Bastonário dos médicos acha “normal” texto contra homossexuais
O bastonário da Ordem dos Médicos considera “normal” a publicação na Revista da Ordem de um artigo de opinião que trata os homossexuais como “anormais” e “defeituosos”, considerando tratar-se de um direito que não pode ser censurado em democracia. (...)

Bastonário dos médicos acha “normal” texto contra homossexuais
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 16 | Sentimento 0.15
DATA: 2011-03-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: O bastonário da Ordem dos Médicos considera “normal” a publicação na Revista da Ordem de um artigo de opinião que trata os homossexuais como “anormais” e “defeituosos”, considerando tratar-se de um direito que não pode ser censurado em democracia.
TEXTO: A Rede Ex-aequo – associação de jovens lésbicas, gays, bissexuais, transgéneros e simpatizantes – escreveu na quarta-feira uma carta aberta ao bastonário da Ordem dos Médicos e à Direcção da Revista da Ordem dos Médicos pedindo a condenação do artigo “O sentido do sexo”, da autoria de William H. Clode, director do Instituto Português de Oncologia, publicado na edição de Janeiro. Em declarações à agência Lusa, o bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, recusou-se a dar uma opinião pessoal sobre o artigo, no qual os homossexuais são classificados como “doentes”, “defeituosos”, “anormais”, “portadores de taras”, com “condutas repugnantes”, “higiene degradante” e que requerem “correcção”. “A minha opinião é irrelevante para esta situação”, disse o bastonário, lembrando que a Revista da Ordem “é plural e livre” e que “os artigos de opinião são da responsabilidade dos seus autores”. O artigo assinado pelo director do Instituto Português de Oncologia insinua que a homossexualidade acarreta doenças e desvios e que, portanto, estas pessoas não têm sequer direito à dignidade nos seus afectos. No texto pode ainda ler-se que existem alguns comportamentos estereotipados – “gestos, fala, indumentária, gostos e manifestações subtis” – pelos quais, segundo o autor, é possível identificar os homossexuais. “Não há censura na Revista da Ordem dos Médicos, nem ninguém na Revista usa as suas opiniões pessoais para censurar a opinião dos outros. Isso não seria estar a viver em democracia”, defendeu o bastonário, que considera que tudo foi feito de “forma transparente, democrática e normal”. No entanto, o Código Penal prevê no artigo 240 a punição de crimes de “discriminação racial, religiosa ou sexual”. De acordo com o Código Penal, “quem, em reunião pública, por escrito destinado a divulgação ou através de qualquer meio de comunicação social ou sistema informático destinado à divulgação (. . . ) difamar ou injuriar pessoa ou grupo de pessoas por causa da sua raça, cor, origem étnica ou nacional, religião, sexo ou orientação sexual (. . . ) é punido com pena de prisão de seis meses a cinco anos”. No entanto, para o bastonário, a publicação oficial da Ordem “vai continuar a ser uma Revista democrática, transparente, plural e aberta às opiniões dos autores dos artigos de opinião”. Caso contrário, defende, “se nós usássemos a nossa opinião pessoal para decidir quais os artigos que eram ou não publicados estávamos a regressar a um esquema de censura que nos recorda um passado não muito distante que não é desejável nem recomendável”.
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Partidos LIVRE
Nova versão de A Bela e o Monstro será o filme da Disney "mais gay de sempre"
O remake do filme de animação de 1991 inclui uma personagem, LeFou, que se debate com a sua sexualidade e com os seus sentimentos pelo antagonista Gaston. (...)

Nova versão de A Bela e o Monstro será o filme da Disney "mais gay de sempre"
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 16 | Sentimento 0.136
DATA: 2017-03-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: O remake do filme de animação de 1991 inclui uma personagem, LeFou, que se debate com a sua sexualidade e com os seus sentimentos pelo antagonista Gaston.
TEXTO: Célebre pelo extenso repertório de contos de fadas com príncipes e princesas, a Disney prepara-se para explorar novo território na nova versão live-action de A Bela e o Monstro. O filme conta com Emma Watson e Dan Stevens nos papéis principais e mostra, pela primeira vez, um personagem que se vai confusamente apercebendo da sua homossexualidade. LeFou (Josh Gad) é o braço-direito de Gaston (Luke Evans), o antagonista da história que quer ganhar o afecto de Belle a qualquer custo. Ao contrário do que acontece no original de 1991, no filme de Bill Condon, a obediência de LeFou ao seu senhor vai além da lealdade. “Num dia, LeFou quer ser o Gaston e no outro já quer beijá-lo”, revela o realizador em entrevista à Attitude Magazine que na capa desta edição revela "a verdadeira história que inspirou o filme da Disney mais gay de sempre". Bill Condon refere que esta dinâmica não é esquecida no desfecho da história e, sem querer adiantar muito, diz apenas que “é um bom momento exclusivamente gay num filme da Disney”. LeFou é o maior aliado do mulherengo Gaston e está sempre pronto a alinhar nas suas peripécias. Para quem viu o filme original, o criado é mais conhecido por entoar “Gaston”, uma canção destinada a animar o seu senhor depois de este ser rejeitado por Belle. De acordo com o jornal britânico The Telegraph, versos como “For there’s no man in town half as manly / Perfect, a pure paragon” e “Everyone’s awed and inspired by you / And it’s not very hard to see why” já haviam gerado especulação por parte de alguns fãs sobre se a relação entre os dois seria algo mais do que companheirismo. Matt Cain, editor-executivo da Attitude, refere que a representação da atracção entre pessoas do mesmo sexo no filme é um ponto de viragem para os estúdios da Disney. “[Esta decisão] passa a mensagem de que [a homossexualidade] é normal e natural – e essa é uma mensagem que será ouvida em todo o mundo, mesmo em países onde é socialmente inaceitável ou até ilegal ser gay”, explica em declarações ao Telegraph. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os sentimentos de LeFou por Gaston oferecem um olhar renovado sobre o clássico da Disney e mostram uma preocupação em alargar a representatividade e a diversidade das suas personagens. Também Emma Watson levou o seu activismo – é Embaixadora de Boa Vontade das Nações Unidas desde 2014 e impulsionadora da campanha #HeForShe – para a sua interpretação da protagonista, desenhando-a à medida do seu feminismo. No original, Belle é a assistente do pai, mas no remake é ela própria inventora. Em declarações à revista Vanity Fair, a actriz revelou que trabalhou com a figurinista Jacqueline Durran para incorporar bolsos no seu vestido, “como se fosse um cinto de ferramentas”. Além disso, na versão animada, Belle monta a cavalo num vestido longo e sapatilhas de seda, mas na nova versão, a princesa tem, em vez disso, um par de botas de equitação. “Ela não vai conseguir fazer nada de muito útil com sapatilhas de ballet no meio de uma aldeia do interior francês”, explica a actriz. Questionada pela Entertainment Weekly sobre a influência da Síndrome de Estocolmo no romance – Belle é aprisionada pelo Monstro logo no início do filme – Emma Watson refere que a princesa mantém um espírito rebelde que lhe permite estar encarregue do seu destino. “Ela mantém a sua independência e a sua liberdade de pensamento”, reconhece. A Bela e o Monstro estreia-se nos cinemas portugueses a 16 de Março e conta com Ewan McGregor, Ian McKellen e Emma Thompson no elenco principal.
REFERÊNCIAS:
Gays e lésbicas em campanha contra bullying homofóbico
Psiquiatra Gabriela Moita diz que a homofobia "é muitas vezes validada em família". Júlio Machado Vaz preferia campanha para todos. (...)

Gays e lésbicas em campanha contra bullying homofóbico
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 16 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-12-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Psiquiatra Gabriela Moita diz que a homofobia "é muitas vezes validada em família". Júlio Machado Vaz preferia campanha para todos.
TEXTO: Num dos cartazes, três rapazes adolescentes surgem abraçados, quadro de ardósia em pano de fundo, com a frase "Ele é gay e estamos bem com isso". Na versão feminina, repetem-se os elementos, mas a frase muda, claro, para "Ela é lésbica e estamos bem com isso". A primeira campanha contra o bullying homofóbico está nas escolas desde Outubro, numa iniciativa que custou 50 mil euros, financiados em 85 por cento pela Comissão Para a Cidadania e Igualdade de Género. Os adolescentes que aparecem nos cartazes "são jovens portugueses que, em regime pro bono, decidiram dar a cara pela campanha", como enfatizou ao PÚBLICO Sara Martinho, coordenadora do Projecto Inclusão da rede ex aequo, a associação de jovens lésbicas, gays, bissexuais, transgéneros e simpatizantes responsável pela iniciativa, inédita em Portugal. Além dos 20 mil cartazes, a campanha compreende a edição de 123 mil postais onde os jovens são desafiados a denunciar situações de discriminação, física ou verbal, por homofobia ou transfobia, através do site www. rea. pt/observatorio. "Em 2006, vinte queixas; em 2008, o número subiu para mais de noventa; e, no relatório deste ano, as queixas de situações de bullying homofóbico ou transfóbico já são da ordem das centenas", precisou Sara Martinho, para quem o aumento das queixas decorre, não tanto de um agravamento do problema, mas de uma maior sensibilização das pessoas. Queixas de vários tiposÀ rede ex aequo chegam queixas de vários tipos. Sobre um professor de uma escola de Lisboa que quis baixar a nota dada a um aluno depois de ter percebido que ele era gay. De alguém que viu um rapaz apedrejar duas raparigas de 16 anos por serem lésbicas. De insultos, de ameaças, de segregação. "Durante dois anos consecutivos, sofri tortura psicológica. Gozaram comigo, fizeram pouco de mim, falaram mal e fizeram-me sentir abaixo do pior animal que pode existir", queixou-se, sob anonimato, alguém de 15 anos, residente em Aveiro. O que distingue a homofobia em contexto escolar da praticada noutros meios é que aquela tem como vítimas "jovens que ainda estão em processo de crescimento e que, muitas vezes, não têm maturidade nem ferramentas para se defenderem", sublinha Sara Martinho. "Uma das coisas que costumo dizer quando vou às escolas é que muitas crianças ainda não sabem o que é ser homossexual, mas já sabem que ser lésbica ou gay é uma coisa negativa e suja, do campo do insulto". Claro que a partir daqui "fica muito mais difícil conseguir que lidem com isso e com a sua própria sexualidade de forma saudável e natural", acrescenta Martinho. Porque é assim e porque "este tipo de bullying acaba muitas vezes por ser validado pelas próprias famílias", a psicóloga Gabriela Moita - com uma pós-graduação em psicoterapia da criança e um doutoramento sobre a homossexualidade em contexto clínico - aplaude de pé esta campanha. "Todas as campanhas contra o bullying são fundamentais e, no caso da homofobia ou transfobia, a iniciativa tem a vantagem de mostrar que isso também é bullying porque se trata de um nicho menos cuidado, e o que se passa, muitas vezes, é que quando o menino chega a casa e comenta que o miúdo tal é gay o que os pais fazem é reforçar o preconceito. " Questionado quanto à pertinência de campanhas como esta, o sexólogo Júlio Machado Vaz é menos categórico. "Compreendo que determinados grupos sintam a necessidade, atendendo à xenofobia de que ainda são alvo, de chamar a atenção para o seu caso específico, mas prefiro que as campanhas sejam dirigidas ao público em geral". Porquê? "Porque o bullying contra homossexuais é apenas uma triste variante do bullying em geral e também aqui devemos ir por um caminho que nos leve cada vez menos ao acentuar das diferenças e cada vez mais ao acentuar das semelhanças".
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola campo criança igualdade género sexualidade homossexual gay feminina animal discriminação xenofobia homofobia lésbica
Eles são católicos, homossexuais e praticam
Estas histórias falarão por milhares de portugueses: homens e mulheres, catequistas e ex-seminaristas, professores, gestores, artistas. São católicos homossexuais praticantes. Para a doutrina católica oficial, é incompatível. Talvez eles vivam na Igreja do futuro. Mas o preço é alto: silêncio, solidão, sofrimento. (...)

Eles são católicos, homossexuais e praticam
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 9 Homossexuais Pontuação: 16 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-04-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: Estas histórias falarão por milhares de portugueses: homens e mulheres, catequistas e ex-seminaristas, professores, gestores, artistas. São católicos homossexuais praticantes. Para a doutrina católica oficial, é incompatível. Talvez eles vivam na Igreja do futuro. Mas o preço é alto: silêncio, solidão, sofrimento.
TEXTO: 1. AlentejoO quarto de José António Almeida dá para a fachada da igreja matriz. É isto "numa vila da província", diz um dos seus poemas. Uma vila do interior alentejano cujo nome ele prefere calar. Mas aqui estamos, num começo de tarde, no começo da Primavera. Lá fora cheira a pólenes, e a luz aquece, quase cega. Cá dentro cheira a tabaco, ao óleo de ícones e santos, e a sombra quase arrepia. - Como vê, é o quarto de um católico - diz José António. Ao lado da janela, a reprodução de um ícone bizantino e uma imagem de Santa Teresa do Menino Jesus. Ao lado da cama, uma pintura com um crucifixo espetado num coração bastante carnal, com nervos e válvulas. - Esta imagem do Sagrado Coração foi proibida algum tempo por ser um órgão anatómico. Sim, é o quarto de um católico, mas também vemos que é o quarto de um poeta. Do outro lado da cama está emoldurada uma carta de Vieira da Silva escrita em 1983: "Meu querido poeta. . . " De passagem por Paris, José António quis conhecê-la, deixou-lhe poemas e um bilhete, ela respondeu com esta folha. O que talvez não se veja no quarto, mas se vê no escritório, é que além de católico e poeta, este habitante da casa é homossexual. Entre ícones bizantinos, lá estão "ícones" homoeróticos como Kavafis, o poeta de Alexandria que tanto escreveu sobre o amor a rapazes, ou colagens fotográficas com torsos musculados. E com estas "três identidades" - poeta, católico e homossexual - se apresenta José António Almeida no livro O Casamento Sempre Foi Gay e Nunca Triste (& etc, 2009). Tanto quanto sabemos, é o primeiro (e até agora único) livro que um português escreve sobre a sua condição de católico e homossexual praticante. Fé e sexualidade apareciam em obras anteriores deste poeta, mas só aqui são tratadas em relação uma com a outra, primeiro em ensaio, depois em poemas. E a dedicatória abre uma janela para algo invisível na sociedade portuguesa, com datas e lugares: "Ao pequeno grupo de católicos com quem me reuni na Capela do Rato e na Capela dos Fiéis de Deus para rezar e reflectir sobre a nossa condição homossexual de 18 de Outubro de 2003 a 22 de Março de 2008. "Ou seja, ao longo de quase cinco anos, no centro de Lisboa, católicos praticantes organizaram-se para reflectir sobre uma parte intrínseca da sua vida que a Igreja Católica considera um "mal moral intrínseco" ou um "comportamento intrinsecamente desordenado". Segundo a doutrina actual, os católicos homossexuais têm direito a ser acolhidos mas são convidados à castidade. Entretanto, o debate sobre direitos dos homossexuais, nomeadamente o casamento, está a multiplicar os sinais de católicos que buscam uma conciliação entre a sua prática religiosa e a sua prática homossexual. Além do livro de José António Almeida e do grupo que se reuniu na Capela do Rato, a Pública encontrou trabalhos académicos, blogues e sítios online, grupos só de leigos e grupos que se reúnem com acompanhamento não-oficial de padres. E não foi difícil convencer católicos homossexuais a falar. Quando se soube da reportagem, alguns contactos partiram dos protagonistas. Todos os encontros foram pessoais, às vezes repetidos. Isto pode anunciar a dinâmica de um movimento. Mas ainda será sobretudo o impulso de quem esteve calado. E o facto de quase todos não mostrarem a cara expõe a dificuldade que tudo ainda é. Homens e mulheres, catequistas e ex-catequistas, ex-seminaristas e ex-monges, entre os que aqui vão falar há quem se tenha sentido a enlouquecer. "Cada criatura humana aspira a escrever a sua própria história", escreve José António Almeida. Nascido em Lisboa há 50 anos, mas com raízes no Alentejo, este poeta começou a escrever a sua história antes mesmo de falar dela. - A família soube com os versos. Nunca escondi, nunca menti, as pessoas é que muitas vezes não querem ver os sinais. Depois há um momento em que temos necessidade de pôr preto no branco. Mas passaram-se anos até encontrar os católicos homossexuais que se reuniram na Capela do Rato. Esse grupo nasce inspirado pelo padre italiano Domenico Pezzini, que veio à Igreja de Santa Isabel, Lisboa, em Setembro de 2003. - O grupo começou em Outubro - recorda José António. - Soube por um amigo, desloquei-me a Lisboa e participei. Era uma vez por mês, numa salinha contígua à capela. O dia variava. Haveria uma média de seis, sete, pessoas, às vezes 10, 12. Só homens?- Houve uma altura em que apareceu uma rapariga. De resto, eram homens, mas não estava fechado a mulheres. E estava aberto a não-crentes. Recordo-me de lá ter estado um padre, mas eram reuniões de leigos, organizadas por nós. Havia uma ligação ao padre José Manuel, que tinha permitido aquelas reuniões, mas ele não aparecia. Foi muito corajoso. Um dos membros do grupo guardava a chave da capela. Eram autónomos e discretos, mas não clandestinos:- A hierarquia tinha conhecimento. Este grupo desfez-se, conta o poeta, depois de uma reportagem no Expresso que não precisava local nem datas, e dizia que todos queriam anonimato. Mas José António estava pronto a ser fotografado, e escreveu isso numa carta ao jornal, que não a publicou por não a considerar direito de resposta. Vem incluída em O Casamento Sempre Foi Gay e Nunca Triste. Quanto à fotografia, vamos a ela. No meio do Alentejo, agora, de caras. 2. Igreja de Santa IsabelNoite de Domingo de Ramos. O largo da Igreja de Santa Isabel parece uma festa. Mas é só o fim da missa celebrada pelos padres José Manuel Pereira de Almeida e José Tolentino Mendonça. Lua quase cheia e dezenas de jovens a conversarem. Vista daqui, a Igreja Católica nem parece envelhecida. - A presença de universitários é enorme - diz Tolentino Mendonça, que já tirou os paramentos e agora atravessa a comunidade, cumprimentos, despedidas, jantares combinados. José Manuel Pereira de Almeida aparece já de blazer, também, e os dois guiam o caminho para a casa paroquial, onde nos sentaremos junto a uma pintura de Ilda David". Como a doutrina católica considera a homossexualidade um mal, os sacerdotes são levados a reprovar a sua prática. Por isso, os grupos de homossexuais dentro da Igreja que debatem o assunto se têm mantido discretos. - Eu já era pároco em Santa Isabel - conta José Manuel P. de Almeida. - E convidámos o padre Domenico Pezzini. Estudioso de místicos medievais e professor de literatura inglesa, Pezzini fora nomeado pelo então arcebispo de Milão para dar "particular atenção" aos homossexuais. Era "o motor" de um movimento chamado La Fonte que procurava concretizar a "opção preferencial" da Igreja "pelos pobres", "pelos marginalizados, pelos excluídos", "em tantas circunstâncias, os últimos", escreve José Manuel P. de Almeida no prefácio ao livro de Pezzini As Mãos do Oleiro (Paulinas, 2009). Os retiros e encontros de La Fonte atraem gente de todo o mundo, e o pároco de Santa Isabel sabia dos efeitos. Assim, recebeu Pezzini aqui, a 16 de Setembro de 2003. - Organizámos um encontro com um título discreto: "Uma experiência pastoral na cidade de Milão". Ele chega e diz: "A experiência pastoral é esta: acompanhar pessoas homossexuais. " Na sequência do encontro, houve pessoas que me pediram um espaço para uma vez por mês rezarem e perceberem o que entre nós podia ser feito, poderem olhar para a sua condição sem se mentirem. Como o movimento italiano se chama La Fonte, esse grupo decidiu chamar-se Riacho. Fizeram um blogue (ainda activo: riacho. blogs. sapo. pt) e o padre José Manuel cedeu-lhes um espaço na Capela do Rato. - Era uma reunião de quem estava, eu nunca estive. Os leigos são maduros o suficiente para darem orientação a si próprios. Eu ia fazendo a coordenação com um deles. Quando deixei a Capela do Rato, continuaram mais um tempo, mas depois passaram a encontrar-se noutro lado. O patriarca de Lisboa sabia?- O Senhor Patriarca estava ao corrente da minha atenção pastoral, sem detalhe. Como agora acontece com outros grupos que têm acompanhamento recomendado, para que as pessoas não se sintam marginalizadas. No prefácio ao livro de Pezzini, o padre José Manuel diz: "Tenho também notícia de que, autonomamente, de forma discreta, algumas pessoas que se reconhecem como homossexuais têm procurado viver e aprofundar, em grupo, a experiência de fé em Jesus Cristo. Experiência exigente, séria, verdadeira. "Mas que se mantém discreta e alcança poucos, quando esta não é uma história de poucos. Os que a contam dizem que é uma história de muitos, e sentem que a Igreja Católica não tem resposta para eles. Uma igreja ou outra podem responder a alguns. Falta a resposta da Igreja para todos. 3. ChiadoP. quase morreu disto. Durante 33 anos não disse a ninguém que era homossexual. Tentou não ser. Tentou ser padre. Tentou ter uma namorada. - Até que rebentou tudo da pior maneira. Tive uma vida antes e outra depois. Agora está com 40 anos, a tentar viver a segunda vida "em verdade". Foi ele quem se predispôs para este encontro. Sentado num café do Chiado, Lisboa, falará com despojamento, convicto de que é preciso. Por ele, mostrava a cara. Hesita ainda porque recolhe fundos para solidariedade e não quer prejudicar a instituição. - Tive uma educação católica conservadora. Depois comecei a meter-me em grupos católicos de acção social e criei esta instituição com amigos. Trabalhávamos em bairros sociais. Isso, e uma experiência espiritual forte, fez-me pensar que a minha vida tinha de passar por ser padre. Não sabia que gostava de homens?- Soube desde sempre, mas não falava disso com ninguém. Tinha esperança de dar a volta à coisa, de me tornar heterossexual. O ambiente familiar, com distância entre pais e filhos e entre irmãos, empurrava-o para isso. - Os comentários homofóbicos predominavam. A homossexualidade era tratada como aberração, uma coisa nojenta. Eu julgava que era o único, não sabia de mais ninguém. E as piadas homofóbicas eram minhas também, para desviar qualquer suspeita. O estudo de Teologia não ajudou. - Aposta-se muito na moral sexual, parece que é mais importante do que as outras. Havia sempre em mim uma tensão quanto à verdade com que podia estar no seminário. Mesmo em castidade, achava o próprio desejo homossexual antinatura. E assim foi até aos 33 anos. - É um processo tenebroso. De uma violência brutal para connosco próprios. Estamos quase metade da vida a reprimir a identidade e com pânico de que se saiba. Quando entrei no seminário, foi uma questão que me começou a perturbar cada vez mais, por não me sentir em verdade. Só a possibilidade de a verbalizar causava-me uma ansiedade indizível. No fim do primeiro ano fez um retiro com jesuítas. - E quando fui, a questão não me saía da cabeça. Tive insónias dias seguidos para conseguir verbalizá-la com o padre. A resposta foi a pior possível, não me senti minimamente acolhido. Que ouviu?- Que estava a fazer uma tempestade grande demais e tinha de ir falar com o director espiritual do seminário. Depois daquela conversa é que não dormi mais. Quando o retiro acabou, foi falar com o director espiritual. - Disse-me que naquele momento é que eu estava em verdade para entrar no seminário. Mas com o tempo, a homossexualidade era uma questão de tal maneira dolorosa que mesmo perante ele fui dando a coisa como superada. Até se tornar insustentável. - No começo do quinto ano, saí. Não entrei por razões ligadas à homossexualidade, mas saí por isso. Como reagiram os pais?- Ficaram um pouco desiludidos. O meu pai principalmente, porque gostava de exibir o filho seminarista. Mas P. já estava com 28 anos. Vida sexual?- Inexistente. Reduzia-se à masturbação, que para mim era um pecado grave. Mas eu também não me conseguia confessar ao meu director espiritual. Vinha aqui à Igreja do Loreto, que eram padres italianos e ninguém me conhecia. Segue-se um túnel de anos. - Eu era um católico fervoroso a lutar contra a homossexualidade. Comecei a ter experiências homossexuais vividas com grande sentimento de culpa. Tinha um one night stand e ficava dias sem dormir, ia-me confessar, jurava que nunca mais. Até nova explosão. Ainda tive uma namorada, num esforço derradeiro para ser heterossexual. Até que, depois de terminar esse namoro, comecei a falar. Com um amigo, também católico. E aproximaram-se. - Aí, um amor com uma pessoa do mesmo sexo começou a tornar-se possível. Eu estava em carne-viva. Com uma sensibilidade exacerbada e ao mesmo tempo muito feliz. Noites inteiras em que só me corriam lágrimas pela cara, descompressão pura e dura. Fomo-nos aproximando até que passámos à parte física. Eu tinha medo, mas correu bem. E dois dias depois ele telefona a acabar comigo. Foi nessa altura que afundei. Rebentei por todos os lados, em ansiedade extrema. Emagreci 12 quilos num mês. Deixei de comer, de trabalhar, de conseguir estar sozinho e de conseguir estar acompanhado. Toda a gente se apercebeu. Fui internado numa clínica para casos de depressão. Esteve lá três semanas. Tinha 33 anos e ainda não contara aos pais, aos irmãos, aos amigos. - Quando saí, afastei-me de tudo. Não conseguia estar com amigos mais antigos, repugnava-me. Cortei com tudo o que era religioso. E desde então estou num processo de reconstrução. Começou por dizer à psiquiatra: "Não sei viver com isto, ser homossexual. "- Tem sido um processo lento, aprender a integrar. Comecei a descobrir outros mundos, a ir ao Bairro Alto, a fazer novos amigos, a falar com padres que me ouviam de outra maneira. A recusar padres como aquele que o ia visitar à clínica, obcecado com a homossexualidade. - Dizia-me: "Quando estiveres bem, vais para os Estados Unidos, tratas a homossexualidade e depois trazes o tratamento para cá. " E depois da clínica vinha-me com estas conversas: "Sabes que os homossexuais não entram no Reino dos Céus. " Até que lhe disse: "Consigo não quero falar mais, não me faz bem. " Comecei a falar com um padre jesuíta que me ajudou imenso. E depois com outro padre de quem fiquei amigo. Tinha já 37 anos. E só então contou aos pais. - Foi uma nova crise. Fizeram daquilo um problema deles: "Coitados de nós que temos um filho homossexual. " Diziam que eu continuava a ser filho deles, mas se tivesse alguém não queriam saber. Não queriam que os meus sobrinhos soubessem. Nunca pensaram no que eu tinha sofrido. E com os meus irmãos foi semelhante. Desde então, a questão é como se não existisse. Estou com eles regularmente, mas é como se tivesse duas vidas. E os amigos?- Nenhum deixou de me falar, mas para alguns é uma aceitação, e eu quero que gostem de mim sem nada de condescendente. Só cinco anos depois voltou a ter outro namoro. E entretanto foi conhecendo cada vez mais cristãos homossexuais. - Via muitas pessoas que não sabiam conciliar as duas coisas. Há muita homossexualidade entre cristãos, e muita repressão como a minha. Isso é que é assustador. A educação que os meus irmãos dão aos filhos é idêntica à que os meus pais deram. Comentários já homofóbicos, que eu contrario na hora. Então, há dois anos, empenhou-se na fundação de um grupo de católicos homossexuais orientado por um padre. - Todos temos vivências e sofrimentos que se tocam. Há uma história de repressão, um conflito de culpa e pecado, uma tentativa de ser outra coisa. Ajudamos a desfazer nós, a partilhar questões, e paralelamente é um grupo que reza, que nos ajuda a manter a dimensão espiritual. O padre que os orienta não quer falar sobre isso na reportagem, para não pôr em risco os encontros. A visão do grupo não coincide exactamente com a doutrina da Igreja. Tal como outros membros, P. não quer ser abstinente. Mais, defende a legalização de uma prática que a Igreja condena. - É claro que sou a favor do casamento homossexual. Que espera então desta Igreja que é a sua, mas não o aceita na prática?- Tem de voltar às suas origens, à pessoa de Jesus Cristo. Tem de deixar de ser a Igreja da moral para ser a Igreja do amor. Uma Igreja que está agarrada ao supérfluo e não ao essencial não pode ajudar o ser humano. Está tão centrada na norma que se esquece das pessoas. Jesus olhou para cada um como um caminho a ser construído. A perfeição está no amor e não na moral. A perfeição não é uma família heterossexual com filhos. Quando há amor, uma relação hetero é boa e uma relação homo é boa. E tentar assim conciliar a prática católica e a prática homossexual só o tornou mais crente. - Desde que fiz este corte, cada vez mais me revejo na figura de Cristo. E é tão radical aquilo que Ele disse, que a maior parte das pessoas não consegue lá chegar. Mas encontro muitos cristãos hoje que procuram a verdade sobre si próprios, como pessoas capazes de amar. O oposto disto é a repressão, o encobrimento, o que deveria fazer a Igreja pensar, sobretudo agora, com tantas acusações de pedofilia. - A repressão leva à doença. 4. Bairro AltoUm dos católicos homossexuais que P. levou para o grupo foi A. , este rapaz com olhos azul-violeta e dedos de pianista que podia estar numa pintura. Também pinta, e estudou Belas-Artes, mas agora estuda Música no Conservatório de Lisboa. Por isso é que nos encontramos aqui, num café da Rua da Rosa gay friendly, como ele disse, quando telefonou à Pública, por sua iniciativa. Nasceu há 33 anos nos arredores de Lisboa, numa família de católicos praticantes. - Tive catequese, grupo de jovens, participei num grupo missionário, comecei a cantar no coro da igreja. Depois, no primeiro ano da faculdade, visitou a comunidade ecuménica cristã de Taizé, em França. - Voltei no ano a seguir, fiz silêncio, voltei na Páscoa. Acho que tem a ver com a abertura: centramos no que nos une e não no que nos divide. E a estética, que para mim sempre foi uma forma de comunicação com Deus: a liturgia é de uma beleza simples, a oração é centrada nos cânticos e no silêncio. Na nossa tradição há pouco espaço para o silêncio, e o silêncio é abrir um poço de ar para a oração. Assim inspirado, A. decidiu viver um ano num mosteiro. - Foi tão bom que decidi entrar na congregação. Tinha 21 anos. Passou a ser noviço, ainda antes dos votos de pobreza, obediência e castidade. - Mas na prática já os cumpria. Era virgem. Não sabia que era homossexual. E não sentia necessidade. Hoje, a gente acha que quem não tem sexo não é completo, mas eu vivia bem o meu celibato. Sempre tive um lado espiritual desenvolvido. Uma pessoa não fica mutilada, continua a sentir pulsões, mas se nos sentimos bem não é um problema. Tudo corria tão bem que o mosteiro o enviou para um ano de missão num país muçulmano da Ásia, fora da capital. - A presença dos frades é discreta, a intenção não é evangelizar, é de apoio a mulheres e deficientes. Foi um ano extremamente difícil e o mais enriquecedor. Porquê difícil?- O clima é muito húmido, não pára de chover, às vezes parece que não se consegue respirar. Os frades vivem numa situação muito pobre. Tive muitas disenterias. E havia problemas com o visto. Tinha de atravessar a fronteira para os resolver. - Mas gostei muito do trabalho. Foi na altura do ataque às Torres Gémeas e sentia-se muita pressão. Aquela sociedade é dura com os estrangeiros, mas as pessoas com quem eu trabalhava eram cinco estrelas. Que fazia?- Além de aprender a língua, trabalhei num atelier de artesanato criado pelos frades para mulheres com deficiência. E estava muito com crianças deficientes. Só extrair essa miséria escondida era um pequeno trabalho de mudança. Tudo isto acabou de forma abrupta. - Vim cá a um casamento e descobri que estava com uma doença respiratória. Passei nove meses em tratamentos, o que me levou a repensar tudo. Acabei por ficar. Não se sentia com forças para voltar à missão, e portanto não fazia sentido voltar ao mosteiro. - O meu regresso foi quase uma vocação interrompida, um acidente. De repente, estava cá, e tive dificuldade em me reintegrar. Entregou-se à arte. Começou a dar aulas de Desenho e a posar como modelo em Belas-Artes. E teve uma namorada. - Era uma amiga de há muito. Tenho mais facilidade num amor para muita gente do que concentrado numa pessoa, então foi importante. Mas ela queria estabilidade, formar família. Falámos de filhos, de adoptar, mas eu não gostava de projectar as coisas. A atracção por homens não aparecera?- Estava enterrada. Eu era muito rápido a mandar isso para o fundo. Agora olhando para trás, com uns anos de psicoterapia, vejo que na adolescência já sentia atracção por homens, mas não me permitia isso. Só bastante tempo depois de acabar com a minha amiga comecei a interpretar sinais em mim. Não foi por isso que iniciou a psicoterapia, mas a psicoterapia fê-lo falar. - Eu pensava numa bissexualidade, mas era construção. Reconheço beleza numa mulher, como num edifício ou num homem, mas não tenho atracção. Na psicoterapia, foi um tema que me deu muita luta. Comecei a perceber que não era um erro, que não podia ser algo que condenasse em mim porque não acredito num Deus que diz: "Gostas de outros homens, mas tens de viver a tua vida como se não gostasses. " Não acredito num Deus que joga, acredito num Deus que ama desmesuradamente, e foi por isso que consegui reconciliar-me com esta circunstância, que não é qualidade nem defeito. Mas ainda hoje isto me faz tremer, tenho calafrios, é uma descoberta sofrida que vai contra os estereótipos que temos, aquilo que desejávamos ter, se calhar. Ser heterossexual seria mais fácil. - Se pudéssemos escolher, a maioria de nós provavelmente não agradeceria ser homossexual. Só depois de termos feito muitas pazes é que podemos agradecer a Deus sermos assim. Por isso, fico muito zangado quando falam em escolha. Mas não quero que ninguém fique com pena. Quero chegar a um ponto em que agradeço. Estou a gostar mais de mim do que já gostei. Entretanto, teve as primeiras relações homossexuais. - Experiências com pessoas que já conhecia. Fui conhecendo sítios nocturnos, mas nunca me revi nesse ambiente de engate. E abri-me gradualmente com os amigos novos, do meio artístico. Estar com naturalidade, comentar se passa um rapaz giro: "Epá, que giro. " Isso é libertador. Esgotado o tempo, ainda não chegámos à conversa de A. com os pais, ou com o irmão, que é padre. Três dias depois, novo encontro, com novidades:- Desde a nossa conversa criei um blogue. Não posso estar sempre à espera que seja a Igreja a vir ao meu encontro. Chama-se moradasdedeus. blogspot. com. É para cristãos homossexuais. Mas não quero que seja um campo de batalha, não é um Prós & Contras. É para tentar chegar à solidão das pessoas. Um dos primeiros posts fala d"As Mãos do Oleiro, o tal livro de Pezzini, para as famílias com homossexuais. A. leu-o antes de contar aos pais. Mas primeiro contou à tia, com quem vive. - No ano passado apaixonei-me e estive seis meses numa relação. Foi nessa altura que contei à minha tia. Ela aparentemente aceitou bem, mas depois houve um recuar. Diz que me aceita mas não tem de aceitar as pessoas com quem estou. Entretanto, A. pôs termo à relação e decidiu contar aos pais. - Disse-lhes que tinha chegado a um ponto de mim que não conhecia e que tinha recusado isso inicialmente. Que gostava que o assunto não ficasse como tabu e que gostava muito deles. O meu pai mostrou-se muito carinhoso e perguntou se eu estava à espera que deixassem de gostar de mim. A minha mãe disse que compreendia que existissem pessoas assim, só não compreendia que tivessem de ir para a rua. Eu respondi que iam para a rua como as mulheres foram, exigir direitos básicos. Depois a minha mãe disse-me que eu era o filho dela, e era um filho extraordinário. Foi muito bom, senti-me acolhido. Eu achava que a visão deles sobre mim era diferente. E o irmão padre?- Foi a conversa mais complicada, antes de falar com os meus pais. Percebi que ele já sabia, porque a minha tia tinha desabafado com ele. Veio com os argumentos oficiais da Igreja: "Então tens de ser coerente, não podes comungar. " Não voltámos a tocar no assunto, e eu senti um afastamento grande. Ele está fechado, tipo muro, não há um sorriso. Espero que não seja definitivo, mas não posso fazer esse trabalho por ele. Quando P. lhe falou no grupo de católicos homossexuais, A. começou a ir às reuniões. - Primeiro, era sempre em casa das pessoas, rodava entre casas. Ultimamente, as orações têm sido numa capela. Têm duas reuniões por mês. Numa rezam, noutra falam. Experimentaram várias fórmulas, por exemplo, debater um livro como o Diário de Hetty Hillesum. - Mas não funcionou porque as pessoas têm ritmos diferentes. Agora cada um traz aquilo que quer partilhar. E numa segunda fase pega-se em algo e fala-se disso em especial. Já discutiram o casamento. - Deve ser uma possibilidade para quem quiser. Não sei se casaria, mas se encontrasse alguém com quem quisesse partilhar a vida, por que não? Acho que é uma hipocrisia aquela manifestação em que se viam freiras ao pé de pessoas do PNR. Choca-me como isso pode coabitar. A igreja às vezes peca por omissão, de tão cautelosa que quer ser. Nunca ouvi um padre a falar de os cristãos poderem ser associados aos partidos extremistas em que de facto há discriminação. Também defende que os homossexuais possam adoptar. E não vê porque é que a família heterossexual será um modelo. - Há muitas famílias disfuncionais, muita violência entre pais e filhos, muita traição, muitas relações de fachada, muitas vidas duplas. 5. GraçaE as mulheres?Quando a Pública falou com a ILGA (Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero), e a dirigente Sara Martinho fez circular a mensagem, a primeira mulher que se dispôs a falar foi Ana Oliveira. Aqui está ela, agora que os sinos da Igreja da Graça tocam as seis da tarde. O colégio onde dá aulas é nos arredores de Lisboa, mas hoje tinha compromissos na Graça. E nem de propósito, num miradouro que se chama Sophia de Mello Breyner Andresen, o que Ana traz como epígrafe do trabalho Homossexualidade e Igreja Católica (Curso de Espiritualidade da Universidade Católica, 2009) é um poema de Sophia que começa assim: "Escuto mas não sei / Se o que oiço é silêncio / Ou deus. "Nesta síntese académica, Ana diz que a "proposta oficial da Igreja Católica é clara: acolha-se o pecador, condenando-se o pecado", o que remete o homossexual "para um celibato "secular"", "ou para um estado permanente de culpa grave, no caso de expressar sexualmente a afectividade que lhe é natural". Esta proposta "tem sido considerada desumana e impraticável por inúmeras pessoas, que acabam por resolver o conflito interno afastando-se da Igreja". Noutros casos, "a caracterização patológica da homossexualidade pode contribuir para a sua vivência patológica". O que Ana propõe é "explorar a conciliação entre essas duas vivências, a de pessoa homossexual e a de pessoa católica". Como? Partindo do princípio de que "a homossexualidade pode não ser um problema de ética sexual, mas antes "o surgimento de uma verdade antropológica acerca de uma variante regular, normal e não-patológica da condição humana". "E a razão por que está aqui, a tiritar estoicamente ao vento da Graça, é a mesma que a levou a fazer o trabalho: é católica e homossexual praticante. - Tenho um pé em cada mundo. Já se cruzam, mas eu quero contribuir para uma sobreposição. Camisola preta, jeans, cara lavada, 36 anos, vem de uma família católica não-praticante com profissões liberais. Foi baptizada e nada mais, até entrar na Universidade Católica, aos 18 anos. - Aí descobri o trabalho dos grupos de acção social e entusiasmei-me. Senti-me chamada. De tal maneira que passou dois anos como voluntária fora de Portugal. O que lhe deu o gosto pela vida em comunidade, mas também a ajudou a saber quem era. - A descoberta da fé fez-me procurar o mais verdadeiro em mim, e foi o que abriu a porta para verbalizar para mim própria que me tinha apaixonado por outra rapariga. Foi a fé que levou a isso. Mas não foi fácil. - Fiquei superaflita e procurei um padre. Estava num retiro em Taizé. Ele era africano e falámos inglês. Disse-me que não tinha de estar tão aflita: "Não é pecado, é quem és, não tens de te confessar. " E disse: "Talvez chegue o tempo de vermos o primeiro santo gay. " Foi um choque ver as duas palavras na mesma frase. Penso que a experiência dele como africano deve ter contribuído, porque o primeiro santo africano deve ter sido um momento de viragem. São duas experiências de exclusão. Isso abriu um caminho, e deixei de estar desesperada. Mas na vez seguinte em que se voltou a apaixonar, já não estava em Taizé. - Tive uma má experiência com o meu orientador espiritual. Era novo, entrou em pânico e foi muito bruto. Este padre, que é um orientador, não tinha resposta para a minha questão. É um problema da própria Igreja. O que fez?- Durante cinco anos vivi a minha relação e afastei-me da Igreja. Foi um tempo de deserto. Procurei outras comunidades espirituais não religiosas. Identificava-me com as personagens bíblicas negativas, Caim, Judas, o Leproso. Até que esse namoro acabou, e Ana se viu novamente em Taizé. - E tive uma experiência de Deus muito forte. Estava sentada a rezar, e entraram ingleses. Era uma celebração anglicana. Eu sentia que não podia comungar, mas o padre abriu os braços e disse: "Venham todos, Deus chama todos. " E eu fui. O convite desse pastor foi terapêutico, e havia em mim uma disposição para a entrega, uma certeza de que Cristo estava comigo. Voltei a procurar quem me orientasse dentro da Igreja, cá, uma freira. Disse-lhe que já tinha levado um pontapé, e não queria levar outro. Mas ela não pôs condição alguma. Leia-se: abstinência. - Para mim, é um absurdo pensar que para viver a fé tenho de desistir da sexualidade. É por isso que acho que a Igreja não tem solução para nós. Ser homossexual já é difícil na integração social. Não é justo que a um católico falte também o apoio da Igreja: nem com isso pode contar. Falta uma outra doutrina. É essa tensão que é vivida pelas pessoas da hierarquia que estão mais próximas de nós. Como outras questões de ética sexual. Estou na missa e tenho a certeza de que a maioria daquelas mulheres tomou a pílula. Neste momento, vai à missa, dá catequese a 18 crianças, pertence a um grupo de oração. - Mas sinto que vivo na Igreja do futuro, na Igreja como ela vai ser. E isso une-me a outros católicos que têm uma visão da Igreja naquilo que ela ainda não é. (A Pública quis ouvir o cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, para este trabalho. O responsável pela comunicação, padre Jardim Gonçalves, respondeu que o momento era inoportuno, tendo em conta os afazeres da época pascal e a preparação da visita do Papa. )Sara Martinho, que agora vem ter à Graça, tem uma experiência de ruptura com a Igreja. Católica de baptismo e crisma, com um percurso de catequista e animadora de grupos, hoje, aos 33 anos, bissexual e dirigente da ILGA, define-se como não-crente. Não porque tenha perdido a fé, mas porque se sente roubada pela doutrina. - Tiram-te quase tudo: a comunidade, o sentimento de pertença, a liberdade. Tentam inclusivamente roubar a relação com Deus. Ninguém tem o direito de intervir na tua relação com Deus se isso implicar a tua exclusão. Isso, sim, é fracturante. E diz respeito a muitos. - Eu tinha amigos católicos gays e lésbicas, mas não sabíamos uns dos outros. Claro que há muitos homossexuais católicos. A Igreja por ser a Igreja devia ser a primeira a sair para a rua por direitos humanos como a igualdade. E é isso que se deve esperar. Vejo os perdões que os dois últimos papas têm pedido às pessoas que perseguiram há 500 anos, e é assustador imaginar que a Igreja daqui a 200 anos vai pedir perdão por ter perseguido os homossexuais. Esse momento vai chegar. A questão é que não vai ser no nosso tempo de vida. Porquê?- Porque a Igreja Católica ainda tem passos muito mais fáceis, antes. Por exemplo, a paridade, para as mulheres poderem ser sacerdotes. Esse passo ainda não foi dado, e todas as outras igrejas já o deram. 6. ÉvoraCéu transparente, prados com flores, um esplendor. De tanto Inverno, já não sabíamos como era. Aqui vamos, no Alto Alentejo. Em qualquer busca sobre cristãos homossexuais portugueses, Évora aparece em destaque. Foi lá que em 2007 nasceu o Rumos Novos (rumosnovos. no. sapo. pt). Foi lá que este grupo organizou encontros nacionais e ibéricos. E é lá que se continuam a planear reuniões mensais (17 de Abril, Hotel Ibis Saldanha) e o encontro anual de aniversário (1 de Maio, Fátima). Também há elementos da Rumos Novos em Lisboa, Setúbal, Coimbra e Lamego, mas o centro continua em Évora. Não é um escritório. É mesmo a casa de José Leote e do seu companheiro Ricardo, num bairro à saída da cidade. O arquitecto que o desenhou pôs madeira nas janelas, e outras simplicidades, mas José reformulou. Agora, há azulejos, vidros laminados e paredes azul-petróleo. José, 39 anos, é professor no secundário. Ricardo, 25 anos, é chefe de cozinha, trabalha até tarde, e só agora está a descer do quarto. Dos dois, só José é católico. - Mas não sou seguidista nem acéfalo. Questionei sempre orientações que punham em causa a justiça. O maior mandamento que Cristo deixou foi: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei. " Portanto, não é justo que a Igreja pseudo-acolha os homossexuais. Não basta que desde 1975 tenha deixado de ser pecado, porque continua a ser algo negativo. - A Igreja tem um problema em relação à sexualidade, ponto final. Também lida mal com a pastoral dos divorciados. Há o problema dos casais inférteis. O problema do preservativo e da pílula. E virando-se para o companheiro:- Ó amor, dá-me aquela pasta do Rumos Novos. Ricardo passa-lhe várias. José folheia exemplos bíblicos de condenação da homossexualidade. - Mas na altura da Bíblia não se conheciam as relações estáveis entre pessoas do mesmo sexo. A sexualidade era a do Império Romano, em que a homossexualidade era corrente. E como os cristãos queriam formar uma sociedade diferente, atribuíam causas negativas ao que viam. Mas Cristo nunca se pronunciou sobre a homossexualidade. Disse: "Aquilo que fizerdes ao mais pequenino, é a mim que fazeis. " Exortou os fiéis a amar por acções. Isto mostra que ir buscar a Bíblia para condenar a homossexualidade é escorregadio. As maiores atrocidades foram justificadas pela Bíblia, a repressão das mulheres, a escravatura, condenar pessoas à fogueira, a legitimação política de alguns regimes. Como vê a actuação da Igreja Católica portuguesa, especificamente?- Dá-se uma no cravo, outra na ferradura. Na manifestação da dra. Isilda Pegado [contra o casamento gay], a hierarquia disponibilizou os meios, mas não veio para a rua. Foi uma manifestação de ódio. Seria bom que a dra. Isilda Pegado viesse fazer uma manifestação para defender as vítimas de pedofilia da Igreja. Ainda não consegui perceber como é que o casamento entre pessoas do mesmo sexo põe em causa os fundamentos da sociedade. - Eles têm medo que as crianças absorvam aquilo e se tornem todas homossexuais - diz Ricardo. - Na SIC Notícias, um senhor estava indignado porque a filha ia ver raparigas aos beijos. José suspira. - Tem de se explicar ao senhor que isto não se pega. No fim de Junho, o Rumos Novos estará em Barcelona, no Encontro Europeu dos Grupos Homossexuais Cristãos. 7. SaldanhaSobre o casamento, vale a pena ouvir Frederico Lourenço, porque ele traz uma novidade. Pouca gente em Portugal terá feito tanto contra clichés como este helenista de 46 anos, tradutor de Homero e escritor. Católico, aprumadíssimo no trato, sempre vestido como se estivesse a chegar de Oxford (onde passou a infância), não só vive a sua homossexualidade desde os 18 anos, como a assumiu de forma pública em 2002, e escreve sobre ela. Como se mudou para a Universidade de Coimbra, quando vem a Lisboa fica num hotel, sempre o mesmo, e é aí que nos encontramos, ao fim da tarde. A grande coincidência é ser o Ibis Saldanha, onde o Rumos Novos faz reuniões mensais. Mas é mesmo coincidência. Frederico Lourenço não sabia. Não faz parte de nenhum grupo. Há anos foi convidado a assistir aos encontros da Capela do Rato, mas não aceitou. - Já vivia certo afastamento da manifestação pública do sentimento religioso, e senti que não me iria rever. Esse seu afastamento reforçou-se. A novidade é que não defendia o casamento homossexual, e agora defende. - Eu disse num inquérito do PÚBLICO que isso colidia com a minha formação, que votaria sim num referendo, mas a minha vivência não passava por aí. E fui-me dando conta de que isso não correspondia ao que sinto. O que o fez mudar?- O próprio debate sobre o casamento gay. Foi fundamental. Acho que há um Portugal antes e depois. As pessoas foram obrigadas a olhar para a questão. Eu sabia que havia uma discrepância em mim. Desde os 20 anos que não estou solteiro, tive três longas relações encadeadas. Isso foi-me fazendo afastar da Igreja. Nunca tive qualquer embate negativo, nem no confessionário, mas houve sempre um convite à castidade, e eu não nasci para viver em castidade. Mesmo assim, achava que a questão do casamento era um limite. Mas, de repente, dei-me conta de que os argumentos da Igreja já não faziam sentido. A este ponto:- Coloco a hipótese de me casar. Não por razões pragmáticas, herança, impostos, contas bancárias, mas como gesto romântico, de compromisso perante pessoas, um voto de confiança no outro, na relação, em nós próprios. E agora isso é uma barreira entre mim e o catolicismo. Para ser coerente, não vê alternativa. - A Igreja não tem resposta. Nunca ouvi outra resposta que não fosse esse convite optimista à castidade. Para mim foi inevitável um corte, embora acredite em Deus, reze quase todos os dias e sempre que posso entre numa igreja. Mas estar inserido numa prática pública do catolicismo é uma mentira, porque a minha vida sexual não corresponde a essa personagem. Já não comungo desde 1998. Comecei a sentir o peso da contradição, e não pactuo com isso. Se não posso ser aceite exactamente como sou, então não faz sentido estar a representar um papel. E não vê bons sinais no Vaticano. - Terá de vir um papa muito mais aberto. Este parece-me uma figura anacrónica, que leva a Igreja para o passado ainda mais que João Paulo II. Grande teólogo, não duvido, inteligentíssimo, mas está a fazer tudo para que a Igreja não se aproxime do futuro. A questão do celibato tem de ser urgentemente revista. A não-ordenação de mulheres é o cúmulo, é impensável. Há toda uma série de premissas que tinham de ser revistas: a sexualidade como reprodução, o não se aceitar que a sexualidade tem um alcance infinitamente maior. A estreia pública de Frederico Lourenço a defender o casamento homossexual será dia 3, na Universidade Católica de Braga. 8. Capela do Rato/Igreja de Santa IsabelDomingo de Ramos, de novo, mas agora de manhã. Na Capela do Rato prepara-se a missa. Além dos ramos verdes a toda a volta, há uma pintura contemporânea no altar. É uma instalação de Rui Moreira, a convite de José Tolentino Mendonça, que está a tentar trazer a arte para a igreja. Há uma alteração de eixo nesta capela. O altar não está ao fundo, mas a meio, o que faz com que as pessoas fiquem em volta, ou seja, mais perto. Se os lugares absorvem o que neles acontece, como a vigília contra a guerra em 1972, este lugar estará cheio de inquietação e empenho. A missa aqui será às 12h30, na Igreja de Santa Isabel às 19h30. Saltemos então para Santa Isabel, já noite escura, com os padres Tolentino Mendonça e José Manuel novamente sentados junto a uma tela de Ilda David". Um a um, os católicos homossexuais ouvidos pela Pública dizem que a Igreja não tem resposta para eles. Que pensa o padre José Manuel?- Não tenho uma resposta. Uns dirão: "Não consigo, vou-me embora. " É uma maneira. Outros dirão: "A castidade é uma proposta que me fazem, é para lá que quero caminhar. " Não é sim ou não. Há uma proposta de um caminho. Que pensa o padre Tolentino?- A realidade da Igreja é sempre atravessada por uma tensão, e essa tensão é atravessada por aquilo que somos, e pela dimensão utópica que a Igreja transporta. A Igreja não é um lugar de plenitude, é um lugar de procura. A nossa condição é a sede e o desejo. Não é aqui e agora que se realizam os sonhos. A Igreja é esse caminho comum, não isento de imperfeições, aberto a uma progressividade. A condição comum é que alguém se sinta desafiado a um caminho. E quando as pessoas nem se sentem acolhidas?- Sempre que a Igreja não acolhe é um erro. Todos os documentos oficiais e todas as expectativas justíssimas de um cristão são no sentido de acolhimento e hospitalidade. Incondicional?- Incondicional. O padre José Manuel reforça:- Incondicional. A abstinência não é uma condição?- Não se trata de entender a castidade pela negativa - prossegue Tolentino. - Mas entendê-la como um dom, uma oferta, um serviço. É uma proposta que não se pode impor, mas que é feita. Cada pessoa que se aproxima da Igreja transporta uma história sagrada e tem de ser acolhida. Não se pode tomar as formulações da doutrina como um fantasma. Isto quer dizer que é muito importante que as pessoas sintam que a sua história é valorizada, e que o discernimento que cada um faz da sua vida é feito em liberdade. Muitas pessoas sentiram o contrário ao falar com padres. - Às vezes há falta de interlocutores pastorais, é verdade. Algumas dioceses no mundo têm mesmo padres responsáveis por acompanhar homossexuais. Em Portugal ainda não há esta pastoral organizada, o que não quer dizer que não existam experiências de escuta, de acompanhamento, e isso está a construir um património de mútua confiança. Mas são raríssimos os testemunhos públicos. O Casamento Sempre foi Gay e Nunca Triste é um livro único. Que pensa Tolentino sobre ele?- É um texto que mostra a procura de um cristão, com poemas de grande intensidade. Dá que pensar. 9. AlentejoVoltemos, então, ao princípio. "Viver uma ficção alheia, ou ser reduzido a uma ficção dos outros, é uma forma de desumanização", escreveu José António Almeida. E se isso custa em Lisboa, mais ainda "numa vila da província" como esta. À volta, campos de vinhas e olivais que começam a aquecer. No centro, a igreja matriz tão cuidada, com o seu debrum vermelho. Em frente, a casa onde José António mora. Primeiro estamos lá dentro a olhar o largo. Depois saímos e ele pára no largo a olhar a casa. No livro Obsessão (& etc, 2010), fala da manhã em que as paredes apareceram cheias de insultos. "A minha casa branca pintada de azul /com letras infames. " Respondeu em verso: "- eis aquela província que não muda. / Sobreviver de pedra e cal à beira / disto: diário gesto repetido. "E que eco teve do livro anterior, o tal dedicado aos católicos homossexuais com quem rezou e reflectiu?- Silêncio. Silêncio. A única recensão saiu no Expresso. Enviei o livro a vários padres mas só tive uma resposta. Não suscitou qualquer debate. O nosso clero "conservador" não abre portas cerradas e o nosso clero "progressista" só arromba portas abertas. Reportagem publicada na edição da revista Pública de 11 de Abril de 2009
REFERÊNCIAS:
Presidente da Libéria e Nobel da Paz defende criminalização da homossexualidade
Numa entrevista conjunta com o antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair, que se mostrou incomodado mas não fez comentários, a Presidente da Libéria e Nobel da Paz Ellen Johnson Sirleaf defendeu uma lei que criminaliza a homossexualidade. “Gostamos de nós da maneira como somos”, disse. (...)

Presidente da Libéria e Nobel da Paz defende criminalização da homossexualidade
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 16 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-03-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Numa entrevista conjunta com o antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair, que se mostrou incomodado mas não fez comentários, a Presidente da Libéria e Nobel da Paz Ellen Johnson Sirleaf defendeu uma lei que criminaliza a homossexualidade. “Gostamos de nós da maneira como somos”, disse.
TEXTO: A entrevista foi dada ao diário britânico Guardian e Ellen Johnson Sirleaf defendeu a legislação que, na Libéria, criminaliza a “sodomia voluntária” com um ano de prisão. “Temos certos valores tradicionais na nossa sociedade que gostaríamos de preservar”, defendeu a Presidente da Libéria que em 2011 recebeu o Nobel da Paz juntamente com outras duas mulheres africanas. O prémio foi-lhe atribuído pelo seu trabalho em defesa dos direitos das mulheres na Libéria, que a elegeu Presidente em 2006 e reelegeu no ano passado. Um antigo procurador-geral da Libéria, Tiawan Gongloe, considerou em declarações ao Guardian que, para a Presidente, tentar descriminalizar a homossexualidade seria “um suicídio político”, uma vez que Sirleaf não dispõe de um Governo maioritário e “precisa desesperadamente do apoio do parlamento para resolver questões ligadas à corrupção, exploração de recursos naturais e desemprego entre os jovens”. Blair, ao lado de Ellen Johnson Sirleaf, ficou visivelmente incomodado, garante o Guardian, mas recusou comentar as afirmações. O antigo primeiro-ministro britânico visitou a Libéria enquanto fundador da Iniciativa para a Governação em África, uma organização que tem como objectivo ajudar a fortalecer as capacidades dos governos africanos. Perante as afirmações da Presidente liberiana, um jornalista perguntou a Blair se a boa governação e os direitos humanos não andam de mãos dadas, mas esta questão não teve resposta. “Uma das vantagens de fazer o que faço agora é poder escolher os temas que abordo e aqueles que não. Para nós, as prioridades estão relacionadas com electricidade, estradas, empregos”, disse o antigo chefe do Governo britânico. Enquanto primeiro-ministro, Blair impulsionou legislação sobre uniões entre pessoas do mesmo sexo e levantou a proibição de homossexuais nas forças armadas. Chegou mesmo a apelar ao Papa, depois de se converter ao catolicismo, para que repensasse as suas posições e defendesse a igualdade de direitos para os homossexuais. Mas agora, adiantou o Guardian, disse não estar preparado para se envolver nesta questão, enquanto conselheiro dos líderes africanos. Na Libéria não tem havido condenações ao abrigo da lei que criminaliza a “sodomia voluntária”, segundo um relatório divulgado pelo Departamento de Estado norte-americano. No entanto, grupos anti-gay promoveram recentemente duas novas propostas legislativas que tornarão mais severas as penas a aplicar aos homossexuais, as quais poderão chegar aos cinco anos de prisão, ou mesmo dez anos no caso da proposta defendida pela ex-mulher do antigo Presidente Charles Taylor, Jewel Howard Taylor, que considerou a homossexualidade “uma ofensa criminosa”. Actualmente a homossexualidade é considerada ilegal em 37 países africanos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos lei humanos suicídio mulher prisão sexo igualdade mulheres desemprego gay ilegal
Marcha LGBT vai celebrar conquistas recentes e reivindicar “as que estão por fazer”
A 11.ª Marcha do Orgulho LGBT vai celebrar conquistas recentes e “recordar as muitas que ainda há por fazer”, afirmou Salomé Coelho, da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), uma das 18 estruturas que organizam a iniciativa. (...)

Marcha LGBT vai celebrar conquistas recentes e reivindicar “as que estão por fazer”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 3 Homossexuais Pontuação: 16 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-06-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: A 11.ª Marcha do Orgulho LGBT vai celebrar conquistas recentes e “recordar as muitas que ainda há por fazer”, afirmou Salomé Coelho, da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), uma das 18 estruturas que organizam a iniciativa.
TEXTO: A marcha “vai ser um momento para celebrar as recentes conquistas - como o casamento entre pessoas do mesmo sexo - e para recordar que ainda há muitas outras por fazer, nomeadamente no que diz respeito à parentalidade e co-parentalidade e à adopção”, declarou Salomé Coelho à Lusa. Entre as reivindicações figura “a urgência de uma lei de identidade de género que permita responder célere às pessoas transgénero e transexuais” e “o acesso de lésbicas à procriação medicamente assistida”. No que respeita a esta questão, o Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida informou ontem que o acesso àquelas técnicas continua “legalmente vedado às pessoas do mesmo sexo casadas entre si”, proibição que se manterá se não houver uma alteração legislativa. Salomé Coelho não quis, todavia, avançar qualquer comentário, assinalando que a marcha - ao ser organizada por entidades “com uma grande diversidade” de opiniões - “não tem posição em relação ao parecer”. Ainda de acordo com a representante da UMAR, a marcha “pretende ocupar o espaço público com o orgulho LGBT [lésbicas, gays, bissexuais e transgéneros] por oposição à vergonha imposta pela homofobia, pela bifobia e pela transfobia”, não sendo “esperadas nem desejadas” reações negativas dos transeuntes. “Nos anos anteriores as reações foram muito diversas, mas a maioria de apoio à marcha, porque é um momento de ocupação pela diversidade e aquilo que se está a reivindicar são direitos humanos. Acho que essa mensagem passa, apesar de ser clara a homofobia e a transfobia no quotidiano”, declarou. A responsável disse também acreditar que “a crescente visibilidade das questões das pessoas LGBT também promove uma maior aceitação e uma maior consciência” de que a diversidade sexual é “um direito humano”. “Denunciar o facto de, pelo mundo fora, existirem sete países em que a homossexualidade é punida com pena capital e que em 93 outros qualquer pessoa pode ser julgada e punida com multa ou prisão por ser lésbica, gay, bissexual ou transgénero” é outro dos objectivos da marcha, que tem início sábado, pelas 17h00, no Príncipe Real, em Lisboa. Entre as 18 entidades que organizam a iniciativa contam-se, além da UMAR, SOS Racismo, Associação para o Planeamento da Família, Panteras Rosa, ILGA Portugal e Médicos pela Escolha. Participam na organização pela primeira vez estruturas como o Núcleo LGBT da Amnistia Internacional Portugal ou o Grupo de Trabalho Identidade X/Y que integra o Sindicato Unificado da Polícia de Segurança Pública.
REFERÊNCIAS:
Embaixada dos Estados Unidos em Madrid iça a bandeira gay contra a homofobia
Embaixador James Costos, um homossexual assumido, não passou ao lado do Dia Mundial contra a Homofobia. (...)

Embaixada dos Estados Unidos em Madrid iça a bandeira gay contra a homofobia
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 16 | Sentimento 0.416
DATA: 2014-05-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: Embaixador James Costos, um homossexual assumido, não passou ao lado do Dia Mundial contra a Homofobia.
TEXTO: Na embaixada dos Estados Unidos, em Madrid, a bandeira multicolorida que simboliza o orgulho gay foi içada neste sábado, em celebração do Dia Mundial contra a Homofobia e a Transfobia. O acto foi assinalado pelo departamento de Estado norte-americano, e pelo Presidente Barack Obama, que em comunicado considerou que “as pessoas devem ser tratadas com igualdade, e nunca ser alvo de violência ou discriminação por causa de quem são ou de quem amam”, e lamentou o aumento dos casos de opressão e criminalização de homossexuais, bissexuais e transsexuais. O Dia Mundial contra a Homofobia e a Transfobia assinala a eliminação, em 1990, da homossexualidade da lista de doenças mentais reconhecida pela Organização Mundial de Saúde. Mas a transsexualidade ainda está incluída na lista e classificada como uma doença mental. O embaixador norte-americano em Espanha, James Costos, é um gay assumido, mas segundo explicou, a decisão de içar a bandeira do orgulho gay insere-se num programa de actividades relativas ao respeito pelos direitos humanos da delegação diplomática. — US Embassy Madrid (@USembassyMadrid) 17 maio 2014Em Espanha, a violência homofóbica está tipificada como um crime de ódio, e segundo as estatísticas oficiais, correspondem a cerca de 25% das denúncias. Em 2013, as autoridades registaram 452 delitos contra a orientação e identidade sexual – nesse ano, as agressões homofóbicas superaram os ataques racistas, que também se inscrevem na mesma categoria de crimes de ódio. O país vizinho reconheceu, em 2005, o direito dos homossexuais ao casamento. Mas em 78 países do mundo, as relações sexuais consentidas entre pessoas do mesmo sexo ainda são classificadas como crime: no Irão, Arábia Saudita, Iémen ou Sudão são mesmo punidas com pena de morte, enquanto por exemplo no Uganda a pena é prisão perpétua.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime direitos morte humanos violência prisão doença sexo igualdade sexual casamento gay discriminação homofobia
Bloco pede demissão do presidente do Instituto do Sangue
Partido quer saber se Governo “mantém confiança política” em Hélder Trindade, depois de este ter declarado na Assembleia da República que só admite dadores de sangue gay que sejam abstinentes. (...)

Bloco pede demissão do presidente do Instituto do Sangue
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Partido quer saber se Governo “mantém confiança política” em Hélder Trindade, depois de este ter declarado na Assembleia da República que só admite dadores de sangue gay que sejam abstinentes.
TEXTO: José Soeiro já tinha deixado o aviso no fim da audição parlamentar ao presidente do Instituto Português do Sangue, esta quarta-feira de manhã: “Vamos pensar nas consequências desta audição”, afirmou o deputado do Bloco de Esquerda (BE). Ao fim da tarde, o partido informava em comunicado que consequências eram essas. Hélder Trindade “proferiu um conjunto de afirmações preconceituosas”, por isso o BE vai questionar o Governo sobre se “mantém a confiança política” em Hélder Trindade. Através de uma pergunta escrita ao Governo, o Bloco quer também saber se o executivo “subscreve as afirmações de Hélder Trindade, segundo as quais um homem ter relações sexuais com outro homem é um comportamento de risco, mesmo que essa relação seja protegida” e “como justifica o Governo” que uma resolução da Assembleia da República de 2010 “não esteja a ser cumprida”. Ouvido durante uma hora e meia na Comissão de Saúde da Assembleia da República, Hélder Trindade defendeu esta quarta-feira que homo e bissexuais sexualmente activos devem ser continuar a ser excluídos da dádiva de sangue. “Se o dador admite que é homossexual mas não admite que teve práticas sexuais com homens, pode dar sangue”, afirmou o presidente do conselho directivo do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST). À saída, questionado pelos jornalistas sobre se as pessoas heterossexuais que praticam sexo anal também só são aceites se não fizerem sexo, o mesmo responsável declarou: “Tenho um critério para o heterossexual e outro diferente para o homossexual que tem coito anal porque na população homossexual existe uma prevalência elevadíssima de VIH. ”A audição de Hélder Trindade foi pedida pelo Bloco na semana passada, na sequência da notícia do PÚBLICO de 27 de Março, segundo a qual o grupo de trabalho criado pelo IPST para estudar a dádiva de sangue por homo e bissexuais está há mais de dois anos para apresentar conclusões, desconhecendo-se os nomes dos peritos que o compõem. O Grupo de Trabalho sobre Comportamentos de Risco com Impacto na Segurança do Sangue e na Gestão de Dadores deveria ter apresentado um relatório até Junho de 2013. O BE quis saber porque é que o IPST, organismo tutelado pelo Ministério da Saúde e responsável pela coordenação nacional da colheita de sangue, não emitiu até hoje um “documento normativo que proíba expressamente a discriminação dos dadores de sangue com base na sua orientação sexual”, como ficou estabelecido numa resolução da Assembleia da República (39/2010, de 8 de Abril). Hélder Trindade, que se fez acompanhar pela vogal da direcção do IPST Gracinda de Sousa e pelo assessor de imprensa Diamatino Cabanas, estava preparado para a pergunta sobre a identidade dos peritos. Revelou prontamente os nomes: Ana Paula Sousa (IPST), Ricardo Camacho (virologista), Lucília Nunes (vice-presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, que substituiu Cíntia Águas), Fernando Araújo (director do Serviço de Imunohemoterapia do Centro Hospitalar de São João), António Diniz (director do Programa Nacional para a Infecção VIH/Sida), Nuno Janeiro (infecciologista) e Isabel Elias (Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género). “Tivemos o cuidado de não pôr apenas pessoas com cariz técnico, pusemos pessoas da área da ética e da área social”, explicou o presidente do IPST, sustentando que o atraso na apresentação de conclusões se deve, fundamentalmente, a uma resolução do conselho de ministro do Conselho da Europa, de Março de 2013, que “veio dizer que o Estado-membro tem que fazer estudos e dizer qual é o risco e porque é que vai alterar [os critérios]”. Sobre um novo prazo para apresentação de conclusões do grupo de trabalho, o responsável pelo IPST não se quis comprometer perante os deputados, mas aos jornalistas afirmou que tal acontecerá “ainda este ano”. A pergunta “sendo homem, teve contactos sexuais com homens?”, cuja existência nos inquéritos escritos de triagem de dadores levou à aprovação da resolução de 2010, é “obrigatória oralmente”, disse Hélder Trindade aos jornalistas, já depois da audição – porque os contactos sexuais de homens com homens são um “factor de exclusão do dador”. A declaração contradiz o que, minutos antes, havia sido dito pelo mesmo responsável perante os deputados: “Aquilo que questionamos [nos inquéritos de triagem] é o comportamento de risco, homo ou heterossexual, questionamos os dois. ” Contradiz, igualmente, o que Gracinda de Sousa declarou ao PÚBLICO há algumas semanas: que a pergunta é feita por apenas “algumas pessoas” dos serviços de sangue.
REFERÊNCIAS:
Partidos BE
Ou se casam todos ou não se casa ninguém: uma igreja nos EUA deixa de fazer casamentos heterossexuais
Uniões entre homens e mulheres só voltam a ser celebradas na Igreja de Green Street quando a Carolina do Norte legalizar o casamento gay. (...)

Ou se casam todos ou não se casa ninguém: uma igreja nos EUA deixa de fazer casamentos heterossexuais
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 3 Homossexuais Pontuação: 14 | Sentimento 0.25
DATA: 2013-03-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uniões entre homens e mulheres só voltam a ser celebradas na Igreja de Green Street quando a Carolina do Norte legalizar o casamento gay.
TEXTO: Uma igreja metodista da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, decidiu que não vai celebrar mais casamentos heterossexuais enquanto o governo daquele estado mantiver a sua política actual, considerada “injusta”, sobre o casamento homossexual. Enquanto o casamento gay não for legalizado na Carolina do Norte não há casamentos para ninguém na Green Street United Methodist Church, situada em Winston-Salem. Num comunicado, o pastor Kelly Carpenter explica as razões da sua “insurreição espiritual”, como lhe chama o Le Monde que foi descobrir a notícia na Salon, uma revista online norte-americana. “Os casais que assumem um compromisso têm necessidade de uma comunidade para os apoiar e ajudá-los a crescer na fé e no amor”, escreve o pastor Carpenter. “Na igreja de Green Street consideramos que as pessoas do mesmo sexo que estão comprometidas numa relação não são menos sagradas para nós e para a nossa comunidade”, continua o texto. “Consideramos que os homossexuais são dignos de receber os santos sacramentos do casamento. Rejeitamos qualquer noção que os torne cidadãos de segunda classe no Reino de Deus. ”Esta tomada de posição insólita surge num contexto cada vez mais favorável ao casamento entre pessoas do mesmo sexo nos EUA, onde apenas nove estados federais legalizaram estas uniões. Uma sondagem ABC-Washington Post divulgada na segunda-feira mostra que 58% dos americanos são favoráveis à legalização do casamento gay (eram apenas 32% em 2004). No final do mês de Março, o Supremo Tribunal dos EUA vai analisar dois casos que contestam a ilegalidade dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo e o número de personalidade e figuras políticas que tem assumido a defesa do casamento gay aumenta de dia para dia.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Sinn Féin admite pela primeira vez despenalização parcial do aborto
Gerry Adams quer que o partido chegue ao Governo em 2016. Pediu aos eleitores para aprovarem o casamento entre pessoas do mesmo sexo, no referendo de 22 de Maio. (...)

Sinn Féin admite pela primeira vez despenalização parcial do aborto
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 14 | Sentimento 0.075
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Gerry Adams quer que o partido chegue ao Governo em 2016. Pediu aos eleitores para aprovarem o casamento entre pessoas do mesmo sexo, no referendo de 22 de Maio.
TEXTO: O partido republicano irlandês Sinn Féin aprovou durante o seu congresso anual, no sábado, uma moção a favor da despenalização parcial do aborto. É um passo histórico para uma formação política que, até aqui, foi intransigente quanto a qualquer alteração da fechada política irlandesa em relação à interrupção voluntária da gravidez. A moção determina que, a partir de agora, o partido apoiará qualquer iniciativa legislativa que venha a ter lugar na República da Irlanda (onde tem representação parlamentar) sobre o tema. Os membros do partido aceitam o aborto quando o feto não é viável ou quando sobre de anomalias graves. As mulheres irlandesas que enfrentam estas duas situações, de ter um filho morto ou com malformações graves, têm que procurar apoio médico noutro país - fazem-no sobretudo no Reino Unido - quando decidem interromper a gravidez. O presidente do Sinn Féin, Gerry Adams, disse aos congressistas que apoiava a moção e que tinha ouvido os testemunhos de muitos pais confrontados com problemas graves. "Ouvi os testemunhos muito atentamente. Temos que ser muito compreensivos com estas situações. Claro que há mulheres que querem levar a gravidez até ao fim e temos que apoiá-las. Mas outras sentem que não são capazes de o fazer e temos que lidar com as suas opções, garantindo que ambos os grupos recebem o máximo apoio", disse Adams, que no passado já vetou iniciativas de partidos que defendem a descriminalização total do aborto e pretendiam ou realizar um debate sobre o tema ou levar ao Parlamento projectos de lei. A lei da República da Irlanda, aprovada após um referendo nacional em 1983, determina que mal acontece a concepção e surge um embrião, este tem direitos constitucionais iguais aos de qualquer pessoa. O partido aprovou também uma moção a aprovar a alteração do artigo 8. º da Constituição. No discurso de encerramentro do congresso, Adams também pediu aos eleitores que aprovem o referendo sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo que tem lugar a 22 de Maio. “Todos os cidadãos têm direito a ter as mesmas oportunidades, independentemente da sua origem, orientação sexual ou género. Por isso, o Sinn Féin apoia a igualdade de casamento para os cidadãos LGBT. A maior parte das pessoas têm um familiar, um amigo, um colega de trabalho ou um vizinho homossexual que amam pelo que são". São posições de ruptura com o status quo num país onde não foi, até agora, fácil quebrar os dogmas do catolicismo dominante. E são também posições para preparar o partido para as legislativas de 2016 (estão previstas para o início do segundo trimestre). Adams disse que o Sinn Féin quer ser o líder do próximo Governo e que não apoiará um executivo do Fine Gael ou do Fianna Fáil. "O Sinn Féin quer um mandato governativo. Acredito que podemos ganhar. Queremos ser o próximo Governo e estou confiante de que quando chegar o momento os cidadãos vão escolher e fazer a diferença. "
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave aborto direitos lei filho sexo igualdade género sexual mulheres casamento homossexual morto lgbt