Regime de excepção força regresso à normalidade em Baltimore
A população voltou às suas rotinas diárias depois da primeira noite de recolher obrigatório. Forças anti-motim permanecem na cidade. (...)

Regime de excepção força regresso à normalidade em Baltimore
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 6 | Sentimento 0.408
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: A população voltou às suas rotinas diárias depois da primeira noite de recolher obrigatório. Forças anti-motim permanecem na cidade.
TEXTO: A cidade de Baltimore regressou à normalidade esta quarta-feira, apesar do regime de emergência instaurado pelo prazo de uma semana na sequência de uma noite de violência e motins após o funeral de Freddie Gray, um homem negro de 25 anos que foi detido pela polícia e morreu uma semana depois, com lesões graves na espinal medula resultantes de circunstâncias misteriosas. Na primeira noite em que foi aplicada, a ordem de recolher obrigatório entre as 22h e as 5h do dia seguinte foi respeitada sem que se registassem mais incidentes. “As medidas tomadas estão a produzir resultado. A população está segura e a cidade está estável”, garantiu o comissário da polícia de Baltimore, Anthony Batts, que aconselhou os habitantes a cumprir as suas rotinas durante o dia e regressar cedo a casa. As restrições ao trânsito foram levantadas, as escolas reabriram e todos os serviços públicos voltaram a operar. A única nota que ainda denotava o nervosismo com a situação partiu da entidade que organiza o campeonato de baseball dos Estados Unidos – depois de dois adiamentos, a MLB decidiu fechar ao público as bancadas do estádio de Camden Yards para o jogo dos Baltimore Orioles contra os Chicago White Sox, invocando razões de segurança. A polícia de Baltimore contou com o apoio de mil homens recrutados às corporações vizinhas, e ainda com a participação de efectivos da Guarda Nacional na sua operação extraordinária de segurança da cidade. E, principalmente, contou com o apoio da população para levar a medida avante: esfriados os ânimos, as comunidades mobilizaram-se numa operação colectiva e espontânea de limpeza e os manifestantes marcharam pacificamente pela zona Oeste da cidade, com palavras de ordem de unidade e justiça. A calma relativa não significa o fim da tensão e revolta: apenas que, para já, surtiram efeito os apelos de líderes locais, religiosos e políticos, e também da família de Freddie Gray, que em coro repudiaram a violência e o vandalismo ao mesmo tempo que exigiram a investigação da sua morte. O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, também censurou os “vândalos” e os “delinquentes” que pilharam lojas, incendiaram carros e atiraram pedras à polícia. Mas apesar das palavras duras contra a desobediência e a marginalidade, Obama não deixou de notar que o caldo que alimentou a fúria dos manifestantes já fervia há muito tempo, anunciando a explosão e o conflito na cidade. O país precisa de “pôr a mão na consciência para resolver o problema da violência urbana”, declarou. Depois dos episódios em Ferguson e Nova Iorque, o país respirou de alívio por ver que a população de Baltimore não reagiu com mais violência e hostilidade à presença das forças anti-motim em cada canto da cidade. Como explicava esta manhã um dos residentes do bairro onde Freddie Gray foi preso, à rádio pública NPR, ao contrário do que sucedeu no Missouri, ninguém pensa que o incidente original com a polícia de Baltimore se deve à intolerância, discriminação ou intimidação da comunidade negra. “Nada do que aconteceu tem a ver com raça. O facto de [Freddie Gray] ser negro não tem nada a ver com o assunto”, declarou Taiwan Parker. As restantes 16 pessoas entrevistadas pela NPR na mesma zona partilhavam da mesma opinião: a origem da tensão que abriu um fosso entre a população e a polícia não tem a ver com nenhuma subrepresentação de afro-americanos nas instituições da cidade ou de uma postura racista das forças de segurança. Tal como 60% da população de Baltimore, também a mayor Stephanie Rawlings-Blake, o comissário Anthony Batts, e metade dos agentes da polícia são negros. Apesar de observarem uma reacção contra a brutalidade policial, os analistas apontam outra causa para a explosão de segunda-feira (que aconteceu depois de seis dias de vigílias e protestos pacíficos largamente ignorados pelas autoridades e os media). O que a violência trouxe à tona, dizem, foi a desigualdade social e económica, a decadência e criminalidade urbana, desemprego, pobreza e falta de oportunidades que afectam desproporcionalmente os negros, em bairros como aquele em que Freddie Gray vivia. Segundo dados recolhidos pelo Justice Policy Institute e a Prison Policy Initiative, citados pelo Financial Times, 33% das propriedades da zona estão abandonadas e a taxa de desemprego atinge 52% dos habitantes. A média dos rendimentos anuais daqueles que trabalham é de 24 mil dólares, menos de metade da média nacional de 52 mil dólares.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte homens violência negro homem comunidade social pobreza desemprego racista negra raça discriminação
Politicamente pertinente, cinematograficamente limitado
Óptimo actor, Denzel Washington é mais limitado como cineasta, e Vedações nunca encontra a forma ideal de lidar com a origem teatral do material que trabalha. (...)

Politicamente pertinente, cinematograficamente limitado
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 6 | Sentimento 0.164
DATA: 2017-02-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Óptimo actor, Denzel Washington é mais limitado como cineasta, e Vedações nunca encontra a forma ideal de lidar com a origem teatral do material que trabalha.
TEXTO: Pelas nomeações para os Óscares esta terceira aventura de Denzel Washington na realização é já a mais bem sucedida de todas. Porventura também a mais ambiciosa, pelo menos enquanto portadora de um comentário social: Vedações adapta uma peça teatral do dramaturgo August Wilson, que seria ou integraria um “fresco” sobre as vidas das comunidades afro-americanas de Pittsburgh, nos bairros e nos meios sociais mais desfavorecidos. Realização: Denzel Washington Actor(es): Denzel Washington, Viola Davis, Stephen HendersonAqui, estamos nos anos 50 e tudo anda à volta de um protagonista (o próprio Washington), que outrora albergou sonhos de uma carreira profissional no basebol mas já era demasiado velho quando os grandes clubes começaram a aceitar jogadores de pele negra. Em seu redor orbita uma galeria de personagens habitada por semelhantes amarguras e sonhos não concretizados (os mais velhos), e outros (os mais novos), ainda possuidores do grau de esperança que os ares dos tempos apesar de tudo autorizam. Washington é estimável como sempre, bem rodado na arte de construir a complexidade da sua personagem com a pose, com a voz, com os modos do corpo, e a companhia de que se rodeia afina genericamente pelo mesmo diapasão (menção a Viola Davis, nomeada para o Óscar de melhor secundária). Óptimo actor, Washington é um pouco mais limitado como cineasta, e Vedações nunca encontra a forma ideal de lidar com a origem teatral do material que trabalha: apesar de alguns planos muito eficazes na integração da acção nas ruas e becos de Pittsburgh, a sensação geral é a de uma mise-en-scène de telefilme, bastante sensaborona, que nem a presença dos actores e a força dos diálogos é capaz de contrariar (sensação agravada pela duração excessiva, mais de duas horas). Algo que, não afectando a pertinência e o impacto, social ou politicamente, dos temas reflectidos em Vedações, limita-lhe drasticamente o poder enquanto objecto cinematográfico.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave social corpo negra
Urban sketchers: isto não é apenas um desenho
Gabriel Campanario, o inventor do colectivo urban sketching. “Convidei aqueles de que gostava mais. Disse-lhes ‘vocês são os correspondentes nas vossas cidades’." (...)

Urban sketchers: isto não é apenas um desenho
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Gabriel Campanario, o inventor do colectivo urban sketching. “Convidei aqueles de que gostava mais. Disse-lhes ‘vocês são os correspondentes nas vossas cidades’."
TEXTO: Gabi acaba de chegar. “Não se pode virar uma esquina no Porto sem nos depararmos com um assunto digno de um esboço”, escreve na sua conta de Instagram. Nas folhas do seu pequeno caderno já vive a imponente fachada barroca da Igreja da Misericórdia na atarefada Rua das Flores e a vista do seu quarto de hotel — para a Ponte Luiz I e as cores quentes dos telhados do casario. Gabriel Campanario nasceu em Barcelona, conta histórias no The Seattle Times (escreve-as e ilustra-as) e é o principal responsável por a expressão urban sketching nos ser hoje familiar. O manifesto está quase a fazer dez anos. Ponto a ponto. 1 — Desenhamos in situ, no interior e no exterior, capturando directamente o que observamos. 2 — Os nossos desenhos contam a história do que nos rodeia, os lugares onde vivemos e por onde viajamos. 3 — Os nossos desenhos são um registo do tempo e do lugar. 4 — Somos fiéis às cenas que presenciamos. 5 — Usamos qualquer tipo de técnica e valorizamos cada estilo individual. 6 — Apoiamo-nos uns aos outros e desenhamos em grupo. 7 — Partilhamos os nossos desenhos online. 8 — Mostramos o mundo, um desenho de cada vez. 2006. Gabriel acabara de chegar a Seattle e queria muito melhorar a sua habilidade como ilustrador e desenhador. “Tudo me parecia novo”, conta à Fugas. “Comprei um pequeno caderno e desenhava tudo o que via. ” Com sensivelmente dois anos, o Facebook e o Twitter ainda não se tinham popularizado e Gabi lembrou-se de tecer no Flickr uma rede que “reunisse desenhos de todas as cidades do mundo”. “Em 2007 chamava-se urban sketches, desenhos urbanos, e era um lugar onde podíamos partilhar os desenhos que fazemos nas ruas e nas cidades a partir da observação. Era muito gratificante todas as noites ir a essa página ver o que tinha desenhado o Pete na Califórnia ou Simonetta em Nápoles. . . ” No ano seguinte, no dia 1 de Novembro, surgiu o blogue colectivo. “Convidei aqueles de que gostava mais. Disse-lhes ‘vocês são os correspondentes nas vossas cidades’. Para além do desenho, teria um comentário sobre a própria experiência. Pedi que contassem um pouco mais daquilo que está a acontecer nas suas cidades. Interessa-me o que está atrás da fotografia, a história do que está atrás da imagem”, explica este urban sketcher, ferramentas (caneta, lápis e aguarelas) prontas para o Simpósio Internacional, que este sábado termina no Porto — e que deixa pelo caminho um rasto de histórias ilustradas por 800 pessoas (#uskporto2018symposium no Instagram). “As pessoas tiram fotografias, eu faço desenhos”, sublinha. Para Gabi, os desenhos são “documentos visuais” tão importantes como aqueles que Victor Steinbrueck revelou nos anos 1960, em Seattle, e que muito provavelmente salvaram o Pike Place Market da destruição. “O arquitecto editou um livro de desenhos desse mercado [Market Sketchbook] para chamar a atenção. ‘Isto que temos aqui é muito valioso, não o destruamos. ’ O desenho pode transformar-se numa forma de activismo”, avisa Gabriel enquanto escreve o nome “Bolhão” na sua lista to draw no Porto. A missão dos urban sketchers — “um nome engloba gente de diferentes profissões e formação; não é um movimento profissional; cabe lá todo o mundo” — passa por “documentar um determinado lugar num determinado momento” porque o mesmo sítio muda de dia para dia. Os urban sketchers “não querem fazer postais bonitos”. “Desenhar ajuda-te a apreciar o que te rodeia. Quando praticas urban sketching entendes melhor o que se passa à tua volta porque estás a prestar mais atenção. Alguém me disse um dia que quando paras para prestar atenção à tua volta é como se colocasses óculos novos todos os dias. ” Os urban sketchers não fotografam. “Quando vês uma cidade através de um desenho, a reacção é muito diferente do que quando vês uma fotografia. Num desenho não está toda a informação que está numa fotografia, completa-la tu com a tua imaginação. São linhas e cor. O bonito é que o resultado é sempre diferente. Se nos colocarmos os dois numa esquina a fazer uma foto, a foto vai ser igual. Se os dois desenharmos, é impossível que o desenho seja igual. É uma forma de expressão puramente individual. Nós, o nosso lápis e o nosso papel. ”No Porto — como em Seattle —, o jornalista detecta pequenos detalhes que são oportunidades para falar da evolução das cidades. “Há sempre muito que observar”, escreve numa das suas recentes crónicas publicadas no The Seattle Times, onde surge na ficha técnica como ilustrador. “Perante uma cidade que muda rapidamente, é fácil concentrarmos-nos em tudo o que está a desaparecer. Também é fácil esquecer que a maioria das mudanças é realmente positiva. Neste quarteirão da cidade, vejo as forças do passado e do futuro unindo-se bem”, regista a propósito da “booming Seattle”, cidade que o recebeu há mais de dez anos. “Cada desenhador transmite o carácter da sua cidade. Se tu fores lá, reconhece-la”, sublinha. Cada cidade com as suas linhas, com a sua paleta de cores. “Lisboa tem uma luz muito única e aqui é impossível não dar conta da cor dos telhados e do contraste da pedra com os azulejos. Tudo isso o desenhador captura. Os meus desenhos de Seattle têm cores frias e passam aos amarelos e ocres quando visito Espanha. O propósito é não inventar, é captar o carácter da cidade. Se uma casa tem três janelas não lhe colocas cinco. A intenção é reflectir sobre aquilo que vês. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E como escolher o que desenhar? “Desenho o que me chama a atenção e também o que sei sobre esse lugar. Leio a história da cidade e às tantas encontro a igreja mais antiga da comunidade negra de Seattle ou descubro que a Madison Street é a única via que liga a Elliot Bay com o Lake Washington”. Um desenho, diz, não é apenas um desenho. “Não está tudo à tua frente. Imaginas o resto. ”Qual a periodicidade com que publica no The Seattle Times? Actualmente publico mais ou menos um desenho (ou grupo de desenhos) por semana. Até ao final do ano passado era uma contribuição regular ao sábado. Ilustrava a capa do caderno local. Agora não tenho a mesma regularidade e posso gastar mais tempo num tema específico. Costuma voltar a Barcelona? É uma cidade impressionante. Curiosamente, quando estava lá, era um miúdo, não me dei conta disso, não estava a desenhar o meio ambiente que me rodeava. Agora, como adulto, arrependo-me de não ter começado a desenhar mais cedo. Teria visto Barcelona de uma forma diferente. Agora surpreende-me o bonito que são muitos dos sítios que eu costumava frequentar. Viaja para desenhar? Não viajo expressamente para desenhar. O meu desenho está centrado na vivência da cidade de Seattle. Gosto de sítios que têm um carácter próprio. Gosto de viajar e gosto de desenhar. Fazê-lo como trabalho. . . não necessariamente. Nunca pensei nisso, mas. . . acho que seria interessante ficar no Porto a fazer o que faço em Seattle. Acho que as publicações em geral deviam prestar atenção a esta forma de comunicação. Os leitores gostam muito de ver sítios através de desenhos. Não está tudo à tua frente, imaginas o resto.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave ajuda comunidade negra
“Estarmos na Internet torna algumas questões mais urgentes e globais do que elas realmente são”
Black Milk sobe esta sexta-feira ao palco do Music Box (Lisboa) e sábado ao do Plano B (Porto) para apresentar FEVER, um dos mais importantes discos americanos do ano. (...)

“Estarmos na Internet torna algumas questões mais urgentes e globais do que elas realmente são”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 6 | Sentimento 0.233
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Black Milk sobe esta sexta-feira ao palco do Music Box (Lisboa) e sábado ao do Plano B (Porto) para apresentar FEVER, um dos mais importantes discos americanos do ano.
TEXTO: A encerrar um primeiro tour pela Europa, esta sexta-feira (Music Box) e sábado (Plano B), um dos grandes – mas subvalorizados – nomes do hip-hop americano dos anos 2000 está aí para fazer subir as temperaturas. Em Abril último, escrevíamos que "O termómetro diz que o mundo está com febre". O aparelho para medir a temperatura, neste caso, era um disco chamado FEVER, de Black Milk, rapper e produtor independente de Detroit, cidade da Motown e de uma certa nata do hip-hop americano (J Dilla, Royce da 5’9”, Eminem). Disco que, originalmente iniciado sob o impulso de fazer algo optimista, leve, haveria de descambar, por ocasião da eleição de Trump (e de tudo o que ela trouxe), num trabalho reflexivo, questionador, aqui e ali angustiado. Sem nunca perder, porém, melodicamente falando, uma linha solar, colorida, e, no metrónomo, o pé gingão, cruzando o hip-hop mais clássico com a soul, o funk, o rock e, até, algum psicadelismo. Um dos aspectos mais interessantes em FEVER está na forma como cria vibrações dançantes, groovy, ao mesmíssimo tempo que expressa ideias e posições importantes, até incómodas. Como se dissesse: podemos dançar e pensar ao mesmo tempo. Eu quis fazer do FEVER um álbum optimista, sobretudo porque os meus dois álbuns anteriores eram pesados, negros. Mas, com tudo o que passa nos EUA, com a eleição de Trump, com os homicídios de negros desarmados pela polícia, não consegui evitar escrever sobre o assunto. É por isso que algumas das paisagens sonoras são mais optimistas mas as letras continuam a ser significativas. Espero que a mistura dos dois soe bem!FEVER é um disco que, entre outras febres, fala da das “redes sociais”. Já sublinhou em entrevistas anteriores como elas afectam as nossas emoções e comportamentos, e que, por causa disso, começou a fazer uma “dieta” de Internet. Mesmo quando não estamos a “postar” nas redes, tendemos a fazer scroll nas nossas timelines numa base diária. A certo ponto, já nem é pelo interesse que temos pelas coisas, trata-se apenas de um hábito! Quando estou na estrada ou a criar, estou menos tempo online, tento manter-me afastado. Se olharmos para as coisas de forma mais distanciada, não é necessário, nem saudável ficar tão exaltado por cada coisa que nos aparece à frente num computador – é o que tento fazer. A loucura das “redes” leva as pessoas a adoptarem comportamentos que elas próprias julgariam impensáveis há uns anos atrás: todas estas selfies narcísicas, a forma como as pessoas contam tudo sobre a sua vida a todo o tempo…A ideia de aceitação social levou definitivamente as pessoas a comportarem-se de formas que seriam anormais há apenas 5 anos atrás! Acho que o auto-empoderamento e a auto-estima são características de louvar, mas fazê-lo a toda a hora nas redes sociais não é bom para o bem-estar de ninguém. Outro dos aspectos que mais aprecio no álbum é a forma como as letras não procuram ser, como acontece muito no rap actual, quotable, quero dizer, imediatamente – superficialmente… – “hashtaggizáveis” em contas de Facebook e Instagram. Os pensamentos que coloca nas letras são fluídos, longos, até “lentos”. Sim! Sempre tive um estilo meu e o meu próprio naipe de flows. Embora, em geral, seja mais apreciado pela produção, vi mais elogios ao meu rap nos últimos três álbuns, sobretudo com o FEVER. Penso que uma das razões reside no facto de as letras, nesses três álbuns, serem mais baseadas em narrativas – estou a rimar em modo story e isso mantém-me focado na história que quero contar, e não apenas em rappar por rappar. Em algumas canções do álbum, há uma dura – e compreensível – crítica à igreja. Mas não foi ela, historicamente falando, um dos mais importantes espaços para a música negra e para a comunidade negra se reunir e mobilizar? Pensemos apenas em Martin Luther King. A minha crítica não é à igreja em si, mas ao modo como tem sido utilizada para controlar as pessoas e impedi-las de realizar todas as suas capacidades. Conceitos como “medo”, “esperança” e “fé” podem e têm sido utilizados como armas contra as pessoas! Mas concordo que a Igreja teve um impacto extraordinário na música negra e na música em geral, foi lá que eu desenvolvi o meu ouvido para certos acordes e sons que ficaram para sempre comigo. But I Can Be Wrong [da faixa But I Can Be]. É como se elevasse a Dúvida a princípio fundamental de reflexão e de aprendizagem no diálogo com os outros. Como se evitasse ter muitas certezas sobre as coisas (como toda a gente tem nas “redes”). Para mim, a canção é mais sobre o meu processo criativo e sobre tudo aquilo que interfere com a criatividade pura e dura. Talvez essas coisas sejam reais, talvez existam só na nossa cabeça. A letra capta diferentes fluxos de consciência, como a pressão para teres sucesso querendo ao mesmo tempo manteres-te verdadeiro para contigo mesmo. Ou teres uma intuição forte e sentido de decisão mas seres capaz de te questionares sempre uma segunda vez. A responsabilidade de cuidares de ti e dos outros… Estes são o tipo de pensamentos que interferem com o processo criativo! Independentemente do quão genial um artista possa ser, é inevitável que seja confrontando com responsabilidades reais, do mundo real, ou com coisas menos boas que irão afectar a sua capacidade para criar à vontade, como preocupar-se com aquilo que os fãs e os críticos vão dizer. Ao contrário de outros artistas de rap, que produzem sozinhos e depois trazem a banda para tocar ao vivo, produz com banda desde o início do processo. Porquê esta opção e que mais-valias ela lhe traz?Continuo a criar as bases das canções na MPC ou noutro software digital, mas faço música há tanto tempo que sinto vontade de fazer novos sons e de me desafiar a mim mesmo, transcender-me – e é aqui que entram os instrumentistas. Posso tê-los a tocar qualquer coisa que estou a ouvir só na minha cabeça, depois pegar nisso e samplar, “choppar”, tal como faria com um vinil. E como o resultado é mais musical, isso também tem um impacto positivo quando tocamos ao vivo. O álbum Tronic tem quase a mesma importância que alguns trabalhos de Kanye West [808s & Heartbreak saiu no mesmo ano, 2008] para o namoro do hip-hop com a electrónica dos anos 2000. Por que razão é que não teve o mesmo reconhecimento?Sou um artista verdadeiramente independente. Trabalho sempre com equipas pequenas que acreditam em mim. Sempre criei fora da “indústria”, no sentido de não ter uma grande editora ou máquina por trás. Por isso, o meu alcance é limitado! Mas os meus fãs apoiam-me e posso viver confortavelmente, fazer a música de que gosto e dar concertos pelo mundo nos termos que eu próprio defino. Isso é o mais importante para mim. Os EUA estão a enfrentar uma série de desafios desde que Trump foi eleito. Como vê a situação política americana, hoje? Concretamente no que respeita ao acesso às armas, está do lado dos jovens estudantes que se têm manifestado a favor do seu controlo e/ou proibição?Estarmos na Internet torna algumas questões mais urgentes e globais do que elas realmente são, e esta é uma das razões pelas quais eu tento estar offline o máximo possível. Mas, de facto, passam-se coisas terríveis neste momento, como a retórica de ódio de Trump e a violência relacionada com o uso de armas, que não podem ser relativizadas e que afectam os americanos diariamente. Eu apoio aqueles que estão a lutar por leis de armas mais restritas e por um controlo mais abrangente do acesso a armas militares automáticas. Há tempos, falando com Illa J [irmão do lendário J Dilla], ele disse que, depois da declaração de bancarrota, Detroit tem vindo a recuperar assinalavelmente. É esta a sua impressão?O espírito de Detroit sempre foi e será o da perseverança! A cidade está a evoluir positivamente, mas eu só espero que todos possam ser incluídos nessa mudança. A comunidade artística, por sua vez, está a crescer num misto de tradição e ecletismo, como sempre foi a sua marca. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Para quem conhece o seu trabalho, mas sobretudo para quem não conhece, o que pode esperar destes dois concertos?Um pouco de tudo! Vou tocar o FEVER e clássicos dos outros álbuns. A banda vai improvisar enquanto eu fico com os pads de bateria, vai haver tempo para jam… Vai ser bom!
REFERÊNCIAS:
Partidos BE
Ali, por ele próprio
Está disponível na HBO What’s My Name: Muhammad Ali, um documentário em duas partes sobre um homem que foi muito mais que um dos maiores pugilistas de sempre. (...)

Ali, por ele próprio
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Está disponível na HBO What’s My Name: Muhammad Ali, um documentário em duas partes sobre um homem que foi muito mais que um dos maiores pugilistas de sempre.
TEXTO: Melhor do que ver Muhammad Ali combater (e isso não será ao gosto de toda a gente), é ouvi-lo falar, por exemplo, do dia em que, recém-ordenado campeão olímpico e com a medalha de ouro ao pescoço, foi almoçar a um restaurante na baixa de Louisville. Era um dia em que lhe apetecia um café e um hambúrguer. “A senhora que estava ao balcão disse, ‘Não servimos pretos’. Eu não quero pretos. Quero um café e um hambúrguer!” Enquanto esteve na posse de todas as suas faculdades, Ali sempre teve muita coisa para dizer, com um insulto, com um poema, com uma declaração de princípios, a defender os seus ou a atacar os dos outros. Por isso, nada melhor do que conhecer Muhammad Ali através das suas próprias palavras, que é o que nos propõe What’s My Name: Muhammad Ali, um documentário em duas partes que está disponível no serviço de streaming da HBO, realizado por Antoine Fuqua (Dia de Treino) e produzido pelo basquetebolista LeBron James. Poucas vidas do século XX terão sido tão retratadas como a de Ali, que tem uma imensa bibliografia, iconografia e filmografia sobre si — The Fight, livro de Norman Mailer, e When We Were Kings, vencedor do Óscar de melhor documentário em 1996, são dois pontos altos — e, por isso, este What’s My Name não acrescenta nada à lenda. Mas não precisa de o fazer. É verdade que não há testemunhos novos, nem imagens inéditas e não vai muito pelo lado pessoal. Basicamente, é um trabalho de recolha e montagem, como acontece muitas vezes em documentários sobre grandes figuras do desporto (Senna, de Asif Kapadia, é um bom exemplo), e a narrativa da vida de Ali em What’s My Name é bastante linear, detalhado tanto quanto um documentário pode ser antes de se tornar uma enumeração de datas e nomes. O que faz a diferença é: não há ninguém a falar por ele. Não há ninguém a explicar as suas acções, a tentar adivinhar as suas motivações, a não ser o próprio Ali, que esteve na linha da frente em várias frentes durante décadas. Ali foi um pugilista de excepção e What’s My Name mostra-nos isso desde os tempos em que se evidenciou como amador, com foco especial na medalha de ouro conquistada nos Jogos Olímpicos de Roma em 1960, até à sua progressão fulgurante como profissional, e a intercepção dessa carreira desportiva com o activismo na luta pelos direitos civis da comunidade negra nos EUA. Ouvimos a história quase sempre pelas palavras de Ali, incluindo o momento que dá o título ao filme, aquele combate contra Ernie Terrell em que este insiste chamar-lhe Cassius Clay, o nome a que Ali, que, entretanto, se convertera ao islamismo e aderido à Nação do Islão, tinha renunciado por considerar que era o seu nome de escravo. “Como é que eu me chamo?”, foi a pergunta com que Ali castigou Terrell durante 15 assaltos, com a boca e com os punhos, antes de ganhar por decisão unânime dos juízes. Todas as histórias marcantes e frases icónicas estão no filme, o Rumble in the Jungle, o Thrilla in Manilla, o “voo como uma borboleta, pico como uma abelha”. Mas também marca presença o homem, que tantas vezes (sempre) se armava em fanfarrão com os adversários, a narrar a sua própria lenta decadência, menos ágil de braços, de pernas e no discurso. A última parte do filme, em que é evidente a debilidade física de Ali causada pela doença de Parkinson, é um epílogo penoso, as derrotas sucessivas e degradação física (mas integral para conhecer o homem atrás da lenda), fechando com um momento simbólico, em que um homem chamado Muhammad Ali acende o fogo olímpico nos Jogos de Atlanta em 1996, ele que tinha sido campeão 36 anos antes com outro nome.
REFERÊNCIAS:
Ir à história de Serralves e voltar, sem nostalgia
O Museu de Serralves inaugura esta quinta-feira a exposição comemorativa dos 30 anos da Colecção e da Fundação. Uma história da arte contemporânea, contada do ponto de vista “da cidade e do país”, diz o director Philippe Vergne. (...)

Ir à história de Serralves e voltar, sem nostalgia
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Museu de Serralves inaugura esta quinta-feira a exposição comemorativa dos 30 anos da Colecção e da Fundação. Uma história da arte contemporânea, contada do ponto de vista “da cidade e do país”, diz o director Philippe Vergne.
TEXTO: É mais uma exposição com base na Colecção de Serralves. Mas esta tem uma motivação especial – festejar mais um número redondo na história da instituição, os 30 anos da colecção, contados a partir da data (27 de Julho de 1989) em que em Diário da República foi publicado o decreto-lei que instituiu a Fundação de Serralves. Viagem ao princípio: ida e volta. 30 anos da Colecção de Serralves, que esta quinta-feira abre ao público, é a nova exposição que irá atravessar o Verão e entrar pelo Outono (fica até 3 de Novembro), espalhando-se, nestes primeiros dias, pelo Museu de Arte Contemporânea de Serralves (MACS), mas também pela Casa e pelo Parque da fundação, e estendendo-se depois aos Paços do Concelho do Porto e ao Terminal de Cruzeiros de Leixões, em Matosinhos. A exposição resulta do trabalho da equipa curatorial de Serralves – Marta Almeida, Isabel Braga e Ricardo Nicolau –, mas as honras da apresentação aos jornalistas, esta quarta-feira, couberam ao novo director do MACS, o francês Philippe Vergne. “Esta é uma colecção única, jovem, radical”, disse Vergne, confessando o seu “entusiasmo” por estar agora a ver de perto e ao vivo algo que só conhecia das publicações e das imagens online que lhe iam chegando. “Não se trata, aqui, de uma colecção de troféus, mas de escolhas e de ideias; esta colecção é um mapa para ler o passado e projectar o futuro”, acrescentou o ex-director do Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles (MOCA). Ao PÚBLICO, Vergne diria ainda que vê na Colecção de Serralves a marca da cidade e do país: “É uma colecção que se nota que foi construída a partir do Porto e de Portugal; há nela uma tradição literária que, de uma maneira ou de outra, está sempre presente. ” E referiu também o “prazer” que sente ao ver nela criações que o ajudam a “compreender as últimas décadas do século XX”, citando algumas das obras expostas na sala onde falava aos jornalistas, como o montículo de carvão de Reiner Ruthenbeck (Ascheaufen 1 – mit Latten, 1968), a vedação de Miroslav Batka e Luc Tuymans (The Fence, 1998), o “inventário de objectos do quotidiano de uma velha senhora de Baden-Baden” (Christian Boltanski, 1973), ou mesmo a tela de Julião Sarmento Dias de escuro e luz (1990). Antes de guiar os jornalistas por algumas das salas do museu, Marta Almeida, directora-adjunta do MACS, lembrou que a escolha da centena de obras que constitui a exposição teve em conta peças do núcleo seminal ainda reunido pela equipa de Fernando Pernes, outras que foram criadas especificamente para a Casa e para os jardins, antes ainda da construção do edifício de Álvaro Siza, e obras que aqui seriam depois estreadas, ao lado de outras adquiridas a partir das grandes exposições individuais que foram fazendo a história do Museu de Serralves. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Apesar da visível narrativa histórica que Viagem ao princípio: ida e volta encena, Ricardo Nicolau recusou que ela assente numa visão nostálgica do passado. “Para montarmos esta exposição, tentámos recorrer à nossa memória, certamente um bocadinho nostálgica, mas evitando sempre cair na nostalgia”, disse o curador, que depois encaminhou os visitantes para instalações que trabalham as ideias do arquivo e da memória, como a de Mariana da Silva (Arquivo para a permanência da imagem, modelo funcional, 2008), uma mesa com moviolas que permitem o visionamento de pequenos filmes em Super 8mm com testemunhos do pós-25 de Abril de 1974; ou a de Mathieu Kleyebe Abonnenc (Ça va, ça va on continue, 2012), um filme em dupla projecção sobre a comunidade negra da cidade do Porto, quando ela era ainda quase inexistente. Isabel Silva assinalou a presença de obras e artistas que não só integraram o referido núcleo fundador do MACS, como Álvaro Lapa, António Dacosta ou Ângelo de Sousa, mas também de nomes estrangeiros a eles associados na grande exposição-manifesto Circa 1968, que, em 1999, assinalou a inauguração do museu, quando este era dirigido por Vicente Todolí. O norte-americano Richard Serra (autor, entre outras obras, da peça dupla Andar é medir, de 2000, uma das esculturas no parque), o francês Christian Boltanski e o sérvio Dimitrije B. Mangelos estão entre esses nomes. Já na antiga villa do Conde de Vizela, o visitante pode (re)ver obras criadas em diálogo directo com a sua arquitectura art déco por artistas como os norte-americanos Richard Tuttle e Nick Mauss ou os portugueses Pedro Barateiro e Albuquerque Mendes. É de resto deste último a peça Tango, concebida especificamente para a Casa (e depois integrada na colecção), onde o artista-performer repetirá na noite da pré-inauguração, esta quarta-feira, a performance realizada nos anos 80.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei comunidade negra
Educação, segurança, ambiente: o que vai mudar com o Governo de Bolsonaro
Acabar com a “doutrinação” na escola e dar impunidade total aos polícias em serviço são algumas medidas previstas. (...)

Educação, segurança, ambiente: o que vai mudar com o Governo de Bolsonaro
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Acabar com a “doutrinação” na escola e dar impunidade total aos polícias em serviço são algumas medidas previstas.
TEXTO: Uma escola “sem doutrinação [política] e sexualização precoce”, o direito de posse de arma, o endurecimento das penas ou o fim dos entraves ao estabelecimento de empresas em áreas protegidas são algumas medidas que o novo Presidente do Brasil vai querer fazer aprovar. “Se for preciso, combate-se a violência com mais violência”, defendeu Jair Bolsonaro em campanha. Na prática, essa ideia está implícita em muitas das suas propostas, da reformulação do estatuto de desarmamento, com a facilitação da posse de arma (especialmente importante “no caso de vigilantes e camionistas”) alargado e a alteração do Código Penal para estabelecer o direito à legítima defesa. Apesar de a polícia já estar a salvo de punição em muitos casos, quer garantir que um agente não possa sequer ser investigado por matar alguém em confronto – “Ele [o polícia] entra, resolve o problema. Se matar dez, 15 ou 20 [traficantes], com dez ou 30 tiros cada, ele [o polícia] tem de ser condecorado e não processado”, afirmou em Agosto. O novo Presidente vai querer ainda baixar a maioridade penal dos 18 para os 17 anos (e numa segunda legislatura para 16), acabar com as saídas temporárias (“prender e deixar preso”) e introduzir penas mais duras para crimes de violação, caso que em prevê a castração química voluntária em troca de uma redução na pena. E no país onde nasceu o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, propõe tipificar como terrorismo as invasões e ocupações de propriedade. A principal preocupação do antigo militar sobre o ensino parece ser a necessidade de uma escola “sem doutrinação”. De tal forma que uma das razões invocadas no programa para defender a adopção do ensino à distância em todos os graus é o facto de esta “ajudar a combater o marxismo”. Na linha do programa do novo chefe de Estado, uma deputada eleita pelo seu PSL, Ana Caroline Campagnolo, de Santa Catarina, pediu ainda na noite de domingo aos estudantes do seu círculo eleitoral que “denunciem” (“filme”, “grave”) os “professores doutrinadores”: “Muitos não conseguirão disfarçar sua ira e farão da sala de aula uma audiência cativa para suas queixas político-partidárias em virtude da vitória do Presidente Bolsonaro”, antecipou. Bolsonaro quer também acabar com as quotas por motivos raciais (actualmente são estabelecidas pelos estados em função da população negra) e aumentar o número de escolas militares (pretende ter um colégio militar em cada capital estadual em dois anos). Ao mesmo tempo, propõe reintroduzir no currículo as disciplinas de Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política Brasileira, que eram ensinadas durante a ditadura militar. O seu principal assessor de campanha para a Educação (e provável ministro da pasta), o general Aléssio Ribeiro Souto, vai mais longe e quer eliminar “os livros que não trazem a verdade sobre o regime de 1964 [ano do golpe militar]”. O mesmo general afirmou que com a revisão dos programas “cabe citar o criacionismo e o darwinismo mas não cabe querer tratar que o criacionismo não existe”. Nas 81 páginas do programa de Bolsonaro não consta uma única vez a expressão “políticas ambientais”: o tema surge apenas onde se lê que é preciso acabar com as “barreiras quase intransponíveis no licenciamento ambiental” que enfrentam as empresas para construir “pequenas centrais hidroeléctricas”. No mesmo sentido, o Presidente eleito defendeu a fusão dos ministérios do Ambiente e da Agricultura para pôr fim à “indústria das multas” e diminuir os problemas enfrentados “pela classe produtora do sector”. Não é certo que a proposta de fundir os ministérios avance, já que não é consensual na sua equipa. O mesmo acontece com o anunciado – e depois desmentido – abandono do Acordo de Paris para limitar a emissão dos gases com efeito de estufa. A concretizar-se este abandono, os ambientalistas temem um aumento catastrófico da deflorestação da Amazónia. Já foi em Maio que Bolsonaro falou de forma pouco clara sobre a grande floresta do mundo: “A Amazónia não é nossa e é com muita tristeza que eu digo isso, mas é uma realidade e temos como explorar em parceiras essa região”. Outro sinal que deixa os ambientalistas muito preocupados é a intenção de esvaziar de poderes as principais entidades que autorizam empresas em zonas protegidas, gerem as reservas naturais e protegem a biodiversidade. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Apesar de ter martelado na corrupção como grande doença do país, vinculando o combate à corrupção ao combate ao próprio Partido dos Trabalhadores (“Esses marginais vermelhos serão banidos da nossa pátria. Ou vão pra fora ou vão pra prisão”, defendeu), do seu programa não constam grandes novidades nesta área. Para além de querer cortar ministérios e deixar de fazer nomeações políticas para cargos públicos, a grande proposta passa por enviar para aprovação no Congresso um documento que já esteve na Câmara dos Deputados em 2016 – “Dez Medidas Contra a Corrupção”, onde se incluem a criminalização do enriquecimento ilícito ou o aumento das penas para corrupção que envolva grandes quantias de dinheiro. O ex-deputado propõe ainda extinguir o Ministério das Cidades, passando a “enviar o dinheiro directamente para os municípios”, defendendo que “a medida facilita a fiscalização e o combate à corrupção de perto”. Os críticos lembram que a nota dos municípios é muito inferior à dos estados no Ranking da Transparência elaborado pelo Ministério Público Federal.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola violência educação prisão social violação doença negra
Trump participa em cimeira onde está líder acusado de genocídio
Presidente dos EUA e homólogo do Sudão, acusado de genocídio, vão participar numa cimeira na Arábia Saudita. (...)

Trump participa em cimeira onde está líder acusado de genocídio
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-05-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Presidente dos EUA e homólogo do Sudão, acusado de genocídio, vão participar numa cimeira na Arábia Saudita.
TEXTO: O Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, que é acusado de genocídio pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), foi convidado a participar numa cimeira na Arábia Saudita onde estará presente o chefe de Estado norte-americano, Donald Trump. A informação é avançada pelo New York Times (NYT), que cita um porta-voz governamental sudanês. Apesar de os Estados Unidos não serem signatários do tratado que instituiu o TPI, Washington tem recusado acolher ou manter contactos com suspeitos que contestam ordens de detenção emitidas por aquele tribunal, como é o caso de al-Bashir. Activistas dos direitos humanos consideram agora que a eventual presença de Trump e do Presidente sudanês no mesmo fórum representaria uma grave quebra do que tem sido a política norte-americana, aponta o jornal nova-iorquino. Al-Bashir foi acusado em 2009 e em 2010 de crimes de guerra, genocídio e crimes contra a humanidade pelo papel no conflito do Darfur. Segundo as Nações Unidas, pelo menos 300. 000 pessoas terão morrido desde o início do século naquela região sudanesa, onde a população negra é perseguida por movimentos armados árabes apoiados pelo regime de Cartum. “Qualquer interacção do Presidente Trump com al-Bashir na Arábia Saudita, se al-Bashir estiver presenta na cimeira, enviaria uma terrível mensagem às vítimas dos crimes e levantaria enormes dúvidas sobre o compromisso dos EUA em relação à busca da justiça”, disse Elise Keppler, da Human Rights Watch, citada pelo NYT. Al-Bashir tem mantido deslocações ao estrangeiro apesar de ser alvo de um mandado de captura internacional. Recentemente, esteve na Jordânia, país que reconhece o TPI. Em 2015, participou numa reunião da União Africana na África do Sul, sendo momentaneamente proibido de deixar o país por um juiz. No entanto, diligências movidas pelo Presidente sul-africano Jacob Zuma evitaram uma detenção.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Equipa da Cruz Vermelha entrou em Sirte
Uma equipa da Cruz Vermelha Internacional entrou este sábado com ajuda médica na cidade cercada de Sirte, terra natal de Muammar Khadafi. (...)

Equipa da Cruz Vermelha entrou em Sirte
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-10-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma equipa da Cruz Vermelha Internacional entrou este sábado com ajuda médica na cidade cercada de Sirte, terra natal de Muammar Khadafi.
TEXTO: “Estão lá dentro a entregar ajuda médica”, confirmou à Reuters Karen Strugg, uma funcionária da Cruz Vermelha. Pouco antes, junto a uma barreira de forças do novo regime, a cerca de dois quilómetros do centro, tinha sido visto um camião e dois automóveis com europeus, que recusaram falar. “Há uma pausa [nos bombardeamentos] para que as famílias possam sair. . . Estamos a tentar uma coordenação com a Cruz Vermelha”, disse nessa altura Khaled Al-Nas, um comandante militar do Conselho Nacional de Transição (CNT). Sirte, 360 quilómetros a leste de Trípoli, é, com Bani Walid, uma das duas principais cidades controladas por fiéis a Khadafi, apesar de diversas tentativas de assalto do novo poder nas duas últimas semanas. Forças do CNT controlam o porto e o aeroporto, mas não conseguiram ainda tomar a cidade e atribuem a dificuldade em avançar a atiradores isolados. Fontes médicas citadas pela AFP disseram que na sexta-feira, nos combates mais violentos da última semana, um atacante foi morto e 11 ficaram feridos. As Nações Unidas e diversas organizações humanitárias alertaram para a possibilidade de baixas civis e para a degradação das condições de vida. Médicos de um hospital de campanha nos arredores de Sirte afirmaram à agência que uma mulher morreu de malnutrição e que há outros casos graves. Um dirigente das forças que se levantaram contra o antigo ditador disse que, na sexta-feira, cerca de um milhar de civis conseguiu fugir da cidade. A Cruz Vermelha calcula em 18 mil o número dos que abandonaram Sirte até quarta-feira. Um porta-voz de Khadafi disse que os ataques aéreos da NATO e os bombardeamentos do CNT causaram a morte de civis – informação negada pelas duas entidades, segundo as quais o perigo para a população vem das forças do antigo regime, que executam aqueles que suspeitam simpatizar com as novas autoridades. Mas os abusos não são, segundo a Human Rights Watch (HRW), um exclusivo dos apoiantes do ditador. A organização de defesa dos direitos humanos apelou ao poder agora instalado em Trípoli para que ponha fim às prisões arbitrárias e aos maus tratos a prisioneiros. A HRW, que visitou 20 cadeias na capital e ouviu 53 prisioneiros, apelou ao CNT e aos seus aliados internacionais para organizarem sem demora um sistema judicial capaz de tratar da situação dos prisioneiros. Os reclusos ouvidos pela organização queixaram-se de maus tratos em seis cadeias e disseram terem sido espancados e recebido choques eléctricos. Nenhum foi ainda apresentado a um juiz. Milhares de pessoas foram mortas após a queda de Trípoli, no final de Agosto, particularmente líbios de pele negra ou africanos subsarianos, acusados de terem combatido por Khadafi. Em Bani Walid, 170 km a sudeste da capital, os combatentes do CNT também não conseguem progredir apesar dos combates que, desde há um mês, já lhes provocaram cerca de 40 mortos, segundo a AFP. A Cruz Vermelha calcula que mais de 25 mil pessoas tenham já deixado a cidade
REFERÊNCIAS:
Entidades NATO
Líder de grupo que queria matar Mandela condenado a 35 anos de prisão
Mike du Toit foi condenado por alta traição. O seu grupo queria estabelecer uma nação branca. (...)

Líder de grupo que queria matar Mandela condenado a 35 anos de prisão
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-10-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Mike du Toit foi condenado por alta traição. O seu grupo queria estabelecer uma nação branca.
TEXTO: O líder de um movimento racista da África do Sul, que tinha um plano para implementar a supremacia branca no país e que incluía o assassínio de Nelson Mandela, foi condenado nesta terça-feira a 35 anos de prisão depois de um julgamento que durou dez anos, de acordo com a Reuters. Antigo professor universitário, Mike du Toit foi considerado culpado do crime de alta traição pelo seu papel como líder dos “Boeremag”, uma milícia de partidários do apartheid, que tinha o objectivo de edificar uma nação branca na África do Sul, derrubando o partido do poder, o ANC (Congresso Nacional Africano), e expulsar a população negra e indiana do país. Cerca de 200 testemunhas foram ouvidas durante o julgamento que começou em 2002 no Tribunal Superior de Pretória. Para além de du Toit, outro líder foi condenado a 35 anos de prisão, enquanto outros 20 acusados tiveram sentenças menores. Mike du Toit é a primeira pessoa a ser condenada por traição na África do Sul desde o final do regime do apartheid, em 1994. O plano, com o nome de “Documento 12”, foi encontrado no computador de Mike du Toit, depois de uma busca na sua casa em Outubro de 2001. Este “esboço” de uma revolução refere que o golpe seria iniciado com a explosão de uma grande barragem, através do despenhamento de um avião Boeing, criando aquilo a que du Toit chamou de “situação World Trade Center”. O assassinato de Mandela seria outra das acções que o grupo pretendia levar a cabo. “O Presidente Nelson Mandela teria de ser morto porque ele ainda era visto como uma figura de paz”, podia ler-se no documento, citado pelo diário britânico Telegraph. A imprensa sul-africana diz que o grupo planeava colocar uma bomba numa estrada que Mandela iria tomar para assistir à inauguração de uma escola rural. No entanto, o plano falhou quando o Presidente sul-africano se fez deslocar por helicóptero. Algumas testemunhas ouvidas afirmaram que o líder do “Boeremag” recrutou membros do exército e da polícia e também da empresa nacional de energia Eskom. A milícia queria utilizar o seu próprio armamento, um stock de diesel e ainda uma tonelada de explosivos para ocupar bases militares e estações de rádio e televisão para anunciar o golpe de estado, relata a imprensa local. O plano tornou-se conhecido pelas autoridades quando as tentativas de recrutamento de militares graduados falharam, deixando os serviços secretos em alerta. Em Outubro de 2002, os membros do grupo terão participado em atentados bombistas a uma mesquita, estações de comboios e postos de combustível no bairro do Soweto, em Joanesburgo, que acabaram por matar uma mulher.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano