Por uma refeição
As primeiras imagens motivam um sorriso. Cidadãos de origem africana, paquistanesa, chinesa e indiana foram transportados pelo Partido Socialista para o comício de sábado em Évora. (...)

Por uma refeição
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Asiáticos Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-05-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: As primeiras imagens motivam um sorriso. Cidadãos de origem africana, paquistanesa, chinesa e indiana foram transportados pelo Partido Socialista para o comício de sábado em Évora.
TEXTO: Os jornalistas lembram que Passos Coelho afirmou recentemente ser o mais africano dos candidatos, para justificar este pouco habitual número de cidadãos de origem estrangeira vindos de vários pontos do país nas habituais excursões organizadas dos partidos. As televisões e restantes órgãos de comunicação social estranharam a coisa e foram falar com esses surpreendentes “apoiantes” socialistas. Alguns afirmaram estar ali por motivações políticas. Outros, num português forçado, mal sabem explicar porque estão naquela praça de Évora. Dizem que foram convidados. Um até fala na convocatória de uma embaixada. Vivem em Portugal e foram mobilizados para um passeio grátis que inclui um comício. Mas alguns deles não foram só por isso. Há quem diga que foi pela comida. É aqui que cai o sorriso. Há gente em Portugal, independentemente da sua origem, que se mete num autocarro às primeiras horas da manhã para à tarde ou à noite ser figurante numa sala ou numa praça cheia, porque sabe que lhe vão dar pelo menos uma refeição. E o problema é que isto já nem é novidade. Já outras pessoas o confessaram em outras disputas eleitorais e até em excursões de outros partidos. Desta vez foi revelado na véspera do início oficial de campanha. No palco de Évora, choveram acusações aos partidos adversários. Alguns quase a roçar o insulto. Os outros partidos vão reagir na mesma moeda. Pelo que já se viu, esta deverá ser a campanha verbalmente mais violenta dos últimos anos. Da fome, do desemprego que leva milhares de famílias para a miséria, já se percebeu que não se vai falar em alguns palcos eleitorais, a começar pelo do PS. E a resolução destes problemas é que deveria ser o tema principal. Não da campanha, mas de todos os dias. Era aqui que deveria haver uma verdadeira aliança nacional. Uma aliança para acabar com a fome em Portugal, que atinge cada vez mais pessoas, como não cansam de denunciar as instituições de solidariedade social.
REFERÊNCIAS:
“Crime já cá estava antes do Mundial e estará no Mundial”
“O crime já cá estava antes do Mundial e estará no Mundial”. Foi esta a reacção do brigadeiro Mariemuthoo, porta-voz da polícia na província de Gauteng, em conferência de imprensa, ao ser confrontado com a notícia de que três jornalistas chineses foram roubados em Joanesburgo, no mesmo dia em que dois jornalistas portugueses e um espanhol foram assaltados nos quartos do “lodge” onde estavam alojados em Magaliesburg. (...)

“Crime já cá estava antes do Mundial e estará no Mundial”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-06-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: “O crime já cá estava antes do Mundial e estará no Mundial”. Foi esta a reacção do brigadeiro Mariemuthoo, porta-voz da polícia na província de Gauteng, em conferência de imprensa, ao ser confrontado com a notícia de que três jornalistas chineses foram roubados em Joanesburgo, no mesmo dia em que dois jornalistas portugueses e um espanhol foram assaltados nos quartos do “lodge” onde estavam alojados em Magaliesburg.
TEXTO: O porta-voz da polícia assegurou que foi e está a ser feito um reforço do policiamento na área de Magaliesburg, onde estão alojados a selecção portuguesa e os jornalistas que acompanham a equipa. A polícia sul-africana anunciou ainda a detenção de alguns suspeitos ao assalto de ontem a três jornalistas, dois portugueses e um espanhol, no Nutbush Lodge, nos arredores de Magaliesburg. A revelação, no entanto, chegou com algumas contradições: o porta-voz da polícia da província de Gauteng anunciou a detenção de quatro pessoas, enquanto um comunicado do chefe da polícia fala em três. “Em 24 horas, quatro suspeitos foram detidos e encontrámos vários dos objectos roubados”, afirmou Mariemuthoo, numa conferência de imprensa na escola de Bekker, onde a selecção portuguesa realiza os treinos. Jornalistas não foram contactadosOs jornalistas assaltados, no entanto, ainda não foram chamados para identificar os suspeitos, nem para recolher o material que foi recuperado. A polícia admitiu ainda que mais suspeitos possam vir a ser detidos. O porta-voz da polícia recusou dar pormenores sobre os homens detidos - apenas que têm entre “30 e 40 anos” - e sobre os locais em que foi recuperado o material roubado, limitando-se a dizer que foi recuperado equipamento em Magaliesburg e numa área circundante de 200 quilómetros. Mariemuthoo recusou ainda avaliar o nível de segurança dos turismos rurais em que os jornalistas estão alojados ou afirmar se estes devem, ou não, mudar-se para outro local.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens escola assalto
ONU diz que ataque a vila síria teve por alvo casas de rebeldes
O grupo de observadores da ONU na Síria regressou neste domingo à vila de Tremseh, na Síria, para continuar a investigar as denúncias de massacre. Num ataque há três dias terão morrido entre 200 e 300 pessoas. Por aquilo que viu, a ONU diz que o ataque “pareceu visar grupos e casas específicas, a maioria de rebeldes". (...)

ONU diz que ataque a vila síria teve por alvo casas de rebeldes
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-07-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: O grupo de observadores da ONU na Síria regressou neste domingo à vila de Tremseh, na Síria, para continuar a investigar as denúncias de massacre. Num ataque há três dias terão morrido entre 200 e 300 pessoas. Por aquilo que viu, a ONU diz que o ataque “pareceu visar grupos e casas específicas, a maioria de rebeldes".
TEXTO: A equipa da ONU, que esteve ontem em Tremseh para investigar as denúncias do massacre de quinta-feira para sexta-feira, disse ter visto uma escola queimada e casas destruídas, com vestígios de incêndios em cinco delas. Além disso, os observadores das Nações Unidas dizem que “havia sangue em várias casas”. Sausan Ghosheh, porta-voz da missão, salientou em comunicado que “numerosos tipos de armas foram utilizadas no ataque, nomeadamente artilharia e morteiros”. Um grande número de vítimas foi “executado sumariamente” e 17 pessoas, entre elas mulheres e crianças, foram mortas quando tentavam fugir daquela aldeia, no centro da Síria. Ainda assim, a missão da ONU diz que ainda há incertezas quanto ao número de vítimas dos bombardeamentos do exército e execuções das milícias leais ao regime do Presidente, Bashar al-Assad. “A equipa da ONU prevê voltar a Tremseh amanhã (domingo) para continuar a sua missão de avaliação”, garantiu Sausan Ghosheh. Damasco critica carta "apressada" de AnnanAs autoridades sírias vieram entretanto hoje negar as acusações feitas pela missão – e já avalizadas pelo enviado especial das Nações Unidas e Liga Árabe à Síria, Kofi Annan – de que foram usados helicópteros e artilharia pesada em Tremseh. “As forças do Governo não usaram aviões, nem helicópteros, nem tanques ou artilharia. A arma mais pesada usada foram RPG [granadas lançadas por rockets]”, insistiu o porta-voz do Ministério sírio dos Negócios Estrangeiros, Jihad Makdissi. Pela primeira vez, as autoridades reconheceram a morte de civis, tendo Makdissi feito um balanço de mortos na operação militar contra Tremseh de “37 terroristas”, usando a terminologia do Governo para se referir aos combatentes da rebelião, e dois civis. Esta mesma fonte frisou ainda que a operação das forças governamentais visou combater os rebeldes “que estavam a lançar ataques em zonas circundantes”. Makdissi avançou ainda que Annan enviara ontem mesmo uma carta ao ministro dos Negócios Estrangeiros sírio, Walid al-Moualem, na qual era apontado que o exército usara meios de combate pesados. “O mínimo que pode ser dito sobre o que esta carta diz sobre o que aconteceu em Tremseh é que não se baseia nos factos. Tão diplomaticamente quanto nos é possível, afirmamos que esta carta foi feita de forma apressada”. Relatos de oposicionistas dão conta que a aldeia esteve horas sob cargas da artilharia pesada – tanques e helicópteros de combate – após o que a milícia Shabiha entrou no local, começando a executar pessoas, com tiros na cabeça. Segundo os activistas a maior parte dos mortos são civis. O Governo sírio insiste, porém, que o que se passou em Tremseh foi uma operação militar contra combatentes rebeldes que se tinham refugiado na zona e nega a ocorrência de mortes de civis. A aldeia, que fica a cerca de 25 quilómetros para noroeste da cidade de Hama, é habitada por sunitas e está rodeada de localidades alauitas (a comunidade religiosa de Assad e do regime). Sendo confirmada a vaga de mortes, denunciadas por activistas no terreno e residentes, este terá sido o mais grave massacre desde o início da revolta em Março de 2011 e já o quarto no país atribuído às tropas de Assad nos últimos quatro meses. Ban Ki-moon apela à ChinaO secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, apelou ontem ao ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Yang Jiechi, para pedir a Pequim que "use a sua influência" para fazer cumprir o plano de paz do mediador Kofi Annan, informou o porta-voz da ONU, Martin Nesirky. Ban e o seu interlocutor "debateram a situação na Síria e a necessidade imperiosa de fazer cessar a violência imediatamente", disse Nesirky. “Ban pediu à China para usar a sua influência a fim de fazer aplicar totalmente e imediatamente o plano em seis pontos [de Annan] e o comunicado do Grupo de Acção sobre a Síria", que prevê uma transição política.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
1933, 2018 – Descubra as diferenças. Ou as semelhanças
Na América, a Grande Depressão conduziu ao New Deal. Na Europa, à guerra. Onde nos leva a Grande Recessão? A História pode ensinar-nos alguma coisa. (...)

1933, 2018 – Descubra as diferenças. Ou as semelhanças
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na América, a Grande Depressão conduziu ao New Deal. Na Europa, à guerra. Onde nos leva a Grande Recessão? A História pode ensinar-nos alguma coisa.
TEXTO: O que anda a ler Angela Merkel? O Mundo de Ontem, de Stefan Zweig, revela a imprensa alemã. Por que razão a palavra “Weimar” regressou ao debate político europeu durante os piores anos da crise do euro? Dois factos, aparentemente pouco relevantes e sem relação directa entre si, mas cuja resposta ajuda a compreender a inevitável tentação de comparar a Europa dos anos que mediaram entre as duas “guerras civis” que a devastaram na primeira metade do século XX e os tempos que vivemos hoje, depois de uma crise violenta que se abateu sobre o continente há quase dez anos. Dez anos separam o crash da bolsa de Nova Iorque, em 1929, do início da II Guerra Mundial. Dez anos nos separam hoje da queda do Lehman Brothers, o acontecimento que inesperadamente desencadeou a implosão do sistema financeiro norte-americano e a Grande Recessão à escala global. Vale a pena olhar para a realidade com as lentes da trágica metade do século XX europeu? Há algum paralelismo histórico que nos ajude a interpretar a ascensão dos movimentos populistas e nacionalistas em demasiados países da União Europeia e que levou Donald Trump até à Casa Branca? Há estudos académicos para sustentar teses diferentes, como sempre acontece. As semelhanças merecem atenção, as diferenças são evidentes. O Mundo de Ontem – Recordações de um europeu, escrito por Stefan Zweig entre 1940 e 1942 no seu exílio brasileiro, depois de ter abandonado a Alemanha nazi em 1934, nunca deixou de ser livro de cabeceira das elites europeias. As tiragens sobem e descem conforme as circunstâncias. Não foi apenas a chanceler alemã que resolveu relê-lo. “Só em França, este livro de Zweig vendeu 3, 2 milhões de cópias desde 2007”, lembrava o diário alemão Handelsblatt em Junho de 2017. O que faz desta obra autobiográfica de um judeu austríaco, nascido em Viena em 1881, um vício? É uma descrição poderosa, ainda que profundamente amargurada, de como ele viu o seu mundo desmoronar-se por duas vezes no tempo da sua vida breve, deixando-o sem pátria, sem raízes, sem cultura, desterrado num país longínquo onde morreu antes de saber da derrota do nazismo. Por que razão a vida dos seus pais e dos seus avós foi, do nascimento à morte, igual, segura, previsível, confortável, num certo sentido banal, durante um século de paz e de prosperidade europeia, e a sua uma constante descida aos infernos, a partir dos píncaros da mais sofisticada cultura? A lição que o livro de Zweig nos transmite é que os povos podem cair no abismo do nacionalismo e da guerra quase sem se darem conta. Zweig não é o único a reflectir sobre esta tragédia humana. Ensaístas, historiadores, escritores deixaram um fascinante legado que ainda hoje nos serve de guião para perceber a Europa desses anos — agora que, de repente, a História voltou a fazer a sua entrada em cena, depois do longo milagre de paz, de democracia, de prosperidade que os europeus ocidentais viveram desde os primeiros anos do pós-guerra, ao ponto de se esquecerem dele. Durante a primeira década após a unificação alemã e da reunificação do continente, a União Europeia mostrou-se capaz de resistir ao regresso dos velhos fantasmas, integrando os países que ficaram do lado errado da História depois da guerra, criando um modelo de partilha de soberania que foi a inveja do mundo e um Estado social como nenhum outro. A viragem do século mudou tudo. Primeiro com a queda das Torres Gémeas de Nova Iorque, depois com a queda do Lehman Brothers, o maior banco de investimento americano, que George W. Bush não quis resgatar com o dinheiro dos contribuintes, para se arrepender alguns dias depois. Como sempre, o destino da Europa estava estreitamente ligado ao do seu grande parceiro transatlântico. Em 2004 e 2005, dois grandes atentados terroristas em Madrid e em Londres puseram a nu o fracasso dos seus modelos de integração da imigração, sobretudo islâmica, lançando um intenso debate em torno do multiculturalismo britânico ou do modelo “republicano” francês. Em 2009 e 2010, o impacte brutal da queda de Wall Street atingiu em cheio a Europa, desencadeando uma profunda recessão, seguida de uma crise do euro que chegou a ameaçar directamente a existência da União Europeia. Foi nessa altura que a República de Weimar fez a sua entrada em cena. Um outro pequeno livro escrito em 1975 por Peter Gay, Weimar Culture, descreve o nascimento e a morte da República de Weimar, criada para cortar com o Império, que escolheu para capital uma pequena cidade da Turíngia, abandonando Berlim, monumental e prussiana . “A estonteante lista dos seus exilados – Albert Einstein, Thomas Mann, Bertolt Brecht, Walter Gropius, George Groz, Wassily Kandinsky (…. ) – faz-nos cair na tentação de idealizar Weimar, terra de Goethe, como única, centro de uma cultura sem limites, uma verdadeira idade do ouro”, escreve Gay. “Mas reconstruir este ideal sem mácula é trivializar as realizações da Renascença de Weimar. Parte dela resultava da ansiedade, do medo, de um sentimento crescente de condenação. Uma glória precária, uma dança à beira do vulcão. Uma cultura de outsiders, num breve, estonteante e frágil momento. ” Uma jovem república, minada desde o nascimento pelas guerras fratricidas entre comunistas e sociais-democratas, que não ouviu a marcha do nacional-socialismo. Ainda hoje, 80 anos depois, os alemães têm horror a um qualquer sinal de inflação, que associam à rápida escalada de Hitler, quando os efeitos do crash de 1929 na Bolsa de Nova Iorque se alastraram à Europa, acelerando a subida desenfreada dos preços e a queda abrupta da actividade económica. No final de 1923, durante o catastrófico período de hiperinflação na República de Weimar, o marco alemão, cujo câmbio com o dólar era de 4, 2 para um em 1914, passou para 4, 2 biliões de marcos em troca a unidade monetária americana. Em 1932, no ano em que Hitler subiu ao poder por via eleitoral, seis milhões de alemães, um terço da população activa, estavam desempregados. “Antes de 1929, o Partido Nacional-Socialista era uma força política marginal”, com 2, 6% dos votos em 1928, recorda o académico Antonis Kiapsis. Em 1930, obtém 18, 25% e, em Julho de 1932, 37, 2%, vencendo as eleições. Em Janeiro de 1933, Hitler toma posse como chanceler da Alemanha. Seis anos depois teve início a II Guerra. A Itália tinha um regime fascista desde 1922, mas é ao longo dos anos 1930 que partidos extremistas começam a ganhar terreno na Europa, da Roménia à Áustria, passando pela então Checoslováquia ou pela Bélgica, incluindo a Espanha. A Alemanha tornou-se austera desde aí. No início da última década, pela primeira vez desde a fundação, o cenário da desintegração da União Europeia chegou a estar em cima da mesa. A chanceler referiu essa possibilidade muitas vezes, para justificar à sua cedência a uma opinião pública que não queria saber da sorte dos países “gastadores” e “indisciplinados” do Sul, com o medo de contribuir para a ascensão de um partido de extrema-direita no seu país. Hoje a Alternativa para a Alemanha (AfD) é a terceira força política no Bundestag – liderando a oposição à “grande coligação”. Obteve 13% dos votos. Volta a colocar-se agora a questão a que Raymond Aron chamava “síndroma de Weimar”: até que ponto se deve condescender com os partidos nacionalistas? As comparações históricas não são fáceis, mesmo que possam ser úteis. O anti-semitismo existia na República de Weimar? Paul Bookbinder (Universidade de Massachusetts, Boston) pergunta, na sua obra Why Study Weimar Germany?: “Como podem as forças democráticas de uma sociedade combater os preconceitos e os estereótipos que levam ao ódio?” A questão é eterna. Regressemos ao tempo actual. “Talvez o maior custo da crise não seja económico mas político”, escrevem na Foreign Affairs Manuel Funk (Instituto da Economia Mundial de Kiel), Moritz Schularich (Universidade de Bona) e Christoph Trebesch (também do Instituto de Kiel). Talvez seja “a vaga de populismo que avassalou o mundo na última década, transformando sistemas políticos, fortalecendo extremistas e tornando a governação mais difícil”. “As crises financeiras conduzem habitualmente ao populismo e à polarização, mas a recente vaga populista está a durar mais do que as que se seguiram a anteriores crises – e a provocar mais estragos. ” Alguns exemplos a que os autores recorrem. “Os velhos sistemas de dois partidos em França e em Espanha foram varridos. As forças populistas de extrema-direita emergiram das margens, nalguns casos conseguindo grandes vitórias eleitorais. ” Estão no governo (ou apoiam o governo) na Áustria, na Itália ou na Finlândia. Já estiveram na Holanda e na Dinamarca. Mas também em Varsóvia, Budapeste ou Bratislava. Em 2015, estes três autores publicaram informação relativa a 100 crises financeiras e mais de 800 eleições nacionais em 20 democracias, desde 1870. Descobriram que os partidos de extrema-direita são sempre os principais beneficiários dos crashes financeiros. Os votos desviados para esses partidos aumentam em média 30%, as maiorias de governo tendem a estreitar-se e governar torna-se mais difícil, à medida que mais partidos anti-sistema entram nas legislaturas. Estes efeitos verificam-se na sequência de crises financeiras profundas, mas não dos ciclos económicos normais. As razões também são comuns. As pessoas revoltam-se contra as elites. O estudo indica que esta revolta não beneficia a extrema-esquerda. “Nos anos 1930, por exemplo, foi a pequena-burguesia alemã que permitiu a ascensão de Hitler ao poder. Da mesma maneira, a eleição de Donald Trump foi decidida pelas classes médias e as classes trabalhadoras. ”Assim, os populistas de direita “estão mais disponíveis para explorar as clivagens culturais e acusar os estrangeiros pelos problemas económicos ou apontar o dedo àqueles que supostamente põem os interesses de uma elite global acima dos dos seus compatriotas”. E porque é que este fenómeno está agora a prolongar-se por demasiado tempo, como defendem autores, em comparação com outras crises? Não apenas porque o choque foi tremendo, mas também porque foi apenas um “de uma série de disrupções ao longo dos últimos dez anos”. Os ataques terroristas e a vaga de refugiados são os dois acontecimentos que se juntam aos efeitos económicos da crise que, por sua vez, veio acentuar nas sociedades desenvolvidas a estagnação dos rendimentos da classe média, a precariedade do emprego jovem, o aumento das desigualdades, provocados pelo efeito da globalização económica. Tudo isto nos parece familiar. A incógnita é o que se vai passar daqui para a frente. São também evidentes as diferenças entre o mundo em que vivemos e aquele que existia na Europa e nos EUA quando rebentou a crise de 1929. Contrariando o destino europeu, três anos depois do crash, os EUA elegeram um líder que foi capaz de responder à destruição provocada pela Grande Depressão na sociedade americana. Franklin Roosevelt prometeu um New Deal e cumpriu, lançando as bases do Estado social, que ainda hoje perduram, aliviando progressivamente as tremendas feridas sociais. O seu programa de grandes investimentos para estimular a economia foi de tal ordem que ainda hoje são icónicas as obras construídas (também com o apoio do sector privado) para estimular a economia — do Empire State Building à Ponte de São Francisco. Hoje, o modelo social europeu continua a garantir um nível de protecção que impediria o drama vivido pelas massas de trabalhadores nos EUA durante a Grande Depressão. “Comparar os anos 1930 com os anos 2000 é uma missão arriscada. Nos 80 anos que passaram entre a Grande Depressão e a Grande Recessão, o mundo mudou. Foram constituídos grandes Estados sociais. A relação entre os mercados financeiros e a economia real mudou e voltou a mudar. Os EUA transformaram-se na suprema potência económica e militar. Na Europa Ocidental, a democracia representativa, ao contrário da situação dessa altura, estava institucionalizada e consolidada”, escreve Johannes Lindvall, da Universidade de Lund (Suécia). Mesmo assim, ele defende que a comparação entre as duas crises mostra um padrão comum. As primeiras eleições pós-crise 1929-33 e 2008-2011 nas 20 democracias que existiam em 1929 (Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Costa Rica, Checoslováquia, Dinamarca, Estónia, França, Alemanha, Grécia, Irlanda, Letónia, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Suécia, Suíça, Reino Unido e EUA) revelam que as repercussões políticas foram muito semelhantes. “Os partidos da direita começaram por ser mais bem sucedidos do que os de esquerda, nas eleições realizadas a seguir ao crash, mas, depois de alguns anos, os partidos de esquerda começaram a recuperar. ”Harold James, historiador britânico de Princeton (EUA), tira conclusões semelhantes sobre os efeitos da crise na esquerda e na direita europeias: “A Economist lembrava que, nas eleições para o Parlamento Europeu de 2009, a esquerda moderada não conseguiu capitalizar uma crise económica criada à medida dos críticos do mercado livre. ” Prossegue: “Tony Judt considerava surpreendente que, ‘numa série de eleições europeias que se seguiram ao desmoronar financeiro, os partidos sociais-democratas obtiveram consistentemente maus resultados; apesar do colapso dos mercados, provaram ser incapazes de se erguer à altura das circunstâncias. ” Voltando a Lindvall, “a mais importante consequência política da Grande Depressão foi, evidentemente, a ascensão do autoritarismo de direita na Alemanha, Áustria, Europa Central e América Latina”. Carlos Gaspar (investigador do Instituto Português de Relações Internacionais) lembra, no entanto, que não há hoje à disposição dos movimentos anti-sistema duas ideologias totalitárias, prontas a ser usadas, como havia nos anos 1930 na Europa: o comunismo e o fascismo. O fascismo morreu no final da II Guerra com a vitória dos Aliados. O comunismo implodiu em 1989, com o fim da União Soviética. O Ocidente ganhou a Guerra Fria. Duas outras diferenças significativas entre as duas crises estão no nível de articulação entre as grandes economias que as instituições internacionais permitiram e também na disposição dos governos para intervir em grande escala nas economias. “A crescente densidade das instituições económicas internacionais permitiu aos governos, na Grande Recessão, ultrapassar alguns obstáculos à acção colectiva, associados à coordenação das políticas económicas”, escreve o académico de Lund. Ao mesmo tempo, os governos da França, Alemanha e Reino Unido “intervieram ainda em maior escala [do que os EUA]”. A Europa, no entanto, não conseguiu compreender imediatamente a dimensão da crise de 2008, encolhendo os ombros a um problema que era “dos americanos”. Sucederam-se as proclamações. “Le laisser-faire c’est fini”, disse Nicolas Sarkozy. Peer Steinbrück, ministro alemão da Economia, anunciou com um certo gosto que se tratava de “um problema americano” que levaria a que os EUA “perdessem o seu estatuto de superpotência do sistema financeiro mundial”. Menos exuberante, o vice-primeiro-ministro chinês lembrou com alguma ironia que “os professores estão com um problema”. A crise “acelerou o movimento lento mas inexorável do fim de um mundo centrado nos EUA, que começou com a queda do Muro de Berlim”, escreve Roger C. Altman na Foreign Affairs logo em Janeiro de 2009, definindo o crash de 2008 como “um recuo geopolítico do Ocidente”. A aceleração da ascensão da China foi o resultado mais visível. Richard Haass previu um mundo “não polar” – anárquico. Muitos autores anunciaram a morte do chamado “consenso de Washington” que inspirava o modelo de desenvolvimento de uma grande maioria de países, substituído pelo “modelo de Pequim”. Algumas destas previsões confirmaram-se, outras foram manifestamente exageradas. A realidade internacional era também muito diferente. Nos anos 1930, não havia mais do que duas dezenas de países que dominavam a economia mundial. Em 2008, com a globalização económica, as potências emergentes, apesar de severamente atingidas, conseguiram recuperar mais depressa e puxar pela economia mundial, quando o Ocidente caía em recessão profunda. Ao contrário da maioria das previsões, que apontavam para a grande oportunidade chinesa de “estrangular” a economia americana, vendendo dólares e títulos do Tesouro ao desbarato, isso não aconteceu. “Estrangular” os EUA implicava suicídio. Dez anos depois, algumas dessas previsões mais catastrofistas falharam. A repartição do poder mundial é hoje mais equilibrada, graças sobretudo à emergência da China como a principal candidata a superpotência, desafiando a hegemonia da América. Talvez a questão mais relevante tenha sido a cooperação entre as grandes e médias potências económicas, somando ao G7 (os países desenvolvidos) 13 países emergentes do resto do mundo e travando a tentação do proteccionismo que, nos anos 30, apenas serviu para acentuar a depressão e fomentar o nacionalismo. A primeira reunião do novo G20, que incluía China, Índia, Brasil, África do Sul, Indonésia, Turquia, Arábia Saudita, reuniu-se pela primeira vez em Washington em 2008, por iniciativa de Nicolas Sarkozy e de Gordon Brown. A segunda, em Abril de 2009, já com Barack Obama, foi um marco no consenso entre as maiores economias para travar os efeitos da crise financeira. Houve uma profunda recessão económica, mas não uma Grande Depressão. Citando de novo Carlos Gaspar, há um outro traço comum, acentuado pela Administração Trump. Tal como nos anos 1930, a potência hegemónica “está a abdicar do seu papel de garante da ordem internacional”, como a França e o Reino Unido abdicaram dele nessa altura — permitindo a invasão da China pelo Japão e a Guerra Civil de Espanha, a antecâmara da II Guerra. A China alarga a sua influência, depois de ter consolidado a economia. A Europa está mais dividida do que nunca. É o seu destino enquanto projecto de integração único no mundo e o mais eficaz antídoto contra o nacionalismo que também está em causa. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Muita gente previu a sua morte depois da unificação alemã. É célebre a frase do historiador e académico britânico Tony Judt, escrita em 1997: “A Europa será alemã ou não será. ” O jornalista francês François Lenglet, na sua obra de 2008 La Crise des années 30 est devant nous, defende que “a bela ideia europeia é uma fénix que reaparece depois de cada crise internacional e morre imediatamente antes da seguinte”. Cita Paul Valéry para descrever a profunda depressão europeia depois da I Grande Guerra: “Nós, as civilizações, sabemos hoje que somos mortais. ” Mas a fénix europeia reaparece em meados dos anos 1920, “quando a economia do continente começa a estabilizar-se e a França e a Alemanha se aproximam, apesar das incessantes chicanas sobre as reparações de guerra”. Reactiva-se a ideia dos “Estados Unidos da Europa”. A França, pela mão de Aristide Briand (chefe do Governo) toma conta dela. A Alemanha aceita-a. “Como sempre, os povos estão preparados para a abertura, quando não têm medo do futuro”, escreve Lenglet. A euforia não durou muito. “Da mesma forma que a euforia económica tinha permitido aos europeus dar início à reconciliação, a entrada em cena da crise e do desemprego restabelecerá as fronteiras nacionais nos espíritos e nos factos. ” A França abandona pouco a pouco o seu desejo de Europa. Briand morre alguns meses antes da chegada de Hitler à chancelaria. O governo da Frente Popular liderado por Léon Blum, onde dominam os comunistas, começa bem, mas as greves e a redução do tempo de trabalho de 48 para 40 horas travam a economia. A Europa voltará a renascer como uma fénix depois da II Guerra. Para integrar a Alemanha, garantir a presença dos EUA e enfrentar a ameaça soviética. Foi construída por duas grandes famílias políticas: a social-democracia e a democracia-cristã. Hoje, a social-democracia atravessa uma profunda crise na maioria dos países europeus. Quase desapareceu em França ou na Grécia. Não criou raízes no Leste. Os seus redutos do Norte, incluindo o SPD alemão, vivem um declínio eleitoral que parece irreversível. O seu derradeiro sobressalto, que a levou ao poder numa maioria de países da UE na década de 1990 — a “terceira via” —, perdeu-se, incluindo no seu país de origem, onde o New Labour de Tony Blair deu lugar ao velho Labour de Jeremy Corbyn. Boa parte dos votos que perdeu foram para os partidos populistas e nacionalistas, animados pelos deserdados da globalização. No centro-direita, a crise é menos visível, mas a hora da verdade aproxima-se: o que fazer perante a ascensão dos partidos xenófobos e antieuropeus, saídos de um facelift que lhes deu uma aparência mais tolerável? Correm o risco de se partir. Ou de se render. Voltando a Zweig, o que não sabemos é se, de repente, a lenta evolução dos acontecimentos, a que não prestamos demasiada atenção, nos leva inadvertidamente até ao precipício.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Dos Açores à Rússia, a volta ao mundo nas ficções do real
Uma competição de primeira água no Porto/Post/Doc. (...)

Dos Açores à Rússia, a volta ao mundo nas ficções do real
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2018-11-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma competição de primeira água no Porto/Post/Doc.
TEXTO: E, chegados a Novembro, na sequência da presença cada vez mais significativa dos “cinemas do real” nos festivais de categoria A como Berlim, Cannes ou Locarno, depois do panorama exaustivo do Doclisboa, como é possível que a competição internacional do Porto/Post/Doc ainda nos traga surpresas e grandes filmes? Não estamos apenas a ser retóricos; se é verdade que o documentário é hoje um dos territórios mais fervilhantes do cinema moderno, a equipa de programação do ainda jovem festival portuense continua a encontrar pérolas a cada canto, mesmo que isso implique entrar pelos terrenos esquivos das “ficções do real”. A Family Tour, de Ying Liang (Trindade, dia 26, 18h45; e Rivoli, dia 28, 18h), é um exemplo disso: é uma narrativa que ficciona a experiência do seu realizador, exilado em Hong Kong depois da perseguição de que foi alvo por parte das autoridades chinesas, e o reencontro possível com a família que ficou para trás. É um dos 14 filmes escalados para a maior competição do festival até agora — o que se deve, segundo a organização, pela vontade de ter duas longas portuguesas a concurso. Que são dois filmes frágeis, delicados. Um já o conhecemos de Locarno: Sobre Tudo, Sobre Nada, diário de uma década na vida de Dídio Pestana, engenheiro de som, músico, viajante (Trindade, dia 28, 21h45; e Rivoli, dia 30, 16h). O outro é uma estreia — Hálito Azul, a mais recente aventura de Rodrigo Areias, aqui explorando a povoação açoriana de Ribeira Quente inspirado por Raul Brandão (Trindade, dia 25, 21h45; e Rivoli, dia 29, 16h). A fragilidade do filme de Pestana vem do olhar a nu sobre uma década da sua vida; a de Hálito Azul vem da indefinição do projecto, na sua essência um documentário sobre a Ribeira Quente com “interferências” narrativas, mais conseguido na vertente documental do quotidiano insular, menos convincente nas incrustações encenadas. É também isso que o americano Robert Greene atinge num dos melhores títulos da competição e, diríamos mesmo, do ano cinematográfico. Depois de Kate Plays Christine, premiado pelo IndieLisboa em 2016, Bisbee ‘17 (Trindade, dia 25, 18h45, e Rivoli, dia 27, 18h) prolonga o interesse de Greene pelas fronteiras esquivas entre o real e o fabricado. Em 1917, a cidade mineira de Bisbee, no Arizona, foi local da deportação de um milhar de mineiros, em greve pela melhoria das suas condições de vida e de trabalho. Cem anos depois, com a mina já fechada, uma comissão de residentes decide marcar o centenário do evento. Acompanhando a preparação das comemorações e registando as reconstituições históricas, Bisbee ‘17 concebe-se como uma meditação à volta da noção de comunidade por relação com o seu contexto social — a família que descobre que teve os dois irmãos patriarcas de lados opostos da barricada, os registos que revelam como a maioria dos mineiros deportados era imigrante, uma América que não nasceu com Trump mas já existia em 1917. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. São vários os filmes da competição que tocam nas questões da imigração e da comunidade. O brasileiro Karim Ainouz trata-a em Central Airport (Trindade, dia 27, 21h45; e Rivoli, dia 29, 18h): o aeroporto berlinense de Tempelhof, por onde passaram Hitler e a ponte aérea de Berlim, é hoje um centro de acolhimento para refugiados, comunidade à parte dentro de uma comunidade. Em Obscuro Barroco (Trindade, dia 25, 17h; e Rivoli, dia 29, 14h30), a grega Evangelia Kranioti percorre o Rio de Janeiro através dos olhos da artista e activista transgénero Luana Muniz (falecida após a rodagem do filme) e das palavras de Clarice Lispector, numa exploração das comunidades marginais através da capacidade de reinvenção e luta dos cariocas. E o galego Eloy Domínguez Serén foi a um campo de refugiados no deserto do Saara filmar Hamada (Trindade, dia 25, 15h; e Rivoli, dia 1, 16h): o quotidiano de três jovens sarauis presos no meio de nada. Filmar a vida num campo de refugiados pode rapidamente cair num retrato bem-intencionado mas miserabilista ou no panfleto activista; Serén não cai em nenhuma dessas armadilhas, mesmo que não escamoteie a pobreza a que os sarauis foram condenados pelo seu estatuto quase apátrida. Hamada constrói-se à volta de uma coisa tão quotidiana como um carro, símbolo de uma liberdade que os jovens teimam em procurar, aprendendo a guiar, arranjando carros, procurando emprego ou tentando emigrar. Numa competição tão inesgotável, ter-se-á que falar de Putin’s Witnesses (Rivoli, dia 26, 18h; e Trindade, dia 30, 21h45). , Vitaly Mansky, exilado na Letónia desde 2014, mergulha nos seus arquivos para redescobrir imagens do ano 2000 — ano I da era Putin. E que imagens: filmadas durante um período em que Mansky fez perfis televisivos de Yeltsin, Gorbachev e Putin, só agora mostradas revelam o momento em que a Rússia mudou sem que o notássemos, com algo de profético do que aconteceria nos 20 anos entretanto decorridos. Putin’s Witnesses é também um mea culpa de Mansky através de uma voz off que questiona a sua convicção daqueles tempos, testemunha cujo estatuto neutral de observador se transformou em cúmplice da ascensão do presidente russo. Se Vitaly Mansky fala de 2000, Sergei Loznitsa fala de 2018 e das consequências da ascensão de Putin em Donbass (Rivoli, dia 26, 21h30; e Trindade, dia 29, 18h45), filme-gémeo da via sacra Uma Mulher Doce mas também da sua obra-prima documental Austerlitz. Inspirado pelas “repúblicas populares” pró-russas da Crimeia e pela manipulação mediática russa, é uma sucessão progressivamente mais desconfortável de episódios aparentemente desligados entre si, de um absurdo desesperado tornado em humor escarninho e negríssimo, entre Roy Andersson e Franz Kafka. É um retrato de uma realidade desintegrada, onde tudo é verdadeiro e falso e se torna impossível fazer a distinção, com o virtuosismo formal e a lucidez alucinada que reconhecemos ao ucraniano. É coisa para deixar o espectador sem fé na humanidade, mas é também o filme ideal para falar de “ficções do real” num tempo em que o real parece, ele próprio, uma ficção.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave imigração campo mulher comunidade social pobreza perseguição imigrante deportação
Wolfgang Schussel: “A Europa é o que resta do Ocidente”
O antigo chanceler austríaco diz que é preciso ter paciência com Orbán. A China é o verdadeiro desafio. O maior problema de Trump é ter abdicado da liderança mundial. A Europa é o que resta do Ocidente mas não consegue preencher totalmente o vazio. (...)

Wolfgang Schussel: “A Europa é o que resta do Ocidente”
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: O antigo chanceler austríaco diz que é preciso ter paciência com Orbán. A China é o verdadeiro desafio. O maior problema de Trump é ter abdicado da liderança mundial. A Europa é o que resta do Ocidente mas não consegue preencher totalmente o vazio.
TEXTO: O antigo chanceler austríaco (entre 2000 e 2007), de centro-direita, tem hoje uma intensa actividade de conferencista e participa em várias instituições dedicadas à reflexão sobre o mundo, incluindo a China. Foi durante o seu tempo que, pela primeira vez, a União Europeia aplicou sanções a um Estado-membro por incluir no governo um partido de extrema-direita. Que regressou outra vez. Wolfgang Schussel esteve em Lisboa a convite da Sociedade Francisco Manuel dos Santos para participar num encontro do grupo. Veio a Lisboa falar sobre a Europa. Quando foi pela primeira vez chanceler, em 2000, a Europa só tinha 15 países. Teve uma série de problemas quando fez uma coligação com um partido de extrema-direita. Hoje há partidos nacionalistas e populistas em quase todos os países europeus, sendo que alguns estão em coligações governamentais ou apoiam os governos nos parlamentos. Como é que explica este ressurgimento? É só por causa da imigração?O populismo é um velho fenómeno político na América e na Europa. Já Cícero aconselhava o seu irmão sobre o que é uma boa campanha eleitoral: promete tudo e não faças nada. É esta a característica do populismo, que é de esquerda e de direita, convém não esquecer. O Syriza, o Podemos são partidos populistas de esquerda. E mesmo em partidos centristas temos tendências populistas e nacionalistas. Mas como explica este surto actual?Há três elementos. O primeiro é a insatisfação com a actual situação política. Um exemplo. Na Alemanha, seja qual for o partido em que os alemães votem, o resultado é sempre o mesmo: uma “grande coligação”. E isso implica o reforço dos extremos – o Die Linke e, agora, a AfD [Alternativa para a Alemanha, extrema-direita]. Na Áustria era a mesma coisa. Sim. Nós costumamos dizer que somos peritos em transformar uma “grande coligação” numa “pequena coligação”. Se o resultado das eleições conduz sempre ao mesmo governo, se é impossível derrotar quem governa, se não há alternativa – a célebre TINA –, as pessoas começam a ficar insatisfeitas e, ou abstêm-se, ou votam nas franjas ou nos extremos. O segundo ponto tem a ver com a crise financeira, que desempenhou um papel importante. Não se esqueça que Ben Bernanke [anterior Presidente da FED] lhe chamou a primeira crise financeira global, incluindo a Grande Depressão nos anos 1930. Houve uma queda de 90% nos mercados financeiros globais; em dos ou três meses, uma queda de 20% no comércio mundial. Durante a Grande Depressão foram precisos dois anos para chegar ao mesmo resultado. A crise financeira foi uma enorme ameaça à confiança nas economias e nas democracias ocidentais. E, evidentemente, a crise migratória também mudou muitas coisas. Há alguns números impressionantes. Creio que, na América, o número de hispânicos cresceu de 5% para 18% em 30 anos. Na Suécia, nos últimos 30 anos, os imigrantes passaram de quase zero para 19%. Na Alemanha são 20%. Na Suíça, 25%. Na Áustria, 55% das crianças de Viena que começam a escola primária não falam alemão correntemente. Cinquenta e cinco por cento?Cinquenta e cinco por cento não falam alemão em casa. Isto é um enorme desafio. Na Europa de Leste há ainda mais um elemento a tomar em consideração: a perda de população. Letónia e Lituânia perderam pelo menos 30% da sua população desde a entrada na União Europeia. Na Polónia, cerca de um milhão de pessoas deixou o país e vive hoje sobretudo no Reino Unido. Acabo de vir da Bulgária, que perdeu mais de 20% da população. Emigração para o Ocidente?Sim, para a Europa Ocidental. A Roménia perdeu três milhões de pessoas. A Hungria, um milhão. Tudo isto significa alguma coisa e tem contribuído para uma viragem em direcção à procura da sua própria identidade. Eles têm medo de se verem alienados perante a vaga de imigrantes, na sua maioria de origem islâmica, mesmo que essa vaga se tenha dirigido sobretudo para a Suécia, Alemanha e Áustria e não para a Bulgária, Polónia ou Roménia. Mas eles têm medo. Devíamos ter um pouco mais de paciência com eles. Mesmo com Viktor Orbán?Sem dúvida. O verdadeiro problema da Hungria, que de resto vai bastante bem, é que tem três partidos sociais-democratas que se digladiam mais entre si do que contra Orbán. Devo dizer-lhe que não estou nada preocupado com a Hungria, porque a sociedade civil está viva e capaz de criticar. O mesmo se passa na Polónia. Nenhum jornalista está na prisão, como sabe. Não estamos a falar da Turquia ou da Rússia. É uma realidade completamente diferente. Claro que temos de criticar alguns aspectos que infringem as nossas leis. Mas temos de fazê-lo através do diálogo com eles e não acerca deles. Portanto, não concorda com a decisão do Parlamento Europeu de abrir um processo de infracção contra a Hungria…Não, não concordo. Claro que é preferível ter um processo que abra as portas para um diálogo. Creio que a Comissão tem feito o que deve: confrontar o governo húngaro e o polaco com as críticas à violação de certos princípios. Têm de ser criticados. Mas temos de evitar a tentação de lhes dar lições. Devemos ter mais paciência, porque eles tiveram cinquenta anos de opressão comunista e precisam de tempo para aprender como é que se vive em conjunto. Em 2000, durante uma presidência portuguesa da União Europeia, foram aplicadas sanções diplomáticas ao seu país, ainda que meramente informais, quando o senhor formou um governo com a extrema-direita de Joerg Haider. Qual foi a sensação?Magoou. Magoou. Em primeiro lugar, magoou-me a mim, pessoalmente, que fui sempre um pró-europeu. As pessoas conheciam-me e podiam confiar em mim. E a verdade é que, seis ou sete meses depois, as sanções acabaram. Não se podem fazer estas coisas por antecipação. É preciso esperar que alguma coisa de negativo aconteça. Nós nunca violámos os valores europeus…Mas as sanções foram apenas diplomáticas e nem sequer estavam nos tratados. Também visavam os cidadãos, houve cancelamentos de programas europeus, os austríacos não puderam candidatar-se a postos internacionais. Não eram assim tão informais, tinham substância. Foi depois disso que desenvolvemos com os italianos os procedimentos que estão no Artigo 7. º do Tratado, no qual se prevê que é preciso ouvir e conversar [antes de aplicar sanções]. Dois anos depois, em novas eleições, o seu partido obteve uma vitória (tinha sido o terceiro nas eleições anteriores) e o partido de Haider, que tinha sido o segundo, caiu para 10%. Isso quer dizer que a responsabilidade de governo pode moderar esses partidos? Hoje, pode acontecer a mesma coisa?O Partido da Liberdade não é a AfD. É um dos mais velhos partidos da Áustria e vai mudando conforme a conjuntura. Têm três alas: uma nacionalista, uma liberal e outra populista. Cada uma luta contra as outras pelo controlo do partido, o que explica, de algum modo, a implosão de 2002, quando passou de 27% para 10% e nós passámos de 27 para 42%. Foi uma enorme vitória. Isso significa que, se os incluímos, eles perdem imediatamente o seu sector populista, o voto de protesto. Não perdem os votos nacionalistas moderados nem os votos liberais. O mesmo acontece, de resto, na Dinamarca, na Suécia ou na Finlândia. Como lidar com estes partido?Se estão dispostos a aceitar um programa moderado, podemos lidar com eles, caso contrário, não é possível. Foi o que fizemos: desde o primeiro momento dissemos que a Europa estava fora de qualquer negociação. No meu tempo, durante os primeiros dois anos, votámos por unanimidade o tratado constitucional europeu e votámos unanimemente o alargamento a Leste – houve um voto contra –, e isso acabou por ser positivo. Mas, para eles, custou-lhes votos, naturalmente. A Europa foi construída contra os nacionalismos, que tinham levado às guerras totais da primeira metade do século. Em que medida o poder crescente destes partidos pode erodir a integração europeia?Permita-me que a corrija. Creio que a Europa não foi construída contra o nacionalismo, foi construída contra o fascismo e, depois, contra o comunismo – contra ideologias totalitárias. A ideia de integração não aboliu o Estado-nação, pelo contrário, reforçou-o. As nações europeias são demasiado pequenas para resolver os grandes problemas: alterações climáticas, moeda, política externa, defesa, protecção das fronteiras externas, etc. . . Mesmo assim, apesar de todas essas questões terem de ser tratada ao nível europeu, mantemos uma enorme margem para gerirmos os nossos países – saúde, educação, segurança social. Temos de nos habituar a respeitar o princípio da subsidiariedade. Disse hoje que a Europa não pode salvar-se pela rigidez e pela centralização, mas pela flexibilidade e pela subsidiariedade. O que precisamos de fazer, até para combater o populismo de direita e de esquerda, é tentar encontrar o equilíbrio entre as áreas que temos de fortalecer a nível europeu e o que podemos fazer a nível nacional ou até regional. Quando olha para o futuro da Europa, quais são os maiores desafios a vencer para que as coisas corram bem?Olhe, a próxima grande questão é o "Brexit". Não posso lamentar mais a saída do Reino Unido e creio que Portugal pensa o mesmo. Os britânicos sempre acrescentaram alguma coisa que nós, na Europa Central ou na Itália ou na Grécia, não temos nos nossos genes: a visão geopolítica, a abertura, os mercados livres, a globalização. Também a ideia de que cada país deve manter o controlo em algumas áreas, a ideia de subsidiariedade de que já falei. O Reino Unido é o país mais eficaz em matéria de defesa mas também na qualidade da sua diplomacia. Este espírito e estas capacidades vão fazer-nos falta. Mas tem de haver um acordo. Não haver acordo será uma situação terrível para ambos os lados. Depois do Brexit, o que falta fazer?A coisa mais importante para o próximo ano é encontrar as pessoas melhores, mais brilhantes, mais competentes, mais enérgicas para os postos relevantes da União Europeia – presidente da Comissão, chefe da diplomacia, presidente do Conselho Europeu, presidente do BCE. Os melhores e os mais brilhantes. O terceiro desafio é, claro, ao nível da geopolítica: a ascensão da China, a alienação da Rússia, a ausência da liderança americana. A Europa é o resto do Ocidente e, por isso, temos de assumir a nossa responsabilidade global no domínio da política externa, da política de defesa, apoiando o sistema multilateral e as suas instituições. Se não o fizermos, ninguém o fará. E acredita que a Europa é suficientemente forte, mesmo sem o Reino Unido, para substituir os EUA na defesa da ordem liberal?Em certa medida, será com o Reino Unido, por isso é tão importante conseguir um bom acordo com eles, o que exige alguma flexibilidade e compromisso de ambas as partes. Mas, com todos os nossos problemas, não subvalorize o facto de sermos sociedades prósperas e pacíficas, termos instituições resistentes e boas democracias. Quem a não ser nós?Mas precisamos de uma liderança forte. A chanceler Angela Merkel não está num dos seus melhores momentos e não se sabe se ainda vai recuperar…Não a risque já da paisagem. Não me parece que vá desaparecer, mesmo que seja tempo de começar a discutir a sua sucessão. Macron está lá e esperamos que sobreviva a este mau momento. Precisamos dele, com a sua energia e a sua determinação. E não se trata apenas da França e da Alemanha - é preciso que os países de média dimensão, como a Áustria, Portugal, Holanda, Bélgica, Republica Checa, Grécia, Hungria, façam a sua parte. Pela primeira vez desde a II Guerra, há um Presidente americano que não gosta da integração europeia nem da relação transatlântica. É só um fenómeno temporário? É uma tendência mais profunda?É uma boa questão mas, às vezes, as boas questões nem sempre encontram uma boa resposta. Penso que as coisas começaram muito antes de Trump, com a legislação extraterritorial, por exemplo… E nem tudo aquilo que Trump começou é necessariamente negativo. Ele tem razão quando critica a China e é interessante observar como a China está hoje mais disposta a fazer cedências do que estava antes. Por causa do gigantesco mercado americano. Claro. A questão da Coreia do Norte ainda não está resolvida, mas creio que as perspectivas são melhores agora. Creio também que as críticas aos aliados europeus sobre as suas despesas com a defesa são correctas. Creio que nem tudo é assim tão negativo. Mas sua visão e os seus métodos…São completamente diferentes dos nossos. Ele é um deal-maker e deals versus rules é exactamente o que nos divide. Ele quer deals, nós defendemos regras, queremos uma ordem internacional assente em regras comuns. Mas, mais uma vez, a retórica é uma coisa e a realidade é outras. Jean-Claude Juncker negociou com ele e o resultado foi positivo. Vi agora as notícias sobre o acordo com o Canadá, que já tinha conseguido com o México, para o NAFTA com outro nome…E com um resultado muito mais favorável aos EUA, que têm poder para impor o que querem. Sim. Mas não foi uma “guerra comercial”. Foi melhor para os interesses americanos, com certeza, mas não deixa de ser um acordo. Eu não diria que é tudo 100% negativo, como muita gente diz. Mas isso não quer dizer que não devamos estar verdadeiramente preocupados. Sobretudo porque a América se ausentou do seu papel de líder do Ocidente. E isso é um problema. Precisamos de aliados e a América era o nosso principal aliado. Se abandonar o seu papel fundamental, abrir-se-á um vazio, o que nunca é bom. E a Europa não pode preenchê-lo sozinha, isso nós sabemos. Pensa que os europeus estão dispostos a ter menos Estado social e mais carros de combate?Não creio que seja sobre carros de combate. Do que precisamos é de mais cooperação digital, mais logística, muito mais cooperação nos serviços de informações. Não é tanto sobre tanques e dinheiro, é sobre cooperação, o que até há pouco tempo era um tabu. Não estou assim tão pessimista. O que sabemos é a jornada fascinante de um continente que viveu 300 anos de conflito, com mais de 120 guerras, e que vive há 70 anos em paz. Multiplicámos a nossa riqueza por 50. Para manter-se assim, a União Europeia precisa de se apresentar no mundo com uma estratégia comum. Ainda não estamos lá e a China e a Rússia continuam a apostar na divisão da Europa. Concordo. Mas, ao mesmo tempo, devíamos evitar empurrar a Rússia para os braços da China, enquanto parceiro menor. A Rússia só tem duas opções: ou se vira para o Ocidente, para a Europa, ou se vira para Leste, para a China. Mas, para a China, a Rússia representa apenas 10% da sua população, cerca de 5% da sua economia. Sem negligenciar os problemas que temos com a Rússia, devíamos pensar como é que podemos vencer esta ameaça. Embora seja difícil, depois da Ucrânia. Claro que é difícil. Mas se conseguimos ultrapassar as ameaças da Guerra Fria e integrar antigos países comunistas, se a América está a negociar com a Coreia do Norte, por que razão não havemos de conseguir encontrar formas de compromisso com a Rússia, criando uma espiral positiva a partir desta crise ucraniana?Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E como olha para a China, a principal candidata a nova superpotência?Já é uma superpotência, pelo menos na Ásia. Está a investir imenso nas capacidades militares, na digitalização – representa hoje 20% do investimento global no sector, cerca de 230 mil milhões de dólares –, têm companhias gigantescas como a Ali Baba e outras. O Partido Comunista Chinês está a reforçar a centralização do poder e utiliza algumas virtudes da nossa democracia, como o combate à corrupção, a meritocracia, escolhendo os melhores para as funções do partido. É uma experiência interessante e devemos ter consciência de que eles nos desafiam através de uma competição entre sistemas: autocracia mais elementos da economia de mercado versus democracias liberais mais economias de mercado. Nasceu num país que, até ao fim da Guerra Fria, estava no fim de uma rua sem saída. Agora está no centro da Europa. Crê que continua a ser útil conhecer a história europeia da primeira metade do século XX para evitar cometer os mesmos erros fatais?É importante lembrar a História porque compreendê-la ajuda a compreender o presente e o futuro. Mas creio que é muito mais importante concentrarmo-nos no futuro. Nós tivemos duas oportunidades extraordinárias em 1989: a perspectiva de adesão à União Europeia, quando a Cortina de Ferro caiu. Cinquenta por cento das nossas fronteiras estavam cercadas pela Cortina de Ferro. O meu primeiro circulo eleitoral como deputado foi no Nordeste, exactamente por onde passava a divisão e ninguém sabe que, ao longo da fronteira austríaca, tivemos mais vítimas – refugiados à procura de asilo, que foram assassinados ou feridos –, do que na muito mais longa fronteira entre as duas Alemanhas. Foi um dos pontos mais sangrentos. Desde 1989, mais do que duplicámos a riqueza produzida, quadruplicámos as exportações, multiplicámos por dez o investimento interno e estrangeiro – foram tempos extraordinários para nós. As pessoas sabem isso. A adesão foi aprovada em referendo por mais de dois terços dos votos. Hoje, quando se pergunta aos austríacos se querem sair, 90% respondem que não e 10% dizem que sim. Não estamos a olhar para o passado, não somos nostálgicos, não olhamos para a monarquia ou para os bons velhos tempos, que nunca são tão bons como os pintamos. Em qualquer dos nossos países, não só no meu. Por isso, digo que nos devemos concentrar no futuro.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Como português, quer um futuro melhor?
Nem só de legislativas vive o homem. (...)

Como português, quer um futuro melhor?
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 5 | Sentimento 0.25
DATA: 2015-10-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nem só de legislativas vive o homem.
TEXTO: Há fenómenos na nossa paisagem política que não podemos deixar de nos interrogar sobre a sua razão de ser. Porque é que em Portugal não existe um partido com um forte componente popular e com uma marcada atitude anti-sistema como o grego Syriza (Coligação de Esquerda Radical) ou o espanhol Podemos?Porque é que em Portugal a extrema-direita não consegue ter existência visível e o PNR – Partido Nacional Renovador se vê reduzido a tristemente festejar no seu site a colocação de um outdoor no Saldanha em Lisboa com a frase “Refugiados aqui Não – A nossa prioridade Portugal e os Portugueses” enquanto em França Marine Le Pen e a Frente Nacional vão de vento em popa?Porque é que para as próximas eleições para a Presidência da República, muito provavelmente, não vamos poder contar com um candidato populista ou xenófobo ou, mesmo, perigoso como Donald Trump?À primeira vista, o que temos de mais expressivo neste campo seria Alberto João Jardim. Quem já se esqueceu das suas declarações públicas num qualquer evento na Madeira, há alguns anos, indignando-se com a chegada do perigo amarelo: “Os chineses estão a entrar por aí adentro. Os indianos a entrar por aí adentro”. E, depois de confirmar a presença de chineses na sala, acrescentou “É mesmo bom para eles ouvirem. É bom, porque eu não os quero aqui”. Não tem a dimensão e a expressividade do muro de Donald Trump para conter a invasão dos delinquentes mexicanos mas, ao nosso nível, já é notável. Em 15 de Agosto – no que não pode deixar de se considerar um excelente timing político – Alberto João Jardim lançou no facebook, na página de apoio à sua candidatura às eleições Presidenciais de 2016, dez questões para cada português pensar, responder e. . . esperava-se avançar no apoio à sua candidatura. As perguntas, embora algo monótonas já que todas começam com a expressão “Como Português”, pareciam potenciar uma vaga de fundo. Não sendo possível reproduzi-las todas, lembramos somente três delas, certos como estamos que a maior parte dos portugueses, como portugueses, as terão lido, se não decorado: “Como Português que quer um futuro melhor, tem medo da única mudança decisiva que é a constitucional, e prefere se deixar outra vez à mercê dos candidatos presidenciais apoiados pelas figuras e partidos situacionistas que nada de importante vão alterar?” ou “Como Português, em vez de uma subordinação escandalosa, inconstante e parca de garantias aos poderes políticos e financeiros de uma Europa decadente também no plano dos Valores, antes não prefere que Portugal tenha uma nova Constituição que a Si defenda dos constantes abusos de lançamento de impostos e estabeleça regras fiscais e orçamentais no tempo, as quais atraiam investimento e criem Emprego?”. Ou, ainda: “Como Português, se em consciência, por patriotismo e por solidariedade social, acha que deve ajudar a mudar o sistema político-constitucional e pôr fim ao beco sem saída para onde nos trouxeram os poderosos interesses e Partidos situacionistas, está disposto ao voluntariado cívico de, na Cidade ou Aldeia onde vive, sem qualquer vantagem material, responder a participar numa organização PARA MUDAR PORTUGAL?”. O português não parece brilhante mas são perguntas arrebatadoras que poderiam ter feito levantar os Portugueses que “querem um futuro melhor” em uníssono e que, no entanto, não tiveram a almejada repercussão. O que explicará esta falta de adesão dos portugueses àquele que poderia ser o candidato presidencial populista e anti-sistema?No passado dia 14, Alberto João Jardim deslocou-se ao Clube dos Pensadores em Vila Nova de Gaia para explicar o seu pensamento político. Referiu, como sempre, a necessidade da mudança da Constituição mas, segundo o jornal online Observador, quanto aos refugiados sublinhou que “tem de se ajudar as pessoas”, mas “é preciso saber quem se recebe, até por uma questão de segurança nacional”. E acrescentou que “é preciso saber onde é que é precisa força de trabalho porque não vamos ter turistas cá dentro. Vamos saber onde é que o país precisa de força de trabalho para dar uma oportunidade de nova vida a essas pessoas”. Parece evidente que o PNR já não o vai apoiar. De resto, como o próprio referiu, terá de ser um movimento popular de base a sustentar a sua candidatura: “Se querem, de facto, uma mudança em Portugal então nas respectivas cidades e nas respectivas aldeias formem comissões e digam “Sim senhor, o senhor avance mas tem aqui uma comissão para apoiá-lo”; agora eu ir de casa em casa, de aldeia em aldeia, a dizer “Façam o favor. . . ” ou mandar um tipo atrás mim a tocar corneta pelas ruas, não, nada disso, eu essas figuras não faço”. Esta recusa de Alberto João Jardim em entrar em palhaçadas, só por si justificava um movimento popular e, no entanto. . .
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave campo social medo
O melhor da Bienal de São Paulo mostra-se em Serralves
Serralves inaugura esta sexta-feira a exposição Como (…) coisas que não existem, montada a partir de uma selecção das obras que estiveram na Bienal de São Paulo. É a primeira vez que a prestigiada bienal brasileira viaja até à Europa. (...)

O melhor da Bienal de São Paulo mostra-se em Serralves
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 1.0
DATA: 2015-10-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Serralves inaugura esta sexta-feira a exposição Como (…) coisas que não existem, montada a partir de uma selecção das obras que estiveram na Bienal de São Paulo. É a primeira vez que a prestigiada bienal brasileira viaja até à Europa.
TEXTO: A relação entre a exposição que esteve na Bienal de São Paulo e a que agora se mostra em Serralves, naquela que é a primeira itinerância europeia da bienal brasileira, “é como a de um vinho e uma aguardente: têm sabores diferentes, mas percebe-se a ligação”, diz o escocês Charles Esche, um dos curadores de Como (…) coisas que não existem, que esta sexta-feira se inaugura no Museu de Serralves, onde permanecerá até 17 de Janeiro do próximo ano. Apresentando 28 artistas e colectivos, dos 75 que puderam ser vistos em São Paulo entre Setembro e Dezembro de 2014, a montagem da exposição em Serralves implicou mostrar cerca de um terço das obras num espaço dez vezes mais pequeno. Uma restrição que se revelou positiva: “Acho que o sabor aqui é mais intenso”, assegura ao PÚBLICO Charles Esche, um dos três curadores — os outros são Galit Eilat e Oren Sagiv — responsáveis pela selecção de obras agora mostrada no Porto. Com uma fortíssima dimensão social e um óbvio desejo de denunciar os efeitos mais negativos da globalização ao mesmo tempo que imagina e pensa outros possíveis, a exposição “conta sensivelmente a mesma história no Brasil e em Portugal”, diz ainda Esche, mas observando que a necessidade de adequar as peças à arquitectura de Siza Vieira gerou diálogos entre determinadas obras que não existiam em São Paulo. O curador confessa ainda não ter ficado “totalmente satisfeito” com as obras que resultaram de algumas das encomendas feitas para a bienal paulista, e nota que os curadores tiveram agora a possibilidade de escolher a partir de peças que já conheciam. O texto que Esche e Eilat escreveram para o livro que Serralves editou para acompanhar a exposição — e que se afasta um tanto do catálogo convencional, incluindo não apenas textos críticos, mas contribuições heterogéneas de vários dos artistas representados —, enuncia com invulgar clareza a convicção de que a arte pode mesmo ajudar a mudar o mundo. Vendo neste início do século XXI “uma época de decepção”, os curadores observam que “os movimentos de oposição estão a ganhar força colectiva, mas terão ainda de apresentar uma narrativa alternativa convincente”, e que, por agora, “a indecisão e o medo dominam tudo e todos”. Mas admitem haver motivos para esperar que “uma grande transformação” venha a “ocorrer mais cedo ou mais tarde”, o que tornaria “urgente” existir, argumentam, “capacidade da imaginação para preparar o terreno”, algo que “a arte no seu melhor pode realizar”. Petição ao PapaUma das mais sedutoras obras presentes nesta exposição, com a sua mistura de crítica e humor, é Errar de Deus, uma instalação do colectivo argentino Etcétera que parte da obra de León Ferrari e utiliza algumas das peças deste artista iconoclasta desaparecido em 2013. Ferrari foi censurado na Argentina pelo então arcebispo Jorge Bergoglio, o actual Papa. Numa sala rodeada por imagens alusivas à devastação dos recursos naturais na América latina, uma bancada vermelha com telefones permite aos visitantes ouvir as conversas de deus com o Papa, Angela Merkel e vários outros interlocutores. Uma ideia inspirada num livro de Ferrari em que este colava trechos bíblicos a notícias de jornais e outros textos, criando diálogos inesperados. Uma vitrine expõe os divertidos objectos criados por Ferrari, que associam uma estética de brinquedos de bazar a mensagens por vezes bastante violentas, de um Jesus guiando um tanque a Hitler apanhado numa dessas ratoeiras clássicas que aparecem nos desenhos animados de Tom e Jerry ou Speedy Gonzales. Numa parede, recolhem-se assinaturas para uma petição, a ser entregue ao papa Francisco, pedindo a abolição definitiva do Inferno. Novamente, trata-se de recuperar uma iniciativa original de Ferrari, que escreveu duas vezes a João Paulo II a solicitar-lhe que extinguisse esse local de eternos suplícios. Federico Zukerfeld, um dos elementos do colectivo Etcetera, argumenta que num mundo onde a tortura está ainda hoje tão presente, o Papa deveria decidir se a religião é “um aparelho de guerra e tortura ou uma fonte de libertação”. A ideia de criar coisas que (ainda) não existem, está bem representada logo na primeira sala do percurso expositivo, onde uma obra da chinesa Qiu Zhijen— enormes mapas que não cartografam apenas lugares, mas também ideias e emoções — convive com uma instalação resultante do trabalho conjunto de crianças e adultos envolvidos num projecto com refugiados palestinianos e moradores de uma favela brasileira. Noutra sala, uma floresta suspensa de acrílicos figurando um arquivo de documentos da CIA sobre a ditadura brasileira, concebida pela chilena Voluspa Jarpa, dá o tom a várias obras relacionadas com o passado colonial e a heranças das ditaduras latino-americanas. Com uma forte representação brasileira, mas incluindo também artistas das mais diversas proveniências — da Argentina ao Chile e à Colômbia, de Portugal e Espanha à Itália ou Polónia, de Israel e da Palestina à Turquia ou à China, esta é uma exposição que lida abertamente com os conflitos do presente, da destruição de património no Médio Oriente às tensões russo-ucranianas. Mas Charles Esche prefere falar da sua dimensão “social”, e “não tanto política”, pelo menos em sentido mais estrito, até porque, recorda, o historial de violência na América Latina não é apanágio exclusivo da direita. Sintomaticamente, o percurso acaba no Inferno, título de um filme de Yael Bartena que mostra a inauguração de uma réplica do templo de Salomão em São Paulo, construída pela Igreja Universal do Reino de Deus com pedras vindas de Israel.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra violência social medo
Mil milhões de euros de investimento imobiliário já identificados para 2016
Entre negócios que transitam de 2015 e outros em curso ou já assinalados, estão já previstos para este ano pelo menos 1.000 milhões de euros de investimento em imobiliário. A maior parte destes negócios poderá ser fechado ainda no 1º semestre. (...)

Mil milhões de euros de investimento imobiliário já identificados para 2016
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2016-02-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Entre negócios que transitam de 2015 e outros em curso ou já assinalados, estão já previstos para este ano pelo menos 1.000 milhões de euros de investimento em imobiliário. A maior parte destes negócios poderá ser fechado ainda no 1º semestre.
TEXTO: Ana Tavares O ano começa com perspetivas positivas para o investimento imobiliário em Portugal, depois de um 2015 em que os níveis transacionados atingiram máximos de 2. 100 milhões de euros, de acordo com a CBRE. Estes bons resultados “transportam muito otimismo para 2016” nas palavras de Neil Blake, que deu nota de que “foi um ano em que as yields continuaram a crescer nos escritórios, já abaixo dos níveis de 2007 em alguns casos”. A seu favor este ano Portugal tem a recuperação do consumo, as taxas de juro baixas e um “aumento indiscutível” da concessão de crédito por parte da banca, bem como uma crise bancária que “começa a ir embora”, apontou o responsável pela área research da consultora CBRE para a região EMEA (Europa, Médio Oriente e África). O especialista esteve em Lisboa num Almoço-Conferência da Vida Imobiliária, que decorreu a 15 de janeiro no InterContinental Lisbon, para falar das tendências mais marcantes do mercado de investimento na Europa e em Portugal. Nuno Nunes, que lidera a área de investimento desta consultora em Portugal, fez as contas e avançou que cerca de 1. 000 milhões de euros estão já identificados para serem transacionados este ano, entre “entre negócios que resvalaram de 2015, negócios em curso e outros que podem ser transacionados este ano, grande parte deles ainda no primeiro semestre do ano”. Na sua perspetiva, só os escritórios “podem representar 35%. Sabemos de cerca de 400 milhões de euros no Parque das Nações que deverão ir para o mercado este ano”, explicou Nuno Nunes. Os centros comerciais, grandes protagonistas do volume de investimento do ano passado, poderão diminuir o seu peso, e a hotelaria deverá manter-se um dos setores de interesse, bem como outros setores alternativos, já que “quase todos os setores têm yields abaixo dos valores históricos, e os que não têm para lá caminham”, explicou o responsável. Para Nuno Nunes, apesar dos desafios, o”«catch up muito rápido” do país faz acreditar que este ano vai ser bom, já que se assiste em Portugal a uma “recuperação rápida”, num contexto em que “os preços são relativamente bons, é um mercado da zona euro com confiança de mercado nas finanças públicas”, não esquecendo “as baixas taxas de juro e as expetativas das taxas de câmbio”, avançou. Instabilidade política é desafioEntre os desafios que o mercado português pode enfrentar destacam-se “a possível incerteza política e a ainda lenta recuperação”, de acordo com Neil Blake, o que pode vir a “abanar” os resultados este ano. Contudo, sobre estas incertezas, Nuno Nunes disse que, apesar de serem algumas das preocupações apontadas, “não temos ainda ninguém (investidores) a mostrar-se preocupado com estes fatores”. Além do novo quadro político em Portugal, o mercado de investimento imobiliário poderá também ser influenciando pela conjuntura externa, num contexto muito dependente dos acontecimentos internacionais. Este ano, alguns dos desafios prendem-se com a possível crise e abrandamento da economia chinesa, com a crise dos refugiados, o terrorismo, a descida dos preços de alguns bens, como o petróleo ou a alimentação, ou as fricções com a Rússia, listou Neil Blake. O especialista acredita que o abrandamento da China poderá ser mais preocupante “para quem lê essas notícias sobre os mercados financeiros”. ”Podemos questionar-nos se haverá ou não o incumprimento de um mercado emergente este ano, mas em relação à China e ao abrandamento do seu crescimento, o que vamos ver é uma mudança radical na procura derivada de uma economia de consumo moderna”, sendo esta a maior preocupação dos mercados atualmente. E completa que “a China é importante por si, mas o problema é com todos os mercados emergentes”, salientando os níveis de “pouco stress nos mercados financeiros”, sobretudo se compararmos estes níveis com os da crise de 2008 ou com os anos de 2012/2013, o que leva a crer que não haverá causa para o alarmismo que alguns meios de comunicação social têm vindo a divulgar.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave social consumo
Os homens que dominam o mundo
Estamos perante um momento determinante na história – que não pode ser esquecida – em que o eixo político e económico do mundo se está a deslocar. (...)

Os homens que dominam o mundo
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Estamos perante um momento determinante na história – que não pode ser esquecida – em que o eixo político e económico do mundo se está a deslocar.
TEXTO: Um presidente para a vida, um presidente para o futuro previsível e um presidente para o momento. Estes são os três homens que dominam o nosso planeta e ultrapassam a influência dos “homens de Davos”: Xi Jinping da China, um homem com mandato ilimitado; o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, um líder que continua a prolongar sua vida política e o Presidente Donald Trump, um homem que alguns acreditam não acabar o seu mandato ou ser reeleito. Estamos a atravessar uma nova era de homens que se julgam duros no limite da crueldade e um grande ego. Putin fortaleceu seu domínio sobre a política interna, enquanto intensificava a "guerra de influência" cibernética digital da Rússia com o Ocidente. O presidente da China alcançou uma espécie de imortalidade quando os seus pensamentos - não originais - foram consagrados na constituição do Partido Comunista. E Trump promulgou uma desconcertante hipocrisia da presidência dos EUA, misturando poder e ignorância num grau alarmante e perigoso. A Rússia regressou aos três pilares em que assentou a ordem czarista: autocracia, ortodoxia e nacionalismo. Putin é candidato a Czar. Trump abandona os grandes princípios da hegemonia ocidental: o comércio livre e a globalização em troca do isolacionismo, proteccionismo, populismo e nacionalismo. Falando no congresso, Xi saudou uma "nova era" de prosperidade chinesa e poder global. E em Davos afirmou ser a China defensora da economia global e do multilateralismo podendo vir a transformar-se no centro das decisões globais. Xi – o líder com melhor visão estratégica - não foi o único líder a beneficiar da ingenuidade de Trump, da afeição pelo autoritarismo e do egocentrismo facilmente explorado. O corolário da ascensão “de homem duros” foi uma sensação de fraqueza debilitante entre as democracias ocidentais e de uma nova ordem internacional decadente no pós-guerra, cuja resposta efectiva do Ocidente aos conflitos e crises humanitárias pode ter entrado numa fase de declínio. O poder crescente da China de partido único e da Rússia disseminando o autoritarismo em geral, bem como as regressões nacionalistas e populistas dentro da Europa ampliam o dilema. Os nacionalistas, na verdade, detestam a soberania dos outros, mas desprezam também a soberania dos seus próprios povos. As dificuldades do Ocidente foram agravadas pela incerteza sobre como lidar com Trump na governança de uma nova desordem mundial desorientadora de enfraquecimento da liderança global americana. O que os três líderes mundiais exploram é um nacionalismo que visa proteger e expandir suas bases de poder: o proteccionismo de Trump como reflectido nas tarifas de aço e alumínio, com impacto numa guerra comercial com a China, mas negativa a nível global; as intervenções de Putin com novas ambições geopolíticas na Ucrânia, Europa e Médio Oriente; sem esquecer as reivindicações territoriais expansionistas de Xi no Mar do Sul da China no Pacífico. Qualquer um desses argumentos potencialmente desestabilizadores seria motivo de preocupação. Mas ver os três ao mesmo tempo cria um mundo cheio de preocupação pelos riscos acrescidos. Neste quadro, a corrida armamentista começou novamente com o anúncio de Putin sobre a nova geração de armas de destruição em massa da Rússia; Os russos parecem ter declarado uma nova fase na corrida armamentista nuclear em resposta aos novos sistemas de defesa antimísseis americanos. O anuncio de Trump em rasgar o Tratado sobre Forças Nucleares de Alcance Intermédio (INF), assinado em 1987, que ajudou a reduzir o risco de um confronto nuclear - entre as duas grandes potências – poderá ter consequências imprevisíveis em relação ao regresso da proliferação nuclear. Teria sido uma excelente oportunidade para negociar com a China que dele não faz parte. E, por isso, acabou por se ver forçada a uma reforma do armamento nuclear e actualização do seu poder aero-naval. A geografia ainda é importante. Ora, como os EUA estão tão distantes, a sua única esperança é oferecer uma visão regional que possa ancorar seu poder militar na região Ásia-Pacífico. Em relação à Coreia do Norte a resposta de Trump foi contraditória desde o início. Foi mantendo a perspectiva de conversações com Pyongyang, que culminou num encontro pessoal com Kim. Depois de ameaçar "destruir totalmente" a Coreia do Norte passou de uma fase de ameaça nuclear para uma “lua de mel” entre Trump e Kim, que não vai cumprir os acordos de desnuclearização. O multilateralismo, a economia de mercado, a defesa dos direitos do indivíduo e a democracia liberal estiveram na base da nova ordem internacional criada depois da II Guerra. A integração europeia foi um dos pilares fundamentais dessa ordem, tal como a Aliança Transatlântica. Contudo, numa fase em que as ameaças e riscos aumentam e a nova ordem caminha para a desordem internacional. Para a consternação da Europa, Trump foi rude – enfraqueceu a Aliança Atlântica - e depois quis ser simpático alterando mais uma vez o seu discurso. A Europa tem sobrevivido a alarmes políticos incomuns como o caos do "Brexit" – triste acontecimento - para o Reino Unido, mas com efeitos negativos sobre todos os países europeus, entre os quais Portugal. Os problemas da UE estão longe de estar resolvidos e a influência dos EUA será trocada pela da China. Os líderes mundiais estão confrontados com a crescente maré populista gerada por temores sobre a crise dos migrantes e refugiados, a instabilidade económica, o eurocepticismo, a perda de identidade e a velha xenofobia, que pode levar a UE à desagregação se não tiver uma só voz a nível internacional. Assiste-se actualmente a um confronto geopolítico – tem como principais actores Trump, Putin e XI-, de dimensões imprevisíveis, por áreas de influência entre a Rússia-China e o Ocidente, pela reemergência da Rússia e China como potências da Eurásia. Fortalecidas pela cooperação trilateral entre a Rússia, China e Índia. Esse confronto resulta das ambições de Putin e XI e a da política externa errática de Trump para mistificar a sua politica interna. A UE está numa encruzilhada e parece atravessar uma crise de identidade. Não se vislumbram estadistas com capacidade de refundação do projecto europeu e evitar o défice de democracia investindo em novas parcerias estratégicas como África. Além do mais, a UE devia constituir um exemplo de cidadania e solidariedade, bem como na transição energética e revolução digital. Mas o enfraquecimento do eixo Paris-Berlim – já não é o que se esperava - terá impacto negativo naquele projecto. O grande desafio é vencer o medo. A grande beneficiária ao nível geoestratégico e geopolítico será a China, que a médio prazo será a maior potência económica pronta a ocupar o lugar dos EUA na globalização. Porém, Pequim ainda coloca imensas dificuldades ao investimento estrangeiro na China, enquanto beneficia da abertura dos mercados das grandes economias ocidentais. No entanto, Portugal – numa amizade que transcende o tempo - tem a oportunidade de estabelecer uma parceria voltada para o futuro potenciando a nova rota da seda. Estamos perante um momento determinante na história – que não pode ser esquecida – em que o eixo político e económico do mundo se está a deslocar. Durante os últimos cinco séculos deslocou-se para o Ocidente dominante da ordem mundial. Todavia, este eixo está agora a deslocar-se para o Oriente. Sabemos o que isso significa para a Ásia que levou os EUA a alterarem a sua estratégia nacional. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. É o Oriente indomável, onde existe uma enorme participação económica e estratégica. Deriva preocupante em tempos de incerteza sem que a racionalidade esteja a prevalecer. O lado sombrio dos três homens “sábios” não seria pernicioso se compartilhassem visões de um mundo pacífico ancorado pela igualdade, liberdade e prosperidade se o impulso pelo poder pessoal fosse equilibrado por uma abordagem cooperativa e diferenciada dos problemas do planeta. Com os três “homens sábios” no poder, as esperanças de segurança global e prosperidade mundial permanecem uma equação incógnita. E o actual ambiente estratégico permite que estes homens testem os limites até ao eclodir de um conflito sério entre os grandes poderes.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE