A Turquia a caminho da ditadura: das eleições às eleições
Há que retirar algumas lições destes resultados. Não sobre o que fazer na Turquia, mas sobre o que fazer em geral. Lições para quem quer mudar o mundo e a sociedade. (...)

A Turquia a caminho da ditadura: das eleições às eleições
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há que retirar algumas lições destes resultados. Não sobre o que fazer na Turquia, mas sobre o que fazer em geral. Lições para quem quer mudar o mundo e a sociedade.
TEXTO: As eleições legislativas e presidenciais na Turquia acabaram. Tayyip Erdogan ganhou a presidência e o seu partido AKP conseguiu quase metade do Parlamento. Como registado e documentado pelas Vozes Alternativas da Turquia durante as eleições, houve centenas de casos de fraude. Mas o essencial é que no dia seguinte todos os candidatos aceitaram os resultados declarados. E aí os resultados tornaram-se os resultados, porque ninguém os contrariou. E agora, qual é o balanço para nós, defensores da democracia e justiça?O que nós conseguimos:Em eleições durante um declarado estado de emergência e com o seu líder (e candidato presidencial) em prisão por razão nenhuma, o partido progressista e pró-curdo HDP conseguiu manter-se no Parlamento. Os comícios do candidato do partido republicano CHP mobilizaram um total de 10 milhões pessoas em três cidades durante a última semana de campanha eleitoral e obteve 15 milhões de votos. A população turca montou uma administração eleitoral paralela à do Estado, assegurando os votos e contagens com um exército de 100 mil voluntários a trabalhar das cinco de manhã até à meia noite. O que não conseguimos:Uma comparação com as eleições anteriores mostra que não conseguimos persuadir novas pessoas. Os votos do CHP+HDP mantiveram-se estáveis nos últimos cinco anos. Em particular, o HDP atingiu, em 2014, quatro milhões de votos com a viragem política à esquerda do seu líder, Selahattin Demirtas. Mas este valor não mudou nos últimos anos. Os votos contra Tayyip também não aumentaram nos últimos três anos, o que é bastante preocupante para quem aprecia a democracia. O que a ditadura conseguiu:Com eleições antecipadas o AKP conseguiu conter a queda da sua base de apoio (o AKP teve 49% dos votos em 2015 contra apenas 42% agora) e ganhar mais quatro anos de Governo. O AKP fez uma aliança eleitoral com o partido nacionalista e assim conseguiu manter-se em maioria no Parlamento. O que a ditadura não conseguiu:Alarmantemente para Tayyip, o seu partido está a perder apoio popular. Para passar leis, ele terá de depender do partido nacionalista MHP (não que este faça qualquer tipo de resistência). Em 2015, os recém-aliados AKP+MHP ganharam 64% dos deputados, agora têm apenas 57%, que é o que o AKP teve sozinho nas eleições anteriores. Destes factos é preciso tirar algumas lições. Não sobre o que fazer na Turquia, mas sobre o que fazer em geral. Lições para quem quer mudar o mundo e a sociedade. Regra número um. Nunca deixar a iniciativa ao inimigo. Toda a vida política de Tayyip pode resumir-se ao sucesso na aplicação desta regra. Tomar sempre a iniciativa certa no momento certo: iniciar uma guerra civil contra os curdos, declarar estado de emergência e repetir eleições perdidas (2015); antecipar o desaparecimento do partido nacionalista, engolir este partido e antecipar eleições (2018); prender líderes políticos sem acusação, apagar as organizações deles, depois libertá-los sem acusação (2007-2016); invadir a Síria e ganhar os votos nacionalistas (2017); etc. , etc. Nos últimos 16 anos, foi sempre ele que determinou o que a sociedade deveria discutir, em que termos e com que opções. Regra número dois. Nunca deixar a iniciativa ao inimigo. Regra número três. Nunca deixar a iniciativa ao inimigo. (Não darei medalhas a mais nenhuma regra. )Regra número quatro. Para além da mobilização de massas, é essencial ter o consentimento da maioria da população. Sem este apoio, não é possível ganhar. (Com o CHP a mobilizar 10 milhões e o HDP ainda mais milhões no Curdistão, nem sequer se conseguiu pôr Tayyip em minoria. ) A tarefa de Selahattin Demirtas em 2017, quando disse que deveríamos ir porta a porta explicar o nosso projeto, falhou. Falhámos. Logo, regra número cinco: fazer política baseada em ciência e em factos. A oposição turca nunca fez uma sondagem realista. Não preparou os seus militantes para expandirem a sua base de apoio a novas pessoas. Nem os quadros do CHP sabiam quantas pessoas os apoiavam. (O CHP esperava 58% de votos para a oposição, em vez dos 45% obtidos. ) Nos meus sete anos em Portugal, nunca falei com nenhum activista que soubesse, de facto, quantas pessoas estiveram numa manifestação. Números subestimados pela polícia e pela comunicação social podem servir para suprimir movimentos sociais, e os organizadores podem usar diferentes táticas para contrariar isto; mas não sabendo os números certos, não podemos avaliar o progresso dos nossos movimentos. A oposição cometeu outro erro científico: a sua forma de comunicação. A Turquia é um país dividido e polarizado. Atacar a ditadura de Tayyip ou o islamismo do AKP não persuade os apoiantes dos mesmos. É essencial mostrar factos relevantes a estas pessoas. Laicidade, democracia e sustentabilidade são assuntos que nos tocam, mas para os quais já estamos convencidos e mobilizados. Para ganhar, é preciso persuadir o outro pólo, com argumentos compatíveis com os valores deles (por exemplo, análises económicas). Finalmente, falar de estupidez não ajuda. O AKP tem milhares de dirigentes e apoiantes que são simplesmente cães de Tayyip (ele próprio os trata como tal). Estas pessoas não são convencíveis (o efeito do tiro pela culatra). E atacar esta minoria não ajuda converter os outros. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Sim, Trump é terrível e cada vez mais revoltante. Mas ridicularizá-lo não ajuda a obter mais apoio popular para o ensino da Evolução nas escolas ou políticas climáticas fundamentadas na ciência. Não falo em converter negacionistas do clima, mas seria bom ter um discurso capaz de pelo menos convencer pessoas em dúvida. Há mil formas de explicar que, para nos mantermos num mundo minimamente habitável, não pode haver nenhuma nova infraestrutura de combustíveis fósseis. O movimento pró-democracia na Turquia é um exemplo de cujos erros e sucessos podemos tirar lições: desde o enorme sucesso do HDP em resistir à opressão estatal sem precedentes até ao sucesso do AKP em evitar perda do poder político, passando pelos erros acima mencionados. Não é só na Turquia que os defensores do planeta e da justiça estão ainda na minoria. Para ganhar, há que aprender muito.
REFERÊNCIAS:
Religiões Islamismo
Mais serotonina no cérebro, mais rápido a aprender
Equipa de cientistas portugueses coordenou um estudo com ratinhos que mostra como a serotonina, o neurotransmissor que é o alvo de antidepressivos como o Prozac, afecta a aprendizagem. (...)

Mais serotonina no cérebro, mais rápido a aprender
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Equipa de cientistas portugueses coordenou um estudo com ratinhos que mostra como a serotonina, o neurotransmissor que é o alvo de antidepressivos como o Prozac, afecta a aprendizagem.
TEXTO: A serotonina, um neurotransmissor que é sobretudo conhecido por ter um efeito no humor e que é o alvo de fármacos antidepressivos como o Prozac, acelera a aprendizagem. A conclusão é de uma equipa internacional de cientistas do Centro Champalimaud, em Lisboa, e da University College de Londres (UCL), que publicou na revista Nature Communications os resultados de uma série de experiências realizadas com ratinhos. Apesar de ser muito conhecida e da (boa) fama que tem por estar associada ao bom humor e à sensação de bem-estar, a serotonina ainda é um mistério para os cientistas que tentam perceber os seus mecanismos de acção e os seus efeitos. Uma equipa de cientistas do Centro Champalimaud tem tentado esclarecer uma parte deste enigma investigando as consequências do aumento dos níveis de serotonina no cérebro dos ratinhos. Em 2015, Madalena Fonseca, Masayoshi Murakami e Zachary Mainen publicaram um artigo na revista Current Biology que concluía que o aumento da serotonina no cérebro tornava os ratinhos mais pacientes. Ou seja, quanto mais serotonina um ratinho tivesse no cérebro, maior o intervalo de tempo que conseguia esperar pacientemente por uma recompensa. Agora, o mesmo grupo de cientistas com Kiyohito Ligaya e Peter Dayan, da unidade de neurociência computacional Gatsby da UCL, deu mais um passo nesta linha de investigação concluindo que a serotonina também acelera a aprendizagem. “O estudo publicado agora teve como ponto de partida alguns dos dados e conclusões que tirámos do estudo anterior: que, ao contrário do que se pensa habitualmente, a serotonina não parece ser simplesmente agradável ou gratificante per se, mas que têm um papel muito mais complexo”, refere ao PÚBLICO a neurocientista Madalena Fonseca. Assim, a partir dos resultados já obtidos que implicaram a serotonina no aumento de plasticidade cerebral, os cientistas quiseram desta vez testar a hipótese desta substância química influenciar a tomada de decisão e comportamento, “não por ser agradável ou aversiva per se, mas indirectamente ao influenciar a rapidez com que o animal incorpora nova informação através da experiência”. E, constata Zachary Mainen num comunicado sobre o artigo publicado na Nature Communications, ficou demonstrado que a serotonina aumenta a velocidade de aprendizagem. “Quando os neurónios produtores de serotonina foram artificialmente activados com luz, os ratinhos conseguiram adaptar mais rapidamente o seu comportamento. Isto é, deram mais peso a nova informação e portanto incorporaram-na mais rapidamente nas suas decisões quando esses neurónios se encontravam activos”, refere o neurocientista. Os investigadores realizaram uma série de experiências com ratinhos que, simplificando, consistiam em colocar os animais perante uma tarefa de aprendizagem para obter água de dois bebedouros que a forneciam (ou não) com uma certa probabilidade. Primeiro, perceberam que os animais adoptavam uma de duas estratégias: ou, opção A, tentavam o bebedouro que antes lhe tinha fornecido água e se este não resultasse passavam rapidamente para o outro ou, opção B, demoravam mais tempo, recorrendo a uma memória mais a longo prazo que lhes permitia usar a experiência adquirida nas várias anteriores tentativas (e não apenas na última) e, neste caso, demoravam mais tempo a tomar a decisão. Para perceber se e como a serotonina poderia afectar as duas estratégias, os investigadores estimularam com luz laser (através de uma técnica chamada optogenética) os neurónios produtores deste neurotransmissor no cérebro dos ratinhos. Foi assim que descobriram que a “a estimulação da serotonina aumentava a eficiência da aprendizagem baseada na história das recompensas passadas, mas apenas quando consideravam as escolhas feitas após intervalos de longa duração”. Ou seja, o efeito era visível no sistema de decisão lento, a opção B. “Achamos que estes dois sistemas, ou modelos, estão sempre activos na ‘cabeça do animal’, mas em determinado momento, só um (ou outro) é que domina e controla o comportamento”, refere Madalena Fonseca, frisando que a aprendizagem acontece nos dois sistemas. “Quando activamos os neurónios de serotonina, só o sistema lento é que aprende mais rápido (o sistema rápido continua igual). Mas como em cada momento, só um dos sistemas é que controla o comportamento do animal, só nas decisões ‘tomadas’ pelo sistema lento é que este efeito da serotonina é visível a nível comportamental”, explica. Para os cientistas que realizaram este estudo, a capacidade da serotonina acelerar a aprendizagem (com um inevitável impacto no comportamento) pode ajudar a explicar a maior eficácia de uma terapia para a depressão que consiste em associar os fármacos que têm como alvo este neurotransmissor (os chamados inibidores selectivos da recaptação de serotonina, ou ISRS) e terapias cognitivo-comportamentais. “O que a literatura [científica] demonstra é que os ISRS com terapias cognitivo-comportamental são mais eficazes do que qualquer uma delas separada”, nota Madalena Fonseca, admitindo que um aumento da serotonina poderá acelerar a parte da terapia focada em alterar padrões de comportamento e pensamento. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O próximo passo, anuncia Madalena Fonseca, “é aprofundar o estudo da serotonina na aprendizagem (por exemplo, perceber exactamente como é a serotonina influencia a aprendizagem, se influencia todos os tipos de aprendizagem ou só alguns) e, por outro lado, perceber como é que este efeito se relaciona com outros efeitos que sabemos que a serotonina também tem, em particular o seu papel em promover a paciência”. Passo a passo, os cientistas vão desvendando os segredos da serotonina que vão além da popular sensação de bem-estar. “Ainda estamos só na ponta do icebergue, mas temos avançado bastante nos últimos anos. Em primeiro lugar, vários outros grupos confirmaram esta ideia de que a serotonina não é agradável ou graficamente per se, ou seja, a ligação entre serotonina e bem-estar não parece ser directa”, confirma a neurocientista, acrescentando que os investigadores têm explorado “os vários papéis que a serotonina parece ter, mesmo os que à primeira vista pareciam contraditórios”. E conclui, deixando uma pista sobre o aparente longo alcance que a serotonina tem revelado ao exibir diferentes timings do seu efeito: “Parte da complexidade advém da serotonina actuar em diferentes escalas temporais. Por exemplo, para além de sabermos que a serotonina tem um impacto directo (‘aqui e agora’) no nível da ‘paciência’ dos animais quando esperam por recompensas, vemos, neste estudo e outros, que também influencia o comportamento a longo prazo, através de plasticidade e aprendizagem. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave estudo animal
Na paisagem do Vale do Varosa há uma herança monástica para redescobrir
Entre Lamego e Tarouca há um roteiro composto por seis monumentos, aos quais se irão juntar outros, que contam a história do passado conventual de uma região marcada pelo estabelecimento dos primeiros monges da Ordem de Cister em solo nacional. (...)

Na paisagem do Vale do Varosa há uma herança monástica para redescobrir
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Entre Lamego e Tarouca há um roteiro composto por seis monumentos, aos quais se irão juntar outros, que contam a história do passado conventual de uma região marcada pelo estabelecimento dos primeiros monges da Ordem de Cister em solo nacional.
TEXTO: A expressão “comer como um abade” não está enraizada na cultura portuguesa por acaso. Indicativo de que um repasto correspondeu ou superou as expectativas de alguém que não tinha outro objectivo senão satisfazer os prazeres dos sentidos gustativos, encaixa que nem uma luva num país cuja população faz por aproveitar todos os momentos de reunião para pôr os pés debaixo de uma mesa. E que nessa circunstância não falte nada. Esteja a mesa farta. É no Vale do Varosa, entre Tarouca e Lamego, que há uma ligação estreita com um passado monástico, desde que no século XII se instalou o primeiro mosteiro da Ordem de Cister em solo nacional, em São João de Tarouca, decorria o ano de 1154. No mesmo concelho, do distrito de Viseu, poucos anos depois, em 1168, construía-se o segundo na região, em Santa Maria de Salzedas. É neste último que há oito anos se leva a cabo uma tradição que tem como apelo um repasto à moda daqueles que deram origem à expressão de que falávamos. É o Jantar Monástico, que acima de tudo serve como mote para levar cerca de uma centena e meia de pessoas ao vale do rio Varosa para conhecer a herança deixada na região por monges, sobretudo cistercienses, mas também franciscanos. Como em anos anteriores, o evento realizou-se na segunda semana de Junho, desta vez com o tema dos cereais como ponto de partida para o jantar. Antes dessa hora chegar, abrem-se as portas à redescoberta de uma zona com paisagem pintada pelo sabugueiro e por monumentos seculares de uma rede que arrancou em 2008, com a recuperação de três espaços aos quais se juntaram outros três, totalizando em 2018 seis pontos de interesse. Nos próximos anos, a rede, denominada por Vale do Varosa, irá crescer. Percorremos numa tarde cinco dos seis monumentos. Guardamos para o dia seguinte o último. É possível fazer o roteiro completo em apenas um dia. As distâncias entre eles são curtas, não muito mais do que dez minutos de carro. Para ser feito com qualidade, recomenda-se pelo menos dois dias. A gastronomia obrigará a paragens mais demoradas. Começamos pelo Convento de Santo António de Ferreirim, o único fora do concelho de Tarouca. Estamos em Lamego, concelho vizinho, onde em 1525 D. Francisco Coutinho, Conde de Marialva, doou aqueles terrenos aos franciscanos para a construção do convento. De traça manuelina, sobra o pórtico da igreja, restaurada entre 2001 e 2005, altura em que lá se instalou um centro interpretativo equipado com suporte audiovisual que ajuda na reconstrução histórica daquele espaço. Até à requalificação, desde 1834, quando foram extintas as ordens religiosas, estava em ruínas. Do espólio recuperado é possível ver as oito tábuas pintadas pelos Mestres de Ferreirim no século XVI. Seguimos para Tarouca, onde se fará o resto do roteiro, por um percurso que dispõe de bons acessos e sinalização para quem não confia no GPS. Entramos na área onde se estabeleceu em Portugal o primeiro Mosteiro da Ordem de Cister, vinda de França, onde nasceu em 1119, ainda que a sua origem remonte ao final do século anterior. Vemos ao fundo o Mosteiro de São João de Tarouca. Na verdade, de pé, sobra a igreja, também restaurada. Em terreno contíguo, numa área generosa, está a ruína das dependências monásticas, que depois da extinção das ordens religiosas, após a igreja ter sido convertida em templo da paróquia, foi vendida em hasta pública, tendo sido explorada como pedreira até aos inícios do século XX. Depois de 1956, quando a igreja foi classificada como Monumento Nacional, e mais tarde, em 1976, toda a área contígua, foi sendo adquirida pelo Estado para que, entre 1998 e 2010, passasse por um processo de restauro. Como em todos os outros monumentos, o trabalho de restauro é notável. Neste espaço em particular vai ao pormenor de recuperar o horto monástico, numa área mais elevada, próxima das ruínas dos dormitórios. Também neste caso, o antigo celeiro acolhe um centro interpretativo e uma loja com produtos feitos da flor do sabugueiro, como compotas, infusões, licores ou cerveja. De resto, toda a paisagem entre monumentos é marcada pela presença desta árvore. Está em todo o percurso até chegar a Ucanha, onde ficamos a conhecer a Ponte Fortificada, edificada entre os séculos XIV e XV. Está no caminho onde na época romana passava a estrada que ligava Lamego ao interior, com passagem por Moimenta da Beira e Trancoso. Para entrar em Tarouca havia que pagar portagem. Edificada num povoado de caminhos estreitos em paralelepípedo nas margens do Varosa, era também zona de moinhos. Hoje, um dos motivos para lá ir é também é gastronómico. Este é o último ponto de passagem da visita integrada no Jantar Monástico antes de seguirmos viagem até Salzedas para o mosteiro onde é servido o repasto. Em dias normais só se paga entrada (3 euros) nos mosteiros de São João de Tarouca, no de Santa Maria de Salzedas e na Capela de Santo António de Ferreirim. No dia seguinte também visitamos a Capela de São Pedro de Balsemão, que ficou de fora desta visita, mas também faz parte da rede de monumentos do Vale do Varosa. Ladeada por uma montanha que a esconde e pelo rio Balsemão, um afluente do Varosa, está uma capela cuja origem remonta ao século X. Actualmente está integrada num solar seiscentista num vale onde está erigido um pequeno povoado. De volta a Salzedas, passamos pelo Mosteiro de Santa Maria, cuja construção começa em 1168 e passa por uma ampliação nos séculos XVII e XVIII. É aquele mosteiro masculino cisterciense casa de abrigo de obras do pintor renascentista Vasco Fernandes, mais conhecido por Grão Vasco, e de trabalhos de Bento Coelho da Silveira ou Pascoal Parente. É no Claustro do Capítulo que é servido o jantar. Com cantos gregorianos em fundo, mesas e bancos corridos, cerca de 150 pessoas trajadas a rigor com hábitos de monges de Cister esperam pelo repasto. Há um figurante que vai anunciando os pratos que vão sendo servidos depois de provados pela figura do abade. “Sirva-se a pitança”, diz-se de um púlpito, dando ordem para o início da refeição. Explica-nos o director do Nuseu de Lamego e coordenador do projecto Vale do Varosa, Luís Sebastian, que esta tradição começou há oito anos como uma brincadeira de um grupo de amigos e que mais tarde ganhou outra dimensão. Actualmente serve como mais um elemento em prol da divulgação do Vale do Varosa, que abrange os concelhos de Lamego e Tarouca, no Alto Douro, e é desenvolvido sob a égide da Direcção Regional de Cultura do Norte, com gestão directa do Museu de Lamego. Este, explica, é um projecto que arrancou em 2008, que, tendo como mote a recuperação e conservação do património histórico da região, pretende também dar a conhecer a cultura, gastronomia e outro património edificado, incluindo o turismo rural, numa zona que acredita ter um “grande potencial de desenvolvimento”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “O Vale do Varosa não é só a rede de monumentos. Vale também pela paisagem cultural, natural e gastronomia. Neste momento temos a Tasquinha do Matias na fase final das 7 Maravilhas gastronómicas portuguesas, há praias fluviais e solares familiares recuperados para turismo rural. É uma zona para ser conhecida com calma, ao ritmo do sol e da lua. ”De entre os vários solares e casas particulares recuperados para turismo rural, ficámos hospedados na Casa de Santo António e Britiande, a 10 minutos de Salzedas e a cinco quilómetros de Lamego. Com quatro quartos (três duplos e um twin) e dois estúdios, a casa senhorial de fachada quinhentista foi lugar de retiro de monges franciscanos. Em 1991 foi adaptada para turismo de habitação. Os preços variam entre 115 e 130 euros com pequeno-almoço incluído. A gastronomia do Vale do Varosa é marcada por alguns pratos típicos. Além do cabrito, que é prato forte da terra, há outras atracções: o bazulaque, a marrã e os milhos. Todos estes pratos, com base em carne de porco, podem ser servidos na Tasquinha do Matias, junto à Ponte Fortificada de Ucanha, um dos pré-finalistas do concurso das 7 Maravilhas à Mesa. Com cerca de 25 euros para duas pessoas pode-se experimentar o último prato referido. Servido num pote de ferro, ainda a fumegar, há um conjunto de várias partes de carne de porco em vinha de alho e uma base de farinha de milho, tradicionalmente produzido na região. Bem servido e consistente para aguentar uma tarde de caminhada, convida a mais uns bons minutos na esplanada virada para o rio antes de seguir viagem.
REFERÊNCIAS:
Acabou a escola, começaram as férias. E agora, crianças?
Com o calendário escolar a marcar o fim das actividades lectivas, começam as preocupações dos pais para os ocupar nas férias. Aqui ficam algumas sugestões. (...)

Acabou a escola, começaram as férias. E agora, crianças?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Com o calendário escolar a marcar o fim das actividades lectivas, começam as preocupações dos pais para os ocupar nas férias. Aqui ficam algumas sugestões.
TEXTO: O calendário oficial escolar diz que a partir de 16 de Junho não há mais aulas para ninguém. Quem tem os filhos na escola pública sabe que as preocupações sobre onde colocar as crianças começam cedo, bem antes do mês de Agosto onde, aí sim, tudo está fechado e é altura de ir com os miúdos de férias. Até lá, as preocupações são encontrar actividades que os entusiasmem, que tenham horários compatíveis com as necessidades, não sejam um assalto aos bolsos, e que permitam aos pais continuarem descansados, na certeza de que eles estão a aprender alguma coisa e, sobretudo, a divertirem-se. Não há nenhuma fórmula mágica para encontrar actividades que cumpram todos estes requisitos, mas há, com certeza, uma espécie de guia de boas práticas que facilitará encontrar a agulha, mesmo que o palheiro pareça muito vasto. O ponto de partida deverá ser pensar se a prioridade é encontrar solução para uma base diária, com as crianças a regressarem a casa todos os dias, e o horário se assemelhe ao que eles tinham na escola. Pense em instituições como o MAAT, a Gulbenkian ou Serralves se a componente da arte e cultura lhe parece a mais relevante, ou na Culturgest ou no Centro Cultural de Belém se a referência for cinema e arquitectura. Se a vocação forem os animais, as opções são muitas, com o Oceanário, o Zoológico de Lisboa ou o Zoo Santo Inácio como as mais óbvias. Há sugestões para candidatos a cozinheiros, a futebolistas, a artistas plásticos, ou a surfistas. Há mesmo muito por onde escolher. A outra hipótese é pensar numa proposta diferente, que implique dormir fora de casa, e usufruir de um verdadeiro campo de férias, onde se se põem em prática muitos outros aspectos igualmente importantes, como a aprendizagem do convívio em grupo e regras porventura diferentes das que existem lá em casa – há campos de férias onde tablets, jogos electrónicos e televisões não entram. E isso pode ser uma novidade de peso para muitos – e uma novidade das boas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O maior desafio é escolher os campos de férias que implicam, com grande probabilidade, levar um saco-cama às costas. A DiverLanhoso (na Póvoa de Lanhoso, à entrada do Gerês) oferece campos de férias de 2, 7 e 14 dias, destina-se a jovens dos 6 aos 18 anos, e tem quatro programas temáticos à escolha. O mais barato é o de 2 dias (70 euros); os de uma semana começam nos 270 euros e podem chegar aos 670 euros se a opção for por um programa cultural que, entre outras actividades, inclui visitas a Santiago de Compostela. Os participantes são acompanhados 24 horas por dia, num rácio de um monitor por cada oito participantes dos 6 aos 11 anos e um monitor por cada dez participantes dos 12 aos 18 anos. A coordenadora dos campos de férias é Sara Vieira, contactável por email (saravieira@diver. com. pt) ou por telefone (962 616 746). No centro do país, os campos de férias residenciais da Upaje, em Vila Noca do Ceira, Góis, distrito de Coimbra, têm como objectivo estimular os participantes a descobrir as suas capacidades para um maior desenvolvimento da sua autonomia. Um turno de oito dias custa 248 euros, e as inscrições podem ser feitas para uma ou duas semanas. O primeiro turno está programado para a semana de 1 a 7 de Julho e o último para a semana de 28 de Julho a 4 de Agosto (informações em geral@upaje. pt ou 919 793 254). A sul, e em plena Serra de Aires e Candeeiros, a Quinta da Escola, da Pranima, continua a oferecer boas opções. Há “turnos” todas as semanas desde o dia 1 de Julho até ao dia 1 de Setembro, com um custo de 295 euros por semana. Informações em 211 919 259 ou info@pranima. orgPara aspirantes a cozinheirosPara quem gosta de tachos e panelas, e aprecia uma refeição e mais ainda a criatividade que pode existir na sua preparação, a Petit Chef (coordenados pela chef Joana Biscaya, que tem uma experiência de 13 anos nestas andanças) propõe ateliers intensivos de cozinha nas férias. A promessa é “ensinar aos grandes pequenos cozinheiros as bases da cozinha e os benefícios de uma alimentação saudável, quando é praticada a sério no dia-a-dia”. As actividades decorrem no Cook Lab da Universidade Lusófona, em Lisboa, junto ao Campo Grande, entre 2 a 27 de Julho, todas as semanas de segunda a quinta, entre as 9h00 e as 17h00. Há possibilidade de prolongar o horário até às 17h30, mediante pagamento de 20€ por quatro dias. O preço pelas actividades é de 195 euros, com refeições a meio da manhã, almoço e lanche incluídos. Tel. : 918 802 657 E-mail SiteCampos de férias para bebés?A maior parte das actividades programadas destinam-se a crianças a partir dos 4 ou 5 anos. O facto de este BabySummercamp programar actividades para bebés entre os 2 e os 4 anos, e precisamente para aquele mês em que todos os infantários e ATL estão fechados (o famoso mês de Agosto), já merece esta referência. Estão programados jogos de água, gincanas, ateliers plásticos, de expressão musical e… claro, a necessária hora da sesta. Decorre de 30 de Julho a 31 de Agosto, de segunda a sexta-feira, entre as 9h00 e as 18h00, com possibilidade de prolongamento de horários. Tem um valor de 130€ por semana, sem refeições. Tel. : 962050484 SitePara os candidatos a cientistasA Science 4 You já quase dispensa apresentações – quem nunca utilizou um dos seus kits para fazer actividades com os miúdos que se acuse (sabonetes e batons, foguetões e dragões, relógios e carros solares, etc). Não é pois preciso falar da diversidade de áreas em que trabalha, passando pelos vários campos científicos, da geologia à ecologia, da química à electrónica, da robótica à culinária (sim, que a gastronomia também é uma ciência). Pois que haverá um pouco de cada uma delas nos campos de férias que a empresa tem programados para decorrer tanto em Lisboa (Marina do Parque das Nações) como no Porto (Pousada da Juventude, na Foz). As actividades começam a 28 de Junho e vão até 7 de Setembro e destinam-se a crianças entre os 6 e os 13 anos. Há várias modalidades de inscrição e os preços oscilam entre os 175 euros por semana ou 37 euros por dia. As refeições e o material didáctico estão incluídos. E-mail Tel. : 916709141/211 932 757 223197880
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola cultura campo espécie assalto
No Ponto: ferraduras
Regularmente, a Fugas divulga um vídeo novo sobre um doce diferente. (...)

No Ponto: ferraduras
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Regularmente, a Fugas divulga um vídeo novo sobre um doce diferente.
TEXTO: Numa terra de touros e cavalos, que há 50 anos não tinha sequer uma pastelaria, nasceu esta gulosa ferradura, da autoria de Amândio Campos. Persistente e apaixonado pela profissão, tornou o doce uma tradição da Moita, procurado pela geração saudosa de outros tempos e, agora, pelos mais jovens. Não admira que a ferradura continue a atrair quem a conhece: Amândio Campos anda nisto desde os 15 anos de idade e afirma que não escolheria fazer outra coisa. O doce de ovos é feito por si, tal como fazia desde o início, assim como a muito saborosa massa de brioche. E você, já provou a ferradura da Moita? Pegue no livro A Doçaria Portuguesa - Sul e passe por lá para descobri-la. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Cristina Castro criou o projecto No Ponto para registar e dar a conhecer os doces do país. Tem vindo a publicar a colecção A Doçaria Portuguesa, "os mais completos livros sobre a história e actualidade dos doces de Portugal". A investigação para este trabalho levou a autora a viajar por todos os concelhos em busca de especialidades doceiras. A partir da oportunidade de ver como se faz, de falar com quem produz, de conhecer vidas, histórias e tradições associadas à doçaria, surgiram os vídeos que desvendam um pouco de cada doce. Regularmente, a Fugas revela um vídeo novo sobre um doce diferente.
REFERÊNCIAS:
Países Portugal
Numa fase difícil para a Tesla, Musk troca acusações com técnico acusado de sabotagem
A empresa está a processar um trabalhador por roubar informação confidencial e mentir aos media. O acusado diz que apenas queria que a verdade se tornasse pública. (...)

Numa fase difícil para a Tesla, Musk troca acusações com técnico acusado de sabotagem
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.5
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: A empresa está a processar um trabalhador por roubar informação confidencial e mentir aos media. O acusado diz que apenas queria que a verdade se tornasse pública.
TEXTO: A Tesla está a processar um antigo funcionário da empresa, por este ter alegadamente engendrado um esquema para roubar informação e ter mentido à imprensa sobre os carros fabricados. Para o presidente da empresa, Elon Musk, o trabalhador trata-se de “um ser humano horrível”. O ponto de vista do acusado, o norte-americano Martin Tripp, 40 anos, é diferente: estava apenas a alertar as pessoas sobre as verdadeiras intenções da gigante tecnológica. Tem sido um mês complicado para o fundador da Tesla, que anunciou recentemente o despedimento de 9% dos trabalhadores e o encerramento de pelo menos 12 fábricas de painéis solares. Apesar da fama de Musk como o empreendedor que quer levar a humanidade para fora da Terra e que pôs um carro a caminho de Marte (com a sua outra empresa, a SpaceX), a Tesla ainda não conseguiu um único ano com resultados positivos desde que foi fundada, em 2003, e tem estado sob críticas e pressão dos investidores. De acordo com a queixa apresentada pela Tesla, Tripp utilizou programas de computador para transferir “vários gigabytes” de dados – que incluíam fotografias confidenciais, esquemas, e pelo menos um vídeo – para destinatários desconhecidos. “O software estava instalado em três computadores diferentes, de outros indivíduos na Tesla, para que os dados continuassem a ser exportados mesmo depois de [Tripp] sair da empresa, e para que os indivíduos fossem falsamente acusados”, lê-se no documento, que nota que o antigo trabalhador “deu informação falsa” aos meios de comunicação sobre a quantidade de “lixo” resultante da fabricação dos novos modelos de carros da empresa. “É obsceno”, diz Martin Tripp, numa conversa com o jornal The Guardian, uma de muitas desde que foi despedido e acusado de sabotagem. “Estou a ser utilizado como um bode expiatório porque dei informação que é verdade. ” Em declarações à CNN, não nega ter recolhido dados da Tesla, mas diz que era “uma fonte de informação” e que as descobertas eram tão preocupantes que tinha de falar com a imprensa. Estas incluem dizer que a Tesla estava a inflacionar o número de vendas, a produzir muito mais lixo do que aquilo que dizia, e a utilizar baterias danificadas nos novos modelos. A informação ainda não foi confirmada nem desmentida pela Tesla, mas a empresa descreve as denúncias como “exageradas” e diz que Tripp estava frustrado por não conseguir ser promovido na Gigafactory, a fábrica da empresa no Nevada, EUA, onde estava empregado desde Outubro de 2017. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Numa conversa de email tornada pública, Tripp critica Musk pelas “mentiras que diz aos investidores” e avisa que o empresário “vai ter aquilo que merece” (algo que Musk interpretou como uma ameaça). O fundador retalia ao dizer que Tripp é “um ser humano horrível” e que “é normal que empresas com milhares de milhões de dólares investidos em produtos tenham milhões de dólares em lixo. ”Em declarações ao Guardian, Musk admite que foi “provavelmente insensato ter respondido” a Tripp. Numa publicação do Twitter, porém, realça que “as acções de algumas ovelhas negras não vão impedir a Tesla de alcançar os seus objectivos. ”"O lucro não é o que nos motiva. O que nos motiva é a nossa missão de acelerar a transição do mundo para a energia limpa e sustentável, contudo nunca completaremos essa missão se não demonstrarmos que podemos ter lucros sustentáveis", defende Musk, noutro texto divulgado no Twitter.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Nós e Roger Waters, aqui e agora
O alinhamento foi composto na sua maioria por canções dos Pink Floyd da década de 1970, mas, no óptimo concerto que o seu antigo baixista deu domingo na Altice Arena (haverá um segundo esta segunda-feira), elas serviram para agir no presente. "Fuck the pigs!", exortou. (...)

Nós e Roger Waters, aqui e agora
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DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: O alinhamento foi composto na sua maioria por canções dos Pink Floyd da década de 1970, mas, no óptimo concerto que o seu antigo baixista deu domingo na Altice Arena (haverá um segundo esta segunda-feira), elas serviram para agir no presente. "Fuck the pigs!", exortou.
TEXTO: Foi logo no final da primeira canção que Roger Waters, 74 anos que o corpo seco e a altura imponente não denuncia, caminhou até a um dos extremos do palco. Acenou ao público e ergueu o punho em sinal de união, de comunhão, de vitória. Acabávamos de ouvir Breathe, em interpretação imaculada no seu onirismo e melancolia, pela extraordinária banda que acompanha Waters. Ouvimos nela os versos que servem de mote àquilo que leva o antigo baixista dos Pink Floyd a querer continuar em palco, a querer continuar a tocar a música que criou ao longo das últimas cinco décadas. Aquilo que o leva a erguer o punho, no início, a bater com a mão no peito, no final, agradecendo emocionado ao público que lotou a Altice Arena este domingo, no primeiro dos dois concertos portugueses da digressão Us + Them. Lisboa, Altice ArenaDomingo, 20 de MaioLotação esgotadaOs tais versos, então. Dizem assim: “Run, rabbit, run / dig that hole, forget the sun / And when at last the work is done / Don’t sit down, it’s time to dig another one” – presos na máquina, continuamos, dia após dia, prisioneiros de algo que nos ultrapassa. A música aponta uma fuga e Roger Waters, 74 anos, acredita que a música pode acordar-nos, despertar-nos. Quando tudo terminou duas horas e meia depois, às 0h10, os confetti que caíram sobre a multidão tinham uma palavra inscrita: “Resist” – sim, é por acreditar que a música pode ser isso, resistência, que Roger Waters continua. Ao longo do concerto, o passado fez-se presente e entre Dogs e Pigs (three different ones), as canções que abriram a segunda parte do concerto, ambas incluídas originalmente em Animals, álbum de 1977, viu-se o presidente americano travestido de meretriz, em corpo de porco, com capuz do Ku-Klux-Klan, como bebé irritadiço, como figura de intervenção pop art satírica. Enquanto aquele boogie rock, cow-bell incluído, fazia o seu caminho, levitava por cima de nós esse clássico Floydiano que é o gigantesco porco insuflável – no dorso, a frase “mantém-te humano”, escrita em português e em inglês. O concerto de Roger Waters foi um concerto que aliou o impacto directo de uma banda em palco com a ambição cénica que desde muito cedo norteou a criatividade do músico. Enquanto o porco insuflável levitava sobre o público, já tinha descido alguns metros acima dele uma estrutura replicando a fábrica da capa de Animals, em cuja fachada foram, a partir de então, projectadas imagens da banda, as imagens de Trump, imagens de cenários de guerra, palavras de ordem incitando à acção. Exemplar, neste concerto, foi a forma como se conjugaram as duas vertentes, harmonizando-se sem que uma subjugasse a outra. Sentimo-lo desde o início. A esmagadora maioria do concerto compôs-se de clássicos dos Pink Floyd, mas ouvi-los e, principalmente, ouvi-los interpretados daquela forma, com intenção, bom gosto e uma fidelidade aos originais que não diminuía o seu impacto, não foi apenas homenagem a uma obra fulcral na história da música popular urbana. Aqui voltamos ao início do texto, ao Roger Waters de punho erguido, ou ao Roger Waters que cantou Welcome to the machine, a canção distópica de Wish You Were Here, com esgar dramático, ameaçador, adequadíssimo àquele pedaço rock cyborg apocalíptico que soa ainda mais profético em 2018. É tudo uma questão de contexto: e estas canções, escolhidas para dar corpo ao tema da digressão – a necessidade de união, empatia entre todos e reacção perante a barbárie da guerra, da finança, dos crimes de Estado, da xenofobia —, cresceram imponentes perante nós (mesmo se, por vezes, de forma paradoxal, Waters parece agir como líder a comandar as massas num comício, o que é contraditório com a ideia de liberdade de pensamento e liberdade individual que conduz o concerto). Roger Waters alternou entre os momentos em que agarrou o baixo e aqueles em que, de microfone na mão, percorria o palco cantando, mimando o que o guitarrista Jonathan Wilson cantava (coube-lhe as partes originalmente cantadas por David Gilmour) ou incitando o público a reagir. O líder foi acompanhado por uma banda onde se destacava o baterista Joey Waronker, de um virtuosismo justo para as canções, nunca exibicionista, o guitarrista Dave Kilminster, fidelíssimo à escola Gilmour, ou o coro formado por Holly Laessig e Jess Wolfe, membros da banda americana Lucious e que, entre o dueto em The great gig in the sky ou os momentos em que pegaram em baquetas e, com dois timbalões de chão, acentuaram o tom marcial de um par de canções, nunca foram personagens secundárias em palco. Com este Roger Waters determinado e uma banda hábil e entusiasta, o concerto fez sobressair o melhor que tem esta música. Dividido em duas partes, com um intervalo de vinte minutos a separá-las, o concerto de foi uma extraordinária prova de vida. Ouvimos o space-rock tumultuoso de One of these days, guiado por aquela titânica linha de baixo, ouvimos a cristalina Time e The last refugee, uma das canções do recente álbum de originais de Waters, Is This The Life We Really Want? (2017), e vimos os jovens do Centro Social Comunitário da Flamenga, em Lisboa, acompanharem Another brick in the Wall. Primeiro de cabeça tapada por capuz e vestindo fatos laranja de prisioneiros, depois de rosto destapado, dançando livres nas t-shirts negras onde se lia a palavra-chave: “Resist”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No início da segunda parte do concerto, a banda, onde se inclui também, por exemplo, Bo Koster, teclista dos My Morning Jacket, reuniu-se em volta de uma mesa onde eram servidas flutes de champanhe. Vestiam máscaras de porcos com várias expressões, suínos demasiado humanos como no Triunfo dos Porcos de Orwell. Grunhiam e brindavam e um deles (Waters) ergueu um cartaz – “Pigs rule the world”. Acto contínuo, libertou-se da máscara e, rosto humano encarando-nos de frente, ergueu outra palavra de ordem: “Fuck the pigs!”. O mote sugerido desde início concretizava-se. Do diagnóstico ao combate. Viriam então depois as longas suites de Dogs e Pigs (three different ones), chegaria a intemporal Money e a obrigatória Us and them. The lunatic is on the grass, frase inicial de Brain damage, anunciou a caminhada para o final com Eclipse, enquanto se formava no ar, em laser, o icónico prisma de Dark Side of the Moon. O encore chegaria, depois da apresentação da banda, depois das vénias, com palavras contra a intervenção e política israelita na questão palestiniana. Depois, discursou sobre como apenas o acto de amar pode abrir brechas na barreira erguida entre nós e os outros. Wait for her, Oceans apart, Part of my died, pedaços de folk acústica que encerram o último álbum a solo, serviram de antecâmara para a despedida com Confortably numb, cantada por Jonathan Wilson, dono de uma muito respeitável carreira a solo (“o hippie da banda”, como apresentado por Waters). Como aconteceu mais vezes ao longo do concerto, foi acompanhada em coro pelo público. Já toda a banda abandonara o palco e Roger Waters lá continuava. Punho erguido, mão batendo no peito. É por isto que ele, 74 anos, continua em palco. Acredita que tem razão. Acredita que a sua música faz acreditar. Acredita nela. Us + Them, verdadeiramente.
REFERÊNCIAS:
Mais de metade das petições tem apenas um subscritor
Até agora entraram 512 iniciativas no Parlamento, valor ao nível do primeiro Governo Sócrates, mas a apreciação tem sido mais lenta do que na legislatura passada. Dois terços as petições não têm assinaturas para chegar ao plenário. (...)

Mais de metade das petições tem apenas um subscritor
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.111
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Até agora entraram 512 iniciativas no Parlamento, valor ao nível do primeiro Governo Sócrates, mas a apreciação tem sido mais lenta do que na legislatura passada. Dois terços as petições não têm assinaturas para chegar ao plenário.
TEXTO: Apesar de se falar de um distanciamento cada vez maior dos cidadãos em relação à política, há um indicador na Assembleia da República que não pára de crescer: até sexta-feira tinham entrado 512 petições nesta legislatura. O ritmo está muito parecido com o da primeira legislatura do Governo de José Sócrates (2005/2009), quando nas três primeiras sessões legislativas entraram 515 petições (de um total de 592 nas quatro). Porém, há petições que entraram há mais de dois anos mas que ainda não foram sequer analisadas em comissão. E das 512 que entraram desde Outubro de 2015, só estão concluídas 364 (71%). Dentro de um ano, é normal que largas dezenas transitem para a próxima legislatura. Há outros dados interessantes: de acordo com cálculos feitos a partir da informação disponível no site da Assembleia da República, mais de metade das petições (52%) tem apenas um subscritor, ou seja, a pessoa que teve a iniciativa de propor a petição, ou até dez subscritores (53%); e dois terços (343 petições; 67%) não atingem as 4000 assinaturas necessárias para que a petição seja obrigatoriamente discutida em plenário. O PÚBLICO tentou contactar os dois peticionários que mais iniciativas entregaram no Parlamento nesta legislatura – um deles chegou às 43, outro tem 26 – mas um não se mostrou disponível para falar e o outro não respondeu. Apesar de a lei fixar uma fasquia para a discussão em plenário, é também verdade que já chegaram ao hemiciclo petições com apenas um subscritor. Essa análise depende do deputado relator e da comissão em que for apreciada: o tema pode ser suficientemente interessante e importante para isso. Por exemplo, uma petição de 2012, com apenas um subscritor, não chegou a plenário mas sim ao processo legislativo de revisão do Código de Processo Penal, e levou a que os deputados acatassem a sua sugestão de acabar com a obrigatoriedade de o arguido responder sobre a existência de processos pendentes, quando se faz a sua identificação numa audiência em tribunal. Tal ainda não aconteceu nesta legislatura, mas há-de acontecer com uma petição que pede que se discuta a obrigatoriedade das vacinas do Plano Nacional de Vacinação, que está proposta para ser discutida em plenário mas ainda sem data. Apesar de estar assinalada com apenas um subscritor – e classificada como petição individual -, a peticionária foi ouvida pela Comissão de Saúde e houve um problema informático na entrega das assinaturas, que a divisão de apoio às comissões mais tarde admitiria serem 9573 validadas mas já fora do prazo. Caso parecido é o da petição da ABIC – Associação de Bolseiros de Investigação Científica, que pede a adopção de medidas para que seja posta em prática a lei que estipula a contratação de bolseiros doutorados, como a regulamentação dos respectivos níveis remuneratórios. Registou 3727 signatários quando se tratava apenas de um abaixo-assinado online para entregar ao ministro Manuel Heitor. Dado o sucesso, os organizadores transformaram-no em petição, mas o Parlamento acabou por validar apenas as últimas 404 assinaturas já em papel. Como a lei em causa saiu da Assembleia, a Comissão de Educação e Ciência considerou que o Parlamento deveria discutir o assunto. Para a deputada Clara Marques Mendes, coordenadora do grupo de trabalho das audições de peticionantes que faz parte da Comissão de Assuntos Constitucionais, as petições são uma “forma de os cidadãos comunicarem com a Assembleia da República sobre os problemas que têm”. Daí haver tantas petições com apenas uma assinatura. “As pessoas têm mais vontade de participar e a lógica é incentivar essa contribuição cívica”, acrescenta a social-democrata. “Do contacto que tenho quando ando no meu distrito [Braga] e das pessoas que recebo no Parlamento fico surpresa com o facto de não saberem que podem pedir audiências aos deputados e que é fácil obtê-las. Talvez achem que o meio mais adequado é a petição, quando em muitos casos uma audiência com deputados satisfazia o mesmo objectivo”, conta a deputada. Também é certo que o caminho de uma petição pode depender da sensibilidade do deputado que dela ficar encarregue, que pode fazer mais ou menos diligências. Um caso curioso é o da petição por obras na EN125, que o deputado do PSD eleito pelo Algarve, Cristóvão Norte, decidiu fazer a audição pública dos subscritores não na AR mas em Vila Real de Santo António. Um gesto de descentralização que pretende aproximar os cidadãos do Parlamento. Outra petição que não chega às quatro mil assinaturas mas está já agendada para o último plenário antes do Verão, a 18 de Julho, é a da Comunidade Vida e Paz - uma instituição particular de solidariedade social a cujas festas de Natal o Presidente da República não tem faltado. Solicita a adopção de uma estratégia nacional pela dignidade humana das pessoas em situação de sem-abrigo e, mesmo com 2060 subscritores, a Comissão de Trabalho e Segurança Social considerou que dada a “relevância” do assunto merecia ir a plenário. Mas até agora ainda nenhum partido avançou com iniciativas legislativas nesse sentido. É que esse é um dos propósitos fundamentais das petições: levar a que as bancadas parlamentares ou os deputados façam propostas legislativas que acompanhem a pretensão dos peticionários. Como aconteceu por exemplo, com a polémica lei que permite a alguns engenheiros assinarem projectos de arquitectura (o PSD e o PAN apresentaram projectos), ou com a lei que permitiu que os animais de companhia passem a entrar em estabelecimentos comerciais (com propostas do deputado André Silva, do PAN, também subscritor da petição, do BE e do PEV). Ou ainda com a recomendação do PSD ao Governo para a adopção de medidas de redução do peso das mochilas escolares (a petição teve 48. 016 assinaturas). Qualquer pessoa pode registar uma petição no site do Parlamento, onde fica em aberto para subscrição, ou entregar todo (ou parte) o processo em papel. A petição, que pode ser individual (de apenas um subscritor), é remetida ao presidente da Assembleia da República (PAR) que a distribui à comissão parlamentar competente. A lei estipula que esta a deve apreciar e deliberar no prazo de 60 dias – que, na verdade, raramente é cumprido. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Uma vez na comissão, nomeia-se um deputado relator que deve contactar os peticionários, ouvi-los (se for o caso), pedir informação a entidades que considerar importantes e, no final, elaborar um relatório que é votado na comissão. Nas petições com pelo menos mil subscritores, os autores da iniciativa têm de ser ouvidos pelos deputados – que muitas vezes chamam peticionários de iniciativas abaixo desse limite ou pedem esclarecimentos por escrito. Sendo aprovado, é remetido a Ferro Rodrigues, e a petição deve então ser agendada para plenário no prazo máximo de 30 dias – algo que também raras vezes acontece, como provam os números das petições que até transitam entre sessões legislativas ou legislaturas. Porque ao contrário dos projectos de lei e de resolução, as petições não caducam com a mudança da configuração do Parlamento. O PAR tem de dar conhecimento do teor da petição e do relatório ao Governo e às entidades que a respectiva comissão entenda. O ritmo de apreciação das petições tem abrandado. No final da sessão legislativa passada, entre as petições que vieram de 2014/15 e as que foram entrando entretanto, havia 126 pendentes. Quase o dobro do que aconteceu no final de idêntico período em que a direita tinha a maioria absoluta. Nas próximas semanas, há duas dezenas de petições a subir a plenário.
REFERÊNCIAS:
Partidos PAN PSD BE PEV
Mais um empreendimento turístico destrói o que restava de zona verde em Quarteira
Uma proposta urbanística, vinda de um Fundo Imobiliário (ligado ao ex-BES), promove o último assalto ao que resta da zona verde que separa Quarteira de Vale do Lobo. (...)

Mais um empreendimento turístico destrói o que restava de zona verde em Quarteira
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.2
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma proposta urbanística, vinda de um Fundo Imobiliário (ligado ao ex-BES), promove o último assalto ao que resta da zona verde que separa Quarteira de Vale do Lobo.
TEXTO: O parque de campismo de Quarteira, a confinar com a lagoa da foz do Almargem (uma das principais zonas húmidas da região) vai desaparecer, dando lugar a mais um empreendimento turístico, com 499 fogos. A câmara de Loulé, entidade licenciadora, emitiu parecer favorável condicionado à proposta urbanística porque o sítio encontra-se classificado de solo urbano, desde 1995, no Plano Director Municipal (PDM). A aprovação está agora dependente da Declaração de Impacto Ambiental (DIA), em fase de análise pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR/Algarve). O promotor do projecto, designado por Quinta do Oceano, é o Invesfundo VII — Fundo Especial de Investimento Imobiliário Fechado (ligado ao Grupo Espírito Santo) que adquiriu os direitos de superfície à Orbitur, locatária do parque de campismo. De acordo com a legislação, só os loteamentos com a uma área de construção superior a 500 fogos é que são submetidos a estudo de Avaliação de Impacto Ambiental (AIA). Por isso, tentando escapar a eventuais condicionantes ambientais, o investidor deixou cair um fogo na proposta urbanística. “Mas nós, mesmo assim, exigimos a AIA dada a sensibilidade ecológica da zona”, afirmou o presidente da câmara, Vítor Aleixo, lembrando que as novas construções situam-se na proximidade do estuário e lagoa da ribeira do Almargem. Segundo o Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POOC), a lagoa da foz do Almargem faz parte do corredor das Zonas Húmidas entre Armação de Pêra e o Ancão, tal como sucede com a lagoa dos Salgados (Albufeira), também em risco. Ao lado dos Salgados, já no concelho de Silves, aguarda decisão judicial há seis anos um projecto de Potencial Interesse Nacional (PIN) com mais 4 mil camas. A proposta surgiu da empresa Galilei (ex-Sociedade Lusa de Negócios). Neste sítio, segundo a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) nidificam 45 espécies de aves. No concelho de Loulé, o pinhal da zona nascente de Quarteira (praia do Trafal) e o parque de campismo — situado a 550 metros da orla costeira — representam a último reduto de mancha verde nesta zona centro do Algarve. Na última reunião do executivo autárquico, numa sessão realizada em Quarteira na quarta-feira, a câmara aprovou por unanimidade o parecer sobre o EIA porque a área a lotear “incide unicamente sobre o solo urbano”. No entanto, o município entendeu impor outra cláusula de salvaguarda. A operação só terá lugar após a Orbitur construir um novo parque de campismo alternativo. Trata-se de retomar uma decisão que tinha já sido assumida pela autarquia em Fevereiro de 2009. A empresa Orbitur, entretanto, comunicou à autarquia que “já desenvolveu esforço” na aquisição de terreno perto da Fonte Santa (mais afastado do mar) para construir um novo parque de campismo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A associação ambientalista Almargem, por seu lado, refere que a assembleia municipal de Loulé, em 2011, “chegou a aprovar uma proposta de recomendação com o objectivo de classificar a Foz do Almargem como “área protegida de âmbito local, processo que nunca chegou a avançar”. Diversos projectos e ideias sugeridas pelos ambientalistas para defender a espaço natural, sublinha a associação, “foram pura e simplesmente ignorados ou, chegando nalguns a ser acolhidos, nunca obtiveram qualquer resultado positivo”. O fundo de investimento imobiliário adquiriu direitos sobre 12, 3 hectares, dos quais 2, 6 hectares encontram-se na área adjacente à lagoa. Porém, o Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POOC) não permite qualquer construção nessa faixa junto à zona húmida. Assim, o empreendimento Quinta do Oceano ficou-se pela ocupação de uma área com 9, 7 hectares, onde pretende erguer um conjunto de edifícios, de dois a seis andares, incluindo um aparthotel, albergando na totalidade 1831 habitantes. O dirigente da Almargem, João Santos, acha que o novo polo urbanístico “virá marcar muito negativamente toda a paisagem local, além de colocar em risco a preservação da natureza”. Por isso defende o chumbo do EIA, admitindo que tal não venha a acontecer “fruto da indiferença de sucessivos executivos municipais” que não promoveram a alteração do PDM nesta área.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos estudo aves
Lisboetas escrevem a Nadal a pedir que “não mate” as memórias do Rossio
O tenista espanhol é um dos investidores do fundo espanhol que comprou o quarteirão da Suíça. O Fórum Cidadania apela agora a Rafael Nadal que impeça o fim da histórica pastelaria, que vai fechar portas a 31 de Agosto. (...)

Lisboetas escrevem a Nadal a pedir que “não mate” as memórias do Rossio
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: O tenista espanhol é um dos investidores do fundo espanhol que comprou o quarteirão da Suíça. O Fórum Cidadania apela agora a Rafael Nadal que impeça o fim da histórica pastelaria, que vai fechar portas a 31 de Agosto.
TEXTO: “Estimado Rafael Nadal, não mate as nossas memórias”. O pedido vem na carta que o movimento de cidadãos Fórum Cidadania decidiu escrever a Rafael Nadal, o tenista espanhol que é investidor do fundo imobiliário que comprou o quarteirão da Pastelaria Suíça, que vai abandonar o espaço que ocupa desde 1922. A histórica pastelaria do Rossio vai fechar portas no final de Agosto, depois de o senhorio os ter notificado há dois anos de que não tinha interesse em renovar o contrato de arrendamento que cessa a 31 de Outubro, diz ao PÚBLICO Fausto Luís Roxo, sócio-gerente da casa. Face à notícia do encerramento, o Fórum Cidadania Lx decidiu escrever uma carta, em castelhano, ao tenista espanhol, em jeito de sensibilização para a importância que a Suíça (e não só) tem na história da cidade. Falam de outras casas do quarteirão como a Pérola do Rossio (loja de renome de chá e cafés), a Casa da Sorte (apostas), a Ourivesaria Portugal, a Antiga Casa do Bacalhau, “cuja história na cidade é tão importante que não há ninguém em Lisboa que não saiba onde é o ‘Quarteirão da Suíça’”. “Todas estas lojas têm um grande valor para o investimento de Rafael Nadal em Lisboa, se essa (a salvaguarda destas lojas) for a sua decisão”, escrevem os cidadãos. Na Suíça, o dia foi passado a atender jornalistas e lisboetas. A notícia, anunciada pela câmara de Lisboa, espalhou-se rapidamente. Há quem tenha parado para confirmar se é mesmo verdade. Os acenos de cabeça diziam que sim, ainda que os funcionários da casa não se tenham alongado em comentários. “Olhe a cara delas todas tristes”, reconhece Fausto Roxo, de 91 anos, enquanto olha para Manuela Matias, de 53, que ali trabalha desde os 23 anos e é um dos 46 funcionários efectivos da casa. “Tenho muita pena”, diz a funcionária. “Ouvia-se falar, mas nunca pensámos que isto ia fechar”. Pensaram que o prédio podia entrar em obras, mas que depois voltaria a funcionar normalmente, tal como aconteceu na altura das obras da estação de metro do Rossio. A Pastelaria Suíça abriu portas em 1922 e, ao longo de quase um século, foi ponto de encontro de intelectuais judeus que fugiam da II Guerra Mundial, como Peggy Guggenheim, Max Ernst, Hannah Arendt, que pararam em Lisboa antes de conseguirem chegar aos Estados Unidos. Anos depois, também Orson Welles, Maria Callas e Edward Kennedy ali foram clientes, escreve o Fórum Cidadania, que acredita ainda que se a Suíça for recuperada à imagem do que foi nas décadas de 1960 e de 1970, “será o espaço ideal para o futuro hotel de Nadal em Lisboa, uma referência de que este necessita". Ao longo dos últimos anos, grupos imobiliários têm-lhes batido à porta à procura de informações sobre o prédio. “Andaram sempre a pescar, até que o senhorio acabou por vender a este fundo”, diz Fausto Roxo. A pastelaria tem nove fracções arrendadas, pelas quais paga cerca de 5000 euros todos os meses. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. De há ano e meio para cá, as obras nas fachadas voltadas para Praça da Figueira não têm facilitado o negócio. “Hoje estamos reduzidos a 50% da receita que fazíamos”, afirma Fausto Roxo. “Nós só decidimos mandar aquela carta à câmara [a pedir a saída do programa Lojas com História] quando fizemos contas. Não conseguíamos ficar aqui mais cinco anos. Se já não conseguimos agora quando começarem com as obras do prédio ainda é pior. Quem é que se vai sentar ali?”, atira o sócio-gerente, apontando para a esplanada que ficará debaixo de andaimes. O Fórum Cidadania pede ainda que se recuperem os edifícios e se preservem as mansardas pombalinas. No final, deixam ainda uma crítica à intervenção feita na fachada do edifício que está voltada para a Praça da Figueira: “Aproveitamos também para lhe pedir que mande retirar, rapidamente, das fachadas dos edifícios os azulejos horríveis que foram colocados e lhes sejam devolvidas as paredes pintadas como sempre foram e assim era apanágio do pós-terramoto de 1755”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra