Coreia do Norte: o país é um mistério, o seu futebol não
Pela primeira vez o Mundial de Futebol vai ter lugar no continente africano. E Portugal está na fase final. Por isso, no domingo, a Pública é dedicada a esta competição que começa no dia 11 de Junho. Portugal estreia-se a 15, frente à Costa do Marfim; Coreia do Norte e Brasil são os outros adversários da primeira fase. Fomos à Covilhã ouvir os sonhos dos rapazes que calçam as chuteiras de Portugal; reportagem de Hugo Daniel Sousa e Paulo Ricca. Na África do Sul pós-"apartheid" vimos que existe verdade mas falta reconciliação; reportagem de Alexandra Lucas Coelho e Pedro Cunha. Contamos a história de Didier Drogba, o carismático líder da selecção da Costa do Marfim. No estádio mais mítico do mundo, o Maracanã, no Rio de Janeiro, testemunhámos o que é a torcida brasileira. Oferecemos um poster com os 24 jogadores convocados por Carlos Queiroz e um calendário para seguir os jogos. (...)

Coreia do Norte: o país é um mistério, o seu futebol não
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 Asiáticos Pontuação: 6 Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Pela primeira vez o Mundial de Futebol vai ter lugar no continente africano. E Portugal está na fase final. Por isso, no domingo, a Pública é dedicada a esta competição que começa no dia 11 de Junho. Portugal estreia-se a 15, frente à Costa do Marfim; Coreia do Norte e Brasil são os outros adversários da primeira fase. Fomos à Covilhã ouvir os sonhos dos rapazes que calçam as chuteiras de Portugal; reportagem de Hugo Daniel Sousa e Paulo Ricca. Na África do Sul pós-"apartheid" vimos que existe verdade mas falta reconciliação; reportagem de Alexandra Lucas Coelho e Pedro Cunha. Contamos a história de Didier Drogba, o carismático líder da selecção da Costa do Marfim. No estádio mais mítico do mundo, o Maracanã, no Rio de Janeiro, testemunhámos o que é a torcida brasileira. Oferecemos um poster com os 24 jogadores convocados por Carlos Queiroz e um calendário para seguir os jogos.
TEXTO: Coreia do Norte: o país é um mistério, o seu futebol nãoQuando a selecção da Coreia do Norte participou no Mundial de futebol em 1966 não tinha adeptos, mas foi adoptada de forma incondicional pela população de Middlesbrough, que os acompanhou até Liverpool para o jogo dos quartos-de-final em que perderam com Portugal. Mais de 40 anos depois, a equipa norte-coreana volta a estar num Mundial (será a segunda vez), mas não está a contar com o apoio espontâneo dos locais. Nem com o apoio presencial dos seus adeptos. O Governo de Pyongyang comprou mil bilhetes para formar um “exército voluntário de adeptos” composto por chineses para mostrar nos estádios sul-africanos as bandeiras da República Democrática Popular da Coreia. Na verdade, não serão muitos os norte-coreanos, tirando a comitiva oficial e algumas elites, que estarão nos jogos. A esmagadora maioria dos coreanos que vive acima do paralelo 38 não está autorizada a sair do país e, mesmo que estivesse, provavelmente não teria condições económicas para o fazer. Assim, os norte-coreanos estão resignados a seguir à distância a carreira dos “cholima” (é a alcunha da selecção, que é o nome de um cavalo alado mitológico), mas também não é garantido que tenham acesso às transmissões televisivas em directo dos jogos do Mundial. A estação televisiva da Coreia do Sul que detém os direitos de transmissão não vai ceder o sinal à Coreia do Norte devido às suspeitas de que o regime de Kim Jong-Il terá afundado um navio sul-coreano. A Coreia do Norte, 106. ª colocada no ranking FIFA (a pior entre as 32 selecções que estão no Mundial), pode até ser campeã do mundo de futebol sem que nenhum norte-coreano em território nacional esteja a ver. “É o desporto número 1 na Coreia, sempre foi. Acho que vão ver todos os jogos, mas penso que não os irão ver ao vivo”, diz à Pública Nick Bonner, um britânico que gere a Koryo Tours, uma agência baseada em Pequim e especializada em viagens para a Coreia do Norte. Bonner garante ter lá ido, pelo menos, uma vez por mês desde 1993, ano em que começou a organizar as viagens para um dos países mais fechados do mundo. Na verdade, os norte-coreanos têm um acesso regular a jogos das ligas europeias e sul-americanas. A televisão, controlada pelo Estado (tal como todos os outros media), transmite semanalmente jogos de várias ligas mundiais. “As transmissões são aos domingos. As ruas até estão mais sossegadas na altura em que está a dar futebol na televisão”, conta o britânico. Os norte-coreanos qualificaram-se às custas da Arábia Saudita, orientada pelo português José Peseiro, no play-off final. Segundo alguns relatos da imprensa internacional, os norte-coreanos nem sequer viram o decisivo jogo da segunda-mão em directo — só na noite seguinte, em diferido, é que terão assistido à histórica qualificação. Nick Bonner não confirma esta versão, mas revela que os norte-coreanos viram todos os jogos do Mundial 2006, por cortesia dos seus vizinhos da península, e observa que, se as relações com a Coreia do Sul se mantiverem tensas, sempre podem pedir o sinal emprestado à China. O contacto regular com as autoridades norte-coreanas para a organização das excursões facilitou a Bonner e Daniel Gordon, realizador britânico, investigarem uma das mais fascinantes histórias do futebol do século XX: o que realmente acontecera à equipa de 1966. Durante anos, nada se soube e circulavam rumores de que teriam sido castigados por terem participado em festas com muito álcool e mulheres após o jogo com Portugal nos quartos-de-final. A lenda era que haviam sido presos, torturados, alguns mesmo mortos, outros enviados para campos de trabalho. Depois de vários anos a tentar, Bonner recebeu um fax, em 2001, de Pyongyang a dar autorização para irem ao país entrevistar os sobreviventes daquela misteriosa equipa. “Depois de fazermos o documentário, até conhecemos mais jogadores”, recorda Bonner. E assim o mundo ficou a saber os destinos do elástico guarda-redes Lee Chang Myung, do avançado Pak Sung-Jin ou de Pak-Doo-Ik, o homem que marcou o golo da eliminação da selecção italiana. Os dois britânicos não só reuniram os sobreviventes (aparecem oito no filme, mais o treinador), como promoveram o regresso de todos a Middlesbrough. E todos os que aparecem no filme estão ou envolvidos no desporto, ou fazem parte do exército. Não há, no entanto, um único momento em que não apareçam com dezenas de medalhas ao peito. Os amigos de MiddlesbroughA qualificação norte-coreana para o Mundial de Inglaterra já é, em si, uma história. Na altura, para além das selecções europeias e sul-americanas, havia apenas um lugar na fase final para três continentes: África, Ásia e Oceânia. As equipas africanas retiraram-se todas da qualificação, como forma de protesto pela distribuição das vagas, tal como a Coreia do Sul. Restaram Austrália e Coreia do Norte para lutar pela vaga. Como os australianos não reconheciam a Coreia do Norte, o confronto teve de ocorrer em campo neutro, em Phnom Pehn, no Camboja. A selecção australiana estava confiante em vitórias fáceis nos dois encontros e levaram a preparação pouco a sério. Para os coreanos, era uma oportunidade única e isso mostrou-se nos resultados: 6-1 na primeira mão, 3-1 na segunda. Seria a primeira vez (e única, até 2010) que os coreanos chegavam a uma fase final de um Mundial, enquanto os australianos teriam de esperar até 1974 para lá chegar. O estatuto internacional da Coreia do Norte não ajudava em nada a vida da sua selecção de futebol. O regime comunista de Kim Il-Sung não tinha relações diplomáticas com a Inglaterra e a guerra da Coreia pertencia ainda a um passado muito recente. Como condição para poderem entrar no país, os norte-coreanos abdicaram, por exemplo, de terem o seu hino tocado antes do início dos jogos, que seriam, por esta ordem, União Soviética, Chile e Itália. Apesar de serem de um país fechado e longínquo, os norte-coreanos foram calorosamente acolhidos em Middlesbrough, a cidade que seria a sua base na fase de grupos, uma cidade industrial do Nordeste de Inglaterra. “Jogavam bom futebol — sabem, eram pequenos e uma novidade. Jogavam futebol de ataque e isto apanhou as pessoas de surpresa. Não tinham nada de defensivo e por isso as pessoas começaram a apoiá-los”, conta no documentário Dennis Barry, morador da cidade. Contra a União Soviética, os coreanos estrearam-se com uma derrota por 3-0 e o empate (1-1) que se seguiu com o Chile tinha sabor a eliminação do torneio, já que o adversário seguinte seria a poderosa Itália. Mas os italianos, que à data já tinham conquistado dois mundiais (1934 e 1938), não contaram com a organização e espírito de sacrifício dos seus pouco cotados adversários. Depois de Pak Doo-Ik marcar o golo, a “squadra azzurra” carregou e teve muitas oportunidades de dar a volta, mas os jogadores foram perdendo a confiança e o discernimento, e acabou por ser a selecção asiática a festejar juntamente com os seus amigos de Middlesbrough. Seguiu-se a selecção portuguesa, também ela com uma carreira de tomba-gigantes no torneio, deixando de fora o Brasil de Pelé. De Middlesbrough, os norte-coreanos foram para Liverpool e levaram atrás de si três mil adeptos da cidade que os acolhera. Na terra dos Beatles, não tinham alojamento marcado e foram obrigados a ficar nos quartos reservados pelos italianos numa residência de padres. Os “baixinhos com as caras iguais”, como disse José Augusto, um dos membros da equipa portuguesa, começaram por surpreender os “Magriços” de forma bastante afirmativa, colocando-se a vencer por 3-0. Mas Portugal tinha Eusébio, um dos melhores avançados do mundo, que, quase sozinho, destruiu os asiáticos, marcando quatro golos na partida dos quartos-de-final que terminaria em 5-3 para Portugal. Até ao Mundial 2002, organizado pela Coreia do Sul e pelo Japão, nenhuma equipa asiática fez melhor que eles na fase final de um Mundial. Nesse torneio, os sul-coreanos conseguiram chegar às meias-finais eliminando, sucessivamente, a Itália e a Espanha. Pelo menos numa coisa a Coreia do Sul imitou a selecção de 66 que representava um país com o qual nunca deixou de, formalmente, estar em guerra: eram a selecção fisicamente mais bem preparada para jogar no clima húmido da Ásia ocidental. Atlético Sorocaba do BrasilAo contrário da sua selecção feminina, que é a segunda melhor da Ásia e uma das melhores do mundo (sexta no ranking FIFA; a equipa portuguesa está no 41. º lugar), a selecção masculina tem pouca visibilidade internacional, para além dos jogos internacionais e de poucos jogadores que actuam no estrangeiro — dos 23 que vão estar na África do Sul, dois jogam no Japão e um na Rússia. Das competições internas, pouco se sabe para além do nome das equipas e do que é descrito no filme de Gordon e Bonner. Sabe-se, por exemplo, que uma das potências do futebol norte-coreano é o 25 de Abril. As excursões que Bonner promove também permitem algum contacto da Coreia do Norte com equipas estrangeiras, mas são, na sua grande maioria, equipas femininas que o inglês leva ao país. Em Novembro passado, já depois de garantida a qualificação para o Mundial, a selecção norte-coreana defrontou uma equipa brasileira em Pyongyang, mas não foi nem a selecção do Brasil, nem nenhuma das equipas de topo, como o Flamengo ou o Corinthians. Quem representou o futebol brasileiro foi o Atlético Sorocaba, da segunda divisão estadual de São Paulo, apresentado no placard do estádio como Brasil e com equipamentos amarelos. Como foi parar uma obscura equipa com pouca história ao país eremita? Devido às relações com uma universidade norte-coreana de Tóquio e ao facto de o clube ser propriedade da Igreja da Unificação do reverendo Sun Myung Moon, um coreano nascido da zona norte da península. “Eles queriam conhecer melhor o futebol brasileiro”, recorda à Pública Valdir Cipriani, na altura e agora vice-presidente do clube paulista. Nunca os homens do Atlético tinham jogado perante tanta gente — 80 mil espectadores no estádio Kim Il-Sung, e ficaram mais 30 mil fora do recinto — e, para todos os efeitos, era como se fosse a selecção do Brasil, o que terá motivado uma táctica cautelosa por parte do seleccionador da casa, Kim Jong-Hun. “Tecnicamente, da parte deles, foi um jogo muito na retranca. Tinham cinco zagueiros [defesas], três volantes [médios], um armador de jogo e um avançado sozinho lá na frente. Não estavam muito entrosados e tinham uma pontaria muito ruim. Nós éramos um pequeno clube de São Paulo e o que pensávamos era não perder por muitos”, conta Cipriani, que viveu durante dois anos na Coreia do Sul. O jogo acabou num empate sem golos. “Eles respeitaram-nos de mais”, observa o dirigente do clube paulista, que recorda ainda outro momento em que o treinador ficou de mão estendida quando tentou cumprimentar o seleccionador norte-coreano antes do jogo — cumprimentaram-se depois do jogo. Nos jornais do dia seguinte, acrescenta Cipriani, nem uma palavra sobre a partida. A propagandaNo documentário de Bonner e Gordon, os jogadores recordavam um encontro com Kim Il-Sung que, dizem, os inspirou para os feitos em 1966. O filme mostra, inclusive, um momento em que os sobreviventes dessa equipa são levados até uma grande estátua do “presidente eterno” e quase todos começam a chorar. Para o Mundial 2010, todas as poucas declarações públicas de jogadores e treinadores da Coreia do Norte falam do “Querido Líder” como uma fonte de inspiração. A propaganda difundida no país pelo Governo de Pyongyang reforça este sentimento. “O que aconteceu este ano prova, mais uma vez, que a liderança experiente do secretário-geral Kim Jong-Il e a sua grande devoção patriótica são a fonte de todas as vitórias, milagres e força inesgotável”, lia-se numa nota publicada pela agência de notícias norte-coreana. A máquina de propaganda funciona, essencialmente, para o interior. O sucesso na manutenção do regime está na sua capacidade de controlar a informação que chega aos cidadãos, que apenas recebem dados fornecidos pelo Estado e não têm acesso à Internet. E o futebol também serve para passar a mensagem. Por exemplo, durante a qualificação asiática, após um confronto entre as duas Coreias na China, a federação norte-coreana acusou a sua contraparte de Seul de ter envenenado os seus jogadores. “Os principais jogadores da República Democrática Popular da Coreia não se conseguiam levantar por causa de vótimos, diarreia e dores de cabeça. […] Pode ser dito, sem qualquer dúvida, que tal foi provocado por um acto deliberado de adulteração dos alimentos”, dizia, em comunicado, a federação norte-coreana, que acusava ainda o árbitro de “trabalho seriamente tendencioso”. Mas os norte-coreanos são realistas sobre as possibilidades do seu futebol contra potências como o Brasil, Portugal e Costa do Marfim, os seus adversários da primeira fase — o Brasil será o primeiro adversário, a 15 de Junho. Ainda assim, esperam emular os feitos dos heróis de 1966. “Depois de derrotar as probabilidades com a nossa qualificação, queremos espantar o mundo do futebol”, diz Jong Tae-Se, avançado dos japoneses do Kawasaki Frontale. Jong é um dos poucos jogadores conhecidos da equipa norte-coreana, um avançado de 26 anos forte, a quem chamam o Wayne Rooney da Ásia, por a sua entrega ao jogo ser semelhante à do jogador do Manchester United. Jong nasceu no Japão e diz-se que tem origens norte-coreanas, emboram outras fontes digam que os seus pais são da Coreia do Sul — parece, no entanto, certo que tenha estudado num colégio norte-coreano em Tóquio. O estilo de jogo dos norte-coreanos do presente contrasta bastante com o espírito ofensivo dos seus antecessores. Jogam apenas com um avançado e utilizam um superdefensivo sistema com cinco defesas. Tal táctica valeu-lhes, no entanto, terem sofrido apenas dois golos na fase de apuramento. “Jogamos um futebol feito de velocidade e boa técnica, de acordo com os padrões do futebol moderno, que incluem grande resistência física. O nosso espírito é um factor de união entre os jogadores. Apesar de a tendência global ser um futebol mais de ataque, o nosso estilo defensivo é o que melhor se adapta aos nossos jogadores”, reconhece o seleccionador norte-coreano. Nick Bonner acredita que ninguém tem mais a provar ao mundo que a Coreia do Norte e que, só isso, pode reduzir a diferença para os adversários mais poderosos: “Todos vão jogar a 100 por cento, a Coreia do Norte vai jogar a 110 por cento. Estão nos lugares de baixo da hierarquia e vão jogar por um país que é pária. Espero que o futebol seja mais forte que a política. ”
REFERÊNCIAS:
Exército nigeriano liberta novo grupo de raptadas pelo Boko Haram
Pessoas resgatadas esta semana são agora perto de 500. Amnistia diz que é apenas a “ponta do icebergue”. (...)

Exército nigeriano liberta novo grupo de raptadas pelo Boko Haram
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.136
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Pessoas resgatadas esta semana são agora perto de 500. Amnistia diz que é apenas a “ponta do icebergue”.
TEXTO: O Exército nigeriano libertou esta quinta-feira um grupo de 160 mulheres e crianças que tinham sido raptadas pelo grupo islamista Boko Haram. O número de pessoas resgatadas esta semana ronda agora as 500. “São 60 mulheres de diferentes idades e cerca de 100 crianças”, disse o porta-voz do Exército, Sani Usman. As reféns estavam detidas em condições “desumanas”, declarou o porta-voz das Forças Armadas, Chris Olukolade. Na terça-feira, tinham sido libertadas 200 raparigas e 93 mulheres, igualmente de campos conquistados pelo Exército ao grupo islamista na floresta de Sambisa, no Nordeste. A libertação desse primeiro grupo criou a expectativa de que entre as resgatadas pudessem estar algumas das mais de 200 estudantes do liceu de Chibok raptadas pelo Boko Haram em 2014, mas até agora não há qualquer confirmação. Das 276 estudantes raptadas a 14 de Abril de 2014 em Chibok, 57 conseguiram fugir nas horas seguintes, mas desconhece-se o paradeiro das outras 219. As libertações dos últimos dias “não são mais do que a ponte do icebergue”, disse Netsanet Belay, director de investigação da Amnistia Internacional para África. Num relatório divulgado há duas semanas, a organização admite que o número de mulheres e raparigas nigerianas sequestradas desde o início de 2014 seja “sem dúvida superior” a dois mil. Testemunhos recolhidos pela Amnistia indicam que muitas foram submetidas a trabalho forçado e usadas como escravas sexuais. Algumas tiveram de combater. Fonte militar nigeriana citada pela AFP diz que, entre as libertadas esta quinta-feira, algumas foram usadas como “escudos humanos” face ao avanço do Exército. Com apoio de forças do Níger, Chade e Camarões, o Exército nigeriano desencadeou em meados de Fevereiro uma ofensiva que levou à expulsão do Boko Haram dos principais centros urbanos que tinha ocupado. Nas últimas semanas avançou sobre Sambisa, um refúgio dos islamistas. Desde que começou, há seis anos, a insurreição do Boko Haram e a sua repressão provocaram a morte de mais de 15 mil pessoas. Mais de 1, 5 milhões foram, segundo as Nações Unidas, obrigadas a deixar as suas casas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte humanos mulheres
Anonymous atacam sites governamentais de Angola
Grupo exige libertação de 15 dos 17 activistas angolanos que estão a ser julgados e a realização de "eleições livres" no país. (...)

Anonymous atacam sites governamentais de Angola
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-11-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Grupo exige libertação de 15 dos 17 activistas angolanos que estão a ser julgados e a realização de "eleições livres" no país.
TEXTO: Os Anonymous reivindicaram um ataque lançado na última sexta-feira a alguns dos principais sites governamentais de Angola, incluindo à página do Governo e do Supremo Tribunal. A acção tem como objectivo contestar a presidência de José Eduardo dos Santos, apelar à realização de “eleições livres” e exigir a libertação de 15 dos 17 activistas angolanos que estão a ser julgados por “actos preparatórios” de rebelião e de atentado contra o chefe de Estado angolano. Num post publicado na página Anonymous Legion Portugal no Facebook, o grupo de hackers exige a “liberdade dos presos políticos em Angola”, que “vive embrulhada numa ditadura disfarçada de democracia e o seu fabuloso progresso mundial, que serve de distracção para um povo iludido”. O grupo considera que o país africano vive uma situação “insustentável”, com um povo pobre e “reprimido”, enquanto a “família de José Eduardo dos Santos enriquece à custa da miséria do povo”. “Para que os angolanos tenham acesso a direitos básicos como a liberdade de expressão, a saúde e a educação, é necessário que haja eleições livres em Angola”, escrevem no seu comunicado. Exigem a “libertação imediata” de todos os presos políticos, “incluindo os últimos que foram presos e estão neste momento a ser julgados”, numa referência ao julgamento de Luaty Beirão e dos seus companheiros. “Todos sabemos como funcionam os julgamentos numa ditadura, que é tão igual a um julgamento numa monarquia no tempo medieval”, acrescentam. Com base neste comunicado, os Anonymous lançaram um ataque a pelo menos seis sites, incluindo o do Governo de Angola, a Embaixada de Angola em Portugal, do Tribunal Supremo ou do Tribunal Constitucional. Esta terça-feira, a página do executivo angolano ainda registava problemas de acesso, bem como o site do Governo Provincial de Luanda. Até ao momento, não houve qualquer comentário por parte das autoridades governamentais quanto a este ataque. Domingos, Manuel, Nuno, Afonso, José, Sedrick, Fernando, Benedito, Arante, Albano, Osvaldo, Inocêncio, Hitler, Nelson, Henrique – que estão detidos desde Junho – e também Rosa e Laurinda – em liberdade – começaram a responder, no passado dia 16 de Novembro, em Luanda, pela acusação de “actos preparatórios” de rebelião e atentado contra o Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos. Aos activistas foi atribuída a intenção de tencionarem desenvolver acções de “consciencialização e mobilização da população, extensiva a mulheres, crianças, estudantes universitários, moto-taxistas, estivadores, zungueiros, entre outros”. O objectivo final da sua acção seria promover “arruaças”, com “queima de pneus nas distintas ruas das cidades angolanas, extensivos aos domicílios dos órgãos de soberania, incluindo o palácio presidencial. E também “greves injustificadas”, actos de “desobediência civil” e “desacatos e afronta aos órgãos de defesa e segurança do país, com excepção das FAA [Forças Armadas]". Cinco dias após o início do julgamento, o Tribunal Provincial de Luanda não completou sequer a audição de três dos 17 arguidos. O Tribunal Supremo angolano não aceitou um segundo pedido de habeas corpus para a libertação dos 15 activistas que estão em prisão preventiva há cinco meses, contestando que os prazos de detenção tenham sido ultrapassados.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Protestos em St Louis: “A vida dos negros também conta”
Manifestações para protestar contra o racismo e a violência policial terminam nesta segunda-feira. (...)

Protestos em St Louis: “A vida dos negros também conta”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 | Sentimento -0.16
DATA: 2015-05-02 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150502041930/http://www.publico.pt/1672663
SUMÁRIO: Manifestações para protestar contra o racismo e a violência policial terminam nesta segunda-feira.
TEXTO: Milhares de pessoas manifestaram-se ao fim do dia de sábado em St Louis (Missouri) para protestar contra o racismo e a violência policial, recordando a morte de um jovem negro por tiros disparados por um polícia branco em Ferguson no passado mês de Agosto. O protesto já estava marcado há semanas mas aconteceu poucos dias depois de um incidente semelhante (“polícia branco mata jovem negro”) num outro subúrbio da cidade. Os manifestantes, cerca de 5000 pessoas segundo um jornalista da AFP, escreveram em cartazes e t-shirts “justiça para todos”, “não disparem” e “a vida dos negros também conta”. Frente ao contingente policial que acompanhou o protesto, muitos manifestantes apresentaram-se com as mãos no ar, outros de joelhos com as mãos atrás das costas. Um grupo de mulheres levou uma enorme bandeira branca onde estavam fixados pequenos recortes de papel representando mãos e corações coloridos, em sinal de solidariedade com todas as mulheres que perderam os filhos em situações de violência policial em Ferguson, subúrbio de St. Louis onde o jovem Michael Brown, de 18 anos, foi morto a tiro no dia 9 de Agosto. Segundo a polícia, o agente Darren Wilson matou o jovem Brown depois de ter sido atacado e de este lhe ter tentado tirar a sua arma de serviço. Mas as testemunhas garantem que Michael Brown estava desarmado e tinha as mãos no ar quando foi morto. Na noite da passada quarta-feira, em Shaw, outro subúrbio de St. Louis, outro jovem de 18 anos foi morto a tiro por um polícia branco. As circunstâncias desta última morte ainda estão a ser investigadas, mas as autoridades garantem que o jovem estava armado e disparou contra o polícia antes de ser morto. Uma prima do jovem garante que ele estava desarmado. As manifestações com o lema Fim-de-semana de resistência e Outubro em Ferguson começaram na sexta-feira e só terminam nesta segunda-feira. A multidão de sábado, composta por pessoas de várias gerações, na maioria negros mas também alguns brancos, desfilou ao longo de um percurso de 19 quilómetros entre Ferguson e o centro de St. Louis. “Toda a gente aqui é pacífica, calma e respeitosa. Um bom dia para todos”, escreveu o chefe da polícia de St. Louis, Sam Dotson, na sua conta do Twitter.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte violência negro racismo mulheres morto
Kendrick Lamar convidou uma fã para cantar, mas a n-word também pisou o palco
Deve uma espectadora branca recorrer a um termo racista que faz parte da letra de uma música? Não, e essa era uma regra não escrita nos concertos de Kendrick Lamar. Mas uma fã quebrou-a. (...)

Kendrick Lamar convidou uma fã para cantar, mas a n-word também pisou o palco
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Deve uma espectadora branca recorrer a um termo racista que faz parte da letra de uma música? Não, e essa era uma regra não escrita nos concertos de Kendrick Lamar. Mas uma fã quebrou-a.
TEXTO: É uma das canções mais populares de Kendrick Lamar e o rapper sabe-o, convidando frequentemente fãs a subirem ao palco e a cantá-la consigo. Foi por isso que, na segunda-feira, num concerto no estado norte-americano do Alabama, Kendrick Lamar convidou uma das milhares de pessoas que assistiam ao espectáculo para cantar a M. A. A. D City do álbum Good Kid, M. A. A. D City, editado em 2012. Mas a experiência correu mal. A fã, uma rapariga branca, repetiu a “n-word” durante a sua interpretação, o que indignou a multidão que assistia ao concerto e levou Kendrick a interromper a actuação. O episódio aconteceu no Hangout Music Festival. Lamar convidou uma rapariga para o palco. A jovem, visivelmente entusiasmada com a oportunidade, apresentou-se como Delaney e começou a cantar. Seguindo a letra original da música, Delaney recorrey a um termo racista e ofensivo duas vezes. "Man downWhere you from, nigga?""Fuck who you know, where you from, my nigga?"O termo em causa é considerado especialmente ofensivo nos EUA, onde se refere originalmente aos escravos negros dos grandes proprietários agrícolas. Os espectadores reagiram com desagrado, vaiando a fã que tinha subido ao palco. Sem ter percebido o motivo da interrupção, a jovem perguntou a Lamar se não era "suficientemente cool" para actuar com o rapper. Kendrick explicou-lhe então, em palco, que Delaney deveria ter omitido “uma única palavra”. A jovem mostra-se confusa e pergunta “oh, desculpa, disse-a?”. O músico acaba por perguntar à plateia se lhe deve dar uma segunda oportunidade. Apesar do coro negativo, o rapper decide deixar a fã cantar outra vez. “Não, por favor, deixem-me continuar”, pede à multidão. “Já percebi. Estou habituada a cantar como a escreveste. ” Nervosa, a jovem acaba por retomar o microfone, mas falha no ritmo e acaba por ser interrompida e convidada a sair por Lamar, o primeiro rapper a receber um Pulitzer. O incidente, viralizado através das redes sociais, é motivo de debate nos EUA, onde o uso do termo racista e ofensivo é especialmente condenado quando é proferido por não negros. Os defensores da espectadora no centro da polémica, contudo, sublinham que o termo faz parte da letra da canção, e que a responsabilidade recai por isso no autor. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Elon Musk chama “pedófilo” a mergulhador da gruta
O mergulhador britânico tinha acusado o multimilionário sul-africano de um mero "golpe publicitário" quando este propôs utilizar um mini-submarino no resgate dos rapazes tailandeses. (...)

Elon Musk chama “pedófilo” a mergulhador da gruta
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: O mergulhador britânico tinha acusado o multimilionário sul-africano de um mero "golpe publicitário" quando este propôs utilizar um mini-submarino no resgate dos rapazes tailandeses.
TEXTO: O empresário Elon Musk apelidou de "pedófilo" o mergulhador britânico Vernon Unsworth, que vive na Tailândia e participou nas operações de resgate do grupo de rapazes que esteve 18 dias preso numa gruta no norte do país. Musk não fundamentou a acusação, aludindo apenas ao facto de Unsworth viver na Tailândia, um país com um conhecido problema de prostituição infantil. A publicação no Twitter, que viria a ser apagada, foi feita no domingo. Musk respondia daquela forma ao mergulhador, que tinha dito que o mini-submarino construído pela empresa SpaceX para ajudar no resgate da gruta não tinha passado de "golpe publicitário", “sem qualquer hipótese de funcionar”. Unsworth tinha ainda provocado Elon Musk, ao sugerir-lhe que enfiasse o submarino "onde dói". Mais tarde, após a acusação de Musk, o mergulhador de 63 anos revelou à televisão australiana Channel 7 News que está a ponderar processar judicialmente o empresário. “Isto ainda não acabou”, disse. “Não quero fazer mais comentários sobre ele, mas acho que toda a gente percebe o tipo de pessoa que ele é”, acrescentou. Durante as operações de resgate, Musk tinha partilhado no Twitter uma série de vídeos que mostrava o projecto do minissubmarino, dizendo que este podia ser puxado por dois mergulhadores e era “suficientemente pequeno para passar pelos locais mais estreitos da gruta”, o que poderia auxiliar no resgate das crianças. Mas o salvamento dos 12 adolescentes que pertenciam a uma equipa de futebol local e do seu treinador de 25 anos acabou por ser feito pelas mãos de uma equipa internacional de mergulhadores. Foram vários os especialistas a afirmar que o submarino não conseguiria passar nos pontos mais estreitos da gruta, opinião que foi depois defendida pelo mergulhador britânico. Nos tweets publicados no domingo, Musk voltou a defender que o mini-submarino era perfeitamente funcional. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A tentativa de participação de Musk nas operações de resgate aconteceu a pedido do governador da província tailandesa de Chiang Rai, Narongsak Osottanakorn. Este tinha revelado ao correspondente do jornal britânico The Guardian, Jacob Goldberg, que tinha um amigo na empresa de Musk. Unsworth, um mergulhador que conhecia bem aquelas grutas, referiu que Musk não tinha sido bem recebido no local, algo que o empresário sul-africano desmente: “Nunca vi este expatriado britânico que vive na Tailândia (suspeito) em nenhuma altura em que estávamos na gruta. As únicas pessoas à vista eram a Marinha e o Exército tailandeses, que foram fantásticos. A Marinha tailandesa acompanhou-nos – o oposto a querer que saíssemos de lá. "Conflitos à parte, o resgate foi concluído com sucesso, pese embora a morte de um mergulhador de elite da Marinha tailandesa.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Berardo prepara-se para abrir museu do azulejo em Estremoz
O empresário tem também outro projecto para aquela cidade alentejana, um museu de arte africana, pendente de uma candidatura a apoios comunitários. Presidente da câmara garante que os direitos e os deveres das duas partes foram “claramente definidos” e que os interesses da autarquia estão salvaguardados. (...)

Berardo prepara-se para abrir museu do azulejo em Estremoz
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-06-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: O empresário tem também outro projecto para aquela cidade alentejana, um museu de arte africana, pendente de uma candidatura a apoios comunitários. Presidente da câmara garante que os direitos e os deveres das duas partes foram “claramente definidos” e que os interesses da autarquia estão salvaguardados.
TEXTO: Apesar das atribulações por que tem passado, Joe Berardo, a braços com uma dívida de 980 milhões de euros, não se vislumbra qualquer contratempo que impeça o cumprimento dos protocolos que o empresário celebrou com a Câmara de Estremoz, a 14 de Julho de 2016 e a 17 de Abril deste ano, respectivamente, para a instalação, na cidade alentejana, de dois novos museus: um para a sua colecção de azulejaria, outro para a sua colecção de arte africana. A Associação Colecções (AC), com sede no Funchal, prevê abrir já em Outubro, no Palácio dos Henriques, também conhecido por Palácio Tocha, um museu do azulejo, que terá como designação oficial Museu Berardo Estremoz. Em declarações ao PÚBLICO, o presidente da Câmara de Estremoz, o independente Francisco Ramos, admitiu que os riscos resultantes da instalação dos dois museus “não são evitáveis”, mas garante que os direitos e as obrigações das partes estão “claramente definidos” e “salvaguardam os interesses da autarquia”. José Sadio, vereador do PS, confirma que as obras do novo museu “estão quase prontas”. No entanto, “é sempre de admitir que possam surgir complicações”, observa o autarca socialista, lamentando que a oposição tenha sido “sistematicamente arredada” deste processo, iniciado ainda com o anterior presidente da Câmara — o também independente Luís Mourinho, que em Fevereiro deste ano perdeu o mandato após condenação em tribunal por crime de prevaricação e abuso de poder. O novo museu irá ocupar um edifício pré-pombalino, construído provavelmente no início do século XVIII, que se tinha transformado num “dormitório de pombos” e se encontrava muito degradado. Os trabalhos de adaptação, que estão a decorrer, implicaram um investimento superior a 2, 6 milhões de euros, comparticipado em 85% por fundos comunitários. O montante foi aplicado na recuperação integral do edifício, declarado de interesse público, circunstância que obrigou ao acompanhamento da Direcção Regional de Cultura do Alentejo (DRCAlentejo). “Por se tratar de um edifício classificado, [a DRCAlentejo] exigiu alterações ao projecto de arquitectura proposto. Satisfeitas as condições impostas, a obra pôde avançar”, explicou ao PÚBLICO a directora regional, Ana Paula Amendoeira. As alterações propostas pelo projecto de arquitectura “respeitaram e salvaguardaram os elementos arquitectónicos” construtivos e decorativos considerados de valor cultural e histórico-patrimonial, nomeadamente a azulejaria e as pinturas murais de tectos e corredores. A área de construção totaliza 2850 metros quadrados. O novo Museu Berardo Estremoz vai expor cerca de 1500 painéis provenientes da colecção de azulejos de Joe Berardo, que inclui exemplares do século XV até à actualidade. Está previsto que acolha também obras das outras colecções do empresário, que possui acervos de arte déco e arte nova, mas também de arte africana ou de cerâmica das Caldas da Rainha. A mais famosa (e valiosa) das suas colecções, reunindo mais de 800 obras de arte moderna e contemporânea, está instalada no Centro Cultural de Belém desde 2007, ao abrigo de um contrato de comodato entretanto renovado até 2022. Em Agosto de 2018, o empresário solicitou à Direcção-Geral do Património Cultural autorização para expedir para o Reino Unido, para eventual venda, 16 obras dessa colecção, pedido que lhe foi recusado. Em 2016, Joe Berardo chegou a anunciar a abertura de dois novos museus em Lisboa, um em Alcântara para a sua colecção de arte déco e outro no Bairro Alto para a sua colecção de arte africana. Em Janeiro deste ano, o empresário revelou que, após atrasos nas obras de adaptação do edifício, o primeiro desses dois museus abriria as suas portas em Julho. A validade do protocolo que enquadra a instalação do Museu Berardo Estremoz é de cinco anos, a contar a partir da data de abertura. É renovável automaticamente por iguais períodos, caso não seja denunciado por qualquer das partes. A Câmara de Estremoz está obrigada a pagar, entre outros encargos, todos os custos de manutenção, a contratar e a custear os vencimentos do pessoal, e a contratar e manter em seu nome e no da Colecção Berardo um seguro de responsabilidade civil que cubra todos os riscos de perecimento, furto e roubo das obras de arte ali expostas. A AC compromete-se, por seu turno, a disponibilizar gratuitamente o palácio para o funcionamento do museu e as obras integrantes das várias colecções que compõem a Colecção Berardo. Responsabiliza-se ainda por ceder todas as informações relativas às obras de arte e por contratar e manter em seu nome e no da Colecção Berardo um seguro de responsabilidade civil que cubra todos os riscos de perecimento, furto e roubo das obras de arte armazenadas no palácio. Pertencerão à AC todas as receitas provenientes das rendas dos estabelecimentos de apoio ao museu, bem como as resultantes de eventuais concessões. Pertencerão à Câmara de Estremoz todas as receitas de visitas, cujo preço será por ela fixado. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O protocolo assinado contempla ainda a instalação de um espaço para a venda e promoção dos vinhos produzidos por Joe Berardo na Quinta do Carmo, em Estremoz, de que é proprietário. “A ideia é que o público que vem ver a exposição aceda a comprar os vinhos que o empresário coloca à venda”, explica o autarca. Francisco Ramos adianta que o protocolo assinado para o futuro museu de arte africana é “similar” ao que foi acordado para o Museu do Azulejo. Ficará instalado nas antigas fábricas da Companhia de Moagem e Electricidade de Estremoz e Veiros, que se encontram em processo de classificação como edifícios de interesse municipal. No entanto, salienta o autarca, a candidatura deste projecto a fundos comunitários ainda não foi aprovada. As garantias de sustentabilidade dos dois museus persistem uma incógnita. “Esperamos que a receita resultante da venda de bilhetes seja superior às despesas, mas também pode acontecer o contrário”, admite Francisco Ramos, acrescentando que a vinda de “muitos visitantes” acabará por ter um impacto positivo na restauração local e na aquisição de artesanato. Em paralelo, o município “beneficiará através da derrama, do IMI e do IMT”. A decisão de disponibilizar à cidade de Estremoz estes dois museus, sublinha, é “uma posição altruísta” de Joe Berardo, de resto “uma constante” nos contactos que o autarca tem mantido com o comendador, o seu filho e o seu genro, que se “têm revelado pessoas impecáveis”.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS
Uma história de sangue
Como se Our Madness fosse um filme sobre a falta de imagens da tragédia africana e procurasse combater essa lacuna. (...)

Uma história de sangue
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Como se Our Madness fosse um filme sobre a falta de imagens da tragédia africana e procurasse combater essa lacuna.
TEXTO: África tem sido o território de João Viana, que antes filmara, na Guiné, A Batalha de Tabatô (no filme que primeiro chamou atenção sobre o realizador, graças ao sucesso da sua passagem pelo Festival de Berlim), e agora se instala em Moçambique. Our Madness, “a nossa loucura”, é um filme mais ambicioso (em termos de estrutura, em termos, até, de acutilância estética), e é também um filme mais conseguido — entre o mito e realidade, é uma evocação, por vezes sonâmbula, por vezes onírica, de uma “história geral” africana, dos séculos de colonialismos, das décadas de guerras civis e violência generalizada. A ambiguidade do título (“nossa”, de quem?), que também se justifica pelo lugar que serve de ponto de partida narrativo (um manicómio em Maputo), é sobretudo retórica: a “loucura” é colectiva, é histórica, é de todos, europeus e africanos, colonizadores e (pós-)colonizados. Realização: João Viana Actor(es): Hanic Corio, Pak Ndjamena, Ernania RainhaHá uma mulher que, sempre em transe (o lado sonâmbulo evoca a Casa de Lava de Pedro Costa), procura marido e filho, que também podem ser apenas fantasmas, há muito desaparecidos, porventura na guerra. No fundo pouco importa, a sua história é mero fil rouge, elemento condutor do olhar do filme, eco das grandes catástrofes africanas. O que importa é a figura da viagem, da deambulação, e a forma como tudo isso combina aspectos físicos e palpáveis com irrupções mitológicas noutra ordem de realidade, a forma como ambientes realistas (barzinhos com as paredes enfeitadas com anúncios de refrigerantes, paisagens de praias, de rios, de savanas) surgem de braço dado com um imaginário tradicional colhido no folclore local. Os enquadramentos rigorosos e sugestivos, a fotografia num preto e branco frio (a imagem é de Sabine Lancelin, umas das maiores directoras de fotografia da actualidade, que trabalhou com Chantal Akerman e Oliveira), tudo isso contribui para que esse vai e vem entre realidade e imaginário, percurso espacial e percurso mental, ganhe uma força peculiar, sobretudo quando se consegue que as duas coisas, “realidade” e “sonho”, se tornem a mesma. Há momentos que explicitam a passagem ao olhar mais vasto sobre a tragédia africana, por exemplo quando se evocam os grandes massacres que a história europeu integrou como “símbolo” (Guernica, por exemplo) ao lado dos massacres africanos de que os europeus guardam na melhor das hipóteses um nome, mais ou menos obscuro. Como se Our Madness fosse um filme sobre a falta de imagens da tragédia africana e procurasse, na medida das suas possibilidades, combater essa lacuna. Donde, a imagem mais sintética e mais drástica, o momento em que o preto e branco surge tintado de vermelho-sangue, transformado na cor dominante de uma história que, mais do que do um país, é de todo um continente.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra violência filho mulher
Cais do Valongo, principal porto de entrada de escravos no Brasil, classificado pela UNESCO
O desembarcadouro do Rio de Janeiro recebeu cerca de um milhão de escravos africanos ao longo de três séculos e foi agora reconhecido como Património Mundial da Humanidade. (...)

Cais do Valongo, principal porto de entrada de escravos no Brasil, classificado pela UNESCO
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.166
DATA: 2017-07-12 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170712195540/https://www.publico.pt/n1778558
SUMÁRIO: O desembarcadouro do Rio de Janeiro recebeu cerca de um milhão de escravos africanos ao longo de três séculos e foi agora reconhecido como Património Mundial da Humanidade.
TEXTO: Até quarta-feira, a Comissão do Património Mundial da UNESCO está reunida em Cracóvia, na Polónia, para rever e aumentar a lista de locais de singular importância para o mundo e para a humanidade. E o Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, onde desembarcou cerca de um milhão de escravos africanos ao longo de três séculos, é já oficialmente um dos novos lugares inscritos na lista de Património Mundial da UNESCO. O organismo cultural das Nações Unidas defende que o antigo sítio portuário do Rio de Janeiro deve ser olhado com mesma relevância histórica que Auschwitz e Hiroshima, pois “faz-nos lembrar de partes da história da humanidade que não devem ser esquecidas”. “É um memorial único que contém os últimos vestígios da chegada dos escravos”, disse o antropólogo Milton Guran em declarações à AFP. O Cais do Valongo tornou-se o principal porto de entrada de escravos no Brasil e nas Américas. O desembarcadouro e o terreno circundante foram erguidos em 1779 num esforço de afastar aquela atroz prática comercial do centro da cidade, de acordo com a jornalista Julia Carneiro, da BBC. Os vestígios arqueológicos que dele nos chegaram representam a “prova física mais importante da chegada forçada dos escravos de África ao continente americano”, reitera a Comissão. Após o desgaste da longa travessia do Atlântico, alguns dos escravos ficavam na zona do cais para recuperar e ganhar peso e poderem ser vendidos posteriormente. Muitos não sobreviveram e foram enterrados num cemitério ali perto entre 1770 e 1830. Outros libertaram-se da sua condição e radicaram-se na área, que ficou conhecida como “Pequena África”. Em comunicado citado pela Agência Lusa, o governo brasileiro sublinha que o Cais do Valongo “é um local de memória que remete a um dos mais graves crimes perpetrados contra a humanidade”, a escravatura. Quatro milhões de escravos chegaram ao Brasil entre os séculos XVI e XIX para trabalhar nas plantações e na lide doméstica. Este número equivale a 40% dos africanos que chegaram vivos às Américas nesse período. Cerca de 60% terão entrado pelo Rio de Janeiro e estima-se que perto de um milhão de escravos terá chegado pelo Cais do Valongo. O tráfico de escravos foi banido no Brasil em 1831, aquando da sua independência de Portugal, mas continuou ilegalmente até à abolição da escravatura em 1888. O Cais do Valongo foi, a partir daí, usado como aterro sanitário. Mais recentemente, o terreno acabou por dar lugar a um parque de estacionamento e a uma praça. Boa parte dos vestígios arqueológicos do Cais do Valongo foi descoberta durante os trabalhos de restauro levados a cabo por ocasião dos Jogos Olímpicos de 2016. Além de reconhecer a relevância do Cais do Valongo para a compreensão da história da humanidade, a Comissão do Património Mundial da UNESCO também integrou na lista a ilha sagrada de Okinoshima, no Japão. Situada entre a ilha de Kyushu e a península coreana, Okinoshima é um local de culto onde antigamente se rezava pela segurança marítima, tendo funcionado como centro de coordenação de relações entre a China e a Coreia desde o século IV. A ilha não pode ser visitada por mulheres e os homens que a frequentem devem despir-se antes de se banharem nas suas águas. De acordo com o britânico The Guardian, cerca de 200 homens têm autorização para visitar Okinoshima apenas uma vez por ano, a 27 de Maio, para homenagear os marinheiros que morreram em combate durante o conflito russo-japonês entre 1904 e 1905. Antes de se dirigirem para o mar, devem cumprir os rituais centenários e tirar a roupa para se livrarem de impurezas nas águas da ilha. A razão para a proibição da presença das mulheres em Okinoshima nunca foi publicamente admitida, mas segundo o xintoísmo, a tradicional doutrina japonesa, o sangue da menstruação é impuro. A classificação da ilha japonesa como Património da Humanidade dar-lhe-á acesso a fundos para a sua preservação, mas alguns locais já manifestaram a sua preocupação com futuros estragos. Segundo o Guardian, as mulheres e o turismo continuarão a ser banidos apesar da enchente de pedidos de agências de viagens. “Não abriríamos Okinoshima ao público mesmo que fosse colocada na lista da UNESCO, porque as pessoas não devem visitá-la por curiosidade”, disse Takayuhi Ashizu, sacerdote da Munakata Taisha, ao The Japan Times no ano passado. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O encontro anual da Comissão do Património Mundial da UNESCO, que termina esta quarta-feira, tem dado que falar pela classificação da cidade de Hebron, na Cisjordânia, como Património Mundial da Palestina. A acção enfureceu Israel, tendo o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita considerado a resolução “uma nódoa moral”. Já Benjamin Netanyahu caracterizou a decisão como “delirante” e afirmou esta segunda-feira que a construção do Kedem Center, um centro de visitantes na zona de Jerusalém oriental, será terminada em resposta à declaração de Hebron como património mundial. “Hoje ordenei que se completem os procedimentos para a conclusão do Centro Kedem para mostrar os achados históricos e arqueológicos da Cidade de David", afirma o primeiro-ministro israelita em comunicado. As instalações situam-se no bairro de Silwan, nos arredores de Hebron. Em reunião de ministros, Netanyahu fez ainda saber que reduzirá em um milhão de dólares (cerca de 877. 144 euros) os fundos destinados às Nações Unidas, alocados para “a construção de um Museu do Património do povo judeu em Kiryat Arba (colonato) e Hebron”. Notícia corrigida às 17h17 para precisar as datas da proibição do tráfico de escravos e da abolição da escravatura no Brasil
REFERÊNCIAS:
"Sexo" em vez de "raça" na Constituição
A alteração foi decidida no âmbito de uma reforma constitucional. O partido de Macron queria ainda que houvesse uma designação feminina para todos os cargos políticos, mas a proposta foi rejeitada. (...)

"Sexo" em vez de "raça" na Constituição
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: A alteração foi decidida no âmbito de uma reforma constitucional. O partido de Macron queria ainda que houvesse uma designação feminina para todos os cargos políticos, mas a proposta foi rejeitada.
TEXTO: Os deputados franceses decidiram na quarta-feira, por unanimidade, retirar a designação “raça” no primeiro artigo da Constituição francesa e substituíram-na pela expressão “sexo”. Assim, passa a ler-se que a República “assegura a igualdade de todos os cidadãos sem distinção de origem, sexo ou religião”, em vez de “origem, raça ou religião”. Esta alteração foi feita ao abrigo de uma reforma constitucional que começou a ser debatida na terça-feira no Parlamento francês. Os deputados (tanto de esquerda como de direita) consideraram que a utilização do termo “raça” – que foi introduzida na Constituição em 1946 para rejeitar quaisquer associações ao nazismo – já não fazia sentido nos dias de hoje: o termo poderia ser “mal interpretado” e a sua utilização é “infundada”, avança o jornal Ouest France. Em 1958, a Constituição foi revista mas a designação “raça” foi mantida; desde então, vários têm sido os pedidos de deputados para alterar o termo. O movimento de Macron, A República em Marcha (LRM), substituiu ainda a designação “direitos dos homens” por “direitos humanos” e propôs reescrever a Constituição com “escrita inclusiva”, diz o Le Monde, de forma a tornar os cargos também aplicáveis às mulheres (utilizando expressões como "primeiro-ministro ou primeira-ministra" e "embaixador ou embaixadora") – mas a proposta foi rejeitada.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos homens humanos sexo igualdade mulheres raça