São já seis as regiões somalis em estado de fome, alerta ONU
Uma sexta região entrou no mapa territorial da Somália em estado de fome, segundo o alerta lançado hoje pelas Nações Unidas com o aviso de que a situação “vai apenas piorar” nos próximos meses dada a seca de “impacto excepcional” que assola todo o Corno de África. (...)

São já seis as regiões somalis em estado de fome, alerta ONU
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-09-05 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma sexta região entrou no mapa territorial da Somália em estado de fome, segundo o alerta lançado hoje pelas Nações Unidas com o aviso de que a situação “vai apenas piorar” nos próximos meses dada a seca de “impacto excepcional” que assola todo o Corno de África.
TEXTO: O número de pessoas que morrem devido a carências alimentares na zona sul da região de Bay subiu para lá do que é definido como fome pelas Nações Unidas: 30 por cento da população em estado de grave má nutrição e uma taxa de mortalidade diária de duas por cada dez mil pessoas, além de um mínimo de 20 por cento dos agregados enfrentando grave escassez alimentar. “Se o actual nível de resposta [a esta crise humanitária] continuar, a fome vai continuar a espalhar-se e a aumentar nos próximos quatro meses. No total são já quase quatro milhões de pessoas em situação de crise na Somália, das quais 750 mil se encontram em risco de morte nesse mesmo período na ausência de uma resposta adequada de distribuição alimentar”, é sublinhado em comunicado do Centro de Análise para a Segurança Alimentar (FSNAU), das Nações Unidas. “Morreram já dezenas de milhares de pessoas, a maioria das quais são crianças”, prossegue o documento. A região de Bay, que integra a cidade de Baidoa, uma das mais importantes do país, está sob o controlo dos rebeldes islamistas da Al Shabaab, à semelhança do que acontece com a maior parte do território sul e centro da Somália. É a mais recente a juntar-se ao rol de regiões somalis em grave crise alimentar declaradas desde o passado mês de Julho pela ONU, depois de Bakool e Baixa Shabelle, que lhe são vizinhas, os campos de refugiados de Afgoye, que acolhem mais de 400 mil pessoas no norte de Mogadíscio, e ainda os que se localizam na própria capital somali, mais os distritos de Balaad e Adale, ambos na região de Shabelle Central. Cerca de 12, 4 milhões de pessoas por todo o Corno de África vivem actualmente a pior seca em seis décadas e encontram-se em estado de crise alimentar grave – nas quais se integram 3, 7 milhões de somalis (praticamente metade da população do país), segundo estimativas da ONU. A Somália é o país mais afectado, tendo a somar à seca a guerra civil que assola o país desde 1991 e deixou arrasadas praticamente todas as infra-estruturas de acesso nas regiões do centro e sul, onde os Shabaab, de resto, declararam “mal vinda” a presença de várias agências de ajuda humanitária, incluindo as da ONU.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Novos ataques contra igrejas no Quénia causam 16 mortos
Pelo menos 16 pessoas morreram em ataques contra duas igrejas em Garissa, cidade do noroeste do Quénia que alberga uma importante base militar de onde foram mobilizadas tropas para combater rebeldes ligados à Al-Qaeda na Somália. (...)

Novos ataques contra igrejas no Quénia causam 16 mortos
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.136
DATA: 2012-07-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Pelo menos 16 pessoas morreram em ataques contra duas igrejas em Garissa, cidade do noroeste do Quénia que alberga uma importante base militar de onde foram mobilizadas tropas para combater rebeldes ligados à Al-Qaeda na Somália.
TEXTO: Os ataques, perpetrados por homens envergando máscaras que lhes tapavam as caras, estão a ser vistos como uma represália pelo envio das tropas quenianas, em Outubro passado, em missões para lá da fronteira de combate aos militantes da Al-Shabaab. As autoridades de Nairobi apresentaram estas operações como visando pôr fim aos raptos e ataques feitos em território queniano em que responsabilizam aquele grupo islamista radical somali – o qual jamais reivindicou tais ataques, antes nega ter participado neles. Os atacantes abriram fogo de espingardas e lançaram granadas para dentro das duas igrejas durante os serviços religiosos da manhã e, além dos já confirmados 16 mortos, há também mais de 40 feridos, alguns em estado muito grave, de acordo com o chefe-adjunto da polícia da cidade, Philip Ndolo. O primeiro balanço de vítimas mortais falava em dez pessoas, mas a Cruz Vermelha e fontes médicas locais actualizaram entretanto esse número em alta. Segundo a polícia, um grupo de pelo menos cinco homens encapuzados atacou uma igreja da African Inlan Mission, e outros dois homens foram responsáveis pelo ataque à outra igreja, também católica. “Ainda não detivemos nenhum suspeito”, avançou ainda Ndolo, citado pela agência noticiosa francesa AFP. A cidade de Garissa fica a cerca de 140 quilómetros de distância da fronteira com a Somália e a menos de 70 quilómetros do gigantesco campo de refugiados de Dadaab, o qual acolhe perto de 465 mil refugiados somalis e onde quatro trabalhadores das agências humanitárias e de nacionalidade estrangeira foram raptados e o seu condutor, queniano, foi morto na passada sexta-feira. O Quénia tem vindo a ser palco de ataques deste tipo nos últimos meses, incluindo a explosão de uma bomba no domingo passado num clube nocturno em Mombaça, em que morreram três pessoas, um dia depois de a embaixada norte-americana no país ter alertado para a ameaça de um atentado iminente naquela cidade. O Conselho supremo Muçulmano do Quénia condenou o duplo ataque desta manhã, frisando que “todos os locais de culto devem ser respeitados”. “Queremos expressar as nossas condolências e dizer que estamos tristes por não ter sido feita ainda nenhuma detenção”, sublinhou o presidente da organização, Abdulghafur el-Busaidy. Notícia actualizada às 13h10
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens campo ataque morto
Reportagem: Uma casa para quem foge à guerra e à violência
Chukwuemeka acabou de chegar, saiu da Nigéria com medo de ser assassinado. Nasri é palestiniano mas não conhece a Palestina, era ainda bebé quando os pais fugiram para a Síria, há 63 anos. Foi para eles, e tantos como eles, que o Conselho Português para os Refugiados foi criado, faz hoje 20 anos. (...)

Reportagem: Uma casa para quem foge à guerra e à violência
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 Refugiados Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-09-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Chukwuemeka acabou de chegar, saiu da Nigéria com medo de ser assassinado. Nasri é palestiniano mas não conhece a Palestina, era ainda bebé quando os pais fugiram para a Síria, há 63 anos. Foi para eles, e tantos como eles, que o Conselho Português para os Refugiados foi criado, faz hoje 20 anos.
TEXTO: Em cima da secretária há uma placa de madeira que tem o seu nome esculpido: Nasri. Ele é a primeira pessoa que se vê ao passar a porta, é dele a voz que atende o telefone. Nasri é um sorriso que quase nunca se desfaz. Talvez poucos empregos lhe dessem tanto prazer como este em que é recepcionista no Centro de Acolhimento para Refugiados da Bobadela, a 15 quilómetros de Lisboa. Aqui recebe todos os que, como ele, um dia pediram asilo a Portugal. Entre um telefonema que chega e um recado, Nasri, “só Nasri”, vai contando a sua história. É refugiado há 63 anos, tem 64. Os pais levaram-no ainda ao colo para a Síria durante a guerra entre judeus e árabes de 1947, pouco antes da formação do Estado de Israel. Nunca foi outra coisa senão refugiado, e em 2005 até da Síria teve de partir, num barco de mercadorias rumo a Portugal. A cidade onde nasceu, Safad, é hoje território israelita. Acabou por fugir da Síria por “problemas políticos” de que prefere não falar. Seis anos depois de ter chegado a Portugal, olha “com tristeza” para a repressão das autoridades de Damasco. “Mas não é uma tristeza de hoje, é de há 40 anos. ”Nasri foi recebido no centro de acolhimento da Bobadela, de onde chegam da cozinha cheiros de comida de todo o mundo. E quando se lhe pergunta como foi recebido, responde: “Sabe como é recebido um bebé? Foi assim. Cheguei aqui e nasci. ” Nunca teve passaporte, só os documentos que se dão aos refugiados para poderem viajar. Um dia gostava de usar esses papéis para voltar à Palestina que nunca conheceu. Deixemo-lo atender o telefone, que voltou a tocar, e sigamos o cheiro. Na cozinha do centro de acolhimento há vários tachos no fogão, ouvem-se muitas línguas. Dois marroquinos conversam no terraço voltado para Tejo, talvez à espera que o almoço fique pronto, um miúdo iraquiano joga computador e uma menina da Guiné-Conacri, que não terá mais de dois anos, passeia de colo em colo. É o benjamim da casa e não pára de rir e acenar. No centro de acolhimento da Bobadela são instalados todos os que chegam à fronteira e pedem asilo. Só dois ou três meses, até que se encontre uma casa ou quarto. Há famílias e miúdos sozinhos. No final de Agosto viviam aqui 55 pessoas. À segunda-feira é dia de lavar os lençóis e as toalhas, que são entregues na lavandaria do primeiro andar, junto aos quartos onde se alinham três ou quatro camas. Quem pede asilo não fica na rua, ainda que possa nunca vir a receber o estatuto de refugiado ou a autorização de residência por razões humanitárias. Isso é questão para o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) decidir mais tarde, após entrevistas e um parecer do Conselho Português para os Refugiados. Para já, o que importa é o mais urgente: tecto e comida. Há alguma roupa para quem veio sem nada e uma pequena ajuda alimentar, o passe ou um cartão de telefone. E um pijama lavado, escova de dentes e chinelos. Por vezes, quem chega não via uma cama há muito tempo. Chukwuemeka está refastelado no sofá a ver televisão, tem 41 anos, chegou da Nigéria a 22 de Junho. Um conflito familiar fê-lo temer pela vida e um homem ajudou-o a apanhar um avião para Madrid. Não gostou que não entendessem bem o seu Inglês, e daí a Portugal foi um pulo. Diz que dormiu na rua 12 dias até ganhar coragem para entrar no SEF. “O meu pai tinha duas mulheres”, começa por explicar. “Quando morreu, a segunda mulher quis partilhar a herança mas o meu irmão mais velho recusou. ” Foi esse irmão, conta, que acabou por matar a segunda mulher do pai, e então a família dela ter-se-á vingado. “Matou um irmão meu e uma irmã. Fugi para não me matarem também. ”Chukwuemeka escondeu-se na casa de um homem que conhecia, em Lagos, e pensou na América ou em Inglaterra. Mas esse homem sugeriu-lhe Alemanha, comprou o bilhete e ficou-lhe com o passaporte. Quando o primeiro avião que apanhou aterrou em Madrid, desembarcou ali mesmo. “Agora estou aflito por causa da minha mãe. ”
REFERÊNCIAS:
Entidades SEF
Duas funcionárias espanholas dos Médicos sem Fronteiras raptadas no Quénia
Um grupo armado raptou duas funcionárias espanholas da organização humanitária Médicos sem Fronteiras no campo de refugiados queniano de Dadaab, junto à fronteira com a Somália, depois de atacar dois veículos. (...)

Duas funcionárias espanholas dos Médicos sem Fronteiras raptadas no Quénia
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 Refugiados Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-10-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um grupo armado raptou duas funcionárias espanholas da organização humanitária Médicos sem Fronteiras no campo de refugiados queniano de Dadaab, junto à fronteira com a Somália, depois de atacar dois veículos.
TEXTO: O sequestro foi confirmado pela polícia queniana. O condutor de um dos veículos que circulava junto ao campo de refugiados de Dadaab ficou ferido e foi transportado para o hospital, adiantaram os responsáveis dos Médicos sem Fronteiras. Um dos veículos conseguiu escapar ao ataque, que foi levado a cabo por um grupo de homens armados, adiantou o El País. Uma das pessoas que está instalada nos campos de refugiados de Dadaab, identificada apenas como Aden, contou ao diário espanhol que os dois veículos pertenciam aos Médicos sem Fronteiras. “Não sei de onde eram os atacantes, mas seriam da Somália, porque era para aí que se dirigia o veículo onde seguiam as reféns. ”As suspeitas recaem sobre a milícia islamista Al-Shabab, que se opõe à disponibilização de ajuda humanitária no Sul da Somália. As duas mulheres sequestradas trabalham na área de logística da organização humanitária e a sua identidade não foi ainda divulgada. As famílias já foram informadas sobre o rapto, adiantou o Ministério dos Negócios Estrangeiros queniano. Nas últimas semanas houve vários sequestros de estrangeiros nesta região do Quénia, incluindo uma mulher britânica e outra francesa. No campo de refugiados de Dadaab, construído para acolher cerca de 90 mil pessoas, vivem actualmente cerca de 450 mil. A crise humanitária intensificou-se com a seca que tem afectado a Somália, a pior dos últimos 60 anos. Notícia em actualização
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens campo ataque mulher ajuda mulheres humanitária rapto
Oliviero Toscani, o provocador fotógrafo da Benetton, está de volta
Durante quase duas décadas criou algumas das publicidades mais controversas da Benetton. 17 anos depois regressa com uma nova campanha. (...)

Oliviero Toscani, o provocador fotógrafo da Benetton, está de volta
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 Refugiados Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-12-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Durante quase duas décadas criou algumas das publicidades mais controversas da Benetton. 17 anos depois regressa com uma nova campanha.
TEXTO: As duas imagens da nova campanha estão enroladas e ao alcance das suas mãos, mas Oliviero Toscani espera calmamente até ao minuto 52 da entrevista para as revelar às cinco jornalistas sentadas à mesa de uma sala na Fabrica, em Treviso, Itália. Não é mais contido em pessoa do que atrás da lente. Dispara provocações para o outro lado da mesa e raramente mede as palavras, mas tem o dom de falar em aforismos: de acordo com Toscani, “a Bíblia é fake news”, “qualquer media é social media” e “a Europa está em crise porque nós estamos em crise”. Durante quase duas décadas (entre 1982 e 2000), Toscani foi o fotógrafo da Benetton – não “um fotógrafo”, como escrevia o PÚBLICO em 1996. Idolatrado por uns, repudiado por outros, foi responsável por algumas das campanhas mais provocadoras da marca italiana e agora, 17 anos depois, está de volta. Na década de 1980 começou por divulgar mensagens de diversidade racial que eventualmente levaram a marca assumir o logo (United Colors of Benetton) como nome próprio; e durante a década de 1990 tornou-se cada vez mais polémico. As imagens que criava – como a do activista David Kirby no leito da morte, ao lado da família, ou da roupa ensanguentada de um soldado bósnio morto na guerra – ocupavam mais páginas de notícia do que espaço de publicidade, dado que eram frequentemente censuradas por vários meios dentro e fora da Europa. A nova campanha de Toscani, hoje com 75 anos, não tem recém-nascidos, nem um padre a beijar uma freira, mas, de acordo com o fotógrafo, mostra que “aquilo sobre o qual falávamos há 20 anos é a realidade de hoje”: a diversidade étnica numa sala de aula de uma escola primária em Milão hoje. Na fotografia, as crianças representam 14 países e quatro ou cinco continentes, descreve. “Isto é uma aula de uma escola primária em Itália agora. Mas posso ir a França, à Alemanha, e encontrar o mesmo. Estas crianças, da escola primária, vão ser o futuro. É melhor olharmos para elas agora. ”“Acho que o grande problema da sociedade hoje é a integração”, comenta. “Se não compreendermos que o grande problema da integração é uma incrível oportunidade, vamos perder a questão essencial”, acrescenta. Um dos objectivos de Toscani é, aliás, ir em busca de mais e mais talento para acolher na Fabrica – a instituição criada pela empresa no final dos anos 1990, para receber estudantes de diferentes áreas criativas. Não dá grandes pistas relativamente ao seu futuro na marca, já que “não podemos planear o nosso entusiasmo”, mas dá a entender que veio para ficar. Além da campanha que chega, no início de Dezembro às páginas dos jornais, quer agitar a actividade na Fabrica. A partir de agora, “vai ser como um circo”, com “actividade constante”, promete. Na segunda imagem da campanha, as crianças juntam-se à volta da professora, com o livro de Pinocchio nas mãos. “É isto que ensinamos ao mundo, é a nossa bíblia: Pinocchio”, comenta Toscani, aproveitado para dizer que sempre houve fake news — na Bíblia ou na Divina Comédia, por exemplo – e que só agora é que estamos a começar a reconhecê-lo. “Não se preocupem”, diz, esta campanha também “vai provocar”. Toscani mostra-se claramente contra os movimentos de direita e independentistas, e afirma que um dia vai existir uma Europa unida. “Ainda temos de passar por muita merda. Nem toda a gente é suficientemente inteligente. Ainda não percebemos que somos europeus. Aprendi que havia uma Europa porque em jovem costumava ir aos EUA e os americanos diziam ‘vais voar de volta para Europa?’”Quando questionado sobre se está preocupado com o futuro, responde que não, lembrando que quando nasceu, na Itália fascista de 1942, teve sorte por não ter levado com uma bomba dos Aliados. “Tive três mulheres, seis crianças e 14 netos e sou o único com passaporte italiano, todos têm outro passaporte. É impossível fazer uma guerra”, acredita. Toscani fala em termos vagos sobre a “verdadeira campanha”, que está planeada para Fevereiro do próximo ano. “Será focada no produto, mostrando-o numa atitude diferente e com uma energia que corresponde à estética da actualidade. Temos de devolver a magia às lojas” avança. “Quando comecei a trabalhar para a Benetton havia magia na loja”. Tinha uma imagem sofisticada, mas “toda a gente ia lá para comprar uma camisola, toda a gente. Sem distinções sociais”. Criada em 1965, a Benetton revolucionou a distribuição da indústria da moda, bem como o comércio de loja. E foi uma das primeiras marcas de moda verdadeiramente globais, adoptando um modelo de negócio à base do franchising. Numa das fotografias guardadas em acervo, nas instalações de Treviso, é possível ver a segunda loja da marca, em Cortina, durante a década de 1960. O móvel amarelo no centro da imagem onde as peças de roupa estão expostas em linhas de cor parece perfeitamente normal, mas, na altura, foi uma grande inovação de design e imagem. Nos tempos áureos da Benetton, Luciano Benetton e Oliviero Toscani faziam uma dupla inseparável e era só no papel que o fotógrafo não integrava a própria empresa. Benetton dava liberdade ao fotógrafo para mostrar como via o mundo, sem pensar em quantas camisolas tinha para vender e as memoráveis fotografias de Toscani circulavam pelas bocas do mundo. “Foi com o dinheiro que não gastámos em jornais e media que recusaram as minhas fotografias” que foi construída a Fabrica, brinca. Entretanto, a rival espanhola Zara, nascida com cerca de dez anos de diferença, veio revolucionar o mercado. Começou a expandir para o estrangeiro entre o final da década de 1980 e década de 1990, com uma cadeia própria e uma distribuição que superava qualquer outra em termos de rapidez. Em 2000, Toscani anunciou a saída da Benetton. Nunca explicou o porquê, mas muitos assumiram (e escreveram) que o irreverente fotógrafo teria finalmente pisado a linha, tendo em conta as reacções fortes que a sua última campanha – com uma série de retratos de pessoas condenadas à morte – teve nos EUA. “Não tenho vergonha de dizer finalmente a verdade”, anuncia. “Três anos antes de parar disse ao Luciano: ‘quando a Fabrica abrir vou-me embora’. Não porque queria parar de trabalhar, mas porque, naquela idade, [queria ter] outras experiências. ”E teve. Nos últimos 17 anos, Toscani trabalhou para uma variedade de meios, incluindo as revistas Elle, Vogue e i-D e dedicou-se também a projectos próprios, como o livro Oliviero Toscani: More than 50 years of Magnificent Failures e a exposição Human Race. Entretanto, na Benetton, “fizeram muitas coisas, com altos e baixos. E de repente as nossas estradas voltaram a cruzar-se”. É inevitável associar a nova campanha da Benetton – que em 2016 facturou aproximadamente 1, 4 mil milhões de euros – às fotografias lançadas há décadas, com crianças com diferentes tons de pele e, para o fotógrafo, estas marcam um novo começo da marca. Toscani sempre teve uma língua afiada em relação à publicidade, criticando as marcas de moda pela falta de conteúdo da sua comunicação e por mostrarem um único tipo de beleza que considera “uma seca”. Mas também não poupa críticas à Benetton, quando questionado sobre o que pensa daquilo que a marca fez nos últimos anos. “Nem me lembro, não me perguntem”, responde. São tão memoráveis, acrescenta, como as da “Zara, H&M ou Armani”, acrescenta. Toscani considera que a comunicação das empresas é condicionada pelo “marketing que não quer mesmo saber de uma sociedade melhor, mas que se preocupa com a economia”. “E por esta razão não funciona. Há uma espécie de mediocrização. Não vejo mesmo boas campanhas. Quanto dinheiro é gasto para dizer nada?”Toscani admite que a própria Benetton caiu nesta armadilha. Por isso, continua, “temos de começar do início. A Benetton está na escola primária”. Felizmente, “o Luciano Benetton [que apesar de não ter um cargo activo na empresa, esteve envolvido na decisão de Toscani regressar] percebeu, com uma incrível coragem e energia, que provavelmente agora temos de começar outra vez”. O aviso tinha sido feito: Oliviero Toscani não é uma pessoa nostálgica e “não gosta muito de falar do passado”. Mas antes de desenrolar os cartazes da nova campanha, voltou atrás no tempo. O que se lembra o homem que já disse ter uma memória muito selectiva sobre o passado na Benetton? “Lembro-me que foi muito interessante. Nada foi realmente planeado”, conta. “Se aconteceu é porque Luciano Benetton é um empreendedor muito especial. É muito corajoso por pensar que a comunicação de uma empresa tem a ver com a realidade da sociedade. ”As fotografias de Oliviero falavam alto, numa altura em que ninguém queria ouvir a palavra sida. “Nem mesmo as pessoas da moda acreditavam na sida. E quantas pessoas morreram?”. Houve, claro, quem duvidasse das intenções da empresa, acusando a Benetton de explorar estas temáticas por motivos comerciais. Enfrentaram processos de grupos e associações e viram múltiplos anúncios banidos em certos países e meios de comunicação. Uma coisa é certa, Toscani mudou a forma como olhamos para a publicidade. Bem ou mal, toda a gente falava sobre as suas campanhas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em relação à função comunicação das empresas, não é nada senão exigente. Para Oliviero, uma empresa tem a obrigação de dar visibilidade aos problemas da sociedade. No entanto, critica aquelas que anunciam nas páginas de publicidade a sua contribuição para a caridade, em vez de o “fazer em silêncio”. “Vender não é mau e precisamos de vender. Temos de enfrentar um mercado”, ressalva . “Mas o facto de termos de enfrentar um mercado significa também que temos de enfrentar os problemas que a sociedade tem”, conclui. O PÚBLICO viajou até Itália a convite da Benetton
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Em Sines bastam quatro letras para se ser atropelado pela liberdade: BCUC
No fim-de-semana de encerramento, o FMM Sines despediu-se com o charme de Oumou Sangaré, o rock turco de Gaye Su Akyol e a presença cabo-verdiana de Mário Lúcio e Lura. Mas um nome fica escrito a fogo na memória colectiva: o dos sul-africanos BCUC. (...)

Em Sines bastam quatro letras para se ser atropelado pela liberdade: BCUC
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-08-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: No fim-de-semana de encerramento, o FMM Sines despediu-se com o charme de Oumou Sangaré, o rock turco de Gaye Su Akyol e a presença cabo-verdiana de Mário Lúcio e Lura. Mas um nome fica escrito a fogo na memória colectiva: o dos sul-africanos BCUC.
TEXTO: Às onze e meia da noite de sexta-feira, os sul-africanos BCUC (Bantu Continua Uhuru Consciousness) haviam criado um sério problema ao Festival Músicas do Mundo (FMM). Depois de o vocalista Zithulele Zabani Nkosi anunciar que iriam despedir-se com a sua música mais curta e, num momento inicial, o público ser levado ao engano na altura de uma primeira paragem, o colectivo do Soweto foi continuando a expelir uma música inimaginável de tão primária, fogosa, furibunda e inebriante. E com o Castelo de Sines completamente rendido à actuação mais incendiária dos dois últimos dias do FMM, aquele “curto tema” que parecia feito de sucessivos alçapões sem fundo à vista, eternizava-se num crescendo em que BCUC e público se juntavam no grito “Don’t stop the music”. E sempre que o fogo ameaçava extinguir-se e a música parecia acabar, logo reiniciava com um novo e mais intenso ímpeto. O sério problema que os sul-africanos então criavam era apenas este: como primeira banda da noite no Castelo, os BCUC dificultavam a vida aos pesos pesados que se seguiam (Fatoumata Diawara & Hindi Zahra, Mário Lúcio e Orlando Julius com Bixiga 70), obrigados a ter de puxar dos galões para não empalidecerem diante de uma fasquia tão alta. Comandando uma banda feita de percussão e baixo, Zithulele concentra quase toda e electricidade em si. Não pára um segundo, numa fúria incessante, como que possuído e disposto a provar que James Brown não morreu, simplesmente baixou no corpo daquele jovem sul-africano. Quando às tantas diz, referindo-se ao país, “We may not have fancy cars, but we got soul” [podemos não ter carros luxuosos, mas temos alma], não é senão a alma (uma alma inesgotável) que lhe vemos. E vemo-nos atropelados por aquela música endiabrada, com carga e movimentos de cerimónia zulu, um tom primário claramente tribal de onde emergem funk, assomos de punk, vislumbres de kwaito, mas sobretudo uma aparente agressividade, um persistente estado de fúria que, a cada momento e de forma exacerbada, celebra estar vivo, ser um sobrevivente, ser livre. Ninguém teve a vida fácil depois disto. Mas nem por isso o fogo se apagou. Primeiro, porque Fatoumata Diawara não deixou. Depois, porque Mário Lúcio também se apresentou num concerto certeiro. Tanto um como outro são casos de namoros antigos com o FMM. E a prova que esses namoros dão frutos é a discussão que durante o dia se apanha em diversos pontos do recinto sobre a preferência por cantoras malianas (entre Fatoumata, Oumou Sangaré e Rokia Traoré, há argumentos para todos os gostos), impensável quando o festival arrancou em 1999, mas agora um conhecimento básico e consumado neste público. Numa colaboração com a cantora marroquina Hindi Zahra, remetida para um papel secundário quase decorativo, Fatoumata tomou as rédeas e carregou numa música africana em continuado cruzamento com jazz, funk e pop/rock, declarou a sua crença num mundo em que cada um seja livre de viajar para onde lhe aprouver (com a certeza de que quererá sempre regressar a casa), entregou-se a uma magnífica versão em crescendo do clássico de Nina Simone Sinnerman e assumiu a responsabilidade por um concerto que ajudou a matar saudades de uma das mais magnéticas vozes do Mali. Mas à qual já vai faltando reportório novo – o seu disco de estreia, Fatou, é de 2011. Viajemos, por um parágrafo, até à noite seguinte, no sábado, quando esse magnetismo se multiplicou na presença de Oumou Sangaré (mesmo que pouco ajudada por um baterista francês a querer ser filho de Tony Allen mas não chegando nem para vizinho, e um teclista igualmente francês que parecia convencido de ser o Ray Manzarek que faltava à vida da cantora). Uma das figuras maiores da música africana, Oumou tem em barda aquela capacidade rara de seduzir, enlear o público com o seu charme e criar concertos dentro dos quais se quer estar, dentro dos quais quase nos poderíamos eternizar. “O verdadeiro rosto de África – a joie de vivre”, resumiu numa frase a cantora. E são isso mesmo Yala, Kounadya, Bena bena ou Minata waraba, uma constante celebração da vida, comum aos BCUC, mas que contrasta por prosseguir sempre numa toada esfuziante, como se tudo pudesse ser sugado e diminuído por este vórtice de felicidade que, ainda assim, não deixa de ser reivindicativa. De volta a quinta-feira, pós furacão BCUC. Depois de Fatoumata e Hindi, Mário Lúcio não deixou que a festa morresse. O cabo-verdiano largou há um ano as vestes de ministro e voltou a ser músico sintonizando-se com o povo através de uma investigação e exploração da história do funaná. Funanight faz esse movimento pendular de ir buscar atrás e levar até à frente – em palco defenderia que a identidade não é uma noção estática presa ao passado, mas sim uma construção futura, saber quem se quer ser amanhã – e o reportório que hoje Mário Lúcio apresenta está pejado dessa ideia de que homenagear o funaná não significa pegar para fazer igual. Há nesta expansão do funaná, que chega a acercar-se do heavy metal (no ponto mais extremo) ou de Bob Marley, neste remexer e refazer sem quebrar e neste moldar com as próprias mãos qualquer coisa da riqueza tropicalista de Gilberto Gil. Cabo Verde voltaria a estar presente no sábado, bandeiras dos arquipélagos esvoaçando em claro momento de comunhão com a comunidade que reside em Sines, através de um concerto de Lura que, sem o grau de conceptualização apresentado por Mário Lúcio, não se afasta muito dessa mesma intuição de puxar o funaná e o batuco um pouco para fora de pé. Não é preciso pregar uma revolução, de facto, mas antes puxar as tradições para a contemporaneidade como quem ajeita um vestido para melhor se servir. Está tudo em jogo nas suas canções: a identidade, a integração de “uma negra nascida em Lisboa com pais cabo-verdianos”, encontrar o lugar como parte da história, exaltar o papel das mulheres do seu país (Maria di lida) e projectar-se para a frente com a presença do rapper Hélio Batalha em Di undi kim bem. Quando termina com Mbem di fora, todas estas questões passam pela subtileza de uma música feita para dançar e de que Lura dispõe com uma mestria de palco espantosa. Horas depois, o Castelo de Sines seria visitado por uma wonder woman turca (a roupa assim o sugeria) aos comandos de uma magnífica banda espacial versada no surf rock e no psicadelismo patenteado na Anatólia dos anos 60/70. Chegassem Gaye Su Akyol e a sua rapaziada aos ouvidos de Quentin Tarantino e este não ponderaria a reforma antes de realizar um qualquer western-kebab. As canções de Gaye e o seu discurso dirigem-se com frequência aos regimes autocráticos, insurgem-se contra o encarceramento de jornalistas na Turquia e noutras paragens, dão conta da sua chamada pelas autoridades – atiçadas pela sanha censória do regime de Erdogan – a prestar esclarecimentos acerca da letra anti-fascista de Nargile. E em cada tema, Gaye soa a uma discípula da histórica Selda Bagcan, voluntariamente colocada no centro de um furacão rock da melhor safra, permeável a uma condimentação otomana. Depois dos estonteantes Hologram e Abbas, uma mensagem cristalina: “Não se esqueçam – os políticos e o povo são diferentes. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O concerto final do Castelo de Sines no FMM deste ano, acompanhado desde sempre por fogo-de-artifício, coube ao reggae de Tiken Jah Fakoly, à medida de muitos dos frequentadores do festival, mas pouco estimulante para aqueles que não juraram fidelidade à bandeira da Jamaica. Na véspera, também Orlando Julius & Bixiga 70 não inscreveram o nome da edição de 2017, denotando um excesso de reverência dos brasileiros para com o lendário saxofonista nigeriano. No Castelo mostrou-se também o mui encantador agrupamento vocal feminino Sopa de Pedra, com paragens pelos cantos de trabalho, Amélia Muge e José Afonso; pela praia passaram ainda Benjamim e Barnaby Keen que aqueceram os ânimos sobretudo com A minha menina (Os Mutantes), o jazz-soul do espaventoso Thomas de Pourquery, entre o explosivo e o cósmico, ou a música latina super vitaminada dos colombianos Bulldozer; no Centro de Artes Tó Trips e João Doce puxaram pelo lado mais africano e rude do guitarrista dos Dead Combo. Mas desses concertos menos frequentados, um deverá salvar-se do esquecimento: o concerto-missa da indiana Parvathy Baul. Música e cerimonial numa actuação levitante, a suspender o tempo lá fora e fazer crer num qualquer acesso ao divino. Comovente. Seria digno de ovação, não fosse Parvahty preferir que o público se manifestasse dizendo ‘chadu, chadu’. Assim seja. Chadu, chadu, Sines. Até para o ano. O PÚBLICO esteve no FMM a convite da organização
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Porque é que vocês nos odeiam mais do que o necessário? (2)
Usar os termos ‘Estado racista’ ou ‘apartheid’ para descrever Israel é demasiado simplista e desvirtua totalmente a realidade. (...)

Porque é que vocês nos odeiam mais do que o necessário? (2)
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento -0.10
DATA: 2018-12-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Usar os termos ‘Estado racista’ ou ‘apartheid’ para descrever Israel é demasiado simplista e desvirtua totalmente a realidade.
TEXTO: As reacções que chegaram à Embaixada depois da publicação da primeira parte deste artigo indicaram-me dois fenómenos: a multiplicidade dos portugueses que apoiam a democracia israelita e o facto de muitos deles sofrerem da chamada ‘síndrome da mulher agredida’: assustados pelas frequentes ondas de hostilidade mediática contra Israel, hesitam em expressar abertamente o seu apoio. E, hélas, ficam surpreendidos quando prontamente um órgão de comunicação concede (tanto) espaço ao Embaixador de Israel. A muitos devo uma explicação sobre o título que escolhi. É uma referência a uma velha anedota judaica baseada na pergunta ‘quem é um anti-semita?’, sendo a resposta ‘todo aquele que nos odeia mais do que o necessário’. Também exprime a minha convicção de que se pode, obviamente, criticar Israel (debater é, aliás, o nosso desporto de eleição). Contudo, quando se demoniza, quando termos como ‘fascista’, ‘racista’, ‘apartheid’ lhe são atribuídos e nunca àqueles com quem tem de confrontar-se, já estamos ao nível do ódio patológico. Infelizmente, também nos media encontramos aqueles que preferem o Hezbollah, o Irão dos Ayatollahs, o Hamas, a Jihad Islâmica e semelhantes garantindo-lhes total imunidade. Nestes últimos quatro meses o leitor viu alguma reportagem escandalizada pelos 1300 fogos ateados em florestas e terrenos cultivados no sul de Israel por militantes do Hamas em Gaza? E eu que inocentemente julgava que na imprensa – bem como entre a classe política – havia muitos com sensibilidades ambientalistas. Continuemos:“Governo de Tel Aviv” – não existe governo em Tel Aviv, tal como não existe governo em Coimbra ou Évora. O governo de Israel e as suas instituições democráticas estão sitas em Jerusalém. É suposto os media prestarem um serviço credível de informação ou adoptarem uma agenda política, ainda que à custa da mentira?“Israel atacou Gaza” – muitas vezes os espectadores de televisão vêem uma notícia que dá conta de uma operação militar de Israel contra Gaza. O jornalista ‘esqueceu-se’ de dizer que a organização terrorista Hamas, que governa Gaza, e o seu aliado, a Jihad Islâmica, foram quem antes lançou rockets contra cidadãos israelitas. De alguma forma, ‘perde-se’ a sequência de acontecimentos. “O cerco israelita a Gaza” – será que o consumidor de notícias sabe que não temos outra escolha senão controlar o que entra em Gaza, porque os seus governantes seguem uma carta de princípios que estipula a eliminação do Estado de Israel? E que, ao invés de cuidar da sua população que vive miseravelmente, investe apenas na sua máquina de guerra? Será que sabe que Israel transfere diariamente mercadorias, comida e medicamentos em centenas de camiões para Gaza? E que, também diariamente, palestinianos doentes são transferidos para tratamentos em Israel? Haverá aqui alguém que se põe ao serviço de um lado ou, até pior, contra o outro à custa da verdade?“Palestina” – foi alguma vez explicado aos portugueses que este foi um nome atribuído pelos romanos à terra de Israel quando expulsaram o povo judeu, tentando arrasar assim também com o seu sentimento de pertença ao país? Que o termo ‘povo Palestino’ é recente, que nunca houve um Estado Palestiniano e que mesmo quando a ONU estipulou a Partição, na Resolução 181 de Novembro de 1947, foi entre dois Estados, o Judaico e o Árabe? E que a liderança judaica encabeçada por Ben Gurion aceitou este compromisso enquanto os árabes o rejeitaram? Que entre 1948 e 1967 a Faixa de Gaza estava sob ocupação egípcia e que a Cisjordânia (ou, na sua denominação bíblica, Judeia e Samaria) estava sob ocupação jordana e que nenhum destes países árabes sonhou sequer permitir ao povo ocupado estabelecer um Estado Palestiniano? Saberão os portugueses que, como parte do acordo de paz entre o Egipto e Israel, este ofereceu aos palestinianos uma autonomia que (mais uma vez) rejeitaram? E que, provavelmente, se tivesse sido garantida uma boa vizinhança com Israel já teriam um Estado? Saberá o leitor que Israel concordou com a solução com dois Estados-nação e que os palestinianos estão prontos a falar de uma solução de dois Estados mas nunca de dois Estados para dois povos? Porque os palestinianos que pediram durante anos, com o apoio massivo da Europa, o reconhecimento do seu direito à autodeterminação, não reconhecem o mesmo direito ao povo judeu: “Nunca reconheceremos Israel como Estado judaico”, declarou Abu Mazen, em demanda pelo reconhecimento de um Estado para o seu povo. É este o âmago do conflito e é importante que o leitor o saiba, mesmo que os media não se esforcem para o dar a conhecer e que a UE não faça suficiente pressão sobre a liderança palestiniana no intuito de reconhecer o nosso direito à autodeterminação. “Colonatos” – os media descrevem-nos como a razão do não-atingimento da paz. A UE apressa-se a denunciar Israel pela construção de qualquer par de casas. Mas será este verdadeiramente o obstáculo? Quando não existiam colonatos, os árabes reconheceram Israel? Estavam prontos para fazer a paz connosco? E quando, por pressão do Presidente Obama, a sua construção foi congelada durante quase um ano, o Presidente Abu Mazen sentou-se à mesa das negociações? E porque não ter uma porção de população judaica num futuro Estado Palestiniano, exactamente como temos uma porção de população árabe em Israel? Os colonatos não foram e não serão um obstáculo se os palestinianos aceitarem a existência de um Estado judaico e desistirem de fantasiar com a destruição de Israel usando a guerra, o terrorismo ou a demografia – a que chamam o Direito de Retorno. E daqui passo à contextualização da controversa Lei da Nacionalidade. ‘Estado racista’ e ‘apartheid’ são dois termos com que a extrema-esquerda há muito já nos havia baptizado. Atreveu-se a usar estes mesmos termos contra os nossos vizinhos que perseguem as suas minorias, incluindo as muitas comunidades cristãs no Médio Oriente? Contra aqueles que apedrejam mulheres sob acusação de adultério? Contra os que enforcam homossexuais pela sua orientação sexual?Ironicamente, é muito provável que só devido ao ataque que nos foi dirigido por causa desta Lei é que o leitor tenha tomado conhecimento de que em Israel os árabes podem votar e ser eleitos para o Parlamento e que os árabes-israelitas são os únicos, em todo o Médio Oriente, que participam num processo democrático eleitoral. E talvez valha a pena acrescentar que neste Estado, em que dizem vigorar o apartheid, a minoria árabe está integrada em todas as áreas da sociedade, incluindo juízes em todos os tribunais (até no Supremo), oficiais das Forças Armadas e diplomatas de carreira. A Lei da Nacionalidade provoca em Israel um debate inflamado, como é normal num país democrático como o nosso, que vive uma realidade complexa. Muitos acreditam que é desnecessária, outros criticam a sua semântica. Neste caso, também é necessário entender o contexto, mesmo que não se concorde com a Lei. O sentimento em Israel, de cerco, que mencionei na primeira parte do artigo, intensificou-se nos últimos anos pelo facto do direito do povo judeu a um pequeno Estado ser questionado. A moda da extrema-esquerda europeia, para quem a fundação do Estado de Israel foi um erro, e o seu apoio ao movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), que é uma rede internacional que aparentemente combate a “ocupação”, mas na prática é parte de um esforço concertado de deslegitimação do Estado de Israel; e a recusa dos palestinianos, mesmo os dados como pragmáticos, em reconhecer o direito do povo judeu à sua autodeterminação, na fórmula completa de dois Estados para dois povos, em muito contribuíram para esse sentimento. O extremismo crescente dos membros do Knesset do partido Joint Arab List, que enquanto prestam juramento ao Estado de Israel e suas leis, como quaisquer outros parlamentares, proferem declarações radicais contra a legitimidade de um Estado para o povo judeu, enquanto existem 57 Estados muçulmanos, dos quais 21 são árabes. A grande maioria dos cidadãos árabes-israelitas é leal ao Estado mas o crescente extremismo no sector árabe alimenta o extremismo no sector judaico. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Pode-se rejeitar e ser contra a Lei tal como ela é, como sucede com muitos cidadãos israelitas, judeus e árabes, no seu todo. Aliás, de acordo com uma sondagem feita esta semana à população judaica (80% do total), 52% concordam com a necessidade da Lei (potencialmente baseados nas razões que invoquei atrás), mas 60% exigem que se inclua um artigo que garanta igualdade a todos os cidadãos, judeus ou não, no espírito da nossa Declaração de Independência de 1948. Usar os termos ‘Estado racista’ ou ‘apartheid’ é demasiado simplista e desvirtua totalmente a realidade. A democracia israelita enfrenta desafios que nenhuma outra democracia ocidental tem de enfrentar. Porém, a realidade em Israel não mudará, isto é, os seus cidadãos, todos eles, ainda que religiosa e etnicamente diversos, continuarão iguais perante a Lei. Este princípio de igualdade está ancorado na Declaração de Independência, nas leis que já existem e na solidez das nossas instituições judiciais. Se eu fosse português seria um apoiante desta forte e única democracia num tão próximo Médio Oriente. E insistiria para que respeitassem o meu direito a receber informação fidedigna sobre Israel, a sua complexidade e os desafios que enfrenta.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU UE
Se este livro fosse uma canção seria um blues
É um acontecimento literário. James Baldwin é pela primeira vez editado em Portugal 31 anos depois da sua morte com um romance sobre a força do amor num mundo hostil. Se Esta Rua Falasse é uma parábola sobre o racismo numa América em pecado mortal (...)

Se este livro fosse uma canção seria um blues
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: É um acontecimento literário. James Baldwin é pela primeira vez editado em Portugal 31 anos depois da sua morte com um romance sobre a força do amor num mundo hostil. Se Esta Rua Falasse é uma parábola sobre o racismo numa América em pecado mortal
TEXTO: Se Esta Rua Falasse - If Beale Street Could Talk no original de 1974 -, quinto romance de James Baldwin (1924-1987), é uma balada trágica que conta a história de amor entre Fonny e Tish, um rapaz e uma rapariga negros do Harlem. É também uma parábola sobre a prisão que é o racismo e a exclusão social na América, temas recorrentes na obra do escritor e activista dos direitos civis nas décadas de 50 e 60. É um romance breve ao longo do qual é possível escutar algumas vezes a voz de Aretha Franklin ou de Billie Holliday, mas onde a nota que dá o tom vem de um tempo mais longínquo. Baldwin construiu o título para este livro a partir de uma velha canção de 1916 de W. C. Handy, Beale Street Blues, referência a uma rua em Memphis, no Tennessee, o principal ponto de encontro de diversão dos negros americanos no início do século XX e, conta-se, um dos lugares associados ao aparecimento e popularização dos blues. Autoria: James Baldwin (Trad. José Mário Silva) Alfaguara Ler excertoNão é o livro mais conhecido de Baldwin, mas é com ele que se inaugura a publicação em Portugal de um dos mais influentes escritores e pensadores da América. Uma lacuna que da edição portuguesa corrige agora, 31 anos depois da morte de Baldwin, e no mesmo e ano em que justamente este romance é adaptado ao cinema por Barry Jenkins, realizador de Moonlight. Chega às salas de Nova Iorque a 30 de Novembro. A acção decorre no início dos anos 70. Fonny é um rapaz de 22 anos que cresceu nas ruas de Nova Iorque. Ao contrário da maioria dos rapazes do seu bairro não caiu nas drogas nem no álcool; não rouba; sonha ser escultor e gosta de cantarolar What’s Going On de Marvin Gaye, enquanto Tish prepara costelas de porco, pão de milho e arroz. Um dia é preso, acusado de ter violado uma mulher branca, crime que não cometeu. Tish, a sua melhor amiga desde a infância, entretanto sua noiva, tem 19 anos e um objectivo: provar a inocência de Fonny e tirá-lo da prisão. Conhecêmo-los quando ela lhe anuncia que está grávida e sentiu, como nunca, o peso de não lhe poder tocar. “Gostava que ninguém tivesse de olhar através de um vidro para alguém que ama”, lê-se. Ela riu. Ele riu. “O amor e o riso vêm do mesmo lugar: mas poucas pessoas sabem”, pensa Tish na forma muito íntima como Baldwin a dá a conhecer, no seu amor a Fonny, na falta de fé num Deus que os possa salvar. Para Tish e Fony a morte de Deus aconteceu num domingo igual a tantos outros, eram eles muito jovens, na igreja, tal como terá acontecido ao próprio Baldwin, um nego como eles, pobre como eles, do Harlem como eles, educado para ser um pregador evangélico como o padrasto. “A igreja entrou num estado de fervor. Eu e o Fonny fomos apanhados por essa agitação, mas de uma maneira diferente. Agora sabíamos que ninguém nos amava: ou melhor, sabíamos agora que nos amava. Quem nos amava não estava ali. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Enquanto a família de Fonny, sobretudo a mãe e as duas irmãs, entregam obsessiva a hipocritamente o seu destino nas mãos de um Deus castigador, a família de Tish não espera pela terra prometida e, num espírito de comunidade que Baldwin quer sublinhar como a única hipótese de salvação do homem negro num mundo que lhe é hostil, lutam para transformar o seu destino. São eles, com Tish, quem luta para provar a inocência de Fonny. E têm um aliado de peso, Frank, o pai do jovem escritor. Com uma trama simples, Baldwin constrói um livro sobre uma América que parece condenada a odiar-se, marcada pela escravatura onde nem os opressores nem os oprimidos se salvam. A prisão de Fonny é a tal metáfora de uma opressão maior. “Estes homens cativos são o preço escondido de uma mentira escondida: a de que os justos têm de poder localizar os danados. ” Os cativos, como Fonny, são os que estão do lado de fora, à margem de um sistema que Baldwin lutou por mudar. Mas neste romance, esse ódio fratricida – americanos contra americanos --, manifesta-se também através de uma potência sexual em que o branco, reprimido, inveja o negro na sua sensualidade. Uma das descrições mais marcantes está no modo como Tish se apercebe do olhar de Bell, o polícia branco que não perdoou o facto de sido desautorizado por Fonny num dia normal, numa mercearia do Village. “Se olharmos com atenção para aquele olho azul que não pisca, para aquele centro do olho, descobrimos uma crueldade sem fundo, uma maldade fria e gelada. Naqueles olhos, nós não existimos: se tivermos sorte. Se aquele olho, lá das alturas, foi forçado a reparar em nós, se existirmos de facto naquele Inverno inacreditavelmente gélido que fica atrás daquele olho, ficamos marcados, marcados, marcados, como um homem de sobretudo negro, a rastejar, a fugir, na neve. (. . . ) Estes olhos só sabem fixar as vítimas dominadas. Não conseguem olhar para quaisquer outros olhos. ”Não estamos, no entanto, perante um mundo em que os brancos são maus e os negros bons. Em Baldwin nunca é assim, seria uma simplificação que não cabe no seu pensamento elaborado e que está desenvolvido nos muitos ensaios que escreveu ao longo da vida e agora reconquistam um protagonismo que o devolve como um autor essencial para entender a complexidade da América. Esta é uma história de amor que exalta a falha, ou melhor, a condenação a que está sujeito o homem – ou mulher – solitário. Qualquer homem ou qualquer mulher excluídos. E é escrito na prosa muito próxima da poesia que Baldwin cultivava, elegendo parábolas para falar do que lhe importava e ele sabia fazer isso como pouco porque foi treinado para o púlpito. Talvez também por isso nos seus romances e os seus ensaios, ecoe uma oralidade que apela à intimidade do leitor. Na história de amor de Tish e Fonny cada um de nós sente-se parte dela graças ao modo como Baldwin trata o silêncio, a raiva, a paixão, descreve a infâmia ou a vingança, a fé ou o desespero. Com uma contenção só possível a quem sabe tanto desses sentimentos quanto da força das palavras.
REFERÊNCIAS:
Mónaco celebra casamento real
Este é “o outro” casamento real do ano. O príncipe Alberto II do Mónaco, de 53 anos, casa-se hoje com a plebeia sul-africana Charlene Wittstock, de 33, numa cerimónia civil que decorre no palácio real. Amanhã é a vez da cerimónia religiosa, que será transmitida em directo pela RTP. (...)

Mónaco celebra casamento real
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-07-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Este é “o outro” casamento real do ano. O príncipe Alberto II do Mónaco, de 53 anos, casa-se hoje com a plebeia sul-africana Charlene Wittstock, de 33, numa cerimónia civil que decorre no palácio real. Amanhã é a vez da cerimónia religiosa, que será transmitida em directo pela RTP.
TEXTO: Há muitos anos que o Mónaco esperava por este momento. O príncipe solteirão vai finalmente casar-se com a sua namorada de há cinco anos. Ainda nem os dois estão casados já os súbditos anseiam por descendência, de forma a que o Mónaco (que antes de uma reforma constitucional se temeu que pudesse regressar oficialmente ao domínio francês caso Alberto II não produzisse descendência) possa continuar com toda a propriedade nas mãos da dinastia Grimaldi. Ele é um diplomata, um homem do mundo, um aristocrata. Ela é uma plebeia sul-africana nascida no Zimbabwe, ex-nadadora olímpica (participou nos Jogos Olímpicos de 2000) e tem como profissão ser namorada de Alberto II desde 2006. Sobre si são ditas duas coisas: é elegante e bem-parecida como a sua falecida sogra, Grace Kelly mas, ao contrário desta, Charlene é bastante insegura, tem medo de atropelar o protocolo e ainda fala mal francês. Pelo contrário, Alberto II nasceu em berço de ouro e move-se com extremo à-vontade em ambientes internacionais. Fala um irrepreensível inglês - língua em que comunica com a noiva - fruto de uma mãe americana e de estudos superiores feitos nos EUA. Em 1982, a tragédia abateu-se sobre a Casa Grimaldi, sempre perseguida por uma série de infortúnios macabros, semelhantes àqueles que parecem perseguir a dinastia Kennedy: a mãe de Alberto II morreu num acidente de automóvel - que caiu por um penhasco na estrada que liga o Mónaco a Nice. Durante as décadas seguintes, o pai - que nunca recuperou do luto - foi delegando para o único filho varão algumas das tarefas de representação do principado, que assumiu oficialmente após a cerimónia de entronização de 19 de Novembro de 2005. Apesar de lhe serem conhecidos relacionamentos e affairs com muitas mulheres bonitas (como por exemplo Claudia Schiffer e Brooke Shields) e de ter assumido dois filhos biológicos fora do casamento, o facto de este “bom partido” com uma fortuna estimada em dois mil milhões de euros preferir continuar a ser um solteiro contumaz originou uma série de boatos, incluindo a sua eventual homossexualidade. Recentemente, o príncipe tem-se dedicado a projectos ligados à ecologia. Em 2009 Alberto rumou à Antárctida com o objectivo de aprender mais sobre as alterações climáticas. As tecnologias verdes têm invadido o principado nos últimos anos e o Estado subsidia em 30 por cento a compra de veículos híbridos e eléctricos. Aliás, os príncipes farão o cortejo de recém-casados num carro eléctrico Lexus descapotável. Os festejos da bodaOntem à noite o pontapé de saída - passe a metáfora futebolística - para os festejos matrimoniais foi dado com um concerto da clássica banda americana Eagles no estádio Louis II. Hoje, às 16h00 (hora portuguesa), celebra-se na Sala do Trono do Palácio o casamento civil, que será retransmitido por ecrãs gigantes para a praça adjacente ao palácio, a fim de que os súbditos possam ver a cerimónia. Estima-se que às 16h50, os recém-casados apareçam à varanda do palácio para saudar os monegascos. Depois da recepção, haverá mais música, com um concerto do também clássico Jean Michel Jarre, o guru do synthpop. Para amanhã, também às 16h00, está reservada a cerimónia religiosa que será celebrada pelo monsenhor Bernard Barsi, arcebispo do Mónaco. A noiva levará um vestido desenhado por Giorgio Armani. Cerca das 17h30, os recém-casados irão até à Igreja de Sainte Dévote para que Charlene deposite aí o seu bouquet e será neste percurso que os noivos cumprimentarão os populares. A partir das 21h00, é servido o copo-de-água nos terraços da Ópera de Monte Carlo. Segue-se um espectáculo de fogo-de-artifício e um baile de gala.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Haverá bolsas no ensino secundário para 100 alunos ciganos
Estratégia para a Integração das Comunidades Ciganas, agora revista, quer que todas as escolas adoptem medidas concretas para promover a integração e sucesso escolar de crianças e jovens ciganos. (...)

Haverá bolsas no ensino secundário para 100 alunos ciganos
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 Ciganos Pontuação: 21 | Sentimento -0.3
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Estratégia para a Integração das Comunidades Ciganas, agora revista, quer que todas as escolas adoptem medidas concretas para promover a integração e sucesso escolar de crianças e jovens ciganos.
TEXTO: A nova Estratégia Nacional para a Integração das Comunidades Ciganas (ENICC) prevê que 100 alunos do ensino secundário beneficiem de bolsas de estudo no próximo ano. Mais 100 no seguinte. O documento, que acabou de ser revisto e foi nesta quinta-feira publicado em Diário da República, dá quatro anos para que todos os agrupamentos de escolas implementem medidas concretas para promover a integração e sucesso escolar de crianças e jovens ciganos. Este documento resulta da revisão da estratégia delineada para 2013-2020. O Governo decidiu revê-la e o novo documento prevê agora medidas até 2022. Visa “fomentar mudanças estruturais nas condições de vida das pessoas ciganas”, propondo objectivos e medidas concretas com foco na escolarização e integração profissional, na melhoria das condições de habitação, bem como o reforço do papel dos mediadores interculturais, da informação e do combate à discriminação. São reforçadas algumas acções para incentivar jovens ciganos a continuar os estudos. As bolsas no secundário são um exemplo – complementadas com a existência de mentores para os alunos bolseiros. No superior, o número de bolsas também aumenta: 32 no próximo ano, 35 no seguinte, 40 em 2021 e outras 40 em 2022. E importa acompanhar aqueles que abandonam, diz-se. Até ao final do próximo ano, o Ministério da Educação tem a incumbência de fazer guiões pedagógicos com orientações e boas práticas de integração para quem trabalha com crianças e jovens ciganas. Depois, as escolas devem tomar a iniciativa de os pôr em prática, incluindo famílias ciganas e não-ciganas no processo. A estratégia conta que todos os estabelecimentos com mais de 50 alunos de etnia cigana o façam até ao final de 2022. Também importa reforçar competências da população iletrada. Em cinco anos cerca de mil pessoas devem passar por acções de alfabetização, literacia e competências básicas. É uma meta. Outra é aumentar o número de pessoas ciganas inscritas nos Centros Qualifica (chegar às 300 em 2021), destinados à qualificação de adultos, garantindo que no mesmo ano há outras 100 a passar pelo processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC), que é feito com base na experiência de vida de cada um. Em 2021, deverá ser revisto o estatuto legal do mediador sócio-cultural. Para já, 25 mediadores interculturais, em câmaras municipais – a formação e contratação será feita no próximo ano e no seguinte –, farão a ponte entre estudantes, escolas e famílias, para combater o insucesso, o absentismo e o abandono escolar. As acções de formação são o principal veículo para sensibilizar e informar sobre a história e cultura cigana. Estão previstas com profissionais das escolas e da área da saúde, da segurança social e das comissões de protecção de crianças e jovens, técnicos dos Centros Qualifica e dos Centros de Emprego e Formação Profissional. Quanto à habitação, o documento prevê que seja celebrado, até ao final do próximo ano, um protocolo entre o Alto Comissariado para as Migrações, o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) e os municípios, no âmbito do Programa de Apoio ao Acesso à Habitação 1. º Direito. E, aquando da requalificação de bairros de habitação social, espera-se que sejam abrangidas 500 casas de famílias ciganas até 2022. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Previstas estão acções na área da saúde, como o fomento de consultas de planeamento familiar a mulheres e de saúde infantil e juvenil a crianças ciganas. A intenção é colocar ainda na estrada serviços de saúde itinerantes. Assim como distribuir informação sobre o acesso aos serviços de saúde e prevenção. A estratégia propõe igualmente que se termine a reflexão sobre a criação de uma categoria relativa à “origem étnico-racial” nos Censos de 2021. Definir critérios de majoração para que o sucesso de tudo isto possa ser medido é uma preocupação e a maioria desses critérios deve ser fixada no próximo ano.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura educação social estudo mulheres discriminação infantil