Os vinhos precisam de tempo mas são vendidos cada vez mais novos
Os grandes vinhos tintos (tal como os brancos) exigem tempo e paciência por parte de quem vende e de quem compra. Mas tempo e paciência é o que falta cada vez mais neste negócio. Mesmo marcas conceituadas estão a queimar os tempos desejáveis de envelhecimento e a lançar os vinhos mais cedo do que nunca. (...)

Os vinhos precisam de tempo mas são vendidos cada vez mais novos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os grandes vinhos tintos (tal como os brancos) exigem tempo e paciência por parte de quem vende e de quem compra. Mas tempo e paciência é o que falta cada vez mais neste negócio. Mesmo marcas conceituadas estão a queimar os tempos desejáveis de envelhecimento e a lançar os vinhos mais cedo do que nunca.
TEXTO: Em 2014, a influente revista norte-americana Wine Spectator elegeu o tinto Chryseia 2011, do Douro, parceria do francês Bruno Prats com a família Symington, como o terceiro melhor vinho do ano. Desde então, o vinho esgota num fechar de olhos e cada nova colheita chega ao mercado logo ao segundo ano. O Chryseia 2016, por exemplo, já está à venda há alguns meses (65 euros). A pressão dos comerciais é enorme e o vinho nem tempo tem para afinar na adega. É a 15. ª colheita deste vinho em apenas 18 anos (sem contar com as duas que estão na adega, a de 2017 e a de 2018). Ao contrário do Chryseia, o Barca Velha, o vinho ícone da Sogrape, passa entre oito a dez anos na adega antes de começar a ser comercializado. O último a sair foi o 2008 (pontuado com 100 pontos pela revista Wine Enthusiast). A cada nova colheita, o preço dispara. Uma garrafa do 2008 já custa mais de 500 euros (595 euros na Garrafeira Nacional). Em 50 anos, só 18 vinhos foram declarados Barca Velha. Mário Cunha, produtor transmontano (Vilar de Ouro, Mirandela), não pertence a este "campeonato", mas faz um tinto, o Romano Cunha, que comercializa quase com o mesmo tempo do Barca Velha. A colheita que tem no mercado é a de 2010. Cada garrafa custa 20 euros. O seu consultor/conselheiro é o conhecido enólogo espanhol Raul Pérez. O que estes três exemplos nos dizem? Alguma coisa. Nos vinhos, o juízo soberano pertence ao consumidor. Se há quem pague 400 euros ou mais por um Barca Velha e quem compre Chryseia ainda imberbe, por que razão a Sogrape e os Symington e Bruno Prats hão-de-fazer as coisas de maneira diferente? O naïf desta história não será Mário Cunha?Se calhar. Em bom rigor, Mário Cunha vende o seu vinho com tanta idade também por necessidade, porque foi obrigado a acumular stocks a partir do momento em que as suas vendas a granel para Espanha começaram a cair. Mas há algum critério enológico. “O vinho foi ficando nos pipos à espera que o Raul dissesse que estava bom para sair para o mercado. Ultimamente, o Raul tem-me dito que o vinho é de modas e que as pessoas querem vinhos mais fáceis de beber e mais jovens. Se calhar, vou começar a vender vinhos com menos idade e menos extracção”, diz Mário Cunha. Seja como for, os vinhos, tantos os tintos como os brancos, para poderem aspirar a ser grandes, precisam de passar a prova do tempo. Precisam de evoluir no penumbra da cave, para polir arestas, integrar tudo melhor e ficarem ainda mais ricos e complexos. Alguns tintos, os mais tânicos e agrestes em novos, pelo estilo ou pelas características das castas, requerem mesmo muito tempo. Basta pensar nos Ramisco, da região de Colares, ou em alguns Baga, da Bairrada, por exemplo. Cada vinho necessita do seu tempo certo, para poder atingir o seu auge, antes de começarem a caminhar para o seu destino final, o vinagre. Acertar nesse ponto óptimo de consumo é o grande desafio que se coloca a qualquer enófilo. Ainda assim, tratando-se de vinhos realmente bons, esse auge nunca se alcança ao fim de um ou dois anos, por bem feitos que sejam. Acontece que os vinhos, de um modo geral, estão a ser vendidos cada vez mais novos, com pouco tempo de cave e de garrafa. O consumidor, em geral, está mais impaciente. “Hoje compra-se vinho para beber, não para guardar. As pessoas não têm nem tempo, nem dinheiro, nem espaço para guardar vinhos”, sublinha o bairradino Luís Pato. Por sua vez, os produtores esperam menos pelos vinhos porque precisam de realizar dinheiro e porque a acumulação de stocks tem custos muito elevados. Uma empresa como a Prats&Symington até podia ser mais paciente. Paul Symington, o líder dos Symington, concorda e admite que o vinho esteja a sair cedo de mais, mas desculpa-se com as “regras” do negócio. "Se um vinho estiver uns anos sem sair, o mercado esquece-o", justifica. Seja pelo que for, o Chryseia está muito longe de ser um caso isolado. Na verdade, o seu exemplo faz a regra hoje em dia. Mário Cunha e o seu Romano Cunha é que são a boa excepção, já que o Barca Velha, pela sua singularidade e fama, não conta para este debate. Não conta o Barca Velha como não contam mais uns quantos (não muitos) vinhos nacionais famosos que souberam forjar uma imagem de qualidade assente na sua raridade, envelhecimento longo e preço elevado (Casa Ferreirinha Reserva Especial, Quinta do Crasto Maria Teresa e Vinha da Ponte, Pêra-Manca, Quinta Foz do Arouce Vinhas Velhas de Santa Maria, Bussaco, Quinta da Pellada, Quinta do Ribeirinho Pé Franco, entre mais um ou outro). O facto de serem poucos diz-nos muito sobre o Portugal vinícola. O país pertence ao Velho Mundo do vinho, mas ainda é relativamente novo na produção de vinhos tranquilos de qualidade. O Douro, por exemplo, tem pouco mais de três décadas. Durante muito tempo produziu-se apenas para auto-consumo e para alimentar as colónias. Vendia-se a granel. O que determinava muitas vezes a guarda de um vinho era o seu preço e a procura. Em algumas regiões, o vinho ficava uns anos nas cubas ou nas pipas porque a procura era baixa. Noutras, como a Bairrada, por exemplo, também porque o vinho era difícil de beber em novo. Nas regiões mais quentes, como o Alentejo, onde as uvas amadurecem melhor, o vinho era bebido logo no mesmo ano. Para conseguir um vinho de guarda era tradição usar muito ácido tartárico e até gesso, para fazer baixar o pH dos vinhos e aumentar a sua resistência ao envelhecimento. Tirando um ou outro vinho mais icónico, nunca houve tradição em Portugal de lançar os vinhos mais tarde por razões de qualidade, nem nunca vendemos en primeur, como acontece em algumas regiões francesas. E, de uma forma genérica, as regras de classificação dos vinhos também nunca foram tão apertadas como nas regiões espanholas da Rioja e Ribera del Duero, onde os grandes reservas só podem sair para o mercado ao fim de cinco anos (ver caixa). No Douro, por exemplo, é possível lançar um Grande Reserva ao final de um ano. Por outro lado, o “vinho velho” não era sinónimo de qualidade. Pelo contrário. Um vinho velho, por muito bom que fosse, tendia a desvalorizar-se. Ainda é assim com a maioria dos vinhos. Só os mais conhecidos e caros é que vão aumentando de preço. Os vinhos também não duravam tanto. Os cuidados eram menores e a tecnologia e os conhecimentos de enologia e viticultura não eram os de hoje. Os vinhos actuais são genericamente melhores e conservam-se por mais tempo. E, face ao aumento da temperatura na Terra, as uvas também amadurecem melhor, pelo que os vinhos já nascem mais polidos e bebíveis em novos. “Eu faço vinhos mais redondos do que fazia há cinco ou dez anos. Os que faziam primeiro podiam durar 40 anos ou mais. Se estes durarem 20 ou 30, já não é mau”, reconhece Luís Pato. Vivemos um tempo de consumo voraz. O vinho não foge à regra. Em Portugal e em qualquer país do mundo. Vender os vinhos cada vez mais novos está longe de ser um problema português. É uma tendência mundial. Basta olhar para o top ten deste ano da Wine Spectator. O melhor vinho de 2018 é um Sassicaia (Toscana, Itália) de 2015. No segundo e no terceiro lugares surgem o Château Canon-La Gaffelière (Saint-Émilion, França) e o Castello di Volpaia Chianti Classico Riserva (Toscana, Itália), ambos também de 2015. Só em quarto lugar é que aparece um vinho já com alguma idade, o Rioja Alta Gran Reserva 890, da colheita de 2005. Entre os restantes seis há um champanhe de 2008, um tinto de 2015, um Chardonnay de 2016 e três tintos de 2016. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O mundo está mesmo a mudar e o negócio do vinho também. A regra é cada vez mais passar o custo do envelhecimento para o consumidor. Por todo o lado, a palavra de ordem passou a ser esta: “Quer beber vinhos com mais idade? Compre-os novos e guarde-os em casa”. A região de Ribera del Duero, uma das mais famosas de Espanha, não está muito na moda, pelo menos entre os críticos de vinho. Os seus vinhos são muito concentrados, densos, maduros e com longos estágios em barrica. Tudo o contrário da tendência actual de consumo, que privilegia os vinhos com menos álcool e menos madeira. Os vinhos de Ribera del Duero são, em Espanha, o mais parecido ao que se designa de estilo Parker, o crítico mais influente das últimas três décadas. Nos últimos anos, Robert Parker tem vindo a perder influência e até os seus próprios provadores preferem vinhos nas antípodas daquilo que fazia o gosto do boss. Parker gostava de Ribera del Duero, mas o seu provador para Espanha, Luís Gutierrez, prefere vinhos de outras regiões. Em Agosto, Gutierrez escreveu um artigo demolidor para Ribera del Duero, dizendo que lhe custa “manter a motivação” para provar os seus vinhos e que a região, das mais famosas de Espanha, é uma das que menos lhe apetece visitar. “É certo que há alguns nomes interessantes, mas creio que a maioria dos vinhos são demasiado parecidos, demasiado previsíveis, pouco originais, excessivos e, em definitivo, aborrecidos”, afirmou. Como se chegou até aqui? A relativa homogeneidade da região, em orografia, clima e castas utilizadas, pode ajudar a explicar a produção de vinhos muito parecidos. Mas as regras da denominação de origem também têm sido determinantes. Para o bem e para o mal. Para o mal, porque obrigam a um uso excessivo da barrica. Para um vinho poder ser classificado como Crianza tem que ter pelo menos dois anos, um dos quais em barrica. Um Reserva só pode ser comercializado ao fim de três anos e tem que passar pelo menos um em barrica. E os Gran Reserva Crianza têm que ter no mínimo dois anos de barrica e três de garrafa antes de poderem ser lançados no mercado. Para o bem, porque “obrigam” a dar tempo ao vinho. Passa-se o mesmo na Rioja, onde predomina a mesma casta, a tânica Tempranillo, e a mesma influência bordalesa no uso prolongado da barrica. As regras são semelhantes. Em novos, os vinhos são muito amadeirados e algo agrestes. Mas, com o tempo, vão complexando e podem chegar a ser divinais. Na Rioja, por tradição, os vinhos ainda envelheciam mais tempo do que em Ribera del Duero. Por exemplo, o Marquês de Murrieta Gran Reserva 1983, um dos grandes vinhos do mundo, foi lançado após 41 anos de envelhecimento. Há muitos outros vinhos da Rioja ainda vivos e em grande forma que só saíram ao fim de 15 ou 20 anos. Hoje, esta prática é economicamente inviável. Só uns poucos vinhos continuam a seguir essa linhagem, pela força da sua raridade, fama e preço e porque se tornaram em vinhos mais de colecção do que de consumo. Barca Velha 2008É um vinho com um aroma explosivo, muito químico, balsâmico e especiado mas ainda com bastante fruta vermelha. Na boca, é um portento de nervo e frescura. Não é um vinho geométrico, perfeito, mas é precisamente por isso que emociona, porque tem vida, tem mistério, obriga-nos a “falar com ele”, como dizia Luís Sottomayor, o seu criador. Em relação ao anterior, de 2004, é mais másculo, tem maior vigor tânico, pelo que requer comida apropriada e alguma paciência e critério por parte de quem o beber. Foram cheias apenas 18 mil garrafas (menos 12 mil do que no Barca Velha 2004). P. G. Castas: Touriga Franca (50%), Touriga Nacional (30%), Tinta Roriz (10%) e Tinto Cão (10%) Região: Douro Álcool: 14% vol Nota: 98 Preço: 595€ (Garrafeira Nacional)Mouchão 2013A primeira dádiva deste Mouchão é o tempo – ou, por outras palavras, é colocado no mercado após 36 meses em tonéis de macaúba e 24 meses de garrafa. O que lhe permite apresentar uma dimensão na qual o refinamento e o apuramento do seu enorme potencial já está em condições de ser apreciado. Aromas de ameixa preta, notas de tabaco, tanino seco a conferir intensidade e frescor, riqueza de fruta na boca temperada com especiaria, é um vinho com a marca da casa. M. C. Castas: Alicante Bouschet (dominante), Trincadeira e Aragonês Região: Alentejo Álcool: 14% Nota: 94 Preço: 42, 50€Quinta do Ribeirinho Pé Franco 2003Luís Pato foi sempre um produtor irrequieto, inovador e ousado. Em 1998 tomou uma decisão importante para o futuro do seu projecto e que haveria de mudar também a percepção dos críticos mais influentes do mundo sobre o grande potencial dos tintos da Bairrada. Quis saber como eram os vinhos antes da filoxera e plantou 1, 2 hectares de videiras da casta Baga em pé franco. Ou seja, directamente no solo arenoso, sem porta-enxerto. Em 1995 lançou o seu primeiro Quinta do Ribeirinho Pé Franco e a reacção da crítica, em especial da inglesa Jancis Robinson, foi extraordinária. Hoje, este vinho é um ícone da Bairrada e do país. O último a sair é da colheita de 2012. Cada videira, por decisão do produtor, só produz um cacho (os outros cachos vão sendo mondados para o chão ou são colhidos mais cedo para espumante) e o vinho é invariavelmente muito estruturado, concentrado e rico, com taninos sólidos mas toleráveis e acidez equilibrada. O 2012, que ainda não provámos, deve seguir a mesma linha dos anteriores. Mas um dos que nos ficou na memória foi o 2003, provado em 2013. Um Baga colossal, longo, poderoso e ainda cheio de viço. P. G. Castas: Baga Região: Bairrada Álcool: 13% Nota: 96 Preço: 150€ (colheita de 2012)Bussaco Tinto Reservado 1983O Hotel Palace do Buçaco funciona desde 1907 como hotel de luxo e também como adega de um dos vinhos portugueses mais originais e cobiçados. Nas caves do hotel e de mais alguns edifícios repousam cerca de 200 mil garrafas, entre tintos e brancos feitos com uvas da Bairrada e do Dão, de inúmeras colheitas. Cada colheita passava longos anos em cave antes de ser engarrafada (hoje, o tempo de guarda já é menor). São vinhos que podem durar décadas. Há vinhos da década de 40 do século passado ainda bebíveis. Um de meia idade, digamos, é o Bussaco Tinto Reservado 1983. “Reservado” porque era um vinho reservado para o hotel. Era e continua a ser. Já tem 35 anos e continua a causar grande impressão, graças ao seu bouquet muito químico, à sua deliciosa frescura e até a alguma rusticidade. P. G. Castas: Baga da Bairrada, Touriga Nacional e outras do Dão Região: Bairrada/Dão Álcool: 13% Nota: 94 Preço: 80€Porta dos Cavaleiros Reserva Seleccionada 1975As Caves São João, da Bairrada, possuem certamente o melhor stock de vinhos tranquilos do país. Fundada em 1920 pelos irmãos José, Manuel e Albano Costa, é uma empresa familiar que, no princípio, se dedicava à comercialização de vinhos finos do Douro e de licores. Nos anos 1930, com a interdição da elaboração dos vinhos do Porto fora de Vila Nova de Gaia, passou a comercializar vinhos de mesa da Bairrada. No final da década de 50 criou uma das mais conhecidas marcas de vinho da região – o “Frei João” – e, um pouco mais tarde, estendeu-se ao Dão, lançando o icónico “Porta dos Cavaleiros". Sobretudo os tintos mais antigos, são do melhor que se fez em Portugal. É o caso do extraordinário Porta dos Cavaleiros Reserva Seleccionada 1975. Lote de Baga, Jaen, Alfrocheiro e Tinta Roriz, possui apenas 12, 8 de álcool. Delicado, complexo e fresquíssimo, é um tinto capaz de surpreender mesmo quem tenha a bitola nivelada pelos grandes vinhos de Bordéus e da Borgonha. A empresa ainda comercializa esta colheita e, para um vinho desta idade e desta qualidade, o seu preço (45, 20 euros) é um achado. P. G. Castas: Baga, Jaen, Alfrocheiro e Tinta Roriz Região: Dão Álcool: 12, 8% Nota: 96 Preço: 45, 20€
REFERÊNCIAS:
Porque gostamos dos vinhos do Alentejo?
São 10 razões mas até poderiam ser mais. O Alentejo é a região preferida dos consumidores, é dali que vêm os vinhos de todas as gamas de preços e que são mais apreciados (...)

Porque gostamos dos vinhos do Alentejo?
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DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: São 10 razões mas até poderiam ser mais. O Alentejo é a região preferida dos consumidores, é dali que vêm os vinhos de todas as gamas de preços e que são mais apreciados
TEXTO: O Alentejo é a região preferida dos consumidores, é dali que vêm os vinhos de todas as gamas de preços e que são mais apreciados, desde os vinhos em bag-in-box até aos ícones caros. A região tem uma significativa área de vinha, atingindo actualmente 21. 354 ha e por isso tem muito espaço para produzir vinhos de todo o tipo. Nos anos 1960 e 70 as adegas cooperativas concentravam a qualidade máxima da região: eram célebres os Garrafeira dos Sócios da Coop. de Reguengos, os Garrafeiras do Redondo, os rótulos de cortiça de Borba e, já então, os originais tintos de Portalegre. Digo tintos porque, à época, eram estes que prendiam a atenção do consumidor. Embora já se falasse nos “célebres” brancos da Vidigueira, na verdade era com os tintos que a região mais se identificava. Os tempos entretanto mudaram e do arranque das brancas para plantar castas tintas os produtores estão hoje a plantar cada vez mais brancas, correspondendo assim aos pedidos do mercado. Fora das cooperativas sobravam então poucos, muito poucos, produtores-engarrafadores de que todos conhecemos os nomes: Mouchão, Quinta do Carmo, Tapada do Chaves, José de Sousa, Horta do Rocio, Santos Jorge. A história do Alentejo conta-se também entre o antes e o depois da Reforma Agrária e, por isso, é sobretudo a partir dos anos 90 que se fala do Novo Alentejo: mais produtores, mais área de vinha, mais castas, mais estilos. O crescimento teve as suas dores próprias porque a região não estava demarcada e ninguém tinha muitas certezas sobre o modus operandi da demarcação, onde deviam passar as “fronteiras” das sub-regiões e que castas incluir como obrigatórias e recomendadas. Das opções então tomadas (muito discutíveis) ainda hoje a região se ressente e, como consequência, chegámos à situação actual, em que são muito mais os vinhos com designação Regional Alentejano do que Alentejo. Cabe ao Conselho Geral resolver, algo que nestes 30 anos ainda não se conseguiu. Vamos lá às nossas 10 razões. 1. Aqui convive o Velho e o Novo Mundo vitivinícola. Do Velho sobram castas e sobram práticas, esquecidas umas, renascidas outras. Aqui encontramos as velhas adegas ao lado de edifícios gigantescos onde se produzem vinhos aos milhões de litros, por aqui temos as mais modernas práticas vitícolas, com rega instalada, estações meteorológicas nas vinhas, sondas e drones ao lado de vinhas de sequeiro que souberam adaptar-se ao clima quente da região e que até parece que apenas requerem que as deixem em paz. Aqui também encontramos os velhos tonéis onde sempre se amadureceu o vinho ao lado de caves repletas de barricas novas e câmaras frigoríficas para vinificar brancos em madeira. 2. Mais do que se pensa, o Alentejo tem boa diversidade orográfica, está muito longe de ser uma planície uniforme, da serra de São Mamede às planícies de Beja há muita diferença e variação. Os solos também são diferentes e, só para citar um exemplo, sempre se soube que a originalidade dos brancos da Vidigueira não vinha só da Antão Vaz, mas de uma combinação de solos graníticos com uma orografia que permite a influência de ventos marítimos e noites frescas de Verão. 3. O clima está longe de ser uniforme. Dos calores tórridos da Amareleja à frescura marítima de Vila Nova de Milfontes, das temperaturas das vinhas da serra de São Mamede às noites frescas de Estremoz, há mais variedade do que se pensa. Temos assim a possibilidade de fazer vinhos que espelhem essas diversidades. Depois é tudo uma questão de gosto e de escolha. 4. O Alentejo ainda conserva muitas das castas típicas que lhe moldaram o perfil no passado: nas brancas persiste a Roupeiro, Antão Vaz e Arinto, ao lado de outras que alguns não querem deixar morrer, como Perrum, Tamarez e Rabo de Ovelha. Nos tintos, além da presença da Castelão (outrora obrigatória), por cá continuam a Alicante Bouschet, a Trincadeira e a Aragonez, mas também a Moreto (sobretudo na Granja) e, embora em menor escala, a Alfrocheiro. A Alicante Bouschet esteve outrora confinada ao Mouchão e Quinta do Carmo, mas hoje está disseminada por toda a região. 5. Por aqui, em relação a novas castas, soube-se filtrar o que deveria ser adoptado e o que poderia ser dispensado. Assim, após alguma euforia dos anos 1980, a Cabernet Sauvignon passou à história mas a Syrah e a Touriga Nacional vieram para ficar. Chegaram também algumas “castas de tempero”, como a Petit Verdot e Touriga Franca. Pode agora dizer-se que o lote mais habitual de um tinto alentejano inclui três destas variedades: Alicante Bouschet, Syrah, Touriga Nacional, Trincadeira e Aragonez. Nas brancas o movimento de renovação não foi tão forte mas há que salientar a disseminação da Antão Vaz por toda a região, deixando de estar confinada à Vidigueira. Vieram depois a Viognier e os temperos de Sauvignon Blanc, Verdelho e Alvarinho. O lote mais frequente continua a ser Antão Vaz e Arinto. 6. O Alentejo tem a serra de São Mamede. Isolo-a aqui porque ela funciona como um todo: como serra que é, tem dispersão de vinhas até aos 700m, factor fundamental para o perfil de alguns vinhos; tem um clima próprio, mais fresco, e vinhas de orientação solar diversa; a serra é também o último reduto de vinhas velhas da região, tendo sobrevivido à euforia do arranque dos anos 1980 e 90. Por isso ali se conservam castas antigas, algumas totalmente desconhecidas dos consumidores e que, num verdadeiro field blend, originam vinhos de perfil próprio que estão a recolher cada vez mais adeptos. Por essa razão, várias empresas se interessaram pelas vinhas da zona: Fundação Eugénio de Almeida, Lusovini, Symington Family Estates e mais recentemente Sogrape estão por ali e essa pode ser uma razão para acreditarmos que o património tão próprio da serra se irá manter. 7. O Alentejo é a pátria dos vinhos de talha. Embora actualmente, por razões onde se misturam a moda e a conservação do património, haja produtores de outras zonas a fazer vinhos recorrendo a esta antiga prática, em boa verdade é na planície que a tradição impôs esta forma de fazer vinhos. Bem mais difícil do que se imagina, com muitas talhas a partirem-se durante a fermentação, atestando essa dificuldade, as talhas pesgadas contribuem para aromas originais, antigos, claramente afastados de tudo o que hoje se faz em enologia. Por isso muitos enólogos dizem, com humildade, que é preciso aprender com a prática porque a talha contém segredos escondidos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. 8. O Alentejo tem projectos de dimensão. Embora os wine freaks só olhem para as produções microscópicas e para os produtores que em anos de boa produção fazem 1000 garrafas, a verdade é que o vinho só é negócio se tiver dimensão. Não há como fugir desta realidade. O vinho vende-se sobretudo nas grandes superfícies e para entrar nesse negócio tem de se ter disponibilidade para colocar centenas de milhar de garrafas no mercado. Há uma lógica trituradora neste negócio e há produtores que conseguem sair dela apostando todas as fichas na exportação, mas nem todos alcançam esse objectivo. Mesmo na exportação é preciso ter dimensão para responder a encomendas. Crescer torna-se assim obrigatório e o Alentejo tem respondido em várias frentes, beneficiando também do apreço que os seus vinhos têm em Angola e Brasil, por exemplo. 9. O Alentejo tem ícones. Todos sabemos como eles são importantes para o prestígio de uma região. Nem sempre as razões do sucesso de uma ou outra marca são evidentes, mas a verdade é que, para citar o mais óbvio, o nome Pêra-Manca é hoje um verdadeiro mito no Brasil e Angola, ao nível do outro mito duriense, o Barca Velha. Também por cá há vários anos que se torna difícil adquirir e, pior, pagar o que se pede por uma garrafa de Pêra-Manca tinto. Ganha a região. Não há muito mais ícones no Alentejo mas o Mouchão soube impor o seu Tonel 3-4 como a quintessência da Alicante Bouschet e é hoje uma marca de enorme prestígio. Se formos a uma garrafeira, local por excelência para procurar os mais prestigiados vinhos da região, vemos que os preços médios subiram consideravelmente e são muitos os que rondam (um pouco para cima ou para baixo) os 50 euros por garrafa. Boas notícias para o prestígio da região, mais dificuldades para os consumidores. Nestas circunstâncias houve quem nos ensinasse a frase mágica: é a vida…!10. O Alentejo tem uma gastronomia extraordinária. Partindo de uma base elementar, pão, azeite e umas ervinhas (como dizia o nosso saudoso amigo David Lopes Ramos), a região construiu um património gastronómico muito rico e diversificado, com maior foco nas carnes de porco de montado e borrego, com abundante recurso aos coentros, a erva mágica a que alguns, que não são do Sul, teimam em não dar crédito, mas também às beldroegas, à hortelã da ribeira, aos orégãos. Mais recentemente, também a criação de carne de vaca certificada de raça alentejana veio alargar as escolhas. Se a tudo isto juntarmos a variada oferta de enoturismo e agroturismo, dos abrigos mais simples aos hotéis rurais mais sofisticados e sempre invariavelmente associados à gastronomia, não nos faltam razões para gostar dos vinhos alentejanos.
REFERÊNCIAS:
Missionário cristão morto por tribo em ilha remota e perigosa
Um norte-americano de 26 anos foi morto por uma tribo indígena na Índia. Família pede que os nativos não sejam responsabilizados pela morte do homem. (...)

Missionário cristão morto por tribo em ilha remota e perigosa
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.22
DATA: 2018-12-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um norte-americano de 26 anos foi morto por uma tribo indígena na Índia. Família pede que os nativos não sejam responsabilizados pela morte do homem.
TEXTO: Um missionário cristão norte-americano foi morto e enterrado por uma tribo de caçadores-colectores na ilha Sentinela do Norte, uma zona remota no Oceano Índico onde tinha ido com o objectivo de proselitismo religioso aquela região. A notícia foi avançada nesta quarta-feira pelas autoridades locais. A ilha, conhecida por ser perigosa, é habitada por uma tribo indígena hostil. O governo indiano traçou um perímetro de segurança de cinco quilómetros circundantes à ilha, tornando também ilegal o contacto com os habitantes. John Allen Chau, de 26 anos, foi encontrado morto numa zona onde fica a considerada a última tribo pré-neolítica do mundo, já fora da área aconselhada para quem visita a região, informou Dependra Pathak, director-geral da polícia em Andamão e Nicobar. O representante das autoridades locais acrescentou que foram presos pescadores locais por suspeita de terem transportado ilegalmente o missionário norte-americano para a ilha de 60 quilómetros quadrados. Chau foi morto por membros da comunidade Sentinelese, que, segundo a imprensa local, terão usado arcos e flechas. Nas redes sociais, o norte-americano de 26 anos era descrito como um aventureiro e explorador. Respondendo a uma pergunta num blogue de viagens sobre o que estava no topo de sua lista de aventuras, Chau disse: "Voltar às Ilhas Andaman e Nicobar, na Índia". "Recebo de Jesus a minha inspiração para a vida", afirmou. Percorrendo as publicações do norte-americano, conclui-se que esta não era a primeira visita do missionário à Índia. De acordo com a pegada virtual de John Allen Chau, o missionário já teria explorado e pregado em muitas partes do sul da Índia. "Recentemente soubemos de relatos não confirmados que John Allen Chau foi morto na Índia enquanto procurava membros da Tribo Sentinela nas Ilhas Andamão", disseram membros da família Chau numa publicação na sua página no Instagram. A família descreve-o como um "amado filho, irmão e tio", bem como um missionário cristão, técnico de emergência médica, treinador de futebol e montanhista. "Ele amava Deus, a vida, ajudando os necessitados e não tinha nada além de amor pelo povo sentinela", disse a família. "Nós perdoamos os supostamente responsáveis pela sua morte. Também pedimos a libertação dos amigos que ele tinha nas Ilhas Andamão. "Na mesma publicação, a família pede que os contactos locais da vítima não sejam responsabilizados pela morte de John Allen Chau. As autoridades locais iniciaram uma investigação sobre a morte de Chau após terem sido contactadas pelo consulado americano na cidade de Chennai, no sul da Índia. "Estamos cientes dos relatos sobre um cidadão norte-americano nas Ilhas Andamão e Nicobar", disse uma porta-voz do consulado por e-mail, recusando-se a fornecer mais detalhes. De acordo com as informações recolhidas, no dia 15 de Novembro, Chau fez duas ou três viagens à ilha de canoa. Nessas viagens esteve com a tribo, mas regressou sempre ao seu barco. No dia seguinte, o norte-americano terá dito aos pescadores que não voltaria da ilha e mandou-os voltar para casa e levar algumas anotações manuscritas que Chau fez para um amigo. Na manhã seguinte, os pescadores viram o corpo do norte-americano a ser arrastado por uma praia e enterrado na areia. “Foi uma aventura que saiu do lugar e entrou numa área altamente protegida", resumiu o director-geral da polícia local. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Uma fonte da Reuters conta ainda que Chau tinha levado tesouras, alfinetes de segurança e uma bola de futebol como presentes para a tribo. Nas notas manuscritas, Chau escreveu que enquanto alguns membros da tribo eram bondosos e aceitavam a sua presença outros eram muito agressivos. "Tenho sido tão gentil com eles. Porque estão eles tão zangados e agressivos?", escreveu. O missionário apontou naquelas notas que estava a tentar “estabelecer o reino de Jesus na ilha” e que terá pedido para que os nativos não fossem culpados caso ele fosse morto. Este não é o primeiro homicídio naquela ilha. Em 2006, dois pescadores foram mortos e seus corpos nunca foram recuperados. Quando um helicóptero da Guarda Costeira indiana foi enviado para recuperar os corpos foi repelido por uma saraivada de flechas da comunidade.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte homicídio filho comunidade corpo morto ilegal
Morte de americano chama a atenção para a “tribo mais isolada do mundo”
Tribos isoladas “devem ser deixadas em paz”, diz organização de defesa. A visita do americano expôs a tribo a risco de doenças. (...)

Morte de americano chama a atenção para a “tribo mais isolada do mundo”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.25
DATA: 2018-12-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Tribos isoladas “devem ser deixadas em paz”, diz organização de defesa. A visita do americano expôs a tribo a risco de doenças.
TEXTO: A morte do norte-americano John Allen Chau numa ilha no mar de Andamão habitada por uma tribo isolada chamou a atenção para esta comunidade, que é considerada por peritos a mais isolada do mundo. Não se sabe quase nada sobre a tribo sentinela, nem sequer sobre a sua língua, apenas que é diferente das outras tribos do arquipélago. As autoridades da Índia, a quem pertence o arquipélago, só têm uma ideia vaga de quantos habitantes tem a ilha: serão entre 50 e 150 pessoas. O contacto com a tribo é proibido, assim como qualquer viagem até à ilha, que terá sensivelmente a mesma área de Manhattan, em Nova Iorque: uma razão é a vulnerabilidade dos membros da tribo a doenças que possam ser levadas por estranhos. O isolamento leva a que não tenham resistência a vírus como o da gripe ou sarampo. A outra razão é que a tribo “já deixou muito claro que quer ser deixada em paz”, disse o director da Survival International, associação com sede em Londres que defende a protecção das tribos nas ilhas de Andamão, Stephen Corry. O americano terá conseguido estar na ilha algum tempo antes de, na última vez que lá foi, ter sido atacado com flechas e morto. “Tal como muitas tribos isoladas classificadas como selvagens, a sua hostilidade a estranhos é facilmente compreensível, porque o mundo exterior trouxe sempre violência e desdém”, explica a associação numa nota sobre a tribo de 2004, quando o tsunami trouxe atenção para os habitantes da ilha, que apesar de serem duramente atingidos pelas ondas, sobreviveram. Esta sobrevivência foi uma surpresa, e especula-se que com os sentinelas tenha acontecido o mesmo que com outra tribo numa ilha próxima: uma lenda antiga, passada de geração em geração, dizendo que quando as águas do mar recuam se deve ir para um bosque para protecção dos espíritos. O bosque era o ponto mais alto da ilha, e por isso os seus habitantes sobreviveram. A jornalista da BBC Geeta Pandey conta que foi nesta altura que ouviu falar pela primeira vez da tribo sentinela a propósito do tsunami quando, numa conferência de imprensa, as autoridades informaram que os membros da tribo tinham sobrevivido. Depois de um helicóptero voar sobre a ilha, sem conseguir ver ninguém, e se aproximar, foi atacado por flechas. “Assim ficámos a saber que estavam bem”, comentou o piloto. Stephen Corry sublinha que “a ocupação britânica das ilhas de Andamão dizimou as tribos que lá viviam, matando centenas de pessoas, e apenas uma pequena fracção sobrevive ainda. Por isso, o medo do exterior dos sentinelas é muito compreensível”. A tribo de caçadores-recolectores é muitas vezes descrita como vivendo “na idade da pedra”. Estima-se que esta população ocupe a ilha há 60 mil anos, mas isso não significa que ainda vivam como nessa altura, diz Sophie Grig. “Claro que vivem em 2018, tal como nós!”“Não há razão para acreditar que os sentinelas tenham vivido do mesmo modo durante os muitos milhares de anos que estão nas ilhas Andamão. O seu modo de vida mudou e adaptou-se muitas vezes, como todos os povos”, sublinha. “Por exemplo, agora usam metal que tenha dado à costa ou que tenham recuperado de navios naufragados. Afiam o ferro, e fazem assim as pontas das suas setas. ”Não se sabe praticamente nada sobre a tribo, apenas que a língua é diferente da das outras tribos nas ilhas próximas – não se sabe sequer como se chamam a si próprios. A informação foi sempre recolhida de um ponto mais distante do que o alcance das suas flechas, já que qualquer aproximação é normalmente recebida com salvas de flechas. As autoridades indianas tentaram, nos anos 90, uma expedição de “contacto” com a tribo. Fizeram um vídeo a distância, que mostrava que os membros da tribo estavam saudáveis e alerta. O primeiro contacto do exterior com a tribo terá sido feito pelos britânicos, que em 1880 levaram um casal e quarto filhos para uma outra ilha do arquipélago, apesar de estes se terem tentado esconder. O homem e a mulher morreram pouco depois, doentes, e as quatro crianças foram enviadas de volta – eventualmente infectadas com doenças que o sistema imunitário da tribo não conseguiria defender-se. Desde então, a tribo atacou sempre antes de alguém conseguir chegar a terra, incluindo, em 2006, dois pescadores que se aproximaram demasiado e pernoitaram no barco ao largo da ilha. A grande excepção foi, em 1991, o antropólogo indiano T. N. Pandit. Pandit dedicou-se durante mais duas décadas a aproximar-se da tribo dos Sentinelas, e também de outra semelhante, os Jarawa. Em viagens regulares, deixava oferendas no meio do nada, esperando que fossem levadas mais tarde. Tudo demorou muito tempo, lembrou recentemente o antropólogo numa entrevista com o New York Times. Acabou por conseguir contacto sustentado com os Jarawa, menos com os Sentinelas. Sophie Grig, investigadora da Survival especialista nas tribos da região do Mar de Andamão, explicou ao PÚBLICO por email que mesmo a equipa de T. N. Pandit não obteve grande informação. “Eles não conseguiam falar a língua nem sequer sair da praia”, contou – as fotos que T. N. Pandit tem são tiradas com o antropólogo e membros da tribo dentro de água. “Depois de pouco tempo, os sentinelas voltaram a ser hostis e a disparar setas contra os visitantes, ninguém sabe porquê. ”Já os jarawa começaram um processo de aproximação aos seus vizinhos ocidentais, e este não foi vantajoso. Pior, foi impossível de parar. “Agora estão infectados”, comentou ao New York Times Samir Acharya, um activista local. “Foram expostos a um modo de vida que não podem manter. Aprenderam a comer arroz e açúcar. Transformámos um povo livre em pedintes”. A Survival nota o contraste: “Os habitantes da ilha [os sentinelas] estavam claramente muito saudáveis, alerta e em boas condições, em contraste marcado com duas outras tribos que ‘beneficiaram’ da civilização ocidental, os onges e os grande-andamaneses, cujos números diminuíram drasticamente e estão agora muito dependentes de ajudas do Estado para sobreviver”. Ao reconhecer que “políticas de contacto foram desastrosas para outras tribos, e aceitando que estas tribos têm o direito de decidir por si mesmas como querem viver”, as autoridades mudaram a sua política, dizia a Survival em 2004. No comunicado, Stephen Corry critica as autoridades indianas por, há poucos meses, terem levantado uma das restrições que “protegia a ilha da tribo sentinela dos turistas estrangeiros”, e que existia “para segurança tanto da tribo como dos estrangeiros”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Sophie Grig explica que uma pequena alteração em algumas regras provocou eventualmente mal entendidos. “Ainda que continue a ser proibido ir, um nível adicional de protecção foi retirado – isto não quer dizer que as pessoas possam lá ir, mas trouxe confusão”. “Não é impossível que os sentinelas tenham acabado de ser infectados por agentes patogénicos contra os quais não têm qualquer imunidade, com o potencial de aniquilar toda a tribo”, sublinhou pelo seu lado Corry. Os sentinelas são uma de vários tribos isoladas que ainda sobrevivem no mundo. Segundo a emissora britânica BBC, estima-se que existam cerca de 100: no Brasil, Colômbia, Equador, Peru, Paraguai, Papuásia- Nova Guiné e noutras ilhas do arquipélago indiano. A maioria é ameaçada, na América Latina, sobretudo por madeireiros que levam a cabo abates ilegais, ou até traficantes de droga, que invadem o seu espaço.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Antropólogos estudam forma de recuperar corpo de missionário sem conflito com a tribo
Uma das hipóteses apontadas pelas autoridades pode passar por esperar que a tribo desenterre o corpo e o pendure na ilha, o que já fez em 2006. (...)

Antropólogos estudam forma de recuperar corpo de missionário sem conflito com a tribo
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DATA: 2018-12-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma das hipóteses apontadas pelas autoridades pode passar por esperar que a tribo desenterre o corpo e o pendure na ilha, o que já fez em 2006.
TEXTO: As autoridades indianas estão a estudar formas de recuperar o corpo de John Allen Chau, o norte-americano de 26 anos morto por uma tribo isolada numa ilha no mar de Andamão, numa zona remota no Oceano Índico. As operações para tentar recuperar o corpo arrancaram este domingo e as autoridades indianas estão a consultar antropólogos e psicólogos para avançar com o resgate do corpo. Antes de qualquer decisão, existem factores a ponderar, entre os quais está a psicologia dos residentes da ilha, explicam as autoridades locais. Em 2006, quando dois pescadores foram mortos por terem adormecido e se terem aproximado demasiado da ilha, também foram mortos e enterrados pela tribo. Uma semana depois, os corpos foram desenterrados e pendurados em canas de bambu, virados para o oceano. Caso a tribo decida fazer o mesmo com o corpo de Chau, essa poderá ser a melhor — e talvez única — oportunidade para identificar e recuperar o cadáver. John Allen Chau foi visto pela última vez na última semana, depois de ter ido para a ilha com o objectivo de converter a tribo ao cristianismo. Quer as notas de Chau quer a sua família indicam que o norte-americano estava consciente do perigo em que se estava a colocar (e à tribo) por decidir entrar no território da ilha. De acordo com um dos amigos, John Middleton Ramsey, citado pela CNN, Chau queria partilhar “a palavra de Deus” e eventualmente traduzir a Bíblia. John Allen Chau chegou às ilhas em Outubro e planeou a viagem detalhadamente. Num diário, descreveu os passos que precisou de dar até conseguir chegar à ilha. As mesmas páginas guardariam, dias depois, as suas últimas memórias. Chau pagou 350 dólares (aproximadamente 308 euros) aos pescadores que o levaram de barco até à ilha a 15 de Novembro. Regressou ao final do dia com ferimentos provocados por flechas, mas decidiu regressar. Acabou por ser morto por membros da comunidade sentinelese, que, segundo a imprensa local, terão usado arcos e flechas. A ilha, conhecida por ser perigosa, terá sensivelmente a mesma área da ilha Graciosa, nos Açores. Tem à sua volta um perímetro de segurança de cinco quilómetros traçado pelo governo indiano, dado o historial de incidentes provocados pelo contacto entre os indígenas e visitantes. A hostilidade da tribo em relação ao exterior é explicada pelas suas experiências anteriores, incluindo a ocupação britânica, que dizimou centenas de membros da tribo, explica o director da Survival International, associação que defende a protecção das tribos nas ilhas Andamão, Stephen Corry. Na sexta-feira e no sábado, as autoridades indianas navegaram até às proximidades da ilha, juntamente com os dois pescadores que terão assegurado as viagens de visita de John Allen Chau à tribo. “Mapeámos a zona com a ajuda destes pescadores. Ainda não encontrámos o corpo, mas sabemos mais ou menos em que zona estará enterrado”, informou Dependra Pathak, director-geral da polícia em Andamão e Nicobar. O grupo de resgate terá avistado cerca de “seis ou sete” membros da tribo, carregados com arcos e flechas na zona onde os pescadores dizem ter visto o corpo do missionário a ser enterrado. “Estavam a olhar na direcção do mar. Diria que estão em alerta. ”“A missão foi feita à distância para evitar qualquer potencial conflito com as tribos, já que é uma zona sensível”, disse Dependra Pathak. Apesar de ter sido instaurado uma acusação criminal contra um “membro desconhecido de uma tribo”, não é claro que consequências este caso poderá ter na justiça. “Existe uma obrigação e responsabilidade de resolver este caso com a maior sensibilidade possível porque são um grupo pequeno, num sítio pequeno e têm a sua própria civilização e ideia do mundo. Não planeamos irromper e gerar confronto”, acrescentou Pathak, citado pelo jornal britânico The Guardian. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Dado que mataram alguém vindo do exterior, sofreram um choque psicológico. Entender isto irá ajudar-nos a observá-los e delinear uma estratégia se queremos continuar”, disse. Uma vez que não há dados oficiais, existem apenas estimativas de qual é a composição da tribo. O governo indiano acredita que serão entre 50 e 150 pessoas. Como vivem isolados, os membros da tribo não desenvolveram muitas resistências e até uma gripe pode ser fatal. Os sentinelas são uma de vários tribos isoladas que ainda sobrevivem no mundo. Segundo a BBC, estima-se que existam cerca de 100: no Brasil, Colômbia, Equador, Peru, Paraguai, Papuásia-Nova Guiné e noutras ilhas do arquipélago indiano.
REFERÊNCIAS:
Religiões Cristianismo
Arouca é o município do ano pelo seu geoparque
Município foi distinguido na tarde desta sexta-feira em Guimarães pelo seu geoparque que está reconhecido, desde 2009, pela UNESCO como património geológico da Humanidade. (...)

Arouca é o município do ano pelo seu geoparque
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DATA: 2018-12-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: Município foi distinguido na tarde desta sexta-feira em Guimarães pelo seu geoparque que está reconhecido, desde 2009, pela UNESCO como património geológico da Humanidade.
TEXTO: O concelho de Arouca, com o seu geoparque, é o vencedor nacional dos prémios Município do Ano Portugal 2018, que reconhece as boas práticas do poder local. O Geoparque de Arouca integra desde 2009 a Rede Europeia de Geoparques que, sob a tutela da UNESCO — Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, reúne os territórios classificados como património geológico da Humanidade. O Geoparque de Arouca foi inaugurado a 5 de Dezembro de 2007 e estende-se por uma área de 327 quilómetros quadrados da Serra da Freita, abrangendo 41 geo-sítios, isto é, "sítios com interesse geológico. É hoje famoso pelos oito quilómetros de passadiços que serpenteiam as margens do rio Paiva e que já foram inclusive premiados, em 2016, nos World Travel Awards, considerados os Óscares do Turismo a nível mundial. A entrega dos prémios Município do Ano Portugal 2018 decorreu esta sexta-feira no Paço dos Duques de Bragança, em Guimarães — o galardoado do ano passado —, tendo sido distinguidos nove concelhos nas categorias regionais. O galardão maior foi arrecadado por Arouca, além ter vencido na região da Área Metropolitana do Porto. O prémio é atribuído desde 2014 pela Universidade do Minho, através da plataforma UM – Cidades e visa distinguir os municípios cujas boas práticas de projectos implementados nos seus territórios tenham nele impacto. E promovam o crescimento, a inclusão e a sustentabilidade nas suas cidades. É também uma oportunidade de dar a conhecer as diferentes realidades dos territórios de baixa densidade. Os projectos foram avaliados tendo em conta diversos factores, como o impacto que têm no território e na economia e qual o seu custo-benefício, se são inovadores e originais, que resultados têm alcançado, qual o potencial de replicação do projecto. Desde a sua criação, este galardão distinguiu municípios de diferentes zonas do país. Em 2014, foi Lisboa a premiada com o projecto "Há Vida na Mouraria". No ano seguinte foi Vila do Bispo pelo Festival de Observação de Aves & Actividades de Natureza. Em 2016, foi o Fundão, com o projecto “Academia de Código” (que promove cursos intensivos para ensinar as pessoas a programar). No ano passado, o projecto "Pay-as-You-Throw", em que cidadãos e empresários da zona histórica só pagam o lixo que produzem no centro histórico da cidade, valeu a Guimarães a distinção como município do ano. Depois de 56 candidaturas, o júri nomeou 35 projectos para nove categorias e para o grande prémio final que, este ano, fica em Arouca. No Norte, entre os municípios com menos de 20 mil habitantes, foi premiada a iniciativa Sexta 13 - Noite das Bruxas, de Montalegre. No grupo dos que têm mais de 20 mil habitantes, foi Braga a distinguida pelo sistema de Inteligência Urbana na Mobilidade Escola – School Bus. Na região Centro, foram distinguidos os municípios de Idanha-a-Nova (Recomeçar em Idanha) e Mealhada (CATRAPIM – Festival de Artes para Crianças). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O sistema intermodal de transportes que integra bicicletas, estacionamento, autocarros e comboios em Cascais — MobiCascais — foi o vencedor da Área Metropolitana de Lisboa. No Alentejo foi distinguido o município de Sines, pelo Festival Músicas do Mundo de Sines, que chegou às duas décadas este ano. No Algarve, foi Loulé com o projecto Territórios. Memórias. Identidades. Nas regiões autónomas, foi premiada Vila Praia da Vitória pelo eco-restauro da Zona Húmida Costeira. Os outros municípios finalistas eram Avis, Coruche, Santarém, Sines, Albufeira, Alcoutim, Loulé, no Algarve, Cascais, Lisboa, Mafra, Sesimbra, Espinho, Gondomar, Vila Nova de Gaia, Águeda, Mealhada, Oliveira do Hospital, Seia, Figueira de Castelo Rodrigo, Idanha-a-Nova, Lousã, Sátão, Braga, Ponte de Lima, Viana do Castelo, Vila Real, Alfândega da Fé, Armamar, Montalegre, Valpaços, Horta, Madalena do Pico, Ribeira Grande e Praia da Vitória.
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Entidades UNESCO
Francisco Guerreiro. Dos domingos da BBC Vida Selvagem até ao Parlamento Europeu
Seguimos os passos de Francisco Guerreiro entre Lisboa e Estrasburgo, nas semanas que antecederam a tomada de posse do eurodeputado eleito pelo PAN no Parlamento Europeu. Apanhámos lixo: “Para além da retórica política é preciso acção prática”. Em Portugal e na Europa, a missão é mostrar que o PAN não está reduzido a um nicho. (...)

Francisco Guerreiro. Dos domingos da BBC Vida Selvagem até ao Parlamento Europeu
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Seguimos os passos de Francisco Guerreiro entre Lisboa e Estrasburgo, nas semanas que antecederam a tomada de posse do eurodeputado eleito pelo PAN no Parlamento Europeu. Apanhámos lixo: “Para além da retórica política é preciso acção prática”. Em Portugal e na Europa, a missão é mostrar que o PAN não está reduzido a um nicho.
TEXTO: De mochila às costas e fato de treino, Francisco Guerreiro atravessa as rochas negras junto à Estrada do Guincho até perto do mar. “Ah, é aquela rede!” “Já é quinta tentativa para tirarmos daqui isto”, responde um dos membros do grupo que se reúne frequentemente em Cascais para acções de recolha de lixo. Na manhã de meados de Junho em que o PÚBLICO acompanhou o eurodeputado eleito pelo PAN, o grupo de quatro pessoas tem uma missão especial: tentar libertar do labirinto apertado de rochas afiadas uma rede com quase 30 anos, utilizada por pescadores nas décadas de 1970 e 1980. “Há dias com mais lixo, menos lixo, mas uma coisa é certa: há sempre lixo”, diz Francisco Guerreiro.
REFERÊNCIAS:
Partidos PAN
BE propõe uma lei do clima e criação de Ministério da Acção Climática
Catarina Martins apresentou neste domingo a “primeira parte” do programa eleitoral do Bloco de Esquerda às legislativas de Outubro. (...)

BE propõe uma lei do clima e criação de Ministério da Acção Climática
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.1
DATA: 2019-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Catarina Martins apresentou neste domingo a “primeira parte” do programa eleitoral do Bloco de Esquerda às legislativas de Outubro.
TEXTO: O Bloco de Esquerda propõe no seu programa eleitoral para as legislativas de Outubro a aprovação de uma “lei do clima” e a criação do Ministério da Acção Climática, anunciou neste domingo a coordenadora do partido, Catarina Martins. “Queremos uma lei do clima que tenha os objectivos do programa para a emergência climática e neutralidade carbónica, e que tenha as obrigações de cortar as emissões. Precisamos de um Ministério da Acção Climática que coordene estas acções várias na indústria, no território, na habitação, na energia”, disse. A coordenadora do Bloco de Esquerda discursava numa sessão pública no Teatro Thalia, em Lisboa, destinada a apresentar a “primeira parte” do programa eleitoral do BE às legislativas de Outubro e que durou cerca de duas horas. Para o BE, “combater o plástico é uma prioridade, e em Portugal está fora de controlo”, já que o país produz “três vezes mais novos plásticos do que recicla”, disse Catarina Martins, propondo também a “proibição dos microplásticos” e a criação de alternativas às redes de pesca no mar. Na área ambiental, o BE quer recuperar o sistema de “tara” para as garrafas de vidro, o aumento das garantias de duração dos produtos e a possibilidade de as reparações dos bens serem comparticipadas, bem como a redução para metade das embalagens de plástico de bebidas até 2022. A criação de uma lei de bases da energia e de uma “nova agência da energia que seja objectivamente capaz de impor as mudanças que são necessárias” são outras propostas do BE nesta área. Para o BE, na área ambiental “falhou tudo o que tem feito até agora” e o “capitalismo verde não chega”, tornando-se necessário “responder às alterações climáticas e à pobreza energética” com medidas que vão dos transportes, à energia e à habitação. Para isso, o Bloco de Esquerda defende "retirar os carros” dos centros de Lisboa (Baixa-Chiado e Avenida da Liberdade) e Porto (Ribeira e Aliados), assegurando a existência de alternativas, bem como a requalificação do metropolitano em Lisboa até 2029, a expansão do metro sul do Tejo e novos silos de estacionamento. O BE estima que o programa de investimento nos transportes públicos ascenda a 680 milhões de euros. Por outro lado, o BE propõe aumentar o investimento no plano de acesso à rede ferroviária, com nove mil milhões de euros ao longo de duas décadas. Na energia, o BE quer aumentar em 50% até 2030 a capacidade instalada de produção de energia sustentável, com o encerramento da central de Sines até 2023 e da central do Pego até 2021, no prazo previsto. A descida do IVA da energia para 6% e a criação de um programa de “eficiência energética na habitação pública”, acelerando o investimento em 60 mil fogos de habitação social do Estado numa legislatura são outras medidas que constam do programa eleitoral do BE. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Na área económica, Catarina Martins defendeu o aumento do investimento público para 5% do PIB, que correspondem a 10 mil milhões de euros, a “recuperação das pensões mais baixas” e retirar os rendimentos dos filhos do cálculo do Complemento Social para Idosos. O aumento do Salário Mínimo Nacional para 650 euros em Janeiro de 2020, “garantindo que o SMN é igual ao pago pelo sector público”, será também uma prioridade do BE, que voltou a propor a “recuperação do controlo público da banca e sectores estratégicos do Estado, nos transportes e energia”. Catarina Martins defendeu a reestruturação da dívida pública e um sistema fiscal “mais justo”, propondo o “englobamento obrigatório” de rendimentos, um novo escalão “da derrama estadual” para as empresas com lucros entre 20 e 35 milhões de euros, a reverter para o financiamento da Segurança Social.
REFERÊNCIAS:
Partidos BE
Natal: e quando não podemos estar presentes?
Todos os anos, milhares de pessoas não podem passar o Natal com a sua família por inúmeras razões — e uma das principais é o trabalho. Tu que irás estar longe da tua família no Natal, não te preocupes, acontece a todos. (...)

Natal: e quando não podemos estar presentes?
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DATA: 2018-12-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Todos os anos, milhares de pessoas não podem passar o Natal com a sua família por inúmeras razões — e uma das principais é o trabalho. Tu que irás estar longe da tua família no Natal, não te preocupes, acontece a todos.
TEXTO: A entrada do mês de Dezembro significa duas coisas: Natal e a mítica festa de passagem de ano, que consigo traz consumos excessivos, mas também recordações pesadas. Por norma, estas festas são celebradas com a nossa família. Mas e se não conseguirmos essa proeza? Continuam a ser momentos de celebração?À medida que vamos crescendo, vamos perdendo aquele encanto para com o Natal. Vamos criando a nossa ideia de felicidade, que pode ou não ser a mesma que há uns anos. Acontece a todos. Muitos têm a possibilidade de passar o Natal com os seus entes queridos, mas e os outros? Os que não podem?Todos os anos, milhares de pessoas não podem passar o Natal com a sua família por inúmeras razões — e uma das principais é, sem dúvida, o trabalho. Inúmeras pessoas têm de trabalhar nestes dias porque procuram lutar por um futuro melhor, dar um grande contributo à sociedade, mas também a todos os que fazem parte da sua vida. Custa perceber que aqueles que nós mais amamos estão longe e não podem estar ao nosso lado neste momento de celebração. E não é pouco. Mesmo que não liguem ao Natal, a verdade é que esta festividade traz ao cimo uma felicidade que só o conforto do nosso lar e dos nossos mais próximos podem trazer. E só percebemos isso a partir do momento em que somos obrigados a passar o primeiro Natal longe da família. Compreendemos a essência do Natal quando não a vivemos pela primeira vez. Mas isto não seria Natal sem felicidade. E é por isso que, mesmo longe, a presença dos nossos familiares é constante. Mesmo sabendo que não iremos marcar presença na consoada, não iremos assistir ao trinchar da posta de bacalhau nem à “roupa velha” do dia seguinte, eles sabem que a nossa ausência será para o nosso bem. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A nossa presença será sentida, sim, mas não somos esquecidos. O amor de um familiar é das coisas mais puras que existe. E isso permite-nos sorrir mesmo estando tristes nesta época de júbilo. Eles compreendem a nossa situação e, por isso, sorriem, mesmo não vendo quem queriam. A simplicidade do afecto é sem dúvida, para mim, o porquê de estas festas serem festas. Tu que irás estar longe da tua família no Natal, não te preocupes, acontece a todos. Não será por isso que irás ser uma "ovelha negra". A tua ausência é por algo maior que tu. Mas ainda assim, de certa maneira, estarás sempre presente. E quando, finalmente, estiveres por perto, irás ter as cuecas, as meias e aquele doce de Natal já seco à tua espera. E isso, a meu ver, não é mau.
REFERÊNCIAS:
Identificada e corrigida anomalia no cérebro de ratinhos com distrofia miotónica
Descoberta de disfunção em células da glia, células nervosas que não são neurónios, pode ajudar a controlar os sintomas neurológicos de outras doenças. Cientista português participou no estudo publicado na revista Cell Reports. (...)

Identificada e corrigida anomalia no cérebro de ratinhos com distrofia miotónica
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-07-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Descoberta de disfunção em células da glia, células nervosas que não são neurónios, pode ajudar a controlar os sintomas neurológicos de outras doenças. Cientista português participou no estudo publicado na revista Cell Reports.
TEXTO: Um investigador português faz parte da equipa que identificou, pela primeira vez, anomalias em células de glia (células nervosas que não são neurónios) que estão associadas à distrofia miotónica, uma doença hereditária sem cura. Mais do que apenas detectar o problema, os cientistas corrigiram-no. Ainda falta fazer alguns testes mas a solução encontrada para controlar alguns dos sintomas desta doença pode ser útil para outras doenças neurodegenerativas que partilham mecanismos semelhantes. É também, dizem os investigadores, uma resposta mais imediata e temporária para um problema de saúde que, mais tarde, poderá vir a conhecer uma cura através de terapia genética. Vamos entrar no complexo mundo do nosso cérebro. Assim, primeiro, imagine que os neurónios no nosso cérebro são carros que comunicam entre si que, à sua volta, contam com o apoio de células nervosas chamadas “células da glia” que sustentam o tecido, asseguram a limpeza das estradas e todo o ambiente para garantir uma comunicação eficiente e correcta entre os veículos. As células da glia começaram por ser encaradas como “a cola do cérebro” (como o nome denuncia), mas hoje já se sabe que são mais importantes do que isso e desempenham várias funções decisivas no cérebro. Já se sabia que nos casos de distrofia miotónica (uma doença causada pela mutação de um gene já identificado e com uma prevalência mundial, incluindo Portugal, de 12, 5 pessoas por cada 100 mil habitantes) se observavam anomalias neuronais, ou seja, avarias nos carros que viajam e comunicam uns com os outros dentro do nosso cérebro. Agora, os investigadores associaram, pela primeira vez, esta doença a disfunções nas células da glia (mais precisamente, nos astrócitos, células nervosas de grandes dimensões em forma de estrela) que “apoiam” os neurónios. “Estas anomalias nos astrócitos perturbam os níveis de neurotransmissores no cérebro, afectando a fisiologia neuronal e explicando a aparição de certos sintomas”, explica Mário Gomes Pereira, investigador português no Instituto Imagine da Universidade Paris Descartes, em Paris (França), e um dos autores do artigo publicado esta terça-feira na revista científica Cell Reports. Um dos sintomas desta doença – que, como o próprio nome indica, afecta os músculos do corpo, com manifestações mais visíveis na face – é uma perda de equilíbrio e problemas na função motora. Os investigadores usaram nas experiências uns ratinhos “especiais”, animais transgénicos com distrofia miotónica de tipo 1 que foram criados por Geneviève Gourdon, directora do departamento que integra o laboratório onde trabalha Mário Gomes Pereira e uma das pioneiras na investigação desta doença. O cientista português herdou há cerca de dez anos esta linha de pesquisa dedicada aos aspectos neurológicos da distrofia miotónica. Mário Gomes Pereira tem 42 anos e licenciou-se em Bioquímica na Universidade do Porto e esteve em Glasgow (Escócia) durante seis anos a investigar os aspectos genéticos da doença. Em 2004 ganha uma bolsa Marie Curie e começa o seu trabalho no Instituto Imagine, em França, onde, em 2007, conquistou a posição de investigador e explora os conhecimentos de especialista em biologia molecular, neurociências e genética. “O ponto de partida desta história foi quando detectámos uma anomalia nos astrócitos de Bergmann no cerebelo de ratinhos com distrofia miotónica e que, mais tarde, confirmámos que existia em quase todos os astrócitos e noutras regiões do cérebro”, conta o cientista. Nas experiências realizadas com os ratinhos perceberam que esta anomalia se manifestava num problema de equilíbrio e coordenação motora fina dos animais que, quando colocados nas experiências em que tinham de “saltar” pequenos obstáculos colocados no seu caminho, mostravam muito mais dificuldades do que os outros ratinhos saudáveis, deixando derrapar as patas durante o exercício. O problema foi confirmado em termos electrofisiológicos. Ao contrário do que seria de esperar, as anomalias não estavam nos neurónios do cerebelo mas nos astrócitos e, mais precisamente, na produção de uma proteína, a GLT1. No caso dos ratinhos transgénicos com distrofia miotónica observou-se que os astrócitos não produziam quantidades “normais” desta proteína que é um transportador de glutamato (este é um neurotransmissor) e, por isso, funciona como um sistema de “limpeza” para eliminar o excesso de glutamato que se acumula no cérebro e assegurar que não atinge níveis tóxicos. O que se verificou nos ratinhos mas também nos humanos (através de análises post-mortem a doentes com distrofia miotónica) é que não tinham as quantidades necessárias desta proteína e, por isso, o “sistema de limpeza” falhava e os níveis de glutamato tornavam-se tóxicos. Ou seja, foi detectada uma anomalia nos astrócitos e percebeu-se que era provocada pela subactividade da GLT1 que deixava acumular o glutamato. Esta descoberta só por isso já seria importante porque, pela primeira vez, era associada uma anomalia nos “ajudantes” dos neurónios à distrofia miotónica que, até ao momento, apenas estava relacionada com disfunções nos neurónios. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas a equipa de Mário Gomes Pereira foi mais longe e tentou corrigir a anomalia detectada. Para isso os cientistas foram procurar fármacos (já aprovados) que se sabia actuarem nesta proteína, ainda que para outras indicações clínicas. E encontraram alguns antibióticos no mercado (da classe dos betalactâmicos) que se revelaram eficazes e que conseguiam repor os níveis “normais” da proteína GTL1, resolvendo os problemas de equilíbrio dos ratinhos. E resolve os outros sintomas da doença? A rigidez nos músculos faciais, no pescoço e outros? “Não sabemos ainda”, responde Mário Gomes Pereira, admitindo que nos próximos passos desta investigação vão ajudar a perceber essa questão. Por outro lado, e apesar de se tratar de uma boa notícia, esta é uma solução limitada também porque exige sempre um tratamento continuado. Não é uma cura para a distrofia miotónica. “Há laboratórios, incluindo o nosso, que estão a desenvolver terapias genéticas que vão anular o efeito nocivo da mutação que está associada a esta doença. Essa seria a cura ideal para a doença e já há resultados positivos em ratinhos e em culturas celulares. Mas a transição destas respostas para o homem é um processo lento, com limitações técnicas importantes. E, portanto, a nossa estratégia foi: enquanto esperamos por uma terapia genética que vai chegar um dia, vamos descobrir outras maneiras alternativas para gerir e controlar, pelo menos, a evolução da doença”, diz o cientista. Por fim, Mário Gomes Pereira acredita que este trabalho poderá ter implicações noutras neuropatologias, que partilham mecanismos semelhantes com a distrofia miotónica, como a doença de Huntington, ou outras doenças mediadas pela acumulação de ARN tóxico, como a distrofia miotónica de tipo 2, síndrome de tremor e ataxia associado ao X frágil e, ainda, casos de demência fronto-temporal em esclerose lateral amiotrófica. Perceber se os doentes com estas patologias também têm anomalias nos astrócitos e na produção da proteína GLT1, é outro dos futuros passos desta investigação que tenta “corrigir” uma avaria num importante mecanismo que garante a normalidade no trânsito que flui nas estradas do nosso cérebro.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave humanos homem doença corpo