O Paço lento de onde veio a independência
D. João II podia ter ficado em Vila Viçosa a tocar órgão e a olhar para as suas porcelanas chinesas, mas a 1 de Dezembro de 1640 seguiu o ímpeto da revolução. 378 anos depois da Restauração da Independência, voltamos à terra crescida em volta do Paço Ducal, onde os habitantes querem construir museus e bibliotecas. (...)

O Paço lento de onde veio a independência
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 5 | Sentimento -0.30
DATA: 2018-12-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: D. João II podia ter ficado em Vila Viçosa a tocar órgão e a olhar para as suas porcelanas chinesas, mas a 1 de Dezembro de 1640 seguiu o ímpeto da revolução. 378 anos depois da Restauração da Independência, voltamos à terra crescida em volta do Paço Ducal, onde os habitantes querem construir museus e bibliotecas.
TEXTO: A riqueza está toda nos salões. Cómodas do século XVII, o dourado de um cadeirão Rocaille, tapeçaria persa e de Arraiolos, porcelana chinesa, peças raras do Japão, São Francisco Xavier a segurar um coração com a mão esquerda, as pinturas a óleo do rei D. Carlos, a colecção de cristais. Tudo visto na penumbra natural do Outono, antes que o sol acabe de descer, já que não há luz eléctrica no Paço Ducal de Vila Viçosa (cabos brancos sobre frescos do século XVI não ficariam bem). “O espaço mais animado” da casa é, no entanto, a cozinha, confirma Tiago Salgueiro, técnico superior da Fundação da Casa de Bragança, que gere o espaço. Era aqui que perto de 40 trabalhadores levantavam recipientes de cobre para aquecer a água dos banhos, esmagavam alho com a ajuda de um grande almofariz e fabricavam em enormes tachos as ceias faustosas dos anos de 1500 em diante. Saíam sopas de cevadinha, leitões assados, foie gras, capões com arroz, pão-de-ló e madalenas. As cebolas vinham dos três hectares da Horta do Reguengo (cultivada até aos anos 60 do século passado) e as carnes das manhãs e tardes de caça na Tapada Real, onde consta que ainda hoje correm veados e gamos. Mas não era a cozinha que os duques de Bragança queriam mostrar aos visitantes. Quando um membro da corte espanhola – ou um embaixador japonês – chegava com as suas calças abaixo do joelho a Vila Viçosa, a fachada maneirista de 110 metros, toda em mármore – “o maior exemplar da arquitectura civil do nosso país” – tratava de exclamar: “Reparem onde está o poder!” “O que eles sempre tentaram fazer, através de uma lógica de influência política, foi, pelas pinturas murais e a riqueza da decoração, mostrar aos convidados e à própria corte que estava em Lisboa que o duque de Bragança era uma figura de peso no panorama ibérico e até europeu”, concretiza o nosso guia. O “peso” veio a confirmar-se em 1640, com a subida do duque D. João II ao trono (tornando-se, então, D. João IV) e a Restauração da Independência depois de 60 anos de domínio filipino (embora a soberania portuguesa apenas tenha sido oficialmente reconhecida em 1668). No século XVII, não havia outra família que não a de Bragança com estatuto para fazer frente ao poder espanhol. E, além do cultivo das artes, é a tal “estratégia de encenação do poder”, na expressão de Tiago Salgueiro, que se desdobra numa visita ao passado erudito do Paço Ducal, onde cerca de 350 pessoas prestavam serviços, “num ritual muito semelhante ao da corte real em Lisboa”. Para percorrer todo o Paço – contando com a Armaria, o Tesouro, o Museu de Carruagens e a Colecção de Porcelanas (há ainda os museus de Caça e de Arqueologia no Castelo de Vila Viçosa) – é preciso um dia inteiro. Já a visita mais curta, no Andar Nobre, dura cerca de 45 minutos. Não é fácil humanizar uma casa que vive dos mortos, mas há um esforço por parte de quem nos guia em tornar figuras como D. Jaime, o construtor do Paço; D. João II, o primeiro duque a tornar-se rei; ou D. Manuel II, o bibliófilo que sucumbiu à implantação da República, homens com mágoa, que faziam a barba e liam poesia. D. Jaime, por exemplo, seria um sujeito melancólico que, apesar de bastante mais velho, casara com Dona Leonor de Mendonça. Talvez enquanto o duque caçava ou admirava o seu novo palácio, Leonor tenha encetado uma troca de sinais com António Alcoforado, um jovem pajem do Paço. Começaram as suspeitas. “Numa noite, o duque colocou dois guardas no jardim, que observaram a subida de António Alcoforado para a câmara de Dona Leonor. O duque sentiu a sua honra manchada e acabou por, ele próprio, à frente dos filhos, matar a duquesa, e mandou um escravo negro executar António Alcoforado na cozinha”, confessando mais tarde o crime às autoridades, como relata Tiago Salgueiro. Hoje, o “quarto do adultério” é conhecido como a Sala Dourada ou a Sala da Duquesa, mas, de porta em porta, “é difícil fazer uma leitura objectiva de como seria o edifício original, porque ao longo destes mais de 500 anos houve várias modificações”. As linhas douradas dos aposentos de Dona Ana de Velasco, por exemplo, poderão ter dado lugar, um dia, ao gabinete de trabalho e sala de estudo de um dos duques. Mas é a Sala da Restauração “a mais importante do ponto de vista simbólico”, com o bigode rijo de D. João II a pairar sobre nós. A partir de 1630, tinha o jovem João 26 anos e andava ocupado a engrandecer a sua biblioteca musical, as atenções começaram a concentrar-se sobre ele. Portugal era há 50 anos governado pelos espanhóis e “havia um descontentamento generalizado, com o aumento dos impostos, crises de fome, crises na produção de cereais”, etc. Criou-se o Movimento dos Conjurados e, um dia, um emissário foi falar com o duque, que estava a caçar na Tapada Real. “A proposta foi: ‘Senhor D. João, oitavo duque, descendente directo de D. Manuel I, nós queremos voltar a ser independentes e o senhor é a pessoa certa para liderar este movimento de rebelião’”, recria o contador de histórias Tiago Salgueiro. Existem dúvidas entre os historiadores sobre a postura que o duque terá assumido – se aceitou a aventura de imediato ou se se deixou travar pelo medo. “Houve quem dissesse que preferia ficar em Vila Viçosa, a tocar órgão e a caçar na Tapada”, diz o antropólogo de formação, que prefere, no entanto, a visão mais romântica e feminista do episódio. “Conta-se que o duque terá chegado com o seu séquito a esta sala [da Restauração], onde se encontrava a sua esposa, Dona Luísa de Gusmão, a quem terá pedido uma opinião. E ela ter-lhe-á dito que preferia ser rainha uma hora do que duquesa para toda a vida. ” A história não-confirmada, mas em que todos gostam de acreditar, ainda hoje circula por Vila Viçosa. Era o que todos desejavam, desde 1501, mas, com a subida do oitavo duque ao trono, “o Paço Ducal de Vila Viçosa perdeu um pouco do seu brilho”. Quase todo o recheio artístico foi levado, em 300 carruagens, para o Paço da Ribeira, em Lisboa – Dona Luísa de Gusmão deveria estar radiante com isso – e uma grande parte acabou por se perder em 1755, o ano do terramoto. Ainda assim, mais do que os bens, a erudição foi algo de transversal ao ducado e essa atmosfera ainda hoje embala o passeio pela casa. É como se os tubos de um órgão nos amparassem lá de cima e passassem por nós vestidos fartos a ler o Renascimento em voz alta. Começou com D. Jaime I, que se inspirou nas influências de Parma e Florença trazendo para Portugal “uma arte de finura, elegância e voluptuosidade”, tal como o historiador de arte Adriano de Gusmão descreveu o Maneirismo; e foi até D. Manuel II, criador de uma biblioteca rara que começou para estudar a expulsão dos judeus e se estendeu numa das colecções mais valiosas de livros quinhentistas e seiscentistas, de que fazem parte a primeira edição de Os Lusíadas, de Luís de Camões, ou um exemplar de Vita Christi, de Ludolfo da Saxônia (que durante muito tempo se pensou ter sido o primeiro livro impresso em língua portuguesa). Estes são os livros “reservados”, que podem ser consultados mediante um pedido à administração da Fundação da Casa de Bragança, mas à disposição do comum leitor está um acervo de 50 mil publicações. Nas bases desta “formação humanista muito sólida” dos duques de Bragança está também a forma como eles viam o mundo. Quase 500 anos antes daquilo a que chamamos de globalização, arranjaram maneira de construir a sua Internet pós-medieval. “Havia emissários espalhados pela Europa que iam enviando todas as inovações do ponto de vista literário, militar, cultural, político. Os duques raramente saíam deste território mas tinham uma percepção exacta daquilo que acontecia lá fora. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Nunca deixando para trás o trabalho dos seus ascendentes, construíram uma escola dedicada à pintura mural – “a arte a fresco teve grande influência não só no Paço, mas também em vários conventos e casas particulares” de Vila Viçosa; e criaram o Colégio dos Reis Magos, “que preparava os músicos para as cerimónias litúrgicas na capela”, onde ainda hoje a acontecem recitais de música clássica. “Chegou a ponderar-se construir uma universidade no Convento dos Agostinhos”, mesmo em frente ao edifício do Paço, acrescenta Tiago Salgueiro. Se tudo isto era encenação? Não. Tudo isto era real. Noémia, Maria do Carmo e Hugo estão em diferentes pontos do mapa, preocupados com a vida da vila. Noémia Serrano é vice-presidente da Associação Amigos de Vila Viçosa (AAVV), que detém o segundo maior espólio relacionado com a poeta local Florbela Espanca, mas não tem um espaço para mostrá-lo ao público. Maria do Carmo Peixeiro veio há um ano para o Alentejo e está a projectar uma biblioteca, porque acha impossível a vila não ter nenhuma que seja pública (existem a do Paço Ducal e o arquivo do Centro de Estudos de Cultura, História, Artes e Património de Vila Viçosa, de cariz essencialmente documental). Hugo Queimado vê uma terra “muito bonita e cuidada, mas mal explorada”, por isso, depois de ter aberto uma destilaria e uma hamburgaria artesanal com marcas próprias de cerveja e de gin, tem-se encontrado com produtores locais – da apicultura aos pomares – para traçar um roteiro turístico que una a vida do campo à da vila. Passeia-se pelo centro e nada está fora do sítio. Na Pastelaria Azul, do lado certo da avenida para que o sol bata na esplanada, Maria Eugénia Brito Silva faz as tibornas, “a especialidade da terra” à base de chila, amêndoa e doce de ovos; na Taverna dos Conjurados, não tarda muito para que Manuel Camarinhas comece a servir o borreguinho com alecrim e o queijinho alentejano; e no Museu do Mármore, o mais visitado da vila (não fosse a beleza das pedreiras – como a que ficou conhecida a 19 de Novembro pelas piores razões, depois do desabamento da N255, que liga Vila Viçosa a Borba – um dos motivos de visita a esta parte do Alentejo), Natália Fontainhas explica como toda esta zona era um mar antes de ser pedra. Com o Outono a entrar-lhes pelas camisolas, há homens a podar as laranjeiras e mulheres a varrer a avenida principal, de nome Bento de Jesus Caraça, o matemático calipolense que gerava polémica com os seus discursos de índole marxista e que tem uma casa-museu em sua homenagem. Uma casa para Florbela?As prioridades da Câmara Municipal têm sido à volta da vontade de que Vila Viçosa seja considerada Património Mundial da UNESCO (o processo começou em 2001 e apenas há dois anos a vila entrou na Lista Indicativa de Portugal) e “na limpeza e arranjos urbanísticos”, afirma o vice-presidente, Luís Nascimento. Mas, para lá do Paço Ducal, onde chega a grande maioria dos turistas – uma média de 500 a 600 nos meses de Verão –, os calipolenses sentem que podia haver mais, e que se reflicta na vida cá fora. “Precisamos terrivelmente de uma biblioteca e de um espaço dedicado à cultura”, afirma Noémia Serrano, da AAVV. O cine-teatro está fechado, aguardando obras há anos, e a biblioteca pública está para acontecer desde 2008. Ao mesmo tempo, há um certo abanar de ombros quando se fala de Florbela Espanca. Sobre a autora do Livro de Mágoas não há mais do que um busto em sua homenagem, o túmulo no cemitério e uma rua com o seu nome, onde fica a casa em que viveu – um edifício abandonado, triste, que faz lembrar um pouco da sua amargura. Recentemente, formou-se um movimento popular com o objectivo de transformar o edifício numa casa-museu, mas conseguir chegar a um acordo com os proprietários (particulares) tem sido difícil. E não é a primeira vez que se tenta. Tanto a Câmara Municipal como a Associação dos Amigos de Vila Viçosa, que detém um “grande conjunto” de publicações, manuscritos, traduções, cartas, bens pessoais e o diário da escritora calipolense, já o fizeram. Mas a ideia da casa-museu permanece de pé. Para lá dos escritos de Florbela Espanca, Maria do Carmo Peixeiro acha que há mais poesia para ser partilhada com os calipolenses. Formada em Belas Artes, veio de Lisboa para Vila Viçosa há um ano (também tem raízes no Alentejo, já que o avô, Manuel do Carmo Peixeiro, foi o criador da Tapeçaria de Portalegre) e tem um projecto na manga: uma Biblioteca de Poesia Lusófona, que está a criar numa parte da sua casa, com donativos das bibliotecas municipais de Lisboa e de uma associação da mesma cidade. “Os miúdos passam a vida a jogar à bola, mas eu conheço um que é um grande leitor. Resolvi que seria bom organizar uma biblioteca para eles poderem ler e ter jogos didácticos. E para ver se pelo menos a zona onde vivo tem uma vida activa”, explica Maria do Carmo, que mais tarde quer projectar filmes ao ar livre e, quem sabe?, organizar outras pequenas actividades pela vila. Como irA viagem entre Lisboa e Vila Viçosa não chega a duas horas. Cruzando a Ponte 25 de Abril e tomando a A2 e depois a A6, no sentido de Évora, sai-se na direcção de Montemor/Arraiolos. A viagem prossegue pela N4 (com passagem por Estremoz) até Vila Viçosa. Do Porto, são cerca de quatro horas de caminho. Da A1 deve sair-se em direcção a Abrantes, tomando a A13 e mais tarde a A23 e a N3. De seguida, passa-se por Ponte de Sor, Avis e Borba. Devido ao abatimento de uma parte da N255, que resultou em tragédia no dia 19 de Novembro, deve fazer-se um desvio entre Borba e Vila Viçosa, por vias secundárias. Onde ficarPousada Convento de Vila Viçosa (Pousada D. João IV) O antigo Real Convento das Chagas de Cristo, localizado no Terreiro do Paço de Vila Viçosa, mesmo junto ao Paço Ducal, transformou-se em 1996 numa pousada de quatro estrelas (pertence ao grupo Pestana) que mantém o clássico como ordem. Com frescos em algumas paredes, camas em ferro e algum mobiliário dos séculos XVI e XVII, a pousada dispõe de quartos a partir de 70 euros por noite. Também é possível encontrar aqui o “pecaminoso” manjar das chagas, um doce que curiosamente, além das gemas de ovo, canela, miolo de amêndoa e pão, leva carne coelho na receita. Convento das Chagas 7160-251 Vila Viçosa Tel. : 268 980 742 SiteHotel Solar dos MascarenhasFica a dois minutos (a pé) do Paço Ducal de Vila Viçosa e está integrado num edifício do século XVI. Os quartos, no entanto, são de construção nova e decoração moderna. Os pequenos-almoços, com pão alentejano e compotas caseiras, são servidos onde antigamente eram o celeiro e a adega. O preço do quarto, por noite, ronda os 60 euros. Rua Florbela Espanca, 125 Vila Viçosa Tel. : 268 886 000 SiteOnde comerA Taverna dos ConjuradosDurante o Inverno, só abre aos fins-de-semana, porque, para o seu criador, Manuel Camarinhas, a Taverna dos Conjurados não é bem um restaurante mas “um sonho”. Proprietário agrícola, coloca nas mesas da casa azeitonas e vinho da sua produção, entre outras especialidades. A gastronomia privilegiada é a do Alto Alentejo, com a carne – como a perdiz à Infanta Dona Maria ou as costeletas de borreguinho – em destaque. Largo 25 de Abril, 12 Vila Viçosa Tel. : 268 989 530Pastelaria AzulÉ uma pastelaria simples na avenida principal da vila, mas Maria Eugénia Brito Silva e companhia fazem dela especial pelo fabrico próprio – e diário – de tibornas, a “especialidade da terra”, feita de chila, amêndoa e doce de ovos. Abre às sete da manhã e encerra à meia-noite e é um bom lugar de conversa entre os fregueses locais. Av. Bento de Jesus Caraça 7160-253 Vila Viçosa Tel. : 268 980 671
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Fotografia de nus motiva investigação a Ai Weiwei por “pornografia”
A dissidência política e a evasão fiscal eram os motivos apontados pelas autoridades chinesas para investigar – e prender – Ai Weiwei. Mas, no final desta semana, o artista descobriu que também estava a ser investigado por espalhar pornografia. Wei Wei ainda se riu, até um assistente ter sido levado para prestar declarações. (...)

Fotografia de nus motiva investigação a Ai Weiwei por “pornografia”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-11-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: A dissidência política e a evasão fiscal eram os motivos apontados pelas autoridades chinesas para investigar – e prender – Ai Weiwei. Mas, no final desta semana, o artista descobriu que também estava a ser investigado por espalhar pornografia. Wei Wei ainda se riu, até um assistente ter sido levado para prestar declarações.
TEXTO: O problema está numa fotografia feita por Zhao Zhao, o assistente que na quinta-feira, segundo o próprio Weiwei, foi levado para uma esquadra da polícia na capital, Pequim, de onde o artista está proibido de sair. “Disseram-lhe claramente que se tratava de investigação que agora estavam a fazer sobre mim, por pornografia”, disse, à AFP. A fotografia, intitulada “Um Tigre Oito Seios” (tradução livre do inglês) mostra Ai Wei Wei rodeado por quatro mulheres, os cinco nus, num interior aparentemente vazio. “Quando me prenderam, disseram ‘isto é pornografia’, mas eu ri-me e disse: ‘sabem o que é pornografia?’”, contou. “Nudez não é pornografia”, afirmou, nesta sexta-feira. O artista recordou, em declarações àquela agência, por telefone, a história da fotografia: “Quando internautas vieram ter comigo para tirar fotografias, perguntámos por que não fazíamos fotografias de nudez. Como toda a gente concordou, fizemos e publicámo-las na Internet. E foi isso. Nunca mais pensámos no assunto. ”Mas onde Ai Weiwei vê apenas nudez, as autoridades chinesas vêem obscenidade – e avançaram com mais uma investigação sobre o artista, que ainda este ano esteve 81 dias preso, em parte incerta. Weiwei diz tratar-se de um mero subterfúgio, que esta é mais um episódio da perseguição política de que tem sido alvo. O artista chinês ainda recentemente pagou 8, 45 milhões de yuans (9, 87 milhões de euros) de um total de 15 milhões de yuans que, segundo as autoridades do seu país, Ai Wei Wei devia em impostos atrasados. A quantia paga pelo activista foi recolhida numa acção de angariação de fundos, para a qual contribuíram muitos chineses. Ai Weiwei disse ainda que o nível de participação nesta campanha o fez perceber que “não está sozinho” e, consequentemente, a sentir-se motivado para esta nova investigação.
REFERÊNCIAS:
Cavaco Silva diz que "o poder serve o povo"
O Presidente da República, de visita à China, convidou em Pequim os partidos "à paz consolidada" durante a sua visita à Cidade Proibida. Depois da reunião com o seu homólogo chinês, Xi Jinping felicitou a saída da troika e disse contar com Portugal para o seu relacionamento com os países de língua oficial portuguesa. (...)

Cavaco Silva diz que "o poder serve o povo"
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Presidente da República, de visita à China, convidou em Pequim os partidos "à paz consolidada" durante a sua visita à Cidade Proibida. Depois da reunião com o seu homólogo chinês, Xi Jinping felicitou a saída da troika e disse contar com Portugal para o seu relacionamento com os países de língua oficial portuguesa.
TEXTO: “O poder serve o povo” afirmou Cavaco Silva, em Pequim, à saída da Cidade Proibida, quando respondia a perguntas dos jornalistas, e momentos depois de ter convidado os partidos a uma“paz consolidada”. O Presidente da República está em Pequim, em visita oficial e esta quinta-feira à tarde [manhã de Portugal] foi recebido ao mais alto nível pelo presidente Xi Jinping. “Viver isolado do povo não é boa coisa e ainda por cima fechado com 55 mulheres [entre mulheres e concubinas]. O imperador tinha dificuldade em resistir”, comentou Cavaco Silva no final da visita à Cidade Proibida, um complexo com vários palácios que foi sede do Império Chinês e onde viviam 100 mil pessoas. À entrada da Cidade Proibida está um enorme retrato do líder comunista Mao Tsé-tung que tomou o poder em 1949, data da constituição da República Popular da China. O complexo de grande dimensão e harmonia ostenta um sinal dos novos tempos: foi restaurado com suporte financeiro do American Express. “A Cidade Proibida sugere que o poder estava isolado, fechado. E, por isso, é que hoje as coisas são diferentes, e já não há imperadores”. Confrontado com o facto de nos tempos de hoje, mesmo em democracia, o poder continuar distante do povo, Cavaco Silva disse: “Então é melhor o povo vir à Cidade Proibida”. E concluiu que é “o poder que serve o povo”Momentos antes, ainda no decurso da visita ao recinto, quando se fazia fotografar com os quatro deputados que o acompanham (CDS, PSD, PS e PCP) observou “que estava na paz consolidada”. E desafiava os partidos a conseguirem alcançar essa “paz consolidada”. Para Cavaco Silva não era bom para o orçamento dos imperadores chineses terem 100 mil “funcionários públicos” a residir na Cidade Proibida, mas no que respeita ao governo ter 10 ministros “já era bom”. O casal presidencial protagonizou outros episódios, um deles à volta das mulheres do Imperador, que podiam oscilar entre 15 e 55. Cavaco observou: “Se uma já é o que é. . . ” E quando estava a assinar o livro de visitas Maria Cavaco Silva aproximou-se: “Eu posso por que só sou uma. ”Esta quinta-feira foi o dia mais importante da visita de Estado de Cavaco Silva ao país de Mao Tsé-tung, o grande timoneiro da revolução chinesa de 1949. Pois foi o dia em que se encontrou com a figura mais importante da República Popular da China: o presidente Xi Jinping, que desejou boa sorte à selecção portuguesa no Brasil. O Presidente da República foi recebido com pomba e circunstância por Xi Jinping, de quem partiu o convite para visitar a China. E ontem o presidente português retribuiu, convidando-o a visitar Portugal. Uma informação dada por Cavaco Silva quando intervinha na conferência de imprensa conjunta que decorreu no Grande Palácio do Povo, depois das duas comitivas terem reunido à porta fechada. "Um novo ponto de partida histórico"Os encontros entre os dois presidentes foram pautados pela cordialidade. “Há um ditado português que diz: Um amigo velho, é um parente”, afirmou Xi Jinping. E observou que há outro proverbio chinês: “Quando vem um amigo de longe, é motivo para tudo fazer. ” Apesar de ser a primeira vez que estão juntos, Xi Jinping confessou ter a sensação de “reencontrar um velho amigo. ”Depois do encontro das delegações chefiadas por Cavaco Silva e Xi Jinping terem reunido à porta fechada, os dois presidentes realizaram uma conferência de imprensa conjunta. Jinping aproveitou para felicitar Portugal pelo facto de a troika estar agora de saída depois das "dificuldades" provocadas pela crise “das dividas”. Para o presidente chinês, os dois países entraram "num novo ponto de partida histórico" e a China conta, agora, com Portugal para o seu relacionamento com os países de língua oficial portuguesa, isto sem pôr em causa a soberania de cada um, uma relação que Jinping classificou de "triangular". E que espera ainda o empenhamento de Portugal na promoção das ligações sino-europeias. Música para os ouvidos de Cavaco Silva que na véspera, em Xangai, defendeu que “Portugal é uma importante porta para a Europa: O porto de Sines é o primeiro porto europeu de águas profundas no eixo da rota do oriente, venham [os navios] por África ou através do canal do Panamá". Novos acordos à vistaDepois da intervenção de Xi Jinping, foi a vez de Cavaco Silva declarar que “as relações são sempre marcadas pela confiança e a confiança é fundamental nas relações entre países”. Os dois presidentes sublinharam, aliás, a forma positiva como decorreu a transição da soberania portuguesa de Macau para a China e defenderam novos acordos de cooperação bilaterais.
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Lluis Montoliu: “É o início de um caminho perigoso para a eugenia”
Doutorado em genética molecular desde 1990, Lluis Montoliu é investigador do Centro Nacional para a Biotecnologia espanhol (em Madrid), onde tem sido pioneiro no uso (em animais) da técnica de “corte e cola” do ADN chamada CRISPR-Cas9 para compreender melhor o genoma. Fala ao PÚBLICO sobre a experiência de edição genética em bebés chineses. (...)

Lluis Montoliu: “É o início de um caminho perigoso para a eugenia”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Animais Pontuação: 3 Asiáticos Pontuação: 5 | Sentimento -0.6
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Doutorado em genética molecular desde 1990, Lluis Montoliu é investigador do Centro Nacional para a Biotecnologia espanhol (em Madrid), onde tem sido pioneiro no uso (em animais) da técnica de “corte e cola” do ADN chamada CRISPR-Cas9 para compreender melhor o genoma. Fala ao PÚBLICO sobre a experiência de edição genética em bebés chineses.
TEXTO: Vem ao Porto esta sexta-feira para participar no seminário “O que é a natureza humana? – A ciência em diálogo com a filosofia”, organizado pelo Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida e que decorre no Salão Nobre do Centro de Cultura e Congressos da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos. O investigador barcelonês Lluis Montoliu vem falar sobre intervenções no genoma, o que não podia estar mais na ordem do dia com o anúncio na segunda-feira de um cientista chinês que diz ter alterado o ADN de dois bebés, que entretanto já nasceram, usando a técnica de edição do genoma CRISPR-Cas9 (inventada em 2012). Lluis Montoliu, presidente fundador da ARRIGE – Associação para a Investigação Responsável e Inovação na Edição do Genoma, criada este ano, considera que, a ter existido tal experiência em seres humanos, ela é “absurda e altamente irresponsável” e que está “horrorizado”. Se o cientista chinês He Jiankui fez realmente experiências de edição do genoma humano para gerar bebés na China, que limites éticos foram ultrapassados?Na minha opinião, ultrapassaram-se dois limites éticos nesta experiência, partindo do pressuposto de que ela aconteceu realmente. Já houve antes outros embriões humanos que foram editados geneticamente, mas esta é a primeira vez (que saibamos) que foram implantados embriões em mulheres e se desenvolveram até ao fim da gravidez, resultando no nascimento de bebés geneticamente editados, duas gémeas e mais uma criança que nascerá em breve, segundo as afirmações do cientista. Até ao momento, não estão disponíveis mais provas de que esta experiência ocorreu. Segundo, será a primeira vez que ferramentas de edição do genoma são aplicadas in vivo em seres humanos não para fins terapêuticos – que a maioria dos cientistas é potencialmente favorável e a sociedade também –, mas para melhorar, para aperfeiçoar, características dos embriões que não tinham nenhum problema e não precisavam de nenhuma edição do genoma. Neste caso, ele declara que a sua intenção era inactivar o gene CCR5 que codifica a porta de entrada que o vírus da sida usa para infectar os linfócitos, tornando assim estas meninas praticamente resistentes à infecção pelo vírus da sida. Estas experiências (se aconteceram) são um exemplo claro de eugenia? Os grandes riscos e receios da edição do genoma humano são de facto o reaparecimento da eugenia, depois do que se passou [nas experiências nazis em seres humanos] na II Guerra Mundial?Na minha opinião, sim. Estamos a seleccionar características e a aplicar métodos para obter embriões e, subsequentemente, seres humanos com uma característica específica que foi escolhida. Podemos discutir separadamente os benefícios ou a utilidade dessa característica, mas, falando formalmente, este é o início de um caminho perigoso para a eugenia. Depois de se ter concordado em afinar esta característica, por que não reparar outra característica e outra e outra…?Que sanções podem vir a ser aplicadas a He Jiankui, se fez as experiências que diz ter feito?Aparentemente, fez estas experiências sem o conhecimento, o consentimento e as autorizações necessárias da sua instituição e do hospital associado, que estão a demarcar-se deste investigador neste momento. Vão investigar o caso e poderão vir a processá-lo. É espantoso como é que chegou tão longe sem que nenhuma autoridade ou instituição reparasse e sem que alguém parasse esta experiência absurda e altamente irresponsável. Depois de He Jiankui ter falado [esta quarta-feira] na Segunda Cimeira Internacional sobre Edição do Genoma Humano [em Hong Kong], ficou mais convencido de que fez essas experiências? Que provas é que ele apresentou – ou não apresentou – aos seus colegas cientistas?Ainda não vimos os dados a sério nem ele disponibilizou o seu manuscrito [de um artigo científico] à comunidade científica. Afirma que vai publicar esse artigo em breve. Nessa altura, poderemos avaliar em termos reais o que realmente fez. A partir dos slides e do que apresentou na cimeira, ainda há muitas incógnitas e muitas questões a que não respondeu. Por isso, estou tão convencido como estava na segunda-feira, quando vi os vídeos dele no YouTube. Esta é uma experiência tecnicamente possível mas ainda difícil. Os números apresentados não encaixam na minha compreensão sobre a técnica. Ou ele não nos está a contar a história toda ou teve imensa sorte. Quais são as suas impressões sobre os vídeos onde o cientista chinês fala da edição do genoma de bebés?Estou horrorizado. Ele subestima as consequências negativas ainda associadas à edição do genoma, que nós não conseguimos controlar. É por isso que estas ferramentas são extraordinárias no contexto académico, mas ainda não são suficientemente seguras para um uso clínico. É por isso que é muito irresponsável e imprudente ter permitido que duas crianças nascessem com a incerteza considerável que está associada a esta técnica. Esta experiência nunca devia ter acontecido. Que riscos enfrentam no futuro estes bebés geneticamente editados?Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Muitos riscos. Estas meninas têm de ser monitorizadas ao longo de toda a vida, bem como os seus filhos e os seus netos. Muito provavelmente, são um mosaico, o que significa que as suas células não são geneticamente idênticas e que algumas podem ter mutações indesejáveis que podem afectar qualquer órgão ao longo das suas vidas. Claro que inactivar o gene CCR5 per se também pode ter consequências inesperadas. Considera urgente a criação de regulamentações internacionais sobre a edição do genoma humano?As regulamentações são uma necessidade. Esta experiência lamentável ilustra por que é urgente estabelecer algum tipo mínimo de regras internacionais para regular o que pode e o que não pode ser feito. Creio que as Nações Unidas são o fórum mais apropriado para promover esta regulamentação. Na ARRIGE – Associação para a Investigação Responsável e Inovação na Edição do Genoma, que lançámos na Europa, estamos empenhados em envolver nesta discussão todas as partes interessadas para que essa discussão venha a cristalizar-se em regulamentações reais aplicáveis a todos os países.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra humanos cultura comunidade criança mulheres chinês
Perante investidores, Costa prefere “valorizar os factores positivos”
O secretário-geral do PS viu-se forçado a responder à polémica provocada pelo seu discurso perante a comunidade chinesa. (...)

Perante investidores, Costa prefere “valorizar os factores positivos”
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 5 | Sentimento 0.227
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: O secretário-geral do PS viu-se forçado a responder à polémica provocada pelo seu discurso perante a comunidade chinesa.
TEXTO: O lançamento da nova página electrónica do PS não foi suficiente para esconder António Costa da polémica à volta das suas declarações sobre a situação do país perante a comunidade chinesa. Esta quinta-feira, o secretário-geral do PS viu-se obrigado a “contextualizar” a sua intervenção de há alguns dias, no Casino da Póvoa, onde o líder do principal partido da oposição agradeceu o investimento chinês em Portugal, destacando a “situação diferente” em que Portugal se encontrava quando comparada com o que se passava há quatro anos. A polémica estalou quando se tornaram públicas declarações de António Costa no Casino da Póvoa, perante a comunidade chinesa que celebrava o ano novo chinês, agradeceu o investimento daquele ´país. “Como nós dizemos em Portugal, os amigos são para as ocasiões. E numa ocasião difícil para o país, em que muitos não acreditaram que o país tinha condições para enfrentar e vencer a crise, a verdade é que os chineses e os investidores chineses disseram presente, vieram e deram um grande contributo para que Portugal pudesse estar hoje na situação em que está, bastante diferente daquela em que estava há quatro anos atrás. ”António Costa manifestou-se “perplexo” com as leituras feitas às suas declarações. “Para destruir a confiança já basta o Governo”, afirmou na sede do PS, antes de acrescentar que não confundia “oposição com bota abaixismo”. Afinal – acrescentou - estava perante “investidores estrangeiros”, o que o levou a “valorizar os factores positivos” em vez de se centrar “no dramático aumento da pobreza, do desemprego, da emigração, da estagnação económica, dos cortes de salários e pensões”. A reacção do socialista chegou já tarde para impedir o violento ataque de um dos fundadores do PS. Alfredo Barroso, histórico socialista e chefe de gabinete e da Casa Civil durante a presidência da República de Mário Soares, acusou Costa, no Facebook, de "prestar vassalagem à ditadura comunista e neoliberal da República Popular da China" e de desrespeitar "centenas de milhares de desempregados e cerca de dois milhões de portugueses no limiar da pobreza". Por isso anunciava, que tinha solicitado, "pura e simplesmente, a desfiliação do partido" rematando com a intenção de “votar no Bloco de Esquerda, tentando contrariar o oportunismo daqueles que se tornaram dissidentes do BE aproximando-se do PS de António Costa, à espera de um lugarzinho na mesa do orçamento, ou seja, na distribuição de cargos num futuro governo". Uma farpa à plataforma Livre/Tempo de Avançar, cujos protagonistas são o ex-eurodeputado Rui Tavares e ex-dirigentes bloquistas como Ana Drago. A Tempo de Avançar – que junta ao recém-criado partido Livre um conjunto de movimentos – aproveitou para criticar o líder socialista. “Sim, as coisas estão diferentes. Mas não no sentido que António Costa deu perante uma plateia de investidores estrangeiros. Temos menos empregos, mais emigrantes, somos mais pobres e estamos mais endividados. Não é possível mudar o rumo do País se ignorarmos estes factos e repetirmos a propaganda do governo. Propaganda que nem as instituições europeias se atrevem a repetir, como vimos recentemente. ”Entretanto, foram surgindo reacções à posição tomada por Alfredo Barroso. Vítor Ramalho, ex-deputado e antigo dirigente distrital próximo de Mário Soares aconselhou a actual liderança a não desvalorizar o sucedido. "É útil que a direcção do partido também não encare isto como uma situação de uma pessoa que bateu com a porta por razões que não têm algum fundamento", disse, ao mesmo tempo que reconhecia não ter feito a mesma leitura. "Porque reconheço que a posição de um secretário-geral e simultaneamente candidato a primeiro-ministro tem que se pautar também pelo reconhecimento do papel que os Estados representam hoje no mundo e os países emergentes também, entre os quais a China”, disse à rádio Antena 1. Outro ex-dirigente socialista reagiu com ironia. António Galamba, que acompanhou o antecessor António José Seguro na direcção do PS, aproveitou o Facebook para assinalar a “chatice” que era “quando o que dava jeito no passado deixa de dar jeito no presente”. A maioria não deixou passar a polémica para ensaiar uma contradição no discurso do principal partido da oposição. O ministro da Presidência aproveitou a conferência de imprensa do Conselho de Ministros para falar em “estado de negação”. "Essas declarações correspondem ao reconhecimento do trabalho que tem vindo a ser feito pelo Governo. Era bom que o PS abandonasse o estado de negação em que muitas vezes parece encontrar-se - e espero que estas declarações do doutor António Costa sejam o prenúncio disso mesmo - e aceitasse definitivamente a evolução e o resultado que o sacrifício e o trabalho dos portugueses tem vindo a demonstrar e a possibilitar ao país", considerou Marques Guedes.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS LIVRE BE
Médicos cubanos já terão custado 12 milhões de euros ao Estado
O bastonário diz que o ministro “pode até contratar médicos chineses se oferecer as mesmas condições [que oferece aos cubanos] aos portugueses e estes não aceitarem”. (...)

Médicos cubanos já terão custado 12 milhões de euros ao Estado
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-08-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: O bastonário diz que o ministro “pode até contratar médicos chineses se oferecer as mesmas condições [que oferece aos cubanos] aos portugueses e estes não aceitarem”.
TEXTO: O bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, garante que, se os clínicos portugueses ganhassem “4230 euros por mês, mais casa , água e luz” - o valor auferido pelos clínicos cubanos contratados pelo Governo para trabalharem em centros de saúde do Alentejo e Algarve -, “também estariam dispostos a ir para lá”. O bastonário aproveitou a notícia do jornal i - que revela na edição desta terça-feira que a contratação de médicos cubanos custou nos últimos seis anos cerca de 12 milhões de euros a Portugal - para repetir que o Ministério da Saúde não oferece aos profissionais portugueses as mesmas condições que proporciona aos cubanos e desafiar a tutela a fazê-lo, de uma vez por todas. “[Os sucessivos ministros da Saúde] nunca avançaram com os incentivos”, lamentou o bastonário ao PÚBLICO, defendendo que “esta discriminação positiva” resolveria o problema da falta de médicos de família, que estima em “cerca de 600” em todo o país. “Alguém pensa que, a não ser por razões pessoais, um médico vai trabalhar para Portalegre por oito euros limpos à hora [valor pago aos clínicos contratados, os chamados “tarefeiros”]?”, pergunta José Manuel Silva. “O ministro pode até contratar médicos chineses se oferecer as mesmas condições [que oferece aos cubanos] aos portugueses e estes não aceitarem”, acrescenta. “Já dissemos isto ao ministro, já o desafiamos a fazer um mapa das necessidades, mas não há resposta”, lamenta. Após uma queixa do i à Comissão de Acesso a Documentos Administrativos, o Ministério da Saúde acabou por revelar o teor dos contratos assinados com Cuba desde 2009. O jornal analisou os documentos e calculou que o montante já pago pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) desde essa altura rondará os 12 milhões — apenas uma parte vai para os médicos, a outra fica para as autoridades cubanas financiarem a formação e o serviço de saúde de Cuba. O primeiro grupo de médicos cubanos chegou a Portugal a 8 de Agosto de 2009, no âmbito de um contrato celebrado entre os governos de Portugal e de Cuba, para prestar cuidados médicos em centros de saúde no Alentejo, Algarve e Ribatejo. Locais que ficavam sistematicamente sem candidaturas de médicos portugueses, na altura. De então para cá, os valores em jogo foram alterados. No início do protocolo, Portugal pagava mensalmente por cada médico ao Governo cubano 5900 euros. No final de 2011, o actual Governo reviu o valor para 4230 euros. O último aditamento ao acordo, de Abril de 2014, segundo o jornal, estabelece que os médicos cubanos a trabalhar no SNS têm uma carga horária de 44 horas semanais, "pagas a 96 euros à hora", três vezes “o tecto de 30 euros” que a lei portuguesa admite nas contratações a empresas fornecedoras de serviços médicos. Este cálculo está errado, porém. Dividindo os 4230 euros pelas 44 horas por semana, considerando que um mês terá quatro semanas, o valor à hora é 24 euros. Em Maio, o ministro da Saúde anunciou que mais 52 médicos cubanos iriam reforçar vários centros de saúde. A medida foi de imediato criticada pelo bastonário da OM, que notou na altura que aqueles profissionais iam custar perto de cinco mil euros, “o dobro” do que recebem os portugueses. É uma contratação que não faz sentido, numa altura em que médicos mais jovens estão a emigrar e os mais velhos se estão a reformar antecipadamente, argumentou então. José Manuel Silva repete agora os argumentos para desafiar o Governo a pagar o mesmo aos portugueses. O PÚBLICO já pediu à Administração Central do Sistema de Saúde uma reacção à notícia do i, bem como o teor dos contratos. Notícia actualizada com declarações do bastonário da Ordem dos Médicos e correcção do cálculo sobre o valor pago à hora aos médicos cubanos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei discriminação
Beco do Jasmim, Lisboa: O templo de Alice Ming
Um restaurante vegan num beco escondido no meio da Mouraria, uma cozinheira canadiana de origem chinesa, uma comida inspirada. (...)

Beco do Jasmim, Lisboa: O templo de Alice Ming
MINORIA(S): Ciganos Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um restaurante vegan num beco escondido no meio da Mouraria, uma cozinheira canadiana de origem chinesa, uma comida inspirada.
TEXTO: Quando chegou a Lisboa, Alice Ming não conhecia bem a cidade. Foi, por acaso, parar à Mouraria. Na altura, com uma amiga, sonhava abrir um restaurante de dumplings, aproveitando o seu conhecimento da cozinha chinesa (nasceu no Canadá numa família de origem chinesa). Mas a amiga acabou por deixar Portugal e sem ela o projecto não fazia sentido. Alice pensou e acabou por decidir fazer um restaurante vegan. Mas, durante os meses em que procurou por várias zonas da cidade um espaço para o seu restaurante, nunca se lembrou da Mouraria, onde vivia. Até que um dia foi parar ao Beco do Jasmim. Alguém a levou para almoçar num restaurante de cozinha portuguesa, mas o almoço nunca chegou a acontecer. O restaurante, que ali existia “há um século”, fechara e estava à venda. Foi assim que Alice encontrou o espaço perfeito para o seu The Food Temple. A primeira vez que fui ao restaurante foi em 2012, tinha aberto há alguns meses. Digo-lhe isso e Alice sorri ao recordar o tanto que mudou em três anos. “Ao princípio andávamos um pouco à procura do que queríamos. Agora sentimos que nos encontrámos, estamos confortáveis com o que fazemos. ” Conversamos, numa sexta-feira antes da hora do almoço (o restaurante só serve jantares), sentadas nas escadas que se estendem à frente do restaurante — e que, com o tempo, foram-se tornando parte dele. É (também) isso que faz este espaço especial. Como um segredo guardado num beco escondido de Lisboa. Quando, numa qualquer noite, viramos a esquina vemos algumas mesas na rua, mas as pessoas foram-se espalhando pelo pequeno anfiteatro, onde Alice já colocou almofadas e pequenos apoios de madeira para os copos. Há qualquer coisa de uma coreografia teatral nesta imagem: pessoas que chegam, pegam numa almofada e instalam-se nas escadas a beber enquanto esperam mesa; vizinhos do prédio ao lado que saem da porta e descem as escadas cumprimentando e sorrindo; estrangeiros que atravessam o beco à descoberta da Mouraria e param para saber se podem jantar ali. Ao mesmo tempo, da cozinha vão saindo purés de beringela ou de couve-flor, arroz com cogumelos, guisado de pimentos-chipotle, saladas maravilhosas, receitas tradicionais portuguesas reinventadas como vegan e muitas outras coisas boas. Alice, que desde há um ano tem mais duas pessoas a trabalhar com ela na cozinha, diz que ia às mercearias de Lisboa e admirava-se por ver tanta variedade de vegetais, a maior parte dos quais depois não aparecia nos pratos servidos nos restaurantes. “O que farão com eles?”, interrogava-se. Ela decidiu comprá-los e começar a experimentar, a partir de uma ideia-base: fazer sempre dos vegetais a estrela de cada prato. A sua cozinha é vegan, mas a partir daí é difícil classificá-la. Não usa receitas e só a pedido acaba por escrever as suas. Tem influências de muitos lugares, muitos países, muitas pessoas, de tudo o que a inspira. Por isso chama-lhe simplesmente “comida inspirada”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Tinham-lhe dito que seria difícil que um restaurante vegan tivesse sucesso numa cidade como Lisboa e num país de carnívoros como Portugal. E, no entanto, o The Food Temple está sempre cheio, com muitos estrangeiros, mas também muitos portugueses. Até na noite de Santo António, se vos acontecer virar a esquina e entrar no espaço encantado do Beco do Jasmim, vão encontrar músicos a tocar reggae nas escadas ou DJ a passar música cigana e Alice e os amigos a servir um barbecue com chouriço vegan e beringelas grelhadas. No início tinha ideias mais arriscadas, como a de fazer, aos domingos à noite, uma Última Ceia, na qual pessoas que não se conheciam juntavam-se todas à mesma mesa e seguiam pequenas regras inventadas para a ocasião, como a de não se servirem a elas próprias mas sim à pessoa que tinham ao lado. Com o sucesso do Food Temple, deixou de haver espaço para estas Últimas Ceias, mas Alice diz que um dia destes talvez elas voltem. Para já, há workshops de cozinha vegan (para saber as datas, é preciso ir consultando a página de Facebook) dados por ela ou por amigos ou conhecidos que se identifiquem com o projecto. Alice veio do Canadá, viajou, encontrou Lisboa e decidiu ficar. Não sabia que havia um espaço como este à espera dela. E, no final, Lisboa deu-lhe não apenas o espaço normal de um restaurante mas também umas escadas que se tornam vivas todas as noites. Deu-lhe, num dos seus bairros mais amados, um teatro, um anfiteatro, um templo, onde tudo gira à volta da sua comida inspirada.
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Tempo sexta-feira
Há uma cidade na China que quer ficar parecida com o Porto
Anshun quer aproveitar a morfologia do seu terreno para se aproximar de cidades europeias. O Porto surge como exemplo num jornal chinês, que revela o apoio de São João da Madeira ao projecto (...)

Há uma cidade na China que quer ficar parecida com o Porto
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 5 Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.2
DATA: 2012-11-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: Anshun quer aproveitar a morfologia do seu terreno para se aproximar de cidades europeias. O Porto surge como exemplo num jornal chinês, que revela o apoio de São João da Madeira ao projecto
TEXTO: Anshun é uma cidade no Sudoeste da China com 2, 96 milhões de habitantes espalhados por 9267 quilómetros quadrados e que vive sobretudo do turismo - ou não tivesse a maior queda de água do país. Mas Anshun quer mais para aumentar as receitas e alargar a capacidade hoteleira que já não chega para as encomendas. Quer aproveitar os socalcos do seu território para ficar parecida com cidades europeias. E o exemplo surge na edição de domingo do jornal China Daily. A foto que aparece para ilustrar as intenções é um "postal" do Porto com o rio à vista. É conhecido o gosto chinês pela criação de réplicas de cidades europeias. Há vários exemplos no país - imitando a Veneza dos canais ou Barcelona. E Anshun não quer ficar atrás. Captar a atenção dos turistas europeus é o motivo que, neste momento, move a cidade chinesa. Nos planos, está a criação de um parque de diversões com 60 hectares, uma espécie de cidade europeia em miniatura, com atracções de vários países. Em Portugal, as atenções recaíram nas touradas. O Centro Hípico Dom Cavalo, em Leiria, está envolvido no projecto. Miguel Condeço e Cidália Cardoso não querem, por enquanto, revelar pormenores. A presença da Dom Cavalo é, no entanto, dada como certa no empreendimento chinês, ficando responsável por montar espectáculos equestres à portuguesa com tourada, abrir escolas de equitação e criar cavalos lusitanos em Anshun. A vontade de importar touradas, segundo o China Daily, já despertou o interesse de empresas espanholas. Uma praça de touros sairá entretanto do papel com uma capacidade para 6000 espectadores. O projecto chinês, que deverá estar concluído nos próximos dez anos, prevê ainda um investimento imobiliário: construção de hotéis de luxo, restaurantes, cinemas, centros comerciais. Yang Kaihua, director do Huangguoshu Scenic Area Working Committee, citado pelo China Daily, fala na construção de uma cidade europeia. "Esperamos que o projecto atraia mais de quatro milhões de turistas todos os anos e, portanto, venha a gerar mais receitas para a economia local", sustenta. No ano passado, graças a 18, 5 milhões de visitantes (um por cento estrangeiros), a receita com o turismo rondou os 2, 3 mil milhões de euros. São João da Madeira está de olho em Anshun, mas não no parque de diversões. Há um processo de geminação em curso entre as duas cidades. "Sou presidente de câmara há 11 anos e nunca promovi nenhuma geminação, mas se o vier a fazer será, com certeza, com uma cidade chinesa", adianta ao PÚBLICO Castro Almeida, presidente da câmara são-joanense. "É para a China que temos de divulgar o nosso potencial produtivo. É uma zona do mundo demasiado importante e cheia de oportunidades, mas que tem passado ao lado das nossas prioridades", acrescenta. Aveiro também terá ligações a Anshun. Na próxima semana, o vice-reitor da Universidade de Aveiro, Carlos Pascoal Neto, viajará para a região de Guizhou, onde está Anshun, para assinar um protocolo com a universidade, no sentido de proporcionar em Portugal uma especialização na área do turismo a grupos de 20 a 30 alunos chineses. Um ensino pós-graduado que, neste momento, a região não possui. A colaboração de Aveiro deverá entretanto esticar-se a Anshun. "Em Anshun, está a ser feito um grande investimento em hotelaria e a Universidade de Aveiro está disponível para apoiar a criação de uma escola de turismo", revela o vice-reitor. Mandarim nas escolas de São João da MadeiraA partir de Janeiro do próximo ano, os alunos do 3. º ano das escolas primárias de São João da Madeira começam a aprender mandarim. No início do ano lectivo de 2013/2014, as crianças dos 3. º e 4. º anos do 1. º ciclo das nove escolas primárias do concelho também aprenderão chinês. O Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro assume a coordenação científica e pedagógica ao garantir os professores, maioritariamente chineses.
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A espionagem é um lugar íntimo em Mai Jia
O escritor chinês chega ao Ocidente com a marca de fenómeno num romance onde a espionagem aparece ao serviço de um olhar profundo sobre a intimidade de alguém que vive na diferença. Entre silêncios e códigos, Cifra é um thriller pouco convencional onde se tenta chegar perto da verdade do homem e da civilização através do entretenimento (...)

A espionagem é um lugar íntimo em Mai Jia
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 5 | Sentimento 0.2
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: O escritor chinês chega ao Ocidente com a marca de fenómeno num romance onde a espionagem aparece ao serviço de um olhar profundo sobre a intimidade de alguém que vive na diferença. Entre silêncios e códigos, Cifra é um thriller pouco convencional onde se tenta chegar perto da verdade do homem e da civilização através do entretenimento
TEXTO: Mai Jia acredita que a missão da literatura é mais elevada do que a da política, uma afirmação que pode ser lida como arriscada, vinda de um escritor que vive na China e não é um dissidente do regime comunista. O Ocidente começou a ouvir falar dele no ano passado, quando o seu primeiro romance foi publicado em inglês. Já tinha então seis livros editados e 15 milhões de exemplares vendidos no seu país, além de adaptações para cinema e televisão e uma colecção de afirmações capazes de o apresentar fora de fronteiras como alguém com enorme auto-estima e vontade de ser conhecido como escritor universal. Apresentado como autor de espionagem, um executante inovador da arte do thriller psicológico, Mai Jia, nome literário de Jiang Benhu, prefere uma designação mais abrangente. “O jogo de espionagem é apenas uma capa [para o que faz]. Eu escrevo sobre pessoas", disse numa entrevista publicada em 2012 na Time Out de Pequim. “Pessoas que sofrem de alienação do trabalho: o seu espírito, o seu destino, a sua dor interior e amor. É com isso que estou preocupado”, acrescentou o escritor que tem sido comparado a vários autores nas muitas tentativas, mais ou menos maliciosas, de traduzir esse “fenómeno” chinês para a literatura ocidental: John Le Carré, Dan Brown, Jorge Luis Borges, Franz Kafka. Entre eles, Mai Jia elege um: Borges, o seu herói literário, e conta que passou um dos três anos ao serviço do exército chinês no Tibete a ler um único livro: O Livro de Areia. Um enigmaMai Jia permanece para o Ocidente um enigma quase tão bem guardado quanto aqueles que descreve nos seus livros onde não faltam referências aubiográficas. Natural de uma aldeia nas montanhas do Leste da China, nasceu Jiang Benhu em 1964, numa família com tudo para desagradar ao Partido Comunista Chinês. Nela, havia proprietários rurais, cristãos e gente de direita. A infância não terá sido fácil. Nas poucas entrevistas que deu e que foram traduzidas, salienta que essas dificuldades foram determinantes para a sua vontade de ser escritor. Solitário, começou cedo a registar a vida em diários e essa tarefa ganhou outra dimensão a partir dos 17 anos, idade com que se alistou no exército como modo de “limpar” o seu passado familiar e escapar à pobreza em que vivia. Serviu numa unidade de inteligência militar durante 17 anos, uma experiência determinante para construir a figura de Rong Jinzhen, o solitário genial, protagonista de Cifra, o livro que lhe demorou dez anos a escrever e o lançou em 2002 como um dos escritores de maior sucesso na China. Era o primeiro volume de uma trilogia dedicada ao mundo das cifras matemáticas e da simbologia e foi o seu romance mais discreto. Seria, no entanto, de todos os livros de Mai Jia aquele que a Penguin escolheu traduzir para inglês e, daí, para o universo literário fora da China. A tradução que chega a Portugal parte dessa edição inglesa, escolhida como padrão. É uma história de desajuste pessoal e génio, de confronto entre verdade e o que é tido como verdade; a verdade esquiva que cada um persegue, característica de uma sociedade dominada por complexos sistemas de segurança e gestão de dados. O fenómeno é global, diz Mai Jia, que neste livro se socorre de números e palavras para chegar próximo do que é a inteligência sabendo, como refere uma das suas personagens, que estar próximo da inteligência é o mais longe que se pode alguma vez conseguir. Mas o escritor tenta a abordagem. Conhece os meandros do universo cifrado e persegue a função do cérebro nessa busca da verdade ocultada. Através de personagens invulgares, pormenores grotescos, aprofunda o enigma da inteligência com recurso a detalhes bizarros numa tentativa de reconstituição do que há de mais humano na ordem e no caos. O livro é construído para tornar o leitor refém dessa perseguição. Há que seguir até ao fim, à página 400 do romance, sem perder o fôlego, e Mai Jia domina essa arte de alimentar o vício. Mas será só isso, habilidade narrativa?Nas páginas da London Review of Books, Sheg Yun, professora de ciências sociais na universidade de Xangai, questionava a escolha da Penguin em colocar Mai Jia no seu catálogo ao lado de outros escritores chineses tidos como de referência como Qian Zhongshu (1910-1998), Lu Xun (1881-1936) ou Eileen Shang (1920-1995) e era dura na apreciação do trabalho do escritor. No artigo que intitulou de Sniffle, quase onomatopeia para um grande lamento, chamava-lhe plagiador, alguém com talento literário questionável, um best-seller no seu entender em nada merecedor do prestigiado Mao Dun Prize que ganhou em 2008 — disse que era como se Dan Brown ganhasse o Booker —, um nome pouco representativo do que de melhor se faz nas letras da China. No fundo, afirmava que pouco se sabe no Ocidente acerca de uma literatura muito prolífica mas difícil de traduzir, que quase sempre precisa de duplas de intérpretes para avaliar as nuances de construção da linguagem e da cultura, um trabalho exigente que todos os tradutores se referem o de uma quase escrita para que possa ser entendido. O contágioA história de Cifra começa em 1873, no dia em que o mais jovem da sétima geração da família Rong, ricos comerciantes de sal da província de Jiangman, foi mandado para os EUA para estudar esoterismo e ajudar a avó a interpretar os sonhos que a atormentavam. A avó morreu antes que ele pudesse pisar o novo continente, mas chagado lá, e ao saber da notícia, optou por estudar matemática. Quando regressou à China sete anos depois Rong Zilai era John Lillie e “sofria agora de toda a espécie de estranhos hábitos: não tinha rabicho, usava um casaco curto em vez de uma comprida túnica de seda, gostava de beber vinho que era cor de sangue, entremeava o seu discurso com palavras que soavam como o chilrear de um pássaro ou coisa assim”, e, presságio de mudança, não suportava o cheiro a sal. “As pessoas tratavam-no como se houvesse contraído uma doença vergonhosa. ” Seria o fundador de uma escola, a Academia Lillie de Matemática, no Sul da China, predecessora da “famosa” Universidade N. Estamos no início. As peripécias que antecederam o nascimento de Rong Jinzhen são muitas, algumas resultado da influência em Mai Jia da tradição fantástica ocidental — de Borges ou até García Marquez —, mas contadas seguindo a herança oriental, em longos encadeados líricos, e sublinham o carácter excepcional do rapaz e a rejeição que seria sujeito por parte da família e iria marcar a sua personalidade solitária e opaca. Ajudam também a contar o século XX na China, com destaques e omissões que servem a estudiosos e crítica para ajudar a construir a biografia de Mai Jia, até que ponto é um apoiante do regime chinês, até que ponto esta narrativa pode ajudar a entender a China actual. Ele tem respondido a isto de forma breve. “Na China há muitas coisas que ninguém se atreve a escrever, incluindo eu. ”Até meio do romance são raras as vezes que o leitor sente estar perante um romance de espionagem. Há segredos, cálculos, uma gestão de suspense que demora a se adensar, com o narrador a gerir a informação de forma paciente e como que num romance de formação um pouco à maneira dos que se escreviam em meados do século XX na Europa. “O protagonista da minha história ainda não apareceu, embora vá chegar em breve. Em certo sentido, pode dizer-se que já aqui está, apenas ainda não o viram, do mesmo modo que quando uma semente começa a germinar são invisíveis os primeiros rebentos sob a superfície do solo bem regado”, lê-se na página 31, apresentadas as primeiras gerações de “eleitos” da família Rong. Há um rapaz, na sua diferença a crescer num meio ao qual tenta ajustar-se. Este elemento tantas vezes tratado na arte dá também a Mai Jia a oportunidade de elaborar sobre a fronteira entre generalidade e loucura, criando momentos de extrema angústia graças ao modo como cruza intimidade e frieza afectiva num equilíbrio sempre difícil e moldado por circunstâncias civilizacionais determinantes. E é como se a partir do íntimo de Jinzhen e de umas quantas pistas mais ou menos manipuladas por Mai Jia o leitor pudesse decifrar um código sobre o que é viver e escrever na China actual. Ao contrário do que acontece na China, o sucesso de Mai Jia ainda não é possível de aferir no Ocidente. A opinião da crítica, sublinhe-se, divide-se entre aplausos entusiásticos — como o da Economist ou o do New York Times e do Telegraph —, aos mais contidos por parte do Guardian até ao impiedoso texto de Yun. A questão parece estar entre conciliar bons momentos literários e a eficácia comercial, uma questão antiga no meio literário. Chega-nos como “fenómeno” com todas as implicações que o rótulo implica. Lê-se este Cifra a olhar para o meio que a permitiu ser escrita e estranhando muitos dos seus traços ocidentais sem que a grande maioria de quem o lê fora do seu país disponha das ferramentas necessárias para saber até que ponto isso é efeito da tradução ou resultado de uma globalização. As personagens de Mai Jia foram tocadas por esse contágio com o mundo de fora, mesmo que nunca tenham saído da China ou falem uma língua estrangeira — como Mai Jia. Rong Jinzhen foi educado por um velho americano que o baptizou de “Patinho” e o acompanhou na infância no meio de silêncios cúmplices até que, na morte do velho, ele é entregue ao herdeiro da Universidade N, o Jovem Lillie, que lhe detecta uma inteligência muito acima da média numa personalidade semelhante à de um autista e o inscreve na escola onde encontra num professor estrangeiro, um aliado na construção do percurso genial que prevê para Jinzhen e oportunidade para Mai Jia deixar algumas notas mais críticas quanto ao passado recente da China. “Tem sido sempre um dos problemas que os intelectuais chineses enfrentam: considerarem uma carreira académica fundamentalmente incompatível com um cargo oficial”. É ele quem lhe traça o percurso de excepção com Mai Jia durante muito tempo a ocupar-se com a construção do universo interior do seu protagonista um homem que seria venerado na China pela sua capacidade excepcional de decifrar códigos dos principais inimigos militares do seu país. A sua vida ganha densidade a partir da investigação do narrador que percorre o Sul do país a recolher testemunhos e a entrevistar quem lidou de perto com Rong Jinzhen, o rapaz que defendeu uma tese que podia afrontar a ideologia chinesa . O seu mérito, lê-se, era "demonstrar a própria inteligência e ousadia do autor" que sugeria que "a inteligência humana deveria ser considerada como uam constante matemática e um número irracional, um número que nunca chega ao fim". Só a meio do romance os mistérios começam a adensar-se quando Rong Jinzhen, mais uma vez guiado por uma personagem invulgar, o Coxo Zheng entra na misteriosa unidade 701 com a função de ler mensagens cifradas de estados rivais da china, nunca numerados a não se por letras, mas que podem ser os Estados Unidos ou Taiwan, por exemplo. E tudo sem que nunca Mai Jia se perca acerca do íntimo da sua personagem. Pegando na sua afirmação de que o que lhe interessa é a alma, é com se toda a trama de espionagem fosse construída para embrulhar essa essência que nunca se dissocia da própria experiência pessoal de Mai Jia, um ex-soldado que escreveu um diário com 36 volumes nos 17 anos em que esteve no exército e que gosta de dizer, como Borges disse, que podia viver simplesmente numa biblioteca.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA MAI
O negócio da Apple é cada vez mais na China
Mercado chinês ultrapassou Europa como a segunda região onde a empresa mais factura. (...)

O negócio da Apple é cada vez mais na China
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Mercado chinês ultrapassou Europa como a segunda região onde a empresa mais factura.
TEXTO: A China está a ganhar importância nas contas da Apple. A região designada por grande China (que inclui também Hong Kong e Taiwan) foi, no primeiro trimestre deste ano, o segundo mercado onde a multinacional americana fez mais dinheiro, atrás apenas dos EUA. Foi também aquele onde a empresa vendeu mais iPhones. Em ambos os casos, é a primeira vez que acontece. A grande China representou 29% das receitas globais da Apple, retirando peso tanto ao mercado europeu, como ao dos EUA. O volume de negócios naquela região subiu 71% no trimestre passado, por comparação com 2014, atingindo 16, 8 mil milhões de dólares. Recuando dois anos, as receitas com as operações na China eram um pouco menos de metade e representavam 19% do negócio total. Em termos globais, as receitas da Apple totalizaram cerca de 58 mil milhões de dólares no trimestre passado, o que significa uma subida de 27% em relação ao mesmo período de 2015. Os EUA continuam a ser a região com mais facturação para a multinacional, com uma fatia de 37% do negócio, ao passo que a Europa caiu para terceiro lugar, representando 21%. O aumento do volume de negócios da grande China foi impulsionado pelas vendas do iPhone. A Apple não especificou quantos aparelhos vendeu naquela região, mas revelou que, pela primeira vez, a procura por parte dos consumidores chineses superou a procura no mercado americano. O aumento do peso do mercado chinês acontece quando os mercados ocidentais estão maduros e o crescimento na venda de smartphones acontece sobretudo nos segmentos de gamas mais baixas, onde a Apple não compete. O período natalício do ano passado já tinha mostrado que os dois novos modelos do iPhone, que seguem a concorrência na opção por ecrãs de tamanho maior, estavam a ter muita procura por parte dos consumidores chineses. O iPhone é, de longe, o aparelho da Apple que mais vende, tendo alcançado no trimestre uma facturação global de 40 mil milhões de dólares (uma subida anual de 55%), correspondente a 61, 2 milhões de unidades vendidas. Os resultados apresentados pela Apple nesta quinta-feira mostram ainda que o iPad continua em queda, reflexo do menor apetite dos consumidores por tablets, numa altura em que os computadores são cada vez mais leves e finos e em que os telemóveis chegam às lojas com ecrãs progressivamente maiores, estreitando o espaço para um terceiro dispositivo. Foram vendidos em todo o mundo 12, 6 milhões de iPads, o que significou uma receita de 5400 milhões, menos 29% do que no mesmo período de 2014. A venda de computadores Mac cresceu 2%, ao passo que as receitas dos serviços, de que fazem parte as lojas de música e aplicações, cresceram 10%. A empresa não revelou informação sobre o Watch, o relógio inteligente que recentemente pôs no mercado e para o qual decidiu não fazer vendas em lojas, mas apenas através da Internet.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA