Luanda é a cidade mais cara do mundo
Tóquio foi destronada por Luanda como a cidade do mundo mais cara para os gestores expatriados. (...)

Luanda é a cidade mais cara do mundo
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-06-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Tóquio foi destronada por Luanda como a cidade do mundo mais cara para os gestores expatriados.
TEXTO: De acordo com o estudo “Cost of Living Survey”, da consultora Mercer, a capital angolana roubou o título do local mais dispendioso para um gestor viver: o alojamento é três vezes mais caro do que em Lisboa e duas vezes superior ao de Tóquio. Um menu fast food custa 12, 7 euros, valor muito superior aos 4, 65 euros pagos em Lisboa, ou 4, 53 euros em Londres. A capital portuguesa ocupa a 72ª posição em 214 cidades analisadas. Ainda assim, arrendar um T2 de luxo em Lisboa sai mais caro do que em Roma, Amesterdão, Bruxelas ou Madrid. No fundo da tabela está a populosa Karachi, no Paquistão, o local do mundo onde é mais barato viver. Em média, Luanda é três vezes mais cara do que a antiga capital paquistanesa. Depois de Luanda e de Tóquio, Ndjamena, no Chade, Moscovo e Genebra ocupam a terceira, quarta e quinta posição na tabela. Nos dez primeiros lugares estão três cidades africanas, três asiáticas e quatro europeias. No continente Americano, as cidades brasileiras estão entre as mais caras devido à queda do dólar face ao real. São Paulo ocupa a 21ª posição do ranking e o Rio de Janeiro a 29ª. Já Nova Iorque (27ª) é a cidade mais cara dos Estados Unidos. O estudo da Mercer mede o custo comparativo de mais de 200 produtos representativos dos padrões de consumo dos executivos expatriados, incluindo habitação, transportes, alimentação, vestuário, bens domésticos e entretenimento.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave consumo estudo
O pólo de desenvolvimento lançado há meio século que nunca atingiu a medida da sua ambição
A geração dos superpetroleiros capazes de transportar 600 mil toneladas de crude de uma só vez foi a grande promessa da engenharia mundial do início da década de 1970. Sines quis ser um dos primeiros portos do mundo capazes de a receber, mas não contava com o que vinha a seguir. (...)

O pólo de desenvolvimento lançado há meio século que nunca atingiu a medida da sua ambição
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento -0.16
DATA: 2010-11-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: A geração dos superpetroleiros capazes de transportar 600 mil toneladas de crude de uma só vez foi a grande promessa da engenharia mundial do início da década de 1970. Sines quis ser um dos primeiros portos do mundo capazes de a receber, mas não contava com o que vinha a seguir.
TEXTO: A crise petrolífera de 1973 eclodiu e com ela caíram os gigantes do mar, o sonho da expansão económica mundial sem limites e da industrialização do país. Só houve tempo para construir um desses navios brutais. Sines nunca o viu atracar. Seis anos mais tarde, o molhe do porto desfez-se. Os temporais do Inverno varreram a barreira de pedra com blocos de 50 toneladas cada um, como se fossem seixos, e foi preciso mais de uma década para a sua reconstrução. Quando isso aconteceu, estava o mundo a sair já de uma segunda crise petrolífera. Uma ironia, uma maldição, um elefante branco. Nem todos concordarão que estas são as palavras adequadas à história de um porto que nunca chegou a ser o pólo de desenvolvimento industrial ambicionado pelos seus criadores – João Salgueiro, por exemplo, não concorda. São, porém, expressões frequentemente associadas ao que foi a expectativa e o resultado do maior projecto industrial de sempre do país e que o projectava para o exterior. Nada se assemelhou a ele nem antes nem depois. O caminho foi preparado com método, como mandam os manuais e não como fazem os portugueses. O Governo tinha uma visão de política industrial para o país, Rogério Martins, então ministro da Indústria, era um dos seus responsáveis. “O regime industrial que vigorou no último quarto de século nem permitiu [que] nos aproximássemos do conjunto dos países europeus economicamente avançados, diminuindo a distância que deles nos separava, nem melhorou a nossa posição em relação a outros (. . . ). Temos, e rapidamente, que mudar de via para nos industrializarmos a fundo”. As palavras de Rogério Martins, estranhamente actuais, são de Fevereiro de 1970, era então ministro da Indústria, e foram ouvidas no célebre Colóquio sobre Política Industrial em Lisboa. Em plena primavera marcelista, muitos esperaram que de lá saísse uma “nova política industrial”. As conclusões não chegaram a tanto, diz Maria Fernanda Rollo, no estudo “Marcelo Caetano: política económica e modernização”. A matriz política que gerou o projecto de Sines estava no entanto concebida, o país traçava os seus objectivos em planos de fomento (ia no terceiro) e a ala mais reformadora do Governo de Marcelo Caetano manifestava-se na economia. Rogério Martins, o homem que veio a tomar a iniciativa e lançar o projecto de Sines, defendia uma nova política industrial que, “rejeitando a autarcia, procure estimular o equilíbrio da balança comercial na base do desenvolvimento da exportação de produtos que possamos produzir em condições de custos internacionalmente concorrenciais e que favoreçam, ao mesmo tempo, o rápido crescimento do valor acrescentado pelos factores produtivos nacionais”. Eram as indústrias extractivas, químicas e metalúrgicas, agro-florestais, intensivas em mão-de-obra adaptável e com baixo custo de transporte, portuárias e exportadoras e Sines devia ser o pólo agregador desta chamada indústria de base. A história não deu tempo a Rogério Martins, lembra a historiadora, mas a ambição estava à vista. Não se projectava apenas um novo pólo industrial para o petróleo, petroquímica, recursos minerais, produção de energia e metalomecânica, tudo servido por um grande porto virado para o Atlântico. Desenhava-se também de raiz uma nova cidade, uma rede viária e um pólo logístico. Criou-se o Gabinete da Área de Sines (GAS), uma entidade com poderes de licenciamento e fiscalização equiparados aos de uma câmara municipal e na dependência da Presidência do Conselho de Ministros. O decreto-lei que define as competências extraordinárias desta entidade saiu em 19 de Junho de 1971 e continha quatro pressupostos estratégicos: parte da grande indústria localizada no estuário do Tejo passaria para Sines, seria construído um complexo industrial de grandes dimensões adaptado às novas tecnologias, seria capaz de responder à fase de expansão económica europeia e de aproveitar os recursos nacionais e permitiria reordenar o território. Sines tinha o que se procurava: espaço para criar uma nova cidade cerca de 100 quilómetros afastada do complexo-industrial Lisboa-Setúbal e as águas profundas que os estuários do Tejo e do Sado não tinham e sem as quais os grandes petroleiros, graneleiros e mineraleiros não poderiam atracar. Tinha também as melhores condições para dispersão da poluição atmosférica, já que estavam em causa indústrias com forte impacto ambiental. Maria Fernanda Rollo fala numa “tripla maldição”. A crise petrolífera de 1973, a mudança de regime em 1974 e os temporais que destruíram o molhe do porto no Inverno de 1978/79 “condicionaram, de forma decisiva, o ritmo e o conteúdo efectivo das diferentes fases por que foi passando”. O choque entre o sonho e a realidade de um porto que não conseguira chegar ao patamar de grande pólo industrial gerou um elefante branco e por muitos anos assim foi chamado. Há quem tenha, no entanto, posições menos negativas. José Torres Campos, no Dicionário de História do Estado Novo, admite que “a análise desapaixonada que hoje é possível fazer reconhecerá que Sines é uma infra-estrutura portuária básica e indispensável ao país”. O conselho de gestão do GAS, já próximo da sua extinção formal, em 1986, assume que os choques petrolíferos, a recessão económica, as inovações tecnológicas e as dificuldades de acesso às matérias-primas das colónias africanas, tornadas independentes desde 1975, “puseram definitivamente em causa as unidades industriais de grande capacidade já então em fase de impossível recuo – a Petrogal e a CNP – e, por último, as unidades cuja implantação foi adiada ou cancelada – Siderurgia, Pirites e Adubos”. Brandão Alves, economista do ISEG com trabalho feito na área da economia regional, diz que o significado de pólo de desenvolvimento na teoria económica é rico, mas que foi “gradualmente desvirtuado para justificar financiamentos”. Os pólos industriais nascem da ideia de uma “indústria motriz atrás da qual vem tudo o resto”, mas, tal como os motores de um automóvel, precisam de correias de transmissão. “Caso contrário, não se vai a lado nenhum”. E foi o que aconteceu em Sines, segundo este economista, também ex-presidente da Associação nacional de Direito ao Crédito, que promove o microcrédito em Portugal. O país pegou num conceito económico que resultou bem em outros sítios do mundo e esqueceu-se de cuidar das correias de transmissão. “Os portugueses são bons a imitar, mas os modelos e as correias de transmissão não se compram feitos”. E o que são as correias de transmissão em Sines? Brandão Alves admite que poderá ser a relação de dependência do projecto com o exterior. Dependia muito do exterior e do petróleo enquanto nada no exterior dependia de Sines. “É fazer com que as coisas se agarrem ao terreno, se não esvaem-se”, é fazer, diz mais à frente, com que se criem sistemas de irrigação, uma tese que aplica também à actualidade e a iniciativas lançadas “a pretexto do desenvolvimento do país”. São as iniciativas dos autarcas, as auto-estradas, enumera. O que ficou claro, para este economista, é que Sines não falhou no planeamento mas no confronto com a realidade. “Terá havido demasiada ambição inicial e esqueceu-se que o planeamento está sujeito à incerteza”. “Sines não é um elefante branco”, defende João Salgueiro, que era subsecretário de Estado do Planeamento Económico na época em que o projecto foi decidido e o acompanhou. “Veja o número de estabelecimentos que lá funciona – petrolífero (terminal petrolífero e a refinadora da Galp Energia), carvoeiro (terminal de carvão e central eléctrica da EDP a carvão), gás natural (terminal de recepção), porto de contentores e uma infra-estrutura urbana importante (Santo André)”. Sustenta este economista que o planeamento foi um factor valioso do projecto e “mesmo os projectos muito bem estudados estão sujeitos à conjuntura mundial”. O pólo de Sines não foi desenhado para ser apenas um porto, para a indústria do petróleo e do carvão, tinha previsto uma fábrica automóvel da Alfa Sud (Alfa Romeo) e uma metalúrgica ligada ao cobre, dois projectos que caíram entretanto. “O método sério de estudos não se usa hoje. O país regrediu na maneira como os grandes projectos são equacionados”, declarou. Salgueiro lembra-se que todos os estudos foram publicados, enquanto “hoje, não se explicam as alternativas”. Foram estudadas quatro localizações (Sines, Peniche, Arrábida e Lagos), mas as duas últimas saíram da lista por serem zonas de desenvolvimento turístico. A decisão recaiu sobre o Alentejo “porque não tinha um pólo urbano em crescimento”. Quanto ao projecto propriamente dito, nasceu de uma carência concreta. “A capacidade nacional de refinação estava quase esgotada. Cabo Ruivo alimentava o centro, Leixões o norte e faltava capacidade a sul. Sines respondia a essa necessidade”. Foi feito para dar refinação e um porto de transhipment ao país, que levasse o crude refinado para o resto da Europa, tal como Roterdão. O sonho que hoje até parece excessivo tinha outras bitolas na época. Portugal tinha então o maior estaleiro naval do mundo, com 11 mil trabalhadores. José Poças Esteves, economista da Saer e um dos defensores do desenvolvimento da economia do mar, refere que a conversão gradual de Sines num projecto eminentemente energético acabou por o condicionar. “Na altura, pensava-se que teria outra finalidade, mas na verdade estava-se fundamentalmente preocupado com a alimentação de energia ao país”. Veio o 25 de Abril, o país “virou costas ao mar e a economia passou para segundo plano”, diz Poças Esteves. Quando voltou a olhar para Sines, tinha na mão um elefante branco. “O mundo tinha evoluído para a globalização competitiva”, uma boa parte da qual baseada na economia do mar, o que se traduzia muito mais em movimentações de carga entre regiões do que na componente da energia, de acordo com Poças Esteves. Para ser porto de transbordo e plataforma logística da globalização falta-lhe ainda hoje o que sempre lhe faltou: um escoamento rápido de mercadorias para o hinterland ibérico, por via ferroviária, em bitola europeia e através do Poceirão, para a partir daí seguir para Lisboa e para Madrid. O economista assume que Sines deve conjugar as duas valências, de centro de energia e de porto de carga, porque “as duas são precisas”, e encontra hoje sinais positivos e de bom senso nos decisores políticos sobre esta matéria. O que espera é que os sinais “sejam seguros”. Na recente visita do chefe do estado chinês a Portugal, Hu Jintao, o projecto de Sines esteve à mesa das conversações. Poças Esteves considera isso como “um sintoma a apontar para uma nova visão”. Só falta saber se vai provocar a mudança que falta. A primeira grande infra-estrutura dedicada ao transporte de carga em Sines, nascida com o terminal XXI no início da década de 2000, não foi capaz de o fazer. Bem compararam o terminal a uma “Ota do transporte marítimo”, mas a ambição foi mais uma vez maior do que a realidade. Nessa altura, a concessão foi entregue à PSA de Singapura. Tal como então, os interlocutores do Governo português voltam a ser asiáticos.
REFERÊNCIAS:
Klaus Regling, o alemão que reúne os milhões de que Portugal precisa
Já foi dado como potencial sucessor a Jean-Claude Trichet na presidência do BCE, embora a Alemanha não o queira perder da liderança do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira. Figura despercebida, homem da confiança da chanceler alemã, Klaus Regling é, há pouco menos de um ano, o ‘tesoureiro dos aflitos’. (...)

Klaus Regling, o alemão que reúne os milhões de que Portugal precisa
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-04-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Já foi dado como potencial sucessor a Jean-Claude Trichet na presidência do BCE, embora a Alemanha não o queira perder da liderança do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira. Figura despercebida, homem da confiança da chanceler alemã, Klaus Regling é, há pouco menos de um ano, o ‘tesoureiro dos aflitos’.
TEXTO: Director do fundo de ajuda aos países em dificuldades na zona euro desde Julho, este alemão de 60 anos que foi conselheiro de Angela Merkel entre 2008 e 2009 é o rosto do veículo de ajuda que está a ser desenhado para Portugal no âmbito do fundo de socorro aos países em dificuldade na zona euro fundo (FEEF ou EFSF, na sigla convencionada internacionalmente). Antes de Portugal pedir socorro, Regling dizia estar pronto para o accionar. E voltou a repeti-lo agora com mais detalhe: dez dias depois de a “troika” formada pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI) definir finalmente o montante e as condições do plano de ajuda, estará pronto para avançar com o programa. Regling assumiu a liderança do FEEF como o seu primeiro director quando muitas questões estavam em aberto sobre o futuro do fundo. A Grécia tinha sido socorrida pela União Europeia em Maio, fora do quadro de ajuda do FEEF, e cuja criação foi decidida nesse mesmo dia. A The Economist elogiava-lhe na altura o currículo. Sobre ele escreveu que o passado profissional recomendava um nome como o de Regling para um programa essencial, dizia a revista britânica, para assegurar a assistência financeira de emergência na zona euro num momento de crise. Passou décadas entre Washington, Berlim e Bruxelas, a saltar entre funções governativas na Alemanha e gabinetes do FMI e da Comissão Europeia. No ano em que termina o mestrado em Economia (1975), na Universidade de Regensburg, já formado em Hamburgo, vai para Washington como investigador e economista do FMI. Cinco anos mais tarde, regressa a Berlim e por mais cinco aqui fica: primeiro, no departamento económico da associação de bancos alemães (durante um ano) e, depois, como economista no Ministério alemão das Finanças, onde voltará mais tarde, em 1991. Pelo meio, regressa ao FMI, como responsável pela divisão internacional de mercados de capitais – e, aqui, trabalha em Washington e em Jacarta, quando está com o dossier dos países africanos e asiáticos. A aproximação ao círculo de Bruxelas dá-se, precisamente, nos oito anos em que passará por três departamentos do Ministério alemão das Finanças: nos anos 1990, é uma peça fundamental na criação do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) – uma exigência alemã para aderir ao euro. O FEEF de ReglingUm interregno de dois anos em funções governativas, como analista do Moore Capital Strategy Group, dá-lhe tempo para depois voltar aos corredores da UE. Desta vez, já não como responsável da Alemanha, mas com assento na Comissão Europeia. Regling passa a director-geral dos Assuntos Económicos e Financeiros, assumindo a pasta durante oito anos, até passar a consultor da chanceler alemã através de um comité de avaliação de políticas financeiras. É depois disso que fica com a direcção do fundo criado na União Europeia. O modelo grego inspirou a ajuda que depois Regling coordenou à Irlanda. E já depois disso, as incertezas quanto ao futuro de uma Europa a lidar com os países periféricos a lutarem contra a crise da dívida soberana, Regling viu adiadas para Junho deste ano medidas para flexibilizar o FEEF, enquanto já se acerta o mecanismo que vai substituir o actual fundo de ajuda em 2013. Ao mesmo tempo, tem sido colocado na lista dos potenciais candidatos para presidir ao BCE, quando Jean-Claude Trichet terminar, em Outubro, o mandato de oito anos. A favor teria o facto de ser alemão (depois de Weber se afastar da corrida), mas Berlim quer assegurar o lugar no FEEF e contra si joga também o facto de nunca ter sido governador de um banco central. Reformas em troca de assistência“A estratégia adoptada para preservar a estabilidade financeira na zona euro funciona. Isso não quer dizer que todos os problemas estejam resolvidos. Mas o euro, enquanto tal, não está em questão”, dizia Regling numa entrevista publicada no início da semana passada simultaneamente nos jornais Irish Times (irlandês), La Tribune (francês) e Der Standard (austríaco). A Irlanda foi socorrida já neste quadro de ajuda – em que a assistência do fundo é negociada entre o país e a Comissão Europeia, o BCE e o FMI – e Portugal terá o pacote de assistência definido antes de uma flexibilização, previsivelmente em Junho, do actual fundo – visto entre os 17 do euro como a tábua de salvação dos países em dificuldades. Em Março, os Estados-membros assumiram um acordo de princípio que estabelece o reforço da capacidade efectiva de empréstimo do fundo de 220 mil milhões de euros para 440 mil milhões de euros. Como a Grécia e a Irlanda, Portugal terá de assumir compromissos, já que os programas de assistência financeira concedidos aos dois países resgatados foram accionados para permitir o equilíbrio, a prazo, das finanças públicas desses países. A contrapartida é o cumprimento de um plano de austeridade negociado com os governantes. Planos “draconianos”, como corre na imprensa internacional: descidas dos salários, redução das pensões, aumento da carga fiscal e restrições às contratações e cortes na função pública. Dizia há dias Regling, falando do “período particularmente difícil” que a Europa atravessa na zona euro: “A Grécia fez grandes progressos, mas tem ainda mais anos [em que vai precisar de aplicar medidas de austeridade]. A mesma coisa na Irlanda. Portugal conhece uma batalha política interna. Veremos se pede ou não assistência. Se o fizer, estaremos preparados [para accionar o programa de emergência] ”. Portugal pediu e o FEEF está pronto. O montante estimado por Bruxelas ronda os 80 mil milhões de euros, e será Klaus Regling que os irá reunir, quando o valor ficar finalmente definido, através de dotações dos Estados-membros do euro e do FMI. Uma estratégia, como diz, que serve para autonomizar as três economias tidas como as mais frágeis da moeda única e assim evitar o contágio a outros países da zona euro.
REFERÊNCIAS:
Entidades TROIKA UE FMI
A Grécia vai conseguir?
A Grécia comprou algum tempo com um novo pacote de apoio financeiro, mas o país não está ainda fora de perigo. Continua por saber se as políticas de austeridade prometidas pelo Governo do primeiro-ministro George Papandreou se vão revelar politicamente aceitáveis e sustentáveis. (...)

A Grécia vai conseguir?
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-06-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Grécia comprou algum tempo com um novo pacote de apoio financeiro, mas o país não está ainda fora de perigo. Continua por saber se as políticas de austeridade prometidas pelo Governo do primeiro-ministro George Papandreou se vão revelar politicamente aceitáveis e sustentáveis.
TEXTO: A história dá-nos motivos para estarmos cépticos. Numa democracia, quando as exigências dos mercados financeiros e dos credores estrangeiros entram em confronto com as dos trabalhadores domésticos, pensionistas e classe média, são habitualmente os habitantes locais que têm a última palavra. A saída da Grã-Bretanha do Padrão Ouro em 1931 mantém-se como um marco histórico. Tendo cometido o erro de restaurar a paridade com o ouro a um nível que tornou a economia pouco competitiva, o país lutou durante vários anos com a deflação e o desemprego. Várias indústrias sofreram bastante e os confrontos laborais multiplicaram-se. Mesmo com o desemprego nos 20 por cento, o Banco de Inglaterra tinha de manter taxas de juro elevadas para evitar uma fuga maciça de ouro. Em Setembro de 1931, a pressão crescente dos mercados financeiros empurrou o país para fora do Padrão Ouro. Não era a primeira vez que a rigidez financeira do Padrão Ouro fazia sofrer a economia real. A diferença é que a Grã-Bretanha se tinha tornado numa sociedade mais democrática. Mesmo contra os seus próprios instintos, os políticos e os banqueiros centrais compreendiam que não podiam continuar alheios à consequências da recessão e do desemprego. E, mais importante, os investidores compreendiam isso também. Assim que os mercados financeiros começaram a questionar a credibilidade do compromisso do Governo relativamente a uma taxa de câmbio fixa, eles tornaram-se uma fonte de instabilidade. Ao mínimo sinal negativo, os investidores retiravam o seu capital do País, precipitando o colapso da moeda. Assistiu-se a uma repetição deste filme na Argentina no final dos anos 90. A chave da estratégia económica depois de 1991 era a lei da convertibilidade, que ancorava o peso ao dólar e proibia qualquer tipo de restrições nos fluxos de capital. O ministro argentino da Economia, Domingo Cavallo, via a lei da convertibilidade como um seguro e um motor para a economia. Inicialmente, a estratégia funcionou bem, trazendo a tão desejada estabilidade de preços. No entanto, no fim da década, o pesadelo argentino regressou. A crise financeira asiática e a desvalorização brasileira no início de 1999 deixaram o peso argentino claramente sobrevalorizado. As dúvidas em relação à capacidade de pagar a sua dívida externa multiplicaram-se e, passado pouco tempo, a credibilidade estava já abaixo de alguns países africanos. Em última análise, o que selou o destino da Argentina não foi a falta de vontade política dos seus líderes, mas antes a sua incapacidade para impor políticas cada vez mais dolorosas para a sua população. O Governo argentino até se mostrou disposto a anular contratos com quase todos no plano interno - funcionários públicos, pensionistas, governos regionais e aforradores - para conseguir cumprir as suas obrigações com os credores estrangeiros. Mas os investidores começaram a duvidar de que o congresso argentino e o cidadão comum tolerassem as políticas de austeridade necessárias para continuar a pagar a dívida externa. À medida que os protestos se espalhavam, foi-lhes sendo dada razão. Quando a globalização colide com a política interna, os bons investidores apostam na equipa da casa. Talvez haja outro caminho. Veja-se o caso da Letónia, que recentemente viveu dificuldades económicas semelhantes às da Argentina há uma década. A Letónia tinha crescido rapidamente desde a adesão à EU em 2004, com base em crédito externo de larga escala e numa bolha do seu mercado imobiliário. Previsivelmente, a crise financeira mundial deixou a economia da Letónia em dificuldades. Assim que os empréstimos e os preços das casas caíram, o desemprego subiu até 20 por cento e o PIB diminuiu 18 por cento em 2009. Em Janeiro desse ano, o país registou os maiores protestos desde o colapso da União Soviética. A Letónia tinha uma taxa de câmbio fixa e livre movimento de capitais, tal como a Argentina. A sua divisa estava indexada ao euro desde 2005. Ao contrário da Argentina, contudo, os políticos da Letónia resistiram, não desvalorizando a divisa nem controlando os capitais. O que parece ter mudado, neste caso, o balanço entre custos e benefícios políticos foi a perspectiva de chegada à terra prometida de uma eventual adesão à zona euro, o que compelia os responsáveis políticos a evitar qualquer opção que ameaçasse esse objectivo. Isso, por sua vez, aumentou a credibilidade das suas acções junto dos mercados, apesar dos elevados custos económicos. Irá a Grécia ser uma Argentina ou uma Letónia? Do ponto de vista económico, os sinais não são encorajadores. A não ser que a economia grega recupere, assumir novas dívidas não é mais do que um paliativo temporário que irá exigir ainda mais austeridade no futuro. E, enquanto a procura interna continuar deprimida, as reformas estruturais - como as privatizações e a liberalização do mercado de trabalho - dificilmente vão garantir o tão necessário crescimento. Como as experiências da Grã-Bretanha entre as Grandes Guerras - e mais recentemente da Argentina e da Letónia - mostram, é a política que, em última análise, determina o resultado final. Para que o programa grego tenha algumas hipóteses, o Governo de Papandreou tem de realizar um esforço monumental para convencer a sua população de que os custos económicos são o preço que estão a pagar por um futuro mais brilhante - e não apenas um meio para satisfazer os credores externos. Professor de Economia Política na Universidade de HarvardPúblico/Project Syndicate, 2011
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
O destino europeu da Grã-Bretanha
A Europa tem perturbado e dividido a política britânica durante anos. Mas agora a maioria dos políticos do partido no governo defende abertamente que a Grã-Bretanha abandone a União Europeia, ou que mude radicalmente a relação que tem com a União – o que pode querer dizer quase a mesma coisa – contando com a simpatia de alguns dos líderes da nossa nação e um muito maior apoio do público. A razão para o ressurgimento do cepticismo e hostilidade relativamente à UE não é difícil de sondar. A Europa está em crise. O erro de concepção do euro – uma união económica motivada por razões políticas mas com uma expressão ec... (etc.)

O destino europeu da Grã-Bretanha
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-12-10 | Jornal Público
TEXTO: A Europa tem perturbado e dividido a política britânica durante anos. Mas agora a maioria dos políticos do partido no governo defende abertamente que a Grã-Bretanha abandone a União Europeia, ou que mude radicalmente a relação que tem com a União – o que pode querer dizer quase a mesma coisa – contando com a simpatia de alguns dos líderes da nossa nação e um muito maior apoio do público. A razão para o ressurgimento do cepticismo e hostilidade relativamente à UE não é difícil de sondar. A Europa está em crise. O erro de concepção do euro – uma união económica motivada por razões políticas mas com uma expressão económica – tornou-se evidente. Mudanças estruturais nas economias que experimentaram uma queda abrupta nas taxas de juro quando se uniram a um bloco monetário dominado pela Alemanha devem agora ser feitas rapidamente, em crise, e sem o luxo de uma desvalorização monetária. Com a Europa em crise, é popular ser antieuropeu. Mas a liderança não deve consistir em concessões a políticas de curto prazo. Deve consistir em gerir as políticas de curto prazo, na prossecução da melhor política de longo prazo. Na verdade, hoje em dia a razão de ser da União Europeia é mais forte, e não mais fraca, do que era há 66 anos, quando se iniciou o projecto. Mas é diferente. Nessa altura, a razão de ser era a paz; hoje, é o poder. A China tem uma população três vezes maior do que a da UE e uma economia que acabará por se tornar a maior do mundo. A Índia tem mais de mil milhões de habitantes. A Indonésia tem o triplo da população do maior país europeu e uma série de outros países – incluindo a Rússia, o Brasil, o México, o Vietname, as Filipinas e o Egipto – têm hoje mais habitantes do que qualquer Estado-membro da UE. Isto é crucial, porque, à medida que a tecnologia e o capital se tornam globalmente móveis, irá ocorrer um realinhamento do PIB e da população: quanto maior for a população de um país, maior será a sua economia. Os Estados Unidos permanecem extraordinariamente fortes, sendo o seu exército de longe o maior e o mais bem equipado do mundo, mas o seu estatuto como única superpotência do mundo tornar-se-á insustentável. Este é o cenário global. A questão actual para a UE é que os países-membros, incluindo a Grã-Bretanha, precisam do seu peso de modo a alavancar poder na economia, no comércio, na defesa e na política externa, bem como abordar desafios globais como a mudança climática. A UE dá colectivamente à Grã-Bretanha um peso que esta não possui sozinha. É realmente tão simples como isso: num mundo onde tanto a China como a Índia têm populações 20 vezes maiores que a do Reino Unido, a Grã-Bretanha precisa da UE de modo a perseguir eficazmente o seu interesse nacional. Com a União, pesamos mais; sem ela, pesamos menos. E se queremos participar na Europa, devemos fazê-lo como europeus, o que depende da Grã-Bretanha reconhecer não somente a razão de ser estratégica da Europa, mas também do interesse estratégico da Grã-Bretanha em ser parte da Europa. Por isso já não é suficiente para nós, pró-europeus, clamarmos que só os atávicos Pequenos Ingleses (NdT: Little Englanders no original; termo aplicado aos ingleses que não vêem com bons olhos as influências estrangeiras no seu país) defendem o abandono da União, ou fingirmos que, fora da UE, a Grã-Bretanha colapsaria ou se desintegraria. A Grã-Bretanha poderia ter um futuro fora da Europa. A questão é se deveria tê-lo – e se o abandono seria sensato à luz dos interesses de longo prazo da Grã-Bretanha. Comecemos por demolir uma ilusão, nomeadamente que a Grã-Bretanha poderia ser como a Noruega ou como a Suíça. A Noruega tem uma população de cerca de 4, 9 milhões e um PIB de 485, 8 mil milhões de dólares. Também possui um fundo soberano, actualmente valorizado em mais de 600 mil milhões de dólares e que se prevê que venha a crescer até 1 bilião de dólares em 2020, devido às vastas reservas de petróleo e de gás natural. Se o Reino Unido, com um PIB de 2, 4 biliões de dólares, tivesse um fundo soberano de cerca de 3 biliões de dólares, todos os argumentos mudariam. Mas não tem. E não se pode defender seriamente que a Grã-Bretanha pudesse ser como a Suíça, que é um caso único do ponto de vista político e económico. A Grã-Bretanha fora da UE enfrentaria três desvantagens importantes. Primeiro, perderia o seu papel de liderança global. Não pode haver ilusões a este respeito. Pensarmos que procuraria novas relações com países como a China ou a Índia é rebuscada. Nenhum país subordinaria alguma vez a sua relação com a Europa a uma relação com uma Grã-Bretanha não-europeia. Em segundo lugar, deixar a UE excluiria a Grã-Bretanha do processo de tomada de decisão que determina as regras do mercado único. As empresas britânicas sabem isto, assim como as empresas globais que usam o Reino Unido como base europeia. Finalmente, a Grã-Bretanha perderia a oportunidade de cooperação e de uma força acrescida em temas que lhe interessam – por exemplo, na mudança climática, nas negociações comerciais, na política externa e nas disputas bilaterais – numa altura em que outros aproveitam as oportunidades oferecidas pela integração regional. Desde a Associação das Nações do Sudeste Asiático – que agora conta com cerca de 600 milhões de pessoas e que procura estabelecer um mercado único – até à União Africana e o MERCOSUR e UNASUR da América do Sul, países de todo o mundo agregam-se em blocos regionais. Irá a Grã-Bretanha afastar-se do bloco que está à sua porta?Sejamos claros, também, sobre “renegociar as condições da adesão”. Se a Grã-Bretanha se centrar nos próximos anos não em como ajudar a Europa a recuperar e a prosperar, mas antes em como mudar a sua relação com a Europa, não podem haver dúvidas sobre o temperamento e o sentimento que os nossos actuais parceiros trarão para essa negociação. A Grã-Bretanha não deverá percorrer este caminho se não estiver preparada para percorrê-lo até às últimas consequências. Em 1946, quando a Europa debatia os seus primeiros passos no sentido da integração, Winston Churchill fez o seu famoso discurso clamando por uns Estados Unidos da Europa, que ele acreditava ser o caminho para a paz depois dos horrores da guerra. Ele desejou que o projecto fosse bem-sucedido; mas não pretendia que a Grã-Bretanha fizesse parte dele. Por isso, não fez. Mas a Grã-Bretanha passou as próximas duas décadas tentando unir-se a esse projecto; e quando finalmente o conseguiu, muitas das regras e da infra-estrutura institucional já eram inflexíveis. Não tenho dúvidas de que se pudéssemos ter previsto o futuro em 1946, teríamos querido fazer parte da Europa desde o início. A Europa é um destino que a Grã-Bretanha nunca abraçará facilmente. Mas fazê-lo é essencial para continuar a ser uma potência mundial, política e economicamente. Seria um erro monumental de estadismo virar as nossas costas à Europa e abandonar uma posição crucial de poder e influência no século XXI. Traduzido do inglês por António Chagas/Project Syndicate
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
"Big Brother is listening to you!"
Biliões de comunicações intercetadas, via telefone, correio eletrónico, redes sociais (Facebook, Twitter, ), registo de todas as buscas feitas na Internet. A caixa de Pandora que o fugitivo Edward Snowden abriu não se fecha: hoje sabemos que a agência norteamericana NSA espiou - espia! - pelo menos 35 líderes mundiais (até agora só duas o assumiram: Dilma e Merkel), incluídos os seus mais diretos aliados, as comunicações de centenas de milhões de pessoas, aliados e inimigos, europeus, asiáticos, africanos, americanos. Nas palavras de Jean-Jacques Urvoas, deputado francês responsável pela investigação parlamentar ... (etc.)

"Big Brother is listening to you!"
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-10-31 | Jornal Público
TEXTO: Biliões de comunicações intercetadas, via telefone, correio eletrónico, redes sociais (Facebook, Twitter, ), registo de todas as buscas feitas na Internet. A caixa de Pandora que o fugitivo Edward Snowden abriu não se fecha: hoje sabemos que a agência norteamericana NSA espiou - espia! - pelo menos 35 líderes mundiais (até agora só duas o assumiram: Dilma e Merkel), incluídos os seus mais diretos aliados, as comunicações de centenas de milhões de pessoas, aliados e inimigos, europeus, asiáticos, africanos, americanos. Nas palavras de Jean-Jacques Urvoas, deputado francês responsável pela investigação parlamentar do caso, "os Estados Unidos não têm aliados, mas apenas alvos ou vassalos" (Le Monde, 21. 10. 2013). Uma World Wide Web toda ela ingerida, vigiada, intercetada, contaminada por estratégias de policialização e militarização. Do "Big Brother is watching you" do 1984 de George Orwell, passámos a "o BB ouve o que dizes, compila dados sobre ti, conhece tudo de ti. . . " Como bem recorda Jérémie Zimmermann, "se formos um utilizador-padrão do Google, este sabe com quem nos comunicamos, quem conhecemos, o que investigamos, pode saber das nossas preferências sexuais, religião, crenças filosóficas" (in J. Assange e outros, Cypherpunks: Liberdade e o Futuro da Internet, S. Paulo: Boitempo, 2013). O Big Brother que Orwell encontrou num Estado obsessivo e paranóico não tem por que ser sempre o Estado, muito pelo contrário: "a fronteira entre governo e grupos económicos privados dissolveu-se. (. ) A NSA, que era a maior agência de espionagem do mundo, trabalhava com dez grandes empresas há dez anos", a quem pedia e vendia dados. "Há dois anos, com mais de mil" (Julian Assange, Cypherpunks. . . ). Poder político e poder económico entram na intimidade profissional, cívica, sexual, moral, de jornalistas e ativistas políticos e sociais, de empresários e sindicalistas, de cidadãos comuns cujas ações é preciso antever, dirigir, manipular. Bem pode o diretor da NSA, o general Alexander, papaguear aquilo que puseram Obama a dizer, candidamente, há um mês: tratar-se-ia de "informação que nós e os nossos aliados obtivemos conjuntamente para a proteção dos nossos países e em apoio das nossas operações militares" (El País, 29. 10. 2013). Tretas! Escutam-se islamistas tanto quanto se escuta Merkel ou Dilma; tanto se controla movimentos sociais e partidos políticos, como se faz espionagem industrial/económica; espia-se dirigentes políticos para prever as suas decisões ou para chantageá-los. E é provável que a NSA, com grande cinismo, tenha razão: fazem-no eles como o faz qualquer serviço de informações em todo o mundo (não soubemos de tantos casos em Portugal?), a coberto de nenhuma legalidade (tudo isto é proibido pelo Direito Internacional e em praticamente todas as legislações nacionais) mas invocando razões de segurança, tão típicas do pós-11 de setembro, deste sinistro início de século, quanto o foram dos anos 1930. . . A diferença é que, hoje, Estado e capital dispõem de instrumentos e de tecnologia com que Goebbels e Hitler jamais sonharam!Assange, outro protagonista desta discussão - e que, como Snowden, está a pagar caro o caminho sem regresso que tomou -, ele próprio produto desta nova era histórica que a Internet está a abrir, diz que "o mundo não está a deslizar lentamente, mas, pelo contrário, galopa na direção de uma nova distopia transnacional. Este processo ainda não foi corretamente percecionado fora da comunidade dos serviços de informação. O segredo, a complexidade e a escala dele esconde-o. A Internet, o nosso maior instrumento de emancipação, foi transformada no mais perigoso facilitador de totalitarismo que vimos até agora. (. ) Em poucos anos a civilização global será uma distopia de vigilância pósmoderna, da qual poderão escapar apenas os mais bem equipados" para lhe resistirem. "De facto, esse pode ser já o nosso tempo" (Assange, Cypherpunks. . . ). Quanto mais tempo deixaremos passar até repensarmos todas as nossas conceções, hoje tornadas ingénuas e patéticas, sobre o que é a democracia, que à maioria de nós se disse ser o que corresponde ao sistema político e social em que vivemos, sobretudo quando gerido por ocidentais, (quase todos) brancos e mercadófilos, apesar de ir acumulando razões para perceber que dos seus pilares pouco resta? 70 anos a fazer do elogio da democracia americana a base para o combate ao totalitarismo (o soviético, o chinês, o cubano), a tudo aquilo que cheirasse a Revolução, a Estado ou a propriedade socializada, em nome de uma primazia do indivíduo (vê-se. . . ) - e quando é que os neoliberais e neoconservadores deste mundo nos explicam como é que o Big Brother do Orwell, afinal, já não tem o vulto de Estaline mas de Bush ou de Obama?, e não atua em nome de uma ideologia descrita como coletivista mas sim de um banal securitarismo do Pentágono e da galáxia de agências e empresas que fazem dos EUA a maior potência militar e económica do planeta? Que nome tem o sistema que vigora no país da hipervigilância e dos drones não pilotados, em que se prende e tortura suspeitos de tudo e de nada sem acusação formada e se os encerra indefinidamente num território (Guantánamo) onde se não aplica sequer a lei norteamericana?Historiador. Escreve quinzenalmente à quinta-feira
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Romances finalistas do Man Booker Prize vão estar disponíveis de forma gratuita na internet
Todos os romances finalistas do Man Booker Prize, o galardão literário mais conhecido do Reino Unido, estarão em breve disponíveis gratuitamente na Internet, anunciou o presidente da fundação que atribui o prémio, Jonathan Taylor. Para concretizar o projecto estão a decorrer negociações com o British Council, organismo para a promoção da cultura britânica no exterior, e as editoras dos autores envolvidos, que já estão em fase avançada, segundo o responsável. A ideia é digitalizar os romances finalistas para que possam ter acesso a eles através da Internet sobretudo leitores de países asiáticos e africanos. Segund... (etc.)

Romances finalistas do Man Booker Prize vão estar disponíveis de forma gratuita na internet
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.4
DATA: 2007-10-21 | Jornal Público
TEXTO: Todos os romances finalistas do Man Booker Prize, o galardão literário mais conhecido do Reino Unido, estarão em breve disponíveis gratuitamente na Internet, anunciou o presidente da fundação que atribui o prémio, Jonathan Taylor. Para concretizar o projecto estão a decorrer negociações com o British Council, organismo para a promoção da cultura britânica no exterior, e as editoras dos autores envolvidos, que já estão em fase avançada, segundo o responsável. A ideia é digitalizar os romances finalistas para que possam ter acesso a eles através da Internet sobretudo leitores de países asiáticos e africanos. Segundo o diário britânico The Times, pensa-se que os eventuais "downloads" dos livros da Internet não terão um grande impacto nas vendas e que é possível que se algum dos textos agradar aos utilizadores da Internet, estes decidam comprar o volume impresso. Na opinião de Robin Robertson, director-adjunto da editora Jonathan Cape, o projecto tem algumas semelhanças com a última experiência da banda britânica Radiohead, que ofereceu aos seus fãs a possibilidade de descarregar da Internet o seu mais recente álbum, "Rainbows", por uma quantia deixada ao critério de cada um. A maioria dos que aproveitaram a oportunidade pagou o equivalente a seis euros pelo "download", apesar de haver quem diga que pagou dez vezes mais. Do último prémio Man Booker, anunciado terça-feira, o romance "The Gathering", da romancista irlandesa Anne Enright, venderam-se menos de 4. 000 exemplares, de acordo com um estudo da Nielsen Bookscan, apesar de a editora ter divulgado um número muito mais elevado: 30 mil exemplares, incluindo as vendas na Europa. O facto de ter ganho o Man Booker Prize pode multiplicar por quatro as vendas da obra premiada.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura estudo
Afinal, o Nobel James Watson tem genes negros
Afinal, a análise dos A-T-C-G de James Watson, as quatro letras do alfabeto genético com que se constrói a molécula de ADN de todos os seres vivos, revela que 16 por cento dos genes do cientista norte-americano são de origem negra, um valor 16 vezes acima da média dos europeus brancos. Um desfecho irónico, depois da polémica em que Watson esteve envolvido em Outubro, por ter afirmado a um jornal britânico que os negros são menos inteligentes do que os brancos. Watson tinha dado uma amostra de sangue para que a empresa 454 Life Sciences e o Centro de Sequenciação do Genoma Humano, ambos nos EUA, pudessem descodifi... (etc.)

Afinal, o Nobel James Watson tem genes negros
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento -0.16
DATA: 2007-12-13 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20071213035024/http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1313433
TEXTO: Afinal, a análise dos A-T-C-G de James Watson, as quatro letras do alfabeto genético com que se constrói a molécula de ADN de todos os seres vivos, revela que 16 por cento dos genes do cientista norte-americano são de origem negra, um valor 16 vezes acima da média dos europeus brancos. Um desfecho irónico, depois da polémica em que Watson esteve envolvido em Outubro, por ter afirmado a um jornal britânico que os negros são menos inteligentes do que os brancos. Watson tinha dado uma amostra de sangue para que a empresa 454 Life Sciences e o Centro de Sequenciação do Genoma Humano, ambos nos EUA, pudessem descodificar-lhe a sequência do ADN. Cada um de nós possui a sua própria sequência dos 3000 milhões de pares de letras com que se constrói um ser humano. Em Maio deste ano, Watson, um dos premiados com o Nobel da Medicina de 1962, por ter descoberto a estrutura da molécula de ADN, recebeu a sua sequência de A-T-C-G e, tal como tinha prometido, tornou públicos os dados, na Internet. A partir daí, outra empresa, a DeCODE Genetics, da Islândia, avançou para a análise dos genes do cientista. Esse estudo mostrou que terá herdado 16 por cento dos genes de um antepassado africano, enquanto a maioria dos europeus brancos não tem mais de um por cento de tais genes, relatam os jornais britânicos The Independent e The Sunday Times. "Este valor é o que se esperaria para quem tem um bisavô africano", disse Kari Stefansson, líder da DeCODE, citado nestes jornais. "Foi muito surpreendente. "A análise do genoma de Watson revelou ainda que outros nove por cento dos seus genes serão oriundos de um antepassado asiático. Fez-se também uma lista das doenças a que o cientista é mais susceptível, como a diabetes de tipo 2, esclerose múltipla, artrite reumatóide ou obesidade. Pelos seus comentários racistas, Watson recebeu uma chuva de críticas. Mesmo os cientistas a trabalhar em Biologia Molecular distanciaram--se das suas afirmações, dizendo que não existe qualquer ligação entre os genes envolvidos na cor da pele e os relacionados com as funções intelectuais e que nem se conhecem as bases genéticas da inteligência. A polémica levou o cientista, de 79 anos, a pedir desculpa, mas o desfecho, ainda em Outubro, foi a sua a demissão do conselho de administração do Laboratório de Cold Spring Harbor, nos EUA, onde trabalhou mais de 40 anos.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
A China comuno-capitalista está a começar a dominar o mundo do vinho
Não é uma premonição, é uma certeza: a China está prestes a dominar o mundo do vinho. No futuro, os nossos filhos também vão beber vinho chinês e não será necessariamente vinho barato. (...)

A China comuno-capitalista está a começar a dominar o mundo do vinho
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Não é uma premonição, é uma certeza: a China está prestes a dominar o mundo do vinho. No futuro, os nossos filhos também vão beber vinho chinês e não será necessariamente vinho barato.
TEXTO: Pela primeira vez em 25 anos, o Concurso Mundial de Bruxelas, uma das maiores e mais importantes competições de vinhos do mundo, foi realizado na China, no distrito de Haidian, em Pequim, num resort de luxo construído para os Jogos Olímpicos de 2008 e que logo a seguir fechou por ser grande de mais — como é tudo naquele país. Reabriu agora para receber a multitudinária comitiva do concurso. Nos próximos dias, volta a fechar, até o Estado chinês necessitar dele novamente. Em geral, os chineses, tirando os empresários que têm vindo a comprar as nossas empresas públicas, sabem muito pouco ou nada sobre nós. Mas nós ainda sabemos menos sobre eles e a sua milenar e riquíssima cultura. Entender a China e os chineses requer viver lá durante muito tempo — e ainda assim não será suficiente. De uma estadia curta numa cidade gigantesca como Pequim, onde vivem cerca de 18 milhões de pessoas, na maior parte dos dias sob um manto de poluição que pouco deixa ver, o que sobra são meras impressões. Além do meu espanto perante o gigantismo da Grande Muralha, da imponência e beleza da Cidade Proibida ou da majestosa serenidade do Palácio de Verão; além da minha admiração com os modos educados e a cultura das novas gerações de chineses ou com a sensação de segurança que se vive nos lugares públicos a qualquer hora do dia, o que mais me impressionou foram os rostos de muitos chineses em visita turística aos grandes ícones da pátria. O turismo interno é um dos mais fascinantes fenómenos da China actual. Em 2017, cada chinês fez, em média, 3, 7 viagens dentro do país. Ao todo, foram cinco mil milhões de deslocações turísticas internas que geraram uma receita de 587 mil milhões de euros. Muitos dos idosos com quem me cruzei nestes dias em alguns monumentos de Pequim tinham cara de ser do interior chinês. Como espaço físico e psicológico, o “interior” é mais ou menos igual em todo o mundo. É uma espécie de Macondo, de Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Marquéz. Uma “ilha”, mesmo que rodeada de terra firme. Para lá dessa “ilha”, fica o mundo desconhecido. Nem os traços étnicos chegam para apagar essa surpreendente similitude de semblantes e de modos de agir das gentes do interior. Somos todos mais iguais do que imaginamos. Quem é ou viveu no interior imagina o que escondem aqueles rostos e aquelas roupas velhas que foram guardadas para os momentos especiais. Escondem uma forma particular de encarar a vida e o destino. Um viver rotineiro e conformado. Uma mundividência limitada ao lugar habitado e aos ciclos da natureza. E muito trabalho e fome, até. Nos rostos dos idosos do interior chinês vi os rostos marcados dos idosos do velho Portugal que era o meu Portugal. Homens com fatos maiores do que o corpo e com camisolas de gola alta apesar do calor, mulheres com roupas extraordinariamente parecidas às que usavam as nossas mães há 50 anos, gente sempre a sorrir e com cara de pasmo perante o novo e a grandiosidade de tudo, como crianças em viagem inaugural. A imagem de dois idosos em passeio pelos jardins do Palácio de Verão, com o mais novo de mão nas costas do mais velho, numa emocionante comunhão de dois familiares ou de dois meros amigos, podia ter sido retirada de uma qualquer excursão de transmontanos a Lisboa ou ao Porto, para verem os palácios ou o mar. O “comunismo” chinês dos dois sistemas (uso as aspas porque não é possível chamar comunismo a um modelo que assenta em princípios do mais puro capitalismo) tem permitido aos pobres e oprimidos gozar os prazeres criados pelo “capital” e frequentar os mesmos lugares públicos que frequentam os ricos e os turistas. Imagino que a China ainda esconda mais do que mostre e que a verdadeira realidade seja bem menos azul do que aparenta, mas o que vemos não é um povo com medo, nem muito menos um país policial. É um país ainda desigual, mas com um povo espantado com as mudanças do seu próprio país e ávido de alargar os seus horizontes para além da China “pequena”, faminta e oprimida saída da Revolução Cultural de Mao Tsé Tung. Um país fascinado com a cultura ocidental mas que continua a preferir o chá e o Baijiu (o mais famoso destilado da China, que pode ser feito de sorgo, arroz, trigo ou cevada) ao vinho. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Como em tudo na China, também no vinho se deve colocar a questão em perspectiva. No ranking mundial do consumo per capita de vinho, dominado pelos portugueses, os chineses estão apenas no 36. º lugar, com 1, 34 litros por habitante. Parece pouco, comparado com os 54 litros que cada português bebe anualmente. Mas nós somos 10 milhões e os chineses são 1400 milhões. Tudo somado, o pouco que cada chinês bebe dá muito vinho. É por isso que os produtores de todo o mundo continuam a depositar os seus sonhos no gigantesco mercado chinês. Em 2020, a China deverá tornar-se no segundo mercado de vinho mais valioso do mundo (logo a seguir aos Estados Unidos), com um volume de negócios da ordem dos 21, 7 biliões de dólares. Bordéus, por exemplo, já depende da China. No entanto, talvez seja também avisado começarem a olhar para a China como um possível pesadelo futuro. A China possui a segunda maior área de vinha do mundo e já é o quinto maior produtor de vinho. Nenhum outro país tem crescido tanto e tão rápido. Agora ainda é um grande país importador, mas consome cada vez mais vinho nacional e dentro de poucos anos vai estar também a disputar o mercado da exportação. Antecipando-se à mudança, as grandes companhias de vinho de todo o mundo começam também a produzir vinho na China. Não é uma premonição, é uma certeza: a China está prestes a dominar o mundo do vinho. No futuro, os nossos filhos também vão beber vinho chinês e não será necessariamente vinho barato. O grupo de luxo Louis Vuitton- Moët Hennessy já produz vinho na província chinesa de Yuannan, perto do Tibete, onde o clima é mais favorável. No ano passado lançou o seu primeiro tinto, o Ao Yun, de 2013, um lote de Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc. Sabe a quanto o vende na Europa e nos Estados Unidos? A 250 euros. E nem sequer é o vinho mais caro da China. Acredite, que é verdade.
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Palavras-chave homens cultura fome consumo medo espécie mulheres corpo chinês
Ainda poderá nascer um terceiro bebé geneticamente editado
Cientista chinês defendeu esta quarta-feira a experiência que terá resultado no nascimento dos dois primeiros bebés geneticamente editados, com uma manipulação que pretende conferir resistência à infecção por VIH. Assumidamente orgulhoso, anunciou que, além das gémeas Lulu e Nana, há uma outra gravidez que poderá trazer um terceiro bebé. (...)

Ainda poderá nascer um terceiro bebé geneticamente editado
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Cientista chinês defendeu esta quarta-feira a experiência que terá resultado no nascimento dos dois primeiros bebés geneticamente editados, com uma manipulação que pretende conferir resistência à infecção por VIH. Assumidamente orgulhoso, anunciou que, além das gémeas Lulu e Nana, há uma outra gravidez que poderá trazer um terceiro bebé.
TEXTO: Quem esperava esta quarta-feira saber todos os pormenores da experiência que terá sido levada a cabo pelo cientista chinês He Jiankui, que reclama ter ajudado a conceber os primeiros dois bebés, duas gémeas, geneticamente editados e que nasceram este mês, só pode estar frustrado. O pouco que He Jiankui adiantou na conferência internacional sobre edição genética, que decorre em Hong Kong, só serviu para deixar a comunidade científica (e não só) ainda mais confusa. Na plateia, enquanto o orgulhoso cientista defendia o seu trabalho com um discurso aparentemente ingénuo, havia quem acabasse por assumir que se sentiu fisicamente maldisposto com a apresentação. No palco, aguardado com enorme expectativa, He Jiankui só pediu desculpa por uma coisa: pela fuga de informação dos resultados da sua experiência antes da revisão por pares, especialistas da área capazes de escrutinar e validar os dados apresentados. Mas, na verdade, os pormenores do trabalho do cientista ainda não foram divulgados. Nem vão ser, segundo adiantou, revelando que só o fará quando a revista científica (não disse qual) a que submeteu o artigo para publicação o fizer. Assim, o que He Jiankui disse esta quarta-feira é basicamente o mesmo que sabíamos no início desta semana quando explodiu a polémica, juntando-se “apenas” o anúncio de um possível terceiro bebé editado a caminho, o resultado de uma gravidez que estará ainda na fase inicial. Na sua versão, nasceram este mês dois bebés, duas gémeas a que chama Lulu e Nana, que foram submetidas a uma edição genética que pretende torná-las resistentes à infecção pelo vírus do VIH. Para executar a tarefa, o cientista terá usado uma técnica chamada CRISPR-Cas9 que permite um jogo de “corta e cola” de genes. A ser verdade, será a primeira vez que embriões editados nascem no mundo. Até agora, as raras experiências neste campo envolvem apenas embriões que não são viáveis ou que são destruídos. A experiência começou por envolver oito casais (mas prosseguiu com sete após a desistência de um deles) e incluía homens com VIH e mulheres que não estavam infectadas pelo vírus que queriam recorrer a fertilização in vitro. Um total de 31 embriões foi abrangido no procedimento, sendo que 70% foram efectivamente editados. Já este ano, um dos casais “engravidou”. He Jiankui recusa fornecer detalhes que permitam identificar as pessoas envolvidas mas assegura que as bebés “são saudáveis”. Aliás, esta quarta-feira durante a conferência, disse ainda que o procedimento não terá provocado nenhum efeito fora do alvo [no genoma] pretendido. O risco de modificações no genoma off-target é um dos maiores receios da comunidade científica. Isso e possíveis efeitos colaterais que uma modificação no genoma pode provocar. Neste caso, He Jiankui refere que “silenciou” um gene que produz uma proteína que serve de “porta de entrada” para o vírus do VIH no ser humano. Trata-se de uma mutação que algumas pessoas têm (mais no Norte da Europa e que curiosamente não existirá na população da China) e que as torna resistentes à infecção por VIH. Tentar “silenciar” este gene num adulto com VIH já poderia ser discutível para algumas pessoas, sobretudo se tivermos em conta que os tratamentos hoje prolongam consideravelmente a vida destes doentes. Mas fazê-lo num embrião como o cientista chinês alega ter feito e tornar possível que esta “alteração” passe para futuras gerações, é ainda mais questionável. Os especialistas que já arriscaram comentar a hipótese da experiência de He Jiankui avisam ainda que as gémeas podem vir a desenvolver outro tipo de problemas. Por um lado, a manipulação pode não ter “alterado” todas as cópias do gene, e os bebés terão algumas cópias alteradas e outras não, o que não lhes garante a desejada resistência. Por outro, e embora existam pessoas aparentemente saudáveis com uma mutação (natural) neste gene, alterações neste gene têm sido associadas a uma vulnerabilidade para outras doenças como a febre do Nilo ou a encefalite japonesa. Mas mais do que as consequências (a ser verdade, os bebés estão aí e deverão ser cuidadosamente acompanhados durante toda a vida), questionam-se as motivações deste trabalho. Os cientistas ainda não tinham conseguido convencer(-se) sobre o resultado da difícil equação que coloca riscos e benefícios lado a lado para tratar de doenças herdadas e incuráveis, e He Jiankui apareceu no palco mundial com o carro muito à frente dos bois. Porque o plano do cientista chinês não teve como objectivo curar uma doença ou corrigir algum tipo de erro genético no embrião, mas apenas conferir uma vantagem em relação a outros bebés, tornando-os supostamente resistentes a uma infecção por VIH. E se até aqui a história já era capaz de arrepiar o mais liberal dos geneticistas, ainda há mais. Esta quarta-feira, na conferência internacional, o cientista chinês terá sido confrontado com várias questões e críticas, às quais foi respondendo de forma evasiva e com um discurso de uma ingenuidade pouco credível. Citada pela CNN, Jennifer Doudna, uma das responsáveis pela invenção desta ferramenta de edição genética, admitiu ter ficado “fisicamente maldisposta” durante a apresentação. David Baltimore, prémio Nobel da Medicina em 1975, também estava na plateia e também terá confessado aos jornalistas que teve de tomar um antiácido para suportar a sessão. He Jiankui ainda tentou reparar danos e disse, por exemplo, que era contra o uso da edição genética para melhorar características do ser humano (como a inteligência ou a cor dos olhos). Mas depois descarrilou. “Sinto-me orgulhoso. Sinto-me orgulhoso porque o pai [das gémeas] já tinha perdido a esperança. Não se trata de ‘desenhar bebés’, só uma criança saudável”, justificou. Quando David Liu, da Universidade de Harvard (EUA), um dos principais responsáveis pela ferramenta de edição do genoma, o criticou durante a conferência por realizar uma experiência que não abordava uma “necessidade médica não atendida” (o HIV é evitável e tratável), He Jiankui argumentou que o pai seropositivo das gémeas desejava que a técnica lhe permitisse ter filhos que ficariam eternamente imunes ao VIH e que este vírus assume preocupantes contornos na China. Durante uma grande parte da palestra, o cientista chinês que tem poucos artigos publicados na área da edição genética falou sobre experiências anteriores realizadas com ratinhos e macacos e embriões humanos inviáveis. Terá sido nesse contexto que percebeu que como a edição do genoma era mais eficiente quando feita perto do momento da fertilização. Ele, portanto, entregou a ferramenta de edição de genoma CRISPR-Cas9 via micro-injecção, juntamente com o espermatozóide usado para fertilizar um óvulo. Foram necessárias muitas injecções para garantir que a maioria das células contivesse a edição do ADN. “Depois de ouvir o Dr. He, só posso concluir que tudo isto foi malconduzido, prematuro, desnecessário e em grande parte inútil”, disse a bioeticista Alta Charo, da Universidade de Wisconsin, membro da comissão da organização da conferência internacional. Ainda que orgulhoso, He Jiankui avisou que vai fazer uma pausa no trabalho tendo em conta o que aconteceu esta semana. Mas há coisas que não dá para colocar em pausa. Como a gravidez que estará ainda numa fase inicial e que poderá resultar no nascimento do terceiro bebé geneticamente editado, segundo anunciou. Disse ainda que todos os casais assinaram um consentimento informado, adiantando que lhes explicou todo o projecto “linha por linha”. E aqui abriu-se mais uma frente para críticas, uma vez que este tipo de autorização deve ser mediado por uma pessoa independente e nunca por alguém (tão) envolvido no projecto. Por fim, confirmou que a Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul da China, em Shenzen, a que pertence (e que publicou uma declaração considerando que aquele trabalho constitui uma “grave violação da ética e dos padrões académicos), não tinha conhecimento da experiência. He Jiankui terá pedido uma licença por três anos em Fevereiro. Esta é a versão de He Jiankui que, diga-se de passagem, já estava a ser preparada há várias semanas. Sabe-se agora que o cientista terá contratado uma empresa de comunicação e relações públicas para gerir todo o processo da divulgação do que antecipou (e bem) como uma bomba. Os vários vídeos (o primeiro da série tem mais de 200 mil visualizações) com um tom quase “promocional” que publicou no último domingo no YouTube sobre o trabalho no seu laboratório estavam prontos há algum tempo. Nos filmes curtos (em inglês) evita a expressão “edição genética” que substitui por “cirurgia genética”, apresenta a CRISPR-cas9 como um “tecnologia para curar” considerando que a sua experiência “cura uma família inteira” e diz estar consciente das inevitáveis críticas à experiência, mas também afirma estar disposto a lidar com elas “pelas famílias”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Fala de Lulu e Nana e chama aos pais dos bebés Grace e Mark (nomes fictícios). Lembra que também houve pânico com Louise Brown, a primeira bebé que nasceu após fertilização in vitro. Por fim, diz às pessoas que se quiserem lhe podem escrever um email (fornecendo os endereços). A ele ou a Lulu e Nana. A reportagem combinada com a Associated Press, que incluía uma entrevista ao cientista e visita ao seu laboratório, seria lançada no dia da conferência mas acabou por sair na segunda-feira. Um dia depois de António Regalado, editor na área de biomedicina da revista MIT Technology Review, publicar o artigo (este sim, o primeiro sobre o tema) com o título “Cientistas chineses estão a criar bebés CRISPR”. António Regalado acabou por actualizar o artigo mais tarde mas na versão final ainda refere que contactou o cientista chinês que não lhe respondeu a nenhuma questão. Na notícia, fazia referência (com link) a um pedido de ensaio clínico que terá dado entrada no registo nacional chinês a 8 de Novembro, apresentado por He Jiankui. Aconteça o que acontecer, o alegado nascimento de duas crianças geneticamente editadas na China vai ficar irremediavelmente na história da ciência. Quer seja por se concluir que foi uma fraude sem precedentes, por se revelar eventualmente um fracasso desta recente tecnologia se tiver mesmo sido concretizado ou, se a versão do cientista chinês He Jiankui se confirmar e a experiência tiver sido um sucesso, o seu nome ficará sempre associado a uma precipitada e arriscada ultrapassagem das orientações internacionais. Há várias investigações já em curso. Apesar de ter meticulosamente preparado o anúncio da sua experiência ao mundo, He Jiankui pode sair do palco das atenções mundiais não como um brilhante cientista mas como um péssimo exemplo que prestou um mau serviço à ciência, à medicina e à sociedade em geral. Ainda assim, mesmo os maiores opositores deste projecto devem estar, secretamente, a desejar o seu sucesso. Isto porque o fracasso do cientista chinês pode significar o fracasso de todo um campo de investigação e traduzir-se num retrocesso implacável, com cortes de financiamento para novas experiências, a desacreditação da opinião pública, entre outros prejuízos. Em 2017 o próprio He Jiankui avisou, durante uma conferência, que se o primeiro bebé CRISPR a nascer não fosse saudável seria um desastre. “Devemos fazer isto devagar e cautelosamente porque um único falhanço pode matar toda a área de investigação”, disse. Apesar disso, avançou. E agora não é possível sequer dizer que as únicas pessoas a ganhar com isto tudo foram Lulu e Nana. Porque ainda não o sabemos.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA