Drogba regressa ao Chelsea
Avançado costa-marfinense reencontra José Mourinho no clube londrino. Contrato é de uma temporada. (...)

Drogba regressa ao Chelsea
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DATA: 2014-07-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Avançado costa-marfinense reencontra José Mourinho no clube londrino. Contrato é de uma temporada.
TEXTO: Dois anos depois de ter saído para o futebol chinês, Didier Drogba está de regresso ao Chelsea. O avançado da Costa do Marfim assinou contrato por uma temporada com o clube londrino, onde vai reencontrar o técnico português José Mourinho, algo que considera ter sido decisivo para o regresso à Premier League. "Foi uma decisão fácil. Não podia virar as costas à oportunidade de voltar a trabalhar com o José. Todos sabem que eu tenho uma relação especial com este clube, onde sempre me senti em casa", declarou Drogba ao site do Chelsea, ele que esteve na última época ao serviço dos turcos do Galatasaray. Drogba está assim de volta a um clube que representou durante oito temporadas, de 2004 a 2012, e ao serviço do qual marcou 157 golos em 341 jogos oficiais, uma marca que o coloca em quarto lugar na lista dos melhores goleadores da história do Chelsea. O veterano jogador de 36 anos é o segundo avançado a chegar a Stamford Bridge neste defeso, depois de Diego Costa ter sido contratado ao Atlético de Madrid por 40 milhões de euros. Para Mourinho, este será o reencontro com um dos primeiros jogadores que contratou da primeira vez que esteve no Chelsea. "Ele veio porque é um dos melhores avançados da Europa. Conheço-o muito bem e sei que neste regresso não estará protegido pelo que já fez pelo clube. Ele vem com a mentalidade para fazer mais história", afirmou o treinador português.
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Palavras-chave chinês marfim
China apresenta primeiros trigémeos panda vivos após duas semanas de vida
Taxa de sobrevivência de crias é muito baixa. (...)

China apresenta primeiros trigémeos panda vivos após duas semanas de vida
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DATA: 2014-08-12 | Jornal Público
SUMÁRIO: Taxa de sobrevivência de crias é muito baixa.
TEXTO: O Chimelong Safari Park, na província chinesa de Guangdong, anunciou esta terça-feira o nascimento de trigémeos panda. As crias, nascidas a 29 de Julho, ainda não têm nome e o seu sexo ainda está por anunciar. As crias são filhas de Juxiao, que após o parto se manifestou demasiado cansada para tratar dos filhotes. Os pandas foram colocados em incubadoras enquanto a mãe descansava e depois d e esta se restabelecer ficaram aos seus cuidados com o apoio de uma equipa do parque, que a está a acompanhar 24 horas por dia. A gravidez de uma fêmea é por si só uma grande notícia, já que se trata de um animal que apenas consegue conceber entre dois a três dias por ano. “Foi um milagre para nós e os nascimentos excederam as nossas expectativas”, afirmou o gerente do parque, Dong Guixin, citado pelo The Guardian. Num comunicado, o Chimelong Safari Park descreve os três pandas como “uma nova maravilha no mundo” e sublinha que “são os únicos trigémeos panda que alguma vez sobreviveram”. O parque não deixou de sublinhar, no entanto, que a taxa de mortalidade de pandas bebés é “extremamente elevada”. Mas Dong Guixin insiste que já passaram 15 dias e que as crias já “viveram mais tempo que quaisquer trigémeos até aqui”. É por essa razão que a Reserva Natural Nacional Sichuan Wolong, uma autoridade na China sobre pandas, considera ser demasiado cedo para afirmar que as crias são “sobreviventes”. “Podemos apenas afirmar que são sobreviventes quando atingirem os seis meses. Por agora são de facto os únicos trigémeos vivos”, explicou um responsável da reserva natural. O primeiro caso conhecido de trigémeos panda foi registado em 1999, quando uma fêmea deu à luz após um processo de inseminação artificial em Chengdu, no sul da China. No caso mais recente, as crias foram concebidas naturalmente por Juxiao, de 12 anos, e Linlin, de 17. Segundo a organização Fundo Mundial para a Natureza (WWF, na sigla em inglês), existem perto de 1600 pandas a viver fora de parques e reservas na China.
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Palavras-chave sexo animal
Pterossauro do Brasil tinha crista que parecia a vela de um barco
Esqueletos de meia centena de répteis extintos, pertencentes a uma espécie nova para a ciência, foram descobertos no estado brasileiro do Paraná. (...)

Pterossauro do Brasil tinha crista que parecia a vela de um barco
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DATA: 2014-08-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Esqueletos de meia centena de répteis extintos, pertencentes a uma espécie nova para a ciência, foram descobertos no estado brasileiro do Paraná.
TEXTO: Um réptil voador antigo, cuja cabeça estava coroada com uma grande crista óssea com a forma de uma vela de um iate, fazia voos rasantes pelos céus do Brasil há cerca de 90 milhões de anos. Cientistas brasileiros anunciaram a descoberta extraordinária, no Sul do Brasil, de cerca de 50 esqueletos fossilizados de uma criatura a que chamaram Caiuajara dobruskii e que identificaram como uma espécie nova de pterossauro, répteis do tempo dos dinossauros. Os novos pterossauros, que podiam atingir uma envergadura de asas de até 2, 35 metros, habitavam nas margens de um lago existente num oásis numa grande região deserta durante o período do Cretácico. Viviam em colónias barulhentas com outros animais da mesma espécie, de todas as idades. “Isto permitiu dar-nos um vislumbre da variação anatómica desta espécie, desde os jovens até aos velhos”, sublinha Alexander Kellner, paleontólogo do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro e um dos autores da descoberta. Muitos pterossauros, principalmente os que apareceram tardiamente, exibiam na cabeça cristas elaboradas e, por vezes, grandes. Ora a cabeça do Caiuajara dobruskii estava encimada por uma enorme crista triangular que parecia uma “vela óssea”, conta Alexander Kellner. “Tinha um aspecto bizarro. ”Não há nenhuma indicação de que a crista existisse apenas nos machos ou nas fêmeas, mas parece ter-se tornado ainda maior em relação ao resto do corpo à medida que o pterossauro crescia. “O tamanho da crista era pequena nos animais jovens e muito grande nos velhos”, acrescenta o paleontólogo brasileiro. Os pterossauros foram os primeiros vertebrados voadores da Terra, uma vez que as aves e os morcegos só apareceram muito mais tarde. Surgiram há cerca de 220 milhões, na mesma altura dos dinossauros, e despareceram há 65 milhões de anos, quando um meteorito atingiu a Terra e extinguiu muitas formas de vida, incluindo também os dinossauros. Num artigo científico publicado esta semana na revista PLOS ONE, assinado à cabeça por Paulo Manzig, da Universidade do Contestado, no estado de Santa Catarina, a equipa brasileira descreveu 47 esqueletos do Caiuajara dobruskii e disse que identificou outros dez esqueletos que não foram descritos neste trabalho. Os ossos foram encontrados nas redondezas do município do Cruzeiro do Oeste, no estado do Paraná. O Caiuajara dobruskii, que viveu há cerca de 80 a 90 milhões de anos, não tinha dentes, alimentando-se provavelmente de frutas, explica Alexander Kellner. Os esqueletos dos juvenis indicam que estes animais podiam voar desde muito novos. O conhecimento dos pterossauros é bastante fragmentado, uma vez que, sendo animais voadores, os seus ossos frágeis não fossilizavam bem. O número elevado de indivíduos de Caiuajara dobruskii agora descobertos no Brasil e a variedade de idades permitiram que este pterossauro seja o mais bem estudado até ao momento. Em Junho, cientistas chineses tinham anunciado a descoberta de nada menos do que 40 indivíduos adultos de outra espécie de pterossauro também acabada de identificar, bem como de cinco ovos de pterossauro – o que é realmente muito raro – maravilhosamente preservados a três dimensões, e não espalmados como os quatro ovos isolados de pterossauros que até então se conheciam em todo o mundo. No Cruzeiro do Oeste não se encontraram ovos de pterossauro. “Ainda não. Mas podemos sempre sonhar, não é?”, diz Alexander Kellner.
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Palavras-chave espécie corpo aves
Portugal-Camarões: um teste a sério para conquistar os pessimistas
Portugal tenta igualar recorde de oito encontros sem sofrer golos. Queiroz prometeu "aventuras" no jogo de hoje com os Camarões. (...)

Portugal-Camarões: um teste a sério para conquistar os pessimistas
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DATA: 2010-06-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Portugal tenta igualar recorde de oito encontros sem sofrer golos. Queiroz prometeu "aventuras" no jogo de hoje com os Camarões.
TEXTO: Um bom resultado, uma boa exibição e, acima de tudo, que nenhum jogador se lesione. É isto que Carlos Queiroz deseja para o jogo de hoje (19h30) frente aos Camarões, o teste mais a sério de Portugal antes do começo do Mundial e que marca o fim do estágio na Covilhã. O seleccionador promete fazer algumas experiências, porque o "produto final" será apresentado no dia 15, frente à Costa do Marfim, e não hoje ou no dia 8, contra Moçambique. "O jogo de amanhã [hoje] serve para criar algumas aventuras, ver e experimentar. Temos de observar certas opções antes de começar a competição", disse, ontem, Queiroz, sem especificar que alterações serão essas. O jogo com os Camarões, no entanto, será importante para reactivar a ligação com os adeptos, depois do nulo frente a Cabo Verde. E será também um teste à defesa (que se tem destacado pela positiva) e ao ataque (que tem sido pouco produtivo). DefesaEduardo é o titular da selecção portuguesa. Não se sabe se Queiroz vai hoje dar oportunidade a Beto ou Daniel Fernandes, mas é provável que não o faça, se tiver em conta que o guarda-redes do Sporting de Braga está perto de igualar um recorde. A selecção não sofre golos há sete jogos e pode igualar a série de oito encontros da equipa de Humberto Coelho entre 1998 e 1999. Vítor Baía (668 minutos), Pedro Espinha (58") e Quim (45") ficaram 771 minutos sem sofrer golos - entre o minuto 90 do Portugal-Roménia (0-1) e o minuto 50 Azerbaijão-Portugal (1-1). Na série actual, a selecção soma 677 minutos sem sofrer golos, desde que Bentdner marcou a Eduardo no Dinamarca-Portugal (1-1), em Setembro do ano passado. Desde então o guarda-redes do Sp. Braga ficou 632 minutos sem sofrer golos nos encontros com a Hungria (duas vezes), Malta, Bósnia (duas vezes), China e Cabo Verde, ao que se juntam 45 minutos de Hilário, na segunda parte frente aos chineses. Ou seja, se Portugal não sofrer golos ante os Camarões, igualará a melhor série de jogos e ficará a cinco minutos de ultrapassar o melhor registo de minutos com as redes invioláveis. A segurança defensiva, ainda que vá no Mundial ser posta à prova por equipas bem mais poderosas, tem sido uma das imagens de marca da equipa de Queiroz. Com Pepe destinado ao meio-campo (quando estiver recuperado), Ricardo Carvalho e Bruno Alves estão garantidos como defesas-centrais. Paulo Ferreira parte em vantagem à direita, embora Miguel possa hoje ter uma oportunidade. À esquerda, residirá a principal dúvida. Coentrão, em boa forma, destacou-se frente a Cabo Verde mas contra os Camarões deverá ser a vez de Duda mostrar serviço. Meio-campoPepe e Tiago, por razões físicas, não entram hoje em campo, pelo que este é o sector em que Queiroz tem mais "baixas". Ainda assim, Pedro Mendes, Veloso e Meireles podem ser utilizados como "trincos", sendo os dois últimos também candidatos ao posto de médio-interior. Meireles foi o mais utilizado na fase de qualificação e partirá em vantagem. Deco é o titular na posição dez, embora hoje possa haver oportunidade de Danny ou Simão serem testados como alternativa ao luso-brasileiro, isto se o técnico mantiver o habitual 4x3x3. AtaqueA responsabilidade pode não ser apenas dos avançados, mas eles têm sido a face mais visível da menor produção ofensiva. A equipa marcou apenas 19 golos em 12 jogos de qualificação. A média foi de 1, 6 golos por jogo, subindo ligeiramente se somarmos os jogos particulares (1, 7). Ainda assim, Queiroz fica aquém dos últimos três seleccionadores: Scolari (1, 95), António Oliveira (2, 32) e Humberto Coelho (2, 33). Cristiano Ronaldo é, talvez, o rosto desta relação menos conseguida com a baliza. O jogador do Real não marca pela selecção desde Fevereiro do ano passado, quando concretizou um penálti frente à Finlândia. Hoje, se jogar, Ronaldo pode dar início à promessa de fazer golos. Liedson, que tem dois apontados em oito jogos, e Hugo Almeida, com sete remates certeiros em 25 internacionalizações, também ainda não atingiram a velocidade de cruzeiro.
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O Português quer estar nos liceus estrangeiros ao lado do Inglês e Francês
Era vista como uma língua de especialistas, mas agora há um novo objectivo: tratar o Português como valor acrescentado no mercado global de trabalho. (...)

O Português quer estar nos liceus estrangeiros ao lado do Inglês e Francês
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DATA: 2010-06-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Era vista como uma língua de especialistas, mas agora há um novo objectivo: tratar o Português como valor acrescentado no mercado global de trabalho.
TEXTO: A mudança, estratégica, tem a ver com a ideia de que o Português é a sexta língua mais falada do mundo e que, por isso, os outros países entenderão a vantagem de a oferecer integrada nos seus sistemas de ensino. Conseguir que um aluno do secundário em Espanha, França, Alemanha ou outro país escolha o Português como língua de opção nos seus estudos, é, neste momento, um dos grandes objectivos do Instituto Camões (IC). "[Até agora] tínhamos uma política de apoio às comunidades [portuguesas] que direccionava muito o ensino para as questões da identidade", explica Ana Paula Laborinho, presidente do IC desde Janeiro. A mudança, profunda, foi iniciada ainda com a anterior presidente, Simonetta Luz Afonso. Implicou uma nova lei orgânica (desde 1 de Janeiro) que transferiu para o IC (até aqui muito centrado no ensino superior através de uma rede de leitorados e centros de língua) competências ligadas ao ensino básico e secundário que eram do Ministério da Educação. Novas responsabilidades acompanhadas de mais dinheiro: um orçamento de cerca de 45 milhões de euros, ou seja, mais 30 milhões do que em 2009. É uma opção que "parte da percepção de que o Português é uma grande língua de comunicação global e portanto tem um papel estratégico em termos internacionais", afirma Laborinho. E depois do Inglês?É um processo lento, diplomático (envolve os embaixadores e a rede do Ministério dos Negócios Estrangeiros) e ainda a começar. Mas posiciona-nos na luta pelo lugar de segunda ou terceira língua de estudo nos países estrangeiros, uma luta central nos próximos tempos. A tese é de David Graddol, autor de dois relatórios sobre o futuro da língua inglesa para o British Council: é incentivando o seu ensino como língua estrangeira que os governos podem ter um papel mais relevante no crescimento da respectiva língua. O Inglês é introduzido cada vez mais cedo no ensino e já quase não é visto como uma língua, mas como uma competência básica, ao nível, por exemplo, da Matemática - já não é uma mais-valia falar Inglês porque toda a gente fala, a mais-valia passa a ser falar Espanhol ou Português, Árabe ou Chinês. As outras línguas têm, assim, neste momento, uma oportunidade para se impor. E para que o consigam é importante, diz Graddol, a oferta de um "pacote" de certificados e exames aceites internacionalmente no mercado de trabalho. Um exemplo concreto de como o Português pode ser visto como uma boa aposta: há cada vez mais empresas chinesas a investirem em Angola, e isso tem levado a um crescimento do interesse pelo estudo do português. A melhor forma de responder a este tipo de interesse é, defendem Rui Machete e António Luís Vicente, da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), a criação de centros culturais de porta aberta que, à semelhança do que fazem institutos como o Cervantes, o British Council ou a Alliance Francaise, ofereçam cursos a qualquer pessoa interessada, independentemente de frequentar ou não a universidade. Ou seja, uma estratégia diferente daquela em que Portugal tem apostado. A hipótese não está no horizonte do IC. Há, no entanto, uma aproximação a esse modelo, explica Ana Paula Laborinho. "Estamos a usar os nossos centros de língua nas universidades [em vários pontos do mundo] para incluir a oferta de Português para quem não frequenta a universidade mas está interessado na língua. E também os cursos para fins profissionais, Português para médicos, para juristas, para negócios. Uma das minhas apostas é alargar esta oferta extracurricular". Nada disto significa, contudo, um desinvestimento nas comunidades portuguesas. "Não vamos acabar com os cursos de língua materna, o que vamos é qualificar essa rede com a adopção de políticas adequadas. Vamos estudar a situação escola a escola". Dispersão é "desastrosa"Fala-se muito nos "mais de 200 milhões de falantes" de Português, mas para uma política da língua eficaz ainda há muito a fazer, defende Carlos Reis, reitor da Universidade Aberta e autor de um estudo de 2008 encomendado pelo Governo sobre estratégias para a promoção da língua e cultura. "Falta reconhecer que o tema da política da língua não pode ser uma moda sazonal para adornar cimeiras. Falta entender que a dispersão de esforços é desastrosa em termos de bom aproveitamento dos recursos humanos e financeiros", diz este especialista. Que lança perguntas: "Quantos ministérios intervêm na política da língua?" O IC é tutelado pelo MNE, mas o Acordo Ortográfico tem sido um processo liderado pela Cultura, em coordenação com a Educação. "A quem cabe a coordenação de esforços e vontades? Falta apostar a sério na formação de professores de Português como língua estrangeira. Falta aprofundar a noção de que uma política da língua não se esgota no ensino da língua. " E falta ainda, segundo Reis, "dotar o Instituto Camões de meios humanos e financeiros que lhe permitam ser, de facto, uma grande instituição, concebendo e articulando uma política da língua de modo a que se possa ir além da gestão corrente do ensino do português no estrangeiro". Há o exemplo do Cervantes espanhol, e, embora reconheça que este investimento "talvez pareça desmesurado em tempos de crise", Reis lembra o estudo O Valor Económico da Língua, de 2008, que diz que a língua tem um valor económico equivalente a cerca de 17 por cento do PIB. Carlos Reis lamenta, nomeadamente, as "paragens e omissões" na aplicação do Acordo Ortográfico, que "mostram bem que a abordagem da política da língua sofre de falta de energia", embora exclua da crítica o Ministério da Cultura. Precisamente, esta semana a ministra da Cultura Gabriela Canavilhas apresentou o Lince, um conversor para a nova ortografia encomendado pelo Governo, pago pelo Fundo da Língua Portuguesa (criado em 2008) e elaborado pelo Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC). Em declarações ao PÚBLICO, Canavilhas disse que está a avançar o processo para a criação de uma Academia das Letras, que não existe em Portugal.
REFERÊNCIAS:
Entidades MNE
Crise: a vida deles era topo de gama e agora cada euro conta
Ganhavam acima da média, tinham património e hábitos dispendiosos. A crise obrigou-os a abdicar de uma vida confortável. Têm vergonha do presente, medo do futuro e saudades do passado com dinheiro. (...)

Crise: a vida deles era topo de gama e agora cada euro conta
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2010-07-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ganhavam acima da média, tinham património e hábitos dispendiosos. A crise obrigou-os a abdicar de uma vida confortável. Têm vergonha do presente, medo do futuro e saudades do passado com dinheiro.
TEXTO: Carlos Figueiredo construía casas e vendia-as. Depois, deixou de as conseguir vender. Agora, deve cinco milhões de euros. Tirou os filhos do colégio privado e desfez-se da vivenda onde moravam há mais de 13 anos. José António Soares geria uma multinacional em Portugal. A crise levou-lhe o emprego e as poupanças, investidas no falido BPP. Filipa Guimarães era grande repórter de televisão. Ficou sem palco. Aos 39 anos, voltou a viver da mesada dos pais. José Morgado Henriques é sócio de uma empresa que já foi ícone, mas teve de declarar insolvência. É no armazém da centenária Papelaria Fernandes que hoje tenta, euro a euro, sair de uma crise que não poupou as classes mais altas. São histórias de um país que enfrenta um período de grande fragilidade económica. Um país onde uns são mais afectados do que outros, mas todos temem. Temem palavras como "desemprego", "cortes salariais", "impostos", "endividamento", "austeridade". Mais protegidas pelo património, mas também mais expostas pelos investimentos e dívidas elevados, as pessoas com rendimentos acima da média viram-se obrigadas a descer à terra e a abdicar de um modo de vida herdado ou conquistado. A recessão faz-se sentir nos seus bolsos, mas também deixa marcas profundas na vida familiar, nos sonhos e na forma como se olham, todos os dias, ao espelho. O reflexo de José António Soares diz-lhe que a vida mudou. Mudou de uma forma "monstruosa". Hoje, aos 67 anos, é um homem que reprova o consumismo sem regra. "É uma doença, uma droga como outra qualquer", diz. Mas nem sempre foi assim. Até há oito anos, este homem conduzia carros topo de gama, vivia numa quinta com a mulher e gastava milhares de euros por ano a jogar golfe e em bens culturais. Tinha rendimentos mensais de 8000 euros, excluindo outras regalias, como os prémios de gestão e o automóvel de serviço. Era director-geral de uma multinacional de origem sueca, que ajudou a instalar em território nacional. Em 2002, o grupo IFS tomou uma decisão radical. Era preciso reduzir custos e uniformizar a operação a nível ibérico. De um dia para o outro, Portugal deixou de fazer parte dos planos e o gestor ficou sem emprego. Recorda-se de ter sentido "um choque". Na altura, começava a notar-se, ainda ao de leve, a fuga de multinacionais do país, mas "o negócio corria bem. Não se tratou de falta de clientes", assegura. A crise tem vindo a despertar mais casos de empresas internacionais que trocam o mercado nacional por terrenos mais competitivos ou que simplesmente dão por terminada a actividade. No caso de José António, o encerramento da empresa foi apenas o princípio do fim da vida que levava. Saiu em conflito com a administração e, depois de um processo que se arrastou anos a fio nos tribunais, o salário ao fim do mês não foi o único conforto que perdeu. "Não recebi um cêntimo de indemnização, apesar de ter movido um processo contra a empresa por despedimento ilícito", conta. Como estava a chegar aos 60, decidiu-se pela reforma antecipada. Ganharia menos, é certo, mas teria tempo. "Tempo para apreciar a vida em família, cultura, viagens. Tempo para mim", imaginou. A pensão que recebe, desde então, é muito inferior à remuneração de director-geral. De 8000 passou para 2000 euros mensais. Muito acima da média nacional, mas muito abaixo daquilo a que estava habituado. "Sei que, se olhar em volta, não me posso queixar, mas é tudo uma questão de perspectiva", diz. A redução de orçamento obrigou-o a tomar medidas drásticas. Tornou-se insustentável pagar a prestação do crédito à habitação da quinta onde morava com a mulher. Por isso, decidiu desfazer-se da casa e mudou para um apartamento arrendado, onde também vive a sua mãe. A mais-valia realizada com a venda do imóvel, 80 mil euros, serviria como garantia de uma vida desafogada, "caso fosse novamente apanhado na curva", pensou. Os conselhos de um sobrinho, que trabalhava no Banco Privado Português (BPP), levaram-no a depositar todas as poupanças na instituição financeira. "O resto da história já se sabe. Perdi o dinheiro todo porque foram à falência. Ainda estou a lutar para ter de volta aquilo que é meu", lamenta. História de azaresOs últimos anos de vida de José António dariam para contar uma "história de azares", como o próprio a descreve. Mas o azar, e a sorte, nunca caminham sozinhos. Também neste caso as circunstâncias que contam a história deste reformado fazem parte de uma circunstância maior. Foi a crise nas contas da multinacional sueca, afectadas por uma crise na indústria, que ditou o encerramento da operação em Portugal. E foi a crise no BPP, provocada pela crise financeira e pela impossibilidade de pagar os investimentos de retorno absoluto, que fez desaparecer as suas poupanças. A crise tem destas coisas. Ninguém escapa. Dos mais pobres aos mais ricos. Todos sentem, no trabalho e em casa, os seus impactos. As pessoas com rendimentos mais elevados "têm naturalmente mais protecção e segurança", afirma João César das Neves. No entanto, o economista e professor universitário explica que isso não as ampara por completo, pois foi na classe alta que a recessão "bateu com mais força, porque uma crise financeira afecta quem mais investimentos e dívidas tem". Mudar de estrato social é, por isso, "um efeito inevitável", assegura César das Neves. Esta mudança tem vários efeitos práticos, cada vez mais visíveis a olho nu. Recentemente, o presidente da Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade (CNIS) revelou que têm chegado às escolas públicas cada vez mais pedidos de transferência de crianças que estudavam em colégios privados. O Sindicato dos Trabalhadores de Serviços de Limpeza (STAD) alertou para o facto de as empregadas domésticas estarem a ser dispensadas por causa do desequilíbrio no orçamento das famílias. Foi anunciado que as receitas obtidas pela indústria do golfe caíram 17 por cento em 2009. Um estudo da consultora Gfk concluiu que dois terços dos portugueses vão ficar em casa durante as férias. E ficou-se a saber que os portugueses devem mais de 200 milhões de euros de condomínio, de acordo com a associação do sector. São apenas alguns dados dispersos, de entre muitos outros, que confirmam que o que antes era tido como conforto adquirido é agora visto como um luxo por causa da recessão. De empresário a perseguidoCarlos Figueiredo (nome fictício) conhece bem esta realidade. Depois de ter erguido um império na construção civil, viu-o desabar, como se de um castelo de cartas se tratasse, em apenas dois anos. Tinha imóveis espalhados um pouco por todo o país e "vendia-os com lucro", até que o mercado imobiliário entrou em colapso, por causa dos preços inflacionados, da diminuição do poder de compra e das dificuldades de acesso ao crédito bancário. "Nunca pensei que isto acontecesse, tanto que, tudo o que ganhava, investia. Não tinha grandes poupanças", conta. Foi em 2008 que começou a perceber que o negócio não sobreviveria. As dívidas à banca começaram a acumular-se e os imóveis continuavam à espera de compradores, de quaisquer compradores, aos quais chegou a oferecer descontos de 30 por cento. De empresário de sucesso passou a "perseguido por cobradores". De homem rico a homem endividado, com créditos de cinco milhões de euros. No início do ano passado, disse basta. "Todos os dias tinha pessoas a pedirem-me dinheiro à porta de casa, os telefones não paravam de tocar, deixavam-me bilhetes, recados aos vizinhos", recorda. Pediu a insolvência das três empresas de construção que detinha e enquanto pessoa singular está, actualmente, a pagar as dívidas faseadamente. Até a crise lhe bater à porta, retirava rendimentos de 5000 a 6000 euros mensais com a actividade. Hoje, o rendimento do agregado familiar (que inclui o salário da mulher) não ultrapassa os 1300 euros. E a este montante, que tem de ser comunicado ao juiz que está a acompanhar o processo de insolvência, é depois subtraída uma percentagem para pagar aos credores. Assim será durante cinco anos - o período estipulado para o plano de pagamentos. "É difícil, mas é a única forma de os ressarcir, porque todos os imóveis que tinha já passaram para os bancos. Pelo menos, vivo mais descansado. Não tenho de andar a trocar de número de telefone para fugir às ameaças dos cobradores", conclui. Endividamento psicológicoCarlos, de 55 anos, diz que hoje vive "com as unhas cortadas, com a pele esticada". A família, que é composta por quatro filhos, teve de se mudar da vivenda onde moravam há 13 anos e arrendar um apartamento mais pequeno. As crianças saíram do colégio privado e, agora, estudam numa escola pública. Deixaram de ter dois carros, um Mercedes e um Toyota, e agora andam de Fiat. Há muitas inibições nas compras de supermercado e no lazer. E as férias são apenas lembranças do passado. "Isto mexe muito com a família", avisa o antigo empresário. Mexe com a família e com ele, que admite ter pensado em suicidar-se. Está a ser acompanhado por médicos para combater o estado depressivo a que chegou. Apesar de todos os meses ter de entregar os frutos do seu trabalho a terceiros, foi na insolvência que encontrou a saída possível. Uma pesquisa na Internet levou-o ao site www. endividamento. pt, um dos muitos que têm surgido nos últimos tempos e que prestam apoio a pessoas que estão mergulhadas em dívidas. Mais um fenómeno dos tempos. Foi nesta plataforma, gerida pela Associação Portuguesa para a Observação, Investigação e Apoio na Reeducação em Matéria de Endividamento (APOIARE), que encontrou as respostas que procurava. Contactou-os e foi encaminhado para um advogado especialista em insolvências. Sónia Varela, presidente da associação, nota que "há cada vez mais pessoas de classes mais altas envolvidas nestes problemas" e que os pedidos de ajuda de pessoas com rendimentos mais elevados "têm aumentado". A responsável explica que isto acontece porque "têm mais dificuldade em pedir ajuda a tempo, por vergonha" e porque "não querem abdicar do nível de vida a que estão habituados". Às vezes, sofrem de "endividamento psicológico", que deriva da pressão da envolvente social, "obrigando estas pessoas a manter as aparências para não serem excluídas". Quando dão o primeiro passo e percebem que não vão conseguir ultrapassar a instabilidade financeira sem um apoio mais especializado, a APOIARE tenta "perceber que soluções há para cada caso". A insolvência é apenas uma delas. Pode conseguir-se um acordo prévio com os credores, sem ter de chegar a tribunal. Recomeçar a vidaLuís M. Martins é advogado e lida diariamente com casos de endividamento. "São pessoas que andam a alimentar dívidas durante anos. Agora está pior porque não conseguem ir buscar mais dinheiro aos bancos. Há pessoas que devem 30 milhões de euros", explica. Na página que criou na Internet, publica artigos sobre o tema, dando conselhos a quem procura sair "de situações que muitas vezes nem sabe como criou". No fórum, caem comentários, pedidos de ajuda de portugueses que têm os bens penhorados, cobradores à porta e famílias despedaçadas. O advogado recebe-os no escritório e apresenta-lhes caminhos. A insolvência é uma prática comum no mundo das empresas, quando chegam a um ponto em que não conseguem pagar às instituições financeiras, aos fornecedores ou aos trabalhadores. Porém, ainda "há um grande desconhecimento por parte das pessoas singulares" quanto à possibilidade de se declararem insolventes. É a oportunidade de "não viverem à margem, a fugir às dívidas, a esconder o património", afirma Luís M. Martins. Uma vez declarada a insolvência de uma pessoa singular, é definido um plano de pagamentos pelo tribunal, em função dos seus bens e rendimentos. "Paga-se durante cinco anos o que se puder pagar, e depois recomeça-se a vida", acrescenta o advogado, que acredita que, regra geral, os endividados "não têm recaídas". Aprendem "uma lição de vida" e dificilmente voltam a mergulhar numa situação idêntica. No final do processo, o juiz faz uma apreciação do seu comportamento e, se tiverem respeitado o plano de pagamentos, "as dívidas são perdoadas" e volta-se à casa de partida. Accionista com vergonhaÉ esta a esperança de José Morgado Henriques, um dos principais accionistas da Papelaria Fernandes, uma marca centenária que não teve outra escolha que não declarar-se insolvente, em Abril de 2009, após mais de uma década a apresentar prejuízos. Com perto de 25 por cento do capital, o empresário foi escolhido, em 2008, para liderar esta nova fase na vida da empresa, que, nos últimos meses, foi obrigada a dispensar perto de 300 trabalhadores e a fechar duas lojas. Muitas das que permanecem abertas estão atrasadas no pagamento das rendas. A queda da empresa acabou por arrastar o gestor, que, além da Papelaria Fernandes, tem uma empresa de construção civil cuja facturação caiu de três milhões para 1, 5 milhões de euros no ano passado. Morgado Henriques nunca escondeu que "se arrepende" de se ter tornado accionista, em 2007, por indicação de outro sócio com quem tinha relações próximas, a Fundação Lourenço Estrada. "Sinto-me envergonhado por não estar a cumprir aquilo que me propus a cumprir e estou naturalmente condicionado pelo que vai acontecer a seguir", admite. A Papelaria Fernandes, à semelhança de muitas outras empresas, não resistiu à crise. Em 2009, as vendas apresentavam quedas de 49, 9 por cento, os prejuízos ultrapassavam os 17 milhões e as dívidas, maioritariamente contraídas junto da banca, chegavam aos 63, 5 milhões. Além de uma quebra na facturação, a história desta empresa centenária, fundada em 1891, também está envolta em acusações de má gestão, que têm como alvo a anterior equipa de administração, nomeada pelo accionista que vendeu a participação a Morgado Henriques, a Inapa. Contas feitas, o gestor diz que o seu orçamento mensal sofreu um corte de 2500 euros, sem contar com o dinheiro que tem investido na Papelaria Fernandes e que, se os credores se decidirem pela falência, será perdido. É no armazém, no Cacém, que tenta recuperar, euro a euro, o negócio pelo qual dá a cara. Montou uma loja com os produtos que nunca chegaram às lojas, muitos deles com décadas de existência, passadas no esquecimento das prateleiras da empresa. Há mochilas do Fido Dido, cadernos de 2001 com a selecção italiana na capa, rolos de fita colorida sem fim. Está tudo a ser vendido muito abaixo do preço de mercado, a associações de solidariedade e as outras empresas que vêm nisto uma oportunidade de encher os seus próprios armazéns a um custo reduzido. Os 110 trabalhadores que permanecem nas instalações "e que têm mãos hábeis" também dão um contributo. "Fazem cadernos e envelopes a partir do papel que ficou para aqui deixado", conta Morgado Henriques. Em casa do gestor, o esquema é o mesmo. Aproveita-se, recupera-se, enfim, economiza-se. Há três menores para criar, um deles tem meses. "Noto que temos uma perspectiva diferente sobre o orçamento. Há, sobretudo, mais consciência, mais preocupação", diz. Não nega que têm uma vida confortável, em comparação com o comum dos portugueses, mas mostra-se apreensivo quanto ao futuro. "Tenho receio de ser obrigado a tirar os meus filhos do colégio. É preciso tomar já algumas medidas de prevenção, como diminuir os gastos com restaurantes. "Mas o que mudou, realmente, foi a propensão de José Morgado Henriques para o investimento. Depois da experiência na Papelaria Fernandes, cujo desfecho se decidirá ainda este mês, sente-se "menos disponível para pôr dinheiro em novos projectos". O economista João César das Neves afirma que "toda a sociedade tem de reduzir o seu consumo, ajustando-o à realidade" e que "as classes mais altas terão de acompanhar e, em certos casos, liderar esse processo". O problema é que também é do investir que vive a economia e, sem isso, a recuperação do país torna-se ainda mais difícil. Vender jóias, comprar chinêsO investimento é apenas um dos muitos propulsores para sair da crise. Há algo ainda mais profundo que, quando falta, impede estas pessoas de dar a volta por cima. Há quem lhe chame força de vontade. Filipa Guimarães prefere chamar-lhe confiança. "Confiança no todo, para que nos sintamos instados a sair disto. E confiança em nós, que é o que a crise nos tira de mais precioso", diz a antiga grande repórter da SIC, que se despediu voluntariamente da estação de televisão privada, convencida de que "outro trabalho de certeza surgiria". Não foi isso que aconteceu, porém. E, aos 39 anos, voltou a viver da mesada dos pais, que, por pertencerem a um estrato com rendimentos elevados, dão-lhe 1000 euros por mês para se governar. Esta vida que hoje leva é muito diferente da que conheceu, sob os holofotes da caixinha mágica. Mais do que um bom salário, que rondava os 2000 euros, Filipa Guimarães era grande repórter. Algo que nem o dinheiro consegue pagar, porque lhe abria portas para um mundo de "deslumbramento". Traz um vestido vermelho, que comprou há cinco anos, na altura em que saiu da SIC. "Estavam a rescindir contrato com algumas pessoas e eu aproveitei para me vir embora, porque não estava satisfeita", conta. Saiu de cara levantada. Certa de que apareceriam outras oportunidades. Guiões de telenovelas, textos para jornais e, quem sabe, mais reportagens televisivas, agora independentes. A crise mostrou-lhe portas fechadas, pedidos sem resposta e trabalhos mal pagos. Lembra-se das extravagâncias que cometeu quando "o dinheiro parecia chegar para tudo". Uma viagem ao Brasil que pagou à prima, uma ida ao astrólogo, só por curiosidade, que lhe custou 250 euros. A vida mudou. Filipa também. Passa os dias em casa, "sem ninguém com quem falar". Nunca mais foi de férias, "quanto mais pagar viagens a alguém". Os programas sociais, que lhe preenchiam os dias, "deixaram de existir", assim como "pessoas que julgava amigas". E admite que está a ponderar "vender jóias da família". Descobriu as lojas dos chineses. Riscou as compras mais supérfluas da agenda. E recicla o que antes lhe parecia lixo. Hoje, o que lhe dá realmente prazer é andar com produtos baratos, mas com sentido de humor, como o porta-chaves que traz na carteira: um animal colorido ao qual saltam os olhos, quando apertado com força. "É isto que me dá alegria. " Está a escrever um livro sobre a reviravolta que sofreu a sua vida, para que "as pessoas percebam que não estão sozinhas e que há sempre caminhos alternativos". Mas, no fim, lá confessa: "Tenho saudades de dinheiro. "
REFERÊNCIAS:
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Alemanha quer ter um milhão de carros eléctricos até 2020
A Alemanha quer assumir a liderança do mercado de carros movidos a electricidade, e já traçou como meta ter um milhão de veículos deste tipo até 2020, num congresso realizado hoje em Berlim para criar uma plataforma nacional. (...)

Alemanha quer ter um milhão de carros eléctricos até 2020
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DATA: 2010-05-03 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Alemanha quer assumir a liderança do mercado de carros movidos a electricidade, e já traçou como meta ter um milhão de veículos deste tipo até 2020, num congresso realizado hoje em Berlim para criar uma plataforma nacional.
TEXTO: Na conferência participaram, além da chanceler, Ângela Merkel, e de vários ministros federais, representantes dos principais fabricantes automóveis e empresas energéticas do maior país da União Europeia. O tema central dos debates incidiu sobre as novas tecnologias para substituir os combustíveis fósseis nos motores dos automóveis, nomeadamente a energia eléctrica e as células de hidrogénio. A questão das infra-estruturas para o novo tipo de veículos, a respectiva formatação, a reciclagem e os materiais a utilizar no fabrico foram questões também abordadas. No Primeiro Congresso da Electromobilidade, em Berlim, os fabricantes de automóveis deixaram claro, no entanto, que são necessárias bonificações fiscais e outros apoios do Estado para acelerar a entrada no mercado dos novos veículos. Indústria pede subsídios europeusO presidente da Confederação da Indústria Automóvel, Matthias Wissmann, advogou “uma via comum europeia” para desenvolver os carros eléctricos, no que se refere aos subsídios à indústria. A chanceler, Angela Merkel, não respondeu directamente às propostas dos industriais, mas admitiu que “sobretudo a investigação” dos novos veículos possa ser fomentada. O objectivo do congresso era “coordenar melhor a concepção e produção de carros eléctricos”, disse o ministro federal dos transportes, Peter Ramsauer. Para concretizar estes planos, foram formados sete grupos de trabalho com a participação de responsáveis políticos e das indústrias envolvidas, os quais começarão a funcionar em finais de Maio. Fabricantes preparam novos modelosTodos os fabricantes de automóveis alemães, excepto a Porsche, estão a trabalhar intensivamente na investigação de carros eléctricos, e esperam ter vários modelos no mercado em 2013. A BMW anunciou o lançamento do “Megacity Vehicle”, e testa actualmente uma frota de 600 carros de dois lugares movidos a electricidade. A Daimler quer produzir em série uma versão eléctrica do Smart, a partir de 2012, e no ano seguinte quer colocar um carro eléctrico no mercado chinês, em cooperação com o fabricante local BYD. A Audi lançará o primeiro veículo deste género no mesmo ano, o e-tron, um carro de desporto da gama alta, com 330 cavalos de potência, e uma velocidade de ponta de 230 quilómetros por hora, que custará mais de 100 mil euros. Além disso, a fábrica de Ingolstadt projecta também uma versão eléctrica do A1, cuja versão a gasolina estará à venda ainda este ano. A Volkswagen, maior fabricante europeu, já anunciou também o mini-carro Up, a partir de 2012, e no mesmo ano versões movidas a eletricidade do “bestseller” Golf e do Jetta, além do E-Lavida, para o mercado chinês, este último talvez ainda mais cedo. Quanto à Opel, já revelou que comercializará na Europa, também até 2013, uma versão híbrida do Ampera (Volt norte americano), a electricidade e com um pequeno motor a gasolina para carregar a bateria, semelhante ao Volt, que começará a ser vendido em 2011 nos EUA.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
A história da amizade entre uma marmota e uma ave
No Inverno, uma hiberna, a outra supõe-se que parte em migração. Na Primavera e no Verão encontram-se e partilham o mesmo condomínio. Segunda e última parte de uma expedição científica por Xinjiang. (...)

A história da amizade entre uma marmota e uma ave
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-07-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: No Inverno, uma hiberna, a outra supõe-se que parte em migração. Na Primavera e no Verão encontram-se e partilham o mesmo condomínio. Segunda e última parte de uma expedição científica por Xinjiang.
TEXTO: O relato que ouviu de um cientista estrangeiro, de visita a Portugal no ano passado, encantou-o tanto que quis ver se era verdade — e foi assim que Nuno Monteiro acabou numa pradaria na China, 2500 metros acima do nível do mar. A história é esta: na pradaria de Bayanbulak, que fica num planalto da cordilheira Tianshan, na região chinesa de Xinjiang, existe uma espécie de marmota que partilha a casa com uma ave durante a Primavera e o Verão. É por essa altura que ambas cuidam dos filhos que acabaram de nascer. Com a aproximação do Inverno e da neve que cobre o planalto, a marmota hiberna na sua toca e a ave pensa-se que parte para terras mais quentes. Talvez até África. Há agora uma planície de gramíneas, um rio que corre em meandros, cada vez mais fortalecido pelo degelo da neve, uma montanha em redor que continua branca nos picos, o sol que desponta pela manhã fria, a brisa que se sente no rosto, um casal de cisnes que pousa na água, uma única casa nesta parte da pradaria, com vista desafogada, onde vive um guardador de lobos — e no chão muitos buracos, as tocas das marmotas, que são roedores. Nunca tal associação surgiu descrita num artigo científico, mas foi esse o relato que Nuno Monteiro ouviu a Ablimit Abdukadir, quando este investigador do Instituto de Ecologia e Geografia de Xinjiang visitou, em meados de 2009, o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Cibio) da Universidade do Porto. “Relações tão próximas entre espécies tão distintas são raras. Envolvendo mamíferos, creio que não foram ainda descritas”, diz o biólogo do Cibio e docente de Parasitologia na Universidade Fernando Pessoa, no Porto. “Achei a história apaixonante”, continua Nuno Monteiro. “Cresci a ver os documentários da BBC, invejando intensamente o David Attenborough pela sua capacidade de surgir entre a câmara e o mais exótico dos animais. Ouvia-o imediatamente a narrar a história desta amizade improvável, e achei que íamos para a frente com o projecto. ” Foram mesmo para a frente, ele e Albano Beja Pereira, zootécnico também do Cibio, e assim incluíram nos objectivos de uma expedição por Xinjiang, no coração da famosa Rota da Seda, o estudo da convivência invulgar entre uma marmota e uma ave. À espreita no planalto “Professor, isto são ‘caganitas’ de marmota?”, pergunta o biólogo português, perto de uma toca na planície de tufos rasteiros, a Ablimit Abdukadir. “Oh, sim. ” “Vou recolhê-las. ” Pela planície vagueiam outros olhos atentos ao chão. Enquanto Ablimit Abdukadir, da etnia uigur, muçulmana e minoritária na China mas dominante na região de Xinjiang, se ocupa a identificar excrementos, Albano Beja Pereira traz mais tubos para guardar amostras destinadas a estudos de ADN. Com eles está Chen Shanyuan, estudante chinês de pós-doutoramento de Beja Pereira no Cibio há alguns anos, e que já conhecia Abdukadir. E Adil Tohti, outro uigur, o contacto local, que conduz os recém-chegados pelo território das marmotas. Adil Tohti vive na única casa de tijolos nesta parte da pradaria, sozinho com os 14 lobos que apanhou e gosta de manter em jaulas no quintal, com vista para os meandros do rio Kaidu. E já tem uma marmota enjaulada à espera da equipa. Diz ser proprietário de mil ovelhas, uma gota de água entre os 200 mil animais (vacas, iaques e cavalos, além de ovelhas) que pastam no imenso planalto habitado por 30 mil pessoas. Ao fundo, a poucos minutos de jipe, avista-se a cidadezinha de Bayanbulak. A rua principal, de terra batida, é uma sucessão inesperada de hotéis e restaurantes, ao fim da travessia de algumas horas pelo planalto salpicado de manadas de iaques e de vacas e rebanhos de ovelhas brancas de cabeça preta. Muitas vezes atrás do gado seguem pastores a cavalo. As iurtes, tendas circulares dos mongóis, povo nómada que partilha o vale com uigures e cazaques, deslumbram. As suas chaminés em forma de tubo fumegam, principalmente de manhã, e ao lado das tendas encontram-se sinais dos avanços tecnológicos. Estão munidas de painéis solares dispostos no chão. A cidade congrega dez mil habitantes, muitos dos quais mineiros na região, e à noite o ar está impregnado de um cheiro a carvão vindo das lareiras de casas modestas, nas ruas mais recuadas. Os hotéis albergam os turistas que nos meses de Verão procuram estas paragens, afinal esta pradaria, uma das maiores da China, tem uma famosa reserva natural de cisnes, constituída por inúmeros pequenos lagos. Concentram-se aqui mais de um milhão de cisnes, mas as aves de diversas espécies podem chegar aos dez milhões. Numa rua lateral, há um cinema e à sua frente dispuseram-se mesas de bilhar. Cibercafés também existem; e se pesquisarmos no Google a palavra “Xinjiang” o resultado na Wikipédia, em inglês, menciona os confrontos étnicos entre os uigures e os chineses hans, a etnia dominante na China, há um ano na capital da região, de que resultaram oficialmente quase 200 mortos e mais de mil feridos. Esses confrontos foram a manifestação mais violenta do clima de tensão étnica latente em Xinjiang. O Facebook ou o YouTube encontram-se, no entanto, bloqueados. Passeando o olhar por cima do terreno com as tocas, avistam-se duas iurtes. Como serão por dentro? E, zás, as marmotas aparecem e desaparecem — confundindo-se na paisagem ou entrando numa das várias aberturas das tocas. Percebe-se que têm o pêlo amarelado, com laivos negros. É a Marmota baibacina, o nome científico da sua espécie. O que dá ela exactamente à ave, uma espécie de chasco? “Um T0”, brinca Nuno Monteiro. “Os chascos fazem os ninhos em buracos. Mas esta paisagem não tem grande diversidade para fazerem o ninho. Os chascos já têm um apartamento nos buracos das marmotas. ” E a ave, o que dá à marmota em troca? “Sendo herbívora, quanto mais a marmota sobe em altitude, menos alimento tem disponível. Se vivesse sozinha, não adiantaria subir muito, porque o esforço para procurar alimentos seria tanto que suplantaria os benefícios e em grande parte do tempo estaria preocupada com os predadores. Associada com um pássaro, pode ocupar novos territórios”, explica Nuno Monteiro. A ave põe-se em guarda e avisa as marmotas de potenciais predadores. “Mas ainda não vimos ave nenhuma”, lamenta o biólogo a Beja Pereira, ao fim de algum tempo. Tivesse dito isto mais cedo e o seu desejo ter-se-ia já cumprido. Ali está uma. Contente? “Não, ainda não a vi entrar na toca. Mas está a emitir chamamentos. ” São os humanos que representam perigo. O biólogo caminha na direcção da ave, observando-a: ela voa rente ao chão para aqui, para ali, e vai pousando. “Segue um padrão: tem uma série de sítios de pouso. ” Embora sem certezas ainda, deve ser um chasco da espécie Oenanthe isabellina, meio esbranquiçado por baixo, acastanhado no dorso e com pontas pretas na cauda. Come insectos. Ave e marmota protagonizam as conversas. “Uma família de marmotas pode ter quatro ou cinco buracos”, diz Ablimit Abdukadir. “Quantos filhos têm?”, pergunta-lhe Beja Pereira. “Quatro a seis. ” As dúvidas surgem. “Não tenho a certeza de que a ave e a marmota vivam tão próximas como eu penso, porque as aves que vimos emitiam sons de alarme para muitos buracos”, questiona-se o biólogo. As dúvidas logo se desfazem, quando uma ave aprece junto a um buraco. “Olha, entrou! Saiu e voltou a entrar. ” Timidamente, ela assoma-se e esconde-se ainda algumas vezes. Outras duas aves, um casal, prendem a atenção de Nuno Monteiro e Beja Pereira, especados no meio da planície, de costas voltadas para o resto da equipa, com casacos até aos joelhos. Afinal, a história da amizade entre uma marmota e uma ave é mesmo a sério. “Uma coisa é ouvir [um relato], outra é ver com os próprios olhos. Fico satisfeito”, diz Monteiro. Se um ninho estiver perto da entrada da toca, será fácil esticar o braço e apanhar um ovo para tirar ADN. Mas nenhum está. Já da marmota, além dos excrementos, os cientistas não tardariam a ter um tipo de amostras algo inesperado. Tudo porque, no seu carro, Adil Tohti avança pela planície a grande velocidade, guinando para aqui, para ali, enquanto se dirige às duas iurtes que despertaram tanta curiosidade. Pelo caminho as marmotas que andam na pradaria assustam-se, desatam em correria, e uma acaba debaixo dos pneus — Chen Shanyuan e Ablimit Abdukadir aproveitam então para cortar pedaço das orelhas para recolher ADN e tirar as medidas ao bicho. “Que idade tem o animal?”, pergunta Beja Pereira. “Quase três anos”, diz-lhe Abdukadir ao inspeccionar os dentes. “E viveria quanto tempo?” “Cinco a sete anos. ” (Dentro de uma das tendas mongóis, ocupada por uma família nómada, dispõem-se duas camas, roupas meticulosamente dobradas, alguidares, fotografias emolduradas, uma lâmpada eléctrica pendurada do tecto ou uma salamandra no centro que aquece o espaço). Um D. Juan da montanha Interessado nas questões de evolução e nos laços de parentesco entre indivíduos de uma espécie, para Nuno Monteiro esta amizade improvável entre uma marmota e uma ave representa um sem-fim de especulações científicas. Por exemplo, os descendentes da família da marmota e a da ave continuam a viver juntos de ano para ano ou os seus laços são mais efémeros? Espera-se que o ADN de ambas dê algumas respostas. “Com esse ADN, obtemos um perfil, uma espécie de impressão digital única para cada indivíduo. Quando amostrarmos as crias, saberemos quem são os pais e as mães. Teremos uma indicação do sistema reprodutivo das duas espécies”, explica o cientista português. “Serão os agregados familiares bem comportados (monogâmicos), ou existirão facadinhas no matrimónio? De uma época reprodutiva para a seguinte, os casais mantêm os laços ou escolhem-se novos parceiros? Quem é o ‘D. Juan’ da montanha? Em resumo, poderemos compreender em detalhe a biologia destas populações de aves e marmotas, e a intensidade da sua relação. ” Será que estas populações co-evoluíram? “Se a ligação for realmente profunda, poderá já estar escrita nos genes. Interessa-nos saber quão dependentes estão uma da outra, neste habitat específico. ” Muito antes de terem uma resposta, os cientistas portugueses ainda têm pela frente uma certa tarefa mais premente, no final da viagem que os levou a percorrer quase cinco mil quilómetros por Xinjiang, atrás de marmotas e aves (e dos burros selvagens da Ásia, como contámos na primeira parte do relato desta expedição, a 24 de Junho). Sempre atrás de excrementos, tudo pelo ADN. Pelo que é já longe de Bayanbulak, de regresso a Ürümqi, a capital de Xinjiang, após quase duas semanas na estrada, que a expedição tem o desfecho oficial. Nas escadas de um hotel, à noite, Nuno Monteiro e Beja Pereira retiram de uma geleira os excrementos guardados em tubos e embrulhados em papel de alumínio, para estudos de genética e de parasitas. Destapam o que recolheram ao longo da expedição, preparando e dividindo amostras, que vão seguir para Portugal de avião. “Os da marmota estão podres, eia, que bedum. . . ”O P2 foi convidado a acompanhar a equipa do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto. No Ano Internacional da Biodiversidade, vamos publicar quinzenalmente, e até Novembro, reportagens sobre os trabalhos que investigadores portugueses desenvolvem em Portugal e no estrangeiro na conservação da Natureza. Os conteúdos são da inteira responsabilidade do P2.
REFERÊNCIAS:
Palau dá o exemplo e cria primeiro santuário de tubarões com área da Península Ibérica
São 600 mil quilómetros de mar no Oceano Pacífico, um pouco mais do que Portugal e Espanha juntos, que vão tornar-se num local seguro para várias espécies de tubarão. Palau, um país com 200 ilhas a Norte da Indonésia, não hesitou. “Palau vai declarar as suas águas territoriais e estender a zona económica para ser o primeiro santuário oficial reconhecido para os tubarões”, disse à AP o Presidente do país, Johnson Toribiong. Algumas nações já tinham implementado limites na pesca e medidas de restrição na procura de barbatanas, mas este é um passo importante saudado pelos conservacionistas. “Há um efeito de demonstr... (etc.)

Palau dá o exemplo e cria primeiro santuário de tubarões com área da Península Ibérica
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.25
DATA: 2009-09-26 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20090926091624/http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1402453
TEXTO: São 600 mil quilómetros de mar no Oceano Pacífico, um pouco mais do que Portugal e Espanha juntos, que vão tornar-se num local seguro para várias espécies de tubarão. Palau, um país com 200 ilhas a Norte da Indonésia, não hesitou. “Palau vai declarar as suas águas territoriais e estender a zona económica para ser o primeiro santuário oficial reconhecido para os tubarões”, disse à AP o Presidente do país, Johnson Toribiong. Algumas nações já tinham implementado limites na pesca e medidas de restrição na procura de barbatanas, mas este é um passo importante saudado pelos conservacionistas. “Há um efeito de demonstração, de começo e isso é particularmente importante”, disse ao PÚBLICO por telefone Francisco Ferreira, dirigente da Quercus, acrescentando que a decisão “serve de exemplo para outros [países] tomarem medidas. ”Para Francisco Ferreira o novo santuário ocupa “uma área bastante grande”. Um estudo de 2006 mostra que todos os anos são mortos 73 milhões de tubarões para o corte das barbatanas, utilizadas para fazer sopa de barbatana de tubarão, uma iguaria da gastronomia chinesa. Os pescadores apanham os tubarões, cortam as barbatanas e largam-os no mar, onde acabam por morrer. “Estas criaturas estão a ser massacradas e podem estar à beira da extinção a não ser que tomemos acções positivas para protegê-las”, disse o Presidente Toribiong à BBC News. Palau só tem um navio para controlar toda a área, recentemente foi reportado que 70 navios ilegais pescavam na região. “Vamos fazer o melhor que pudermos, dado os nossos recursos”, disse Toribiong. Existem naquele local do Pacífico 130 espécies de tubarões e raias ameaçados. A nível mundial 21 por cento dos tubarões estão ameaçados, 18 estão quase ameaçados e desconhece-se o que se passa com 35 por cento. As espécies em maior perigo são as que vivem nas águas à superfície, mais sujeitas à caça. Uma das dificuldades da recuperação das populações é o tempo de vida longo dos tubarões e a sua lenta capacidade de reprodução. Carl-Gustaf Lundin, que está à frente do programa marinho da União Internacional para a Conservação da Natureza, defende que existem outras medidas que podem ajudar a combater a pesca ilegal. “Não é necessário apanhar as pessoas no oceano. Todos necessitam de aportar os seus navios por isso, desde que a maioria das nações se juntem para se opor a pesca ilegal, as hipóteses de apanhá-los são bastante boas”, disse à BBC News. Apesar deste activismo, Palau não é contra a caça à baleia. O Presidente disse que ao contrário do tubarão, ainda não encontrou fundamentos científicos para a protecção, apesar de haver mais estudos. Preferindo também não falar das relações com o vizinho Japão, onde a carne de baleia é comum na alimentação. Mas com o tubarão, a gastronomia não é argumento: “Sentimos que a necessidade de proteger os tubarões é maior do que a de comer um prato de sopa. ”
REFERÊNCIAS:
Onde vamos em 2019? O novo ano tem o mundo à espera
É um ano de efemérides e muita história – alguma recuperada, outra recordada. Vamos à boleia dela aqui ao lado e ao outro lado do globo, a cidades medievais e futuristas, ao campo e à praia. Pela estrada fora, não importa que estradas sejam. (...)

Onde vamos em 2019? O novo ano tem o mundo à espera
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.136
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: É um ano de efemérides e muita história – alguma recuperada, outra recordada. Vamos à boleia dela aqui ao lado e ao outro lado do globo, a cidades medievais e futuristas, ao campo e à praia. Pela estrada fora, não importa que estradas sejam.
TEXTO: Há muitos países nos Estados Unidos da América e muitas mais razões para os visitar: Norte, Sul, Este, Oeste e todos os meios pelo meio. E em 2019 os EUA vão ficar ainda mais próximos de Portugal, cortesia das novas rotas da TAP. A Nova Iorque (Newark), Boston e Miami vão juntar-se três novos destinos – Washington, Chicago e São Francisco, a capital do país, a maior cidade do grande “centro” e a emblemática cidade da liberdade (e tolerância) social. Costa leste, midwest e costa oeste vão ficar à distância de um voo e, com isso, os EUA vão “encolhendo” para os viajantes portugueses, que terão mais oportunidades para explorar as diversas facetas do país. De Chicago, por exemplo, para além da vibração local e da arquitectura cada vez mais arrojada, pode partir-se na mítica rota 66, a “estrada-mãe” de Steinbeck, pelos meandros da “small town America” até ao sol californiano, às portas de Los Angeles. E se é de “estrada fora” que falamos, desde São Francisco, onde as casas vitorianas estão empoleiradas em ruas impossivelmente inclinadas olhando a famosa baía, é o Big Sur que se abre com as suas deambulações pela costa californiana. Para novamente terminar em Los Angeles, onde em 2019 abrirá “o” grande museu do cinema. De volta à costa leste, Washington D. C. , o coração político da nação, vem juntar-se aos três destinos anteriores da TAP e no ano em que o país reflecte sobre a sua fundação é a ponte perfeita para descobrir a história dos EUA. E a sua “pré-história” enquanto nação, com o primeiro passo dado no vizinho estado da Virgínia, onde em 1607 se fundou a primeira colónia inglesa. E, onde, em 1619, se desenrolaram eventos fulcrais para o que haveria de ser os EUA: a primeira assembleia legislativa no território das colónias, a chegada dos primeiros escravos africanos e do primeiro grande contingente de mulheres, a celebração do primeiro dia de Acção de Graças. 1619 é considerado um ano fulcral para o país e os seus 400 anos vão ser assinalados durante todo o ano na Virgínia, a “mãe de presidentes” (oito oriundos do estado, mais do que qualquer outro), que se estende desde a baía de Chesapeake até às Montanhas dos Apalaches – e quantos mundos cabem aqui?Em Dezembro de 2019 terão passado 20 anos desde o “regresso” de Macau à nação-mãe chinesa e o que terá mudado no território que durante quase 500 anos ficou sob administração portuguesa?Cada vez mais se afasta da matriz identitária portuguesa, vai ganhando terra ao mar, faz parte de recordes (a maior ponte marítima do mundo, que liga a região autónoma a Hong Kong) e cada vez mais se afasta do epíteto de “Las Vegas do Oriente” – não, o jogo não acabou, pelo contrário, já ultrapassou a cidade norte-americana em número de casinos e em receita, é um destino de jogo sem rival. Tudo para conferir sem perder oportunidade de assistir in loco ao despertar da China. Aqui mesmo, do lado do continente, na província de Cantão, desenvolve-se a agora chamada Greater Bay Area, no Delta do Rio das Pérolas (Macau e Hong Kong são duas das 11 cidades) a resposta chinesa a São Francisco e a Tóquio, que tem na capital homónima, Cantão, um dos principais atractivos (e uma paragem obrigatória para quem aprecia a gastronomia chinesa). E para responder a Silicon Valley, a China apresenta, também nesta zona do país, Shenzen, um pólo de vanguarda tecnológica e de design. É a capital criativa do país e apresenta-se acompanhada de uma cada vez mais vibrante vida artística reflectida nas inúmeras galerias (que vêm fazer companhia aos museus que têm aberto nos últimos anos, como a Sociedade do Design, em colaboração com o londrino Victoria & Albert Museum, ou o Museu de Arte Contemporânea), que estão a dar vida a antigos bairros industriais, juntamente com salas de concertos, cafés e restaurantes, assumindo-se como referencial de vivência cosmopolita na nova China. A primeira vista de Matera, sobretudo se for nocturna, pode ser hipnotizante: uma ravina onde se abrem “grutas” resulta quase como uma colmeia. Humana. Ou um jogo de Tetris, com as cavernas e as suas entradas indisciplinadas, a esconder casas, igrejas, até mosteiros. São as chamadas sassi (literalmente: pedras), escavadas em calcário, algumas projectando-se fora da parede rochosa, o que faz com que os telhados sejam também ruas em alguns casos. Na década de 1950, as sassi, que chegaram a ser mil e a albergar 15 mil pessoas, foram interditas, por falta de segurança e condições de vida – por esses dias, a reputação de Matera entre os italianos andava pelas ruas da amargura, sobrando histórias de coabitação entre humanos, galinhas, porcos em espaços sem água canalizada e ventilação. Recentemente, regressou-se a elas – em estilo: casas privadas, ateliers de artistas, hotéis, restaurantes que mantiveram as características originais com o conforto (e segurança) modernos. Os labirintos e becos antes imundos tornaram-se o orgulho da cidade do Sudeste de Itália, onde a ocupação humana se conta em milénios, sete, e onde o passado (os sassi, “pedras”, o conjunto do género mais extenso da Europa) exibido na garganta (Gravina) convive com a cidade mais moderna que se estende no planalto (Murgia, também nome de parque natural próximo) – Património da Humanidade e, em 2019, Capital Europeia da Cultura (CEC). Os temas que a CEC vai aprofundar, como “comunidades e disrupções”, “futuro antigo”, “reflexões e conexões”, vão traduzir-se numa série de eventos culturais e artísticos que incluem museus pop-up, instalações, concertos (nomeadamente pela vienense Vegetable Orchestra, que reúne as duas formas de expressão artística favoritas em Matera, a música e a comida – também haverá workshops, jantares temáticos e pequenos concertos com os participantes das oficinas) e espectáculos multidisciplinares com parceiros tão inesperados quanto o CERN – Quantum Danza incluirá dança, teatro e música electrónica inspirados pela física quântica. Um bom pretexto para descobrir os segredos subterrâneos da região de Basilicata (aeroporto mais perto: Bari). E não só: a catedral, por exemplo, do século XIII, é um repositório artístico de vários estilos, desde pinturas bizantinas até aos frescos do século XVII. Aldeias, vilas e cidades pitorescas, paisagem delicada debruada de castelos românticos, um litoral que parece intocado ou tocado apenas na maneira exacta para compor postais. A Normandia é uma das regiões mais cénicas de França. Vêmo-lo nas pequenas cidades portuárias, como Honfleur, casas esguias coloridas, como narcisos no Sena a fazer-se estuário, ou Cherbourg, com ou sem guarda-chuva sempre romântica; e nas grandes, como Le Havre, que depois da devastação da II Guerra Mundial se reconstruiu em ousadia de concreto. Desfrutamos dela tanto na capital, Rouen, cidade à escala humana e charme iniludível, como nas pequenas aldeias, como Giverny, musa mais constante de Claude Monet, que aqui viveu durante décadas e imortalizou em centenas de obras (a casa, o jardim e o lago, ainda com nenúfares, estão abertos). Vivêmo-la junto ao mar em elegância na famosa (e sempre cinematográfica) Deauville e em discrição natural em Etretat. Percorremo-la no passado, no medieval Monte de Saint Michel, finalmente “devolvido” à água (e à irreprimível aura de mistério). Há, contudo, história mais recente a repousar na Normandia e história que mudou o curso da história mundial recente. O Dia D, o dia do desembarque da Normandia, e a Batalha da Normandia, que se seguiu, foram o volte-face final da II Guerra Mundial: em 2019 celebra-se o 75. º aniversário desse momento em que os aliados “ganharam” a guerra e todo o mundo vai convergir para as praias da Normandia onde o desembarque decorreu (e que são candidatas a Património Mundial da UNESCO) e que passaram a representar os ideais de paz, liberdade e, sobretudo, de reconciliação. É nesse espírito que se assinalará o dia 6 de Junho, a data exacta do desembarque, e todo o Verão se viverá sob esses auspícios na Normandia, uma espécie de museu a céu aberto da II Guerra Mundial. É a segunda maior cidade da Sérvia, mas Novi Sad permanece praticamente escondida, na sombra de Belgrado, como um segredo bem guardado. Parece, contudo, estar a chegar o tempo de mudança e é Novi Sad quem o reclama: em 2019 será a Capital Europeia da Juventude, uma espécie de preparação para 2021, quando será Capital Europeia da Cultura. Uma e outra combinam bem com a imagem de Novi Sad como “casa” de um dos principais festivais de música da Europa, o Exit, que em 2017 atraiu 200 mil visitantes durante os seus quatro dias de duração, passados entre o rock mais ou menos alternativo, a electrónica, o metal e punk e a “música do mundo”. Quatro estilos, quatro palcos espalhados pela cidade, o principal na fortaleza Petrovaradin, que é o cartão-de-visita da cidade – tem a alcunha de “a Gibraltar do Danúbio”, estando altaneira sobre o grande rio que aqui em Novi Sad se faz bailarino, desenhando um “s”. E também se faz porto de lazer para os cruzeiros que atravessam a Europa (e a sua história) embalada pelas águas do rio que raramente é azul. É na órbita da fortaleza, que também se situa o bairro histórico de Stari Grad (“cidade velha”), com concentração de museus, monumentos, cafés, restaurantes e lojas num perímetro desenhado por igrejas (e uma sinagoga) – é aqui que melhor flui a continuidade histórica desta cidade também conhecida como a “Atenas sérvia”. Na “cidade velha” houve o primeiro assentamento de eslavos, Baksa (século XIII), que passou para o domínio húngaro, depois otomano, depois austríaco até à sua incorporação no recém-criado Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos, em 1918 (depois Jugoslávia): ao longo de todos estes séculos, a população eslava foi sempre a maioria, mas várias nacionalidades definiram a cidade, ou não estivesse Novi Sad numa encruzilhada com a Hungria, Croácia e Roménia. A atravessar uma onda de revitalização com a renovação de várias fachadas e edifícios históricos (quase todos do século XIX em ponte com a arquitectura realista soviética do século XX, sobretudo residencial), é uma antiga zona industrial que concentra a nova onda de energia criativa. É conhecido por “bairro chinês” mas não se espere a típica chinatown: as antigas fábricas estão a ser tomadas por teatros, galerias de arte, salas de concertos e clubes e a afirmar-se como um destino “alternativo”. A capital do Panamá, a Cidade do Panamá, está de parabéns em 2019 e a promessa de festa é irrecusável. São 500 anos que se celebram na cidade que até é mais conhecida pelos arranha-céus e pelas compras que proporciona (é conhecido na vizinhança pelos preços baixos) do que pela sua vetustez. E isto no país cujo nome é mais associado à monumental obra de engenharia moderna que é o canal homónimo (recentemente renovado), ou até ao chapéu que lhe roubou o nome (embora seja de origem equatoriana), do que propriamente pela sua história e personalidade. E o Panamá, verdadeira encruzilhada do continente americano, ponte entre o Atlântico e o Pacífico, onde a América Central dá lugar à América do Sul, é muito mais do que um istmo e canal – não deve muito ao tamanho, mas compensa a escassez territorial com uma impressionante variedade natural e cultural. Do mar das Caraíbas ao oceano Pacífico, as praias de areia branca proporcionam snorkeling entre corais ou ondas dignas de surfar, avistamento de baleias e natação sincronizada – com tartarugas; as florestas tropicais são ponto de encontro com povos indígenas, palco de desportos de aventura com mais ou menos adrenalina e santuários de biodiversidade, os seus cumes de brumas intensas oferecem paisagens de mundos perdidos – diríamos que é mais ou menos a Costa Rica, sem a projecção internacional. E, depois, a capital aniversariante, hesitante entre uma espécie de Dubai, ou Miami, como tantos sublinham, e o tal passado que foi recentemente recuperado. Agora, o casco viejo apresenta-se de cara lavada (e colorida), o mar ficou mais próximo com a Cinta Costera e o Mercado de Mariscos continua uma tentação. Enhorabuena!, Panamá!Há cidades que parecem poder arrumar-se perfeitamente na categoria de capital cultural e Plovdiv é uma delas. A segunda maior cidade da Bulgária é um daqueles locais de “reunião” de várias civilizações e se é pouco conhecida pode ser que o ano como Capital Europeia da Cultura ajude a mudar o cenário. É uma das mais antigas urbes europeias continuamente habitadas – e, coincidência, estende-se por sete colinas: por lá passaram romanos, bizantinos, otomanos. A pegada destes impérios está bem impressa na sua arquitectura, com vestígios romanos a espreitar por toda a cidade e a imporem-se no coliseu, um dos maiores encontrados (apenas em 1972) e aonde voltaram os espectáculos; as casas, ou melhor, mansões, que pintam a cidade velha de vários tons até podem ser do século XIX e do período chamado de “revivalismo nacional”, mas mantêm, por exemplo, as características varandas otomanas. Aliás, caminhar pelas ruas empedradas da cidade velha é baloiçar entre o Oriente e o Ocidente, o que até é apropriado para uma cidade que se situa bem no centro da Bulgária. E longe das multidões da capital Sofia e do litoral, a cidade que em 1999 recebeu o Mês da Cultura vai agora ser anfitriã de 12 meses de eventos culturais (mais de 500), alguns idealizados de raiz, outros, já habituais, a ganharem nova dimensão. Há vários pretextos para viajar até à Polónia em 2019. Efemérides, como os 80 anos da invasão alemã e do início da II Guerra Mundial e eventos, como Capital Europeia da Gastronomia, em Cracóvia, à cabeça, embora tanto a história como a gastronomia sejam sempre prato do dia em qualquer visita à Polónia. O século XX deixou marcas intensas no país e podemos dizer que a invasão nazi é o grande ponto de charneira, não só para o que se passou durante a II Guerra Mundial (os campos de extermínio construídos em território polaco, a Insurreição e a consequente destruição de Varsóvia, os milhões de mortos polacos), como para as décadas posteriores, na órbita da URSS – o Turismo da Polónia está apostado em atrair os amantes da história e o próximo ano é um pretexto incontornável. Talvez a gastronomia não seja o motivo mais evidente de orgulho entre os polacos (muitos surpreendidos com a distinção de Cracóvia) mas talvez isso mude. Afinal, o renascimento de um certo sentido de identidade nacional também tem passado pela recuperação de pratos tradicionais – não é o caso dos pieroggi ou da sopa zurek (dentro do pão ou em prato): serão os mais destacados representantes destes, indispensáveis em qualquer restaurante. O que se pode esperar, pela nossa experiência em Cracóvia, é, então, a tradição polaca com roupagens modernas ou revisitada em fusões mais ou menos surpreendentes, que dão novas imagens aos pratos “da avó”. Tudo isto na “cidade eterna” polaca – pelo número de igrejas (e clero abundante) e pela resistência aos contratempos da história: a cidade velha de Cracóvia é uma máquina do tempo. Da Idade Média até hoje, continua a ser o verdadeiro centro da cidade, a “baixa” com várias “baixas” dentro – os habitantes vivem-na quotidianamente e os turistas fazem como eles. O seu nome apenas já evoca o exotismo das aventuras longínquas do tempo em que as viagens eram o caminho. Samarcanda é paragem mítica da igualmente mítica Rota da Seda, mais do que um percurso comercial, um mapa de encontros de povos e culturas. E se entre a Europa e a Ásia vários trajectos se desenharam, uma coisa foi certa: Samarcanda sempre foi uma encruzilhada entre os continentes e disso a cidade uzbeque tem testemunhos que sobejam. É preciso, porém, não desanimar perante a vista da cidade mais moderna (assinatura da Rússia czarista e da URSS) e persistir até chegar, descascar as camadas. A arquitectura medieval do centro histórico até pode parecer humilde, mas na Praça Registan explodem os azulejos esmaltados (em majólica) adornados de dourados e caligrafia nos edifícios religiosos, sobretudo nas três madrassas imponentes dos séculos XIV e XVI, e de repente o tempo volta para trás e esperamos ver novamente as caravanas carregados de maravilhas dignas da caverna de Ali Babá atravessando altas montanhas e desertos áridos. À falta de tesouros dourados, as lojas de artesanato começam a enxamear a segunda cidade do Uzbequistão, outrora capital de um império vasto, que se estendia por grande parte da Ásia e que faz de Samarcanda, a par com Bucara, dois importantes centros da cultura tajique-persa (Bucara recebe, aliás, anualmente, o Festival de Seda e Especiarias). O antigo oásis continua a ter artesãos da cerâmica, tapeçaria, bordados, cunhagens – mas agora não chegamos de camelo ou a cavalo. E Samarcanda pode já não ser a encruzilhada de culturas de outros tempos, mas continua a ser um belo sonho de viajante. A República de Singapura pode ter pouco mais de meio século, mas em 2019 a cidade-estado vai celebrar o seu bicentenário. Foi em 1819 que Sir Stamford Raffles estabeleceu na ilha (que havia sido saqueada por portugueses uns séculos antes) um entreposto comercial do império britânico e este é o momento que Singapura reconhece como o nascimento da cidade moderna que só se tornaria independente em 1965. No próximo ano, a cidade futurística vai, então, celebrar e reflectir sobre o seu passado – em grande estilo: por exemplo, a história andará pelas ruas em grandes projecções-instalações multimédia para proporcionar experiências imersivas. Não passará incólume o aniversário redondo, pois se algo 2018 nos mostrou sobre Singapura é que, quando quer, festeja como ninguém (veja-se o filme Crazy Rich Asians, que até já tem direito a roteiro na cidade). Algo que já tem andado na mira de viajantes, que começam a deixar de ver a cidade como uma boa plataforma-giratória para viagens pela Ásia – e até começam a ver para além dos arranha-céus extravagantes que oferecem mil e um prazeres (não só compras, mas piscinas infinitas penduradas entre vegetação, por exemplo). É que além do brilho emanado pelo aço e vidro, Singapura retém um certo charme colonial britânico, o bairro chinês é uma vertigem, as compras são uma fé (das marcas mais exclusivas às locais) e o verde imiscui-se por todo o lado – a luxuriante vegetação até está a ganhar terreno, em jardins e parques que vão do futurista Gardens by the Bay ao histórico Parque de Fort Canning, sem esquecer o ícone que são os Jardins Botânicos. À mesa, Singapura é um caleidoscópio de sabores – e preços: os restaurantes estrelas Michelin e centenas de bancas competem entre si (há uma banca em Chinatown que tem estrela – dizem que é a refeição “estrelada” mais barata do mundo) e a noite espraia-se dos bares de cocktails mais elegantes até aos clubes de mais puro rock (com tudo o que é dançável pelo meio). Não é o acontecimento do século, mas quase: acontece, no máximo, cinco vezes em cada cem anos, a Fête des Vignerons. E 2019 é uma dessas cinco vezes, a primeira do terceiro milénio (a última festa aconteceu em 1999). É em Vevey que os suíços celebram a vitivinicultura, as suas tradições e, claro, o vinho da região mais representativa num país que não é especialmente conhecido por ele, Lavaux, famosa pelos vinhos brancos secos produzidos a partir da casta Chasselas. O que começou em 1797 como uma simples festa das vindimas cresceu e é agora uma celebração que dura três semanas (no próximo ano, de 20 de Julho a 11 de Agosto) e já mereceu o reconhecimento da UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade. O tiro de partida em 2019 vai ser dado numa cerimónia extravagante, ao estilo da abertura dos Jogos Olímpicos (o coreógrafo dos últimos jogos de Inverno, em Sochi, já foi recrutado). Depois, os espectáculos e apresentações vínicas prosseguirão na praça do mercado nas margens do lago Léman e no centro da cidade – sem esquecer as visitas aos vinhedos, afinal o motivo de tudo: um comboio sai todas as horas para percorrer as vinhas, dispostas em socalcos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. É o clássico dos clássicos das viagens, mas o turismo tem andado de costas voltadas para o Egipto, consequência da situação política instável. Nos anos mais recentes, os viajantes têm regressado e em 2019 espera-se que venham em força. O engodo é quase irrecusável: no início do ano vai abrir o gigantesco (quase 500 mil metros quadrados) Grande Museu Egípcio, com vista privilegiada para as pirâmides (e esfinge) de Gizé. Vai ser o maior museu do mundo dedicado a uma única civilização, que é também uma das que mais alimenta a imaginação mundial. E, no novo museu, serão 50 mil os artefactos em exposição, incluindo o tesouro de Tutankhamon, o rei-menino cujo túmulo foi descoberto intacto no Vale dos Reis: será a primeira vez que as cinco mil peças serão mostradas juntas, compondo a visão de “coisas maravilhosas” que Howard Carter anunciou em 1922. E porquê ficar pelo museu, quando o mais impressionante do Antigo Egipto está à distância de um cruzeiro pelo vale do Nilo? Há-os para várias bolsas e, entre Luxor e Assuão (ou vice-versa), pode entrar no verdadeiro túmulo de Tutankhamon e de outros faraós, conhecer templos impressionantes, desfrutar de pores do sol inigualáveis e da hospitalidade e alegria do país. Mas o Egipto não é apenas faraónico: a capital, o Cairo, é um grande bazar da história – há de tudo, para todos, numa mistura alucinante.
REFERÊNCIAS: