Vaticano quer saber opinião dos católicos sobre temas como divórcio ou casamento gay
Inquérito enviado às conferências episcopais tem como objectivo recolher informação de base para o sínodo sobre a família, que se realiza em Outubro de 2014. (...)

Vaticano quer saber opinião dos católicos sobre temas como divórcio ou casamento gay
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 13 | Sentimento 0.308
DATA: 2013-11-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Inquérito enviado às conferências episcopais tem como objectivo recolher informação de base para o sínodo sobre a família, que se realiza em Outubro de 2014.
TEXTO: Que atenção deve ser dada pela Igreja aos casais homossexuais? E como pode ser transmitida a fé católica aos filhos adoptados por estes casais? O Vaticano procura respostas para estas e outras perguntas sobre temas como divórcio, casamento homossexual e contracepção. Para isso, enviou às conferências episcopais espalhadas pelo mundo um inquérito, que deverá ser distribuído pela comunidade católica, com perguntas sobre temas pouco consensuais no seio da Igreja. Os resultados desta consulta servirão de base para preparar o sínodo sobre a família, marcado para Outubro de 2014, sob o tema “Desafios pastorais da família no contexto da evangelização”. Segundo o jornal norte-americano National Catholic Reporter, o questionário começou a ser enviado a 18 de Outubro, acompanhado por uma carta do arcebispo Lorenzo Baldisseri, secretário-geral do sínodo. Nessa missiva, Baldisseri pede aos bispos que distribuam os inquéritos “imediatamente e da forma mais ampla possível” ao maior número de párocos. De acordo com o mesmo jornal, esta é a primeira vez que o Vaticano pede o contributo dos escalões mais baixos da hierarquia da Igreja, pelo menos desde que foi estabelecido o sistema de sínodos logo após o Concílio Vaticano II, em 1961. As respostas têm de ser enviadas até ao final de Janeiro. O objectivo é perceber, por exemplo, como é que está a ser aceite o “valor da família” ensinado actualmente pela Igreja. E se existem, nas várias paróquias, padres preparados para lidar com os problemas do divórcio, do casamento entre pessoas do mesmo sexo, ou das pessoas que voltam a casar após uma separação – o que impede a comunhão na eucaristia, caso o casamento anterior não seja anulado. O Papa Francisco manifestou já intenção de resolver os problemas relacionados com a nulidade dos casamentos e, tal como Bento XVI, entende que os divorciados que voltem a casar devem ser acolhidos na Igreja. Baldisseri diz que o Papa Francisco quer que o sínodo de 2014 seja apenas o primeiro passo para avaliar estas questões. O Papa pretende voltar a estes temas no sínodo do ano seguinte, em 2015, quando se celebra o 50º aniversário desta assembleia eclesiástica. No entanto, apesar de Baldisseri pedir uma consulta “ampla”, nos EUA a exigência parece ser menor. O National Catholic Reporter teve acesso à carta que foi enviada para à conferência episcopal norte-americana juntamente com a versão em inglês do questionário. Nela, o secretário-geral da conferência de bispos dos EUA, Ronny Jenkins, pede aos bispos que contribuam apenas com as suas opiniões, sem consultarem a restante comunidade. Helen Osman, secretária do gabinete de comunicação da conferência norte-americana, disse ao jornal que o pedido de informações aos bispos iria seguir o “processo usual” uma vez que “Roma pede este tipo de consulta numa base regular”. “Cada bispo vai determinar o que será mais útil na recolha de informação para enviar para Roma”, respondeu a assessora.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Casamento entre homossexuais deverá ser realidade no Verão
Apenas dois dos treze juízes-conselheiros disseram ser inconstitucional. Agora está nas mãos de Cavaco Silva vetar ou assinar o diploma. (...)

Casamento entre homossexuais deverá ser realidade no Verão
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 13 | Sentimento 0.416
DATA: 2010-04-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Apenas dois dos treze juízes-conselheiros disseram ser inconstitucional. Agora está nas mãos de Cavaco Silva vetar ou assinar o diploma.
TEXTO: A celebração de casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo deverá ser uma realidade este Verão. Ontem, o plenário de juízes-conselheiros do Tribunal Constitucional considerou estar conforme à Lei Fundamental a lei proposta pelo Governo do PS e aprovada pela Assembleia da República que legaliza o casamento civil entre homossexuais. Agora, restam ao Presidente da República 20 dias para assinar o diploma ou vetá-lo. Mas mesmo que Cavaco Silva chumbe politicamente esta lei e a devolva ao Parlamento, basta que se repita uma maioria simples de deputados para que o Presidente seja obrigado a promulgá-la. Ontem, o plenário dos treze juízes-conselheiros votou por larga maioria, com onze votos a favor, o acórdão da autoria de Vítor Gomes, que considera não existirem inconstitucionalidades nas normas da lei sobre as quais foram consultados pelo Presidente. Apenas dois juízes-conselheiros, José Borges Soeiro e Benjamim Rodrigues, votaram contra o acórdão. O presidente, Moura Ramos, explicou aos jornalistas que três dos juízes-conselheiros consideraram mesmo que a Constituição obriga à legalização do casamento entre homossexuais. Cabe agora ao Presidente, após receber o acórdão e num prazo máximo de 20 dias (ponto 1 do artigo 136. º da Constituição) promulgá-lo ou vetá-lo, podendo em ambos os casos dirigir uma mensagem em que explica a sua posição. No caso de Cavaco assinar a lei sem usar o direito de veto, o diploma estará pronto a entrar em vigor antes da visita do Papa católico Bento XVI, que começa a 11 de Maio. No comunicado divulgado ontem - o acórdão será posteriormente apresentado na íntegra - lê-se que este órgão de fiscalização constitucional "concluiu que a iniciativa legislativa no sentido de permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo não viola a garantia institucional do casamento". E sustenta que isso acontece por três razões. A primeira é que o diploma "não tem por efeito denegar a qualquer pessoa ou restringir o direito fundamental a contrair (ou a não contrair) casamento". O segundo é que "o núcleo essencial da garantia constitucional do casamento não é franqueado pelo abandono da regra da diversidade de sexos entre os cônjuges". E, por fim, que "a extensão do casamento a pessoas do mesmo sexo não contende com o reconhecimento e protecção da família como "elemento fundamental da sociedade"". O presidente do TC explicou aos jornalistas que o plenário não se pronunciou sobre a norma do diploma que proíbe a adopção por casais de pessoas do mesmo sexo, porque tal questão não lhe foi colocada. O texto divulgado pelo gabinete de imprensa do Palácio Ratton acrescenta ainda que "o tribunal não deixou de ponderar que, embora possa considerar-se que o casamento que a Constituição representou, tendo em conta a realidade e o contexto jurídico em que emergiu, foi o casamento entre duas pessoas de sexo diferente". Mas acrescentou que "também pode seguramente concluir-se que não teve qualquer opção no sentido de proibir a evolução da instituição". Por último, o comunicado advoga que "o conceito constitucional de casamento é um conceito aberto, que admite não só diversas conformações legislativas, mas também diversas concepções políticas, éticas ou sociais, sendo confiada ao legislador ordinário a tarefa de, em cada momento histórico, apreender e verter no ordenamento aquilo que nesse momento corresponda às concepções dominantes".
REFERÊNCIAS:
Partidos PS
Casamento gay: Plataforma Cidadania Casamento pede referendo
O movimento Plataforma Cidadania Casamento afirma que não está surpreendida com o facto do tribunal Constitucional dar luz verde ao casamento entre pessoas do mesmos exo. Mas acredita que este aval abre a porta ao referendo sobre a matéria. (...)

Casamento gay: Plataforma Cidadania Casamento pede referendo
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 13 | Sentimento 0.416
DATA: 2010-04-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: O movimento Plataforma Cidadania Casamento afirma que não está surpreendida com o facto do tribunal Constitucional dar luz verde ao casamento entre pessoas do mesmos exo. Mas acredita que este aval abre a porta ao referendo sobre a matéria.
TEXTO: Num comunicado emitido após ter sido conhecida a decisão do Tribunal Constitucional, a Plataforma afirma que a decisão de Cavaco Silva em pedir a avaliação da constitucionalidade do diploma “devolve ao povo o direito a decidir sobre os destinos desta sociedade. ”O movimento recorda ainda que conseguiu já reunir 92 mil assinaturas para pedir a realização de um referendo sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo e frisa que “nenhum eleito tem legitimidade para, em nome do Povo, provocar tão profunda alteração legislativa. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave tribunal sexo casamento
Mulier tacet in eclesia ou a discriminação sexual
Joseph Ratzinger, cardeal alemão, é o Papa há uns anos. Resignou há dias mais pelas atribulações internas da Igreja Católica que governa do que tão só pela sua debilidade física própria de um homem de 85 anos. Penso eu. O Papa enfrentou, e pela primeira vez, e de forma universal, essa vergonha que se chama pedofilia. Vergonha e crime em todo o mundo. Mas não menos relevante, Ratzinger teve a força e energia morais para tomar uma medida que não menos cobria, se ainda não cobre, a sua Igreja com um manto de negócios cinzentos ou até de cores muito mais carregadas: O Banco do Vaticano, eufemisticamente chamado Insti... (etc.)

Mulier tacet in eclesia ou a discriminação sexual
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 13 | Sentimento 0.5
DATA: 2013-02-25 | Jornal Público
TEXTO: Joseph Ratzinger, cardeal alemão, é o Papa há uns anos. Resignou há dias mais pelas atribulações internas da Igreja Católica que governa do que tão só pela sua debilidade física própria de um homem de 85 anos. Penso eu. O Papa enfrentou, e pela primeira vez, e de forma universal, essa vergonha que se chama pedofilia. Vergonha e crime em todo o mundo. Mas não menos relevante, Ratzinger teve a força e energia morais para tomar uma medida que não menos cobria, se ainda não cobre, a sua Igreja com um manto de negócios cinzentos ou até de cores muito mais carregadas: O Banco do Vaticano, eufemisticamente chamado Instituto Para as Obras da Religião (IOR). E não terá sido porque Ratzinger despertou um dia indisposto que, 15 dias antes de anunciar a sua resignação, o Papa nomeou um novo gestor dos dinheiros de Deus na terra: um também alemão. Deixe-se, porém, os dinheiros de Deus e a pedofilia, acentuando, com felicitações e agrado, a pregação do Papa, não há muito tempo atrás, sobre a igualdade entre os povos, a solidariedade universal, a paz, a justa distribuição da riqueza na Terra. Todavia, Ratzinger – um cardeal que nos avezámos a ver sofredor, com um sorriso sempre triste de homem de Deus que carregava nos ombros os pecados das suas ovelhas tresmalhadas –, não foi capaz ou não o deixaram, como filósofo, teólogo e homem de cultura que é, de abolir um princípio de milénios vigente na sua Igreja: a mulher estar calada. O que quer dizer que a discriminação sexual é um princípio estrutural da Igreja Católica, igreja onde os cargos da hierarquia são exclusivamente destinados à virilidade masculina, assente no postulado segundo o qual a mulher é, na escala de valores da Igreja, um ser de graduação abaixo. Ora, liderando o Papa de Roma milhões de gentes por esse mundo fora, não se estranhe que os poderes da Terra perfilhem tal princípio. Apesar da Declaração Universal dos Direitos do Homem, a europeia dos mesmos direitos, as declarações das Nações Unidas e já agora a Constituição da República Portuguesa, invocada quando dá jeito e excomungada quando o não dá. Antero de Quental, que era também “antero”, o disse nas Conferências do Casino, por meados do século XIX: o atraso de Portugal também se deve a alguns “dogmas“ da Igreja Católica e nesses também a perfilhação de um tal princípio. E a desigualdade entre sexos, cá por casa, já ninguém tem a ousadia de, publicamente, a defender mas muitos, obscuramente, a praticam. Salvo, vejam lá, o Estado, se excluirmos a coutada dos partidos que capturaram, como é por demais evidente, os lugares genuinamente de natureza política e muitos que o não são. Conquistas de Abril, agora recordado, por forças “instrumentalizadas”, é óbvio que, aqui e ali, enfrentam e afrontam o poder ao som de José Afonso: Grândola Vila Morena. Apenas um exemplo: após Abril, as mulheres entraram nas magistraturas e no Ministério Público constituem já uma percentagem superior à dos seus colegas da “virilidade”. E nas empresas privadas? Aqui vigora, com algumas excepções, o princípio genuinamente católico: mulier tacet in eclesia. Até quando?É que, por mais bem desenhadas e inspiradas em princípios justos e universais, as leis e declarações não passam de papel, se e enquanto, o Homem não lhes der forma, passe a expressão, material. O autor é Procurador-Geral Adjunto
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime direitos cultura mulher homem igualdade sexual mulheres vergonha discriminação
Cannabis e gays. Psicólogo da TVI volta a ser alvo de queixas
Entidade Reguladora para a Comunicação Social analisa novas queixas contra declarações de Quintino Aires já depois de ter pedido à TVI para não permitir comentários que incitem ao ódio ou à discriminação. (...)

Cannabis e gays. Psicólogo da TVI volta a ser alvo de queixas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 Ciganos Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 13 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-07-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Entidade Reguladora para a Comunicação Social analisa novas queixas contra declarações de Quintino Aires já depois de ter pedido à TVI para não permitir comentários que incitem ao ódio ou à discriminação.
TEXTO: A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) recebeu até quarta-feira nove queixas relativas a comentários proferidos pelo psicólogo Quintino Aires no Você na TV, de 14 de Junho. O comentador residente do programa da TVI afirmou que “75% das pessoas que consomem cannabis têm relações com pessoas do mesmo sexo”. Entre as gargalhadas do público presente no estúdio, o psicólogo repetiu a revelação, segundo ele “recente”, que lera num “estudo científico”. Perante as queixas, foi aberto um inquérito, diz Luísa Roseira, vogal do conselho regulador da ERC. “O operador televisivo vai ser ouvido e posteriormente o regulador decidirá”, esclarece. Esta é uma questão complexa sobre o que é “opinião livre e o limite de tudo o que pode incitar ao ódio”, diz. Porém, e como já houve “decisão anterior de sensibilização do mesmo programa com o mesmo comentador, os antecedentes terão obrigatoriamente de ser tidos em conta”. Luísa Roseira admite que, desta vez, “ao operador televisivo — a TVI — poderá ser aplicada uma sanção mais grave, que não uma mera sensibilização”. Sanção de que tipo? “Poderá considerar-se que houve uma violação legal da lei da televisão e em resultado disso haver uma contra-ordenação”. Em Julho do ano passado, no programa apresentado por Manuel Luís Goucha e Cristina Ferreira, Quintino Aires disse que “a maioria [dos ciganos em Portugal] vive dos subsídios ou trafica droga e não trabalha” A ERC recebeu então, em quatro dias, dez queixas de cidadãos e 27 outras queixas que tinham chegado ao Alto Comissariado para as Migrações. Seis meses depois, a ERC deliberou no sentido de “sensibilizar a TVI a garantir, de futuro, uma protecção cabal e constante da dignidade dos cidadãos e a não transmitir conteúdos que, de alguma forma, contribuam para a estigmatização de grupos sociais, em função da sua etnia”. Na decisão, distingue “os conteúdos de natureza informativa (. . . ) sob a alçada da direcção de informação” e que “se regem pelas normas legais e éticas da actividade jornalística” e os “conteúdos que, embora podendo possuir elementos que informam os públicos”, se inserem “na categoria de entretenimento”. Remete para “o campo do exercício da liberdade de expressão”, mas também lembra que a lei da televisão, no seu artigo referente aos limites à liberdade de imprensa, estabelece que “a programação televisiva não pode incitar ao ódio racial, religioso, político, ou gerado pela cor, origem étnica ou nacional, pelo sexo, pela orientação sexual ou pela deficiência”. Em conclusão, delibera no sentido de uma sensibilização da TVI para que situação semelhante não volte a acontecer. O PÚBLICO tentou ouvir o psicólogo Quintino Aires que não respondeu a dois pedidos de entrevista. A estação televisiva, também contactada, a propósito das reacções negativas às declarações de 14 de Junho, sobre a homossexualidade e o consumo de cannabis, defende-se e lembra que Quintino Aires participa “em vários outros órgãos de comunicação social”: “O Dr. Quintino Aires expressa-se na antena da TVI com a liberdade que o sistema jurídico lhe permite, e que é própria dos países livres e das sociedades abertas e democráticas. A TVI é uma instituição firmemente comprometida com o respeito pelas normas legais aplicáveis à sua actividade e o programa Você na TV não é excepção. ”Para Carla Cruz, socióloga da Comunicação e professora no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade de Lisboa, “a liberdade de expressão do Dr. Quintino Aires vai contra a responsabilidade civil que tem a TVI, enquanto emissora de conteúdos mediatizados”. “A grande questão é que [o comentador] está [neste espaço] a confundir uma opinião pessoal com uma opinião de um especialista e essa confusão passa para as pessoas, acaba por haver essa contaminação. ” Com duas agravantes: “Os programas da televisão em Portugal, apesar da massificação da Internet, continuam a ser aqueles que chegam a mais pessoas” e a maioria dos telespectadores deste programa — como se pode ver nos perfis das audiências — são pessoas com um rendimento médio familiar baixo, “que integram muito facilmente qualquer opinião sem distinguir o que é subjectivo daquilo que é científico”. E alerta: “Quando do outro lado estão pessoas sem esse conhecimento técnico, vão recolocar-se nessa posição, vão aderir a ela. A TVI tem que ter em conta que está a credibilizar informação subjectiva. ”“Este senhor está nesse programa como psicólogo e não como cidadão Quintino Aires. E é moralmente censurável estar a fazer propaganda de alguma discriminação. Está a debitar opiniões pessoais e a transpô-las para o grande público que depois mimetiza essas posições, essa discriminação”, insiste Carla Cruz sobre “o consultório aberto e gratuito que [Quintino Aires] tem na televisão”. “Muitas pessoas exacerbam o reconhecimento público de alguém pelo número de vezes que aparecem na televisão”, nota ainda a socióloga e professora universitária. “Ele vai revalidando diariamente o seu valor e a sua opinião que passa como a opinião de um especialista. ”Numa entrevista à revista Happy Woman, em 2014, Quintino Aires afirmava: “Fazer sexo com animais aumenta a ligação entre o ser humano e a natureza. Não devemos considerar a zoofilia uma perversão, mas sim uma celebração das nossas origens. No fundo somos todos animais. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Nesse ano, no programa da Rádio Antena 3 A Hora do Sexo, criticou um concorrente de um reality show que não tinha iniciado a actividade sexual aos 26 anos. Qualificou a virgindade como problema de “saúde pública” e aconselhou os ouvintes a recusarem “estas patologias sociais”. Sobre isso, a revista Sábado perguntou-lhe numa entrevista em Agosto do ano passado: “Tem dados científicos ou é uma opinião sua?” O psicólogo respondeu: “Não, isso não fui eu que descobri. É um estudo publicado, tem uma base científica. ”Nestas várias ocasiões, em comentários publicados nas redes sociais, muitas pessoas se insurgiram contra o potencial efeito das opiniões de Quintino Aires na “fanatização da sociedade” e houve quem apontasse “o risco que [ele] representa para a saúde pública”. Foram lançadas petições online — no caso das declarações sobre a comunidade cigana e no da ligação da comunidade homossexual ao consumo de cannabis — nas quais os signatários consideram que “a reincidência destas práticas”, entre outros aspectos, “demonstra uma postura de impunidade que deve ser combatida”.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Homofobia, fama e moda n'O Assassinato de Gianni Versace
A segunda American Crime Story é sobre o muito real Assassinato de Versace, um “génio” ou “o gajo das calças de ganga”. Série estreia-se nesta quinta-feira na Fox Life, com Penélope Cruz e Ricky Martin. (...)

Homofobia, fama e moda n'O Assassinato de Gianni Versace
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 13 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-30 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181230200315/https://www.publico.pt/1800605
SUMÁRIO: A segunda American Crime Story é sobre o muito real Assassinato de Versace, um “génio” ou “o gajo das calças de ganga”. Série estreia-se nesta quinta-feira na Fox Life, com Penélope Cruz e Ricky Martin.
TEXTO: Em 1997, Gianni Versace era uma personalidade da moda e do mundo dos ricos e famosos. Em 2018, Gianni Versace é uma personagem da televisão sobre o mundo do crime e da fascinação dos ricos e famosos. Essa dualidade está toda na série American Crime Story: O Assassinato de Versace, uma operática construção de amor e família, barroca como a roupa de Gianni e melodramática como a Donatella de Penélope Cruz. Mas também é uma história de crime real à prova de spoilers, uma caça ao homem embebida em psicodrama e um contributo para a história televisiva da cultura gay. Gianni Versace era “um génio”, como confirmam o seu companheiro, Antonio D’Amico, interpretado por um surpreendente Ricky Martin, e a irmã e sua sucessora, Donatella, interpretada pela sua amiga na vida real Penélope Cruz. Era um símbolo da vitalidade da indústria da moda dos anos 1990, um self made man italiano que tornou uma medusa e um friso gregos nos símbolos de um império de luxo e de opulência, mas também de saúde e festa. Um dos centros gravitacionais da era das supermodelos e das novas casas de moda familiares num sistema empoeirado que via a couture dar espaço à moda rápida (e tentava absorver o despojamento da cultura que vinha das ruas), a Versace era Gianni. E Gianni era Elizabeth Hurley de vestido preso por alfinetes dourados, era a Princesa Diana, era cor. Era demais, mas com classe. Ou era “o gajo das calças de ganga”. É assim que um agente do FBI tenta explicar quem é aquela suposta celebridade que foi alvejada na cabeça à porta da sua mansão em Miami Beach, num momento que marcaria os anos 1990. Tal como a primeira American Crime Story, O Caso de O. J. , esta segunda temporada da série de antologia (em que cada temporada tem uma história autónoma das restantes) escolhe um caso charneira nestes ciclos de 20 anos de rememoração da cultura de massas contemporânea. Aqui cruza-se a moda, sim, e a forma como ela absorveu e somatizou o poder das celebridades, com a fome da fama do serial killer Andrew Cunanan (interpretado por Darren Criss, rosto conhecido de Glee e o verdadeiro protagonista da série), mas também a forma como compreender vidas, vidas homossexuais, que não eram as do mainstream hetero. “American Crime Story, no seu âmago, só funciona se se estiver a contar uma história maior sobre um mal social”, disse o produtor Ryan Murphy ao New York Times. A homofobia, como o racismo em O. J. , é o desta segunda temporada. Gianni Versace foi também, como lembravam nos seus obituários, “o primeiro dos principais designers de moda italianos a confirmar que era gay”. Em O Assassinato de Versace, a dificuldade de definir uma relação amorosa entre dois homens ou em encontrar a simples geografia quotidiana de uma comunidade por parte da polícia produz cenas que hoje surtem quase o mesmo efeito que ver um ginecologista a fumar em pleno exame a uma paciente em Mad Men. A série “usa a sua vítima para contar uma história sobre ser gay na América: o isolamento e a solidão do armário, a dor do desejo bloqueado, a necessária acumulação de mentiras e a confusão de um mundo pós-crise da sida e pré-Will and Grace em que a tolerância é nascente mas o cepticismo ainda prevalece”, escreveu Jake Nevins no Guardian. Andrew Cunanan é o homem no espelho numa série que a crítica americana recebeu, com poucas excepções, muito bem. Gianni Versace (interpretado por Edgar Ramírez) foi a sua última de cinco vítimas, uma mente descrita por Tom Rob Smith (autor de A Criança N. º 44) para a antologia de Ryan Murphy a partir do livro Vulgar Favours, da jornalista Maureen Orth, e sem a “autorização” da família Versace. “Deve ser apenas vista como uma obra de ficção” com base num livro “cheio de mexericos e especulação”, disse a família, ainda à cabeça de um império de moda de gangas, sim, mas também de perfumes, jóias e sobretudo de moda sazonalmente elogiada. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Sensacionalismo “repreensível”, dizem os Versace, apesar de Penélope Cruz ser tão amiga da inconfundível Donatella que só aceitou o papel após ter com ela conferenciado. Sendo uma série imune aos spoilers – a história está escrita a sangue e começa logo aí, com a morte de 15 de Julho de 1997 (precedendo em dois meses a de Diana de Gales), e o homicida é seguido até ao fim –, há detalhes que nunca foram confirmados pela família. Como se Cunanan e Versace se conheceram anteriormente ou qual o verdadeiro estado de saúde do designer de moda nos anos anteriores ao crime. Outros são contestados por D’Amico, que diz que nunca segurou o corpo do namorado nos braços numa das cenas mais camp, e mais noveleiras, da série. O produtor Ryan Murphy defende a sua actual detractora, Donatella Versace, como uma “heroína feminista” e frisa que a sua história “não é uma obra de ficção” – mas, claro, tem “elementos de docudrama. Não estamos a fazer um documentário”. Pela oposição da família, usam roupa Versace de arquivo, comprada ou de museus, e reproduziram alguns vestidos emblemáticos. O primeiro de dez episódios da série estreia-se nesta quinta-feira na Fox Life, às 23h10.
REFERÊNCIAS:
E o Óscar é... jovem, negro e homossexual
Numa cerimónia bem-comportada que premiou o que se esperava, a surpresa surgiu à vista da meta com a vitória de Moonlight como melhor filme. Uma vitória histórica para um filme literalmente “à margem” da indústria. (...)

E o Óscar é... jovem, negro e homossexual
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 13 | Sentimento -0.03
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Numa cerimónia bem-comportada que premiou o que se esperava, a surpresa surgiu à vista da meta com a vitória de Moonlight como melhor filme. Uma vitória histórica para um filme literalmente “à margem” da indústria.
TEXTO: Os Óscares ficam sempre na história, por este ou aquele vencedor ou momento ou gague ou discurso ou celebração. Mas a cerimónia de 2017 vai sempre ser recordada pelo momento, pouco depois das cinco da manhã de 27 de Fevereiro em Lisboa, em que o filme que todos achavam que ia ganhar viu o Óscar ser-lhe tirado em cima do palco. Por esta altura já toda a gente sabe do erro de Faye Dunaway e Warren Beatty, a quem foi entregue por engano o cartão de vencedor de Melhor Actriz e não de Melhor Filme. (A PriceWaterhouseCoopers, consultoria responsável pela contagem de votos, assumiu entretanto por inteiro, num comunicado oficial, a responsabilidade do erro, anunciando que vai investigar como foi possível o envelope errado ter sido entregue aos apresentadores. ) Também já toda a gente sabe da elegância com que o produtor de La La Land Jordan Horowitz o corrigiu em palco, chamando a equipa de Moonlight para receber o prémio que lhes era devido. E desde logo pulularam na Internet as comparações (ou conspirações?) à eleição de Novembro (onde Hillary Clinton perdeu a presidência apesar de ter ganho no voto popular), como se a bolha liberal dos Óscares fosse uma compensação impossível pela vitória de Donald Trump. O que realmente importa, contudo, é outra coisa: a inesperada e improvável vitória de Moonlight de Barry Jenkins como Melhor Filme na madrugada de 26 para 27 de Fevereiro de 2017 é algo de histórico no cinema americano. Como diz Sean Fennessey logo a abrir a sua história no site The Ringer: “Nunca um filme com um orçamento tão pequeno, um elenco tão desconhecido, uma história tão pessoal, um resultado de bilheteira tão modesto e uma origem tão improvável recebeu a maior honra da indústria do cinema. ”La La Land – Melodia de Amor, o musical retro-consciente e escapista de Damien Chazelle que partia triunfador para esta 89. ª edição dos prémios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas com um recorde de 14 nomeações, pode ter levado o maior número de estatuetas da noite (seis, incluindo melhor actriz para Emma Stone e melhor realização para Damien Chazelle). Mas perdeu à vista da meta “o” Óscar que marca para a vida, criando a surpresa e abrindo toda uma série de leituras possíveis para a cerimónia 2017. A começar pela “narrativa negra” — um ano cheio de vitórias de filmes e figuras negras, como compensação por todas as controvérsias #OscarsSoWhite de anos anteriores. A cerimónia entregou Melhor Filme, Melhor Argumento Adaptado e Melhor Actor Secundário (Mahershala Ali, primeiro muçulmano a receber um Óscar) a Moonlight; melhor actriz secundária a Viola Davis (Vedações); melhor documentário para as oito horas de O. J. Made in America de Ezra Edelman, produzido para o canal de cabo ESPN. A leitura que interessa, contudo, transcende questões de cor da pele: os Óscares têm sistematicamente tendência a premiar a mediania e o conformismo, “aquilo que já sabemos que gostamos” em vez de “aquilo que é realmente fora de série. ” Ao dar o prémio máximo a Moonlight, a Academia decidiu premiar algo “fora de série”. Financiado fora dos grandes estúdios, Moonlight foi o menos visto dos nove nomeados a Melhor Filme (com apenas 23 milhões de dólares de receita americana), bem como o menos formatado e menos convencional. Jenkins, de 37 anos, com meia-dúzia de curtas e uma única longa em carteira (a excelente Medicine for Melancholy, exibida no IndieLisboa em 2008), adaptou com um elenco desconhecido e uma equipa composta de colegas da escola de cinema uma peça inédita do dramaturgo Tarell Alvin McCraney, In Moonlight Black Boys Look Blue, filmando no próprio bairro de Miami (Liberty City) onde o realizador cresceu. Contado em três tempos diferentes na educação do jovem Chiron (interpretado por três actores diferentes consoante a idade), Moonlight atira-se de cabeça a uma vivência que o cinema mainstream nunca abordou: o que significa ser jovem, negro, homossexual na América hoje (para que conste: McCraney é gay, Jenkins é heterossexual). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Como aponta Aisha Harris na Slate, é a primeira vez que um filme com personagens negras que não aborda o racismo ganha o Óscar de melhor filme. E, para lá da cor da pele, é a primeira vez que um filme sobre uma personagem homossexual ganha o prémio máximo da Academia. Nem Filadélfia de Jonathan Demme, Milk de Gus van Sant ou O Segredo de Brokeback Mountain de Ang Lee o conseguiram. Os Óscares não deixaram por isso de ser mais do mesmo. Houve as previsíveis vitórias de solidariedade global (a segunda vitória do iraniano Asghar Farhadi em Melhor Filme Estrangeiro por O Vendedor, ou o galardão à curta documental The White Helmets, sobre os voluntários da defesa civil síria) e a homenagem ao profissionalismo rodado dos seus inúmeros técnicos e criativos, jovens ou veteranos (os prémios técnicos de La La Land, O Primeiro Encontro, O Herói de Hacksaw Ridge ou Monstros Fantásticos). E, se não tivesse havido o espalhafatoso twist final de Moonlight, por entre a gaffe de Bonnie e Clyde e o equilíbrio discreto de uma cerimónia que cumpriu os requisitos, a maioria dos prémios corresponderam às (boas ou más) expectativas dos observadores. Mas bastou uma gaffe, e uma vitória em que já ninguém acreditava, para inscrever os Óscares de 2017 na história dos galardões como uma noite especial que escreveu, literalmente, direito por linhas tortas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola educação negro racismo homossexual gay negra
A sexualidade durante a gravidez e no pós-parto
De forma a minimizar estas dificuldades, é importante que os casais identifiquem e comuniquem quais suas preocupações sexuais e quais as mudanças que estão a vivenciar ao nível da sua sexualidade, quer com o/a parceiro/a, quer com os profissionais de saúde que os acompanham ao longo deste período. (...)

A sexualidade durante a gravidez e no pós-parto
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 12 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: De forma a minimizar estas dificuldades, é importante que os casais identifiquem e comuniquem quais suas preocupações sexuais e quais as mudanças que estão a vivenciar ao nível da sua sexualidade, quer com o/a parceiro/a, quer com os profissionais de saúde que os acompanham ao longo deste período.
TEXTO: Durante a preparação para a chegada de um novo bebé à família, são vários os desafios com que os casais frequentemente têm de lidar. Tanto para a grávida como para o/a parceiro/a que com ela partilha esta nova fase, a transição para a parentalidade envolve a adaptação dos casais a um novo contexto de vida que implica mudanças físicas, psicológicas, mas também relacionais. Entre os vários desafios que os futuros pais e mães enfrentam, alguns podem relacionar-se com a sua vida sexual. Como muda a vida sexual dos casais durante a gravidez?A maior parte dos casais experiencia mudanças na sua sexualidade durante a gravidez, especialmente ao nível da frequência com que se envolve em atividade sexual e dos seus níveis de desejo e satisfação sexuais. Existe, contudo, alguma variabilidade na forma como estas mudanças são vivenciadas de casal para casal. Embora 10 a 20% das mulheres relatem experienciar um aumento do desejo, frequência e satisfação sexuais durante a gravidez, esta experiência está longe de ser universal. A experiência sexual da maioria dos casais que atravessam o período de gravidez pode ser bastante diferente, e bem mais desafiante. Num estudo recente com mulheres que estavam grávidas do seu primeiro filho, cerca de metade declarou ter pelo menos um medo ou preocupação sobre a sua vida sexual durante a gravidez que a levou a evitar ter atividade sexual durante a gestação (tal como sangrar, ter uma infeção, ou provocar danos ao feto), sendo estas preocupações muitas vezes desajustadas, nomeadamente no contexto de gestações de baixo-risco. Estas preocupações são frequentemente partilhadas pelos próprios parceiros/as, através de crenças sexuais (isto é, ideias gerais sobre a sexualidade que frequentemente guiam o seu comportamento) que consideram a penetração vaginal durante a gravidez como um comportamento de risco para eventos obstétricos adversos tais como indução do trabalho de parto prematuro ou provocação de aborto, especialmente quando o sexo ocorre no terceiro trimestre. De facto, esta crença é apresentada pelos casais como uma preocupação particularmente comum durante a gravidez. No entanto, a prevalência de eventos obstétricos adversos devido ao coito vaginal é baixa, sugerindo que, para a maioria dos casais, estas preocupações são infundadas. Para estes casais, a incompreensão, aliada a alguma ansiedade, acerca de quais as práticas sexuais seguras durante a gravidez poderão ser fatores importantes para a redução do seu bem-estar sexual durante este período. De forma a minimizar estas dificuldades, é importante que os casais identifiquem e comuniquem quais suas preocupações sexuais e quais as mudanças que estão a vivenciar ao nível da sua sexualidade, quer com o/a parceiro/a, quer com os profissionais de saúde que os acompanham ao longo deste período. Os prestadores de cuidados de saúde têm a oportunidade única de clarificar o carácter normativo e transitório destas experiências, permitindo aos casais discutir formas de vivenciar a sua sexualidade de maneira mais satisfatória durante a gravidez. E no pós-parto?Com a chegada de um novo bebé à família, os casais têm agora de lidar com um leque de fatores adicionais, desde o aumento da fadiga, a recuperação física da mãe no pós-parto, a mudança de papéis e responsabilidades (incluindo a divisão do cuidado do bebé) e menos tempo sozinhos enquanto casal. Caso a mãe esteja a amamentar, isto poderá adicionalmente contribuir para a redução da excitação sexual da mãe e para uma maior probabilidade de ela experienciar dor durante as relações sexuais nos primeiros meses após o parto. Tudo isto poderá desempenhar um papel no bem-estar sexual dos casais, que tipicamente se mantém diminuído até um ano após o parto. No decurso deste primeiro ano, o funcionamento sexual – que inclui dimensões como desejo, excitação, orgasmo, e dor – tende a aumentar novamente, mas aos 12 meses pós-parto continua a ser, em média, mais baixo do que os níveis anteriores à gravidez. De facto, mais de 90% dos recém-pais relata ter voltado a ter relações sexuais aos três meses pós-parto, mas cerca de 50% dos pais e 35% das mães diz ainda se sentirem sexualmente insatisfeitos seis meses pós-parto. Como vivenciar uma sexualidade mais satisfatória durante este período?A investigação tem demonstrado que 90% das mães e pais reportam bastantes preocupações sexuais durante o período de pós-parto, muitas das quais são similares entre os membros do casal. Entre as mais frequentes estão a preocupação com a redução da frequência de atividade sexual, com o impacto que a recuperação física da mãe poderá ter, ou com possíveis diferenças no desejo sexual entre o casal. Aquilo que é considerado como uma vida sexual “típica” ou “saudável” varia de casal para casal e, por isso, o fundamental é perceber se um ou ambos os parceiros se sentem angustiados, preocupados, ou incomodados com aquilo que perceciona como mudanças negativas na sua vida sexual. Para alguns casais, manter uma vida sexual permite-lhes sentirem-se conectados enquanto casal, separadamente do seu papel de pais. Para outros, isso pode ter menos importância devido à sua dedicação ao seu novo papel parental. E, para outros casais, ter atividade sexual pode até estar totalmente fora dos seus planos por um tempo, devido à recuperação física da mãe no pós-parto. Por isso, a melhor forma de navegar esta transição é ser flexível e conversar com o/a seu parceiro/a sobre como se ajustarem para que ambos se sintam satisfeitos. Caso esteja no início da sua primeira gravidez e queira contribuir para a compreensão do bem-estar sexual dos casais durante a gravidez e no pós-parto, poderá participar num estudo a ser desenvolvido pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, em colaboração com o Centro Materno-Infantil do Norte, que proporcionará um acompanhamento aos casais no decurso da sua primeira gravidez e pós-parto. Contacte-nos através de [email protected] ou pelo telefone 220 428 908. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Inês TavaresMembro do Grupo de Investigação em Sexualidade Humana (SexLab)Centro de Psicologia da Universidade do Porto (CPUP)
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave aborto filho educação sexo medo estudo sexual mulheres sexualidade infantil ansiedade
Joana Marques, Cátia Domingues e Beatriz Gosta querem “escavacar estereótipos”
São humoristas que seguem um guião que elas próprias escreveram. Nenhuma faz questão de empunhar a bandeira da luta de género, mas inevitavelmente a condição de mulheres é-lhes devolvida a toda a hora. (...)

Joana Marques, Cátia Domingues e Beatriz Gosta querem “escavacar estereótipos”
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 11 Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: São humoristas que seguem um guião que elas próprias escreveram. Nenhuma faz questão de empunhar a bandeira da luta de género, mas inevitavelmente a condição de mulheres é-lhes devolvida a toda a hora.
TEXTO: Não há muitas como elas no universo da comédia. São humoristas que seguem um guião que elas próprias concebem. Nenhuma faz questão de empunhar a bandeira da luta de género, mas inevitavelmente a condição de mulheres é-lhes devolvida a toda a hora, sendo reflectida na forma como se posicionam e comunicam através da sua actividade. Joana Marques é guionista e humorista, tendo-se afirmado nas Produções Fictícias, ao mesmo tempo que é uma das caras do emblemático programa Altos & Baixos do Canal Q e tem hoje, segundo ela, “uma rubrica diária nas manhãs da Antena 3 que se chama Extremamente Desagradável, que é um dos [seus] principais traços de personalidade”. Da mesma geração, 36 anos, é Marta Bateira, mais conhecida por Beatriz Gosta, seja como humorista, ou ao lado da rapper Capicua, com quem partilha o palco nos concertos. “Estava exaurida no meu trabalho de designer de moda numa empresa e a Capicua, um dia, disse-me: ‘Tu és óptima contadora de histórias. ’ Então fui para o YouTube contar histórias e virei youtuber. ” É isso. O YouTube foi a sua porta de entrada no espaço do humor, mas hoje podemos vê-la e ouvi-la em todo o lado, da rádio à televisão. “Agora faço uma rubrica no 5 para a Meia-Noite, a avacalhar bonito, assim, e a despentear o povo”, afirma. Um pouco mais nova, 30 anos, é Cátia Domingues, publicitária, criadora do blogue e página do Facebook humorístico One Woman Show, que se apresenta como “argumentista” que faz “essencialmente sátira política”. Trabalha actualmente no Canal Q “onde tem algumas rubricas”, para além de ter o desejo de “salvar o mundo”. Brinca, claro. Mas, a sério, apanhou o ano passado um avião até à ilha grega de Chios, onde esteve como voluntária num campo de refugiados, cerca de 800 imigrantes à mercê da neve. Nela, o activismo rima com humor. Encontrámos as três, há dias, de manhã. E a conversa começou por aí. Culto – O mundo pode dividir-se entre homens e mulheres, mas também entre pessoas que gostam de acordar cedo e começar logo a trabalhar ou as que só conseguem fazê-lo à noite. Como é que é com vocês?Joana Marques (J. M. ) – Essa divisão faz até, em algumas áreas, mais sentido do que ser-se homem ou mulher. Uniram-nos aqui sob o pretexto de falar das mulheres no humor, mas faz mais sentido separar-nos assim. Felizmente – porque o meu trabalho na rádio é matinal – sempre funcionei muito melhor de manhã. Não me importo nada de acordar às seis da manhã. Às sete da tarde já ninguém pode quase falar comigo, porque estou pronta para ir dormir. Cátia Domingues (C. D. ) – É a mesma coisa. Gosto de trabalhar de manhã. Tenho um biorritmo de passarinho. Quando começa a escurecer, sou uma idosa e tenho vontade de dormir. Limita bastante a minha vida social. Gosto de trabalhar de manhã e pronto, à noite, não me chateiam. À noite, geralmente, é arranjar material. Como escrevo muito sobre a actualidade, à noite é lamber tudo o que se passa, para depois no dia a seguir, de manhã, acordar cedo e começar a escrever sobre isso. Beatriz Gosta (B. G. ) – Eu é à noite. Porquê? A culpa não é minha! São os concertos. Até faço um esforço para treinar logo às 9h da manhã, para começar o dia mesmo em bom. Mas nem sempre posso. Às vezes, estou sempre lá e cá [vive no Porto], tenho concertos em que me deito às 3h da manhã. Nunca tenho horários. À noite, até quando escrevia rap, baixa ali uma coisa criativa ou, pelo menos, estás contigo própria. Mas adoro a manhã e até uma certa idade conseguia conciliar deitar-me tarde e acordar de manhã, mas aos 36 anos já não é bem assim. Qual é o vosso primeiro gesto quando acordam? Lavam os dentes, vão para as redes sociais, vêem o email? O que fazem exactamente?C. D. – A primeira coisa: agarro no Twitter e vejo tudo o que se passa. Eu tenho aquela coisa, cenas modernas — o fomo (fear of missing out). Então a primeira coisa que faço é ir ao Twitter. J. M. – Ver se aconteceu alguma coisa enquanto estavas a dormir. C. D. – Exactamente! Se alguém já bateu em alguém. B. G. – Tu vais para o Twitter?J. M. – Sim, mas esqueço-me que tenho e só vou lá de mês a mês. As redes sociais são um bocadinho divididas por estilos de pessoas. No Twitter estão os mais ressabiados de todos. O Facebook é mais para toda a gente. Tenho lá a minha avó! O Twitter é mais de nichos. Tem gente muito recalcada. Há ali assim uns ódios muito viscerais. Não vou lá muito, mas tenho, infelizmente, o mesmo hábito da Cátia de estender logo a mão para o telefone, não [vou] ao Twitter, mas ao email. Queria erradicar isso, mas ainda estou longe de o conseguir. B. G. – Também tenho essa coisa de ir para as redes e ponho logo música. Mas faço um esforço para deixar o telemóvel na sala e ir tomar banho. É a primeira coisa que faço, mal possa é ir tomar banho senão fico logo preguicenta e fico no café e no telemóvel, então vou logo tomar banho e aí obrigo-me a começar o dia. C. D. – Isso é uma boa técnica. Vou tentar adoptar isso. B. G – Deixas o telefone na sala por causa da ansiedade, sabes? A minha cama já está com insónia. C. D. – Tu não levas o telefone para a casa de banho?J. M. – Muito raramente. C. D. – Ai, eu levo!B. G. – Eu levo com a coluna, para bombar no banho. E cantam no chuveiro?J. M. – Olha quem! Claro. B. G. – Canto e danço. Sinto-me muito assim no espelho. Não é todos os dias. Todos os dias ponho a coluna. Nos últimos meses, quando me sentia assim mais em baixo, tinha este vício. No chuveiro somos todos grandes cantores. O problema começa quando se sai do banho e nos confrontamos com os outros, como nas redes sociais. E como é no humor? Existe em Portugal essa ideia de que existem poucas humoristas, pelo menos que sejam também autoras, para além de intérpretes. É verdade?J. M. – Comecei a colaborar com as Produções Fictícias em 2006/2007 e tinha um bocadinho essa ideia, mas reparei que havia muitas mulheres como guionistas. A capacidade autoral sempre esteve muito presente. Muitos sketches que vimos do Herman José eram escritos por mulheres e nem o sabíamos, porque depois acabaram por não ser as pessoas que vieram a dar a cara, como o Ricardo Araújo Pereira. Muitos guionistas deram aquele passo em frente e apareceram. As mulheres não fizeram tanto isso. Mas já havia algumas e agora cada vez mais. Conseguem explicar isso?J. M. – Há menos mulheres no lado da performance, de subir ao palco e fazer, mas nunca reflecti muito sobre isso. B. G. – No rap é a mesma coisa. Não fui criada a ser incentivada. A ter essa confiança. C. D. – As mulheres sempre estiveram no público, não é? Historicamente o fenómeno de as mulheres estarem no palco é relativamente recente. A questão da exposição, com todo o contexto, e expectativa, tudo isso retrai um bocadinho as mulheres de se exporem tanto. J. M. – Até porque muitas vezes o olhar do outro é diferente para a mulher e para o homem. Numa mulher vão-se centrar mais rapidamente se está gorda, se está magra ou se está despenteada. B. G. – Fizeram várias vezes isso comigo!J. M. – No homem não vês muito esse tipo de comentário. Mesmo as pessoas que querem, por exemplo, criticar o Herman José, não vão dizer que está gordo — isso não interessa. Acham graça ou não. Nas mulheres observa-se isso muitas vezes. Não se liga tanto ao conteúdo, mas à forma. B. G. – É por ter o cabelo curto e chamarem-me fufa, como se fosse um insulto! Ou quando apresentei os prémios com o Fernando Alvim e eu “não estava bem naquele macacão, [tem]o rabo demasiado grande”! E o Alvim com uma barriga! Mas não! Ele estava imaculado e eu é que estava péssima!J. M. – Às vezes as próprias reacções de terem mais medo do ridículo, uma coisa que vem desde sempre, não é? Muitas vezes o palhaço da turma é mais o rapaz do que é a rapariga, não é? Acredito que já não seja bem assim. Se formos às escolas, já vemos miúdas que se destacam e que escolhem outras profissões que não são aquelas tão habituais. B. G. – Mas uma mulher para se rir dela própria tem de ser espontânea, só agora é que dão mais liberdade para tu não estares tão direitinha. A estares descabeladona. C. D. – É bom estares diferente. Sou ligeiramente mais nova, mas na minha altura tudo aquilo que era “fazer parte da matilha” não era grande coisa. Tu destacares-te e seres diferente é que era uma cena fixe. B. G. – Destacares-te por teres piada e não porque és a boazona da cena. J. M. – Da mesma forma que há profissões ao contrário. Não são tão faladas, mas vais a uma creche e quase todas as educadoras de infância são mulheres e as pessoas ficam espantadas quando há um homem e fazem muitas perguntas como nos fazem a nós. B. G. – Ficam preocupadíssimas quando têm lá um homem. J. M. – “O que é que este homem está aqui a fazer?”B. G. – Há preconceito. “Ai que ele pode abusar. ”J. M. – Tudo o que é diferente chama a atenção. Não é preciso querermos criar aqui a obrigação de que vai ter de ser igual. Acho que nunca vai ser 50/50. Nunca vai haver tantas humoristas mulheres como homens. Acho isso natural. Como nunca vai haver tantos educadores de infância masculinos como femininos – mas isso não é grave. B. G. – Não concordo. No humor? Acho que as mulheres têm um humor mesmo muito bom!J. M. – Têm, mas não vão ter naturalmente esse interesse profissional mais do que os homens. Nunca vai ser algo neutro. O humor, em termos do universo da comunicação, até poderia ser um espaço preferencial para as mulheres desconstruírem estereótipos. C. D. – Mas começam a fazer isso, não é? Parte do nosso trabalho é escavacar estereótipos e partir com isso tudo. Mas é todo um caminho. O facto de estarmos aqui três pessoas e, de repente, a maior parte das entrevistas que damos é sobre ser mulher no humor é significativo. É o que existe. A minha esperança é que com o tempo deixe de haver esta necessidade. B. G. – Quanto mais normal for, menos chama à atenção e menos se justifica. C. D. – Ou seja, a coisa já estará normalizada. Incomoda-vos quando sentem que poderão estar a representar uma ideia de colectivo, no caso as mulheres humoristas? É como se a vossa individualidade pudesse ser passada para segundo plano?J. M. – Não é estar farta. É uma discussão interessante de se fazer. Mas vejo-me como humorista, ponto final. Não por ser mulher ou homem. Identifico-me com outras mulheres humoristas como podia não me identificar nada com a Marta ou com a Cátia e identificar-me muito com o Bruno Nogueira ou com o Ricardo Araújo Pereira ou o Salvador Martinha. A mim, o que me interessa é produzir e não qual é a fonte. B. G. – Mas consideras importante incentivar outras mulheres. J. M. – Gosto de receber mensagens de miúdas mais novas a dizer: “Quero ser humorista. ” É engraçado que elas possam sentir que têm ali uma mulher como referência: “Se ela faz, eu também posso. ” Isso é óptimo. Agora sempre que me ligam, sei que a primeira coisa que me vão perguntar é: “Então e como é que é ser uma mulher no humor”?C. D. – E a segunda é: “Quais são os limites do humor?”B. G. – Sim! Mas tu já sentiste, por seres mulher, alguma insegurança quando começaste? Também começaste pelo jornalismo, não foi?J. M. – Não. Quer dizer, estudei Jornalismo, mas nunca exerci. Sempre fiz isto. Comecei como guionista a escrever para outros. B. G. – E nunca sentiste insegurança?J. M. – Por ser mulher, não. Sentia as inseguranças normais de quem faz uma coisa nova. C. D. – Mas há coisas que tu não sentes diferença por seres mulher?J. M. – Nunca senti isso e quando comecei a trabalhar já havia outras mulheres. Nunca fui a única num grupo de guionistas só de homens. E nunca fiz essa separação, nunca penso nas pessoas assim. B. G. – Também não me intimida estar no meio de homens. J. M. – Nunca me trataram de maneira diferente por ser mulher. Podemos sentir isso depois da parte do público, quando já estás a comunicar para muita gente. Se faço uma piada, por exemplo, sobre futebol, sei que mais tarde ou mais cedo vem o argumento de “As mulheres têm de estar na cozinha”. Ainda há pessoas que vivem numa fase mais primitiva, mas das minhas relações, com quem eu trabalho, nunca me trataram de forma diferente. C. D. – Há coisas que são inconscientes. Tu falas de futebol e é uma coisa mais masculinizada. Com a política é o mesmo. Não quero ser injusta, acredito que é de uma forma inconsciente, mas até nós podemos participar nisso de forma involuntária. No outro dia estava a escrever sobre isto que é: parece que só há lugar para uma. Tu competes com o teu género, não competes entre o género de humor. Dentro daquilo que eu faço existe o Ricardo Araújo Pereira a fazer. Mas não compito com ele, mas com o meu género, o que não tem absolutamente nada que ver. Mas, mesmo assim, a própria indústria, os teus pares fazem-te sentir como se só houvesse espaço para uma. E fazem-te competir. E isto vai contigo. Quando eu comecei. . . Tornas-te e parte disto e se aparecia uma miúda a fazer isto, tu ficavas tipo: “Oi?”J. M. – “Só há uma vaga e já está ocupada. ”C. D. – Para mim, isto foi muito poderoso. Quando tomas consciência disto, que não têm de competir umas com as outras, que há espaço para toda a gente. . . . O país sofre deste problema de escala. B. G. – Se há um leque de homens, porque é que não pode haver um leque de mulheres?!J. M. – Quando alguém está a organizar um festival e quer uma mulher, ligam-me, e por vezes não quero ou não posso, e nesses casos dizem-me logo: “Mas pode-me sugerir outra mulher?” Querem que vá lá um representante daquele género e não dizem: “Pode-me sugerir outro humorista que considere ter graça?”C. D. – Fazem isso de forma automática. Dei por mim a olhar por cima do ombro quando via uma miúda aparecer. E tomo consciência disso, percebo o quão injusto é, mesmo para mim. E, a partir daí, [é] conhecer as minhas colegas e ter um amor imenso e um apoio. Não sou nada sindicalista nesta coisa do género, mas acho que apercebermo-nos disto e unirmo-nos mais, ou pelo menos não termos este sentimento de competitividade umas com as outras, é libertador. J. M. – É uma ideia que se quer formar, mas depois, se formos analisar a realidade, todas trabalhamos em coisas diferentes e que não chocam umas com as outras. A vossa reflexão espelha que as identidades de género é qualquer coisa que acaba por estar presente no vosso humor. B. G. – Reflecte-se e muito. Como o meu conteúdo é hardcore, assim para o espontâneo, fico muito espantada, porque não levo com muito ódio. Falo de temas bastante polémicos, sem tabus, sem filtros, e achava que ia ter muito mais hate do que acontece realmente. E eles são uns doces. Só tive duas ou três mensagens de ódio. J. M. – Que sorte!B. G. – Agora, o meu público é muito mais mulheres e LGBT total. Os homens só curtiram o [vídeo] da papaia ou o coelhinho. Os homens sentem-se postos em causa pelo tipo de humor?B. G. – Sim, é aquele abanão. “Tu falas mal dos homens”, dizem-me. Eu não! Amo homens! Eu é que me ponho a jeito de me ridicularizarem. Acham que a feminista quer os homens na fogueira. Nada disso. Só estou a contar uma história, em que estou ridícula, e está tudo bem. Têm áreas de interesse preferenciais em termos temáticos ou são mais de abordar a notícia ou a polémica de determinada ocasião?C. D. – Sou específica. Seja a actualidade política, nacional ou internacional. Se aparecer alguma coisa de “assunto do momento”, depende. As touradas, por exemplo?C. D. – Para mim, é político. Agora, se for tipo a Maria Leal, que apareceu e que roubou um miúdo… não me interessa. Se for um tema que possa ter um ângulo fixe, eu faço. Nunca faço alvo com o humor, partindo do pressuposto que existe sempre um alvo, a vítima. É sempre o agressor que me interessa. É natural. E nunca é com algo que uma pessoa não escolheu. É sempre com algo que uma pessoa escolheu fazer. Há coisas que já sei que não vou fazer. Quando comecei, foi importante perceber primeiro o que não queria fazer, mais até do que encontrares a tua voz. “O que é que eu não quero fazer mesmo?”J. M. – Foi algo natural. Como na escola não terias vontade de gozar com o miúdo que já está no chão, não é?C. D. – Claro. Tudo isto começou com uma página que eu tenho que se chama One Woman Show, mas se tu tirares a palavra woman da minha página, tu não consegues perceber se é um homem ou se é uma mulher a fazer aquilo, ou seja, tudo o que sejam temas de género “Então e os homens que não sabem baixar a tampa?” — sem desprimor, mas eu não faço, não é isso que me interessa. B. G. – Concordo com a Cátia. Quando queremos ridicularizar alguém, o alvo de qualquer piada deve ser pelo que a pessoa está a fazer e não pelo que é. É a diferença entre ser e fazer. É o que ela escolhe fazer. C. D. – Sim, posso falar do Cláudio Ramos, não por ele poder ser homossexual, mas porque teve um problema com o ar condicionado. É um bocado isto. J. M. – Como faço uma rubrica diária na rádio, ando sempre à volta da actualidade. E pode ser tudo. Não é só a actualidade política. É qualquer área que me interesse e que para a qual encontro um ângulo diferente do que já foi dito – o que é difícil. Hoje nas redes sociais temos milhares de humoristas a competir uns com os outros. E temos de fazer algo diferente sobre esses temas que o dia-a-dia nos traz. Desde a reportagem sobre a golpada da Maria Leal até às horas e horas de directos de Bruno de Carvalho sem se passar nada. Tento encontrar o que é que me indigna em cada questão. É essa a minha escolha. Não estou centrada em nenhum tema específico e também não sinto que seja uma coisa marcadamente feminina. Não acho que tenha um traço muito feminino naquilo que faço. B. G. – A mim marca mais. Se fosse um homem a falar o que eu falo, não chocaria. Têm uma identidade muito definida o que é óptimo, claro, mas também se pode ficar dependente ou preso nessa mesma identidade. B. G. – Beatriz Gosta é uma personagem. Não quer dizer que a Marta não tenha nada que ver, mas sempre senti a necessidade de abordar esses temas. A minha preocupação principal é fazer rir. Independentemente se estou a mandar a dica de que alguém está a queimar a ficha de outrem. Quero é ter graça. Se uma história tem graça, eu pego e conto. O que acabo por abordar são questões que sempre me incomodaram desde nova. Estar num grupo de rapazes e ter de me destacar pela beleza ou por ser toda boa e não poder ter conversas de igual para igual. Eu esforçava-me para estar gata, assim com 14 anos, e depois cruzei-me com a Capicua e, de repente, coisas que não questionava, comecei a ganhar consciência delas e a ter voz. Em Beatriz Gosta as histórias são engraçadas, acabo por abordar várias coisas que mexem com homens e mulheres. A mulher de 2018 tem mais camadas de cinzento. Não é só a mulher pronta para se casar. Há quem defenda que através das redes sociais as mulheres têm mais possibilidades de se auto-representarem, no sentido em que escolhem o que mostrar, estando menos dependentes do olhar, da aprovação ou dos arquétipos projectados pelos homens. C. D. – Isso é muito fruto desta época. Na altura do Picasso as representações femininas proliferavam. As mulheres não tinham a sua própria voz e de repente no humor tens isso e é incrível. Poderes fazer a tua própria representação. J. M. – Isto entretanto já deu a volta, porque, quando falamos daquelas influencers e bloggers, já temos algumas que escravizam namorados e maridos, não sei se já viram, sendo eles os fotógrafos. Eles são os empregados delas. Elas estão impecáveis a posar na praia, com aquelas marcas patrocinadas. E lá vai o pobre coitado atrás para fotografar. B. G. – Eu estive agora na gala dos Blogues do Ano e eles tiram cursos de fotografia só para irem para o mar, com ela na rocha!C. D. – Temos as mulheres a contarem as suas próprias histórias e a auto-representarem-se, mas sinto que, às vezes, o mundo à volta não está ainda preparado para isso. Aquilo que faço, ao contrário da Marta, que é uma coisa que eu sei que tenho de equilibrar, é ter uma mensagem. B. G. – A minha mensagem, a chapada na cara, passa de outra maneira. C. D. – Eu faço alguma pedagogia, tens de equilibrar as palmas e o riso. “Tudo aquilo que tu escreves é para quê?” “É para teres palmas no final ou para teres risos no final?” E este equilíbrio para quem faz sátira política é lixado. Aquela é sempre a minha verdade, o meu ângulo. B. G. – E não podes correr o risco de ser só palmas, senão aquilo parece um comício. C. D. – Exactamente. Eu tenho dado alguns comícios! Estou na profissão errada. Há uns tempos, numa entrevista com um cientista, este dizia-me que não era tanto o resultado final das suas experiências que o entusiasmavam, mas o processo. Com vocês acontece o mesmo?C. D. – Não tenho controlo sobre a mensagem (a interpretação), mas enquanto o Ricardo Araújo Pereira diz que o humor não é uma arma e é para fazer rir, eu acho que o humor é uma arma. O humor tem um papel. Não é uma arma de destruição maciça, mas aleija um bocadinho. E só o aleijar faz dele uma arma. Aleija, tem um efeito e um resultado. No dia em que deixar de acreditar nisso, deixo de fazer isto. Imagina, o cidadão comum vê os debates do Orçamento do Estado, e diz: “Não percebo um cu e sei que me vão lixar no final. ” E depois vêm os comentadores e também não percebem nada. O que faço é descomplicar o Orçamento do Estado de uma forma que as pessoas queiram consumir, aprendendo alguma coisa. Acredito que a informação é poder. J. M. – Por isso é que disseste no início que queres mudar o mundo. B. G. – Também acredito nisso. Há sempre intervenção e no rap, volto a dizer, está sempre tudo ligado. C. D. – Claro. O rap pode ser de intervenção, como o humor também pode ser. B. G. – O rap não começou como intervenção. O rap começou em festa com o DJ que depois chamou o MC, ou declamador. E foi aí que a voz das desigualdades se fez ouvir. J. M. – Em relação ao Ricardo Araújo Pereira, o ideal seria um misto das duas coisas. Ele tem essa noção. Ele insiste muito na ideia de que “é só para fazer rir”, mas sabe que, quando pôs aquele cartaz a criticar o PNR no Marquês de Pombal, aquilo tem algum efeito. Obviamente, não acabou com o PNR, mas gerou qualquer coisa. Tanto que eles ficaram enfurecidos com aquilo. Ele percebe isso, mas põe em primeiro lugar o fazer rir e com isso concordo. Essa tem de ser a intenção. Se pelo caminho conseguimos passar a mensagem e fazer a pessoa pensar um bocadinho naquilo, mesmo que no fim não mude de ideias, tanto melhor. Por exemplo, quando falo das touradas, recebo muitos insultos. Sei que é uma batalha perdida. Eles não vão ouvir aquilo e dizer: “Olha, isto foi muito engraçado e afinal já não gosto de ver os touros ali a serem espetados”, mas trago aquilo para o debate. Mas o meu objectivo final é sempre ter graça. Não consigo ter graça a defender uma tourada, porque é completamente diferente daquilo que eu penso, isso não consigo fazer. Há humoristas que têm quase uma personagem. Não é o meu caso. A mim dá-me mais gozo tentar ter graça e no tal processo estar a divertir-me, acreditando que os outros se divertem com aquilo também. Se estou a analisar um programa da SIC em que eles se casam com pessoas que nunca viram antes, pode haver ali uma crítica do género “isto parece uma coisa muito moderna, mas já era usada há montes de anos, quando havia casamentos combinados, e agora parece aqui com ar de modernidade”. Depois o que quero é pegar naquelas pessoas e brincar com aquilo que elas dizem. Não quero que aquilo no fim tenha moral, enquanto outros temas poderão ter. Vou mais para o lado do entretenimento. A diversão pela diversão, mas gosto de fazer as duas coisas. Quando é, por exemplo, as praxes, que é uma das questões que suscitam mais ódio: sou completamente contra e dá-me gozo sempre que volta a época das praxes tentar dissecar aqueles discursos e porque é que estamos sempre nisto e nada muda. Isso diverte-me, mas se no outro dia for uma coisa mais fútil, digamos assim, diverte-me na mesma. O meu objectivo, no fim do dia, é que tenha graça. E depois, o resto, logo se vê. Falam muito nessa ideia de o objectivo ser fazer rir. Mas isso não é, evidentemente, controlável. Não sabem, à partida, o que vai acontecer. Agora, deve haver algumas coisas que fazem que percebem que podem gerar um efeito qualquer. J. M. – É a tal história de que falavas há pouco do cientista: o processo. Se no processo me divertir muito, tenho quase a certeza que a coisa funciona. Tenho a vantagem da rádio e o impacto nos meus colegas do lado. São uma pequena amostra. E na maioria das vezes não me engano muito. Quando estou em casa a fazer aquilo e me estou a rir, é porque à partida vai correr bem. B. G. – Mas às vezes achas que tem muita graça, e divertes-te muito com aquilo e depois o feedback é uma coisa que até nem curtes muito. J. M. – Isso nota-se mais em espectáculos. Há uma frase e achas que vai ter efeito e não tem efeito nenhum e outra que para ti nem era uma piada, era só uma passagem para outra coisa, e as pessoas riem-se. Como é que se lida com a ausência do riso?J. M. – Lida-se bem, se não assumires aquilo como um fracasso terrível. Só funciona para quem também não assume o riso como uma vitória incrível. É um bocadinho como as críticas de Facebook. Para não ligares àquelas muito más, também não podes ser o tipo de pessoa que liga às muito boas. Quando alguém diz aquelas coisas: “Genial” ou “És a maior”, não ligo. Do género, obrigada, são simpáticos mas não fico “ah, realmente sou”. Nada. E é isso que depois permite que outras não me deitem abaixo e que eu não saia mais de casa, porque este senhor disse que eu sou isto e aquilo. B. G. – Mas a primeira vez que tu leste um ódio… Acho que a cara ficou vermelha e fiquei quente. J. M. – Ah, péssimo. Com o coração a bater. B. G. – A primeira vez, nunca mais me esqueço. Mas lido bem com o ódio. J. M. – Também tens pouco. Vamos começar a mandar-te mais. B. G. – É pouco ódio, mas também não me deslumbro com os elogios. É tipo normal. Não me conhecem. C. D. – No início recebi muito ódio. E ainda recebo algum. Menos. As pessoas também incomodam-se com tudo, não é? Se tomas alguma posição sobre alguma coisa, há sempre pessoas que se vão indignar. Ao início, recebia muito mais, é curioso. Quando era mais desconhecida, recebia mais ódio e ameaças de processos. Mais do que hoje em dia. O tipo de pessoas que ameaçava é aquele tipo de gente que quer assustar, do género “só para ver se te calas”, mas depois perceberam: “Ela não vai sair daqui, mais vale deixar ficar. ”J. M. – Os meus níveis de ódio têm-se mantido mais ou menos constantes. B. G. – São temas específicos, não é?J. M. – Às vezes espanta-me quando é um ódio de que não estou à espera, ou seja, há temas que quando nos vamos meter neles, como o futebol, as touradas, as praxes, a religião, etc. , tu já sabes o que aí vem. É muito mais giro quando é uma coisa que eu acho completamente inócua, como a sátira aos youtubers. Abordei o que era ser youtuber com exemplos dos youtubers mais famosos em Portugal e satirizei cada um deles. A reacção foi também uma coisa geracional?J. M. – Senti-me velha nessa altura. Fui ver as pessoas que me insultavam, com coisas bastante violentas e muitos tinham oito ou nove anos. Sabiam insultos que, na idade deles, me eram desconhecidos. Até ameaças de morte de miúdos de nove anos recebi, com a fotografia de perfil deles com os pais, num passeio, com a família. E penso: os pais, para já, não fazem ideia de que eles andam a contactar com adultos e a insultá-los nas redes sociais. Que tipo de críticas é que fizeram detonar essas reacções?J. M. – Analisava os oito ou nove youtubers mais famosos em Portugal. Quis tentar perceber o fenómeno, mas obviamente é o meu olhar, é o olhar da nossa idade, de quem nós somos. Critiquei um bocadinho aquele universo. E não pensei que fosse a reacção mais violenta de todas. Sentiram-se muito indignados por tudo. O que fiz foi expor ao ridículo aquilo que eu considerava caricato e eles acham isso impensável. É uma afronta terrível. Sentem que são os melhores amigos deles que estão a ser postos em causa. Um sobrinho de um amigo meu não me queria falar cara a cara. Tinha gozado com os amigos dele e o argumento dele era mesmo esse. E provavelmente nem o poderemos criticar a partir dessa situação, porque muitos de nós com nove anos seríamos iguais. Só que não tínhamos esta ferramenta chamada Internet à disposição. B. G. – Não sentem que por serem humoristas as pessoas acham que são mais íntimas?J. M. – Sim, sim!B. G. – Na rua sentem que são minhas íntimas, que me conhecem de outra vida. Vão sem filtro. Chegam, abraçam, até me filmam sem pedir autorização, é uma coisa assim, sabes?Como é que se lida com isso?B. G. – Há dias em que eu estou triste como a noite e que não me apetece mesmo tirar fotos, nem conversas. No outro dia estava no metro, a chorar, com um desgosto. E de repente apercebo-me que alguém estava a tentar aproximar-se há imenso tempo. Eu na minha dor, a tentar não chorar em público e ela: “Podemos tirar uma selfie?” Eu desgraçada, disse: “Olha, hoje não dá mesmo. Um dia a gente cruza-se ou até combina, mas hoje não vai dar. ” E ele. “Anda lá. ” E lá tirei assim com as lágrimas, triste como a noite. Às vezes não apetece e eu digo que não, mas é raro. É chato para quem está comigo. O meu pai, os meus amigos, é chato. Eles até dizem: “Vamos dar-te umas perucas. ” Mas é chato, chato, chato. J. M. – É que a abordagem é logo com muita confiança. E há muito essa coisa do: “Tu é que tens de ir ter com eles. ”B. G. – “Andas cá tu e é se queres tirar uma foto. ” Na noite, bêbados. E académicos? Capas pretas, eu fujo. É muito abraço, muito agressivo. Aí a abordagem para mim é tudo. “Vem com calma. ”Há pouco falavam das gerações mais novas. E como é que é em relação às gerações mais velhas do humor? Sentem que há algum tipo de herança? Como é a essa ligação?J. M. – Tive sorte de escrever para o Herman José, que era uma coisa que eu pensava que nunca iria acontecer e foi muito emocionante. Lembro-me de ter sete ou oito anos e ver o Herman Enciclopédia e, de repente, alguns anos depois poder escrever e contactar com ele. Foi óptimo. Gostei muito. O Herman sempre procurou ter autores mais novos e vemos agora até pela actuação dele nas redes sociais que tenta sempre inovar. Não ficar congelado na sua posição. Gosta de ouvir as pessoas, tem uma curiosidade genuína e as pessoas gostam muito de o ouvir. Tem histórias inacreditáveis, parece que foram noutra vida. E todo os outros com quem tenho contactado e trabalhado é o mesmo. Aliás, eu e a Cátia, daqui a um mês, vamos integrar a equipa do novo programa do Ricardo Araújo Pereira. É uma honra. De todos os humoristas é o que está um passo acima de todos. Está noutro nível. B. G. – Sou megafã. J. M. – Para nós é uma oportunidade excelente. Daquilo que já contactámos com ele percebemos que tem muito interesse e é curioso. Vai muitas vezes sem avisar ninguém a um bar qualquer onde sabe que vai haver stand up comedy. Anda sempre à procura de talento e quer saber mais do que se passa na comédia em Portugal. E existe muita coisa: há os mais visíveis, mas fenómenos mais pequeninos também há muitos. E agora com a Internet, muito mais. Às vezes até convida alguém para ir jantar a casa dele, porque quer saber mais sobre aquele humorista. Acho isso fascinante, porque há sempre o perigo de chegar a um certo patamar – ele está no mais alto de todos nesta área – e esquecer o que está lá em baixo. Ele não tem isso. Tem uma curiosidade, quase infantil, de saber tudo o que se passa e está sempre motivado para fazer coisas novas. E isso, para nós, é muito entusiasmante, porque vemos que ele tem a mesma emoção que tinha quando estava na SIC Radical pela primeira vez a fazer os Gato Fedorento. É quase comovente e espero conseguir manter sempre esse entusiasmo depois de já ter feito tanta coisa como ele. Há muitos humoristas que nunca aprenderam a vertente mais performativa da actividade, o ser actor. No vosso caso, como foi esse desenvolvimento? Como é que se desenrolou essa procura?B. G. – Sofro muito sempre que filmo. Sofro muito até ao momento em que me dizem: “Avança, está fixe. ” Penso sempre que “não estou boa”. Mas tenho sempre uma equipa, ou a Capicua está lá, e é um filtro bacano. Ou então também trabalho com amigos e, se eles dizem que está bom, então está bom. Mas sou muito free style. Se me divirto, a coisa sai bem. Se estou tensa e stressada, vai correr mal. J. M. – Não é bem assim. Tenho de dizer que estive na primeira vez que a Marta actuou ao vivo, com uma plateia de centenas de pessoas. Antes estava quase a morrer e dizia: “Como é que eu vou falar meia hora?” E depois só saiu de lá ao fim de uma hora e tal. B. G. – É verdade. Mas é muito raro. Não acredito em mim, tenho dificuldade. Sou bué insegura. Não parece, mas sou. E, então, sou free style. Levo os temas trabalhados e para onde quero ir, mas às vezes quando me perco é quando tem mais graça. Às vezes estou a descrever a cortina e lembro-me ali de uma coisa qualquer e começo a avacalhar. Por isso é que o trabalho de edição é muito importante. Gosto mesmo de me perder e é aí que tenho mais graça quase sempre. E é isso. Sou muito emotiva, muito intensa, mas sou do free style. Quando as coisas saem direitinhas, escritas e não sei quê, quase de certeza que não vai sair nada com muita graça. J. M. – Não tenho jeito para o humor físico. Não sou muito expansiva e expressiva. O Daniel, que faz comigo o espectáculo Altos e Baixos, é o oposto. É muito mais de humor físico do que eu. Às tantas estou a vê-lo de fora, porque sei que sou a pessoa mais racional e que vai dizer tudo como tínhamos combinado e escrito. Funciona por esse contraponto. Estou sempre a tentar puxá-lo de volta quando ele já está a improvisar tipo a Marta. Aí esse complemento funciona bem. Eu sozinha é uma coisa que acontece menos vezes, pontualmente até para coisas de empresas. E aí tenho mais dificuldade. Sinto que vou ser exactamente eu. Mas muitas vezes as pessoas ouvem-me na rádio, onde tenho este registo, e acabam por não ter a expectativa que eu entre com plumas e que seja uma coisa diferente. O meu registo é o de uma conversa normal de café. Nunca encarei a coisa como uma performance, nunca treinei para isso. B. G. – Eu exagero. A Beatriz já é assim mais bicha. C. D. – Eu sou mais aquilo que sou cá dentro. Sempre fui muito Mafaldinha, digo imensos palavrões, sou muito emotiva e falo do coração. As coisas que já fiz ao vivo é do coração, porque faço aquilo mesmo em que acredito. Sou muito apaixonada por isto. Então, como acaba por ter sempre alguma mensagem, adapto aquela coisa quase de comício. J. M. – Mas vais com texto preparado?C. D. – Na maior parte das vezes não vou. Tenho dois ou três tópicos e falo. J. M. – Eu escrevo tudo mesmo que depois não diga. B. G. – Para interiorizar. C. D. – Tornas aquilo tão natural e vais sentindo o público. A coisa vai e eles vão contigo. Falo sempre de coração, ou seja, tenho muita paixão pelo que faço. Sou muito mais Mafaldinha, muito mais reivindicativa. J. M. – A mim aborrece-me de morte. A história do Altos e Baixos, combinámos fazer apenas Lisboa e Porto. E depois acabámos por fazer 16 datas. Existe o efeito de repetição. Já odeio, porque escrevi e já me ri quando escrevi. Fazer a primeira vez já me chateia um bocadinho, porque sinto que é repetir. Fazer mais de uma dúzia de vezes é um martírio. O Daniel diverte-se imenso, porque para ele é sempre diferente. Eu estou mais ligada àquilo que fiz e que preparei e não me divirto muito. Há sempre reacções diferentes das pessoas, mas não é a parte que me diverte. Divirto-me é em casa, de pijama, a escrever. Para mim esse é que é o momento. Quando descubro aquela piada e “isto funciona” e “isto faz sentido” – isso para mim são os momentos felizes. B. G. – Não te fascina o contacto com as pessoas?J. M. – Se pudesse não contactar com pessoas, estava bem. Queriam ser o quê antes de começarem a fazer humor?B. G. – Nem me considero humorista. Só queria contar histórias. Sempre tive pânico a vida toda, porque nunca tive um dom evidente. E até hoje não sei o que é. J. M. – É porque tens jeito para muitas coisas e isso é dramático. B. G. – Não acho que seja isso. Não tenho jeitinho para nada. Não sou boa em nada e não sei para que é que nasci. Mas sou comunicativa e gosto de dar love também. São duas coisas em que não sou assim tão chunga. C. D. – Quando era pequena, gostava de ser arqueóloga, mas acabei em publicidade — muito fascinante, não é? Mas sempre gostei de escrever e então publicidade foi aquilo que me pareceu melhor. Pensei: “Onde é que eu posso escrever e me pagam?” Na publicidade. E é engraçado que tens muitos humoristas que saíram da publicidade — porque te dá aquela liberdade de te extravasares e de escreveres. Trabalhava em agência e escrevia o que me apetecia nas minhas horas de almoço. Então houve uma altura em que comecei a pensar: “O que é que eu quero mais? Ser mais uma precária, mas fazer o que gosto, ou ganhar dinheiro e ser extremamente infeliz?”B. G. – Eu também passei pelo mesmo. C. D. – Então a escolha, na altura, tinha 20 e tal anos, pareceu-me clara. Para os meus pais foi terrível. “De repente vais ficar precária por opção. ”B. G. – Mas estás arrependida?C. D. – Nada. Agora faço ao contrário. Sou freelancer em publicidade e faço isto a tempo inteiro. Continuo a ter de pagar contas. B. G. – Eu também estava muito infeliz a trabalhar como designer de moda numa fábrica. Sempre trabalhei em agências de moda e nunca numa fábrica e é mesmo duro. Pica-se o ponto, ouve-se a sirene, as costureiras saem de lá com o ordenado mínimo e em condições mínimas. Eu tinha mais privilégios, mas aquilo foi um choque. Conversar com elas e perceber aquelas vidas. Eu chorava para ir trabalhar, sou sincera. Acordava às 6h da manhã e ia para Paredes de comboio às 7h para estar lá e entrar às 8h30. Foi muito duro e o pessoal: “Ai Marta, sai dessa. ” Esperei o tempo certo e estava muito forçada nessa altura e foi quando a Capicua disse: “Tu és uma óptima contadora de histórias, liga aí essa câmara e vamos ver. ” Não tinha intenção. “És uma óptima contadora de histórias, ninguém adormece quando contas uma história. ” E pronto. J. M. – Isso para crianças é péssimo. Não podes fazer isso com crianças. Nós contamos histórias às crianças para elas adormecerem. Tu estragavas isso. B. G. – Aconteceu assim naturalmente, nem me considero humorista. Tudo bem, não é que eu não tenha uma mensagem. Preocupo-me que tenha graça e que passe uma mensagem, claro. Mas quero é que tenha graça, porque, se não tiver, morri. J. M. – A minha mãe conta que eu queria ser pintora, mas devo ter percebido que não tinha jeito. Quando aprendi a escrever, comecei a dizer que queria ser escritora. E os meus pais começaram a dizer: “Eh pá, isso é capaz de ser complicado. ” Gostei sempre de escrever, adorava as aulas de Português. Foi uma ferramenta que arranjei e gostava muito. E a Marta estava a falar de nunca saber bem o que é que havia de escolher. Eu tinha o problema contrário. Fui fazer aqueles testes psicotécnicos que dizem qual é a área para a qual deves ir e a mim dava-me 98% ou 99% de humanidades e letras. Não tenho jeito nenhum para o resto. Matemática, zero. Mesmo para línguas, francês e inglês, nada. Foquei-me no português e, quando chegou a altura de escolher – não havia nenhum curso superior para ser guionista –, fui para Jornalismo, mas rapidamente percebi que também não era por aí. Vejo agora alguns colegas de turma na CMTV a fazer reportagens, coitados, e penso: “Ainda bem que saí disso a tempo. Não é para mim, ia ser infeliz. Nem gosto muito de contactar com pessoas. Então imagina andar atrás de gente com um microfone. ” Felizmente, na mesma altura, surgiu um curso de Escrita de Argumento em que pude começar a escrever num tom mais humorístico. Depois convidaram-me para começar a trabalhar e tive a sorte de nunca ter tido um trabalho que detestasse. Respeito muito quando amigos me dizem que têm trabalhos de que não gostam. Deve ser terrível e considero-me sortuda. Obviamente que temos sempre de responder perante alguém que pode dizer: “Olha, isto não presta, faz outra vez. ” Mas é mais leve do que ter um qualquer patrão ditador. Além de humoristas, são também figuras públicas, sendo solicitadas para as mais diversas coisas, algumas com propósitos que pouco ou nada terão que ver com a vossa actividade. Como gerem isso?J. M. – É bom aprender a dizer não. Ao início queres fazer tudo. Tudo é novo e vais experimentar, porque não? Os anos vão-te fazendo ser mais selectivo por todos os motivos. Tenho feito esse exercício. Claro que ainda hoje há coisas que me entusiasmam menos. Na época do Natal, as empresas dão festas, por exemplo. Nunca sei bem ao que vou e gosto dessa parte do desafio. Mas ainda no outro dia estive na festa de Natal de uma empresa em que estava já tudo bêbado, quando estávamos a entrar. Até fiz sinal ao Daniel a dizer “Vamos tentar ser rápidos”, porque não nos estão a ouvir. Ou seja, é um bocadinho desperdício e isso é chato e é incontrolável. Mas a verdade é que tem um lado financeiro bom para depois às vezes fazeres coisas que não dão dinheiro nenhum – ou seja, tem de haver este equilíbrio, mas, hoje em dia, não faço nada (já aconteceu fazer trabalhos penosos) se sinto que está a ser penoso. Isso já não vale a pena, porque depois é prejudicial. Tento fazer sobretudo coisas em que tenho mais controlo. Isso é bom. Se escrevo uma rubrica de rádio, faço-o para mim. Se correr mal, é culpa minha. Não há aquela coisa de: “Vou entregar um texto a outra pessoa que vai apagar tudo e fazer de novo e vou-me irritar. ” Claro que continuo a gostar de escrever para outros. Esta oportunidade de escrever para o Ricardo Araújo Pereira. . . estou feliz. Sei que ele vem também desse lugar do texto e respeita-o. Não é daquelas pessoas para quem escreves um texto, deita fora e faz ele. “Para que é que estive a perder cinco horas em casa”? À medida que vamos crescendo e fazendo mais coisas, também aprendemos a escolher e a perceber esse equilíbrio que não é fácil. De repente, pode-nos aparecer alguém com muito dinheiro, mas é uma coisa que sabes que vais odiar. Tens de dizer que não e pensar que vai aparecer outra coisa. C. D. – Eu sou das que sofrem menos assédio de marcas. Claramente. Sou pouco atractiva para marcas e ainda bem. O modelo de negócio das marcas é uma coisa que me interessa e portanto chumbam-me todas. O assédio que sofro é de colectivos e outras organizações, e aí penso se faz sentido ou não. De repente, têm uma pessoa que consegue engajar o público que é deles e consegue transmitir mensagens da forma que as pessoas querem consumir. É fixe ter uma pessoa assim no nosso lado e eu tento gerir bem isso. Faço o que para mim faz sentido e não tenho qualquer associação a partidos. Em escrita de humor faço o que quero e para pagar contas faço copy em publicidade e campanhas, porque é extremamente difícil para mim fazer, dentro desta área, uma coisa de que não goste. B. G. – Eu também tenho esse filtro bem marcado. Abri uma excepção no outro dia. Sempre disse “não, não, não” e abri uma excepção por ser a Soares dos Reis, uma escola do Porto muito querida. Os meus amigos saíram de lá e pronto, não me arrependo, porque foi mesmo incrível. Adorei aquele pessoal. Muito mais à frente do que nas faculdades. Nas tunas estão sempre bêbados e embebedam-me e eu saio de lá descabeladona. Os académicos têm uma forma com que não me identifico muito. Mas depende. Vou lá, cheiro de perto, gosto de ver como é que aquilo está. Às vezes fico surpreendida e também deixo lá a minha semente. Acho que consigo matar sem o pessoal me levar a mal, não sei porquê. C. D. – O ódio que recebo ultimamente é mais selecto. São pessoas que estão firmadas na sociedade e que ficam lixadas se tu as pões em causa. E eu sinto que é por ser mulher. Esta é a minha sensibilidade. Sinto que se fosse um gajo, se fosse um humorista qualquer homem a dizer aquela graça, passava. Agora, como é mulher, sentem uma humilhação diferente. B. G. – Concordo. E ainda dizem mais: que és uma ressabiada, de mal com a vida e tal, mal fodida mesmo. C. D. – Mas o que é que estas pessoas sabem da minha vida?B. G. – É porque estás a tocar na ferida. C. D. – “Como é que esta pessoa ousa estar a pôr-me em causa”, parecem dizer. Quem me conhece sabe bem que aquela máxima do “respeitinho é muito bonito” não é para mim. Nunca. E não era agora com 30 anos que a vou perceber. Sempre gostei de me meter com os mais crescidos, os “lá de cima”. Os problemas por norma estão lá em cima. Então, nós temos de olhar um bocadinho para cima, pelo menos é o que eu faço. Começámos a conversa pelo despertar. E qual é a última coisa que fazem antes de se irem deitar?B. G. – Depende de onde venha. Há alturas que chego a casa, tiro a roupa e meto-me na cama. Fica ali pelo chão e piscininha na cama. Por vezes vejo filmes ou séries tipo viciada. E a novela da SIC Segundo Sol. Dou uma puxada. Ou então, como dá muito tarde, à meia-noite menos cinco, colo na novela e depois vou dormir sem ir ao telemóvel, que é para não dar insónia. C. D. – Sem querer parecer uma Twitter junkie, vou ao Twitter, perceber se o mundo está bem, se a vigilante pode ir dormir. Isto afecta mesmo a minha vida. E ler um livro. Às vezes as duas coisas ao mesmo tempo. Antes tinha o hábito de ler muito e agora sinto que está cada vez pior. J. M. – Ganhei o hábito de ir espreitar o meu filho, ver se está a dormir em alguma posição estranha, acho querido. E percebi que é um bom calmante. Passamos o dia em Twitters e Facebooks e, de repente, uma pessoa vê aquilo e pronto. É o mais engraçado lá de casa e dorme em posições cómicas. Depois vou dormir e já não tenho aquela tensão do dia. Às vezes ia ver coisas estúpidas na Net e chegava a sonhar com coisas que via. Sinto que aquilo é um bom calmante natural, é ainda melhor do que Valdispert. Por outro lado, isto não é tão idílico como parece, porque, ao fim de algum tempo, ele acorda e tenho de ir lá. Ele acordar já não tem graça nenhuma e a minha noite é muito acordar e adormecer. B. G. – Vocês aterram logo ou ainda ficam a matutar no trabalho?J. M. – Caio na cama, logo. B. G. – Fogo, tenho uma inveja desse povo. Eu tenho muita insónia. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Produção: Marta Lobo Fotografia: Miguel Manso Maquilhagem: Elodie Fiuza Cabelos: Mafalda Belo Assistente de realização: Madalena VilarJ. M. – Às vezes sonho com coisas que podiam ser úteis e depois esqueço-me. É isso. O PÚBLICO agradece à Livraria Ler Devagar, na LX Factory, em Lisboa pela cedência das suas instalações para fazer a entrevista.
REFERÊNCIAS:
Querido, vamos falar sobre brinquedos sexuais
Para as mulheres, a estimulação clitoridiana é mais eficaz do que a penetração para atingir o orgasmo. Há tecnologia que ajuda e que pode entrar no quarto. (...)

Querido, vamos falar sobre brinquedos sexuais
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Para as mulheres, a estimulação clitoridiana é mais eficaz do que a penetração para atingir o orgasmo. Há tecnologia que ajuda e que pode entrar no quarto.
TEXTO: Os estudos são do século passado e continuam a ser citados, pelo menos para vender brinquedos sexuais: as mulheres atingem o orgasmo mais facilmente com a estimulação externa do que propriamente com a penetração. Mas, como dizê-lo ao companheiro? E como revelar-lhe que a relação poderá melhorar se se recorrer a um brinquedo sexual? Há duas coisas importantes, dizem os especialistas: conhecer o seu próprio corpo e falar abertamente sobre o assunto. “Cada vez mais os homens estão atentos a uma estimulação que se não resume à penetração”, declara o psiquiatra e sexólogo Júlio Machado Vaz. No entanto, reconhece a sexóloga Vânia Beliz, não é fácil falar sobre o assunto: “Os homens sentem-se postos em causa. ” A educadora sexual Carmo Gê Pereira lamenta que as mulheres continuem preocupadas com o “ego masculino”. “Temos uma pessoa frustrada [com a sua vida sexual], mas a sua preocupação não é consigo, mas com o machucar da masculinidade do outro”, critica. Carmo Gê Pereira lembra que dentro da relação — seja ela em casal, heterossexual ou não, prolongada ou de uma noite — “quanto menos ego se puser, melhor”. É preciso dialogar, debater, discutir, se for o caso. “Temos de falar do nosso prazer”, sublinha. Mas para falar há que conhecer o próprio corpo e isso, por si só, pode ser um entrave para as mulheres, ensinadas desde cedo a que não se mexe nos genitais, aponta Beliz. “Eu tenho de conhecer o meu corpo, saber do que gosto para conseguir transmitir ao meu parceiro”, explica. E falar é reconhecer que a estimulação externa pode dar mais prazer que a penetração. “A estimulação clitoriana é mais eficaz, por ser o clítoris a zona eroticamente mais rica das mulheres e não a vagina”, explica Machado Vaz. Apesar disso, cerca de 30% das mulheres atinge o orgasmo sem estimulação clitoriana, salvaguarda Gê Pereira, citando de cor o Relatório Hite, um estudo sobre a sexualidade feminina, datado de 1978. “Explica-se ao namorado que os preliminares valem por si e não constituem meros degraus para um coito visto como ‘a jóia da coroa’ do acto erótico”, resume Machado Vaz. Assumamos que as mulheres conhecem o seu corpo. O problema seguinte é: como comunicar? “É importante que as pessoas falem sobre a própria relação, sem medo de magoar o outro ou com medo daquilo que o outro vai pensar porque o prazer sexual faz parte [da relação]. Há um encontro entre pessoas que têm objectivos partilhados e convém que se discuta o prazer sexual”, responde Gê Pereira, acrescentando que o seu “maior trabalho” é ensinar as pessoas a falar e reconhecendo que tal “exige bravura”. Contudo, Vânia Beliz alerta que nem sempre a conversa corre pelo melhor: “Há homens que não se sentem bem quando as mulheres se estimulam, quando usam um brinquedo sexual ou o querem usar na relação. ”Para Elsa Viegas, criadora da marca de acessórios Bijoux Indiscrets, sediada em Barcelona — que recentemente esteve em Lisboa para apresentar a gama Horoscope, 12 kits para os signos do zodíaco com um vibrador externo —, as mulheres não podem “deixar nas mãos de ninguém” o seu bem-estar, embora reconheça que o “prazer é um tema difícil”, sobretudo quando passa por falar de masturbação feminina. “Nos primeiros encontros, dizemos do que gostamos, contamos histórias da nossa infância, experiências passadas. . . e a parte sexual?”, pergunta Carmo Gê Pereira. “Tem de haver bom senso na forma como se comunica, a mulher não chega e diz como é o seu manual de instruções, mas deve falar porque é melhor para a relação do que estar insatisfeita e mentir”, responde Vânia Beliz, sugerindo que “o brinquedo sexual deve ser conversado. É um mito pensar que o vibrador só serve para as mulheres, os homens também gostam, mas receiam que se possa pensar que são homossexuais e, às vezes, têm vergonha de dizer às parceiras”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O psiquiatra Machado Vaz reconhece que ninguém conhece tão bem o seu corpo como a mulher, logo, o uso de um vibrador tem “eficácia fisiológica”. “Fisiológica. . . Ou seja: se os factores relacionais não interviessem, talvez todos nós preferíssemos a masturbação ao acto erótico a dois”, estima. O especialista recusa a ideia de que o sexo com brinquedos se reduza a um acto performativo, sem espontaneidade: “Se os membros do casal o vêem [ao brinquedo] como mais uma fonte de prazer na relação, não há razão para que ela se torne num exercício de mera estimulação fisiológica. Basta ver a maior frequência com que casais visitam feiras eróticas para nos apercebermos da mudança de mentalidades. ”Um brinquedo sexual não deve ser usado como “substituto de mau sexo” ou em lugar de um parceiro, considera Beliz. “Uma pessoa que desiste de uma relação por isso [um vibrador], é porque a relação não tinha conteúdo. As motivações para o sexo não são só o libertar da tensão ou o prazer, é também a comunicação”, argumenta Carmo Gê Pereira. “Se podemos ter tudo, porque temos de escolher? Não há um imperativo”, continua, informando que o mercado dos brinquedos sexuais tem vindo a crescer e existem objectos para casais que podem ser usados à distância, por exemplo, ele usa um masturbador e ela um vibrador e cada um, a partir de uma app, pode estimular o outro. “São facilitadores de prazer”, define. “Se usamos aplicações e gadgets na nossa vida, porque não usamos a tecnologia? Esta é facilitadora de experiências. Como dizia Arthur C. Clarke [escritor de ficção científica]: ‘Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia’. ”
REFERÊNCIAS:
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