“Sou mais criticada por ser feminista do que por fazer pornografia”
Aos 41 anos, a sueca Erika Lust é uma referência no mundo da indústria porno feminista. Decidiu começar a fazer filmes quando percebeu — enquanto consumidora de porno e activista feminista — que o seu corpo “reagia àquilo que via, mas não gostava daquilo que via”. Hoje, financia outras mulheres realizadoras e garante que o movimento de que faz parte está a crescer. (...)

“Sou mais criticada por ser feminista do que por fazer pornografia”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 11 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-12-16 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181216185833/https://www.publico.pt/n1840569
SUMÁRIO: Aos 41 anos, a sueca Erika Lust é uma referência no mundo da indústria porno feminista. Decidiu começar a fazer filmes quando percebeu — enquanto consumidora de porno e activista feminista — que o seu corpo “reagia àquilo que via, mas não gostava daquilo que via”. Hoje, financia outras mulheres realizadoras e garante que o movimento de que faz parte está a crescer.
TEXTO: Erika Lust faz pornografia feminista, que oferece a quem a vê o olhar de uma mulher sobre o sexo. Mostra corpos diferentes, de idades diferentes, a ter sexo que será mais próximo da realidade (pelo menos mais do que aquilo que mostra a maioria dos filmes pornográficos). Coloca as personagens femininas num papel central, trata-as como seres humanos, algo que, diz, a pornografia convencional não faz. É crítica deste tipo de pornografia, porque “adopta uma perspectiva masculina”, em que “a mulher é uma espécie de ferramenta para ajudar o homem a ter um orgasmo”. Considera-se “uma outsider” da indústria porno por fazer um trabalho fora dos caminhos mais tradicionais . “Quando comecei, não entendiam o que estava a fazer e criticavam-me. ”A realizadora nasceu e cresceu na Suécia. Em 2000, aos 23 anos, mudou-se para Barcelona depois de ter concluído uma licenciatura em Ciência Política na Universidade de Lund. Foi na cidade espanhola que estudou realização e é lá que vive desde essa altura. O site XConfessions, onde os internautas partilham as suas fantasias sexuais, serviu de inspiração a cem curtas metragens eróticas. O seu trabalho já foi premiado em festivais da área como o Feminist Porn Awards e o Cinekink. Em 2017, lançou o The Porn Conversation, um site que disponibiliza ferramentas aos pais e educadores para os ajudar a falar sobre pornografia com crianças e jovens. Falar do tema é uma porta aberta para abordar muitas outras questões, defende. Lançou o primeiro filme, The Good Girl, em 2004. Como é que tudo começou?Começou num momento em que eu, como muitas outras pessoas, era consumidora de pornografia. Estava interessada em sexo e queria saber mais. Era jovem, estava nos meus primeiros anos de faculdade — aquele momento em que estás por tua conta e começas a pensar mais e mais na tua identidade sexual, no que és, do que gostas — e tinha um namorado que me introduziu à pornografia. Uma noite, ele veio ao meu quarto e quis ver um filme. Senti que o meu corpo reagia àquilo que víamos, mas, ao mesmo tempo, não estava a gostar daquilo que via. Começou como um conflito. Em vez de ver pornografia e desfrutar, ela tornou-se um problema para mim. E comecei a questionar-me “Porque é que não gosto disto? O que é que está a acontecer-me?”Que tipo de pornografia era essa?Pornografia dos anos 90, que era diferente da de hoje, mas tinha uma coisa em comum com a que é produzida agora: a maior parte também era feita por homens e para homens e tinha um aspecto muito convencional. Foi a era da série Marés Vivas, do silicone, das loiras, das unhas compridas. Foi com isso que cresci e era esse o estereótipo contra o qual lutávamos. Hoje o mundo é melhor para as mulheres, que crescem em contacto com muitos tipos de corpos diferentes. Mesmo assim, quando vemos revistas de moda, filmes ou televisão, a mulher modelo é branca, magra e jovem. É isso que mais vemos. Mas acho que aos poucos estamos a começar a ver diferentes tipos de corpos, diferentes idades e está a ficar melhor. Porque é que aquele estilo de pornografia não lhe agradou?Eu já era feminista. Já estava consciente das estruturas de poder na nossa sociedade. Era muito analítica e crítica. Em vez de desfrutar, comecei a analisar. Depois comecei a pesquisar e a tentar encontrar pornografia para mulheres. Não havia grande coisa. Encontrei um repositório da Candida Royalle, uma das pioneiras na realização de pornografia centrada nas mulheres. Quando vi os filmes dela, percebi que eram drasticamente diferentes dos outros. Esses filmes eram diferentes em quê?Ela preocupava-se com o ponto de vista das mulheres, com as personagens femininas e com o argumento. De repente, eu sentia-me ligada à personagem feminina e com o que estava a passar-se na sua fantasia erótica. A maioria da pornografia produzida hoje adopta uma perspectiva masculina. É feita por homens, para homens e tem um homem como personagem principal. A mulher é uma espécie de ferramenta para o ajudar a ter um orgasmo. Não é sobre o prazer das mulheres ou as suas histórias. Como é que o seu trabalho contribui para uma forma diferente de fazer pornografia?Estou a tentar envolver outras mulheres nos meus filmes para contar mais histórias do nosso ponto de vista. Como é que vivemos a nossa sexualidade? O que é que desejamos? Com o que é que fantasiamos? Como é que sentimos prazer? Creio que muitas mulheres têm dificuldades com essas questões. Especialmente mulheres jovens que recorrem à pornografia para tentar perceber o sexo, uma vez que o porno se tornou a nossa educação sexual. E isso não é bom. A pornografia ética e feminista que se preocupa com o outro é uma parte ínfima desta indústria. Mas, quando olhamos para os números, o que podemos concluir é que um terço do tráfego online é dedicado ao porno. E isso é muito. Isso acontece porque as pessoas não admitem que vêem porno?Sim. Isso acontece muito. Não é algo de que as pessoas se orgulhem particularmente. Temos este estigma associado ao sexo e à pornografia. A maioria das pessoas julga que a pornografia é algo sujo e mau. Têm vergonha da sua sexualidade, das suas fantasias, dos seus fetiches. Têm medo que as outras pessoas as julguem. E mais do que isso: julgam-se a si próprias. Faz parte da cultura cristã. Há muitas diferenças entre a forma como as pessoas encaram o sexo na Suécia e em Espanha?Na verdade, não. A Suécia é uma sociedade diferente. É um dos países feministas de vanguarda no mundo, onde as mulheres têm assento nos parlamentos, governos, conselhos de administração. . . Muitas vezes isso é por causa das políticas que exigimos. Na Suécia dividimos de forma igual a licença de parentalidade, ao contrário do que acontece no Sul da Europa. E temos leis que obrigam o homem a fazer a sua parte. Esses dias não podem ser transferidos para a mulher. Isso mudou a sociedade. Ainda assim, a Suécia é uma sociedade dividida. É muito aberta quando se trata de educação sexual e compreensão da sexualidade, mas quando se trata de pornografia, de prostituição e de trabalho sexual, é um país muito difícil. Na Suécia, o trabalho sexual foi afectado pelo modelo nórdico. Isso significa que não é a trabalhadora do sexo que é punida. É quem compra. É uma lei muito prejudicial para os profissionais do sexo. Esse tipo de lei torna mais difícil o seu trabalho e coloca-os em grande perigo. No que se refere à pornografia, acho que as pessoas são mais abertas na Espanha do que na Suécia, porque o movimento feminista na Suécia chegou cedo e naquela época as feministas eram contra a pornografia em todos os aspectos. Eu acho que elas marcaram o caminho de como o movimento feminista deveria pensar. Mais tarde surgiram novas ideias que diziam que o sexo deve ser incorporado no pensamento feminista, e acho que hoje é a ideia aceite. Como foi a sua educação? Moldou a maneira como pensa sobre sexo?Sim. Definitivamente. Tive uma educação sexual muito boa, apesar de os meus pais nunca terem sido uns pais liberais, que me explicavam tudo. Eles deixavam essa responsabilidade à escola, o que eu acho que é bastante comum para muitos pais, que têm medo de falar sobre o assunto com os filhos. Tive a sorte de frequentar a escola sueca — a Suécia foi um dos primeiros países do mundo a tornar obrigatória a educação sexual. Quando tinha 10, 11, 12 anos, tínhamos conversas com sexologistas na escola. E não foi apenas a informação prática ou assustadora que é passada muitas vezes. Parece-me que o sexo é algo com que precisamos de lidar de uma maneira melhor. As suas filhas de sete e 11 anos sabem que faz filmes sobre sexo?Sim. Elas sabem que realizo filmes para pessoas adultas, em que as pessoas estão a fazer sexo, onde estão nuas e a beijarem-se muito, filmes sobre excitação. Como é normal na idade delas, acham que o sexo é nojento. Apesar do sucesso, o tipo de trabalho que faz ainda é de nicho. . . Sinto-me muito feliz e abençoada. Quando fiz o meu primeiro filme, em 2004, já sentia que poderia escolher qualquer história. Não é realmente a história que importa, é como se aborda o tema. Creio que precisamos de muito mais pessoas como eu, que ousam criar material audiovisual que lide com a sexualidade — precisamos de ver e querer ver. É importante que desenvolvamos uma sexualidade saudável. Acho que é importante também dar uma alternativa a todos os pornos maus, com tantos valores maus. Há muita homofobia, mesmo que não se pense sobre isso, porque se tem este meio como muito aberto e liberal. . . Não é, realmente — por exemplo, há todo um género em que mulheres brancas têm sexo com homens negros. Há muito fetichismo racista. Se formos aos “tubes” [sites como o Porntube, Redtube e Pornhub, que disponibilizam conteúdo pornográfico de forma gratuita], há uma série de categorias associadas a fetichismos racistas que não são correctas. Visita esses sites com frequência?Às vezes. Fico muito triste quando os vejo. Não me agradam. Há muitas pessoas que estão a consciencializar-se sobre a importância do consumo ético da pornografia. Assim como estamos a começar a preocupar-nos com a comida que estamos a comer, os móveis que compramos ou as roupas que usamos. Estamos a começar a pensar no processo de produção e a questionar: “Como é que isto foi feito? Quem está a trabalhar por trás disto?”Já aceitou que essas plataformas vão prevalecer?Não há muito que eu possa fazer. Os “tubes” estão a disponibilizar o meu conteúdo e o de outros criadores. Estão a colocá-lo de graça e não estão a ser processados por isso. De alguma forma, não é completamente ilegal. Podem fazê-lo. Como criadora de conteúdo, tenho de reclamar, escrever-lhes, dizer que sou a autora e mandar uma prova disso. Se fizer isso, retiram-no. Mas isso é um dia inteiro de trabalho. É muito difícil vencer estes sites, estão em muitos países. É muito difícil descobrir quem são os donos. Que universo de pessoas consome o tipo de pornografia que produz?Estamos a crescer a cada ano. Sinto que este movimento está a começar a crescer por causa de consumidores responsáveis e interessados numa pornografia ética. Quantas mulheres realizadoras conhece?Todos os anos há mais. Quando comecei, há 14 anos, não havia muitas. Há dois anos, percebi que tinha a capacidade de financiar outras pessoas. Colocámos em movimento um sistema de distribuição, temos um público que quer mais e eu não quero comprometer a qualidade. Tive a oportunidade de montar uma produtora e começámos a financiar filmes de outras realizadoras. Já fizemos cerca de 25 filmes. Acho que ainda não temos nenhuma realizadora portuguesa, mas se há alguém a ler isto que queira seguir uma carreira como produtora de filmes eróticos, contacte-me para se juntar à revolução. Ainda que assuma a diversidade sexual como algo central nos seus filmes, tem críticas?Claro! Por exemplo, quando viajo e participo em projecções dos filmes, há sempre pessoas na plateia a fazer perguntas e a pedir-me para as representar de alguma forma. Dizem: “Porque é que não faz mais filmes trans?” Ou: “Porque não faz mais filmes da classe trabalhadora?” Ou: “Porque não faz mais filmes de pessoas mais velhas?” A minha resposta é quase sempre a mesma. Sou uma pessoa. Tento fazer o máximo. E não é fácil incluir todos em tudo. Mas posso dizer que o meu trabalho nos últimos cinco anos tornou-se muito melhor, mais representativo. Há um mês, filmei um casal que tem 71 e 72 anos. Eles foram surpreendentes. Não eram actores porno. Trabalha com pessoas que não são profissionais?Sim, tento incluir outras pessoas que sinto que têm algo em particular que podem representar. E porque acha que essas pessoas se interessam por participar nos seus filmes? É porque paga melhor? Pelo tipo de trabalho que faz?A maioria das pessoas é por causa do tipo de trabalho que fazemos. Querem fazer parte, sim. Mas também porque pago melhor do que a maioria das pessoas na indústria porno. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mantém contacto com homens realizadores da indústria porno?Não muito. Quando comecei, muitos deles atacavam-me. Não entendiam o que estava a fazer e criticavam-me. Eu nunca me liguei realmente à indústria. Sempre me vi como uma outsider. Não vou à maioria dos festivais, porque não acho interessante. Às vezes, penso que talvez devesse participar mais, porque isso poderia ser uma maneira de mudar mais e provocar mais. Mas eles não estão interessados. Quando comecei, tinha comentários muito feios. Eram muito agressivos comigo e com o que queria fazer. Precisamos de criar um ambiente em que, como mulheres, possamos ocupar espaço sem ter de enfrentar críticas pessoais. Afinal, o que é a pornografia feminista?É o olhar feminino. É a mulher por trás da câmara a mostrar o que queremos e como queremos. É a mulher a ser tratada como um ser humano. Não como um objecto bonito ou uma ferramenta sexual para fazer o homem ter um orgasmo. É sexualidade em igualdade. Acho que muitas vezes sou mais criticada por ser feminista do que por fazer pornografia. Alguns grupos de feministas ainda têm medo da pornografia. Sentem que a pornografia ainda degrada a mulher. Mas eu acredito que isto pode ser muito importante para as mulheres. Acho que a nossa sexualidade é poder e precisamos de nos apropriar dela. Mas ainda é difícil, porque nós somos julgadas por causa disso. E na produção faz questão de trabalhar com mulheres?Trabalho com muitas mulheres. E acho que, se colocarmos mais mulheres na indústria porno, teremos uma perspectiva melhor. Podemos mostrar a sexualidade do ponto de vista feminino que representa todas nós e não apenas um pedacinho de alguns homens. Eu tenho as melhores mulheres possíveis no meu escritório. E tenho também alguns homens — são maravilhosos homens feministas, são muito conscientes, aprendem todos os dias e atrevem-se a ser liderados por mulheres. Toda a indústria porno deveria ser feminista. Mas esta é uma revolução que não pode ser feita só pelas pessoas que fazem pornografia.
REFERÊNCIAS:
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Lisboa pede justiça para Vanesa, prostituta transgénero morta em Paris
Vanesa morreu em meados de Agosto, alvejada, enquanto tentava defender um cliente. Em sua memória, foram marcadas várias manifestações em vários pontos do globo. (...)

Lisboa pede justiça para Vanesa, prostituta transgénero morta em Paris
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 11 Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento -0.2
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Vanesa morreu em meados de Agosto, alvejada, enquanto tentava defender um cliente. Em sua memória, foram marcadas várias manifestações em vários pontos do globo.
TEXTO: Nos últimos oito anos, foram reportados 2609 homicídios de pessoas transgénero em 71 países. Vanesa Campos faz parte desse número. A morte da prostituta, na noite de 16 para 17 de Agosto, em Paris, vai motivar um conjunto de acções de protesto a nível internacional — de Perth (Austrália) a Bogotá (Colômbia), passando por Amesterdão (Holanda). Em Portugal, está marcada uma manifestação no jardim de Santos, em Lisboa, próximo da embaixada de França, para a próxima sexta-feira. A organização pede a “descriminalização de todos os aspectos do trabalho sexual” e a sua “aceitação como profissão”. Vanesa Campos, 36 anos, vivia há apenas dois anos em França. A mulher transgénero, de origem peruana, sustentava-se através do trabalho sexual, que lhe permitia enviar algumas somas de dinheiro à família. Foi alvejada, enquanto defendia um cliente de uma tentativa de assalto, em meados de Agosto, num jardim em Paris — o Bosque de Bolonha, um conhecido local de trabalho de prostitutas. Foi a 10. ª trabalhadora do sexo a morrer neste local nos últimos anos, de acordo com o jornal local Le Parisien. Na sequência do crime, foram detidos cinco suspeitos, que serão presentes a tribunal com o arrancar dos procedimentos judiciais, ainda durante este mês. Sexta-feira das 18h às 21hJardim de Santos (traseiras da embaixada de França), LisboaA história de Vanesa tem motivado vários protestos e homenagens. O primeiro aconteceu em Paris, apenas uns dias após a sua morte. A marcha juntou trabalhadores do sexo e militantes LGBT e desfilou até ao local onde Vanesa morreu. Entre rosas brancas, apontou-se o dedo à classe política, pela adopção de uma lei sobre o trabalho sexual que criminaliza os clientes que procuram estes serviços. Em Portugal, esta homenagem será a primeira. Sacha Montfort, membro da associação transexual e não-binária TransMissão, falou ao PÚBLICO sobre a acção de protesto, que está a organizar. Explica que servirá como uma homenagem a Vanesa, um exemplo que mobiliza “associações anti-racistas, dos direitos das trabalhadoras do sexo e associações trans”. “É mais uma mulher trans morta. Acontece demasiadas vezes. É terrível. Trouxe-nos logo memórias da Gisberta”, lamenta Montfort. Gisberta era uma prostituta transgénero, de origem brasileira, agredida e morta por um grupo de rapazes em 2006, num prédio abandonado do Porto. De acordo com este activista, a legislação francesa sobre o trabalho sexual empurrou Vanesa para uma situação mais perigosa do que o necessário: “Este tipo de criminalização [dos clientes, à semelhança do modelo nórdico] é nocivo para as trabalhadoras do sexo. ” “Coloca os clientes em risco. Eles pedem mais privacidade, o que as leva a trabalhar na maior confidencialidade e na menor segurança. Foi assim que a Vanesa Campos morreu. ”Também Mara Clemente, investigadora do ISCTE, membro do Grupo Interdisciplinar de Investigadores sobre Trabalho Sexual (GIITS) e organizadora da manifestação em memória de Vanesa, acredita que foi a legislação francesa que ditou a morte da prostituta peruana. “Eu acho que essa lei contribui para (. . . ) a morte da Vanesa Campos. E não é só a minha opinião, é a de todos os activistas”, diz. A lei em Portugal é diferente. A prostituição não é ilegal, mas está proibida a promoção, facilitação ou lucro de terceiros — por isso, a penalização recai sobre os proxenetas —, o que, na opinião dos dois activistas entrevistados pelo PÚBLICO, acaba por funcionar de forma igualmente negativa para as prostitutas. “A definição de proxeneta é muito lata e estende-se a todas as pessoas que podem fazer parte do círculo de proximidade e amizade destas pessoas. Amigos, namorados, redes de apoio. Isola-as muito. Não podem procurar ajuda, porque as pessoas podem ser acusadas de proxenetismo”, sintetiza Sacha Montfort. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E há algo que não está garantido em nenhum dos dois cenários: direitos e protecção social. “Há que defender direitos básicos de cidadania, como o direito a viver em segurança (. . . ) para trabalhadoras do sexo, migrantes e pessoas trans”, sublinha a investigadora Mara Clemente. “Não se deve chegar a casos como o da Vanesa Campos ou o da Gisberta para deixar de lado a indiferença”, continua Mara Clemente, “especialmente em casos em que as pessoas estão expostas a vulnerabilidades múltiplas, porque se encontram numa intersecção em que se juntam o trabalho sexual, a experiência migratória e [o facto de] serem pessoas trans. ”É também por aí que passam os pedidos das associações que organizaram esta manifestação. Sacha Montfort resume-os: “O que nós queremos é uma despenalização total dos trabalhadores do sexo” e “dizer-lhes que podem trabalhar em segurança, com direitos laborais e segurança social”.
REFERÊNCIAS:
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Queer Lisboa sob o signo da maioridade
A 18.ª edição do Festival Internacional de Cinema Queer tem a programação mais abrangente de sempre, confirmando o desejo da organização de abrir a outros e mais públicos. A abertura é esta sexta-feira com o filme brasileiro Hoje Eu Quero Voltar Sozinho. (...)

Queer Lisboa sob o signo da maioridade
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: A 18.ª edição do Festival Internacional de Cinema Queer tem a programação mais abrangente de sempre, confirmando o desejo da organização de abrir a outros e mais públicos. A abertura é esta sexta-feira com o filme brasileiro Hoje Eu Quero Voltar Sozinho.
TEXTO: A haver ano em que o Queer Lisboa possa “dar o salto” para um público mais alargado e abrangente, será este. A 18ª edição do certame de cinema de temática queer (bissexualidade, homossexualidade feminina e masculina, transgénero) inicia-se esta sexta-feira no Cinema São Jorge e, ao longo dos próximos nove dias, propõe filmes e ciclos que transcendem em parte o simples “armário” em que o cinema queer tem tido tendência a encerrar-se. A abertura e o fecho, por exemplo, fazem-se com filmes provenientes do fervilhante momento que o cinema brasileiro vive e que tem atraído a atenção dos grandes festivais internacionais, com O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho, como “ponta-de-lança”. A inauguração oficial é esta sexta-feira à noite, com Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, “expansão” por Daniel Ribeiro da sua curta-metragem Eu Não Quero Voltar Sozinho (premiada, curiosamente, no Queer 2012), e recém-chegada do Panorama de Berlim 2014, onde foi muitíssimo bem recebida; o encerramento, no sábado, 27, é com um filme do veterano Bruno Barreto (o autor de Dona Flor e Seus Dois Maridos), Flores Raras, baseado num affaire lésbico verídico que teve lugar no Brasil dos anos 1950 e que conta nos papéis principais com Glória Pires e a actriz australiana Miranda Otto. A retrospectiva principal pertence a John Waters, um dos ícones do cinema independente americano anterior à sua “absorção” pelo sistema de Hollywood nos anos 1990, e realizador mais conhecido pela dimensão genericamente transgressiva da sua obra do que propriamente pela sua conotação com uma qualquer sensibilidade queer (apesar da presença do lendário travesti Divine). E o ciclo paralelo Queer Focus África tem como ponto alto a exibição de um dos filmes-chave do cinema africano pós-colonial, Touki Bouki, do senegalês Djibril Diop Mambety, um daqueles objectos que foi sendo falado de boca em boca, mas que só após o seu restauro em 2008 pela World Cinema Foundation, de Martin Scorsese, foi finalmente reconhecido mundialmente – e que em nenhum momento dos seus 40 anos de idade foi identificado como um “filme queer”. João Ferreira, director do festival, sempre defendeu em entrevistas ser importante para o Queer Lisboa “sair do armário”, assumir uma vocação de festival abrangente e aberto, e edições anteriores permitiram ver filmes de François Ozon, Claire Denis ou Nagisa Oshima. Mas – talvez para brincar com esta ser a 18ª edição, a idade da maioridade. . . – é este ano que mais se sente essa vontade de se abrir ao público. Que coincide igualmente com um momento de transição global para a visibilidade e aceitação da comunidade LGBT, com o terreno ganho em todo o mundo pela legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo a contrastar com o recrudescimento da intolerância para com a homossexualidade em África ou na Federação Russa. Perguntar, no entanto, se isto se reflecte minimamente na visibilidade do cinema queer no cada vez mais fragmentado mercado cinematográfico (português ou estrangeiro) é exercício inútil. Se a regularidade do Queer já o tornou num dos pontos de paragem obrigatórios da rentrée do circuito de festivais portugueses, o seu impacto no mercado de exibição e distribuição continua a ser inexistente. A grande maioria dos filmes mostrados no certame raramente têm difusão pelos circuitos tradicionais de exibição, e obras mais abrangentes acabam por ficar de fora para não serem excessivamente conotados com uma etiqueta que lhes pode limitar a audiência. Mas que a etiqueta “queer” já não é forçosamente o “veneno” de outros tempos é comprovado pela estreia coincidente na televisão portuguesa de Looking, a série de comédia do canal HBO sobre as aventuras de três amigos gay em São Francisco que, estreada em Janeiro último, foi redutoramente descrita como “a versão gay de Sexo e a Cidade” (começou esta semana no canal de sinal codificado TVSéries e passa todas as quintas-feiras, às 23h). Que foi acompanhada por um programa de filmes queer nos canais TVCine e TVSéries (como a biografia de Liberace, por Steven Soderbergh, com Michael Douglas, Por Detrás do Candelabro, a adaptação televisiva, por Mike Nichols, da peça premiada Anjos na América, com Al Pacino e Meryl Streep, ou o telefilme vencedor de Emmy sobre a luta contra a sida, Um Coração Normal, com Julia Roberts). Algo que era impensável há alguns anos e que confirma que, 18 anos depois do primeiro Queer Lisboa, o armário está cada vez mais aberto.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Oficiais da Marinha trocam o primeiro beijo gay após fim da regra "Don’t ask, don’t tell"
Duas oficiais da Marinha norte-americana são o primeiro casal gay a beijar-se na boca depois da revogação, em Setembro, da regra "Don't ask, don't tell", que permitia a entrada de homossexuais no Exército desde que a sua orientação sexual não fosse revelada. (...)

Oficiais da Marinha trocam o primeiro beijo gay após fim da regra "Don’t ask, don’t tell"
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 10 | Sentimento 0.333
DATA: 2011-12-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: Duas oficiais da Marinha norte-americana são o primeiro casal gay a beijar-se na boca depois da revogação, em Setembro, da regra "Don't ask, don't tell", que permitia a entrada de homossexuais no Exército desde que a sua orientação sexual não fosse revelada.
TEXTO: Vestida com o seu uniforme militar, Marissa Gaeta foi filmada e fotografada a beijar a sua namorada, Citlalic Snell - também ela militar, mas vestida à civil, com calças de ganga e um casaco de cabedal -, num cais do estado da Virgínia. Atrás de ambas surge o USS Oak Hill, um navio da Marinha do qual Gaeta tinha acabado de desembarcar após uma missão de quase três meses em alto mar. Snell foi receber a sua companheira num dia de folga de serviço no contra-torpedeiro USS Bainbridge. Ao ser seleccionada para ser o elemento da tripulação do USS Oak Hill a protagonizar o tradicional "primeiro beijo" em terra, Gaeta transformou-se num pedaço vivo da História de 2011. "Isto é algo de novo", constatou Gaeta aos repórteres depois do beijo na boca à sua companheira. "É bom poder ser eu mesma", afirmou. Por seu lado, Snell admitiu que o relacionamento de dois anos de ambas foi difícil de manter durante a vigência da regra "Don't ask, don't tell". "Tivemos que nos esconder muito no início e muitas pessoas não nos apoiaram. Mas agora podemos finalmente ser honestas em relação àquilo que somos. "David Bauer, comandante-chefe do USS Oak Hill, relativizou o evento, mesmo antes de ele ocorrer. "Vai acontecer, a tripulação vai passar um bom bocado e depois vamos continuar em frente", disse, citado pelo jornal britânico "The Guardian". Ambas as mulheres têm tarefas semelhantes na Marinha: mantêm e operam sistemas de armamento. Conheceram-se durante o treino militar, tendo partilhado o mesmo quarto.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave mulheres
Com “o reforço do islamismo”, a libertação sexual em Marrocos faz-se às escondidas
Abdessamad Dialmy, sociólogo marroquino especialista em género e sexualidade, diz que, apesar de o islamismo proibir o sexo fora do casamento, as mulheres exploram a sua sexualidade num enorme secretismo e “sem romper o hímen”. (...)

Com “o reforço do islamismo”, a libertação sexual em Marrocos faz-se às escondidas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 14 Homossexuais Pontuação: 10 | Sentimento 0.5
DATA: 2019-06-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Abdessamad Dialmy, sociólogo marroquino especialista em género e sexualidade, diz que, apesar de o islamismo proibir o sexo fora do casamento, as mulheres exploram a sua sexualidade num enorme secretismo e “sem romper o hímen”.
TEXTO: Aos 23 anos, Abdessamad Dialmy leu um livro, apercebeu-se que a sua vida era um erro, e pediu o divórcio. “Foi o início da minha revolução”, garante. O desassossego foi ganhando espaço enquanto o marroquino procurava perceber por que razão a liberdade sexual não passava de um sonho, principalmente para as mulheres do seu país. Foi à procura de respostas que se tornou num dos pioneiros nos estudos da sociologia da sexualidade e na relação entre o islão, sexualidade e feminismo. Mais de 40 anos depois, Dialmy, professor na Universidade Mohammed V, sociólogo e feminista, investiga, agora, como a sexualidade em Marrocos se divide entre a liberalização das práticas e a rigidez das normas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave sexual mulheres sexualidade feminista divórcio feminismo
Facebook e Twitter estão melhores a remover discurso de ódio
Em Portugal, foram feitas 100 denúncias relativas à presença de discurso de ódio online, todas pela ILGA. Cerca de um quinto do conteúdo foi eliminado. (...)

Facebook e Twitter estão melhores a remover discurso de ódio
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 9 | Sentimento -0.15
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em Portugal, foram feitas 100 denúncias relativas à presença de discurso de ódio online, todas pela ILGA. Cerca de um quinto do conteúdo foi eliminado.
TEXTO: As redes sociais estão a ficar melhor a monitorizar e eliminar rapidamente o discurso odioso das suas páginas. Pelo menos, na Europa. Um ano depois do Facebook, Youtube, Twitter e Microsoft assinarem um Código de Conduta em que se comprometeram a combater este tipo de discurso no continente europeu, a Comissão Europeia revela os resultados do segundo exercício de monitorização do projecto. Contou com a participação de 33 organizações públicas e não-governamentais de 24 países da União Europeia. Em Portugal, entre 20 de Março e 5 de Maio de 2017 (o período da segunda monitorização), 21% do conteúdo foi eliminado sinalizado pela associação de minorias sexuais ILGA Portugal, que foi a única organização portuguesa que apresentou denuncias nesse período (com um total de 100 queixas). Portugal é o terceiro país com menos conteúdo removido, depois da Irlanda e de Espanha. A Hungria foi o país com mais conteúdo removido (94, 5%). No total, durante o período em questão, as redes sociais eliminaram 1522 conteúdos sinalizados (de um total de 2575), ou seja, deram razão a 59% das queixas. É um valor mais de duas vezes superior aos últimos resultados, de Dezembro de 2016, em que as redes sociais apenas eliminavam 28% do conteúdo sinalizado. Segundo o relatório publicado pela Comissão Europeia, os resultados confirmam a predominância do discurso de ódio contra refugiados e emigrantes na União Europeia. A xenofobia – que inclui discurso de ódio contra migrantes – está por detrás de 17, 8% das queixas a pedir a remoção do conteúdo. Já 17, 7% do conteúdo sinalizado inclui comentários de ódio para a comunidade muçulmana, 15, 8% referem-se à origem étnica dos utilizadores, e 12, 7% relacionam-se com a orientação sexual. O resto divide-se entre críticas ao género, raça e religião, com 8, 7% de conteúdo anti-semita. De entre as redes sociais, o Facebook, que é a maior das plataformas analisadas, recebeu o maior número de conteúdo sinalizado (1273 casos), seguido do YouTube (658 casos) e do Twitter (644 casos). O Facebook foi a empresa mais rápida a rever o conteúdo problemático, chegando a 57, 4% das notificações em menos de 24 horas. O Twitter foi o mais lento: com 37, 4% de conteúdo revisto em 24 horas. A maior diferença foi nas respostas dadas a quem sinalizou o conteúdo. O Facebook envia uma notificação sobre o resultado da queixa em cerca de 94% dos casos, quer a queixa venha pelo processo normal de sinalização de conteúdo impróprio (disponível para qualquer utilizador do site) ou por canais específicos destinados a entidades de confiança que se dedicam a sinalizar este conteúdo. Durante o período de monitorização, foi testada a rapidez de resposta em ambos. O Twitter responde a 68, 9% das queixas de entidades de confiança e apenas a 13% das queixas vindas de utilizadores normais, enquanto o YouTube dá resposta a 35, 5% e 15, 6% respectivamente. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. "É importante que as empresas do sector das tecnologias de informação assegurem o retorno de informação àqueles que denunciaram casos de discursos de incitação ao ódio", defende a Comissária Europeia da Justiça, Vera Jourová, em comunicado. A Comissão Europeia descreve os resultados como “positivos” e um sinal de “progresso”, mantendo que irá avançar com restrições e medidas legais contra os gigantes de tecnologia caso não continuem a melhorar no combate a este tipo de conteúdo online. A implementação deste código de conduta, é a primeira grande tentativa em gerir a resposta que as empresas de tecnologia dão à predominância de discurso de ódio online.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave comunidade género sexual raça xenofobia
Embora mais escondido, o sexismo continua a existir nas universidades portuguesas
Socióloga Maria do Mar Pereira publica livro em que conclui que há comentários sexistas e homofóbicos nos corredores da academia portuguesa. (...)

Embora mais escondido, o sexismo continua a existir nas universidades portuguesas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 9 | Sentimento 0.166
DATA: 2017-08-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: Socióloga Maria do Mar Pereira publica livro em que conclui que há comentários sexistas e homofóbicos nos corredores da academia portuguesa.
TEXTO: Se é homem e chora, está a reagir como uma mulher. Ou se é mulher e tem um “grande” decote, alguém vai comentar. Ou ainda, se se interessa por temas relacionados com género é porque é homossexual. Estes são alguns dos comentários ou situações sexistas que a socióloga Maria do Mar Pereira diz existirem nas universidades portuguesas, como revela no livro Power, Knowledge and Feminist Scholarship: an Ethnography of Academia (ou Poder, Conhecimento e Investigação Feminista: Uma Etnografia da Academia), apresentado esta quinta-feira no simpósio “Sexismo nas Universidades Portuguesas”, no Centro de Cultura e Intervenção Feminista (CCIF-UMAR), em Lisboa. Já se tinham realizado estudos sobre a discriminação de género nas universidades portuguesas, como a diferença de salários entre homens e mulheres ou a percentagem de mulheres que ocupam cargos de gestão nas universidades. Mas Maria do Mar Pereira, que actualmente é investigadora e docente na Universidade de Warwick (no Reino Unido), quis saber como é que nas instituições portuguesas se falava sobre as questões de género e como eram tratados investigadores e estudantes em relação a este tema. “Interessava-me perceber quais eram as representações do sexismo na universidade em Portugal”, conta ao PÚBLICO Maria do Mar Pereira. E o que é o sexismo? “As pessoas pensam que é apenas a discriminação das mulheres, mas, na realidade, significa mais do que isso”, responde. “É uma discriminação que tem como base ideias de como devem ser os homens e as mulheres. Esse sexismo é aplicado tanto a homens como a mulheres que não encaixam nas ideias do que é um comportamento certo para um homem e para uma mulher. ” Um dos exemplos que dá é a associação da masculinidade à virilidade. Como tal, iniciou um projecto em 2006, no seu doutoramento, com financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Entre 2008 e 2009 fez entrevistas a quase 40 docentes, investigadores e estudantes – tanto homens como mulheres – de oito universidades de Norte a Sul do país. E também fez entrevistas a pessoas fora da faculdade, como a trabalhadores da FCT: “Têm uma visão que é um pouco diferente da de quem é cientista e quem é estudante. ” Observou também mais de 50 eventos e reuniões públicas ou fechadas na área das ciências sociais e das humanidades. Anos mais tarde, entre 2015 e 2016, voltou a entrevistar 12 das pessoas já estudadas. Ao longo do seu trabalho, alguns dos comentários mais frequentes foram sobre a depilação das mulheres ou sobre o uso de um “grande decote”. Ou até mesmo em sala de aula, quando alguém disse: “Alguma verdade deve haver quando se diz que os homens são melhores do que as mulheres. ” Maria do Mar Pereira explica que essa pessoa teve a intenção de fazer uma piada, mas há algo mais complicado por trás: “Há muita investigação que demonstra que o humor é usado pelas pessoas para dizerem coisas em que acreditam e para não serem responsabilizadas”, explica. Maria do Mar Pereira fala-nos também do “duplo padrão”, em que um mesmo comportamento de um homem ou de uma mulher é avaliado de forma diferente. “Um exemplo no meio académico é quando os homens criticam o trabalho de colegas são considerados inteligentes. Quando uma mulher critica o trabalho de outras pessoas, é considerada problemática, má e ressabiada. ”Estas situações existem em todos os sítios da universidade: durante a tomada de decisões, nas salas de aula, em congressos, em reuniões entre professores e alunos, nos corredores, nas redes sociais, nas associações de estudantes ou nas praxes. A que conclusões chegou? “Existe sexismo diário entre docentes, entre estudantes, em todos os níveis e em todas as dimensões da vida universitária. ” E ainda explica, num comunicado de imprensa, que hoje há um maior reconhecimento das questões de género no discurso oficial das universidades, que é mais cuidado e igualitário, o que não se verifica na vida universitária mais quotidiana. E considera que isso pode afectar directamente a carreira de quem passa pelo sexismo: “Conheço casos de pessoas que não completaram os seus cursos ou que tiveram de sair de instituições, porque não viam maneira de ver resolvido e castigado o assédio sexual a que estavam sujeitas. ”Para a socióloga, o sexismo é mais invisível nas universidades porque são considerados espaços de liberdade, de questionamento da sociedade e de meritocracia. “Somos capazes de acreditar que [o sexismo] aconteça nas empresas, mas de alguma maneira pensamos que os cientistas são mais críticos ou educados. A verdade é que o estudo demonstra que há sexismo, tal como noutras áreas da sociedade, e que esse sexismo se torna mais invisível, precisamente porque estamos à espera de que não exista nas universidades. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O que se deve fazer então? “Acho que não é possível esperar que as universidades façam espontânea e voluntariamente qualquer coisa para resolver estas questões. ” Para a investigadora, a estrutura das universidades é demasiado fechada e renova-se pouco. Portanto, esta é uma questão que deve envolver o governo, as secretarias de Estado, os movimentos sociais e os media, para que se promova o debate público e se criem medidas. Além disso, devem ser feitas campanhas para tornar visível este tipo de situações. E dá uma sugestão para as disciplinas nos cursos: “Parece-me fundamental que se encoraje o debate das questões de género dentro dos programas de licenciaturas e mestrados. Por exemplo, em Inglaterra, no meu departamento [de Sociologia] é obrigatório que toda a gente das ciências sociais faça uma cadeira sobre género. ”Quanto ao livro, foi publicado pela editora internacional Routledge, já tinha sido apresentado na sua universidade este ano e em Agosto vai ser lançado no Brasil. É possível comprá-lo por um “preço exorbitante”, como diz, por cerca de 28 euros em e-book e em papel por 102 euros. Estará disponível na biblioteca do CCIF-UMAR e de algumas universidades portuguesas. Para que, sublinha Maria do Mar Pereira, o sexismo nas universidades seja mais visível e combatido.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens cultura mulher homem género estudo sexual mulheres homossexual feminista assédio discriminação
Todos os corpos, todos os amores
British Queer Art 1861-1967, na Tate Britain, explora uma complexidade de histórias, vidas e identidades por descobrir e contar. Ou como um conjunto de figuras, num mundo distante das movimentações LGBT, criaram um espaço de liberdade e de expressão para as suas obras e vidas. (...)

Todos os corpos, todos os amores
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-22 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170622080857/https://www.publico.pt/n1775379
SUMÁRIO: British Queer Art 1861-1967, na Tate Britain, explora uma complexidade de histórias, vidas e identidades por descobrir e contar. Ou como um conjunto de figuras, num mundo distante das movimentações LGBT, criaram um espaço de liberdade e de expressão para as suas obras e vidas.
TEXTO: Esta exposição, British Queer Art 1861-1967, é um princípio. Aqui, no sentido de corresponder não ao estabelecimento de uma teoria e de uma definição do que foi a arte queer em Inglaterra, mas o de uma tentativa não tanto de mapear documentos, imagens e objectos mas de explorar a complexidade de um conjunto de histórias, vidas e identidades que estão por descobrir e contar. Trata-se de uma exposição histórica porque se fixa num período marcado por dois acontecimentos determinantes: a abolição da pena de morte por sodomonia em 1861 e a descriminalização parcial do sexo entre homens em 1967. E trata-se de uma exposição local porque se concentra na produção artística produzida em Inglaterra durante aquele período. Ainda assim é um caso interessante de como um conjunto de figuras, ainda distantes da forma que os movimentos LGBT irão assumir posteriormente, conseguem criar um espaço de liberdade e de expressão não só para as suas obras, mas também para as suas vidas. Este é um dos pontos mais interessantes da exposição da Tate Britain: não se concentra tanto na maneira como a identidade de género de diferentes artistas era expressa numa pintura, numa escultura ou num poema, mas no modo como para estes autores as suas obras artísticas foram instrumentos de criação de uma identidade. Ainda que possam fixar limites cronológicos e geográficos, a história que aqui se conta é uma história complicada de sexualidades e desejos a maior parte das vezes escondidos e dissimulados. Se com os universos sociais e artísticos de nomes como Virginia Woolf ou Oscar Wilde é fácil estabelecer uma relação, na maior dos casos ela está velada e, por isso, como explica a curadora Clare Carlow, esta é uma história difícil de contar porque, disse ao The Guadian, as obras demonstram atitudes muito diferentes que vão desde a ansiedade à celebração. E dá como exemplo a pintura de Walter Crane (1845-1915) de 1877, O renascimento de Vénus: “A mulher de Crane não queria que o marido pintasse e visse modelos femininas nus, por isso em vez de uma modelo para a sua deusa do amor ele usou um modelo novo bem conhecido chamado Alessandro di Marco. Mas este truque desmorou-se quando o pintor Frederick Leighton viu o trabalho na primeira exibição da pintura da Galeria Grosvenor naquele ano e gritou: ‘Mas meu querido, isso não é Afrodite, é Alessandro!’, supostamente acrescentando que, na luz do sol italiana, o menino passou por Venus. ” Esta história é interessante porque numa era que condenou as mulheres por se exporem despidas diante dos artistas, é o corpo masculino que assume o lugar central nesse universo sensual e formal feminino que inspirou tantos artistas. Tate Britain. Até 1 de OutubroE que a arte seja lugar de articulação de desejo e sensualidade é também o que dá fama a outra pintura famosa nesta exposição em que a artista se auto-representa enquanto contempladora de um nu feminino. Auto-Retrato com Nu [Self Portrait with Nude, 1913] de Laura Knight (1877-1970), foi vista muitas vezes como perigosa, repelente e vulgar, nas palavras de um crítico do Daily Telegraph. Trata-se de uma obra com qualidades formais evidentes, como a invulgar utilização de cores, a sobreposição de diferentes planos espaciais, a composição complexa em que a artista usa um jogo de espelhos para representar o seu próprio atelier e a sua actividade de pintora. No entanto a Royal Academy recusou-se a expor a pintura, ainda que depois em 1936 fizesse desta artista a primeira mulher a receber o estatuto de membro permanente. A recusa baseava-se não tanto em questões artísticas, mas no modo como se tratava de uma obra crítica em primeiro lugar da proibição vigente em Inglaterra que impedia as estudantes de participarem nas aulas de modelo vivo: em contraste com o seus colegas homens, tinham de pintar os corpos a partir de representações e obras pré-existentes e esta pintura é um claro desafio a essa norma por colocar no espaço do atelier de uma artista um corpo nu feminino a ser pintado; em segundo lugar, através da duplicação de corpos, Auto-Retrato com Nu pode ser entendida como lugar de desejo feminino e da sua afirmação. Outro exemplo desta codificação do desejo é Bathing (1911) de Duncan Grant (1885-1978, onde a representação do corpo masculino se caracteriza por um enorme erotismo. Esta pintura, feita a partir de um convite de Roger Fry para as salas do Borough Polytechnic (agora London South Bank University), surge na exposição não só como expressão do modo como o artista vivia abertamente os seus amores masculinos apesar de viver com Vanessa Bell e ter tido com ela uma filha, mas também por ser uma importante figura do Grupo de Bloomsbury: artistas, escritores e intelectuais conhecidos por viverem numa zona de Londres que deu nome ao grupo, mas igualmente porque as suas posições políticas foram determinantes na definição e discussão contemporâneas do femininos e da sexualidade. Não se tratou de um grupo formal, mas de um colectivo de amigos (os nomes mais famosos são Virginia Woolf, John Maynard Keynes, E. M. Forster e Lytton Strachey) que viviam, estudavam e muitas vezes trabalhavam em conjunto, rejeitando as convenções sociais da vida victoriana e regendo-se por ideias de liberdade, amor e criatividade muito próprias. Apesar do envolvimento em organizações políticas (Virginia Woolf foi uma voz fundamental no movimento sufragista) não se tratou de um grupo activista, mas a maneira como viviam as suas vidas, e isso transparecia no seu trabalho, tornou as suas obras marcos de resistência e elementos fundamentais na definição e representação de modos de vida diferenciados — como por exemplo a aceitação do amor entre sexos iguais. É importante o modo como a exposição realça estas outras presenças e não se concentra excessivamente na figura de Oscar Wilde — acusado de indecência pública em 1895 — como representante único das vozes dissidentes do conservadorismo vitoriano. Apresenta outras formas e outras modalidades de dissidência artística e política. Claro que Wilde é central nesta história de amores proibidos e na luta política pelo poder de auto-determinação, mas importa perceber que as tensões presentes no seu caso não são exclusivas do amor homossexual, mas atravessam todos os géneros. Não que esta seja uma exposição acerca das políticas de género, mas ela resulta da expressão artística em tornar possível todos os corpos, todos os amores, todas as sensibilidades. É significativo neste contexto a presença de Claude Cahun (1894-1954), artista de origem francesa que mudou o seu nome de Lucy para Claude, não sem antes ter experimentado ser Douglas, como forma de encontrar na indistinção de género o seu território de presença. A certa altura afirma que o neutro é o único género que lhe serve e é esta ideia de singularidade, com a consequência filosófica e política de negar o pensamento binário masculino ou feminino, que caracteriza a sua obra. Como os seus famosos auto-retratos fotográficos surrealistas em que Cahun vai sendo soldado, ninfa, modelo, figura andrógena, auto-retratos estes que, não só devido aos seus temas mas também à sua forma, estética e motivos, são importantes contributos para a reflexão do uso da fotografia como documentação da realidade e construção da identidade. Uma pintura de Henry Scott Tuke (1858-1929), pertencente à primeira geração de pintores ingleses abertamente gay, chamada Os críticos (1927), é particularmente interessante no contexto da relação entre expressão artística e a representação de género. Mostra dois homens, um deles despido e outro em tronco nu, que em terra olham (admiram?) um terceiro dentro de água. O nu masculino e a sua eroticização não é estranho na obra deste pintor. O que torna esta pintura um elemento determinante na construção da narrativa da exposição é o modo como o seu título nos reenvia para a questão do modo este tipo de tema artístico implica não só um desafio das normais sociais, mas um importante questionamento das políticas da representação, bem como das regras seguidas na construção do cânone da história da arte: os críticos evocados no títulos não são elementos distantes, mas estão implicados no interior da cena da pintura e são um dos seus elementos. À relação da distância e autoridade dos críticos a pintura propõe uma relação de proximidade, cumplicidade e igualdade. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Esta é uma exposição importante porque é um imenso contributo para uma história, ainda por fazer, das políticas e expressões de género na história da arte. Mas também porque impede a naturalização da maneira como estes artistas e estas obras se ligam a vivências e consciências que não podem ser eliminadas por mais que os seus autores e obras façam agora parte do panteão dos reconhecidos com obras avaliadas e comercializadas por milhões. A exposição termina com Francis Bacon e David Hockney porque em ambos os casos já não há qualquer ambiguidade no modo como destemidamente preenchem as suas obras com conteúdos homoeróticos. Mas é preciso não esquecer que as mesmas razões que nos levam hoje a considera-los paradigmáticos e centrais na história da arte ocidental, são as as mesmas que fizeram, por exemplo, uma exposição de Bacon em 1955 ser investigada por obscenidade e o trabalho de Hockney descrito como propaganda homossexual. Não se trata de fazer do contexto histórico e social dos autores elemento único de determinação das obras de arte e negar a autonomia da arte. Mas porque as coisas que os artistas fazem constituem não uma história de coisas mas uma história do mundo é importante não esquecer as narrativas que alimentam e motivam essas obras e que, em alguns casos, são o seu conteúdo. É importante insistir no texto político e dissidente existente em muitas construções artísticas e resistir a uma história da arte apressada, mais interessada em produzir clássicos instantâneos, como escreveu Allison Gingeras, para um mercado de arte global do que em compreender, com rigor, as diferentes dinâmicas criativas na sua relação com o mundo.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte homens filha mulher social sexo igualdade género mulheres corpo sexualidade homossexual gay lgbt ansiedade
Dia Mundial da Saúde Sexual assinala-se hoje pela primeira vez
O Dia Mundial da Saúde Sexual assinala-se hoje pela primeira vez e tem como objectivo trazer a debate problemas como a falta de acesso a serviços de aconselhamento, a discriminação em questões de orientação sexual ou a mutilação genital feminina. (...)

Dia Mundial da Saúde Sexual assinala-se hoje pela primeira vez
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 9 | Sentimento 0.375
DATA: 2010-09-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Dia Mundial da Saúde Sexual assinala-se hoje pela primeira vez e tem como objectivo trazer a debate problemas como a falta de acesso a serviços de aconselhamento, a discriminação em questões de orientação sexual ou a mutilação genital feminina.
TEXTO: Em Portugal, a Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica (membro da Associação Mundial de Saúde Sexual) e a Associação para o Planeamento da Família (APF) juntaram-se “na luta mundial pelo reconhecimento e implementação da saúde sexual e dos direitos sexuais”. O director executivo da APF, Duarte Vilar, explicou que “é fundamental o aparecimento deste novo dia”. As questões da saúde sexual e dos direitos humanos no campo da sexualidade é uma matéria muitas vezes falada na comunicação social, mas “o facto de haver um dia no ano reforça o debate”, considera. Para o responsável é necessária a análise sobre os “direitos das pessoas na sua vida sexual, as violações que ainda existem [em Portugal] e outras sobre a liberdade sexual, como a mutilação genital feminina, a falta de acesso a educação sexual ou a serviços de saúde que possam prestar ajuda a pessoas que estejam a passar por dificuldades de tipo sexual e que no nosso país são muito raros, quase inexistentes”. Aliás, esta é a área apontada como “um problema bastante relevante” em Portugal. “Se falarmos de educação sexual nas escolas ou fora de escolas, houve avanços significativos”, mas em termos dos serviços de aconselhamento e terapia sexual registou-se “uma involução porque houve encerramento de períodos de serviços ou mesmo de serviços que prestavam cuidados nessa área”, afirmou Duarte Vilar. A discriminação em relação às questões da orientação sexual e da homossexualidade é outro aspecto referido, tal como a mutilação genital, um problema que “não é acentuado em Portugal” e pode não ocorrer no país, mas “há testemunhos de casos de mulheres e crianças vítimas desta prática” e que vivem em território nacional. Para as associações nacionais, em Portugal “falta ainda conquistar” a generalização da educação sexual em meio escolar, a lei da identidade de género não discriminatória, o acesso mais eficaz ao planeamento familiar de pessoas de meios desfavorecidos, a eliminação da violência de género e violência doméstica ou a inclusão de conteúdos programáticos sobre sexualidade humana na formação de base de profissionais de saúde e educação.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos lei humanos violência campo educação ajuda social género sexual mulheres doméstica sexualidade feminina discriminação
Teresa e Helena já estão casadas
Quatro anos após a primeira tentativa frustrada, Helena Paixão e Teresa Pires transformaram-se hoje no primeiro casal homossexual a contrair casamento civil. Vestidas de maneira informal, as duas mulheres casaram na 7.ª conservatória de Lisboa, sob o olhar atento de alguns amigos e familiares e rodeadas de jornalistas que se apresentaram no local para transmitir o acontecimento em directo. (...)

Teresa e Helena já estão casadas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 9 | Sentimento 0.25
DATA: 2010-06-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Quatro anos após a primeira tentativa frustrada, Helena Paixão e Teresa Pires transformaram-se hoje no primeiro casal homossexual a contrair casamento civil. Vestidas de maneira informal, as duas mulheres casaram na 7.ª conservatória de Lisboa, sob o olhar atento de alguns amigos e familiares e rodeadas de jornalistas que se apresentaram no local para transmitir o acontecimento em directo.
TEXTO: Com alguns convidados (um deles levou uma bandeira do movimento LGBT) e uma multidão de jornalistas, a cerimónia começou às 09h40 e ao fim de cerca de 20 minutos a conservadora Cecília Rocha declarou que “em nome da lei e da República portuguesa, Teresa Pires e Helena Paixão estão casadas”. As duas mulheres não esconderam a emoção e abraçaram-se, suscitando na assistência um forte aplauso. Teresa e Helena, que vestiam roupa informal (t-shirt, calças e ténis), cumpriram assim o “sonho”, como designou Teresa, de casar e viver como “ uma família”. “Neste momento somos uma família. Isso é fundamental”, disse Teresa aos jornalistas. “Era um sonho de família”, acrescentou. “Mas não é o final da luta”, alertou, apontando que, entre as muitas batalhas que ainda querem travar, está a questão da parentalidade. Refira-se que Helena e Teresa têm duas filhas, de casamentos anteriores. As duas meninas, Marisa e Beatriz estiveram presentes na cerimónia, sentadas na primeira fila, ao lado da mãe e do padrasto de Helena. Luís Grave Rodrigues, o advogado que acompanhou a luta destas mulheres ao longo de quatro anos, estava radiante. No final da cerimónia (ele e a mulher foram testemunhas, convidados por Teresa), Rodrigues frisou que este primeiro casamento representa “uma vitória de todos os portugueses” e do “Estado de direito”. Lembrou ainda que Helena e Teresa “foram as primeiras a dar a cara” e a “ter coragem” para lutar pelo casamento entre pessoas do mesmo sexo. Em Fevereiro de 2006, Helena e Teresa tentaram dar entrada a um processo de casamento na 7ª conservatória de Lisboa, precisamente aquela onde casaram esta manhã. O pedido foi-lhes negado e, desde então, as duas mulheres iniciaram uma batalha legal que passou pelo Tribunal Cível de Lisboa Tribunal da Relação, Supremo Tribunal de Justiça e Tribunal Constitucional. Em Julho do ano passado, o Tribunal Constitucional, para o qual tinham recorrido depois da Relação, rejeitou-lhes o pedido, embora a decisão não tenha sido unânime. Ao fim de quatro anos, promulgada a lei que permite o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, Helena e Teresa conseguiram finalmente contrair casamento. Foram as primeiras. Esta noite a comemoração continua num jantar com amigos. Notícia substituída às 11h48
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei tribunal mulher sexo mulheres casamento lgbt