Bem-vindo a Eryri, o coração verde de Gales
Nas vésperas de a Europa celebrar o dia dos parques nacionais, a 24 deste mês, gozámos de horas calmas numa errância serena por Snowdonia, olhando os seus picos, os seus lagos, as suas aldeias pitorescas, as suas gentes com uma identidade tão forte. (...)

Bem-vindo a Eryri, o coração verde de Gales
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.300
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nas vésperas de a Europa celebrar o dia dos parques nacionais, a 24 deste mês, gozámos de horas calmas numa errância serena por Snowdonia, olhando os seus picos, os seus lagos, as suas aldeias pitorescas, as suas gentes com uma identidade tão forte.
TEXTO: Eryri. Croeso. São as duas primeiras palavras que aprendo em galês enquanto desfruto dos raios puros e cálidos do sol da manhã. Ao longe, avisto o castelo projectando-se contra o azul do céu sem uma nuvem, esse tesouro cultural que domina Conwy e que a UNESCO há já alguns anos integrou na sua lista de Património Mundial da Humanidade. Não tinha intenção de me deter por muito tempo nesta vila situada na confluência dos rios Giffn e Conwy, daqui desejava partir de imediato para o Parque Nacional Snowdonia, mas, talvez afectado por um dia radioso, deixei que Conwy, onde vivem pouco mais do que quatro mil almas, me prendesse por mais umas horas, para admirar aquela que é provavelmente a mais imponente fortaleza galesa de Eduardo I, erguida entre 1277 e 1307. Ainda assim, desde Conwy e do seu castelo, já sondava os contornos de Snowdonia. Mesmo à minha frente, era a serenidade das águas do estuário que me seduzia, as pontes cruzando o rio Conwy, o charme que proporcionavam à vila com as suas muralhas correndo ao longo de 1200 metros e construídas na mesma época do castelo para garantir a segurança dos habitantes (talvez para submetê-los) nesses tempos de antanho. Percorro uma parte desses muros tão gastos e tão cheios de histórias e na Upper Gate volto a namorar, de forma ainda mais despreocupada, o cenário que me envolve. Snowdonia parece chamar-me. Há três casas que sinto que não devo perder antes de rumar a essas montanhas tão amadas pelos galeses e tão envoltas numa teia de lendas. A Plas Mawr, com uma existência que remonta a 1585, próxima desta a Aberconwy House, a mais antiga casa de mercadores da Idade Média (levantada em finais do século XIII e inícios do século XIV) e, a curta distância de uma das margens do rio Conwy, com uma fachada vermelha e um telhado negro como um corvo, aquela que é conhecida como a casa mais pequena de todo o Reino Unido, tão minúscula que era mais recomendada para uma pessoa do que para um casal enquanto foi habitada. Ao início da tarde, já com a abóbada do mundo perturbada por pequenos flocos de algodão que se semelhavam a ovelhas, os meus passos cruzaram-se com o mundo verde de Snowdonia, um parque que foi criado em 1951 (o que lhe confere o estatuto de primeiro parque nacional de Gales) e que se estende ao longo de quase 60 quilómetros (sentido oeste-leste) e mais de 80 de norte a sul, abrangendo zona costeira, rios e lagos. Dominando Snowdonia com a sua imponência, visível daqui e dali, Snowdon eleva-se a 1085 metros acima do nível das águas do mar, atraindo todos os anos ao cume perto de 800 mil visitantes. Conhecido entre os galeses por Yr Wyddfa (significa Grande Túmulo, já que, segundo a lenda, um gigante chamado Rita Gawr foi morto pelo rei Artur, cujos feitos estão fortemente associados a Snowdonia, neste lugar e enterrado no topo), Snowdon é acessível através de seis diferentes trilhos, uns mais longos (não mais de 16 quilómetros) do que outros, com maior ou menor grau de dificuldade (o percurso de ida e volta exige entre cinco e sete horas) — quem não se sentir com capacidade para subir a pé pode sempre recorrer ao Snowdon Mountain Railway, um pequeno comboio cujo serviço foi inaugurado em 1896 e que leva os mais preguiçosos desde Llanberies ao pico em cerca de uma hora. Geograficamente, Llanberies está fora dos limites do Parque Nacional Snowdonia mas tem uma vocação turística que contrasta com a ausência de beleza estética. Pelo menos à primeira vista. A vila foi construída para acolher os trabalhadores da pedreira de ardósia de Dinorwig — não deixe de dar uma espreitadela ao interessante Museu Nacional de Ardósia para melhor entender a importância desta indústria tão intimamente ligada à história de Snowdonia e da sua paisagem. Para uma melhor compreensão ainda, o ideal é percorrer mais alguns quilómetros, até desaguar em Blaenau, de onde partia a maior parte da ardósia que cobria, no século XIX, as casas do Reino Unido — e não só. Num instante, o olhar fixa-se em montanhas de lixo e logo depois se percebe que apenas 10% da ardósia extraída era utilizável. Em Blaenau, oferece-se ao turista a possibilidade de descer a uma verdadeira mina de ardósia, de conhecer com detalhe as péssimas condições de vida dos mineiros no século XIX. A exemplo do que acontece noutros parques de Gales, Snowdonia enche-se de vida nas pequenas povoações que se encontram dentro do perímetro deste paraíso natural. Beddgelert, com 500 habitantes, é o meu primeiro destino, talvez atraído por mais uma das muitas lendas tão presentes no dia-a-dia das suas gentes. Cheia de charme, com as suas casas de pedra cinzenta olhando o rio Glaslyn, mais a sua ponte elegante de dois arcos, Beddgelert significa, de acordo com a crença popular, a campa de Gelert, uma referência a Llywelyn, um príncipe galês do século XIII. Este, acreditando que o cão de que era proprietário, Gelert, matara o seu filho bebé, deitado no chão junto a uma poça de sangue, abateu o animal e só mais tarde veio a descobrir que Gelert lutou com um lobo para tentar proteger (com sucesso) a criança. Há quem defenda outras teses. Uma aponta para que a toponímia derive de Celert, um pregador irlandês do século V que terá fundado uma igreja no lugar. Verdade ou não, a sepultura do cão, à qual se chega seguindo um bonito trilho ao longo do rio, continua a ser uma atracção em Beddgelert e poucos parecem dar crédito à outra tese que fala de um hoteleiro que fabricou a história para atrair mais clientes. Vale a pena o passeio, como também se justifica percorrer pouco mais de um quilómetro, até chegar à mina de cobre Sygun, já uma realidade na época dos romanos — a extracção terminou no século XIX, a mina foi definitivamente abandonada em 1903 mas mais tarde convertida em museu para mostrar aos curiosos como era a vida dos mineiros nesse tempo. Gales tem nomes impronunciáveis. Em Snowdonia, até agora, nenhum se parece sequer com o da aldeia que desejo visitar daqui a uns dias, na ilha de Anglesey: Llanfairpwllgwyngyllgogerychwyrndrobwll-llantysiliogogogoch. Betws-y-Coed é mais simples de pronunciar e é, ao mesmo tempo, uma boa base para explorar o parque nacional de Snowdonia, uma bonita aldeia com o seu casario de pedra, humilde e ao mesmo tempo com ares de postal, erguendo-se com vista para um rio e tendo como vizinhos a floresta de Gwydyr e a junção de três rios, o Llugwy, o Conwy e o Lledr. Com menos de mil habitantes, Betws-y-Coed era já um dos mais populares lugares de férias do interior de Gales nos tempos vitorianos, graças a um grupo de pintores locais que criaram uma comunidade artística para relevar e recordar a diversidade da paisagem de Snowdonia, uma atracção que foi exacerbada pela chegada do transporte ferroviário em 1868. Snowdonia, com uma área de 2130 km2, está repleto de lugares que nos levam de volta à Idade Média. Opto por uma paragem em Dolgellau, com uma identidade tão própria, com as suas duas centenas de casas listadas para serem preservadas — a maior concentração em todo o país e uma realidade que tem muito a ver com o facto de se ter tornado, no século XVIII e no início do século XIX, num importante centro regional da então próspera indústria de lã. As casas foram construídas nessa época e pouco ou nada mudaram até chegarem aos nossos dias, agora que o turismo é a sua principal fonte de receita, em grande parte por força da proximidade de Cader Idris, a cadeira de Idris, crescendo até chegar aos 893 metros, naquele que é um dos picos mais apreciados para escaladas e onde todo aquele que passar a noite acorda louco ou transformado em poeta. Consta. A tarde não termina sem uma visita ao bonito estuário de Mawddach e, mais para norte, ao parque florestal Coed y Brenin, com os seus 3600 hectares tão agradáveis para passeios em bicicleta de montanha (mais de uma centena de quilómetros de trilhos). Um outro dia nasce e não tarda a conduzir-me, numa errância pausada, a Bala, mais uma pequena vila dentro de Snowdonia que tanto parece agradar a famílias e às crianças. A principal razão é o Bala Lake Railway, um pequeno comboio com as suas locomotivas vintage que, partindo da também pequena estação de Penybont, a menos de um quilómetro do centro de Bala, carrega os turistas para um passeio de 90 minutos que contorna o bonito Llyn Tegid, o maior lago de água doce de Gales, com um comprimento superior a seis quilómetros e com uma profundidade que ultrapassa, em alguns lugares, os 40 metros. Nos últimos anos, o lago tem vindo a ganhar reputação entre os adeptos dos desportos aquáticos e respira vida durante os meses de Verão, com o número de turistas a exceder o da população residente, não mais de 2000 — e desses, 80% fala o galês como língua principal. Eryri. Croeso. Desta forma se referem a Snowdonia. Desta forma dão as boas-vindas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Não há qualquer ligação aérea directa entre Lisboa ou o Porto e Gales. A única, duas vezes por semana (segundas e sextas), é a partir de Faro, até Cardiff, com a Ryanair. Mas são inúmeras as opções para chegar à capital galesa ou, mais a norte, a um destino próximo de Snowdonia. Neste último caso, os aeroportos de Manchester, Birmingham e Liverpool são os mais indicados (menos de duas horas até ao parque). A Ryanair voa do Porto para as três cidades inglesas (também para Manchester desde Lisboa), enquanto a easyJet serve esta última e Liverpool a partir do Porto — para a cidade dos Beatles, situada a escassos 25 quilómetros da fronteira galesa, há igualmente voos com origem em Lisboa e Faro. Londres, servida por diferentes companhias áreas, é outra possibilidade. Se abdicar do avião para o resto do percurso, o comboio pode revelar-se uma opção perfeita — há transporte ferroviário desde a estação de Euston (e de Birmingham) com paragens (e panorâmicas soberbas da zona costeira do Norte de Gales) em Colwyn Bay e Bangor, por exemplo, ambas a curta distância do parque (consulte o site da Virgin trainsDependendo dos planos, também pode viajar com a easyJet entre Lisboa, Porto ou Faro e Bristol e, desde esta cidade inglesa, de autocarro até Cardiff, um percurso de aproximadamente uma hora se recorrer aos serviços da Megabus e por apenas quatro libras (menos de cinco euros) por trajecto. Para Cardiff, com uma escala em Barcelona, deve fazer uma pesquisa no site da Vueling. Pont-y-Pair Inn Holyhead Road Betws-y-Coed Tel. : 00 44 1690 710 377 E-mail SitePreço: entre 30 e 35 libras por pessoa e por noite, com pequeno-almoço incluído. Caerlyr Hall Hotel Conwy Old Road Dwygyfylchi Penmaenmawr Tel. : 00 44 1492 623 518 E-mail SitePreço: entre as 34 e as 43 libras, também por pessoa, por noite, com pequeno-almoço e com todas as taxas incluídas, com a vantagem de ser possível o aluguer por uma semana (tarifas entre as 224 e as 259 libras ou entre as 350 e as 385 se optar pelo conceito de meia-pensão). Castle Cottage Harlech Tel. : 00 44 1766 780 479 E-mail Site Aberto apenas entre quartas e sábados e em dias feriados. Mas o melhor mesmo é consultar o site do restaurante (mais dias encerrado entre o início do Inverno e a Páscoa)Preço: entre as 34 e as 45 libras, dependendo do número de pratos que pretende degustar (entre dois e cinco de uma lista de cinco). Não se trata apenas de reputação — completa 30 anos em 2019 e está entre os melhores guias de restaurantes do Reino Unido há 27 —, o que Glyn e Jacqueline cozinham é sempre fresco, muito baseado em produtos locais e com uma escolha difícil de tão variada (lagosta apanhada na ilha Shell, caranguejo de Aberdaron, borrego ou, entre tantos outros exemplos, o leitão de Pugh’s Piglets). The Peak 86, High Street Llanberies Tel. : 00 44 1286 872 777 E-mail SiteAberto à noite (durante o dia somente para grupos de dez ou mais pessoas) de quarta a sábado. Preço: entre as 11, 50 e as 19 libras por prato principal (entradas a partir de três libras). A chef, Angela Dwyer, é famosa por ter cozinhado para figuras mediáticas em renomados restaurantes de Londres, como o Groucho Club ou o Zuma (pelo meio teve uma experiência na Califórnia). Balance entre um prato tipicamente galês (fusão) e algo entre a Índia e a Tailândia — não terá motivos para se desiludir mas tenha em conta que apenas uma factura é emitida e não será aceite mais do que um cartão de crédito (um aviso para quem viaja a pensar em contas separadas).
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Casa, onde quer que seja
A leitora Marta Carrilho partilha a sua experiência em Cuba. (...)

Casa, onde quer que seja
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: A leitora Marta Carrilho partilha a sua experiência em Cuba.
TEXTO: Há muito que estou habituada a senti-lo, mas estava errada quanto à sua origem. Não é a diferença de culturas que incentiva o desejo de rever o que nos é familiar. A saudade surge quando nos apercebemos de que os sentimentos perduram independentemente da distância, como em resposta ao sentimento de pertença a um lugar longínquo. Foi em Cuba que o compreendi. Havana surpreendeu-me. Há muito que ouvira falar nas cores alegres, nas cubanas sentadas à beira dos passeios com vestidos e lenços na cabeça a fumar charutos, enquanto os carros antigos, com peças de diferentes modelos anteriores, passavam na rua por carrinhas a vender fruta, perto das quais crianças jogavam à bola. Mas presenciarmos o que pensávamos já conhecer tem o dom de nos proporcionar a sensação de estarmos rodeados de uma realidade nova. A cidade deixa de ser um conjunto de histórias e imagens, ganha vida. Não pude deixar de notar o sotaque de Emílio, o simpático motorista do táxi, diferente do castelhano a que estamos habituados. Deixou-nos numa rua agitada, no meio de um trânsito confuso que lembrava as ruas da Índia, pela exuberante desorganização. Saímos perto do café El Floridita, onde posámos para uma fotografia junto a Hemingway. Depois, encontrámos uma estátua do nosso Camões. Voltámos a entrar no táxi. Era hora de almoço e os nossos amigos cubanos insistiram para que fôssemos onde nos levavam. Chegámos a um bairro longe do centro. Estacionámos ao lado de um espaço verde, mais mata do que jardim, e encaminhámo-nos para uma das moradias baixas e antigas da ruela. Passámos o portão e entrámos num átrio. Em vez de avançarmos para a porta da frente, seguimos Emílio na direcção das traseiras. Foi aí que senti a curiosidade transformar-se em fascínio. Era um restaurante repleto de famílias, de barulho saudável. Mas não era apenas um restaurante. Na fase mais ortodoxa do regime não era permitida a iniciativa privada. Tal política levou os que desejavam ter negócios próprios a fazê-lo discretamente, dentro das próprias casas. Era comum abrir a porta a desconhecidos, os convites surgindo como forma de negócio mas também por simpatia. Enquanto esperava sentada na cadeira de verga com os braços apoiados no tampo de madeira, ouvia a banda que tocava à minha frente, abanando a cabeça ao ritmo das músicas latinas. Reparei nas fotos de Che Guevara distribuídas pelas paredes brancas e gastas. Os bancos ao lado do balcão eram ocupados por homens cubanos que bebiam e conversavam. À volta das mesas andavam galinhas, que intrigavam as crianças que as perseguiam. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O ponto forte de todas as viagens é a altura em que nos sentimos parte da cultura em que nos encontramos. Poderia ter sido só mais uma refeição. Para mim, foi o estabelecimento de uma ligação com o local. Gostava verdadeiramente daquele país, do conforto que qualquer lugar adquiria, mesmo entre paredes brancas e antigas cuja tinta deixava descoberto o cimento. No dia seguinte esperava-me um avião. Mas não me sentia longe de casa. Deixava um lugar distante que nunca estivera tão próximo. Regressava com uma nova casa. Sabia agora como designar o que sentia. Era saudade. Marta Carrilho
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Palavras-chave homens cultura
Vamos jantar e saber por que foi tão mal-amado o Marquês
Chama-se A Ceia do Marquês e é uma peça de teatro com um jantar, ou vice-versa. Todas as quintas-feiras, até 8 de Junho, em Linda-a-Velha. (...)

Vamos jantar e saber por que foi tão mal-amado o Marquês
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Chama-se A Ceia do Marquês e é uma peça de teatro com um jantar, ou vice-versa. Todas as quintas-feiras, até 8 de Junho, em Linda-a-Velha.
TEXTO: Entram quatro vultos vestidos de negro e com máscaras venezianas, simples, a tapar-lhes os rostos. Viram-se de costas e exclamam: “O rei morreu! Viva o rei!” O local é o Palácio dos Aciprestes, que pertence à Fundação Marquês de Pombal, em Linda-a-Velha, e o convite é para jantar e assistir a oito quadros cénicos. Os actores Carlos Paiva, Carolina Dominguez, José Coelho e Paula Manso, sempre de rostos cobertos, servem o jantar, pensado e confeccionado por Fátima Morais, a mentora do projecto A Ceia do Marquês. Este é um jantar com pratos simples e conhecidos de todos, mas com nomes que dizem respeito à história do Marquês de Pombal. Por exemplo, o cesto do pão, com pães simples e de sementes, chama-se “o pão do exílio”; as bolas que remetem para Trás-os-Montes são receitas de Fátima Morais – uma de alheira e outra vegetariana –, o prato principal é um bacalhau no forno a que foi dado o nome de “bacalhau à Marquês”, e o prato vegetariano, um caril, chama-se “tofu à moda de Daun”, o apelido da segunda mulher de Sebastião José de Carvalho e Melo, a austríaca Leonor de Daun. Além das entradas e do prato principal, há duas sobremesas – uma mousse de lima, “a mousse da condessinha”, e um pudim, o “pombalino” –; as bebidas são água, vinho, sumo natural de ananás, “com ingrediente especial”, que o faz mudar de cor para verde, e, no final da refeição, o “café da cafeteira do paço”. Fátima Morais pensou em tudo ao pormenor, numa homenagem à sua infância e à sua mãe. “Venho de uma família grande e a minha mãe cozinhava para muitos. ” Por exemplo, os panos que tapam o jarro da água ou decoram o gargalo da garrafa do vinho são de linho, do enxoval da mãe, e têm um ponto de crochet dourado feito por Fátima. “Eu odeio fazer crochet, mas foi a minha mãe que me ensinou. ”O espaço onde nos encontramos poderia ser um qualquer salão num palácio setecentista, após o terramoto que abalou o país, depois da morte do rei D. José. A escadaria de pedra, a enorme lareira e o piano de cauda marcam o cenário onde se desenrola toda a acção. O que aconteceu ao marquês depois da morte do rei? Vamos sabendo pela voz das criadas; pela do reitor e bispo de Coimbra D. Francisco de Lemos de Faria Pereira Coutinho; pela da mulher e uma das filhas, Maria Francisca, queixosas da forma como a corte trata o marquês, que “acumulou inimigos na mesma proporção que acumulou riqueza”, diz uma delas; e pela voz do próprio marquês, que se exila em Pombal e se sente injustiçado, sem nunca perder a pose e o orgulho de tudo quanto fez. Cena a cena, intercaladas por tempos mortos, ideais para ir comendo e convivendo com quem se sentou na mesma mesa – estas comportam até dez pessoas –, vamos conhecendo os últimos anos de Sebastião José de Carvalho e Melo, assim como todas as reformas que fez. “Uma reflexão sobre a transitoriedade caprichosa da glória”, diz o programa, que é também a ementa. A ideia é “casar a gastronomia com o teatro”, revela Carlos Paiva, responsável pelo texto, direcção de actores e também aderecista, no final do jantar, depois das palmas e ovações de pé a todo elenco e elementos da produção, além de Fátima Morais, Tâmara Paiva faz assessoria e é responsável pela logística, e Paula Carvalho é a produtora. O trabalho é de grupo, da cozinha ao servir à mesa. “Pode ser um ciclo, quem sabe”, acrescenta Carlos Paiva. “Passem palavra, que é a melhor forma de publicidade”, conclui, antes de as palmas voltarem. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. As reservas devem ser feitas até 24 horas antes do dia do espectáculo, que é às quintas-feiras. A Ceia do Marquês: uma experiência cénica, gastronómica e históricaProdução: Cenas & Quê. . . com a colaboração de Don'Adelaide ProduçõesPalácio dos Aciprestes, Linda-a-VelhaDatas: 24 e 31 de Maio, e 8 de JunhoReservas: cenaseque@gmail. comPreço: 35 euros, 30 euros (para grupos de dez ou mais pessoas)A Fugas fez a experiência a convite da Cenas e Quê. . .
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Os Dão com o aroma fresco da montanha
Nas encostas ocidentais da Serra da Estrela há um clima diferente, há vinhedos ancestrais e um conjunto de produtores de vanguarda. Paulo Nunes, da Casa da Passarela é um bom anfitrião para nos mostrar esse Dão fresco e elegante. Álvaro de Castro há muito que faz ali grandes vinhos. Dirk Niepoort ou Jorge Moreira chegaram entretanto para dar músculo a uma região do presente que vai dar muito que falar no futuro (...)

Os Dão com o aroma fresco da montanha
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.3
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nas encostas ocidentais da Serra da Estrela há um clima diferente, há vinhedos ancestrais e um conjunto de produtores de vanguarda. Paulo Nunes, da Casa da Passarela é um bom anfitrião para nos mostrar esse Dão fresco e elegante. Álvaro de Castro há muito que faz ali grandes vinhos. Dirk Niepoort ou Jorge Moreira chegaram entretanto para dar músculo a uma região do presente que vai dar muito que falar no futuro
TEXTO: Estamos no final de uma manhã de meados de Maio e um frio cortante varre as vinhas da Casa da Passarela. O vento gélido da serra da Estrela que se ergue a pouca distância é apenas um fenómeno da natureza que concede àquelas vinhas instaladas acima dos 700 metros de altitude condições únicas para a produção de vinhos, até para os padrões normais de elegância e riqueza aromática da região do Dão. Há outros atributos que tornaram estas vinhas próximas da serra da Estrela um pequeno tesouro capaz de atrair enólogos de outras regiões. Como a existência de muitas vinhas muito velhas, sobreviventes a sucessivas vagas de modernização talvez por causa da distância e do isolamento. No planalto de Tázem, em torno de localidades como Pinhanços, na fronteira entre os municípios de Seia e de Gouveia, existe hoje um Dão diferente, onde se produzem alguns dos mais categorizados tintos e brancos do país, onde a atitude dos seus enólogos e viticultores mobiliza uma luta pela conservação do património genético das vinhas velhas, das tradições antigas e por um perfil de vinho que procura em primeiro lugar exprimir o seu lugar sua origem. Paulo Nunes é um desses lutadores que em pouco mais de uma década construiu o prestígio que a Casa da Passarela dispõe hoje entre os enófilos. Antes dele, Álvaro de Castro, um engenheiro civil que depois de 1980 começou a cuidar das propriedades da família, tinha já mostrado que nas proximidades da Serra da Estrela havia potencial para a criação de vinhos de classe mundial – é hoje um dos nomes mais respeitados do vinho português contemporâneo. A Quinta da Bica perdeu um pouco do seu fôlego, mas ainda é uma referência pelos seus vinhos secos e directos. A Madre de Água, um projecto com dez anos, faz tintos e brancos modernos mas contidos. A Quinta do Escudial, uma pequena produtora com 6. 5 hectares de vinha, faz brancos e tintos surpreendentes. E mais recentemente chegou uma vaga vinda do Douro, com Dirk Niepoort a produzir vinhos tintos e brancos na zona de Pinhanços e o trio composto por Jorge Moreira, Francisco (Xito) Olazabal, do Vale Meão, e Jorge Serôdio Borges a lançarem o seu projecto M. O. B a partir de duas vinhas situadas nos concelhos de Seia e de Gouveia. Quem opta pela produção de vinhos menos extraídos, onde a cor conta menos do que a elegância e a precisão aromática mais do que a exuberância da fruta, sabe que em Portugal há uma área privilegiada: o Dão da Serra da Estrela. “A montanha condiciona muito o nosso perfil de vinhos. Aqui, não temos a mesma concentração, mas temos uma acidez mais alta e uma carga tânica diferente”, diz Paulo Nunes. “O que nós queríamos fazer era um vinho mais fresco e elegante, com grande precisão aromática”, nota Jorge Moreira ao explicar as razões que levaram um trio de enólogos durienses a ensaiar uma aventura numa região assim tão diferente dos vales quentes onde costumam trabalhar. “Estamos muito contentes com o resultado. Este projecto vale muito a pena”, diz Jorge Moreira. O frio da altitude é a primeira condição para esse potencial. As condições de maturação provocadas pelas primaveras ou pelas noites de baixas temperaturas forçam as plantas a ciclos diferentes do de outras regiões mais quentes – “aqui faz-se um vinho quase em ruptura com o do Douro”, diz a propósito Jorge Moreira. Ora essas condições implicam uma selecção de castas ajustado a esse clima mais rigoroso e fresco. Paulo Nunes constata por exemplo que nas vinhas velhas da Passarela não há praticamente Tinta Roriz, uma das castas com mais cepas plantadas no Dão. Na quinta do Corujão arrendada pelos mentores do projecto M. O. B a colheita desta casta é vendida a granel. É por isso que, quer Moreira quer Paulo Nunes dedicam uma especial atenção às vinhas que ali existem há décadas. As escolhas de castas hoje pouco privilegiadas, como a Alvarelhão, a Tinta Pinheira ou o Bastardo, existem nessas vinhas porque resultam de um saber empírico antigo e testado geração após geração. Depois, no jogo das opções das castas há que contar com os caprichos do clima da serra. Entre Pinhanços e a Casa da Passarela, talvez uma centena de metros mais alta, ou entre a Casa da Passarela e a Madre de Água, à mesma altitude mas já encostada à serra e com mais disponibilidade de água, as condições são muito diferentes. “A nossa vinha fica muito perto da de Álvaro de Castro e por vezes ele já acabou a vindima quando nós começamos a fazer a nossa”, diz Jorge Moreira. E se essa comparação for feita com, por exemplo, a zona de Silgueiros, de um Dão mais baixo e mais quente, a diferença nas datas da vindima ainda é maior. Aqui, é impensável pensar em vindimas em Agosto, mesmo de uvas brancas, como acontece com cada vez mais frequência nas outras zonas vinhateiras do país – também por causa das alterações climáticas. Mesmo que a altitude sirva para já de protecção aos efeitos do aquecimento global, na zona da Estrela a mudança do clima já obriga alguns enólogos ou viticultores a antecipar os seus impactes. Paulo Nunes, por exemplo, não dispensa da casta Uva Cão nas novas plantações de castas brancas. “A Uva Cão tem uma acidez fabulosa e em anos muito quentes pode reparar o desequilíbrio que outras castas possam ter”, diz Paulo Nunes. De resto, o cultivo desta casta numa zona alta e fresca, onde por regra o clima potencia a acidez, “fazia pouco sentido”. Mas, nos segredos insondáveis do mundo rural português, há sempre explicações para as escolhas dos agricultores. “A Uva Cão, ou a Tinto Cão [esta tinta], são castas que produzem uvas que não são boas de comer e, por isso, os agricultores plantavam-nas nas entradas das suas propriedades ou nas bordas dos caminhos para evitar que quem passasse as comesse”, diz Paulo Nunes. “As castas com os nomes de ‘cão’ tem essa função de ‘guardar’ as propriedades”, diz. Perceber esses segredos e conservar essas tradições tornou-se imperioso para a nova geração de enólogos e viticultores com formação científica porque “a universidade generaliza, quando nós temos de interpretar o modelo que existe em cada sítio”, como nota Paulo Nunes. Álvaro de Castro foi um pioneiro nessa tentativa de interpretação e o sucesso internacional dos seus vinhos provenientes da Quinta da Pellada ou da Quinta de Saes foram o primeiro atestado da sua razão. E se durante anos Álvaro de Castro se queixava de falta de outros actores capazes de dar mais músculo e relevância aos vinhos da serra da Estrela, hoje já não tem tantas razões de queixa. Dirk Niepoort é talvez o nome mais respeitado e reconhecido do vinho português no mundo e é um fervoroso adepto dos vinhos directos, feitos a partir de um modelo de “enologia mínima”, com respeito pela natureza das uvas e uma clara devoção à acidez e à elegância; Jorge Moreira é o autor do consagrado Poeira, Jorge Serôdio Borges faz o magnífico Pintas e Xito Olazabal assina os premiados Vale Meão ou os vinhos da Quinta do Vallado; na presente vaga, porém, vale mesmo a pena ver o trabalho que Paulo Nunes está a fazer na Passarela. Durante quase um século, os vinhos desta Casa criada pela família Santos Lima (os mesmos do Tejo) à custa do negócio do café do Brasil eram vendidos a granel. Mas no auge do prestígio do Dão, entre os anos de 1950 e 1970, a sua produção era já disputada por casas como a José Maria da Fonseca, que aqui fazia o seu Garrafeira P, ou pelas Caves São João. Nos anos de 1980 a Passarela lança a marca Somontes. Em 2006 contrata Paulo Nunes, um jovem oriundo do Douro que estudou na Escola Agrária de Viseu e depois da venda da propriedade a um empresário de Seia, Ricardo Cabral, a Passarela passou a assumir um papel de primeira linha na consolidação dos vinhos da serra. Hoje a Passarela comercializa meio milhão de garrafas por ano. Não é muito para uma empresa que dispõe de 60 hectares. Mas, é neste capítulo, o da vinha, que está o segredo da Passarela. Como os restantes pontas-de-lança da sub-região da Estrela, a forma de estar no negócio implica uma recusa das grandes produções. “Se fosse para fazer grandes volumes eu preferia estar na zona de Silgueiros ou de Santar”, diz Paulo Nunes. A baixa produtividade é uma condição das vinhas velhas – as quatro pequenas vinhas onde Paulo Nunes colhe as uvas para o seu Vinhas Centenárias não dão para mais do que 2400 garrafas por ano. Percebe-se. Uma visita por essas vinhas é como caminhar pelas galerias de um museu de história natural. Videiras com décadas, com caules grossos e retorcidos, onde ainda se encontram formas antigas de plantação como a mergulhia – uma vara de uma videira é enterrada para reaparecer como uma nova planta dois metros ao lado – ou formas de condução como a morcela – as varas da videira enrolam-se num pau arcado de pinheiro manso. O uso de porta-enxertos (onde se enxertam depois as castas pretendidas), obrigatório em todo o lado por causa da filoxera (um insecto que se alimenta das raízes das videiras, excepto das dos porta-enxertos que têm origem americana) é dispensado nestas vinhas. Ao lado da vinha da Pedra Alta, plantada nos finais do século XIX, onde se produzem os mostos dos magníficos Villa Oliveira, há uma nova plantação feita com as varas retiradas das plantas antigas que essa vinha fornece. Os apoios do Estado e da União Europeia para a replantação exigem o recurso a plantas certificadas pelos viveiristas, mas a Passarela prefere prescindir desses apoios e usar o material genético que existe há décadas nos seus vinhedos. De resto, há na Passarela a preocupação em não afunilar a variedade genérica das vinhas. Nas novas plantações com castas brancas há Encruzado, a variedade consagrada do Dão moderno, mas também há Bical ou Uva Cão. Nos tintos, já não se fala na Touriga Nacional (“temos 15 hectares, é o suficiente”), mas aposta-se na Jaen, uma casta que Paulo Nunes aprecia particularmente “desde que seja plantada no lugar certo”, Rufete, Alvarelhão ou Baga. Numa pequeníssima vinha da Passarela há uma plantação de Pinot Noir com quase 70 anos, mas a sua vocação não é para a produção de vinho, mas apenas como uma ferramenta de microbiologia – como o ciclo é mais curto, a Pinot amadurece mais cedo e serve para fazer “base de cuba”, produzindo leveduras que promovem o arranque das fermentações das outras uvas. A serra parece proteger o seu património antigo e criar barreiras a variedades exóticas – na Madre de Água há uma vinha de Syrah que produz um vinho anódino e outra de Merlot que, se conserva algumas características bordalesas, não se compara ao refinamento dos outros tintos da casa. O cultivo destas vinhas rodeadas de floresta (pinheiros e carvalhos, principalmente), temperadas pelo frio e depositárias de saberes muitos antigos é caro. O uso de máquinas como tractores é limitado. A preocupação ambiental de Paulo Nunes implica que a sua fertilização se faça apenas com estrumes, de preferência adquiridos nas regiões. E como a produtividade é baixa, como se consegue sustentar um negócio assim? Apenas pelos preços mais elevados. Não é que os tintos geniais de Álvaro Castro, os Conciso de Dirk Niepoort, os soberbos Villa Oliveira, ou o fantástico Vinha da Neve de Carlos Lucas, produzido com uvas da Estrela, sejam muito caros – mas estão claramente muito acima dos preços médios da região e do país. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A procura, em Portugal ou no estrangeiro, de vinhos distintos, gastronómicos, mais secos e definidos como os que se criam na base da serra da Estrela consegue para já remunerar a protecção das vinhas velhas e a afirmação do perfil da sua produção. Projectos de média dimensão como a Quinta do Escudial surpreendem pelo refinamento das suas produções, a Quinta da Bica continua a fazer vinhos tensos e com garra, e projectos novos como a Madre de Água, onde Paulo Nunes é consultor, são capazes de colocar no mercado tintos e brancos com a graça e identidade dos vinhos da Estrela – principalmente os Touriga Nacional e os Encruzado. Quer isto dizer o quê? Que a Serra está no bom caminho e será cada vez mais um lugar de referência para a criação de grandes vinhos do país. Fugitivo Vinhas Centenárias 2014 Casa da Passarela Graduação: 13. 5% Preço: 18. 50€ Pontuação: 93Proveniente de quatro pequenas vinhas velhas que em conjunto produzem menos de 2500 garrafas, este tinto é um prodígio de originalidade, de definição e de distinção. É um vinho pouco comercial (é muito seco, com tanino rugoso, vagamente vegetal, e uma acidez marcada no final de boca), mas não é no impacte ou no fulgor que se deve procurar a sua alma. É precisamente na sua definição aromática, com notas de urze, erva seca e nota de caruma, na sua elegância na boca ou no seu potencial gastronómico. Um vinho para durar em grande forma uma geração. Pelo menos. Villa Oliveira 125 anos 2014 Casa da Passarela Graduação: 13% Preço: 60€ Pontuação: 95Proveniente de vinhas velhas, de um lote onde predominam as castas Baga, Jaen, Alvarelhão, Tinta Carvalha e Tinta Amarela este é um exemplo máximo da enologia mínima. O lote estagiou em barricas usadas de carvalho e a preocupação de Paulo Nunes está aqui expressa de forma evidente: é um vinho de uma depuração e de uma singeleza desarmantes – no limiar da rusticidade. Aroma fechado, com sugestões de mato, desenvolve no palato sensações muito finas. É um vinho circunspecto que de deve mastigar de modo a expor as suas subtilezas. Deixa no palato um rasto notável de frescura. Muito original, é um vinho conceptual. Não é para principiantes que procuram compota ou suavidade. Mais uns anos de garrafa aparecerá mais polido e seguramente ainda mais grandioso. Produziram-se 3000 garrafas, que serão colocadas no mercado à razão de 300 por ano. Madre de Água Encruzado 2016 Madre de Água Graduação: 13% Preço: 18€ Pontuação: 89Uma forma diferente de se perceber o potencial dos vinhos da serra num monocasta com estágio em madeira. Boa expressão aromática da casta, com as matizes apetroladas que lhe são características bem conjugadas com toques balsâmicos da barrica. Sedoso, com boa textura e frescura final é o exemplo de um vinho de altitude mais convencional sem, no entanto, revelar o perfil contido que é a marca de água dos vinhos da região. Vale a pena também experimentar o Terras Madre de Água, sem madeira (6 euros/89 pontos), no qual uma menor complexidade é colmatada por uma revelação mais intensa do enorme potencial da Encruzado.
REFERÊNCIAS:
Lourinhanosaurus, ou o dinossauro mais bonito do mundo
O Dino Parque da Lourinhã é perfeito para um passeio em família. São três quilómetros de trilhos, espalhados por quatro percursos distintos, onde é possível encontrar 120 modelos de dinossauros construídos à escala real. (...)

Lourinhanosaurus, ou o dinossauro mais bonito do mundo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.675
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Dino Parque da Lourinhã é perfeito para um passeio em família. São três quilómetros de trilhos, espalhados por quatro percursos distintos, onde é possível encontrar 120 modelos de dinossauros construídos à escala real.
TEXTO: Não é preciso ter uma devoção particular por dinossauros para considerar uma visita ao Dino Parque da Lourinhã, que abriu há pouco mais de três meses na Abelheira, a 45 quilómetros de Lisboa. E se começamos o texto com esta ressalva é para sublinhar, mesmo, que é muito difícil sair deste verdadeiro museu ao ar livre — ocupa uma área superior a dez campos de futebol — sem ficar rendido com a impressionante viagem no tempo que ali é proporcionada a miúdos e graúdos. Portugal está entre os 10 países do mundo com mais géneros de dinossauros aqui descobertos (30 espécies diferentes) e se calhar há muito pouca gente a saber disto. A primeira descoberta de um dinossauro em Portugal foi feita em 1863, e a formação da Lourinhã, uma formação geológica com cerca de 150 milhões de anos, tornou-se rapidamente numa região de grande importância para fazer descobertas destes bichos extintos há milhões de anos e que nos ajudam a perceber a evolução do nosso planeta. A primeira recomendação que podemos deixar é que vá com tempo — uma hora e meia para a visita é o tempo mínimo aceitável. Nos meses de Verão, em que o parque fecha mais tarde (só às 19h), a última entrada permitida é as 17h30 e, sublinhe-se, não há nenhum exagero nisso. O Verão é, porventura, a melhor altura do ano para visitar este parque, já que o ponto alto da visita é indubitavelmente o passeio ao longo dos quatro percursos temáticos (Paleozóico, Triásico, Jurássico e Cretácico), que serpenteiam entre o pinhal noutros tantos trilhos que, somados, nos deixam com cerca de três quilómetros calcorreados. O melhor é ir com tempo, dizíamos, e, se calhar, preparados para um piquenique, que não faltam pelo parque lugares onde apetece parar para sentar e usufruir das actividades e brincadeiras — os mais novos serão “tentados” em vários instantes a ir experimentar um baloiço ou outro tipo de brinquedos comuns nos parques infantis. Os mais velhos poderão sempre entreter-se a ler as placas informativas, onde houve preocupação em contar histórias sem descurar o rigor científico. Convenhamos que os nomes destes bichos não são fáceis de pronunciar, mas, mais importante que isso (perdoem-nos os cientistas), é perceber ao vivo e a cores como é que os seres vivos se foram adaptando ao seu meio ambiente para sobreviver. Dizer ao vivo e a cores é talvez um exagero, porque os mais de 120 animais que estão espalhados pelo parque são meros modelos, construídos numa fábrica da Alemanha. Mas são modelos construídos à escala real, com o maior rigor científico. Que ninguém se espante, logo à entrada, com o tamanho das meganeura, um parente das libelinhas, que foram dos maiores insectos que já habitaram o planeta. Imagine uma libelinha pesar meio quilo. Ler as placas informativas ajuda a perceber que só existiam na altura do período Carbonífero (há 300 milhões de anos), quando a concentração de oxigénio era muito elevada. Uma das grandes curiosidades do Dino Parque é a possibilidade de, pela primeira vez, ser possível visualizar os modelos dos dinossauros descobertos em Portugal, nomeadamente na Lourinhã. Por exemplo, o Torvosaurus gurneyi, o maior predador terrestre do Jurássico, com 11 metros de comprimento, e que habitou o planeta muito antes de existir o agora famoso Tyrannosaurus Rex (e Steven Spielberg e o seu Parque Jurássico têm muita responsabilidade nisso). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O T-Rex, como a maioria das crianças a ele se refere, até pode ser o dinossauro mais famoso, e do qual todos sabem o nome. Mas o elemento mais novo da família cá de casa — que olhou com atenção para todos eles — confessou que o dinossauro que tinha gostado mais de conhecer foi “o maior de todos”, aquele em que os trilhos nos deixam passar por debaixo dele e ter uma noção exacta do seu tamanho. É um Lourinhanosaurus alenquerensis, um herbívoro tão grande (chegava a ter 17 metros de comprimentos e pesava 17 toneladas) que não poderia ser caçado por predadores solitários. “Este é o mais bonito do mundo. ” Porque não deixar o título deste texto à simplicidade da avaliação de uma criança?Para além dos percursos ao ar livre, há no edifício central do Dino Parque alguns argumentos de peso que justificam uma visita. Para começar, o Museu da Lourinhã, onde se exibe o espólio de descobertas paleontológicas na região. E há, também, o laboratório, onde, através de janelas de vidro, se pode observar, ao vivo, a preparação dos fósseis. Depois de visitar ambos, e perceber que o que parecia uma pedra afinal é um fóssil, e que há técnicas para os trabalhar e “produzir ciência”, é natural que os miúdos queiram experimentar ser paleontólogo por uns minutos. E poderão fazê-lo no Pavilhão das Actividades, onde há vários desafios relacionadas com a paleontologia. Rua Vale dos Dinossauros, 25 Abelheira 2530-059 Lourinhã Tel. : 915 888 207; 261 243 160 E-mail SiteHorário: todos os dias, a partir das 10h. O horário de encerramento varia ao longo do ano. Nos meses de Janeiro, Fevereiro, Outubro, Novembro e Dezembro, fecha às 17h; de Março a Maio, às 18h; de Junho a Setembro, às 19h. Preços: as crianças até aos três anos não pagam, pagam 9, 50€ dos quatro aos 12 anos, e dos 13 em diante pagam 12, 50€. Há vários bilhetes de família, sem que os descontos sejam propriamente expressivos: dois adultos e duas crianças pagam 39, 50€
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Partidos LIVRE
É um molho? É uma salada? É uma maionese verde? Quanto mais perguntas se fizerem, mais brilha o guacamole
O guacamole é um prato azteca muito antigo e é no México que encontramos as expressões mais deliciosas. Isto não deve levar um europeu a procurar fazer uma versão autêntica: o melhor é desistir já. (...)

É um molho? É uma salada? É uma maionese verde? Quanto mais perguntas se fizerem, mais brilha o guacamole
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.15
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: O guacamole é um prato azteca muito antigo e é no México que encontramos as expressões mais deliciosas. Isto não deve levar um europeu a procurar fazer uma versão autêntica: o melhor é desistir já.
TEXTO: É pena que o guacamole seja visto como um molho para apanhar com pedacinhos de tortilla frita. Claro que funciona lindamente como dip mas só por falta de imaginação é que ficaremos por aí. O guacamole é uma salada que pode ser uma refeição completa ou ser combinada com todas as inúmeras coisas que ficam bem com saladas: peixe frito, galinha, atum grelhado. Outra maneira de pensar no guacamole é como uma maionese verde que fica bem com tudo o que fica bem com maionese clássica: gambas e ovos cozidos e o diabo a sete. O guacamole é um prato azteca muito antigo e é no México que encontramos as expressões mais deliciosas. Isto não deve levar um europeu a procurar fazer uma versão autêntica: o melhor é desistir já. O guacamole no México é obviamente versátil. O guacamole mais simples é feito só com um abacate e uma pitada de sal. A partir daí é como a sopa de pedra. Vai-se acrescentando um pimento habanero, cebola, tomate, coentros e sumo de lima. Vai-se sempre provando. O abacate salgado deve ser muito bom porque o abacate é uma fruta irresistível. Cada passo deve tornar o guacamole mais saboroso. Eu gosto de fazer o guacamole num almofariz porque fica com uma textura própria. O sabor e a textura serão decisões de quem fizer o guacamole. Um truque é usar abacate e meio e ficar com uma metade para os acertos, caso o guacamole fique aguado por causa do tomate, da lima e da cebola. Num almofariz começa-se com sal grosso do mar ou flor de sal. Tritura-se e junta-se o pimento picante. Já é fácil encontrar em Portugal pimentos frescos — mais os habaneros do que os serranos. Mas também se pode fazer batota com enlatados mexicanos. Certifique-se que são mesmo mexicanos — e não tex-mex, feitos nos Estados Unidos. Outra batota, para quem não tem pimentos frescos, é usar uma malagueta ainda verde ou amarela. A única coisa que não aconselho — tendo teimado muitos anos nessas aldrabices — é usar molhos picantes de outros países. Vale mesmo a pena comprar online um bom molho mexicano de habanero verde. Gosto imenso do molho El Yucatero. Uma garrafinha de 120 mililitros custa à volta de 10 euros mas como é concentradíssimo dura uma eternidade. É forte mas é, acima de tudo, delicioso. Agora é a altura de acrescentar o tomate, sem pele nem sementes e a cebola picada. Depois de triturados deverá ter um belo molho verde picante. Poderia ficar-se por aí, não é? Um guacamole é essencialmente o casamento de uma salsa verde com abacate. Os abacates são fáceis de descascar e tirar à colher. Há vários tipos de abacate — os melhores são os mais gordos e cremosos. Os piores são os mais aguados — tendem a ser assim os abacates portugueses. Em caso de dúvidas existenciais, compre abacates mexicanos ou peruanos. Se não houver, prefira abacates Hass vindos das Américas. Em qualquer caso, faz-se um bom guacamole até com abacates aguados. Basta cortar drasticamente o tomate (que não faz muita falta) e a quantidade de cebola e usar o mínimo de sumo de lima. Um dos erros de principiante é liquidificar o guacamole. Ele quer-se entre o cremoso e o chunky. É um desastre usar uma varinha mágica ou qualquer outra máquina. Se não estiver com pachorra para o almofariz, use um garfo que fica óptimo. Outro erro é usar ingredientes que não estejam nas melhores condições, pensando que a mistura esconderá as deficiências. É o contrário: amplifica-as. Os coentros, sobretudo, têm de ser fresquíssimos. É preciso usar uma faca afiada para cortá-los bem fininhos. Usam-se só as folhas, embora haja quem aprecie o estaladiço de algum caule ou dois:eu, por exemplo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. É costume espetar um caroço de abacate no meio do guacamole. Há quem diga que impede a oxidação. A melhor maneira de impedir a oxidação é comê-lo imediatamente. Graças ao frigorífico de um cozinheiro casado com uma mexicana que apareceu na Time Out Lisboa descobri as tortillas mexicanas Guanajuato. Tanto as de milho branco como as de milho azul são uma revelação para quem só conhece as europeias e as dos Estados Unidos. Um quilo delas — para aí umas 60 — custa 15 euros na Amazon britânica. Fritas são espectaculares mas também ficam estaladiças no forno ou na chapa. Até cruas são boas: sempre o melhor sinal!
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Palavras-chave casamento
Novo festival quer celebrar a alma gastronómica do Alentejo
Estremoz vai acolher a primeira edição do Alentejo Food & Soul, um novo festival de rua dedicado à gastronomia e aos vinhos da região. No primeiro fim-de-semana de Junho, 22 chefs vão criar pratos inspirados nos produtos e no receituário alentejano. (...)

Novo festival quer celebrar a alma gastronómica do Alentejo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.168
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Estremoz vai acolher a primeira edição do Alentejo Food & Soul, um novo festival de rua dedicado à gastronomia e aos vinhos da região. No primeiro fim-de-semana de Junho, 22 chefs vão criar pratos inspirados nos produtos e no receituário alentejano.
TEXTO: Há algum tempo que os responsáveis pela empresa Amuse Bouche, Ana Músico e Paulo Barata, queriam organizar um festival gastronómico de rua. A ideia de fazê-lo no Alentejo vem de longe e quase estiveram para concretizá-la em 2016, ano em que chegou a ser anunciada a estreia do Alentejo Food & Soul. O evento não chegou a concretizar-se por “falta de verbas da parte do Turismo do Alentejo”. Mas a vontade manteve-se e o conceito também. Dois anos depois, o novo festival dedicado à gastronomia e aos vinhos da região tem a primeira edição marcada para o fim-de-semana de 2 e 3 de Junho, no Centro Ciência Viva de Estremoz, localizado no antigo Convento das Maltesas. A ideia é que se transforme depois num “festival itinerante”, revela à Fugas a organização, realizando-se uma vez por ano numa localidade alentejana diferente. Este ano, o evento leva 19 chefs nacionais e três internacionais a Estremoz. Cada um vai criar um prato inspirado nos produtos e na gastronomia do Alentejo e prepará-lo ao longo do dia numa das estações de cozinha de rua. A entrada é livre, mas os pratos têm um preço fixo de 5€ ou 7€ (mais bebidas). Seis chefs vão marcar presença nos dois dias do festival: no painel internacional, o turco Semi Hakim, o austríaco Matthias Bernwieser e o italiano Francesco Brutto; aos quais se juntam o chef de pastelaria Carlos Fernandes e dois chefs da região, Alberto Muralhas (do restaurante Alecrim, em Estremoz) e Filipe Ramalho (do Basilii, em Monforte). Dias 2 e 3 de Junho Centro Ciência Viva de Estremoz - Convento das Maltesas Estremoz Horário: das 12h às 22h Preço: entrada livre alentejofoodandsoul. comNo sábado, vão estar também presentes no festival Alexandre Silva (do lisboeta LOCO, com uma estrela Michelin), Hugo Brito (Boi-Cavalo, Lisboa), Pedro Pena Bastos e os chefs da região Miguel Laffan (L’AND, em Montemor-o-Novo, com uma estrela Michelin), Gonçalo Queiroz (Origens, Évora), Michele Marques (Mercearia Gadanha), Pedro Mendes (Narcissus Fernandesii, restaurante do Alentejo Marmòris Hotel & Spa, Vila Viçosa), Rui Fialho (Restaurante Fialho, Évora) e Luís de Matos (Portalegre). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No domingo, vai ser possível provar os pratos confeccionados por Tiago Bonito (do restaurante Largo do Paço, em Amarante, com uma estrela Michelin), António Galapito (Prado, Lisboa), Maurício Vale (SOI, Lisboa), Leopoldo Garcia Calhau (Café Garrett, Lisboa), e os chefs da região José Baldé (Restaurante Panorâmico, Montemor), Alice Pôla (Cadeia Quinhentista, Estremoz) e António Nobre (M’Ar de Ar, Évora). Além das bancas de comida de rua, o recinto do festival vai contar com vários produtores regionais de carnes, vinhos, legumes e azeites, assim como alguns artesãos alentejanos. O Alentejo Food & Soul é produzido pela Amuse Bouche e promovido pela Turismo do Alentejo, com o apoio da Câmara Municipal de Estremoz, da Confraria Gastronómica do Alentejo e da Agência Regional de Promoção Turística do Alentejo. É co-financiado pelo Alentejo 2020, FEDER e enquadra-se na Operação “Alentejo Eventos XX - Promoção e Marketing” promovido pela Turismo do Alentejo.
REFERÊNCIAS:
Neste floco de vidro dorme toda a paisagem
Até ao final do ano, é possível dormir numa pequena casa de vidro sobre um horizonte de encostas áridas no deserto de Gorafe, no Sul de Espanha. (...)

Neste floco de vidro dorme toda a paisagem
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Até ao final do ano, é possível dormir numa pequena casa de vidro sobre um horizonte de encostas áridas no deserto de Gorafe, no Sul de Espanha.
TEXTO: Ao todo, não são mais do que 20 metros quadrados, repartidos por um ípsilon de divisões: quarto, sala e área de duche, com um compartimento sanitário ao centro e um alpendre que se expande lá fora à largura do tecto. O mobiliário, em tons crus, resume-se ao essencial: uma estante e um colchão com roupa de cama sobre o soalho de madeira, um banco coberto de rolos de toalhas, uma cadeira balouçante, uma mesa baixa com almofadões e um carrinho com loiça e mercearia básica para o pequeno-almoço ou um chá tardio. Sente-se os limites do espaço como se estivéssemos numa tenda familiar, numa caravana ou num cubículo de montanha, com uma excepção. Aqui, a paisagem entra-nos paredes dentro num horizonte de montanhas áridas a 360º. Apenas a meteorologia fica para lá desta redoma transparente. Quando o pico do Verão torrar as encostas circundantes até aos 45ºC, cá dentro não deverão sentir-se mais do que 28ºC. E no Inverno, quando o branco que ainda tinge o cume da serra Nevada, lá ao fundo, descer ao deserto e fizer a temperatura baixar a um mínimo de dez graus negativos, o interior da casa manter-se-á nos 18ºC. Pelo menos é o que quer provar (e demonstrar) a equipa responsável pelo projecto A Casa do Deserto, liderada pela empresa Guardian Glass, fabricante dos vidros que não só resguardam o interior como sustentam toda a estrutura vertical. Nas paredes, apenas os caixilhos das portas de correr são de metal, para que seja possível movê-las e trancá-las. Os painéis fotovoltaicos garantem auto-suficiência energética e, por baixo, existe um sistema de armazenamento e filtragem de água. “Queríamos um lugar que enfrentasse condições meteorológicas extremas ao longo do ano e na Península Ibérica existem apenas três ou quatro sítios com essas condições”, indicava Miguel Sanchéz Quintero, responsável da empresa para Portugal e Espanha, durante a cerimónia de inauguração, a 8 de Maio. Uma área de planalto no deserto dos Coloraos de Gorafe, a pouco mais de 80 quilómetros de Granada, foi o local escolhido. Durante séculos, o povo desta região árida da Andaluzia enfrentou o clima escavando as habitações nas encostas cor de barro. Só em Gorafe existem cerca de 500 exemplares destas “casas-gruta”, chegando às 2000 se contabilizarmos toda a comarca de Guadix, uma das regiões europeias com a maior concentração de casas com este tipo de arquitectura, denominada Troglodita. “Queríamos alcançar os mesmos objectivos, fazendo exactamente o oposto”, compara o responsável. Se a maioria das casas-gruta se esconde no interior dos cerros, a Casa do Deserto expõe-se aos elementos no alto do planalto. Se num caso há jogos de sombras e paredes grossas, no outro tudo é transparência e reflexos da paisagem nas superfícies espelhadas. No caminho entre a povoação de Gorafe, no fundo do vale, onde vivem cerca de 400 habitantes, e a casa envidraçada, no topo do cerro, cruzamos oliveiras encavalitadas nas encostas, campos de cereais e filas de amendoeiras já com os frutos gordos entre as folhagens. Aqui e ali, uma quinta dá abrigo ao cultivo dos terrenos. Chegados ao destino, mal se sente presença humana. Para onde quer que se olhe, mergulhamos num mar de desfiladeiros, barrancos dourados, montanhas e um espelho de água no horizonte. O silêncio absoluto da natureza. O rebanho de Ricardo pasta no fundo do vale, mas daqui não vemos as cerca de 200 cabras e ovelhas. O pastor deixou-as por ali e subiu a ver a festa. Ao longo do último ano, foi assistindo à construção do edifício, metendo conversa “com quem sabe disto”. Espanta-o o contraste com a sua “cueva” em Gorafe, nunca pensou que uma casa assim pudesse sobreviver aqui. Mas está contente com o projecto. “Vai trazer muita gente”, acredita o pastor, de chapéu de palha e cajado na mão. A partir de agora, a casa-laboratório transforma-se em alojamento turístico, recebendo hóspedes até ao final do ano. O edifício será depois completamente desmontado e o planalto devolvido incólume à natureza. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Pode optar por voar para Málaga (há voos directos de Lisboa) ou para Granada (com escala em Madrid). Depois é essencial alugar um carro para a deslocação até à povoação de Gorafe, situada num vale do deserto rochoso, a 30 quilómetros de Guadix. Grande parte do percurso é feito por via rápida. Chegados a Gorafe, o caminho até à Casa do Deserto implica uma subida acentuada por uma estrada estreita de curvas apertadas até ao planalto e um troço em terra batida (cerca de 15 minutos de carro entre a povoação e o edifício). Além da povoação de Gorafe e as suas casas-gruta, o município integra a maior concentração de dólmens do país e um dos principais conjuntos megalíticos da Europa. Existem três rotas pedestres que percorrem mais de 60 dos 240 exemplares no concelho. Numa encosta com mais de 100 metros de altitude fica ainda Los Algarves, uma fortaleza do século XII escavada em “casas-gruta” na parede rochosa. Guadix, a cidade capital da comarca, fica a 20 minutos de distância de Gorafe. A Catedral da Encarnação vale a pena uma visita, além de todo o património troglodita, incluindo um bairro de “casas-gruta” sobre a povoação medieval. Ex-líbris da região como Granada, o Parque Nacional da Serra Nevada ou Málaga ficam a menos de duas horas de distânciaA Fugas viajou a convite da Guardian Glass
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Palavras-chave concentração
No Ponto: fogaça de Palmela
Regularmente, a Fugas divulga um vídeo novo sobre um doce diferente. (...)

No Ponto: fogaça de Palmela
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Regularmente, a Fugas divulga um vídeo novo sobre um doce diferente.
TEXTO: A fogaça de Palmela faz-se por tradição para o dia de Santo Amaro, 15 de Janeiro, mas dura muito tempo e apetece todo o ano. É de salientar o formato variado, que representa animais, frutos e partes do corpo humano. A ideia é que a fogaça seja benzida no dia do santo e aquilo que representa será então abençoado. Desse modo, pede-se uma intervenção divina para boas colheitas, animais saudáveis e saúde para a família. A ligação a um santo e os formatos simbólicos são traços habituais na doçaria popular. Por vezes os costumes são recentes, mas o caso da fogaça de Palmela parece trazer ecos de um passado pagão, conforme se pode descobrir no livro A Doçaria Portuguesa - Sul. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Cristina Castro criou o projecto No Ponto para registar e dar a conhecer os doces do país. Tem vindo a publicar a colecção A Doçaria Portuguesa, "os mais completos livros sobre a história e actualidade dos doces de Portugal". A investigação para este trabalho levou a autora a viajar por todos os concelhos em busca de especialidades doceiras. A partir da oportunidade de ver como se faz, de falar com quem produz, de conhecer vidas, histórias e tradições associadas à doçaria, surgiram os vídeos que desvendam um pouco de cada doce. Regularmente, a Fugas revela um vídeo novo sobre um doce diferente.
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Palavras-chave corpo
Como em pouco tempo Portugal passou também a país de brancos
Em menos de duas décadas, Portugal deixou de ser um país de tintos para passar a ser, ou a começar a ser, também um país de vinhos brancos. As condições já existiam: foi só beneficiar da democratização da tecnologia e conjugar as condições climáticas com a existência de uma riquíssima diversidade de solos e de um notável espólio de variedades de uva. (...)

Como em pouco tempo Portugal passou também a país de brancos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em menos de duas décadas, Portugal deixou de ser um país de tintos para passar a ser, ou a começar a ser, também um país de vinhos brancos. As condições já existiam: foi só beneficiar da democratização da tecnologia e conjugar as condições climáticas com a existência de uma riquíssima diversidade de solos e de um notável espólio de variedades de uva.
TEXTO: Portugal é ou não um país de vinhos brancos? Se fizermos a pergunta a um consumidor brasileiro, provavelmente vai responder que não, que a “terrinha” é boa a produzir tintos. E é. Mas, se perguntarmos o mesmo a clientes de supermercado nos Estados Unidos e na Alemanha, por exemplo, é possível que só associem Portugal a vinho branco, em concreto ao Vinho Verde. É uma questão de percepção. Mas mesmo para um português não é fácil dar uma resposta imediata. Até há duas décadas, ou um pouco menos, “Portugal era um país de tinto, ponto”, sublinha o crítico João Paulo Martins (Expresso e Vinho-Grandes Escolhas). Antes, já se faziam brancos. Sempre se fizeram brancos, na verdade. Porém, nunca com a dimensão e a qualidade de agora. A cada ano que passa, cresce o número de produtores e de novas marcas de vinho branco. É muito mais fácil produzir vinho tinto do que vinho branco. Os brancos requerem mais tecnologia (e esta só começou a democratizar-se há relativamente pouco tempo) e são mais exigentes em termos climáticos. Por norma, os brancos dão-se melhor em regiões mais frias - o que explica a preponderância destes vinhos em países como a Alemanha ou a Áustria. Ora, Portugal é um país do sul da Europa, já muito influenciado pelo Mediterrânico. Como pode ser então um país de vinhos brancos?Pode, porque também é banhado pelo oceano Atlântico e o oceano, como explica o maior geógrafo português, Orlando Ribeiro, no seu indispensável livro Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico, é o grande regulador da atmosfera. “Do Atlântico provêm as massas de ar tropical húmidas, trazidas pelas perturbações ciclónicas em direcção ao Oriente”; durante a sua passagem, o tempo fica “instável, chuvoso, morno mesmo de Inverno” e, quando “atiradas de encontro às montanhas, determinam precipitações abundantes”. Daí o Noroeste do país, onde fica a região dos Vinhos Verdes, ser tão húmido. Mais para o interior, menos influenciado pelo Atlântico, o clima torna-se mais quente e seco, atingindo nos vales mais apertados características claramente mediterrânicas. É o caso da região do Douro. Essa influência mediterrânica é igualmente notória no sul (Alentejo e Algarve), de paisagem mais plana e onde chove pouco. A definição mais correcta do clima português é, pois, de clima temperado mediterrânico com influência atlântica e continental (da meseta espanhola). O contraste do relevo e a própria latitude também desempenham um papel importante e ajudam a explicar a grande diversidade do país e a sua beleza. Portugal, sendo um país pequeno, consegue o prodígio de ter um pouco de tudo: mar, rio, montanha, planície, ilhas, zonas áridas e zonas húmidas, xisto, granito, argila, calcário, basalto…. Esta notável diversidade é até intrarregional. O Douro, por exemplo, viveu durante muito tempo só do vinho do Porto, mas a região está longe de ser homogénea. As zonas mais baixas dos vários vales da bacia do Douro diferem muito das terras mais altas. Entre umas e outras chega a haver uma diferença de altitude de mais de 600 metros. Há até uma “ilha” de granito no meio do mar de xisto em que medram as vinhas durienses. Essa ilha, situada no concelho de Carrazeda de Ansiães, na transição para o Douro Superior, é um dos melhores lugares da região e mesmo do país para a produção de vinhos brancos. Ao lado do Douro, na Beira Interior, a vinha está plantada a cotas ainda mais altas e tem também grande potencial para brancos. Mas, por ser uma região periférica e desertificada, a Beira Interior tem-se renovado a um ritmo mais lento. No Douro, a mudança tem sido avassaladora. Em pouco mais de 20 anos, foram reestruturados mais de 26 mil hectares de vinha. A região abandonou a monocultura do vinho do Porto e passou a fazer alguns dos melhores vinhos tranquilos de Portugal. Como aconteceu um pouco por todo o país, a aposta inicial incidiu nos tintos. Foi fácil: bastou recorrer às mesmas uvas que eram usadas para o vinho do Porto. O incremento dos tintos reflectiu a vocação natural do Douro para estes vinhos e a hegemonia das castas tintas. As castas brancas existiam, sobretudo, misturadas com as tintas nas vinhas mais velhas. A corrida à plantação de castas brancas é recente e corresponde a um interesse crescente do mercado. Mas bastou uma década para se perceber que o Douro do vinho do Porto e dos tintos tranquilos também pode fazer vinhos brancos extraordinários a partir de castas com tradição local, como a Rabigato, a Viosinho ou a Gouveio, entre outras. O caso do Douro não é isolado. O fenómeno estende-se a todas as regiões do país, ilhas incluídas (ao Pico, sobretudo, através da aposta nas castas Terrantez, Arinto e Verdelho). O Alentejo, por exemplo, é provavelmente, a seguir aos Vinhos Verdes, a região que mais tem apostado em vinhos brancos, apesar do seu clima quente e seco. A água da barragem do Alqueva abriu novas oportunidades e os produtores alentejanos começaram também a investir mais na faixa costeira, onde a brisa marítima favorece os vinhos brancos. Ao mesmo tempo, a serra de São Mamede, a maior elevação do Alentejo, tornou-se numa espécie de Terra Prometida. É lá que estão a ser produzidos os brancos mais singulares da região, boa parte a partir de vinhas velhas. Por ser um movimento transversal a todo o país, tem crescido a percepção de que Portugal também é um país de brancos (a percentagem deste vinho na produção nacional já ultrapassa os 30%). “Não tipificaria o país dessa maneira. Como um todo, Portugal está mais vocacionado para tintos. Mas temos zonas onde podemos fazer brancos de excelência”, defende Frederico Falcão, o presidente do Instituto da Vinha e do Vinho. Ainda não somos, mas “estamos a começar a ser um país de brancos”, precisa João Paulo Martins. “Os produtores foram descobrindo os melhores lugares para estes vinhos. Mesmo em regiões onde se julgava só ser possível produzir bons tintos, como no Douro, também já se fazem bons brancos”, salienta. No entanto, na opinião deste crítico, tirando pequenas zonas como Colares, Bucelas ou Pico, só há três grandes regiões de brancos em Portugal: Vinhos Verdes, Bairrada e Dão. Vinhos Verdes é consensual. Não há região portuguesa tão associada a vinho branco, nem que produza tanto como a dos Vinhos Verdes. A região já é responsável por quase 10% do total das exportações de vinho português. Nem tudo o que produz é bom. Desgraçadamente, ainda faz demasiado vinho com açúcar e gás, para vender a baixo preço. Mas também há bons exemplos, sobretudos associados à casta mais famosa dos Vinhos Verdes, a Alvarinho. É com esta variedade que estão a ser feitos os melhores brancos, em especial nos concelhos de Monção e Melgaço, a pátria da Alvarinho. E, à boleia do prestígio da Alvarinho, têm vindo a ganhar notoriedade variedades como a Loureiro ou a Avesso. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No Dão, onde o sistema montanhoso Estrela-Caramulo-Montejunto fornece a frescura que distingue os vinhos daquela região, a variedade estrela é o Encruzado. Sozinha ou em lote com a Malvasia Fina ou a Uva Cão, uma casta com uma fabulosa acidez natural, faz vinhos admiráveis e longevos, de que são testemunhos vivos os lendários brancos do Centro de Estudos Vitivinícolas de Nelas. Por sua vez, a Bairrada é a nossa Borgonha. Os seus solos de argilo-calcário, associados à proximidade do Atlântico, são perfeitos para a produção de grandes brancos. A Bical, a Cercial e a Maria Gomes podem não ter o mesmo prestígio do Chardonnay, mas são castas igualmente notáveis e bem adaptadas. Há uma outra região com características semelhantes em solos e clima: Lisboa. Perde para a Bairrada por ter investido mais em variedades estrangeiras. Mas o potencial está lá e há vários produtores que estão a fazer belos vinhos. Alguns têm a assinatura de Diogo Lopes, enólogo na Adegamãe e que vê em Portugal tanto ou mais potencial para brancos do que para tintos. “As nossas variedades brancas são mais interessantes e originais do que as tintas. E estão mais estudadas. Temos também uma diversidade de solos riquíssima. Se adaptarmos as nossas melhores castas aos nossos melhores solos, podemos fazer brancos de altíssimo nível”, advoga. Este não é nenhum Top Ten dos vinhos brancos portugueses. É apenas uma selecção de dez vinhos que, à sua maneira, reflectem o melhor de cada região e que dão uma ideia do enorme potencial do paísBussaco (Dão/Bairrada) Um dos grandes brancos portugueses. São vinhos de nível mundial que se distinguem por serem feitos com uvas do Dão e da Bairrada e que possuem uma grande capacidade de envelhecimento. Parcela Única (Vinhos Verdes) Fabuloso branco de Alvarinho de uma só parcela produzido pelo enólogo (Anselo Mendes) que mais tem feito por esta casta. Um vinho de “terroir”, que expressa o melhor daquela que talvez seja a melhor variedade branca de Portugal. Quinta do Cardo Vinha Lomedo Síria (Beira Interior) Proveniente de Figueira de Castelo Rodrigo, de vinhas situadas a cerca de 700 metros de altitude e tratadas de forma biológica, é um branco que espelha bem o imenso potencial da Beira Interior. Quinta das Bágeiras Garrafeira Branco (Bairrada) Um dos extraordinários brancos da Bairrada, a região com mais potencial para fazer vinhos capazes de se baterem com os melhores do mundo. Pela sua consistência e estilo, o Quinta das Bágeiras Garrafeira é um lote de Bical e Maria Gomes de uma enorme riqueza e frescura. Equinócio (Alentejo) É numa vinha velha com mais de 14 castas misturadas, na serra de São Mamede, que nasce este branco singular e de grande complexidade. Um vinho que desmente a ideia de que não é possível fazer brancos de excelência no Alentejo. Arinto dos Açores By António Maçanita (Ilha do Pico) Um vinho com uma acidez e uma salinidade admiráveis que exprime toda a beleza e carácter do Pico, uma ilha com um “terroir” extraordinário para brancos. António (Lisboa) A região de Lisboa tem tudo (ou quase tudo) para ser uma segunda Bairrada em brancos: influência atlântica, solos de calcário e algumas boas castas. Uma delas, a Vital, esteve quase extinta, mas graças ao Casal Figueira e ao seu belíssimo vinho António voltou a ganhar uma nova vida. Quinta dos Carvalhais Encruzado (Dão) Um vinho concebido por Manuel Vieira, o enólogo que mais fez pelo ressurgimento e notoriedade da Encruzado, uma variedade com uma notável aptidão tanto para vinjhos de barrica como de inox. Neste vinho, fermenta e estagia em barrica, mas o que prevalece é a delicadez do seu aroma contido, a sua expressão mineral e a sua vitalidade. Quinta da Alorna Grande Reserva (Tejo) A região do tem duas grandes castas: a tinta Castelão e a branca Fernão Pires. Nos últimos anos esqueceu-se delas para apostar em variedades internacionais, mas parece começar a querer arrepiar caminho. Este Quinta da Alorna não indica as castas de que é feito, mas é provável que junte castas portuiguesas e estrangeiras. Seja como for, é um belíssimo branco
REFERÊNCIAS: