Palavras-chave corpo
Rui Moreira: “Não podem acusar-me de nada [no caso Selminho]”
"Na rua, o que as pessoas dizem é: ‘Se o presidente se quisesse orientar, não se orientaria com um terreno que é da família’", assegura o autarca. O caso já entrou na campanha. (...)

Rui Moreira: “Não podem acusar-me de nada [no caso Selminho]”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: "Na rua, o que as pessoas dizem é: ‘Se o presidente se quisesse orientar, não se orientaria com um terreno que é da família’", assegura o autarca. O caso já entrou na campanha.
TEXTO: Eis o caso que agita a pré-campanha no Porto: uma empresa da família de Moreira reclama direitos de construção num terreno – mas a câmara não deixa. O caso arrasta-se há anos e estava em tribunal, mas estourou politicamente neste mandato. O autarca diz que a câmara seguiu os passos habituais. Já foi ouvido pelo Ministério Público no caso Selminho? Não. E os seus irmãos?Não. Em que estado está o processo?Que eu saiba o único processo que existe é uma queixa-crime apresentada por mim contra desconhecidos. Mas há uma queixa do PCP. O PCP pediu ao Ministério Público para cuidar de indagar. Mas é claro que não sou arguido em nada, não me consta que os meus irmãos sejam. O que posso dizer é que esse parece-me um tema típico de campanha e que aos poucos se vai esgotando. Quantas vezes durante o seu mandato falou com os seus irmãos sobre o caso?Os meus irmãos falam bastante comigo, porque se sentem incomodados pelas notícias difamatórias que lêem nos jornais. Tendo em conta que é presidente em exercício, não teria sido mais prudente que o processo pudesse correr judicialmente, com a câmara a acatar, ou a contestar até à última instância, para não poder ser acusado de interferência em proveito próprio?Não. Direi o seguinte: o juiz queria decidir. Não havia possibilidade de o juiz adiar a sentença. A pretensão que a CMP e a Selminho tinham era que a sentença fosse adiada até que houvesse um novo PDM. Isso era o que, objectivamente, podiam defender as partes. O tribunal entendeu, e bem, dizendo que não se podia suspender mais essa iniciativa. Se a CMP nada tivesse feito (e fê-lo de acordo com o conselho dos seus advogados), o que diriam se a CMP tivesse sido condenada a pagar uma indemnização?Diriam que a CMP tinha sido condenada judicialmente, ou seja, que a decisão era independente. A decisão foi uma decisão judicial. Quem aprovou a decisão foi um juiz. Mas é uma decisão com o acordo das partes e deixa de ser uma decisão independente das partes. Não, porque a Selminho não adquiriu nenhum direito. Tem algum parecer dos serviços jurídicos da câmara ou do urbanismo que apontasse para uma forte probabilidade de a câmara perder a acção interposta pela Selminho?Não sei se temos parecer. O que sei é que, quando nós cá chegámos, a CMP não tinha – pelo que eu sei – apresentado recurso em tempo. A probabilidade de a CMP perder era maior?Qualquer pessoa entende. Aliás, a experiência dos últimos anos da CMP em casos análogos, o mais visível de todos o Parque da Cidade, é que as câmaras estão muito vulnerabilizadas em sentenças dos tribunais que reconhecem os direitos adquiridos dos proprietários. Mas a decisão não seria sua, de todo modo. Mas a decisão não foi minha. Eu não tomei nenhuma decisão. Mas reconhece que, já consigo já na câmara, houve uma mudança de atitude na gestão do diferendo com a Selminho?Não houve nenhuma mudança de atitude. A câmara fez exactamente o que sempre fez. A câmara continua a defender os seus integrais direitos, continua a litigar. A única coisa que houve foi impedir-se uma sentença que com toda a probabilidade seria prejudicial à câmara. Mas aí não poderiam acusá-lo de nada. E não podem acusar-me de nada. Para já não me acusam de nada. Como se explica que o vereador do Urbanismo [Correia Fernandes] estivesse fora do processo? Esta não é uma questão urbanística. O vereador Correia Fernandes, e muito bem, está a tratar do novo PDM com entidades externas e não deve estar condicionado pelos direitos adquiridos dos processos supervenientes que existem na câmara. Mas uma das questões implícitas no entendimento entre a Selminho e a CMP é que a CMP envidará esforços no sentido de o PDM acolher as pretensões da Selminho?O que diz é assim: se o PDM acolher as pretensões da Selminho, o assunto extingue-se. Se o PDM não reconstituir os direitos que a Selminho, será constituído um tribunal arbitral. E esse tribunal arbitral determinará se há ou não direito a indemnização. E, só depois, se houver direito a indemnização, qual é o valor da indemnização. Há três nomeados para esse tribunal arbitral. De um lado está a câmara a que Rui Moreira preside, do outro lado está a empresa de que Rui Moreira é accionista e há um terceiro elemento estabelecido por comum acordo entre a câmara a que Rui Moreira preside e a empresa da qual Rui Moreira é accionista. Não é, politicamente falando, uma formulação que o expõe a qualquer acordo que saia desse tribunal?Não, como não intervenho no processo, não serei eu… Então faço a pergunta ao contrário: teria de ser capaz de pegar no relógio, andar para trás 16 anos que foi a altura em que os meus irmãos e a minha mãe compraram aquela propriedade (eu tenho 5% da holding) e dizer: 'Não podemos ter qualquer interesse na cidade do Porto que possa ser questionado. 'Podia ter deixado o processo judicial correr. Se achasse que a câmara tinha de contestar, podia contestar até à última instância e na última instância via-se o resultado. O processo judicial não podia esperar pela conclusão do PDM. Foi isso que o juiz determinou. Porque que é que não envolveu a câmara nesta decisão? E o que é que iriam dizer nesse caso? As deliberações da câmara destinam-se a questões políticas. Não há nenhum caso que me recorde de alguma câmara que tenha levado a reunião de vereação um tema sobre matérias desta natureza. Era o que mais faltava. Qualquer vereador se sentiria inibido de votar. Esse argumento foi utilizado pelo eng. º Rui Sá [ex-vereador do PCP] numa determinada altura e ele teve oportunidade de falar comigo sobre esse assunto. Aquilo que lhe perguntei foi assim: como é que posso pedir, numa matéria em que os serviços jurídicos da câmara estão a seguir aquilo que foi continuadamente a estratégia da câmara, que tem sido sempre a mesma desde 2006 ou 2007, como é que posso dizer ‘agora a câmara tem de se pronunciar'? Como é que um vereador eleito por mim, ou um vereador do PS ou do PCP se pode pronunciar sobre esta matéria? Aqui quem se pronuncia é um director municipal. Mas há aqui uma substância política, segundo a qual o presidente da câmara aparece do lado da contestação e do outro lado da queixa. É uma questão de sensibilidade política rara. Podia ter posto o caso num vereador da oposição, por exemplo?Acha que algum vereador da oposição pode aceitar um cargo desses? Essa questão pode-se colocar exactamente se e quando for constituído um tribunal arbitral. Não será certamente se algum vereador suscitar questões sobre o director municipal. O director municipal dos serviços jurídicos não é uma nomeação do presidente da câmara. Esse tempo acabou. As pessoas respondem perante a câmara e respondem pelos seus actos. Mau seria que os serviços jurídicos da câmara, em qualquer processo, envolvendo ou não o seu presidente, fossem deliberados em reunião de câmara. Nesse momento estaríamos a determinar procedimentos relativamente aos serviços. Creio que seria prevaricação. Que razões levaram a empresa a avançar com o adiamento do pedido de indemnização quando, em Fevereiro deste ano, se percebeu que a revisão do PDM não estava concluída?Tem de perguntar à empresa, mas é relativamente fácil: a explicação que foi dada é que a empresa o que provavelmente quer é construir. Admite disponibilizar os documentos revelados aos deputados municipais a todos os cidadãos do Porto? Com certeza. Tudo aquilo que existia no processo foi disponibilizado a todos os deputados municipais, coisa que é mais ou menos inédita. E também à comunicação social. A verdade é que na assembleia municipal este assunto não foi levantado. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No processo que foi entregue aos deputados municipais faltava a sua procuração [enquanto presidente de câmara, autorizando a transacção judicial]. Já percebeu por que não estava lá a procuração?Entregaram-na no tribunal e esqueceram-se de a arquivar. É esta a explicação dada pelos serviços. Como vai gerir esta polémica na campanha? Não receia que o princípio da mulher de César lhe dificulte a campanha? Como não sou mulher, não me preocupa. Acho que os cidadãos do Porto conhecem-me bem. E os que não conhecem sabem outra coisa, por uma questão lógica: se alguma vez um presidente da câmara quisesse fazer alguma coisa para seu benefício, não o faria numa sociedade de que faz parte assumidamente, que é da família, em que está envolvido há mais de 16 anos. Com certeza não seria aí. Gosto muito mais da lógica da rua do que desta lógica de que enferma a mulher de César. Na rua, o que as pessoas dizem é: ‘Se o presidente se quisesse orientar (uma expressão portuense), não se orientaria certamente com um terreno que é da família. ’ E em que por acaso não alterou nada em relação ao que era a estratégia do anterior executivo. Não teme que este processo acabe com a sua destituição? Se isso acontecesse, depois das autárquicas quem o substituiria?Com a minha destituição? Não. Não temo nada.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PCP
Rui Moreira: "A fobia centralista alargou-se aos candidatos dos partidos"
Diz ter travado muitas guerras "sozinho" contra Lisboa. Porém, Rui Moreira é contra a eleição directa dos líderes das áreas metropolitanas. (...)

Rui Moreira: "A fobia centralista alargou-se aos candidatos dos partidos"
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.25
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Diz ter travado muitas guerras "sozinho" contra Lisboa. Porém, Rui Moreira é contra a eleição directa dos líderes das áreas metropolitanas.
TEXTO: Presidente da Câmara do Porto admite ter perdido a guerra da TAP, mas diz que não havia outra forma de a travar. O sector privado "mitigou" o problema, explica em entrevista ao PÚBLICO. A TAP foi um dos seus principais cavalos-de-batalha na luta contra o centralismo. Olhando para os números, um ano depois, fez sentido tanta polémica? Entre Lisboa e Porto a TAP transporta 2000 pessoas por dia, cerca de 750 mil ao final do primeiro ano. A administração da TAP tinha razão?Eu com isso só posso rir. Por uma razão: em primeiro lugar, eu, apesar de nunca ter experimentado a ponte aérea, nunca disse que a ponte aérea não devia existir. Aliás, há muitos anos que os portuenses, entre os quais eu me incluo, defendem que a TAP devia ter um bom serviço de ponte aérea Porto-Lisboa e é através desse serviço que a TAP apresenta esses resultados. Mas aquilo que me preocupava e preocupava os portuenses foi o facto de a TAP ter terminado com algumas das suas ligações directas do Porto a capitais europeias, ao Brasil, e de ter reduzido também para Nova Iorque. Essas ligações eram extraordinariamente importantes para o tecido empresarial da nossa região. Essa foi a crítica, que mantenho. É evidente que hoje o assunto de alguma maneira está mitigado porque, tal como eu previa, companhias aéreas de bandeira, não foram as low cost, começaram a ocupar esse espaço – desde logo a KLM e a Air France, que há muito tempo não voava para o Porto. A British Airways aumentou a frequência. Agora, entendo que uma transportadora nacional, em que o Estado português tem 50%, não pode deixar de prestar um serviço público à segunda cidade do país e à região mais exportadora do país. Mas destes 750 mil passageiros há muitos que vão usar o hub de Lisboa para irem para destinos eventualmente suprimidos pela administração da TAP. Mas é péssimo para a região. É péssimo para o tecido económico da região. Se falar com qualquer dos sectores empresariais do Norte, verifica isso. Vamos ao caso de Milão, que é uma cidade que tem relações económicas particularmente fortes com o Porto por causa da indústria da moda, da confecção e tudo o mais: não é indiferente para essas pessoas e para estas empresas nós não termos um voo directo a partir do Porto. A TAP devia ser privada ou pública?Eu não gosto muito destas parcerias privadas em que o ónus fica no público e a vantagem fica no privado. Entendo que, se havia quem quisesse comprar a TAP com a sua dívida e operá-la como uma empresa comercial normal, era perfeitamente legítimo. E aí… eu não teço comentários sobre a Monarch [companhia low cost britânica], a não ser que fico muito contente que eles ofereçam três voos para Manchester, Birmingham e Luton. Agora se a Monarch disser que vai parar com Luton, não ouvirá o presidente da câmara a pronunciar-se. É uma actividade privada. O problema é quando entramos neste sistema que ninguém percebe: quem é que gere a TAP? Não me parece normal que o Estado reassuma 50% e depois diga que a política comercial da TAP não pode ter a intervenção de administradores públicos, porque a operação comercial de uma empresa de transportes aéreos é o que define o modelo de serviço público. O Governo devia ter garantido direito de veto em questões estratégicas, como sejam as ligações do Porto?Com certeza. Nesta batalha ficou a sensação de que o Norte não foi atrás de si. Sobrou a sensação de que ficou a falar sozinho. A Associação Comercial do Porto tomou uma posição muito clara. Mas a Associação Empresarial de Portugal [com sede no Porto] não. Mas a AEP é uma associação empresarial de Portugal, e com certeza não quer ofender os seus associados de Lisboa. Não é do Porto. Deixou de o ser há muito tempo. Não quis ser. Aqui é uma questão de centralismo. Não há outra questão. Não lhe faltou influência nos bastidores políticos, que é onde as coisas se decidem? Não podia ter feito as coisas com menos barulho e mais bastidores?Não, não podia ter feito de outra maneira. Em Lisboa, os “centralistas”, se quiser, criticaram-no por estar à procura de ganhar uma batalha mediática com efeitos e popularidade na região. Eu sabia perfeitamente que esta questão não era uma questão que fosse propriamente do agrado da intelligentsia lisboeta. Não é com batalhas como essa que se ganham eleições ou votos. No Porto não?Não, claro que não. Agora, acho que o Porto respeita a herança em que eu tenho de lutar contra o centralismo em questões como foi a fusão dos portos, que foi travada. Como presidente da Associação Comercial do Porto travei essa batalha quase sozinho. Também aí não ouvi as forças do Porto. Relativamente à privatização dos aeroportos, o modelo foi errado. Travei também aí a batalha sozinho, apesar de Rui Rio, presidente da Área Metropolitana do Porto se ter envolvido bastante, numa fase secundária…E teve o apoio de empresários. Mas o apoio dos empresários foi dizerem que estariam interessados em concorrer a uma privatização em separado do Aeroporto Francisco Sá Carneiro – essa foi uma guerra perdida, mas é perdida também por causa das forças do Porto, pela forma de representatividade a nível nacional que temos. Está a falar do mandato nacional dos deputados. Claro. Basta dar um exemplo: há uns meses, a Assembleia da República votou por unanimidade uma resolução relativamente à evolução e crescimento do Metro do Porto, em que objectivamente se previa que na cidade do Porto haveria zero quilómetros de metro – zero quilómetros. Algumas dessas forças políticas, nomeadamente o PCP, que votou favoravelmente isso, andam agora a dizer que se deveria ter feito mais do que se vai fazer. Os partidos que o apoiam na Câmara do Porto também votaram essa resolução?Claro. Votaram. E isso acontece porquê? Por desconhecimento político?Não. A fobia centralista do país alargou-se ao espectro dos candidatos dos partidos. Uma pessoa que é deputada diz assim: "Eu não me posso agora pôr aos gritos contra o partido porque o Porto está a ser prejudicado, porque senão da próxima vez eu não vou ser eleito. " É só isso. Não há outra razão. Se fosse um caso isolado, podia haver razões de convicção. O problema é que o futuro político dessas pessoas depende de obedecerem cegamente a uma lógica determinada por um modelo centralista. Na polémica com os fundos comunitários, que levou ao afastamento do anterior presidente da CCDRN… … o afastamento não foi por mim. Devo dizer que tenho todo o respeito pelo professor Emídio Gomes e, ao contrário do que possam dizer, a única coisa que recusei foi assinar aquilo que nos foi servido à mesa e não foi da autoria dele. Mas nessa polémica as suas teses tinham por base as diferentes capitações dos fundos entre vários concelhos. Faz sentido que a capitação seja o principal critério para a alocação dos fundos comunitários? As regiões do interior não precisam mais desses apoios do que as grandes cidades?Depende dos programas. Se me perguntar em termos sociais, os maiores problemas sociais que existem em Portugal estão nas periferias das grandes cidades e não no interior. Já se for em termos de infra-estruturas estarei de acordo. A questão fundamental é que precisamos de olhar para a segregação dos fundos e perceber onde deve ser aplicado preferencialmente este ou aquele fundo. Mas a minha maior crítica aos fundos comunitários não foi essa. Porque é que o Compete, um programa para a modernização e competitividade das empresas exportadoras, continua a ser gerido pelas mesmas pessoas e continua a ser gerido em Lisboa, quando mais de 50% das exportações são do Norte? Essa foi a primeira crítica. A segunda crítica é porque subitamente as prioridades que estavam no quadro comunitário foram abandonadas. Lembro-me que, ainda não tinha tomado posse, o então secretário de Estado, pessoa por quem tenho grande estima pessoal, o Manuel Castro Almeida, avisava: "Preparem-se, vai haver muito dinheiro para a reabilitação urbana. " Quando fomos ver o quadro comunitário definitivo, a reabilitação urbana praticamente desapareceu. Faz sentido que a AMP, que tem um PIB per capita muito acima dos 75% da média comunitária, continue a fazer parte das regiões de convergência e a ter direito aos fundos? Faz sentido enquanto o Porto fizer parte de uma área metropolitana e essa área metropolitana não chegar lá. Vou explicar porquê: o Porto, de facto, beneficiando obviamente de ter uma área metropolitana que lhe dá massa crítica, precisa de corresponder a um conjunto de desafios que lhes são colocados por essa área metropolitana…Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Lisboa diz a mesma coisa. Sim, mas olhando para os indicadores da AML eles são absolutamente diferentes da nossa área metropolitana. Porque a Área Metropolitana do Porto é mais desigual. Faz sentido ter Arouca numa área metropolitana?Terá de perguntar aos partidos, que andaram a jogar a técnica do dominó. Devem ter-se inspirado em Kissinger e então criaram aquele modelo: entrava um mais PS, tinha de entrar um PSD. Foi assim que a área metropolitana foi crescendo. Se me perguntar se entendo ou compreendo o mapa da área metropolitana, eu tenho muita dificuldade. Concorda com eleição directa do presidente da área metropolitana, prevista no pacote da descentralização do Governo? Não. Não concordo, porque seria necessário definir previamente. Isto tem até que ver com a relação que os eleitores têm com a Europa. Não vale a pena criar soberanias ficcionadas. A AMP tem um orçamento que não deve chegar aos dez milhões de euros. Eu não vejo nada que recomende que vá haver transferências de recursos e materiais para a AMP. Estar a criar um lugar eleito por sufrágio directo e universal é simular uma soberania que depois de facto não existe. Considero que esses modelos de mitigação da soberania não lhes dando recursos destroem a democracia.
REFERÊNCIAS: