Em Moçambique, elas continuam a lutar pela paz
Restabelecer o papel das mulheres na história de Moçambique, democratizando-a, é um dos grandes desafios que ainda se coloca à libertação da opressão patriarcal, um dos principais objetivos da luta política atual. (...)

Em Moçambique, elas continuam a lutar pela paz
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Mulheres Pontuação: 10 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Restabelecer o papel das mulheres na história de Moçambique, democratizando-a, é um dos grandes desafios que ainda se coloca à libertação da opressão patriarcal, um dos principais objetivos da luta política atual.
TEXTO: A construção democrática de qualquer estado-nação é um processo complexo, onde vários projetos políticos se confrontam. Independente desde 1975, a história recente de Moçambique é marcada por múltiplos episódios de violência: a guerra de libertação nacional/colonial, o conflito com a Rodésia e com a África do Sul do apartheid. Mas foi a guerra civil que mais marcou (e marca) o tecido social moçambicano. Iniciada pouco tempo após a independência, as razões deste conflito continuam por apaziguar. E apesar de um acordo de paz ter sido firmado em 1992, este acordo não trouxe a tão desejada paz, apenas tréguas e negociações que se arrastam até hoje. A guerra maltrata corpos e sentimentos; a guerra destrói as sociedades, física, emocionalmente e mentalmente. Os conflitos violentos que têm abalado o país têm tido efeitos devastadores no tecido social, na economia e nas propostas de democratização de Moçambique. De uma história assumida de luta contra o colonialismo português, o atual processo de construção nacional, num contexto de grande diversidade étnico-cultural, tem conhecido (re)visões históricas conflituantes, potencialmente disruptivas do projeto político nacional. A história busca dar sentido às ações humanas. Mas qualquer narrativa histórica gera representações ambíguas, produzindo violência histórica. No caso moçambicano, embora as diferenças políticas e económicas subjacentes aos projetos das forças beligerantes estivessem longe de ser intransponíveis, como os recentes avanços negociais sugerem, a animosidade e amargura que permeiam a leitura deste conflito pelos cidadãos ilustra a dificuldade de se alcançar uma solução política que garanta efetivamente a chegada da paz. Num outro patamar, uma análise mais minuciosa destas negociações deixa entrever, nas narrativas dominantes o controlo masculino na busca de uma solução para o conflito. Um rápido inventário das caracterizações dos líderes políticos envolvidos nas negociações apresenta-nos o ‘pai da independência’, o ‘pai da paz’, o ‘pai da democracia’. A ausência do feminino nos discursos políticos exige de nós uma reflexão sobre a participação efetiva das mulheres na busca da paz. Os muitos estudos feitos sobre o passado recente mostram como a violência colonial e patriarcal andam de mãos dadas; em Moçambique, na guerra de libertação, as mulheres combatentes foram construídas como as que ‘alimentam, produzem e mobilizam’ os combatentes. Essa construção de género da moçambicana em função da maternidade reforçou a visão patriarcal da nação. E assim as vozes das mulheres sobre a sua experiência de opressão, violência e resistência permanecem enterradas sob camadas de silenciamento. Uma leitura atenta da guerra civil que marcou Moçambique releva o peso brutal que esta guerra representou para as mulheres: garantir o sustento da família, suturar laços familiares estraçalhados, ser o pilar de segurança da família. Em suma, garantir a vida, mediar a paz nos gestos e ações quotidianas. Mas esta presença gritante parece desvanecer-se quando chegam as negociações ‘oficiais’ para a paz. Esta realidade está ligada aos debates sobre a objetividade histórica no Moçambique contemporâneo. As várias alianças entre perspetivas masculinas e libertadoras sobre os sentidos das guerras têm gerado narrativa políticas legitimadoras das lideranças política em conflito, tornando-as categóricas. Esta estratégia está intimamente associada à glorificação, principalmente dos guerrilheiros homens, e ao silenciamento da presença de milhares de mulheres que participaram ativamente destas lutas. Num contexto em que os projetos políticos são moldados, também, por opções políticas sexistas e geracionais (especialmente as gerações dos ‘libertadores da pátria’ e dos ‘libertadores da democracia’) as propostas de uma paz partilhada por todas e todos não se afiguram fáceis. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas as histórias silenciadas, protegidas por memórias subalternas continuam presentes, lembrando que a narrativa sobre a transição política não foi linear, e não é um património monolítico, protagonizado por uma só voz política. A história da participação política de mulheres nas lutas nacionalistas no contexto moçambicano é extensa. Como também é extensa a lista das personagens que se procurou remover da história, sem grande sucesso. A história de Moçambique integra múltiplas narrativas contraditórias sobre processos políticos e identitários. As narrativas de luta das mulheres expõem raptos, violações, ultrajes à dignidade humana, abusos dos direitos humanos cometidos por forças militares e de segurança. Mas é também uma história de negociações, redes de solidariedade e de múltiplos episódios de resistência. Estas narrativas revelam uma variedade de tensões e antagonismos que permearam (e ainda permeiam) a sociedade moçambicana. Descartar estas memórias é uma forma de manter silenciamentos. É, sobretudo, insistir numa visão abissal monocórdica e sexista sobre os factos e acontecimentos, sobre experiências de resistências, sobre múltiplas racionalidades políticas que compõem o mapa das memórias do que é Moçambique. A ausência de uma presença ativa política das mulheres na busca de uma solução digna que promova a liberdade e a dignidade evidencia a herança de um conflito mais amplo que ainda precisa de ser tratado em toda a sua complexidade. Esta realidade ajuda a explicar porque juntas, mulheres jovens e não tão jovens insistem que a luta continua, um sinal claro de que a libertação e a dignidade não foram ainda plenamente alcançadas pelas mulheres de Moçambique.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos homens guerra humanos violência ajuda social género mulheres
População estrangeira volta a aumentar após seis anos em queda
Há cada vez mais cidadãos de países da União Europeia e cada vez menos brasileiros e africanos com autorização de residência no país. SEF emitiu no ano passado quase 45 mil novos títulos de residência para estrangeiros. (...)

População estrangeira volta a aumentar após seis anos em queda
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Migrantes Pontuação: 11 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento -0.12
DATA: 2017-07-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há cada vez mais cidadãos de países da União Europeia e cada vez menos brasileiros e africanos com autorização de residência no país. SEF emitiu no ano passado quase 45 mil novos títulos de residência para estrangeiros.
TEXTO: Depois de seis anos de reduções sucessivas, o número de estrangeiros residentes em Portugal voltou a aumentar em 2016. Há cada vez mais cidadãos de países da União Europeia e cada vez menos brasileiros e africanos com autorização de residência no país. Esta inversão da tendência de decréscimo de residentes estrangeiros — que se verificava desde 2010 — é destacada no Relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo 2016 do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), que vai ser apresentado nesta segunda-feira em Lisboa e que dá conta também do significativo aumento dos pedidos de asilo verificado no ano passado. Em 2016, e tendo em conta o fluxo de entradas e saídas de imigrantes, a estrutura das dez nacionalidades mais representativas no mapa dos estrangeiros residentes em Portugal alterou-se. Os franceses saltaram para o top-10 de nacionalidades com maior peso, devido ao acréscimo no número de autorizações de residência (mais 33%), ao mesmo tempo que os britânicos passaram a ser a sexta nacionalidade mais relevante, suplantando já os angolanos residentes em Portugal. No final do ano havia 19. 384 cidadãos britânicos a residir cá. A alteração da lista das 10 principais nacionalidades residentes no país está relacionada com as aquisições de nacionalidade portuguesa de cidadãos extracomunitários, explica ainda o SEF no relatório. Apesar de a nacionalidade brasileira continuar a ser, de longe, a mais representativa desta lista (81. 251 residentes, no final do ano passado), o número de cidadãos brasileiros com autorização de residência voltou a diminuir no ano passado, como já estava a acontecer desde 2011. Os dados que constam do relatório anual do SEF permitem, aliás, ter uma ideia do ritmo acelerado desta espécie de debandada: no período entre 2010 e 2016, são menos 38. 111 a residir em Portugal. Agora, a seguir aos brasileiros, que representam um quinto do total, na lista dos principais residentes surgem os cabo-verdianos, os ucranianos e os romenos. No quinto lugar aparecem os chineses. Os franceses figuram em nono lugar, já à frente dos espanhóis. Ao mesmo tempo que os pedidos de nacionalidade aumentaram, a emissão de novos títulos de residência disparou. Em 2016 foram emitidos quase 45 mil novos títulos de residência, o que representa um crescimento de 24% face a 2015. Este aumento é explicado em boa parte pelo "acréscimo de autorizações para trabalho subordinado", mas igualmente pelo crescimento do número de nacionais da União Europeia que escolheram vir viver para cá. É óbvio o interesse crescente de Portugal como morada para cidadãos de vários países da União Europeia. São dois os principais "factores de atractividade" a justificar este aumento de residentes, segundo o SEF. Por um lado, a percepção de Portugal como país seguro e, por outro, as vantagens fiscais decorrentes do regime para o residente não habitual — somos cada vez mais procurados por reformados de vários países, graças ao regime fiscal para residentes não habituais. A União Europeia, sintetiza o SEF, “foi a zona geográfica que mais sustentou o crescimento dos estrangeiros residentes em Portugal, juntamente com as nacionalidades oriundas do continente asiático, embora com uma expressão quantitativa bastante menor”. "Depois dos anos da crise económica e financeira, parece que Portugal está de novo a atrair mais imigrantes", comenta a presidente da Associação Portuguesa de Demografia, Maria Filomena Mendes, que, sem conhecer ainda o relatório do SEF, especula que é possível que se esteja a desenhar um "novo perfil de imigrante" em Portugal. O aumento dos residentes estrangeiros, nota, é sempre um fenómeno que contribui para compensar, ainda que em pequena escala, o decréscimo populacional que há anos afecta Portugal. O que resta saber é qual a estrutura etária destes novos residentes. No passado recente, a imigração revelou-se fulcral para atenuar a quebra da natalidade em Portugal, porque os imigrantes têm, em média, mais filhos do que os portugueses, lembra a especialista, que diz que é preciso aguardar mais algum tempo para ver se a tendência persiste. Dos quase 400 mil estrangeiros residentes em Portugal, quase metade escolheram o distrito de Lisboa como morada e mais de 63 mil concentram-se no de Faro. Setúbal é o terceiro distrito com mais estrangeiros residentes (36. 175) e só a seguir surge o Porto, com mais de 24 mil. Quase todos os distritos do litoral e do interior registaram um acréscimo no número de imigrantes no ano passado. As excepções são Setúbal (menos 2, 2%), Lisboa (menos 0, 2%) e Vila Real e Viseu (ambos com uma redução de 0, 1%). O SEF adianta ainda que o investimento total no âmbito do regime especial de autorização de residência para actividade de investimento — os chamados vistos gold — suplantou os 874 milhões de uros, 787 milhões dos quais relativos a operações de aquisições de imóveis. No ano passado foram aprovados 1414 processos deste tipo, mas apenas foi concedido um visto gold para a criação de, pelo menos, dez postos de trabalho. Os beneficiários dos vistos gold em 2016 foram sobretudo chineses (848), brasileiros (142) e sul-africanos (62). Os pedidos de asilo voltaram a aumentar no ano passado, à semelhança do que já tinha acontecido em 2015. No ano passado, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) recebeu 1469 pedidos de protecção internacional, mais 64% do que no ano anterior, “o maior número de pedidos nos últimos 15 anos”, lê-se no Relatório Imigração, Fronteiras e Asilo. Do total de pedidos recebidos ao longo do ano passado, 428 foram apresentados por sírios, 117 por iraquianos e, no conjunto dos cidadãos africanos, o destaque vai para nacionais da Eritreia (248). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O SEF adianta ainda que no ano passado concedeu 267 autorizações de residência por razões humanitárias, quase o dobro do ano anterior. Do total de pedidos de asilo, quase 1200 foram formulados no território nacional e 271 foram apresentados nos postos de fronteira. O SEF lembra que, “no âmbito da resposta à crise migratória na Europa”, até ao final do ano passado Portugal recebeu e acolheu 781 requerentes de protecção internacional provenientes de Itália e da Grécia.
REFERÊNCIAS:
Entidades SEF
Estão os skins neonazis a regressar às ruas?
Regressaram os relatos de ataques de skins. Fontes policiais garantem que movimento é pequeno, está fragmentado e que episódios de violência são actos isolados. (...)

Estão os skins neonazis a regressar às ruas?
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-10-05 | Jornal Público
SUMÁRIO: Regressaram os relatos de ataques de skins. Fontes policiais garantem que movimento é pequeno, está fragmentado e que episódios de violência são actos isolados.
TEXTO: Eram os 40 anos da Revolução de 25 de Abril. Lisboa confluíra para o Largo do Carmo. Jorge e um amigo tinham estado lá a cantar a Grândola e ido tomar uma cerveja. Vinham a descer a Rua do Arco de São Mamede. Ele trazia uma faixa enrolada em dois paus e o amigo uma cana de suporte de bandeira. De repente, avistaram dois homens encorpados, encostados à parede, na esquina na Rua de São Bento. “Boa noite, camaradas”, disse o de cabeça rapada, carregando na última palavra. “O que levam aí?” Jorge só teve tempo de dizer ao amigo: “Vira para cima!”Uns dez metros à frente, naquela que é a rua do Parlamento, estavam quatro pessoas de roupas escuras. Num tapume de alumínio faziam colagens. Seria um folheto branco com uma caricatura de Mário Soares e umas quantas palavras soltas que terminavam com a frase: “Os Nacionalistas Autónomos exigem a punição imediata de todos os traidores que arruinaram Portugal e os portugueses”. Pelo uso da palavra “camarada”, Jorge pensou que estivessem a ser tomados por militantes comunistas. Quando um deles lhe pediu para ver a faixa, ele reagiu: “Não mostro!”. Nada agradaria ao que Jorge julgou serem militantes do Partido Nacional Renovador (PNR), que já tantas vezes se manifestou contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a adopção e a co-adopção por casais homossexuais. Eram perto de duas da manhã. A rua estava pouco iluminada. Só depois, Jorge e o amigo veriam os panfletos colados pela rua acima. E bastar-lhes-ia uma pesquisa na internet para perceberem que os Nacionalistas Autónomos andam pela área metropolitana de Lisboa a colar cartazes e a pintar paredes, declarando-se anti-antifascistas. Alguns deixam-se fotografar, de costas ou com as caras tapadas, e exibem as imagens nas redes sociais. E é explícito o seu apoio a Mário Machado, antigo líder dos Hammerskin, que está perto de sair da prisão e a tentar fundar um partido. “Foge”, disse Jorge ao amigo, atravessando os paus para afastar o interlocutor. O amigo quis pedir auxílio, mas não conseguiu telefonar. Num instante, os outros quatro tinham descido a rua e um deles aproximara-se. Um agrediu Jorge por trás, na cabeça, fazendo-o cair. Segurou-o pelo pescoço com um braço, e tratou de o esmurrar com o punho que tinha livre. Outro deu-lhe umas joelhadas e uns pontapés. O amigo tentou picar o que se virara para si com a cana, mantê-lo afastado, mas o adversário tirou-lhe a cana e deu-lhe um par de caneladas antes de ele conseguir fugir pela rua abaixo. O episódio foi descrito com detalhe a um advogado, mas a queixa nunca chegou às autoridades. O amigo de Jorge foi protelando a ida à esquadra até o prazo se esgotar. Tinha demasiado medo do que poderia acontecer quando os agressores conhecessem o seu nome e a sua morada. Fontes policiais contactadas pelo PÚBLICO garantem que o movimento skin é pequeno e está fragmentado. O último Relatório Anual de Segurança Interna já dá conta de “um incremento do número de actividades direccionadas para o interior do movimento, como encontros-convívio e concertos, que contribuem essencialmente para estreitar laços entre militantes e difundir propaganda”. As autoridades mantêm-se vigilantes. Em Julho, por exemplo, até o Serviço de Informação e Segurança estava num café situado na zona industrial do Soeiro, em São Mamede do Coronado, na Trofa, para assistir a uma série de concertos de bandas conotadas com o neonazismo: duas portuguesas, uma britânica e uma francesa. Mas nem tudo lhes chega aos ouvidos. Há uma esquadra da PSP na Rua de São Bento. Talvez isso tenha travado os agressores quando o amigo de Jorge, lesto, desatou a correr pela rua abaixo. “Vamos embora”, ordenou um. “Se ele não tivesse conseguido escapar, teria sido pior”, pensa Jorge. “Conheço quem tenha ficado meses sem se pôr em pé. Eu na semana seguinte já saí de casa. Estava desfigurado, com dores, mas já fazia a minha vida. ” Soma quase duas décadas de activismo LGBT, mas não conhecia aquele grupo. Queria apresentar queixa: “Não quero que a polícia, ao próximo ataque, diga que não conhece a organização. ”São um pequeno grupo com um blogue que não é actualizado há muito e uma página de Facebook na qual vai divulgando as suas actividades. Inspiraram-se na Alemanha. Por lá, os Nacionalistas Autónomos fazem manifestações que lembram os Black Bloc, enquadrados, mascarados, vestidos de preto. Nada de novo: diz o historiador Riccardo Marchi que os skins portugueses “sempre importaram os modelos em moda na Europa”, só que “aqui as coisas sempre foram mais fracas”. Foi assim, por exemplo, com os Blood and Honour, fundados no Reino Unido, e com os Hammerskin, que surgiram nos Estados Unidos.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
O amigo português de Marine Le Pen
Como a tarde está de Sol, deixo-lhe, meu caro João Miguel, um verso de Gertrude Stein: “Uma rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa”. Apesar dos seus textos, “Um racista é um racista é um racista é um racista”. Ou não? (...)

O amigo português de Marine Le Pen
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-08-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: Como a tarde está de Sol, deixo-lhe, meu caro João Miguel, um verso de Gertrude Stein: “Uma rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa”. Apesar dos seus textos, “Um racista é um racista é um racista é um racista”. Ou não?
TEXTO: Estamos em agosto, estou em férias e a minha filhota dorme sestas de três horas. Conjuntura ideal, por isso, para dialogar com (mais) um truculento texto do meu homónimo João Miguel Tavares. O colunista, é sabido, tem o verbo fácil e dispara bem a pistola semiótica. Tiro-lhe o chapéu aos títulos magníficos que tantas leituras lhe devem valer e à desenvoltura com que mistura o diletantismo mundano com o disparate bárbaro. Desta feita, insiste numa das pérolas da “direita liberal” de que é no momento o mais histriónico epígono (o Observador não estará a precisar dos seus serviços?): a redução do mundo à simetria perfeita entre “liberais” (tolerantes) e “iliberais” (intolerantes, onde se mistura, de uma assentada, Marine Le Pen, Boaventura de Sousa Santos e o PCP). É claro que, com esse cliché, faz um servicinho jeitoso à senhora Le Pen: já não é uma fascista, racista ou nazi. Como o próprio diz, com candura, ela não o admite. Pois se é ela quem o diz… É como Trump. Não é racista. Nem machista. Alguma vez ele disse que o era? Sigamos o cherne! Os textos de João Miguel Tavares lavam mais branco. Mete-se lá um racista imundo e sai um nacionalista a cheirar a sabonete. Aliás, Le Pen subscreveria a delicadeza de João Miguel. Não foi ela quem, em 2012, dirigindo-se a um jornalista, se afirmou “extremamente tolerante e hospitaleira”, embora questionando-o, caso ele recebesse um grupo de clandestinos em casa, “se aceitaria que eles mudassem o papel de parede, roubassem a carteira ou brutalizassem a sua esposa”… Ou quando, ainda nas últimas eleições, vituperou: “De cada vez que tipos gritam «Viva Mélenchon [candidato presidencial de esquerda]» são franceses de origem magrebina!”. Não faltam exemplos…Não se trata, pois, de mandar calar a Senhora Le Pen ou de dizer que não tem o direito de se candidatar a eleições livres e justas. A questão é outra: devemos ou não exigir do nosso governo que eventos organizados com dinheiro público promovam os discursos e as práticas de ódio? Nos compromissos editoriais do Público, que nem sequer tem dinheiros públicos, por exemplo, diz-se com clareza que neste jornal não haverá espaço para as opiniões que promovam o racismo, a xenofobia, a homofobia ou a apologia da violência. Na verdade, é um debate sobre a qualidade da esfera pública e sobre o papel da intermediação cultural o que está em causa. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Triste sina a de João Miguel Tavares, passar as suas tardes a desancar no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra como alforge de extrema-esquerda totalitária, uma espécie de guerrilha urbana dos tempos modernos, tal como Marine le Pen afirma que a França se tornou “uma Universidade de jihadistas”. Como a tarde está de Sol, deixo-lhe, meu caro João Miguel, um verso de Gertrude Stein: “Uma rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa”. Apesar dos seus textos, “Um racista é um racista é um racista é um racista”. Ou não?Sociólogo, Professor da Universidade do Porto, militante do Bloco de Esquerda
REFERÊNCIAS:
Partidos PCP
Homem-Aranha renasce para reflectir a nova América: negro e latino
Peter Parker morreu, mas o Homem-Aranha não. A Marvel revela, no número quatro do Ultimate Fallout, que a famosa máscara vermelha esconde agora o rosto de uma nova personagem, um adolescente afro-americano com ascendência latina. Chama-se Miles Morales. (...)

Homem-Aranha renasce para reflectir a nova América: negro e latino
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento -0.01
DATA: 2011-08-03 | Jornal Público
SUMÁRIO: Peter Parker morreu, mas o Homem-Aranha não. A Marvel revela, no número quatro do Ultimate Fallout, que a famosa máscara vermelha esconde agora o rosto de uma nova personagem, um adolescente afro-americano com ascendência latina. Chama-se Miles Morales.
TEXTO: “O que temos é um Homem-Aranha para o século XXI, que reflecte a nossa cultura e a nossa diversidade. Consideramos que os leitores se vão apaixonar por Miles Morales da mesma forma que se apaixonaram por Peter Parker”, antecipa o director da Marvel, Axel Alonso, segundo o USA Today. Miles Morales obteve os poderes de aracnídeo da mesma forma que Peter Parker (na versão Ultimate, lançada em 2000, o jovem jornalista é mordido por uma aranha geneticamente alterada), mas será capaz de habilidades diferentes do seu antecessor. A história terá continuidade. É a morte de Peter Parker, às mãos do Duende Verde, que inspira Miles Morales a tonar-se num super-herói. E são personagens antigas, como Gwen Stacy e Tia May, que o vão ajudar nesse processo. A intervenção inaugural é mínima, numa rixa, mas os desafios vão aumentar. A Marvel vai aproveitar a primeira aparição para contar a história da personagem. A visão do mundo que Miles Morales tem é diferente da de Peter Parker – aliás, “completamente diferente”, assegura o escritor Brian Michael Bendis, em entrevista à Associated Press. E isso tem que ver com as suas raízes africanas e latinas. Essa é, para já, a grande novidade. “É uma decisão conscienciosa. Na Marvel, orgulhámo-nos de reflectir o mundo real em toda a sua diversidade”, frisa Axel Alonso. “Mais cedo ou mais tarde, um herói negro ou homossexual – ou ambos – será considerado algo absolutamente normal”, acrescenta a Sara Pichelli, responsável por desenhar o novo Homem-Aranha. De resto, “o tema é o mesmo: com grande poder vem grande responsabilidade”. “Ele vai aprendê-lo. E depois vai perceber o que isso significa”, adianta Brian Michael Bendis. O primeiro número inteiramente dedicado ao novo super-herói está previsto para Setembro, integrando a colecção Ultimate, que é uma narrativa paralela à da história do Homem-Aranha original, que chegou às bancas em 1962. Notícia corrigida às 14h11
REFERÊNCIAS:
Joana Gorjão Henriques na FLIP em que as mulheres estão em maioria
A jornalista do PÚBLICO, autora do livro Racismo em Português — O Lado Esquecido do Colonialismo , junta-se a Frederico Lourenço, Djaimilia Pereira de Almeida, Pilar del Río e Luaty Beirão na edição que homenageia o escritor Lima Barreto. (...)

Joana Gorjão Henriques na FLIP em que as mulheres estão em maioria
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: A jornalista do PÚBLICO, autora do livro Racismo em Português — O Lado Esquecido do Colonialismo , junta-se a Frederico Lourenço, Djaimilia Pereira de Almeida, Pilar del Río e Luaty Beirão na edição que homenageia o escritor Lima Barreto.
TEXTO: Joselia Aguiar, a nova curadora da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), conseguiu responder a algumas das críticas mais apontadas àquele que é o mais importante festival literário brasileiro. Pela primeira vez, o programa terá um número de autoras mulheres superior ao de homens e a participação de autores negros estende-se a 30% de toda a programação divulgada esta terça-feira em conferência de imprensa. “Além de a programação incluir mais mulheres, muitas mesas estão pensadas a partir do ponto de vista feminino”, disse Joselia Aguiar durante a conferência de imprensa que foi sendo dada a conhecer através da conta oficial de Twitter do festival literário. A curadora espera que “o aumento de autoras e autores negros no programa seja um ponto de virada e que a FLIP possa influenciar não apenas outras programações literárias do país, mas o próprio mercado editorial, ajudando a torná-lo mais diverso”. Nesta edição da FLIP, que tem Lima Barreto (1881-1922) como autor homenageado, a pluralidade de géneros em que este autor brasileiro exerceu o seu ofício — desde a reportagem ao romance, da crónica à memória e ao diário — e as questões que atravessaram a sua obra — como a étnico-racial, a do artista como militante e a da etnografia da cidade estão presentes em toda a programação, em que participam 46 autores (22 homens e 24 mulheres). Joana Gorjão Henriques, jornalista do PÚBLICO e autora do livro Racismo em Português — O Lado Esquecido do Colonialismo (com edição em Portugal da Tinta-da-China, do PÚBLICO e da Fundação Manuel dos Santos), é uma das convidadas da 15. ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty, que se realiza no Brasil de 26 a 30 de Julho. O seu livro, que resultou de uma série de reportagens à qual foi atribuído o prémio AMI – Jornalismo Contra a Indiferença, vai ser editado pela Tinta-da-China Brasil. Será ao lado do actor brasileiro Lázaro Ramos, que ganhou protagonismo no filme Madame Satã, de Karim Aïnouz, onde interpretava a famosa drag queen carioca, e é autor de vários livros de literatura infantil, que a jornalista portuguesa participará na mesa intitulada “A pele que habito”, sexta-feira, 28 de Julho, às 10h. As identidades e as relações raciais nos países da lusofonia são o principal tema da conversa que parte da trajectória artística de Lázaro Ramos, que lançará na FLIP o livro Na Minha Pele, editado pela Objetiva, sobre o seu desejo de viver num mundo em que a pluralidade cultural, racial, étnica e social seja vista como um valor positivo e não como uma ameaça. Não é uma biografia, mas nele aborda a sua carreira como actor negro no Brasil, tendo interpretado personagens em que a questão social e racial está presente como Zumbi dos Palmares (1996) com o Bando de Teatro Olodum, Madame Satã (2002) ou Martin Luther King, na peça O Topo da Montanha, da nova-iorquina Katori Hall, que protagoniza ao lado da actriz Tais Araújo, sua mulher na vida real. A conversa em palco irá cruzar-se com a experiência da jornalista portuguesa e as histórias das cinco reportagens que fez em Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe realizadas em 2015 para ouvir o lado africano sobre as marcas do racismo deixadas pelo colonialismo português e para tentar encontrar respostas à pergunta: “Racismo em português: como foi, como é?”Lázaro Ramos também participará na sessão de abertura do festival literário, “Lima Barreto: triste visionário”, título da biografia que será editada pela historiadora Lilia Schwarcz e que nela trabalhou durante uma década. A académica dará uma aula ilustrada onde o actor lerá excertos da obra do autor de Triste fim de Policarpo Quaresma, num espectáculo dirigido pelo encenador Felipe Hirsch. No dia anterior, quinta-feira, 27 de Julho, será a vez de outro português estar no palco da FLIP, Frederico Lourenço, Prémio Pessoa 2016, a que se junta também o tradutor de latim e grego, Guilherme Gontijo, para falar sobre a tradição greco-latina, os seus mitos, poesia e narrativas, a Bíblia grega, a literatura e a cultura medieval. Também a autora de Esse Cabelo (que será publicado no Brasil pela Leya), Djaimilia Pereira de Almeida, nascida em Luanda, em 1982, mas que vive em Portugal desde a infância onde é investigadora da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, conversará com outras vozes da novíssima literatura em língua portuguesa, Carol Rodrigues e Natalia Borges Polesso, sobre como lidam com a tradição e a renovam. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Pilar del Río, a presidente da Fundação Saramago, estará à frente da Casa Amado e Saramago, que terá uma programação própria paralela ao festival, mas é também uma das convidadas da programação principal. Também o rapper e activista angolano Luaty Beirão, cujo diário de prisão Sou eu então mais Livre, escrito durante o tempo em que esteve detido, em Angola, de Junho de 2015 a Junho de 2016, vai ser publicado pela Tinta-da-China Brasil, estará no palco principal a conversar com Maria Valéria Rezende, escritora que se dedicou à educação popular no sertão durante a ditadura. Haverá ainda um encontro inédito entre o jamaicano Marlon James e o americano Paul Beatty, dois autores negros que venceram, em dois anos consecutivos (2015 e 2016), o Man Booker Prize, bem como a presença do repórter da New Yorker William Finnegan, que cobriu conflitos em África e acaba de vencer o Pulitzer com as suas memórias dos tempos de surfista; da argentina Leila Guerriero, um dos grandes nomes do jornalismo narrativo na América Latina, e do francês Patrick Deville, escritor-viajante que, entre o Camboja e o México, pratica aquilo a que chama “romance de não ficção”, da escritora tutsi Scholastique Mukasonga e do romancista islandês Sjón (parceiro de trabalho de Björk). Por razões de orçamento, o palco da programação principal da Festa Literária Internacional de Paraty deixará de ser na Tenda do Autores, que tinha 750 lugares sentados para quem comprasse bilhete, e passará a realizar-se na Igreja da Matriz, que albergará 450 lugares. Toda a programação decorrerá à volta da Praça da Matriz, requalificada em 2012, e aí também será instalada a Tenda do Telão, onde é possível assistir gratuitamente às mesas que decorrem no palco principal através de um ecrã gigante.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Governador da Tanzânia abre caça aos homossexuais
"Se conhecerem algum homossexual… denunciem-no”, pediu Paul Makonda, governador de Dar es Salaam, a maior cidade da Tanzânia. A homossexualidade está criminalizada naquele país africano, à semelhança de muitos outros no mesmo continente. (...)

Governador da Tanzânia abre caça aos homossexuais
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 21 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: "Se conhecerem algum homossexual… denunciem-no”, pediu Paul Makonda, governador de Dar es Salaam, a maior cidade da Tanzânia. A homossexualidade está criminalizada naquele país africano, à semelhança de muitos outros no mesmo continente.
TEXTO: O governador de Dar es Salam, a maior cidade da Tanzânia, decidu abrir caça aos homossexuais. Paul Makonda anunciou a criação de um comité de vigilância de homossexuais, que deverá entrar em acção já na segunda-feira, e pediu aos tanzanianos que denunciem, através de um número de telefone, as pessoas LBGTQ+ que conhecerem. “Recebi relatos de que há muitos homossexuais na nossa cidade, e que esses homossexuais estão a promover e a vender os seus serviços na internet”, disse o governador num vídeo publicado no Youtube. “Por isso peço a todos os cidadãos de Dar es Salam: se conhecerem algum homossexual… denunciem-no”, continuou, indicando um número de telefone. De acordo com o governador, e desde a data da publicação do vídeo no Youtube, já foram recebidas mais de 18 mil denúncias relativas a cerca de 200 pessoas. Na Tanzânia, a homossexualidade é considerada crime e é punida com pena de 30 anos de cadeia a prisão perpétua. Pessoas consideradas suspeitas são forçadas a submeter-se a exames clínicos de duvidosa validade científica para comprovar a prática de actos homossexuais. A homossexualidade é crime em 32 países africanos. No Sudão e na Mauritânia é punida com pena de morte. Na Tanzânia, a pena varia entre os 30 anos de cadeia e a pena perpétua. O comité reunido pelo governador, composto por agentes da polícia, psicólogos e responsáveis de serviços de telecomunicações, vai ainda vigiar as redes socias em busca de suspeitos de práticas homossexuais. Numa conferência de imprensa realizada esta semana, Makonda deixou ainda uma mensagem às organizações internacionais: que não intervenham, uma vez que a Tanzânia rege-se pelas suas próprias “normas”. De acordo com um activista ouvido sob anonimato pela cadeia de televisão norte-americana NBC News, um clima de medo já se instalou em Dar es Salaam: há homossexuais que “não conseguem dormir desde segunda-feira” devido ao receio de estarem a ser vigiados por pessoas próximas. Makonda já era conhecido por ter adoptado, em 2016, uma série de medidas repressivas das pessoas LBGTQ+ na Tanzânia, como o encerramento de serviços de detecção e tratamento de HIV, a proibição da importação de lubrificantes à base de água (uma importante ferramenta de prevenção da transmissão do HIV), e a ameaça de fecho de organizações de direitos humanos, como refere a Human Rights Watch (HRW). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Este não é um caso único no continente africano. No vizinho Quénia, os "actos homossexuais" podem ser punidos com uma pena até 14 anos de prisão. Pena igual está prevista no código penal do Uganda, onde os suspeitos também são sujeitos a exames clínicos que a HRW considera serem “uma forma de tratamento cruel, inumano e degradante” comparável à tortura. E estes são apenas três dos 32 países africanos onde a homossexualidade é criminalizada. As punições mais severas são aplicadas em algumas províncias da Nigéria e da Somália e na totalidade da Mauritânia e Sudão, onde está prevista a pena de morte. A justificação é quase sempre a mesma: a condenação de “comportamentos não naturais”.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Autarca impede enterro de cidadão cigano no cemitério de uma freguesia de Beja
A advogada da família alega que a decisão é inconstitucional e não tem dúvidas que se está perante “um caso de evidente exclusão social”. O corpo acabou por ser enterrado numa freguesia vizinha. (...)

Autarca impede enterro de cidadão cigano no cemitério de uma freguesia de Beja
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Ciganos Pontuação: 18 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: A advogada da família alega que a decisão é inconstitucional e não tem dúvidas que se está perante “um caso de evidente exclusão social”. O corpo acabou por ser enterrado numa freguesia vizinha.
TEXTO: O presidente da junta de Freguesia de Cabeça Gorda, no concelho de Beja, não autorizou o enterro e velório na casa mortuária de um membro da comunidade cigana da região, alegando que este não era natural nem residia na localidade. O caso revoltou a comunidade cigana de Beja e a família já interpôs uma acção judicial contra o autarca. O Alto Comissariado para as Migrações também foi chamado a intervir. José António Garcia tinha 55 anos, era pastor da Igreja Evangélica de Filadélfia e fazia parte da comunidade cigana residente na freguesia de Cabeça Gorda. Na quinta-feira da semana passada, quando se preparava para realizar o culto que teria lugar às 20h00, na freguesia de Pias, no concelho de Serpa, “deu-lhe uma dor muito forte no peito” e foi transportado para o Centro de Saúde de Moura, onde veio a falecer, contou ao PÚBLICO um membro da família. Enquanto aguardava pela realização da autópsia no Centro de Medicina Legal do hospital de Beja, a família do pastor evangélico solicitou, na sexta-feira seguinte, ao presidente da Junta de Freguesia da Cabeça Gorda, Álvaro Nobre (CDU), autorização para velar o corpo na casa mortuária desta localidade e a sua inumação no cemitério local. “O senhor presidente da junta disse que o corpo não podia ser velado nem enterrado na Cabeça Gorda porque o falecido não tinha cá família nem residência. E acrescentou: ‘Que vá para Pias, que foi onde morreu, ou então para Mértola, a terra onde nasceu’”, contou um familiar. A sua decisão, terá ainda argumentado Álvaro Nobre, era baseada no teor do regulamento do cemitério da freguesia. E o que é que diz o seu articulado? Que o cemitério se destina “à inumação dos restos mortais dos indivíduos falecidos na área da freguesia”. Mas também diz que pode receber pessoas de fora da freguesia no caso dos “indivíduos falecidos fora da circunscrição atribuída ou do próprio concelho que se destinem a jazigos particulares ou sepulturas perpétuas” ou, ainda, “mediante autorização” do presidente da junta de freguesia, “concedida em face de circunstâncias que se reputem ponderosas”. O mediador cigano na Câmara de Beja, Prudêncio Canhoto, que também é pastor da Igreja Evangélica de Filadélfia, garantiu que “o falecido estava casado com uma senhora da Cabeça Gorda e que residia há quase dois anos nesta localidade”. Porém, o autarca desta freguesia manteve-se intransigente e depois passou a estar incontactável para todos, inclusive para Margarida Amador, a advogada a quem a família de António Garcia tinha solicitado apoio para uma acção judicial contra o autarca. “Tentei contactar Álvaro Nobre e nunca me atendeu”, garantiu a jurista ao PÚBLICO, frisando que apenas conseguiu falar, na passada segunda-feira, com uma técnica da junta de freguesia que se limitou a repetir as imposições do regulamento do cemitério, reafirmando que estas “impediam o enterramento de pessoas que não residissem na freguesia”. Margarida Amador disse ter lembrado à funcionária da Junta de Freguesia ser “inconstitucional impedir a deposição do corpo” e que se tratava “de um caso de evidente exclusão social”, considerando “incompreensível” a atitude de um colega (Álvaro Nobre também é advogado) de não atender aos telefonemas que lhe fez. A intransigência do autarca revoltou a comunidade cigana. Prudêncio Canhoto disse ter passado por “um mau bocado” para manter calma quase uma centena de pessoas que se juntou no hospital de Beja, onde foram confrontados com uma situação que “nunca tinha acontecido”. O corpo foi entregue à família cerca das 11h00 de segunda-feira “mas o agente funerário não sabia para onde o podia levar”, contou o mediador. Para evitar uma situação de conflito de imprevisíveis consequências, Prudêncio Canhoto apelou ao presidente da Junta de Freguesia da Salvada, Sérgio Engana (CDU), localidade vizinha de Cabeça Gorda, para que acedesse à deposição dos restos mortais de António Garcia num jazigo que uma família cigana disponibilizou nesse cemitério. O pedido teve acolhimento “de acordo com a lei”, referiu o autarca. Sérgio Engana recorda que o “cidadão falecido era uma pessoa, acessível, prestável e ponderada” e membro de uma família que “tem ramificações em Salvada e na Cabeça Gorda”. E garante que mantém uma “relação de proximidade” com a comunidade cigana com quem não tem tido problemas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Reagindo aos contornos do caso, Pedro Calado, do Alto Comissariado para as Migrações (ACM), disse ao PÚBLICO que acompanhou “este caso desde a primeira hora”, tendo estado activamente envolvido “na mediação com as entidades locais para encontrar uma solução”. Para acautelar a repetição de situações como a que se verificou na freguesia da Cabeça Gorda, Pedro Calado irá ter “em breve” uma reunião com Álvaro Nobre. O PÚBLICO fez várias tentativas para contactar Álvaro Nobre sem o conseguir. Em alternativa falou com Lucília Simão, secretária no executivo da junta de freguesia da Cabeça Gorda, que não quis prestar declarações alegando que, também ela, não conseguiu falar com o autarca. Esta funcionária é a cabeça de lista à presidência da freguesia pela CDU nas próximas eleições autárquicas.
REFERÊNCIAS:
Étnia Cigano
Passos Coelho pede abordagem cautelosa sobre expulsão de ciganos e defende Durão
O presidente do PSD disse ontem, em Bruxelas, que a questão da expulsão de ciganos de França deve ser tratada “com muito cuidado”, evitando a via populista, e defendeu a posição do presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso. Segundo Pedro Passos Coelho, o assunto não deve "ser radicalizado" e não é "um problema de racismo". (...)

Passos Coelho pede abordagem cautelosa sobre expulsão de ciganos e defende Durão
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Ciganos Pontuação: 16 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-09-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: O presidente do PSD disse ontem, em Bruxelas, que a questão da expulsão de ciganos de França deve ser tratada “com muito cuidado”, evitando a via populista, e defendeu a posição do presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso. Segundo Pedro Passos Coelho, o assunto não deve "ser radicalizado" e não é "um problema de racismo".
TEXTO: “Eu creio que este problema, que surgiu em França, deve ser visto com muito cuidado no espaço europeu, porque é uma questão que se presta às reacções mais populistas e mais primárias, que devem ser evitadas”, disse. Afirmando-se convicto de que “não se trata de um problema de racismo” e esperando “que ele nunca seja encarado como tal”, o líder dos sociais-democratas apelou a que não haja “nenhuma precipitação, mesmo na linguagem, transformando um problema, que é um problema real em França, num problema étnico ou num problema de xenofobia ou de racismo”. Passos Coelho falava à saída de uma reunião do Partido Popular Europeu (PPE), preparatória da cimeira de chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE), que se celebra hoje, em Bruxelas, e que deverá ser marcada pela questão dos ciganos, com a França a querer responder às duras críticas tecidas na segunda-feira pela comissária europeia para a Justiça e Direitos Fundamentais, Viviane Reding. Para Passos Coelho, “a Comissão actuou dentro daquilo que é a sua competência”, pois “a Comissão não pode deixar de actuar quando pode estar em causa a livre circulação dentro da UE” e “aqueles cidadãos são cidadãos europeus que têm, portanto, direito a circular livremente dentro do espaço europeu”, pelo que “é natural que a Comissão tenha pedido indicações mais precisas ao governo francês sobre o que se está a passar”. Papel "apaziguador"Questionado sobre se Durão Barroso terá saído fragilizado do conflito entre Bruxelas e Paris – as palavras da comissária Reding, por ocasião do anúncio de um procedimento de infracção contra a França, foram muito mal acolhidas no Eliseu -, o líder do PSD disse acreditar que não, elogiando mesmo o papel apaziguador do presidente da Comissão Europeia. “Julgo até que a posição que o presidente da Comissão tomou mais recentemente, já depois de a senhora comissária se ter pronunciado, é uma posição de precaução, que põe alguma água na fervura e que traz novamente este assunto para onde ele deve ser tratado, quer dizer, sem ser aos gritos na praça pública”, declarou. Considerando que a Comissão pode ter um papel de mediação “útil”, Pedro Passos Coelho defendeu, todavia, que o problema dos ciganos, “que não está localizado apenas em França”, deve ser tratado de preferência “em íntima cooperação com o governo romeno”. “E enquanto puderem existirem avanços e bons resultados bilaterais entre os países onde estes problemas ocorrem e a Roménia, eu julgo que nós estaremos mais próximos de uma solução satisfatória, do que trazendo o assunto para uma escala mais europeia e obtendo uma radicalização que não ajuda à resolução deste problema”, disse.
REFERÊNCIAS:
Funcionários prisionais vão ter formação para prevenir discriminação
Nos temas da formação vão combater-se estereótipos e discriminação racial e encorajar o "diálogo entre culturas e religiões", incluindo a etnia cigana, de que partem 34% das queixas por discriminação racial. Este ano devem ser formadas 280 pessoas. (...)

Funcionários prisionais vão ter formação para prevenir discriminação
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Ciganos Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nos temas da formação vão combater-se estereótipos e discriminação racial e encorajar o "diálogo entre culturas e religiões", incluindo a etnia cigana, de que partem 34% das queixas por discriminação racial. Este ano devem ser formadas 280 pessoas.
TEXTO: Os funcionários dos serviços prisionais vão ter formação para prevenir a discriminação nas cadeias, educando-os para a diversidade de reclusos com religiões, culturas e etnias diferentes. A secretária de Estado para a Igualdade, Rosa Monteiro, disse à agência Lusa, após a assinatura de um protocolo com o Ministério da Justiça, que os detidos "já carregam consigo vários factores de desigualdade que os vulnerabilizam". Nos temas da formação, dada pelo Alto Comissariado para as Migrações, vão combater-se estereótipos e discriminação racial e encorajar o "diálogo entre culturas e religiões", incluindo a etnia cigana, de que partem 34% das queixas por discriminação racial no geral. Rosa Monteiro salientou que os problemas a lidar com a diferença não são específicos das prisões, mas atravessam a sociedade inteira. A secretária de Estado da Justiça, Helena Ribeiro, afirmou que nos serviços prisionais há espaço para permitir "a liberdade religiosa, os cultos, mesmo quando isso implica diferentes dietas alimentares". "Debatemo-nos com grandes dificuldades, não há dúvida, mas somos exemplo mundial em muitas práticas", afirmou a governante, indicando que no caso dos reclusos com doenças como a hepatite ou o HIV, todas as prisões têm um hospital de referência para tratá-los. Na cadeia de Custóias, por exemplo, todos os 70 reclusos diagnosticados com hepatite C estão curados e "em 2020 não haverá, dentro dos estabelecimentos prisionais, ninguém com hepatite", afirmou, indicando que se trata de um investimento que poderá chegar aos 7, 5 milhões de euros. Embora a filosofia dos serviços prisionais seja dar espaço à diferença, "há sempre excepções, há sempre alguém que não tem essa disponibilidade, mas essas pessoas são sinalizadas ou recuperam ou saem do sistema", referiu Helena Ribeiro. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Rosa Monteiro afirmou que o resultado que se espera não pode ser só contado por redução do número de queixas, mas pela "maior capacidade destes profissionais lidarem com o desafio da diversidade". "Quando formamos, sabemos que tem de haver uma mudança de pensamento das representações sociais que se tem sobre o outro, uma transformação social que não se afere por números", declarou. Nas três formações-piloto que já se fizeram em Lisboa, Porto e Coimbra, participaram 56 técnicos de reinserção social que trabalham nas prisões e a meta é que este ano o total de profissionais formados atinja os 280.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave social igualdade discriminação