Extrema-direita: Farage, Le Pen e Wilders em rota para vencer eleições europeias
Sondagens indicam que um novo grupo parlamentar, liderado pela Frente Nacional e pelo Partido da Liberdade holandês, pode surgir no Parlamento Europeu. (...)

Extrema-direita: Farage, Le Pen e Wilders em rota para vencer eleições europeias
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.4
DATA: 2014-04-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Sondagens indicam que um novo grupo parlamentar, liderado pela Frente Nacional e pelo Partido da Liberdade holandês, pode surgir no Parlamento Europeu.
TEXTO: A quatro semanas das eleições europeias, as sondagens mostram que o terramoto que se anuncia há meses está perto de se concretizar: no Reino Unido, em França e na Holanda, as projecções colocam na frente das intenções de voto os partidos xenófobos e populistas, que, imunes a polémicas, parecem ter encontrado a fórmula certa para tirar o melhor partido do descontentamento dos eleitores. Uma sondagem publicada no domingo pelo jornal Sunday Times atribuiu ao Partido da Independência do Reino Unido (UKIP) 31% das preferências, três pontos acima dos trabalhistas, com os conservadores reduzidos a 19% a um inédito terceiro lugar em votações nacionais. Um cenário já admitido por analistas, mas que só agora ganha força nas sondagens: o estudo do instituto YouGov é apenas o segundo em 16 realizados neste ano a prever a vitória do partido de Nigel Farage e o primeiro a atribuir-lhe mais do que dois pontos de vantagem sobre o Labour. O UKIP, que faz da saída da União Europeia a razão da sua existência, cresce à custa dos tories, da quase aniquilação do Partido Nacional Britânico (dos 6% que em 2009 lhe valeram a eleição de um eurodeputado, o BNP obtém agora menos de 1%), e Farage admite que o seu alvo são agora os eleitores trabalhistas das cidades operárias do Norte, receosos de que o aumento da imigração reduza os salários no país. Uma subida que não é travada pelos escândalos ou a má imprensa – sucedem-se os militantes do partido desautorizados por causa de afirmações racistas e o próprio Farage foi visado numa investigação do Times por causa de despesas abusivas que apresentou enquanto eurodeputado. “É muito preocupante ver que eles desenvolveram uma imunidade em relação à verdade”, disse ao jornal Guardian o antigo ministro trabalhista Peter Hain, para quem a verdadeira arma do UKIP não é o eurocepticismo, mas a ideia de que são um partido anti-sistema e que lhes permite canalizar o voto de quem sente os efeitos da crise europeia e não se revê já nos partidos tradicionais. Cenário idêntico, a mesma tendência verifica-se em França, onde duas sondagens divulgadas no final da semana passada atribuem à Frente Nacional 24% das intenções de voto, dois pontos acima da UMP (direita) e a quatro dos socialistas. “O nosso objectivo é ficar na frente a nível nacional”, insiste Marine Le Pen, que depois dos bons resultados nas municipais espera transformar as eleições de 25 de Maio no trampolim definitivo para a primeira fila da política francesa. E as boas notícias para Le Pen não se esgotam em França. As previsões da Pollwatch2014, que analisa a tendência das sondagens nos 28 países da UE, indicam que a aliança que a Frente Nacional firmou com o Partido da Liberdade (PVV) do holandês Geert Wilders (que parece ter ultrapassado o escândalo que provocou ao defender “menos marroquinos em Haia” e que lidera de novo as intenções de voto) pode dar origem a um novo grupo no Parlamento Europeu. Para formar um novo bloco parlamentar são precisos pelo menos 25 eurodeputados de sete Estados-membros – a última projecção da Pollwatch2014 indica que a aliança entre a FN e o PVV, a que se juntaram entretanto o Partido da Liberdade austríaco, a Liga Norte italiana, o Vlaams Belang da Bélgica e dois pequenos partidos de extrema-direita da Suécia e da Eslovénia poderão eleger 38 deputados, o que lhes garantiria ajudas de dois milhões de euros por ano. De fora deste bloco ficam os partidos neonazis da Aurora Dourada (Grécia) e Jobik (Hungria) e também o UKIP que, pela segunda vez, recusou o convite que lhe foi endereçado por Le Pen. O partido de Farage explica que, apesar do discurso mais moderado da filha de Jean-Marie Le Pen, a FN tem “no seu ADN o preconceito, e em particular anti-semitismo” que diz repudiar.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Portugueses condenados a prisão por casamentos de conveniência
Julgamento que decorreu durante seis semanas no Tribunal de Leicester terminou com condenação de três homens e duas mulheres. (...)

Portugueses condenados a prisão por casamentos de conveniência
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 11 Africanos Pontuação: 7 Mulheres Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Julgamento que decorreu durante seis semanas no Tribunal de Leicester terminou com condenação de três homens e duas mulheres.
TEXTO: Cinco portugueses envolvidos na organização de casamentos por conveniência foram condenados a penas de um a quatro anos e oito meses de prisão por um tribunal britânico, informou nesta quinta-feira fonte judicial. A sentença foi declarada a 16 de Abril no Tribunal Criminal de Derby, após um julgamento que decorreu durante seis semanas, entre Fevereiro e Março, no Tribunal de Leicester (que só nesta quinta-feira disponibilizou a informação à agência Lusa). Em causa estava a organização de casamentos falsos entre noivos portugueses e nacionais da Nigéria e Camarões para facilitar a residência permanente destes últimos no Reino Unido. O caso foi desencadeado pela descoberta, em Outubro de 2011, de um casamento falso na Câmara Municipal de Leicester, onde se realizam uniões civis, entre a portuguesa Sandra Semedo e o estudante nigeriano Michael Olayanju Olayemi. As autoridades impediram a cerimónia e detiveram o casal, tendo descoberto que Sandra Semedo tinha chegado de avião de Lisboa poucos dias antes para se casar com Olayemi, revelou o procurador público Timothy Bowden, citado pelo jornal local Leicester Mercury. As suspeitas aumentaram quando a polícia apurou que o padrinho do nigeriano, o camaronês Michel Essome, já tinha usado o mesmo expediente e casado com uma portuguesa para conseguir permanecer no Reino Unido em 2002. Na altura da operação policial, Essome levantou suspeitas ao afirmar que estava acompanhado pela esposa portuguesa, quando, na verdade, a mulher era a irmã. Durante a investigação, as autoridades britânicas perceberam que estava envolvido outro português, Honório Semedo, que tinha casado com a nigeriana Violet Ighomereho em 1998 num cartório em Londres, apesar de viver em Leicester com a compatriota Ana Gonçalves. Apesar de os dois se terem divorciado oito anos mais tarde, Ighomereho obteve cidadania britânica. As inquirições das autoridades levaram à descoberta de que também o irmão de Honório Semedo, António, estava envolvido num casamento por conveniência com Irene Akinremi, que conseguiu autorização de residência permanente graças a documentos falsos: os dois declaram que viviam juntos em Londres, mas António Semedo vivia com a família e filhos em Leicester. Outra noiva portuguesa, de Lisboa, chegou a ser recrutada para se casar com Josiah Blessing, mas a cerimónia em Nottingham foi cancelada e o nigeriano tentou obter direito de residência com recurso a documentos falsos, o que foi recusado. Honório Semedo foi condenado a quatro anos e oito meses de prisão, António Semedo a 27 meses, Luís Cabral a 16 meses e Ana Gonçalves e Ana Cabral a 16 meses. As condenações foram enaltecidas pelo secretário de Estado da Imigração e Segurança, James Brokenshire, que invocou o mérito da lei para a imigração, que determina um período mais longo para os editais de casamento, o dá mais tempo às autoridades para investigarem casos suspeitos. "Este caso mostra que os procedimentos que estamos a tomar contra os casamentos por conveniência estão a funcionar e que os gangues criminosos envolvidos não vão escapar à justiça", afirmou, citado num comunicado.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei imigração tribunal mulher prisão casamento
A escrava preferida de Thomas Jefferson já tem um quarto na mansão de Monticello
O principal autor da Declaração de Independência dos EUA, onde se defende que "todos os homens são criados de forma igual", foi proprietário de 600 escravos e teve filhos com uma escrava. A Fundação Thomas Jefferson vem agora propor um debate sobre essas contradições. (...)

A escrava preferida de Thomas Jefferson já tem um quarto na mansão de Monticello
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: O principal autor da Declaração de Independência dos EUA, onde se defende que "todos os homens são criados de forma igual", foi proprietário de 600 escravos e teve filhos com uma escrava. A Fundação Thomas Jefferson vem agora propor um debate sobre essas contradições.
TEXTO: Quase 200 anos depois da morte de Thomas Jefferson, muitos americanos continuam a coçar a cabeça à procura de uma explicação para as contradições na vida do seu terceiro Presidente. A sua filosofia de liberdade deu forma à Declaração de Independência dos Estados Unidos da América e à afirmação de que todos os homens são iguais à nascença, mas a sua defesa pseudocientífica do racismo fez dele um dos mais célebres e convictos esclavagistas do estado da Virginia, que não hesitava em separar famílias como forma de punição. Para sublinhar estas contradições, a fundação que gere a memória da gigantesca plantação de Monticello, na Virgínia, onde Jefferson viveu grande parte da sua vida, inaugurou no passado fim-de-semana uma exposição polémica: num dos quartos, os visitantes podem agora conhecer a vida de Sally Hemings, a escrava que terá sido mãe de seis filhos de Thomas Jefferson. A existência dessa relação de várias décadas, iniciada depois da morte da primeira e única mulher de Jefferson, Martha, é aceite pela generalidade dos historiadores. Mas nem sempre foi assim. Durante dois séculos, os que se atreveram a unir os pontos deixados pela História e a dar credibilidade aos testemunhos orais das gerações que diziam descender do casal foram sempre rotulados pelos admiradores de Jefferson como uma espécie de historiadores de mexericos – escritores em busca de fama que transformavam aquilo que pareciam ser vinganças pessoais com 200 anos em supostas revelações polémicas na actualidade. A história conta-se em poucos parágrafos. Tudo começou em 1802, nas páginas do jornal Recorder, quando um jornalista chamado James Callender, conhecido por lançar ataques venenosos contra inimigos políticos de Thomas Jefferson, se virou contra o seu antigo aliado, depois de lhe ter sido negado o posto de responsável dos correios na Virginia. Num artigo intitulado "O Presidente, mais uma vez", Callender acusou Jefferson de hipocrisia ao esconder uma relação com uma das suas escravas: "Ela chama-se Sally. O filho mais velho dela chama-se Tom. Dizem que as feições dele têm parecenças impressionantes com as do Presidente, embora mais escuras", escreveu Callender. O tema foi muito falado na época, mas o Presidente Jefferson, no cargo há dois anos, não fez qualquer comentário público e tudo acabou por ser varrido para os rodapés de conversas em surdina, até se diluir na passagem das décadas e dos séculos. Tudo mudou em 1998, com a publicação de um estudo na revista Nature. Depois de analisar o ADN de descendentes masculinos dos Jefferson e dos Hamings, uma equipa de investigadores concluiu que "a explicação mais simples e mais provável" é que Thomas Jefferson foi o pai de Eston Hemings, o filho mais novo de Sally Hamings, nascido em Maio de 1808. Em termos científicos, os investigadores apenas podem afirmar que o pai de Eston Hemings era um Jefferson — e não o Jefferson —, mas os historiadores e os especialistas na vida e obra do Presidente americano passaram a aceitar essa forte probabilidade como um facto, já que as investigações complementares apontam para o mesmo resultado. Por exemplo, através dos registos de viagens, só é possível colocar um dos Jefferson na plantação de Monticello por alturas da concepção dos seis filhos que Sally Hemings teve entre 1795 e 1808: Thomas Jefferson. Isto, mais a investigação publicada na Nature, mais os testemunhos à época e as histórias de família passadas de pais para filhos nos últimos dois séculos, levou a Fundação Thomas Jefferson (referida, por vezes, pelo nome da plantação, Monticello) a pôr um ponto final na discussão há duas semanas: “Monticello afirma que Thomas Jefferson concebeu filhos com Sally Hamings. ”No texto publicado no seu site, a fundação salienta também o facto de que os filhos da escrava Sally Hemings “foram autorizados a abandonar a plantação ou a tornaram-se emancipados com o testamento de Jefferson, uma ocorrência única entre as famílias escravizadas em Monticello”. Mas a decisão de pegar na história de Hemings e de a colocar no centro da nova exposição em Monticello levantou outros problemas, para além de comunicar aos visitantes — e, por extensão, a todo o povo americano — que a vida de um dos mais importantes presidentes do país deve ser vista com outros olhos sempre que a sua frase mais conhecida é repetida: “Consideramos estas verdades evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados de forma igual, que são dotados pelo seu Criador com certos Direitos inalienáveis, entre estes a Vida, a Liberdade e a busca da Felicidade. ”Como qualquer escravo, Sally Hemings não tinha nenhum direito — e muito menos o direito a recusar-se a ter relações sexuais com os seus proprietários. E, para além de ser escrava, Sally era adolescente quando a relação entre os dois começou — Thomas Jefferson, o seu proprietário, já tinha mais de 40 anos. “Não é mesmo possível saber qual foi a dinâmica” dessa relação, disse a presidente da Fundação Thomas Jefferson, Leslie Greene Bowman, ao New York Times. “Foi violação? Houve afecto? Sentimos que tínhamos de apresentar um leque de pontos de vista, incluindo o mais doloroso de todos. ” No quarto das memórias de Sally Hemings, os visitantes são agora confrontados com essas dúvidas através da palavra “violação”, seguida de um ponto de interrogação. Na era do movimento #MeToo, e num momento da História dos Estados Unidos em que as relações entre brancos e negros voltam a ser discutidas sob uma nova perspectiva, muitos americanos olham para a exposição em Monticello como mais uma tentativa de se reescrever o passado. Grupos como a Thomas Jefferson Heritage Society foram criados para resistirem a qualquer tentativa de se olhar para o terceiro Presidente norte-americano como um homem complexo, com várias camadas e cheio de contradições. Um homem que tanto é reconhecido pela sua defesa intransigente da liberdade, registada em vários documentos importantes, como é questionado por ter mantido mais de 600 escravos a trabalhar na sua plantação; e que tanto denunciava os excessos e extravagâncias da Europa, como gastava fortunas em livros, tapetes e vinho importados de França. Apesar de a História não ser parca em personalidades que praticavam o contrário daquilo que defendiam, para a Thomas Jefferson Heritage Society, a ideia de que o Presidente americano teve filhos com uma escrava é obra da extrema-esquerda. “À medida que os activistas de esquerda apontam a mira para estátuas de soldados da Confederação, para juízes do Supremo Tribunal e até para Cristóvão Colombo, alguns na extrema-esquerda puseram os olhos em Thomas Jefferson, autor da Declaração de Independência e terceiro Presidente dos Estados Unidos”, acusa a associação no seu site. Mas os historiadores olham para as contradições na vida de Thomas Jefferson sob outras perspectivas: por um lado, no plano pessoal, Jefferson era um ser humano complexo, e isso não deve ser escondido do grande público; por outro lado, o debate sobre essa complexidade pode ser fundamental para compreender a sociedade americana, no passado e no presente. “Não sei como se explicam essas contradições”, disse ao Washington Post o historiador Paul Finkelman, especialista em escravatura e autor do livro Slavery and the Founders: Race and Liberty in the Age of Jefferson (A Escravatura e os Fundadores: Raça e Liberdade na Era de Jefferson). “Mas é algo em que o povo americano deve pensar. Porque essas contradições são também a contradição da cultura americana, da sociedade americana. Nós acreditamos na liberdade e na igualdade, mas temos muito mais dificuldades para pô-las em prática”, diz o historiador. No caso de Thomas Jefferson, Finkelman defende que não é suficiente argumentar que na época dele era assim. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Entre 1780 e 1810, a população de escravos negros da Virgínia que foi libertada subiu de 2 mil para 30 mil. Isso aconteceu por iniciativa dos proprietários de escravos, vizinhos de Thomas Jefferson, que decidiram emancipar os seus escravos e libertá-los. Tomaram decisões conscientes que sacrificaram os seus próprios elevados padrões de vida porque era imoral ser proprietário de seres humanos. Thomas Jefferson não foi um deles. George Washington teve escravos durante toda a vida, mas também lhes deu terra para trabalharem, preparou-os para a liberdade e, quando morreu, libertou todos os seus escravos e deu terra a todos eles. Thomas Jefferson não fez isso”, sublinha o historiador. A exposição sobre Sally Hemings vem pôr em evidência essas contradições, mas os organizadores dizem que o principal objectivo é dar voz aos escravos e aos seus descendentes — uma voz que se perdia completamente entre os louvores a uma das figuras mais importantes e complexas da democracia americana. “A partir de agora, os visitantes têm uma exposição inclusiva, que conta a história não só de Thomas Jefferson e da sua família, como também a das famílias escravizadas”, disse à NPR Gayle Jessup White, uma descendente de Sally Hemings que ajudou a montar a exposição em Monticello. “Isto não é apenas sobre Thomas Jefferson, é sobre as pessoas que tornaram possível a vida de Thomas Jefferson. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos morte homens humanos cultura filho tribunal mulher homem racismo adolescente violação igualdade estudo espécie raça escravatura
Portuguesa considerada culpada de pertencer a grupo neonazi britânico
Tribunal deu como provadas acusações de que Claudia Patatas pertencia ao grupo de extrema-direita National Action. (...)

Portuguesa considerada culpada de pertencer a grupo neonazi britânico
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento -0.25
DATA: 2018-12-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Tribunal deu como provadas acusações de que Claudia Patatas pertencia ao grupo de extrema-direita National Action.
TEXTO: Uma portuguesa de 38 anos foi considerada culpada, esta segunda-feira, no tribunal de Birmingham, em Inglaterra, de pertencer a uma organização neonazi proscrita pelo Governo britânico. Um júri considerou provadas as acusações de que Claudia Patatas, bem como o companheiro, Adam Thomas, de 22 anos, e um amigo, Daniel Bogunovic, de 27 anos, pertenciam ao grupo de extrema-direita National Action. No âmbito da lei sobre o terrorismo de 2000 [Terrorism Act], membros ou apoiantes de uma organização terrorista proibida por lei podem incorrer numa pena de até dez anos de prisão, mas a sentença só será determinada pelo juiz a 14 de Dezembro. Thomas foi também considerado culpado por ter na sua posse um documento com conteúdo terrorista que pudesse ser útil a alguém que quisesse cometer um acto terrorista, confirmou fonte do tribunal à agência Lusa. Os três foram acusados no início de Janeiro, depois de terem sido detidos no âmbito de uma operação policial que também incluiu Nathan Pryke, de 27 anos, Darren Fletcher, 28, e Joel Wilmore, 24, os quais declararam-se culpados antes do julgamento. A acusação, a cargo do ministério público britânico Crown Prosecution Service e representado por Barnaby Jameson, descreveu os envolvidos como uma "pequena célula de fanáticos" que advogava uma "jihad branca" e cujas opiniões e acções iam "para além do insulto racial ocasional". Entre as provas, o procurador referiu o facto de Patatas e Thomas terem dado ao filho com agora um ano de idade o segundo nome de 'Adolf' por admirarem Hitler, e mostrou fotografias de Patatas com o filho recém-nascido nos braços ao lado de Thomas enquanto este segurava uma bandeira com a suástica, símbolo do partido alemão nazi. A acusação apresentou também fotografias de Thomas vestido com vestes iguais ao do grupo supremacista norte-americano Ku Klux Klan enquanto segurava o filho. Na casa do casal, incluindo debaixo da cama, foram encontradas diversas armas, e outros objectos, como almofadas com suásticas e uma forma corta massa de bolo em formato de suástica. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Patatas, Thomas e Bogunovic foram considerados culpados de continuarem a reunir-se e a partilhar os mesmos princípios do National Action mesmo depois de este grupo ter sido tornado ilegal, mudando apenas o nome. Como provas, apresentou registos de conversas feitas através de aplicações de mensagens encriptadas nesse sentido e de acções, como a distribuição de autocolantes. National Action foi proscrita por ser considerada "uma organização racista, anti-semita e homofóbica que suscita o ódio, glorifica a violência e promove uma ideologia vil" devido ao material que disseminava na Internet, nomeadamente nas redes sociais, com imagens e linguagem violentas e apelos a actos de terrorismo.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei violência filho tribunal prisão racista ilegal
Portuguesa acusada de pertencer a grupo neonazi chamou Adolf ao filho
Claudia Patatas e o companheiro Adam Thomas são acusados de pertencer a um grupo neonazi proscrito no Reino Unido. (...)

Portuguesa acusada de pertencer a grupo neonazi chamou Adolf ao filho
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Claudia Patatas e o companheiro Adam Thomas são acusados de pertencer a um grupo neonazi proscrito no Reino Unido.
TEXTO: A portuguesa Claudia Patatas e o companheiro Adam Thomas, em julgamento acusados de pertencer a um grupo neonazi proscrito no Reino Unido, chamaram ao filho Adolf, foi revelado esta terça-feira em tribunal. A criança, nascida em Novembro do ano passado, tem Adolf como segundo nome, elemento que o procurador público, responsável pela acusação, considera relevante. "Dado que a criança nasceu quase um ano após a Acção Nacional ter sido proscrita, pode pensar-se que o uso do nome 'Adolf', mesmo como um nome do meio, tem um significado", disse. A portuguesa Claudia Patatas começou esta terça-feira a ser julgada num tribunal britânico, acusada de pertencer clandestinamente a uma organização terrorista que defende a supremacia branca, mesmo depois de esta ter sido proscrita em 2016. Patatas, de 38 anos, está no banco dos réus do tribunal criminal de Birmingham juntamente com outros dois britânicos, o companheiro, Adam Thomas, de 22 anos, e Daniel Bogunovic, de 27 anos, por alegadamente pertencer ao grupo neonazi Acção Nacional [National Action]. Patatas, Thomas e Bogunovic declararam-se inocentes das acusações, enquanto Nathan Pryke, 27 anos, Darren Fletcher, 28, e Joel Wilmore, 24, igualmente detidos na operação policial em 3 de Janeiro, declararam-se culpados, aguardando a sentença, tendo o último ainda admitido possuir informação terrorista, nomeadamente instruções para fazer explosivos cocktail molotov. O procurador revelou que a portuguesa era conhecida no grupo criado na rede de mensagens protegida Telegram como "Sigrun" ou "K Sigrun", uma referência a uma deusa nórdica ou Valquíria que podia escolher quem poderia viver ou morrer em batalha, e que usava esse nome numa conta de email encriptada. No seu telemóvel, foram encontradas fotografias de armas tiradas por Mikko Vehvilainen, um militar membro do grupo, condenado em Abril por posse ilegal de gás pimenta e descrito pelo juiz na altura como racista. Outra das provas é uma fotografia em que Fletcher faz a saudação nazi e segura uma bandeira com a suástica junto ao filho de Patatas e Thomas. Por seu lado, Adam Thomas, de 22 anos, que vivia na mesma morada de Claudia Patatas, tinha ainda no seu computador o célebre e polémico The Anarchy Cookbook [O livro de receitas do anarquista], que tem instruções sobre como fazer dispositivos explosivos. O britânico também é acusado de possuir um documento com conteúdo terrorista que pudesse ser útil a alguém que quisesse cometer um acto terrorista. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Patatas, Thomas e Bogunovic são acusados de pertencerem à Acção Nacional depois de esta ter sido proscrita por ser considerada "uma organização racista, anti-semita e homofóbica que suscita o ódio, glorifica a violência e promove uma ideologia vil" devido ao material que disseminava na Internet, nomeadamente nas redes sociais, com imagens e linguagem violentas e apelos a actos de terrorismo. No âmbito da lei sobre o terrorismo de 2000 [Terrorism Act], os seus membros ou apoiantes podem ser condenados até dez anos de prisão. O julgamento, presidido pelo juiz Melbourne Inman, está previsto durar entre três a quatro semanas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei violência filho tribunal prisão criança racista ilegal
Dear White People ataca a ilusão de uma América pós-racial
A série da Netflix parte do filme de Justin Simien para questionar as dificuldades de ser negro num mundo onde a presença branca se impõe e conta com Barry Jenkins na realização. (...)

Dear White People ataca a ilusão de uma América pós-racial
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-06-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: A série da Netflix parte do filme de Justin Simien para questionar as dificuldades de ser negro num mundo onde a presença branca se impõe e conta com Barry Jenkins na realização.
TEXTO: Em Fevereiro, o primeiro trailer de Dear White People inflamou as redes sociais. Alguns utilizadores acusaram a Netflix de ser “racista” e “antibrancos” e outros chegaram a cancelar a sua subscrição do serviço de streaming. No vídeo de menos de um minuto, a protagonista Samantha White (Logan Browning) dirigia-se aos estudantes brancos da sua universidade para falar de disfarces de Halloween aceitáveis e inaceitáveis, sendo que o blackface – prática em que brancos pintavam os rostos de preto ou castanho para se “mascararem” de negros – pertencia imperdoavelmente à segunda categoria. Após a inesperada controvérsia que lhe valeu mais de quatro milhões de visualizações, os dez episódios de Dear White People ficaram esta sexta-feira disponíveis na Netflix e pretendem dar continuidade ao filme homónimo de Justin Simien lançado em 2014. “O filme foi uma sátira mais tradicional”, começou por dizer o também realizador da série ao NY Daily News, “Com a série, senti que [mostrar arquétipos em vez de personagens construídas de modo tridimensional] seria irritante a partir de uma certa altura. Foi importante para nós mergulhar na vida destas personagens e no seu dia-a-dia. ”O filme original conta a história de Samantha White, estudante da prestigiada Winchester University, uma universidade frequentada maioritariamente por caucasianos, e centra-se numa festa com o tema blackface organizada por um grupo de estudantes brancos em resposta ao seu polémico programa de rádio, Dear White People. A série da Netflix inicia-se precisamente após a festa racista em questão e foca as consequências sofridas pelos estudantes negros que decidiram pôr-lhe fim. “Não te podes encaixar na sociedade sem uma identidade”, disse o realizador, citado pelo jornal britânico The Telegraph, em 2014. Aquando do seu lançamento, Dear White People agitou as águas do Sundance Film Festival, onde arrecadou o prémio especial do júri para Novos Talentos. Recebeu, ainda, o prémio de Melhor Longa-Metragem de Estreia nos Independent Spirit Awards. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A série da Netflix é uma comédia que recorre à sátira para explicar as dificuldades de um grupo de estudantes negros que se confrontam diariamente com questões como a diversidade, a injustiça social, o preconceito cultural e o politicamente correcto. Nesse sentido, estes jovens são forçados a explorar o que significa ser negro num mundo predominantemente branco e racista ao mesmo tempo que lidam com os desafios pessoais e profissionais próprios da idade. “A série sai numa altura em que estamos todos conscientes de que o racismo ainda existe e que a supremacia branca tem uma voz de autoridade no país, por isso estamos a viver tempos estranhos”, disse Justin Simien ao NY Daily News. O contexto político e social em que a série surge é completamente diferente daquele que serviu de pano de fundo ao processo de escrita do argumento para o filme, em 2007, à subsequente campanha de crowdfunding lançada e à efectiva concretização do projecto. “Por mais que adorasse acreditar que estamos numa era pós-racial – uma ideia que ganhou força depois da eleição de Barack Obama em 2008 –, não posso ignorar o facto de que ainda sou visto pelo mundo como “um homem negro” e em algumas partes do mundo “um homem negro gay”, disse o realizador, citado pelo The Telegraph. Justin Simien, que terá sido inspirado pela sua experiência pessoal enquanto estudante negro na branca Chapman University para criar a trama, reconhece a evolução da presença negra no panorama televisivo norte-americano com o sucesso de séries como Scandal, Empire e Black-ish. Descrita pela Variety como “uma série perspicaz e necessária” e pelo IndieWire como “uma história pessoal em primeiro lugar e uma sátira inteligente em segundo” e com realização de Barry Jenkins (o premiado realizador de Moonlight) num dos episódios, Dear White People promete alimentar a discussão sobre a igualdade racial e ultrapassá-la, dando voz a todas as comunidades marginalizadas pela sociedade.
REFERÊNCIAS:
A propósito do texto de Maria de Fátima Bonifácio
Equilibrar a recusa da censura com a abertura das nossas páginas a opiniões que não partilhamos é uma tarefa sempre difícil (...)

A propósito do texto de Maria de Fátima Bonifácio
MINORIA(S): Ciganos Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Equilibrar a recusa da censura com a abertura das nossas páginas a opiniões que não partilhamos é uma tarefa sempre difícil
TEXTO: “Indigno”. “Vergonhoso”. “Insultuoso”. Durante este sábado, muitos leitores fizeram questão de protestar contra a publicação do artigo da historiadora Maria de Fátima Bonifácio com o título “Podemos? Não, não podemos”. Vários jornalistas do PÚBLICO e os membros eleitos do Conselho de Redacção juntaram-se a esse protesto, alegando que em causa está uma grave ofensa aos valores matriciais do jornal. O PÚBLICO orgulha-se da sua tradição de estar na linha da frente do combate ao racismo ou a qualquer tipo de discriminação baseada na cor da pele, na sexualidade ou no género. Torna-se por isso imperativo explicar o processo e as razões que levaram à publicação. E dar conta das consequências que esta opção tem de merecer para o futuro. O texto em causa está, no mínimo, nos limites do discurso de ódio, faz generalizações que põem em causa o combate à discriminação racial, usa linguagem insultuosa para diferentes minorias e coloca ênfase numa radical oposição civilizacional entre os “nós” europeus e os “outros”, africanos ou “nómadas”. Estão, por isso em causa, ideias, apologias e valores que o PÚBLICO contraria todos os dias, seja pelo trabalho dos seus jornalistas, seja pela abertura sem reservas que concede aos cidadãos de minorias visadas no artigo. Ainda assim, é consensual a ideia de que o PÚBLICO é um espaço plural de opinião onde com muita frequência se publicam textos que estão longe dos valores que defendemos. No caso em concreto estava em causa um texto de uma intelectual consagrada, cujas teses rejeitamos mas julgámos caberem nos limites da liberdade de expressão. Na nossa interpretação, a proximidade a teses racistas e xenófobas era evidente, mesmo que não se fizesse a defesa da segregação. O recurso ao discurso de ódio, de uns contra outros, estava na fronteira do admissível, mesmo sem que houvesse incitamento à sua prática. O uso destes argumentos para criticar uma intenção legislativa sobre quotas raciais no Parlamento ou no Ensino Superior anunciada por um deputado socialista induziu a apreciação das suas teses sobre ciganos ou africanos como utensílios de suporte a um legítimo protesto político. Não construíam o ângulo essencial do texto, apesar da proliferação de exemplos. Mesmo que essas teses hostilizassem a nossa linha editorial, considerámos que esses termos, ideias e valores eram aceitáveis no quadro da liberdade de expressão que assiste a uma colunista que é colaboradora regular do jornal e intelectual prestigiada na sua área científica. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Subestimámos assim o teor e tom dos argumentos em favor da crítica que a autora faz à possível adopção de quotas raciais. Considerámos que o direito a ofender, aceitável na interpretação genérica que fazemos da liberdade de expressão, justificava a publicação, mesmo sabendo que seria polémica e susceptível de levar muitos dos nossos leitores a questionar a nossa linha editorial ou o grau de tolerância que concedemos a ideias e valores que rejeitamos na nossa prática quotidiana. Reconhecemos que as expressões discriminatórias usadas remeteram a questão das quotas para a irrelevância. Ou seja, cometemos um erro de análise e de avaliação. Defendemos uma liberdade ampla de expressão dos nossos colunistas e de todos os que recorrem ao PÚBLICO para manifestar as suas ideias, visões, propostas ou críticas. Essa é uma marca de água do jornal e assim continuará a ser. Mas as reacções e episódios associados a esta polémica obrigam-nos a reforçar os critérios de exigência e selectividade. Principalmente quando em causa estiverem questões sensíveis como as que se associam à discriminação. Um jornal como o PÚBLICO é um espaço de convivência baseado em valores. A Direcção Editorial tem o dever de proteger esse espaço, evitando que esses valores sejam postos em causa. Lamentavelmente, não foi isso que aconteceu. Se há matéria na qual o PÚBLICO não pode deixar mensagens duvidosas aos seus leitores (e a todos os que o fazem diariamente) é sobre o lugar onde se encontra no combate ao racismo e à xenofobia. Aqui deixamos esta explicação para sublinhar sem margem para dúvidas esse nosso compromisso.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave racismo género sexualidade discriminação xenofobia
INE chumba pergunta sobre origem étnico-racial no censos
Instituto Nacional de Estatística anunciou decisão no final da tarde desta segunda-feira em conferência de imprensa. Em Abril, Grupo de Trabalho formado pelo Governo tinha recomendado a pergunta. INE garantiu que vai fazer inquérito para conhecer discriminação e desigualdades mas não se comprometeu com datas. (...)

INE chumba pergunta sobre origem étnico-racial no censos
MINORIA(S): Ciganos Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento -0.5
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20190710170920/https://www.publico.pt/n1876683
SUMÁRIO: Instituto Nacional de Estatística anunciou decisão no final da tarde desta segunda-feira em conferência de imprensa. Em Abril, Grupo de Trabalho formado pelo Governo tinha recomendado a pergunta. INE garantiu que vai fazer inquérito para conhecer discriminação e desigualdades mas não se comprometeu com datas.
TEXTO: O próximo censos, em 2021, não vai incluir uma pergunta sobre a origem étnico-racial da população. A decisão de chumbo foi anunciada na tarde desta segunda-feira pelo presidente do Instituto Nacional de Estatística (INE). Resultou de um processo de consulta de meses no qual se inclui a recomendação de a introduzir feita por um Grupo de Trabalho criado pelo Governo. Francisco Lima fez questão de comunicar a decisão aos jornalistas em conferência de imprensa, na qual estiveram presentes Paula Paulino, coordenadora do gabinete do Censos, e Maria João Zilhão, vogal do conselho directivo. O chumbo deve-se ao facto da questão ser complexa, referiu, adiantando que se fará um inquérito em que serão abordadas questões para “melhor conhecer a discriminação e desigualdade na sociedade portuguesa”. Mas não se comprometeu com datas. Possivelmente, no segundo semestre de 2021, disse. O presidente do INE usou vários argumentos apresentados pelo núcleo do GT que se opôs à inclusão desta pergunta no censos. Disse que, ao fazê-lo, se corria o risco de institucionalizar as categorias étnico-raciais e legitimar a classificação das pessoas. Sublinhou que, para se incluir esta questão no Censos 2021, seria necessário ter começado este trabalho em 2015. Trata-se de questões complexas que exigem processos longos, tal como aconteceu em outros países, argumentou. Disse também que o facto de a pergunta ser facultativa gerava incerteza sobre os resultados. Explicou que o tipo de informação sobre a discriminação não seria possível de obter no censos, que não questiona os rendimentos dos inquiridos, e que um inquérito cumpriria melhor esta função de modo a captar a sua “multidimensionalidade” e fazer a sua monotorização ao longo do tempo. Será feito um teste-piloto do inquérito depois de serem consultados vários agentes da academia aos intervenientes políticos, explicou. “Precisamos desta informação”, afirmou, o “inquérito está na nossa agenda”, garantiu. Horas antes, o INE reuniu-se com alguns membros do Grupo de Trabalho (GT), os sociólogos Rui Pena Pires e Cristina Roldão, e com o seu coordenador, o Alto-Comissário para as Migrações (ACM) Pedro Calado. “Mesmos de sempre” decidiram, critica sociólogaEsta era uma reivindicação antiga de activistas anti-racistas que há anos chamam a atenção para esta necessidade — em linha com uma recomendação feita por várias vezes a Portugal pela ONU. A decisão foi criticada pela socióloga Cristina Roldão. Com esta decisão “continuaremos a não reconhecer que Portugal tem muitas cores e que o racismo –individual, institucional e estrutural – existe”, disse em declarações ao PÚBLICO. Acrescentou ainda que “a posição favorável que ficou expressa nas recomendações do GT, assim como a demonstração de adesão das cerca de 1500 pessoas inquiridas numa sondagem recente, ou ainda os resultados positivos em dois Eurobarómetros (2006 e 2015)” não foram motivo “suficiente para levar o status quo e as instituições a dar este passo histórico no combate ao racismo e desigualdades étnico-raciais”. Criticou a “falta de investimento político”. “Ao longo destes meses não foi dado qualquer passo para alargar o debate à sociedade portuguesa e criar assim uma decisão mais participada e reflectida. Esta tarde, no salão nobre do INE, não havia nenhum negro ou cigano com poder de decisão, é gritante a ausência de representatividade étnico-racial. Hoje, os mesmos de sempre decidiram que os mesmos do costume devem continuar a esperar e invisíveis. ”Para Rui Pena Pires, um dos opositores, a decisão do INE foi de encontro ao que “era mais sensato”. Mas o sociólogo deixou um recado: “Espero que não inviabilize a produção de informação necessária para sustentar o desenho e monotorização de políticas públicas anti-racistas. O problema existe e a minha discordância era apenas sobre o modo de recolher a informação. Farei tudo para que as soluções que não o censos se concretizem”, comentou. Em Abril, e depois de meses de reuniões em sequência do anúncio dessa intenção em Setembro de 2017 pelo então ministro adjunto Eduardo Cabrita, aquele Grupo de Trabalho recomendou ao Conselho Superior de Estatística a introdução de uma pergunta sobre a origem étnico-racial dos cidadãos, questionando-os se pertencem a quatro grandes grupos, que depois se dividem em subgrupos: branco, negro, cigano ou asiático. Na altura, nove elementos votaram a favor, quatro contra e um absteve-se. A decisão causou polémica: o representante das comunidades ciganas, Almerindo Lima, e a coordenadora do Observatório das Comunidades Ciganas (integrado no Alto Comissariado para as Migrações), Maria José Casa-Nova, votaram contra. Também um comunicado com duas dezenas de subscritores ciganos, entre associações como a Letras Nómadas e Associação Cigana de Coimbra e activistas, manifestou o desacordo com a pergunta, pedindo que “essas questões sejam relativas à nacionalidade e à ascendência e não à pertença ‘étnico-racial’, que tenderá a exacerbar o estigma que pesa sobre a população cigana portuguesa”. Esta tomada de posição serviu de exemplo a Francisco Lima para explicar por que o tema é controverso e necessita de outras abordagens. A recolha não era feita até agora porque entidades como o ACM alegavam que essa prática é contra a Constituição. Mas a Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD) pode dar autorização em determinados casos — segundo o parecer do INE, apesar de se tratar de dados sensíveis, existe a possibilidade de recolha e tratamento, desde que estejam garantidas determinadas condições como o anonimato. Os elementos a favor do GT defenderam, na altura, que a resposta do censos será um instrumento “fundamental e incomparável” para avaliar as desigualdades étnico-raciais no país: porque tem uma cobertura nacional; pelo universo da população; pela sua multisectorialidade; pelo carácter sistemático e longitudinal da recolha; pelo rigor dos protocolos pelos quais se recolhe e trata os dados, entre outros. Um dos instrumentos decisivos na decisão do GT foi uma sondagem elaborada pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica em que se concluiu que a esmagadora maioria da população inquirida, 84%, responderiam a uma pergunta no censos sobre a sua origem ou pertença “étnico-racial”, se lhe fosse garantido o anonimato, e 80% concordava com a pergunta. Também a maioria, 78%, achava relevante obter informação estatística oficial para conhecer a discriminação e as desigualdades baseadas em “raça” ou “etnia” em Portugal. Quem se opôs à decisão — os sociólogos Rui Pena Pires e João Peixoto, Almerindo Lima, representante das comunidades ciganas, e Maria José Casa-Nova, coordenadora do Observatório das Comunidades Ciganas, integrado no ACM — considerou que a recolha destes dados pode promover a legitimação das categorias raciais, e os seus efeitos são “maiores” quando o Estado é o autor. Os riscos são também maiores, argumentam, quando há um recenseamento geral do que quando é feita uma recolha por investigadores ou num inquérito, escrevem no relatório. Formalizado por decreto regulamentar em Agosto de 2018, o GT foi criado pela Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade e era composto ainda por académicos como Cristina Roldão, Marta Araújo, Jorge Malheiros e Jorge Vala, pelo ACM, por representantes das comunidades afrodescendentes, como Anabela Rodrigues e José Semedo Fernandes, pelo SOS Racismo e pelo gabinete do Censos no INE, entre outros. Na pergunta recomendada pelo GT há um enunciado em que se afirma que a resposta é facultativa: “Portugal é hoje uma sociedade com pessoas de diversas origens. Queremos melhorar a informação sobre essa diversidade para melhor conhecer a discriminação e desigualdades na sociedade portuguesa. ” Depois inquire: “Qual ou quais das seguintes opções considera que melhor descreve(m) a sua pertença e/ou origem?”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Seguem-se os quatro grandes grupos: “Branco/Português branco/De origem europeia”, “Negro/Português Negro/Afrodescendente/De origem africana”, “Asiático/Português de origem asiática/de origem asiática”, “Cigano/ Português cigano/Roma/ De origem cigana”. E, dentro destes, uma diversidade de hipóteses: origem portuguesa, outra europeia ocidental, Europa de Leste, brasileira. Na categoria de negro, pergunta se é de origem de algum dos países africanos de língua oficial portuguesa, timorense ou brasileira. Na asiática, se é de origem chinesa, indiana, timorense, goesa, paquistanesa, macaense, bangladesh. Na de cigano, se é português cigano ou de origem romena. Todas as opções permitem a inscrição de uma outra origem não elencada, em resposta aberta, e no final há ainda a hipótese de escolher outro grande grupo não especificado ou se é de origem mista. Esta definição de “categorias compósitas” pretende que o máximo número de pessoas se possa identificar e apresenta várias alternativas quanto à forma como os membros de determinada comunidade se autodenominam, justificam os membros do GT. A formulação da pergunta não refere explicitamente termos como “raça”, “cor”, “etnicidade”, “ancestralidade”, ou “línguas faladas em casa” para evitar conotações negativas e problemas de rigor científico, justifica o GT. Isto porque as categorias em causa são entendidas como categorias sociais, e não biológicas ou genéticas — algo que deve ser explicado no enunciado, recomenda o GT.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Caso Cova da Moura: falsificação de autos pela polícia não é inédita
Acusação refere que os agentes da PSP agiram “pelo sentimento de ódio racial, de forma desumana e cruel”. Caso inédito faz questionar outros que poderão ficar na invisibilidade. “É mau demais para ser verdade”, diz Sindicato dos Profissionais de Polícia. (...)

Caso Cova da Moura: falsificação de autos pela polícia não é inédita
MINORIA(S): Ciganos Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento -0.06
DATA: 2019-11-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Acusação refere que os agentes da PSP agiram “pelo sentimento de ódio racial, de forma desumana e cruel”. Caso inédito faz questionar outros que poderão ficar na invisibilidade. “É mau demais para ser verdade”, diz Sindicato dos Profissionais de Polícia.
TEXTO: Pontapés. Socos. Tiros. Ofensas racistas. Fabricação de factos. Depois de recolhidas e analisadas as provas — exames médicos, relatos de testemunhas, inspecções, entre outras — o Ministério Público (MP) é peremptório no despacho de acusação dos 18 agentes da PSP da esquadra de Alfragide: “de forma inequívoca e sem sombra de dúvida” conclui que os factos descritos nos autos da polícia sobre o que se passou a 5 de Fevereiro de 2015 não se verificaram. Esses autos foram feitos com o objectivo de incriminar os seis jovens da Cova da Moura (Amadora) que começaram por ser acusados de tentativa de invasão da esquadra naquele 5 de Fevereiro. Dois anos e meio depois, o despacho do MP está escrito de modo a desconstruir a versão apresentada pela polícia, terminando com acusações duras: prática dos crimes de falsificação de documento agravado, denúncia caluniosa, injúria agravada, ofensa à integridade física qualificada, falsidade de testemunho, tortura e outros tratamentos cruéis, degradantes ou desumanos e sequestro agravado. A acusação refere ainda que os agentes da PSP agiram “pelo sentimento de ódio racial, de forma desumana e cruel pelo prazer de causarem sofrimento aos arguidos”. Fica claro na acusação que a versão que vingou junto do MP foi a mesma que em Fevereiro de 2015 vários dos jovens, entre eles membros da direcção da Associação Moinho da Juventude (Prémio de Direitos Humanos da Assembleia da República), contaram ao PÚBLICO, denunciando que tinham sido vítimas de violência e de ofensas racistas. “Os polícias disseram que nós, africanos, temos de morrer”, relataram. Também contaram que ouviram da boca dos agentes frases como: “Vocês têm sorte que a lei não permite, senão seriam todos exterminados. ”Mas este está longe de ser um caso isolado de violência policial, bem como de fabricação de factos pela polícia, garantem várias fontes ouvidas pelo PÚBLICO. Um funcionário que esteve na área da investigação na Inspecção-Geral da Administração Interna diz que “a falsificação de autos de notícia não é inédita, nem este caso é único”. A acusação é grave porque a PSP é um órgão de polícia criminal e o normal é os tribunais dependerem das suas informações, acrescenta. “A construção dos factos pela polícia num caso destes, em que não se relata a realidade, é uma situação que ocorre mais vezes do que deveria. ” Também Mamadou Ba, do SOS Racismo, denuncia que é “prática a fabricação de factos pela polícia” e que o despacho “coloca isso às claras”. António Brito Guterres, investigador do ISCTE e um dos membros do Observatório do Controlo e da Repressão que há anos acompanha de perto a relação dos jovens com a polícia, testemunhou já, noutros processos, “que apareciam coisas nos autos” que “não tinham acontecido”. António Brito Guterres, investigador do ISCTE e um dos membros do Observatório do Controlo e da Repressão, testemunhou já, noutros processos, “que apareciam coisas nos autos” que “não tinham acontecido”A acusação ontem conhecida a 18 agentes de uma mesma esquadra foi considerada inédita pela Inspectora-Geral da Administração Interna, Margarida Blasco, pelo Sindicato dos Profissionais de Polícia e por advogados. “Deve fazer-nos pensar: ou estamos numa sociedade em que estas situações não ocorrem ou há um fenómeno de muita ocultação, a realidade é muito maior e não há a mobilização das instituições para este problema”, diz ao PÚBLICO Conceição Gomes, investigadora do Observatório Permanente de Justiça. António Brito Guterres lembra que é “interessante” falar-se da “excepcionalidade desta acusação”: ela “elucida sobre a impossibilidade de acesso à justiça para uma série de casos análogos”. Estimando um custo total de 20 mil euros para todo o apoio processual deste caso “se tivesse sido feito a preço de mercado”, Brito Guterres exemplifica: “Apesar de atendidos no Hospital Amadora-Sintra, esta entidade pública não emitiu nenhum relatório que demonstrasse a origem dos ferimentos. Para a sua aferição, os jovens tiveram que ser assistidos no Hospital da Luz, no dia da sua libertação, para que se fizesse os respectivos relatórios. O Hospital da Luz é privado e só esse atendimento nas urgências custou perto de 1000 euros. ”Segundo a IGAI, em sequência deste caso foram instaurados nove processos disciplinares aos agentes da PSP, sendo que em apenas duas situações houve sanções – e estas não se efectivaram porque os agentes interpuseram recurso. A sanção aplicada a um dos agentes foi suspensão por 90 dias e, a outro, suspensão por 70 dias e afastamento da esquadra. O regulamento da PSP define que o máximo de suspensão de um agente são 240 dias, acrescentou Margarida Blasco. Foram arquivadas as acusações a sete dos nove agentes. A esquadra de Alfragide está ainda a ser investigada pela IGAI, em dois processos independentes deste, que estão a decorrer, acrescentou. Contactado pelo PÚBLICO, o Ministério da Administração Interna diz que não se pronuncia sobre processos em investigação. A Direcção-Geral da PSP disse à Lusa “que a presunção de inocência se mantém até trânsito em julgado, sendo que em relação às referidas ocorrências foram accionados os meios disciplinares internos e da IGAI”. Conceição Gomes sublinha: é importante seguir atentamente este caso para que “não volte a acontecer”. “As pessoas ainda têm que ser julgadas. Mas, se for verdade, estes factos ocorreram numa esquadra inteira e isso é grave. ” Se coloca em causa a acção da polícia, também “pode servir para fortalecer se se souber reflectir sobre isso”, considera. Já Mário Andrade, do Sindicato dos Profissionais de Polícia, acredita que a “acusação venha a cair por terra” pois “o número de agentes acusados é muito elevado”, “excessivo para qualquer acto que se pratique numa esquadra”. “É mau demais para ser verdade”, diz. A acusação de racismo coloca a imagem da instituição PSP em causa. “Não corresponde à realidade. ”Pelo contrário, Mamadou Ba afirma que o despacho “ajuda a desfazer o mito de que não há racismo nas instituições” em Portugal. “Nunca tivemos uma esquadra inteira a ser constituída arguida. O racismo não é uma coisa isolada, se todos estão arguidos é porque todos tiveram implicações. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Trata-se também de um caminho em direcção “ao fim da impunidade que tem vingado em casos similares” e de incentivar as vítimas a construir “finalmente” um património de confiança com o Estado. “O racismo é uma prática e uma cultura de relação que as forças de segurança criaram na sua abordagem com as comunidades negras e ciganas. Se o Estado esteve bem em deduzir acusação, também mostra uma fragilidade tremenda: durante anos esteve cego, surdo e mudo perante a violência policial racista. ”Este caso, conclui Brito Guterres, abre a porta a uma interrogação sobre a “discrepância” entre a narrativa inicial da polícia de “tentativa de invasão da esquadra” e a acusação, afirma. O que nos “leva a pensar nas inúmeras situações deste género, relatadas pela polícia aos media” sobre “as quais não se chega a saber os verdadeiros acontecimentos”. Esta terça-feira de manhã, Flávio Almada, um dos jovens da direcção do Moinho da Juventude que foi agredido, disse que ainda não tinha tido acesso à acusação do MP. Afirmou: "É um bom começo, mas é preciso esperar pelo julgamento terminar. "
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP
Ensino da História portuguesa não pode ignorar a violência cometida contra os povos das ex-colónias
Conselho da Europa exorta autoridades portuguesas a mudar a "narrativa da História" que continua a ser transmitida aos alunos. (...)

Ensino da História portuguesa não pode ignorar a violência cometida contra os povos das ex-colónias
MINORIA(S): Ciganos Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-03 | Jornal Público
SUMÁRIO: Conselho da Europa exorta autoridades portuguesas a mudar a "narrativa da História" que continua a ser transmitida aos alunos.
TEXTO: Num manual de História do 9. º ano, que está entre os cinco mais vendidos, escreve-se isto sobre o início da guerra colonial, no princípio dos anos sessenta do século passado: “Um sentimento generalizado de medo entre os colonos levou-os a matar muitos indígenas enquanto outros fugiram, indo juntar-se aos guerrilheiros. Posteriormente, tribos do Norte de Angola assassinaram centenas de colonos. ”É por apresentações como esta que a Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância (ECRI, na sigla inglesa) do Conselho da Europa exortou nesta terça-feira as autoridades portuguesas “a repensar o ensino da História e, em particular a História das ex-colónias”. No relatório em que faz um ponto da situação sobre o racismo em Portugal, a ECRI frisa que o ensino desta disciplina “deveria englobar o papel que Portugal desempenhou no desenvolvimento e, mais tarde, na abolição da escravatura, assim como a discriminação e a violência cometidas contra os povos indígenas nas ex-colónias”. Refere que “a narrativa da ‘descoberta do novo mundo’ deve ser colocada em questão” e que o ensino da História deve abordar “a história e o contributo dos afrodescendentes, assim como dos ciganos, para a sociedade portuguesa”. E defende ainda que as autoridades portuguesas “deveriam melhorar os manuais escolares seguindo estas linhas de orientação”. Os manuais escolares de História do 3. º ciclo de escolaridade (7. º, 8. º e 9. º ano de escolaridade) foram precisamente o objecto de estudo da investigadora Marta Araújo, mais, concretamente as representações que ali são veiculadas sobre o colonialismo e a escravatura. Em declarações ao PÚBLICO sobre as recomendações da ECRI, congratula-se pelo facto destas irem “além do debate sobre a inclusão do outro”, que se desenvolveu nos últimos anos e que levou por exemplo, a que em alguns manuais escolares “apareçam outras vozes” que saem da perspectiva eurocêntrica dominante nestes livros. Só que esta mudança “não tem sido suficiente para mudar a narrativa da História”, afirma Marta Araújo. É o caso por exemplo, aponta a investigadora, da abordagem que tem sido feita aos discursos de Amílcar Cabral, fundador do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que foram incluídas em alguns manuais e que acaba por expurgar a temática dos movimentos de libertação africanos e recair de novo “numa crítica muito suave ao colonialismo português”. Ao ler o relatório da ECRI, a professora de História e co-autora de manuais, Elisabete Jesus, diz que lhe surgiu imediato esta questão: “Terão realmente analisado os manuais de História?”. Ressalva que esta interrogação lhe surgiu tendo na base os livros de que é co-autora, para acrescentar que “temas como a escravatura, os direitos humanos, a tolerância e multiculturalidade já aparecem, há propostas de actividades que mostram diferentes perspectivas sobre estes assuntos, que inclusive pedem aos alunos reflexão e debate”. E que os professores de História têm frequentado “acções de formações sobre estas temáticas”. “Isto não significa que não se possa melhorar, mas é preciso que se entenda que os manuais seguem as linhas orientadoras dos programas homologados pelo Ministério da Educação e, por isso, o foco do relatório [da ECRI] devia estar naquilo que é definido a montante - as orientações curriculares que têm sido determinadas para a História”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Refira-se apenas este respeito que no 9. º ano de escolaridade, em que geralmente é abordada a guerra colonial, as aprendizagens essenciais que estão em vigor, e que determinam o que todos os alunos devem saber, passaram a limitar-se a definir o seguinte: “Analisar a guerra colonial do ponto de vista dos custos humanos e económicos, quer para Portugal quer para os territórios coloniais, relacionando-a com a recusa em descolonizar. ”Marta Araújo chama também a atenção para uma questão que aponta como “essencial” e que ainda não está resolvida: a população cigana está praticamente ausente da História que se ensina em Portugal. Embora a outro nível, também no relatório da ECRI se chama a atenção para esta comunidade. A situação das crianças ciganas é descrita como sendo “profundamente preocupante”: por exemplo 90% abandonam a escola cedo, frequentemente entre os 10 e 12 anos.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano