Tribunal de Bruxelas decide hoje datas em que “Tintin no Congo” será julgado por racismo
Tintin foi ao Congo em 1931 e o mundo contemporâneo não lhe perdoa. Nem mesmo em casa, na Bélgica, onde um cidadão congolês, Bienvenu Mbutu Mondondo, desencadeou um processo judicial para pelo menos retirar o livro das prateleiras destinadas às crianças. Hoje, um tribunal de primeira instância de Bruxelas decide as datas do julgamento. (...)

Tribunal de Bruxelas decide hoje datas em que “Tintin no Congo” será julgado por racismo
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-04-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Tintin foi ao Congo em 1931 e o mundo contemporâneo não lhe perdoa. Nem mesmo em casa, na Bélgica, onde um cidadão congolês, Bienvenu Mbutu Mondondo, desencadeou um processo judicial para pelo menos retirar o livro das prateleiras destinadas às crianças. Hoje, um tribunal de primeira instância de Bruxelas decide as datas do julgamento.
TEXTO: O fim do colonialismo e a mudança na forma como os europeus vêem África atiraram “Tintin no Congo” para a má fama. A segunda aventura de banda desenhada do jornalista criado por Hergé é há muito acusada de promover estereótipos racistas. No caso, Mondondo diz-se indignado por os congoleses serem retratados como “estúpidos e sem qualidades”. O Conselho Representativo das Associações Negras, organismo francês comummente conhecido como Le Cran, está com ele. A decisão de hoje acontece depois de o tribunal de primeira instância se ter declarado competente para julgar o caso, em resposta às dúvidas levantadas pelo ministério público belga, que tentou levá-lo para a justiça comercial. A queixa, essa, foi apresentada em Agosto de 2007, cerca de um mês depois de a Comissão pela Igualdade Racial da Grã-Bretanha ter oficialmente reconhecido o teor racista da obra. “De qualquer ponto de vista que se observe, o conteúdo deste livro é flagrantemente racista”, deliberou a comissão, que exortou os donos das livrarias britânicas a repensar a visibilidade dada a “Tintin no Congo” – ou mesmo a sua venda. A obra foi destruída pela comissão: “o único lugar onde pode ser aceitável ter o livro exposto é num museu, com uma enorme placa por cima a dizer 'coisas racistas e antiquadas'”. “Todas as lojas devem ter muito cuidado ao decidir se vão vender ou exibir este livro. Ele contém imagens e palavras de um preconceito racial repugnante, em que os 'nativos selvagens' parecem macacos e falam como imbecis”, acrescentaram os responsáveis da comissão, no comunicado então emitido, em resposta a uma queixa de um advogado especializado em direitos humanos – David Enright. O livro foi mudado das prateleiras de literatura infanto-juvenil para as de banda-desenhada para adultos. Esse é o mínimo que pede agora Bienvenu Mbutu Mondondo, admitindo alternativas à saída do volume das bancas. A aplicação de uma cinta em cada exemplar a alertar para o conteúdo racista é uma delas. Outra é um prefácio que explique o contexto histórico em que a obra surgiu. Hergé escreveu e desenhou “Tintin no Congo” quando tinha 23 anos e defendeu até à sua morte, em 1983, que a obra reflectia a visão inocente e ingénua que caracterizava o pensamento da época. No entanto, o Congo, que se manteve uma colónia belga até 1960 – quando passou a República Democrática do Congo e, entre 1971 e 1997, a Zaire –, tem uma das histórias mais violentas da presença europeia em África, denunciada no início do século XX e recuperada para a literatura por Joseph Conrad, em “O Coração das Trevas”. As acusações de racismo surgiram ao longo das últimas décadas e começaram agora a ter repercussões. Além da decisão britânica e do processo judicial belga – que senta no banco dos réus a sociedade Moulinsart, detentora dos direitos, e as edições Casterman –, há ainda a assinalar uma medida avulsa nos Estados Unidos. A biblioteca pública de Brooklyn, em Nova Iorque, passou o livro para uma colecção de literatura para crianças que só pode ser consultada mediante marcação. Notícia substituída às 11h31
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos morte humanos tribunal racismo igualdade racista
Presidente sul-africano vai negociar paz na Líbia com Khadafi
O Presidente da África do Sul, Jacob Zuma, vai reunir-se com o líder líbio Muammar Khadafi em Trípoli na próxima segunda-feira, com o propósito de encontrar uma solução para a guerra civil que se arrasta no país há já mais de três meses entre as forças fiéis ao regime e o movimento de rebelião. (...)

Presidente sul-africano vai negociar paz na Líbia com Khadafi
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-05-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Presidente da África do Sul, Jacob Zuma, vai reunir-se com o líder líbio Muammar Khadafi em Trípoli na próxima segunda-feira, com o propósito de encontrar uma solução para a guerra civil que se arrasta no país há já mais de três meses entre as forças fiéis ao regime e o movimento de rebelião.
TEXTO: Em comunicado da presidência é apontado tão só que Zuma vai estar com Khadafi na capital líbia “na capacidade de membro do Alto Conselho da União Africana para a Resolução (do conflito na Líbia), mas a Talk Radio 702 avançou entretanto citando fontes próximas do Presidente sul-africano, sob anonimato, que o objectivo é o de “discutir uma estratégia de saída” da presente convulsão, “encontrar uma solução”. Aquela mesma rádio precisava que a visita de Zuma a Khadafi foi planeada em cooperação com a Turquia, mas Ancara negou entretanto que tenham sido feitos quaisquer contactos “específicos” para já com a África do Sul a este propósito. A Turquia diz-se, porém, pronta a contribuir nas iniciativas para uma solução na Líbia: “Anunciámos um mapa [para a paz] que apresentámos às organizações internacionais, entre elas a União Africana, e estamos disponíveis e prontos para participar em todas as iniciativas que visam a paz”, sublinhou responsável do Governo turco à agência noticiosa francesa AFP.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Vídeo contra o racismo na Letónia viral na Internet
O Centro para os Direitos Humanos da Letónia decidiu criar um vídeo a alertar para o racismo que existe na Internet num país, onde “milhares de pessoas são alvo de abusos todos os dias por a sua cor de pele ser diferente”, como sublinha a organização. (versão do vídeo tem legendas em português do Brasil)... (etc.)

Vídeo contra o racismo na Letónia viral na Internet
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-02 | Jornal Público
TEXTO: O Centro para os Direitos Humanos da Letónia decidiu criar um vídeo a alertar para o racismo que existe na Internet num país, onde “milhares de pessoas são alvo de abusos todos os dias por a sua cor de pele ser diferente”, como sublinha a organização. (versão do vídeo tem legendas em português do Brasil)
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos humanos racismo
Portugal avalia envio de C-130 para República Centro-Africana por um mês
A participação de Portugal na missão da União Europeia na República Centro-Africana, com o envio de um avião C-130, deverá restringir-se a um mês, segundo indicou esta sexta-feira o ministro da Defesa Nacional, Aguiar-Branco. José Pedro Aguiar-Branco disse que o planeamento dos meios a enviar - "um avião C-130 para transporte de militares e respectiva guarnição de 30 homens" - e a duração da participação têm em consideração "as estimativas orçamentais para 2014". "A nossa participação está apontada para um mês. E depois logo se veria se haveria condições ou interesse de ver renovada essa participação. Tem a ver c... (etc.)

Portugal avalia envio de C-130 para República Centro-Africana por um mês
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150501041037/http://www.publico.pt/1625651
TEXTO: A participação de Portugal na missão da União Europeia na República Centro-Africana, com o envio de um avião C-130, deverá restringir-se a um mês, segundo indicou esta sexta-feira o ministro da Defesa Nacional, Aguiar-Branco. José Pedro Aguiar-Branco disse que o planeamento dos meios a enviar - "um avião C-130 para transporte de militares e respectiva guarnição de 30 homens" - e a duração da participação têm em consideração "as estimativas orçamentais para 2014". "A nossa participação está apontada para um mês. E depois logo se veria se haveria condições ou interesse de ver renovada essa participação. Tem a ver com as condições das estimativas orçamentais para 2014", afirmou o ministro da Defesa Nacional à Agência Lusa no final da reunião informal dos ministros da Defesa da União Europeia, que terminou hoje em Atenas, e que analisou, entre outros temas, a situação da República Centro-Africana. O envio de meios portugueses, que terá de ser aprovado em Conselho Superior de Defesa Nacional, dependerá também das necessidades que forem definidas no âmbito da missão militar europeia, cuja composição e duração ainda não está definida. A REpública Centro-Africana mergulhou no caos desde que em Março do ano passado a coligação Séléka, de maioria muçulmana, derrubou o Governo do país maioritariamente cristão, desencadeando uma espiral de violência sectária, que já causou milhares de mortos e centenas de milhares de deslocados. O Conselho de Segurança da ONU aprovou no fim de Janeiro uma resolução que autoriza a intervenção de forças militares europeias na República Centro-Africana.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Israel considera racista resolução da Europa sobre circuncisão
Israel pediu ao Conselho da Europa que revogue imediatamente uma resolução sobre a circuncisão por motivos religiosos, por acreditar que isso “alimenta as tendências racistas e o ódio”. “Israel pede ao Conselho que revogue imediatamente a resolução”, declarou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores em um comunicado, na sexta-feira, destacando os benefícios médicos cientificamente reconhecidos da circuncisão. O comunicado recorda que a circuncisão é uma tradição antiga do Judaísmo, do Islão e de parte da cristandade. “Qualquer comparação dessa tradição com a prática bárbara e condenável da mutilação geni... (etc.)

Israel considera racista resolução da Europa sobre circuncisão
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-10-05 | Jornal Público
TEXTO: Israel pediu ao Conselho da Europa que revogue imediatamente uma resolução sobre a circuncisão por motivos religiosos, por acreditar que isso “alimenta as tendências racistas e o ódio”. “Israel pede ao Conselho que revogue imediatamente a resolução”, declarou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores em um comunicado, na sexta-feira, destacando os benefícios médicos cientificamente reconhecidos da circuncisão. O comunicado recorda que a circuncisão é uma tradição antiga do Judaísmo, do Islão e de parte da cristandade. “Qualquer comparação dessa tradição com a prática bárbara e condenável da mutilação genital feminina é uma ignorância profunda e, no pior dos casos, uma difamação e ódio anti-religioso”, acrescentou. Judeus e muçulmanos costumam praticar a circuncisão na primeira semana de vida da criança. A Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa adoptou esta semana uma resolução que aconselha os Estados-membros a tomarem medidas contra as “violações da integridade física das crianças”. Pede também que sejam proibidas práticas prejudiciais como as mutilações genitais femininas e que sejam definidas as condições para outras práticas religiosas, como a circuncisão dos rapazes, que não esteja justificada do ponto de vista médico. A resolução recomenda “adoptar disposições jurídicas específicas” para que algumas práticas não possam ser realizadas até que o menor tenha idade para ser consultado. “Evocamos, efectivamente, diferentes ‘categorias’ de violações da integridade física dos rapazes, que distinguimos claramente, sem fazer qualquer amálgama”, esclareceu a deputada social democrata Marlene Rupprecht, que propôs o texto. “A missão do Conselho da Europa é promover o respeito pelos direitos humanos, incluindo os direitos das crianças, em pé de igualdade com a luta contra o racismo, o anti-semitismo e a xenofobia”, acrescentou, numa nota.
REFERÊNCIAS:
Religiões Judaísmo
Portugueses vítimas de ataque racista na Irlanda do Norte
Duas famílias portuguesas foram vítimas de um ataque racista esta madrugada em Portadown, na Irlanda do Norte, informou a polícia local. As sete pessoas, cuja identidade não foi revelada, foram temporariamente realojadas. A polícia foi chamada ao bairro de Moeran Park, em Portadown, 60 quilómetros a sul de Belfast, cerca da 01h30 locais (mesma hora em Lisboa), onde desconhecidos pontapearam e bateram com paus nas portas de três apartamentos, partindo os vidros e provocando rachas na madeira, segundo um comunicado da polícia. Os danos sofridos são apenas materiais, segundo a mesma fonte. Um dos apartamentos era re... (etc.)

Portugueses vítimas de ataque racista na Irlanda do Norte
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2004-08-22 | Jornal Público
TEXTO: Duas famílias portuguesas foram vítimas de um ataque racista esta madrugada em Portadown, na Irlanda do Norte, informou a polícia local. As sete pessoas, cuja identidade não foi revelada, foram temporariamente realojadas. A polícia foi chamada ao bairro de Moeran Park, em Portadown, 60 quilómetros a sul de Belfast, cerca da 01h30 locais (mesma hora em Lisboa), onde desconhecidos pontapearam e bateram com paus nas portas de três apartamentos, partindo os vidros e provocando rachas na madeira, segundo um comunicado da polícia. Os danos sofridos são apenas materiais, segundo a mesma fonte. Um dos apartamentos era residência de um casal português e dos seus dois filhos, de quatro e seis anos de idade, e noutro residiam um cunhado do casal e as suas duas irmãs, todos com idades na casa dos 20 anos. A polícia suspeita que o ataque tenha sido perpetrado por três indivíduos e apela a quem tenha visto movimentos suspeitos em Morean Park para que entre em contacto com a esquadra local. O assessor de imprensa da embaixada de Portugal em Londres, David Damião, informou que até ao momento a representação portuguesa não teve conhecimento deste incidente. Segundo explicou, habitualmente nestes casos o consulado é oficialmente notificado pela polícia de quaisquer incidentes envolvendo cidadãos portugueses mas, tratando-se de um sábado e não havendo aparentemente necessidade de uma intervenção urgente do consulado, a notificação deverá ser adiada até segunda-feira. De acordo com dados divulgados pelos media norte-irlandeses, existem actualmente cerca de 600 portugueses no distrito de Armagh, 300 dos quais a residir em Portadown, onde trabalham maioritariamente nas indústrias de transformação alimentar. Entre Março de 2003 e Março de 2004, a polícia da Irlanda do Norte registou 226 ataques racistas contra estrangeiros em várias cidades da Irlanda do Norte.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave ataque racista
Declarações racistas de James Watson motivam suspensão do cientista de Cold Spring Harbor
James Watson, co-autor da descoberta da estrutura da molécula do ADN e Nobel da medicina foi suspenso das funções que desempenhava no laboratório de Cold Spring Harbor, um dos mais prestigiados laboratórios de genética do mundo. A razão da decisão da direcção do laboratório prende-se com as polémicas declarações de Watson ao "Sunday Times", onde sugeria que a genética dos negros faz com que sejam menos inteligentes que os brancos. A onda de indignação, na comunidade científica e não só, que as recentes declarações do cientista causaram, levou a que ontem, depois de ter reflectido sobre o assunto, a direcção do la... (etc.)

Declarações racistas de James Watson motivam suspensão do cientista de Cold Spring Harbor
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 9 | Sentimento -0.6
DATA: 2007-10-21 | Jornal Público
TEXTO: James Watson, co-autor da descoberta da estrutura da molécula do ADN e Nobel da medicina foi suspenso das funções que desempenhava no laboratório de Cold Spring Harbor, um dos mais prestigiados laboratórios de genética do mundo. A razão da decisão da direcção do laboratório prende-se com as polémicas declarações de Watson ao "Sunday Times", onde sugeria que a genética dos negros faz com que sejam menos inteligentes que os brancos. A onda de indignação, na comunidade científica e não só, que as recentes declarações do cientista causaram, levou a que ontem, depois de ter reflectido sobre o assunto, a direcção do laboratório decidisse suspender, definitivamente, Watson do corpo de administradores a que pertencia, e suspendê-lo ainda, provisoriamente, das suas funções enquanto investigador, pelo menos até que uma decisão definitiva seja tomada. Já esta semana o Museu de Ciência de Londres, que tinha agendada uma palestra com o investigador no âmbito do lançamento do seu novo livro, cancelou o evento devido ao delicado sentido das suas declarações, de índole racista. E o Festival de Ideias de Bristol, também no Reino Unido, cancelou o convite de participação que lhe tinha endereçado para que participasse no evento. Watson, que acabou por frisar que o modo como as suas palavras foram usadas não correspondiam oa que estava a querer dizer e que não compreendia a reacção indignada de quem as leu, acabou por pedir desculpa pelo sentido que as suas declarações acabaram por tomar e acerscentou que não há base científica que sustente a inferioridade racial dos negros. Watson disse ao "Sunday Times" que as políticas sociais estavam feitas de modo a encarar negros e brancos como tendo níveis de inteligência semelhantes e que quem lidava com empregados negros sabia que isso não era verdade.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave comunidade corpo racista
Vítimas de caso de Alfragide vão testemunhar sem “constrangimento” de agentes na sala
Ministério Público evocou estatuto de vítimas especialmente vulneráveis. Bruno l. foi a primiera vítima a ser ouvida. Diz ter sido alvo de agressões com cacetete, socos e ofensas racistas. (...)

Vítimas de caso de Alfragide vão testemunhar sem “constrangimento” de agentes na sala
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 8 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ministério Público evocou estatuto de vítimas especialmente vulneráveis. Bruno l. foi a primiera vítima a ser ouvida. Diz ter sido alvo de agressões com cacetete, socos e ofensas racistas.
TEXTO: As sessões do julgamento dos 17 agentes da Esquadra de Alfragide, acusados de crimes de tortura, sequestro, falsificação de auto e ódio racial, vão decorrer sem a presença dos arguidos de modo a não provocar "constrangimento", nem intimidar as seis vítimas e testemunhas, decidiu esta terça-feira o colectivo de juízes do Tribunal de Sintra, onde decorre o julgamento desde 22 de Maio. No primeiro dia em que se chamou uma das vítimas, o ofendido Bruno L. , uma das principais testemunhas do que aconteceu a 5 de Fevereiro de 2015, o Ministério Público pediu que os polícias da PSP se retirassem da sala. Estes seriam depois convidados pela juíza a não estarem nas imediações do tribunal durante a próximas sessões. O procurador evocou o estatuto de “vítimas especialmente vulneráveis” para fazer este requerimento já que os arguidos estão acusados da prática de um crime violento que prevê esta hipótese. Os advogados dos agentes opuseram-se, dizendo que isso iria quebrar o princípio da presunção da inocência, e que iria impedir de confrontar as testemunhas com o reconhecimento de alguns arguidos. Os juízes mantiveram a sua posição. Os agentes da PSP já foram todos ouvidos. Nesta terça-feira, pelas 18h, finda a audiência a Bruno L. , os polícias ainda se encontravam à porta do tribunal à civil, junto à carrinha da PSP que os tem trazido. A sessão durou mais de três horas. Bruno L. foi a primeira vítima a ser ouvida desde que o julgamento teve início (estavam agendadas outras duas testemunhas). Inquirido pela juíza do colectivo, pelo procurador do Ministério Público e pelos advogados, Bruno L. acabou por repetir várias vezes os mesmos episódios, chegando a desabafar a determinada altura “foi há três anos”. E há três anos o que se passou? O que se segue foi o que contou. Bruno L. estava no alto da Cova da Moura a conversar com o primo, na esquina do Café do Tio. Viu chegar uma carrinha da PSP, agentes saíram. Um deles aproximou-se de Bruno L. e pôs-se de frente. Perguntou: “Estás a rir do quê?” Ele respondeu: “Estou a rir da conversa com o meu primo. "Questionado, não sabe identificar o agente que o agarrou, que o virou, que o mandou encostar à parede, enquanto ele perguntava “o que é que eu fiz?”, levando a seguir com um cacetete. “Comecei a sangrar, perdi os sentidos. Quando voltei a mim estava pendurado na mão dos agentes, baixaram-me a cabeça, arrastaram-me, puseram-me de joelhos na carrinha e algemaram-me. Senti que fizemos um percurso mais longo, se tivéssemos ido logo para a esquadra era a direito. ”A juíza quis saber: “Quando diz arrastar, é arrastar?” Sim, respondeu. Na carrinha pouco conseguiu ver. E ali levou com o cacetete, “com a parte do ferro”, com socos e ofensas verbais, contou ainda. Não ofendeu, não injuriou os polícias, disse, mas foi injuriado. Já na esquadra disseram-lhe “para limpar sangue de macaco”. Chamaram-lhe “preto”. “Mas porque é que os agentes lhe deram com o cacetete?”, perguntou a juíza. “Isso era o que eu queria saber”, respondeu. O que soube identificar sem hesitações foi “o agente da shotgun” e outro que lhe bateu mais tarde na esquadra, enquanto ele estava algemado: “Começaram a dar-me vários remates (pontapés) no peito. ” Isto foi uma questão de minutos, disse. Não conseguia ver nada. E a juíza quis saber: “Isto foi no dia 5 de Fevereiro, não é outro episódio?”, perguntou. Não é outro episódio, confirmou Bruno L. . “E agridem-no ao pontapé, com aquelas botas e só tem uma ferida no nariz?”, questionou com desconfiança a juíza. “Mas tinha hematomas, estava todo inchado nas costas, tinha o corpo todo danificado”, respondeu. A juíza também questionou o facto de Bruno L. , depois de ser agredido, ter tido sono. “Não tinha dores? Não lhe doía o corpo? Onde é que há margem para o sono?” Sem hesitar, respondeu que tinha dormido pouco na noite anterior, que tinha o corpo dorido. “Para ser sincero, estava cheio de medo”, concluiu. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Bruno L. tem sido acusado pelos agentes de ter atirado uma pedra à carrinha da PSP quando esta se deslocou à Cova da Moura, razão que os levou a detê-lo, tendo um dos agentes disparado a shotgun no momento da detenção. Os agentes acusam os outros jovens de terem tentado invadir a esquadra para o “ir buscar”. Bruno L. esteve preso antes dos outros jovens chegarem e ouviu “gritos” mas não presenciou a detenção dos amigos na esquadra. No tribunal acusou um dos agentes, que estaria a chefiar a equipa, de induzir “ou ajudar” o autor dos autos a escrever que ele tinha atirado uma pedra à carrinha da PSP. “Havia um agente com um distintivo dourado, não sei se é comissário, entrou, viu-me e disse: ‘isto é só merda’". As audiências continuam a 10 de Julho.
REFERÊNCIAS:
Podemos? Não, não podemos
As quotas para negros e ciganos não passam de uma farsa multicultural igualitarista. Não, não podemos integrar por decreto. (...)

Podemos? Não, não podemos
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 Ciganos Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: As quotas para negros e ciganos não passam de uma farsa multicultural igualitarista. Não, não podemos integrar por decreto.
TEXTO: [Nota: as reacções a este texto motivaram um editorial do director do PÚBLICO, Manuel Carvalho. ]Segundo o PÚBLICO de 29 de Junho, o “PS quer discriminação positiva para as minorias étnico-raciais”. Em causa estão sobretudo africanos e ciganos, independentemente de terem nascido em Portugal ou não. Estas minorias excluídas da Cidade, a sua suposta ou real marginalização, constitui a prova de que Portugal “continua a ter um problema de racismo e xenofobia”, independentemente do efeito – que de resto não sofremos – do drama dos refugiados, com o seu pico mais trágico em 2015. O entrevistado pelo PÚBLICO, Rui Pena Pires, sociólogo e secretário nacional do Partido Socialista, lamenta “a falta de diversidade no espaço público”, que continua atulhado de homens brancos e mulheres brancas. E, em conformidade com a ideia, grata à esquerda, de que a sociedade e respectiva mentalidade podem ser mudadas por decreto, Pena Pires saúda a possibilidade de que o problema da exclusão de negros e ciganos do espaço público se resolva, ou comece a resolver, estabelecendo quotas para deputados coloridos, de forma a conferir à futura Assembleia da República uma dimensão representativa mais conforme com a composição étnico-racial da sociedade portuguesa. Se as quotas tinham impulsionado a emancipação e igualização de direitos das mulheres, se lhes haviam aberto o espaço público, porque não aplicar a mesma receita às minorias étnicas?A comparação com a igualdade ou paridade de género é inteiramente falaciosa. As mulheres, que sem dúvida têm nos últimos anos adquirido uma visibilidade sem paralelo com o passado, partilham, de um modo geral, as mesmas crenças religiosas e os mesmos valores morais: fazem parte de uma entidade civilizacional e cultural milenária que dá pelo nome de Cristandade. Ora isto não se aplica a africanos nem a ciganos. Nem uns nem outros descendem dos Direitos Universais do Homem decretados pela Grande Revolução Francesa de 1789. Uns e outros possuem os seus códigos de honra, as suas crenças, cultos e liturgias próprios. Os ciganos, sobretudo, são inassimiláveis: organizados em famílias, clãs e tribos, conservam os mesmos hábitos de vida e os mesmos valores de quando eram nómadas. E mais: eles mesmos recusam terminantemente a integração. É só ver a quantidade de meninas ciganas que são forçadas pelos pais a abandonar a escola a partir do momento em que atingem a puberdade; é só ver a quantidade de meninas e meninos ciganos que abandonam os estudos, apesar dos subsídios estatais de que os pais continuam a gozar para financiar (ou premiar!) a ida dos filhos às aulas; é só ver o modo disfuncional como se comportam nos supermercados; é só ver como desrespeitam as mais elementares regras de civismo que presidem à habitação nos bairros sociais e no espaço público em geral. Os ciganos não praticam a bárbara excisão genital das mulheres. Mas, em vez desta brutal mutilação, vulgar e imperativa nas tribos muçulmanas, aos casamentos entre ciganos segue-se, no dia seguinte, obrigatoriamente, a humilhante demonstração da virgindade da noiva, cujo sangue de desfloramento, estampado nos lençóis, é orgulhosamente exibido perante a comunidade. O que temos nós a ver com este mundo? Nada. O que tem o deles a ver com o nosso? Nada. Africanos e afro-descendentes também se auto-excluem, possivelmente de modo menos agressivo, da comunidade nacional. Odeiam ciganos. Constituem etnias irreconciliáveis, e desta mútua aversão já nasceram, em bairros periféricos e em guetos que metem medo, batalhas campais só refreadas pela intervenção policial. Os africanos são abertamente racistas: detestam os brancos sem rodeios; e detestam-se uns aos outros quando são oriundos de tribos ou “nacionalidades” rivais. Há pouco tempo, uma empregada negra do meu prédio indignou-se: “Senhora, eu não sou preta, sou atlântica, cabo-verdiana. ” Passou-se comigo. A cabo-verdiana desprezava as angolanas porque eram africanas, não atlânticas, e muito mais pretas. . . Os partidos, nomeadamente o PS, confessam que, para o fim inconfesso de conquistar mais alguns votos, se vêem hoje obrigados a “assegurar a representatividade das diferentes origens étnico-raciais”. Não por acaso, na entrevista com Pena Pires, a visibilidade dessas diferentes origens aparece imediatamente relacionada com a facilitação do acesso ao ensino superior, que deveria abrir-se a todos os alunos, “independentemente da sua nota final” no 12. º ano. “Se fizermos uma política de alargamento de acesso ao ensino superior, já resolvemos parte do problema. §Não faz sentido ter um ensino virado para os melhores alunos, mas sim para todos os que têm as condições mínimas para entrar. ” Pena Pires não explica que condições são essas. Possivelmente, o simples facto de existirem jovens que, apesar de incapazes e preguiçosos, aspiram a um diploma universitário! Pelos vistos, o facilitismo que já reina hoje em dia nas universidades ainda não chega: para resolver “os problemas de racismo e xenofobia” que afligem a esquerda bem-pensante da nossa democracia, teremos de criar um passe de livre-trânsito entre o secundário e a universidade. Quando esta política for oficialmente consagrada e der os seus resultados, teremos um Parlamento ainda mais ignorante e incompetente do que já temos – sem que o País deixe de “ter um problema de xenofobia e racismo”. A título de complemento do acesso irrestrito ao ensino superior, Pena Pires recomenda também a criação de “um observatório do racismo e da discriminação junto a uma universidade”. Mas como é que se observa o racismo e a discriminação a partir dos gabinetes almofadados onde se sentariam os observadores? A única maneira de observar uma matéria tão fugidia e evanescente é frequentar feiras e supermercados baratos, é entrar nos bairros em que nem a polícia se atreve a pôr os pés. Mas isto é tremendamente maçador e, sobretudo, exige muita coragem física. O observatório não observaria nada e seria perfeitamente inútil, a não ser – isso sim – para criar mais alguns jobs for the boys. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Bem-vindos os analfabetos – lusitanos, africanos ou ciganos – à “visibilidade” no espaço público. De facto, só por uma cabeça de esquerda passaria a ideia peregrina de um acesso irrestrito e incondicional à universidade. E, quanto à melhoria da representatividade parlamentar, o recrutamento de meia dúzia de indivíduos africanos ou ciganos em nada, mas nada, promoveria a integração destas comunidades “invisíveis”, pelo singelo motivo de que a sua “inclusão” não passaria de uma farsa multicultural igualitarista. Por um lado, os eleitos não tardariam a ser vistos pelos seus como desertores, e por outro seriam olhados pelos seus colegas de bancada como forasteiros coloridos. Acontece que a xenofobia e o racismo são um fenómeno universal, e não um problema especificamente português. Por mais que se escancarem as portas da universidade, por mais que se criem srs. doutores de aviário, nunca se dissolverão na comunidade autóctone as minorias exóticas em que uma selvajaria como a excisão genital feminina seja moeda corrente. Mais extraordinário e mais eloquente é que, na entrevista de Pena Pires, nunca surja a palavra “mérito”. Não, não podemos integrar por decreto.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS LIVRE
A Europa como ideal fascista
De onde vem o medo? Para onde é que nos transporta? As perguntas atravessam uma conversa sobre o presente com Aamir Mufti, crítico pós-colonialista com trabalho sobre minorias, questões de raça, migração, linguagem. Ultimamente, focou-se nos radicais de direita dos Estados Unidos. (...)

A Europa como ideal fascista
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 11 Africanos Pontuação: 7 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.9
DATA: 2017-09-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: De onde vem o medo? Para onde é que nos transporta? As perguntas atravessam uma conversa sobre o presente com Aamir Mufti, crítico pós-colonialista com trabalho sobre minorias, questões de raça, migração, linguagem. Ultimamente, focou-se nos radicais de direita dos Estados Unidos.
TEXTO: Nada será como antes nem será como está porque o mundo mudou e a permanência não existe. Negar isso é permitir que a escalada de violência aumente e os radicalismos vençam os ideais democráticos. A ideia de segurança total, a crise dos refugiados, o renascer de nacionalismos e o extremismo de direita são questões globais que devem ser discutidas quebrando amarras, defende Aamir Mufti, 57 anos, paquistanês, professor de Literatura Comparada na Universidade de Los Angeles, UCLA, antropólogo, crítico pós-colonialista. Estudioso do modo como a linguagem reflecte e é capaz de mudar comportamentos, esteve em Lisboa para falar de refugiados, terrorismo e migração em mais uma edição da Lisbon Summer School organizada pelo Lisbon Consortium/Universidade Católica, este ano sob o tema Global Translations. Num entrevista exclusiva ao PÚBLICO, Mufti sublinha a necessidade de a linguagem se adaptar aos novos desafios globais, acusa a União Europeia de estar a falhar nos seus objectivos e de a esquerda estar “perdida”, de aprender com o racismo de Michel Houellebecq. Tudo enquanto se fixa no estudo do extremismo de direita nos Estados Unidos, onde se está a criar uma ideia imaginária de Europa. A conversa acontece um dia depois de uma intervenção polémica, com Mufti a falar de como a linguagem pode ajudar a entender ou a resolver a actual crise. “Qualquer luta política é em parte uma luta pela linguagem”, sublinha, enquanto tenta recuperar do jet lag com um chá forte numa manhã de chuva. O que nos diz a palavra “refugiado”, hoje?Tendemos a pensar nos refugiados como figuras abstractas mas não são; são pessoas muito concretas que carregam todo o tipo de histórias — pessoais, políticas, sociais. Trazem línguas, religiões. A literatura é o lugar para imaginar estas coisas de modo muito diferente da forma demasiadas vezes simplista e abstracta dos discursos públicos. Uma boa definição de refugiado é de Hannah Arendt; a grande pensadora judia, alemã, diz que um refugiado apátrida é uma pessoa que não pode confiar em nenhum Estado no mundo para proteger os seus direitos. Não é uma definição legal. É uma definição política. Muito simples, mas efectiva. Quando não há um Estado capaz de proteger os seus plenos direitos, essa pessoa é apátrida e pode tornar-se um refugiado. Apátrida e refugiado não são necessariamente a mesma coisa, mas são realidades próximas: não ter um Estado que nos proteja e a possibilidade de se ser exilado, ficando numa condição física bastante vulnerável que é a do refugiado. O que distingue a actual crise que afecta os refugiados de antigas crises de refugiados, como as das décadas de 30 e 40 do século XX?Há semelhanças e diferenças. A diferença é que os anos 30 e 40 já aconteceram e há uma consciência muito forte de não permitir que tal volte a acontecer. Por outro lado, muitos lugares na Europa parecem felizes por isso estar outra vez a ocorrer. Há uma grande contradição na sociedade europeia sobre o que é refugiado, qual é a relação entre o refugiado e a Europa e como responder a isso. Seja de forma concreta ou através de ideias abstractas, ajuda humanitária, defesa de direitos humanos. São debates prementes. Como se responde e qual a responsabilidade? Claro que neste momento não existem campos de concentração na Europa. A Alemanha absorveu um milhão de pessoas nas suas vilas e cidades, não estão indefinidamente em campos. Há muitas coisas diferentes, mas também há uma continuidade: o modo como um número relativamente pequeno de pessoas é visto como ameaça às culturas nacionais ou à cultura europeia; a ideia de que há aliens entre nós e são um mal para o nosso futuro. Esse tipo de ansiedade e medo tem qualquer coisa em comum com os anos 30 e 40. Não existem campos de concentração na Europa. A Alemanha absorveu um milhão de pessoas nas suas cidades. Mas há uma continuidade: o modo como um número relativamente pequeno de pessoas é visto como ameaça às culturas nacionais ou à cultura europeiaFala dos nacionalismos?Sim, absolutamente, a extrema-direita, todos os tipos de nacionalismo radical que ressurgiram. Esperava-se que a União Europeia soubesse combater ou tivesse posto fim a isso. Disse “nacionalismos nunca mais”, sim à coexistência e tudo o que ela representa; paz perpétua como um conceito, um ideal da União Europeia. Estão a aprender da maneira mais dura que não é tão simples. A questão, neste momento, é que tipo de entendimento podem ter as políticas europeias sobre quem são os refugiados e, além dos refugiados, quem são os migrantes. Qual é o lugar deles na Europa e como a vida moderna mútua pode ser possível. Como é que o medo e a violência podem ser controlados. Nenhuma forma de vida pode ser inteiramente fundada no medo e na violência. A ideia de uma segurança absoluta?Sim. Paz perpétua e segurança absoluta são abstracções e idealismos; não são muito realistas. Mas, nessa busca, podemos ter situações que são mais ou menos sustentáveis. Esse é o desafio. A questão de fronteira tornou-se central no último ano. Desde a chegada de Donald Trump, comecei a olhar mais do que alguma vez para a extrema-direita americana e a notar uma presença em massa de fascismo na América. Passa-se quase tudo de forma subterrânea, mas não escondida. No último ano, passei muito tempo a estudar este fenómeno e percebi que há uma espécie de abordagem europeia a este tema. Os americanos brancos são europeus, e os australianos e neozelandeses e canadianos e os radicais americanos de direita falam disso desse modo. Chamam-se a si mesmos europeus. Nunca tinha ouvido isto antes na América. Nem sequer dizem euro-americanos, dizem quase sempre “povo europeu”; “somos da Europa, construímos uma civilização europeia no continente americano e agora vêm estes e querem tirar-nos isso”. É mais ou menos este o raciocínio. Com a chegada de Trump, comecei a olhar mais do que alguma vez para a extrema-direita americana e a notar uma presença em massa de fascismo na América. Passa-se quase tudo de forma subterrânea, mas não escondidaE que ideia têm de uma civilização europeia?É contraditória de muitas formas, porque ser-se de movimentos de extrema-direita não tem muito que ver com os direitos individuais que fazem parte da ideia de América. Parte dos valores europeus e do papel da lei em defesa dos direitos do indivíduo choca com o preconceito racial e com a ideia de serem de uma raça intelectualmente superior, “e agora esta gente de raça inferior está a chegar e isso irá certamente causar mistura racial, genética, miscigenação e certamente reduzir o nível de inteligência”. Estes são os seus pensamentos. Mas não podem dizer, por exemplo, que os asiáticos são menos inteligentes do que os americanos brancos como não podem dizer que os judeus são menos inteligentes que os brancos. Ah. . . para eles, os judeus não são brancos, de todo! Pela primeira vez vejo os judeus na América a serem removidos da identidade branca de um modo muito gradual, muito lentamente, mas está a acontecer. Portanto, a ideia do que é ser europeu, do que isso significa, é muito contraditória, muitas vezes é a liberdade de expressão, mas é também a de uma comunidade orgânica que herdou uma cultura. É quase uma noção germânica do III Reich, de que a vida moderna e o capitalismo destruíram comunidades tradicionais e modos tradicionais de vida. E a vida moderna é judaica, lato sensu. O que pergunta é muito importante, mas eles não têm certeza sobre o que é isso. Vai publicar esse estudo?Sim, estou a escrever. E não é separável da ideia de refugiados, do medo, da visão da ameaça civilizacional. Vai chamar-se Europa e não Europe, em inglês. Europa aqui significa o efeito estranho de qualquer coisa que não é bem a Europa. É a Europa da imaginação. E que Europa imaginária é essa?Essa Europa pode existir na Nova Zelândia, na América do Norte, mesmo na Argentina. É uma ideia de como são os europeus, de onde vêm, quem são. Quem acredita nessa ideia da Europa acredita muitas vezes na mitologia norueguesa, do Norte, os que se chamam os filhos de Odin. Outros são muito cristãos – ortodoxos ou católicos –, alguns converteram-se à ortodoxia ucraniana para reclamar a sua herança branca. E há os ateus, os pós-morte de Deus ligados ao nazismo. É um cenário muito ambíguo e disperso que me fascina e aterroriza, porque estou a criar um filho na América. Falo do futuro; eles estão a ficar cada vez mais poderosos e mais dominantes. Muitos jovens irão aderir, está a tornar-se popular. E gera oposição. É a razão pela qual há um forte movimento antifascista entre muitos jovens, que se chamam a si antifa e aparecem em comícios de extrema-direita. Muitos membros da chamada geração millennial na América dedicam-se a combater o fascismo e os neonazis. Significa que sabem que há uma fatia da sua geração que está do outro lado. Os mais velhos não entendem isso. Tenho colegas, gente brilhante, académicos, intelectuais, que se recusam a acreditar que isto é importante, alegam que sempre houve racistas brancos. Não é verdade, está a haver uma mudança, há uma coisa nova a emergir, também em muitos países na Europa. Esses grupos estão em contacto. Os europeus e os americanos estão muito próximos. Desde o velho Ku Klux Klan aos jovens hipsters da nova direita, os níveis de paranóia são extraordinários, mas trazem teorias históricas muito concretas"E como se dão essas trocas?Encontram-se. Há um grupo americano chamado The Traditionalist Worker Party que faz parte do velho tradicionalismo ligado ao pensamento fascista italiano, ao Hezbollah, e a uma espécie de heideggerianismo atenuado, simplificando o que é o heideggerianismo. É a rejeição do mundo moderno, o recuo a formas tradicionais de vida e que pode passar pelo cristianismo ortodoxo e atravessa toda a Europa. Da Grécia à Hungria, República Checa, têm vídeos no YouTube das marchas onde se encontram. Tudo se faz de forma aberta para quem quiser ver. E em todos esses vídeos vemo-los a expressarem-se como europeus. Isto quando os europeus estão a tornar-se minoria nos seus próprios países. É o seu grande medo. No seu primeiro livro, Enlightenment in the Colony (2007), falava sobre isso mesmo, o medo de ser minoria. Sim, eu estava à procura de material sobre o judaísmo na Europa e sobre os muçulmanos na Índia para estabelecer uma comparação. Muito tempo depois ressurge o medo de ser uma minoria. Toda a política de Israel é sobre isso, de como os judeus não devem deixar que se tornem uma minoria, e agora vêem os nazis americanos perguntar porque é que os judeus podem reclamar isso e eles não? Porque é que não têm um Estado étnico que garanta que não sejam uma minoria? Isto quando os judeus são as pessoas menos ligadas à extrema-direita na América; sempre se manifestaram contra a ideia de a América ser um país branco, sempre abriram as portas à imigração. Os extremistas ligam isso à queda de Constantinopla e da Andaluzia. Os níveis de paranóia são extraordinários, mas trazem teorias históricas muito concretas. Como se podem desconstruir essas teorias?Podemos rir. É de loucos, só podemos rir. Mas muita gente está a falar assim. Desde o velho Ku Klux Klan aos jovens hipsters da nova direita com o mesmo corte de cabelo, chamado fasc, curto nos lados e comprido no topo. Têm um estilo, uma moda, maneiras de vestir e uma subcultura jovem. Está a tornar-se uma subcultura com uma imagem a que muita gente adere sem saber bem porquê, mas tem raízes políticas. E produzem que tipo de cultura?Estão a começar. E essa é outra grande questão. O que se conhece é material vídeo e sobretudo paródia, sátira, fazer piadas acerca de algumas ideias. São eles que estão a ter piada. A esquerda é quase toda muito séria e zangada. Eles estão a divertir-se. Falei disto numa conferência sobre género, ninguém estava à espera, e falei do género fascista. Foi na Califórnia. Geograficamente, onde é que estas pessoas se concentram nos Estados Unidos?Em todo o lado. Estão na Califórnia! Pensamos na Califórnia como um paraíso anti-Trump, mas é o lugar onde nasceu o partido nazi americano, onde nasceram os Hells Angels, o sítio onde está baseada a maior instituição que nega o Holocausto nazi, chama-se Institute for Historical Review, nome muito inocente ao ouvido, mas determinado em afirmar que não existiram câmaras de gás, etc. Um destes grupos chama-se Identity Europa. Pode imaginar um americano de uma pequena cidade a dizer Europa? O nome do líder é Nathan Damigo, muito activo em universidades por todo o país. Colam posters cheios de imagens de estátuas da Grécia Clássica, tudo muito bem produzido, esteticamente muito actuais. Não se pense que são pessoas que vivem nos bosques de forma primitiva, com armas e aos tiros. São esclarecidos, sabem de linguagem mediática, conhecem a tecnologia; muitos têm formação universitária, passaram por aulas como a minha onde pensamos estar a converter e a educar mentes ao ensinar pensamento progressivo. E estão a pensar no apuro pan-europeu. Fala de tudo isso num tom de exaltação e surpresa. Até que ponto essa observação altera o seu discurso crítico, pós-colonial?Mudei o modo de pensar estas questões, o enquadramento. Tornou-se claro que existe um processo histórico longo e que a direita o entende melhor do que a esquerda. O capitalismo, na sua concepção, vem da supremacia branca, desde o seu nascimento, no período mercantil; a supremacia branca a criar a escravatura e a colonização e os genocídios e depois regras de colonização, formas de pensamento racista, exploração do trabalho consoante a raça. Tudo isso até à era pós-colonial. Houve um grande cataclismo no século XX, em que tudo começa a derrocar-se. Os pensadores mais importantes dessa mudança pós-colonial são judeus da Europa, como Hannah Arendt, Claude Lévi-Strauss. É espantoso! Erich Auerbach, o filólogo alemão que viveu na Turquia durante a guerra e teve uma vasta experiência do mundo europeu e um papel na europeização do mundo não europeu como professor de Humanidades na Universidade de Istambul. Fez daquela instituição islâmica uma universidade europeia. A minha pergunta é: que tipos de sociedade estamos agora a criar, local e globalmente, e qual será o lugar da supremacia branca, que historicamente formou as relações sociais, no presente e no futuro? Muita gente na Europa está a falar da coexistência entre minorias que vêm de outros locais. A direita entende isto muito bem actualmente; está a lutar pelo regresso da supremacia branca, a dizer que num contexto de migração em massa estas formas de relação social não podem sobreviver. É um ponto importante. E a esquerda não está a saber lidar com isto. Para ela, estes são novos europeus e a Europa vai permanecer como está. Não. É preciso redefinir a sociedade europeia, a assimilação tem de acontecer não apenas por parte dos imigrantes, mas do cruzamento das sociedades. Queremos uma sociedade quase instintivamente nostálgica das suas glórias imperiais do passado? Não estou a dizer oficialmente, mas na vida de todos os dias. Vai permanecer esse tipo de sociedade ou vamos repensar o passado colonial? Isso não está a acontecer. Encontro-me numa posição muito estranha: sou um crítico e um pensador pós-colonial e estou a defender a União Europeia no Reino Unido. Na América esse pensamento não é tão urgente?Sim, na América também. Sabendo tudo isto, presume-se que a vitória de Donald Trump não o surpreendeu. Não me surpreendeu, mas surpreendeu quase todos os meus amigos, surpreendeu a minha mulher. Desde Maio de 2016 tornei-me obcecado pelo estudo da extrema-direita. Assisti a alguns episódios protagonizados por apoiantes a Trump e não queria acreditar no que via. Estava tudo ali, visível, mas ninguém contava. Quem não contava, os media, os jornalistas?Sim, pareciam adormecidos. Trataram sempre Trump e a extrema-direita como uma piada e mesmo agora não entendem, e as perguntas, quando o entrevistam, fazem-me rir e também fazem rir esses extremistas. Que perguntas deveriam ser feitas?Não perguntas liberais como “como pode dizer que crianças nascidas nos Estados Unidos deveriam ir para a terra dos pais ilegais? Não são americanas?” Eles riem e dizem: “Não, elas não são americanas. São mexicanas, não têm a marca étnica do nosso povo. ” É assim que falam. Como outros noutros países. A América não é uma nação baseada num princípio, como se pensa, mas como quase todas as outras é baseada num predomínio étnico. Chamam-lhe uma nação proposicional por causa do famoso discurso de Abraham Lincoln em Gettysburg, o chamado Gettysburg Adress [o discurso mais famoso de Lincoln, em 1863, no fim da Guerra Civil], em que ele recordou os princípios fundadores da nação e a preposição de que todos os homens são criados iguais. Para os extremistas, Lincoln foi o idiota que destruiu a América ao introduzir o veneno da igualdade. Para eles, os pais fundadores não tinham dúvidas de que aquela era uma nação branca e os negros nunca poderiam ser cidadãos. A cidadania para negros livres só aconteceu depois da Guerra Civil. Eles querem retirar da Constituição Americana a emenda que salvaguarda essa igualdade, a de que qualquer pessoa pode ser americana por ter nascido lá. Como o meu filho. Eu e a minha mulher não éramos cidadãos americanos quando ele nasceu; éramos imigrantes legais, mas não cidadãos. Mas o meu filho é americano. É o direito à nacionalidade por nascimento. A razão é essa emenda pós-Guerra Civil que deu a cidadania a ex-escravos. Quando falam de sociedade branca, falam de supremacia branca. Estamos a viver um momento extraordinário em que grandes mudanças podem acontecer. Vamos sempre dar ao que se chama grande ferida americana, a escravatura?Pois, tudo na América parece ser sobre escravatura e entre ser negro ou branco. Tudo. Mesmo a imigração. E está a ressurgir depois de décadas. Repito, há quem siga a extrema-direita e a leve a sério. Muitos deles não são idiotas. Podem ter ideias loucas mas em muitos aspectos estão a entender melhor o que está a acontecer do que os chamados “liberais”. Faço sempre o arco com a Europa. W. E. B. Dubois, o grande intelectual afro-americano [1868-1963], publicou The Souls of Black Folk [1903], o seu grande legado sobre relações raciais. Ele afirma que a grande questão do século XX iria ser a racial. Eu hoje poria isso de um modo um pouco diferente; penso que é importante que o capitalismo entre na equação enquanto conceito e a ligação entre o capitalismo e a supremacia branca. Mas agora que a China está prestes a tornar-se a grande potência capitalista, como é que se vai pensar esse problema? Voltamos ao grande arco. A supremacia branca no máximo do seu poder, a transferência do poder geopolítico da Europa para a América, o grande conflito soviético que foi a Guerra Fria e, no momento pós-colonial, os movimentos anticoloniais por todo o lado nas décadas de 40, 50, 60 e 70 e mesmo nos anos 80, e chegamos a este ponto, o do multiculturalismo, globalização, um momento pós-colonial e uma nova ordem. Tudo o que é tomado por permanente não é permanente. Nada é permanente. Eles entendem isto. Há discursos disponíveis no YouTube onde se vê os líderes de extrema-direita a falarem com estes argumentos. Vêem o fim do apartheid na África do Sul como parte deste processo em que a sociedade branca está a ser destruída. Quando falam de sociedade branca, falam de supremacia branca. Estamos a viver um momento extraordinário em que grandes mudanças podem acontecer. Está pessimista?Sou por natureza um pessimista, mas sinto-me optimista em relação a isto. É muito estranho. Pode explicar porquê?Porque há agora uma inevitabilidade histórica. A sociedade europeia irá morrer em duas gerações. Demograficamente. Não há população suficiente para uma regeneração que sustente o Estado social. Capitalismo e demografia como sistema único no mundo geraram este desequilíbrio populacional entre Norte e Sul. As condições de vida sustentável são outro grande desequilíbrio. É um movimento inevitável. Não estou a falar em termos naturais, mas sociais. O sociólogo italiano Sandro Mezzadra diz que a migração em massa não é um processo demográfico anónimo, mas um movimento social, e o argumento que estou a construir para este projecto é que o migrante pós-colonial na Europa é uma figura que devolve à pátria europeia a questão do passado colonial. É a oportunidade de a Europa usar isso para se tornar verdadeiramente pós-colonial. É um regresso de modo a limpar tudo, arrumar tudo, e vir com disposição de constituir novas relações sociais não baseadas no passado colonial essencialmente racista. O migrante pós-colonial na Europa é uma figura que devolve à pátria europeia a questão do passado colonial. É a oportunidade de a Europa usar isso para se tornar verdadeiramente pós-colonialDeste seu pensamento pode concluir-se que a extrema-direita está organizada e a esquerda e o chamado “centro” estão perdidos?A esquerda está perdida neste momento. O que deve fazer quem quer defender os princípios da democracia?Não tenho uma resposta clara para isso. Estou a esforçar-me para ter. É a grande questão do nosso tempo. O politicamente correcto tem de terminar. A correcção política do tudo limpo. A extrema-direita não tem essa correcção e por isso pensa coisas novas. A esquerda não é capaz de um pensamento novo neste momento. Por estar preocupada com o politicamente correcto?Sim, penso que sim. Queremos uma linguagem de justiça social e que fundamente novas possibilidades humanas mais do que simplesmente uma linguagem de multiculturalismo. Na sua leitura, referiu Sandro Mezzadra, dizendo que a condição branca do europeu não foi posta em causa pelo multiculturalismo, mas apenas tornada menos evidente para tornar possível a coexistência com os não brancos. . . O multiculturalismo foi um penso rápido na grande ferida que é a história da Europa. Internamente, com o genocídio dos judeus; externamente, com a colonização, a escravatura, os genocídios. E o multiculturalismo não é uma maneira de lidar com essa grande lesão. A sociedade europeia irá morrer em duas gerações. Demograficamente. Capitalismo e demografia como sistema único no mundo geraram este desequilíbrio populacional entre Norte e SulFalou há pouco da União Europeia como a guardiã de um ideal. Onde é que está a falhar?A grande falha da União Europeia é evitar estas questões. Lidou com a questão judaica até certo ponto, mas mesmo aí de forma bastante incorrecta. França, por exemplo, o modo como distingue judeus e árabes é à velha maneira colonial aplicada na Argélia. Os judeus podem ser europeus, mesmo judeus árabes. Jacques Derrida, Hélène Cixous. . . , mas os árabes muçulmanos não podem ser europeus. Estas são formas de distinguir os árabes dos judeus que derivam de 1840. Nessa década, o Estado francês recrutou rabis asquenazes [provenientes da Europa Central] para os fazer chefes de sinagogas na Argélia. Foi o início do processo de europeização dos judeus árabes. A tecnologia colonial de diferenciação entre árabes e judeus, entre populações diferentes, está a acontecer, não é uma coisa só do passado. Depois os judeus foram a ameaça, agora assistimos mais uma vez à ameaça árabe. O desafio é desenvolver novas formas de pensar a sociedade. Ideias como cosmopolitismo e multiculturalismo estão a falhar diante dos nossos olhos. Como é que a literatura está escrever este presente?Muito do que se tem escrito surge no grande corpo a que se deu o nome literatura pós-colonial ou de imigração; e isso foi tornado exótico e chegou-se a uma fórmula; quando há uma fórmula, há uma expectativa: “Isto é o que nos vão dar. ” Tenho essa experiência; enquanto alguém considerado crítico pós-colonial, esperam certas coisas de mim e é uma luta não seguir o padrão. Podia viver muito bem só disso, de dar às pessoas o que elas querem. Arranjo muitos problemas por não o fazer e tento ensinar os meus alunos a não viverem debaixo desse tipo de expectativa ou de compromisso que impede de pensar de forma nova, original, que faça a diferença, que não seja apenas a repetição de uma fórmula. Mas há grandes escritores. Zadie Smith, agora; ouvi uma entrevista recente onde ela dizia que as pessoas pensam o multiculturalismo como um dado adquirido. Londres é multicultural e é apenas isso; o mundo é simplesmente isso, e ela diz que os acontecimentos do último ano fizeram-na perceber como esse momento é temporário. Espero qualquer coisa grande dela em resultado dessa conclusão. E Michel Houellebecq?É um caso interessante. Pertence à direita conservadora, muito anti-islâmica. A maior parte das pessoas com quem falo — caso de críticos literários — ficam chocadas e perguntam-me porque estou a trabalhar sobre Michel Houellebecq se ele é um racista. É precisamente por isso. Estudo-o porque ele é racista, quero entender o que isso é, e uma vez mais, porque é um escritor de extrema-direita e percebe que a esquerda, com todo o seu multiculturalismo, é incapaz de produzir um pensamento. Submissão [Alfaguara, 2015] não é um romance islamofóbico e esse é o grande truque do romance. É brilhante. Gosta de Houellebecq, escritor?É um louco, sabemos. A maneira como escreve sobre pornografia é demasiado para mim. É pornografia explícita, não é erotismo. É violento com as mulheres, é insuportável por vezes nessa violência de género, difícil de ler, mas revela-nos coisas acerca do nosso mundo. É sobretudo sexo, religião e raça, e muito revelador. Submissão, como disse, não é islamofóbico. No livro, o país vai aceitando o islão e as pessoas convertem-se maciçamente; a Sorbonne torna-se um seminário islâmico. Ele parece estar quase a dar as boas-vindas ao islão como um final para o conflito. Se é isso que é preciso, vamos fazê-lo. E o extraordinário, muito houllebecquiano, é que essa conclusão é assegurada por uma aliança entre patriarcas franceses e patriarcas islâmicos. É a grande atracção para os homens franceses se converterem. É tão louco! É orientalista, mas não islamofóbico. Orientalista tal como Edward Said definiu o orientalismo, com um olhar eurocentrado?Sim, nesse sentido. Ele escreve com base no imaginário francês colonial acerca do islão. O islão ocupa um lugar muito peculiar na história de França. Houve uma islamofilia em França, e muito patriótica, no sentido de uma ordem doméstica em que os homens têm as regras de uma certa ordem social e onde no centro está Deus. Isto foi muito atraente na cultura francesa no século XIX e início do século XX. Muitas personalidades francesas converteram-se ao islão nesta visão da ordem doméstica patriarcal com ênfase no sexo. Ter várias parceiras legais garante aos homens o acesso sem restrições ao sexo. Ele escreve a partir deste fascínio colonial do islão como doutrina doméstica. Adoro o romance. Repito, a direita radical ensina-me mais agora do que o multiculturalismo. Mas há outro escritor insano, francês, Jean Raspail. Acho que Michel Houellebecq fez uma reescrita do livro de Raspail chamado Le Camp des Saints [1973]. É um romance muito popular na extrema-direita americana. Steve Bannon, o estratega de Trump, afirmou que é o seu livro preferido na literatura. É sobre a chegada de mais de um milhão de imigrantes da Índia à costa francesa. Cem barcos chegam como uma grande armada, quase uma invasão, e as ruas ficam cheias dessa gente pobre, faminta e moribunda e o resto do romance é sobre o que acontece ao Sul, com a população a fugir para o Norte e o exército a descer. É o fim da civilização francesa, num ápice. Ele tem ideias apocalípticas sobre a demografia e de como isso é inevitável. Agora é lido como profético por essa direita radical. Dizem: aí está 2015, foi exactamente o que aconteceu. Ao criar os refugiados indianos, não quis distrair as mentes com o islão. Ele altera o que acha que são os factos para os tornar mais evidentes. Isto tem mais de 40 anos. É um romance horrível, muito mal escrito, mas de um modo estranho acho que Houellebecq está a reescrever esse texto. Edward Said denunciou o preconceito em relação ao islão e a sua representação, marcado pelo eurocentrismo. Perante tudo isto, como podemos agora ler aquele que é considerado o seu grande livro, Orientalismo (Cotovia, 2004)?Ele foi meu professor, grande amigo e mentor. Deve ser lido no sentido de um aviso sobre o que é agora a realidade diária: conflito de civilizações, violência de ambos os lados, o terror e a guerra contra o terror, a escalada desde os ataques ao World Trade Center. Todos os anos há uma nova escalada em direcção a um nível cada vez maior de loucura. Temos de mudar a nossa linguagem, o modo de pensar, alterar os nossos instintos ou o que tomamos como instintos, mas que são mais apreendidos que que outra coisa; não são coisas espontâneas que nasceram connosco. Aprendemos a pensar e a reagir emotivamente dessa maneira. É preciso empreender a laboriosa tarefa de mudar isso. Tornarmo-nos pessoas diferentes. Por isso o livro é mais relevante do que nunca. Não é sobre a representação de muçulmanos e árabes, é sobre esta história de violência entre o Ocidente e o mundo islâmico há séculos e de como ficar ciente disso e como começar a interromper esse processo de escalada constante. Dizia que é preciso mudar a linguagem: não parece coisa para uma geração. Mas há mudanças que vão acontecendo. Quando Donald Trump venceu as eleições americanas, muitos analistas disseram que se deveu a uma nova forma de linguagem. Pois. Talvez seja um motivo pelo qual o politicamente correcto deve ser questionado, o outro lado mostra o que parece não ser politicamente correcto. É abertamente racista, xenófobo. Quer dizer que se pode aprender acerca de linguagem com Trump?(Pausa) O politicamente correcto, especialmente na versão americana, cheia de interditos. . . como deverei pôr isto?O exemplo da n-word (eufemismo para nigger)?Sim, sim. Interdita. E, no entanto, ouvimos a palavra todos os dias na música contemporânea, no cinema americano, mas só é usada por afro-americanos, sejam cantores ou actores. Os filmes de Tarantino têm todos a n-word, mas dita por uma personagem negra. Na América nem se pode levantar a questão da imigração. Eu sou imigrante. Cheguei aos Estados Unidos para ir para a universidade, a minha formação anterior foi no Paquistão. Acho importante perguntar quais as implicações da imigração de massa, é estúpido fingir que nada irá mudar. Estamos a pedir que as coisas mudem, queremos que as coisas mudem, queremos fazer desta sociedade pós-colonial livre do imaginário racial do passado. São perguntas importantes; temos de as fazer abertamente e discuti-las. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Isto enquanto o inglês continua a ser a língua hegemónica, o tema do seu último livro, Forget English! (2016). Sim, a hegemonia global do inglês. É inevitável neste momento, não pode ser revertida, não podemos recuar a uma situação linguística anterior. Esqueçam o inglês? Não. Mas pensem mais nas outras línguas. Nos departamentos de inglês não se pensa por exemplo no que é a anglofonia. A anglofonia é só uma coisa bonita, as pessoas escreverem e pensarem em inglês em todo o lado! Mas tentem entender o que acontece quando falam inglês. Há uma diferenciação de classe no acesso? As línguas tradicionais estão a ser destruídas? É o que tento discutir nesse livro e a ideia de literatura mundial. É dominada pelo inglês. É preciso fazer as perguntas e não este non-sense de nem sequer poder mencionar a palavra “imigração” e dizer é tudo o mesmo, somos todos o mesmo. Não somos todos o mesmo. Trazemos diferentes histórias. Vir do lado do império ou do lado imperializado são duas coisas muito diferentes. Somos diferentes tipos de seres humanos em resultado dessa divisão. Por isso fala do paradoxo por detrás da ideia de igualdade?Sim. Igualdade não é o mesmo que semelhança. As tradições europeias geralmente equiparam igualdade e semelhança, e o multiculturalismo reproduz a semelhança; não é um modo de reconhecer a diferença. A diferença não é cultural. É histórica, são as diferenças históricas de diferentes populações. As heranças familiares vêm daí e formam seres humanos diferentes. Essa questão tem de ser central. O que temos é mau e queremos mudar, queremos criar outra coisa e estamos a mover-nos, mais e mais, no sentido de misturar populações diferentes, mas esta mistura não pode ser imaginada ou concebida em termos multiculturais. Não é só o imigrante que tem de fazer o esforço de mudar e ajustar-se. A questão é mudar as próprias sociedades nas quais o imigrante é assimilado. A questão é como é que as sociedades de acolhimento podem mudar e no que se poderão tornar no futuro. Não sabemos, mas tem de ser discutido de forma mais rigorosa e aberta. É o que vou tentar fazer no meu próximo livro. Esta Entrevista encontra-se publicada no P2, caderno de Domingo do PÚBLICO
REFERÊNCIAS: