O amor e a crueldade, demonstrados por Mr. Percival, o pelicano
Baseado no livro de Colin Thiele, Storm Boy: The Game é uma obra destinada a um público infanto-juvenil. Mas falta-lhe longevidade para contar as vidas além do protagonista e da ave. (...)

O amor e a crueldade, demonstrados por Mr. Percival, o pelicano
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-12-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Baseado no livro de Colin Thiele, Storm Boy: The Game é uma obra destinada a um público infanto-juvenil. Mas falta-lhe longevidade para contar as vidas além do protagonista e da ave.
TEXTO: Para compreender Storm Boy: The Game enquanto videojogo ter-se-á sempre que ter em conta os escalões etários dos jogadores. Não podendo contrastar mais com Red Red Redemption 2, a obra da Blowfish Studios destina-se a um público infanto-juvenil, o que não significa que não tenha algo a dizer a todos. Tendo como base o livro infantil de Colin Thiele publicado em 1964, a obra leva os jogadores até ao areal do sul Australiano, vestindo a pele de Storm Boy, um pequeno herói que dedica a sua existência a resgatar pelicanos, além de comungar com a vida afastada da cidade instigada pelo pai. Produtora: Blowfish StudiosPlataformas: Android, iOS, PC, PlayStation 4, Switch, Xbox OneO arco narrativo começa a ganhar o afunilamento necessário para uma lição no final, quando um dos pelicanos resgatados por Storm Boy ganha nome: Mr. Percival. Mais do que uma ave, é um amigo, um companheiro de aventuras, a verdadeira força motriz que faz o protagonista explorar as dunas e até perceber a importância do dinheiro quando o pai lhe diz que um animal de estimação precisa de cuidados, alguns dos quais com um preço. Como videojogo didático, Storm Boy: The Game ensina a tal lição valiosa no final: o quão cruel pode ser um humano no momento de satisfazer um capricho e o sublinhar de que a mesma espécie consegue manter na memória quem a marca de uma forma tal que a supressão do corpo não danifica irreparavelmente o que ficará. É um final que alicerça a ponderação sobre os diferentes quadrantes do ser humano, disso não restam grandes dúvidas, tal como há a certeza que Storm Boy: The Game é um jogo muito, mas mesmo muito, curto. Certo que o preço também é reduzido, mas é uma adaptação de um livro que pode ser tranquilamente terminada em quarenta e cinco minutos. Fica a sensação que em vez de um livro tivemos oportunidade de jogar um capítulo: um capítulo que podia ser o último capítulo da obra de Thiele, mas que ainda assim deixa o pensamento de que ficou bastante por mostrar. Durante estes minutos, somos convidados a participar em vários mini-jogos, que vão desde desenhar na areia a alimentar outros pelicanos, passando por ajudar marinheiros – provavelmente o momento mais desafiante do ponto de vista da jogabilidade para uma criança – e até simplesmente sentir o prazer de voar ou mergulhar para ver o fundo do mar. É tudo muito simples e muito directo, ou seja, a dificuldade é nula. Novamente, é um videojogo que quer passar uma mensagem, começando pelos mais novos, pelo que os processos foram pensados para a infância. É evidente que a Blowfish Studios quis que Storm Boy: The Game fosse uma estadia relaxada, algo que é sublinhado pelo aspecto gráfico. Optando por uma deslocação em cenários que se apresentam em duas dimensões falsas, ou seja, há uma profundidade dada aos cenários por onde se deslocam as personagens com uma modelagem que parece inspirada em ilustrações de um livro. Não esperem liberdade para explorar estas areias, pois a obra tem o jogador onde quer enquanto dura. Declaradamente apontado a um público jovem, tem no seu final uma mensagem que é útil a qualquer um, independentemente da idade. A fazer lembrar as ilustrações de um livro, o jogo tem um grafismo que assenta bem no objectivo de oferecer uma estadia tranquila. Excluindo os breves mini-jogos, a interacção é praticamente nula. Menos de uma hora é pouco, mesmo tendo em consideração o preço. Uma longevidade tão curta faz transparecer a ideia que acabamos de jogar a adaptação de um capítulo final e não de um conto. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Isto não quer dizer que seja um departamento técnico mau. As cores e a plasticidade são apelativas, passando bem a sensação de que estas vidas estão isoladas no seu próprio mundo e, novamente, servindo também para ir construindo através da animação a relação entre Storm Boy e Mr. Percival. É pena que tais vidas não permitam uma maior interacção, ou seja, passando de livro a videojogo, é uma proposta que, excluindo os mini-jogos, se parece com uma leitura que coloca o jogador no papel de ouvinte. Apontado a um público jovem, Storm Boy: The Game peca por ser demasiado curto e por essa escassez não lhe permitir uma afirmação mais vincada das personagens satélite. Mas conta bem a história entre o protagonista e o pelicano, mostrando o quão grande pode ser o coração de um humano. Mais críticas em Videogamer Portugal
REFERÊNCIAS:
O movimento do tempo
Na primeira exposição individual de André Príncipe num museu, a fotografia é uma arte das aparições, entre a vida e a morte, o real e a ficção. (...)

O movimento do tempo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na primeira exposição individual de André Príncipe num museu, a fotografia é uma arte das aparições, entre a vida e a morte, o real e a ficção.
TEXTO: Elefante não é a primeira exposição individual de André Príncipe, cineasta e fundador (com José Pedro Cortes) da editora de livros de fotografia Pierre Von Kleist, mas tem elementos que lhe conferem um carácter inédito: um trabalho de curadoria (de Ana Anacleto e de João Pinharanda) e uma selecção de obras do arquivo do artista (realizadas em 1998). André Príncipe confronta-se assim, e a título individual, com as condições e as possibilidades de uma exposição de arte contemporânea. E desse confronto — que é um trabalho — mostra-nos dípticos, constelações de imagens sobre superfícies, fotografias isoladas e uma instalação. Há uma dispersão nestas propostas que é aparente. Liames de sentido, relações conceptuais ligam-nas entre si, afirmando Elefante enquanto obra una numa produção artística. Comissário(s): Ana Anacleto e João Pinharanda Artista(s): André Príncipe Lisboa. MAAT — Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia. Av. Brasília — Ed. Central Tejo. Até 31 de Dezembro. Todos os dias das 11h às 19h. Encerra à 3ª feiraO movimento da imagem é um desses liames. Num painel, vemos 10 fotografias da estátua de um dançarino dervish (praticante do islamismo sufista) realizada de diferentes ângulos. A composição acentua o movimento, o rodopio da dança, mas a imagem, como a estátua permanecem imóveis. É o olhar do espectador que anima, que imagina o movimento nos intervalos entre as fotografias. Na instalação que dá o nome à exposição, pelo contrário, são as imagens que avançam lentamente, como vapor ou neblina, diante dos nossos olhos, escapando-lhes. Trata-se de um extraordinário trabalho de retratos em que nenhum é anónimo, todos os retratados foram um dia vistos por André Príncipe, fizeram ou fazem parte da sua vida individual (e, porventura, o espectador poderá reconhecer alguns: a fotografia na sua inescapável relação com o real presta-se a coincidências, a reencontros tão fugazes quanto intensos e surpreendentes). Desfilam, sob o efeito do fade in e do fade out, aparecendo e desaparecendo, sobrepondo-se. Há cores que se estendem de um a outro retrato, ilusões efémeras, formando figuras ou imagens que só existem na instalação, naquele ecrã, em forma de lápide. Na verdade, todas as pessoas ali representadas já não existem como as vemos. Ainda são elas ali, naquele memorial que podemos contemplar sentados, mas já não são assim no mundo, embora estejam, certamente, no mundo. Este aparecer e desaparecer manifesta-se em mais dois painéis de fotografias, muito distintos, quase contrários. Num, as fotografias, parecem desprotegidas, como se ameaçassem cair da tela, fugir-lhe, numa composição manual, quase anárquica, rápida (que lembra as capas dos cadernos de escola dos adolescentes, cobertas de recortes e imagens). Domina o preto e o branco de uma noite escura e chuvosa em imagens de desamparo e solidão. Vemos alguém deitado, imóvel, há um sem-abrigo, um grupo de homens que avança na noite, escondendo o rosto, fugindo do frio e de uma intempérie que deixa as sua marcas, as suas manchas na fotografia. Crime, acidente, noite, rua, cidade, morte. André Príncipe parece evocar Weegee (nome maior da fotografia, em particular daquela que retratou e documentou o quotidiano nos Estados Unidos do século passado) mas são as possibilidades da ficção que explora. Aquele lugar e aquela noite não têm nome e, no entanto, todos as podem reconhecer, sem a elas se entregarem (entre o preto e o branco não deixa de haver luz e fogo). A outra composição é menos sombria e menos material, “abrindo-se” como uma página cheia de um álbum de família, na qual ressaltam imagens de pessoas e animais, paisagens, referências à música, à natalidade, a viagens. Uma polifonia luminosa, que dá conta da pluralidade da vida e do mundo, resgatada ao passado pela arte da fotografia, concebida esta como prática democrática e nómada. Uma e outra composição contrastam em termos cromáticos e de conteúdo, mas não se revelam uma sem a outra, entre a vida e a morte, o real e a ficção. Falou-se de movimento. Regressa nos dípticos que reúnem retratos de pessoas em repouso, quase imobilizadas, com imagens de clarões, raios intensos de verde, amarelo e branco que André Príncipe fez em 1998, apontando a máquina para várias fontes de luz. Os retratos resultam de um olhar que poderíamos partilhar com o artista (sobre o lugar e o retratado, numa sensação comum do que é a realidade), a segunda é feita de espectros que o gesto de André Príncipe trouxe ao mundo na sua dança com a máquina. Brilham como pinturas que escorrem, luzes de néon distorcidas, liquefeitas. Lado a lado, os dois tipos de imagens propõem dialécticas, tensões de ordem cromática, formal, representacional antes de culminarem num sentido comum: são ambas aparições, como a do tigre que, numa das fotografias de maiores dimensões, parece avançar, desperto, cativado pela nossa sombra.
REFERÊNCIAS:
Debate do estado da nação abre a porta das legislativas
PSD foi mais crítico, CDS anunciou uma proposta para baixar o IRC. À esquerda, o duelo Costa/Catarina Martins foi mais aceso, com o PCP foi mais brando. (...)

Debate do estado da nação abre a porta das legislativas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: PSD foi mais crítico, CDS anunciou uma proposta para baixar o IRC. À esquerda, o duelo Costa/Catarina Martins foi mais aceso, com o PCP foi mais brando.
TEXTO: O primeiro-ministro e o ministro das Finanças chegaram ao fim da legislatura com uma mensagem: afinal, havia alternativa à governação da direita e esta impôs-se à desconfiança e pessimismo das vozes de PSD e do CDS ouvidas no arranque. No último debate do estado da nação antes das legislativas, o BE acenou com o fantasma da maioria absoluta, o PCP pediu “força” ao povo. À direita, o discurso não se fez a uma só voz. O PSD foi mais duro contra o Governo, o CDS preferiu fazer o balanço do seu trabalho. Mas da esquerda à direita, o tom já foi de campanha eleitoral. Como o tempo é mesmo de balanços, o primeiro-ministro ensaiou a sua visão, assente na palavra “confiança”. António Costa elogiou a recuperação de rendimentos – e nisso coincidiu com os parceiros à esquerda – e o virar da página da austeridade. E insistiu em fazer o contraste com o início da legislatura, em que sobretudo o PSD de Passos Coelho estava apostado em demonstrar que a estratégia não resultaria. “Nem o diabo apareceu, nem a austeridade se disfarçou”, disse Costa. O discurso começou com um elogio ao BE, PCP e PEV por terem, em conjunto com o PS, “ousado derrubar um muro anacrónico” ao formarem a maioria parlamentar que governou nos últimos três anos. Já na fase de encerramento, o ministro das Finanças sublinhou a mesma ideia de que a política do Governo permitiu melhorar o rendimento das famílias e provocou PSD e CDS, ao falar nos “velhos” que não eram do Restelo mas “desceram da Lapa e do Caldas” que estavam “errados” ao terem chamado pelo “mafarrico durante meses a fio”. Foi o ministro das Finanças que atacou as propostas do PSD e CDS, sugerindo que não se entre em “leilões de promessas eleitorais” e que essa é a “política do passado, das paragens bruscas”. Se Mário Centeno enalteceu o investimento em serviços públicos e nos transportes nesta legislatura, António Costa disse não ver o país pintado de “cor-de-rosa”. E sublinhou o que “ainda está por fazer” e a ideia de que o Governo encontra uma solução – nos cartões do cidadão por exemplo – quando surge um problema ainda que “temporário ou sazonal”. A referência ao fantasma da maioria absoluta veio da líder bloquista. Catarina Martins já tinha garantido que, se regressasse a 2015, “nas mesmas condições, voltaria a assinar” o acordo com o PS - e recebeu a concordância de António Costa. Ao mesmo tempo, a dirigente bloquista usou a táctica do PCP de realçar que muitas das medidas foram impostas pelo seu partido ao Governo. Quando subiu à tribuna, voltou a repetir tais premissas, deixando no ar a ideia do perigo de ter o PS a governar sozinho. “Alguém pediu uma maioria absoluta”, questionou, afirmando que os principais dirigentes do PS, como Ana Catarina Mendes e Carlos César, pediram uma maioria para governar “sem bloqueios”. “Que bloqueios incomodam o PS? Aqueles que impediram congelamento das pensões”, perguntou, concluindo que “quem suspira pela maioria absoluta são os outros”. Ou sejam, os patrões, a saúde privada ou empresas com a Altice, dona do Siresp. "Não podemos voltar à política das maiorias absolutas que nos perderam”, avisou. A declaração de fidelidade de Catarina Martins levou Costa a escancarar a porta para Outubro – como os resultados “são bons”, “voltaria a tomar a mesma decisão” de celebrar o acordo da esquerda, mesmo não estando em 2015. Mas o socialista não perdeu a oportunidade para dar um puxão de orelhas à bloquista, dizendo ser “muito injusto para o PEV, PCP e até para o PS” este “jogo de que tudo o que é bom dependeu” de um de nós e “tudo o que é mau ficou a dever-se aos outros”. “Aquilo que temos que assumir, por inteiro, é o passivo e o activo desta legislatura”. E depois de Catarina Martins tentar desenhar já umas quantas exigências para a próxima legislatura e até para a Lei de Bases da Saúde, Costa voltou a travá-la: “A vida não começa e acaba no acordo com o Bloco. ”Sem negar os contributos dos parceiros, o primeiro-ministro colocou o PS como “a base fundamental” do Governo e suavizou as respostas ao PCP, embora Jerónimo de Sousa tenha usado a mesma estratégia da bloquista, reclamando louros para o partido e acusando o Governo de “impedir mais avanços” nos salários, protecção dos trabalhadores ao eleger o défice como prioridade. Pediu, por isso, “força” ao povo para uma "nova correlação de forças mais favorável aos trabalhadores”. Cauteloso, o primeiro-ministro respondeu que se deve “continuar a caminhar” mas com cuidado, porque “quem se mete em atalhos, mete-se em trabalhos. E para trabalhos já bastou o que bastou. ”Se este debate também foi, em parte, um recuo no tempo, esse salto pareceu maior quando a deputada de Os Verdes se referiu à reposição de rendimentos como “aquilo que PSD e CDS tinham roubado aos portugueses”. O verbo usado por Heloísa Apolónia gerou protestos nas bancadas do PSD e do CDS, tal como acontecia na anterior legislatura. Nas bancadas da oposição, o PSD fez uma intervenção mais dura pela voz do líder parlamentar - secundada por António Leitão Amaro - enquanto Assunção Cristas escolheu ser mais suave nas críticas ao Governo. Respondendo à pergunta que país temos hoje, Fernando Negrão fez o contraste do “país real” – do mau funcionamento dos serviços, dos transportes, da segurança social, de falta de meios na segurança – e o do país do “está tudo bem” para o Governo. A recuperação de rendimentos “foi engolida por impostos, taxas e taxinhas”, criticou o social-democrata, acusando o Governo de “tirar a todos” para “dar a alguns”. Já a líder do CDS-PP apresentou-se como a protagonista de uma oposição “firme e construtiva”, considerando que foi “liderante” em propostas na segurança social e na regulamentação do lobbying. Foi um discurso quase sem críticas ao Governo - essas ficaram a cargo do líder parlamentar, Nuno Magalhães, e de dois vice-presidentes da bancada -, mas em que a líder do CDS deixou recados ao PSD. “Fomos firmes na oposição – em muitos casos com o cargo exclusivo de oposição, que as duas moções de censura ilustram”, disse. Já a olhar para as legislativas, Assunção Cristas detalhou uma das propostas fiscais que vai apresentar esta quinta-feira: a redução do IRC para 12, 5% em seis anos (actualmente a taxa é de 21%). E desejou ver o país a “crescer 4 ou 5%” por ano. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Com um discurso em que falou da necessidade de reforçar a prevenção na saúde e de cumprir metas ambientais, André Silva, do PAN, apontou o dedo ao ministro da Agricultura por ter ido a uma corrida de touros na “companhia de quem mais ama, o presidente da CAP”. Sinal de que a legislatura está a chegar ao fim foi o cumprimento de António Costa a todos os líderes parlamentares, da esquerda à direita, no final do debate. Mas horas antes, ao sair do plenário para fazer um intervalo, o primeiro-ministro optou por passar nas bancadas do centro-direita e cumprimentar, com boa disposição, dois deputados da oposição que não serão candidatos em Outubro: Pedro Mota Soares (CDS) e Hugo Soares (PSD).
REFERÊNCIAS:
Chico Buarque, um Prémio Camões com mensagem artística e política
O prémio literário mais importante do universo da língua portuguesa distinguiu nesta terça-feira, na sua 31.ª edição, um ícone da música popular brasileira a que faltava a definitiva consagração como escritor. (...)

Chico Buarque, um Prémio Camões com mensagem artística e política
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.166
DATA: 2019-05-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: O prémio literário mais importante do universo da língua portuguesa distinguiu nesta terça-feira, na sua 31.ª edição, um ícone da música popular brasileira a que faltava a definitiva consagração como escritor.
TEXTO: “Não estamos a premiar o músico. Estamos a premiar o homem da literatura”, disse ao PÚBLICO Manuel Frias Martins, o português que presidiu à reunião do júri que nesta terça-feira decidiu atribuir a Chico Buarque o Prémio Camões. “Quando falamos de Chico Buarque, esquecemo-nos muitas vezes de que estamos perante um escritor de grande qualidade na poesia, um dramaturgo de grande qualidade e, sobretudo, um romancista de grande qualidade”, continuou o professor da Faculdade de Letras de Lisboa, sublinhando a unanimidade do júri à volta do criador da Ópera do Malandro e de Circo Místico, do autor dos romances Estorvo (1991), Benjamim (1995), Budapeste (2003), Leite Derramado (2009) e O Irmão Alemão (2014), do letrista e compositor com 49 discos gravados, do argumentista e co-argumentista em cinco filmes. “A obra dele é transversal a vários géneros literários e reconhecida em todos os países de língua portuguesa por várias gerações”, sublinhou ainda Frias Martins, minutos depois do fim da reunião do júri na Biblioteca Nacional do Brasil, no Rio de Janeiro.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homem circo
Prémio Booker Internacional atribuído pela primeira vez a obra traduzida do árabe
Jokha Alharthi é a primeira escritora omanense traduzida para inglês. Venceu a distinção com Celestial Bodies, traduzido por Marilyn Booth. (...)

Prémio Booker Internacional atribuído pela primeira vez a obra traduzida do árabe
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.125
DATA: 2019-05-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Jokha Alharthi é a primeira escritora omanense traduzida para inglês. Venceu a distinção com Celestial Bodies, traduzido por Marilyn Booth.
TEXTO: A escritora de Omã Jokha Alharthi e a sua tradutora Marilyn Booth são as vencedoras do prémio Man Booker Internacional, com o livro Celestial Bodies, anunciaram na noite desta quarta-feira, em Londres, os promotores da distinção. Jokha Alharthi é a primeira escritora omanense traduzida para inglês e, em simultâneo, a primeira autora a escrever em árabe distinguida com o galardão, segundo comunicado da organização. A autora recebera já com o mesmo livro os prémios Sahikh Zayed para jovens escritores e o prémio de melhor romance publicado em Omã. Alharthi, inédita em Portugal, é autora de dois outros romances, de duas colectâneas de contos e de um livro para crianças, tendo o seu trabalho sido publicado em inglês, alemão, italiano, coreano e sérvio, destaca a organização do prémio Booker. A tradutora norte-americana Marilyn Booth, especializada em árabe, está ligada ao Magdalen College, em Oxford, e detém a cátedra Khalid bin Abdallah Al Saud para o Estudo do Mundo Árabe Contemporâneo no Instituto Oriental. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O livro premiado foi escolhido por um júri de cinco elementos, presidido pela historiadora Bettany Hughes, e composto pela presidente do PEN inglês, Maureen Freely, pela filósofa Angie Hobbs e pelos escritores Elnathan John e Pankaj Mishra. “Um livro que conquista a mente e o coração de formas iguais, que merece ser lido com calma. Vozes e linhas temporais entrelaçadas são servidas pelo ritmo do livro. A sua delicada arte atrai-nos para uma comunidade ricamente imaginada – que se abre para abordar questões profundas de tempo e mortalidade e aspectos perturbadores da nossa história comum”, afirmou a presidente do júri, citada no mesmo comunicado. No ano passado, o prémio Man Booker Internacional foi atribuído ao livro Flights, da polaca Olga Tokarczuk, a primeira autora daquela nacionalidade a vencer o galardão. O livro chegou às livrarias portuguesas já este ano, com o título Viagens, editado pela Cavalo de Ferro.
REFERÊNCIAS:
A literatura pensa que está viva, “mas não está”. Palavra do Jovem Conservador de Direita
Humor e provocação fizeram de uma das últimas sessões do Livros a Oeste um ponto alto deste festival na Lourinhã. “Literatura, hoje, faz sentido?”, era a pergunta. “Não!”, respondeu o Jovem Conservador de Direita. Sem hesitar (...)

A literatura pensa que está viva, “mas não está”. Palavra do Jovem Conservador de Direita
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.161
DATA: 2019-05-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Humor e provocação fizeram de uma das últimas sessões do Livros a Oeste um ponto alto deste festival na Lourinhã. “Literatura, hoje, faz sentido?”, era a pergunta. “Não!”, respondeu o Jovem Conservador de Direita. Sem hesitar
TEXTO: Personagem sinistra, engomadinha e que se faz acompanhar por um estagiário, o Jovem Conservador de Direita esteve na 8. ª edição do Festival Livros a Oeste para falar do “haraquiri da literatura”. Depois de explicar que “a literatura morreu por sua própria culpa”, já que não se “rendeu aos mercados como deveria”, sugeriu caminhos para o sucesso literário. “E nem é preciso saber escrever. ” Disse ainda que estes encontros servem para a literatura pensar que está viva, “mas não está”. Com ironia, eloquência e inteligência, o Doutor (Bruno Henriques) e o Estagiário (Sérgio Duarte), falando a uma só voz, propuseram aos “autores” começarem por ser “figuras públicas”. Depois, “basta arranjar um ghost writer [escritor-fantasma]”. Deu exemplos como “Cristina Ferreira ou Daniel Oliveira”. Sobre Miguel Sousa Tavares e a acusação de plágio, resumiu-a a um caso de “benchmarking aplicado à literatura”. Traduzindo: procura das melhores práticas em determinado domínio. José Rodrigues dos Santos também não escapou a um comentário mordaz, sendo-lhe atribuída a ideia de criar “uma fábrica no Paquistão”, em que crianças “especializadas em Dan Brown” adaptam e redigem incessantemente as obras para o escritor e jornalista português. Outras das sugestões para o êxito passaram pela alteração da latitude em que ocorrem os crimes nos livros policiais e até pela mudança do apelido dos autores. Assim, Moita Flores passaria a “Zlatan Moita Flores” e a Avenida dos Aliados a “Aliados Strasse”. Pôr “Auschwitz num título” e fazê-lo acompanhar-se “de uma profissão” também são garantias de bom desempenho. Mais ainda se forem actividades profissionais actuais, como “consultor financeiro” ou “gestor de redes sociais”, pois já se escreveu sobre uma “bibliotecária”, um “tatuador” ou uma “bailarina”. Também a literatura infantil foi analisada pelo Conservador, que até aos cães da colecção Uma Aventura tratou por “doutores”: o pastor alemão “dr. Faial” e o caniche “dr. Caracol”. Pretexto ainda para induzir os escritores a reproduzirem fórmulas em série. Descrição da colecção de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada: “Criogenaram cinco crianças e dois cães, que têm mais de 40 anos, mas continuam no sétimo ano porque estão sempre a resolver crimes. ”Nos clássicos, foi igualmente implacável. Resumos da Branca de Neve e os Sete Anões: “Se for bonita, pode invadir propriedade privada, desde que faça a lida da casa. ” E de A Bela e o Monstro: “Se ela não gostar de vocês, fechem-na em casa que ela aprende num instante. ” Para terminar no facto de as crianças de hoje lerem livros dos “youtubers”, ou seja, “de pessoas que são analfabetas”. E exemplificou com Experiências Loucas e Factos Bizarros, do Doutor Darkframe. O Jovem Conservador de Direita e o Estagiário falaram ainda de ficção científica, “o único mundo onde a esquerda funciona”, de livros de auto-ajuda, “que já nem acreditam nas pessoas”, e também na família de cantores Carreira, “há Carreiras para vários targets”, ou de livros como As 50 Sombras de Grey, “se forem homens de sucesso, já vale usar o chicote”. Ali se culpou os “esquerdalhos” pelo “período das trevas da literatura”. O problema foi quererem considerá-la “uma arte”. Na opinião do Conservador, dever-se-ia ter mantido a ideia primordial, na Suméria, onde a escrita terá nascido “pelo nobre princípio das finanças e da contabilidade”, através de um simples registo comercial. A subversão veio dos “esquerdalhos”, que “fumavam ganzas e se esqueciam das coisas”, e abandonaram a missão mercantilista da escrita. O “elogio” a Nuno Melo, candidato do CDS às eleições europeias e que em muitas ocasiões parece mimetizar, ficou para o final: “Anda a passar vergonha desde que me bloqueou no Facebook, mas tem um cabelo que lhe vale 70% dos votos, apesar da pouca memória. É a Dory do [À Procura de] Nemo mas com um cabelo sensual. ” Mais uma gargalhada no Auditório do Centro Cultural Dr. Afonso Rodrigues Pereira, numa plateia entre o perplexo e o bem-disposto. O programa prosseguiria com uma discussão sobre o “homem e a sua circunstância”. Como a entender, aceitar e integrar no percurso individual, mas também como a trabalhar e até fintar. Protagonistas: o ex-ministro da Justiça Álvaro Laborinho Lúcio, António Tavares (vencedor do Prémio Leya em 2015), Arlindo Oliveira (presidente do Instituto Superior Técnico), o poeta João Rasteiro e o escritor Pedro Vieira (que já havia apresentado o seu mais recente romance, Maré Alta). Nessa manhã, Sandro William Junqueira deu a conhecer aos alunos da EB1 da Lourinhã As Palavras Que Fugiram do Dicionário. Terá levado mais ideias para um próximo volume, já que, entre várias sugestões das crianças para palavras inventadas, houve duas que ficaram na memória: “bacalheiro” e “livo”. Traduções: “árvore que dá bacalhaus” e “livro vivo”. Confirmou-se assim o que escritor e actor tinha dito aos miúdos no início da sessão: “A imaginação aumenta o mundo. ”O festival Livros a Oeste realizou-se de 14 a 18 de Maio, tendo encerrado com uma conversa-concerto com Carlão. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em dois dias do festival, houve lugar a homenagens a Sophia de Mello Breyner Andresen e a Jorge de Sena. Foram dois comoventes apontamentos musicais e poéticos pelo grupo Corações em Concerto. O encontro literário é organizado anualmente pela Câmara Municipal da Lourinhã, que conta com uma equipa de oito pessoas recrutadas entre o município e a Biblioteca Municipal. Programado pelo jornalista João Morales, Livros a Oeste teve como mote “Palavras Que nos Unem”, voltou a incluir formação de professores e educadores e chegou a 1015 alunos do concelho, de vários níveis de ensino. Criar novos públicos é um dos objectivos do encontro. Está a ser cumprido.
REFERÊNCIAS:
Francês lança-se ao mar num barril para ajudar a estudar correntes
Aventureiro de 71 anos iniciou viagem nas Canárias e quer chegas às Caraíbas nos próximos três meses. O objectivo é contribuir para o estudo das correntes oceânicas. (...)

Francês lança-se ao mar num barril para ajudar a estudar correntes
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Aventureiro de 71 anos iniciou viagem nas Canárias e quer chegas às Caraíbas nos próximos três meses. O objectivo é contribuir para o estudo das correntes oceânicas.
TEXTO: Jean-Jacques Savin, um antigo militar francês de 71 anos, decidiu lançar-se ao mar dentro de uma cápsula laranja em forma de barril. O objectivo, disse à BBC, é chegar às Caraíbas num prazo mínimo de três meses, à boleia das correntes. A cápsula, que foi largada ao largo da ilha de El Hierro, nas Canárias, tem no seu interior um beliche, uma cozinha e espaço de arrumação. O barril, com três metros de comprimento e dois de largura, tem seis metros quadrados de espaço interior, e conta com uma janela de vidro no chão que permite ao navegador francês contemplar a vida marinha no decorrer da viagem. De acordo com a emissora britânica, a cápsula foi construída para resistir a ondas e a possíveis ataques de animais marinhos de maior dimensão. Os aparelhos de comunicações e de posicionamento GPS são alimentados por painéis solares acoplados à estrutura. Durante a viagem, Savin lançará vários sinalizadores para ajudar oceanógrafos a estudar as correntes do Atlântico. Numa entrevista telefónica concedida à AFP, o tripulante mostrou-se optimista em relação às condições climatéricas. “Estou a mover-me a dois-três quilómetros por hora. Tenho previsões de ventos favoráveis até domingo”, contou. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O orçamento de 60 mil euros para a construção da cápsula foi quase todo conseguido através de crowdfunding. O navegador francês prevê conseguir chegar até a Barbados. Contudo, não escondeu à BBC que gostaria de atracar numa ilha francesa, como Martinica ou Guadalupe. Na dispensa, leva foie-gras e uma garrafa de vinho branco para celebrar o Ano Novo. O francês irá ainda comemorar o seu aniversário a bordo da cápsula, a 14 de Janeiro. Os sinalizadores deixados pelo caminho ajudarão os oceanógrafos do Observatório Marinho Internacional a estudarem as correntes.
REFERÊNCIAS:
Tempo Janeiro
“Gosto do Reino Unido, mas a minha terra é aqui, no Porto ou no Douro”
Depois de 40 anos de trabalho no universo das empresas da família Symington, dos quais 16 na condição de presidente do conselho de administração, Paul vai retirar-se. Com ele, os vinhos do Porto da Dow’s, da Graham’s ou da Warre chegaram à curta elite dos vinhos mundiais. Conversa com um dos britânicos mais durienses desde o tempo do barão de Forrester. (...)

“Gosto do Reino Unido, mas a minha terra é aqui, no Porto ou no Douro”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Depois de 40 anos de trabalho no universo das empresas da família Symington, dos quais 16 na condição de presidente do conselho de administração, Paul vai retirar-se. Com ele, os vinhos do Porto da Dow’s, da Graham’s ou da Warre chegaram à curta elite dos vinhos mundiais. Conversa com um dos britânicos mais durienses desde o tempo do barão de Forrester.
TEXTO: Paul Symington, 65 anos, fala ainda com sotaque inglês, mas a origem britânica é cada vez mais uma memória remota. Como na maioria das famílias que se instalaram no Porto para se dedicar a negócio do vinho, Paul tornou-se portuense e, talvez ainda mais, duriense. Filho da primeira geração da família “que não teve de se fardar” para participar nas grandes guerras do império britânico, Paul chegou ao Porto depois de estudar em Inglaterra em 1979, numa altura em que o vinho do Porto consolidava a recuperação da penosa travessia comercial da Segunda Guerra Mundial. Hoje, o grande vinho do vale do Douro confronta-se com outros desafios e Paul insurge-se contra o alheamento das autoridades. Crente no futuro da região, diz que é ali que a família continuará a investir até porque, acredita, um dia os vinhos tintos ou brancos do Douro terão o lugar que merecem no reconhecimento internacional. Agora que sai de funções executivas, Paul vai gastar mais tempo a andar de mota pelas vinhas, a passear com o cão e a aprender a conduzir um tractor. Como está a ver a questão do “Brexit”?É uma confusão. Ninguém sabe o que vai acontecer com o “Brexit”. A minha mãe ainda está viva, nasceu em Sintra. Os pais dela eram de Lisboa. Eram dez irmãos. Dois morreram na guerra. Um com 19 anos e outro com 18. Sabe onde é que eles estão? Um está num cemitério na Tunísia e outro está em Nápoles. Estiveram três irmãos na tropa [na Segunda Guerra Mundial] e dois morreram. A minha mãe ainda está viva. Esta é uma realidade que eu senti na minha família. Na Europa temos uma história de matarmo-nos uns aos outros. Tivemos agora meio século de paz. Eu fui a primeira geração da minha família que não teve de se fardar para ir à tropa. O meu avô esteve na Primeira Guerra, na Segunda estiveram os meus pais e os meus tios. Para mim, a União ou alguma União da Europa faz sentido. Obviamente são países completamente distintos, cada um tem as suas tradições, o seu governo, etc. Mas faz sentido, para alguém que lê sobre a História, partilhar alguma coisa. Acho o “Brexit” uma coisa triste nesse sentido. Ninguém sabe no que isto vai dar. De positivo acho que vai ser pouco. Para mim é uma fantasia esta ideia de independência total do Reino Unido. Eu sei que Bruxelas por vezes faz asneiras, que não se preocupa muito com as pessoas. Há muitas coisas com que não estou de acordo. Mas em tudo há um lado positivo e um lado negativo, e, para mim, a União Europeia tem mais coisas positivas do que negativasNesta questão, sente-me mais britânico ou português?Estou à espera do meu passaporte português…Essa era precisamente uma das perguntas que tínhamos para lhe fazer. Por que razão, tendo nascido em Portugal, não tem passaporte português?Sabe porquê? Eu sou mais velho e no meu tempo quem fizesse 18 anos ia quatro anos para a tropa. Havia a guerra em África e eu não queria ir…Mas, entretanto, deu-se o 25 de Abril e desde então já passou muito tempo…É verdade, é verdade. Tenho alguma vergonha por não ter pedido antes o passaporte português. Mas já fiz o pedido há um ano e meio. Li há dias no PÚBLICO que alteraram a lei e que há mais de 40 mil pedidos. Tirando esse lado mais pragmático, de tentar fugir à guerra, não continua a haver na vossa comunidade essa tentação de pensar primeiro no Reino Unido e só depois em Portugal?Nunca me passou pela cabeça viver em Inglaterra. Eu admiro algumas coisas na História do Reino Unido, gosto do Reino Unido, mas a minha terra é aqui. Não me passa pela cabeça viver noutro lado. Aqui no Porto ou no Douro. Mas viveu em Inglaterra?Estudei lá. Andei na escola [básica e secundária] e depois na universidade. Após a universidade trabalhei um ano e meio numa empresa e regressei. Quando eu recebi aquele prémio da Decanter [uma publicação internacional dedicada ao vinho], o prémio The Man of the Year, convenci o meu pai, que já tinha bastante idade, a ir comigo a Inglaterra. Já não ia lá há muito tempo. Teve de ir quase numa cadeira de rodas. Na ida, ainda no aeroporto, virou-se para mim e disse-me. “Ó Paul, se eu morrer em Inglaterra, não me deixes lá. ” Morreu mais tarde e está no cemitério no Porto. Eu não gosto de ser colocado numa gaveta. Sou claramente uma mistura. Um europeu, ao fim e ao cabo…Português-inglês. Voltando ao “Brexit”. A possível saída do reino Unido da UE já está a afectar as vossas vendas?Um quarto das nossas vendas é para o Reino Unido. É muita coisa. Estamos a preparar-nos e a colocar um stock maior lá, porque não sabemos o que vai acontecer nas alfândegas. Mas vai ser uma chatice, porque vamos ter de alterar os rótulos todos, porque vão ter de ter o nome do importador… Os burocratas que fazem estas regulamentações esquecem-se de que essas mudanças custam uma fortuna aos produtores. Mas as vendas estão a diminuir?O Reino Unido está a passar por um período difícil e as vendas dos vinhos têm baixado alguma coisa. As grandes cadeias estão a sofrer com a entrada das grandes cadeias low cost, o Aldi e o Lidl, e o mercado do vinho em geral está a ser afectado. Não são só os vinhos portugueses. Oxalá que isto se resolva nos próximos meses. É preocupante e está a afectar-nos, mas a nossa empresa já sobreviveu a momentos difíceis da história. A vantagem de sermos uma empresa familiar é permitir-nos olhar a longo prazo. O que é que mudou, mais radicalmente, desde o dia em que entrou na empresa até hoje?Muita coisa mudou nestes 40 anos. Nos anos 70, no Douro e no vinho do Porto, o que se vendia era vinho de volume. Estava tudo virado para a quantidade. E apostar na quantidade é a pior coisa que se pode fazer para os vinhos do Douro. Hoje estamos a produzir menos e melhor. Não somos só nós. Os grandes produtores de França, que todos nós colocamos no top, estão a produzir menos do que há 20 anos. No segmento dos vinhos super-premium, que é muito apertado, assiste-se a esta tendência. O mercado é muito exigente. O vinho do Porto nessa altura, nos anos 70, tinha uma imagem de prestígio mais alta do que tem hoje, ou não?O vinho do Porto tem hoje uma imagem reforçada ao nível dos vinhos de topo, mas nos anos 70 já tinha dois séculos de história. O vinho do Porto já estava nos livros dos grandes wine writers. A grande luta hoje é conseguir que o vinho do Porto mantenha esse estatuto. Eu acho que o sector tem feito um bom trabalho. Nessa altura, havia os ruby em grande escala, os tawny correntes e os vintage. Hoje, com os tawny reserva, os colheita, os LBV, o mercado premium está mais diversificado. Qual é a grande ameaça actual para o vinho do Porto? É o açúcar? É o álcool?O grande desafio do vinho do Porto é manter-se relevante num mercado cada vez menos interessado nos vinhos generosos. Eu fiz há pouco tempo uma grande prova de vinho do Porto com o meu primo Charles em Londres. Estava lá toda a gente de peso. Antes da prova, fiz alguma pesquisa sobre o que está a acontecer com os vinhos de Xerês, em Espanha. Toda a gente sabe que os volumes caíram de 14 milhões de caixas (de 12 garrafas) para 4 milhões, mas o que eu não sabia era que a área de vinha passou de mais de 20 mil hectares, no início dos anos 80, para menos seis mil hectares. Vejam o que acontece quando uma região não se adapta à realidade. Nós podemos estar horas a discutir se trabalhamos mal ou bem, mas o melhor é olharmos para a realidade. Quer dizer que a preservação da área de vinha no Douro é a prova do sucesso do vinho do Porto…Em parte, mas o Douro não tem uma estratégia adequada à realidade actual. Nos próximos anos vão acontecer bastantes mudanças em várias frentes. Os vinhos generosos estão a reduzir a nível mundial e estão a reduzir há 20 anos. Não é uma coisa pontual, não se deve à troika ou ao “Brexit”. E o Douro tem de se adaptar a esta realidade. Mas temos muita coisa a nosso favor. O vinho do Porto é um exemplo mundial de inovação, de adaptação e de resistência. O que o Dirk [Niepoort] conseguiu, com a venda de uma garrafa de 1863 por mais de 100 mil euros, foi muito bom para o vinho do Porto. E toda a inovação que fizemos com o LBV, os vinhos datados, os Colheitas é usado em Xerês como um exemplo daquilo que eles deviam ter feito. Podem dizer-nos que temos de fazer mais provas, mais promoção. Nós já fazemos isso. Temos um director há semanas a fazer provas na China, a ensinar como se decanta e se prova um vintage. Mas a pressão é enorme sobre os generosos. Esta é a primeira ameaça. A segunda tem que ver com a estrutura minifundiária do Douro, a falta de mão-de-obra e a média de idades dos lavradores. Não há nenhuma zona vinícola no mundo com uma estrutura igual à do Douro. E isso está a mudar. Eu passo parte da minha vida no Douro. Eu conheço aquela gente de Provesende, Celeirós, Donelo, todas aquelas aldeias à minha volta, conheço muitos lavradores e eles têm a minha idade ou mais, os filhos já não estão lá. Quem é que vai tomar conta daquilo? Não há milagres. Nos próximos anos, não vai haver gente para fazer os trabalhos no Douro. Vai aumentar o latifúndio?Nós, a Taylor's, a Sogrape, a Sogevinus e a Gran Cruz temos 80% do negócio do vinho do Porto. Somos concorrentes ferozes. É o salve-se quem puder. Mas nem nós, que temos 26 quintas, um pouco mais de mil hectares, vamos conseguir algum dia ser auto-suficientes. É impossível. As 26 quintas só nos garantem 16% das nossas necessidades. Nem o Bill Gates conseguiria ser auto-suficiente no Douro. Nós dependemos de centenas de lavradores. Mas nos próximos dez anos vai mudar muita coisa no Douro. É tão certo como o sol nascer num lado e pôr-se noutro. Dez anos?Viu a falta de mão-de-obra que houve na vindima deste ano? Foi uma coisa terrível. Nós, pela primeira vez, trouxemos trabalhadores da Roménia. Passaram um dia em Alijó, a legalizarem-se, para não termos problemas. Fizemos uma área enorme de dormitórios na Quinta do Bonfim [junto ao Pinhão], uma coisa quase de luxo, e foram esses romenos os primeiros a dormir lá. Não são bem dormitórios. Se for um casal, dorme num quarto próprio. São condições excelentes e tivemos o cuidado de garantir que o empreiteiro que os trouxe lhes paga o valor justo. Não é agradável ter de ir buscar trabalhadores fora do país, mas não há volta a dar. Nós já usamos uma máquina de vindimar em patamares há três anos. Custou meio milhão de euros. Conseguimos algum apoio. A máquina só funciona no bardo exterior. O talude não permite colher no bardo interior. Mas isto é o futuro. Deu bons resultados?Fermentámos lotes de uvas colhidas à mão e outros com uvas vindimadas com a máquina e os resultados são excelentes. Os Symington conseguem ter uma máquina dessas, mas a maioria dos produtores do Douro não consegue…Mas não é preciso comprar. É possível alugar estas máquinas. Nós comprámos esta, mas vamos alugar outras. Um lavrador com 20 hectares ou mais vai ter de ir por este caminho, porque não há gente. Nos seus primeiros tempos na empresa, algum dia ouviu alguém da família falar no aparecimento da Denominação de Origem Controlada (DOC) do Douro?Não. Eles [os Symington] compravam vinho no Dão em barricas. Depois engarrafavam e consumiam em casa durante o ano. Eram do Douro e nem sequer faziam vinho no Douro. Lembro-me bem. E esse vinho do Dão era bem bom. Eles estavam completamente focados no vinho do Porto. Nem lhes passava pela cabeça que o DOC Douro pudesse ser uma possibilidade…Não. O surgimento dos DOC Douro [no final dos anos 80] e a qualidade elevada dos vinhos foi uma das evoluções que mais me agradaram. Quando vejo um Sassicaia, um Tignanello, um Vega Sicília, eu sei que temos no Douro vinhos, no mínimo, com a mesma qualidade. Não estou a falar como vendedor, nem isto é uma fantasia. É uma evidência. Nós [através da distribuidora Portfolio] importamos grandes vinhos da Austrália, do Rhône, da Califórnia que custam centenas de euros. Eu tenho a possibilidade de provar estes vinhos, de falar com os produtores e, quando olho para o que estamos a fazer no Douro, eu sei que mais cedo ou mais tarde também vamos estar naquele nível de preço. Ou seja, só falta o reconhecimento…Sim, há um salto que é preciso dar e que ainda nenhum vinho do Douro deu: entrar no chamado “mercado secundário”. É como apanhar peixe no rio com as mãos, de tão difícil. É quando um vinho começa a entrar nos leilões, como acontece com os vinhos da Borgonha e de Bordéus ou com os supertoscanos. O vinho do Porto sempre esteve nesse mercado secundário, mas os DOC Douro ainda não chegaram lá. Quando é que acha que isso vai acontecer?Não sei. É preciso convencer aquele grupo de gente muito rica que compra esses vinhos. É preciso haver muitas coisas alinhadas para esse salto acontecer, mas temos de o dar. Já se arrependeu de ir para o Alentejo [Os Symington compraram uma propriedade de 207 hectares situada no Parque Natural da serra de São Mamede]?Não, mal seria. O que os levou a apostar no Alentejo?Uma empresa familiar como a nossa tem de ter novos projectos. Já nos foram oferecidos, em tempos, projectos na Califórnia, no Chile, em Espanha e nós recusámos. Nós queremos estar em Portugal. Estamos no Douro, agora no Alentejo, num lugar a 450 metros de altitude, que tem algumas semelhanças com o Douro, e vai levar uns anos até dar dinheiro. Não é uma aposta de retorno rápido, nem nada que se pareça. Um projecto muito importante para mim foi a Prats&Symington, do vinho Chryseia. É uma empresa com 50% do capital da família Prats [de Bordéus] e 50% nosso. Começámos em 1999, há quase 20 anos. Nos primeiros dez anos, o projecto não deu nenhum lucro. Depois comprámos a Quinta de Roriz e pedimos quase todo o dinheiro emprestado. Custou uma fortuna. Agora está a dar alguma rentabilidade, mas não é muito grande. Fazer um vinho com a qualidade do Chryseia não é fácil. A rejeição de uvas é muito grande. Depois há as barricas. O custo é enorme. Não é fácil ganhar dinheiro. Sabe onde está o lucro? Quando se vende o projecto a um milionário. É por isso que é muito importante criar valor em torno de uma vinha, de grandes vinhos, construir uma marca. Ganha-se muito dinheiro no negócio do vinho em Portugal. Se não ganhassem, não estavam no negócio. O Porto vintage 2016 é financeiramente importante para nós, é verdade. Obviamente que dá dinheiro, mas são seis meses a promover o vinho em todo o mundo. É um trabalho medonho. E temos apenas três vintage em cada década. Temos consultores que nos dizem: “Olhando para a vossa empresa, para as quintas, para os terrenos em Gaia, para os armazéns e tudo o mais, para o seu valor, e vendo os resultados anuais nos últimos dez anos, vocês deviam vender e investir o dinheiro noutro negócio que ganhavam mais. ” É verdade que temos uma empresa saudável e com bastante património. Mas, se virmos bem, são poucas as empresas a nível mundial que atingem muito bons resultados com a venda de vinho. É por ser tão difícil que vendem o Chryseia tão cedo?Nós podíamos só lançar o vinho ao fim de quatro ou cinco anos, mas seria uma alteração estratégica muito grande. Não íamos ter vinho para vender. Estar quatro anos sem vinho no mercado é perigoso. Os vendedores esquecem. Obviamente que há um meio do caminho. Eu sei que em Inglaterra, por exemplo, há uma grande resistência. Os grandes restaurantes e as grandes garrafeiras não querem o vinho tão novo. É uma questão pertinente, sem dúvida. Mas a grande tradição de Bordéus, da Borgonha e do Porto vintage é vender en primeur [vinhos vendidos imediatamente a seguir à colheita]. Vão investir nos vinhos verdes?Talvez. Não temos nada, nenhum projecto. Mas se formos um dia para o vinho verde seria do mesmo estilo da quinta que comprámos no Alentejo. Qualidade, high end. São projectos que demoram muitos anos a afirmar-se. O vinho verde, pela qualidade com que se está a fazer hoje em dia, tem interesse e fica aqui perto, mas o Douro vai claramente continuar nos próximos anos a ser o grande foco. Não querem ser uma segunda Sogrape?Não. Veja por nós. Por mim, pelo Charles, pelo Johnny, pelo Rupert ou pelo Dominic. Todos temos vinha no Douro. Eu este ano tive um prejuízo enorme. O rendimento foi 40% abaixo da média. Já disse ao Charles [o primo responsável pela enologia da empresa]: ou pagas melhor ou vou vender ao Dirk [Niepoort]. [risos]Ganham mais dinheiro no vinho do Porto ou no DOC Douro?Muito mais no vinho do Porto. Não estamos a falar em volume. Em termos de margem de lucro?No vinho do Porto, mas não nos vinhos correntes, em que a margem é horrível. Mas nos grandes vinhos do Porto, mal de nós se as margens não fossem melhores. Por que é que apostam então cada vez mais nos vinhos do Douro?Os vinhos do Douro representam 8% do nosso negócio, à volta disso. Nós achamos que todo o negócio do DOC Douro tem pés de barro. Estamos a apostar, temos um projecto para fazer uma adega na Quinta de Ataíde, no Vale da Vilariça, vamos continuar a investir fortemente nessa área, mas é uma área muito difícil. Para mim, é tão óbvio o perigo que estamos a correr em permitir vinhos tão baratos… o Douro merece outro estatuto e nós estamos a minar o futuro do Douro. Fico profundamente triste ao ver a visão curta de muita gente. É o “deixa andar”, porque mais cedo ou mais tarde os preços vão subir gradualmente, não há problema. Moralmente, não podia ser mais injusto para a lavoura. É escandaloso o que se está passar. Se pagarmos uma consultoria a uma empresa como a McKinsey para estudar o que é o Douro, eles vão dizer: “Vocês são malucos. Vocês têm este custo de produção, têm esta qualidade, mas estão a colocar nas prateleiras vinhos ao mesmo preço dos low-cost, do Chile, da África do Sul ou do Sul de Espanha. ” Os coleccionadores têm na mente o valor dos vinhos do mundo: há Bordéus, há Borgonha, há isto e aquilo e onde está o Douro na mente do dono de uma garrafeira? Não está em termos de qualidade e de preço entre os bons. Em Portugal a situação é diferente. No seu mundo e no meu. Fale com uma pessoa que trabalha numa fábrica em Guimarães que queira um Alentejo ou um Douro para o fim-de-semana. Pode escolher porque o preço é igual. Porque há excesso de produção?Mas isso é muito mau. Para o consumidor em Guimarães ou em Braga ou Portimão, é indiferente ser Alentejo ou Douro porque o preço é igual. Isso é péssimo. Mas, no estrangeiro, quando se quer comprar um vinho caro compra-se francês e em Portugal quando se compra vinho caro normalmente compra-se Douro. Estou de acordo. Há uma montanha que temos de subir e uma batalha que temos de ganhar. E vamos lá. Mas estamos a piorar o nosso argumento porque há vinhos do Douro nos supermercados demasiado baratos. Como se resolve isso?Mais cedo ou mais tarde, vai ficar resolvido. A economia funciona. Quando o lavrador não tem rendimento, abandona. Vai acontecer. Agora vai ser lento porque o benefício [sistema de distribuição dos direitos de produção de vinho do Porto, que estabelece quantidades e preços de produção] vai mantendo a situação. Portanto, o benefício é uma máscara de oxigénio que permite que o vinho do Porto seja vendido barato?Totalmente. No Alentejo fale-se com o João Portugal Ramos ou com a equipa do Esporão para se perceber. Há muitos lavradores que vendem as uvas à Cooperativa de Borba ou ao Esporão. O preço sobe e baixa consoante a natureza do ano. Há claramente um ciclo que acontece e quando há vinhos a mais há abandono. A Cooperativa ou o Esporão baixam os preços e as pessoas abandonam. No Douro, isso não acontece porque há o benefício. Mas a longo prazo vai acontecer. O beneficio, vistos os volumes de vinho do Porto, vai continuar a baixar. Depois de dizer isto tudo estou profundamente optimista sobre o futuro do Douro. Aquelas terras são únicas. Este ano estive na Austrália, no ano passado estive na Califórnia e em Fevereiro vou para a África do Sul. Eu vejo o que eles têm e comparo: o que temos no Douro é um tesouro fabuloso que está a ser muito maltratado. Há uma conjugação infeliz de gente em Lisboa que não percebe, que sabe dos vintage de 100 pontos, dos Barca Velha e vêem que 60% das exportações em valor dos vinhos portugueses vêm do Douro. Eles olham para isto e acham que fazemos coisas maravilhosas, que é tudo muito bom, que o negócio corre bem e que nós estamos sempre a reclamar; depois aquilo é complicado e não dá para se perceber bem. Há uma falta de conhecimento profundo em Lisboa e depois há interesses instalados que tendem a fazer com que uvas excelentes se vendam a 30 cêntimos o quilo. Que interesses instalados são esses?Eu não faço nenhuma crítica. Se um dia fizesse uma adega pequena na minha Quinta das Netas, na estrada Sabrosa-Pinhão, punha um pequeno reclame a dizer que comprava uvas Touriga Nacional a 40 cêntimos o quilo e teria muita gente a bater à porta para me vender essas uvas. Eu não critico ninguém por comprar uvas a preços de mercado, só um maluco é que paga o dobro. Mas o mal é mesmo o preço de mercado. O que temos de fazer é adaptar o sistema para ter um tipo de benefício para o Douro DOC. Quotas para o Douro DOC?Sim. Ou abolir o benefício para o vinho do Porto, o que não se pode fazer porque seria a ruína do Douro. Quando regressou de Inglaterra, era mais fácil administrar um grupo de empresas do vinho do Porto do que agora?Era muito mais simples. Mandava-se uma carta para o importador da Holanda a dizer que o aumento de preços para o ano ia ser de 5%. A carta ia e esperávamos um mês pela resposta. Agora o raio do holandês [risos] está ao telefone dois segundos depois a dizer que os preços são inaceitáveis. Tem saudades?Era muito mais calmo. Havia uma forte concorrência, estavam cá as multinacionais e nós tínhamos muito medo delas por causa do seu poder financeiro brutal e da sua rede de distribuição — a Seagram tinha até uma cadeia de lojas no Reino Unido. Mas, olhando para trás, estou satisfeito. A empresa tem outro estatuto em termos de imagem. Não tínhamos muita vinha, só tínhamos a Quinta do Bonfim; a geração do meu pai foi obrigada a vender a Quinta do Zimbro e a Senhora da Ribeira porque simplesmente não havia dinheiro. Quando comprámos a Graham’s, os meus pais e os meus tios tiveram de vender os Malvedos [a quinta emblemática desta empresa, junto a Foz Tua]. Poucos anos mais tarde, conseguimos comprar a quinta, mas imagine o que é comprar uma marca como a Graham’s e não ficar com a quinta… Não havia dinheiro. Aqui atrás [a entrevista decorreu nas Caves 1896 da Graham’s, em Vila Nova de Gaia], estes terrenos deste lado eram todos da Graham’s e tinham sido vendidos pelos antigos donos da Graham’s para pagar ao pessoal. Os meus pais tiveram de pedir muito dinheiro emprestado ao Banco Português do Atlântico para comprar a Graham’s em 1970. E estavam assustados. Não sabiam como iam pagar os empréstimos. Quando chega, em 1979, já tinham comprado os Malvedos?Não, comprámos pouco depois. Eu dizia: isto é impossível. Havia dois bichos a roer a empresa. Um era a falta de vinha. Outro era a imagem da empresa. Os meus tios e o meu pai eram de uma geração nascida muito antes da guerra e dedicaram-se mais de 100% a isto, mas não tinham aquela aprendizagem necessária em termos de marketing dos vinhos. Viajavam muito. Eu lembro-me do meu pai constantemente a partir. Ia com a minha mãe ao aeroporto e ele seguia durante semanas para a Dinamarca, a Holanda. Estava constantemente em viagem. Na vindima, estava no Douro, depois era viagem constante. Mas a minha geração conseguiu duas coisas: criar um património importante de vinha no Douro e criar a imagem em volta dos nossos vinhos nos mercados internacionais. Isso foi muito importante. O Paul ainda assistiu ao nascimento do fabuloso Dow’s vintage de 1980?Sim, em 1979 já cá estava e assisti ao Dow’s 80. Mas mesmo nessa época havia coisas interessantes a assinalar. Não houve lucro nenhum para nenhuma empresa desde o início dos anos 30 até aos 1963. Foram 30 anos de zero lucros. O Douro sofreu, fala-se ainda hoje dos anos de fome, durante a guerra não houve exportações nem havia consumo nacional. O meu pai ia de eléctrico para Gaia. Não tínhamos carro. As únicas férias que tivemos quando era miúdo foi em Sanxenxo, na Galiza. Havia um pequeno hotel que já não existe, de duas estrelas. Isto é só para contar a realidade do vinho do Porto daqueles anos. Não havia dinheiro, foi aí que vendemos as duas quintas. Só com o vintage de 1963 é que surgiu a luz ao fundo do túnel. Aí o meu pai disse que tinha tomado “a decisão certa de regressar depois da guerra [II Guerra Mundial]” para trabalhar com o pai dele, o meu avô. Eu nasci numa casa alugada no Pinheiro Manso [no Porto] e em 1967 é que o meu pai comprou a casa, na Maia. Foi a primeira casa dele. Havia a ideia no Douro e no Porto de que os ingleses eram todos muito ricos. Não havia margens no negócio. Só depois, nos anos 60 é que começou a recuperação. A Cockburn's lançou em 1969 o Special Reserve, a Taylor’s lançou o LBV poucos anos mais tarde e a procura da qualidade começou a despertar. Antes o vinho do Porto era ruby, e barato, e vendido com pouca margem, e depois o vintage duas ou três vezes em cada década. Não havia nada entre os dois. Depois começou-se a criar um novo mercado e correu bem. Com que idade foi para Inglaterra estudar?Com 14 anos. E regressou com quantos?Com 24. E depois de dez anos em Londres, regressar a esse Porto parado no tempo não foi um aborrecimento?Não. Senti-me sempre não muito inglês. Não me entrou na cabeça não regressar. Mas depois de estudar ainda esteve um ano a trabalhar em Londres. Porquê?Eu casei e a minha mulher não queria vir. Não falava português e ela pediu-me para ficar lá dois ou três anos depois de casarmos. Mas o meu pai estava sempre ao telefone: “Tens de vir, tens de vir. ” Foi na época do 25 de Abril, quando o país estava muito complicado. Repetiu esse modelo de educação com os seus filhos. Foram estudar para Inglaterra. . . Foi uma asneira. O meu filho ainda não me perdoou. Está cá, tem duas filhas e diz-me: “Não vou fazer o que me fizeste. ” Dois regressaram, outro quer vir para o ano e só a minha filha, que casou, duvido de que regresse. Hoje, Portugal também é um país mais avançado do que nessa altura…Olhe para a qualidade da Universidade do Porto! Estive lá quatro anos no conselho geral. A Faculdade de Engenharia está entre as 100 melhores do mundo. E há 26 mil universidades no mundo, vejam bem…Qual é a melhor recordação que leva nestes anos todo à frente da Symington?Talvez os grandes prémios. Ver o Dow’s ter 100 pontos na Wine Spectator é bom. A Wine Spectator é muito poderosa. Com todo o respeito pela Fugas ou pela Decanter ou pela Grandes Escolhas, nunca vi uma revista mexer assim com o mercado. O Dow’s de 2007 e 2011 estão a liderar os leilões internacionais de Porto vintage de há quatro anos para cá. Nós não ganhamos nada, o vinho foi vendido en primeur, mas o facto de haver gente a comprar e a vender o nosso vinho no mercado secundário fez com que o valor triplicasse. O Dow’s 2011 estava a 450 euros a caixa e hoje em dia está entre 1400 e 1500. O valor triplicou. E o 2007 passou de 450 para 780 euros. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Se tivesse de escolher um vinho do Porto especialíssimo, escolhia um tawny ou um vintage?Um vintage. Porque se está a beber história. Adoro tawnys velhos. Mas um vintage tem outra coisa. Fechou-se lá dentro com a rolha há não sei quantos anos. Sempre que abro um vintage penso no que estava a acontecer nessa altura. Penso em quem o fez, se foi o meu pai, se foi James ou o Peter, e penso nas condições do mundo nessa altura. Qual é o grande vinho do seu mandato?[silêncio longo] Acho que tem de ser o Dow’s 2007, que ainda é um miúdo. Eu tive a sorte de trabalhar estes anos com o Charles. O Peter [pai do Charles, conhecido no sector como “senhor nariz”] foi muito, muito bom. Mas eu acho que o Charles é ainda melhor. Tem de ser o 2011 ou o 2007 [já feitos por Charles]. Atirou-nos para um outro patamar. Há duas coisas que levo comigo. Uma é o respeito do pessoal. A maioria tem respeito por mim. A segunda foi ter ajudado a colocar a empresa entre as melhores. Financeiramente estou bem, tenho uma casa em Valadares, tenho uma quinta no Douro que me dá enorme gozo, onde vou passar grande parte da minha vida. Mas muito mais importante do que a situação financeira é ter o respeito do nosso pessoal. Das engarrafadeiras, do caseiro na Cavadinha, do senhor Américo, do tanoeiro. Felizmente que esse valor é muito forte nos meus primos. Se fosse só pela questão financeira, nós tínhamos feito muitas operações, de comprar e vender. Nós somos muito diferentes, há uma corrente muito forte entre nós: herdámos isto e devemos entregá-lo melhor à nova geração. Eu nunca pensei nisto como meu. Herdei do meu pai uma parte da empresa e vou entregá-la aos meus filhos e espero que eles tenham a mesma atitude. Se tivesse um primo que quisesse a todo o custo ter uma casa enorme na Quinta do Lago e um barco, era complicado. Mas o que eles querem é o que eu quero. Eles gostam realmente do Douro. Hoje [uma sexta-feira] ao fim do dia vou estar no meio da vinha com o meu cão maluco. O que vai fazer a seguir?Vou aprender a conduzir um tractor no Douro. Não sei conduzir no meio da vinha.
REFERÊNCIAS:
Se conduzires, não estejas no Facebook, no Instagram, no Snapchat, no WhatsApp
Como se não bastasse conduzir ao telefone, agora há o hábito, mortal, de conduzir enquanto se publica uma foto no Instagram ou um comentário no “Face”, sem esquecer o FaceTime, conversas e imagens no WhatsApp e as brincadeiras do “Snap”. (...)

Se conduzires, não estejas no Facebook, no Instagram, no Snapchat, no WhatsApp
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Como se não bastasse conduzir ao telefone, agora há o hábito, mortal, de conduzir enquanto se publica uma foto no Instagram ou um comentário no “Face”, sem esquecer o FaceTime, conversas e imagens no WhatsApp e as brincadeiras do “Snap”.
TEXTO: Entretanto já morreram 14 pessoas nas estradas, 14 famílias cujo Natal ficará marcado para sempre pelas piores razões. Na RTP um oficial da GNR insiste na ausência de álcool e respeito pelos limites de velocidade durante esta época, mas não só. Este ano há uma novidade: as redes sociais. As redes sociais? Sim, ouvi bem, as redes sociais. Como se não bastasse conduzir ao telefone, agora há o hábito, mortal, de conduzir enquanto se publica uma foto no Instagram ou um comentário no “Face”, sem esquecer o FaceTime, conversas e imagens no WhatsApp e as brincadeiras do “Snap”. Conclusão, conduzir não basta, a vida é um circo e uma hora na auto-estrada uma tarefa ciclópica onde a capacidade de concentração de quem vai ao volante é zero e a necessidade de distracção uma constante imperativa, não, urgente. Os alunos com quem trabalho todos os dias têm, por norma, dificuldades de concentração. Vítimas dos telemóveis e de famílias desestruturadas onde não moram regras, relações sociais e amor, têm uma necessidade de atenção e uma incapacidade de manter a atenção crónicas. É neste estado que preenchem os dias e as noites de escolas onde, literalmente, os miúdos marinham parede acima. Os miúdos com quem trabalho são isso mesmo, miúdos, ainda não adultos, mas um dia serão adultos. E, se nada fizermos, serão incapazes das tarefas mais simples como ir ao médico e preencher uma ficha de inscrição, saber o caminho para chegar a casa de alguém ou fazer um teste, quanto mais conduzir um automóvel — tudo tarefas onde a concentração é um requisito mínimo para quem pretende fazer parte desta sociedade. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. É, portanto, com surpresa que constato ver nas estradas portuguesas condutores cuja capacidade de concentração e necessidade de atenção, disfarçadas pelo narcisismo implícito das redes sociais, acabam por estar a par e par com os alunos com quem trabalho. Este Natal já morreram 14 pessoas na estrada… e ainda falta o ano novo. Vítimas desta necessidade constante de estímulos, likes, emojis e feedback, acabamos a tirar uma selfie com uma mão enquanto a outra conduz. Sem olhar para a estrada. Os olhos estão no espelho do telemóvel no momento exacto em que o carro sai da via, entra pela valeta e capota a viatura e uma família inteira. Aturdido, antes de perder a vida e os sentidos, ainda há tempo para partilhar no “Insta”: venham os likes. . . Se conduzires não bebas, respeita os limites de velocidade, descansa de duas em duas horas e, por favor, não estejas no Facebook, no Instagram, no Snapchat, no WhatsApp, entre outras redes sociais. Pensa nos outros que pensam mais em si do que no seu perfil do Facebook. E quando te quiseres distrair, podes sempre ouvir música ou a velhinha, mas ainda actual e sempre fiel, rádio.
REFERÊNCIAS:
Entidades GNR
Anticorpos travam aumento de peso em macacos obesos
Equipa desenvolveu um anticorpo que actua nas reservas de gordura, combatendo o aumento de peso e reduzindo o apetite. As experiências foram feitas em ratos e macacos, mas os cientistas acreditam que o método pode vir a ser útil nos humanos. (...)

Anticorpos travam aumento de peso em macacos obesos
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DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Equipa desenvolveu um anticorpo que actua nas reservas de gordura, combatendo o aumento de peso e reduzindo o apetite. As experiências foram feitas em ratos e macacos, mas os cientistas acreditam que o método pode vir a ser útil nos humanos.
TEXTO: Os investigadores conseguiram aquilo que chamam um efeito “antiobesidade”, primeiro em ratinhos e depois em macacos. Nas experiências realizadas foi explorado o conhecimento adquirido em estudos genéticos que já apontavam para o papel de um receptor específico – o receptor do peptídeo inibidor gástrico (GIP), ou peptídeo insulinotrópico dependente de glicose –, que tem sido caracterizado como um promotor da obesidade. Os cientistas desenvolveram então um anticorpo dirigido a este receptor do GIP que usaram em ratos. Uma versão humana do anticorpo (denominada hGIPR-Ab) promoveu a perda de peso em macacos obesos, um efeito que foi melhorado quando foi adicionado um tratamento aprovado para diabetes de tipo 2. É toda uma elaborada receita para ajudar a combater a epidemia da obesidade, um problema de saúde pública global que afectará já mais de 650 milhões de pessoas em todo o mundo. Os ingredientes desta receita são anticorpos que têm como alvo um receptor ligado à criação de reservas de gordura. É, dizem, os autores do estudo publicado na revista Science Translational Medicine, uma potencial terapia para a obesidade. Mas, antes de “alimentar” as esperanças de quem sofre por causa do aumento do peso, é preciso dizer que os cientistas sublinham que o trabalho ainda tem várias limitações e, por isso, é preciso fazer mais estudos para confirmar a eficácia e segurança desta eventual “terapia antiobesidade”. Ainda assim, os primeiros resultados relatados no artigo são motivo para optimismo q. b. Os cientistas envolvidos neste estudo usaram os resultados obtidos em investigações anteriores que já mostravam que a hormona GIP promove a formação de gordura e desempenha um papel no desenvolvimento da obesidade. Já se tinha observado, por exemplo, que os ratos que não têm GIPR (o receptor para o GIP) são resistentes ao ganho de peso, mesmo quando alimentados com uma dieta indutora de obesidade. Agora, Elizabeth Killion, investigadora no Departamento de Distúrbios Cardiometabólicos na empresa biofarmacêutica norte-americana Amgen, coordenou o trabalho de uma equipa que desenvolveu um anticorpo contra o GIPR e investigou o seu potencial para combater a obesidade. Os cientistas “administraram este anticorpo a modelos ratos obesos e descobriram que os roedores apresentavam uma redução média na massa de gordura de 37%, assim como níveis mais baixos de glicose no sangue e triglicerídeos (frequentemente um indicador de doença hepática gordurosa)”, lê-se no resumo do artigo. A versão humana do mesmo anticorpo (a hGIPR-Ab) promoveu uma perda de peso em macacos obesos, um efeito que foi melhorado quando se adicionou nesta receita um ingrediente chamado “dulaglutida”, um tratamento aprovado para diabetes. Este ingrediente adicional é descrito no artigo como um promotor da acção do receptor de GLP-1 (que é um regulador da glicose). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. As análises realizadas posteriormente mostraram que a versão humana do anticorpo terá conseguido produzir o efeito “anti-obesidade” porque se ligou ao receptor do GIP impedindo o peptídeo inibidor gástrico de exercer os seus efeitos pró-obesidade. No artigo refere-se ainda que a primeira fase da experiência, com a administração do anticorpo em ratos, protegeu os animais do ganho de peso corporal e também “melhorou vários parâmetros metabólicos”, tendo sido igualmente associado a uma “redução da ingestão alimentar”, ou seja, do apetite. Nos macacos a perda de peso terá sido ainda mais pronunciada. E, nos dois casos, os efeitos foram melhorados quando se adicionou o tratamento para a diabetes de tipo 2. Confirmaram também, no modelo de ratos, que este “tratamento antiobesidade” não causava danos pancreáticos. “Em conclusão, os dados fornecem uma validação pré-clínica de uma abordagem terapêutica para tratar a obesidade com anticorpos anti-GIPR. ”Porém, escrevem os autores no artigo, este estudo “tem várias limitações”. Entre outras, o facto de não ser possível concluir que a receita que junta o anticorpo ao medicamento aprovado para o tratamento de diabetes leve a uma perda de peso superior do que se usarmos apenas o tal fármaco dulaglutida. Isto porque, explicam os autores, no estudo não foram usadas as doses máximas do fármaco para “estabelecer a perda de peso máxima absoluta”. Além disso, referem, o anticorpo que actuou no receptor do GIP “não resultou em melhoria da tolerância à glicose”, ainda que “os efeitos sobre a tolerância à glicose não tenham sido agravados, o que é notável, dada a redução nas concentrações séricas de insulina em jejum e pós-prandial [após a refeição]”. Apesar de considerarem expectável que as alterações na insulina provocadas pelo anticorpo acabem por ter um efeito benéfico no metabolismo sem um impacto negativo na estabilidade da glicose, os cientistas admitem que são necessários mais estudos para esclarecer em detalhe estes possíveis efeitos. Por fim, o estudo refere ainda que foram notadas diferenças nos efeitos farmacológicos nos diferentes animais, mais concretamente “um efeito anoréxico mínimo” no rato e “um efeito mais pronunciado” nos macacos. São resultados que sugerem “diferenças específicas de espécies” na função do receptor do GIP, ficando por saber qual será (neste ponto específico) a espécie mais relevante para os humanos.
REFERÊNCIAS: