Militares portugueses evitam massacres e “têm de se orgulhar do que estão a fazer”
Os portugueses são a única força europeia em acções de combate no terreno na missão das Nações Unidas de estabilização da República Centro Africana. (...)

Militares portugueses evitam massacres e “têm de se orgulhar do que estão a fazer”
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 10 | Sentimento 0.350
DATA: 2018-12-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os portugueses são a única força europeia em acções de combate no terreno na missão das Nações Unidas de estabilização da República Centro Africana.
TEXTO: Os militares portugueses na República Centro Africana "têm de se orgulhar do que estão a fazer" na protecção dos civis perante os grupos armados, num teatro de operações marcado pela violência extrema, sustentou o general Marco Serronha. Em entrevista à Agência Lusa, de passagem por Lisboa antes de regressar ao quartel-general da componente militar da missão de estabilização das Nações Unidas na RCA (MINUSCA), com cerca de 11 mil militares, o general Marco Serronha disse que as forças portuguesas já conduziram operações que "impediram massacres" que poderiam ter resultado em "centenas ou mesmo milhares de mortos". "Quem lá está sabe que impediu um massacre, que defenderam pessoas ou apoiaram campos de refugiados, isso também é uma vitória que tem de ser registada na contabilidade", defendeu o general, que iniciou funções como Segundo Comandante da MINUSCA, para um mandato de um ano, na missão comandada pelo general senegalês Balla Keita. A protecção dos civis é o principal objectivo da MINUSCA [Missão Multi-dimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização] da RCA. A força portuguesa de reacção rápida, que já vai no 4. º contingente, conta com 159 militares. O primeiro e o segundo contingentes foram constituídos por comandos e o terceiro e o actual por pára-quedistas. No próximo ano regressam os comandos à RCA. Com mortes verificadas entre os capacetes azuis na RCA — este ano já morreram seis — num teatro de operações perigoso, o general Serronha recusa atribuir à sorte o facto de não ter havido ainda situações mais graves do que "ferimentos ligeiros" entre os militares portugueses. "A principal protecção que a força tem deriva de duas coisas. Do seu equipamento, temos bons equipamentos de protecção, coletes balísticos, capacetes e as viaturas", disse, acrescentando que, em segundo lugar, "a operação no terreno é muito boa" e tem um efeito dissuasor. A realidade, frisou, é que a força portuguesa — a única força europeia em acções de combate no terreno na MINUSCA — é a tecnologicamente mais bem equipada e a mais bem treinada, cumprindo padrões de eficácia que não estão ao alcance da grande maioria das outras forças, provenientes do Ruanda, Paquistão, Egipto, Bangladesh, Zâmbia, Burundi, Marrocos, Camarões e Mauritânia, entre os maiores contribuidores, num total de 11. 650 militares. O general Serronha, que assumiu funções como segundo comandante da MINUSCA em Setembro, admitiu ser "evidente que não se pode dizer que não há risco". Contudo, os grupos armados não atiram sobre os portugueses "de ânimo leve". Nas palavras do general Serronha, os grupos armados sabem que se se meterem com os portugueses "levam na touca". "Eles [grupos armados] sabem que as forças portuguesas que lá estão, se fizerem tiro sobre elas, elas reagem ofensivamente de forma assertiva e portanto pensam duas ou três vezes antes de abrirem fogo", disse. "Tivemos três feridos ligeiros nos quatros contingentes. No primeiro contingente, dos Comandos, houve um [ferido], no segundo não tivemos ninguém, no terceiro houve em Bangui um soldado pára-quedista que teve o impacto de uma granada, e tivemos há um mês em Bambari um sargento que levou um tiro, mas nada de grave", resumiu. No último ano, a força portuguesa de reacção de rápida conduziu operações militares em Bambari, uma cidade com 40 mil habitantes a 300 km da capital, Bangui, actualmente considerada uma das cidades mais problemáticas em termos de segurança e na qual elementos de grupos armados têm provocado conflitos, quebrando um acordo com a MINUSCA. "Foi acordado que Bambari era uma zona livre de grupos armados. Os grupos armados não podiam andar na zona de Bambari uniformizados e com armas. Sempre que tentam tomar alguma posição de mais força na cidade tem havido intervenções da MINUSCA e tem sido a companhia de reacção imediata portuguesa que o tem feito", disse. Recentemente foi decidido o envio de seis viaturas blindadas PANDUR e de mais 20 militares para reforçar o contingente português na RCA, o que "dará um incremento do ponto de vista da letalidade". A força portuguesa, de reserva do comandante operacional, também tem a "missão de evacuação" e isso exige "capacidade de transporte com viaturas blindadas", explicou. O general Serronha frisou que o ambiente no teatro de operações da RCA é particularmente inóspito e os militares portugueses enfrentam condições duras, chegando a estar, quando saem de Bangui, um mês a viver em tendas não climatizadas, com temperaturas de 40 graus e rede mosquiteira, a dormir nos chamados "burros do mato" [camas articuladas] que têm de transportar, além das cozinhas de campanha. Além das condições no terreno, a força portuguesa sofre o que o general Serronha classifica como "guerra psicológica": "[os grupos armados] emitem comunicados a dizer que os portugueses massacram pessoas nos sítios onde estamos, é evidente que isso é desmentido pela MINUSCA e por toda a gente, mas tentam pôr alguma pressão psicológica sobre a força portuguesa de modo a inibi-la de ter uma acção operacional mais efectiva", especialmente em Bambari. O próximo passo da missão portuguesa, disse, é "colocar oficiais no Estado-maior da MINUSCA", na logística, no planeamento e nas informações, um objectivo que passará pela negociação no âmbito da ONU e que contribuirá, acredita, para "um Estado-Maior do quartel-general da MINUSCA mais efectivo". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O conflito neste país, com o tamanho da França e uma população que é menos de metade da portuguesa (4, 6 milhões, já provocou centenas de milhares de mortos entre os civis, 700 mil deslocados e 570 mil refugiados, e colocou 2, 5 milhões de pessoas a necessitarem de ajuda humanitária. O governo do Presidente, Faustin-Archange Touadéra, um antigo primeiro-ministro que venceu as presidenciais de 2016, controla cerca de um quinto do território. O resto é dividido por 18 milícias que, na sua maioria, procuram obter dinheiro através de raptos, extorsão, bloqueio de vias de comunicação, recursos minerais (diamantes e ouro, entre outros), roubo de gado e abate de elefantes para venda de marfim.
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Partidos LIVRE
Campo minado trava ofensiva sobre o último bastião do Boko Haram
A coligação de países africanos está a preparar uma ofensiva conjunta sobre a floresta de Sambisa. Boko Haram tem perdido terreno e está enfraquecido. (...)

Campo minado trava ofensiva sobre o último bastião do Boko Haram
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 10 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: A coligação de países africanos está a preparar uma ofensiva conjunta sobre a floresta de Sambisa. Boko Haram tem perdido terreno e está enfraquecido.
TEXTO: Durou um dia a ofensiva do exército e das forças pró-governamentais da Nigéria contra o último bastião do Boko Haram. Os extremistas já não controlam nenhum centro urbano e estão refugiados na floresta de Sambisa, perto da fronteira oeste da Nigéria com os Camarões. A ofensiva começou na quarta-feira mas, nesta quinta, as forças pró-governamentais retiraram-se depois de terem alcançado um campo armadilhado e de uma mina ter matado três combatentes. Os extremistas do Boko Haram têm uma forte presença em Sambisa e, por essa razão, a floresta tem sido alvo de vários bombardeamentos desde Fevereiro, mês em que a Nigéria se aliou aos Camarões, Chade e Niger e, juntos, formaram uma coligação contra os extremistas. A ofensiva de quarta-feira avançou também com apoio aéreo, mas a presença de minas no terreno foi sempre uma preocupação para o exército nigeriano. Na quarta-feira, lançou um comunicado em que afirmava que estava a avançar na floresta, mas enfrentava “obstáculos e minas colocadas pelos terroristas”. Nesta quinta-feira, a morte de três combatentes pró-governamentais precipitou a retirada. “Os soldados fizeram uma retirada para Bama [a norte de Sambisa] por causa das minas”, disse uma fonte do exército nigeriano à Reuters. “Três dos nossos rapazes foram mortos por uma mina à medida que progredíamos em Sambisa”, explicou à agência Muhammad Mungonu, um dos voluntários que combate com as forças do Governo nigeriano. Mas este não será o fim da ofensiva sobre Sambisa. A floresta é um dos mais importantes objectivos da ofensiva contra o Boko Haram e o facto de o exército nigeriano ter conseguido avançar contra o bastião dos islamistas, mesmo que só por um dia, é um sinal de que pode estar para breve o último avanço sobre o Boko Haram. De acordo com um responsável do exército do Chade à Reuters, a coligação deve montar uma ofensiva conjunta sobre a floresta já para a semana. Forças do exército do Chade estão a concentrar-se no Norte dos Camarões. Os três exércitos devem tentar penetrar na floresta por várias frentes. Boko Haram em dificuldadesDesde Fevereiro que o Boko Haram tem vindo a perder território frente à coligação de países africanos. Têm-se também repetido relatos de que o grupo está a ficar sem armas e munições e a ofensiva desta quarta-feira matou um dos líderes jihadistas, de acordo com as informações transmitidas por Mike Omeri, o porta-voz do Governo nigeriano, à revista norte-americana Newsweek. Mike Omeri falou com a Newsweek nesta quinta-feira e assegurou que o exército continuava a avançar em Sambisa. Mais tarde, contudo, a Reuters deu a notícia da retirada das forças pró-governamentais da floresta face à ameaça do campo minado. Em todo o caso, Omeri repete a tese do enfraquecimento dos islamistas. “Derrotámos as suas capacidades e a maior parte dos seus campos”, disse o porta-voz do Governo de Goodluck Jonathan à revista. A coligação foi capaz de reconquistar partes importantes de terreno ao Boko Haram. Aliás, os extremistas, que em Março declararam fidelidade ao autoproclamado Estado Islâmico, já não controlam nenhum centro urbano. Mas a vitória ainda pode tardar, segundo o correspondente da BBC para a segurança em África, Tomi Oladipo. É que a floresta de Sambisa é a área mais vasta de terreno que até ao momento foi disputada entre a coligação e o Boko Haram. Goodluck Jonathan está de saída da presidência da Nigéria. No final de Maio, entregará o poder a Muhammadu Buhari, o vencedor das eleições de Março. A campanha eleitoral de ambos foi organizada em torno do tema Boko Haram e, agora, Jonathan diz que quer derrotar o grupo islamista antes de entregar o poder ao seu sucessor. Para além de ser o último bastião do Boko Haram, a floresta de Sambisa poderá ser também a última possibilidade para que sejam resgatadas as mais de 200 raparigas sequestradas há um ano pelos jihadistas. Mohamed Ibn Chambas, representante das Nações Unidas para o leste de África, sugeriu à Al-Jazira que os extremistas possam estar a utilizar as raparigas raptadas como escudo humano em Sambisa, embora os voos de reconhecimento sobre a floresta não tenham registado nenhum indício da presença das raparigas sequestradas.
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Palavras-chave morte campo
Preto no Porto
O racismo pode ser reduzido à irrelevância se formos vigilantes e ativos no seu combate. Ele não vai desaparecer sozinho. (...)

Preto no Porto
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 10 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.16
DATA: 2018-07-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: O racismo pode ser reduzido à irrelevância se formos vigilantes e ativos no seu combate. Ele não vai desaparecer sozinho.
TEXTO: No último livro de Jacinto Lucas Pires, o romance A Gargalhada de Augusto Reis, há um jovem poeta chamado Djalma dos Santos, nascido de mãe cabo-verdiana e pai angolano num dos bairros africanos dos subúrbios de Lisboa, que vai trabalhar para o Porto e que escolhe aí fazer a sua vida. Uma das suas ficcionais antologias de poesia chama-se Preto no Porto. Na subtileza de que é feito o romance, sempre construído em torno de um respeito pelos não-ditos das personagens, ficamos sem saber muito sobre o que teria a dizer aquele Preto no Porto. Mas se o título é evocativo, é porque há nele um comentário implícito a uma coisa que já foi mais rara do que hoje é: ser negro na segunda maior cidade do país. Não é preciso ir mais longe do que os anos 90 para nos lembrarmos como as notícias sobre crime em Lisboa traziam sempre consigo o subentendido racista de serem notícias sobre imigrantes negros ou afrodescendentes em Lisboa. Foi assim que se foi criando uma imagem que teve consequências nos abusos policiais na Cova da Moura, por exemplo. Por detrás dessa imagem estava também um tratamento dúplice em relação ao crime noutras partes do país. Nessa época, por exemplo, o crime no Porto nunca era associado a imigrantes ou afrodescendentes e por isso nunca era alvo do mesmo aproveitamento político ou mediático. Se o crime de portugueses brancos era só crime, o crime de imigrantes ou portugueses negros era notícia e “caso político”. Por detrás disso tudo havia uma fácil constatação: ambas as cidades tinham as vantagens e dificuldades que têm as grandes áreas metropolitanas, mas no Porto não havia o mesmo mosaico humano que havia em Lisboa. Em particular, no Porto havia menos negros que em Lisboa. Só que hoje o Porto é também uma cidade cada vez mais atrativa e diversa: há mais estudantes de todo o mundo, há mais estrangeiros, e há também mais portugueses negros. Por isso o título do livro inventando por Jacinto Lucas Pires para Djalma dos Santos é evocativo. Em Preto no Porto há uma vontade, até um desafio: que se comece a falar mais sobre a experiência de se ser negro em todo o país, incluindo no Porto ou nos Açores (começando por ouvir mais o que têm os nossos concidadãos negros para nos dizer acerca das suas experiências). Estava eu com estes pensamentos quando vejo nas redes sociais um apelo. Uma jovem que se auto-identificava como “preta”, por acaso no Porto, e uma sua amiga de nacionalidade colombiana mas vivendo em Portugal desde criança, tinham sido agredidas com gravidade por um segurança de transportes públicos na noite de São João. Segundo o seu testemunho, para o qual pedia corroboração de outras pessoas que tivessem assistido ao sucedido, o agressor ter-lhes-ia lançado o insulto “pretas de merda” e impedido de entrar no autocarro, tendo acabado por agredir repetidamente uma delas. Sabemos hoje como ficou a cara dessa vítima: a foto do seu rosto cheio de hematomas está em todos os jornais. Sabemos também que a polícia demorou três dias a agir neste caso, e que apenas o fez por pressão exterior. Não foi o primeiro caso de agressões preconceituosas em transportes públicos: em 2014 uma mulher lésbica foi agredida num táxi depois de se despedir da namorada, também no Porto. E não foi, é claro, o primeiro ataque racista no país — e infelizmente poderia ter ocorrido em qualquer outro lugar, de Lisboa à Madeira — mas foi talvez o primeiro caso ocorrido no Porto que atinge esta dimensão de indignação. E a indignação serve para alguma coisa. Para unir as pessoas na solidariedade com as vítimas. Para avançar no caminho de erradicar este tipo de fenómenos no nosso país. Sobre o racismo há dois tipos de coisas que hoje se dizem muito e que, a meu ver, sendo contraditórias, são ambas erradas. A primeira é a de que o racismo é hoje pouco prevalente (é um argumento que agora se usa muito em política: “tantos por cento de pessoas que votaram em partidos racistas não podem ser todas racistas”; bem, todas talvez não sejam, mas nesse caso parece estranho que tantas pessoas não-racistas fossem votar ao engano em partidos racistas). A segunda é que esse racismo supostamente pouco prevalente é, porém, impossível de erradicar: como se houvesse uma “natureza racista” inevitável entre os humanos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Ambas as percepções estão erradas. O racismo é ainda hoje mais prevalente do que muita gente está preparada para admitir, até porque o racismo mais evidente como o das agressões físicas e verbais a estas jovens no Porto é apenas um dos obstáculos que os negros em Portugal são obrigados a ultrapassar (o agente imobiliário que diz que a casa que um negro tenta arrendar “já está ocupada” não aparece nas notícias do jornal, mas praticamente todos os negros que conheço ou de quem sou amigo têm histórias destas para contar). Por outro lado, é possível erradicar o racismo ou torná-lo tão irrelevante que ele já não tenha de fazer parte das preocupações quotidianas de quem hoje o vive, como em tempos foi possível erradicar preconceitos tão absurdos quanto a crença de que certas mulheres eram feiticeiras ou de que católicos e protestantes tinham de se massacrar mutuamente na Europa. Quer dizer, ainda há quem acredite em tais coisas e em certos cantos do mundo, mesmo desenvolvido, tais fenómenos duraram até à nossa geração, mas é possível acabar com eles. Com uma condição: o racismo pode ser reduzido à irrelevância se formos vigilantes e ativos no combate ao racismo. Ele não vai desaparecer sozinho. Mas se formos vigilantes, ativos e solidários, perto estará o dia também implícito no título daquele livro imaginário, Preto no Porto: o de que ser negro, e viver no Porto, significa a possibilidade de se ser mais um portuense feliz numa cidade magnífica. Foi essa possibilidade que foi brutalmente retirada a duas jovens negras na noite de São João. E só se agirmos todos — concidadãos, forças policiais, justiça, políticos — é possível fazer com que essa brutalidade não seja mais do que uma injustiça que pode ser corrigida. É com a solidariedade de todos que conseguiremos restituir às vítimas deste ataque e a todas pessoas que poderiam ter estado no lugar delas o sentido da segurança e a felicidade de serem jovens, mulheres e negras no Porto e em todo o país que é delas. O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime humanos ataque mulher negro racismo criança mulheres racista agressor lésbica
Não há consenso para questionar origem étnico-racial no próximo Censos
Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade reuniu-se com grupo de trabalho para discutir como recolher dados sobre discriminações e desigualdades. Questionado o facto da discussão sobre racismo estar sob alçada do Alto Comissariado para as Migrações (...)

Não há consenso para questionar origem étnico-racial no próximo Censos
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 10 Ciganos Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade reuniu-se com grupo de trabalho para discutir como recolher dados sobre discriminações e desigualdades. Questionado o facto da discussão sobre racismo estar sob alçada do Alto Comissariado para as Migrações
TEXTO: Há falta de informação sobre os processos de discriminação e racismo em Portugal. Para colmatar essa lacuna é preciso recolher dados. Sobre isto houve acordo no grupo de trabalho formado pela Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade para debater o tema, reunido pela primeira vez esta segunda-feira. O que não é consensual é o facto de o próximo Censos 2021 ser um dos instrumentos para recolher esses dados – o que permitiria, por exemplo, saber qual a composição étnico-racial da população portuguesa. A reunião surge depois de, em Setembro, o então ministro Adjunto Eduardo Cabrita ter dito que o Governo estava a trabalhar com o Instituto Nacional de Estatística (INE) para que fosse incluído este tipo de informação no próximo Censos, como o fazem o Reino Unido, Brasil ou Estados Unidos. Já com a nova titular da pasta da Igualdade – Rosa Monteiro substituiu Catarina Marcelino quando Eduardo Cabrita mudou para Administração Interna – criou-se um grupo composto por académicos como Cristina Roldão, Marta Araújo, Rui Pena Pires, Jorge Malheiros ou Jorge Vala, pelo Alto Comissariado para as Migrações (ACM), pelo Observatório das Comunidades Ciganas (integrado no ACM), pelo SOS Racismo e pelo gabinete do Censos no INE, entre outros. Da reunião saiu o compromisso de serem integrados representantes das comunidades ciganas, afrodescendentes e asiáticas e de abrir este debate à sociedade em geral e aos grupos racializados, disseram a socióloga Cristina Roldão e o activista do SOS Racismo Mamadou Ba, do grupo de trabalho. Esta era uma reivindicação expressa no artigo colectivo que saiu no PÚBLICO, Recolha de dados étnico-raciais sim, mas com quem, como e para quê?, subscrito também por estes dois membros. As dezenas de signatários, entre grupos anti-racistas, cidadãos ou académicos, consideraram que a recolha de dados “poderá ser um passo sem precedentes no combate ao racismo e às desigualdades étnico-raciais na sociedade portuguesa” mas criticaram “a decisão unilateral do Governo em avançar com a proposta para os Censos 2021”, “sem concertação prévia com as comunidades racializadas”. Rosa Monteiro leu a carta “com atenção” e respondeu ao PÚBLICO ter a intenção de trabalhar “com todos”: “queremos construir uma estratégia de forma participada e integradora”. Reconhecendo que “há fenómenos de racismo, discriminação e desigualdade estrutural” em Portugal, afirmou que “é muito importante dar visibilidade" a "um problema” que é “de toda a sociedade”. Disse também: “Estamos a começar um caminho que já está atrasado”. O debate sobre a recolha de dados, recomendado pela ONU, organizações internacionais, reivindicado por movimentos sociais e activistas é antigo em Portugal. Embora refira que a recolha de dados étnico-raciais através do Censos é algo a que se opõe, o sociólogo Rui Pena Pires concorda que é preciso mais informação sobre os processos de discriminação mas “não sobre as pessoas”: “O Censos não me diz nada sobre discriminação na saúde, na justiça, permite medir mas não compreender”. Isso pode ser feito através de “inquéritos ou estudos”, defende. Para Jorge Malheiros, “em princípio” o Censos pode ser um bom instrumento para colmatar o défice de informação “desde que salvaguardados os riscos” do mau uso desses dados. Mas “deve haver um debate alargado” na sociedade sobre os prós e contras, refere. Na reunião foi debatido outro ponto “problemático”: o facto de esta discussão estar na pasta das migrações, ou seja, sob alçada do ACM. Isto porque, defende-se no artigo, as desigualdades étnico-raciais tocam várias áreas que extravasam “a competência restrita da política migratória”. Na reunião “ficou patente que existe grande dificuldade em pensar nas políticas de combate ao racismo fora das migrações”, lamenta Cristina Roldão, e “isto é um ponto de tensão neste debate”. “É preciso admitir de uma vez por todas que existem portugueses que são negros, são ciganos, não são migrantes”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Rosa Monteiro coloca de parte essa separação e refere que o ACM tem outras competências que passam pelo combate ao racismo. Embora concordem que o debate esteja a ser feito sob alçada do ACM porque é ele que tem essa pasta, tanto Jorge Malheiros como Rui Pena Pires admitem que o racismo saia da alçada das migrações. “O racismo deve ser tratado com a mesma autonomia que a discriminação por sexo, é uma questão de igualdade que não tem nada a ver com as questões da imigração”, diz Pena Pires. “As questões da interculturalidade e de discriminação racial e de base étnica podem estar noutra entidade. É preciso também fazer este debate”, acrescenta Jorge Malheiros. Mamadou Ba conclui dizendo que, no final, espera que “o Estado assuma a sua responsabilidade quando o relatório for produzido e o traduza em políticas públicas”. O grupo irá produzir uma recomendação ao INE, reunindo mensalmente até pelo menos Outubro.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Brandos costumes
Os que duvidam ainda do racismo instalado na sociedade portuguesa são os mesmos que pensam que o problema não é o desemprego e sim a preguiça do desempregado. (...)

Brandos costumes
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 10 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os que duvidam ainda do racismo instalado na sociedade portuguesa são os mesmos que pensam que o problema não é o desemprego e sim a preguiça do desempregado.
TEXTO: Racismo em Portugal? Desde que o lusotropicalismo se tornou doutrina oficial do salazarismo e os governos democráticos o envernizaram com um discurso de “superação do passado” e de “diálogo” e “cooperação”, o Estado português vive em estado de negação permanente e nunca se mostrou disponível para enfrentar o problema. Há mais de um século que a maioria dos portugueses se deixou convencer, com a maior das auto-condescendências, pela ideia da exceção portuguesa no mundo e na história, de uma pretensa diferença essencial que teria feito com que, de tanto termos “lançado a semente da solidariedade universal” (como dizia Mário Soares em 1992), de tanto de se ter sabido “entender e misturar realmente com os outros” (Cavaco, em 2008), a nossa vida coletiva tivesse estado isenta de preconceito e perseguição racial - ou que as nossas colónias nem colónias tivessem sido, e, já agora, que a guerra colonial não foi nem colonial, nem guerra sequer. . . Neste contexto, como é que se interpreta o que aconteceu há dias na Cova da Moura (Amadora)? Agentes da equipa de intervenção rápida da PSP percorriam o bairro, Bruno Lopes, 24 anos, conversava na rua, em crioulo, com primo e é esbofeteado e pontapeado por polícias sem, dizem as testemunhas, ter oferecido resistência. Moradores protestam, tentam filmar a situação, polícia dispersa-os com violência. Jailza Sousa, 29 anos, da Associação Cultural Moinho da Juventude, assiste a tudo da varanda de casa e, enquanto segura nos braços um filho, é alvejada com balas de borracha. Bruno é levado para a esquadra, detido toda a noite, espancado. “Diziam-me para me candidatar ao Estado Islâmico. ” Chamam-lhe “preto, macaco”, que “iam exterminar a nossa raça” (PÚBLICO, 10. 2. 2015). Cinco ativistas da associação vão até à esquadra para exigir a sua libertação, entre eles Celso Lopes e Flávio Almada, ambos rappers e investigadores, o primeiro na Universidade de Aveiro, o segundo na de Coimbra. Os polícias não os deixam entrar, disparam balas de borracha (duas atingem Celso numa perna), puxam os ativistas para dentro da esquadra, e batem-lhes com fúria: no Hospital Amadora-Sintra, os médicos comprovam dentes partidos, hematomas de tal gravidade que um dos jovens terá sofrido um AVC. Na esquadra, os insultos acompanham o espancamento. Conta Flávio Almada: “Consegui ver a expressão de um dos polícias, quando disse (. . . ): 'Se eu mandasse, vocês seriam todos exterminados. Não sabem o quanto eu odeio vocês, raça do caralho, pretos de merda. ' Nunca tinha visto um ódio, em estado bruto, daquela forma (. . . ). ” Para quem os espanca, eles não são portugueses: são “pretogueses”!Sabendo que o caso é denunciado imediatamente nas redes sociais e nos media, a PSP assume o relato habitual: “cinco jovens terão tentado invadir a esquadra, atacada à pedrada”, “um agente terá também sido agredido tendo sido transportado ao hospital com um braço partido. ” O problema é que desta vez, além de Bruno Lopes, um dos muitos jovens desempregados do bairro habituados à violência policial, não hesitaram em deter, espancar e pedir a prisão preventiva (recusada pela juíza) para ativistas de um projeto comunitário que tem 30 anos na Cova da Moura, creditado com prémios como o de Direitos Humanos da Assembleia da República. Como diz Flávio Almada, “tenho curso superior, sou ativista, conheço muita gente e muita gente acredita em mim — agora um jovem que tenha pelo menos um antecedente criminal: ninguém o iria apoiar. ”Portugal não é os EUA, a Cova da Moura não é Ferguson. Não é o que se repete sempre entre nós, que aqui não há violência racial? Não vivemos nós convencidos de que uma redoma de brandos costumes nos afasta das tempestades xenófobas do Ocidente rico? Não é daqui que sai a falsa ingenuidade de quem sublinha que em Angola não fizemos o que os franceses fizeram na Argélia, que Moçambique não era a Rodésia ou a África do Sul, que no Brasil colonial nunca fizemos o que os espanhóis fizeram no lado deles da América? Em suma, que nós não somos racistas como os outros!Mas prestará alguém atenção aos estudos do Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultura (ACIDI) e aos relatórios de entidades tão oficiais como a Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância (ECRI) do Conselho da Europa? Ou julgar-se-á que estas comissões só têm é de gastar tempo com os outros? Em 2013, a ECRI verifica que “muitas pessoas teriam má opinião dos ciganos, que consideram parasitas, bem como dos brasileiros e dos africanos, que associam à criminalidade”; o “aumento do número de sites internet racistas” (entre os quais “um forum internet, manifestamente criado em Portugal”, notoriamente gerido por militares da GNR”). Desde o seu relatório de 2007 que entende que “incidentes graves” como os “disparos desferidos contra Africanos e Ciganos” “podem”, na linguagem sempre diplomática destas entidades, “traduzir a existência de uma cultura de preconceitos raciais por parte de certos membros da polícia”, pelo que a ECRI voltou a “[convidar] as autoridades a proceder a um inquérito sobre a possível existência de uma cultura institucional de racismo ou discriminação racial no seio da polícia. ” A comissão “está muito surpreendida com a modéstia dos números [relativos a investigações ou a condenações resultantes de denúncias contra agentes da polícia por atos racistas ou de discriminação racial], que lhe sugerem que o sistema atual de apresentação de queixas não funciona”. Na falta de empenho das autoridades portuguesas “vê (. . . ) um sinal inquietante da reticência geral em enfrentar e em reagir ao fenómeno do racismo e da discriminação racial na polícia”, apercebendo-se “que os agentes das forças da ordem processados por violências racistas são raramente condenados, [bastando-lhes] invocar a legítima defesa para serem absolvidos. ”
REFERÊNCIAS:
Farage, o antieuropeu que leva o sistema político britânico a reboque
Tiradas racistas, ataques dos opositores e polémicas não travam o crescimento dos populistas do UKIP. Farage, a cara e o estratega do partido, é um político que escapa a classificações simples. (...)

Farage, o antieuropeu que leva o sistema político britânico a reboque
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 10 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Tiradas racistas, ataques dos opositores e polémicas não travam o crescimento dos populistas do UKIP. Farage, a cara e o estratega do partido, é um político que escapa a classificações simples.
TEXTO: “Racista não assumido” ou “o tipo do pub” que fala do que ninguém mais ousa falar? Um egocêntrico que gere com mão de ferro um partido que se diz libertário ou um estratega brilhante? São inúmeras as tentativas para classificar de Nigel Farage, o líder do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), o antipolítico que desafia a “casta dominante” em Westminster, dono de uma retórica antieuropeia e xenófoba que está a levar os outros partidos a reboque. As eleições europeias – que no país se realizam a 22 de Maio – anunciam-se como o grande sismo que promete abalar todo o sistema político britânico. Farage não é, mas gosta de se apresentar como um inglês comum. As conversas com os jornalistas acontecem quase sempre em pubs locais. De cerveja numa mão e cigarro na outra, o antigo corretor de mercadorias na bolsa de Londres transforma-se num franco-atirador, disparando contra a “euroditadura” de Bruxelas, os “políticos de cartão” que enchem o Parlamento, todos iguais da direita à esquerda, ou a “política de fronteiras abertas” que permitiu a entrada no Reino Unido de centenas de milhares de europeus de Leste. As suas armas? A linguagem directa que os partidos desaprenderam – e que raia muitas vezes os limites do insulto – e um sentido de humor, auto-depreciativo e politicamente incorrecto, que usa tanto para cativar a audiência como para fintar as questões mais incómodas. “Recebo dinheiro do diabo para fazer o trabalho do Senhor”, disse quando lhe perguntaram sobre o generoso salário que há 15 anos recebe como deputado no Parlamento Europeu. É em Bruxelas, aliás, que Farage, 50 anos feitos, mais facilmente abandona a imagem de gentleman que os fatos de bom corte que invariavelmente usa ajudam a criar. Em 2010, escandalizou o hemiciclo ao acusar o presidente do Conselho Europeu, o belga Herman von Rompuy, de ter “o carisma de um trapo velho” e a “aparência de um bancário”, “sem qualquer legitimidade para o cargo”. Numa entrevista ao jornal El Mundo, um ano antes, acusara a compatriota Catherine Ashton, de ser “uma inútil” que só conseguira ser nomeada chefe da diplomacia da UE “porque o marido é um dos principais financiadores do Partido Trabalhista”. E nas entrevistas à RT, a televisão em língua inglesa financiada pelo Governo russo, insiste que Bruxelas é governada “pelas piores pessoas que a Europa viu desde 1945”. Do eurocepticismo à imigraçãoFoi esta aversão visceral ao projecto europeu que, no início dos anos de 1990, arrastou para a política o jovem Nigel, corretor, filho e irmão de correctores da City. Militante dos tories, rompeu com o partido depois de o primeiro-ministro John Major ter assinado, em 1992, o Tratado de Maastricht que instituiu a União Europeia e abriu caminho à moeda única. “No Reino Unido o debate inicial foi sobre a entrada no mercado único. Ninguém falou numa união política, na supremacia da lei europeia sobre a lei britânica”, recordava na entrevista de 2009 ao El Mundo. Farage esteve na fundação do UKIP, mas era não só mais jovem do que a maioria dos seus correligionários, mas também mais traçado para a ribalta política. Em 1999, beneficiando da introdução do sistema proporcional, o partido elegeu três eurodeputados e Farage estava entre eles. Cinco anos depois, eram já 12 e nas eleições de 2009, na senda da crise financeira internacional, tornaram-se o segundo partido mais votado, à frente dos trabalhistas e dos liberais-democratas. Farage, eleito líder do UKIP três anos antes, assumiu a presidência do eurogrupo Europa da Liberdade e da Democracia, que inclui entre outros a Liga Norte de Umberto Bossi, os nacionalistas finlandeses e dinamarqueses. Mas se uma parte dos britânicos já não via o UKIP como o partido dos “maluquinhos e dos racistas não assumidos”, na descrição do então jovem líder conservador David Cameron, o seu programa político resumia-se a pouco mais do que a saída britânica da UE. Sinal disso, recorda o Financial Times num perfil de Farage, quando o helicóptero em que ele viajava se despenhou no dia das legislativas de 2010, o acidente (o seu terceiro encontro com a morte depois de um atropelamento e de um cancro nos testículos, ainda na juventude) foi pouco mais do que uma nota de rodapé na imprensa. Tinha deixado a liderança do UKIP para se candidatar ao Parlamento, mas não conseguiu eleger-se e o partido conseguiu apenas 3% dos votos. De regresso à liderança, Farage tomou em mãos uma mudança de estratégia, cavalgando a incerteza provocada pela crise na zona euro: ao eurocepticismo, juntou um discurso agressivo contra a imigração comunitária e a narrativa de que o modo de vida britânico está ameaçado pelos diktats de Bruxelas e por uma classe política urbana e formatada nas escolas de elite.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Hélder Amaral nunca quis ser “o negro do Parlamento”
O único luso-africano da Assembleia da República diz que “há um desconforto enorme em discutir” discriminação racial (...)

Hélder Amaral nunca quis ser “o negro do Parlamento”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 10 | Sentimento -0.16
DATA: 2018-07-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: O único luso-africano da Assembleia da República diz que “há um desconforto enorme em discutir” discriminação racial
TEXTO: Quando Hélder Amaral foi eleito pela primeira, nas listas do CDS-PP, houve uma deputada já experiente, de outro partido, que lhe recomendou logo: “Nunca permitas que te ponham na posição do negro do Parlamento. Se fizeres isso, ficas acantonado”. Queria ser um político activo, independentemente das suas origens étnico-raciais. Não queria ser “a” voz dos luso-africanos. Já lá vão 16 anos. António Guterres demitira-se do cargo de primeiro-ministro. A Assembleia da República fora dissolvida. Os partidos de centro-direita tinham ganho as eleições. Durão Barroso e Paulo Portas estavam a formar Governo. Naquela altura, por causa da cor de pele, havia quem tomasse Hélder Amaral por motorista ou guarda-costas. A ideia de ter um luso-africano no hemiciclo não lhes ocorria. E poucos davam pela origem africana de Celeste Correia, de pele clara e olhos azuis. Celeste Correia nasceu em Cabo-Verde em 1948. Entrou na Assembleia da República em 1995, pela mão de António Costa. Na mesma ocasião, pela mesma via, entrou Fernando Ká, nascido na Guiné-Bissau em 1952. E, por iniciativa do PCP, Manuel Correia, nascido em Cabo-Verde, em 1952. Todos menos de um mês ao abrigo de um programa especial de integração de líderes associativos das maiores comunidades de estrangeiros residentes em Portugal pensado para enriquecer o debate que então se travava sobre o regime de entrada, permanência, saída e expulsão de estrangeiros no território nacional e processos de regularização extraordinária de quem estava em situação irregular. Só Celeste Correia foi, depois, eleita por Lisboa nas listas do PS. Nascera no seio de uma família burguesa do Mindelo, estudara Filologia Românica na Faculdade de Letras de Lisboa, fizera carreira como professora de Português no ensino secundário e fora aí que te interessara pelas dificuldades dos seus compatriotas. “Fui deputada 18 anos”, sublinha. Desse período destaca a aprovação do regime de apoio às associações de imigrantes, a criação do Alto Comissariado para o Diálogo Intercultural, actual Alto Comissariado para as Migrações, a lei Contra a Discriminação Racial, a reforma da Lei da Nacionalidade. Estava lá quando Hélder Amaral, nascido em 1967 em Angola, foi eleito pelo círculo de Viseu. Hélder Amaral não se ocupa dos temas relacionados com imigração. “Até me acusam disso”, diz. “Nos primeiros mandatos, fiz reuniões com associações de comunidades africanas. Sentia que se identificavam mais comigo e até pensavam que eu percebia melhor muitas das questões que levantavam, mas eu moro no interior, não moro na Grande Lisboa, onde os problemas são mais evidentes. ”Amaral fez carreira na terra (é presidente da Comissão Política Distrital de Viseu e vereador na Câmara Municipal de Viseu), sente mais os problemas do interior e dedica-se a outra pasta (preside à Comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas). Mas não é que não faça qualquer trabalho relacionado com as suas origens - é representante do CDS-PP no Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Angola e no Fórum dos Parlamentos de Língua Portuguesa. Constata a ausência de diversidade étnico-racial. Parece-lhe evidente que isso não impede o debate público. “Como costumo dizer: não é preciso ser galinha para saber que um ovo está podre. Mas os partidos seriam mais ricos e o Parlamento seria mais rico se tivessem dentro de si esses equilíbrios. ”Arrisca dizer que, se houvesse mais negros no Parlamento, questões como o racismo teriam outro peso. “Normalmente, falo pouco sobre essas matérias. Se eu for a falar, sendo único, a probabilidade de acharem que estou a ter um acto de racismo é grande”, afiança. “Há um desconforto enorme em discutir essas matérias. Só a espaços tenho comentado. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O tema não está ausente da vida parlamentar. Ainda no dia 21 de Março, um grupo de deputados do PS apresentou um projecto de resolução a recomendar que aquele se transforme no Dia Nacional para a Eliminação da Discriminação Racial. E Hélder Amaral ouviu a deputada Isabel Moreira lamentar a falta de representatividade no Parlamento. “Eu disse: Eu estou aqui. Ou sou branco? E ri-me. ”Não é uma experiência nova. “Quando há discussões, normalmente toda a gente ignora que há um luso-africano no Parlamento. A própria comunicação social ignora”, assegura. Para alguns, o simples acto de assumir que está ali uma pessoa que tem um tom de pele diferente é uma atitude racista. Seria diferente se não pertencesse a um partido conservador de direita? “Se eu fosse do Bloco de Esquerda, era uma vedeta. ”
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PCP
“África é a última fronteira do capitalismo”
Atravessar fronteiras físicas e disciplinares é uma vocação de Achille Mbembe. A temática da passagem e do movimento é, aliás, uma chave para a sua compreensão da história e da cultura africanas. A sua perspectiva sobre o passado, o presente e o futuro de África implica ao mesmo tempo traçar uma genealogia da modernidade europeia, das categorias do pensamento que ela construiu, da racionalidade e da historicidade da figura do negro. (...)

“África é a última fronteira do capitalismo”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 10 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Atravessar fronteiras físicas e disciplinares é uma vocação de Achille Mbembe. A temática da passagem e do movimento é, aliás, uma chave para a sua compreensão da história e da cultura africanas. A sua perspectiva sobre o passado, o presente e o futuro de África implica ao mesmo tempo traçar uma genealogia da modernidade europeia, das categorias do pensamento que ela construiu, da racionalidade e da historicidade da figura do negro.
TEXTO: Achille Mbembe esteve em Portugal, em Outubro, para uma conferência na Culturgest que tinha por título Para Um Mundo Sem Fronteiras. A questão da fronteira é fundamental na obra deste teórico africano, nascido nos Camarões, em 1957, com doutoramento em Ciência Política feito em Paris (na Sorbonne), professor na Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, África do Sul, e também em Harvard, nos Estados Unidos. A sua obra, objecto de um enorme reconhecimento internacional e traduzida em todo o mundo, compreende livros tão importantes como Crítica da Razão Negra, Políticas da Inimizade (estes dois traduzidos em português e editados pela Antígona) e De la Postcolonie. Essai sur l’imagination politique dans l’Afrique contemporaine. As elaborações teóricas de Mbembe atravessam várias fronteiras disciplinares: são obra de filosofia, mas também de antropologia, de história, de ciência política, de crítica e teoria da cultura. O seu conceito de “pós-colónia”, que é simultaneamente um tempo específico e uma formação particular do poder, contribuiu certamente para acentuar uma ideia que nesta entrevista Mbembe classifica como um equívoco e explica porquê: a de que se inscreveria no campo, muito heterogéneo, dos estudos pós-coloniais. Em Crítica da Razão Negra, ele mostra que “o negro”, enquanto figura construída pela Europa, não pode ser pensado senão fazendo uma genealogia da modernidade, da racionalidade moderna (daí a referência à crítica kantiana), do universalismo e da dinâmica do capitalismo. A “razão negra” surge assim como a sombra do Iluminismo, a sua parte obscura sem a qual ele não pode ser completamente compreendido. Tentando explicar a racionalidade que inventou um “sujeito de raça”, isto é, um sujeito do qual não se sabe qual é a parte humana e qual é a parte animal, Mbembe faz explodir do interior o conceito de “raça”. Nesse livro, encontramos logo no início esta afirmação: “A Europa já não constitui o centro de gravidade do mundo. Ora é dessa perda de centralidade, da “autoprovincialização” da Europa como acontecimento fundamental — diz Mbembe — que se devem retirar conclusões para o continente africano. A África, nesta nova reconfiguração geopolítica do mundo, os desafios que ela tem pela frente para se tornar o seu próprio centro e para dissolver as fronteiras internas que interiorizou contra a sua própria cultura do movimento: eis um dos seus temas importantes. Mbembe fornece-nos assim um olhar sobre a história cultural de África, sobre os seus atributos e as suas possibilidades, numa perspectiva teórica. Na sua conferência, na Culturgest, falou da questão das fronteiras, desse paradoxo em que vivemos hoje: a tecnologia apaga as fronteiras, mas são criados condicionamentos cada vez mais fortes para as atravessar. Creio que vivemos, de facto, à escala planetária, um paradoxo. A época é a da conexão, graças aos avanços tecnológicos do nosso tempo, mas também por toda a espécie de trocas económicas e transacções monetárias, incluindo o fluxo de ideias e de imagens que irrigam hoje as sociedades do planeta. Mas tudo isso é acompanhado por um aumento das dificuldades que experimentam certos sectores da população em movimentar-se. Parece-me que há, à escala mundial, uma redistribuição completamente desigual da capacidade de circular, de se estabelecer onde se quer. E, portanto, tendo em conta a evolução do mundo, as evoluções demográficas, ecológicas e militares que se anunciam no horizonte, tenho a impressão de que um dos grandes desafios do século XXI será efectivamente o governo das mobilidades humanas. Esta questão, por agora, é mal colocada porque é posta unicamente em termos securitários. Uma parte do meu trabalho consiste em explorar as maneiras como se poderia colocá-la de outra maneira, na perspectiva de um mundo comum, a partilhar, sendo essa partilha a própria condição da sua sobrevivência. Essas restrições da mobilidade atingem de maneira muito forte o continente africano. Os africanos não são bem-vindos em nenhuma parte do mundo. . . Na história moderna, desde o século XV até hoje, os africanos sempre estiveram sujeitos a constrangimentos para se movimentarem. É sem dúvida o único povo do mundo que foi reduzido a esta condição durante tanto tempo. Sempre que tiveram de se movimentar, não o fizeram em liberdade, foi porque estavam forçados a isso: o comércio da escravatura atlântica, as corveias na época colonial e hoje o espaço colossal de mais de 50 Estados que, em média, têm cada um deles quatro ou cinco fronteiras. Essas fronteiras internas foram construídas pelo colonizador?Sim, são fronteiras herdadas da colonização que, logo a seguir às independências, foram ratificadas e consideradas inalteráveis pelos Estados independentes. . . Em suma, África interiorizou a categoria de fronteira, tal como ela foi criada na Europa. É de facto uma categoria que não corresponde a quase nada na história e na cultura dessas sociedades. Nas sociedades africanas pré-coloniais, o movimento, a circulação, é a condição de princípio de toda as dimensões da sociedade: as culturas, as religiões, os sistemas matrimoniais, os sistemas comerciais, tudo isso era o produto do movimento. O movimento precede o espaço, o território. É o movimento que fabrica o espaço. É completamente diferente da concepção europeia, em que o espaço vem antes do movimento. Em África é o contrário. Portanto, no paradigma africano pré-colonial das relações entre o espaço e o movimento, as fronteiras não existem porque a fronteira é o que bloqueia, por definição, a circulação do fluxo vital. A vida está no movimento, não está necessariamente no espaço. Se ela se traduz em espaço, é através do modo como o espaço é apreendido num movimento. Trata-se, portanto, de duas filosofias completamente opostas. Deste ponto de vista, a filosofia africana do movimento, pré-colonial, assemelha-se a uma lógica própria do mundo digital, em que, no fundo, se trata de pôr em conexão, em rede, e não de categorizar, de classificar, de hierarquizar e limitar o movimento. Disse também, na sua conferência, que África é a última fronteira do capitalismo. É como se fosse um laboratório moderno?É a última fronteira do capitalismo, no sentido objectivo das coisas, no sentido em que o regime capitalista se universalizou e não há hoje praticamente nenhuma sociedade que lhe escape, mesmo as sociedades nominalmente comunistas, com a excepção da Coreia do Norte. É um regime cujo fim é o de não ter limites. Ora, é em África que encontramos hoje as últimas jazidas de quase todos os recursos de que precisa o capitalismo para funcionar no futuro. E também os recursos demográficos, na medida em que até ao final do século uma pessoa em cada três ou quatro virá de África. E os recursos minerais, botânicos, os recursos das espécies vivas, orgânicas e vegetais. É a única parte do mundo que não foi ainda completamente capturada pela lógica da exploração infinita. É por isso que digo que é a última fronteira do capitalismo. Disse, numa entrevista, há alguns anos, que vai chegar o tempo da África. Eis uma proposição muito esperançosa, optimista. Continua a acreditar nela?Absolutamente. Quando nos inscrevemos num ciclo histórico longo, numa perspectiva de longa duração, é evidente que esse tempo da África está à nossa frente. Porque o curso histórico das outras regiões do mundo terá atingido os seus limites. Vê-se isso hoje já na Europa. Em larga medida, a Europa faz parte muito mais do passado do mundo do que do seu futuro, do qual ela não será a locomotiva. Ela já não pensa noutra coisa senão em dobrar-se sobre si própria e defender o que foi, na impossibilidade de projectar o que vai ser. A categoria do futuro desapareceu do seu horizonte. Desapareceu até do seu vocabulário. Os Estados Unidos estão mergulhados numa crise muito séria. Vemos muito bem os seus efeitos no sistema de governo, na erosão do seu modelo de democracia liberal. Também aí há um desejo de recuo em relação ao mundo, que se manifesta na guerra comercial, no fantasma das fronteiras e dos muros, no enorme medo que se apoderou de uma parte da sua população branca. Neste cenário, é claro que a Ásia está em plena ascensão, a China em particular, e sabemos que ela sabe calcular o tempo em função de uma duração quase milenar. Creio que uma grande parte do futuro da África irá jogar-se na China, nas relações que a África irá construir com a China. Não há aí o perigo de se reproduzir uma nova relação segundo um modelo neocolonial?Sim, há um perigo em toda a relação geoestratégica porque se trata sempre de uma relação de poder e não de uma relação justa. Não é uma questão de caridade, é uma questão de interesse e uma relação de antagonismo. Tratar-se-á, para África, de construir de maneira inteligente esse antagonismo com a China, para que ele seja produtivo e sirva os seus interesses a longo prazo. Podemos então colocar por agora bastantes questões. Podemos, por exemplo, pensar que África, para já, ainda não compreendeu o que é que está em jogo, a longo prazo. E não conseguiu, com a China, sair da lógica de uma relação de extracção. O drama de África, na longa duração, foi a sua incapacidade para aproveitar o melhor da sua população e o melhor do seu trabalho e o melhor das suas riquezas. E porque é que isso acontece?A questão é essa: porque é que ela não foi capaz de criar as condições que lhe permitiriam tirar proveito de tudo isso? Houve a exploração do melhor da sua população, dos mais jovens, dos que estavam na idade de trabalhar, do século XV ao século XIX, nas Américas. Retirou-se do subsolo as riquezas minerais, e uma grande parte dos melhores africanos não estão em África, estão noutro sítio, nos Estados Unidos, em França, etc. O grande enigma de África é este. A resposta à questão de saber porque é que África não foi capaz de guardar para si o melhor das suas riquezas e da sua população é complexa. Se quiser beneficiar do facto de o mundo pender agora para a Ásia, será necessário aproveitar de outra maneira as suas capacidades. Mas por agora não é o que se está a passar: a China chega, extrai as riquezas e vai-se embora. Não é assim que África vai conseguir uma relação benéfica com a China. Um dos seus livros chama-se, no original francês, De la potscolonie. E o senhor é conhecido como uma das vozes mais prestigiadas e autorizadas nesse domínio dos estudos pós-coloniais. Não, não é verdade, eu não pratico a teoria pós-colonial. Já o disse muitas vezes, mas ninguém me quer ouvir. A “postcolonie”, que dá o título a esse meu livro, não é a mesma coisa que a teoria pós-colonial. Não me oponho de modo nenhum à teoria pós-colonial, não faço como alguns que não compreendem nada desta questão, mas que se opõem ao que não compreendem, mas não me reivindico dessa herança intelectual. Em De la postcolonie, a questão não é da nossa relação com o outro, a nossa relação com o Ocidente, aquilo que constitui o coração da teoria pós-colonial. A teoria pós-colonial tenta pensar no plano literário, histórico, político, etc, a relação que terá existido entre as sociedades antigamente colonizadas e as potências coloniais. O projecto dos estudos pós-coloniais consiste em procurar o sentido do mundo que foi o produto desse encontro, da sua complexidade e da sua actualidade no tempo contemporâneo. É um projecto absolutamente necessário. Eu, o que faço com a “postcolonie” é fazer incidir a interrogação sobre si próprio, não sobre a relação com o outro. Trata-se do juízo sobre si próprio, enquanto na teoria pós-colonial toda a compreensão de si se faz em relação ao outro. Em De la postocolonie, a questão é a do processo de si sobre si próprio; o eu perante o seu próprio tribunal e não perante o tribunal do outro. E não pensa que esse pensamento muito auto-reflexivo é uma maneira muito ocidental de pensar? A Europa cultivou de maneira obsessiva o pensamento sobre si própria. Sim e não. Evidentemente, nós somos herdeiros do Ocidente, e não sou eu que me vou pôr a negar essa herança, faço parte dela e partilho-a. E creio que a força das pessoas que vêm de África advém das suas múltiplas genealogias. Enquanto muitos dos meus colegas, na América e na Europa, só conhecem a sua tradição. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Um dos seus livros chama-se Crítica da Razão Negra. O título remete para Kant, para a razão crítica, muito europeia, muito ocidental. Utiliza os instrumentos da razão crítica sem complexos. . . Sim. É preciso deixar de ser complexado em relação a uma herança que nos formou, mas que em contrapartida nós contribuímos para ela. Se pretendemos que há uma dose de universalidade no pensamento europeu, somos nós que lhe concedemos essa hipótese de sair das suas fronteiras e não deve haver nenhuma vergonha, do meu ponto de vista, em assumir isso. E também nenhuma vergonha em ir aos recursos críticos internos da Europa, já que o que distingue a Europa das outras regiões do mundo é que Europa desenvolveu e refinou as técnicas de autocrítica. Ela produziu os elementos que lhe permitem criticar-se a si própria. Mas também há fabulosas tradições africanas de auto-análise que não utilizam as mesmas técnicas que a tradição europeia, que se baseiam noutras formas de metafísica. Uma grande parte da metafísica ocidental são metafísicas do ser, são questões de ontologia. Boa parte das metafísicas africanas pré-coloniais é metafísica da relação, as grandes interrogações partem da categoria da relação. Daí que a auto-reflexividade proceda de maneira diferente. Procede, por exemplo, pelas técnicas de adivinhação, que são uma maneira de introspecção, mas pela mediação dos objectos. Porque se considera que o universo não é hierárquico, não é uma questão de verticalidade e de horizontalidade, considera-se que o universo é reticular. E, se o universo é reticular, isso quer dizer que o eu só acede a si pela mediação estrutural e permanentemente ambígua de alguém, de outro ser vivo. É a isto que a Europa chamou “animismo”. E quando nomeia o animismo é como se falasse de si mesma e não conseguisse sair da tautologia, das suas próprias categorias. Tudo o que disse supõe também uma outra concepção da técnica, da instrumentalidade. Evidentemente. Nós não aspiramos a ser os mestres da Terra. Partilhamos a Terra com outras entidades, que são todas vivas, não há entidades mortas porque mesmo as entidades mortas referem-se de algum modo a uma capacidade de agir, embora um agir de maneira diferente das entidades vivas. Tudo é capaz de agir, capaz de ser mobilizado em modalidades de acção diferentes. E, portanto, por princípio, a capacidade de agir é partilhada com os antepassados, com a Natureza, com a atmosfera, com as forças naturais, as tempestades, etc. Assim, se se quiser viver bem e por muito tempo é necessário aprender a coexistir com tudo, orgânico, o natural, o humano, nãohumano. É o que muitos descobrem, hoje, com a noção de Antropoceno. Os filósofos descobrem que aquilo que eles chamavam “animismo”, falando dos outros, é no fundo a condição de sobrevivência do nosso planeta. Se queremos hoje salvarmo-nos, não podemos continuar a contentar-nos com um só arquivo, é necessário ir aos arquivos do mundo inteiro. Esse é um grande desafio. Está a sugerir que a Europa está encerrada no seu arquivo?Sim, e o seu próprio arquivo não lhe permite resolver os grandes enigmas do nosso tempo, tem de sair desse fechamento num arquivo único, ter em conta de que existem outros. Por isso é que reivindico a ideia de um pensamento-mundo, que é forçosamente um pensamento da travessia e não um pensamento pós-colonial. Só um pensamento da travessia é que se pode alimentar nos arquivos do mundo, só ele pode sentir-se em casa na tradição europeia, na tradição africana, na tradição asiática. Evidentemente, isso comporta enormes riscos, mas é preciso assumi-los como parte integrante do próprio acto de pensar. Porque pensar sem riscos não quer dizer nada. E por aqui se vê que não sou um teórico pós-colonial.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Primeiro caso de ébola chegou ao país mais populoso de África
Liberiano começou com sintomas ainda durante um voo e à chegada à Nigéria foi submetido a testes e colocado em isolamento num hospital, mas acabou por morrer. (...)

Primeiro caso de ébola chegou ao país mais populoso de África
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 10 | Sentimento 0.375
DATA: 2014-07-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: Liberiano começou com sintomas ainda durante um voo e à chegada à Nigéria foi submetido a testes e colocado em isolamento num hospital, mas acabou por morrer.
TEXTO: O surto de Ébola chegou à Nigéria, o país mais populoso de África, com 170 milhões de habitantes. As autoridades do país já confirmaram que detectaram o primeiro caso mortal de infecção por este vírus altamente contagioso e mortal. A vítima é um liberiano que tinha viajado para a Nigéria em trabalho e que acabou por morrer pouco depois de chegar ao aeroporto de Lagos, no sudoeste do país, onde ficou em quarentena. De acordo com as informações avançadas pelo ministro da Saúde da Nigéria, Onyebuchi Chukwu, citado pelas agências internacionais, o homem trabalhava como consultor do Ministério das Finanças da Libéria e tinha chegado há uma semana a Lagos, a maior cidade do país, com mais de 20 milhões de habitantes. A sua irmã terá morrido também com o mesmo vírus, mas o consultor garantiu que não tinha estado em contacto com ela na Libéria. Perante alguns sintomas que apresentava durante o voo, a vítima foi submetida a testes laboratoriais e ficou, por isso, numa ala em isolamento no hospital para que foi levado, mas acabou por não resistir à doença. As autoridades nigerianas estão agora a tentar investigar o percurso do homem, para poderem entrar em contacto com todas as pessoas com quem se cruzou e que correm agora o risco de estar também infectadas. Estão também a ser estudadas mais medidas dirigidas aos voos internacionais, mas tendo em consideração o período de incubação da doença, que vai de dois a 21 dias, é difícil detectar todos os casos. No entanto, ao contrário do ministro, o comissário da Saúde daquele país, Jide Idris, adiantou que ainda aguardam os resultados de alguns contra-testes, apesar de os primeiros terem dado positivo para ébola. Do lado da Organização Mundial de Saúde (OMS) também se aguardam mais resultados de análises laboratoriais, diz a AFP. Identificado pela primeira vez na década de 1970 no Zaire (actual República Democrática do Congo) e no Sudão, o vírus transmite-se directamente pelo contacto com o sangue, fluidos ou tecidos corporais de pessoas e animais infectados e é mortal em 90% dos casos, tendo porém melhor prognóstico quando é detectado atempadamente. A doença começa por provocar sintomas semelhantes aos da gripe: mal-estar geral, febre e dores de cabeça. A seguir, surgem sintomas mais graves, como vómitos, erupções cutâneas, diarreia hemorrágica. Só desde Fevereiro já morreram quase 700 pessoas devido ao ébola na África Ocidental – um número que faz com que este seja o surto mais mortal de sempre. Este surto de ébola, que começou na Guiné-Conacri, já se espalhou para países como a Libéria e a Serra Leoa. Aliás, cerca de 100 das mortes foram precisamente na Libéria. O médico liberiano Samuel Brisbane, uma figura de destaque no país, foi uma das vítimas mortais. Também se soube que o médico norte-americano Kent Brantly, que trabalhava em Monrovia com doentes infectados pelo vírus, foi contagiado e que está a ser tratado. Curandeiros e funerais tradicionaisDa Serra Leoa também chegam mais casos que têm gerado preocupação. Uma mulher que tinha fugido do hospital depois das análises confirmarem que estava infectada acabou por morrer numa ambulância quando regressava para a unidade de saúde depois de ter sido interceptada pela polícia, diz a BBC. Saudatu Koroma, o primeiro caso confirmado na capital do país, Freetown, tinha saído do hospital na quinta-feira com a ajuda de familiares para procurar ajuda num curandeiro, explica a Reuters. Num país onde já morreram mais de 450 pessoas neste surto da doença, a maior confiança nas medicinas alternativas por parte da população tem dificultado o trabalho das autoridades de saúde. Centenas de pessoas têm tentado cercar os hospitais em protesto e tentam ajudar os doentes a fugir, pelo que a polícia está a utilizar gás lacrimogéneo para controlar a situação. Os funerais tradicionais, em que o corpo é lavado em vez de cremado, têm também contribuído para que a doença se espalhe. Já no final de Junho, a OMS tinha alertado os países vizinhos da Guiné-Conacri para a importância de se prepararem para uma chegada quase certa do ébola. A própria Guiné Bissau também já está na linha de risco da epidemia. Na altura, a OMS considerou também que o elevado número de vítimas se está a dever ao recuo em medidas de prevenção por parte dos diferentes países. “Há uma necessidade urgente de intensificar os esforços de resposta à doença, promover a partilha de informação sobre casos suspeitos e mobilizar todos os sectores da comunidade”, afirmou o director regional para África da OMS, Luís Sambo, acrescentando, porém, que ainda não estão a ser equacionadas restrições em termos de viagens. Antes, já os próprios Médicos Sem Fronteiras, que contam com cerca de 150 especialistas a trabalhar nas zonas onde há febre hemorrágica, tinham feito um alerta sobre o vírus que consideraram estar “descontrolado”.
REFERÊNCIAS:
Entidades OMS
Médicos Sem Fronteiras alertam que ébola está fora de controlo
Organização quer mais investimento da ONU e dos governos depois do surto ter chegado à Nigéria. (...)

Médicos Sem Fronteiras alertam que ébola está fora de controlo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 10 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-07-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Organização quer mais investimento da ONU e dos governos depois do surto ter chegado à Nigéria.
TEXTO: A epidemia do vírus ébola está totalmente fora de controlo na zona oeste de África e há o risco de a doença se conseguir espalhar para mais países, de acordo com um alerta feito nesta quarta-feira pela organização Médicos Sem Fronteiras, que tem várias equipas a trabalhar no terreno. “Esta é uma epidemia sem precedentes, que não está de todo controlada e a situação não pára de se agravar, estendendo-se agora à Libéria e à Serra Leoa”, adiantou o responsável de operações da Médicos Sem Fronteiras, Bart Janssens, numa entrevista ao jornal Libre Belgique, citada pela AFP. “Estamos extremamente inquietos com a dimensão que esta situação está a ter, em especial nestes dois países onde a epidemia tem uma falta de visibilidade muito grande”, acrescentou. De acordo com Bart Janssens, se não houver uma intervenção rápida que inverta o curso dos acontecimentos, o ébola vai estender-se a mais países, ainda que admita que seja difícil de fazer previsões sobre esta epidemia, precisamente por não ter precedentes. “Falta uma visão global que nos permita compreender onde estão os principais problemas”, advertiu, defendendo que cabe à Organização Mundial de Saúde (OMS) e aos governos a disponibilização de mais meios para tentar debelar a epidemia. O alerta é feito depois de no fim-de-semana o surto de ébola ter chegado à Nigéria, o país mais populoso de África, com 170 milhões de habitantes. As autoridades do país confirmaram que detectaram o primeiro caso fatal de infecção por este vírus altamente contagioso e mortal. A vítima foi um liberiano que tinha viajado para a Nigéria em trabalho e que acabou por morrer pouco depois de chegar ao aeroporto de Lagos, no sudoeste do país, onde ainda ficou em quarentena. Ajuda suplementar da Comissão EuropeiaEntretanto, a União Europeia disponibilizou uma ajuda suplementar no valor de dois milhões de euros para ajudar a combater a epidemia em África, assegurando cuidados de saúde às pessoas afectadas pelo vírus, diz a AFP. O reforço eleva para 3, 9 milhões de euros o contributo total da Comissão Europeia. Os fundos serão distribuídos pela Organização Mundial da Saúde e por outras associações que estão a trabalhar no terreno, como os Médicos Sem Fronteiras e a Cruz Vermelha. Portugal também vai enviar 15 toneladas de medicamentos para apoiar a Guiné-Bissau na prevenção do Ébola e outras epidemias, anunciou o primeiro-ministro guineense, Domingos Simões Pereira. "Recebemos confirmação do Governo português da disponibilização de 15 toneladas de medicamentos para que o Ministério da Saúde esteja em condições de ter um programa de emergência e acompanhamento da situação de Ébola", bem como de outras "eventuais epidemias", referiu, citado pela Lusa. O envio surge depois de a Guiné-Bissau ter "lançado um SOS para reposição do stock de medicamentos, tendo em vista o programa de emergência para a epidemia de Ébola que assola a África Ocidental". Questionado sobre as medidas que o país está a preparar para se defender, o líder do Governo guineense anunciou um plano de urgência "de que consta um programa de prevenção sanitária que tem merecido a atenção especial dos responsáveis na área da saúde", referiu. Seis médicos recém-formados e dois técnicos do Ministério da Saúde Pública da Guiné-Bissau ligados à água e saneamento receberam este mês formação de cinco dias sobre a prevenção e cuidados a ter com o vírus. A equipa está apta a deslocar-se rapidamente a qualquer parte do país para dar atendimento em caso de suspeita de contágio. A propósito do alastrar do surto a mais países, a Direcção-Geral da Saúde garantiu à Lusa que Portugal está preparado para detectar e enfrentar um eventual caso de ébola, mas sublinhou que o risco de importação e propagação é "muito baixo". Portugal está preparado, tal "como os restantes países europeus, para detectar um eventual caso que possa ser importado", disse a directora-adjunta da Direcção-Geral da Saúde (DGS), Graça Freitas. Mais de 700 mortes desde FevereiroIdentificado pela primeira vez na década de 1970 no Zaire (actual República Democrática do Congo) e no Sudão, o vírus transmite-se directamente pelo contacto com o sangue, fluidos ou tecidos corporais de pessoas e animais infectados e é mortal em 90% dos casos, tendo porém melhor prognóstico quando é detectado atempadamente. A doença começa por provocar sintomas semelhantes aos da gripe: mal-estar geral, febre e dores de cabeça. A seguir, surgem sintomas mais graves, como vómitos, erupções cutâneas, diarreia hemorrágica. Só desde Fevereiro já morreram quase 700 pessoas devido ao ébola na África Ocidental – um número que faz com que este seja o surto mais mortal de sempre.
REFERÊNCIAS:
Entidades OMS