Família do polícia Ahmed pede para que não se misture islão e extremismo
“Atacar os outros não nos trará de volta os mortos e não apaziguará as nossas famílias”, diz um dos irmãos do agente. (...)

Família do polícia Ahmed pede para que não se misture islão e extremismo
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: “Atacar os outros não nos trará de volta os mortos e não apaziguará as nossas famílias”, diz um dos irmãos do agente.
TEXTO: Os colegas já tinham falado, os vizinhos também. Este sábado, a família de Ahmed Merabet, o polícia morto pelos atacantes em fuga da redacção do jornal Charlie Hebdo, decidiu dirigir-se aos franceses. “Parem de misturar tudo, de provocar guerras, de queimar mesquitas ou sinagogas”, pediu o irmão Malek Merabet, numa conferência de imprensa que juntou vários familiares, incluindo os cinco irmãos do agente. Ahmed Merabet tinha 40 anos, faria 41 a 8 de Fevereiro, vivia com a sua companheira na mesma rua dos irmãos e a sua grande preocupação era cuidar da mãe, nascida na Argélia e viúva há 20 anos. “Era um homem que gostava de ajudar os outros, calmo, discreto”, disse a irmã Nabia. Era “um trabalhador”, descreveu o irmão Malek, lembrando que Ahmed passou por um McDonald’s e pela empresa nacional de caminhos-de-ferro antes de conseguir entrar na polícia. É o polícia que o mundo viu correr na direcção dos atacantes, cair depois de um primeiro tiro, pedir para ser poupado, antes de ser executado à queima-roupa, tudo gravado num vídeo amador. Ex-membro da Brigada Anti-Criminal, delegado sindical, trabalhava na esquadra do 11º bairro parisiense, que patrulhava na altura do ataque. Tinha acabado de passar os testes para entrar na polícia judiciária. 7 de Janeiro era o seu último dia na esquadra. “Nos últimos meses, por causa dos exames, e porque estava a renovar a casa, quase não o víamos. ”“Falo para todos os racistas, islamófobos e anti-semitas, não misturem os extremistas e os muçulmanos”, disse ainda o irmão do agente. “Atacar os outros não nos trará de volta os mortos e não apaziguará as nossas famílias. ”“Ahmed tinha orgulho em representar a polícia e em defender os valores da República. Com a sua determinação, conseguiu o diploma. Todos os colegas o descrevem como um homem apaixonado pela profissão”, afirmou Malek. Tinha talento “para resolver conflitos violentos”, acrescentou Nabia, e “muito, muito orgulho em ser polícia”. No Twitter, depois do agregador “Je suis Charlie” (Eu sou Charlie), surgiu “Je suis Ahmed”, uma homenagem ao polícia e uma forma de alguns sublinharem a necessidade de separar fanáticos assassinos de muçulmanos, como Ahmed. “Eu não sou Charlie. Eu sou Ahmed, o polícia morto. Charlie ridicularizava a minha fé e a minha cultura e eu morri a defender esse direito”, escreveram outros. O primeiro a fazê-lo foi o escritor e activista político Dyab Abou Jahjah, libanês que vive em Bruxelas. Jahjah explicou querer combater a vontade dos terroristas de dividir, numa mensagem que muitas dezenas de milhares de utilizadores do Twitter já partilharam. A família do polícia Ahmed reagiu ainda à publicação da foto da sua execução, sábado, na primeira página do semanário Le Point. “É abjecto. Estas imagens já deram suficientes voltas ao mundo, chocaram muito as pessoas”, disse um cunhado do agente, Lotfi Mabrouk, pedindo aos jornalistas que “parem de as utilizar”. “Como é que ousaram pegar neste vídeo e divulgá-lo?”, insurgiu-se o irmão Malek. “Eu ouvi a voz dele, reconhecia-a, vi-o ser abatido e vou continuar a ouvir a sua voz todos os dias. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave trabalhador cultura ataque homem morto
Países da OPEP lançam grupo de trabalho para subir preço do petróleo
Objectivo é garantir a estabilidade do custo do petróleo nos mercados internacionais. (...)

Países da OPEP lançam grupo de trabalho para subir preço do petróleo
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Objectivo é garantir a estabilidade do custo do petróleo nos mercados internacionais.
TEXTO: Perante a descida prolongada do preço do petróleo, embaixadores e adidos comerciais dos países membros da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) formalizaram, em Caracas, a criação de um grupo de representantes permanentes daquele organismo, com o objectivo de promover a subida dos preços do crude. “A criação do Grupo de Embaixadores da OPEP na Venezuela faz parte dos esforços iniciados em conjunto pelo Governo Bolivariano (da Venezuela) e outros países interessados em promover o consenso internacional que permita estabilizar os preços do petróleo e mantê-los a um nível justo”, explica um comunicado do Ministério venezuelano das Relações Exteriores. A decisão de lançar este grupo de trabalho acontece depois de o Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ter realizado um périplo internacional pelos países da OPEP à procura de apoio para lutar contra a descida dos preços o petróleo. Maduro contou com o apoio do Irão nessas visitas, mas produtores como a Arábia Saudita têm defendido a estratégia de não reduzir a produção para fazer subir os preços. Essas divergências entre os membros da OPEP mantém-se. Depois da trajectória descendente do custo do petróleo nos mercados internacionais – o preço do Brent do Mar do Norte, referência para as importações portuguesas, está 43, 5% abaixo do valor de há um ano –, regista-se agora uma recuperação dos preços. Nas duas últimas semanas, o custo do Brent acumulou uma subida histórica de 18%, passando para 57, 93 dólares por barril. A Venezuela defende que o preço justo do petróleo é de 100 dólares o barril, mas viu cair, desde Junho, mais de 50% do preço do crude venezuelano, cuja cotação ronda os 40 dólares norte-americanos por cada barril. Caracas salienta o facto de a OPEP promover, desde a sua criação, o “fortalecimento do mercado internacional dos hidrocarbonetos, permitindo aos países produtores de petróleo obter um retorno razoável dos seus investimentos e assegurando o abastecimento contínuo e estável de crude aos países consumidores”. Segundo Nicolás Maduro, “a cooperação dos países exportadores poderá voltar a trazer estabilidade aos preços do petróleo”. Apesar de a Venezuela ter as maiores reservas de crude do mundo, enfrenta graves dificuldades financeiras devido à queda dos preços, já que o país depende fortemente das receitas do petróleo, que lhe garantem 96% das suas divisas. À OPEP, com sede em Viena, pertencem 12 países: Venezuela, Equador, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Irão, Iraque, Kuwait, Qatar, Angola, Argélia, Líbia e Nigéria.
REFERÊNCIAS:
Étnia Árabes
Vencer a “amarga e vã desconfiança”
Há que marcar posição na Europa pelo voto, reduzindo as fileiras do desinteresse e do silêncio. (...)

Vencer a “amarga e vã desconfiança”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 7 | Sentimento -0.1
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há que marcar posição na Europa pelo voto, reduzindo as fileiras do desinteresse e do silêncio.
TEXTO: A cada eleição para o Parlamento Europeu ressurge o habitual fantasma: a abstenção. Os partidos, antes e depois da campanha, pouco ajudam a combatê-lo, a mobilização em que apostam prende-se sobretudo com a necessidade de ampliar, ou pelo menos garantir que não diminuem, os seus próprios votos. Criam confiança nos eleitores? A resposta destes é mais temida que temível. E o que mais incomoda é o progressivo afastamento daqueles a quem a Europa marca indelevelmente os destinos sem que estes se obriguem, por direito mas também por dever, a marcarem também eles indelevelmente os destinos da Europa. Como se discutiu à exaustão nos últimos dias, não se sentiu a força de um apelo que soubesse sobrepor-se à chicana, ao insulto fácil, à graça duvidosa. Apesar do peso enorme, e da assustadora fragilidade que esse peso comporta, de uma Europa que ainda anda em busca de si mesma, é leve ou displicente, mas sobretudo desconfiada, a forma como os cidadãos dos países da União têm vindo a relacionar-se com ela. Se o eurocepticismo campeia e, com ele, as ameaças da xenofobia, do racismo e dos velhos nacionalismos, devemo-lo ao que não se quis fazer ou se fez mal feito. Sim, hoje hão-de contar-se votos para tirar daí dividendos políticos caseiros, mas antes disso melhor fariam os envolvidos nessa batalha se olhassem para os números do lado, para os que primam pela ausência ou pelo vazio, e pensassem no que eles pesam no seu futuro. Porque uma Europa cujos destinos sejam decididos por um número cada vez menor de cidadãos é uma Europa cada vez mais longe da sua génese e da utopia que a criou. Se muitos acharão isto inevitável, porque para aí os empurra o desleixo face à História, outros entenderão que a sua palavra, a sua opinião, a sua escolha, seja ela qual for, não pode engrossar as fileiras do desinteresse e do silêncio e deve marcar posição no momento do voto. Porque a Europa não é “deles”, como por aí se diz, é também “sua”: porque aí vivem, aí pagam impostos e aí sofrem as consequências do que for decidido sem a sua participação. Sem dizer nada que não tivesse sido já dito, nestes dias ou em anos anteriores, Cavaco Silva lembrou ontem que não votar “é abdicar de um direito”, lembrando que o Parlamento Europeu “é a única instituição” da UE “com representantes directamente eleitos”. Um voto a que 380 milhões têm direito. Quantos o exercerão? Quantos lhe virarão as costas, deixando que outros decidam por eles? Quantos lamentarão, depois, resultados que não influenciaram por mera desistência? No seu curto apelo, o Presidente da República lembrou ainda os 40 anos do 25 de Abril e a conquista, por via dele, do direito ao voto em eleições livres e democráticas. Há 40 anos, antes da queda do regime, um poema de João Apolinário feito canção por Luís Cília dizia assim: “Perde essa amarga e vã desconfiança/ toma a minha mão de amigo e confia”. Se mãos de amigo rareiam, vença-se ao menos a “amarga e vã desconfiança”, em nome de um futuro que não pode ser só de uns, tem de ser decidido por todos.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Iémen, o país de todas as crises e grande importância estratégica
Com diferentes conflitos internos, o país mais a Sul da Península Arábica está limitado a Ocidente pelo estreito de Bab al-Mandab, por onde passa 40% de todo o comércio marítimo mundial. (...)

Iémen, o país de todas as crises e grande importância estratégica
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.8
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Com diferentes conflitos internos, o país mais a Sul da Península Arábica está limitado a Ocidente pelo estreito de Bab al-Mandab, por onde passa 40% de todo o comércio marítimo mundial.
TEXTO: Há anos que o mais pobre dos países árabes se tornou no país de todas as crises, da pobreza à falta de água, passando por diferentes conflitos armados. A Al-Qaeda dá-se bem com crises e foi assim que aqui foi crescendo. Por que é que o Iémen é cronicamente instável?O Iémen nunca teve um Governo central suficientemente forte para dar verdadeira unidade ao território. Antes de 1990, existiam dois países, o Iémen do Norte (islamista) e o Iémen do Sul (marxista). O Norte foi o primeiro a declarar a sua independência dos otomanos, em 1918, sob a liderança do imã Yahya – os huthis, uma tribo de confissão zaidita (um ramo do islão xiita), querem o regresso a este regime religioso. Em 1967, é declarada a República do Povo do Iémen, no Sul. O ex-Presidente, Ali Abdullah Saleh, chegou à liderança do Norte em 1978, tendo permanecido durante a guerra civil, a unificação, em 1990, e uma nova guerra civil. Um autocrata que impediu o fortalecimento de instituições políticas e o desenvolvimento do país, nunca controlou o conjunto do território, onde as tribos têm muito poder. Na sequência de vaga de protestos que varreu o mundo árabe em 2011, Saleh foi obrigado pelos países da região a deixar o poder. Estes escolheram o seu vice, Abu Mansour Habi, como sucessor. Quem tem poder no país?Normalmente quem tem poder é quem tem armas e, no Iémen, há muito quem esteja armado: a ONU estimava em 2010 que existissem pelo menos 60 milhões de armas no país (espingardas, metralhadoras ou explosivos são fáceis de comprar). Foi em 2009 que a Al-Qaeda da Península Arábica foi expulsa da Arábia Saudita e se estabeleceu no Iémen – hoje, os EUA consideram que este é o ramo mais perigoso do grupo fundado por Bin Laden. Para além do Governo de Habi, reconhecido internacionalmente, e de várias tribos poderosas, a Al-Qaeda controla algumas zonas. Do Norte, seu bastião, os huthis têm vindo a aumentar o seu poder conquistando cidades no Sul e no Leste. No Sul, há também uma rebelião separatista. Saleh, com 73 anos, ainda ambiciona pôr no poder o seu filho, Ahmad, e tem alguns aliados no Exército. Como é que a situação chegou a este ponto?Há mais de cinco anos que se fala no Iémen como futuro Afeganistão ou Somália, um Estado falhado que sirva de base a grupos terroristas. A queda de Saleh, talvez demasiado tarde para os estragos que fizera, não foi aproveitada para promover o desenvolvimento do país, onde 45% da população de 25 milhões vive abaixo do limiar da pobreza. Saleh usava o dinheiro que recebia dos EUA e de outros aliados destinado a combater a Al-Qaeda e a melhorar a vida dos iemenitas para aumentar o seu poder e riqueza. O descontentamento dos huthis foi crescendo de forma proporcional à marginalização que o Governo de Sanaa impunha ao Norte. Desde 2004 que Sanaa e a tribo estão em guerra, um conflito que fez milhares de mortos e, a partir de 2009, provocou uma enorme crise humanitária. Afastado do poder, Saleh ainda contribuiu mais para a desestabilização, aliando-se agora aos huthis (também ele é zaidita, embora tivesse nos árabes sunitas a sua base de poder) para ameaçar o Governo do seu antigo vice. Qual é a sua importância estratégica e regional?Situado no extremo Sul da Península Arábica, o país tem petróleo e gás, mas pouco. A sua importância é essencialmente estratégica – pelo estreito de Bab al-Mandab, que separa a península do Leste de África e liga o golfo de Áden ao mar Vermelho, passa quase 40% de todo o comércio marítimo mundial, incluindo 30% de petróleo transportado por esta via. O embaixador egípcio no país avisou recentemente que quaisquer ameaças ao Bab al-Mandab seriam “uma linha vermelha” para o Cairo. A Arábia Saudita partilha uma longa fronteira e já ali interveio militarmente várias vezes. Nos últimos anos, com o Irão xiita e o Hezbollah libanês a ajudarem os líderes xiitas do Iraque e o regime sírio, Riad, que vê no Irão o país que mais desafia a sua hegemonia regional, acusa os iranianos de apoiarem os huthis com dinheiro e armas. Teerão desmente, mas a ligação entre os zaiditas iemenitas e os iranianos é antiga. Se os rebeldes huthis tomarem Bab al-Mandab, diz à Reuters o analista Bassem al-Hakimi, “o Irão será o grande vencedor”.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU EUA
Patrícia Mamona critica Lux Frágil por ter sido impedida de entrar e tratada “de maneira diferente”
A atleta do Sporting diz que o seu grupo de amigos negros foi barrado quando queria entrar na discoteca lisboeta. Mais tarde, escreveu: "Por favor, não me chamem Serena Williams". (...)

Patrícia Mamona critica Lux Frágil por ter sido impedida de entrar e tratada “de maneira diferente”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-09-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: A atleta do Sporting diz que o seu grupo de amigos negros foi barrado quando queria entrar na discoteca lisboeta. Mais tarde, escreveu: "Por favor, não me chamem Serena Williams".
TEXTO: A atleta portuguesa Patrícia Mamona denunciou nas redes sociais o facto de ter sido impedida de entrar na discoteca lisboeta Lux Frágil, juntamente com os seus amigos na madrugada de sexta-feira. “Quando vês pessoal a entrar de chinelos e sem convite, mas te tratam de maneira diferente porque tu e os teus black friends bem vestidos e tal não se enquadram no perfil da Lux”, escreveu a campeã europeia de 2016 no Instagram. “Triste, mas acontece. ”“Eu sou a primeira pessoa a dizer que há muito pessoal que tem a mania de usar a carta do racismo para tudo que acontece de mal… Mas quando começas a ver o pessoal a entrar… ui!”, respondeu Patrícia Mamona a um utilizador da rede social, dizendo que até perceberia se não os deixassem entrar se estivessem mal vestidos — mas que não fora o caso. “Quando me reconheceram vieram falar comigo”, acrescenta nos comentários a atleta do triplo salto do Sporting, que conquistou em 2016 o título de campeã da Europa. Durante a tarde desta sexta-feira, e depois de o caso se ter tornado viral nas redes sociais, a atleta voltou ao tema com uma nova publicação no Instagram. “Fiquem descansados que situação foi facilmente resolvida da maneira que achamos correcta, fomos embora”, escreve. “Por favor, não me chamem Serena Williams, estou apenas a ser eu, e desculpem se ofendi alguém por ser eu. Tenho uma época desportiva muito difícil pela frente, e é isso [em] que tenho que me focar. Aprender a lidar com as situações que aparecem por mais difícil que sejam, o caminho é em frente, tudo isto é uma lição de vida. ”No Twitter, o velocista do Benfica David Lima apelou ao boicote do espaço nocturno, localizado em Santa Apolónia, dizendo que os seus critérios para escolher quem entra têm por base uma “perfilagem racial”. “Ninguém me pode convencer do contrário”, remata. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em Lisboa, há outros casos de discotecas que foram acusadas de racismo. Um dos casos mais memoráveis é o do espaço nocturno Urban Beach, em Santos, que foi somando denúncias de racismo e agressões por parte dos seguranças. Em 2014, a denúncia partiu do atleta português e antigo campeão olímpico no triplo salto Nelson Évora. Através das redes sociais, Évora denunciou que o seu grupo de amigos, onde se incluíam outros atletas como Francis Obikwelu, Naide Gomes e Susana Costa, foi barrado à entrada do Urban Beach por existirem “demasiados pretos no grupo”. “Estarei a exagerar ou foi mesmo racismo?”, questionava. Na altura, um responsável do grupo a que pertence a discoteca afirmava que algumas pessoas desse grupo não respeitavam o dress code exigido. O Governo acabou por mandar encerrar a discoteca em Novembro do ano passado, depois de mais um caso de violência. O PÚBLICO tentou contactar a atleta Patrícia Mamona, que ainda não respondeu, e a discoteca Lux Frágil — que remeteu explicações para mais tarde.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave violência racismo social
A dura e cruel vida dos homens brancos americanos
Como é sabido, a vida do homem branco nos Estados Unidos é uma narrativa carregada de dificuldades. Com todo o sarcasmo que se adivinha, Paul Zaloom apresenta no FIMFA uma sátira política em que o humor, corrosivo, cai em cima da sua própria cabeça. (...)

A dura e cruel vida dos homens brancos americanos
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 7 | Sentimento -0.3
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Como é sabido, a vida do homem branco nos Estados Unidos é uma narrativa carregada de dificuldades. Com todo o sarcasmo que se adivinha, Paul Zaloom apresenta no FIMFA uma sátira política em que o humor, corrosivo, cai em cima da sua própria cabeça.
TEXTO: Paul Zaloom estava à espera da sua vez, entre muitos outros humoristas, para apresentar a uma série de produtores o pitch para um novo espectáculo que tinha em mente. Na verdade, só teria de fazer esse “discurso de vendedor” no dia seguinte, mas enquanto via os outros comediantes a tentarem a sua sorte foi percebendo que “todos os espectáculos eram sobre afro-americanos a falarem da sua identidade, ou latinos a contarem a sua história como latinos nos Estados Unidos”. Ao ouvir aquelas sinopses, pensou instintivamente “Então e eu?!”. E logo se riu do pensamento absurdo que o tinha invadido. “De facto, eu tenho sido eu desde o primeiro dia, 24 horas por dia. Achei que seria hilariante fazer um espectáculo sobre isso [isso sendo a vida dura do homem branco na América do Norte] e durante a noite redefini o que ia apresentar. ”No dia seguinte, mostrou aos produtores os primórdios daquilo que viria a ser The Adventures of White-Man, espectáculo que parte desse desconforto enquanto homem caucasiano nos Estados Unidos, sabendo que o corpo lhe traz as mais variadas vantagens e que a atenção mais recentemente dedicada às minorias resultou naquilo a que chama white fragility – uma postura defensiva deste grupo que, nos últimos anos, começou a sentir-se ameaçado por uma eventual perda de privilégios. “Nós, os brancos, somos muito frágeis, somos flores delicadas”, diz ao Ípsilon com uma óbvia nota de sarcasmo. Numa das versões anteriores de The Adventures of White-Man, que então se chamava White Like Me, Zaloom começava o espectáculo com um número de ventriloquismo em que explicava ao boneco sentado no seu colo que o homo sapiens caucasiano (também conhecido por “cabeça de leite”, “rabo plano”, “marshmallow”, “Martha Stewart” ou “entendido em maionese”) estava a deixar de ser maioritário em estados como a Califórnia. Em seguida, tinha de convencer o boneco de que passar a minoria não implicava o downgrade para “escolas merdosas e bairros maus”, não correspondia automaticamente a ter dificuldades para apanhar um táxi em Los Angeles, nem sequer a um aumento da probabilidade de cair no desemprego ou à obrigação de incluir nas rotinas familiares recomendações especiais aos filhos para terem cuidado com a políciaActor(es):Paul Zaloom Teatro Nacional D. Maria II, Lisboa, Sexta, de 19 de Maio de 2017 a 21 de Maio de 2017 às 21h30 Teatro Nacional D. Maria II, Lisboa, Sábado e Domingo, de 19 de Maio de 2017 a 21 de Maio de 2017 às 19hÉ uma introdução às aventuras de um caucasiano que o 17. º FIMFA leva ao Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, desta sexta a domingo. Um caucasiano originário do planeta Caucazoid em busca de novos mundos que possa colonizar, doutrinar, evangelizar, corrigir e anular. Esta ideia de que nada existe até à sua validação pelos “brancos descobridores” estabelece um link evidente com a experiência dos nativos americanos (partilhada por tantos outros territórios colonizados) e com um relato com que Zaloom se deparou no seu processo de pesquisa. “Penso que isto não chegou a ser implementado, mas houve planos dos colonos brancos nos Estados Unidos para espalharem vírus de varíola em cobertores a distribuir pelos nativos para que estes apanhassem a doença e morressem. ”A provocação constante de Paul Zaloom, figura de enorme popularidade nos Estados Unidos – e na América Latina – graças ao programa televisivo Beakman’s World, não tardou a gerar controvérsia. E as vozes ofendidas fizeram-se escutar. O senador republicano John McCain haveria de emitir um comunicado denunciando a atribuição de fundos estatais à produção de um espectáculo de marionetas que, na sua teve lotação esgotada no dia do espectáculo. “Cheguei a ter algum respeito por ele, mas isso já lá vai”, diz Zaloom sobre o senador. “Quando ele nomeou a Sarah Palin [para sua candidata a vice-presidente nas eleições presidenciais de 2008, vencidas por Barack Obama], todo o respeito voou pela janela. Mas é verdade que é o único republicano a fazer frente ao Trump. Enfim, tenho sentimentos ambivalentes, mas feitas as contas é um idiota. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em relação a Donald Trump, os sentimentos de Paul Zaloom não são propriamente ambivalentes. Aliás, ao longo destes meses que já leva a nova administração norte-americana, a vida do White-Man tem sido “fabulosa, tudo é perfeito”, descreve Zaloom. “Os brancos estavam zangados, sentiam-se marginalizados; quando escrevi o espectáculo, muito antes das eleições, toda a ansiedade quanto à circunstância de deixarmos de estar em primeiro lugar era muito palpável. ” Em cada frase de Zaloom, como é evidente, há tanto de análise crítica quanto de derramamento de ácido sobre o seu próprio discurso. Como se curto-circuitasse em permanência. Trump – regressemos a ele – fascina Paul Zaloom por ser “um tipo sem qualquer filtro”. “Acho-o hilariante. A forma como ele fala, como usa a linguagem, a sintaxe, o ritmo, tudo nele é a quintessência do nova-iorquino idiota. ” O humorista nunca o diz. Mas a forma como fala do Presidente faz pensar que poderia tratar-se de uma marioneta, o receptáculo exagerado e caricatural de uma personagem arquetípica da sociedade norte-americana. E se um dos reconhecidos efeitos de Trump foi o de soltar a língua ao preconceito, Zaloom responde na mesma moeda, defendendo que sente que “a América merece ter como Presidente um otário monumental”. “Claro que os outros antes dele também o eram, e Hilary Clinton, enfim… Mas há muitas coisas que posso fazer em resposta: posso estar informado, posso ler jornais, ir a manifestações e fazer donativos, mas também posso fazer espectáculos de marionetas sobre estes temas, para que as pessoas se permitam rir de assuntos que estão a dar cabo delas. ”É impossível a Paul Zaloom saber o que teria sido de The Adventures of White-Man se tivesse sido imaginado já durante ou após as eleições – acredita que poderia não ter conseguido o financiamento necessário –, mas não ignora que estes são tempos especialmente desafiantes para fazer sátira política. O desafio passa até por estar em competição com uma realidade tão exagerada e absurda que rouba algum espaço de manobra ao humor. Mas há uma vantagem com as marionetas: “É tão ridículo aquilo que fazemos que temos uma grande margem de tolerância. "
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homem doença minoria corpo desemprego ansiedade
O Museu da Culpa do Homem Branco
O branco de 2018 é culpado pelos actos do esclavagista de 1718 para que o negro de 2018 possa ser vítima da escravatura de 1718. (...)

O Museu da Culpa do Homem Branco
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: O branco de 2018 é culpado pelos actos do esclavagista de 1718 para que o negro de 2018 possa ser vítima da escravatura de 1718.
TEXTO: Ando há semanas entusiasmadíssimo a ler tudo o que é publicado acerca do polémico “Museu das Descobertas”. Descobri várias coisas. Em primeiro lugar, descobri que a palavra “Descobertas” está tão ultrapassada quanto as calças à boca de sino. Mas não só: se o museu se chamasse da Descoberta (no singular), da Expansão ou da Viagem (outras hipóteses faladas) o problema seria exactamente o mesmo. Aquilo de que os seus críticos andam à procura não é de um nome – é de um sentimento de culpa. Eles batem-se pelo reconhecimento colectivo de todos os actos de violência cometidos pelos portugueses no último meio milénio contra ameríndios e africanos, como, aliás, já se viu na polémica com as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa sobre a escravatura na ilha de Gorée, no Senegal, ou com a estátua do padre António Vieira no Chiado, rodeado de três crianças índias. O que esses críticos querem não é apenas a edificação de um novo espaço cultural com determinadas características, mas sim a criação de um novo espaço mental a que poderemos chamar o Museu da Culpa do Homem Branco. Outra coisa que descobri: há nessa postura uma estranha mistura de catolicismo com judaísmo, demonstrando que certa esquerda progressista está a reentrar na Igreja, ainda que pela porta dos fundos. Nos activistas anti-Descobertas há uma insistência imensa na assunção de velhos pecados e na necessidade de contrição, associado a uma noção de culpa colectiva centenária que é tão bizarra quanto o orgulho nacional salazarista – como se algum de nós tivesse qualquer razão para se sentir responsável pelos actos de quem viveu há 300 anos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E depois há essa coisa profundamente judaica que é sentir que a destruição do Segundo Templo ocorreu não há dois milénios, mas anteontem. Nos judeus, percebe-se: historicamente, foi o poder da religião e da memória comum que permitiu a preservação de um povo apátrida. No caso da escravatura, contudo, o excesso de memória e a sua permanente invocação serve apenas para fabricar artificialmente uma linha contínua entre o português do século XXI e o esclavagista do século XVIII. Para quê? Simples: para permitir a vitimização histórica do português de origem africana no presente. O branco de 2018 é culpado pelos actos do esclavagista de 1718 para que o negro de 2018 possa ser vítima da escravatura de 1718. Mas como é difícil argumentar que a geração pós-25 de Abril andou de chicote na mão, ou que alguém, acima de idiota ou de skinhead (a bem dizer, são sinónimos), acha hoje em dia que a pigmentação da pele diz o que quer que seja sobre a inteligência ou a capacidade de um indivíduo, a estratégia passa por investir nos erros não assumidos do passado histórico português ou naquilo a que chamam “nano-racismos” (cito: “os pequenos, mas impactantes, gestos e atitudes racistas que pontuam linguagem e acção quotidianas”). Mais uma vez, é a linguagem, e não os actos, que se torna campo de batalha. Nós não escravizámos, mas a nossa língua ainda escraviza. Estão em causa (palavras de Clara Silva) “expressões idiomáticas que carregam na sua história a escravidão, e que estão intrinsecamente carregadas de sentidos negativos e opressores”. “Negro” não se pode dizer – remete para a escravatura. “Mulata” não se pode dizer – remete para mula. E por aí adiante. A prova de que somos opressores está na fala. E assim como o homem branco é culpado mal abre a boca, também um museu inexistente é culpado só pela mera intenção de existir.
REFERÊNCIAS:
A culpa e a reparação
A ideia de que os portugueses de hoje têm de reparar o que os de há cem ou duzentos anos fizeram é totalmente absurda! (...)

A culpa e a reparação
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: A ideia de que os portugueses de hoje têm de reparar o que os de há cem ou duzentos anos fizeram é totalmente absurda!
TEXTO: A desigualdade “racial” (e por vezes religiosa, étnica…) é tema infinito. Em Portugal e no resto do mundo. Entre nós, está agora mais vivo do que no passado, o que se fica a dever a intervenções de brancos e negros, africanos e europeus, cristãos e muçulmanos, judeus e gentios. Sem falar em académicos, artistas e políticos. O tema merece-o. Raros são os assuntos tão perenes na história e com opiniões tão diversas.
REFERÊNCIAS:
Países Portugal
A empresa do "caso Nicol" no Porto faz segurança à Casa Pia e EDP
Empresa de segurança 2045 continuava sem esclarecer nesta sexta-feira se o fiscal que se vê num vídeo com os joelhos em cima de uma jovem ainda está ao serviço. Com 3000 funcionários, tem uma carteira vasta de clientes, segundo se lê no seu site. (...)

A empresa do "caso Nicol" no Porto faz segurança à Casa Pia e EDP
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Empresa de segurança 2045 continuava sem esclarecer nesta sexta-feira se o fiscal que se vê num vídeo com os joelhos em cima de uma jovem ainda está ao serviço. Com 3000 funcionários, tem uma carteira vasta de clientes, segundo se lê no seu site.
TEXTO: Os partidos pediram contas ao Governo. O Ministério da Administração Interna abriu um processo administrativo. A STCP — Sociedade de Transportes Colectivos do Porto já disse que nunca mais trabalha com o segurança acusado de agressão racista à jovem Nicol Quinayas no Bolhão, na noite de 24 de Junho. O Ministério Público abriu um inquérito e o caso está a ser investigado. Mas até agora, a entidade que se manteve praticamente em silêncio foi a 2045, a empresa para quem o segurança trabalha e que faz a fiscalização na STCP. Num curto comunicado no dia 27, apenas disse que estava a fazer averiguações internas. Nesta sexta-feira continuava sem esclarecer se o fiscal ainda estava ao serviço. Fundada em 1990 pelo “Capitão de Abril” e comando Jaime Neves e pelo comando Sousa Gonçalves, a 2045 tem três mil funcionários e várias grandes empresas como clientes, segundo se lê no seu site: a EDP, o ISCTE, a Casa Pia, o IEFP, a ANA, o Continente, a Sonae Sierra (proprietária do PÚBLICO), o Sporting Club de Portugal, os Transportes de Lisboa, o Metro do Porto, a Direcção Geral dos Serviços Prisionais e o Instituto de Segurança Social, entre outras mencionadas. O Estado Maior-General das Forças Armadas pagou-lhe, em Maio de 2013, 53. 574, 33 euros (foi substituída em 2016 por outra empresa), de acordo uma investigação do PÚBLICO. Nicol Quinayas, colombiana de 21 anos que vive em Portugal desde os cinco, acusou o fiscal da 2045 de a agredir brutalmente e de ter proferido insultos racistas na noite de São João, como “Tu aqui não entras, preta de merda!" Várias testemunhas confirmam-no. Nicol diz também que os polícias que se deslocaram à paragem de autocarros onde tudo aconteceu não a identificaram. A PSP só elaborou o auto do acontecimento no local três dias depois e tem estado debaixo de críticas por isso. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O segurança da empresa que faz a fiscalização dos autocarros da STCP é visto num vídeo que circula na Internet com os joelhos em cima do corpo da jovem, a imobilizar-lhe o braço. Há sangue no chão. O Ministério da Administração Interna (MAI) afirmou que a Inspecção-Geral da Administração Interna pediu à Direcção Nacional da PSP para averiguar o que se passou, através de um processo administrativo. Por sua vez, a PSP diz que foi aberto um processo de averiguação interno. O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, afirmou em comunicado que “não tolerará fenómenos de violência nem manifestações de cariz racista ou xenófobo”.
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP MAI IEFP
Depois de alegada "invasão", agentes abandonaram esquadra de Alfragide sem pedir reforços
No terceiro dia de julgamento, agente da PSP disse que não chamou reforços depois da alegada "invasão". Minutos a seguir ao episódio, a esquadra ficou com menos quatro elementos que foram acompanhar colega ao hospital. “Como é que depois de uma invasão a esquadra se dá ao luxo de desguarnecer de quatro elementos?”, questionou juiz. (...)

Depois de alegada "invasão", agentes abandonaram esquadra de Alfragide sem pedir reforços
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 7 | Sentimento -0.05
DATA: 2018-10-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: No terceiro dia de julgamento, agente da PSP disse que não chamou reforços depois da alegada "invasão". Minutos a seguir ao episódio, a esquadra ficou com menos quatro elementos que foram acompanhar colega ao hospital. “Como é que depois de uma invasão a esquadra se dá ao luxo de desguarnecer de quatro elementos?”, questionou juiz.
TEXTO: Quando avistou os "10 a 15 jovens" a aproximarem-se da esquadra, o agente da PSP Marco Monteiro formou um cordão com outros colegas para tentar conter a alegada invasão. Segundo o seu depoimento desta terça-feira ao colectivo de juízes presidido por Ester Pacheco, do Tribunal de Sintra – onde 17 polícias estão a ser julgados por vários crimes alegadamente cometidos em Fevereiro de 2015, como tortura e falsificação de auto, agravados por ódio racial – viu “pedras a cair” e a serem atiradas. O cenário que descreveu parecia a qualquer ouvinte intimidante. Mas, passados cinco a dez minutos de os jovens terem sido detidos, ele e três agentes foram acompanhar ao hospital o agente André Quesado, alegadamente ferido num primeiro momento deste episódio. Não chamaram reforços depois disso, disse ao advogado dos assistentes. O juiz Paulo Cunha, que nesta terça-feira fez a sua primeira intervenção desde que o julgamento começou a 22 de Maio, questionou o facto de o agente, ao ver 15 pessoas a aproximar-se da esquadra, ter continuado na mesma posição e não ter chamado reforços. Disse ao arguido que o modo como estava a ser descrito o episódio por ele e pelos colegas indicava que acusavam os jovens de terem efectuado uma invasão, não apenas de terem tentado invadir. Por isso perguntou: “Como é que depois de uma invasão a esquadra se dá ao luxo de se desguarnecer de quatro elementos?”A forma como foi feito o depoimento deste agente levou, aliás, a sua advogada a irritar-se – “explique”, “diga” – e a juíza a comentar, sorrindo, condescendente: “Tem que dar mais emoção ao seu relato. "No auto de notícia sobre o que aconteceu no bairro da Cova da Moura, no dia 5 de Fevereiro de 2015, o agente André Castro e Silva disse ter visto o ofendido Bruno Lopes, acompanhado de um grupo de dez indivíduos, a atirar uma pedra contra a viatura da PSP que dirigia. Na primeira sessão do julgamento, voltou a afirmá-lo ao colectivo de juízes. Um segundo polícia, André Quesado, disse nesta terça-feira que também ele tinha visto Bruno Lopes a mandar uma pedra que partiu o vidro da carrinha – e que esta lhe foi parar aos joelhos. O que, aliás, tem sido uma das versões mantidas pelos agentes, assim como uma alegada tentativa de invasão de esquadra pelos seis jovens que se seguiu à detenção de Bruno Lopes, mas que o Ministério Público, suportado por uma investigação da Polícia Judiciária, contestou no despacho de acusação há cerca de um ano. O juiz Paulo Cunha, que expôs as contradições que apareceram neste dia, disse ao arguido: “Não foi só o senhor André Castro e Silva a ver uma pessoa a arremessar uma pedra, o senhor também se apercebeu. ”Depois de o ter levado a responder que tinha visto Bruno Lopes “num grupo de sete ou dez pessoas”, questionou-o: “Então no meio de dez pessoas consegue ver um braço a arremessar uma pedra?” Ele estava à frente, justificou o agente. “Quando a pedra chega ao senhor já estava a contar levar com ela, não gritou para os seus colegas: ‘cuidado, pedra!'?’”, questionou ainda o juiz. Porque até agora nenhum reportou ter dado este alerta aos colegas. Na sala de tribunal, os advogados e os juízes quiseram apurar se houve uso excessivo da força na detenção de Bruno Lopes, quando foi disparado um tiro de shotgun por outro agente da PSP, João Nunes. Segundo André Quesado, Bruno Lopes tentou resistir à detenção e começou a dar-lhe pontapés, tendo este agente ficado lesionado. Com voz paciente, ponderada, e entre alguns comentários antes das respostas dos agentes como “não estou a dizer que foi assim”, a juíza faz perguntas num tom compreensivo. Ao contrário do que aconteceu na primeira sessão, poucas vezes mostrou alguma desconfiança sobre a versão que lhe esteve a ser contada. “Nenhum de nós espera que uma situação deste tipo possa decorrer pacificamente. Se, segundo a vossa versão, há resistência à detenção é evidente que isto tem que correr mal. ” O que tem “de ser respondido”, continuou, é se decorreu “algo de anormal”. E questionou: “Se tivesse sido utilizada força excessiva aquele homem, Bruno, tinha saído de lá, além do corte do nariz, com mais qualquer coisa?”Porém, sobre o auto assinado pelo agente João Nunes, autor dos disparos de shotgun na Cova da Moura e na esquadra de Alfragide, a juíza afirmou: “Neste momento esse auto já está contestado. " Porque na sessão anterior o agente Paulo Santos negou ter-lhe dado a ordem de disparo – algo que João Nunes escreveu no documento oficial. Nenhum destes 17 arguidos pediu a abertura de instrução do processo, ao contrário do que aconteceu com uma agente que o fez e não foi a julgamento. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Causou interrogações à juíza o facto de alguns agentes agora contestaram a forma como a PJ fez os reconhecimentos – vários alegam ter ido à civil quando estavam fardados na data em que os factos lhes são imputados –, ou a versão do agente Hugo Gaspar que disse não ter tido contacto com nenhum dos seis jovens ofendidos dentro da esquadra e referiu que se tinha deslocado ao reconhecimento da PJ convencido de que iria participar como figurante e saiu de “lá arguido”. O único dos arguidos que está a ser defendido por um advogado isoladamente, Arlindo Silva, com mais de 20 anos de profissão, ouviu da juíza, quando criticou a PJ: “Vocês são tão experientes, merecia ter sido explicado mais cedo”, comentou. “Fomos mal instruídos”, justificou. Manteve a versão de todos os agentes até agora de que não houve nem agressões, nem ofensas verbais na esquadra. Tanto Hugo Gaspar como Arlindo Silva são acusados no despacho de ofensas racistas aos ofendidos. Na próxima audiência a 19 de Junho deverão ser ouvidos os últimos agentes.
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP PJ