O leite faz mesmo bem à saúde. É a ciência que o diz
Dizer mal do leite tornou-se moda, mas isso não é suficiente para alterar a verdade. Partilhamos dez factos científicos que atestam que o leite é mesmo um alimento completo, saudável e seguro. (...)

O leite faz mesmo bem à saúde. É a ciência que o diz
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.7
DATA: 2018-11-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Dizer mal do leite tornou-se moda, mas isso não é suficiente para alterar a verdade. Partilhamos dez factos científicos que atestam que o leite é mesmo um alimento completo, saudável e seguro.
TEXTO: Quem nunca leu um artigo a contestar o consumo de leite que levante o dedo. Argumentos, crenças e mitos de toda a espécie são utilizados para levar o consumidor a acreditar que deve deixar de beber leite. Mas será que é mesmo assim? Numa altura em que a informação sobre nutrição está cada vez mais disponível, importa procurar saber o que a ciência realmente nos diz antes de aceitar qualquer falsa verdade. Foi isso mesmo que fizemos e chegámos à conclusão que o leite é aquilo que, há muitos séculos, Hipócrates já nos tinha dito que é: “Um alimento muito próximo da perfeição. ” Vejamos porque é que o pai da Medicina tinha razão:Um simples copo com 250 ml de leite meio gordo contém nove nutrientes essenciais ao corpo humano: proteínas, hidratos de carbono, gordura, riboflavina (vitamina B2), vitamina B12, cálcio, fósforo, potássio e iodo. E ainda que muitos destes nutrientes possam ser encontrados noutros alimentos, a verdade é que o leite os apresenta a todos reunidos numa fórmula de consumo fácil e acessível, em boa quantidade. O cálcio é um dos elementos mais importantes do corpo humano, sendo imprescindível para o bom funcionamento das células e estando presente nos ossos, dentes e também no sangue. A sua presença é fundamental para a transmissão dos estímulos nervosos, coagulação sanguínea, contracção muscular e funcionamento celular. Mas porque o corpo humano não o consegue fabricar sozinho tem de o ir buscar à alimentação. O leite é o alimento que apresenta maior quantidade de cálcio e este é muito bem absorvido pelo organismo. Este facto é particularmente importante, pois embora alguns produtos hortícolas sejam ricos em cálcio, como os espinafres ou os brócolos, a sua absorção não é fácil devido à presença de oxalatos. O mesmo acontece com os cereais, por conterem fitatos. As vitaminas presentes no leite ajudam a reforçar a sua importância nutricional. Entre elas encontra-se a vitamina B12, essencial para o organismo humano ao ajudar na formação normal de glóbulos vermelhos e no normal funcionamento do sistema nervoso. Além disso, contribui para o normal metabolismo da homocisteína. Um dos argumentos mais comuns para o “não consumo” do leite é a de que o ser humano é o único mamífero que o consome na idade adulta. Supostamente, a partir de certa idade, não só deixaria de ser necessário, como poderia até ser prejudicial. A ciência desmente esta afirmação e o senso comum diz-nos que o ser humano é também o único que consome muitos outros alimentos que não existiam há milhares de anos. Os especialistas recomendam que seja consumido em qualquer fase da vida – incluindo na infância e na idade adulta - porque é um alimento de excelente densidade nutricional, ou seja, oferece uma extraordinária relação entre calorias e nutrientes essenciais para o organismo. Um simples copo com 250 ml de leite meio gordo contém nove nutrientes essenciais: proteínas, hidratos de carbono, gordura, riboflavina (vitamina B2), vitamina B12, cálcio, fósforo, potássio e iodo. Outra razão por que o leite é importante na alimentação dos mais novos prende-se com o facto de ser uma boa fonte de iodo, um nutriente relevante para o crescimento normal das crianças e para uma normal função cognitiva. É de tal forma importante que se estima que o seu défice possa comprometer o coeficiente de inteligência (QI) em 15 pontos. De acordo com os resultados do estudo IoGeneration, cerca de um terço das crianças portuguesas entre os 6 e os 12 anos apresenta níveis insuficientes de iodo, melhorando a situação entre as que têm por hábito beber leite. É outro dos mitos que aparece associado ao consumo de leite, mas não passa disso mesmo, de um mito. O estudo “Cancer Prevention & Survival” do World Cancer Research Fund International/American Institute for Cancer Research, publicado em Setembro de 2017, confirma que o leite e produtos lácteos não estão associados a um risco aumentado de cancro. Ao contrário do que também se passou a apregoar, o leite não aumenta o risco cardiovascular. Na verdade, pode até proteger a saúde do coração. Esta foi uma das conclusões de outra revisão científica, esta publicada no “Food & Nutrition Research”. Da mesma forma, uma outra meta-análise, publicada na Cochrane (uma rede independente de investigadores, profissionais, doentes e outros parceiros), revela uma redução do risco cardiovascular associada à dieta mediterrânica, a qual inclui o consumo de lacticínios. Se o leite não fosse um alimento saudável não estaria na Roda dos Alimentos, que é a representação gráfica daquilo que se considera ser uma alimentação equilibrada, completa e variada à luz da evidência científica disponível. Ali é aconselhada a ingestão diária de duas a três porções de leite ou derivados, o que representa cerca de 18% da nossa alimentação. Além disso, o leite dá uma excelente ajuda à hidratação diária de que todos necessitamos. As bebidas vegetais não substituem os benefícios do leite de vaca em termos nutricionais. Já quanto aos leites sem lactose, sim, são em tudo idênticos ao leite “normal”, pelo que constituem uma boa alternativa para as pessoas com intolerância. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Consciente da necessidade de fazer chegar ao consumidor e aos profissionais de saúde mais e melhor informação, a Mimosa criou o Centro de Nutrição e Alimentação Mimosa (CNAM). Este é um centro de conhecimento do leite e produtos lácteos. Com mais de 20 anos de experiência, o CNAM trabalha em três vertentes: nutrição, educação e inovação. Além de participar na educação alimentar e nutricional da população, o centro promove e dinamiza o conhecimento técnico-científico sobre lacticínios e nutrição e contribui ainda para a criação de produtos lácteos adaptados às necessidades específicas dos consumidores, nomeadamente, sem lactose, leites adequados às fases de crescimento ou com adição de ómega 3, cálcio, esteróis vegetais, e proteína para a prática desportiva.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave educação ajuda consumo estudo espécie corpo vaca alimentos
Derrame de três toneladas de nafta no mar de Peniche
Capitania do Porto garante que a maior parte do combustível já foi recolhida. (...)

Derrame de três toneladas de nafta no mar de Peniche
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Capitania do Porto garante que a maior parte do combustível já foi recolhida.
TEXTO: Uma ruptura no abastecimento de uma caldeira de uma empresa provocou o derrame de cerca de três toneladas fuelóleo para o mar de Peniche, mas a Capitania do Porto garantiu que a maior parte da nafta já foi recolhida. "A escorrência de hidrocarbonatos foi detectada cerca das 13h de ontem [quinta-feira] junto à praia do Abalo, mas conseguimos identificar a fonte e foi estancada cerca das 14h", disse à agência Lusa o comandante do Porto de Peniche, Marcos Augusto. Ainda assim, o responsável pela capitania estima que "cerca de três toneladas tenham sido derramadas para o domínio público hídrico", tendo causado "algumas manchas no mar" e o aparecimento, durante a tarde, de manchas de nafta na Praia do Abalo, um pequeno areal que fica a descoberto na baixa-mar e que é utilizado essencialmente por pescadores. De acordo com Marcos Augusto, "cerca de um terço do areal foi limpo ao final do dia" através da brigada antipoluição da Polícia Marítima com o apoio da empresa responsável pelo derrame, a Plastimar, com sede na zona industrial de Peniche. Na manhã desta sexta-feira foram concluídas as acções de limpeza no areal, com a nafta "recolhida em sacos que vão ser encaminhados para aterro", mantendo-se por limpar "uma zona de rochas, em arribas de difícil acesso", em relação à qual "a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) está a analisar que medidas podem ser tomadas, se a utilização de dispersantes ou se se aguarda que o mar faça a limpeza natural", acrescentou o comandante do porto. O derrame de fuelóleo teve origem "no sistema de alimentação de uma caldeira "da empresa Plastimar, confirmou à Lusa o director-geral Luís Carvalho, acrescentado que "logo que foi detectada a fuga foi cantonada". De acordo com a empresa, "na monitorização feita entre as oito e as nove horas da manhã não foi detectado qualquer problema", suspeitando-se que a fuga tenha acontecido "a meio da manhã". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Luís Carvalho adiantou ainda que, após reunião com a Polícia Marítima, a empresa "disponibilizou meios no terreno para bombear e limpar os hidrocarbonetos no mar e no areal" e, segundo Marcos Augusto, "está também a colaborar no transporte dos sacos recolhidos para o aterro". A ocorrência já foi reportada ao Ministério Público para apurar a graduação da infracção. A Plastimar tem sede na zona industrial de Peniche e produz plásticos expandidos, entre os quais poliestireno expandido, espuma de polipropeno, bioplásticos e materiais revestidos com silicatos.
REFERÊNCIAS:
Tempo sexta-feira quinta-feira
Ficção: o melhor do ano
Escolhas de Helena Vasconcelos, Isabel Lucas, José Riço Direitinho e Mário Santos. (...)

Ficção: o melhor do ano
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 1.0
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Escolhas de Helena Vasconcelos, Isabel Lucas, José Riço Direitinho e Mário Santos.
TEXTO: ex aequoMichael OndaatjeRelógio D'Água"Em 1945 os nossos pais foram-se embora, deixaram-nos ao cuidado de dois homens que podiam muito bem ser criminosos. " Nathaniel, o narrador, tem 14 anos, a irmã, Rachel, "quase" 16. A partir desta história de abandono, o canadiano Michael Ondaatje constrói um romance onde explora a inventividade da memória nas suas diversas paisagens e grandes momentos de luz e sombra. Uma sinfonia romanesca, pelo vencedor do Booker dos Bookers, com O Paciente Inglês. I. L. ex aequoAntónio CabritaExclamaçãoReencontrado por acaso na Baixa Pombalina, Deus confessa-se, conta tudo. João de Deus, a personagem-máscara do realizador João César Monteiro. Aqui continuada por outros meios, mas com idêntico efeito humorístico. Trata-se de uma biografia imaginária da imaginária figura, uma homenagem paródica que António Cabrita tinha na gaveta há vários anos. Obra libertadora dos costumes e, sobretudo, do verbo, é um sumptuoso divertimento literário. M. S. ex aequoDubravka UgresicCavalo De FerroErudita e inteligente, Dubravka Ugresic (n. 1949) confunde o real e o imaginário de maneira a interrogar ambos, reivindicando uma maior veracidade para a magia da literatura. Romance de estrutura episódica, que acumula partes narrativas e polifonia de registos, e no qual os temas habituais da escritora croata surgem mais uma vez: a condição do exílio, os nacionalismos, a reabilitação da História, o modo de vida do escritor, e o mercado cultural da arte. J. R. D. ex aequoJennifer EganQuetzalDurante a Segunda Grande Guerra, uma jovem intrépida decide juntar-se às equipas de mergulho que reparam navios e levam a cabo duros trabalhos. No ambiente electrizante das docas, com gangsters trágicos, pais desaparecidos, pobreza e dificuldades de vária ordem, ela envolve-se numa história de sacrifício, paixões e decisões difíceis. A Nova Iorque das fotografias de Stieglitz, romântica e avassaladora, romanceada por uma escritora de excepção. H. V. ex aequoSalman RushdieD. QuixoteOs Golden surgem um dia em Nova Iorque e adquirem uma enorme mansão, recusando-se a revelar seja o que for sobre o seu passado. A vida desta família, por detrás das paredes bem defendidas do palacete no centro de Manhattan é escrutinada pelo narrador que, à semelhança de Nick Carraway em O Grande Gatsby de Fitzgerald, é um observador passivo, mas não isento de crítica. Uma parábola da sociedade americana, em vésperas da eleição de Trump. H. V. ex aequoHélia CorreiaRelógio D’ ÁguaPara que serve a literatura? Serve para ‘isto’. Hélia Correia colhe a escuridão do mundo e transforma-a em luminosa memória literária. Um Bailarino na Batalha (citação de um poema de Nietzsche intitulado Última Vontade) narra uma travessia do deserto em busca de uma terra prometida chamada Europa. E eis que a ficção ascende, como se fora nova, ao real e ao político pelo melhor caminho: a poesia. M. S. António Lobo AntunesD. QuixoteO título remete para uma ópera de Bela Bartók e parte de um crime real: a morte de um empresário e a destruição do corpo com ácido sulfúrico. Desde a elaboração do plano à concretização do acto e as suas consequências, António Lobo Antunes entra na cabeça e na intimidade de cada um dos cinco criminosos para explorar cada carácter. São homens infantis, perversos, medrosos, mesquinhos, cobardes. Um romance polifónico que se abstém de julgamento moral e expõe, através de recursos linguísticos, a grande contradição humana. I. L. Dulce Maria Cardosoed. Tinta-da-ChinaSete anos depois de O Retorno, Dulce Maria Cardoso regressa com outra grande personagem. Eliete é uma mulher de meia-idade com uma vida normal na sua terrível e muito pessoal anormalidade. A partir dela, do seu quotidiano, frustração, da sua relação com o tempo e com o que ele faz, por exemplo, ao corpo e à memória, a escritora traça um retrato detalhado do presente em Portugal. Neste que é o primeiro volume de um projecto maior, há a inquietante percepção de que Eliete somos nós, sobretudo quando não gostamos muito do que vemos. I. L. John BanvilleEd. Relógio D’ÁguaPerante a impossibilidade de sabermos o que acontece a Isabel Archer, protagonista trágico-cómica de O Retrato de uma Senhora de Henry James, o irlandês John Banville fá-la renascer e arrasta-a de novo para o pathos da sua existência. Continuará Isabel a ser “uma senhora” ou rebelar-se-á? Como poderá escapar de um marido cruel e das suas maquinações? Banville, com o seu virtuosismo exasperante, responde. Ou talvez, não. H. V. Javier MaríasEd. Alfaguara PortugalEm Berta Isla o espanhol Javier Marías recupera algumas personagens da sua trilogia O Teu Rosto Amanhã. Como acontece em alguns dos seus livros mais recentes, também neste existe uma personagem dividida entre a cultura inglesa (estudou em Oxford, universidade onde Marías também leccionou) e a cultura espanhola. Tomás (Tom Nevinson), filho de pai inglês, cresce em Madrid (onde muito novo conhece Berta Isla, com quem se virá a casar) mas faz os estudos universitários em Inglaterra. É durante estes anos que os serviços secretos ingleses o recrutam – ele é um superdotado para línguas – e passa a ser enviado em missões de espionagem. Mas este recrutamento acontece depois de ele ser chantageado ao ver-se envolvido num assassinato. Dito isto assim, poderá parecer ser este um romance sobre espiões. Não é. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Para Marías a literatura parece funcionar sempre como uma forma de se chegar ao conhecimento, tentando antes descobrir os mistérios que as personagens guardam, aquilo que nelas está invisível e que aos poucos vai saindo da penumbra. A sua prosa introspectiva (característica cada vez mais acentuada), bastante digressiva e heterodoxa, serve para, aos poucos, ir tornando clara uma tentativa de compreensão do mundo. A acção narrada é reduzida, como se fosse necessário parar o tempo para perceber melhor a vida. Berta Isla é um romance sobre a decepção e a incerteza da espera, a história de uma mulher que ao longo de décadas tenta resistir a uma ideia de amor, e que se vai apercebendo que a história da sua vida se resume a umas linhas na narrativa da vida de alguém com quem viveu muito tempo e que não conhece. J. R. D.
REFERÊNCIAS:
2018 foi o ano em que ganharam um prémio — e em que lhes aconteceram outras coisas
A ilustradora Madalena Matoso, o galerista Nuno Centeno, a arquitecta Inês Lobo e o investigador Emanuel Cameira são apenas alguns dos portugueses que em 2018 se viram premiados pelo trabalho que vêm desenvolvendo em diferentes áreas da cultura, e a que a pressa dos dias não nos permitiu dar a devida atenção. Agora que o ano em que se distinguiram está a terminar, recuámos a esses dias que ficaram marcados a bold nos seus calendários. (...)

2018 foi o ano em que ganharam um prémio — e em que lhes aconteceram outras coisas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.12
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: A ilustradora Madalena Matoso, o galerista Nuno Centeno, a arquitecta Inês Lobo e o investigador Emanuel Cameira são apenas alguns dos portugueses que em 2018 se viram premiados pelo trabalho que vêm desenvolvendo em diferentes áreas da cultura, e a que a pressa dos dias não nos permitiu dar a devida atenção. Agora que o ano em que se distinguiram está a terminar, recuámos a esses dias que ficaram marcados a bold nos seus calendários.
TEXTO: No primeiro plano dos seus livros, mesmo antes de chegarmos às letras, há quase sempre um padrão gráfico que nos puxa para dentro. Pelas cores que atraem, pela capacidade que tem de divertir e de intrigar, pelas ilusões que cria. É assim em Cá Dentro – Guia para Descobrir o Cérebro, é assim em Não é Nada Difícil – O Livro dos Labirintos, que lhe valeu este ano, e pela segunda vez, o Prémio Nacional de Ilustração. Madalena Matoso desenha desde sempre. É-lhe tão natural quanto contar histórias recorrendo à cor e às formas que vai recortando em papéis de texturas variadas. É-lhe natural, mas não é fácil. “Quando digo que não sou uma virtuosa do desenho, quero dizer que tudo isto para mim é difícil. Às vezes a minha mão não consegue corresponder ao que imagino – os desenhos que tenho na cabeça são melhores do que os que consigo pôr no papel”, diz esta autora de 44 anos que em 2018 viu ainda Não é Nada Difícil ser considerado uma das 30 melhores obras visuais do mundo pela New York Rights Fair, uma importante feira internacional do negócio livreiro. As dificuldades, explica, obrigam-na a criar outros recursos, impedem-na de ficar acomodada a uma fórmula. “Alguns caminhos surgem precisamente na busca de soluções para resolver os tais problemas entre a cabeça e a mão. ” E alguns livros surgem de contaminações, nascem quando se está a trabalhar noutro projecto. Foi o caso de Não é Nada Difícil, que está cheio de labirintos. “A ideia de labirinto estava muito presente no Cá Dentro [com texto de Isabel Minhós Martins e Maria Manuel Pedrosa], que é um livro para ajudar a descobrir o cérebro e foi um projecto muito intenso, em que trabalhei cerca de seis meses em exclusivo. Fiquei com vontade de mexer nos labirintos de forma mais lúdica. ”Formada em Design de Comunicação na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa e com uma pós-graduação em Design Gráfico Editorial pela Faculdade de Belas-Artes de Barcelona, Matoso enveredou também pela edição. Em 1999 fundou com mais três amigos do liceu – Minhós Martins, Bernardo P. Carvalho e João Gomes de Abreu, todos eles autores – o Planeta Tangerina, um atelier de ilustração que a partir de 2006 começou a editar álbuns, arrancando com Uma Mesa é Uma Mesa (Isabel Minhós Martins/Madalena Matoso) e com dois livros da dupla Minhós Martins e Bernardo P. Carvalho: Obrigado a Todos e Pê de Pai, este último já um sucesso “clássico” do Planeta. “Queríamos editar os nossos projectos e os de outros em que acreditássemos, queríamos arriscar mais e não ficar a meio caminho como as editoras mais tradicionais. E fazer isso à nossa maneira, sem ter de discutir a qualidade de papel, as cores que podíamos usar…”No Planeta Tangerina, garante a ilustradora que está já a trabalhar num novo livro com saída marcada para Fevereiro, Metade Metade, só se discute "o importante”. “Somos amigos há muitos anos, gostamos de conversar sobre o que cada um anda a fazer e temos a tendência para mudar de direcção. Gosto deste lado de trabalho de equipa. O Pê de Pai, por exemplo, nunca sairia como saiu, com cores mais secas, cheio de castanhos, se fosse proposto a uma editora mais convencional. ”Madalena Matoso não tem dúvidas de que o melhor que os quatro amigos podiam ter feito foi mesmo publicar os seus próprios livros. É claro que, também nesta dimensão, a coisa não é fácil. Apesar de o mercado nacional ter ganho reconhecida vitalidade nos últimos sete ou oito anos, defende a ilustradora, a verdade é que as tiragens continuam a ser pequenas (1500 ou 2000 exemplares) e o número de títulos editados por ano reduzido. “Aqui no Planeta editamos seis ou sete livros por ano, mas gostamos assim. Damos tempo aos projectos. É claro que [o negócio] não seria sustentável, não daria para vivermos, se não vendêssemos os direitos dos nossos livros para muitos países. É por isso, sobretudo, que participamos em feiras e concursos internacionais – para mostrar e promover o que fazemos. ”Matoso tem vários dos seus livros traduzidos em múltiplas línguas e hoje os originais do seu Não é Nada Difícil estão expostos no Japão, depois de terem passado por Nova Iorque e Bolonha. Falamos de originais porque esta ilustradora, que traz da infância as memórias de tardes passadas a desenhar sobre a mesa, a Miffy de Dick Bruna ou A Fada Oriana de Sophia de Mello Breyner com ilustrações de Luís Noronha da Costa, continua a preferir fazer boa parte do trabalho à mão. Mostrando sobre o seu estirador as folhas com as “experiências” para o novo livro com o mesmo cuidado com que procura as palavras para falar com entusiasmo do seu trabalho e do dos amigos, Madalena Matoso explica: “No computador há a tendência para produzir de mais porque é rápido, fácil de corrigir… Quando mudo de técnica e trabalho com papéis, com recortes, parece que o desenho ganha vida e se faz quase sozinho. ”Fazer à mão dá-lhe um imenso prazer e permite-lhe reflectir mais sobre cada traço, sobre o ritmo que vai impor à história. “O ritmo não se vê, mas está lá, faz parte da leitura e temos de pensar nele, criando em cada livro uma harmonia entre as páginas que se passam depressa e as que precisam de tempo. ” Tudo na experiência de ler conta porque, para ela, “o livro continua a ser o objecto de design mais incrível, ao nível da roda": "Um universo gigante compactado entre uma capa e uma contracapa. ” Lucinda CanelasQuando Nuno Centeno (n. Porto, 1979) diz que, na sua vida profissional, “as coisas vão acontecendo de uma forma muito espontânea, passo a passo, mas sempre a subir um degrau”, não está apenas a referir-se ao percurso normal de uma carreira. Há também um significado literal: passada praticamente uma década sobre a abertura da sua primeira galeria, a Reflexus, frente ao Palácio de Cristal, no Porto, Nuno Centeno inaugurou em Setembro a sua nova galeria em nome próprio na zona mais alta da cidade, recuperando e transformando a antiga oficina da Cooperativa dos Pedreiros num espaço invulgarmente apelativo para quem se interessa pelas coisas das artes, e não só. Subimos a rampa que dá acesso à nova Galeria Nuno Centeno (na Rua da Alegria, 598) sem nenhum sinal do que nos espera. Uma porta de vidro transparente oferece-nos a visão das peças da exposição aí patente – no caso, Natureza dinâmica, do artista conceptual belga Philippe Van Snick –, mas também uma viagem no tempo até à arquitectura brutalista do que foram as instalações originais, entre os anos 1940-90, da cooperativa ligada à edificação de alguns ícones patrimoniais da cidade, da Estação de São Bento aos Paços do Concelho ou ao Monumento à Guerra Peninsular. Numa espécie de open space cheio de cantos e recantos, que se espraia por mais de mil metros quadrados, o espaço para a arte, desenhado pelo arquitecto André Gonçalves, convive paredes meias com vestígios de tanques, canais de água, máquinas de cortar pedra, tornos mecânicos, trilhos de vagões de carga e mesas com tampos de mármore…“Isto foi a concretização do sonho que eu sempre tive de arranjar um espaço amplo, com boas condições para receber as pessoas e que fugisse aos moldes da tradicional galeria white cube”, diz Nuno Centeno, explicando ter também pretendido preservar a memória histórica do espaço. Após 12 meses de obras, a inauguração da nova Galeria Nuno Centeno veio concluir um ano especialmente feliz para o galerista: o ano em que foi premiado pelo melhor stand na feira internacional Frieze, de Nova Iorque; e em que integrou a lista das figuras mais inspiradoras (com menos de 40 anos) para o Apollo – The International Art Magazine, de Londres. “Foram todos pequenos grandes acontecimentos que me ajudaram a ganhar confiança”, diz Centeno, realçando que estas duas distinções vêm suceder à sua inclusão na lista dos dez galeristas mais influentes na Europa do site ArtNet, em 2016. “Essa foi um bocadinho o início de tudo”, e ao mesmo tempo “o resumo dos primeiros dez anos de carreira”, observa. Nuno Centeno, filho do artista plástico Sobral Centeno (n. Porto, 1948), iniciara, de facto, a sua actividade no mercado da arte uma década antes, depois de ter vivido e estudado no Brasil, aproveitando os contactos do pai. Começou por frequentar um curso de Design Industrial na Cooperativa Árvore, no Porto, mas, em 2000, rumou ao outro lado do Atlântico para estudar na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro. “Sempre achei, desde pequeno, até pela envolvência familiar, que iria seguir o ramo das artes; dizia assim: ‘Vou ser artista e abrir um espaço’. Mas, quando me apercebi, era galerista. Fui-me tornando galerista quase sem querer. Foi um processo muito intuitivo”, conta. Chegado agora ao “topo” da sua cidade natal, Nuno Centeno propõe-se colocar a sua nova galeria (e o Porto) “no mapa internacional das artes”, simultaneamente “respeitando aquilo que foi feito nas últimas décadas” e olhando para o futuro. E o futuro passa igualmente pela aposta em dois outros projectos: a Artist Book Gallery e o Sculpture Park and Outdoor Tendencies (SPOT). A primeira é uma espécie de submarca da Nuno Centeno, que aproveita a atmosfera brutalista da antiga caverna dos pedreiros para expor livros de artista. Aí se podem folhear, actualmente, livros-objectos-de-arte de Sobral Centeno – “Tenho vindo a fazer uma investigação grande da obra do meu pai”, diz Nuno, “e esta é uma forma de chamar a atenção para o trabalho dele” –, Julião Sarmento, Carolina Pimenta, Nuno Sousa Vieira e Filipe Cortez. “A ideia é que os livros sejam exibidos fisicamente, mas que também sejam fotografados e filmados para ganharem uma segunda vida online”, diz o galerista, com a perspectiva de criar uma base de dados neste domínio, com a qual possa “educar os coleccionadores e o público em geral a prestar mais atenção a estes objectos raros e preciosíssimos”. O SPOT, em fase de lançamento, é uma parceria de Centeno com Rita Almeida Freitas, um parque de arte pública ao ar livre (actualmente numa casa privada), aberto a coleccionadores privados mas também a instituições públicas, com a expectativa de lhes abrir “novos horizontes em termos de aquisição”. Já na galeria da Rua da Alegria, para o novo ano, e cumprindo o projecto de olhar simultaneamente para o passado, o presente e o futuro, Nuno Centeno vai expor a brasileira de origem japonesa Lydia Okumura e os portugueses Silvestre Pestana, Carolina Pimenta, Ana Cardoso, Luísa Mota e Mauro Cerqueira, entre outros. Sérgio C. AndradeEm cima da mesa do atelier estão os desenhos de um aldeamento para a Comporta, sobre o qual a arquitecta Inês Lobo, 52 anos, não vai entrar em detalhes. É uma encomenda privada e o segredo pode mesmo ser a alma de parte deste negócio ligado ao turismo. “Acho que todos os ateliers têm agora mais encomenda privada do que pública. Tivemos um momento em Portugal em que andámos a construir aquilo que os outros países já tinham: universidades, bibliotecas, museus. ” Depois, chegaram às mãos deste atelier projectos de recuperação da Parque Escolar (quatro escolas espalhadas por várias cidades) e a requalificação do espaço público, com alguns estudos para Lisboa. “Construiu-se muita coisa que eventualmente já não temos necessidade de continuar a construir. Esse momento, em que nós tivemos a sorte de participar através de muitos concursos públicos, não vai voltar a acontecer tão cedo. ”Mas as mudanças dos últimos tempos serão assunto apenas no final desta conversa que teve lugar no atelier situado no lisboeta bairro de Marvila, para onde Inês Lobo se mudou em 2016. Se a recuperação económica trouxe outro tipo de projectos a um dos raros ateliers conhecidos que é liderado por uma mulher em Portugal, o Prémio Associação Internacional dos Críticos de Arte (AICA) que recebeu este ano destacou a sua capacidade “ímpar” de montar estratégias de trabalho muito diversas. Da pequena à grande escala, da investigação ao desenho do edifício e da cidade, da qualidade da construção à dimensão social da arquitectura, da capacidade de colaborar com outros arquitectos à curadoria, uma “situação muito invulgar no panorama da arquitectura portuguesa”, escreveu o júri. O Prémio AICA, atribuído em parceria com o Ministério da Cultura e a Fundação Millenium bcp, foi inesperado para Inês Lobo. “Como hoje há a fúria dos prémios, a nossa relação com eles é de uma certa distância. Há imensos: uns a que temos de concorrer, outros em que somos convidados, outros ainda em que se paga para entrar. É um universo que está um pouco pervertido. Já o prémio AICA é o oposto disso, porque são os nossos pares próximos que decidem que o nosso trabalho deve ser reconhecido. ”A distinção é também o reconhecimento de que a diversificação do percurso profissional do atelier estava certa depois de a crise ter obrigado a equipa a pensar o que podia continuar a fazer em termos de arquitectura pública. “Ficámos muito contentes porque o prémio reconheceu não só a arquitectura enquanto encomenda e reposta, mas que a arquitectura é, per se, um acto de investigação permanente. ”Essa inversão chegou por volta de 2012, quando Inês Lobo foi convidada para comissariar a representação nacional na Bienal de Veneza de Arquitectura, dedicada às várias transformações na cidade de Lisboa que começaram com a intervenção de Álvaro Siza no Chiado, depois do incêndio de 1988. A curadoria da Bienal de Veneza e a reflexão acerca do que tinha sido a construção de Lisboa nesses anos levaram-a a fazer uma série de trabalhos, tal como o que se iniciou com o projecto para a Mesquita da Mouraria. Apesar de a construção do futuro templo da Rua da Palma estar atrasada devido às expropriações, o projecto serviu para desenvolver nos últimos dois anos um trabalho com os alunos sobre requalificação do espaço público na Avenida Almirante Reis. O resultado vai sair brevemente num livro, intitulado Atlas da Almirante Reis, edição conjunta das universidades Autónoma e Nova, com textos de vários autores e fotografias de Paulo Catrica. De certa forma, explica Inês Lobo, “foi a forma de continuar a participar na arquitectura enquanto arte pública e não apenas enquanto arte privada”. Este ano, Inês Lobo foi também convidada pelas comissárias-gerais da Bienal de Veneza para mostrar um trabalho de requalificação de espaço público que fez em 2015 para a cidade italiana de Bérgamo. Com Álvaro Siza e Eduardo Souto de Moura, Inês Lobo completava a participação portuguesa na exposição principal da bienal com a obra Um Banco, um Espaço Livre para Cem Pessoas. “Gostei muito do tema do espaço livre, da arquitectura ter de reflectir constantemente sobre o espaço que é de todos. ”O projecto de Bérgamo também foi nomeado recentemente para o Prémio Secil, desta vez juntamente com a Biblioteca e Arquivo de Angra do Heroísmo, uma obra magnífica cuja construção foi várias vezes interrompida pela crise e levou uma década a terminar. Outro dos seus projectos, uma casa na rua do Quelhas, em Lisboa, feita em parceria com o arquitecto paulista Paulo Mendes da Rocha, um gigante da arquitectura brasileira, foi igualmente nomeado para o Prémio Mies van der Rohe. Por causas das colaborações com outros arquitectos – Inês Lobo teve igualmente projectos em parceria com Pedro Domingos, Carlos Vilela, Ricardo Bak Gordon, João Maria Trindade ou João Mendes Ribeiro –, regressámos ao tema do género, de que a arquitecta falou detalhadamente quando recebeu o Prémio arcVision – Women and Architecture em 2014. “Por ser mulher, tenho, eventualmente, uma certa facilidade em lidar com situações de colaboração. Os homens, de uma forma geral, são mais competitivos. Sempre fiz projectos em parceria e gosto bastante. É um momento em que se pode discutir arquitectura com um parceiro da forma mais intensa possível. ” Mas, tal como há quatro anos, apesar de o tema ser “incontornável e fundamental na sociedade”, Inês Lobo não pensa “que os grandes problemas na questão de género aconteçam especificamente na arquitectura”. Muito menos, acrescenta, com ela. Isabel SalemaSe a história de um editor contemporâneo, e que ainda por cima teimou em “permanecer amadorístico e minúsculo e quase artesanal”, já não constitui, à partida, o tópico mais óbvio para uma tese de doutoramento em sociologia, a dissertação A &etc de Vitor Silva Tavares: narrativa histórico-sociológica, de Emanuel Cameira, soma ainda outras singularidades, como a de ser escrita na primeira pessoa, tornando-se de algum modo a narrativa de uma investigação, e não apenas o seu resultado. Defendida no início deste ano perante um júri que incluiu, entre outros, o historiador Diogo Ramada Curto e Rosa Maria Martelo, uma ensaísta que tem dedicado particular atenção à poesia portuguesa contemporânea, a tese de Cameira venceu recentemente, ex-aequo com um trabalho de José Avelãs Nunes sobre a arquitectura dos sanatórios portugueses, o prémio Victor de Sá de História Contemporânea, atribuído pela Universidade Minho. Um prémio que considera genuinamente “prestigiante”, mas que recebeu com sentimentos contraditórios. Se o satisfaz ver reconhecido um trabalho, “por natureza solitário”, no qual investiu seis anos, e se os 1750 euros de meio prémio lhe dão certamente jeito, esta distinção também vem acentuar a injustiça da situação profissional em que se encontra, precária, mal paga e sem horizontes. Os treze anos já decorridos desde que se licenciou pelo ISCTE, onde hoje dá aulas, ainda não foram suficientes para este investigador de 36 anos, pai de duas filhas pequenas, conseguir um emprego minimamente estável: “É muito difícil chegar a professor do quadro, porque quase não abrem vagas, e quando abrem já estão atribuídas, e a lógica da universidade é hoje totalmente contrária a tudo o que seja dar tempo às pessoas para produzir coisas de qualidade”, lamenta o investigador. “O prémio é óptimo, mas não muda o dia-a-dia”, resume, sublinhando que só evoca estas suas dificuldades para não se pensar que é “uma pessoa instalada e que vive maravilhosamente”. Entre a licenciatura e o início da docência, Emanuel Cameira frequentou um mestrado em Estudos Curatoriais na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa que acabaria por ter um efeito colateral importante, proporcionando o seu primeiro encontro a três dimensões com Vitor Silva Tavares (VST). No âmbito desse mestrado co-organizou a exposição João César Monteiro: Assim e Não Assado, que esteve em 2010 no Convento dos Cardaes, em Lisboa, e para cujo catálogo VST viria a escrever um texto. “Conheci-o nessa altura, na Rua da Emenda [onde funcionava a &etc], conta Emanuel Cameira. “Já era leitor assíduo e coleccionador das edições &etc e depois fez-se um clique qualquer na minha cabeça em termos sociológicos e decidi fazer esta tese”. Leitor de poesia e apreciador de edições artesanais, ele próprio veio a dar o gosto ao dedo com a revista-almanaque Postas de Pescada, lançada em 2016 com a ilustradora Ana Biscaia, de que saíram dez números, com colaboração de poetas como A. M. Pires Cabral, Carlos Poças Falcão ou Manuel de Freitas. Com a mesma chancela, editaram ainda o volume colectivo Arar (2017), que recuperava um texto homónimo de VST originalmente publicado por Paulo da Costa Domingos na Frenesi, em 1984. Decidido a eleger a &etc como tema da sua tese de doutoramento, uma das questões prévias que o investigador se colocou foi a de saber “como se estuda algo que parece funcionar quase fora do social”, ou seja, passar dessa imagem de uma editora que todos elogiam como singular e marginal para “tentar perceber como se tinha chegado àquele figurino, como aquela singularidade editorial se alicerçava numa série de outras singularidades”. E desde logo a do invulgaríssimo percurso de vida do editor: “A trajectória de Vitor Silva Tavares é completamente improvável, e é fascinante, enquanto desafio à compreensão sociológica, tentar compreender como é que alguém que não tinha nada, que não tinha livros em casa, que não tinha que comer, acaba por ser um decisivo na edição literária portuguesa da segunda metade do século XX. ”Não surpreende, portanto, que esta narrativa histórico-sociológica da &etc inclua uma verdadeira biografia de VST, para a qual o próprio contribuiu disponibilizando-se para uma série de conversas com Emanuel Cameira. Desses anos da infância na Madragoa, quando vivia com mais 12 pessoas num espaço que se resumia a “meia varanda, uma sala, um corredor e meia cozinha”, o futuro editor recordava “uma cama muito grande que ocupava praticamente o espaço todo daquilo a que pomposamente se podia chamar sala", onde dormiam a avó, as tias e ele próprio, "rodeado de mamas por todo o lado”. Cameira acha que a sua dissertação “não belisca de todo a imagem” de VST e da &etc. Pelo contrário, muito do material que investigou confirma essa ideia de “uma editora que funcionava nos antípodas desta lógica de indústria cultural”, reforça a intuição de que a edição serviu a Vitor Silva Tavares como um modo de “afirmação criativa” e não perturba o retrato que dele foi sendo feito como “um indivíduo quase à parte”, comparável, segundo o investigador, a “figuras como João César Monteiro ou Luís Pacheco nos seus respectivos campos de actividade”. Mas o trabalho de Cameira permite também perceber que sem o respaldo económico que lhe foi sempre sendo assegurado por Célia Henriques, com quem se casou em 1965, e que provinha de uma família portuense abastada mas de convicções progressistas, Vitor Silva Tavares nunca teria podido manter a &etc nos moldes em que ela existiu. “Os livros eram caros de fazer, porque tinham bons acabamentos, e vendiam-se pouco”, nota Cameira, o que deveria levar qualquer um a perguntar-se como podia a &etc sobreviver quando tantas outras editoras iam fechando portas. Uma boa parte da resposta chama-se Célia Henriques, defende agora esta tese com uma clareza até aqui nunca assumida. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Outra dimensão pouco conhecida que emerge dos arquivos pessoais a que o investigador teve acesso é a de um Vitor Silva Tavares que se via a si próprio como um escritor e um artista visual falhados. “Há documentos, alguns publicados na dissertação com a autorização da família, em que ele mostra uma certa tristeza por não alcançar a Obra, com maiúscula”, diz Cameira, sugerindo que “é também por isso que ele busca uma afirmação criativa noutro plano, na edição”. O momento mais complexo na escrita deste trabalho agora premiado foi, claro, a morte de Vitor Silva Tavares. “A tese esteve parada dois meses, não sabia como dar a volta àquilo, tinha criado uma afinidade pessoal com o meu objecto de estudo e ele morreu-me, literalmente”. O instante ficou, aliás, inscrito no texto. Entre um parágrafo sobre as tertúlias nos cafés e uma citação que ajuda a contextualizar o que está a descrever, Emanuel Cameira introduz esta frase em maiúsculas: “Vitor Silva Tavares faleceu hoje, 21 de Setembro de 2015. Triste tese. Como prosseguir?”. Mas a morte de VST deu também ao investigador a oportunidade e a responsabilidade de aceder aos papéis do editor, cuja consulta lhe foi facultada pelos familiares. “Artigos de jornal, folhetos, memórias descritivas, livros de contas, textos literários”, inventaria Emanuel Cameira, sublinhando que só então teve noção da intensidade com que Vitor Silva Tavares se dedicava à escrita: “São centenas de textos, para não dizer milhares, que ele escrevia em papelinhos, em guardanapos, em todo o lado, e atirava para as gavetas”. Luís Miguel Queirós
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Os senhores burocratas da Universidade de Lisboa
Que uma universidade entenda que as notas dos seus alunos possam ser consideradas um tema do estrito foro privado diz muito acerca da decadência do espírito liberal, em detrimento de uma mentalidade burocrática e medrosa onde a mediocridade campeia. (...)

Os senhores burocratas da Universidade de Lisboa
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Que uma universidade entenda que as notas dos seus alunos possam ser consideradas um tema do estrito foro privado diz muito acerca da decadência do espírito liberal, em detrimento de uma mentalidade burocrática e medrosa onde a mediocridade campeia.
TEXTO: Aqui há uns dez anos, vivi numa rua onde havia um lugar de estacionamento reservado para um morador com problemas de saúde. Um dia o senhor mudou de casa e informou as autoridades competentes. As autoridades competentes não mexeram uma palha e a placa com a matrícula do seu carro continuou no mesmo local. Os moradores, naturalmente, começaram a ignorar a placa e a estacionar os carros. Começaram também a ser multados pela polícia. Ao fim de duas ou três multas expliquei calmamente a um agente que o dito senhor já não morava ali. Recebi como resposta que a lei era a lei. Nessa mesma noite, com a ajuda do meu pai, enfiei três pontapés no sinal, arranquei-o do chão, meti-o no carro com a bagageira aberta e fui despejá-lo num descampado. Problema resolvido. Moral da História: a lei existe para servir o homem; não o homem para servir a lei. Todos nós devemos cultivar uma semente anarquista que nos ajude a resistir aos abusos e à estupidez do Estado, mais os seus dedicados acólitos. O espírito da lei nem sempre está conforme à letra, e é por isso que transportamos uma cabeça em cima dos ombros – para usá-la sempre que se afigure necessário. Mas isto sou eu, claro. Já os senhores que mandam na Universidade de Lisboa preferem não se dar a esse trabalho, e num curto intervalo de tempo tomaram duas decisões abracadabrantes: entenderam que o professor Domingos Farinho era a pessoa mais indicada para integrar o júri que vai decidir quais serão os nossos futuros juízes (sim, refiro-me ao professor Farinho que admitiu ter dado uma ajudinha a José Sócrates na escrita da sua tese de mestrado e que foi apanhado a fazer pesquisa para a sua tese de doutoramento) e concluíram que o novo regulamento europeu de protecção de dados proíbe que as pautas de avaliação sejam tornadas públicas. Os senhores da Universidade de Lisboa fogem da transparência como o Conde Drácula fugia da luz. Eu li a notícia na semana passada no site da Renascença e esperei até hoje por um desmentido oficial – nada. A Renascença baseou a sua notícia num grupo de alunos que confirmaram à rádio que as novas regras da instituição estabeleciam que cada aluno só teria acesso às suas notas individuais. Na notícia era também ouvido um jurista que discordava por completo dessa interpretação do regulamento. Mas ainda que concordasse: se a Universidade de Lisboa fosse gerida por homens livres em vez de mangas de alpaca muito atentos às novas modas internacionais (lá fora há já quem fale em “grade shaming”, e um grupo de estudantes tentou pressionar Cambridge para fazer aquilo que a Universidade de Lisboa agora acolhe com fervor) jamais poderia aceitar tal coisa. As pautas de avaliação públicas não existem para a Maria meter o nariz nas notas do Manel. Elas existem para a Maria e o Manel meterem o nariz nas notas do professor Farinho e verificar se estão a ser justamente tratados, ou se por acaso um é tratado mais socraticamente do que o outro. Chama-se a isto escrutínio. E há menos em Portugal do que linces na serra da Malcata. Que uma universidade entenda que as notas dos seus alunos possam ser consideradas um tema do estrito foro privado diz muito acerca da decadência do espírito liberal, em detrimento de uma mentalidade burocrática e medrosa onde a mediocridade campeia – e onde a sensibilidade do aluno é mais importante do que a credibilidade da instituição. É isto a maior universidade portuguesa: protege quem não pode; esconde o que não deve.
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Palavras-chave homens lei ajuda homem
Roma e Black Panther avançam na shortlist das nomeações para os Óscares
Portugal fica de fora da possibilidade de competir pelo Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. A lista contém indicadores do que podem ser as corridas em nove categorias, nomeadamente as importantes entradas de Filme Estrangeiro, Documentário ou Banda Sonora Original e Canção Original. (...)

Roma e Black Panther avançam na shortlist das nomeações para os Óscares
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.16
DATA: 2018-12-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Portugal fica de fora da possibilidade de competir pelo Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. A lista contém indicadores do que podem ser as corridas em nove categorias, nomeadamente as importantes entradas de Filme Estrangeiro, Documentário ou Banda Sonora Original e Canção Original.
TEXTO: É só uma shortlist, mas com indicadores ou confirmações para as nomeações que serão anunciadas a 22 de Janeiro para os mais importantes prémios de cinema do mundo. Para já, dois títulos em torno dos quais giram as conversas sobre os Óscares de 2019 já têm presença: Roma está como candidato a nomeado ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro e Black Panther, o filme Marvel que se questiona se será a primeira nomeação de um filme de super-heróis para o Óscar de Melhor Filme, já tem menções nas expectáveis categorias técnicas. A lista, divulgada na noite de segunda-feira (hora portuguesa) contém alguns indicadores do que podem ser as corridas em nove categorias, nomeadamente as importantes entradas de Filme Estrangeiro, Documentário ou Banda Sonora Original e Canção Original. Unanimemente, a reacção principal é de que Roma, o filme de Alfonso Cuarón que mudou a forma como o Netflix se posiciona perante as salas de cinema, tem a presença esperada na categoria de candidato a nomeado ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Concorre com outros considerados incontornáveis de 2018, como Cold War - Guerra Fria, o sexto filme do polaco Pawel Pawlikowski que recebeu o prémio de Melhor Realizador no Festival de Cannes, ou Shoplifters: Uma Família de Pequenos Ladrões, que deu a Palma de Ouro de Cinema de Cannes ao cineasta japonês Hirokazu Koreeda. E ainda com Ayka (Cazaquistão) e Capernaum (Líbano), também concorrentes de Cannes - o magnífico Ayka, de Sergey Dvortsevoy, do Cazaquistão, valeria no festival um prémio de interpretação a Samal Yeslyamova colocando-nos no corpo, nas dores, de uma mulher que acabou de dar à luz mas não tem tempo para ser mãe, porque tem dívidas. Não há candidatura possível à nomeação para Portugal, que tinha seleccionado como representante de 2018 Peregrinação, de João Botelho. Os nove filmes foram seleccionados a partir de 87 candidaturas. Roma, de Alfonso Cuarón, é um filme Netflix que se estreou em sala antes de chegar à plataforma (em Portugal, na semana passada) e que é tido como forte candidato à nomeação também para Melhor Filme. Essa categoria, a mais observada e rentável dos prémios atribuídos pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, está bem em aberto mas a presença ou não de Black Panther, o filme Marvel sobre negritude que Ryan Cooler realizou com aclamação crítica e de bilheteira, é uma das grandes questões a deslindar a 22 de Janeiro. Até lá, Black Panther já está na shortlist para Efeitos Visuais e Caracterização, mas também por All the Stars, de Kendrick Lamar e SZA, como canção original, e pelo total da sua banda sonora original, um trabalho de composição e curadoria do mesmo Kendrick Lamar. Na mesma shortlist está a incontornável Shallow, de Assim Nasce uma Estrela. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Quanto à corrida de Melhor Documentário, ficaram de fora o muito aguardado Amazing Grace, o documentário há décadas congelado de uma actuação mítica de Aretha Franklin, mas a América continua bem presente com RBG, sobre a juíza candidata a ícone pop Ruth Bader Ginsberg, ou Won’t You Be My Neighbor?, sobre o apresentador infantil Mr. Rogers. Também O Regresso de Mary Poppins, que se estreia esta semana em Portugal, teve o seu quinhão de reconhecimento prévio da Academia. Entre os votantes, pela primeira vez este ano, está além de outros portugueses membros da Academia, como o português Pedro Costa, a cineasta portuguesa Regina Pessoa, autora de curtas de animação e cuja shortlist também foi agora revelada a partir de 81 candidatos. Os Óscares realizam-se a 24 de Fevereiro de 2019. A lista completa dos pré-candidatos aos Óscares em nove categorias:Melhor Filme EstrangeiroPájaros de verano (Colômbia)O Culpado (Dinamarca)Werk ohne Autor - Never Look Away (Alemanha)Shoplifters: Uma Família de Pequenos Ladrões (Japão)Roma (México)Cold War - Guerra Fria (Polónia)Ayka (Cazaquistão)Capernaum (Líbano)Beoning - Burning (Coreia do Sul)Melhor DocumentárioCharm CityCommunionCrime + PunishmentDark MoneyThe Distant Barking of DogsFree SoloHale County This Morning, This EveningMinding the GapOf Fathers and SonsOn Her ShouldersRBGShirkersThe Silence of OthersThree Identical StrangersWon’t You Be My Neighbor?Melhor Curta-metragem DocumentalBlack SheepEnd GameLifeboatLos ComandosMy Dead Dad’s Porno TapesA Night at the GardenPeriod. End of Sentence. ’63 BoycottWomen of the GulagZionMelhor CaracterizaçãoBlack PantherBohemian RhapsodyStan & OllieSuspiriaViceBorderMary Queen of ScotsMelhores Efeitos VisuaisBlack PantherVingadores: Guerra do InfinitoReady Player One: Jogador 1Han Solo: Uma História Star WarsChristopher RobinHomem-Formiga e a VespaO Primeiro Homem na LuaMundo Jurássico: Reino CaídoO Regresso de Mary PoppinsWelcome to MarwenMelhor Banda Sonora OriginalAniquilaçãoVingadores: Guerra do InfinitoBlack PantherBlacKkKlansman: O InfiltradoMonstros Fantásticos: Os Crimes de GrindelwaldThe Ballad of Buster ScruggsO Regresso de Mary PoppinsReady Player One: Jogador 1Ilha dos CãesA Morte de StalinUm Lugar SilenciosoCrazy Rich AsiansIf Beale Street Could TalkFirst ManViceMelhor Canção OriginalWhen a Cowboy Trades His Spurs for Wings - The Ballad of Buster ScruggsTreasure - Beautiful BoyAll the Stars - Black PantherRevelation - Boy ErasedGirl in the Movies - Dumplin'We Won’t Move - The Hate U GiveThe Place Where Lost Things Go - O Regresso de Mary PoppinsTrip a Little Light Fantastic - O Regresso de Mary PoppinsKeep Reachin - QuincyI’ll Fight - RBGA Place Called Slaughter Race - Ralph vs InternetOYAHYTT - Sorry to Bother YouShallow - Assim Nasce uma EstrelaSuspirium - SuspiriaThe Big Unknown - ViúvasMelhor Curta-metragemCarolineChuchotageDetainmentFauveIcareMargueriteMay DayMotherSkinWaleMelhor Curta de AnimaçãoAge of SailAnimal BehaviourBaoBilbyBird KarmaLate AfternoonLost & FoundOne Small StepPepe le MorseWeekends
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De mãos portuguesas nascem produtos de excelência
Recorrendo a métodos distintivos e a matérias-primas de qualidade, os nossos artesãos destacam-se cada vez mais. Prova disso é a presença que marcam na Feira Internacional do Artesanato, que decorre até domingo, na FIL. (...)

De mãos portuguesas nascem produtos de excelência
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 1.0
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Recorrendo a métodos distintivos e a matérias-primas de qualidade, os nossos artesãos destacam-se cada vez mais. Prova disso é a presença que marcam na Feira Internacional do Artesanato, que decorre até domingo, na FIL.
TEXTO: É considerada a maior feira ibérica de homenagem à multiculturalidade – porque nela estão representados 40 países dos cinco continentes – mas visitá-la tem em nós o efeito imediato de reforçar o imenso orgulho que sentimos dos produtos portugueses. Referimo-nos à Feira Internacional do Artesanato (FIA) de Lisboa, que embora seja uma enorme montra do melhor que se faz no mundo naquela área (num total de 650 expositores oriundos dos quatro cantos do globo) concede ao artesanato português um pavilhão inteiro para se mostrar. Razões para o destaque não faltam e essas foram-nos sendo reveladas no decurso das várias conversas que mantivemos ao longo do dia de abertura do certame, que decorre na Feira Internacional de Lisboa (FIL): elevada qualidade dos produtos, respeito por excelentes matérias-primas, recurso a técnicas antigas e também inovação. É, pois, esta a combinação que explica a grande aceitação do artesanato português e justifica também a aposta do programa “Portugal Sou Eu”, que levou à FIA um total de 16 artesãos nacionais - veja o vídeo da inauguração. Presente na inauguração da feira, o secretário de Estado da Defesa do Consumidor, João Torres, realçou precisamente a procura crescente de que o nosso artesanato é alvo, “não apenas por estrangeiros como também por portugueses”, e prova disso é, nas suas palavras, “a enorme afluência” à feira. Note-se que quase um quarto dos artigos (23%) que apresentam o selo identificativo “Portugal Sou Eu” – a iniciativa do Governo destinada a estimular o consumo de produtos nacionais - provêm de actividades artesanais. Questionado sobre a relevância do programa, o responsável não hesita em considerar que este “serve os interesses de Portugal”. Como o faz? “Ao dar uma muito maior visibilidade aos produtos portugueses, o programa aproxima essa oferta nacional dos consumidores, que estão cada vez mais disponíveis para, quando realizam uma compra no seu dia-a-dia, optarem por um produto português”, responde. Para o governante, os benefícios económicos são evidentes: “Sabemos que o programa Portugal Sou Eu é muito relevante para que a nossa balança comercial seja mais reforçada de forma positiva e ajuda as empresas portuguesas a afirmarem os seus produtos e a sua produção. ”Tendo em conta a relevância do programa, que vai já na terceira fase, o secretário de Estado mostrou-se optimista quanto à sua continuidade. Realçando o investimento público de 2, 5 milhões de euros na iniciativa, sublinhou a “muita consideração” em que o Governo a tem e garantiu o interesse no prolongamento: “Continuaremos a investir para dar a conhecer os produtos portugueses, para valorizar os produtos portugueses e para aproximá-los dos consumidores nacionais. ”Ciente das vantagens do programa está também Norma Rodrigues, directora-geral da Associação Industrial Portuguesa (AIP), uma das várias entidades parceiras da iniciativa: “Permite promover a valorização dos produtos nacionais, aproxima o consumidor das empresas que têm uma grande incorporação nacional e dessa forma ajuda a que as empresas sejam mais competitivas, mantenham emprego e contribuam para a produção nacional. ”Além disso, considera que o programa favorece também “a aproximação entre empresas”, que é outro dos objectivos da AIP: “Nós apostamos muito em que as empresas incorporem valor através de produtos intermédios, comprando a outras empresas portuguesas. ”Fazendo um balanço “muito positivo” do “Portugal Sou Eu”, a AIP vê-o mesmo como “um programa intemporal”. “Nasceu na fase do ajustamento, em plena crise, onde havia uma grande retracção de consumo internacional e era muito importante estimular o consumo de produtos produzidos em Portugal. Hoje estamos numa fase de crescimento e o programa continua a ser importante, porque o mundo aposta em produtos inovadores, em produtos altamente competitivos, com qualidade e Portugal tem”, justificaPara Norma Rodrigues, há que destacar também aquilo que designa como um “contexto favorável” ao nosso país, lembrando que “Portugal está na moda e é premiado em vários sectores”. “Direi mesmo que é possível que muitos produtos portugueses têm já em si um premium que atrai o consumidor”, acrescenta. João Torres partilha da mesma opinião, sublinhando que os portugueses “estão cada vez mais atentos à oferta nacional” e também “mais disponíveis para comprar esses produtos”, ainda que possam eventualmente “ter de pagar um pouco mais”. A maior sensibilização dos consumidores nacionais para a origem do produto é uma realidade percepcionada pelos diversos aderentes ao programa, nomeadamente por José Pedro Marques, artesão responsável pela Science Track. Criador de jogos, brinquedos e kits lúdicos e pedagógicos, construídos em materiais naturais como madeira, cortiça ou papel reciclado, entende que “os portugueses estão consciencializados em relação ao produto tradicional, especialmente com o selo do Portugal Sou Eu”. Corrobora que o país está “em voga”, o que leva clientes - turistas incluídos - a procurarem com exactidão aquilo que pretendem: “Reconhecem perfeitamente o selo e até vão à procura na base de dados do Portugal Sou Eu. ”A preferência de estrangeiros pelo selo é destacada também por Pedro Cabral, da Art Rústica, segundo o qual, desta forma “eles reconhecem que é um produto nosso e daí não o quererem tirar da peça. ” Igual perspectiva é partilhada por Teresa Costa, uma das primeiras artesãs a fazer parte do “Portugal Sou Eu”. Ao longo dos oito anos que leva nesta actividade tem observado que “os clientes dão mais valor ao que é português, ao tradicional, ao que é feito à mão” e concorda que os consumidores não só reconhecem o selo, como o “identificam logo com qualidade”. Além da identificação do produto como sendo nacional, os artesãos aderentes destacam ainda como vantagem do programa a notoriedade que este lhes concede. Luís Nogueira, que fabrica peças de vestuário e acessórios em burel para a marca com o seu próprio nome - By Luís Nogueira – refere precisamente “a visibilidade que este programa traz aos produtos”. A dimensão relacionada com a comunicação é reconhecida pelo secretário de Estado da Defesa do Consumidor, para quem “os aderentes saem beneficiados através de múltiplas frentes”, particularmente no que toca à divulgação. “Os produtos Portugal Sou Eu estão de alguma forma numa cadeia de produtos que tem uma imagem mais uniformizada através do selo Portugal Sou Eu, um selo que hoje tem uma notoriedade cada vez maior”. Na sua opinião, este reconhecimento é “não apenas uma marca distintiva em relação à dinamização da produção nacional, como é também uma marca distintiva em relação à qualidade”. Paula Pão Alvo, da Cosmic Shoes, diz-nos igualmente que “quando estamos distinguidos por um determinado rótulo é sempre mais fácil demonstrarmos algumas das qualidades dos nossos trabalhos e uma delas é trabalharmos com matérias-primas portuguesas”. Este é o seu caso, já que nos sapatos que produz usa apenas peles nacionais e é essa a razão principal por que integra o programa. A artesã de calçado com 32 anos de actividade enfatiza ainda outra vantagem do “Portugal Sou Eu”: “Quando trabalhamos em grupo é sempre benéfico, pois conseguimos sempre mais coisas quando estamos em conjunto do que se estivermos sozinhos. ”Outro dos benefícios destacados por Paula Pão Alvo – como, aliás, por todos os artesãos com quem falámos - diz respeito aos “descontos nos eventos e certames” de que beneficiam ao participarem em representação da iniciativa governamental. Fazer artesanato é manter uma relação permanente com técnicas antigas - preservando-as - mas inovando sempre que possível. Só assim a tradição se mantém. E é assim também que Luís Nogueira tem trabalhado desde que, em 2012, começou a dedicar-se ao burel, na zona de Gouveia. Explica-nos que este tecido “é um produto 100% artesanal, fabricado na serra da Estrela a partir da lã de uma raça de ovelha autóctone, a Bordaleira”. Por ter um pelo curto mas muito denso, a lã da ovelha Bordaleira dá origem ao burel, um tecido bastante compacto e com características únicas, pois é impermeável, resistente, não corrosivo, não inflamável e muito quente. Quando começou o seu projecto, este era um tecido “que estava bastante esquecido”, usado na serra quase exclusivamente para o traje de pastor. Mas Luís Nogueira meteu mãos à obra e, apelando à sua formação em Educação Visual e Tecnológica, inovou no design e na técnica sem desvirtuar a tradição. Hoje produz peças práticas e citadinas, de uso quotidiano, sobretudo na área do vestuário feminino e também nos acessórios, como malas e carteiras. O facto de trabalhar o burel termocolado abre-lhe ainda mais as portas da criatividade, já que se trata de um tecido com duas faces, o que lhe permite ter duas cores no mesmo burel. Numa altura em que os consumidores estão muito atentos à sustentabilidade do planeta, bem como aos riscos inerentes a determinadas matérias-primas, esta é uma dimensão cada vez mais cuidada pelos artesãos. Inovar pela recuperação de técnicas antigas é, pois, também o que faz Paula Pão Alvo, que para a produção dos seus sapatos opta sempre por peles de curtimenta vegetal, isto é, “peles que não contêm crómio, são curtidas de forma muito ancestral e não têm produtos químicos nocivos nem ao meio ambiente nem ao ser humano”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Pôr o antigo a dialogar com a novidade foi também a premissa de José Pedro Marques ao criar a Science Track. No seguimento de um mestrado em Gerontologia Social, no qual trabalhou com idosos e crianças, apercebeu-se de que “havia falta de transmissão de conhecimento imaterial” dos mais velhos para os mais novos. E percebeu ainda outra coisa interessante: afinal, os mais pequenos estavam ansiosos por conhecer essas histórias de antigamente “e não só a tecnologia”. Daqui à concretização da sua ideia foi um passo e hoje produz jogos e cartas, “interligando a cultura e a tradição com a ciência”. Estes e outros trabalhos feitos por mãos habilidosas e com selo nacional podem ser vistos até dia 7 de Julho na FIA. Tanto o artesanato – mas também a inevitável gastronomia – merecem bem a visita de todos nós, portugueses ou não.
REFERÊNCIAS:
Palcos da Semana
Um quarteto belga com quase 20 anos, a música da televisão junta-se à do cinema, o desenho de um escultor, Miró e um anátema a solo são alguns dos destaques da semana. (...)

Palcos da Semana
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um quarteto belga com quase 20 anos, a música da televisão junta-se à do cinema, o desenho de um escultor, Miró e um anátema a solo são alguns dos destaques da semana.
TEXTO: TeatroUm quarteto com 19 anos chega a LisboaEm 1999, a companhia de dança Rosas e o colectivo de teatro tg STAN, ambos belgas, juntaram-se para uma colaboração. Quartett, baseado no texto do alemão Heiner Müller (1929-1995), que parte de As Ligações Perigosas, de Choderlos de Laclos, chega agora ao D. Maria II. No espectáculo, uma mulher (a bailarina Cynthia Loemij) e um homem (o actor Frank Vercruyssen) competem por afectos dentro de portas enquanto o mundo exterior colapsa. É uma criação dos próprios protagonistas, bem como de Anne Teresa De Keersmaeker e Jolente De Keersmaeker. LISBOA Teatro Nacional D. Maria II. 11-13 de Dezembro. Ter-qua 19h; Quinta 21h. Bilhetes 7, 50€-12, 75€. MúsicaA música da TV junta-se à do cinemaA Lisbon Film Orchestra tem-se destacado ao interpretar bandas sonoras de filmes. Agora juntarão pela primeira vez ao repertório, que inclui as composições para Star Wars de John Williams, os oscarizados temas de Justin Hurwitz para La La Land, a magia de Ennio Morricone para Cinema Paraíso ou o trabalho de Thomas Newman em Skyfall, música de séries. Nomeadamente, A Guerra dos Tronos, da autoria de Ramin Djawadi e La Casa de Papel, em particular, My Life is Going On, escrita por Manel Santisteban e popularizada pela voz de Cecilia Krull. LISBOA Praça de Touros do Campo Pequeno. Domingo às 18h. Bilhetes de 10€ a 35€. DesenhoUm desenho que não acabaQuando não está a esculpir, Rui Chafes (n. 1966, Lisboa), que ganhou o Prémio Pessoa em 2015, desenha. A exposição Desenho sem Fim, com curadoria de Delfim Sardo e Nuno Faria, pretende dar visibilidade, em Guimarães, a essa prática que regista a vivência do artista e que o tem acompanhado de forma continuada desde 1987. Desenho Sem Fim reúne obras em várias técnicas, do guache ao chá, passando pela grafite e o pólen de flores, entre muitas outras, aplicadas sobre formatos e suportes diferentes. GUIMARÃES Centro Internacional das Artes José de Guimarães. Até 10 de Fevereiro de 2019. Terça a domingo, 10-13h e 14h-19h. Bilhetes a 4€. PinturaMiró de volta a SerralvesAos 80 anos, em 1973, Joan Miró estava a preparar uma exposição retrospectiva no Grand Palais, Paris. Tentava, numa época em que se anunciava “a morte da pintura” que dá nome a esta mostra, Joan Miró e a Morte da Pintura, reinventar a sua pintura de uma forma radical. É na produção desse ano que assenta o regresso de Miró a Serralves, com obras da colecção do Estado português que foram depositadas na fundação e outras vindas de colecções espanholas e francesas, algumas delas nunca antes mostradas em Portugal. O comissário é Robert Lubar Messeri, especialista em Miró. PORTO Museu de Serralves. De 12 de Dezembro a 3 de Março de 2019. Seg-sex. 10h-18h; Sáb, dom. e feriados 10h-19h. Bilhetes a 10€. MúsicaUm anátema sozinhoDesde 1998, quando o baixista Duncan Patterson abandonou a formação, que Daniel Cavanagh é, além de guitarrista, o compositor principal da banda de rock progressivo/gótico/alternativo britânica de culto Anathema, que fundou com os ormãos em 1990. Em 2002, começou a apresentar-se a solo, e lançou em Outubro do ano passado Monochrome, o pretexto para a vinda a Portugal. É um disco intimista e mais pessoal do que é normal do seu trabalho. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. PORTO Hard Club - Sala 2. Dia 13, quinta, às 21h. Bilhetes a 18€. LISBOA RCA Club. Dia 14, sexta, às 21h. Bilhetes a 18€.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte guerra campo mulher homem
Modelo revisto de apoio às artes entra esta semana em discussão pública e sai em Fevereiro
Uma das medidas mais polémicas da anterior equipa governativa, que teve impacto no funcionamento de várias estruturas, vai ser reformulada e deve ter resultados antes do próximo Verão. (...)

Modelo revisto de apoio às artes entra esta semana em discussão pública e sai em Fevereiro
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DATA: 2018-12-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma das medidas mais polémicas da anterior equipa governativa, que teve impacto no funcionamento de várias estruturas, vai ser reformulada e deve ter resultados antes do próximo Verão.
TEXTO: A versão definitiva do modelo de apoio às artes será publicada em Fevereiro e as estruturas artísticas deverão ter resultados dos concursos antes do Verão de 2019, afirmou segunda-feira à Lusa a ministra da Cultura. Graça Fonseca explicou que esta semana vai ser publicado e colocado em discussão pública o modelo de apoio às artes, já revisto, integrando 24 propostas que obtiveram consenso, entre as 36 apresentadas pelo grupo de trabalho, criado para discutir a reformulação de regras. Segundo Graça Fonseca, há dois meses no cargo de ministra da Cultura, "todas as propostas acolhidas [no grupo de trabalho] têm apenas impacto ou nas portarias ou nos avisos de abertura de concurso". "Não implicam alteração do decreto-lei, o que nos permite ter um calendário de concurso bastante mais folgado", disse. Apesar de toda a discussão ocorrida durante vários meses no grupo de trabalho - com representantes do sector -, por lei, o documento tem de estar em consulta pública durante 30 dias. Nesse período "é possível que surjam contributos de várias entidades relativamente ao que alterámos face ao modelo anterior". "Esses contributos serão analisados. Não é previsível ou expectável que venham a pôr em causa" a revisão proposta, disse. Em causa está um novo modelo de apoio às artes muito contestado pelas estruturas culturais quando, no início deste ano, saíram os resultados provisórios dos concursos. A contestação culminou em Abril com manifestações em várias cidades, levando o primeiro-ministro, António Costa, a garantir que o modelo seria revisto e que os montantes disponíveis seriam reforçados. Graça Fonseca recordou que o Orçamento do Estado para 2019 contempla 25 milhões de euros para o apoio às artes, através da Direcção-Geral das Artes, com um aumento de 16% face a 2018. Questionada sobre este processo de alteração do modelo entre 2018 e 2019, com impacto na vida das estruturas culturais, Graça Fonseca reconheceu que não é possível apagar o que já aconteceu. "A partir da experiência de 2018, a partir do trabalho que foi feito entre pessoas das áreas da cultura e de todas as entidades - que representam mais de 900 estrutura do país -, aproveitar todo o trabalho e aceitar praticamente cem por cento das propostas apresentadas em consenso, conseguimos aumentar as verbas a ainda antecipar os prazos. Não estamos a empatar, pelo contrário, estamos a desempatar", disse. Entre as propostas de alteração ao modelo sugeridas pelo grupo de trabalho, aceites pela tutela e já anunciadas na Declaração Anual, dos programas de apoio a abrir em 2019, estão o alargamento do prazo de candidaturas, "sem prejudicar o calendário dos concursos e a respectiva atribuição dos apoios" e a eliminação "da exigência de obtenção de pontuação mínima de 60% em cada um dos critérios de apreciação no Apoio Sustentado". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Haverá ainda uma separação entre apoios à criação e apoios à programação. No âmbito da criação "e outros domínios", o programa de apoio sustentado vai distribuir-se pelas seis áreas (artes visuais, dança, música, teatro, cruzamento disciplinar e circo contemporâneo e artes de rua), enquanto na programação o concurso é comum a todas. "São alterações que vão ter muito impacto na forma como as candidaturas vão ser apreciadas", disse Graça Fonseca.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei cultura circo
Concursos de apoio às artes já têm novas regras, na esperança de que haja menos contestação
Os programas a abrir em 2019 integram algumas das recomendações do grupo de trabalho criado pelo Governo na sequência de amplos protestos do sector. A começar pela separação entre o apoio à criação e o apoio à programação. (...)

Concursos de apoio às artes já têm novas regras, na esperança de que haja menos contestação
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DATA: 2018-12-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os programas a abrir em 2019 integram algumas das recomendações do grupo de trabalho criado pelo Governo na sequência de amplos protestos do sector. A começar pela separação entre o apoio à criação e o apoio à programação.
TEXTO: O Ministério da Cultura publicou ao final da tarde desta sexta-feira a sua Declaração Anual relativa aos programas de apoio às artes a abrir em 2019, e esta inclui já as recomendações feitas pelo grupo de trabalho nomeado pelo Governo para colaborar na revisão das regras do muito contestado modelo lançado em 2017 pelo então secretário de Estado Miguel Honrado. Uma das mais significativas, e das mais reivindicadas pelo sector, é a separação total entre os concursos para criação e os concursos para a programação, que fica agora consagrada. O próximo Programa de Apoio Sustentado Bienal (2020-2021), cuja abertura ocorrerá "no máximo no decurso do mês de Março", conforme o documento assinado pela ministra da Cultura, Graça Fonseca, adopta "uma lógica estruturada por domínios de actividade", abrindo na área da criação seis concursos (artes visuais, dança, música, teatro, cruzamento disciplinar e circo contemporâneo e artes de rua) e na área da programação um único concurso agregando todas as áreas artísticas. O montante total disponível para o biénio é de 17, 58 milhões de euros. No âmbito do Programa de Apoio a Projectos (com uma dotação de quase 2, 5 milhões de euros), a DGArtes compromete-se a lançar entre Fevereiro e Setembro, "vários procedimentos simplificados", considerando os domínios da circulação nacional, da internacionalização, do desenvolvimento de públicos, da edição, da investigação e da formação, contemplando todas as áreas artísticas (incluindo, além das acima mencionadas, arquitectura, design e fotografia e novos media). O concurso limitado (por convite) respeitante à representação oficial portuguesa na 17. ª Exposição Internacional de Arquitectura da Bienal de Veneza 2020 abrirá em Junho, adiantou ainda o Ministério da Cultura. O modelo, já testado na edição anterior, com a escolha dos curadores Nuno Brandão Costa e Sérgio Mah, foi também entretanto já adoptado para a escolha da participação portuguesa na próxima Bienal de Arte. Antes, em Maio, será lançado o Programa de Apoio em Parceria, com a finalidade de captar parcerias destinadas ao apoio do desenvolvimento de projectos estratégicos. A sua dotação total é de 500 mil euros. De entre as recomendações do grupo de trabalho nomeado pelo anterior ministro, Luís Filipe Castro Mendes, que irão ser incorporadas no modelo consta também, segundo nota enviada às redacções, o alargamento do prazo das candidaturas e a eliminação da exigência de pontuação mínima de 60% em cada um dos critérios de apreciação no Apoio Sustentado. As entidades que se candidatem a esta modalidade de apoio deixam também de estar obrigadas a apresentar um plano de actividades e um orçamento de actividades detalhados para os vários anos abrangidos pela candidatura, passando a ter de fornecer apenas indicações exaustivas acerca do primeiro dos dois ou quatro anos que pretendem ver financiados. As entidades apoiadas terão também a partir de agora "direito ao contraditório relativamente ao relatório das comissões de avaliação e acompanhamento". A contestação ao modelo com que Miguel Honrado quis reorganizar o apoio às artes, e que foi lançado em 2017 após um longo processo de gestação, rebentou em Março deste ano, quando foram conhecidos os primeiros resultados dos concursos abertos já à luz das novas regras. Na área dos cruzamentos disciplinares, por exemplo, o grosso do montante disponível foi arrebatado por estruturas de programação de grande dimensão (e fortemente apoiadas pelas autarquias) como o Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, o Teatro Viriato, em Viseu, ou O Espaço do Tempo, de Montemor-o-Novo, deixando outras com historial reconhecido, mas de incomparavelmente menor dimensão, como o festival Circular ou a companhia Circolando, fora da lista de entidades apoiadas. Não tardaram as acusações de que as novas regras promoviam situações de "concorrência desleal". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os resultados dos concursos nas áreas da dança e do teatro fizeram a contestação subir de tom, com várias estruturas históricas (incluindo o Teatro Experimental de Cascais, o Teatro Experimental do Porto e a Escola da Noite, entre muitas outras) e figuras fundamentais da criação contemporânea portuguesa como Mónica Calle a verem-se excluídas. Perante as reivindicações cada vez mais insistentes de que era imprescindível aumentar a dotação dos concursos, para tornar menos curta a manta dos apoios, o próprio primeiro-ministro teve de intervir pessoalmente para apaziguar o sector. Em apenas 17 dias, o Governo, pressionado à esquerda e à direita, anunciou três reforços orçamentais, que expandiram de 15 para 19, 2 milhões o montante disponível para os concursos e permitiram a repescagem de várias das estruturas que haviam sido consideradas elegíveis para financiamento, mas ainda assim não o haviam obtido. No auge da crise, e com muitas vozes a reclamarem a demissão de Miguel Honrado, o próprio António Costa se viu obrigado a intervir pessoalmente, disponibilizando-se a ouvir os representantes do sector numa audiência no Palácio de São Bento em que se comprometeu a trabalhar numa revisão do modelo de apoio às artes. Em Junho, com os resultados dos vários concursos já homologados e várias estruturas dispostas a continuar a luta por via jurídica, Castro Mendes foi ao Parlamento especificar as afinações que era preciso fazer no modelo de apoio às artes e anunciar a criação de um grupo de trabalho para sugerir recomendações. Entretanto, em Outubro, tanto o ministro da Cultura como o seu secretário de Estado saíram do Governo em Outubro.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola cultura circo