As dietas cetogénicas são mesmo úteis no tratamento do cancro?
A opção de iniciar uma dieta cetogénica numa pessoa com cancro está longe de ser descabida e de ser uma moda sem sentido. (...)

As dietas cetogénicas são mesmo úteis no tratamento do cancro?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.3
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: A opção de iniciar uma dieta cetogénica numa pessoa com cancro está longe de ser descabida e de ser uma moda sem sentido.
TEXTO: Uma pessoa a quem foi diagnosticado um cancro vê a sua vida desabar de um momento para o outro e fica capaz de experimentar qualquer alternativa que lhe permita ter maior qualidade de vida ou probabilidade de sobrevivência. Por isso, as fake news e opiniões fundamentalistas sobre alimentação que dominam as redes sociais hoje em dia deveriam ter pelo menos uma réstia de consciência e decência, que é a de não brincar com coisas demasiado sérias, como o papel da alimentação no tratamento do cancro. Do ponto de vista da prevenção, existe um relativo consenso quanto às orientações nutricionais e alimentares a ter nestes casos (manutenção de peso e gordura visceral adequados, presença diária de alimentos como frutos vermelhos, brócolos, couve-flor, frutos gordos, sementes, leguminosas, cereais integrais e restrição de bebidas alcoólicas, fritos, enchidos, carnes processadas e partes carbonizadas de alimentos grelhados/torrados para além do tabaco). Neste artigo, vamos falar sobre a alimentação após o diagnóstico de cancro e o seu efeito no sucesso do tratamento. Uma das terapias alimentares propostas nestes casos são as dietas cetogénicas. Tratam-se de dietas com uma quantidade muito reduzida de hidratos de carbono que poderiam ser úteis, partindo da premissa de que as células tumorais utilizam principalmente glicose como fonte energia dado a falta de mitocôndrias funcionais e algumas enzimas necessárias para a oxidação de gordura. Com uma dieta cetogénica, conseguir-se-ia então limitar esta disponibilidade de glicose para as células tumorais, ficando os tecidos saudáveis a sobreviver à custa de corpos cetónicos (“combustível” alternativo produzido no fígado quando a quantidade de hidratos de carbono da alimentação é muito reduzida). Esta teoria faz sentido na prática?Começando pelo mais importante, a evidência disponível em humanos sobre o sucesso desta dieta no tratamento do cancro em humanos não é conclusiva nem permite dizer aos sete ventos a obscenidade de que é um tratamento com garantia do que quer que seja, alimentando com isso falsas esperanças. A partir deste ponto prévio, há várias considerações e ensinamentos que se podem tirar de alguns estudos de caso e trabalhos em animais, que podem, no limite, apelidar de “promissora” esta abordagem. Em modelos animais, a evidência disponível revela que a dieta cetogénica e também a restrição calórica (mais até do que o jejum intermitente) podem reduzir a incidência e crescimento tumoral e também o número de metástases. O máximo que se pode afirmar em humanos é que em alguns tipos de cancro, particularmente os cerebrais (até porque estes são aqueles mais dependentes de glicose como fonte de energia e onde a teoria atrás descrita mais se encaixa), uma dieta cetogénica pode potenciar o resultado dos tratamentos de rádio e quimioterapia. É por isso importante realçar que o potencial efeito positivo das dietas cetogénicas na diminuição da progressão e crescimento tumoral não quer dizer de forma alguma que o tratamento deva ser abandonado! O racional para a utilização das dietas cetogénicas em pacientes com cancro é mesmo o de aumentar o stress oxidativo nas células cancerígenas, tornando-as mais vulneráveis a terapias oxidativas, como a rádio e quimioterapia. Por isso, os sobreviventes a um cancro que adoptaram um regime alimentar “alternativo”, mas também fizeram os tratamentos convencionais de químio e radioterapia, fariam um excelente serviço público se não viessem atribuir o seu sucesso única e exclusivamente à alimentação. É que, por cada caso de sucesso destes, existem muitos outros que também sobreviveram sem mudanças tão drásticas na alimentação. Vai uma diferença abissal entre dizer que a dieta cetogénica pode ser uma abordagem nutricional promissora no tratamento do cancro ou dizer no típico tom “facebookiano” que a dieta cetogénica é uma “cura natural para o cancro melhor do que os tratamentos convencionais” e que esta é uma verdade inconveniente que está a ser escondida há muitos anos pelos “grandes interesses”. A restrição calórica também parece ter alguns resultados promissores no que diz respeito à redução de algumas vias que podem potenciar o crescimento tumoral, bem como a inflamação. Ainda assim, tendo em conta o elevado risco de caquexia (perda de massa muscular e massa gorda) de alguns pacientes com cancro, este tipo de abordagem pode piorar o seu estado nutricional, daí que outra hipótese para mimetizar os efeitos desta restrição calórica sem impacto no peso corporal será consumir uma quantidade de calorias adequada, mas englobando alguns períodos de jejum. De realçar que dieta cetogénica, restrição calórica e jejum são tudo entidades diferentes, embora se possam interligar. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. É possível estar em cetose sem estar em restrição calórica e sem grandes períodos de jejum, como é possível fazer jejum sem cetose e sem restrição calórica. De igual modo, uma restrição calórica não tem de ser cetogénica nem com períodos de jejum. Uma vez que quer a dieta cetogénica quer o jejum intermitente possuem vários protocolos possíveis e os poucos estudos disponíveis sobre o assunto utilizaram diferentes abordagens, é sem dúvida necessária mais investigação para se poder definir qual o protocolo que poderá originar resultados mais efectivos. A conclusão a retirar de toda esta informação é que a opção de iniciar uma dieta cetogénica numa pessoa com cancro está longe de ser descabida e de ser uma moda sem sentido. É uma abordagem que tem de ser ponderada tendo em conta o estado nutricional e também psicológico do indivíduo, uma vez que é uma dieta que provoca um forte abalo na alimentação “social” e na nossa tradição de comer, sobretudo para uma pessoa que pode sentir que cada refeição que faz pode ser das últimas (basta imaginar o que é deixar de comer diariamente fruta, pão, arroz, batata, leguminosas e até leite e iogurtes). Para além disso, alguns efeitos secundários das dietas cetogénicas são a ocorrência de náuseas e alguma falta de apetite, o que até pode ser desejável se o objectivo for emagrecer, mas não tanto em pacientes com cancro, uma vez que os próprios tratamentos já podem induzir esses sintomas. Ainda assim, se depois de pesados, os prós lhe parecerem melhores do que os contras e se as expectativas estiverem controladas, então que avance para uma dieta cetogénica com uma ligeira restrição calórica ou nessa impossibilidade, alguns períodos de jejum. O controlo da mesma por um nutricionista é fundamental para que consiga fazer a suplementação nutricional necessária nestes casos e consiga ter igualmente um consumo proteico suficiente para evitar o catabolismo muscular, mas não demasiado elevado para não correr o risco de interromper a cetose.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave humanos social consumo alimentos
Estudo do governo britânico antevê prejuízos para a economia em todos os cenários pós-“Brexit”
Planos de Theresa May para a saída da UE poderão ter impacto negativo até 3,9% do PIB nos próximos 15 anos. Banco de Inglaterra prevê prejuízos superiores aos da última crise financeira. (...)

Estudo do governo britânico antevê prejuízos para a economia em todos os cenários pós-“Brexit”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Planos de Theresa May para a saída da UE poderão ter impacto negativo até 3,9% do PIB nos próximos 15 anos. Banco de Inglaterra prevê prejuízos superiores aos da última crise financeira.
TEXTO: A economia britânica sairá prejudicada ao longo dos próximos 15 anos com a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), revela um estudo publicado esta quarta-feira pelo governo de Theresa May, que avalia o impacto dos vários cenários do “Brexit” no desempenho económico do país. Tomando em consideração as bases do acordo que a primeira-ministra quer aprovar no Parlamento no dia 11 de Dezembro, o divórcio com a UE terá um impacto negativo até 3, 9% do PIB em 2035-2036. Um outro estudo, do Banco de Inglaterra, refere ainda que uma saída “desordeira” implicará prejuízos superiores aos da última crise financeira mundial. O cenário que reporta aos planos do governo para o “Brexit” não se baseia, no entanto, no acordo alcançado no passado domingo com Bruxelas, mas no documento apresentado por May, em Julho, que ficou conhecido por “plano Chequers”. Essa proposta – que motivou as demissões de David Davis e Boris Johnson e a fúria da ala “brexiteer” do Partido Conservador – é, ainda assim, a base do documento ratificado pelos 27 Estados-membros da UE. Implementando os princípios do “plano Chequers”, o impacto do “Brexit” no PIB poderia ser reduzido a 2, 1% ao invés de 3, 9%, mas isto só seria possível num cenário de manutenção da actual legislação em matéria migratória. Uma vez que a líder do executivo britânico assume com determinação que vai acabar com a livre circulação de pessoas entre o Reino Unido e a UE, dificilmente se pode apontar para a percentagem inferior. Analistas citados pela BBC estimam que 3, 9% do PIB equivalerá a cerca de 100 mil milhões de libras (cerca de 113 mil milhões de euros) por ano. A duas semanas de levar o acordo à Câmara dos Comuns para a votação decisiva para o futuro do divórcio, e com conservadores, trabalhistas, nacionalistas-escoceses, unionistas norte-irlandeses, liberais-democratas e verdes a admitirem que vão chumbá-lo, o governo britânico procura alertar os deputados para os riscos de um “Brexit” sem acordo. Considerando esse cenário, o estudo aponta para perdas entre os 7, 7% e os 9, 3% do PIB. Números pouco animadores que, agravados pelas conclusões do relatório do Banco de Inglaterra, colocam o Reino Unido em sérios riscos de voltar a registar prejuízos económicos similares ou superiores aos da mais recente crise financeira. Divulgado pouco depois do estudo do governo, o relatório daquela entidade prevê uma contracção da economia britânica até 8% e o aumento do desemprego até 7, 5% logo no primeiro ano após o final do período de transição – que termina em Dezembro de 2020, mas pode ser extensível até ao final de 2022 –, se o país se lançar num “Brexit” “desordeiro”. Segundo o Banco de Inglaterra, entre as ocorrências que podem empurrar o Reino Unido para essa saída desordeira destacam-se: o alinhamento com as regras da Organização Mundial de Comércio; a não-implementação de acordos de livre comércio até 2022; o fim da aplicabilidade dos acordos comerciais entre UE e países terceiros ao país; ou as perturbações nas fronteiras resultantes da reposição de controlos alfandegários. É com estes números mais significativos que o governo britânico espera convencer os membros da câmara baixa de Westminster a apoiarem o acordo de May. Mas a estratégia sofreu um abalo esta manhã, ainda antes da divulgação dos dois estudos e de mais uma presença da primeira-ministra no Parlamento para responder às perguntas dos deputados. Em entrevista à BBC, o ministro das Finanças Philip Hammond confessou que a economia do Reino Unido vai sempre sair prejudicada com o “Brexit”, quando em comparação com a manutenção do país no clube europeu. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “De um ponto de vista puramente económico, sim, abandonar a União Europeia terá um custo, porque trará consigo obstáculos ao nosso comércio”, assumiu o chancellor à BBC, indo ainda mais longe: “A economia desacelerará ligeiramente com a estratégia da primeira-ministra para a relação futura [entre os dois blocos no pós-‘Brexit’]. Confrontada pelos deputados sobre as declarações de Hammond, May manteve a postura. “O nosso acordo é o melhor para o emprego e para a economia. Vai permitir-nos honrar o resultado do referendo e concretizar as oportunidades do ‘Brexit’”, disse a primeira-ministra, que esta quarta-feira deslocou-se à Escócia para se encontrar com líderes políticos, empresários, agricultores, pescadores e estudantes, para continuar a promover o seu acordo.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
A Via Crucis do “Brexit” está só a começar
O “Brexit” imaginário que foi vendido aos britânicos não era só, como se gabava Boris Johnson, o Reino Unido querer ao mesmo tempo ter um bolo e comê-lo. (...)

A Via Crucis do “Brexit” está só a começar
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: O “Brexit” imaginário que foi vendido aos britânicos não era só, como se gabava Boris Johnson, o Reino Unido querer ao mesmo tempo ter um bolo e comê-lo.
TEXTO: A certa altura nas negociações para a declaração política do “Brexit” houve um comentador britânico que notou a vitória do Governo espanhol na questão de Gibraltar e se admirou pelo facto de o Governo grego ainda não ter tentado pedir de volta os mármores do Parténon que estão no Museu Britânico. A palavra-chave, aqui, é “ainda”. Neste momento, a aprovação do acordo de saída necessita, além do voto positivo do Parlamento Europeu e do Parlamento britânico, apenas de uma maioria qualificada entre os Estados-membros da União Europeia. Nesse sentido, o “veto” espanhol não era exatamente um veto — a Espanha não podia bloquear sozinha o acordo de saída do Reino Unido — e por isso se tornou ainda mais notável como vitória política. Espanha ganhou apenas o espaço necessário para que a questão de Gibraltar se torne, nos próximos anos, aquilo que a questão da Irlanda do Norte foi nos últimos: uma matéria para uma inevitável cedência britânica, caso o Governo de Londres queira um acordo. E Londres precisa de um acordo, ou melhor, de vários. Precisa deste acordo de agora, para a saída. E precisa de um próximo acordo que enquadre as relações futuras entre a UE e o Reino Unido. Nesse próximo acordo, aí sim, cada Estado-membro terá direito a veto. E é inevitável que os gregos voltem a pedir os mármores do Parténon e que os britânicos tenham de lhes dispensar a atenção que nunca lhes dignaram dar. E é inevitável que a Espanha queira reabrir o dossier de Gibraltar, tendo obtido este fim-de-semana o direito de o fazer em dois tabuleiros: no tabuleiro europeu, se necessário vetando o acordo das relações futuras como qualquer outro Estado-membro; e no tabuleiro bilateral, para onde a UE remeteu especificamente todas as questões relativas a Gibraltar, e que será tratado à parte do acordo geral para se resolver a contento de Espanha. Até Portugal terá também as suas exigências a fazer, nomeadamente no setor das pescas, onde há uma triangulação complicada: nós temos acesso às águas norueguesas porque os noruegueses têm acesso às águas da UE, incluindo as britânicas. Para que a situação se mantenha, vai haver certamente uma negociação árdua na qual a peça decisiva será esta: os britânicos vendem para o resto da União Europeia 80% do peixe que pescam nas suas águas; para continuarem a ter acesso ao mercado único, alguma coisa terão de dar em troca. E assim sucessivamente, em setor após setor da economia. Daqui a muitos muitos anos já poderá o “Brexit” ter caído no esquecimento público e lá continuarão os negociadores de ambas as partes a queimar as pestanas em cima de dossiers de milhares de páginas. O “Brexit” imaginário que foi vendido aos britânicos não era só, como se gabava Boris Johnson, o Reino Unido querer ao mesmo tempo ter um bolo e comê-lo. É querer também retirar os ovos que foram usados na confeção do bolo e recompô-los com casca e tudo, sem desfazer o bolo que se quer comer e continuar a ter. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Na raiz deste raciocínio impossível está, já o vimos, uma noção de soberania não faz qualquer sentido no século XXI, se é que alguma vez o fez. A soberania, hoje como antes, depende da relação que temos com a soberania dos outros, e o Reino Unido encontra-se agora perante 27 outros países que agregam as suas reivindicações — a Irlanda do Norte, Gibraltar, pescas e infindas outras coisas — em negociações conjuntas, nas quais sabem que do outro lado da mesa está um Reino Unido que tem uma escolha a fazer: com acordo, perde “apenas” 2% do seu PIB; sem acordo, perde 8% — e não como punição ao Reino Unido, mas como simples decorrência do que o Reino Unido fez a si mesmo, ou melhor: porque os políticos do Reino Unido fizeram isto ao seu povo em nome das suas carreiras políticas pessoais. Que isto não tem de ser sempre assim prova um voto de ontem que passou despercebido no mundo: na Suíça — país que está habituado a referendos e os sabe fazer regularmente e com toda a informação disponível —, 66% dos eleitores rejeitaram ontem uma emenda constitucional que invalidava o direito internacional na ordem interna suíça, deixando assim de reconhecer as decisões de juízes internacionais. Os suíços, de cuja soberania e independência ninguém duvida, e que vivem a seu contento fora da UE, sabem porém que se toda a gente decidisse rejeitar o direito internacional isso significaria também que a própria Suíça não poderia fazer valer os seus direitos em disputas com outros países quando isso for necessário. A soberania num mundo interdependente parte deste reconhecimento simples. Como o exemplo suíço demonstra, ver o “Brexit” por aquilo que ele é — uma diminuição de soberania cujas consequências ainda estão apenas agora a começar a revelar-se — não significa ser contra referendos nem instintivamente pró-UE. Significa ser-se objetivo e perceber que o Reino Unido tinha, sim, como tem ainda, alternativas fora da UE: sair com acordo ou sem ele. Só que uma alternativa era má e a outra é péssima.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Um minucioso caminho de perda
Rui Nunes regressa com um livro que volta a interrogar o seu próprio tempo e todos os tempos. Recuar ao passado, nunca longe de mais, do horror nazi, é como um refrão imprescindível. Já não o “Lembra-te de que és mortal” dos Antigos, mas “Lembra-te do horror que és e podes gerar.” (...)

Um minucioso caminho de perda
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.4
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Rui Nunes regressa com um livro que volta a interrogar o seu próprio tempo e todos os tempos. Recuar ao passado, nunca longe de mais, do horror nazi, é como um refrão imprescindível. Já não o “Lembra-te de que és mortal” dos Antigos, mas “Lembra-te do horror que és e podes gerar.”
TEXTO: Um dos primeiros momentos de Suíte e Fúria convoca uma memória duplamente significativa. A “arcaica máquina de morte” (p. 9) estabelece nexos de identificação com a anterior obra de Rui Nunes, mas também faz da retoma da temática bélica um instrumento novo para este seu mais recente livro. Heraclito surge desde as primeiras linhas de Suíte e Fúria como uma energia indispensável neste livro. O filósofo pré-socrático congrega em si potencialidades díspares. Desde logo, é uma emanação da História, isto é, de uma circunstância epocal. Esta cria distâncias, esboça rugosidades, antecipa atritos. O grego é tudo menos uma figura linear. Amante das formulações oraculares, obscuras, defendeu uma imparável propensão para a mudança, o conflito, a oposição, a harmonia dos contrários. Quase seguindo as pisadas inquisitivas do filósofo, o texto de Rui Nunes integra-o rodeado de interrogações, como se semeasse a dúvida, a inquietude, à sua volta — “Como escrevia Heraclito? onde? nas margens de que rio? nas praias de que mar? no alpendre de que casa? na sombra de que parreira? de que pinheiro? ou não escrevia? falava ao ouvido do adolescente sentado na caruma, enquanto lhe passava a mão pelo cabelo e as formigas lhe subiam pelo branco da túnica?” (p. 9) Heraclito é, portanto, uma hipótese de trabalho, uma noção em que o texto de Rui Nunes irá pegar. Memória de um tempo passado, exemplo matricial, que funciona como agente da perspectivação histórica. A reconstituição de uma época é feita por escassíssimos dados, sempre em estado fragmentário. Como tudo o que nos chegou desse mundo fascinante. De tal forma que, ao sair desses momento “contextuais”, que “apresentam” Heraclito, vêm agarradas às palavras do texto certas marcas inteligíveis que decorrem do contacto com a presença daquele filósofo — “a vida é um fragmento” (p. 11). Porque o humano é um espelho partido para as palavras — ou será o contrário, afinal? Seja como for, ambos são demasias, ambos são uma falha essencial — “Cada palavra é no seu isolamento uma verdade brutal, intensa como uma pedra num terreno lavrado” (p. 31)Autoria: Rui Nunes Relógio D’ÁguaA escrita prescinde de tentar sequer organizar o que a memória fornece sob a forma de pedaços, partes — restos. Aliás, é como se esta escrita gerasse a intenção de espelhar os processos pelos quais as recordações emergem. O que implica, naturalmente, repetições, a sobreposição de determinadas incidências, a presença de ecos, homologias — “não aguento: guincha a mulher ainda nova, e levanta-se, fica um instante apoiada no espaldar da cadeira, e depois corre para a porta, bolcheviques, bolcheviques, bolcheviques, o miúdo limpa os dedos à toalha, a mulher de preto ri: fizeste de propósito, o velho ri: fez. ” (p. 37) E, apesar de neste livro emergir algo como um núcleo mais distintamente narrativo, o que prevalece é a captura de momentos, de modulações, de instantes irreconciliáveis num todo harmónico. Em última instância, trata-se da reintegração da antiga mimese. Mas apenas neste sentido: a escrita de Rui Nunes “imita” o caos da existência, a incandescência do pensamento. Por isso recusa o adorno e a decoração. E, pela mesma ordem de ideias, denega a organização estrita das suas matérias. Mesmo quando lhes confere uma textura mais abertamente narrativa, as suas concretizações ficam sempre deliberadamente aquém de uma totalização. Daí que se fale aqui do “que se julgava ininterrupto” (p. 71) como de algo irremediavelmente caduco. É como se esta escrita descresse da totalidade, da unificação. Nisso — como em tudo o resto, aliás — esta escrita se afasta do romanesco e mesmo do romance enquanto género literário, “com a sua coesão de animal saciado” (p. 70) Porque se trata aqui sempre de “uma totalidade feita de cacos que não se colam uns aos outros” (p. 90). Uma criança rodeada de velhos, uma criança que descobre o mundo e se descobre perante ele. Além desse fundo mínimo, não ficaremos a saber muito mais. Não seria necessário. A presença de Heraclito, por seu turno, constitui um mecanismo de desarticulação. Permite ao texto interrogar a própria constituição de si. Que fazer com o peso da História, que fazer com a ideia de tempo, de personagens, de acção — com a noção, em última análise, de ficção? As palavras, perante estas circunstâncias, surgem como instrumento questionável, por entre aquilo que nunca deixa de ser um poder enorme: mesmo se limitado, falível — “Começamos a escrever o mundo e o mundo transforma-se numa frase com a harmonia provisória de uma eternidade qualquer” (p. 59) Porém, a única eternidade possível é proporcionada por elementos, necessariamente, finitos, passageiros na sua efemeridade, como sejam marcas cíclicas, que apenas reforçam o passar do tempo — “só os castanheiros no seu outono continuam eternos” (p. 62). Não se trata da rebusca de um paradoxo, mas da constatação do absurdo que mina a perscrutação da eternidade. Porque a memória da barbárie nazi nunca se afasta das preocupações — “Juntem mil corpos nus e terão a nudez, um substantivo abstracto, um conceito. E poderão decidir da morte, da vida ou do abandono. ” (p. 23) —, a escrita de Rui Nunes parece fazer-se sempre alheia ao optimismo de um projecto englobante e a grandiosas intenções construtivas. Porque a ruína espreita a cada passo da História, cabe a esta escrita, sobretudo, observar e registar (do modo mais impressivamente idiossincrático) o horror de que o ser humano se rodeia. Dizer, em suma, “um minucioso caminho de perda. ” (p. 86)
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte mulher adolescente criança género animal
PSD e CDS acusam esquerda de manter adicional sobre os combustíveis
Ao lado do PS, PCP, BE e PEV chumbaram eliminação do imposto adicional sobre os combustíveis. (...)

PSD e CDS acusam esquerda de manter adicional sobre os combustíveis
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ao lado do PS, PCP, BE e PEV chumbaram eliminação do imposto adicional sobre os combustíveis.
TEXTO: Depois de PS, PCP, BE e PEV terem chumbado a proposta da direita para eliminar o adicional do Imposto sobre Produtos Petrolíferos (ISP), PSD e CDS voltaram a trazer o assunto ao plenário, esta manhã, no período das avocações de artigos do Orçamento do Estado (OE) 2019. Na votação em plenário, o resultado manteve-se mas PSD e CDS voltaram a carregar nas críticas aos parceiros do PS. O democrata-cristão Pedro Mota Soares apontou directamente ao PCP e ao BE por manterem um imposto criado pelo Governo em 2016. “Quem falhou a sua palavra foi o Governo e PCP, BE e PEV. Quando os portugueses forem à bomba de gasolina sabem que a responsabilidade é de Catarina Martins e de Jerónimo de Sousa”, disse, lembrando que os portugueses estão a pagar “mais 33 cêntimos por litro de gasóleo” dos quais “14 cêntimos são em impostos”. Na mesma linha, o social-democrata António Leitão Amaro acusou o Governo de ter falhado a promessa de manter a neutralidade fiscal. “Estão a faltar à palavra. Hoje é o dia da farsa das esquerdas. PS, PCP e BE mentem, só que o PS mente mais depressa”, acusou. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. As bancadas da maioria de esquerda mantiveram-se em silêncio, o que levou Mota Soares a uma segunda intervenção para rematar: “Não estava à espera que ficassem a zero. ”Outro ponto avocado esta manhã foi o do IVA dos espectáculos culturais, que foi reduzido para todos para 6%, fruto da votação de propostas idênticas de PSD, CDS e PCP. André Silva, do PAN, voltou a defender que o Estado não deveria financiar a indústria tauromáquica e que “o direito de divertimento não se pode sobrepor à vida e ao sofrimento de um animal”. A mesma mensagem foi sublinhada pelo PEV e pelo BE, que ficou isolado na sua proposta de subir o IVA da tauromaquia para 23%. A bloquista Mariana Mortágua congratulou-se, no entanto, com a redução do IVA para todos os espectáculos, e o mesmo saudou o centrista João Almeida, lembrando que sempre foi essa a proposta do CDS-PP.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PAN PSD PCP BE PEV
Professores, cuidadores informais, língua gestual no SNS: as conquistas do primeiro dia de votações do OE
Todas as propostas que implicavam um aumento da contagem do tempo de serviço dos professores ou prazos para a sua concretização foram rejeitadas. (...)

Professores, cuidadores informais, língua gestual no SNS: as conquistas do primeiro dia de votações do OE
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.25
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Todas as propostas que implicavam um aumento da contagem do tempo de serviço dos professores ou prazos para a sua concretização foram rejeitadas.
TEXTO: Nas votações cruzadas do Orçamento do Estado, as propostas que aumentavam ou exigiam um faseamento da contagem do tempo de serviço dos professores para a progressão na carreira - nomeadamente do Bloco e do PCP - foram rejeitadas com os votos contra do PS e abstenção dos sociais-democratas. Acabaram por ser aprovadas apenas as propostas do PSD, CDS e PCP que remetem esta questão para negociação sindical. Nestas propostas (a do CDS e PSD foram votadas em conjunto), todos os partidos votaram a favor menos os socialistas. Foram chumbadas as propostas do PCP que implicava que a contagem total fosse feita no prazo de sete anos (até 2025), como na Madeira e que o pagamento começasse já em Janeiro de 2019, assim como as propostas do Bloco que exigiam que a recuperação se fizesse em cinco anos (até 2023) e se realizasse à razão de 20% ao ano se não se chegasse a acordo com os sindicatos. Como resultado final, a proposta do Orçamento do Estado remete a contagem do tempo de serviço dos professores e outras carreiras especiais para as negociações sindicais. Na prática, a redacção fica igual à que consta do Orçamento para este ano: "A expressão remuneratória do tempo de serviço nas carreiras, cargos ou categorias integradas em corpos especiais, em que a progressão e mudança de posição remuneratória dependam do decurso de determinado período de prestação de serviço legalmente estabelecido para o efeito, é considerada em processo negocial com vista a definir o prazo e o modo para a sua concretização, tendo em conta a sustentabilidade e compatibilização com os recursos disponíveis", tal como escrito na proposta do PSD. Além destas medidas, foi aprovada com os votos dos partidos da esquerda, o reforço de verbas para a Entidade das Contas em 1. 169. 000€, uma proposta do BE, a primeira medida dos partidos - que não do PS - a ser aprovada. Na justificação, o BE diz que esta verba é necessária para "cumprir com as obrigações decorrentes das alterações realizadas pela Lei Orgânica" do Tribunal Constitucional, e que assim "ficam garantidas as verbas para as necessidades adicionais e as exigências mínimas de funcionamento da Entidade das Contas". Mais tarde, passou também outra medida dos bloquistas que implica que as verbas retidas pelo orçamento "devem" ser reencaminhadas para a Caixa Geral de Aposentações, Instituto de Protecção e Assistência na Doença. I. P. (ADSE), SNS, Segurança Social e DGTF. Os deputados aprovaram ainda por unanimidade as propostas do Bloco e do CDS para a actualização das bolsas mensais de investigação da FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I. P. com base no valor da inflação deste ano. Em sentido inverso, o artigo 69º do Orçamento do Estado, que criava o Fundo de Financiamento da Descentralização, foi eliminado pelos partidos da oposição e pelos parceiros do Governo. Ficando em causa o instrumento de distribuição das verbas do processo, todo o programa irá atrasar-se. Também por unanimidade, o Bloco conseguiu aprovar parcialmente a sua proposta para o "reforço do número de profissionais a trabalhar no Instituto Nacional de Emergência Médica". É que a parte em que especificava os profissionais que deviam ser contratados foi chumbada (150 técnicos emergência, 30 enfermeiros, e 10 técnicos de psicologia clínica). Também na área da saúde, foi aprovado o lançamento de um concurso extraordinário para ingresso no internato médico. Em 2019 será lançado um procedimento concursal extraordinário para ingresso no Internato Médico porque este ano o Governo demorou quase meio ano para lançar o concurso que devia ter sido feito em Maio. E serão também reforçadas as vagas para atribuição de incentivos à mobilidade geográfica de médicos para zonas carenciadas. Com o Estatuto do Cuidador Informal ainda em construção, foram aprovadas algumas propostas de apoio aos cuidadores feitas pelo PCP e pelo CDS. Pelo caminho, chumbada pela esquerda, ficaram as propostas do PAN e a do PSD para a dedução em sede de IRS das despesas com a prestação de serviços no apoio domiciliário a pessoas com capacidade permanente igual ou superior a 60%. No caso das propostas dos comunistas, passou a de criação de um projecto-piloto, numa região a escolher pelo Governo, para estudar a implementação de uma rede pública de apoio dirigida aos cuidadores informais principais e às pessoas cuidadas. Esta rede tem como base os serviços públicos das áreas da saúde, trabalho e segurança social, e tem que definir o apoio domiciliário a prestar, assim como o aconselhamento, acompanhamento e capacitação dos cuidadores informais, apoio psicossocial aos cuidadores informais e uma rede de apoio aos cuidadores informais. E passou parte da proposta do CDS: foi rejeitada a concessão de 15 dias de descanso aos cuidadores informais integralmente pagos pelo Estado, mas foi aprovada a possibilidade de pedir apoio profissional específico à Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados ou à Rede Nacional de Cuidados Paliativos cujos profissionais se deslocarão ao domicílio ou então o doente poderá ser acolhido nesse período numa unidade dessas redes. Entre outras propostas que foram aprovadas está também a do Bloco para a abertura de procedimentos concursais para a formação e admissão de inspectores da Polícia Judiciária até ao final de Junho. Mas as propostas relativas à Polícia Judiciária do PSD (reforço dos inspectores e do pessoal de apoio à investigação criminal) e do CDS (revisão das leis estatutárias e orgânicas da PJ, oficiais de justiça e SEF), que primeiro tinham sido aprovadas com a ajuda do Bloco e do PCP (contra a vontade do PS), acabaram por sofrer um revés. Já no final das votações, os dois partidos de esquerda resolveram voltar atrás e corrigiram as votações para seguirem os socialistas, acabando por fazer chumbar as propostas da direita. Foi aprovada a proposta do PCP (com abstenção do PSD e CDS) para a abertura de concursos para a contratação de oficiais de justiça "que se revelem indispensáveis ao funcionamento dos tribunais", mas sem especificar a quantidade. Os comunistas conseguiram também aprovar a sua proposta para o reforço das verbas para a Transtejo e a Soflusa em 5, 25 milhões de euros. Os 3, 78 milhões para a primeira e os 1, 47 milhões para a segunda destinam-se à manutenção das frotas de navios e embarcações auxiliares. A esquerda votou toda a favor e PSD e CDS abstiveram-se. O PAN conseguiu a aprovação por unanimidade da sua proposta para a contratação, no próximo ano, de "até 25 intérpretes de língua gestual portuguesa para o Serviço Nacional de Saúde, priorizando a resposta a episódios de urgência no contexto dos Serviços de Urgência Médico-Cirúrgica". As propostas do PCP e do Bloco para que o Governo central financie 50% do futuro Hospital Central da Madeira (cujo valor de construção, fiscalização da empreitada e aquisição de equipamento médico e hospitalar estrutural está avaliado em 266 milhões de euros) foram aprovadas. Assim, no próximo ano, deverão ser transferidas para a Região Autónoma da Madeira até 14 milhões de euros. Pode não ter sido motivado pelas polémicas com o pagamento das viagens de avião dos deputados dos Açores e da Madeira, mas a questão dos subsídios aos residentes insulares chegou ao orçamento de 2019: a esquerda aprovou a proposta do Bloco para que o Governo agilize aquele mecanismo e estipule um valor fixo a suportar pelos residentes (em vez de haver um tecto máximo mas com um valor flutuante) em função da distância e tempo das respectivas viagens. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Noutro orçamento houve uma picardia entre o PEV e o PAN por causa de um euro, desta vez foi por 500 mil. O PEV propôs uma verba de 500 mil euros para financiar a esterilização nos centros de recolha oficial de animais e o PAN pedia um milhão. Como o Governo acedia a gastar apenas meio milhão (como previa o PEV), o deputado André Silva fez uma correcção da sua proposta e reduziu o valor para 500 mil euros. Na votação, a deputada Heloísa Apolónia acusou o PAN de plágio e queria que a proposta de André Silva ficasse prejudicada (ou seja, não seria votada), mas a presidente da COFMA, a social-democrata Teresa Leal Coelho resolveu juntar as duas propostas para votação conjunta e disse no final que o texto ficará com a redacção do PEV. A somar a estes 500 mil euros para a esterilização, os centros de recolha de animais irão receber 1, 5 milhões de euros para aumento da rede e da capacidade dos centros já existentes. O investimento na rede de centros prende-se com a necessidade de aumentar a sua capacidade para acolher animais errantes na sequência da proibição do seu abate.
REFERÊNCIAS:
Orçamento municipal do Seixal chumbado pela primeira vez em 44 anos
O PCP foi o único partido a votar a favor deste documento. (...)

Orçamento municipal do Seixal chumbado pela primeira vez em 44 anos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.12
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: O PCP foi o único partido a votar a favor deste documento.
TEXTO: O orçamento para 2019 da Câmara do Seixal, distrito de Setúbal, foi reprovado em assembleia municipal pela primeira vez em 44 anos de liderança comunista, avançou nesta sexta-feira um deputado do Partido Socialista à agência Lusa. Samuel Cruz revelou que o Orçamento e Grandes Opções do Plano foi reprovado na quinta-feira, com os votos contra do PS, PSD, PAN, CDS-PP e do presidente da Junta de Freguesia de Fernão Ferro, Carlos Reis, que é independente. O PCP foi o único partido a votar a favor deste documento. O Bloco de Esquerda absteve-se. A Assembleia Municipal do Seixal é constituída por 13 deputados comunistas, 11 socialistas, quatro social-democratas, três bloquistas, um eleito pelo PAN, um pelo CDS-PP e quatro presidentes das juntas de freguesia do concelho. "O presidente da câmara não procurou suficientemente os consensos necessários. De facto, a CDU teve durante 44 anos a maioria absoluta, mas agora isso passou e a forma de actuar tem que ser alterada, o que ainda não foi percepcionado pelo PCP", afirmou. Samuel Cruz criticou também o executivo comunista, liderado por Joaquim Santos, por "não mostrar qualquer abertura às propostas da oposição". "Nas reuniões que foram convocadas para ouvir as sugestões, o orçamento já estava fechado. As propostas não constam no orçamento e nem sequer as moções que têm sido aprovadas na Assembleia Municipal ao longo do ano", referiu o socialista. A 25 de Outubro, o município do Seixal aprovou, em reunião de câmara, um orçamento de 89 milhões de euros para o próximo ano, o que incluía um grande investimento na educação, com ampliação e requalificação de duas escolas, a renovação das redes de abastecimento de água e a construção de várias infra-estruturas, como uma piscina municipal e um canil e gatil. Na visão dos socialistas, este orçamento não compreende "medidas de transparência" necessárias, como a transmissão online das sessões de câmara e da assembleia ou a abertura do Boletim Municipal, que "deturpa absolutamente tudo o que se passa nas assembleias". Além disso, segundo Samuel Cruz, o documento não inclui uma das propostas do PS, relacionada com o fim do turno duplo nas escolas do primeiro ciclo. "É um dos cinco concelhos do país que ainda tem turno duplo, ou seja, as crianças da escola primária ou vão à escola de manhã ou à tarde, o que contraria todas as recomendações acerca deste assunto", defendeu. O orçamento inclui a requalificação de duas escolas, contudo, segundo o deputado socialista, é preciso o "alargamento da rede pré-escolar" e a melhoria das condições nas escolas já existentes, que "estão actualmente muito precárias". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Samuel Cruz referiu ainda que é necessário "melhorar a higiene urbana e infra-estruturas", principalmente quanto ao abastecimento de água e rede de saneamento. "Ainda existem várias zonas no concelho sem ligação à rede de saneamento básico, o que entendemos que não é aceitável em pleno século XXI", sublinhou. A agência Lusa contactou a Câmara Municipal do Seixal, mas até ao momento não foi possível obter declarações.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PAN PSD PCP
Homem versus natureza: quem vencerá a batalha?
Somos mesmo a geração que pode fazer a diferença? Sim, somos! Queremos mesmo fazer a diferença? Não temos alternativa! Temos até 2030 para mostrar o que valemos. Tratemos do problema, antes que ele trate de nós. (...)

Homem versus natureza: quem vencerá a batalha?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.8
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Somos mesmo a geração que pode fazer a diferença? Sim, somos! Queremos mesmo fazer a diferença? Não temos alternativa! Temos até 2030 para mostrar o que valemos. Tratemos do problema, antes que ele trate de nós.
TEXTO: “Nunca vi nada assim!” “Foi impossível controlar. ” “Ninguém sabia o que fazer. ” “Foi horrível!” Já todos vimos e ouvimos relatos destes associados aos fogos mortíferos, às tempestades, às inundações ou às ondas de calor que têm assolado o mundo inteiro nos últimos anos. Realmente nunca ninguém observou ou experienciou nada igual. Somos a primeira geração a testemunhar e a sentir na pele os impactos das alterações climáticas e somos, eventualmente a última, a poder implementar medidas sérias e concertadas que garantam a sobrevivência do ser humano no planeta. Convenhamos que ao longo da história sempre existiram eventos climáticos extremos devido a causas naturais, mas a frequência e severidade de alguns destes eventos têm vindo a aumentar. Dói, mas tem de ser dito: por culpa do homem. As acções humanas como as emissões de gases com efeito de estufa provenientes da combustão de combustíveis fósseis como o carvão, petróleo ou gás para a produção de energia, a desflorestação, a alteração no uso do solo pelas culturas intensivas e o aumento exponencial da produção pecuária são as principais responsáveis pela mudança da composição da atmosfera e, consequentemente, pelas alterações climáticas. Como o CO2 persiste na atmosfera por mais de um século, as emissões que emitirmos hoje e continuarmos a emitir amanhã e depois vão afectar o clima das próximas décadas. A adaptação a um planeta mais quente e a um futuro diferente do presente é inevitável e vai ser necessária em todo o mundo. As alterações não são só climáticas, também as sociedades e as economias terão que aprender a viver num novo planeta. As águas mais quentes e a acidificação dos oceanos vão impactar positiva ou negativamente a disponibilidade de peixe e marisco que são o ganha-pão das comunidades piscatórias. As comunidades litorais, especialmente as das ilhas, terão de enfrentar inundações de ruas durante marés (muito) altas, tempestades exacerbadas seguidas de novas inundações e a “invasão” da água do mar sobre as fontes de água doce, o que vai comprometer a disponibilidade de água potável. Algumas comunidades terão que se adaptar, em simultâneo, à frequência de secas e chuvas severas e à consequente deterioração das infra-estruturas que transportam a água. Agricultores e outros trabalhadores de ar livre serão afectados pelo número crescente de noites quentes e por ondas de calor cada vez mais frequentes e mais quentes. O oráculo para os animais é muito semelhante. A localização geográfica e distribuição de algumas pragas e agentes patogénicos podem ser alteradas, expondo os animais, as culturas e o ser humano a novas doenças. As infra-estruturas que suportam a actividade económica – barragens, aeroportos, auto-estradas, pontes, edifícios e muitos outros — vão ser afectadas pelas inundações, deslizamentos de terras e ondas de calor. As alterações das estações do ano e as mudanças na localização de plantas e animais afectarão as comunidades que dependem do turismo de natureza e cultural. Devido às migrações em massa, a aparência física do homem pode ser alterada: a tez castanha ou morena e olhos claros poderão tornar-se mais comum. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os cenários não são animadores. No entanto, o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) acredita que os próximos 12 anos serão suficientes, mas cruciais, para vencermos esta batalha. O que está em jogo é a continuidade da espécie Homo sapiens. A natureza já cá está há mais de quatro mil milhões de anos e não precisa do homem para sobreviver. Se o contrário não pode ser dito, a forma mais directa para diminuir a magnitude das alterações climáticas futuras é a redução das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) a uma escala global que seja técnica, económica, social e politicamente viável. Intervir para diminuir as emissões de CO2 a grande escala é o caminho. Esta resposta só depende do homem. Não chega pensar que é um tema importante. É urgente agir. Os impactos das alterações climáticas do futuro dependem das escolhas que fizermos hoje e ao longo das próximas décadas. Quanto mais cedo tomarmos decisões para reduzir emissões de GEE, mais cedo limitamos os eventos climáticos extremos. Enquanto geração temos o dever de proteger as pessoas, a saúde pública, o ambiente e a economia. As acções individuais são fundamentais mas é na política que se tomam as maiores decisões. Sejamos, portanto, exigentes com os políticos que elegemos, assinemos petições sérias que reclamam a necessidade de agir, integremos grupos focados na protecção ambiental e social e façamos ouvir a nossa voz. Somos mesmo a geração que pode fazer a diferença? Sim, somos! Queremos mesmo fazer a diferença? Não temos alternativa! Temos até 2030 para mostrar o que valemos. Tratemos do problema, antes que ele trate de nós.
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Partidos LIVRE
Sintra proíbe acesso na arriba da Praia Grande devido a ameaça de queda de bloco
Não há “risco imediato de pessoas e bens”, mas a autarquia decidiu adoptar “medidas preventivas”. (...)

Sintra proíbe acesso na arriba da Praia Grande devido a ameaça de queda de bloco
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.12
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Não há “risco imediato de pessoas e bens”, mas a autarquia decidiu adoptar “medidas preventivas”.
TEXTO: A escadaria junto às pegadas de dinossauros da Praia Grande vai ser interditada, face à ameaça da queda de um bloco da vertente, segundo um despacho do presidente da Câmara Municipal de Sintra, a que a agência Lusa teve acesso. “Apesar de as conclusões preliminarmente disponibilizadas pelos serviços não apontarem para um risco imediato de pessoas e bens, importa acautelar a adopção de todas as medidas preventivas que a situação material reclama”, considerou Basílio Horta (presidente da Câmara Municipal de Sintra), num despacho datado desta quarta-feira. A decisão surge após uma vistoria conjunta da Câmara de Sintra, Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e capitania do porto de Cascais, na semana passada, para avaliar as condições de acesso e visitação às pegadas de dinossauros na arriba com acesso pelo lado de Almoçageme. O autarca determinou “o imediato encerramento da arriba sul da Praia Grande do Rodízio”, devendo “os serviços municipais adoptar de imediato as necessárias medidas de execução” do despacho. A vistoria realizou-se na sequência de um alerta do geólogo António Galopim de Carvalho, depois de ter visitado com alunos e professores da Escola Básica da Sarrazola (Colares) a jazida de pegadas de dinossauros. “Fizeram uma escadaria nova e, em frente a umas pegadas, há um patamar, onde as pessoas param para ver, mas na escarpa está um pedaço de camada que já está solto, com ar de estar desprendido do resto, que com uma chuvada forte pode cair”, descreveu na semana passada Galopim de Carvalho. Perante o alerta do antigo director do então Museu Nacional de História Natural (Lisboa), o serviço municipal de Protecção Civil verificou não haver razões “para cortar o acesso”, mas foi anunciada uma “avaliação geológica do estratificado com carácter de urgência”. O presidente da câmara, em resultado da vistoria, explicou que foi ponderada a “possibilidade de o acesso ser temporariamente encerrado caso se detecte agravamento das condições de estabilidade do bloco ou de outra área, e caso se verifique a ocorrência de pico de precipitação contínuo no tempo”. A chuva prolongada “poderá eventualmente contribuir para incrementar o potencial de instabilidade (mecanismo desencadeante externo) ao longo do acesso”, acrescentou o autarca. Basílio Horta salientou que, na qualidade de autoridade municipal de Protecção Civil, deve “intervir com celeridade para protecção de pessoas e bens”, designadamente “na iminência de acidente grave ou catástrofe” e situações sem essa dimensão que exijam acções “de prevenção”. Do despacho a determinar o encerramento do acesso será dado conhecimento à câmara, APA e capitania de Cascais. A decisão preventiva vai além do relatório da vistoria, que não encontrou fundamento para o encerramento “por falta de segurança”, notando que “o risco existente está bem identificado na sinalização” existente no local. “É possível melhorar a segurança local sem pôr em causa o vestígio icnofóssil. Uma intervenção pontual pode ser realizada”, concluiu ainda o documento, referindo que o projecto “se enquadra bem com as competências” da APA, com experiência nestas intervenções. O parecer técnico esclareceu que a autarquia foi alertada, em 2006, para “um potencial foco de instabilidade” no local e que o resultado dos trabalhos realizados “não foi o esperado, uma vez que não foi possível remover na íntegra a rocha em situação de equilíbrio precário”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No entanto, o técnico relatou que “foi possível minorar os efeitos da perigosidade latente na vertente devido à remoção de uma massa considerável de rocha”. A reconstrução da escada e montagem de uma vedação, em 2014, permitiu reabrir o percurso, apesar de “conhecido o risco real” que incide sobre o acesso, “num local de elevada dinâmica ambiental e a natureza geológica da vertente apresenta débeis condições geotécnicas e geomecânicas das suas rochas”. A jazida de pegadas de dinossauros da Praia Grande do Rodízio data do período Cretácico e é composta por marcas de animais herbívoros e carnívoros registadas numa camada de calcário, que ali passaram há cerca de 120 milhões de anos.
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Palavras-chave escola
O contexto único da sala de Maria João Pires
A pianista portuguesa regressou a Belgais, e abriu ao público as portas da sua casa. Voltará a fazê-lo nos próximos fins-de-semana e também no próximo ano, de Janeiro a Maio. (...)

O contexto único da sala de Maria João Pires
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.375
DATA: 2018-12-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: A pianista portuguesa regressou a Belgais, e abriu ao público as portas da sua casa. Voltará a fazê-lo nos próximos fins-de-semana e também no próximo ano, de Janeiro a Maio.
TEXTO: Ninguém pergunta como foi possível que passasse tanto tempo até que Maria João Pires regressasse a Belgais. O importante mesmo é a sua presença e a generosidade de abrir ao público as portas da casa onde o recebe calorosamente. O cenário idílico de uma tarde de domingo verde e coroada de sol, em que as aves são em maior número do que os homens, é ainda pequeno, comparado com o encanto a que a música conduzirá o numeroso público. Numa sala quente e cheia, com aconchegante iluminação (algumas lâmpadas e muitas velas), a expectativa é grande. Pontualmente e sem perder tempo, a anfitriã entra e dirige-se ao piano onde ataca, sem surpresa, a Sonata K332 de Mozart, perfeita como a conhecemos das gravações, mas mesmo ali, na sua sala. Maria João Pires, pianoObras de Mozart, Mompou, Beethoven e ChopinEscalos de Baixo, Centro de Artes de BelgaisDomingo, 16 de Dezembro, 17h30Sala cheiaNo primeiro andamento, não faltou a repetição da Exposição e ouviu-se com perfeita clareza cada pormenor da partitura. Sem apelo à comoção fácil, o Adagio deliciou pela simplicidade despretensiosa com que Maria João Pires nos conduziu pelo discurso reflexivo. O terceiro andamento mostrou-nos uma pianista em forma. O adocicado Mompou, “. . . pour endormir la souffrance. . . ”, funcionou como uma antevisão da magistral segunda parte deste memorável recital. Antes do intervalo, haveria de se ouvir ainda a última sonata de Beethoven, uma surpresa apresentada numa leitura muito pessoal que não será, certamente, o que melhor condiz com a personalidade musical que reconhecemos na pianista. Após uma visita a outra sala quentinha, em que se tomavam bebidas quentes e se podiam petiscar sandes de presunto ou fatias de bolo, o regresso à sala do piano foi feito para a mais subtil poesia. Maria João Pires partilhou a sua muito íntima leitura de seis Nocturnos de Chopin (op. 9 — 1 a 3, op. 27 — 1 e 2, e n. º 19 — obra póstuma), poemas que parecem mesmo ter sido compostos para ela. Não se conhece outra interpretação que eleve a música de Chopin a tão sublime manifestação. Os aplausos de franco agradecimento valeram ao público diversos regressos de Maria João Pires ao centro da sala, mas apenas um número extra programa: a Valsa n. º 7 em dó sustenido menor, op. 64 n. º 2. Tornar-se-á Belgais local de culto? Todo o ambiente transmite um conforto acolhedor, uma experiência incomparável à das grandes salas de concertos, quase sempre dotadas de características acústicas menos favoráveis do que as daquela sala. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Na próxima sexta-feira e no sábado terão lugar os concertos de Natal, com Schubert em piano solo e a quatro mãos (Maria João Pires e Milos Popovic) e canções arménias com a soprano Talar Dekrmanjian. Sobre os concertos de Ano Novo (a 28 e 29 de Dezembro), contrariamente ao que figura no sítio electrónico do Centro de Artes de Belgais, o programa deste primeiro ciclo de concertos anuncia a presença de Maria João Pires e Lilit Grigoryan, mas também de Ema Neves de Sá (soprano) e Francisco Alpoim (guitarra), com sonatas de Mozart a solo e a quatro mãos e com música portuguesa à capela. Novos concertos estão previstos, já com datas anunciadas para 2019, de Janeiro a Maio, com a participação de Maria João Pires e de diferentes artistas. Longa vida a Maria João Pires! Longa vida a Belgais!
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens aves