Primeiro medicamento português para cancro pode chegar ao mercado em cinco anos
Produto da farmacêutica Luzitin começou os primeiros ensaios clínicos em doentes com cancro avançado da cabeça e pescoço. (...)

Primeiro medicamento português para cancro pode chegar ao mercado em cinco anos
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DATA: 2014-06-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Produto da farmacêutica Luzitin começou os primeiros ensaios clínicos em doentes com cancro avançado da cabeça e pescoço.
TEXTO: De momento, o nome de código é apenas LUZ11. Mas, em breve, a farmacêutica portuguesa Luzitin espera que aquele que poderá ser o primeiro medicamento nacional na área oncológica a chegar ao mercado receba um nome por parte da Organização Mundial de Saúde. Por agora, o fármaco reuniu as autorizações necessárias e arrancou já a sua primeira fase de testes em doentes com cancro da cabeça e pescoço, numa parceria entre o Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto e a CUF Porto. O LUZ11, explicou ao PÚBLICO o médico e director-geral da Luzitin, Luís Almeida, começou na semana passada os ensaios clínicos em humanos, numa fase a que se chama I/IIa. Nesta etapa, em geral, os medicamentos são testados numa amostra de voluntários saudáveis. Porém, em casos de fármacos como este, pelo elevado benefício face ao risco, os testes estão já a ser feitos em doentes em estado avançados de cancro da cabeça e pescoço e que não estavam a responder a nenhum dos tratamentos até agora conhecidos. O medicamento destina-se a vários tipos de tumores sólidos, mas, para efeitos de ensaio clínico, foram seleccionados os cancros nestas zonas do corpo. Ao todo, o ensaio clínico conta com 20 doentes em fases terminais da doença. “O composto é administrado no sangue, ou seja, por via intravenosa e distribui-se pelo organismo do doente. O medicamento por si mesmo não tem acção. Mas, se for accionado por uma luz de um determinado comprimento de onda, neste caso luz laser, activa-se e destrói as células cancerosas no sítio onde a luz incidiu”, adiantou Luís Almeida, que descreve o fármaco como tendo “elevado potencial de cura”. O medicamento actua em combinação com a terapia fotodinâmica, que demonstrou ser capaz de activar os compostos fotossensíveis para tratar tumores, aliando-se também com o oxigénio que os próprios tecidos têm e que consegue destruir as células do tumor e os seus vasos sanguíneos, para que não receba nutrientes que o alimentem. O responsável da farmacêutica portuguesa adiantou que na fase de testes em animais, em que as doses são muito mais elevadas, o LUZ11 “não causou efeitos secundários significativos”. Além disso, “como destrói selectivamente o tumor na zona em que a luz incide, poupa os tecidos sãos, o que é muito difícil com outros tratamentos”, acrescentou o também director do ensaio clínico, que tem como investigador principal o cirurgião oncológico Lúcio Lara Santos, do IPO Porto e CUF Porto. Em relação a prazos, Luís Almeida é prudente, mas acredita que no período de quatro a cinco anos será possível que o medicamento complete todos os ensaios clínicos e processos necessários e chegue ao mercado. O arranque de ensaio clínico arranca depois de uma fase de investigação que decorre há cerca de três anos e meio – altura em que a Luzitin, de que são accionistas a farmacêutica Bluepharma e a Portugal Ventures, adquiriu algumas patentes da Universidade de Coimbra, de que fazia parte o LUZ11. “Esta é a prova de que a universidade traz boa ciência e que possível transformá-la em bons produtos”, reforçou Sérgio Simões, presidente do conselho de administração da Luzitin, acrescentando que acredita que este “medicamento inteligente” terá a vantagem de ser de fácil utilização, “pelo que terá uma boa relação em termos de custo-efectividade”. Em Portugal surgem todos os anos cerca de 3000 novos casos de cancro da cabeça e pescoço e morrem, em média, três pessoas por dia com esta doença, cuja mortalidade é de cerca de 60%. A detecção precoce destes tumores, que afectam zonas como a cavidade oral, orofaringe, laringe e hipofaringe, é fundamental para a possibilidade de cura, sendo que o número de novos casos tem vindo a crescer. Caroços no pescoço, dores persistentes na garganta, dificuldade ou dor em engolir, rouquidão permanente, sangramento da boca ou garganta, alterações na pele da cara ou do pescoço, feridas que não cicatrizam e dores de ouvidos sem justificação aparente são alguns dos sinais de alerta. Estes tumores afectam, sobretudo, pessoas com mais de 40 anos, do sexo masculino, fumadores e com consumo excessivo de álcool.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave humanos consumo doença sexo corpo
Medicamento português para o pé diabético vai ser testado nos Estados Unidos
Empresa portuguesa Technophage recebeu autorização para começar os primeiros testes em humanos. "Cocktail de vírus" destrói as bactérias presentes nas lesões que levam a amputações. (...)

Medicamento português para o pé diabético vai ser testado nos Estados Unidos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-07-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Empresa portuguesa Technophage recebeu autorização para começar os primeiros testes em humanos. "Cocktail de vírus" destrói as bactérias presentes nas lesões que levam a amputações.
TEXTO: A solução para os casos de pé diabético resistente aos antibióticos está nas mãos da Technophage, uma empresa portuguesa de biotecnologia que está a investigar um novo fármaco para esta doença e que acaba de receber autorização dos Estados Unidos para avançar para os primeiros ensaios clínicos em humanos naquele país. O TP_102, nome de código do fármaco que recupera um tratamento que já era utilizado na Europa de Leste na década de 1950, torna-se assim no primeiro medicamento biológico português a receber luz-verde por parte do regulador norte-americano, a Food and Drug Administration. O director executivo da Technophage, Miguel Garcia, explicou ao PÚBLICO que o medicamento inovador, que começou a ser desenvolvido em 2005 aquando do nascimento da empresa, em parceria com a farmacêutica portuguesa Tecnifar, tem como base um “cocktail de bacteriófagos”, isto é, um conjunto de vírus capazes de infectar as bactérias presentes no chamado pé diabético e que provocam úlceras que podem levar à necessidade de amputar os membros inferiores. Na categoria dos medicamentos biológicos, o TP_102 é o primeiro de origem portuguesa a chegar a esta fase de ensaios clínicos nos Estados Unidos, que até agora só tinham deixado avançar medicamentos químicos, isto é, que não têm como base matéria viva. A prevalência da diabetes em Portugal é de cerca de 13% e estas infecções que resultam de complicações atingem quase 25% dos doentes, que ficam com um risco de amputação 15 a 30 vezes superior ao de uma pessoa sem a patologia. Todos os anos são feitas quase 1500 amputações relacionadas com o pé diabético. Apesar de nos últimos anos se ter conseguido reduzir o número de casos com a aposta nos cuidados de saúde primários, os dados mais recentes apontam para um revés: o relatório do Observatório Português dos Sistemas de Saúde destacou, no final de Junho, que houve uma inversão nas estatísticas desta doença, com os especialistas a reportarem em 2012 um aumento das amputações de membros inferiores, que cresceram 8, 9% depois de estarem sempre a descer desde 2008. Sobre o funcionamento do medicamento em investigação, Miguel Garcia adiantou que os “bacteriófagos são entidades que eliminam especificamente as bactérias”. “O nosso objectivo é combater as resistências bacterianas que existem aos antibióticos e percebemos que este produto as elimina e dá resposta a um problema médico não resolvido e que é um problema real, já que muitas infecções de pé diabético evoluem para amputação, levando mesmo por vezes à morte”, disse. O também investigador adiantou, ainda, que estes vírus “infectam directa e especificamente as bactérias hospedeiras, replicando-se dentro da própria bactéria e rebentando-a quando sai para o ambiente”. O ciclo repete-se até já não existirem bactérias. Até agora a Technophage esteve a trabalhar nos modelos in vitro e em animais, que comprovaram a segurança e eficácia do medicamento. De tal forma que os ensaios de fase I em humanos, autorizados pela Food and Drug Administration, poderão ser feitos já em pessoas doentes, nas quais a solução líquida será aplicada directamente nas feridas, em vez de se ter de testar primeiro em voluntários saudáveis. Miguel Garcia ainda não tem prazos definidos, estando a ultimar os protocolos e a ver se há necessidade de juntarem mais parceiros ao projecto que vai decorrer nos Estados Unidos por questões de protocolo. Até agora os ensaios foram em Portugal. O responsável acredita que o novo ensaio deverá contar com uma amostra de doentes “na casa das dezenas ou das centenas”. Quanto à chegada do TP_102 ao mercado, é prudente e admite que, mesmo se correr tudo dentro do previsto, não deve demorar menos de seis anos. “Por ser uma patologia não resolvida e com forte necessidade de medicação esperamos que o processo possa ser mais rápido”, explicou, adiantando que não excluem a hipótese de em fases mais avançadas venderem o produto a uma grande farmacêutica. Por o TP_102 ser um medicamento biológico, ou seja, produzido a partir de matéria viva, Miguel Garcia já estava confiante de que seria seguro e pouco tóxico. Além disso, contou que “já foram utilizadas soluções semelhantes na Europa de Leste há algumas décadas, como a de 1950, 1960 e até 1980, mas sem o controlo do ponto de vista regulamentar pelo que os dados não podem ser usados, mas conferem uma enorme expectativa de segurança e de eficácia desta terapia como alternativa para as bactérias resistentes aos antibióticos”. A empresa, que funciona nas instalações do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, tem várias parcerias com a academia, mas também com outros países como a Holanda e a China. No total, a Technophage está a trabalhar em mais 11 projectos, sendo que os que estão em fases mais avançadas são na área da artrite reumatóide, osteoporose e doença de Parkinson.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte humanos doença
Parlamento aprova reposição de cortes na função pública e redução de pensões
Diplomas devem seguir na próxima semana para Belém. (...)

Parlamento aprova reposição de cortes na função pública e redução de pensões
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-07-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Diplomas devem seguir na próxima semana para Belém.
TEXTO: A Assembleia da República aprovou esta sexta-feira em votação final global, apenas com os votos favoráveis do PSD e CDS, a reposição dos cortes nos salários da função pública entre os 3, 5% e os 10%, bem como a criação da nova contribuição para a sustentabilidade da Segurança Social. Os dois diplomas deverão seguir na próxima semana para promulgação e depois para fiscalização preventiva no Tribunal Constitucional, caso o Presidente da República aceite o pedido do Governo nesse sentido. O objectivo é que os cortes comecem a ser aplicados já em Setembro. Enquanto decorria o plenário de votações – o último antes das férias parlamentares – manifestantes da CGTP estavam em frente à Assembleia da República a protestar contra os cortes. A proposta do Governo sobre os cortes salariais prevê a reintrodução dos cortes entre 3, 5% e 10% a partir dos 1500 euros, o que representa uma redução que foi imposta no Governo de José Sócrates. A medida estabelece a reversão dos cortes já em 2015, devolvendo no próximo ano 20% do valor reduzido. Os votos contra do PS, PCP, BE e PEV não travaram a proposta, assim como aconteceu com a substituição da Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES) pela nova Contribuição de Sustentabilidade, e que estabelece o agravamento das contribuições para a Segurança Social e o aumento da taxa máxima do IVA. A nova Contribuição de Sustentabilidade, de 2%, será aplicada aos pensionistas que recebam entre 1. 000 e 2. 000 euros e irá incidir de igual forma sobre as pensões do Regime Geral da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações. Trata-se de tornar duradouros – embora em moldes diferentes – os cortes que eram provisórios. O diploma aprovado prevê também o agravamento das contribuições para a Segurança Social em 0, 2 pontos percentuais, para os 11, 2%, e sobe a taxa máxima do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) em 0, 25%, fixando-a nos 23, 25%. Nos dois diplomas, o PCP apresentou declarações de voto que pretende ver anexadas ao pedido de fiscalização preventiva que o Presidente da República deverá fazer ao Tribunal Constitucional. No debate que antecedeu a votação, a deputada do BE Mariana Aiveca acusou o Governo de estar a “roubar os salários” da função pública, o que levou o líder da bancada parlamentar do PSD a repudiar a linguagem utilizada. Em quase três horas de votação, foram apreciados dezenas de diplomas. A proposta do Governo sobre o jogo online também só passou com os votos da maioria PSD/CDS e obteve um voto contra do deputado centrista José Ribeiro e Castro. Na declaração de voto sobre a votação final da proposta, o ex-líder do CDS mostra preocupação pelo “dano que, numa imaginável derrapagem de declínio ano após ano, possa vir a provocar-se à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e à obra social que conduz, bem como a tantos outros programas sociais”. Foi ainda aprovada em votação final global o regime sancionatório sobre os maus tratos contra animais de companhia, com os votos favoráveis do PSD/PS, PEV e CDS, os votos contra de dois deputados do CDS (Abel Baptista e Hélder Amaral) e a abstenção do PCP e dois parlamentares centristas (Cecília Meireles e Michael Seufert). O voto isolado do PS – contra – marcou a aprovação da lei interpretativa sobre os cortes das subvenções eleitorais e que vai impedir os socialistas de receberem 3, 6 milhões de euros de apoios. O projecto do PSD/CDS, que determina que os cortes são cumulativos, passou com a abstenção das restantes bancadas à esquerda, mas o seu teor será contestado nos tribunais pelo PS. O Parlamento aprovou ainda a revisão das leis de Defesa Nacional, com os votos do PSD, PS e CDS, bem como da Organização de Bases de Forças Armadas apenas com os votos favoráveis da maioria e a abstenção dos socialistas.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PSD PCP BE PEV
A morte de Salgado é muito exagerada
Ricardo Salgado caiu em desgraça, sim, mas está longe de ser um desgraçado. (...)

A morte de Salgado é muito exagerada
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.65
DATA: 2014-07-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ricardo Salgado caiu em desgraça, sim, mas está longe de ser um desgraçado.
TEXTO: Desde que Ricardo Salgado foi detido, não faço mais nada se não ler na imprensa lamentos sobre a actuação da justiça, que, segundo dois terços dos nossos opinadores, parece só ter coragem de deitar a mão aos poderosos quando eles já não o são. Basta pegar no último número do Expresso. Martim Avillez Figueiredo: “A justiça tende a actuar apenas depois de se assegurar que os poderosos agonizam no chão. ” Pedro Adão e Silva: “A justiça, em Portugal, só chega aos poderosos quando estes já perderam a sua influência social ou o seu poder político. ” Daniel Oliveira: “Foi preciso Salgado passar para o lado dos fracos para ser possível esta detenção de necessidade duvidosa. ” Luís Marques: “Se ainda fosse presidente do Banco Espírito Santo, será que Ricardo Salgado teria sido detido pelo Ministério Público?” Devo dizer que este coro grego de indignados acaba por produzir uma ladainha falsamente piedosa, que é uma autêntica ode à Dona Inércia. Todos nós sabemos que a justiça portuguesa tem problemas e que a venda que lhe tapa os olhos está mais puída do que o Santo Sudário. Mas ainda que Salgado esteja a responder tardiamente por crimes que possa ter cometido, ao menos ele está a responder. Colocar a ênfase, neste momento, não nas razões dos seus crimes e no clima político e económico que os permitiram, mas no timing da sua detenção, é preferir ficar a olhar para o dedo em vez de olhar para onde o dedo aponta. É uma escolha. Mas é uma escolha triste. Em primeiro lugar, porque a probabilidade de terem surgido novas provas que justifiquem a detenção de Salgado é altíssima. Não percebo, sequer, onde esteja o espanto. O Grupo Espírito Santo começou a desmoronar há cerca de mês e meio, e desde então temos assistido a uma verdadeira enxurrada de notícias. Na Suíça, no Luxemburgo e nos Estados Unidos, há investigações a decorrer. Em Portugal, milhares de investidores coléricos estariam capazes de escalpar Ricardo Salgado se lhe deitassem a mão. Perante um cenário destes, não será provável que o Ministério Público tenha uma longa fila de novos informadores a bater à porta, mortinhos por se vingarem e exigindo a cabeça de Salgado?Em segundo lugar, convém explicar que andar a fustigar a justiça numa altura destas é prestar um fantástico favor a Ricardo Salgado e ao seu vasto exército de beneficiários e serventuários. Não é certamente por acaso que José Sócrates aproveitou o seu comentário de domingo para se colocar fervorosamente ao lado do ex-DDT. Vale a pena rever a sua prestação na RTP, para que se vejam as diferenças entre o tom do comentário sobre os problemas do BES e do GES – onde Sócrates foi redondinho como uma bola de bilhar – e o tom do seu comentário sobre a detenção de Salgado – onde o velho animal feroz exigiu explicações à justiça. Ricardo Salgado caiu em desgraça, sim, mas está longe de ser um desgraçado. É por isso que tantos lamentos me parecem deslocados. Salgado acaba de constituir um gabinete de crise financiado pela sua fortuna pessoal e que, segundo Pedro Santos Guerreiro, deverá custar cerca de um milhão de euros ao ano. Deixem passar a fumaça e aguardem pelo que aí vem. Um homem que teve o poder que ele teve e que sabe o que ele sabe não é coitadinho nenhum. Se Ricardo Salgado abre a boca, metade do regime parte o pescoço ao cair das escadas. As suas contas bancárias até podem ficar a zeros – enquanto ele tiver memória, continuará a ser um dos homens mais poderosos do país.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens homem social animal
Passos diz que a economia não pode estar na mão de “meia dúzia de grupos económicos ou sociais”
Barroso e Passos trocam elogios sobre prioridades dos fundos comunitários. “Que se calem aqueles que dizem que a União Europeia não é solidária com Portugal”, diz o presidente da Comissão Europeia. (...)

Passos diz que a economia não pode estar na mão de “meia dúzia de grupos económicos ou sociais”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.022
DATA: 2014-07-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Barroso e Passos trocam elogios sobre prioridades dos fundos comunitários. “Que se calem aqueles que dizem que a União Europeia não é solidária com Portugal”, diz o presidente da Comissão Europeia.
TEXTO: Dois apertos de mão, elogios de parte a parte e uma coincidência sobre onde aplicar o dinheiro do novo quadro comunitário de apoio. O encontro entre o presidente da Comissão Europeia e o primeiro-ministro, esta tarde em São Bento, serviu para Durão Barroso e Pedro Passos Coelho reafirmarem que Lisboa e Bruxelas estão alinhadas quanto às prioridades dos 26 mil milhões de euros de fundos estruturais, de desenvolvimento agrícola e pescas que Portugal vai receber no âmbito do Portugal 2020, o programa comunitário que se segue ao QREN. O primeiro-ministro frisou que a estratégia está definida e, agora que terminou o programa económico e financeiro negociado como contrapartida do empréstimo da troika, considerou que Portugal tem de consolidar a mudança estrutural da economia para que esta não esteja apenas nas mãos de alguns grupos económicos, que não nomeou. “Os próximos anos serão determinantes para consolidar estas mudanças e colocar os meios relevantes de que dispomos, nomeadamente ao nível da União Europeia, ao serviço de uma economia que não esteja nas mãos de meia dúzia de grupos económicos ou sociais, mas que possa de facto estar ao serviço de todos os portugueses e do desenvolvimento de Portugal”, afirmou, insistindo que é preciso alterar o “sistema de incentivos” que vem do passado. E essa “mudança de agulha quanto às orientações de prioridades” está garantida no novo programa de fundos estruturais, defendeu. Com uma leitura idêntica sobre as aposta do passado e sobre as prioridades futuras, Durão Barroso disse esperar que o dinheiro seja bem gerido, agora que vão ser ultimados os programas operacionais do Portugal 2020, frisando que os apoios às PME, à investigação, à tecnologia, ao emprego, ao combate ao desemprego jovem, à investigação avançada com ligação directa às empresas e ao combate à pobreza “são as prioridades correctas”. De improviso, utilizando uma expressão popular que disse ter já partilhado em privado com o primeiro-ministro, Barroso resumiu assim o pacote de fundos estruturais: “Vinte e seis mil milhões de euros é uma pipa e massa… Este dinheiro deve ser bem aplicado”. E deixou um aviso aos críticos: “Que se calem aqueles que dizem que a União Europeia não é solidária com Portugal”. Passos falou dos últimos três anos de presença da troika para dar um salto sobre as prioridades dos próximos anos. As reformas não foram lançadas para satisfazer as exigências da Comissão Europeia ou do Fundo Monetário Internacional, mas para “satisfazer as exigências que tínhamos sobre nós de corrigir os fortes desequilíbrios que se acumularam durante antes e lançar as bases para uma economia com mais concorrência – mais leal –, que possa de facto abrir mais oportunidades para todos e não apenas para certos sectores da economia mais protegidos, que como hoje sabemos não oferecem uma verdadeira prosperidade”. As prioridades, já anunciadas em Janeiro, quando foi entregue em Bruxelas o acordo de parceria que serviu de base às negociações dos últimos meses entre o executivo português e a Comissão, “são à partida um bom indicador” de que os objectivos portugueses correspondem também às prioridades da estratégia europeia 2020, disse Passos. “Está ao alcance de Portugal fazer a diferença com o que se passou no passado”, resumiu o primeiro-ministro.
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"Pai" do ébola defende teste de vacinas e tratamentos experimentais em humanos
Co-autor da descoberta do vírus não acredita que epidemia se estenda para fora de África. (...)

"Pai" do ébola defende teste de vacinas e tratamentos experimentais em humanos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.1
DATA: 2014-07-31 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20140731170208/http://www.publico.pt/1664983
SUMÁRIO: Co-autor da descoberta do vírus não acredita que epidemia se estenda para fora de África.
TEXTO: O actual director da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, Peter Piot, co-autor da descoberta do vírus ébola em 1976 quando tinha 27 anos, não acredita que o maior surto de sempre da doença saia de África. Mas o professor belga é favorável à ideia de se avançar para testes em humanos das vacinas e tratamentos experimentais que ainda só foram utilizadas em animais. Peter Piot, numa entrevista à AFP, disse não acreditar que a epidemia se espalhe mesmo que alguém chegue à Europa ou aos Estados Unidos com febre hemorrágica. “Não estou inquieto com a ideia de ver o vírus a espalhar-se pela população. Não ficaria inquieto se me sentasse no metro ao lado de uma pessoa portadora do vírus ébola, desde que não me vomitasse para cima”, insistiu o antigo director do programa ONUSIDA das Nações Unidas, em referência a uma das principais formas de contágio: o contacto com fluidos. Apesar disso, defendeu que chegou altura de se darem passos mais sérios rumo a uma cura. O investigador lembrou que existem várias vacinas e tratamentos com resultados promissores em animais, considerando que os testes devem ser rapidamente alargados a pessoas nas zonas mais afectadas, referindo-se ao chamado uso compassivo de medicamentos, ou seja, situações em que os fármacos são dados por razões humanitárias, ainda antes de terem sido aprovados pelas autoridades competentes para uso humano. A infecção começa de forma semelhante a uma gripe, com mal-estar geral, febre e dores de cabeça. A seguir, surgem sintomas mais graves, como vómitos, erupções cutâneas, diarreia hemorrágica. Ao todo, desde Fevereiro, o vírus já matou 729 pessoas na África Ocidental, o que faz do surto o mais grave desde que o ébola foi pela primeira fez identificado na década de 1970 no Zaire (actual República Democrática do Congo) e no Sudão. Quase 60 das vítimas mortais foram registadas nos últimos quatro dias. Em 90% dos casos a doença é mortal, apesar de neste surto a taxa estar em cerca de 60%.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola humanos doença
Fêmea de polvo de águas profundas chocou os ovos durante quase quatro anos e meio
A resistência deste molusco bate de longe o recorde oficial de todas as espécies ovíparas conhecidas, concluem os cientistas que observaram o seu comportamento, no seu habitat natural, de 2007 a 2011. (...)

Fêmea de polvo de águas profundas chocou os ovos durante quase quatro anos e meio
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.08
DATA: 2014-07-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: A resistência deste molusco bate de longe o recorde oficial de todas as espécies ovíparas conhecidas, concluem os cientistas que observaram o seu comportamento, no seu habitat natural, de 2007 a 2011.
TEXTO: Ao largo da costa californiana nasce o Canhão de Monterey. É um vale submarino semelhante ao Grande Canhão do Colorado. Com paredes rochosas de mais de 1500 metros de altura e 400 quilómetros de comprimento, o seu fundo atinge, no fim do seu percurso, 4000 metros de profundidade. Nas águas frias e escuras de uma zona designada Midwater 1, agarrada a uma saliência na rocha a cerca de 1400 metros de profundidade – e perto do fundo cheio de sedimentos do canhão –, um polvo fêmea da espécie Graneledone boreopacifica começa, pacientemente, a chocar os seus ovos. E vai fazê-lo durante… 53 meses. O feito foi descrito esta quarta-feira na revista PLoS ONE. A observação é tanto mais espectacular que, segundo relatam Bruce Robison, do Instituto de Investigação do Aquário da Baía de Monterey (MBARI) e colegas, ao longo dos quase quatro anos e meio que durou a monitorização do polvo e da sua ninhada, eles nunca viram esta mãe abandonar os ovos – ou sequer alimentar-se. “Os polvos passam tipicamente por um único ciclo reprodutivo e morrem a seguir”, escrevem estes cientistas no seu artigo. E tomam conta dos seus ovos até eclodirem. Sabia-se que as espécies de águas pouco profundas chocam os ovos durante um a três meses, mas nunca tinha sido possível observar uma espécie de águas profundas. E o que os cientistas descobriram agora sugere que, nos grandes fundos oceânicos, as coisas não se passam da mesma forma que perto da superfície. A “convivência” da equipa com o polvo começou em Abril de 2007, quando os cientistas, que realizavam explorações periódicas na área de Midwater 1 com um ROV (veículo operado remotamente) pertencente ao MBARI, avistaram “um polvo solitário (…) a dirigir-se lentamente para o substrato rochoso”, escrevem ainda. Quando regressaram ao local (via ROV), 38 dias mais tarde, em Maio de 2007, encontraram o mesmo polvo (facilmente reconhecível graças às suas características cicatrizes), agarrado à parede rochosa, não muito longe do fundo, a cuidar de uma ninhada de ovos. "Regressámos 18 vezes ao local ao longo dos quatro anos e meio que se seguiram”, escrevem ainda os autores. “E cada vez que voltávamos, encontrávamos o mesmo polvo, agarrado à parede rochosa vertical, com os braços enrolados em torno dos seus ovos para os cobrir. O crescimento contínuo dos ovos indicava que se tratava sempre da mesma ninhada. ”Super-mãe das profundezasA equipa atribuiu a esta super-mãe polvo de 21 centímetros de diâmetro (não contando com os braços) a alcunha de “octomom” (octo-mamã – em inglês, polvo diz-se octopus), disse ao PÚBLICO Brad Seibel, co-autor do artigo, da Universidade de Rhode Island. “Pode não ser o nome mais imaginativo do mundo, mas descreve bem” esta fêmea, acrescenta. Apesar das vibrações e da luz emitidas pelo veículo telecomandado, a octomom nunca pareceu incomodada pela presença do ROV. E por duas vezes, invertendo o fluxo de água do veículo, os cientistas conseguiram mesmo levantar suavemente a membrana (ou manto) entre dois dos seus braços para ver alguns dos ovos e medir o seu tamanho. “O ROV ficava normalmente a entre um e dois metros de distância do polvo”, diz-nos ainda Seibel. “O seu braço mecânico aproximava-se por vezes até a uns poucos centímetros do animal, quer para lhe oferecer comida, quer para atirar água para cima dele, durante as tentativas de levantar a membrana para melhor vermos os ovos. Mas sempre tivemos o cuidado de incomodar o animal o mínimo possível. ”A fêmea nunca demonstrou, durante as múltiplas observações, qualquer interesse pelos pequenos caranguejos ou camarões que o braço do ROV lhe oferecia. Só quando algum destes animais se aproximava demasiado do ninho, da sua livre vontade, é que o polvo, mais uma vez para proteger os ovos, o afastava com os braços. “Embora ocasionalmente mudasse ligeiramente de posição, ou desenrolasse e levantasse um ou dois braços, a fêmea permanecia sempre centrada na sua ninhada”, escrevem ainda os cientistas. A tarefa materna não consistia apenas em vigiar os ovos, afugentando eventuais predadores. Os ovos de polvo também precisam de muito oxigénio para crescer, o que significa que a progenitora teve de manter constantemente à sua volta um fluxo de água fresca, impedindo que os ovos ficassem cobertos de sedimentos e outros detritos. A dada altura, explica o MBARI em comunicado, foi possível distinguir os pequenos polvos-bebés no interior das cápsulas translúcidas. E entretanto, a mãe-polvo ia ficando “cada vez mais magra e com a pele cada vez mais solta e pálida”, salienta o mesmo documento.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Um jardim que é uma praia, um lago que é uma piscina
Entre areia, água, chapéus-de-sol, bolas-de-berlim e bandeira verde, só mesmo o sol chegou tarde ao dia de abertura da praia urbana do Jardim do Torel, no coração de Lisboa. Durante o mês de Agosto, há banhos com vista para a cidade. (...)

Um jardim que é uma praia, um lago que é uma piscina
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-08-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Entre areia, água, chapéus-de-sol, bolas-de-berlim e bandeira verde, só mesmo o sol chegou tarde ao dia de abertura da praia urbana do Jardim do Torel, no coração de Lisboa. Durante o mês de Agosto, há banhos com vista para a cidade.
TEXTO: “Temos uma manhã muito feia”, queixa-se Conceição Pinto, 84 anos. “Eu não mando no S. Pedro!”, justifica Vasco Morgado, presidente da Junta de Freguesia de Santo António. Do patamar superior do Jardim do Torel, todos as atenções se concentram no que se passa lá em baixo, onde nos últimos dias nasceu uma praia. Conceição tira as medidas ao aparato: “Está mais bem arranjado. Já conheço isto há 60 anos, é diferente!” Já o presidente da junta olha para o telemóvel e avalia a meteorologia: o sol promete aparecer nos próximos dias. “O primeiro de Agosto é o primeiro dia de Inverno, é o que se diz”, atira Conceição. A abertura da praia urbana do Jardim do Torel, em Lisboa, estava marcada para as 10h, mas o sol só a inauguraria verdadeiramente uma hora mais tarde. E estava tudo a postos. O lago artificial setecentista, de onde salta à vista a estátua-sereia de Viana da Mota, deu lugar a uma piscina, e parte do pavimento de cimento que a rodeia encheu-se de areia fluvial e chapéus-de- sol. Os dois nadadores-salvadores que alternadamente vão vigiar a praia durante o mês de Agosto também compareceram à hora marcada para hastear a bandeira. Aqui, vai ser sempre verde: não há ondas nem marés. Quando muito, mudam para a bandeira axadrezada que avisa os banhistas de que foram almoçar. Lá no alto do jardim, Carlos Bertão, 53 anos, ainda não foi à cama. É agente da PSP, fez o turno da noite, chegou a casa às 8h00. A mulher e a filha queriam espreitar a novidade e lá vieram, de Santa Apolónia, em busca do Jardim do Torel. Muitos dos que rumaram na manhã de sexta-feira ao jardim nunca tinham lá estado. Não trouxeram fato de banho? “Não, o tempo não estava muito para isso. Mas hei-de voltar”, promete Fátima Bertão, 48 anos. “O meu marido está a trabalhar e eu não estou para ficar em casa, apanho o autocarro e venho para a praia. ” Para Fátima é mais fácil chegar a este areal. É deficiente motora há 21 anos, não tem carta de condução. “Venho para aqui com a miúda, trago um lanchinho e pronto”, diz. Já Marta Sirgado, 29 anos, está indecisa se voltará com fato de banho ou não. Foi criada no Campo Santana, logo ali ao lado, e ao jardim vem todos os dias: “Venho passear os meus cães, duas a três vezes por dia. ” Gosta do que vê, embora estranhe ver uma praia num jardim onde, diz, já viu muitas transformações. Reconhece que nos últimos quatro, cinco anos houve um esforço de requalificação do espaço e vê nesta praia urbana uma possibilidade de levar o Verão a quem não tem possibilidade de se deslocar à praia. Não será o caso de Domingos Conceição, que, aos 64 anos, já reformado, vem todos os dias com o seu “melhor amigo” de quatro patas ao jardim. A praia, essa, só no Algarve, até porque esta o fez recordar outras intervenções que considera urgentes por aqui. “A casota dos vigilantes não tem luz. Para ler o jornal à noite tem de ser com pilha, no Inverno não podem ligar um aquecedor”, explica. “Casas de banho também não temos, agora há por causa desse aparato”, comenta, referindo-se à praia urbana. Durante o ano, conta, as casas de banho “são atrás dos arbustos”. Uma estância balnear em LisboaA ideia começou com um ou dois chuveiros. No departamento cultural da Junta de Freguesia de Santo António o objectivo era dinamizar aquele espaço, refrescá-lo. Depois, lembraram-se do lago. “Eu próprio quando era miúdo tomava banho neste lago a partir de Maio”, conta Vasco Morgado, presidente da junta. “E não havia tratamento da água. Este mês há um cuidado diferente, depois o lago volta ao normal e quando o segurança vir as pessoas ali dentro vai pedir para saírem. Este mês é a excepção”, explica. Uma excepção que pode voltar para o ano e até durante um período mais longo, se a experiência correr bem. E para além da praia há parede de escalada e cinema ao ar livre. Até agora, a junta tem razões para celebrar. Logo quando saiu a primeira notícia sobre a intenção de abrir a praia no jardim choveram telefonemas de patrocinadores interessados. No total foram investidos 7400 euros, suportados na totalidade por publicidade, sem custos para o erário público. O dinheiro que tinham para este investimento acabou por ficar nos cofres da junta: “Por baixo de nós está uma escola que precisava de trocar algumas portas. Vamos trocá-las já com a poupança deste dinheiro. Poupamos de um lado, avançamos para o outro. ”
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Partidos LIVRE
Há almoços grátis desde que os saibamos cozinhar
O norte-americano Michael Pollan foi aplaudido de pé na Festa Literária Internacional de Paraty, onde lembrou que a nossa relação com a natureza não é de custo-zero. Também o índio yanomami Davi Kopenawa alertou para os erros do homem. (...)

Há almoços grátis desde que os saibamos cozinhar
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DATA: 2014-08-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: O norte-americano Michael Pollan foi aplaudido de pé na Festa Literária Internacional de Paraty, onde lembrou que a nossa relação com a natureza não é de custo-zero. Também o índio yanomami Davi Kopenawa alertou para os erros do homem.
TEXTO: “Somos a nação Yanomami, moramos há muito tempo na fronteira do Brasil e da Venezuela. Eu agradeço que vocês me deixem entrar aqui, na vossa casa. ”Foi primeiro na língua do povo yanomami que Davi Kopenawa, presidente da Hutukara Associação Yanomami, agradeceu o convite para estar na plateia da Tenda de Autores da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP). Só depois falou em português, língua que aprendeu a ler com missionários na Amazónia e com a Bíblia. É o autor do livro A Queda do Céu, juntamente com o antropólogo Bruce Albert, que já foi publicado em França, traduzido para inglês e será publicado em português no próximo ano pela editora brasileira Companhia das Letras. “Eu queria mostrar a sabedoria do povo yanomami, para vocês, os não-índios, não pensarem que a gente não sabe de nada. O povo yanomami é muito rico de História. Não é rico de dinheiro, de carro, de avião. É rico de conhecimento da nossa floresta amazónica. ”Embora a moderadora, a jornalista Eliane Brum, tivesse referido antes de lhe passar a palavra que Kopenawa está ameaçado de morte (disseram-lhe que não chegará ao fim de 2014 e por isso há dias pediu protecção à polícia brasileira), o xamã não abordou o assunto na sessão. Eliane lembrou que há “um risco de retrocesso” na protecção aos povos indígenas da Amazónia e que só este ano foram retirados os últimos fazendeiros do território demarcado para o povo yanomami. Por sua vez, Davi Kopenawa, que em criança viu os seus pais morrerem com doenças trazidas pelos brancos, lembrou: “Vocês, moradores daqui, no beira-mar, quero que vocês saibam o que aconteceu com o povo indígena do Brasil. O homem da cidade matou, estragou nossos rios, cortou a floresta, raspou a terra e trouxe doenças. Paraty era lugar de nossos parentes indígenas, os guarani. Os não-índios chegam em terras indígenas e derrubam tudo o que nós temos. Agora é hora de vocês se levantarem e cobrarem o erro do homem. ”Davi Kopenawa dividiu o palco com Cláudia Andujar, fotógrafa nascida na Suíça mas a viver no Brasil há décadas, que mostrou um vídeo de 17 minutos (demasiado longo, o que fez com que muitos fossem abandonando a sala aos poucos), com fotografias que foi tirando ao longo dos anos em que viveu com o povo yanomami. O pajé Davi Kopenawa explicou assim o estado do clima: “O não-índio diz: mudança climática. A poluição está lá em cima, muda o tempo, faz muito quente e muito frio. Falta água, falta chuva. O trabalho do pajé [curandeiro] é entrar em contacto com o trovão e o espírito da terra para reequilibrar o mundo, mas não só para o índio: também para branco, negro, tudo. ” Entretanto, a questão indígena e a Amazónia volta a ser tema de debate na festa literária, na mesa Tristes Trópicos, com a participação de dois antropólogos, Beto Ricardo e Eduardo Viveiros de Castro (autor do livro de ensaios A Inconstância da Alma Selvagem). E, de alguma forma, a conferência de Michael Pollan, autor de O Dilema do Omnívoro, jornalista e professor na Universidade de Berkeley, que está na FLIP a lançar o seu último livro, Cooked- A Natural History of Transformation (Cozinhar, da editora brasileira Intrínseca), ligou-se com a do índio yanomami. “Achamos que a nossa relação com a natureza é de custo zero. Isso não é verdade. " O norte-americano, que tem reflectido sobre aquilo que estamos a comer, lembrou como os animais estão a ser criados em quintas, apinhados e enfiados em estrume. “Tudo isso nos é escondido. Mostram-nos vaqueiros felizes e erva e pastos lindos. Mas essas imagens já não existem”, afirmou. “Somos cúmplices das novas paisagens. " Vivemos, continuou, num mundo de batatas padronizadas e a monotonia visual das paisagens é consequência dos produtos que ali são produzidos, no universo do cada vez mais geneticamente modificado. Pollan, que disse que os refrigerantes são um problema de saúde pública, pediu às pessoas para comerem com prazer mas não em excesso. O truque está em comerem os alimentos que elas próprias cozinham. Para ele existem “'almoços grátis' desde que os saibamos cozinhar”. Michael Pollan falou da importância das bactérias que vivem no nosso corpo e disse que estamos a cometer o erro de não cuidar delas. Isso, alertou, traz graves problemas para a nossa saúde. “Uma refeição no McDonalds alimenta o nosso corpo mas não alimenta as nossas bactérias. E sem isso surgem doenças como a diabetes. O mais preocupante é que a dieta ocidental está a fazer com que as nossas bactérias passem fome. ” Explicou que o leite materno tem essa capacidade de alimentar as bactérias do bebé. Mas infelizmente não podemos beber leite materno até ao final da vida, brincou o moderador Paulo Werneck, que conversou com o escritor na ausência (por motivo de doença) da moderadora escolhida. “Mas podemos alimentar-nos de plantas”, contrapôs rapidamente Michael Pollan. “O supermercado está cheio de coisas que não merecem o rótulo de comida. Devíamos chamar-lhes substâncias comestíveis. "Em sua casa, o jornalista diz que se comem coisas muito simples. Muitos grelhados, muitos legumes, pouca carne e, no dia seguinte, há os restos. Isso permite que a família não passe os dias todos a cozinhar: “Cozinhamos quatro ou cinco dias por semana e ficamos livres nos outros. ” No Brasil, Pollan apaixonou-se pela culinária local: “Espero que vocês defendam a vossa gastronomia, a vossa cultura… porque preparem-se: os perigos estão por perto. "
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Palavras-chave morte cultura fome negro homem carne criança doença corpo alimentos
Isto é arte?, continua a perguntar Jeff Koons
O Whitney Museum despede-se do edifício da Madison Avenue com a maior exposição que dedicou a um único artista. Um museu inteiro para ver a obra polémica de Jeff Koons na sua primeira retrospectiva em Nova Iorque. (...)

Isto é arte?, continua a perguntar Jeff Koons
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-08-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Whitney Museum despede-se do edifício da Madison Avenue com a maior exposição que dedicou a um único artista. Um museu inteiro para ver a obra polémica de Jeff Koons na sua primeira retrospectiva em Nova Iorque.
TEXTO: Há um balão abandonado num fim de tarde em Central Park. Tem a forma dos cães balões de Jeff Koons, como o que está exposto no Whitney Museum, no número 945 da Madison Avenue, não muito longe dali. Mas não é tão perfeito. Este é branco e esvazia-se. O outro é dourado e materializa a ilusão infantil do balão moldado por um palhaço habilidoso. Um cabe na mão, o outro é uma escultura com mais de três metros, em aço inoxidável, cromado, que reflecte como um espelho, e foi feita para criar a ilusão da perfeição. Uma dessas réplicas, o Balloon Dog (Orange), foi vendida pela Christie’s em Novembro do ano passado por 58, 4 milhões de dólares (cerca de 43, 5 milhões de euros), um recorde absoluto para uma obra de arte, tornando Jeff Koons no artista mais caro da actualidade. Aos 59 anos, e com 35 de carreira, ele foi o artista escolhido pelo Whitney para se despedir do edifício concebido pelo arquitecto da Bauhaus, Marcel Breuer, em 1966, naquela que é também a exposição mais dispendiosa da história do museu que vai em 2015 mudar-se para a baixa de Manhattan. Há suficiente polémica e dinheiro e informação sobre Jeff Koons, o norte-americano nascido na Pensilvânia em 1955, para que não se estranhe a fila na entrada do museu quando falta pouco para as sete da tarde de uma sexta-feira de Julho. Com uma obra colada à sua biografia, nunca teve direito a uma retrospectiva na cidade onde vive e trabalha. Cartazes a anunciar a exposição estão espalhados por toda a cidade. A imagem de Michael Jackson em porcelana com o seu macaco de estimação, Bubbles (uma criação de Koons de 1988), segue colada em muitos autocarros que atravessam Manhattan. Nas estações de metro, vêem-se anúncios com Play-Do (1994-2014), talvez a peça mais emblemática da exposição e a grande novidade, uma escultura de 3, 3 metros de altura que mimetiza uma montagem colorida feita de plasticina. Contam os organizadores que foi preciso retirar a porta de entrada do museu para fazer passar a estrutura montada como um puzzle que é o que não parece. Ferro em vez de massa de brincar que reflecte a obsessão de Koons com o detalhe, para que o engano sugerido seja sentido como verdadeiro. Levou-lhe 20 anos a concluir e está no centro da maior sala do quinto e último piso da exposição. Porquê a escolha de Koons para a despedida do Breuer Building, como também é conhecido o edifício onde está a colecção de arte contemporânea do Whitney? “Porque a obra de Koons é a mais emblemática do nosso tempo”, declarou Adam D. Weiberg, o director do museu, durante a apresentação aos jornalistas da exposição que se inaugurou a 27 de Junho e se mantém até 19 de Outubro. Nessa altura, será tempo de fechar a porta, entregar as chaves aos novos proprietários do edifício, o Metropolitan Arte Museum, e fazer as malas até ao prédio que Renzo Piano projectou no Meatpacking District, entre o High Line e o rio Hudson. Será ali o novo Whitney a partir da Primavera de 2015. Pretende-se uma exposição histórica. O objectivo é que a retrospectiva de Jeff Koons no Whitney seja um espectáculo. O modo como foi concebida por Scott Rothkopf, um dos programadores do museu, reflecte essa preocupação. São 130 obras, a maioria emprestada por coleccionadores privados como Damien Hirst, o outro artista milionário que se diz discípulo de Koons. Estão distribuídas por cinco pisos, incluindo o lobby e o pátio do edifício, organizadas de forma cronológica desde 1978 até 2014, e que no seu conjunto pretendem ser um contributo para se escrever a história da arte nos últimos anos. O jogoÀ entrada distribuem-se auscultadores. Neles, a voz de Koons descreve, pausada, o Popeye gigante que segura um ramo de sardinheiras e está no pátio do museu. Diz que a figura lhe lembrava o pai e a sua geração e que os espinafres eram uma forma de transcender as próprias capacidades. Serve-lhe para dizer que é assim que pensa a arte, como um meio de transcender o real. Substituiu-os pelas flores para reforçar essa ideia. A peça foi concebida entre 2009 e 2012 e representa essa sinceridade ou transparência que quer na sua arte. “Sou o que sou”, ouve-se do artista que se quer transcender também através da provocação pelo banal e que não desiste de procurar, aí, a perfeição, obcecado pela técnica e pela manipulação de materiais como o aço ou a madeira. Procura-se nas obras de Koons a identidade do autor e a primeira imagem da exposição é a da monumentalidade. Interpretações de estátuas gigantes, sejam réplicas da antiguidade clássica ou personagens de banda desenhada ou do imaginário infantil, estão colocadas nos pontos de passagem do museu numa síntese evolutiva do seu trabalho. A noção de escala, o erotismo, a exploração de conceitos como o consumo ou o excesso, a inocência ou o supérfluo, o imaginário infantil, o que é ser célebre, a ideia de gosto surgem como tópicos principais. Logo desde o primeiro piso, onde estão as primeiras peças com forte influência do ready-made de Marcel Duchamp, feitas de materiais baratos e já com uma preocupação em pegar em objectos do quotidiano, sublinhando ou retirando-lhes a sua vulgaridade quando colocados fora do contexto para o qual foram concebidos. A narrativa artística desenvolve-se à medida que se sobe até ao quinto e último piso. Mantém-se a representação do banal em peças que, isoladas, pretendem funcionar como um acontecimento e onde se destaca a estreia absoluta de Play-Do, inspirada numa brincadeira do filho mais velho de Jeff Koons com Ilona Staller, a húngara naturalizada italiana que ficou conhecida pelo seu nome de actriz-porno: Cicciolina. A par de Kons, ela é – e é inevitável -- uma das protagonistas da retrospectiva. Jeff e Ilona conheceram-se em 1989, quando ele a contratou como modelo para uma encomenda do Whitney para uma série de que resultou Made in Heaven (1981-91), um conjunto de fotografia e escultura em que ambos surgiam em cenas de sexo explícito. Parte desses trabalhos foram destruídos depois do casal se ter desentendido numa guerra pela guarda do filho. Ilona ganhou então a Jeff, mas toda a polémica ressurge perante a tela gigante onde um e outro aparecem abraçados, revelando os respectivos genitais. É o momento em que se faz silêncio na exposição, como se cada um dos que estivessem perante o quadro quisesse mostrar uma descontracção que afinal também ela acaba por ser encenada. É o público a cair no isco dos organizadores do espectáculo Koons. O mesmo público que se espantou com a carica gigante que parece insuflável, ou com a paródia à limpeza na série de aspiradores que ocupam o primeiro piso, ou ainda no espanto infantil diante do detalhe de uma foca-bóia de mergulho. “Como, não é de plástico?”, pergunta uma mulher de bengala que o segurança manda recuar. A tentação está no tacto. É um desconcerto comum, em que todos ou são crianças que coram ou adultos indignados com a falácia da matéria – nada é o que parece – e espantados com a sofisticação da técnica de um artista que se diz fortemente influenciado pelo Picasso dos anos 80, mas que o mundo da arte compara a Andy Warhol pelo modo como se torna performer da sua própria criatividade, sobretudo na década de 80, alguém que se apresenta como crítico do dinheiro mas faz parte da máquina. No limite, pretende transformar o luxo em lixo para depois ser, ele mesmo, um luxo maior. Em tudo há uma provocação e esse é o jogo onde parece haver sempre uma pergunta implícita: “isto é arte?”. A pergunta persiste. A cópia em aço inoxidável de um objecto em prata passa a ser mais valiosa do que o objecto de luxo que copia. Exemplo? O comboio que parodia uma peça de decoração de um bar que no original seria em prata, o JB Turner Train, e que aqui é em aço. Foi vendido por 33 milhões de dólares (quase 25 milhões de euros). Faz parte da série Luxury & Degradation (1986), uma das 14 em que se divide a retrospectiva que mostra o pintor, o publicitário, o escultor que desafia a fronteira entre arte e consumo de massa, entre o duradouro e o perecível e que tem talvez o melhor exemplo desta última tentação no jardim plantou na Rockefeller Plaza. Estamos a uns quarteirões do Whitney diante de uma das atracções da cidade de Nova Iorque neste Verão. São mais de 11 metros de altura por 12 de largura, em aço inoxidável, terra, tela e um sistema de irrigação interno que permite manter vivas 50 mil flores até ao fim de Setembro. Chama-se Split-Rocker, é uma espécie de cavalo de pau, só que com cabeça de dinossauro. É outra vez a manipulação de escala, o desafio a convenções, a ambiguidade de sentido, um brinquedo com ar de monstro, o espectáculo em forma de escultura que dura a vida de uma planta. Em Nova Iorque tem flores até 12 de Setembro. Quanto à retrospectiva, segue para Paris, para o Centro Pompidou, onde se irá inaugurar a 15 de Novembro.
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