Por que estão os EUA entre os mais perigosos do mundo para as mulheres?
A Fundação Thomson Reuters entrevistou 500 especialistas para determinar quais os países onde as mulheres correm mais risco. (...)

Por que estão os EUA entre os mais perigosos do mundo para as mulheres?
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 21 Africanos Pontuação: 7 Refugiados Pontuação: 5 | Sentimento -0.04
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Fundação Thomson Reuters entrevistou 500 especialistas para determinar quais os países onde as mulheres correm mais risco.
TEXTO: Índia, Afeganistão, Síria. . . Na lista dos dez países mais perigosos para as mulheres estão sobretudo estados em conflito ou onde os direitos das mulheres não são assegurados; mas o ranking definido por 500 especialistas a convite da Fundação Thomson Reuters fecha com os EUA. Trata-se do único país ocidental na lista, equiparado àqueles que dão as piores condições em termos de direitos e segurança às mulheres. A fundação entrevistou 500 especialistas para determinar em que países as mulheres correm mais risco de vida a partir de critérios como os cuidados de saúde, violência sexual, violência não sexual, práticas culturais, discriminação e tráfico de seres humanos. Nove dos dez principais países estão na Ásia, no Oriente Médio e em África. A lista abre com a Índia, Afeganistão, Síria; segue-se a Somália, Arábia Saudita, Paquistão, República Democrática do Congo, Iémen e a Nigéria; e termina com os EUA. Este último está na lista sobretudo por causa das acusações de assédio e violação sexual que surgiram em 2017 e deram origem ao movimento #MeToo, refere a fundação. Por isso, os EUA estão ao lado da Síria, em terceira posição, no que diz respeito à violência sexual, incluindo a violação, assédio, coerção e à falta de acesso à justiça em casos de violação sexual. O país que fica no topo desta lista é a República Democrática do Congo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Quanto à violência não sexual, mas que inclui a doméstica, os EUA ficam na sexta posição. O país não aparece nas listas dos dez mais cujos parâmetros observados foram os cuidados de saúde, tráfico humano, discriminação ou perigos associados a tradições culturais. O topo da lista global, que abrange todos os critérios avaliados, ou seja, o país considerado mais perigoso para as mulheres é a Índia, que tem o pior desempenho em três categorias: o risco de violência e assédio sexual, o perigo associado a práticas culturais tradicionais e a ameaça de se tornar vítima de tráfico humano, escravidão sexual e servidão doméstica. O relatório dá como exemplos dos perigos enfrentados pelas indianas os ataques com ácido, mutilação genital feminina, casamento infantil e o abuso físico. Não é a primeira vez que esta listagem é feita. A primeira foi em 2011 e alguns destes países – como a Índia, o Afeganistão, a Somália, o Paquistão ou a República Democrática do Congo – são agora repetentes. “Há três anos, os líderes mundiais prometeram eliminar todas as formas de violência e discriminação contra mulheres e meninas até 2030”, recorda a fundação, citada pela Newsweek. “Apesar dessa promessa, estima-se que uma em cada três mulheres sofram de violência física ou sexual durante a sua vida”, informa.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Jean-Marie Le Pen diz que vai fazer uma "fornada" com os que criticam a Frente Nacional
Polémica em França onde se exige um processo-crime contra o líder histórico do partido que ganhou as europeias. (...)

Jean-Marie Le Pen diz que vai fazer uma "fornada" com os que criticam a Frente Nacional
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150501223750/http://www.publico.pt/1639202
SUMÁRIO: Polémica em França onde se exige um processo-crime contra o líder histórico do partido que ganhou as europeias.
TEXTO: Um comentário anti-semita e racista do líder histórico da Frente Nacional, Jean-Marie Le Pen, abriu uma polémica em França, onde as organizações não governamentais exigem a abertura de um processo crime contra o antigo dirigente da extrema-direita. Num vídeo publicado no site da FN na Internet, Le Pen surge a conversar com uma interlocutora que lhe pede para comentar as críticas ao partido feitas por uma série de artistas e de outras personalidades, francesas e internacionais – entre eles Madonna, Guy Bedos (humorista), Yannick Noah (antigo campeão de ténis) e Patrick Bruel (cantor judeu). Le Pen é rápido na resposta e, a rir, diz: "Da próxima vez faremos uma fornada com eles". O vídeo foi retirado neste domingo, já a polémica estava aberta. E de pouco serviram as explicações que o líder histórico da extrema-direita francesa deu, entretanto. "A palavra 'fornada', que usei, não tinha qualquer conotação anti-semita a não ser para os [nossos] inimigos políticos e para os imbecis. Se há gente do meu campo que fez esse interpretação, não passam de imbecis". Louis Aliot, vice-presidente da FN e companheiro de Marine Le Pen (filha de Jean-Marie e actual líder do partido) disse que, se por um lado, Jean-Marie "usou bem o termo fornada", por outro "disse uma má frase". "Foi estúpido do ponto de vista político e um constrangimento". O partido que venceu as eleições europeias em França, com 25% dos votos, não quer perder o momento que lhe é favorável; Marine tem como próximo grande objectivo ser eleita Presidente de França. No Twitter, a ministra francesa para os Direitos das Mulheres, Najat Valaud-Belkacem, condenou Le Pen e disse que se o partido não o banir devido ao comentário, a FN "será para sempre o partido da náusea republicana". O SOS Racismo, em comunicado, exige que "nos próximos dias" seja aberto um processo contra Jean-Marie Le Pen, que acusa de ter "usado a mais grosseira lógica anti-semita". Comentanto as declarações de Aliot, esta organização disse também que o partido tem que deixar de minimizar as tiradas anti-semitas e racistas de Jean-Marie, chamando-lhes incidentes. O Movimento Contra o Racismo e pela Amizade dos Povos (Mrap), também classificou as palavras de Le Pen de "autêntico anti-semitismo" e anunciou que vai apresentar uma queixa contra o veterano político. Jean-Marie Le Pen já foi condenado em tribunal, mais do que uma vez, por incitamento ao ódio. Dias antes das eleições europeias, o pai da actual líder da Frente Nacional afirmou que as pressões de imigração que a Europa atravessa poderiam ser resolvidas com o vírus ébola. Le Pen também é conhecido por negar crimes contra a humanidade – classificou as câmaras de gás nazis como "um pormenor da História".
REFERÊNCIAS:
Étnia Judeu
Quem tem direito a erguer uma estátua?
A criação de um Memorial às Pessoas Escravizadas, na Ribeira das Naus, é de uma importância primordial. (...)

Quem tem direito a erguer uma estátua?
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.285
DATA: 2018-08-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: A criação de um Memorial às Pessoas Escravizadas, na Ribeira das Naus, é de uma importância primordial.
TEXTO: Quem tem direito a erguer uma estátua? Quem, tomando o pulso ao território, possui autoridade suficiente para fixar um ponto singular, estabelecer aí um centro e, projetando um raio abrangente, dizer: dentro deste círculo, que hoje aqui traçamos, incluímo-nos a todos nós? Em jogo, na forma como damos resposta a esta pergunta, está a construção de um futuro livre de apartheid, em que todos os seres humanos residentes em Portugal, independentemente da forma como sejam racializados, da sua classe social, identidade de género e orientação sexual, ou mesmo do seu grau de acesso formal à cidadania, tomem igual parte no projeto comum de gestão, fruição e salvaguarda do território nacional. As estátuas refundam a nação e religam-na com a terra de onde se destacam, recentrando os polos afetivos das comunidades que se recriam em seu redor. O atual debate em torno da designação do hipotético futuro museu lisboeta, que se ramificou entretanto em muitas e esclarecedoras discussões, é de grande interesse académico e cultural (ver, por exemplo, os artigos de Ângela Barreto Xavier, Afonso Ramos, Pedro Schacht e Rui Gomes Coelho). Porém, a discussão em curso tende a não responder à pergunta inicial. O direito a erguermos uma estátua ou um memorial não é o mesmo que o direito a ter um museu que nos seja dedicado, na sua temática ou funcionamento. Apenas o primeiro necessariamente envolve uma ação ativa por parte dos promotores do futuro monumento, e certifica o reconhecimento por todos do seu estatuto de igualdade cívica e social face aos demais grupos presentes no território. O erguer de um Memorial às Pessoas Escravizadas contesta o privilégio dos grupos que têm dirigido, até há bem pouco tempo em exclusivo, as políticas da memória nacionais. Que debate suscitou a fundação dos muitos ‘Monumentos aos Campinos’ espalhados pelo território português? Ou das ‘Estátuas dos Cavadores’, ‘Monumentos ao Emigrante’ e ‘Estátuas das Varinas’? Sabemos que mesmo estes monumentos, bem menos polémicos que as belicosas estátuas equestres, não nos representam a todos por igual. Contudo, nunca contestamos o direito a erguê-los dos grupos que se recriam em seu redor. Este acesso simbólico fácil, praticamente imediato, ao território nacional é ainda um privilégio branco, nitidamente abusado no caso da implantação da estátua do Padre António Vieira no Largo Trindade Coelho. Seria tarefa simples erguer no território português um monumento ao ‘Jornaleiro Galego’, às comunidades roma ou ciganas, ou mesmo às ‘Trabalhadoras das Limpezas’, na sua grande maioria mulheres negras? Ou, porque não, à ‘Rainha Njinga’, como bem sugere Cláudia Silva?Por este motivo, é vital que a discussão em torno dos projetos museográficos da Câmara Municipal de Lisboa não engula e secundarize a nossa apreciação científica e política do momento histórico de viragem que constituiu a vitória do projeto da Djass – Associação de Afrodescendentes, no âmbito do último orçamento participativo da capital. A criação de um Memorial às Pessoas Escravizadas, na Ribeira das Naus, é de uma importância primordial, e responde a uma necessidade mais básica, afetiva e carnal, do que aquela que dita a refundação epistemológica e metodológica da historiografia e da museologia nacionais, desbloqueando porém o caminho para estas reformas científicas. De forma a garantir que o futuro Memorial às Pessoas Escravizadas permita refundar um ‘nós’ mais vigoroso e inclusivo, é preciso ainda lutar para que a sua concretização não se condicione pelos detalhes logísticos de qualquer hipotético museu. Este memorial que, não sendo materialmente uma estátua, funciona socialmente como as ‘estátuas’ que tenho vindo a analisar conceptualmente, deve constituir um marco. Celebrando o acesso das comunidades afrodescendentes às políticas da memória que garantem vínculos simbólicos estáveis com o território nacional, ele quebra um longo monopólio que tem vindo a ser um dos privilégios da comunidade branca. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Atente-se, por um momento, à forma como as representações monumentais de africanos ou de portugueses negros são, na esmagadora maioria das vezes, o fruto de políticas da memória dominadas pelos interesses imediatos, e por vezes exclusivos, da comunidade branca. Contudo, a presença no território nacional de seres humanos racializados enquanto negros, durante um longo período sujeitos ao opróbrio da escravatura, é antiga, comprovada e contínua. Historicamente, é também permanente a negação do acesso a membros desta comunidade à igualdade plena de oportunidades e direitos, ou a medidas compensatórias e de descriminação positiva. Já no contexto das antigas colónias, depois das sucessivas etapas da abolição do tráfico negreiro (esparsas ao longo de grande parte do século XIX), os sistemas tributários diferenciados, o Código Penal de 1886 e os vários diplomas legais que instituíram o ‘Estatuto do Indígena’ garantiram a generalização do trabalho forçado até ao raiar das independências. Chegando aos nossos dias, o racismo institucional mantém vivo nas estruturas de poder o legado de todas estas iniquidades. As pessoas negras presentes em Portugal são herdeiras de vínculos seculares, estáveis e sofridos com o território, quer havendo estado os seus antepassados diretos cá fisicamente presentes, quer havendo estes contribuído à distância, com o seu trabalho, para o enriquecimento nacional. Têm portanto todo o direito a ver erguido um memorial que celebre esta história, e que refunde a nossa comunidade e os seus laços com o território num sentido mais justo. O Memorial às Pessoas Escravizadas não deve nunca ser uma mera parcela da narrativa museográfica de qualquer futuro Museu das Descobertas, da Viagem ou do Colonialismo. Um museu cumpre funções pedagógicas e científicas fundamentais, mas apenas um memorial é capaz de se constituir enquanto o centro a partir do qual possam irradiar para o território nacional todas as manifestações e lutas por uma cidadania mais justa, inclusiva e emancipatória. Restringir a presente discussão pública apenas à esfera das letras ou da museologia, e insistir em manter a conversa refém da discussão do passado, é uma forma de sofismar e adiar a transformação que este acesso direto ao território desencadeará, prolongando assim velhos privilégios. As acusações de anacronismo, de penitência histórica ou de ataque à memória coletiva meramente desviam a atenção deste simples facto: o que está hoje em jogo é o direito das comunidades afrodescendentes ou racializadas a um vínculo simbólico estável e definitivo com o território português, um que impossibilite e esvazie frases racistas como ‘volta para o teu país’, ou ‘boa viagem’, e que se materialize, de forma perene, numa ‘estátua’ ou memorial capaz de congregar e relançar no futuro a nossa comunidade nacional. O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
REFERÊNCIAS:
Telma Tvon trouxe a voz da juventude negra portuguesa para o romance
Amante de literatura, não encontrava obra que reflectisse a sua realidade. E assim nasceu Um Preto Muito Português, retratos da juventude negra dos subúrbios de Lisboa e de quem passa a vida a ser questionado: “De onde és?” (...)

Telma Tvon trouxe a voz da juventude negra portuguesa para o romance
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento -0.16
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Amante de literatura, não encontrava obra que reflectisse a sua realidade. E assim nasceu Um Preto Muito Português, retratos da juventude negra dos subúrbios de Lisboa e de quem passa a vida a ser questionado: “De onde és?”
TEXTO: Quando criou o protagonista do seu romance, Telma Escórcio da Silva seguiu opções menos óbvias: escolheu um homem, e ela é mulher; colocou-o como descendente de cabo-verdianos, e ela nasceu em Angola. “Achei que, se fosse uma mulher, muita gente ia achar que estou a falar da minha história”, conta. Rapper, Telma Tvon — como assina — escreveu Um Preto Muito Português depois de numa noite ter começado a rabiscar uma canção até se dar conta de que não conseguia parar. A música tinha o nome que dá título ao livro e sintetiza muito sobre as pessoas em quem se inspirou. É a história dela, mas também não é. Telma é alguém que “no papel” se sente “uma ‘preta portuguesa’, mas, na vivência, uma imigrante”, conta-nos nesta conversa no ISCTE-UL, onde fez mestrado em Serviço Social depois da licenciatura em Estudos Africanos na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e onde esteve quase a terminar o doutoramento em Sociologia. Romance dividido em capítulos, como “Quem sou eu?”, “Não sabes nada sobre nada”, “Xê Budjurra não fala política”, tem aventuras de amor e desamor, brigas, saídas à noite com amigos, gravidezes na adolescência, histórias com a polícia e tanta coisa que se passa nas vidas de jovens adultos, rapazes e raparigas. Centra-se no quotidiano da juventude negra que vive nos subúrbios de Lisboa, na Margem Sul ou na linha de Sintra, e é talvez o primeiro retrato desta realidade em romance, escrito por uma portuguesa negra, com ironia e humor. Esse Cabelo, de Djaimilia Pereira de Almeida, por exemplo, não fala do mesmo universo de pessoas, nem faz um zoom tão explícito às questões do racismo que atravessam o quotidiano de uma pessoa negra em Portugal como Telma Tvon o faz aqui. Aliás, o título é bem um reflexo do estilo que a autora assume na escrita: vai directo ao assunto para jogar com os clichés e os preconceitos. Telma Tvon recorreu a uma palavra com uma forte carga negativa — “preto” —, porque “a ideia era mesmo chocar”, explica. “A palavra ‘preto’ vem para ofender. Então decidi usar e dar a volta: é um preto muito português, com todo o orgulho inerente a isso. Quem escreve nas paredes não escreve ‘Negro vai para a tua terra’, escreve ‘Preto vai para a tua terra’. ”O título confronta também a idealização de um país homogeneamente composto por brancos, o preconceito que parte do princípio de que um negro não pode ser português. Por isso o romance arranca com a personagem principal a dizer: “Perguntam-se várias vezes donde sou. Sou filho de cabo-verdianos que há muito residem em Portugal. Sou neto de cabo-verdianos que nunca conheceram Portugal. ” E vai por aí a fora: “Eu até me licenciei, eu até falo português convenientemente. Ninguém sabe como lidar comigo, não sabe se sou preto o suficiente ou se ando a tentar passar por branco inconscientemente. ”Telma Tvon cresceu em Angola até aos 14 anos, ia lá todas as férias, passou por uma guerra civil, e isso “é completamente diferente de alguém que nasceu aqui” e acaba por ser empurrado para se identificar com um país africano ao qual nunca foi, explica. No livro caricatura a tendência para se perguntar a um negro em Portugal sobre a sua “origem”, criando uma barreira que diz: “Não te estou a aceitar como meu comparras, tens uma cor diferente. ”Quem se confronta com estas questões tem de estar “sempre a explicar que é um preto português”, comenta. “Eu tenho mais anos de vida aqui do que em Angola. E, no entanto, essa questão vem sempre. Faz-me confusão quando os meus amigos respondem. Digo logo: ‘Não tens nada que dizer que os teus pais são cabo-verdianos ou são guineenses. Acabou: és tuga!’” Quem lhes pergunta que saia dali com esse TPC: se a pessoa não quis responder, tem de pensar sobre isso. ”Telma absorveu expressões, aprendeu crioulo, grande parte dos amigos identificam-se como cabo-verdianos. Foi, por isso, natural criar uma personagem que fosse cabo-verdiana e dar-lhe o nome de Budjurra. Há quem lhe pergunte: “Ah, escreveste isto a pensar em mim?” Porque ela vai buscando influências “daqui e dali”, dos amigos. “Budjurra é alcunha para cabo-verdiano, como o santomense é ‘santola’, o angolano é ‘mangope’, o moçambicano é ‘moçambas’ e o guineeses é ‘guitarra’. Achei simbólico esse preto muito português ter essa alcunha, porque é um filho de cabo-verdianos que nunca esteve em Cabo Verde. ”Estas são histórias de aventuras e também funcionam como diário da vida personagem, das suas angústias e do modo como observa a discriminação acontecer à sua volta. A linguagem é coloquial. Telma usa muito calão e esta é uma escrita que fala. É ficção, mas documenta, com episódios e personagens, o que acontece a centenas de jovens que tiram um curso superior e acabam num call center; são os únicos negros da turma e são objecto dos olhares de desconfiança quando desaparece alguma coisa; são interpelados pela polícia e levados para a esquadra quando deviam ir para o hospital; têm encontros com skinheads que acabam em ameaças físicas. Muita da acção de Um Preto Muito Português passa-se nas periferias da Área Metropolitana de Lisboa. Telma Tvon queria centrar-se nas pessoas que facilmente “se tornam invisíveis”. “Se não é alguém fashion, um cantor da moda, um desportista, parece que aquelas pessoas não têm representação. Porque é que, por exemplo, quase ninguém fala das senhoras da limpeza? Quando fui estudar Sociologia, falava-se numa perspectiva meramente de dados, eram 15 pessoas enfiadas numa estatística. Onde está a senhora Isabel que tem cinco filhos e sai de casa às 4h?”Como não encontrava as histórias das senhoras Isabel e dos Budjurras, quis colmatar essa lacuna. E inevitavemente trouxe as questões da discriminação. “Resolvi escrever sobre estes temas porque sentia que havia grande carência. Adoro ler, procurava imensa literatura onde não revia a vida das pessoas. Eu via estatísticas, lia contos, fábulas e nenhum sobre o qual pensasse: isto é a vida daquela senhora do Bairro 6 de Maio, daquele rapaz de Monte Abraão, daquela miúda que conheci na Arrentela. Eu própria, sendo afectada por questões raciais, por mais que quisesse falar de outras pessoas tinha de falar sobre isso. Tentei dar a volta, não falar de mim, mas ao mesmo tempo estou a falar de mim. Isto é uma questão de calçar os sapatos dos outros. Se o Joaquim em Belas está a passar por estas situações, eu, Telma, mulher negra, identifico-me com isso. ” Acrescenta: “E não é preciso a pessoa ser negra para sentir a dor do outro. ”Assistente social neste momento, Tvon já teve dezenas de empregos, como em assistência de back office, que acumulava com os estudos. Foi das poucas mulheres no rap em Portugal, onde começou pelos 16 anos. Juntava-se com as amigas em casa umas das outras, ia a concertos de “grandes referências” — aliás, a personagem Budjarra fala em nomes como Chullage, a quem presta homenagem. Fez parte das Backwords, com Lady, LG, Zau, das Hardcore Click e por fim, com Geny, das Lweji. Eram mulheres num meio predominantemente masculino onde ouviam coisas como: “Para mulheres até cantam bem. ” Foi uma época sobre a qual diz: “Não troco por nada. Havia grande comunhão, saíamos da linha de Sintra para ir para a Moita, para o Barreiro ver o concerto dos grupos de lá, e puxarmos uns pelos outros. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Nunca parou de escrever, mas parou de gravar. Olhando para trás, sente que durante anos andou “meio adormecida” por pensar que não tinha legitimidade para falar de certas coisas. “Deixava tudo um bocado por cima, por insegurança. Quando comecei a fazer voluntariado, percebi que posso fazer coisas mais práticas. E nessa altura ganhei consciência de que temos de fazer aquilo que os nossos familiares não conseguiram fazer. Não podemos dizer que nos deram a oportunidade de vir para aqui e por isso não devemos fazer barulho. Já não é assim: as pessoas têm direitos, trabalham que se fartam. ”Leitora de Chimamanda Ngozi Adichie, Paulina Chiziane, Pepetela, Mia Couto, José Luís Peixoto, Ondjaki, Kalaf, entre outros, ao primeiro livro Tvon não se vê como escritora, mas como contadora de histórias. “Talvez quando tiver três ou quatro livros!”, ri. Tem estado a trabalhar no próximo romance. Mas esperemos que seja publicado por outra editora, porque é inaceitável que a Chiado Editora tenha posto a circular Um Preto Muito Português sem fazer a revisão de texto que merece — é um desrespeito pela autora e pelos leitores.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Retrato da desigualdade racial em Portugal
Associações elaboraram retrato das desigualdades raciais em Portugal com dados que vão da educação à habitação. (...)

Retrato da desigualdade racial em Portugal
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20190710235039/https://www.publico.pt/1753490
SUMÁRIO: Associações elaboraram retrato das desigualdades raciais em Portugal com dados que vão da educação à habitação.
TEXTO: Dividida em várias áreas – educação, justiça, violência policial, condições de vida, trabalho, habitação e saúde, nacionalidade, cidadania e mulheres negras – a carta das associações enviada à ONU faz um retrato das desigualdades raciais em números para mostrar porque se devem ter políticas específicas para comunidades afro-descendentes. Apesar de em Portugal não ser permitida a desagregação de dados por origem racial ou étnica, como acontece nos Estados Unidos da América e no Reino Unido, é possível chegar a algumas conclusões através da nacionalidade de origem. O que os números que mostram são, então, "apenas tendências das desigualdades e estão longe de fazer a fotografia completa e garantir o acompanhamento ao longo do tempo dos progressos ou retrocessos das desigualdades", explica a socióloga Cristina Roldão, co-autora do estudo os Afrodescendentes no sistema educativo, que tem amplamente trabalhado este tipo de dados e também subscreve a carta. "Cada vez mais temos jovens negros que nascem em Portugal e cujos pais são portugueses e portanto não temos informação nenhuma sobre esta população. " Por isso, um das reivindicações das associações agora unidas na plataforma Afrodescendentes Portugal é a “consagração da recolha de dados com base na pertença étnico-racial, recomendada em 2011 pela ONU” . Os alunos com nacionalidade dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) reprovam 3 vezes mais no 1º ciclo e sofrem o dobro das taxas de reprovação no 2º e 3º ciclos e ensino secundário. As taxas de encaminhamento de alunos dos PALOP para o ensino profissional no secundário atingem quase os 80%, o dobro da dos portugueses; os afrodescendentes de origem cabo-verdiana, guineense e santomense acedem cinco vezes menos ao ensino superior. “Há uma quase total ausência de afrodescendentes negros nos lugares de produção e reprodução de conhecimento, como professores e cientistas”, escrevem. Os dados são de 2013/2014, e do Censos de 2011. A taxa de encarceramento de pessoas com nacionalidade dos PALOP é 15 vezes superiores à dos portugueses (1, 5% versus 0, 1%, dados de 2011 da Direcção Geral de Reinserção Social). Há ainda “permanentes agressões, por parte de agentes de segurança, a cidadãos desarmados dos bairros periféricos com forte presença de afrodescendentes negros”, dizem na carta enviada à ONU. Exemplos: "actos de tortura e de ódio racial", como, apontam na carta, os praticados por agentes policiais na esquadra de Alfragide, contra habitantes do Bairro do Alto da Cova da Moura, em 2015. Desde 1995, com o assassinato Alcino Monteiro, morreram às mãos da polícia dezenas de jovens negros, escrevem, dando exemplos das mortes de Elson Sanches (KUKU), Carlos Reis (PTB), Diogo Borges (Musso), José Carlos (Teti), Ângelo Semedo (Angoi), Manuel Pereira (Tony) e Nuno Rodrigues (Snake). As pessoas com nacionalidade dos PALOP estão, em termos relativos, três vezes mais em profissões menos qualificadas (ISCO – Elementary Occupations, 2011), e para esse mesmo tipo de profissões, recebem, em média, menos 103 euros mensais (dados 2009, Quadros de Pessoal do Ministério do Emprego e Segurança Social). Têm o dobro da taxa de desemprego (29, 8 versus 12, 9%, INE, 2011). Na habitação, estão sete vezes mais em alojamentos “rudimentares” (INE, 2011), e muitos afro-descendentes negros vivem em territórios segregados, designadamente em bairros de realojamento social na periferia dos centros urbanos, escrevem. A idade média de óbito dos nascidos nos PALOP é de 74 anos, enquanto para os nascidos em Portugal situa-se nos 78 (INE, 2000-2007) . Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A lei exclui o acesso imediato à nacionalidade portuguesa àqueles que, nascidos em solo português, são filhos de imigrantes. Existem muitos afrodescendentes negros que tendo nascido em Portugal são considerados estrangeiros, não têm acesso a todos os direitos e benefícios de um cidadão português. "A concessão da nacionalidade a todos, independentemente da origem dos pais e do seu estatuto legal, é uma questão de direitos, mas também de reconhecimento da diversidade de identidades e culturas que compõem a sociedade portuguesa", defendem. O grupo sublinha que "a mulher afro-descendente negra continua a estar sub-representada nas posições de poder nos espaços políticos, financeiros, sociais e culturais e, sobre-representada nos serviços (na limpeza, hotelaria e restauração) pouco qualificados, mal remunerados e com vínculos e condições de trabalho precários".
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU PALOP
Soldados nas ruas de Joanesburgo e Durban para conter violência
Os confrontos diminuíram de intensidade, mas o Governo quer garantir que o rastilho da violência não se reacende. (...)

Soldados nas ruas de Joanesburgo e Durban para conter violência
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os confrontos diminuíram de intensidade, mas o Governo quer garantir que o rastilho da violência não se reacende.
TEXTO: O Exército sul-africano foi enviado nesta terça-feira para as ruas de Joanesburgo e de Durban para prevenir novos ataques contra imigrantes, apesar da acalmia que se vive nos últimos dias. A decisão foi anunciada pela ministra da Defesa, Nosiviwe Mapisa-Nqakula, que esclareceu que os soldados vão apenas apoiar a polícia e não substituí-la. “Mesmo o envio e o planeamento serão feitos sob as instruções da polícia”, acrescentou a ministra, citada pelo Mail and Guardian. É nas zonas mais afectadas pelos confrontos dos últimos dias que os soldados vão reforçar a segurança: na township (subúrbios sul-africanos de maioria negra) de Alexandra, a norte de Joanesburgo, e em algumas áreas da província de KwaZulu-Natal, onde se situa Durban. A violência explodiu nas últimas semanas com vários confrontos na região de Durban, que depois se estenderam a Alexandra – um local onde são frequentes episódios de violência com cariz xenófobo. Houve pelo menos sete mortos, entre os quais um cidadão moçambicano, e 300 pessoas foram detidas. Nos últimos dias, a intensidade dos confrontos diminuiu e as autoridades sul-africanas querem assegurar-se que não são reactivados. “Estamos a reclamar a autoridade de Estado da República da África do Sul”, disse a ministra, à saída do posto da polícia de Alexandra. Uma medida semelhante foi adoptada em 2008, quando episódios de violência xenófoba provocaram mais de 60 mortos em Joanesburgo e noutras cidades. Na altura o Exército também foi enviado para conter os confrontos que duraram várias semanas. O envio de forças militares foi visto como positivo pelo analista Helmoed Romer Heitman, entrevistado pelo Mail and Guardian, que considera que pode funcionar durante algum tempo “até as coisas acalmarem”. A partir daí, disse, “as questões devem ser resolvidas a um nível político”. Num país com uma elevada taxa de desemprego – 24%, dos quais mais de metade entre a população jovem –, a ira é canalizada contra as comunidades imigrantes, sobretudo de outros países africanos, e materializada em violência. Num apelo que deixou aos compatriotas, Mapisa-Nqakula deu a entender que o Governo considera haver uma orquestração por detrás dos conflitos que espera ganhar algo com a instabilidade no país. “Sul-africanos, não sejamos crédulos e vulneráveis perante as pessoas que têm os seus próprios interesses em destruir o Estado e o Governo da República da África do Sul, pessoas que querem provocar instabilidade permanente, que não querem a paz. ”
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Portuguesa, negra, cidadã europeia
Um governo de um país da UE que queira fazer sentir aos cidadãos europeus que não são bem-vindos só tem um caminho legítimo para o fazer — sair da União Europeia. (...)

Portuguesa, negra, cidadã europeia
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento -0.08
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um governo de um país da UE que queira fazer sentir aos cidadãos europeus que não são bem-vindos só tem um caminho legítimo para o fazer — sair da União Europeia.
TEXTO: Linda Pereira, uma estudante portuguesa de sociologia que é voluntária no Corpo Europeu de Solidariedade, foi agredida física e verbalmente, com insultos racistas — Linda é negra —, na cidade polaca de Sosnowiec onde trabalha com crianças em situação de vulnerabilidade emocional e social. Quando a polícia chegou após ter sido chamada, deu-se uma situação ainda mais reveladora: ao passo que os colegas que a ajudaram e tentaram salvar, também de outros países europeus, mas brancos, foram pedidos apenas os bilhetes de identidade, a Linda Pereira era pedido insistentemente o passaporte. O pressuposto é evidente: como se uma negra não pudesse ser cidadã europeia. Mas pode, e é, e é isso que faz de um caso como este especialmente merecedor de atenção. Comecemos pelo contexto. A Polónia é o país onde a pertença à União Europeia é mais popular. Em todos os eurobarómetros são sempre mais de noventa por cento os polacos a quererem que o seu país permaneça na União Europeia. E uma das principais razões para essa popularidade é, ao contrário do que se possa pensar, a liberdade de circulação. Com a liberdade de circulação na União Europeia, os polacos ganharam o direito de viver, estudar ou trabalhar em outros 27 países do continente europeu. Pois bem, aquilo que vale para os polacos no resto da União Europeia é também o que tem de valer para os outros cidadãos europeus na Polónia. A liberdade de circulação não pode ser sacrossanta para os polacos no resto da UE e um risco para os outros europeus na Polónia, se se der o caso de serem negros. Se cada país tem o direito de determinar as suas políticas de estrangeiros, de fronteiras e de imigração, não pode ser esquecido que a Polónia decidiu em plena consciência uma parte dessas políticas quando quis, através da adesão à UE, conquistar a liberdade de circulação para os seus cidadãos. De acordo com essa decisão soberana, a Polónia comprometeu-se a tratar uma cidadã europeia como Linda Pereira não como uma imigrante, mas como uma cidadã europeia exercendo direitos recíprocos de que os polacos também gozam. E pelos Tratados e pela Carta de Direitos Fundamentais, comprometeu-se a que esses direitos fossem usufruídos sem qualquer discriminação de origem ou racial. Isto é apenas a basezinha. O próprio governo polaco, ainda que seja agora um governo de um partido ultra-conservador e nacionalista, estará muito consciente de tudo o que foi dito atrás. O problema é quando governos como o polaco ou o húngaro acham que não têm de fazer o suficiente para que estes direitos sejam usufruídos na sua plenitude. Há anos que relatórios do Parlamento Europeu notam que as autoridades policiais e judiciárias polacas e húngaras não levam a sério os ataques racistas naqueles países e que os governos não fazem qualquer esforço para que haja uma mudança de atitude das autoridades no tratamento desses ataques. Jornalistas e ONG têm sugerido que esta desvalorização é deliberada, e que serve para demonstrar na prática que os estrangeiros não são bem-vindos. E isto é algo que não pode ser tolerado. Um governo de um país da UE que queira fazer sentir aos cidadãos europeus que não são bem-vindos só tem um caminho legítimo para o fazer — sair da União Europeia. Caso contrário, estará a dizer-nos que para todos os efeitos devemos considerar que os seus cidadãos devem ter mais direitos na nossa casa do que os nossos na casa deles. É por isso que o apoio a um cidadã europeia como Linda Pereira deve ir mais longe do que o apoio consular normal. É necessário questionar as autoridades polacas sobre o que está a ser feito para que as autoridades policiais mudem a sua atitude e passem a agir decididamente contra este tipo de ocorrências, ou para que não exijam a uma cidadã europeia negra documentação exagerada ou desnecessária. Os direitos que estão nos Tratados da UE e na Carta de Direitos Fundamentais não são meros direitos no papel, princípios abstratos que não se destinam a ser exercidos por ninguém. São direitos reais, para pessoais reais, pessoas como Linda Pereira. Se as circunstâncias tornam o exercício desses direitos especialmente difícil, é como se o direito não existisse. E isso é grave não só para Linda Pereira mas para todos nós. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas há mais. Linda Pereira é voluntária de um novo tipo de programa europeu — o Corpo Europeu de Solidariedade, que permite a jovens entre os 18 e os 31 anos realizarem ações de solidariedade na UE e fora dela (os voluntários recebem apoio de viagem, alojamento, refeições, seguros médicos e um pagamento para despesas diárias). O Corpo Europeu de Solidariedade é uma das poucas boas ideias a nascer nas instituições da UE nos últimos anos, mas exige delas responsabilidade acrescida — nomeadamente à Comissão Europeia. As famílias dos voluntários não podem estar incertas quanto à segurança dos seus familiares ou dependentes dos humores de juízes politizados por governos de extrema-direita. A Comissão Europeia tem de dar apoio acrescido a estes voluntários — uma linha permanente para emergências é uma boa ideia, um contacto imediato com as autoridades melhor ainda, apoio jurídico imediato e gratuito é indispensável. Os voluntários estão ao serviço da UE e devem ser tratados, durante a vigência do seu voluntariado, como se fossem funcionários dela. Linda Pereira decidiu, para já, não regressar da Polónia: “No meu trabalho com as crianças tenho percebido que tenho tido uma boa influência na vida delas. É uma boa influência ter alguém em termos culturais e mesmo em termos físicos diferente deles”. Ao ter estas considerações em mente, Linda Pereira está a fazer mais pelo projeto europeu do que muitos políticos. Mas não deve nem pode fazê-lo arriscando a sua segurança, e precisa da ajuda de todos os nós. Para que se perceba de uma vez por toda que ser cidadão europeu não é exclusivo de quem tem apenas um determinado tom de pele. O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
A propósito da comemoração da luta contra a discriminação racial
Se persistir a lógica do discurso radical e sectário, acabaremos a alimentar o problema em vez de o prevenir e combater. (...)

A propósito da comemoração da luta contra a discriminação racial
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-05-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: Se persistir a lógica do discurso radical e sectário, acabaremos a alimentar o problema em vez de o prevenir e combater.
TEXTO: Na passada quinta-feira, na comemoração do Dia Internacional de Luta contra a Discriminação Racial, a ministra Mariana Vieira da Silva alertou para a persistência de desigualdades estruturais e discriminações ocultas em Portugal. O debate público sobre as questões da discriminação racial é relevantíssimo, mas impressiona negativamente a ausência de um conhecimento sustentado sobre a dimensão do fenómeno e a existência de dados contraditórios, que potenciam, dum e doutro lado, discursos demagógicos e por isso pouco produtivos. Enquanto a Agência Europeia para os Direitos Fundamentais diz que a nossa taxa de discriminação étnico-racial, nos indicadores de violência e vitimização e integração no mercado de trabalho, está muito abaixo da média europeia (Being Black in EU), o European Social Survey diz, ao contrário, que temos um índice de racismo biológico e cultural bastante superior à média na Europa (investigação Atitudes Sociais dos Portugueses). No que se refere à incidência de discriminação racial nos sistemas de segurança pública e justiça, os dados disponíveis mostram também contradições difíceis de entender. Por um lado, diz-se que somos dos países europeus com mais violência policial (Comité Anti-Tortura do Conselho da Europa) e que a nossa justiça é “mais dura” para os negros, com desequilíbrios nas taxas de condenação e encarceramento prisional ("Racismo à Portuguesa”, PÚBLICO); mas, por outro lado, olhando para as estatísticas das queixas por práticas discriminatórias, vemos baixas taxa de incidência nas forças de segurança e na justiça, respectivamente de 5% e 2, 8% (Relatório anual 2017, CICDR). Já no que respeita à integração de imigrantes – indicador conexo com a incidência de racismo –, a situação de Portugal é muito favorável. As políticas de acolhimento e integração de estrangeiros (4, 1% em 2017, segundo a PORDATA) colocam o nosso país no 2. º lugar em 38 países analisados, só atrás da Suécia, na avaliação global dos índices de mobilidade no mercado de trabalho, reunião familiar, acesso a educação e saúde, participação política, residência permanente, aquisição da nacionalidade e políticas anti-discriminação (Migrant Integration Policy Index 2015). Na verdade, Portugal pode ser considerado um case study em matéria de acolhimento de imigrantes. Temos políticas e legislação de acolhimento em contraciclo com a tendência de fechamento na Europa, temos o Alto Comissariado para as Migrações, dependente da Presidência do Conselho de Ministros, dedicado à execução dessas políticas, temos centros de apoio descentralizados, que dão auxílio integrado aos imigrantes em matérias de extrema importância, como legalização da residência, educação, saúde, segurança social, registo civil, habitação, reunião familiar, sobreendividamento, emprego e condições de trabalho, que atendeu 279. 314 pessoas em 2017, em 14 idiomas, e temos normas de autorização de residência e aquisição de nacionalidade extremamente vantajosas. A isso acresce o facto de o nosso país não ter sido (ainda) “infectado” pelo vírus dos populismos nacionalistas. A representatividade dos partidos e movimentos que perfilham essas ideologias é residual entre nós, quando comparada com outros países europeus: Hungria (44, 9%), Polónia (37, 6%), Suíça (29, 4%), Dinamarca (21, 6%), Áustria (20, 6%), Bélgica (20, 4%), Finlândia (18%), Itália (18%), França (13, 7%), Suécia (13%), Reino Unido (12, 6%), Holanda (10%), Grécia (7%) e Alemanha (4, 7%) – (“Ressurgimento dos Nacionalismos na Europa”, Joana Lopes). Portanto, em balanço, as políticas públicas do Governo para o acolhimento e integração de imigrantes e para prevenir e combater a incidência de factores de racismo em Portugal são muito positivas e devem orgulhar-nos no contexto do espaço europeu. Há, no entanto, uma necessidade de aprofundar o conhecimento da verdadeira dimensão do problema, o que só se conseguirá com o envolvimento das instituições públicas relevantes e das organizações não-governamentais dedicadas a esta temática. De outra maneira, se persistir a lógica do discurso radical e sectário, seja em que sentido for, acabaremos a alimentar o problema em vez de o prevenir e combater.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos violência educação racismo social discriminação
Obama tem um sonho: igualdade económica para todos os americanos
O aniversário do discurso I Have a Dream serviu ao primeiro Presidente negro dos Estados Unidos para fazer um apelo ao activismo. “Não somos reféns dos erros da história”, afirmou (...)

Obama tem um sonho: igualdade económica para todos os americanos
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.2
DATA: 2013-08-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: O aniversário do discurso I Have a Dream serviu ao primeiro Presidente negro dos Estados Unidos para fazer um apelo ao activismo. “Não somos reféns dos erros da história”, afirmou
TEXTO: Quando o Presidente norte-americano surgiu nas escadas do Lincoln Memorial em Washington, ocupando o mesmo lugar onde há 50 anos Martin Luther King fez o seu mais famoso discurso, I Have a Dream, e profetizou uma sociedade pós-racial, as expectativas eram imensas. Mas o orador que falou nesta quarta-feira, num dia chuvoso, apresentou um discurso familiar — tão familiar que os junkies políticos de Washington foram buscar os primeiros e famosos discursos de Obama (como o que fez na Convenção Democrata em 2004) para concluir que eram semelhantes. Obama mencionou a palavra “raça” seis vezes, sempre num contexto genérico (“todas as raças”), e actualizou o “sonho” de King para os dias de hoje. Ele nunca disse as famosas palavras “eu tenho um sonho”, mas deixou claro qual é a causa desta nova era: igualdade de oportunidades, não só para “alguns”, mas para “muitos”, para o “segurança negro, o operário siderúrgico branco e o lavador de pratos imigrante”. Ele notou, como tem vindo a fazer em entrevistas, que os oradores de 1963 também vieram a Washington reclamar empregos decentes e oportunidade económica, não apenas o fim da segregação racial. Muitos esperavam que este fosse o primeiro discurso de Obama sobre raça desde a sua primeira campanha presidencial em 2008. O primeiro Presidente negro da América decepcionou muitos negros por raramente falar de questões raciais em público durante o seu primeiro mandato e alguns dos seus críticos esperavam que ele corrigisse isso no seu discurso de quarta-feira, animado pelo espírito de outro grande líder negro americano, King. Afinal, há um mês, no rescaldo do veredicto sobre o homicídio do adolescente negro Trayvon Martin, Obama falou francamente sobre o tema, notando que existem poucos afro-americanos que não tenham experimentado preconceitos raciais — incluindo ele. Ele reconheceu, como tantos oradores antes dele, incluindo dois ex-presidentes, Jimmy Carter e Bill Clinton, que o sonho de King não foi completamente cumprido. Mas converteu essa constatação num apelo ao activismo — como o organizador comunitário que foi em tempos, antes da sua carreira política. “Manter as conquistas que este país fez requer vigilância constante, em vez de complacência”, disse. “A Marcha em Washington mostrou-nos que não somos reféns dos erros da história. Somos mestres do nosso destino. ” E também: “A mudança não vem de Washington, mas para Washington”, disse. Obama fez apenas uma breve referência ao seu lugar único no progresso racial da América dizendo que por causa das pessoas que marcharam há 50 anos, “eventualmente, a Casa Branca mudou”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homicídio negro adolescente igualdade imigrante raça
Líder do partido grego Aurora Dourada fica detido
Nikos Mihaloliakos ficou detido na madrugada desta quinta-feira por suspeitas de organização de um grupo criminoso, assassínio, ataques violentos e lavagem de dinheiro. (...)

Líder do partido grego Aurora Dourada fica detido
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.15
DATA: 2013-10-03 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nikos Mihaloliakos ficou detido na madrugada desta quinta-feira por suspeitas de organização de um grupo criminoso, assassínio, ataques violentos e lavagem de dinheiro.
TEXTO: O líder do partido grego de extrema-direita Aurora Dourada, Nikos Mihaloliakos, ficou detido preventivamente depois de ter sido interrogado em tribunal por suspeitas de organização de um grupo criminoso, assassínio, ataques violentos e lavagem de dinheiro. A audiência, que começou na quarta-feira e que se prolongou pela madrugada, terminou ao fim de mais de seis horas com a decisão judicial de que Mihaloliakos deveria ficar detido, à semelhança de um outro deputado do seu partido, avança a BBC. Esta é a primeira acção deste género contra um líder partidário eleito em décadas. O líder do Aurora Dourada foi um dos seis parlamentares detidos durante o fim-de-semana, na sequência de suspeitas do assassinato de um músico anti-racista, Pavlos Fyssas. Na quarta-feira, outros três deputados do partido do Aurora Dourada foram libertados sob fiança, ficando um quarto a aguardar julgamento na prisão. Nenhum deles poderá sair do país até o caso estar encerrado. Fica por ouvir o seu "número dois", Christos Pappas, que se entregou no domingo à polícia depois da detenção do líder, no sábado. Até agora todos negaram qualquer responsabilidade pelas acusações que lhes são imputadas. De acordo com o jornal grego Ekathimerini, durante o interrogatório o líder do Aurora Dourada lamentou a morte do músico mas disse não ter tido qualquer envolvimento do caso. "Eu não sou um nazi", insistiu. Já à saída, quando era acompanhado pelos polícias para a prisão, escreve a Reuters, Mihaloliakos reforçou aos jornalistas a mesma ideia e acrescentou: "Longa vida para a Grécia, vitória". A libertação de três dos quatro deputados levou muitos a questionar a força do caso contra os políticos e membros do Aurora Dourada, iniciado após o assassínio de um activista de esquerda por um apoiante do partido. Até agora foram detidas 22 pessoas e continuam as buscas em casas de pessoas ligadas ao partido. Organizações de direitos humanos já vinham a alertar para a violência cometida por elementos deste grupo contra imigrantes – uma violência que aumentou com a eleição de 18 deputados para o Parlamento nas eleições do ano passado. Testemunhos de dois antigos membros falam de uma estrutura bem organizada e coordenada, com lideranças fortes, treino paramilitar e ataques programados. O partido – que favorecia a entrada de homens com treino em artes marciais – terá campos de treino para uso de armas de fogo. Na sede foram encontrados bastões, facas e matracas. Durante a investigação, a polícia encontrou também armas (sem licença) em casa do líder do partido, que estão a ser submetidas a testes balísticos. O partido Aurora Dourada passou da irrelevância (nem 1% dos votos) nas eleições de 2009 para uma votação de quase 7% (que lhe deu 18 deputados) em 2012. A crise foi o principal catalisador do partido, que aproveitou o mau funcionamento das instituições e promoveu acções de segurança a moradores de zonas cada vez mais afectadas pela criminalidade e distribuiu comida e roupa, em acções destinadas apenas a cidadãos gregos. A chegada de imigrantes à Grécia – que procuram passar para outros países da Europa mas ficam concentrados no centro de Atenas – também foi terreno fértil para as ideias anti-imigração do partido, que defende a expulsão dos imigrantes.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos morte homens humanos violência imigração tribunal prisão género assassinato racista assassínio