“Não ando com um cartaz. As pessoas heterossexuais também não andam”
Sandra Cunha, do BE, acha que “o Parlamento deveria representar o mais fielmente possível a sociedade” (...)

“Não ando com um cartaz. As pessoas heterossexuais também não andam”
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Sandra Cunha, do BE, acha que “o Parlamento deveria representar o mais fielmente possível a sociedade”
TEXTO: A socióloga Sandra Cunha, eleita por Setúbal nas listas do Bloco de Esquerda, nunca tinha dito isto a um órgão de comunicação social: “A orientação sexual não é visível – como o género, a etnia ou algum tipo de deficiência ou handicap –, embora muita gente não a esconda. Eu, por exemplo, não a escondo, mas não ando com um cartaz. As pessoas heterossexuais também não andam. Simplesmente, não escondem. ”A primeira pessoa abertamente homossexual a sentar-se no Parlamento foi Miguel Vale de Almeida, antropólogo nascido em Portugal em 1960. Entrou em 2009 como independente eleito por Lisboa nas listas do PS. Já era um dos mais conhecidos activistas pelos direitos LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, transgénero e intersexo) e tinha objectivos concretos: a lei que consagrou o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a lei de identidade de género que permitiu mudar o nome próprio e a menção ao sexo nos documentos sem tratamentos hormonais e cirurgias. Saiu em Janeiro de 2011, sentindo que os cumprira, embora esta última lei tenha tido de ser votada segunda vez. Nas últimas eleições legislativas, voltou a haver só uma pessoa abertamente homossexual, Alexandre Quintanilha, cientista nascido em 1951, em Moçambique, casado com o escritor Richard Zimler, que conheceu quando vivia nos Estados Unidos. Eleito pelo círculo do Porto nas listas do PS, não se dedica a esses temas (preside à Comissão de Educação e Ciência). Desengane-se quem julga que todos os outros eleitos são heterossexuais. “Há mais gente no Parlamento que também não esconde a sua homossexualidade”, afiança Sandra Cunha. Fazem a sua vida. Alguns até partilham parte dela nas redes sociais, o que quebra a separação entre a esfera pública e a privada. Só não falam nisso com jornais, rádios ou televisões. Podem, simplesmente, não querer falar na sua vida privada. Podem nunca ter sido questionadas sobre esse assunto. Pode nunca ter vindo a propósito, como desta vez, que, para assinalar o Dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e para o Desenvolvimento, o PÚBLICO decidiu ver que diversidade existe no Parlamento. “É deslocado estar a falar nisso, a não ser que haja uma entrevista em que isso é perguntado”, salienta. E fazê-lo, pelo menos para já, ainda implica sujeitar-se a ser alvo de notícia, o que comporta riscos. "Há algumas reticências, porque a vida privada das figuras públicas é escrutinada e a revelação da sua vida privada não as implica só a elas, implica também as pessoas que a rodeiam, que fazem parte dos seus círculos de amizade ou das suas relações familiares”. Sandra Cunha integra a Comissão dos Direitos, Liberdades e Garantias. Participa na sub-Comissão para Igualdade e Não Discriminação. Faz parte do grupo de trabalho sobre parentalidade e igualdade de género e do grupo de trabalho sobre regimes eleitorais. Tem estado, por exemplo, a trabalhar na lei sobre a autodeterminação da identidade de género, que Marcelo Rebelo de Sousa vetou no passado dia 9 de Maio, e no regime jurídico de recenseamento de residentes no estrangeiro, que será sujeito a votação no próximo dia 24. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os deputados têm pastas atribuídas e é nelas que se concentram. Podia ter ficado com outras. Ser mulher, lésbica, oriunda de uma família de emigrantes, ter nascido em França em 1972, ter vindo para Portugal ainda criança fazer a escolaridade, ter andado cá e lá, ter optado por se fixar cá, ter um percurso como activista dos direitos LGBTI, não a obriga a interessar-se por temas relacionados com género, orientação sexual ou migrações. "Uma coisa não implica a outra", salienta. "Estamos aqui para representar todos os cidadãos e todas as cidadãs. " Não deixa, porém, de ver uma vantagem. "Acho que quem calça sapatos que são seus também tem uma sensibilidade acrescida. A empatia, que deve existir sempre, é invevitavelmente maior. ”No seu entender, “o Parlamento deveria representar o mais fielmente possível a sociedade”. Não é isso que acontece. "As pessoas que têm mais actividade política ou que estão mais disponíveis para a participação política são provavelmente as que têm mais oportunidades ao longo da vida. " Ocorre-lhe o exemplo das mulheres. "Não será essa a razão principal, mas também pesa o facto de estarem mais ocupadas com o cuidado da casa e das crianças. "
REFERÊNCIAS:
Partidos PS
IKEA encerra revista na Rússia por causa de leis anti-gay
Empresa sueca já tinha retirado um artigo sobre duas mulheres e agora decidiu pôr fim à edição russa da revista. (...)

IKEA encerra revista na Rússia por causa de leis anti-gay
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Empresa sueca já tinha retirado um artigo sobre duas mulheres e agora decidiu pôr fim à edição russa da revista.
TEXTO: A gigante de vendas de mobiliário IKEA vai deixar de publicar na Rússia a sua revista com conselhos sobre decoração, para evitar ser condenada por veicular "valores sexuais não-tradicionais". A decisão está ligada a uma lei aprovada na Rússia há quase dois anos, que proíbe a "exposição de menores de idade" a declarações ou imagens sobre homossexualidade. Num curto comunicado publicado na edição russa da revista Live, a empresa sueca começa por sublinhar que defende a "igualdade de direitos e de oportunidades para todos", mas conclui que não está disposta nem a ser multada, nem a incluir um aviso de que a revista é imprópria para menores de 18 anos de idade. "A IKEA Family Live revela diferentes aspectos das vidas das pessoas nas suas casas, independentemente da idade, género, orientação sexual, nacionalidade ou religião. A revista reflecte os valores da IKEA, que incluem a igualdade de direitos e de oportunidades para todos. Pugnamos por falar sobre pessoas com estilos de vida, valores, tradições, hábitos e interesses distintos", lê-se no comunicado. De acordo com a agência AFP, o gabinete de imprensa da IKEA na Rússia disse que não recebeu quaisquer "avisos oficiais", mas também não esclareceu se se preparava para publicar algum tipo de conteúdo que pudesse violar a lei aprovada no Verão de 2013. No final desse ano, a empresa sueca foi criticada por ter retirado da edição russa da revista um artigo sobre Clara e Kirsty, duas mulheres que partilhavam um pequeno espaço na casa da mãe de Clara com o filho de ambas, Isaac. Esse artigo (que saiu nos outros 24 países em que a revista é publicada, entre os quais Portugal) foi substituído por outro que não expunha a empresa às sanções previstas na lei russa. A IKEA é uma das empresas de mobiliário mais procuradas pelos consumidores russos – em 2013, a gigante sueca aumentou as vendas em 3, 1% em todo o mundo, o que se traduziu numa receita de quase 30 mil milhões de euros, muito graças ao crescimento na Rússia e na China. A lei em causa entrou em vigor com os votos favoráveis de 436 deputados, nenhum contra e apenas uma abstenção (a do deputado Ilia Ponomarev, de esquerda, opositor de Vladimir Putin e o único que votou contra a anexação da Crimeia pela Rússia). Proíbe a publicação ou transmissão de mensagens sobre "formas não-tradicionais de relações sexuais". A proibição tem como objectivo impedir que "os menores formem predisposições não-tradicionais, ideias distorcidas sobre a igualdade do valor social entre relações sexuais tradicionais e não-tradicionais, ou que seja veiculada informação sobre relações sexuais não-tradicionais que possam suscitar interesse sobre esse tipo de relações". A lei prevê a aplicação de multas entre 5000 rublos (77 euros) para cidadãos russos e um milhão de rublos (15. 000 euros) para empresas. Os estrangeiros acusados de "propaganda de valores não-tradicionais" podem ser condenados a 15 dias de prisão ou ao pagamento de 5000 rublos, sendo também deportados. No comunicado publicado no site da edição russa, a IKEA diz que a revista "é dirigida a uma audiência familiar" e que "não deve ter um limite de idade". "Apesar disso, sabemos que vários artigos publicados na nossa revista podem ser considerados como propaganda (…) Como empresa, cumprimos as leis dos países em que fazemos negócio, e decidimos pôr fim à publicação da revista na Rússia para evitar violações da lei", conclui a IKEA.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos lei filho prisão social igualdade género sexual mulheres
David Cameron descarta boicote aos Jogos Olímpicos de Inverno na Rússia
Primeiro-ministro britânico condena "preconceito" e "abusos" por causa de lei antigay, mas diz que a melhor resposta é participar. (...)

David Cameron descarta boicote aos Jogos Olímpicos de Inverno na Rússia
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-08-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Primeiro-ministro britânico condena "preconceito" e "abusos" por causa de lei antigay, mas diz que a melhor resposta é participar.
TEXTO: O primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, juntou-se ao Presidente norte-americano na recusa em boicotar os Jogos Olímpicos de Inverno na Rússia, apesar de denunciar os "abusos" e o "preconceito" por causa da aprovação de uma lei antigay. Em resposta a uma carta aberta publicada na quinta-feira pelo actor e comediante britânico Stephen Fry, David Cameron assinou neste sábado duas mensagens no Twitter – uma em que agradece o envolvimento de Fry no assunto e outra em que revela a sua posição oficial sobre a participação de atletas britânicos nos Jogos de Sochi 2014. "Obrigado pela sua mensagem, Stephen Fry. Partilho da sua profunda preocupação pelos abusos cometidos contra gays na Rússia", escreveu o primeiro-ministro britânico. "No entanto, acredito que podemos desafiar mais o preconceito se aparecermos do que se boicotarmos os Jogos Olímpicos de Inverno", concluiu. A reacção de David Cameron surge poucas horas depois de o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ter afastado a hipótese de apelar a um boicote aos Jogos de Inverno, marcados para Fevereiro de 2014. "Quero deixar isto bem claro. Não acho que seja apropriado boicotar os Jogos Olímpicos", afirmou Obama, numa conferência de imprensa dominada pelos programas de espionagem e pelas relações com a Rússia. "Ainda esta semana critiquei isso [a aprovação de leis antigay], não apenas em relação à Rússia, mas a muitos outros países com quem continuamos a trabalhar, mas com quem mantemos um forte desacordo sobre este tema", disse o Presidente dos Estados Unidos, referindo-se à sua participação no programa The Tonight Show, do apresentador Jay Leno. Para concluir, Obama formulou um desejo: "Ninguém se ofende mais do que eu com as leis antigay. Só espero que atletas gay e lésbicas tragam para casa medalhas de ouro e de prata", disse o Presidente dos Estados Unidos. Na quinta-feira, o actor britânico Stephen Fry apelou ao primeiro-ministro britânico que boicote os Jogos de Inverno na Rússia e ao Comité Olímpico Internacional (COI) que retire a organização à cidade de Sochi, comparando a Rússia de Putin à Alemanha de Hitler. "Escrevo com a sincera esperança de que todos os que amam o desporto e o espírito olímpico reflictam sobre a mancha que caiu sobre os cinco anéis nos Jogos de Berlim de 1936, que se realizaram sob a égide de um tirano que tinha aprovado uma lei, dois anos antes, que levou à perseguição de uma minoria cujo único crime foi o acaso do seu nascimento", começa a carta escrita por Stephen Fry, publicada no Tumblr. Depois da perseguição e extermínio de judeus na Alemanha nazi, nas décadas de 1930 e 1940, o actor considera que a Rússia de Vladimir Putin ameaça tornar-se num caso semelhante, desta vez em relação aos homossexuais. "Putin está assustadoramente a repetir este crime demente com russos LGBT [sigla para lésbica, gay, bissexual e trangénero]. Espancamentos, assassinatos e humilhações são ignorados pela polícia. Qualquer defesa ou discussão sensata sobre homossexualidade é contrária à lei", denuncia o actor e comediante. Na sexta-feira, o COI anunciou que pediu esclarecimentos adicionais ao Governo russo sobre a lei. Mas as dúvidas do comité, manifestadas pelo seu presidente, Jacques Rogge, não se tratam de "um assunto fundamental", mas de "uma questão de tradução". "Há dois parágrafos que queremos garantir que estão bem traduzidos antes de podermos fazer um comentário geral", disse o responsável no final de uma reunião entre o comité executivo do COI e a Federação Internacional de Atletismo, em Moscovo. Segundo uma lei aprovada em Junho, qualquer manifestação pública – sessões de esclarecimento, marchas, protestos, passear de mãos dadas, beijos – entre pessoas do mesmo sexo, quando na presença de menores de 18 anos, é considerada "propaganda da sexualidade não tradicional". As multas variam entre 5000 rublos (114 euros) e um milhão de rublos (23 mil euros), conforme se trate de indivíduos ou colectividades. Os cidadãos estrangeiros serão multados, ou detidos durante 15 dias, e deportados. Em 1980, o então Presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, decretou um boicote aos Jogos Olímpicos de Moscovo, em protesto contra a invasão do Afeganistão pelas tropas soviéticas. Quatro anos depois, o Governo de Konstantin Chernenko decidiu boicotar os Jogos Olímpicos de Los Angeles, alegando receios pela segurança dos seus atletas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime lei sexo minoria sexualidade gay perseguição lgbt bissexual lésbica
Gays e bissexuais: a triagem da norma
A DGS alterou as regras da triagem dos candidatos a dadores de sangue. Mas quem dá sangue não é um grupo; é um indivíduo. É por isso que deveríamos estar a falar de comportamentos e não de grupos. (...)

Gays e bissexuais: a triagem da norma
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 11 | Sentimento 0.416
DATA: 2017-02-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: A DGS alterou as regras da triagem dos candidatos a dadores de sangue. Mas quem dá sangue não é um grupo; é um indivíduo. É por isso que deveríamos estar a falar de comportamentos e não de grupos.
TEXTO: A Direcção-Geral da Saúde alterou as regras da triagem dos candidatos a dadores de sangue e voltou a restringir as dádivas de homossexuais e bissexuais. Dois motivos foram invocados: um estudo de 2012 sobre a prevalência de casos de VIH, que regista uma subida entre “homens que têm sexo com outros homens”, os chamados HSH, e o facto de, na linguagem oficial, estarmos diante de “subpopulações com risco infeccioso acrescido”. Passou a mais explícito o que antes estava subentendido. Todavia, esta alteração é contraditória com a resposta do Ministério da Saúde, em Novembro passado, a uma pergunta de Isabel Moreira no Parlamento. Nessa resposta, a chefe de gabinete de Adalberto Campos Fernandes informava que a intenção era remover “qualquer discriminação com base na orientação sexual” e que seria dado “enfoque a comportamentos de risco que podem ocorrer independentemente da orientação sexual”. As regras sobre quem pode e quem não pode dar sangue em Portugal são semelhantes às de outros países europeus e seguem recomendações da Organização Mundial de Saúde. Regra geral, as restrições abrangem grupos associados a maiores riscos de transmissão de doenças sexualmente transmissíveis, particularmente os consumidores de droga injectáveis, os trabalhadores do sexo e os “homens que têm sexo com outros homens”. Há sempre denominadores comuns quando se trata de questões que não encaixam na normatividade. Mas a questão mantém-se: como colher sangue sem preconceito? Nos inquéritos da triagem clínica, como dizia o último ministro da Saúde do Governo PSD/CDS, Leal da Costa, o estigma que pende sobre estes grupos “é um convite à dissimulação e à mentira”. E nada nos protege, também, das mentiras de um heterossexual com comportamentos de risco mais elevado. Preferir a pré-selecção em função de grupos de risco, com base numa maior probabilidade de casos de infecção, em detrimento da triagem por comportamento de riscos é uma questão técnica ou uma discriminação por orientação sexual? Pode ser as duas. Mas que as estatísticas epidemiológicas não sirvam para impor uma perspectiva sanitária que, no final de contas, mais não é do que uma triagem social e preconceituosa. Quem dá sangue não é um grupo; é um indivíduo. É por isso que deveríamos estar a falar de comportamentos e não de grupos.
REFERÊNCIAS:
Partidos PSD
A co-adopção e os filhos de pai incógnito
Com a co-adopção iria “legalizar-se” os filhos deliberadamente “criados” sem pai, ou sem mãe. (...)

A co-adopção e os filhos de pai incógnito
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-07-22 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150722182005/http://www.publico.pt/1621436
SUMÁRIO: Com a co-adopção iria “legalizar-se” os filhos deliberadamente “criados” sem pai, ou sem mãe.
TEXTO: 1 – Recordo bem a chaga social e o sofrimento que foi para tantos cidadãos, em geral de meios mais desfavorecidos, o estigma do “filho de pai incógnito”. O “Antigo Regime” protegia esta figura jurídica para evitar que os “senhores” manchassem a sua reputação ao “dar o nome” à criança nascida da empregada, de quem tinham “abusado”. 2 – Logo na Constituição da República Portuguesa aprovada em 1976 os deputados constituintes tiveram a preocupação de acabar com tal forma de discriminação social (art. 36. º, n. º4). E na sequente reforma do Código Civil de 1977 foi alterado o art. 1860. º, que restringia, e agora passou a impor, a “averiguação oficiosa da paternidade”. A Revolução de 1974 e consequente alteração de paradigma social teve também como mérito que o Estado se empenha directamente no direito à identificação dos progenitores de cada indivíduo. Tal direito deixou de ser apenas para alguns, e passou a ser também para os menos afortunados. Acabaram (quase) os filhos de pai incógnito. Os testes de DNA também vieram dar uma grande ajuda. 3 – Quando após a Revolução dos Cravos se pôs fim aos filhos de pai incógnito, a grande preocupação era com o filho, ou seja, a criança que tem direito à sua identidade genética e biológica. E na satisfação desse direito deve empenhar-se o Estado, a sociedade e os tribunais. É de tal forma importante este direito que o Tribunal Constitucional (Acórdão n. º 23/2006) declarou a inconstitucionalidade do art. 1817. º n. º 1 do Código Civil que estabelecia o prazo de dois anos após a maioridade, para intentar a acção para investigação da paternidade. Porque o direito a conhecer a sua identidade genética hereditária é um direito fundamental. Por exemplo, o Código Civil Italiano diz que a todo o tempo pode ser intentada tal acção (art. 270. º). No Código Civil Brasileiro (art. 1606. º), a acção pode ser intentada durante toda a vida do filho. Também o Código Civil Espanhol (art. 133. º) e o Alemão reconhecem que durante toda a vida do filho pode ser averiguada a filiação. O direito à integridade pessoal, o direito à identidade pessoal (art. 25. º e 26. º do CRP) são direitos fundamentais que implicam também o Direito Fundamental ao conhecimento e ao reconhecimento da paternidade, pois este representa uma referência essencial da pessoa, quer a nível biológico, quer a nível social. Esta tem sido a posição defendida quer pelo nosso Supremo Tribunal de Justiça, quer pelo Tribunal Constitucional. 4 – Porém, nos últimos anos (poucos) voltámos a ter “filhos de pai incógnito”. Agora não pelo medo e imposição do pai, mas pelo “querer da mãe”. A mãe decide que quer ter um filho, só seu, cujo pai fique incógnito (dador anónimo) e faz inseminação artificial a partir do banco de esperma para poder gerar a criança que é “só sua”. 5 – Tal prática é proibida (art. 6. º, 19. º, 20. º) e até punida (art. 35. º) em Portugal (Lei da Procriação Medicamente Assistida) (Lei n. º 32/2006) aprovada no primeiro Governo Sócrates. Porém, apesar de tal proibição, vemos agora argumentar que a co-adopção por pares homossexuais é uma necessidade porque aquelas “crianças que só têm mãe” precisam de outra mãe. Ou as crianças que, entregues a um homem no âmbito de adopção singular, precisam agora de um outro pai (burla à lei – que proíbe a adopção por pares homossexuais – aprovada em 2010 por uma maioria de esquerda). Assim sendo, a co-adopção vem reconhecer e legalizar práticas que estão proibidas por lei…6 – Nenhum ser humano nasce só de um pai ou só de uma mãe. O ser humano nasce numa família, avós, tios, primos. Quando se opina no sentido de que, caso falte a mãe à criança esta fica sem amparo, o que se está a dizer é que aquela criança não tem família biológica do lado do pai nem do lado da mãe. Apaga-se a história familiar da criança. 7 – Contudo, com a co-adopção iria “legalizar-se” os filhos deliberadamente “criados” sem pai, ou sem mãe. No Estado Novo apagava-se o pai por uma falsa “moral”. E agora por que se apaga o pai? Há alguma moral que o justifique?Querem fazer o favor de nos dizer a quem se destina esta lei da co-adopção?Advogada
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos lei filho tribunal ajuda homem social criança medo discriminação
Sarah Sanders foi expulsa de um restaurante e Trump já reagiu
Na sexta-feira à noite, a porta-voz da Casa Branca foi expulsa de um restaurante no estado de Virginia. No dia seguinte, reagiu na conta oficial do Twitter. (...)

Sarah Sanders foi expulsa de um restaurante e Trump já reagiu
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na sexta-feira à noite, a porta-voz da Casa Branca foi expulsa de um restaurante no estado de Virginia. No dia seguinte, reagiu na conta oficial do Twitter.
TEXTO: Na sexta-feira, Sarah Sanders foi expulsa de um restaurante no estado da Virginia. A questão até poderia ter ficado por aí, mas no dia seguinte a porta-voz da Casa Branca decidiu pronunciar-se contra o restaurante, utilizando a sua conta oficial de Twitter. Donald Trump também quis entrar na discussão e criticou os "toldos, portas e janelas nojentos" do dito estabelecimento. "Na noite passada, a dona do Red Hen em Lexington, no estado de Virginia, disse-me para sair porque eu trabalho para o @POTUS e eu saí educadamente. As suas acções dizem mais de si do que de mim. Eu faço sempre o meu melhor para tratar as pessoas, inclusive aquelas das quais discordo, com respeito e vou continuar a fazê-lo", escreveu Sanders no Twitter, este sábado. A dona do restaurante, Stephanie Wilkinson, garante, segundo o Washington Post, que "faria novamente a mesma coisa". Apesar de tentar, em geral, evitar questões políticas e de ter pontos de vista diferentes de alguns dos seus clientes regulares, Wilkinson sente que "há momentos na vida em que as pessoas precisam de viver de acordo com as suas convicções". Foram os comentários de Sanders em defesa da política de proibição de entrada das pessoas transgénero nas forças armadas norte-americanas que motivaram a decisão da dona do estabelecimento – onde trabalham vários funcionários LGBT –, como a própria esclareceu ao jornal. Estes ter-se-ão, inclusivamente, mostrado desconfortáveis com a ideia de servir Sanders. De acordo com Walter Shaub, um antigo director do gabinete de ética do governo, aquilo que Sanders fez – usar "a sua conta oficial do governo para condenar um negócio privado por motivos pessoais" e "procurar coagir um negócio usando a sua posição para levar o público a pressioná-lo" – é uma clara violação das regras de ética. Em concreto, da secção "5 CFR 2635. 702(a)", precisou no Twitter. Menos produtiva para o debate, foi a reacção no Twitter de Donald Trump. "O restaurante Red Hen deveria focar-se mais em limpar os seus toldos, portas e janelas nojentos ([que] necessitam extremamente de uma pintura)", escreveu no Twitter o Presidente dos Estados Unidos da América. Já os utilizadores do TripAdvisor dão uma pontuação de 4, 5 (numa escala de 0 a 5) ao restaurante, sendo que este tem até à data 273 avaliações. Há inúmeros casos em que o próprio Trump quebrou as regras de ética antes mencionadas: quando atacou os armazéns Nordstrom por deixarem de vender a linha de roupa da filha, Ivanka; quando agradeceu a "Linda Bean, da [empresa de retalho de roupa] L. L. Bean" pelo seu apoio, a poucos dias da sua tomada de posse e quando decidiu lançar-se ao ataque da Amazon, por considerar que a empresa não paga impostos suficientes, numa sucessão de tweets, por exemplo. Isto para não falar do ataque constante a meios de comunicação como o New York Times, CNN e Washington Post – este último, que o CEO da Amazon, Jeff Bezos, detém. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Notícia corrigida no dia 27 de Junho, às 17h49: onde se lia "com as quais discordo" lê-se agora "das quais discordo".
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filha ataque violação lgbt
Alemanha pode admitir terceira opção no registo do sexo dos recém-nascidos
A partir de 1 de Novembro, o registo de nascimento passa a ter uma terceira opção para indicar o sexo da criança. (...)

Alemanha pode admitir terceira opção no registo do sexo dos recém-nascidos
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-08-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: A partir de 1 de Novembro, o registo de nascimento passa a ter uma terceira opção para indicar o sexo da criança.
TEXTO: A Alemanha prepara-se para ser o primeiro país europeu a permitir que um bebé sem um género sexual definido à nascença seja registado com tendo um sexo “indefinido”. A partir de 1 de Novembro, os pais podem escolher a opção em branco no registo de nascimento, uma possibilidade que apenas alguns países prevêem, um deles a Austrália, um dos mais recentes a fazê-lo. No registo de nascimento passará a existir, além das opções feminino e masculino, a opção “em branco”, que irá indicar que o sexo biológico da criança não pode ser confirmado de forma inequívoca ao nascimento, avançou o jornal Süddeutsche Zeitung. A medida permite que a criança com características dos dois sexos (hermafrodita ou intersexual) registe o seu género sexual mais tarde na sua vida adulta, quando ficar definida a sua genitália, se esse for o caso. A nova legislação permite ainda ao indivíduo que fique registado sem ser do sexo feminino ou masculino. Porém, levanta-se agora uma série de questões legais. Para já, não há indicação de como as pessoas com sexo indefinido possam obter documentos de identificação, como um passaporte, nos quais é obrigatório indicar o sexo, entre feminino ou masculino. A ministra da Justiça alemã, Sabine Leuthheusser-Schnarrenberger, admite que a decisão terá “repercussões profundas” e irá exigir uma reforma no processo como são emitidos os documentos de identificação. Alguns juristas sugerem que se utilize a letra "X", em substituição do "M" e do "F", nos casos que vierem a surgir. Na Alemanha, os transexuais (pessoas que nasceram com um sexo definido mas que se identificam com o sexo oposto) são reconhecidos legalmente no país. Por outro lado, os hermafroditas eram até agora forçados a identificar um sexo nos seus documentos. O reconhecimento da existência de um terceiro género deverá ter ainda efeitos na lei do casamento. A Alemanha não reconhece legalmente o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Aos casais homossexuais alemães é apenas reconhecida a união de facto. Além da Alemanha, países como a Austrália e a Nova Zelândia já permitem a opção do terceiro género aos seus cidadãos e que a mesma seja indicada em documentos como o passaporte. A lei australiana permite a um cidadão que escolha uma terceira opção quanto ao seu sexo, independentemente de ter ou não sido submetido a uma cirurgia de alteração do sexo ou terapia hormonal. A alteração à lei alemã está ser recebida com entusiasmo pelas organizações pela defesa dos transexuais e intersexuais mas é considerado que há ainda muito a fazer ao nível da Europa, onde se estima que uma em cada 5000 crianças nasça sem sexo definido. A Ilga Europa, organização pela defesa dos direitos das lésbicas, gay, bissexuais, transgéneros e intersexuais, defende que a União Europeia (UE) tem ainda muitos passos a dar nestas questões. Silvan Agius, um dos responsáveis da organização, reconhece que a EU tem tentadohomogeneizar os esforços anti-discriminação dos países-membros quanto à transexualidade e intersexualidade, mas os resultados são pouco significativos. “As coisas avançam demasiado devagar para um nível que deveria ser o europeu”, disse Silvan Agius, citado pelo Spiegel. Para a Ilga Europa, a decisão alemã servirá como “pressão sobre Bruxelas”.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Morreu Gerry Goffin, o letrista cujos versos ajudaram a definir a pop clássica americana
Em parceria com Carole King compôs The loco-motion, Will you love me tomorrow ou (You make me feel) Like a natural woman (...)

Morreu Gerry Goffin, o letrista cujos versos ajudaram a definir a pop clássica americana
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 11 | Sentimento 0.083
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em parceria com Carole King compôs The loco-motion, Will you love me tomorrow ou (You make me feel) Like a natural woman
TEXTO: Will you love me tomorrow, das Shirelles. The loco-motion, de Little Eva. Pleasant valley Sunday, dos Monkees. (You make me feel) Like a natural woman, de Aretha Franklin. I wasn’t born to follow, dos Byrds. Uma diversidade de intérpretes, dois factos a uni-los. Foram êxitos de relevo na década de 1960 e todas foram obra da mesma dupla. Carole King, a compositora da música, e Gerry Goffin, o autor das letras. Goffin-King é uma das assinaturas clássicas do período áureo, clássico, da pop americana. Inseridos nessa verdadeira linha de produção de música e fábrica de criatividade chamada Brill Building (o edifício de escritórios da Broadway onde compositores, produtores, músicos e agentes colaboravam e concorriam pelo próximo single a invadir as rádios), o casal Carole King e Gerry Goffin criou várias canções que ajudaram a definir uma era. Casaram-se em 1959, ela com 17 anos, ele com 20, e separaram-se em 1968, mas os créditos nas canções supracitadas, pequena porção das dezenas que criaram ao longo da parceria, tornam-nos inseparáveis. Quinta-feira, a actual mulher de Gerry Goffin deu a notícia à AP: Goffin morreu esta quarta-feira, aos 75 anos, de causas naturais, na sua casa em Los Angeles. Carole King não demorou a emitir um comunicado. “Gerry Goffin foi o meu primeiro amor. Teve um profundo impacto na minha vida e no resto do mundo. Gerry era um bom homem e um dínamo de energia, cujas palavras e influência criativa ressoarão através das gerações vindouras”, escreveu a compositora que, após a separação, se tornaria uma artista a solo de relevo entre os cantautores americanos da década de 1970. “As suas palavras expressaram aquilo que muitas pessoas sentiam, mas não sabiam como dizer”, afirmou. Gerry Goffin nasceu em Brooklyn em 1939 e o seu percurso até ao final da adolescência não prenunciava a carreira musical hoje celebrada. Alistou-se na Marinha americana, que abandonou para estudar Química no Queens College. Foi na universidade que conheceu Carole King. Nessa altura, a música já se atravessara no seu caminho. Procurava alguém que compusesse a música para um musical sobre a geração beat. Carole King, por sua vez, procurava quem escrevesse letras para as canções pop que criava ao piano. Começou aí uma colaboração que não tardaria a dar frutos, já Goffin abandonara a ideia do musical beatnick. Certa noite, chega a casa e depara-se com um recado deixado por Carole King num gravador. Pedia-lhe que escrevesse uma letra para a melodia tocada ao piano que se seguia, composta para o girl group Shirelles. Estávamos em 1961. A assinatura Goffin-King não tardaria a revelar-se em grande estilo. Will you love me tomorrow foi o primeiro Nº 1 nas tabelas americanas composto pela dupla. No ambiente criativo do Brill Building, onde a pressão por novos êxitos era uma constante, Gerry e Carole trabalharam freneticamente. A Will you love me tomorow sucedeu, no mesmo ano, Take good care of my baby, gravado por Bobby Vee e outro número um nas tabelas – ainda em 1961, ofereceriam Some kind of wonderful, mais tarde gravado por Marvin Gaye, aos Drifters. Nesse período, tanto criavam canções para estrelas como as Crystals, produzidas por Phil Spector (He hit me (it felt like a kiss)), como, confiando totalmente no poder de uma canção, pediam à babysitter que se transformasse em cantora – e eis que surge, em 1962, uma Little Eva a cantar The loco-motion, hoje um standard que conta com versões de músicos tão díspares quanto os Grand Funk Railroad ou Kylie Minogue). Seguir-se-iam Don’t bring me down, gravada pelos Animals, Goin’ back, ouvida na voz de Dusty Springfield, ou as citadas Pleasant valley Sunday, (You make me feel) Like a natural woman e Wasn’t born to follow. A separação do casal, em 1968, provocada pelas infidelidades de Gerry e por problemas psiquiátricos provocados pelo uso de LSD, que levaram a um internamento e ao diagnóstico como maníaco-depressivo, abriu caminho para o início da carreira a solo de Carole King. Gerry Goffin, apesar de um álbum em nome próprio lançado em 1973 (It Ain’t Exactly Entertainment), continuaria a ser essencialmente um letrista, compondo com Barry Goldberg I’ve got to use my imagination (um clássico de Glady’s Knight & The Pips), com Michael Masser Do you know where you’re going to, da banda-sonora de Mahogany, cantada por Diana Ross, ou Save my love for you, interpretada por Whitney Houston. Gerry Goffin casou com aquela que era a sua actual mulher, Michelle, em 1995. Para a história da pop, porém, é à sua união a Carole King que está reservada a eternidade. Juntos, compuseram mais de cinquenta canções que encontraram lugar no top 40 americano. Juntos, ajudaram a definir a banda-sonora da era clássica da pop americana.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave mulher homem cantora
“Não se pode defender apenas algumas igualdades”, pedem as feministas negras
Ainda “estamos na fase da infância” do feminismo negro em Portugal, mas há um novo contributo de peso. O Inmune, o Instituto da Mulher Negra, nasce da vontade de várias mulheres de tomar a palavra na produção de conhecimento, sem deixar de fora a acção comunitária. (...)

“Não se pode defender apenas algumas igualdades”, pedem as feministas negras
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 7 Homossexuais Pontuação: 11 Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento -0.12
DATA: 2018-12-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ainda “estamos na fase da infância” do feminismo negro em Portugal, mas há um novo contributo de peso. O Inmune, o Instituto da Mulher Negra, nasce da vontade de várias mulheres de tomar a palavra na produção de conhecimento, sem deixar de fora a acção comunitária.
TEXTO: “Somos uma entidade feminista interseccional e somos uma entidade anti-racista. Isto é o que nos une e o que nos caracteriza”, descreve Joacine Katar Moreira, presidente — ou “presidenta”, como pede para ser tratada — do recém-criado Inmune, o Instituto da Mulher Negra em Portugal. “O facto de sermos o instituto da mulher negra não significa que todas as nossas preocupações tenham que ver especificamente com questões do racismo e do sexismo. Não se pode defender apenas algumas igualdades”, defende a investigadora do ISCTE, sublinhando a importância de olhar para outras formas de discriminação — que atingem as mulheres negras e não só —, como o preconceito contra pessoas LGBT, pessoas com deficiência e as desigualdades económicas estruturais. “Temos que ser educados para ouvir. ”Actualmente, o núcleo duro do Inmune é composto por 27 fundadoras, às quais se juntam outras associadas. Estão distribuídas por oito departamentos — da ciência ao queer, da cultura à infância —, tantos como as áreas em que cada uma sente que pode contribuir para melhor conhecer e apoiar outras mulheres negras em Portugal. São académicas, artistas, designers ou técnicas de serviço social; há portuguesas e de outras origens, muitas residentes em Lisboa mas também de outras regiões e até emigradas. A designação de “instituto” não é meramente estética. Além da intervenção comunitária, há na sua missão uma componente de reflexão, uma aposta na produção de conhecimento sobre as vivências das mulheres negras na sua diversidade. Educação, acesso à saúde, ao emprego, habitação, universidades, justiça — são várias as áreas em que têm encontrado discriminação e invisibilização, ou seja, o não reconhecimento e aceitação da sua presença. São muitas vezes olhadas com surpresa quando mostram outras faces além destas duas dimensões da sua identidade — mulheres e negras. “Retiram ao sujeito negro o lugar de multiplicidade”, lamenta a designer Neusa Trovoada, do departamento de comunicação da Inmune. “É como se só pudéssemos ser uma coisa, e quando somos diversas coisas, as pessoas espantam-se. ”Neusa Trovoada, 45 anos, é natural de Angola e vive em Portugal desde os sete anos, com uma passagem por Inglaterra. Numa voz doce que não denuncia a idade, fala sobre a solidão que pautou o seu percurso, em espaços como a universidade ou o mercado de trabalho qualificado, e sorri ao recordar os momentos de encontro que lhe mostravam que não era a única. Contudo, olha para raparigas mais novas na família e vê que pouco mudou nas suas vivências. É isto que a motiva a abraçar a militância — para provocar o abanão necessário para que as coisas mudem. Joacine Katar Moreira reconhece que ainda “estamos na fase da infância” do feminismo negro em Portugal, sublinhando a importância do florescimento de novos colectivos que possam trazer perspectivas diferentes. “As mulheres negras são diversas, quantas mais associações, melhor. ” Vários contributos chegam através do activismo e do conhecimento que é produzido em outros países, como o Brasil — uma das inspirações do Inmune é o Geledés, o Instituto da Mulher Negra brasileiro —, mas “é necessário que haja um enquadramento, uma readaptação”. E mais estudos sobre as características deste cruzamento entre racismo, sexismo e outras discriminações na vida das mulheres negras em Portugal. Outro contributo que o Inmune pretende dar é repensar a forma como olhamos para o mundo. Uma das ideias para o próximo ano é criar um manual de comunicação inclusiva, para reflectir sobre a linguagem “masculina e colonizada”, das palavras aos conceitos — porque não são apenas as palavras que importam, mas as ideias que nos levam a escolhê-las. Joacine Moreira recorda o momento em que decidiu reivindicar a palavra “presidenta”, a exemplo de Pilar Del Rio, que sugeria que este feminino não existia porque não era um cargo ocupado por mulheres. É preciso também olhar de outra forma, afirma a investigadora, para a História. Nos tempos da escola, estranhava a narrativa de que as pessoas negras tinham sido docilmente escravizadas. E, de facto, não o foram, mas “há uma omissão da resistência”. Um apagamento que vai desde as revoltas dos povos africanos até ao presente, ao não reconhecimento das resistências quotidianas de muitas mulheres. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. É precisamente com o objectivo de repensar alguns conceitos que surgem as “Conversas às escuras”, reuniões regulares que não se querem “um encontro de egos, mas um encontro de almas”. A primeira conversa aconteceu no sábado e juntou a “presidenta” da Inmune e a investigadora Inocência Mata, da Universidade de Lisboa. Joacine Moreira explica que “normalmente o obscuro, o oculto, o sombrio, estão associados ao mistério, mas igualmente a algo negativo, algo que, mesmo existindo, não pode ser reconhecido”. “Qual é o problema em ser uma ovelha negra?”, brinca a investigadora. É preciso, portanto, retirar a carga negativa a estas expressões — uma reconceptualização que não é de agora, bebendo, por exemplo, do movimento francês que se apropriou do conceito de negritude. Por vezes, diz, também é preciso “transformar as palavras em expressões revolucionárias”. Não tem medo de que a ideia seja considerada radical? Joacine Katar Moreira ri-se calorosamente, acolhendo a palavra. “A evolução nunca se fez com os conformados e os conservadores. Se não houvesse pessoas radicais, não haveria liberdade. ”Notícia actualizada às 13h15
REFERÊNCIAS:
Profetas e lucros
Em África, as Igrejas evangélicas, pentecostais e carismáticas estão a atrair um número crescente de fiéis. No Gana, são tantas e tão variadas que é impossível quantificá-las. Muitas assentam a liderança numa pessoa que, regra geral, faz questão de ostentar a riqueza conquistada em nome da religião. Depois do dinheiro e da fama, há “anjos”, “profetas” e “pastores” ganeses a dominar estruturas sociais, como as universidades e hospitais, e a entrar na política. (...)

Profetas e lucros
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em África, as Igrejas evangélicas, pentecostais e carismáticas estão a atrair um número crescente de fiéis. No Gana, são tantas e tão variadas que é impossível quantificá-las. Muitas assentam a liderança numa pessoa que, regra geral, faz questão de ostentar a riqueza conquistada em nome da religião. Depois do dinheiro e da fama, há “anjos”, “profetas” e “pastores” ganeses a dominar estruturas sociais, como as universidades e hospitais, e a entrar na política.
TEXTO: A igreja está cheia. E três mil pessoas, talvez mais, cantam, dançam e rezam. De pé, no altar, com as mãos atrás das costas, peito para fora e queixo levantado, o “anjo” Obinim contempla os seus fiéis seguidores. Impecavelmente vestido, acena com a cabeça quando alguns membros da congregação se levantam e se aproximam, lançando-lhe notas aos pés. Auto-intitula-se “anjo”, porque o título de “bispo” era insuficiente. Daniel Obinim tinha apenas 40 anos quando fundou aquilo que hoje se pode considerar um império: a Igreja Internacional da Vontade de Deus, um mundo pejado de bens materiais que aquele líder não se inibe de ostentar publicamente. Numa entrevista recente, afirmou que Jesus Cristo lhe concedeu mais de 20 casas, oito Range Rovers, cinco SUV e três Chryslers; os seus fiéis têm autocarros que os levam à igreja, e construiu três dos maiores templos do Gana, em Acra, Kumasi e Tema. Já foi detido mais de uma vez: por ofender e agredir um jornalista que se atreveu a criticá-lo; e por chicotear numa igreja com milhares de pessoas a assistir dois rapazes que tinham uma relação. Apesar destes problemas com a Justiça, três vezes por semana Daniel Obinim vê as suas igrejas a abarrotar de pessoas que deixam generosas oferendas, compram garrafas de “água milagrosa” e testemunham os “milagres” que protagoniza: ressurreição de moribundos, curas inesperadas, profecias. Obinim é uma das mais polémicas figuras do mundo religioso ganês, mas não é a única. Também não é o único a ter acumulado uma enorme riqueza graças à religião, e não é o único a levar milhares de seguidores às suas igrejas. Na verdade, a religião está muito presente em todos os estratos sociais do Gana, com uma população de cerca de 28 milhões de pessoas e um dos vários países africanos onde o cristianismo está a crescer. No entanto, e apesar de aparentemente o coração do cristianismo mundial estar a mover-se para o Hemisfério Sul, em África são as igrejas evangélicas, pentecostais e carismáticas que estão a atrair maior número de fiéis. Nas estradas ganesas, há em todos os cruzamentos anúncios e placas que indicam o caminho para as igrejas, muitas das quais fundadas e geridas por apenas uma pessoa, um “profeta”, um “pastor”. É impossível contá-las a todas. De acordo com o Pew Center de Washington, havia no Gana cerca de três milhões de evangelistas em 2000. Em 2015 eram já cinco milhões e meio. Por seu lado, as igrejas pentecostais e carismáticas tinham cerca de seis milhões e meio de seguidores em 2000, ao passo que em 2015 esse número já ultrapassava os dez milhões. E os números continuam a subir. “Estas igrejas estão a viver um boom, porque dão resposta aos desejos materiais das pessoas”, afirma Akosua Adomako Ampofo, professor do Instituto de Estudos Africanos da Universidade do Gana, em Acra. “A população, especialmente nas partes mais pobres da cidade, procura soluções para as suas necessidades diárias e, portanto, sente-se atraída pelas promessas de riqueza, a que se juntam as curas milagrosas. ”Conhecido por “evangelho da prosperidade”, esta corrente do pentecostismo defende que a fé pode atrair riqueza e benesses, e que as doações e as orações são o caminho para a melhoria das condições de vida do crente. Não é por acaso que os pastores e os profetas destas Igrejas exibem a sua riqueza e prosperidade, e que os devotos estão frequentemente dispostos a fazer doações não só nas cerimónias, mas também ao longo de todo o ano, sob a forma de dízimo – 10% do salário. “As diferenças entre as várias Igrejas são quase imperceptíveis”, diz o professor Adamako, “e, por isso, é muito difícil, senão impossível, categorizá-las como evangélicas, pentecostais ou carismáticas. ” Perante a encruzilhada de credos, é mais simples definir algumas das suas características comuns: uma leitura literal da Bíblia, a ênfase na riqueza e no bem-estar, um forte empenho na divulgação do Evangelho, a fé no poder divino como cura de doenças e lesões e uma crença em milagres, tal como nos tempos bíblicos. As actividades destas Igrejas não se limitam às cerimónias semanais: têm todas um papel muito importante no tecido social, e algumas delas fundaram, ao longo dos anos, universidades, hospitais e escolas, que continuam a crescer e a substituir o Estado onde a sua presença não é suficiente. A África subsariana tornou-se uma das zonas do globo onde mais florescem as universidades cristãs, impulsionadas pela forte procura por educação superior e decididas a institucionalizar o seu sucesso nas sociedades africanas. Igrejas como a Capela da Acção, a Igreja Internacional Central do Evangelho ou a Igreja de Pentecostes – esta com milhares de divisões apenas no Gana – possuem canais de televisão, estações de rádio e editoras, além das universidades e escolas. Estas são as correntes, que têm uma estrutura mais organizada, ao contrário das que depositam numa só pessoa todo o controlo, especialmente da enorme quantidade de dinheiro que vai entrando. “A propagação do cristianismo no Gana e em África tem infelizmente tido também alguns aspectos negativos”, diz o “apóstolo” Opuku Onyinah, número um da Igreja de Pentecostes. “Por exemplo, há quem veja na Igreja um caminho rápido para a riqueza, o que levou muitas pessoas sem preparação teológica e cultural a fundarem as suas próprias Igrejas e a enriquecerem com elas. Há muitos charlatães no cristianismo. ” Um negócio, importa mencionar, livre de impostos. Entre estes líderes religiosos, poucos são os que têm verdadeiros estudos teológicos prévios, e maior parte deles atrai os seus seguidores publicitando curas milagrosas de doenças letais, como a hepatite ou a sida. Um deles é Nigel Gaisie, que fundou a Igreja do Ministério do Fogo Profético e da Verdadeira Palavra em Acra, em 2010. Às quatro da manhã, Nigel está aos microfones da Radio Vision One FM e, com a ajuda de alguns participantes, fala sobre a Bíblia, dinheiro, milagres e doenças. Sem rodeios, afirma ser capaz de curar a hepatite e a sida. Às sextas-feiras à noite repete as mesmas palavras: perante cerca de mil fiéis, garante ser capaz de neutralizar qualquer doença. “Estas doutrinas têm um impacto directo no sistema de Saúde do Gana, nas vidas das pessoas, na cultura”, explica Roslyn Mould, activista feminista de 33 anos, “especialmente nas aldeias mais pobres, onde muitas vezes as pessoas preferem levar os doentes à igreja do que ao hospital, decisão que frequentemente tem consequências trágicas. ” A influência destas Igrejas e destes profetas nas suas comunidades de fiéis é tão forte, que os crentes põem as suas vidas nas mãos da fé, muitas vezes decidindo não recorrer aos hospitais ou interrompendo tratamentos em curso. E é devido ao seu papel na sociedade que estes profetas e as suas Igrejas se tornaram também protagonistas nos meios políticos ganeses e africanos. “Mesmo que não concorram directamente, os profetas e as suas comunidades de seguidores tornam-se inevitavelmente num eleitorado-alvo para os políticos, que fazem questão de aparecer nas primeiras filas nas cerimónias religiosas, prontos a fazer generosas doações e a tirar fotografias com os líderes espirituais”, diz Michael Osei-Assibey, da Federação de Direitos Humanos do Gana. É quando se trata de assuntos como direitos civis e LGBT, maternidade e aborto, que os profetas assumem posições políticas. Há muitas diferenças entre as Igrejas evangélicas, pentecostais e carismáticas, mas há uma questão em que todas concordam: não há espaço sequer para mencionar ou discutir os direitos LGBT. Há os que afirmam ser “uma questão de boas maneiras”. É o caso do “reverendo” Prince Manu, fundador da Igreja das Correntes do Poder, que declara que no Gana “gays e lésbicas não podem ser aceites, não só por razões religiosas, mas também por razões culturais”. Manu, afirma, no entanto, estar “disposto a recebê-los na Igreja para os curar”. Há ainda aqueles que nem sequer tentam esconder a sua homofobia, como Nigel Gaisie: “A homossexualidade é a abominação de Deus, um insulto a Deus. Nunca deixarei um homossexual entrar na minha igreja. Nem os cães do mesmo sexo copulam. A questão dos direitos LGBT é um assunto do Ocidente, são os países europeus que querem que aceitemos algo que não tem nada que ver connosco, com o objectivo de contaminarem a nossa sociedade. ”Opinião que não está longe da de Mike Oquaye, porta-voz do Parlamento do Gana e também ele “pastor”, que esteve na génese de uma campanha para modificar as leis do país e criminalizar a homossexualidade. Tal ainda não aconteceu, mas continua a assistir-se a violência e a ataques contra a comunidade homossexual. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. É por isso que pessoas como Michael se continuam a esconder. Têm medo de assumirem a sua homossexualidade por temerem represálias e vivem com um estigma que os persegue até dentro das próprias famílias. “Os líderes destas Igrejas atacam a comunidade LGBT todas as semanas, perante milhares de pessoas”, lamenta Michael. “E depois há quem organize patrulhas para procurar homossexuais, batem às portas todas. Já aconteceu mais do que uma vez, e a polícia nada faz. Pelo contrário, ainda nos humilha. Batem-nos, chicoteiam-nos, roubam-nos. Toda a violência que sofremos é resultado do ódio dessas Igrejas, que estão a espalhar-se cada vez mais e que obrigam os políticos a cavalgarem a onda dos sentimentos humanos mais sinistros que há. ”Esta reportagem foi possível graças ao apoio do Pulitzer Center on Crisis ReportingTradução de António Domingos
REFERÊNCIAS:
Religiões Cristianismo