BES e GES – Um só responsável? Novos ataques a Ricardo Salgado
Até no boxe é proibido bater em quem foi atirado ao chão. Será Ricardo Salgado o único culpado da queda do BES? (...)

BES e GES – Um só responsável? Novos ataques a Ricardo Salgado
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.168
DATA: 2018-12-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Até no boxe é proibido bater em quem foi atirado ao chão. Será Ricardo Salgado o único culpado da queda do BES?
TEXTO: Voltaram a aumentar, recentemente, os ataques a Ricardo Salgado (RS). Sem novos factos, sem provas, sem qualquer argumento: apenas injúrias. É uma atitude muito feia. Até no boxe é proibido bater em quem foi atirado ao chão. Será RS o único culpado da queda do BES?O BES tinha a sua Assembleia Geral, e as empresas do GES também eram sociedades cujos acionistas reuniam nas respetivas Assembleias Gerais. O Grupo era coordenado por uma “holding”, a Espírito Santo International (ESI); esta elegia um Conselho de Administração, presidido pelo comandante Ricciardi, do qual emanava um Conselho Superior onde estavam representados os cinco grupos de accionistas que eram maioritários da ESI. Este Conselho Superior tinha representantes na área financeira e não financeira. Na área financeira, o presidente era Ricardo Salgado, que era simultaneamente presidente executivo do Banco Espírito Santo (BES). O BES tinha um Conselho de Administração com 22 membros, dos quais dez faziam parte da Comissão Executiva. O “Credit Agricole” estava representado no Conselho de Administração e na Comissão Executiva do BES. Na área não financeira o presidente era Manuel Fernando Espírito Santo. Faziam parte da Comissão Executiva do BES, para além de RS, José Manuel Espírito Santo e José Maria Ricciardi. Se algo correu mal, nalguns destes vários órgãos, a responsabilidade é dos seus titulares, e não de um único indivíduo. RS foi eleito e reeleito, como presidente executivo do BES, durante mais de 22 anos seguidos (1982-2014). Nunca teve contra si uma moção de censura, nem sequer um voto contra. Inclusivamente, o último aumento de capital do BES, de Junho de 2014, foi um sucesso, o que revela que um mês antes da resolução, havia no mercado de capitais uma enorme confiança no BES. E é só ele o culpado?Houve, na gestão do banco, erros, omissões, irregularidades? Não sabemos. Por enquanto, o que é público é que as empresas de auditoria, os consultores externos e os juristas do banco acharam sempre tudo bem. E o culpado é apenas RS? É certo que, em casos como este, só os tribunais poderão um dia esclarecer-nos. Até lá, o comportamento democraticamente correto é acatar a “presunção de inocência”, estabelecida na nossa Constituição de 1976 e, muito antes dela, na Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1945). Entretanto, até os tribunais se pronunciarem, há algumas coisas que parecem ser evidentes:1) O Governo de Passos Coelho/Portas cometeu o grave erro político de deixar falir o BES, quando na mesma crise, nos EUA, país muito mais capitalista do que Portugal, se investiram milhares de milhões, sob proposta dos reguladores ao governo norte-americano (bem mais à direita do que os nossos governantes de 2013-14), a fim de salvar da falência bancos, companhias de seguros e grandes empresas, nomeadamente da indústria automóvel. Na Europa passou-se o mesmo. Só em Portugal se deixou falir o 3. º maior banco privado, e o que maior apoio dava às PME's e às empresas em geral. 2) O Governo PSD/CDS achou que a fórmula encontrada (“Resolução” do BES e criação de dois novos bancos – o banco bom e o banco mau) era a melhor solução. Mas ela foi péssima: o Governo não quis apoiar nenhuma solução para o BES “para não sobrecarregar mais os contribuintes”, mas estes vão ter de pagar muito mais do que se tivesse havido um apoio público ou mesmo uma recapitalização! (O Dr. Vítor Bento já o disse, com base em contas suas, num jornal económico, e talvez o prejuízo do Estado ainda venha a ser maior do que os 15 mil milhões por ele previstos). 3) O Banco de Portugal, e o seu governador, Carlos Costa, também cometeram erros graves nos oito meses que precederam a queda do BES e, só pelo que se sabe por enquanto, o governador foi um dos grandes culpados dessa queda: recebeu uma informação de existência de dificuldades/irregularidades em finais de Novembro de 2013, mas ficou quieto e calado nos seis meses seguintes (decerto a pedido de Passos Coelho, para não prejudicar a “saída limpa” de Portugal do programa da troika); quando decidiu atuar, propôs a saída dos três membros da Comissão Executiva do BES representantes do Grupo Espírito Santo: Ricardo Salgado, José Manuel Espírito Santo e José Maria Ricciardi, e a sua transferência para um Conselho Estratégico que incluiria outras personalidades. Simultaneamente, solicitou a Ricardo Salgado a indicação de um nome para o substituir na Comissão Executiva. Segundo elementos já públicos, de início concordou com o nome de Amílcar Morais Pires, que posteriormente rejeitou. Esta posição errática num momento tão complexo causou uma enorme quebra de confiança no mercado. Entretanto, o governador tinha escrito uma carta e fez declarações públicas a garantir que o BES tinha dinheiro suficiente para ultrapassar a sua crise, mas um mês depois decidiu que não tinha. . . Mais: o Banco de Portugal exigiu ao BES um aumento de capital e aprovou o respetivo “prospeto”: portanto, o governador enganou o mercado. E pior ainda: informou o Presidente Cavaco Silva de que “o BES estava sólido”, o que o Presidente repetiu em público, tendo tido o cuidado de declarar que era essa a informação que recebera do Banco de Portugal. O governador enganou o Presidente da República e levou este, sem querer, a reforçar o engano do mercado. No meio de tudo isto, como é que um semelhante governador não foi demitido, podendo sê-lo? Pior ainda, pasme-se, foi reconduzido. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Chapéus há muitos”, dizia Vasco Santana. “Culpados há muitos”, dizemos todos os que sabemos ler o que vem nos jornais. Na realidade, estou sinceramente convencido de que Passos Coelho e Carlos Costa não queriam destruir o BES, mas apenas levar RS a demitir-se e colocar no seu lugar um primo dele, ex-presidente do Banco de Investimento do grupo. Mas atuaram com tanta incompetência política, na gestão daquela crise, que erraram a pontaria: querendo matar o cavaleiro, mataram o cavalo. E Portugal perdeu um grande banco, o mais internacional de todos, e pode vir a perder muitos milhares de milhões de euros! E ainda gerou uma montanha de lesados que claramente podiam ter sido evitados. Faço votos por que a Comunicação Social, em vez de atacar só um, averigúe as culpas de todos os intervenientes, e seja capaz de informar bem os portugueses com a maior imparcialidade possível. O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
REFERÊNCIAS:
Batalha, um lugar feito de estórias
Parta à descoberta de capítulos da história, das lendas, paisagens e monumentos que fazem da vila da Batalha um ponto de visita obrigatória no Ano Europeu do Património. A vitória celebra-se no Mosteiro, classificado Património da Humanidade pela UNESCO em 1983. (...)

Batalha, um lugar feito de estórias
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Parta à descoberta de capítulos da história, das lendas, paisagens e monumentos que fazem da vila da Batalha um ponto de visita obrigatória no Ano Europeu do Património. A vitória celebra-se no Mosteiro, classificado Património da Humanidade pela UNESCO em 1983.
TEXTO: Perder uma batalha não significa perder a guerra, mas perder uma visita guiada pela Batalha, significa perder o triunfo das tropas portuguesas sobre os castelhanos na Batalha de Aljubarrota em 1385. Uma conquista que levou à construção do Mosteiro de Santa Maria da Vitória (ou Mosteiro da Batalha, se preferir). As portas estão abertas e o conservador de um dos monumentos mais visitados do país começa a visita guiada. “O Mosteiro resulta de uma promessa do Rei D. João I em agradecimento pela vitória que lhe assegurou o trono e garantiu a independência de Portugal”, afirma Pedro Redol. Os olhos estão postos nesta obra grandiosa do Gótico Português, onde dela extravasa a nova corrente artística do Manuelino. Observe o pórtico da fachada principal e o seu trabalho escultório com mais de 70 figuras representadas. Olhe para cima: contemple a rosácea, um belo exemplo do enorme saber fazer dos antigos canteiros. “Mas uma obra desta escala e com este impacto tem uma explicação: para ter o reconhecimento de outras coroas na Europa e para materializar o reconhecimento que, entretanto, lhe foi dado pelo Papa, o Rei D. João I criou uma imagem de afirmação”, prossegue o ex-director do Mosteiro e actual curador com formação na área da História da Arte e Património Cultural. Uma imagem que mobilizou grandiosos recursos humanos e materiais durante quase 200 anos. “O Mosteiro da Batalha foi construído sensivelmente a partir de 1388 e as últimas obras foram terminadas em 1566. São 178 anos”, confirma Pedro Redol. Esta duração justifica a existência, nas suas propostas artísticas, de soluções góticas manuelinas e um breve apontamento renascentista. Uma junção que é atribuída à diversidade dos mestres que dirigiram a obra (como Afonso Domingues, Huguet, Martim Vasques, Fernão D’Évora e Mateus Fernandes) e deu origem a lendas que até hoje são contadas. É o caso da lenda da Abóbada, de Alexandre Herculano, que se localiza no ano de 1401. Reza a lenda, que a construção da abóbada da casa do capítulo do Mosteiro é da autoria de Afonso Domingues, que apesar de cego, a concluiu depois das obras terem sido entregues ao arquitecto Huguet e de este não ter conseguido o seu intento. O objectivo? Distinguir o arquitecto português do estrangeiro, num momento de afirmação nacionalista da cultura portuguesa. “O que é muito curioso é a apropriação sucessiva de história de acordo com os interesses e objectivos de cada época”, comenta Pedro Redol. Na verdade, sabe-se hoje que a abóbada da Casa Capitular não é da autoria de Afonso Domingues, mas sim de Huguet, tendo podido ser reconstruída por Martim Vasques — logo, a lenda é apenas isso mesmo: uma lenda. Factual é o render da guarda, sempre à hora certa, que recebe a Casa do Capítulo em homenagem ao Soldado Desconhecido, composta pelos túmulos de dois militares – um morto na I Grande Guerra e outro na Guerra Colonial. No total, foram quase 200 anos de construção que incentivaram a introdução e o aperfeiçoamento de várias artes e de novas técnicas, como aconteceu com o famoso vitral. Segundo alguns historiadores, esta técnica terá mesmo sido introduzida em Portugal, pela primeira vez, no Mosteiro da Batalha. “Existia um programa inicial que compreendia aquilo que é normal em cada Convento que era uma igreja, o claustro e as pendências que estão à volta do Claustro, além da sacristia, que está à volta da igreja”, diz o autor de publicações relevantes sobre o Mosteiro de Santa Maria da Vitória. - Universidade de Coimbra, Alta e Sofia- Mosteiro da Batalha- Mosteiro de Alcobaça- Convento de Cristo em TomarE assim, vários acrescentos foram introduzidos no projecto inicial, resultando um vasto conjunto monástico que actualmente apresenta uma igreja, dois claustros com dependências anexas e dois panteões reais, a Capela do Fundador e as Capelas Imperfeitas — que sofreu a última intervenção a fundo na década de 30 do século XVI. Actualmente, a nave central da igreja eleva-se a 32, 5 metros e apoia-se sobre oito colunas de cada lado. Além das capelas e dos claustros, pode ainda visitar o dormitório, o refeitório e a cozinha do mosteiro. Mais tarde, D. João I doou o Mosteiro à ordem de S. Domingos e de Frei Lourenço Lampreia, confessor do monarca. Na posse dos dominicanos até à extinção das ordens religiosas em 1834, o Mosteiro foi classificado como monumento nacional já no século XX, em 1910. Em 1983 foi um dos primeiros monumentos inscritos na lista do património mundial da UNESCO. Já a vila da Batalha foi também palco de momentos históricos memoráveis, com vestígios de ocupação desde o Paleolítico, passando pela presença romana na importante cidade de Colippo, até às decisivas lutas pela independência. De todas essas marcas, resulta uma herança cultural incontornável. “A Batalha já foi maior do que é, essa dimensão deveu-a em grande parte a uma coisa que é desconhecida e acho que é muito interessante para um visitante. Está relacionada com o facto de os dominicanos terem tido uma ordem religiosa de elite que se dedicava ao estudo e à prática do ensino da teologia. E, aliás, grandes personalidades passaram por aqui”, relata Pedro Redol. “Nós sabemos que houve leigos (pessoas que não pertenciam à comunidade da Batalha ou a outra comunidade dominicana ou religiosa) que puderam fazer aqui os seus estudos e depois submetiam-se a exame nas universidades mais próximas que eram a de Coimbra e Salamanca. É um dado importante que explica também o movimento, importância e dimensão que esta comunidade e este edifício tinham na altura. ”Uma grandeza que, nos dias de hoje, transparece no rico património edificado. Como é o caso do edifício da primeira posição do Exército Português que se localiza a menos de 500 metros do Mosteiro de Santa Maria da Vitória. Há 600 anos, este foi o primeiro local escolhido para travar o avanço do exército castelhano por Nuno Álvares Pereira. O condestável militar (como o intitulam) da Batalha de Aljubarrota que está representado na estátua equestre do século XX mesmo ao lado do Mosteiro. Uma figura incontornável da Idade Média que foi canonizado pelo Papa Bento XVI, em Abril de 2009, passando a designar-se São Nuno de Santa Maria. De seguida, a caminho do Oeste, na zona especial de protecção do Mosteiro encontra a Ponte da Boutaca, de traça neo-gótica, cuja construção terá começado em 1862 durante o reinado de D. Luís. A não perder:Durante a visita, deixe-se contagiar pela genuinidade e espírito afável das gentes da Batalha e regresse à Praça Mouzinho de Albuquerque onde encontrará o Pelourinho. Caminhe mais um pouco e observe ao portal manuelino da Igreja Matriz da Exaltação de Santa Cruz e as janelas barrocas decoradas da Capela de Santa Casa da Misericórdia. Pelo caminho, recupere forças com a gastronomia típica que herda receitas repletas de sabor e de histórias de gerações. Do tachadéu às morcelas de arroz, o receituário da Batalha é centrado na carne e no bacalhau. Nas festas populares e romarias encontra ainda doçaria tradicional como o pudim de Batalha, os bolos de ferradura e as cavacas de Reguengo do Fetal. A visita ao Património Mundial do Centro de Portugal, acompanhada pela Turismo Centro de Portugal, continua pela diversidade das paisagens únicas com planaltos verdejantes e campos de cultivo. Explore os encantos do Maciço Calcário Estremenho e aventure-se pelas suas formações geológicas únicas. O ecoparque da Pia do Urso é o sítio ideal para se encantar pelos caminhos, sons e perfumes da vista deslumbrante. Uma aldeia recuperada onde está instalado o primeiro ecoparque sensorial destinado a cegos. Aqui, todos, sem excepção, podem despertar o tacto, o olfacto e a audição numa experiência mágica e quase tão renovadora como a beleza extraordinária das Grutas da Moeda. Lá estão dezenas de estalagmites e estalactites que apresentam uma profundidade de 45 metros. Atire uma moeda e peça um desejo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas não se despeça da vila sem partir à descoberta deste território por um dos quatro percursos pedestres sinalizados. Arrisque no Buraco Roto, com uma duração de mais de duas horas, que se inicia e termina no Largo da Fonte. Na área da Pia da Ovelha poderá observar a prática de escalada e, mais a sul, aprecie uma chaminé natural que resulta da erosão da água e do vento. Nesta associação entre a história e o património foi-se construindo um concelho que convida a ver mais do que uma obra-prima da arquitectura. Viajar por estas paragens revela-se uma contínua descoberta de séculos de história, onde se vivem momentos de tranquilidade em comunhão com a natureza.
REFERÊNCIAS:
Líder do CDS alerta para “cortes profundíssimos” no investimento
Assunção Cristas aproveitou as jornadas parlamentares para desafiar o Governo a tentar um “melhor resultado negocial” junto da Comissão em termos de fundos europeus. (...)

Líder do CDS alerta para “cortes profundíssimos” no investimento
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Assunção Cristas aproveitou as jornadas parlamentares para desafiar o Governo a tentar um “melhor resultado negocial” junto da Comissão em termos de fundos europeus.
TEXTO: Numa fase “essencial da negociação europeia” do novo quadro de fundos comunitários do Portugal 2030, a presidente do CDS, Assunção Cristas, aproveitou esta segunda-feira o primeiro dia das jornadas parlamentares do seu partido, a decorrer em Viana do Castelo, para zurzir no Governo e dizer que o que o país tem, "neste momento, é uma proposta da Comissão Europeia que é negativa”. Advertindo que pode haver “cortes profundíssimos no investimento produtivo em Portugal” – o que levou o CDS a apresentar no início do ano um projecto de resolução sobre fundos europeus –, Assunção Cristas lançou um desafio ao Governo para que tente obter, junto de Bruxelas, “um melhor resultado negocial”. Na sua primeira intervenção no âmbito das Jornadas Parlamentares do CDS, a líder centrista lançou um repto ao Governo no sentido de apoiar os sectores produtivos, seja através de uma eventual “neutralidade fiscal”, em matéria de combustíveis, seja por meio de uma compensação nacional, em caso de perdas nos fundos comunitários. O projecto de resolução sobre fundos comunitários que o CDS apresentou será debatido a 30 de Maio no Parlamento e, nesta segunda-feira, Cristas fez questão de lembrar que o seu partido foi o “único a fazê-lo”, numa alusão ao recente acordo que PS e PSD celebraram sobre fundos europeus. E no dia em que os combustíveis sofreram um novo aumento, a também deputada acusou o Governo de António Costa de não cumprir a promessa de baixar a carga fiscal neste sector, quando a matéria-prima sobre. E voltou a puxar pelos louros. “O CDS há muito tempo que apresentou projectos no Parlamento para que o Governo cumpra a sua palavra e garanta neutralidade fiscal nesta matéria, para que não haja uma escalada de preços dos combustíveis que afectam diariamente os sectores produtivos”. Depois de uma visita a uma exploração agrícola em Freixo, no concelho de Ponte de Lima, a líder centrista reuniu-se com um grupo de pescadores da Cooperativa de Produtores de Pesca de Viana do Castelo, que lhe entregaram um caderno de encargos com 12 pontos, reivindicando um plano estratégico para o sector. Durante o encontro, Cristas fez várias críticas ao executivo do PS, acusando-o de não garantir instrumentos para defender as posições portuguesas, por exemplo no que toca aos stocks de pesca. Mas se de manhã o Governo já tinha estado debaixo de uma chuva de críticas, da parte da tarde o primeiro-ministro foi vergastado pelas acusações de Nuno Magalhães e de Nuno Melo, no painel sobre fundos europeus, aliás, um dos temas das jornadas. O líder da bancada parlamentar passou em revista algumas matérias sensíveis, como a saúde, a justiça e os fundos estruturais para declarar: “O que nos choca e estranhamos é que, da parte do PS, haja a inacção que tem havido, do ponto de vista do que é negociar um bom acordo para Portugal”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Insurgindo-se contra o Governo por “não dar a devida atenção à Política Agrícola Comum [PAC] e de estar a trair um objectivo vital”, Nuno Magalhães sublinhou ainda que a “inacção” do Governo relativamente à negociação do novo quadro comunitário pode levar a cortes em matéria de coesão e da PAC". E depois virou-se para a justiça – um tema escolhido pelo PSD para debater ao longo desta semana –, para dizer que nenhum partido se juntou ainda ao CDS na apresentação de propostas, em resposta a um repto do Presidente da República. “A um repto do Presidente da República, a esquerda – e já agora também o PSD – respondem 'bola'”, acusou. Cavalgando as críticas de Cristas sobre o aumento dos combustíveis, Magalhães disse que Portugal “é hoje um país que paga impostos como nunca". "E o dr. António Costa quer acrescentar a estes, que os portugueses já pagam, mais impostos a nível europeu - para que o dr. António Costa faça boa figura lá fora”. Contra a criação de impostos europeus pronunciou-se também Nuno Melo. O eurodeputado referiu que o CDS é contra impostos europeus por “razões conceptuais”, mas também por considerar que o acréscimo de receitas que estes poderiam gerar não os torna necessários.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PSD
Empresa portuguesa que comprou ovos sob suspeita serviu-os na cantina
Os 180 ovos que puseram Portugal na lista de países afectados pelo pesticida tóxico fipronil foram adquiridos e consumidos na Bélgica, depois de ter sido lançado o alerta europeu. (...)

Empresa portuguesa que comprou ovos sob suspeita serviu-os na cantina
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os 180 ovos que puseram Portugal na lista de países afectados pelo pesticida tóxico fipronil foram adquiridos e consumidos na Bélgica, depois de ter sido lançado o alerta europeu.
TEXTO: Seis caixas de 30 ovos compradas por um empresário português a operar na Bélgica motivaram a entrada de Portugal na lista dos 26 Estados-membros afectados pelo comércio ou distribuição de ovos contaminados com o pesticida tóxico fipronil, reunida pela Comissão Europeia. No total, a empresa de construção civil portuguesa, a que o Governo chamou “consumidor final”, adquiriu 180 ovos sinalizados como potencialmente contaminados. Os produtos foram utilizados na cantina da empresa, segundo a ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica), mas não se sabe se estavam de facto contaminados. O facto de os ovos terem sido distribuídos numa cantina é uma questão secundária para o Ministério da Agricultura português, que diz ao PÚBLICO, através do seu gabinete de comunicação, que os ovos “já tinham sido consumidos”. A mesma fonte sublinha que não é certo que os ovos estivessem contaminados. O Governo também não sabe esclarecer se os funcionários da empresa que comeram os ovos são portugueses. “O que importa aqui é que Portugal foi sinalizado por esse motivo e nunca chegaram a entrar em território português”, vinca. O alerta foi dado na segunda-feira, 4 de Setembro, e o “conteúdo não refere qualquer importação, comércio ou distribuição para Portugal”, acrescenta, por sua vez, a ASAE, em resposta por escrito a perguntas do PÚBLICO. “Segundo a informação reportada, trata-se de um registo de uma transacção entre um comprador português e um vendedor belga”, aclara a inspectora-chefe Ana Oliveira. Por não ter ocorrido revenda do produto, e apesar da quantidade de ovos comprados se aproximar das duas centenas, o empresário português é considerado um “consumidor final”, nota ainda o Ministério da Agricultura. Já a inclusão de Portugal na lista da Comissão Europeia, apesar de os ovos contaminados ou sob suspeita não terem entrado em território português, deveu-se ao “mecanismo de alerta rápido”, o RASFF (Rapid Alert System for Food and Feed), um “sistema informático em rede que passa por todos os Estados-membros e que procura transacções de produtos suspeitos” e detectou que a venda foi feita a um “empresário português que criou e registou a empresa em Portugal, apesar de estar a operar noutro sítio e foi com a identificação da sua empresa que pediu a facturação”, explica a mesma fonte do executivo. O Governo emitirá um “pedido de retirada de Portugal da lista de países afectados pela contaminação”. “À mínima transição de um produto que esteja sob vigilância, [esse movimento] é detectado e o sistema informático interpreta isso como um alerta”, esclarece. “Por algum motivo estavam à venda produtos suspeitos de contaminação”, sublinha. “Não sabemos se estavam contaminados ou não. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Detalha a ASAE que o “produto foi adquirido em Bruxelas num estabelecimento retalhista a 19 de Agosto de 2017”. Olhando para o calendário, percebe-se que a transacção foi feita semanas depois de ter sido dado o alerta em vários países — incluindo a Bélgica —, e de a porta-voz da Comissão Europeia, Anna-Kaisa Itkonen, ter afirmado que “os ovos contaminados foram rastreados e retirados do mercado” e que a situação estava sob controlo. Para o Ministério da Agricultura português, “essa é a questão que importa responder”. O PÚBLICO questionou a ASAE sobre a existência de funcionários portugueses e aguarda ainda resposta. Quanto à identificação da empresa, a ASAE respondeu que se trata de uma informação sob sigilo. O pesticida fipronil é uma substância altamente tóxica e comummente utilizada em produtos veterinários – mas proibida em animais destinados ao consumo humano – e pode danificar o fígado, a tiróide e os rins se for ingerida em grandes quantidades, descreve a Organização Mundial de Saúde.
REFERÊNCIAS:
Entidades ASAE
“Gostaria de ter um robô em casa que conseguisse estrelar um ovo, depois de me ver a estrelar ovos”
Especialista na área da visão por computador e na robótica, este engenheiro do Instituto Superior Técnico tenta evitar (“tanto quanto possível”) a programação de robôs “apenas” para a execução de funções. Mas programá-los, isso sim, para “evoluírem e alterarem as suas operacionalidades em função da sua experiência”. "Imitar não é só copiar; é perceber o objectivo da tarefa e replicar." (...)

“Gostaria de ter um robô em casa que conseguisse estrelar um ovo, depois de me ver a estrelar ovos”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Especialista na área da visão por computador e na robótica, este engenheiro do Instituto Superior Técnico tenta evitar (“tanto quanto possível”) a programação de robôs “apenas” para a execução de funções. Mas programá-los, isso sim, para “evoluírem e alterarem as suas operacionalidades em função da sua experiência”. "Imitar não é só copiar; é perceber o objectivo da tarefa e replicar."
TEXTO: Uma das ambições de José Santos-Victor é construir robôs com um nível de sofisticação tal que os torne nossos semelhantes. Não ao nível da similitude física, dando rostos e corpos humanos a máquinas, tornando-os humanoides, mas descobrindo como através da “experiência relacional” poderão interagir de forma natural connosco. Licenciado em Engenharia Electrotécnica e de Computadores no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, onde lecciona, Santos-Victor nota que chegou o momento de se retirarem os robôs do mundo à parte em que foram colocados, as fábricas. Este engenheiro de 53 anos é investigador do Instituto de Sistemas e Robótica do IST, desde a sua fundação em 1992, e criou o VisLab - Laboratório de Visão por Computador, dentro do mesmo instituto. A área de investigação a que mais se dedica está relacionada com a visão por computador e na robótica, especialidade que cruza com a biologia e a neurociência. Para além de nos darem assistência nas tarefas do quotidiano, Santos-Victor acredita que criaremos robôs para nos fazerem companhia, cenário que encara com “naturalidade” e “alguma expectativa”. No campo da robótica, quais são os projectos em que estão envolvidos e que ambições têm?O que nós queremos, a longo prazo, é que os nossos robôs vivam no mundo e aprendam com a sua experiência relacional. Temos estudado os processos de aprendizagem com psicólogos e estamos a tentar rebater esses processos nos robôs. É aquilo a que chamamos pensamento divergente e convergente na criatividade. O pensamento divergente é quando uma criança, por exemplo, explora soluções completamente diferentes para resolver um problema e nenhuma solução tem a ver com outra, usando caminhos alternativos e não forçosamente relacionados. E quando, a certa altura, há uma solução, que por algum motivo parece melhor ou traz alguma vantagem face às outras, o que as crianças tendem a fazer é melhorar essa solução, num gesto convergente. Estudámos em crianças esta combinação de exploração em largura e da optimização em profundidade. Filmámos crianças a montar estruturas em Lego e tentámos perceber e classificar os seus processos. Queremos transportar esse tipo de pensamento divergente e convergente para os nossos robôs. E como é que se ensina um robô?Os robôs aprendem de várias maneiras, mas o que eles essencialmente fazem é aprendizagem por imitação, que é um dos principais mecanismos de aprendizagem social. Há a fase em que os ensinamos a desempenhar tarefas: eles olham para a maneira como nós resolvemos determinada tarefa e tentam aprender os passos que são verdadeiramente importantes para o seu desempenho. Depois são esses passos que o robô tenta replicar, à sua maneira. Porque imitar não é só copiar; é perceber o objectivo da tarefa e replicar. O outro mecanismo que usamos é a aprendizagem por exploração, em que os robôs aprendem por tentativa e erro. Recentemente, ensinámos um robô a limpar mesas, em função do tipo de sujidade: pode ser líquida ou sólida, ter maior ou menor volume, o que envolve uma diferenciação das acções e do tipo de utensílios empregados. Colocamos o robô perante um especialista em limpeza, que no caso somos nós, que limpa a mesa com um pano ou uma esponja, ou uma vassourinha, ou com o que for preciso em cada caso. Repetimos a tarefa várias vezes, até o robô perceber o que é a invariante: quando eu limpo a primeira, segunda ou terceira vez, há coisas que variam, mas há coisas que não variam e essas, sim, são as coisas que são importantes. O robô tem de conseguir extrair esse denominador e depois tentar desenvolver a acção à sua maneira, sem perder esses aspectos fundamentais da função, que ele determina por si próprio. Gostaria de um dia ter um robô em casa que conseguisse estrelar um ovo, depois de me ver a estrelar ovos uma ou duas vezes – sem que eu precise de escrever uma linha de programação para essa tarefa. A ideia é interagirmos com estas máquinas de uma maneira parecida com aquela com que nós, seres humanos, interagimos uns com os outros. Este robô em que está a trabalhar foi intencionalmente desenhado para ser um boneco e não para ser um humanóide, para não ser muito parecido connosco. Isso é uma intenção presente no design inicial ou é uma limitação? Ou seja, é um boneco porque tem de ser, ou é uma escolha?Se uma máquina for muito diferente de mim, é difícil que eu estabeleça uma relação emocional intensa com ela. Se a fizer evoluir até ter um aspecto que se vai aproximando do ser humano, a capacidade de eu me envolver com esta máquina aumenta. Quando as máquinas são quase-humanas, basta haver um detalhe que não funciona bem – o nariz, ou os olhos – para se criar uma situação profundamente perturbadora. Na realidade, pode haver uma semelhança de 99% com o rosto humano, mas esse 1% que falta provocará uma reacção de espanto, de medo. É aquilo a que se chama uncanny valley, que creio que se traduz em português por “estranheza familiar”…Sim, é essa a expressão. Há ali de facto uma “falha” que causa uma grande estranheza. Conscientes disso, escolhemos ficar claramente afastados dessa zona de semelhança. Não queremos criar a ilusão de que o robô é um ser humano – um robô é uma máquina que tem semelhanças com o ser humano, mas não pretendemos criar, nem nas crianças, nem nos adultos, qualquer confusão. O robô que está no laboratório do IST está ligado a uma série de volumosos sistemas externos a si; aliás, se calhar daqui a uns anos, vamos sentir o mesmo que sentimos quando olhamos hoje para computadores que ocupavam salas inteiras. O que é que falta para que os robôs se tornem mais autónomos? A miniaturização? Tal como já miniaturizámos um computador para caber dentro de um tablet ou de um smartphone?Separamos o robô em corpo, mente e energia. Do ponto de vista da mente, tem havido um progresso grande na capacidade de cálculo, na miniaturização do cálculo, na utilização do cálculo na nuvem, na cloud. O cérebro humano tem uma capacidade de cálculo muito superior aos computadores que hoje existem, mas, ainda assim, do ponto de vista do cálculo, acho que o progresso é muito encorajador. Onde creio existirem mais dificuldades é nos materiais e nos motores que fazem movimentar as várias partes do corpo e da sua eficiência energética. A capacidade que temos de armazenar a energia do robô é bastante limitada. O cérebro e o corpo humano são muito eficientes; a potência que os nossos músculos conseguem exercer e a quantidade de energia retida por eles estão longe de ser atingidas pelos dispositivos que usamos hoje. No tipo de materiais, nos sensores, na leveza, na flexibilidade, na suavidade… O corpo humano é maleável e esse aspecto faz parte integrante da nossa funcionalidade. A minha mão agarra objectos, porque os tecidos da minha mão são moles e adaptam-se ao objecto. Os nossos robôs, a maior parte deles, são de alumínio. Estamos a começar a fazer experiências com corpos mais moles, mas ainda temos desafios muito grandes nessa área. Portanto, do ponto de vista do corpo e da energia, ainda há desafios importantes, com progressos visíveis, mas com muito caminho pela frente. Do ponto de vista da mente e da computação, acho que estamos a evoluir muito rapidamente. Uma das áreas que mais tem estudado é a da visão. É um factor determinante no funcionamento de um robô?É determinante num robô e na natureza. Quase todos os seres vivos têm algum tipo de visão. Partindo do princípio de que Deus era engenheiro, nós procuramos os princípios de engenharia em algumas criações divinas. Quando tentámos perceber como funcionava a visão para a replicar roboticamente, observámos animais em que a visão funciona muito bem. Começámos por estudar insectos como formigas e progredimos para a visão das moscas, das abelhas, das aranhas. Na realidade, reconstituímos o aparelho visual de uma mosca, criámos uma mosca robótica. Basicamente, enquanto o olho humano é uma esfera com uma lente à frente, que forma uma imagem na retina, situada na parte traseira do globo ocular, muitos insectos têm um olho composto. O olho da mosca também se aproxima da forma esférica, só que, em vez de ter uma única lente que forma uma única imagem, é povoado de pequenas lentes, que formam microimagens – o omatídeo em biologia. Estudamos o aparelho ocular da mosca-da-fruta em particular. Imaginámos o olho composto da mosca e fizemos um corte no equador. Recriámos os omatídeos, os pequenos olhos que a mosca tem a povoar esse hemisfério. E criámos uma rede de neurónios que existem logo atrás do olho da mosca. Estes neurónios recolhem directamente a luz que incide sobre esses pequenos sensores, que, em conjunto com os sensores vizinhos, conseguem calcular a velocidade a que o espaço visual se movimenta, em função do movimento da mosca. É assim que as moscas voam, que evitam obstáculos, que procuram comida… Depois integrámos esta informação num robô e este passeava, andava em frente e ia evitando obstáculos, usando os mesmos princípios biológicos que são conhecidos no caso da mosca e de outros insectos. Mas como é que este seu robô “olha” para o exterior?Os olhos, do ponto de vista da fisiologia, são um pouco uma extensão do cérebro, estando ligados directamente ao córtex visual que faz o tratamento da informação. É este prolongamento que permite que o cérebro se aperceba do que está a acontecer cá fora, mas, curiosamente, também é uma maneira de olharmos para dentro do cérebro do ser humano e das outras espécies. No entanto, o cérebro humano, mesmo sendo muito poderoso, tem um volume limitado. Nós acreditamos que Deus tinha um budget determinado, um orçamento de computação e de peso que tinha de respeitar. Esse orçamento limitado traduz-se no número de píxeis que se conseguiu colocar na retina humana, ou na retina de outro animal. Então, o dilema era o seguinte: se o meu orçamento é este, significa que eu só tenho um determinado número de píxeis disponíveis. No caso, a retina humana tem cerca de 120 milhões de píxeis. Portanto, se o orçamento disponível era de 120 milhões, a opção era a seguinte: se eu quiser ver com grande acuidade visual, se quiser ver objectos muito finos com grande detalhe, então tenho de empacotar esse número num campo visual estreito. E no mundo pré-histórico, isto não era boa ideia. Posso estar muito feliz, porque estou a ver um objecto à minha frente, com grande acuidade visual, mas se ao mesmo tempo vier dali um leão direito a mim a querer dar-me uma dentada e eu não o vir, não me serve de muito ter esta grande acuidade. A retina humana é muito curiosa, porque mistura duas retinas. Há uma retina pré-histórica, que tem um campo visual alargado, que é a retina periférica e que não vê com grande resolução – nem sequer vê cor –, mas tem cerca de 120 graus de campo visual. Portanto, se vier um leão a correr para mim dentro desta área de 120 graus eu consigo aperceber-me de que o leão constitui um perigo a evitar. Do ponto de vista da sobrevivência, esta retina pré-histórica é excelente e cumpre essa função de me manter vivo, apesar dos leões que andam por aí. Essa parte foi resolvida e depois o resto que sobrou do budget [de Deus], foi aplicado numa zona, necessariamente mais estreita, em que o ser humano vê muito bem. Essa zona chama-se fóvea, é uma zona central com cerca de dois graus deste campo de 120. Só nesta pequena região é que nós vemos bem. É também apenas nesta área que vemos cor, porque os sensores que estão na fóvea, que são os cones, são aqueles que são sensíveis à cor – os bastonetes que estão na periferia não vêem cor, são muito sensíveis, mas não ecor – e, portanto, só nesta pequena região é que vemos com nitidez. Se eu quiser olhar para a sua cara, tenho de olhar primeiro para o lado esquerdo, depois para o lado direito. Donde, os meus olhos têm de estar constantemente a fazer estes movimentos, para ir vendo, com a parte de alta resolução, as várias partes do campo visual que me interessam. E depois o cérebro faz uma composição fantástica, monta um mosaico, um puzzle, com estas pequeninas imagens. No fundo, é como se uma sala estiver completamente às escuras e eu tiver apenas uma pequena lanterna que ilumina dois graus de cada vez. Depois colo os bocadinhos que vou iluminando e crio uma imagem no cérebro – não está nos nossos olhos, está no cérebro – em que tudo aparece a cores e em alta resolução. E tudo isto se passa sem sequer nos apercebermos deste fenómeno e do esforço que os olhos e o cérebro fazem para produzir esta imagem fantástica. Foi este o dilema encontrado no desenho da visão humana e que foi admiravelmente resolvido desta forma. Nós tentamos replicar estes sistemas nos robôs, que também têm um cérebro com um peso limitado. Têm visão foveal, com uma zona onde vêem com grande acuidade e depois têm uma zona em que vêem pior, mas conseguem reagir a estímulos. Se alguém se aproximar a correr, ou se houver um flash, ou uma chama, eles vêem o suficiente para perceber que têm de olhar para aquela direcção e depois, a seguir, conseguem olhar com mais cuidado. E qual é a importância da zona branca dos olhos? Parece que somos a única espécie que tem uma superfície branca à volta de retina. Os movimentos oculares têm duas funções. Uma é operativa: eu não consigo agarrar um objecto que não conheça, se não olhar para o objecto. Tenho de orientar a minha visão – a parte que é exacta e que tem alta acuidade – para a zona do espaço em que tenho de fazer uma tarefa que requeira algum rigor. Os olhos têm de apontar naquela direcção, porque têm de recolher informação de alta resolução naquela zona do espaço visual. Um segundo aspecto interessante é o da comunicação e é aqui que os olhos adquirem uma função muito importante. Medirmos o olhar uns dos outros é fundamental, para percebermos se o outro ser humano está connosco. Há um protocolo de comunicação que se desencadeia através do olhar e para isso é preciso conseguir medir a direcção do olhar das outras pessoas. Os nossos olhos têm esta zona externa que é branca e depois a parte interna, que tem outra cor, o que facilita enormemente a tarefa de medir a direcção para onde estamos a olhar. Este aspecto de comunicação é tão fundamental que se acredita que noutras espécies, em que esse fundo branco não está disponível, nomeadamente em seres tão próximos de nós como outros primatas, essa comunicação não-verbal não funciona com o nível de importância que tem no ser humano. É uma dimensão que provavelmente se tornou tão importante que a pressão evolutiva levou ao desenvolvimento desta característica particular que nos permite lermo-nos uns aos outros. Bom, a não ser que se usem óculos escuros [risos]. Aí estamos a trair a evolução. Outra parte do corpo onde a “engenharia divina” exibe algum brilhantismo é o ouvido, que aparentemente é muito bem desenhado. . . Quando falo com o robô, gostava que ele percebesse em que direcção estou e se virasse para mim. Foi aí que começou o desafio. Tentámos perceber o radar humano, o processo de audição. Se alguém me falar do lado direito, eu, naturalmente, viro-me. Mas a questão desenvolve-se em dois planos: quando alguém fala comigo, tenho de perceber se estão a falar à esquerda, ao centro ou à direita, mas também se estão a falar de cima, a meia altura ou de baixo. No plano horizontal é relativamente fácil fazer essa diferenciação, uma vez que se alguém me falar do meu lado direito o sinal acústico que esta pessoa emite chega primeiro ao meu ouvido direito e só depois ao meu ouvido esquerdo. Portanto, há um atraso na propagação das ondas. Se eu medir este atraso, consigo perceber e calcular a direcção da fonte de som. Este aspecto foi relativamente fácil de resolver. Mas, no plano vertical, tudo se complica, porque a cabeça humana é simétrica. Ou seja, se eu falar de cima, o som chega no mesmo instante ao lado esquerdo e ao lado direito e a energia com que chega também é a mesma. Como é que se resolve está questão? Explorámos a fisiologia da orelha e percebemos, para nossa surpresa, que o ouvido humano, para além de ter uma componente estética que já nos habituámos a apreciar, foi de facto desenhado com um princípio de engenharia. O que acontece é que quando as ondas sonoras chegam ao nosso ouvido, parte do som é escutado directamente, há uma onda directa que é imediatamente recepcionada pelo sensor, e existe uma outra onda que passa pelo sensor e bate na parede externa do ouvido, que se chama pina. Quando a onda bate na pina, uma parte é absorvida e outra parte é reflectida. A onda directa e a onda reflectida cancelam-se mutuamente. Quando isso acontece, se a distância variar, se não for uniforme da pina ao ouvido – por isso é que a pina não é circular, as distâncias variam com a elevação – posso usar esta variação para descodificar a origem de determinado som. Analiso quais são as frequências que são anuladas e consigo determinar a elevação da fonte de som. Portanto, a pina é outro excelente exemplo de engenharia. Desenhámos uma pina com o mesmo tipo de curvatura do ouvido humano e colocámo-los na área que rodeia os microfones do robô. Somos hoje capazes de fazer com que os nossos robôs olhem de forma consistente para nós. Não é um processo muito preciso, mas é o suficiente para que o robô dirija a cara na nossa direcção e entremos no campo visual do robô – a partir daí a comunicação acontece. O robô que desenvolveram tem um pequeno fato azul. É aí que se explora o tacto?Os robôs existem há muitos anos, mas têm vivido num mundo à parte, nas fábricas. Estavam fechados lá dentro e nós estávamos fechados cá fora. O que está a acontecer agora é que estamos a abrir os espaços que eram só nossos a estas máquinas, ao mesmo tempo que estamos a abrir o espaço que era só destas máquinas. Os robôs, até hoje, viviam num mundo organizado, onde tudo é planeado, onde não há incertezas. A vida real é um encadeamento de surpresas, os planos são feitos para serem alterados e, portanto, estes robôs terão de desenvolver capacidades adaptativas, nomeadamente a capacidade de agarrar objectos – uma parte fundamental da interacção com o mundo. O tacto é muito importante quando queremos que um robô agarre um objecto que ele nunca viu. O objecto pode estar quente, ser áspero, pode estar gelado, e o robô tem de perceber todas estas variantes. Na verdade, no córtex humano existe uma parte grande que tem a ver com a visão, mas outra parte, igualmente importante, que tem a ver com o tacto, sobretudo da mão. Daí que tenhamos colocado sensores tácteis no robô, que cobre partes do corpo, dos braços, da palma da mão e dos dedos. As mãos são muito complicadas. Consideramos, aliás, que, do ponto de vista da evolução, há aspectos que definem o ser humano, que começaram com a mão e, precisamente, com a nossa capacidade de agarrar objectos. Há um caminho evolutivo que passa por aí, não poderíamos, portanto, abdicar do desenho de uma mão muito sofisticada nos nossos robôs – isto se queremos que o robô tenha um bom desempenho em tarefas complicadas. Como fazer ovos estrelados ao pequeno-almoço. . . Que é uma função essencial [risos]. Mas repare: se tentarmos apertar atacadores com luvas, a nossa sensibilidade táctil fica muito deteriorada, é mais difícil. Hoje, é como se os nossos robôs estivessem a usar luvas grossas, de trabalho pesado, porque, de facto, a sensibilidade táctil que têm é relativamente pequena. Imagine que o robô está a ser amolgado. Há algum sensor que que lhe permita reagir? É possível programar esse tipo de sensibilidade?O robô tem limites físicos, programados deliberadamente. Desenhámos uma espécie de fusível mecânico que faz com que quando acontece algum tipo de acidente, quando o robô bate num objecto ou faz mais força do que aquela que devia, os tendões da mão partem. Deliberadamente, partem. É um fusível desenhado para protecção do próprio robô. Noutros casos, fazemos essa protecção por software. Se estiver a fazer muita força, o robô consegue medir e recuar o braço. Não posso dizer que sinta dor, como nós, mas tem mecanismos de autoprotecção. Por exemplo, o robô sabe quando chega ao limite dos seus braços; eu, quando movimento o meu braço, sei que não é saudável tentar ir com o braço demasiado para trás, porque alguma coisa menos boa provavelmente vai acontecer ao meu ombro. O robô tem um pouco essa noção, programada por nós. Quando está no limite do espaço de trabalho das suas juntas, daquilo que a cinemática do corpo consegue atingir, ele exerce alguma limitação e tenta escapar dessas zonas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Existe um modelo geral da inteligência, ou cada sistema é desenhado em função da tarefa a desempenhar?Não lhe posso responder de forma simples. Olhando para vários animais, observamos grande especificidade e optimização, mas pouca generalização. Determinado animal faz o que faz muitíssimo bem. O ser humano é um pouco o contrário. Não é o animal mais rápido do mundo, não é o animal mais forte do mundo, mas é o animal com maior capacidade de aprendizagem e também o animal com maior capacidade de adaptação. É um paradigma de inteligência bastante diferente. É relativamente fácil fazer uma máquina com um desempenho muito sofisticado numa única tarefa. Mas desenhar uma máquina que consiga ter um desempenho igualmente elevado em diferentes contextos, capaz de perceber ou de se adaptar a situações extremas, isso é muito difícil. Mas é nesse sentido que nós trabalhamos. Tanto que o nosso paradigma, o que tentamos, tanto quanto possível, é não programar as funcionalidades do robô, mas programá-lo, sim, para evoluir e alterar as suas operacionalidades em função da sua própria experiência. Cada um de nós é também produto do mundo emocional e relacional. Há em nós uma parte determinada geneticamente, mas depois há a cultura e a experiência que nos vão moldando ao longo da vida. Queremos que os nossos robôs evoluam nesse sentido, porque também eles serão fruto dessa experiência ecológica. Mas como é que imagina a nossa interacção com estas máquinas? Como é que acha que podem fazer parte do nosso espaço convivial e relacional?Acredito que há sistemas destes, relativamente simples, que vão poder andar em nossas casas. Já há uns pequenos objectos que são controlados pelo telemóvel, que falam connosco. Já há assistentes digitais que comunicam connosco por voz. Penso que estes sistemas se vão reunir em robôs, que vão começar a andar em nossas casas, que vão procurar objectos, vão ver se a porta ficou fechada, se a televisor ficou ligado. . . Vão-nos secretariar. . . Vão-nos dar alguma assistência, sim, e vão-nos fazer companhia, também. Encaro com uma certa naturalidade a entrada destes sistemas nas nossas vidas, com uma componente mais física. Vão interagir connosco, jogar connosco, agarrar objectos, ajudar-nos em algumas funções mais complicadas. Vejo isso com naturalidade e com alguma expectativa.
REFERÊNCIAS:
Recados
“O Presidente da República não manda recados ao Governo pelos jornais”, disse António Costa. Um “recado” é uma “mensagem”, um “aviso”, um “mandado”, mas também é “censura”, “repreensão”, “ralho”. (...)

Recados
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: “O Presidente da República não manda recados ao Governo pelos jornais”, disse António Costa. Um “recado” é uma “mensagem”, um “aviso”, um “mandado”, mas também é “censura”, “repreensão”, “ralho”.
TEXTO: Um “recado” pode ser entendido como “mensagem”, “aviso”, “mandado”, mas também como “censura”, “repreensão”, “ralho”. Num dicionário recente, regista-se como “aviso ou mensagem curta, oral ou escrita, remetida por uma pessoa a outra” e exemplifica-se com “mandar um recado”. “O Presidente da República não manda recados ao Governo pelos jornais”, disse António Costa, no que seria entendido como resposta a Marcelo Rebelo de Sousa, que afirmou em entrevista ao PÚBLICO e à Rádio Renascença que não se recandidataria, se houvesse outra tragédia como os incêndios do ano passado. Por sua vez, a declaração do Presidente seria também uma resposta ao que o primeiro-ministro disse anteriormente à revista Visão, afirmando que não veria razões para se demitir, mesmo que voltasse a haver mortes nos incêndios em Portugal. Para Pacheco Pereira, António Costa respondeu bem a Marcelo, “o que nem sempre é fácil, visto que neste combate verbal o Presidente sabe-a toda”. E escreveu: “Claro que manda [recados] por todos os meios. ”Também existe a expressão “dar conta do recado” e aqui sugerimos que se atente à diferente linguagem entre um dicionário de 1958 e outro de 2006. Escreve assim o primeiro: “Desempenhar-se cabalmente de determinada incumbência. ” O segundo, assim: “Sair-se bem de um encargo, desempenhar bem uma tarefa ou função. ” Ganha-se em simplificação, perde-se em requinte. Também no mais antigo se diz que “recado”, por extensão, pode significar, “papel e pena para escrever qualquer comunicação”. Bonito. “Recado” corresponde ainda a “pequenos serviços incumbidos a um criado ou outro serviço fora de casa” e “execução de um encargo ou tarefa ou de uma pequena compra, a pedido de alguém”. Exemplo: “O miúdo foi fazer um recado à mãe. ”No Sul do Brasil, quer dizer “conjunto de peças com que se encilha o cavalo para montaria”. No plural, “recados”, são “cumprimentos, recomendações, palavras afectuosas”. Exemplo: “Não se esqueça de lhe transmitir os meus recados. ”A expressão mais engraçada é “tomar o recado na escada”, ou seja, “responder antes de ouvir de todo”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Antigamente, também se usava como sinónimo de “recato”, “cautela”. Dizia-se que “um homem de bom recado” era “um homem de confiança, que dá boa conta de si”. Deve ser assim que Presidente e primeiro-ministro se consideram. Estão bem um para o outro. Fica dado o “recado”. A rubrica Palavras, expressões e algumas irritações encontra-se publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICO
REFERÊNCIAS:
Presidente do Banco BIG: "Incesto entre banca e Estado foi sempre maior do que o desejável”
Carlos Rodrigues sublinha que as crises não se prevêem. Sobre uma eventual bolha da dívida, alerta que é mais provável que rebente por imprudência da gestão do que pela subida dos juros. (...)

Presidente do Banco BIG: "Incesto entre banca e Estado foi sempre maior do que o desejável”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.083
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Carlos Rodrigues sublinha que as crises não se prevêem. Sobre uma eventual bolha da dívida, alerta que é mais provável que rebente por imprudência da gestão do que pela subida dos juros.
TEXTO: O presidente do Banco de Investimento Global (BIG) faz o seu diagnóstico sobre o estado da construção europeia, com um foco no momento da economia e da banca. E destaca: “a incestuosidade entre banca e Estado foi sempre maior do que o desejável”. Disse há pouco tempo que se vive "uma certa calmaria" que o deixa receoso. Porquê?Estamos numa zona económica que, sendo uma das duas maiores do mundo, não faz medidas de aprofundamento dessa união que está imperfeita. E os únicos passos dados foram em resposta a uma crise [2008] que começou nos EUA, onde foi bem resolvida, e em dois anos os bancos já apresentavam lucros. Já na Europa não foi bem resolvida, as crises são latentes e resolveram-se sempre em reuniões às 04h00 da manhã, com todos os presentes cansados. Basicamente a única coisa que a Europa fez para avançar, foi a tentativa de União Bancária que deixou de fora um pilar: o Fundo de Garantia de Depósitos europeu. Ainda assim a UE criou o mecanismo europeu de estabilidade (MEE ou ESM, na sigla inglesa). Sim, mas é pouco. [O tratado de] Maastricht celebrou-se em 1992, estamos a falar de mais de um quarto de século. Na prática, o Tratado de Lisboa [2007] acabou por não aprofundar o projecto europeu como pretendia. Aprovou a meta de, em dez anos, a União Europeia (UE) ficar, em termos tecnológicos, à frente dos EUA, o que não se concretizou. E se uma União se quer monetária, deve ser aprofundada, pois, caso contrário, se deixar passar o tempo, acaba por poder morrer. E o que diz ao facto de a Alemanha ter vindo avisar que o Fundo de Garantia de Depósitos só será concretizado muito mais para à frente?Então, se assim for, a UE não resistirá muito tempo. Acredito, no entanto, que se fará mais cedo, pois uma união que se quer com a mesma moeda, terá de ser aprofundada dentro de um espaço de tempo razoável, com as vontades a convergirem para um espaço com regras comuns. E com legitimidade do voto. E aí a experiência não é boa: fizeram-se referendos e quando estes começaram a correr mal para a UE, a UE recuou porque não foi capaz de explicar as vantagens do projecto. E o que se vê é que cada país tem uma agenda própria. E hoje é muito imperfeita, muito desigual em termos de desenvolvimento económico dos vários países. E como avalia o papel da Alemanha depois da crise da dívida pública?A Alemanha tem uma moeda fraca, que é o euro, e acumula superavits, enquanto para outros países da União, o euro é uma moeda forte. As obrigações soberanas alemãs pagam, a 10 anos, um quarto de um por cento fixo, o que significa que se podem desenvolver sem quase gastarem dinheiro. O custo para Portugal é de 1, 7% e para os italianos até há poucos dias era superior a 3%. Existe, portanto, na União, uma assimetria que se auto perpetua e condiciona o desenvolvimento de alguns países e da União como um todo. A história da UE não é viver permanentemente atrás do prejuízo?Se a História se repetisse, viveríamos sempre em guerra. Agora vivemos num hiato. E como as primeiras crises surgiram na banca, o sistema circulatório das economias, fez-se o ESM, o SSM e o Fundo de Resolução Europeu. É que se a zona euro implodisse, a UE também implodia. Por isso digo que estando garantida a prosperidade e a paz, a União deveria aprofundar-se ou o seu futuro fica comprometido. O seu pessimismo resulta de quê?Não é pessimismo. É a constatação de uma realidade. Diz que não é possível construir a Europa contra a vontade dos povos, sem consultas directas, sem o seu envolvimento. E a médio prazo é verdade. É claro que há sempre os representantes eleitos nos vários Estados com poder de os comprometer. Mas se queremos aprofundar esta União, temos de consultar as populações, temos de as ouvir. Hoje, como agente económico, vejo prosperidades diferentes e problemas difíceis em zonas económicas distintas. Existem três grandes blocos económicos: a China, os EUA e a UE. E foi até nos anglo-saxónicos, onde nasceu a crise de 2007/2008, que o problema foi atacado de forma mais eficaz, em dois ou três anos estava resolvido. Não foi preciso aos governos fazerem de Pôncio Pilatos: o Tesouro americano [equivalente a Ministério das Finanças] e o Banco Central intervieram, fomentaram a consolidação e, no fim, o sistema foi redesenhado com ganhos para os contribuintes. Passados dez anos da queda do Lehman Brothers, que pôs em evidência a crise de 2008, nos EUA já se esqueceram?Nos EUA não se fala de crise. O que me leva a concluir que a UE não fez o seu trabalho, o que não beneficia o conjunto dos povos europeus. O movimento de integração europeia parou e há menos relevância em termos mundiais. Como comenta o facto de analistas, economistas e gestores estarem a dar como provável uma nova crise de dimensão semelhante à de 2008, nos sectores imobiliário e de dívida. . . Em geral as crises não se prevêem. E a experiência diz-nos que quando todos a antecipam é porque não acontecem. Mas crises vão sempre acontecer. A pergunta que deve ser feita é outra: com que resiliência as vamos enfrentar e como as vamos gerir? Hoje, na banca, os níveis de capital são importantes tal como os rácios de solvabilidade, mas a defesa fundamental [face a uma crise] é a qualidade dos activos em balanço. E as respostas às crises devem ser dadas em termos globais, o que exige maior integração europeia. A UE está muito mal preparada para enfrentar uma grande crise. Até Olli Rehn, o ex-comissário europeu para os Assuntos Económicos e Monetários [2010-2014], actual governador do Banco Central da Finlândia, chamou a atenção para a vulnerabilização das economias pelo aumento da dívida. Há preocupação com os agregados de dívida que sendo sustentáveis em momentos de expansão económica, podem não resistir a ciclos de baixa. Nos EUA havia preocupação com as taxas de juro historicamente baixas [nulas], e que agora a cinco anos já estão a mais de 2, 5% e a dez anos perto dos 3%. Não acredita muito num estouro da bolha?Não diria que esteja controlada. Mas a bolha é mais fácil de acontecer por má gestão ou pela gestão imprudente de países e de empresas, do que por eventos excepcionais que mudem as taxas de 2 ou 3% para 5%. Acredito que os efeitos de uma explosão [da dívida] aconteçam mais pela imprudência da gestão de quem necessita de se endividar [do que pela subida dos juros]. Quando tudo corre bem a tendência é para relaxar e para assumir compromissos estruturais. E reconheço que os avisos dos supervisores são importantes pelos efeitos prudenciaisHá sinais de que a banca, nomeadamente a portuguesa, tem tratado de furar esses avisos. Não sei. Houve uma descida muito grande dos rácios de alavancagem [rácio empréstimos sobre depósitos] que, nalgumas instituições, chegavam a quase 200% e que agora estão em menos de 100%. Verificou-se realmente uma desalavancagem na banca e empresas do sector real registam agora equilíbrios. Há a ideia de que os reguladores tomam medidas mais para responder às crises do passado [exigências sucessivas de aumentos dos rácios de capital], do que para antecipar as que estão para vir. Há um elemento de verdade, mas também melhorou a supervisão, a qualidade dos activos, a legislação. E a questão é menos verdadeira nas unidades económicas dos países onde ninguém já fala da crise de 2008, como os EUA. E até países do centro da Europa, os tais que têm superávites brutais, que enriqueceram muito com a crise por terem uma moeda fraca. E ainda assim a Alemanha não ajuda a expandir a zona euro. O caso alemão choca-o?O que digo é que se os alemães quisessem construir “auto-estradas no céu”, faziam-no financiados a taxa fixa a 30 anos abaixo de um por cento. Ora, ir pedir dinheiro e ficar a pagar menos de um por cento por um crédito a 30 anos é quase a garantia de que os investimentos são rentáveis. É muito diferente ter de pagar 3% ou 4% ao ano a 30 anos, como acontece em Portugal. Dito isto, não podemos viver com um nível de endividamento alto. Antes quando a dívida pública ultrapassava os 30% do PIB era uma anormalidade. Agora se fica em 40% é muito aceitável. Olhando para o cenário do que é o sistema financeiro internacional e se compararmos, em termos de evolução histórica, os rácios de dívida das empresas e dos Estados, não haverá necessidade de reforçar a prudência?Também é verdade que os níveis de inflação e das taxas de juro baixaram muito, enquanto o nível de concorrência aumentou imenso. E a legislação europeia está a criar uma distorção concorrencial. No caso da Grécia, foi a desigualdade dos credores. Os credores oficiais receberam 100 por cento da dívida [dos empréstimos que fizeram à Grécia] e os privados levaram um haircut [receberam menos 60% do que emprestaram], que se revelou ter sido um enorme erro. Esta decisão, a par de outras, contribui enormemente para que ainda hoje na UE se sintam os efeitos colaterais da crise de 2008. O que foi feito com a Grécia levou a uma grande desigualdade. . . . . . a uma enorme desigualdade no crescimento da UE e das instituições que ali operam. As medidas deixaram marcas nas economias, principalmente nas periféricas do sul. É verdade que a dívida hoje é maior, tal como é verdade que o custo da dívida e os níveis de inflação são menores. Mas também é preciso ver que, mesmo assim, a prosperidade mantém-se. A resposta das autoridades à crise de 2008 gerou stress regulatório aos bancos?Sem dúvida. E stress de custos. Temo que à falta de unidade europeia se tenha, a União tenha adoptado um excesso de regulação, sobretudo por extensão dos regulamentos muito densos, sem que haja regulação simples e directa. Passa-se o tempo a redigir regulação, alguma é necessária, mas outra não é, do que a fazer o devido controlo de qualidade. Foi-se longe de mais?Não no sentido das exigências de capital e de procedimentos, mas do ritmo em catadupa em que se produz legislação. Nesta crise financeira, na UE, muitas instituições e responsáveis ficaram sem condenações. E os que menos sofreram foram as agências de rating, assim como as empresas de auditoria e os órgãos de fiscalização internos das instituições que eram supostos controlar e garantir a boa gestão. E obviamente os reguladores e os supervisores também não estão imunes. E não são as milhares de páginas de regulação que vão resolver o assunto, até porque elas são difíceis de seguir. E no final o negócio desaparece se se ficar sem tempo para o desenvolver. Os supervisores deram conta disso?Acredito que sim. Acharam que fizeram o melhor e já perceberam que talvez tenham ido longe demais. O risco é quando [reguladores] tentam controlar aquilo que são as funções e os direitos dos investidores, os que colocam o seu capital nas instituições, o que lhes deveria dar o direito de escolher quem manda na gestão do seu dinheiro. Não me parece ser uma boa ideia que os reguladores tentem ocupar as funções dos investidores e dos gestores, isto, sem prejuízo de poderem exercer os deveres de vigilância do que é “fit” do que é “proper” quanto ao carácter, experiência e passado dos membros indicados para os órgãos sociais dos bancos. O que é que quer dizer?Onde há mercados concorrenciais, as boas empresas têm tendência para sobreviver, já, e por oposição, nos mercados pouco concorrenciais, com preços formados de forma mais administrativa, ou então, pelas autoridades centrais, surgem problemas. O risco é acabar por estatizar os sectores. E o financeiro é um deles. Os Estados estatizam os bancos?Não falo de Estados. O que digo é que a produção regulatória acaba por uniformizar as ofertas porque, em certa medida, protege os tamanhos dos bancos, os de maior dimensão [o objectivo do BCE é que a UE fique com apenas 30 bancos, todos grandes], e assim acabar com a inovação quando ela é mais necessária, e que é produzida, muitas vezes, em instituições de pequena dimensão. Corre-se o risco de se criarem grandes bancos que são too big to fail [demasiado grandes para falir] e um pesadelo para os reguladores e de, ao mesmo tempo, estes gigantes se tornarem too big to function or operate [demasiado grandes para funcionar]. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Está moderadamente optimista?Costumo dizer que se não mudarmos nada num mundo que evolui rapidamente, tendemos a desaparecer. Há sempre gente em todos os blocos a pensar em coisas novas, sejam as fintechs, sejam as novas entidades não reguladas. As fintechs são uma moda?Não me parece que sejam e algumas têm soluções interessantes. E daí a necessidade dos bancos terem de inovar e de cooperar com o sector das fintechs. Acha que continua a existir uma cultura tóxica na gestão dos bancos?Não estou certo que dominasse no sector ou que fosse tóxica. O que eu diria é que a incestuosidade entre a banca e o Estado foi sempre maior do que o desejável. E não estou a falar apenas de Portugal, onde era acentuada, mas havia em todo o lado. E havia incompetência. E isso não era cultural, nem estava institucionalizada.
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Entidades EUA UE
Sonangol não distribui dividendos, lucro de 2017 reduz prejuízos acumulados
Petrolífera confirma que vai manter-se no Millenium BCP, onde detém 19,49% do capital. (...)

Sonangol não distribui dividendos, lucro de 2017 reduz prejuízos acumulados
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Petrolífera confirma que vai manter-se no Millenium BCP, onde detém 19,49% do capital.
TEXTO: A petrolífera estatal angolana Sonangol não vai distribuir os dividendos do exercício de 2017, usando os lucros para reduzir os prejuízos acumulados de anos anteriores, que ascendiam, no final desse ano, a mais de 2100 milhões de euros. Sobre a participação no banco Millenium BCP, onde a petrolífera detém 19, 49% do capital, o relatório da administração afirma que esse investimento de mais de 800 milhões de euros é considerado "um investimento estratégico", confirmando assim que pretende manter essa posição numa altura em que tem em curso um processo de saída de 52 empresas, na banca e noutras empresas do grupo. “A participação da Sonangol no Millennium BCP é um investimento estratégico, já que é um suporte relevante para a diversificação do seu investimento, em geografias como África e a Europa, e acentua a natureza e vocação internacional da empresa”, lê-se no relatório de gestão. A 31 de Dezembro de 2017, a Sonangol detinha 2. 946. 353. 914 acções do Millennium BCP, avaliadas nas contas da Sonangol em 801, 4 milhões de euros, no regime de justo valor (ou preço de mercado). A manutenção na estrutura accionista do BCP já tinha sido objecto de indicação por parte do Presidente angolano, João Lourenço, aquando da visita de Estado que fez a Portugal no final de Novembro. João Lourenço indicou, na ocasião, que a Sonangol deve alienar as participações em 52 das cerca de 100 em que está presente. Em Portugal, a empresa detém ainda uma participação na Galp Energia. Segundo as contas referentes a 2017, divulgadas neste sábado pela Lusa, a Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol) registou um resultado operacional positivo de 197. 538 milhões de kwanzas (1060 milhões de euros, à taxa de câmbio de 31 de Dezembro de 2017). As contas são do último ano da gestão de Isabel dos Santos na petrolífera, cujo relatório só foi validado pelo accionista Estado neste mês de Dezembro. Porém, ao abrigo Lei das Sociedades Comerciais, a empresa “não poderá efectuar a distribuição dos resultados, até à cobertura integral dos prejuízos acumulados dos exercícios anteriores”. Esses prejuízos acumulados ascendiam, no final de 2017, a 398. 178 milhões de kwanzas (2160 milhões de euros, à taxa de câmbio de 31 de Dezembro de 2017). Isabel dos Santos, filha do ex-Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, liderou a Sonangol entre Junho de 2016 e Novembro de 2017, tendo sido depois afastada pelo novo chefe de Estado, João Lourenço. “Propomos que o resultado líquido do exercício seja integralmente aplicado para a cobertura dos prejuízos de exercícios anteriores, por serem necessários para o efeito. A presente proposta de aplicação de resultados, tem subjacente a necessidade de garantir a sustentabilidade da empresa, de modo a continuarmos a implementação da estratégia de crescimento e solidez definida no Programa de Regeneração da Sonangol”, lê-se no relatório da administração da petrolífera, que desde Novembro de 2017 é liderada por Carlos Saturnino. Angola é o segundo maior produtor de petróleo em África, produto que representa mais de 95% das exportações do país. João Lourenço considera a Sonangol a "galinha dos ovos de ouro". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Globalmente, o resultado líquido do grupo Sonangol em 2017 foi de 27. 250 milhões de kwanzas (147 milhões de euros, à taxa de câmbio de 31 de Dezembro de 2017), correspondente a um aumento de 107% face a 2016, “reflectindo os ganhos da estratégia adoptada pela OPEP [Organização dos Países Exportadores de Petróleo]”, refere a administração da petrolífera, sobre o acordo envolvendo os países produtores para o corte na produção. As vendas da Sonangol em 2017 – essencialmente petróleo bruto – aumentaram 19% face ao ano anterior, para 2, 916 biliões (milhões de milhões) de kwanzas (15. 700 milhões de euros, à taxa de câmbio de 31 de Dezembro de 2017). O custo com o pessoal desceu para 152. 952 milhões de kwanzas (826 milhões de euros), fruto da quebra de 1, 46% no total de trabalhadores do grupo – que conta com cerca de 20 subsidiárias –, para 8099 colaboradores efectivos no final de 2017.
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João Pedro Rodrigues e a atracção do abismo
Um novo filme há muito aguardado, O Ornitólogo, esta semana em concurso em Locarno. Uma instalação em Vila do Conde com o cúmplice de sempre João Rui Guerra da Mata. Uma retrospectiva parisiense no final do ano. O balanço de um ano em cheio por um cineasta discreto mas dado a desafios. (...)

João Pedro Rodrigues e a atracção do abismo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-07-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um novo filme há muito aguardado, O Ornitólogo, esta semana em concurso em Locarno. Uma instalação em Vila do Conde com o cúmplice de sempre João Rui Guerra da Mata. Uma retrospectiva parisiense no final do ano. O balanço de um ano em cheio por um cineasta discreto mas dado a desafios.
TEXTO: Não são muitos os cineastas - portugueses ou de outras nacionalidades - que possam gabar-se de terem estado em todos os principais festivais de cinema de “classe A”. João Pedro Rodrigues, logo à primeira longa, O Fantasma (2000), entrou no concurso oficial de Veneza. Odete (2005) e Morrer como um Homem (2009) estiveram em Cannes – o primeiro na Quinzena dos Realizadores, o segundo em Un Certain Regard (e a curta Manhã de Santo António fechou a Semana da Crítica em 2012). Agora, o seu novo filme, O Ornitólogo (2016), está no concurso oficial de Locarno, como “ponta de lança” de uma “embaixada” de uma dúzia de produções ou co-produções portuguesas – é a sua segunda presença na competição suíça, depois da sua longa a meias com o companheiro e cúmplice João Rui Guerra da Mata, A Última Vez que Vi Macau (2012). Some-se a isto o percurso internacional que João Pedro Rodrigues (n. 1966) tem tido ao longo da última década, com retrospectivas regulares, viagens constantes e residências artísticas (no francês Le Fresnoy ou em Harvard), para percebermos como é um dos realizadores portugueses mais respeitados no espaço cinéfilo global. Some-se também a isto a retrospectiva integral que decorrerá em Paris no final do ano a convite do Centro Pompidou, coincidindo com a estreia francesa de O Ornitólogo; isto enquanto a galeria Solar, em Vila do Conde, recebe até finais de Setembro a exposição Do Rio das Pérolas ao Ave, que, 20 anos depois da primeira curta “oficial”, Parabéns!, revê de modo lúdico toda a sua carreira. Mas gabar-se é coisa que João Pedro Rodrigues não faz, sentado na esplanada frente ao Teatro Municipal de Vila do Conde, onde veio acompanhar a inauguração de Do Rio das Pérolas ao Ave e apresentar o programa paralelo de filmes que, com Guerra da Mata, pensou para o Curtas Vila do Conde. “Tudo isto é exterior a mim, ” começa por dizer, enquanto bebe um café. “Locarno, o Pompidou, Vila do Conde – são coisas circunstanciais, calhou acontecerem com esta proximidade. Mas acho que os filmes se ligam misteriosamente uns aos outros. E também acredito que as coisas, apesar de serem completamente racionais e pensadas, ultrapassam a racionalidade. Encontro nelas uma certa lógica, por razões que não são puramente racionais. Há um lado de instinto em que estou a aprender a ter confiança. Não quero encontrar nenhuma receita para fazer os meus filmes, mas também não tento racionalizar demasiado as coisas. Esse não é o meu papel. ”O papel de João Pedro Rodrigues, então, é fazer filmes; o nosso será tentar decifrar porque é que ele os faz, e porque é que os faz assim, e porque é que eles falam deste modo a uma plateia global que o aclama repetidamente, mais do que a um público português (que, assim como assim, continua preso a uma ideia de “cinema português” que pouco ou nada tem a ver com a realidade da produção). A expressão que vem à cabeça, ao longo de hora e meia de conversa, é “desafio”. Ele explica: “Sou sempre o primeiro espectador dos meus filmes, e sou um espectador que gosta de estar desconfortável. Gosto de coisas que me questionem e me provoquem, procuro uma reacção visceral, quase orgânica. Gosto muito de sentir os filmes, mas não faço filmes com uma agenda relativamente ao espectador. Não gosto de filmes que te dizem 'esta é a emoção que deves sentir, esta é a emoção que as personagens sentem', de uma forma demasiado sublinhada. ”Pensar o que os espectadores vão sentir perante os filmes de João Pedro Rodrigues é complicado, em parte porque a sua carreira se tem desmultiplicado, em parte porque nos últimos anos têm sido os seus filmes a meias com Guerra da Mata, mais lúdicos e irónicos, a terem maior visibilidade. O realizador fala das reacções a O Fantasma e à curta de 2012 O Corpo de Afonso, encomenda de Guimarães Capital da Cultura onde o realizador procura junto de culturistas galegos uma presença física para dar corpo à ideia mítica de Afonso Henriques. “Surpreende-me, por exemplo, que as pessoas achassem O Fantasma um filme provocador, quando quis fazer um filme quase inocente, à volta de uma personagem inocente, com um lado cândido. Por outro lado, O Corpo de Afonso tem algo de provocatório. Fui fazer um casting a não sei quantos galegos, porque Portugal não existia antes de Afonso Henriques, e porque o galego é uma espécie de mistura entre o português e o espanhol. E quando o filme passou pela primeira vez, não houve grande reacção. . . ”A ideia de “provocação”, mais do que dirigida para fora, vem no entanto da sua necessidade de se questionar a si próprio enquanto cineasta. “Tento fazer coisas em que me sinto confortável, mas questiono-me dentro desse próprio conforto, ” defende Rodrigues. “Não quero encontrar um método, um sistema de fazer as coisas. Não quero fazer sempre o mesmo filme. Mas também não sei o que vem a seguir. Não tenho 30 projectos na gaveta. Tenho sempre uma coisa que me angustia muitíssimo, que é uma espécie de vazio de ideias. Mas é dessa angústia que nascem os filmes. Hesito sempre: será que vou ser capaz de fazer isto? Se calhar não vou ser capaz de fazer nada, se calhar vai ser uma porcaria…”É irónico que fale de questionamento, de angústia, de dúvida, pois desde Morrer como um Homem que tem estado num período de produção constante e quase imparável, assinando ora a solo ora com o companheiro de sempre e cúmplice criativo João Rui Guerra da Mata (n. 1966). Três filmes inspirados por Macau, assinados em duo: as curtas Alvorada Vermelha (2011) e IEC Long (2015) e a longa A Última Vez que Vi Macau. Uma curta a solo, Manhã de Santo António. Três encomendas: O Corpo de Afonso; para o Curtas Vila do Conde, Mahjong (2013), assinada a meias; um fragmento a solo para o 70º aniversário do festival de Veneza em 2013. Mais a primeira curta a solo de Guerra da Mata, O Que Arde Cura (2012), onde Rodrigues era o único actor e co-argumentista. Mais uma instalação criada em 2013 para o museu sul-coreano Mimesis à volta de Manhã de Santo António, e depois adaptada para Harvard. Tudo isto durante o “momento negro” do cinema português, em que não houve quase dinheiro para filmar. . . João Rui Guerra da Mata, que assiste à conversa, ri-se: “Não parávamos de fazer coisas, quase como reacção contra [esse momento]”. João Pedro é mais prosaico. “Foram, mais uma vez, as circunstâncias. Foram filmes que fui fazendo porque tinha de fazer alguma coisa, e também porque mos encomendaram. E sempre penso que as curtas são tão difíceis como as longas, mas é uma ilusão pensar que as pessoas olham da mesma forma para elas. São sempre uma espécie de objecto menor. Dito isto, acho que estes filmes mais curtos me deram mais liberdade, até para poder experimentar. São todos bastante diferentes uns dos outros; sinto que são uma espécie de caminho feito de outros caminhos, de muitos passos, de desvios. ” Sorri. “Os meus filmes são todos bastante diferentes, mas agrada-me a ideia de serem espelhos, de comunicarem de alguma forma, de haver coisas que passam uns para os outros e que voltam. Por exemplo: O Ornitólogo é um filme que volta a muitas coisas dos meus outros filmes, mas talvez seja aquele onde me senti mais livre, apesar das imensas dificuldades de produção. ”O Ornitólogo, que terá estreia mundial em Locarno na próxima semana, é um projecto de que João Pedro Rodrigues fala há muito em entrevistas. Não é por acaso. “Eu queria ser ornitólogo quando era miúdo, ” explica o realizador, que tem formação em biologia, “e como as coisas em mim surgem sempre de uma forma obsessiva, a única coisa que eu fazia [nessa altura] era observar pássaros. Passávamos todos os fins de semana fora de Lisboa, na aldeia de onde o meu pai é originário, e eu queria fazer uma espécie de inventário de todas as espécies, porque há um lado qualquer científico que me interessa nas coisas, queria conhecer a fauna daquele lugar. Quando comecei a ir ao cinema, quando tinha 15 anos, comecei a ir muito obsessivamente. E uma coisa substituiu a outra. Se calhar é por isso que ele agora reaparece. . . ”Rodrigues não levantará demasiado o véu sobre o novo filme, “uma espécie de história do Santo António” como diz, co-produzida entre Portugal, França (onde já tem estreia marcada para o final do ano) e Brasil e que, pela primeira vez na sua carreira, se passa inteiramente na natureza. Mas a sua gestação e produção prolongada iluminam de algum modo o seu processo criativo. “Sei que não sou muito rápido a fazer filmes, ” admite. “Muitas vezes são as circunstâncias que mo impedem. O Ornitólogo foi escrito muito depressa; tivemos o dinheiro para o fazer no último concurso antes do 'período negro', e isso foi uma das razões pelas quais demorou tanto tempo. Depois, foi complicado, como sempre, arranjar dinheiro lá fora. E teve no fundo dois momentos de rodagem: uma primeira em 2014 em que só filmei animais selvagens, e a rodagem com os actores, no Verão de 2015. Não demoro muito tempo na montagem; gosto é de ter tempo para filmar, e luto por ter tempo para filmar, e luto cada vez mais porque é cada vez mais difícil ter tempo. ”Se a rodagem é “o momento decisivo, onde se joga tudo”, como diz, é que é na escrita do guião que as coisas se decidem. “As coisas já estão muito escritas, os meus filmes quase não mudam. No Ornitólogo, só houve uma cena que mudou de sítio – o resto ficou exactamente na sequência do guião. Mas sempre foi assim. No fundo é como se fizesse várias vezes o meu filme, e cada vez traz uma coisa diferente, entre a escrita, a filmagem e a montagem. E nas contingências do espaço físico as coisas mudam. As últimas versões do argumento, por exemplo, foram escritas a pensar em sítios específicos. ”É essa dimensão espacial que acaba por explicar os convites regulares para criar instalações artísticas. “Sempre pensei que os filmes que faço são para cinemas, não para galerias, ” surpreende-se. “E quando tivemos o convite em 2012 para a Coreia, eu não sabia o que havia de fazer. Como é que podia apresentar um filme num museu, e que sentido é que podia fazer?” João Rui Guerra da Mata, responsável desde sempre pela cenografia e produção visual dos filmes e co-autor da exposição de Vila do Conde, fala da geografia do espaço - “que, a par da arquitectura, representa um factor muito importante no cinema do João Pedro. Temos primeiro de conhecer o espaço, e depois pensar o que é que podemos fazer ali, e não conseguimos desenvolver ideias até ir lá e olharmos para aquilo. ”O espaço é algo que o cinema de Rodrigues sempre procurou e explorou, como confessa o cineasta. “Há uma espécie de tique do cinema contemporâneo que é a obsessão pelo plano geral, estar tudo à distância. a câmara fixa, a distância e as personagens ao fundo. Ou então andar atrás delas com a câmara aos pulos, ” diz enquanto se ri. “Isso não é no geral cinema de que eu goste. Tenho interesse em olhar o corpo que está ali à minha frente. Esse corpo é o corpo do actor, que vai interpretar uma personagem que eu criei para ele. Como é que ele se desloca no espaço? Como é que interage com os outros? A tensão de um plano também vem do modo como pões os actores a interagir num determinado espaço. O que me interessa é encontrar a distância justa. E o cinema também é feito desse contraponto entre o perto e o longe. ”É o espaço físico e o espaço entre os filmes, então, que Do Rio das Pérolas ao Ave percorre em simultâneo, redesenhando a própria estrutura das salas do Solar de São Roque, onde a galeria está instalada, para criar pontes conceptuais entre filmes que, imprevisivelmente, “desaguam uns nos outros, como se fossem uma espécie de rio ou de delta”. “O que nos interessava, ” diz Rodrigues, “era ver como apresentar estes filmes de outra forma, que ligações podíamos criar entre eles. Não me interessa só ter uma sala onde está o Corpo de Afonso a ser projectado. Era tentar pensar o que vamos fazer para transformar os filmes, para deixarem de ser só os filmes e tornarem-se uma coisa que faz parte de um ambiente onde há adereços e tudo junto faça um outro sentido”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A resposta surgiu de modo “meio teatral”, exemplificando com uma das salas criadas na Solar, a que chamaram Identidade Nacional. “Pensámos numa espécie de revisão lúdica da masculinidade, ” segundo Rodrigues, “em que confrontamos uma espécie de hiper-masculinidade com estereótipos do que é a representação da feminilidade. De um lado projectamos O Corpo de Afonso, depois temos em frente uma à outra duas fotografias que já estavam no Morrer como um Homem, da Maria Bakker [criação em travesti do actor Gonçalo Ferreira de Almeida] e outra da [transsexual] Jenny LaRue, e a réplica da espada de Afonso Henriques, como que a sair do écrã e ao mesmo tempo a dividi-lo em dois com a sombra que projecta. São imagens que passam umas através das outras ou umas sobre as outras, que criam novas imagens, novos sentidos, para nós e esperamos que também para os outros. ” É também por isso que esta exposição só terá existência em Vila do Conde, onde está patente até 25 de Setembro; tudo foi pensado especificamente para o espaço da Solar, e transpô-la para outra galeria implica reconfigurá-la, torná-la noutra exposição diferente. Guerra da Mata falava de criar na Solar “um percurso lúdico que não fosse chato, que pudesse ser playful. Nós sabemos onde queremos chegar, mas não é importante explicar, dizer «é isto porque não sei o quê». Se o público quiser tirar ilações sobre o que lá está, que o faça. ” De certo modo, é essa questão de não impôr uma leitura, antes de propor desafios, que se jogou sempre no cinema de João Pedro Rodrigues. Ele já o disse, mas define-o de outro modo: “O cinema não é como a vida, é uma depuração. É uma construção. Não são só momentos a seguir a momentos, mas coisas que se articulam numa estrutura mais longa. Os meus filmes estão sempre à beira de cair no grotesco, que é a coisa que eu mais detesto, no cinema e na vida também. Mas é como se me sentisse atraído por isso, como se estivesse a olhar para o abismo. É qualquer coisa de querer arriscar, de cinema que arrisca. . . ”
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Partidos LIVRE
Uma nova aventura de Vasco Mendonça para piano e orquestra
O concerto desta sexta-feira à noite na Gulbenkian, com música da actualidade, inclui a estreia de um concerto para piano do compositor Vasco Mendonça, uma obra que será gravada e editada em CD brevemente. “Aprocheguem-se”, ou melhor, Step right up! (...)

Uma nova aventura de Vasco Mendonça para piano e orquestra
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.136
DATA: 2018-07-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: O concerto desta sexta-feira à noite na Gulbenkian, com música da actualidade, inclui a estreia de um concerto para piano do compositor Vasco Mendonça, uma obra que será gravada e editada em CD brevemente. “Aprocheguem-se”, ou melhor, Step right up!
TEXTO: Step right up pode traduzir-se por “juntem-se todos”, ou “aproximem-se, venham ver”, como se chamasse a gente num espectáculo de feira. Um título convidativo à escuta da nova peça de Vasco Mendonça que esta sexta-feira se estreia no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, às 21h. Vasco Mendonça é um compositor português que tem tido uma carreira fulgurante. A Fundação Gulbenkian apresenta-o como “um compositor que é já uma voz essencial na música contemporânea portuguesa e europeia”. Vasco Mendonça estudou com os compositores Klaas de Vries e George Benjamin (para muitos conhecido por ser o autor da ópera Written on Skin) e a sua música tem sido tocada em várias salas europeias. Recentemente, teve a felicidade de ter ganho o Rolex Mentor and Protegé Arts Initiative (com a compositora finlandesa Kaija Saariaho), um programa filantrópico de apoio a jovens artistas, acedendo a uma bolsa que lhe dá a oportunidade de desenvolver novos projectos e ver a sua música interpretada em diversas partes do mundo. Entre esses projectos está agora a gravação de um disco monográfico com obras orquestrais do compositor. A Gulbenkian e o seu director do serviço de música, Risto Nieminen, apoiou e acolheu a ideia, programando este concerto para piano e esta gravação e incluindo-o num concerto maior dedicado a música da actualidade – um dos espectáculos que resultam de uma parceria da fundação com a Orquestra Sinfónica de São Paulo dedicados a música contemporânea do Brasil e de Portugal. “Quando falei com Risto, disse-lhe logo que achava graça fazer um concerto para piano e ele achou bem”, conta-nos Vasco Mendonça no foyer da Fundação Gulbenkian, na sequência de um vivo ensaio do seu novo concerto. “É o primeiro concerto que escrevo”, diz Vasco Mendonça. Logo se pôs a questão de quem seria o solista de concerto para piano: “Tinha visto o Roger Muraro a tocar o concerto de Ravel e lembrei-me logo dele. Para além do mais, ele conheceu o Messiaen e toca a música dele frequentemente. Eu estudei com um aluno do Messiaen [George Benjamin] – há aqui uma genealogia interessante também. . . ” Tudo bateu certo, e o pianista Muraro aceitou o desafio. “Eu sou péssimo pianista, mas gosto profundamente do piano”, diz Vasco Mendonça, que nos fala depois das suas ideias estéticas para este Step right up: “O género concertante é um enigma – são duas entidades que estão ou não estão. Para mim a orquestra e o piano são mecanismos de precisão, e o piano é em si mesmo uma máquina de carácter orquestral, pelo registo, o âmbito, o volume sonoro, a agilidade dinâmica, tudo. Por outro lado, a orquestra é um caleidoscópio e abre um mar de possibilidades. Um é uma extensão do outro, isso alimentou dramaticamente a forma da obra: expansão, precisão e sincronismo. ”Vasco Mendonça parece entusiasmado com este seu projecto e isso vê-se no ensaio, em que, com a partitura na mão, vai dando esclarecimentos ou respondendo a dúvidas do maestro e da orquestra: “Há sempre pequenos ajustes, para clarificar as coisas. É preciso moldar a música como um oleiro, o material musical. ” Para ele, tudo tem de se articular na perfeição, como num relógio: “As dificuldades rítmicas e dinâmicas têm que ver com a precisão — se conseguimos encaixar tudo, vemos um relógio por dentro. Creio que há poesia nisso. ”Para Vasco Mendonça escrever um concerto para piano não tem de ser carregar às costas toda a história do piano e da forma concerto. “Estou menos ligado ao piano romântico”, diz o compositor. “A história do instrumento e da forma concerto é tão rica que podia ser paralisante. Tive de pensar que piano quero, como articular as ideias que me interessam para a minha música. Queria ser sincero, pessoal e consistente sem me preocupar muito com a ideia de concerto. ” Tudo para chegar à “oposição dramática entre o piano e o grupo, em que o piano é como um mestre de cerimónias, aquela forma preta no meio da orquestra”. Nas notas de programa ao concerto, o compositor explica que os três andamentos procuram “um equilíbrio diferente entre o piano e a orquestra, uma relação dramática instável entre quase iguais”. Quase. . . Vasco Mendonça foi buscar o título Step right up a uma expressão típica no circo de província, sobretudo nos EUA. “Significa ‘juntem-se todos’, é uma interjeição que achei que era bonita. Tem que ver com música de rua, o que se pode sentir sobretudo no primeiro e no terceiro andamentos, em que há uma ‘exterioridaded da música. E há também a ideia de as pessoas se juntarem para partilhar um momento. Vejo a música e as artes como formas de comunicação e empatia, uma forma de comunicar com outro. Não quer dizer que vão gostar, mas estamos disponíveis para mostrar ao outro. Até socialmente essa disponibilidade para o outro é necessária, é um acto de partilha, generoso. ”Este Step right up será gravado para edição futura em CD monográfico. “Fui atrasando fazer um disco em meu nome, talvez por um certo pudor em tomar essa decisão”, confessa Vasco Mendonça. “Mas há uma razão prática: fazer um disco orquestral é uma tarefa homérica por causa dos custos, por isso estou muito agradecido à Gulbenkian, que pôs a orquestra e o auditório à disposição uma semana. E tive a sorte de ter o apoio e a disponibilidade da Rolex. Então juntei as duas coisas, a estreia do concerto e o disco, e posso fazê-lo nas melhores condições, com um maestro excelente, uma orquestra excelente, um solista excelente. Com meios técnicos para fazer um projecto sólido. A verdade é que às vezes excelentes projectos falham por falta de tempo e dimensão. Sinto-me sortudo por ter esta oportunidade”, diz o compositor. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Senti necessidade agora de fixar este momento. O disco tem peças com coisas em comum e no seu conjunto são uma boa demonstração do que é o meu trabalho orquestral”, diz. É também uma forma de arrumar uma fase num percurso em aberto? Ele diz-nos não ver bem a coisa assim, mas assume que sente a necessidade de enveredar por outros caminhos: “Interessa-me, por exemplo, a performance. Tenho, por exemplo, um projecto com o Drumming, que tem mais que ver com performance. Acho que é saudável não estar sempre nos mesmos espaços com o mesmo tipo de pessoas. ” E insiste na procura também de contacto com novos ouvintes: “Há muitas pessoas que podem descobrir o deslumbramento e o prazer da música contemporânea. Associá-la ao repertório canónico é mais artificial. Aquela vibração tem de ser incentivada, é preciso falar com as pessoas, manter a identidade, mas mostrar disponibilidade para interagir com elas. Como um quadro do Rothko – é esmagador, não sabes onde vai tocar, mas toca. ” Na designação de “música contemporânea”, ele prefere pôr o acento na palavra “contemporâneo”: “No sentido de aventura, de procura de outras coisas, claro, de estarmos neste mundo. ”No concerto desta sexta-feira à noite, Vasco Mendonça estará acompanhado por obras bem diferentes, uma da islandesa Anna Thorvaldsdottir (Aeriality) e outra do compositor e DJ Mason Bates, com a peça Anthology of Fantastic Zoology (descrita como “um Carnaval dos Animais psicadélico”), que sugeriu o título para o espectáculo no seu conjunto, Zoologia Fantástica, que será dirigido pelo maestro Benjamin Shwartz. Música actual para descobrir esta sexta-feira, na Gulbenkian, neste mundo. Com a ajuda de um piano preto no mar da orquestra.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA