Polícias de Baltimore que detiveram Freddie Gray acusados de homicídio
Ministério Público da cidade de Baltimore acredita que as lesões sofridas pelo jovem foram infligidas por acção da polícia, no momento da detenção e durante o transporte para a esquadra. (...)

Polícias de Baltimore que detiveram Freddie Gray acusados de homicídio
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ministério Público da cidade de Baltimore acredita que as lesões sofridas pelo jovem foram infligidas por acção da polícia, no momento da detenção e durante o transporte para a esquadra.
TEXTO: Os seis agentes da polícia da cidade norte-americana de Baltimore envolvidos na detenção do jovem negro Freddie Gray foram formalmente acusados de vários crimes, incluindo homicídio simples e homicídio involuntário. A detenção de Gray, no dia 12 de Abril, e a sua morte sete dias mais tarde, no hospital, motivaram várias manifestações pacíficas nas últimas semanas e um violento motim entre segunda e terça-feira, protagonizado por jovens das escolas secundárias da zona Oeste de Baltimore, onde estão localizados os bairros mais pobres da cidade. Foi num desses bairros, conhecido como Sandtown, que Freddie Gray, de 25 anos, foi detido pela polícia, sem que até ao momento tenha sido avançada uma justificação legal para essa detenção. De acordo com testemunhas, e segundo a convicção do Ministério Público, Gray não cometeu nenhuma ilegalidade – terá fugido quando viu um agente e tinha consigo uma navalha que a procuradora da cidade disse ser legal no estado do Maryland. É também convicção do Ministério Público que as lesões graves sofridas por Freddie Gray foram infligidas por acção da polícia, no momento da detenção e durante a meia hora em que o jovem foi transportado para a esquadra – numa conferência de imprensa realizada na tarde desta sexta-feira, a procuradora da cidade, Marilyn Mosby, disse que o jovem foi colocado na carrinha da polícia sem os cuidados necessários, sem cinto de segurança, e sem que lhe tenha sido prestada qualquer assistência apesar das suas queixas. Freddie Gray viria a morrer num hospital da Universidade do Maryland no dia 19 de Abril, depois de ter sido internado com uma fractura na coluna vertebral e com lesões igualmente graves na laringe. O caso é particularmente difícil de analisar porque até ao momento não surgiram vídeos da acção da polícia no momento da detenção – os vídeos captados por telemóvel e partilhados nas redes sociais mostram o jovem a ser levado para a carrinha da polícia, aparentemente sem se conseguir mexer e a gritar por ajuda. De acordo com a procuradora Marilyn Mosby, as lesões de Freddie Gray foram agravadas pela forma como ele foi tratado e transportado na carrinha da polícia, o que justifica o facto de a acusação mais grave ter sido formulada em nome do agente que conduziu o veículo, Caesar Goodson Jr. Este agente, de 45 anos, foi acusado de homicídio simples, homicídio involuntário, ofensas à integridade física e negligência, entre outros crimes. Se vier a ser considerado culpado de todas as acusações, pode ser condenado a um máximo de 63 anos de prisão. A sargento Alicia White, de 30 anos de idade, foi acusada de homicídio involuntário e pode vir a ser condenada a 30 anos de prisão, tal como os agentes William Porter, de 25 anos, e o tenente Brian Rice, de 41 anos. Os agentes Edward Nero, de 29 anos, e Garrett Miller, de 26 anos, foram ambos acusados de ofensas à integridade física e negligência; se forem condenados, podem passar até 20 anos na prisão. A procuradora referiu-se também às reacções mais violentas do início da semana, reconhecendo a sua importância mas apelando à paz: "Eu ouvi os vossos gritos de 'sem justiça, não pode haver paz'. Mas precisamos todos de paz enquanto eu trabalho para fazer justiça em nome deste jovem. "O anúncio de que o Ministério Público vai tentar levar a tribunal os seis agentes (que foram também alvos de mandados de detenção) foi recebido em euforia pelos cidadãos que assistiam à conferência de imprensa, em Baltimore. "Não estava à espera, mas rezei por isto. Este dia significa que as acções têm consequências na cidade de Baltimore", disse Desmond Taylor, de 29 anos, ao jornal The Baltimore Sun. Meecah Tucker, de 23 anos, esperava mais: "Se tivesse sido um de nós a fazer aquilo a um polícia, seríamos acusados de homicídio premeditado. "Depois do anúncio do Ministério Público, um responsável do sindicato da polícia de Baltimore disse à agência Associated Press que os agentes envolvidos na detenção de Freddie Gray agiram com zelo e afastou a ideia de que algum deles seja culpado de qualquer crime. O mesmo sindicato já tinha pedido o afastamento do caso da procuradora Marilyn Mosby – Billy Murphy, o advogado da família de Freddie Gray, doou 5000 dólares para a campanha de Mosby há apenas quatro meses, e o seu marido, Nick Mosby, faz parte do conselho da cidade, em representação do distrito que inclui o bairro onde Freddie Gray foi detido.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime morte homicídio tribunal prisão ajuda negro
Nem todos são Charlie no PEN American Center
Seis das seis dezenas de autores que deveriam ser anfitriões da gala anual retiraram-se. Discordam que o prémio Liberdade de Expressão e Coragem vá para um jornal que se centrava “em provocações racistas e islamófobas”. (...)

Nem todos são Charlie no PEN American Center
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 | Sentimento -0.05
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Seis das seis dezenas de autores que deveriam ser anfitriões da gala anual retiraram-se. Discordam que o prémio Liberdade de Expressão e Coragem vá para um jornal que se centrava “em provocações racistas e islamófobas”.
TEXTO: A decisão foi anunciada em Março e a gala anual da PEN está marcada para 5 de Maio, mas foi agora que a polémica estalou. Seis romancistas decidiram que não serão anfitriões literários da gala, como previsto, porque o prémio de Liberdade de Expressão e Coragem será este ano atribuído ao jornal satírico francês Charlie Hebdo. Uma ausência pode ser apenas isso, mas não é. Os autores discordam fortemente da decisão de atribuir este prémio a uma publicação que consideram promover “uma espécie de visão secular forçada” e uma “cultura de intolerância” (escreveu Rachel Kushner num email enviado à liderança da PEN). “Um crime hediondo foi cometido, mas trata-se de um assunto de liberdade de expressão sobre o qual a PEN America se sinta moralmente superior ao ponto de pregar sermões aos outros?”, pergunta Peter Carey, outro dos que se opõe à decisão, numa troca de emails com o jornal The New York Times. A associação internacional de escritores que trabalha para promover a literatura e a liberdade de expressão tem muitos centros espalhados pelo mundo. A gala anual do PEN American Center é uma enorme iniciativa de angariação de fundos, que acontece durante o World Voices Festival da organização e reúne em Nova Iorque dezenas de escritores de todo o mundo, mais de 800 autores, editores e doadores. O Charlie Hebdo tornou-se, para muitos em várias partes do globo, símbolo da liberdade de expressão e das ameaças que esta enfrenta. Foi a 7 de Janeiro, durante a primeira reunião do ano, quando dois extremistas armados entraram na redacção e dispararam a matar em vingança pelos polémicos e recorrentes cartoons que a publicação dedicava a Maomé. Morreram doze pessoas, incluindo o director, alguns dos mais icónicos cartoonistas de uma geração ou um polícia que correu para tentar travar o atentado. “Todos sabíamos que, de certa forma, esta seria uma escolha controversa”, diz ao New York Times Andrew Solomon, actual presidente da PEN. “Mas não senti que o assunto fosse necessariamente gerar estas preocupações específicas por parte destes em autores em particular. ”Para além da norte-americana Kushner e do australiano Carey, os romancistas Michael Ondaatje (canadiano nascido no Sri Lanka, já galardoado com o mesmo prémio), Francine Prose (norte-americana), Teju Cole (nigeriano-americano) e Taiye Selasi (nigeriana de origem ganesa) anunciaram que não estarão presentes na cerimónia do Museu de História Natural de Manhattan. Num texto para o site da revista New Yorker, pouco depois dos atentados, Cole escreveu que o Charlie Hebdo reclama ofender tudo e todos mas, na verdade, nos últimos anos “se concentrou em provocações racistas e islamófobas)”. Já este mês, o cartoonista norte-americano Garry Trudeau tinha sido criticado por vários comentadores quando afirmou que “o Charlie caminhava entre o discurso de ódio ao atacar uma minoria marginalizada e sem poder com desenhos grosseiros e vulgares”. Aplaudir Charlie“Fiquei muito perturbado assim que soube [do prémio]”, afirma Prose, ex-presidente da PEN America, numa entrevista à Associated Press. Prose explica que defende a “liberdade de discurso sem limites” e que “deplora” os ataques de Janeiro, mas acrescenta que este prémio significa “admiração e respeito” pelo trabalho dos distinguidos. “Não me posso imaginar na audiência quando houver uma ovação de pé pelo Charlie Hebdo”, diz a escritora, uma entre as seis dezenas de pessoas que deveriam ser anfitriãs da cerimónia. Opiniões idênticas foram entretanto manifestadas por membros da PEN que não estão envolvidos na gala. A contista Deborah Eisenberg diz que mal soube do prémio escreveu a Suzanne Nossel, directora executiva do grupo, a criticar a escolha. “O que eu questiono é o que é que a PEN está a tentar transmitir ao premiar um jornal que se tornou famoso tanto pelo terrível assassínio dos seus membros por parte de extremistas muçulmanos como pelas representações que denigrem dos muçulmanos. ”Naturalmente, nem todos os membros da PEN concordam com a posição assumida pelos seis autores que se sabe terem abandonado as funções que teriam na gala. Salman Rushdie, ex-presidente da PEN que viveu anos escondido por causa da fatwa (decreto) emitida no Irão em resposta ao seu livro Os Versículos Satânicos lamenta que os seus amigos de longa data, Carey e Ondaatje, estejam tão “terrivelmente enganados”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime cultura espécie minoria assassínio
Polícia branco matou pelas costas homem negro desarmado nos EUA
Morte provoca novas acusações de racismo contra a polícia norte-americana. Agente só foi detido e acusado depois de surgir um vídeo com o incidente. (...)

Polícia branco matou pelas costas homem negro desarmado nos EUA
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 | Sentimento -0.12
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Morte provoca novas acusações de racismo contra a polícia norte-americana. Agente só foi detido e acusado depois de surgir um vídeo com o incidente.
TEXTO: Um polícia norte-americano branco foi detido e acusado de homicídio nesta terça-feira, por ter disparado oito tiros pelas costas contra um cidadão negro, que estava desarmado e em fuga. No sábado, dia do incidente (e quando ainda não se sabia que o caso tinha sido filmado), o agente Michael Slager alegou que temera pela sua vida, pois Walter Scott, de 50 anos, tentara roubar-lhe a arma de atordoamento (taser). Mas o vídeo que levou a que Slager fosse acusado de homicídio, na terça-feira, mostra que Scott estava em fuga e desarmado quando os oito tiros foram disparados. Walter Scott foi mandado parar por ter um farol partido numa operação stop, no estado da Carolina do Sul, mas pôs-se em fuga a pé – o seu irmão diz que ele fugiu da polícia por não ter pago a pensão de alimentos aos quatro filhos. De acordo com o relatório da polícia, o agente disparou a arma de atordoamento contra Scott, sem conseguir travar a sua fuga. Os dois envolveram-se então num breve confronto, e em seguida Scott volta-se de costas para o agente e começa a fugir. É então que o polícia dispara oito vezes, sem que antes se ouça qualquer ordem para Scott parar. Depois dos disparos, e já com um segundo agente no local, Michael Slager dirige-se para o local do confronto com Walter Scott, apanha do chão um objecto e deixa-o cair perto do corpo da vítima. Não é claro se esse objecto é a arma de atordoamento que Slager afirma que Scott lhe tentara tirar. Para além disso, apesar de o relatório da polícia indicar que foram realizadas manobras de reanimação, o vídeo mostra que Scott continuou algemado no chão durante minutos sem que os agentes tivessem tentado reanimá-lo. O debate sobre o tema da violência policial contra cidadãos negros nos Estados Unidos tem sido recorrente desde a morte de Michael Brown, o jovem abatido a tiro por um polícia em Ferguson. Tal como aconteceu com Michael Brown, também as mortes de Eric Garner, Tamir Rice e Rumain Brisbon geraram ondas de protesto nos EUA e uma discussão sobre racismo e impunidade na polícia norte-americana. Todos estes homens eram negros e estavam desarmados na altura em que foram mortos (Tamir Rice, de apenas 12 anos, tinha uma pistola de ar comprimido). A indignação em torno destes casos agravou-se com o facto de nenhum dos agentes envolvidos ter sido acusado de qualquer crime. Desde então, por intervenção da Casa Branca e do gabinete do procurador-geral dos EUA, foram publicados relatórios em que se comprovou a existência de práticas racistas nas forças de autoridade norte-americanas. Um deles arrasa as práticas da polícia de Ferguson, onde morreu Michael Brown (apesar de não ter encontrado indícios de que o agente agiu de uma forma irregular ou ilegal). A pergunta que se coloca agora no caso de Walter Scott é: teria Michael Slater sido acusado de homicídio, se o vídeo dos disparos não tivesse sido divulgado? "O que aconteceu hoje não acontece sempre", disse Chris Stewart, o advogado da família de Walter Scott, depois de o polícia ter sido acusado e detido. "E se não existisse nenhum vídeo?", deixou no ar o causídico. "Nunca se saberia que isto tinha acontecido. O caso teria sido varrido para debaixo do tapete, tal como fizeram em muitas outras situações", respondeu o pai da vítima, Walter Scott Sr. , numa entrevista ao programa Today, da estação NBC. Naturalmente emocionado, o pai de Scott contou qual foi a sua reacção quando viu o vídeo: "Deixei-me cair e fiquei de coração partido. Da forma como ele disparou aquela arma, parecia que queria abater um veado. Não sei se foi um caso de racismo ou se ele tem algum problema mental", disse Walter Scott Sr. As mortes de Eric Garner e Tamir Rice foram registadas em vídeo, o que não contribuiu para que os polícias fossem acusados, mas acentuou a indignação popular. No início de Março, registou-se também um vídeo dos disparos fatais da polícia contra um sem-abrigo em Los Angeles. Walter Scott, de 50 anos, foi atingido por cinco dos oito tiros disparados por Michael Slater. Três atingiram-no nas costas (um deles no coração), um nas nádegas e outro na orelha. Mas o médico legista não confirmou se a morte foi, ou não, imediata, de acordo com o que é avançado pelo The New York Times.
REFERÊNCIAS:
Jean-Marie Le Pen diz que filha arrisca “fazer explodir” a Frente Nacional
Enquanto as contas do partido estão a ser investigadas pela Justiça, a guerra geracional dos Le Pen ameaça fragmentar o partido de extrema-direita. (...)

Jean-Marie Le Pen diz que filha arrisca “fazer explodir” a Frente Nacional
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Enquanto as contas do partido estão a ser investigadas pela Justiça, a guerra geracional dos Le Pen ameaça fragmentar o partido de extrema-direita.
TEXTO: Ao atacá-lo, diz Jean-Marie Le Pen, a filha e actual líder da Frente Nacional (FN) está a pôr em causa a identidade do partido e a correr “um risco maior” de "fazer explodir" o próprio partido. “Está a submeter-se ao sistema”, disse o fundador da formação de extrema-direita francesa que nas últimas eleições tem atingido resultados à volta dos 26%. Marine Le Pen abriu na quarta-feira uma divisão política sem precedentes com o pai. A actual líder tem-se esforçado para limpar a imagem de anti-semitismo associada ao partido e ao seu pai, que em 1991 foi condenado por “banalização de crimes contra a humanidade” e “consentimento do horror” por ter dito em 1987 que as câmaras de gás nazis eram “apenas um detalhe da História”. Mas nada mudou no seu pensamento, pois já o repetiu várias vezes. A última, a que provocou esta crise na FN, foi numa entrevista à revista de extrema-direita Rivarol, na qual defendeu o marechal Pétain e o regime de Vichy, que capitulou ante a Alemanha nazi. O fundador da FN critica a mudança de imagem levada a cabo pela filha desde que assumiu as rédeas do partido, em 2011. Na entrevista concedida à RTL na manhã desta sexta-feira, Jean-Marie Le Pen deixou claro que, na sua opinião, a imagem tradicional do partido se deve manter. “Uma FN gentil não interessa a ninguém”, afirmou. “Quando [o partido] for outra coisa, não será nada mais", acrescentou o presidente honorário da Frente Nacional. Enquanto Jean-Marie garante que vai “defender-se e provavelmente atacar”, Marine Le Pen fala num “suicídio político” do pai e anunciou que lhe serão impostas medidas disciplinares. Deixou no ar o convite para que este se afastasse voluntariamente do partido. Para 17 de Abril está marcado um encontro do directório da FN que pode determinar o afastamento compulsivo do fundador. Esta guerra entre pai e filha é também a expressão de tensões internas no partido. O poder de Florian Philippot, um politólogo de formação e homem de confiança de Marine Le Pen, incomoda os mais tradicionalistas na FN. Jean-Marie e a sua neta, a deputada Marion Maréchal-Le Pen, colocam-se ao lado desta extrema-direita mais tradicional, que não está interessada no discurso de abertura, mais social, da líder do partido e concebido em colaboração com figuras como Philippot. “Por trás disto tudo está o sr. Philippot, que é uma peça relativamente recente na FN. Ele faz um jogo pessoal”, denunciou Jean-Marie Le Pen. “Muitos colaboradoradores de Marine vêm de meios exteriores à Frente Nacional”, especificou, para considerar que a sua filha se está a “deixar submeter ao sistema”. Enquanto o velho Le Pen, conhecido na FN como “o menir”, denuncia esta espécie de quinta coluna que, afirma, destrói o partido por dentro, o financiamento desta formação política está a ser investigado pela Justiça, e há fortes suspeitas de ilegalidades. As suspeitas concentram-se nas relações entre a empresa Riwal, dirigida por um próximo de Marine Le Pen, e o micropartido Jeanne – um tipo de estrutura que se tem multiplicado em França, pois estas associações reconhecidas pela Comissão Nacional das Contas de Campanha e dos Financiamentos Políticos permitem contornar legalmente a lei sobre o financiamento dos partidos políticos, embora não possam receber apoios directos. Esta semana, duas outras figuras da FN foram incluídas no inquérito: David Rachline, presidente da câmara de Fréjus, e Nicolas Bay, eurodeputado e secretário-geral da FN.
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Palavras-chave guerra filha lei suicídio homem social espécie
Falso alívio
A cada vez que os fascistas se vão aproximando do poder, o alívio é porque eles não ficaram ainda mais próximos. (...)

Falso alívio
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 | Sentimento -0.40
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150501223848/http://www.publico.pt/mundo/noticia/falso-alivio-1690016
SUMÁRIO: A cada vez que os fascistas se vão aproximando do poder, o alívio é porque eles não ficaram ainda mais próximos.
TEXTO: Quando Jean-Marie Le Pen passou à segunda volta das eleições presidenciais, em 2002, o choque na França republicana foi profundo. Centenas de milhares saíram à rua e acabaram votando massivamente em Chirac porque preferiam “um escroque a um fascista”. Passada uma década e pouco, a França fica aliviada, não porque os fascistas ficaram em segundo, mas porque Marine Le Pen não ficou em primeiro. O actual chefe de governo, Manuel Valls, emitiu um comunicado celebrando o facto de que “a Frente Nacional não é o primeiro partido de França”, esquecendo convenientemente que o seu partido, o Socialista, é apenas o terceiro. A cada vez que os fascistas se vão aproximando do poder, o alívio é porque eles não ficaram ainda mais próximos. Mas entre cada momento de alívio, o processo de normalização dos fascistas vai prosseguindo imparável. Há uns anos ainda o pai Le Pen era uma figura grotesca e inapresentável. Hoje a sua filha está nas capas de todas as revistas e os seus émulos em todos os programas de televisão. Por mérito próprio — Marine Le Pen sabe manipular a sociedade e a imprensa como ninguém — mas sobretudo por demérito das outras famílias políticas. Dos socialistas aos verdes, dos comunistas aos radicais de esquerda, ninguém consegue apresentar uma visão alternativa para a França e para a Europa. Hollande, mais do que todos, tem representado o vazio ideológico e de valores. E a política, é sabido, tem horror ao vazio. Tendo a esquerda desperdiçado a única oportunidade que lhe foi dada, neste século, para transformar a política francesa, terá muita sorte se, no futuro, for substituída “apenas” pela direita. A Frente Nacional pode ter falhado ontem no seu objectivo de ser o primeiro partido de França. Marine Le Pen poderá até falhar no seu objectivo de ser eleita, já nas próximas eleições presidenciais, Presidente da República. Mas está a acertar em cheio na outra parte da estratégia, que é a de forçar a uma amálgama entre esquerda e direita no governo da França. Se as eleições “departamentais” de ontem, cuja relevância prática é reduzida, levassem como ela deseja a uma legislativas antecipadas, é certo que a direita de Nicolas Sarkozy ganharia o direito a impor o próximo primeiro-ministro, e que este teria de governar a França em “coabitação” com o Presidente Hollande. A partir daí estaria comprovada na prática a fusão entre UMP (de direita) e o PS francês a que Marine Le Pen chama muitas vezes de “UMPS”. E a política francesa passaria definitivamente a ter dois pólos, o consensual no poder, e o contestatário em ascensão. Este é um quadro que serve aos fascistas. E sim, é de fascistas que se trata. O fascismo não é só a sua caricatura, mas uma doutrina da mobilização nacional que sabe ocultar a sua verdadeira natureza para tirar partido da degradação da política tradicional. E a França sempre teve, de forma subterrânea, um forte solo para as ideias de tipo fascista. Podem então os comentadores encontrar razões para alívio num resultado não tão bom (quanto esperado) da extrema-direita ou não tão mau (quanto esperado) da esquerda. As grandes tendências estão traçadas e ainda não foram invertidas.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS
Apesar dos protestos, a Indonésia vai executar nove estrangeiros
Severidade do país no combate ao tráfico de droga já levou ao corte de relações diplomáticas com Brasil e Holanda. Governo de Jacarta é acusado de dualidade de critérios. (...)

Apesar dos protestos, a Indonésia vai executar nove estrangeiros
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Severidade do país no combate ao tráfico de droga já levou ao corte de relações diplomáticas com Brasil e Holanda. Governo de Jacarta é acusado de dualidade de critérios.
TEXTO: Os apelos e protestos diplomáticos que tentavam impedir a execução de nove cidadãos estrangeiros na Indonésia de nada serviram. As embaixadas de cinco países representados no grupo de nove condenados por tráfico de droga foram convocadas nesta sexta-feira para a ilha onde as execuções serão levadas a cabo. Ainda não há data marcada para as execuções e a lei na Indonésia obriga a um aviso com 72 horas de antecedência antes de ser levada a cabo a pena, mas os responsáveis indonésios dizem que já estão a ser feitos os preparativos e que esperam dar essa notificação já neste sábado. A mensagem partiu do porta-voz do gabinete do procurador-geral da Indonésia, Tony Spontana. Ao New York Times, o responsável indonésio afirmou que “a hora das execuções está a aproximar-se”. As sentenças despertaram protestos em quase todos os países de origem dos condenados. No grupo dos nove estrangeiros condenados à morte por tráfico de droga há três nigerianos, dois cidadãos australianos, um brasileiro, um francês, uma filipina e um cidadão do Gana. Há ainda um décimo condenado, um indonésio cujo último recurso está a ser avaliado em tribunal e é por isso que as restantes nove execuções ainda não avançaram. Um atraso que, diz Tony Spontana, será solucionado “o mais cedo possível para que tenhamos a possibilidade de determinar o Dia-D”. Brasil e Holanda já haviam retirado os seus embaixadores da Indonésia como resposta à execução de cidadãos seus por tráfico de droga na Indonésia. Rodrigo Gular será agora o segundo cidadão brasileiro a ser executado no espaço de quatro meses. A sentença, dizem os seus advogados, ignorou o facto de Gular ter sido diagnosticado com esquizofrenia. A Austrália já ameaçou retirar os diplomatas da Indonésia caso a execução dos seus dois cidadãos vá em frente e a França poderá seguir uma via semelhante. Citado pela AFP, o Presidente francês, François Hollande, disse que a execução do cidadão francês “prejudicará a Indonésia e prejudicará as relações que nós temos com ela”. Guerra às drogasAos apelos contra a execução dos cidadãos estrangeiros juntaram-se as vozes do presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, e da responsável pela política externa da União Europeia, Federica Mogherini. “Reconhecemos que a Indonésia enfrenta um problema crescente de [tráfico de] droga, mas a experiência de outros países mostra que a pena capital não é a resposta”, afirmou nesta sexta-feira Federica Mogherini, citada pela AFP. Desde que foi eleito Presidente da Indonésia, em Julho de 2014, Joko Widodo declarou guerra às drogas no país. Apesar das consequências diplomáticas que já atingiram a Indonésia, Widodo insiste em não dar clemência a qualquer pessoa envolvida em crimes de tráfico de drogas, mesmo que não passem de “mulas de transporte”, como é o caso de Mary Jane Veloso, a cidadã filipa que espera agora o esquadrão de tiro. “Nós não nos vamos comprometer com traficantes de droga” disse Widodo à CNN em Fevereiro, respondendo às ameaças diplomáticas australianas. O Presidente indonésio defende a sua postura de tolerância zero com as consequências do tráfico de drogas no seu país. “Todos os dias temos cinquenta pessoas a morrer por causa de narcóticos”, explicou. A severidade com que Jacarta toma em mãos casos de tráfico de drogas é um duro contraste com a sua política de defesa de cidadãos indonésios no estrangeiro, como explica à rádio australiana ABC Tobias Basuki, do Centro de Estratégia e Estudos Internacionais de Jacarta. Para o investigador, a política da Administração de Widodo “mina a legitimidade moral com que o Governo indonésio apela e luta pelas vidas dos nossos próprios cidadãos”. Para Widodo, contudo, o tráfico de drogas na Indonésia é uma situação de “emergência nacional” e não admite que outros países tentem intervir. “Não interfiram nas execuções, porque é o nosso direito soberano aplicar as nossas leis”, afirmou o Presidente da Indonésia, citado pelo New York Times. Mas isso não impede que o Governo de Joko Widodo se esforce por travar execuções no estrangeiro de cidadãos indonésios. Alguns deles condenados também por tráfico de droga. Numa carta aberta enviada a Joko Widodo em Fevereiro, a Amnistia Internacional protestou contra aquilo que entende ser uma dualidade de critérios de Jacarta, no que toca à avaliação da severidade de crimes de tráfico de droga na Indonésia e no estrangeiro.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte guerra lei tribunal
A América entre as raças
Eu Não Sou o Teu Negro confronta-nos com a ideia do sonho americano — ou de qualquer sonho civilizacional — como uma fantasia predicada sobre a exclusão do outro. (...)

A América entre as raças
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-05-25 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170525170536/http://publico.pt/1773279
SUMÁRIO: Eu Não Sou o Teu Negro confronta-nos com a ideia do sonho americano — ou de qualquer sonho civilizacional — como uma fantasia predicada sobre a exclusão do outro.
TEXTO: Sim, é de raça que se fala no filme que Raoul Peck criou a partir de uma obra inacabada de James Baldwin; mais especificamente, da história desconfortável e não raras vezes perturbante de uma América que nunca soube pacificar a relação entre as raças, e que ainda hoje, todos estes anos depois da morte do escritor, continua dilacerada por isso. Mas o que é, ao mesmo tempo, espantoso e desesperado em Eu Não Sou o Teu Negro é como Baldwin não falava apenas da relação entre as raças mas, de um modo mais lato, da própria relação com o outro, com a diferença, com a alteridade. Porque, como o próprio escritor diz, quer na voz off lida por Samuel L. Jackson quer nos múltiplos extractos de entrevistas e conferências de arquivo que Peck alinha ao serviço das suas palavras com um virtuosismo quase insultuoso, “a história não é o passado, é o presente, transportamo-la connosco, somos a nossa própria história”. Como quem diz que de nada serve olharmos para isto de fora, achar que não é nada connosco, que isto é uma questão “lá deles”. Não é. Eu Não Sou o Teu Negro confronta-nos com a ideia do sonho americano — ou de qualquer sonho civilizacional — como uma fantasia predicada sobre a exclusão do outro, e que a própria máquina de imagens de Hollywood transmitiu para todo o mundo sem forçosamente ter consciência absoluta do que estava a fazer. Mais do que apenas um documentário, o filme de Raoul Peck é um documento do pensamento de um escritor atento como poucos à verdade de um país escondida por entre a sua ficção.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte exclusão negro raça
Franceses choram os mortos e erguem cartazes contra o ódio
Num dia de luto nacional, uma multidão voltou a juntar-se em homenagem aos mortos do ataque ao jornal Charlie Hebdo. Mas entre gritos de união, uma bandeira síria pode incomodar. (...)

Franceses choram os mortos e erguem cartazes contra o ódio
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 | Sentimento -0.1
DATA: 2015-01-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Num dia de luto nacional, uma multidão voltou a juntar-se em homenagem aos mortos do ataque ao jornal Charlie Hebdo. Mas entre gritos de união, uma bandeira síria pode incomodar.
TEXTO: Wendy não é muçulmana nem árabe. Nasceu em Paris, no bairro XI, há 30 anos. Foi na Internet que encontrou a frase “Eu sou Charlie” escrita em árabe com que veio à Praça da República de Paris pelo segundo dia. “Virei todos os dias até que prendam os culpados”, diz, sem conter as lágrimas que lhe escorrem quase em contínuo pela face. Ao seu lado, uma amiga trouxe um cartaz igual, outra escreveu numa folha A4 “Nem medo nem ódio”. A jovem parisiense está aqui porque os 12 mortos do ataque de quarta-feira contra a redacção do Charlie Hebdo eram “vizinhos”, gente “que via todos os dias”, porque nunca pensou que algo assim pudesse acontecer no seu bairro. Mas não só por isso: “É preciso chorar os mortos e combater este ódio que começa a crescer entre os franceses. Eu tenho amigos muçulmanos, eu sei que isto não tem nada a ver com religião, nem com a deles nem com nenhuma. Isto é a Allahshnikov, como dizemos. E o que aconteceu aqui, jornalistas executados, acontece todos os dias em países muçulmanos. ”“Eu ainda nem consigo acreditar”, diz Lucille, de 26 anos, uma das amigas de Wendy, a quarta, que escolheu fazer um cartaz especial. “Vamos punir os culpados. A punição será mais generosidade, mais tolerância, mais democracia. ” Foi o que disse o presidente da câmara de Oslo, Fabian Stang, em 2012, depois de Anders Breivik, que temia a “colonização” da Noruega por muçulmanos, ter assassinado 77 pessoas, na sua maioria jovens. “Gosto muito desta ideia. Acho que é por isso que estamos todos aqui. ”A praça onde na véspera estiveram 35 mil pessoas está transformada numa espécie de santuário. Entre o mar de gente que rodeia a estátua da República há pequenos espaços vazios, círculos onde as pessoas continuam a deixar velas, mensagens, flores, cartoons, palavras soltas. “Joelhos”, lê-se num papel, um tributo simples a Charb, cartoonista e director do jornal satírico, que em 2012, a seguir ao atentado que visou o semanário depois de uma edição em que Maomé foi o “director convidado”, afirmou preferir “morrer de pé do que viver de joelhos”. A própria estátua está coberta de cartazes: “Mortos por serem mais corajosos do que nós”, lê-se num. “Continuaremos a rir, dos idiotas, das religiões, dos caricaturistas”, alguém escreveu noutro. E à medida que a praça se vai enchendo a estátua é tomada por dezenas de pessoas, jovens, algumas crianças, franceses brancos, negros, de origem árabe. Uma miúda sobe o mais alto que pode com uma bandeira francesa na mão. Não há organizadores e eles decidiram subir, dar as mãos, gritar palavras de ordem que às vezes soam quase como um rap. Intercalam frases como “Charlie não está morto”, “Liberdade de expressão”, “Abaixo as armas, os lápis”, “Unidade, liberdade” ou “Não à amálgama” com a Marselhesa, o hino francês. Patricia Goaunt, de 51 anos, prefere gritar “Não à amálgama” do que cantar a Marselhesa. “Da música gosto, mas preferia que a entoássemos sem palavras ou que inventássemos novas”, diz, recusando bradar “às armas”. “Cuidado com as palavras. Podem servir a Marine Le Pen”, grita. É por causa da líder da extrema-direita francesa e do seu discurso islamófobo que aqui se diz “Não à amálgama”, não à confusão entre o crime que a todos chocou e os milhões de franceses muçulmanos. Canetas e bandeirasA professora está com uma colega, Anna, de origem haitiana. Vieram de um subúrbio, do bairro XIII, e prometem voltar no domingo, dia em que está prevista uma grande marcha. “Iremos com muita gente, estamos a mobilizar cristãos, católicos, franceses. ” Como outros, grupos de amigos, pais e filhos, Patrica e Anna trouxeram canetas em vez de cartazes. Ahmed Zenou trouxe uma bandeira síria onde escreveu “Nós com Charlie”. Pareceu-lhe fazer sentido. “É uma recordação da nossa revolução, que fizemos em nome da liberdade. Quero dizer que a revolução síria está com os franceses”, explica o jovem de 29 anos, com a ajuda de Majed, uma amiga nascida em Damasco, como ele, mas que aqui vive há cinco anos e domina a língua. “Ele veio há dois anos, fugiu depois de ter estado preso por se manifestar. ”Marianne, uma empregada de limpeza de 56 anos, aproxima-se dos jovens para lhes agradecer a bandeira. “Por mim, devia haver bandeiras de todas as partes”. Nem todos concordam. Uma senhora que não quis dizer como se chama interpela Ahmed: “Não há quase bandeiras aqui. E se houvesse deviam ser francesas”, diz. “Isto é um país de luto, entendem? Nós respeitamos a bandeira palestiniana, como estimamos a israelita”. Ahmed começa por nem perceber, depois pede desculpa e explica que é sírio, como a sua bandeira. “Não acho bem, percebam, não faz sentido. ”Marianne ainda tenta entrar em diálogo, mas a senhora descontente afasta-se. Ahmed parece melindrado e enrola a bandeira. “Não ligues, ergue-a, vá”, diz-lhe Marianne. “É só agora, enquanto cantam o hino, por respeito”, responde o jovem, antes de voltar a agitar a bandeira da sua revolução.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime ataque ajuda medo espécie morto luto
Cimeira de Março em Madrid para pôr energia nos projectos de interesse europeu
Passos Coelho, Mariano Rajoy e François Hollande discutem novos avanços nas interligações eléctricas indispensáveis para Portugal e Espanha. (...)

Cimeira de Março em Madrid para pôr energia nos projectos de interesse europeu
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Passos Coelho, Mariano Rajoy e François Hollande discutem novos avanços nas interligações eléctricas indispensáveis para Portugal e Espanha.
TEXTO: No intervalo de uma curta estadia em Lisboa, onde reuniu com o seu homólogo Rui Machete, o ministro dos Assuntos Exteriores de Espanha, José Manuel Garcia-Margallo, falou ao PÚBLICO de novos projectos de colaboração para os dois países. A tradicional cimeira está marcada para Junho, em Madrid, mas há temas urgentes para aproveitar os projectos de interesse europeu. Portugal e Espanha conseguiram o acordo francês para as interligações eléctricas da Península Ibérica com a Europa. Que outros passos se seguem?O acordo serve para consolidar o mercado hispano-luso de energia. O que favoreceu este avanço foram as mudanças geopolíticas. A União Europeia (UE) dependia enormemente, alguns países integralmente, do mercado russo, e no momento em que as relações com a Rússia ficaram tensas com o conflito da Ucrânia, há que procurar fontes alternativas de energia, reduzir a dependência e aumentar a nossa capacidade de manobra política. O segundo factor que venceu as resistências francesas foi a necessidade de projectos de desenvolvimento económico para evitar o extremismo no Norte de África. Projectos de gás, de petróleo e de energia renovável, nos quais Portugal e Espanha deviam trabalhar juntos, como o projecto solar mediterrâneo. Portugal e Espanha não estão a trabalhar juntos nesse projecto?Ainda não. Este plano implica a produção de energia solar que entraria na Península Ibérica e depois na Europa. Um segundo grande projecto são as ligações ferroviárias do corredor mediterrânico para dar saída aos produtos do Norte de África e colocá-los com custos e tempo reduzidos na UE. Há uma ligação ao porto de Sines, depois Espanha pelo mediterrâneo, e até Estocolmo. O terceiro projecto é trabalharmos juntos na conclusão do acordo comercial e de investimento com os Estados Unidos, que permitirá desbloquear as negociações com o Mercosul onde há um país, o Brasil, em que Portugal e Espanha têm interesse. Em 4 de Março, em Madrid, reúnem-se Mariano Rajoy, Passos Coelho e François Hollande para falar de questões energéticas. São esperadas decisões?Sim, urge porque estão a ser definidos os projectos de interesse europeu e temos de conseguir que esta ligação energética faça parte. Os gregos queixaram-se da Espanha. Recordo uma frase de Cristobal Montoro (ministro das Finanças espanhol) quando a troika chegou a Portugal, dizendo que “os homens de negro nunca aterrariam em Madrid”. O que mudou?Não mudámos. A política do Governo [do Partido Popular] foi sempre a de fazer o possível para evitar o resgate, evitar que os mercados se fechassem. Isso foi conseguido com a consolidação fiscal e a disciplina das nossas finanças públicas para dar confiança aos mercados, o saneamento do sector bancário e a recuperação da competitividade através de reformas estruturais. Já passaram os tempos da solidariedade com o sul europeu?A nossa solidariedade com o sul é absoluta. Houve que apertar o cinto, criar mecanismos para garantir que os excessos das épocas de exuberância não voltem, porque põem em risco todos os países que têm a mesma moeda. Há que fazer agora uma frente comum para que a UE ponha na agenda o objectivo do crescimento e do emprego. Na frente do sul, com a Grécia, se queremos influenciar temos de ser credíveis e fiáveis. Essa mudança não é ditada por motivos políticos internos. O [partido] Podemos tira-lhe o sono?Podemos preocupa-me muito, porque não é um fenómeno passageiro, mas geral, de movimentos populistas e anti-sistema que não definem alternativa nem explicam para onde levam a mudança. Neste momento, 25% das cadeiras do Parlamento Europeu estão ocupadas por movimentos anti-sistema, de extrema-direita ou de extrema-esquerda, mas que concordam em mudar o quadro de referência. Negam que o modelo europeu se fundamenta na democracia liberal, na economia social de mercado e negam a integração regional como instrumento de defesa na globalização. A Espanha inicia um ciclo eleitoral, com as eleições andaluzas, locais e autonómicas, catalãs e legislativas. É uma prova de fogo para o Governo?É uma prova de fogo para o Governo e para o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE). A transição democrática foi um êxito porque houve dois grandes partidos nacionais que ocuparam a centralidade política, que se alternaram no poder com naturalidade. O acordo nos grandes princípios entre os dois partidos é capital. Teremos provavelmente que repensar a organização territorial de Espanha, a refundação da UE …
REFERÊNCIAS:
Cavaco Silva elogia economia portuguesa e aposta em “agenda do mar”
No primeiro dia da visita à Noruega, o Presidente português propôs uma “parceria estratégica” na investigação sobre os oceanos, na biotecnologia e nas fontes de energia marítimas. (...)

Cavaco Silva elogia economia portuguesa e aposta em “agenda do mar”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: No primeiro dia da visita à Noruega, o Presidente português propôs uma “parceria estratégica” na investigação sobre os oceanos, na biotecnologia e nas fontes de energia marítimas.
TEXTO: Os fãs da série dinamarquesa Borgen notarão a semelhança. A sala onde decorre a conferência de imprensa tem um fundo azul, atrás dos púlpitos. A escala é pequena e a pompa discreta. As cadeiras estão alinhadas, para os jornalistas, em frente de um painel onde está escrito “staatsminister”. O equivalente a “primeira-ministra”, o papel desempenhado nesta realidade por Erna Solberg. As semelhanças acabam aqui. A governante norueguesa tem 54 anos, está casada e lidera o Partido Conservador, enquanto a personagem de ficção Birgitte Nyborg é mais nova, divorciada e movimenta-se no centro político. Cavaco Silva deixou clara a sua agenda, nesta visita de quatro dias à Noruega, propondo uma “parceria estratégica” para beneficiar os dois países e “promover o crescimento económico e o emprego”. Contudo, a relação económica entre os dois países parece ser, à data, desanimadora. Para o Presidente português, “É possível fazer muito mais, e muito melhor”, embora “as relações económicas tenham aumentado significativamente nos anos mais recentes”. Solberg retirou pressão: “A tarefa dos Governos é juntar as pessoas, criar o ambiente, não decidir os investimentos”. A primeira visita oficial de Cavaco Silva à Noruega aconteceu há quase 35 anos. Era, então, ministro das Finanças e do Plano do Governo liderado por Sá Carneiro. Os dois países viviam, há já vários séculos, de uma relação comercial muito concreta: o bacalhau. O problema, em 1980, era a imposição, pelo Governo português, de limites à importação daquele peixe. Em Ålesund, Cavaco lembra-se de ter ouvido uma frase, que agora repete: “Os cidadãos não toleram nenhum Governo que não autorize a importação de bacalhau. ”Hoje, o bacalhau pode ser apenas uma linha, de passagem, nos discursos. Uma graça, quase. Foi assim no primeiro acto oficial desta visita, em Oslo, esta segunda-feira. No Conselho para a Investigação Científica da Noruega, um edifício novo, inaugurado há menos de um ano, o Presidente da República defendeu que “a Noruega e Portugal podem desempenhar um papel de liderança na Europa” no “domínio das ciências do mar”. E exemplificou. Na energia, “incluindo a energia offshore”, pode e deve haver “cooperação” entre os dois países, uma vez que Portugal se prepara para “iniciar um processo de prospecção de combustíveis fósseis” em áreas costeiras. A Noruega, recorde-se, é um dos maiores exportadores de hidrocarbonetos e com as suas receitas alimenta o maior fundo soberano do Mundo. Cavaco Silva deu como exemplos de cooperação “os parques eólicos flutuantes” e as “unidades de produção de macroalgas para biocombustíveis”. De facto, a investigação científica portuguesa e a biotecnologia marinha são os cartões de visita desta visita. Por isso, o Presidente confidenciava aos jornalistas, durante a viagem, que os preparativos se iniciaram “há nove meses”: “Nunca viajei com uma delegação tão importante de cientistas e empresários. Esta é talvez uma das viagens mais importantes que faço. ”A marcá-la fica o memorando de entendimento assinado entre os responsáveis científicos dos dois países, Hárvid Hallén e Arménia Carrondo, da FCT, sobre “cooperação científica e tecnológica relativa aos oceanos”. “A Noruega tem amplos recursos piscívoras e nós temos uma grande variedade de recursos marinhos com uma biodiversidade inigualável na Europa”, garantiu Cavaco Silva. “Unindo esforços”, conclui o Presidente português, “Portugal e Noruega conseguirão alcançar muito mais do que se trabalharem separadamente”. Já sem a solenidade dos discursos oficiais, o palco foi entregue aos cientistas dos dois países, que já têm uma experiência conjunta em mais de 900 projectos de investigação. Durante o dia, além do encontro com Solberg, e de um jantar em sua honra oferecido pela primeira-ministra, Cavaco Silva foi também recebido pelo Rei Harald V e inaugurou uma exposição do arquitecto português Siza Vieira. Durante o brinde, ao jantar, Cavaco voltou a elogiar o desempenho da economia portuguesa, “que se apresenta hoje mais competitiva, sustentável e integrada”. “Portugal corrigiu os desequilíbrios macroeconómicos (…) e a economia iniciou uma trajectória de crescimento e de criação de emprego”, afirmou. Esta terça-feira, a comitiva presidencial viaja para Bergen, facto realçado pela primeira-ministra Erna Solberg: “É o meu círculo eleitoral…”Situação no Mediterrâneo "é uma ameaça séria para a Europa”No encontro que mantiveram na tarde de segunda-feira, em Oslo, Cavaco Silva e a primeira-ministra norueguesa Erna Solberg discutiram a relação da Europa com o Mediterrâneo. Na conferência de imprensa conjunta, na residência oficial da primeira-ministra, o Presidente português considerou que a situação "é uma ameaça”, enquanto Solberg preferiu qualificá-la como uma “tragédia”.
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